Revista - Festa Nacional da Música

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go 2015 branco

inta-feira, 7 de janeiro de 2016 16:50:59

O maior encontro da mĂşsica brasileira FNM|1


agora vocĂŞ vai de Planalto para destinos em SP, PR e litoral de SC.

*imagem meramente ilustrativa.

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A Planalto é uma das melhores empresas de ônibus do sul do país e possui a experiência de mais de 65 anos de estrada. Com ônibus modernos e motoristas treinados e experientes, agora oferece novas linhas no litoral de Santa Catarina e nas principais cidades do Paraná e São Paulo. Quando for pegar a estrada, conte com a gente.

Planalto. Transportadora oficial da Festa Nacional da Música.

PRINCIPAIS CIDADES DAS NOVAS LINHAS

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• Jundiaí

• Curitiba

• Tubarão

• São Paulo

• Florianopolis

• Campinas

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O atendimento das novas linhas no litoral catarinense ocorre por meio da parceria entre a Planalto e a Ouro e Prata, duas empresas gaúchas com tradição em transportes. Juntas, transportam mais de 6,7 milhões de passageiros ao ano. Sempre com serviços de qualidade e confiança. • Frota 100% nova • Ar-condicionado e Wi-Fi • Ônibus semileito em todas as modalidades • Manutenções periódicas que trazem mais segurança nas estradas

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Editorial

Fernando Vieira Organizador da Festa Nacional da Música

É

com muita alegria que entregamos a você a Revista da Festa Nacional da Música 2015. Foi um ano de muitos desafios, mas também de superações, o que torna ainda mais especial esta edição. O sucesso foi obtido com a colaboração imprescindível de nossos parceiros e amigos, a quem não podemos deixar de agradecer. São pessoas, instituições e empresas que reconhecem a importância de um evento desta magnitude. Reunir durante quatro dias num mesmo local um elenco tão grandioso e estelar é tarefa hercúlea, mas que assumimos sem hesitar e que nos enche de orgulho a cada ano. Nestes onze anos da retomada da Festa Nacional da Música (já são 45 desde a primeira edição) percebemos a evolução de nosso trabalho. Se lá na década de 1980 discutíamos com veemência a criatividade e a importância dos capistas e a pirataria das fitas K-7, hoje nos debruçamos sobre música digital e a presença do artista na internet. Outros temas, no entanto, permanecem atuais, como a luta pelos direitos autorais, a produção independente e as leis de incentivo à música.

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Sintonizada com as dificuldades que enfrenta hoje a indústria fonográfica brasileira, a Revista da Festa Nacional da Música preparou matérias que lançam luz sobre o atual cenário musical. Nesta edição, você vai encontrar reportagens sobre pirataria na internet, crescimento do streaming, o pagamento dos autores neste segmento digital, banco de dados de obras musicais, entre outros temas relevantes. Nestas quase 300 páginas, você também vai ler sobre os 50 anos da Jovem Guarda, movimento que revolucionou a sociedade na década de 1960; homenagem ao saudoso compositor Fernando Brant, falecido em 2015; lançamentos de novos trabalhos e parcerias; os shows no Centro de Feiras e no Salão Implúvio; o Gre-Nal dos Artistas e matérias especiais sobre os 15 homenageados desta edição. Voltamos a nos encontrar em 2016 na 12ª edição da Festa Nacional da Música. Desejamos a você uma boa leitura e um ano com muita saúde, festa e música.


Ao longo de 45 anos desde a primeira edição até a retomada, há 11 anos, a Festa Nacional da Música tem sido palco para importantes debates sobre os problemas que afetam a indústria musical do Brasil. Na pauta dos encontros, direito autoral, remuneração do artista, pirataria, música digital, discussões estas que resultaram em conquistas como a PEC da Música e o vale-cultura. Além dos debates, o encontro é regado pela arte mais popular do Brasil. Sintonizada com a diversidade de ritmos e talentos da nossa música, confira nas próximas páginas os astros e estrelas que já cruzaram a passarela da Festa Nacional da Música, transformando-a no maior encontro da música brasileira.

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um encontro entre você e a natureza.

Em meio à natureza exuberante da Serra Gaúcha, a Jurerê Internacional Adminstração Hoteleira oferece duas opções perfeitas para você viver dias inesquecíveis, aproveitar uma estada perfeita e o charme do clima europeu, além das aventuras pelos parques e trilhas da região.

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0800 644 3311 www.jiah.com.br


FESTA NACIONAL DA MÚSICA Há mais de uma década

É a casa da Bossa

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Opinião

Descentralizar para crescer

*Rosemary

Nestes tempos de instantaneidade no qual, com um simples “enter”, nomes chegam com seu trabalho a um público incomensurável através das mídias digitais e, assim como surgem, desaparecem com um simples “delete”, a Festa Nacional da Música coloca no centro das atenções artistas brasileiros 10|FNM

Por isso, temos de estar todos juntos pensando novos formatos e alternativas para que a Festa ganhe outra dimensão. Contribuo com a sugestão de que o evento possa acontecer regionalmente, tornando-se a Festa Nacional da Música do Nordeste, do Norte, do Sudeste, do Sul, do Centro-Oeste e com periodicidade bienal. A descentralização facilitaria os investimentos, movimentaria a economia através da cadeia produtiva local, incentivaria a troca de experiências com os artistas nativos e promoveria parcerias e feiras com a mídia regional para vender e divulgar nossos produtos. A Festa também é o único espaço no qual compositores, cantores, arranjadores, maestros, músicos e produtores discutem questões que afetam diretamente a classe, como foi a nossa PEC da Música e onde temos também debates como o que abordou a aposentadoria dos profissionais da área artística. Estou falando sobre o Culturaprev, projeto de minha autoria e que está em vigor, que prevê aposentadoria complementar para diversas categorias da área artística. É urgente que todos, de Norte a Sul do País, saibam o que é o Culturaprev e como podem se beneficiar desta importante ferramenta. Através do número 0800 025 35 45 é possível obter todas as informações.

Mauro Vieira /Festa da Música

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Festa Nacional da Música é, hoje, mais do que um evento. Vai além. Posso dizer seguramente que a Festa Nacional da Música é um ato de resistência e coragem, especialmente diante do atual cenário artístico musical brasileiro.

em manter tão importante Festa, é preciso investimento.

de trajetória sólida, que mostram porque são vitoriosos. E mais, tem a oportunidade de conversar, trocar experiências e discutir alternativas para os artistas da MPB dentro deste mercado tão imediato, veloz e, em muitas circunstâncias, cruel. Considerando o atual panorama, a Festa pode ampliar seu alcance, propondo novos formatos como, por exemplo, a realização bienal e regionalizada. É claro para todos que são grandes as dificuldades de operacionalização de um encontro como o que acontece anualmente em Canela. É necessário mais do que o desejo de Fernando Vieira

A Festa, por sua importância, se desdobraria na realização de show aberto, com uma grande produção sendo gravado para a TV para um grande público, realização de programas de rádio e TV, com o suporte da mídia urbana como painéis nas ruas e aeroportos, tornando-se um acontecimento para a Música Popular Brasileira. Temos muito o que fazer pela Música Popular Brasileira, pensando e colocando em prática ações que permitam ao mercado oferecer condições igualitária a todos, assim como possam beneficiar a nossa classe. E este é um papel que a nossa Festa da Música vem cumprindo com garra e maestria. * Rosemary é cantora


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É tri legal tchê

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Jackson Ciceri/ Festa da Música

Opinião

A Festa Nacional da Música de 2015

e 45 anos desde a primeira edição até a retomada, há 11 sta Nacional da Música tem sido palco para importantes *Marcosa Lacerda bre os problemas que afetam indústria musical do principal característica da Festa remuneração do pauta dos encontros, direito autoral, Música é a divertaria, músicaNacional digital,dadiscussões estas que resultaram em sidade, o que a coloca numa como adistância PEC da Música e o vale-cultura. segura de qualquer forma

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de sectarismo autorreferente. Foi isso

ebates,que o encontro é regado pela arte mais popular do senti nitidamente ao participar, convidado, da edição de da e talentos da nossa onizadacomo com a diversidade de2015 ritmos Festa. Ali estavam artistas de diversos nfira nas próximas páginas os astros e estrelas que já gêneros da nossa música popular: serpassarela Festa Nacional Música, transformandotanejo,da tanto veteranos como da Sergio encontro da música brasileira. Reis, quanto novatos como as duplas do chamado “sertanejo universitário”, caso dos cantores João Bosco & Vinicius; pagode romântico com a presença do grupo Pixote ao lado de veteranos como Péricles, ex-Exaltasamba; rock, com o engajado e culto Tico Santa Cruz e os veteranos do grupo O Terço; rap, com Gabriel, O Pensador; funk, com Mr. Catra; música religiosa (gospel e católica) com a cantora Damares e o cantor Alessandro Campos. Também tivemos a presença de artistas mais veteranos da MPB, dentro de uma linhagem mais pop, casos de Guilherme Arantes, Marina Lima, Sandra de Sá, 14 Bis, Fafá de Belém, entre outros, configurando uma imagem complexa e plural da nossa música popular. Ainda mais, tivemos a presença de dois dos maiores compositores da música brasileira em todos os tempos: Ronaldo Bastos e Ivan Lins, ambos já homenageados. Ronaldo e Ivan ainda são dos nossos principais artistas da canção, continuam compondo e atuando, cada um a seu modo, nos novos rumos sociais, econômicos, políticos e estéticos da canção popular feita no Brasil. Há ainda uma série de outros aspectos que podemos destacar, como o nível de excelência, gentileza e cordialidade na organização e na recepção dos convidados. O serviço do hotel, em Canela, no Rio Grande do Sul, foi exemplar. A elegância, gentileza, atenção e respeito dos organizadores também, em especial o organizador 12|FNM

da festa, Fernando Vieira. Na mesa de inauguração do evento tive a oportunidade de falar um pouco sobre a questão dos artistas independentes e da precarização das relações de trabalho, especialmente para estes artistas, que vivem um momento de transição ainda em aberto, no qual a indústria fonográfica vem perdendo muito da concentração do capital e, por extensão, da concentração da produção, circulação e difusão da música popular feita no Brasil. Temos trabalhado com este tema no Centro da Música da Funarte, sempre levando em consideração os diversos grupos de interesse que viabilizam a criação e a circulação da música no Brasil. Não cabe ao Estado, a nosso ver, tomar partido por este ou aquele grupo, mas atuar como instância de mediação capaz de consolidar consensos que possam ser do interesse de todos, afinal de contas, no fundo, estamos do mesmo lado, Estado e sociedade civil, do lado desta que é uma das nossas maiores riquezas simbólicas: a música popular brasileira. Como diz a conhecida crônica de Mário de Andrade: “sejamos todos musicais”. Agora posso acrescentar “sejamos todos corteses”, muito embora me pareça a cortesia um corolário da música. Ou melhor: do musical.

Sigamos, então, o mestre modernista: sejamos musicais... e corteses! Ora, se a Festa Nacional da Música tem sido exemplar ao trabalhar com a diversidade, sem reduzir a multiplicidade de gêneros da música popular brasileira a qualquer forma intransigente e antidemocrática de sectarismo, por outro lado nunca é possível abranger a totalidade de expressões musicais num país de dimensão continental como o nosso. É por conta disso que sugerimos, para a próxima edição, a presença de artistas da música independente, que vêm se destacando através de redes sociais e coletivos de produtores e críticos em todo o Brasil, com especial destaque para a cidade de São Paulo, Belém, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Recife. Do mesmo modo, sugerimos também a presença de artistas mais ligados à chamada “cultura popular”, que mantém uma criação substancial na nossa música mais ligada ao “folclore”. Com isso, acredito, iríamos enriquecer e dar complexidade ainda maior à Festa Nacional da Música, que tem, como sua identidade maior, a abertura para a pluralidade de formas de se fazer canção e música popular no Brasil. * Marcos Lacerda é diretor do Centro da Música da Funarte - Ministério da Cultura


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Afinada com a MPB

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Jackson Ciceri/Festa da Música

Opinião

Com seriedade e alegria, a Festa valoriza a pluralidade da produção musical brasileira

* Victor Hugo

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alar sobre um evento que consegue reunir a cadeia produtiva da música em sua totalidade, contemplando diversos gêneros, e se adaptar às mudanças do tempo e do mercado é muito prazeroso. A Festa Nacional da Música, que em 2015 chegou à sua 11ª edição, merece ser aplaudida e comemorada. Por esse motivo, o Governo do Estado, representado pela Secretaria de Estado da Cultura, sente orgulho em participar da Festa Nacional da Música, por meio do seu Sistema Pró-Cultura RS – especificamente

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pela Lei de Incentivo à Cultura – LIC. O encontro que se iniciou nos anos 1970 como a Festa do Disco, já reuniu grandes nomes da música brasileira e lançou outros tantos que se tornaram sucesso. O conceito da festa, ampliado a cada edição, a tornou uma referência para artistas, músicos, gravadoras e representantes do mercado. Seu diferencial é a continuidade e a troca de experiências e conhecimentos entre artistas, integrantes da produção musical no Brasil e o público. Além disso, a promoção de debates na busca de soluções para as demandas do setor

assume uma força na ampliação do acesso aos caminhos para o artista conseguir as respostas para as inquietudes da classe. A espontaneidade dos encontros cria a possibilidade de parcerias inusitadas, além de colocar juntos os diretamente envolvidos na criação e difusão de todos os segmentos da música brasileira. Que venha a 12ª, 13ª e muitas mais edições. * Victor Hugo é secretário de Estado da Cultura RS


FESTA NACIONAL DA MÚSICA Há mais de uma década

Ponteando a viola

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Jackson Ciceri/Festa da Música

Opinião

A importância da Festa Nacional da Música

*Marcelo Crivella

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ive o privilégio de estar presente na Festa Nacional da Música, uma das mais belas festas musicais deste País, realizada na deslumbrante Serra Gaúcha, em Canela (RS). Em sua 11ª edição, pude participar como cantor e incentivador, com jovens e adultos cantores e compositores, nacionais e regionais. Na Festa, tive a oportunidade de falar sobre meu projeto de lei para que não se renove concessões de rádio e TV de concessionário que não esteja em dia com os pagamentos de direitos autorais. Esse encontro social e fraterno e o debate das questões da música, direitos autorais, mercado e políticas culturais são fundamentais para o crescimento e consolidação da nossa música. A diversidade musical existente no País, com riquezas de estilo, gênero,

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formato e o talento dos futuros artistas são predominantes nas apresentações e desponta o Gospel, crescendo e se consolidando, tornando-se um dos maiores. Lembro-me quando menino frequentando igrejas evangélicas. As músicas que cantávamos eram as da “Harpa Cristã”, quase 100% versões de hinos americanos e ingleses. Hoje mudou. As igrejas cantam seus sucessos gospel. Como cantor gospel há 25 anos, acredito na idealização e na construção de projetos que dão fé e esperança a milhares de crianças, jovens e adultos deste País. Com os recursos arrecadados com a venda de meus discos, construí o Projeto Nordeste, Fazenda Nova Canaã, localizado em Irecê (Bahia), que atende mais de 700 crianças carentes

diariamente, fornecendo educação, cultura, esporte e lazer.

A música pode transformar vidas, direta e indiretamente

No estado Rio de Janeiro criei um programa autossustentável chamado “Som Mais Eu”, que consiste em formar uma orquestra com as crianças pobres do Morro da Providência. É emocionante vê-los se apresentarem. É preciso multiplicar esse programa pelo País afora. É um meio eficaz para a proteção à nossa juventude contra o apelo da ociosidade e do crime. Viva a música. Viva a Festa Nacional da Música. Parabenizo aos organizadores, incentivadores, artistas e todos que participaram desta belíssima celebração. * Marcelo Crivella é senador (PRB/RJ), cantor e compositor gospel


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No compasso da MPB

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7 a 11 de marรงo 2016

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FESTA NACIONAL DA MÚSICA Há mais de uma década

Na batida do samba

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AgĂŞncia de Turismo

AgĂŞncia de Turismo

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20|FNM Agile quarta-feira, 13 de janeiro de 2016 13:25:03


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É Rock and Roll na veia

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Mauro Vieira/Festa da Música Edison Ercole, diretor-presidente da Disc Press

A mídia física na era digital Diretor-presidente da Disc Press, Edison Ercole avalia que o CD e DVD não devem cair em desuso pelos próximos 10 anos

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resente na Festa Nacional da Música 2015, a Disc Press entregou aos convidados uma lembrança do evento. A empresa fabrica e replica CDs e DVDs e, na ocasião, disponibilizou a todos os participantes o material para recordar a noite de homenagens e shows no Salão Implúvio do Hotel Laje da Pedra, que aconteceram nas noites de segunda e terça-feira, respectivamente. “É muito importante para nós estarmos presentes aqui. Não é um marketing comercial, mas um marketing institucional. Isso nos interessa muito”, disse Edison Ercole. A empresa, que montou um estande na recepção do hotel, é conhecida no mercado fonográfico. “Os músicos já estão acostumados a ver o pessoal aqui. Temos clientes do Brasil todo”, afirmou. 22|FNM

Longe da matriz, a Disc Press realiza em Canela, para a Festa Nacional da Música, o processo de duplicação. Com o rótulo e o material gráfico trazidos prontos de Porto Alegre, a empresa carrega consigo todo o equipamento de gravação e monta o material numa sala. Ali, realizam a gravação e inserção no material gráfico. Em um período de aproximadamente quatro horas, o DVD da noite anterior já está disponível para os convidados. “Isso é uma forma que temos, hoje, de atender ao mercado”, explicou Ercole. Para o empresário, as formas de armazenamento de dados que existem hoje não competem com o CD e o DVD. “Muitos falam em pen drive e cartão, mas estes são apenas

segmentos de armazenamento de informações. O CD e o DVD vão continuar por muito tempo, até que surja uma mídia que possa substituí-los”, avaliou. Isso porque a qualidade do áudio das mídias físicas é muito maior do que a música digital, mesmo quando comparado a aplicativos de reprodução como o Spotify. “Se compararmos, em um equalizador, é possível verificar uma diferença muito grande”, explicou. Além disso, o fator emocional também é um importante componente: ter em mãos uma recordação do evento, de forma tão imediata, é fundamental. Por esses motivos é que Ercole avalia que a mídia física deve continuar por, no mínimo, uma década. “O CD e o DVD são como uma obra de arte. E, como tal, não vão cair em desuso”, afirmou.


FESTA NACIONAL DA MÚSICA Há mais de uma década Em louvor a nossa música

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FESTA NACIONAL DA MÚSICA Há mais de uma década

É puro Axé

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Impulsionando a classe artĂ­stica FNM|27


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Opinião


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Festa Nacional da Música completa 45 anos de atividade, comandada pelo nosso querido Fernando Vieira, que teve a sensibilidade de diagnosticar as várias tendências da música do nosso País e contemplá-las todas, sem exceção, com a premiação digna da riqueza de cada gênero musical existente no Brasil. Um país musical como o nosso, cuja efervescência cultural se expressa de forma imensa com a música, nas suas variantes de todos os matizes, merece premiar os grandes titulares que honram a cultura de nosso país. E assim é ao longo destes 45 anos, durante os quais a Festa Nacional da Música contemplou autores, editores, intérpretes, músicos, produtores, críticos, radialistas e toda a cadeia produtiva da música brasileira. Participo da Festa há 13 anos e posso afirmar que uma das maiores preocupações tem sido exatamente cuidar da relação dos titulares com seus direitos autorais. Isto é vital para a classe artística brasileira, que hoje recebe valores mais significativos e mais aptos a remunerar, no âmbito da execução pública, suas criações musicais. Isto é uma conquista da classe autoral musical brasileira e a lisura e a correção de procedimentos que norteiam a arrecadação e a distribuição de direitos autorais geram aos artistas uma possibilidade de sobreviver pela utilização de seus trabalhos, seja na forma de execução em televisão, em televisão por assinatura, em retransmissão, em rádio, cinema, sonorização ambiental, shows, casas noturnas, grandes eventos, festas, rodeios, exposições, festas juninas, carnaval e outras modalidades de utilização das obras musicais. O cuidado que se tem tido com a gestão dos direitos autorais se manifesta na exata medida da segurança que se impõe aos titulares, para que recebam os valores decorrentes da arrecadação e da distribuição de direitos pelo sistema brasileiro de gestão coletiva. A ABRAMUS – Associação Brasileira de Música e Artes, que

tenho a honra de dirigir e que fundei há 33 anos, hoje congrega 50 mil titulares de direitos autorais e conexos. Um estádio de futebol cheio. Cheio de gente talentosa, inteligente, sagaz, experimentada, alguns mais outros menos sofridos, de todas as idades, de todos os gêneros, de todos os matizes, que vêm buscar na ABRAMUS um porto seguro para a sua sobrevivência digna. A Festa da Música que até a sua última edição aconteceu na linda Cidade de Canela, no Estado do Rio Grande do Sul, e que agora se projeta para a realização em outras praças do território nacional, tem sido um dos mais importantes centros de debate e de informações sobre os direitos autorais. Por isso, a ABRAMUS cuidou de estruturar uma forte equipe artística, comandada pelo grande Patinete, com o auxílio de sua equipe, fazendo menção especial ao Caetano e à Dani, que recepcionaram os artistas com carinho, atenção e amizade, elementos estes absolutamente fundamentais para que a sensibilidade musical aflore e se manifeste calorosa com a entidade. O estande da ABRAMUS e os eventos dos quais participamos, no âmbito da Festa da Música, demonstram que é absolutamente imprescindível cuidar de nossos artistas com a dignidade que merecem e com a atenção particularizada que cada um deles recebe da nossa equipe. A festa integra hoje um importante calendário de encontro de artistas brasileiros e temos o cuidado de buscar sempre maior participação, fazendo com que nosso estande seja um verdadeiro ponto de encontro musical e também técnico, para recepcionar a imensa classe artística nacional. Estaremos sempre presentes, como estivemos ao longo dos últimos anos, trazendo novas matérias de interesse dos artistas, buscando formatar sempre um projeto cultural, no espectro da gestão coletiva, sempre com transparência e objetividade que são fundamentais nessa relação com os músicos. É preciso compreender a música brasileira como um elemen-

to econômico-financeiro na cadeia produtiva da música, trazendo para a classe artística o conhecimento técnico de que dispomos para ajudá-los na defesa dos seus direitos autorais. Dispomos de equipes por todo Brasil para orientar os artistas, registrar seus repertórios, acompanhar a documentação de suas obras e interpretações, proceder aos registros internacionais e buscar suas receitas no Brasil e no Exterior. A ABRAMUS participa de quatro entidades internacionais para a defesa dos repertórios brasileiros no exterior e dos repertórios estrangeiros no Brasil. São elas: a CISAC – Confederação Internacional de Sociedade de Autores e Compositores; IFPI – Federação Internacional da Indústria Fonográfica; SCAPR – Confederação Internacional das Sociedades de Intérpretes e Músicos; e FILAIE – Federação Internacional Latino-Americana de Intérpretes e Executantes. A ABRAMUS atua ainda nas áreas de dramaturgia, artes visuais e audiovisual. Temos certeza de que a proposta da ABRAMUS converge com a proposta do nosso querido Fernando Vieira que, com a sua inteligência e tenacidade, acabou por dar uma envergadura à Festa Nacional da Música absolutamente compatível com a grandeza da arte brasileira, cumprindo assim sua destinação histórica. Obrigado, Fernando Vieira e sua equipe! A Festa Nacional da Música e a ABRAMUS estão congraçados em um só projeto que não é outro senão o de respeito à classe artística brasileira, trazendo conhecimento técnico e generosidade nas relações com os artistas naquele que é, sem dúvida, o maior encontro musical da América Latina. Viva a Festa Nacional da Música!

* Roberto Corrêa de Mello é diretor Geral da ABRAMUS, advogado e diretor da Autvis (Associação Brasileira de Arte Visuais) FNM|29


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Editorial Opinião Disc Press, a mídia física na era digital Congresso de abertura Homenageados 2015 Homenagem a Fernando Brant Palestra: Midias sociais e empreendedorismo 50 anos da Jovem Guarda Mini Concertos Sebrae Ninho da Criação Audição Fafá de Belém Robertinho de Recife, mais mercado para a música Show Implúvio: Encontro de ritmos ConeCTa: Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais Sandra de Sá, na luta pelos direitos autorais Clube da Esquina

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Rodrigo Santos: Rock em festa e livro Dalto: compositor por vocação, cantor por acidente Mr. Catra, o símbolo do funk pesadão Palestra: plataformas virtuais x direitos autorais Maria Cecília & Rodolfo, o novo sertanejo Bidê ou Balde entre alienígenas Paula Lima invade a rede Ivan Lins comemora 45 anos de carreira Ecad debate nova lei 12.853/13 Luiz Marenco, as raízes da cultura gaúcha Tchê Guri comemora 25 anos Gelson Oliveira faz o que sempre sonhou Guri de Uruguaiana, o guri das mídias Entrevista com Guilherme Alf Dr. Hank voa alto Wilson Paim faz pocket show

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Leo Gandelman e George Israel: encontro de sax Mostra de Instrumentos Rosemary esbanja vitalidade Vivo pela música Sá não cansa de tocar seus sucessos Carlinhos de Jesus: “dança é música” Bom Gosto: pela doação de órgãos Pinha lança EP / Hellen Caroline: princesinha do pagode Sbacem em defesa do direito autoral Show Gospel: quando a música encontra a fé Palestra gospel : crescimento das mídias digitais Oswaldir e Carlos Magrão: 30 anos de estrada Zueira e seu Samba Solto Gazebo Cultural, espaço para as artes Instrumental Best Dream / Milena Dallarosa Lulli Chiaro, música italiana Marcos Sabino: brilho eterno de “Reluz” Elton Saldanha, sucesso da música tradicionalista Papas da Língua, muito além dos 20 anos Atitude Nobre estreia na Festa da Música Ivo Meirelles e Funk’n’Lata Robson Miguel, do violão à literatura Show no Centro de Feiras: um palco, vários estilos Imprensa na Festa da Música Gre-Nal dos Artistas Jams Sessions: a festa nunca termina

Expediente A Revista da Festa Nacional da Música é uma publicação especial da VF Editora Ltda Coordenação Executiva: Manoela Vargas Vieira e Fernando Vargas Vieira Coordenação Comercial: Manoela Vargas Vieira Edição: Claudia Kovaski (reg. prof. 7973) Textos: Claudia Kovaski, Karen Espinosa, Gustavo Victorino, Paula Martins e Renate Melgar Fotos: Graça Paes, Jackson Ciceri, Mauro Vieira, Michel Paz, assessorias de imprensa e arquivo pessoal dos artistas Projeto Gráfico, diagramação e arte final: Paulinho Bom Ambiente Impresso na Gráfica Odisseia www.graficaodisseia.com.br

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VF Editora Ltda Av. Dom Pedro II, 1610, conj. 405 Porto Alegre – RS vfeditora@vfeditora.com.br www.festanacionaldamusica.com.br FNM|31


Congresso Nacional da Música debate demandas da indústria fonográfica nacional

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Congresso Nacional da Música, que abre oficialmente a Festa Nacional da Música, aconteceu às 18h do dia 19 de outubro, com a presença de representantes da música e da política de diferentes áreas de atuação. Integraram a mesa de debates o organizador do evento, Fernando Vieira, o produtor Carlos de Andrade, o secretário estadual de Cultura do RS, Victor Hugo, a gestora da carteira de economia criativa do Sebrae, Denise Marques, o cantor e agora deputado federal Sergio Reis, o compositor Ivan Lins, a superintendente executiva do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), Gloria Braga, e o parlamentar Marco Maia.

Fernando Vieira

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Da esquerda para a direita: gestora da carteira de economia criativa do Sebrae, Denise Marques; cantor e compositor Ivan Lins; produtor musical Carlos de Andrade; secretário estadual de Cultura do RS, Victor Hugo; diretor do setor de música da Funarte, Marcos Lacerda; cantor Sergio Reis; deputado federal Marco Maia; superintendente do Ecad, Gloria Braga; e violonista Robson Miguel

Com a plateia cheia de nomes do mercado musical, como os executivos André Midani e Armando Pittigliani, o jornalista e fundador da revista “Backstage” Nelson Cardoso, o compositor Joel Marques e alunos-destaque da escola da Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), o encontro debateu as atuais demandas da indústria fonográfica. “Aqui podemos articular os melhores caminhos para a nossa música, e uma das coisas que está em foco, com grande apoio do Governo, é a questão do universo digital. Esse é um dos segmentos mais importantes da indústria hoje em dia porque tudo indica que a música irá crescer e se desenvolver nesta direção”, apontou Carlos de Andrade, o Carlão.


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Apresentadora Vera Armando

dos autores e das editoras”, confirmou Gloria Braga.

Com interferência direta no trabalho de arrecadação do Ecad, o crescimento da música digital é uma das principais preocupações da entidade, que vem se articulando para se enquadrar nesta nova tendência. Em 2014, as vendas mundiais deste segmento se igualaram pela primeira vez às vendas físicas, estimuladas por serviços de streaming. “Este é o nosso maior desafio neste momento: cobrir todos os serviços digitais que estão agora entrando no Brasil e fazer valer o direito dos compositores porque toda a parte de cobrança dos direitos conexos está sendo feita pelas gravadoras e nós vamos cobrar o direito

Robson Miguel

Segundo o IFPI (Federation of the Phonographic Industry), as assinaturas deste tipo de serviço, como o Spotify e o Deezer, ainda são uma parcela pequena da indústria. Mas a federação revelou que o faturamento aumentou significativamente em 2014 e, em janeiro de 2015, já apresentou rendimentos superiores ao mercado convencional. O fôlego desse novo serviço, puxado pela vantagem de poder ouvir música de forma ilimitada, avança com um público de 15 a 25 anos. “Nós estamos em um momento muito interessante de regulamentação desse segmento e temos esperança que isso se esclareça o mais rápido possível. Vai haver uma regulamentação do Ministério da Cultura

e nós já estamos preparados para fazer toda a distribuição dos valores”, garantiu a superintendente do Ecad.

Música cantada x música instrumental Na contramão do faturamento digital, os artistas que dependem de incentivos culturais ainda vivem uma fase de lutas por direitos iguais. “O único setor artístico que tem uma diferenciação estilística é a música. Os outros setores podem se beneficiar de 100% de seus investimentos pela lei federal. Na música, se for cantada ou instrumental há uma diferença percentual, ou seja, a música instrumental ou clássica pode se beneficiar de 100% do incentivo, mas qualquer outro formato está inserido em uma redução de alíquota em

Carlos de Andrade

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Denise Marques

Ivan Lins

Sergio Reis

pela lei”, defendeu Carlão, que teve o apoio do diretor do setor de música da Funarte (Fundação Nacional de Artes), Marcos Lacerda. “A nossa música é heterogênea por excelência e avessa a qualquer tentativa de se criar qualquer sectarismo autorreferente. Todas as classes sociais fazem canção de alto nível. Só que nós estamos vivendo um processo de precarização das relações de trabalho da música popular brasileira. A nova geração está penando”, disse o representante.

participei pela primeira vez da Festa da Música porque foi ali que eu consegui conhecer de perto todas as necessidades do mercado musical, porque eu estava no meio de quem faz a música”, lembrou Marco Maia, que teve papel ativo na luta pela aprovação da PEC da Música. “Neste ano estou aqui não só como artista, mas como deputado. Vou participar de todas as reuniões e ouvir todas as dificuldades de cada um para poder chegar até o ministro da Cultura e explicar com detalhes o que está errado e o que está certo. Junto a isso, os músicos precisam, por si próprios, acompanhar os órgãos de defesa da música, ir até as instituições e se informar sobre o trabalho delas”, alertou Sergio Reis.

Ivan Lins, Armando Pitigliani e Andre Midani

que só é possível deduzir 30% do dinheiro aplicado. Nenhum investidor opta por essa maneira de patrocinar”, lembrou Carlão. Conforme o produtor musical, os mecanismos estabelecidos pelas leis de incentivo à Cultura em relação à música acabam prejudicando a parcela de artistas que mais necessita de fomento. “Ninguém vai financiar com dinheiro público um artista já consagrado, que já ganha bem, que já tem sua carreira formada, por isso essa divisão entre música instrumental e cantada acaba atingindo grupos como associações de canto-coral, de folclore brasileiro, que são pessoas que precisam desse tipo de incentivo e que estão excluídas 34|FNM

Representando a Câmara Federal, Marco Maia e Sergio Reis reforçaram a importância de ter pessoas que conheçam as demandas artísticas no Congresso Nacional. “Foi assim quando


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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Victor Hugo

Marcos Lacerda

Marco Maia

Gloria Braga

Mercado profissional

Outra realidade preocupante discutida no congresso foi o reflexo da crise financeira no mercado de shows. “Os artistas têm usado bandas cada vez menores porque o preço dos shows caiu, o mercado está muito atingido pela situação econômica do País e é preciso discutir os melhores caminhos para que todos possam viver da sua arte. A máquina quer funcionar e todos que fazem parte dela querem se aprimorar, se tornar mais eficientes”, ponderou Ivan Lins. “Como humanista, penso muito nas pessoas, que na nossa indústria são justamente os produtores

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de música, muito importantes em todo esse processo. E eu defendo esta causa principalmente pelos que não têm acesso à matéria de subsistência, que são os compositores e artistas da nova geração e também os músicos que são muito atingidos por essas crises”, completou Ivan. Buscando espaço para esses novos profissionais no mercado, o Sebrae tem auxiliado músicos, compositores e produtores na formalização de seu trabalho, facilitando sua inserção e permanência na profissão. “Nós acreditamos que iniciativas como a Festa

Nacional da Música possam fortalecer o mercado fonográfico nacional, que hoje, apontado por estatística, é composto por 72 mil empresas. Dessas 72 mil, 75% são micro e pequenos negócios. E o mais interessante ainda é que 50% desses empreendimentos estão inseridos no MEI (Microempreendedor Individual)”, explicou a gestora da instituição, Denise Marques. “O nosso objetivo é justamente fortalecer este segmento da música com o intuito de difundir a cultura empreendedora e também trabalhar um pouco a qualidade da gestão desses negócios”, concluiu.


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Celebração à música P

elo 11º ano, a Festa Nacional da Música promoveu um momento de celebração à música brasileira, reconhecendo o talento e contribuição de profissionais das mais diversas áreas para o seu desenvolvimento. Comprometida em fortalecer a diversidade musical do Brasil, a noite de homenagens da edição 2015 contemplou os mais diferentes gêneros musicais e entregou troféu a grandes nomes da MPB, a bandas que vêm despontando no cenário musical nas últimas décadas e a executivos e críticos que ajudam a manter a excelência da indústria fonográfica nacional.

Um brinde à música

Tico Santa Cruz e Gabriel, O Pensador

Serginho Moah, Dodô e Paula Lima

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Fotos Mauro Vieira/Festa da Música Homenageados 2015

Péricles e Padre Alessandro Campos

Damares com Anayle e Michael Sullivan

Ronaldo Bastos e Juarez Fonseca

Fafá de Belém e Marina Lima

Armando Pittigliani e Gloria Braga, do Ecad

André Midani e Carlos de Andrade, o Carlão

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Ronaldo Bastos e Juarez Fonseca

Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

A cerimônia de premiação iniciou com Guilherme Arantes, que recebeu troféu pelas mãos de Ivan Lins. “É uma emoção muito grande receber essa homenagem por meio do meu maior ídolo, porque tudo o que eu queria era ser Ivan Lins”, revelou Guilherme. Autor de clássicos que atravessaram décadas, o cantor presenteou a plateia com um medley de “O Melhor Vai Começar”, “Meu Mundo e Nada Mais”, “Luzes da Cidade”, “Cheia de Charme”, “Amanhã” e “Planeta Água”. “Essa festa é sempre um diferencial na carreira de todos nós”, encerrou o músico.

Flávio Venturini

A festa continuou embalada por uma das sonoridades mais sensíveis e delicadas da música brasileira ao homenagear Flávio Venturini, que recebeu troféu do evento pelas mãos de Leo Gandelman. “Essa homenagem foi uma surpresa e eu fiquei muito honrado. Aqui é sempre um encontro de grandes artistas, onde a gente pode viver a nossa música popular, que é tão rica”, agradeceu o cantor e compositor, que apresentou a canção “Nascente” ao piano.

João Bosco & Vinícius com Sergio Reis

A noite seguiu em ritmo campeiro com homenagem à dupla João Bosco & Vinícius, que foi aguardada no palco por Sergio Reis. “Acredito que a música sertaneja se tornou a mais popular do Brasil graças a ídolos como o Serjão terem acreditado nela”, disse João Bosco. “Com certeza esse vai ser um dos momentos mais marcantes da nossa carreira. Tomara que essa seja a nossa primeira vez de muitas nessa festa”, completou Vinícius. Os dois convidaram Sergio para cantar “Chalana”, um clássico de raiz, e depois emendaram o novo single “Esperando Você Chegar”, “Me Leva Pra Casa” e um trecho do hit “Chora, Me Liga”.

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Flávio Venturini com 14 Bis

Mauro Vieira/Festa da Música

Guilherme Arantes

No universo dos pensadores da música, a noite festejou a trajetória de Juarez Fonseca, um mestre do jornalismo cultural gaúcho, que dedicou carreira e vida pesquisando, produzindo e refletindo sobre a música nacional. “O Juarez é, para a nossa atividade, um cara muito importante porque ele tem exatamente a medida entre a paixão pela música e o rigor da crítica”, disse Ronaldo Bastos, um dos maiores compositores brasileiros, que entregou a distinção ao crítico musical. “É um grande prazer, e uma honra, receber esse troféu das mãos do Ronaldo. A gente nunca acha que merece, mas, no fim das contas, é muito prazeroso”, declarou.

Da mesma trupe de Flávio, os próximos homenageados foram os garotos da banda 14Bis, chamados no palco por Sá, da dupla Sá & Guarabyra. “Parece que fechou um ciclo porque nós fomos homenageados na primeira festa, nos anos 1980, quando se chamava Troféu Discovisão. E receber novamente, depois de mais de 30 anos, ainda mais com essa plateia incrível, cheia de músicos, é maravilhoso”, lembrou Cláudio Venturini, vocalista do grupo, que tocou “Caçador de Mim” e, acompanhado de Flávio Venturini e Gandelman, interpretou “Todo Azul do Mar” e “Linda Juventude”.


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Figura expressiva no meio executivo fonográfico, o homenageado seguinte foi Cicão Chies. Sócio-fundador da DC SET ao lado de Dody Sirena, ele foi um dos responsáveis por trazer ao Brasil grandes nomes da música internacional, como Michael Jackson, fazendo história no show business brasileiro. Com troféu entregue pelo vice-presiente da Rede Pampa de Comunicação, Paulo Sérgio Pinto, Cicão agradeceu. “Me sinto muito feliz, emocionado e lisonjeado porque essa homenagem é um reconhecimento por aquilo que a gente faz”, concluiu o empresário.

Com uma mistura de som sertanejo com letras que falam de Deus, quem agitou o público foi o Padre Alessandro Campos. Ele recebeu o troféu da Festa da Música pelas mãos de Péricles e cantou “O que É que Sou Sem Jesus?” e “No Dia em que eu Saí de Casa”, de Zezé Di Camargo & Luciano. “Receber um prêmio no meio de tantos artistas é, de fato, uma situação inusitada. Nós estamos acostumados com os fãs. Mas subir no palco e ver artistas nos assistindo é uma emoção muito grande, porque aqui estão os maiores nomes da música. É uma mistura de sentimentos”, avaliou o cantor.

Uma das mais belas vozes femininas da MPB, a homenageada Marina Lima foi anunciada por outra diva da música brasileira, Fafá de Belém. “Essa festa é uma delícia! Fiquei muito feliz aqui, encontrei pessoas que não via há anos. É uma sensação muito boa, de reencontro”, comemorou a cantora. Ela chamou de volta ao palco o saxofonista Leo Gandelman, que a acompanhou numa interpretação intimista da música “Virgem”. Para fechar a apresentação, Marina convidou George Israel para se juntar a Gandelman e tocar “Fullgás”, um de seus maiores sucessos.

Paulo Sérgio Pinto e Cicão Chies

Pe. Alessandro Campos

Marina e Léo Gandelman

Nome que ajudou a escrever a história da indústria musical brasileira, chamado até mesmo de “O Poderoso Chefão da MPB”, André Midani recebeu homenagem por meio do produtor musical Carlos de Andrade, o Carlão. “É uma honra muito grande ser homenageado aqui. Eu nem esperava. Só tenho a agradecer à música brasileira pelo que fez por mim e a todos os artistas, aqui presentes ou não”, respondeu Midani, que nasceu na Síria, foi criado e iniciou a vida profissional na França até chegar ao Brasil, em 1955.

Os gaúchos da Chimarruts acentuaram a noite de homenagens com o som do reggae. Eles foram recebidos no palco pelo Papas da Língua, que puxaram à capela da canção “Chapéu de Palha” – single do grupo. “Isso tudo é muito especial porque aconteceu justamente no ano em que a gente completa 15 anos de carreira, então foi muito importante para nós receber essa homenagem, que é de músico para músico. É indescritível”, contou Rafa Machado. Eles interpretaram os hits “Pra Ela” e “Do Lado de Cá”.

Depois de passear pela leveza do reggae, a noite de premiações voltou à batida efervescente do rock ‘n’ roll progressivo com a banda O Terço, esperada no palco por Pepeu Gomes. “Este é um momento muito importante para a gente. A música agradece a essa festa, porque eu acho que não existe um evento desses no mundo inteiro, que reúne vários artistas durante tantos dias”, declarou Sérgio Hinds em nome do grupo, que tocou, acompanhado de Flávio Venturini, “Criaturas da Noite” e “Hey Amigo”.

André Midani

Chimarruts

O Terço

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Gloria Braga

Damares

Bruno Cardoso e Dodô, do grupo Pixote

Dos holofotes para os bastidores da música, a homenageada seguinte foi Gloria Braga, que recebeu o troféu do evento das mãos do produtor Armando Pittigliani. Superintendente executiva do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), a advogada é especialista em Direitos Autorais. “Estou muito feliz. Agradeço ao Fernando [Vieira] e a toda organização e penso que esse é um prêmio para o Ecad. Eu estou apenas recebendo em nome dele”, garantiu Gloria.

Damares foi a representante da música gospel na premiação da Festa Nacional da Música 2015. Ela recebeu o troféu das mãos do casal de compositores Anayle e Michael Sullivan. “Estou muito feliz e emocionada pelo privilégio de estar aqui pela primeira vez. Quero agradecer a Deus em primeiro lugar por tudo o que Ele tem feito nestes quase 20 anos de carreira”, declarou. Após receber o prêmio, a cantora embalou a plateia com as canções “O Maior Troféu” e “Sabor de Mel”.

Entre a batucada e o romantismo do pagode, o Grupo Pixote recebeu o troféu da Festa da Música pelas mãos de Bruno Cardoso, vocalista da banda Sorriso Maroto. “Batizei essa festa de ‘a Disneylândia dos artistas’ e estou muito feliz por essa homenagem. Em nome do Pixote eu agradeço de coração”, disse Dodô, emocionado, depois de relembrar momentos de várias edições da Festa da Música. Com a participação de Bruno, o grupo tocou “Insegurança”, uma das músicas de maior sucesso da carreira.

Gabriel, o Pensador

O rap teve seu espaço garantido e ficou por conta de Gabriel, O Pensador, homenageado por meio de Tico Santa Cruz. “Essa homenagem é muito bem-vinda e eu recebo com muito carinho porque ela é feita por quem ama a música, fortalece, valoriza e incentiva a música nacional, Fernando [Vieira] e todos os organizadores dessa Festa”. O rapper, que dedicou o troféu aos filhos e à namorada, apresentou “Cachimbo da Paz” e “Até Quando?” ao lado dos Detonautas e Fernando Magalhães, do Barão Vermelho. 44|FNM

No final da entrega dos troféus, uma homenagem dos artistas ao compositor Fernando Brant, falecido em junho de 2015


Michael Paz/Festa da Música

Música, letra e dança Uma das vozes mais expressivas da MPB, Marina Lima faz sua estreia na Festa Nacional da Música

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Mauro Vieira/Festa da Música Fafá de Belém entrega troféu para Marina Lima

Na mensagem, um convite para ser homenageada em Canela, no maior encontro da música brasileira. “Quando ele me convidou, fiquei emocionada e feliz. E sinceramente agradeço por esse reconhecimento”, revelou ao receber o troféu das mãos de outra estrela da MPB, Fafá de Belém.

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Jackson Ciceri/Festa da Música

E

la ajudou a introduzir a levada pop na música nacional e dedicou 41 dos seus 60 anos à profissão. Dos 19 discos, Marina Lima aponta “Todas ao Vivo”, de 1986, como um marco de sua história musical. “Eu era da PolyGram, aonde também se encontravam grandes executivos da música, como o Mariozinho Rocha e Armando Pittigliani. Foi o primeiro disco após a renovação do meu contrato, um divisor de águas na minha carreira.” Décadas depois, ela chega à Festa Nacional da Música pelas mesmas mãos que imprimiram memórias importantes no início de seu trabalho. “Fiquei muito alegre. Recebi um e-mail de um querido amigo, Armando Pittigliani, com quem não falava há muito tempo. Tenho lembranças ótimas da minha convivência com ele – um cara musical, gentil e bem intencionado.”

Marina Lima interpretou “Virgem” acompanhada dos saxofonistas Leo Gandelman e George Israel


Fotos reprodução

O calor do violão

Nascida no Rio de Janeiro, Marina trocou o calor das praias cariocas pelo clima gelado de Washington, Estados Unidos, aos cinco anos de idade. Na mesma época despertou para a música, quando ganhou um violão do pai para matar a saudade de casa com as canções que quisesse. Era assim que ela aquecia o coração e afastava a angústia de morar em outro país, longe das areias quentes de Ipanema, que viriam a ser seu refúgio nada secreto anos mais tarde. “Comecei a ter aula de violão com uma professora chilena, amiga dos meus pais, chamada Isabel Allende. Foi muito bom. Comecei a tirar as canções que eu gostava de ouvido”, conta Marina, que levou do Brasil o gosto pela Bossa Nova, Elizeth Cardoso e Gilberto Gil. Suas outras influências vieram das rádios americanas, sua companhia por aquelas bandas, onde crescia imitando os garotos de Liverpool no espelho. “Eu ouvia muito rádio. E aí eram Beatles, música negra americana, Steve Wonder e também Tom Jobim e João Gilberto, que tocavam muito lá.”

Marina Lima

Com Cazuza

Com Lobão, Cazuza e Zé Luiz

Marina Lima, Elba Ramalho e Nelson Motta em show de Maria Bethânia no Canecão, em 1985

Com Herbert Viana e Roberto Carlos

A música era uma paixão, não restavam dúvidas. Mas a certeza de que tocar violão, compor e cantar seriam uma profissão só veio em uma audição na Warner, que dava seus primeiros passos no mercado brasileiro nos meados de 1960. A oportunidade chegou por meio de uma tia ‘postiça’, que trabalhava como procuradora de vários artistas nacionais renomados na época em que Marina voltava ao Brasil, em 1967. “Ela era uma grande amiga da minha mãe, de anos. Tia Léa tinha acesso a nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, André Midani... Depois dela, tive ajuda de várias pessoas, mas ela foi a pedra fundamental.” E foi o bastante para Marina assinar um contrato de três anos e assumir o posto de primeira cantora a entrar para o cast da gravadora. Com 12 anos, ela se acomodava novamente no berço carioca e mergulhava os ouvidos na arrancada do Tropicalismo e nos festivais de música da Record.

Com Chacrinha

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Fotos reprodução

Entre a prosa e a melodia

Com o irmão Antonio Cícero

Com Leo Gandelman

Os ares cariocas duraram pouco. Aos 15, era hora de Marina voltar aos Estados Unidos para continuar os estudos de música, enquanto seu irmão, Antonio Cícero, dedicava-se à poesia. E ali, numa conversa entre prosa e melodia, nascia uma das parcerias mais fiéis da cantora, que passou a musicalizar alguns trabalhos do irmão. “Ele e o Tavinho Paes são meus principais parceiros na música”, revela a artista. E a quase oito mil quilômetros de lá, tia Léa mantinha os ouvidos atentos às rádios brasileiras. Certa de que Marina faria sucesso, ela convence a cantora a voltar ao Brasil e tentar carreira em meio a uma revolução de vertentes musicais. Em 1977, então, a composição “Meu Doce Amor” ganha a voz aveludada de Gal Costa – por quem Marina se encantou ao chegar por aqui – no LP “Caras e Bocas”. Não demorou muito e um dos poemas de Cícero, musicado por Marina, arrebatava outro ícone da música brasileira: Maria Bethânia queria gravar “Alma Caiada”, mas a canção foi censurada por causa do verso “eu não me enquadro na lei”.

O primeiro disco, o swingado “Simples Como Fogo”, veio logo depois, em 1979. No ano seguinte, o segundo álbum, “Olhos Felizes”, traz mais composições em parceria com Antonio Cícero e dueto com Caetano Veloso em “Nosso Estranho Amor”, colocando a cantora na mesma rota das grandes estrelas da música nacional. Mas é com o quinto álbum, “Fullgás”, em 1984, que ela encontra seu lugar no mapa da MPB. Além da faixa-título, também escrita com o irmão, o disco vinha recheado de outros hits, como “Mesmo Que Seja Eu”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e “Me Chama”, de Lobão, que inclusive assumiu as baquetas nessa roupagem. Depois da provocante “música, letra e dança” de Fullgás, sua forma particular de interpretar, cambaleante entre doçura e agressividade, ela entra na mira de outros compositores e ganha presentes como “Nada Por Mim”, de Paula Toller e Herbert Vianna, e “Eu Te Amo Você”, de Kiko Zambianchi.

Com Claudio Zoli

Com Marco Mazzola e Andre Midani

Com Lulu Santos

Com Antonio Cícero, Nico Rezende, Sergio Della Mônica, Torcuato Mariano, Leo Gandelman, Renato Rocketh, William Magalhães e Paulinho Guitarra

Com Gal Costa e Marília Pêra

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Com Tom Jobim


Fotos reprodução

Som que Vem da Vida

Com Djavan

Com Caetano Veloso

A fase desde o primeiro álbum é boa, mas fica ainda melhor em 1987, com o LP “Virgem”. O disco leva às mãos de Marina três importantes troféus do Prêmio Sharp de Música – Ano Vinícius de Morais: “Pop Rock, “Melhor Disco” e “Melhor Intérprete” com “Preciso Dizer Que Te Amo”. Já a faixa “Uma Noite e 1/2”, do baixista Renato Rocketh, com quem ela dividiu estúdio, estoura nas rádios de todo o País. Era verão, e a temporada tinha um hino na voz de Marina Lima. Em um período de transição, “Próxima Parada” surge como um trabalho mais conceitual. Acompanhado de “À Francesa”, clássico de sua carreira, ela invade mais uma vez o

Com Milton Nascimento

Prêmio Sharp – desta vez no Ano Maysa, nas categorias “Melhor Disco” e “Melhor Cantora Pop Rock”. Entre uma explosão preponderante de vozes femininas, Marina desenha o seu próprio formato e abdica de grandes competições. “A questão não era sobressair, mas ser de verdade. E a verdade, quando bem trabalhada, sempre interessa”, diz a cantora, que faz um passeio por variadas sonoridades e temáticas ao longo da carreira, todas de acordo com o momento em que vive. O resultado é rock, pop, bossa, MPB e pitadas de muitas outras coisas tocando feridas e ideologias de gente de carne e osso. “Se situações me inspiram a criar, busco eternizar esses momentos em música”, comenta Marina sobre altos e baixos da vida pessoal, transformados sempre em matéria-prima para novos trabalhos. Longe dos palcos por seis anos por conta de problemas nas cordas vocais, Marina volta a fazer shows nos anos

Com Erasmo Carlos

2000. No período afastada, grava três discos: “Abrigo”, em 1995, “Registros à Meia-Voz”, em 1996, e “Pierrot do Brasil”, em 1998, nos quais se percebia diferenças nítidas na voz. Mas encerrar a carreira nunca esteve nos seus planos. Depois da morte da mãe, em 2011, Marina deixa o Rio de Janeiro e vai morar em São Paulo. Trancada nos próprios sentimentos em meio ao ar cinzento da capital paulista, ela cria rapidamente o álbum “Clímax”, uma obra profunda em tom confessional. Seu mais recente projeto, o show “No Osso”, rendeu o último DVD, gravado ao vivo em maio de 2015, em São Paulo. Para a escolha das 22 faixas, um elemento importante: o violão – que imprime o desejado tom intimista do álbum. “As músicas que escolhi são as que o violão, junto com a voz, desempenham um papel determinante, pois já sustentam e poderiam bastar àquelas canções. São de diferentes épocas da minha carreira, mas tive o cuidado de deixar alguns hits para não brigarem comigo depois”, brinca a cantora.

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Flávio Venturini completa quatro décadas de carreira

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Michael Paz/Festa da Música

Alma de artista


Fotos jackson Ciceri/Festa da Música Leo Gandelman e Flávio Venturini

C

ompletando 40 anos de uma trajetória coroada com grandes sucessos criados e interpretados ao lado de mestres da música nacional, Flávio Venturini recebeu o troféu da Festa Nacional da Música 2015. “Fiquei super-honrado de ser homenageado nesta festa tão tradicional e importante da nossa música. Esse evento é muito importante por promover o contato e a troca de ideias entre artistas, produtores, executivos da indústria... Sempre acho que talento é importante, mas tudo se resolve no contato pessoal”, disse.

Cantor e compositor apresentou sucesso da carreira

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Inspirado por diferentes referências e motivado pelo rico cenário musical mineiro daquela década, Flávio começou como a maioria dos músicos consagrados: tocando e cantando em bares. Antes de seguir carreira solo, ajudou a criar a identidade sonora das bandas O Terço e 14 Bis – das quais assina parte do repertório autoral com singles como “Nascente”, “Espanhola”, “Noites com Sol” e “Todo Azul do Mar”. “O que me motiva a compor são os amores da vida, as paixões, a natureza e, claro, a riqueza da nossa música”, revelou.

Fotos Arquivo Pessoal

Talento

A distinção trouxe à tona as origens do compositor, que iniciou a caminhada musical no acordeon e no piano e se desenvolveu na carreira artística tocando teclados na noite de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no final dos anos 1960. “Quase fui jogador de futebol. Jogava muito bem, mas acho que escolhi a profissão certa”, avaliou Flávio, que na infância já ouvia muitos discos, na época em vinil. Os estilos que povoam sua memória estão misturados no que ele chama de “caldeirão”, que reunia de Chopin a Luiz Gonzaga, modinhas mineiras e standards, hits americanos de orquestras e música pop, Beatles, canções românticas e rock progressivo. “Da MPB, curtia a Bossa Nova e a Tropicália”, lembrou o cantor.

Com o pai, Hugo Venturini

Flávio e Cláudio Venturini crianças

Capa do disco “Sol Nascente”

Flávio e Cláudio Venturini Banda 14 Bis em 1979

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As primeiras bandas: Os Turbulentos, em 1969

Flávio Venturini com Vermelho, do 14 Bis


Com Dione Warwick

Fernando Brant e Flávio Venturini

Além de letras eternizadas na memória popular brasileira, Brant lhe deixou ainda a vontade de lutar pelos direitos autorais. “Acho que temos de ser mais unidos e caminhar em direção à remuneração mais justa aos compositores”, frisou Flávio, deixando claro que se sente honrado em ter suas composições interpretadas por algum colega. “Posso dizer que tenho a sorte de ter sido gravado por alguns dos maiores nomes da nossa MPB.”

Menina dos olhos

Autor de canções memoráveis, Flávio não esconde sua menina dos olhos: “Todo Azul do Mar”, que marca um momento especial tanto na vida quanto na carreira. Artista de alma independente, foi com o desejo de mais liberdade na vida pessoal e como compositor que ele decidiu investir na carreira individual. O importante, segundo ele, era não se prender a um só estilo – o que não

Com 14 Bis e Sá & Guarabyra

Fotos Arquivo Pessoal

Parceria musical

Neste universo de criatividade, Flávio Venturini não esquece os parceiros musicais, como o ilustre letrista Fernando Brant, falecido em 2015. “Foi um grande amigo e genial compositor. Como parceiros na composição temos somente a canção ‘Trator’, do disco ‘Porque Não Tínhamos Bicicleta’. Mas ele apoiou muito o começo do 14 Bis, nos presenteando com músicas eternas como ‘Canção da América’, ‘Bailes da Vida’ e ‘Bola de Meia Bola de Gude’”, recordou o tecladista.

o impediu que, mais tarde, ele retomasse seu lugar nos antigos grupos que integrou: recentemente ele voltou a gravar com O Terço e também com o 14 Bis. “São todos muito amigos, por isso volto a tocar com minhas bandas antigas. É pela riqueza do trabalho realizado e pela amizade eterna”, confessou. Em meio a uma efervescência musical que marcou as décadas de 1970 e 1980, Flávio imprimiu uma peculiaridade que acentuou a MPB com a sonoridade de Minas. Seu nome representa desde o rock rural na passagem pela a banda O Terço até a mais genuína música instrumental brasileira por meio de sua atuação na banda 14 Bis. Os dois movimentos se entrelaçaram com o inesquecível Clube da Esquina – um marco cultural que reuniu uma expressão artística singular, da qual Flávio fez parte. “O Clube da Esquina tinha uma coisa legal de ser aberto para o mundo, atento a tudo o que estava acontecendo naquele momento. Teve a influência dos Beatles, do jazz, da bossa nova, de toda a música brasileira”, apontou.

Flávio Venturini em show de O Terço, em Belo Horizonte

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Fotos Arquivo Pessoal

Clube da Esquina

visão descontente, o músico acredita que a cultura nacional ainda será valorizada como merece. “O Brasil é de uma riqueza [cultural] enorme e eu ainda confio no bom gosto do nosso povo”, garantiu o mineiro, que planeja um CD instrumental com pitadas de música sinfônica para 2016. “A vida do artista só tem sentido em função da arte, mas muitas outras coisas me fazem feliz: os amigos, a família, viajar... E como hobby gosto muito de fotografia e artes visuais”, revelou.

Amigos no DVD “Linda Juventude”

Sua marca nessa revolução musical que agitou as esquinas de Belo Horizonte e ganhou o Brasil está no LP “Clube da Esquina 2”. “A minha música ‘Nascente’ lançou esse disco. Ela foi gravada pelo Milton com arranjo do Francis Hime. Aí, eu participei do lançamento no País inteiro. Foi a minha entrada oficial no movimento e ficou um marco para sempre na minha vida”, frisou. Os parceiros, inclusive, ainda fazem parte da sua vida. “A gente é amigo até hoje, embora seja difícil se encontrar”, contou Flávio, que esteve novamente no palco com o 14 Bis na Festa Nacional da Música. Junto com o irmão Cláudio Venturini, Hely Rodrigues, Sérgio Magrão e Vermelho, ele encantou a plateia formada por colegas da música no Hotel Laje de Pedra, em Canela. Intimamente ligado aos caminhos da MPB, Flávio criticou a situação atual do gênero. “É um cenário de incerteza, com o domínio cada vez maior de música apenas comercial. Hoje em dia, não basta apenas ser bom músico. É necessário ter qualidade, claro, e objetivos. A concorrência é enorme e as chances nem tantas”, observou. Apesar da Mauro Vieira/Festa da Música

Com Milton Nascimento e o irmão Cláudio Venturini

Flávio Venturini em Canela

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Com Lô Borges e Beto Guedes


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Com 40 anos de carreira dedicados à música, o jornalista cultural e crítico Juarez Fonseca recebeu homenagem em Canela

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Michael Paz/Festa da Música

Paixão pela música


Mauro Vieira/Festa da Música Ronaldo Bastos entrega troféu para Juarez Fonseca

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Jackson Ciceri/Festa da Música

ornalista cultural e crítico musical, Juarez Fonseca tem sua história fortemente entrelaçada com a Música Popular Brasileira. Com mais de quatro décadas dedicadas à arte mais popular do Brasil, o profissional foi homenageado na Festa Nacional da Música, quando recebeu o troféu das mãos de Ronaldo Bastos, um dos maiores compositores do País e defensor ferrenho dos direitos autorais. “É um grande prazer e uma honra receber esta homenagem. Mas gostaria de lembrar de um mineiro que nos deixou recentemente, Fernando Brant. Um grande compositor, uma grande pessoa. Que esta festa seja uma homenagem a ele”, lembrou Juarez Fonseca.

Juarez Fonseca

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Fotos Arquivo pessoal

À serviço da cultura

Nestes mais de 40 anos de atividade, Juarez Fonseca teve passagem pelos jornais “Folha da Tarde” e “Zero Hora” (1974-1996), no qual foi editor do Segundo Caderno e do suplemento Cultura. Nos anos 1970, colaborou com diversos veículos culturais da imprensa alternativa. Pesquisador da música brasileira, produtor de discos e shows, foi coordenador de Música da Secretaria da Cultura de Porto Alegre e integrante do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul. Manteve colunas de música no jornal “ABC Domingo”, de Novo Hamburgo, na revista “Aplauso”, de Porto Alegre, e na revista “Sucesso”, de São Paulo.

Com Roberto Carlos

Hoje, Juarez Fonseca assina no caderno de Cultura de “Zero Hora” a coluna Paralelo 30. Com textos mensais dedicados à produção artística, com ênfase na música popular e no que de mais interessante é produzido em âmbito local, o colunista leva ao leitor discos e projetos importantes que não necessariamente fizeram sucesso.

Com Julio Iglesias

Com Renato Borghetti

Com Elis Regina

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Jackson Ciceri/Festa da Música

Festa do Disco Com Fafá de Belém na Festa da Música 2015

Nestas andanças pela cultura brasileira, Juarez Fonseca conheceu de perto a Festa Nacional da Música quando ela ainda se chamava Festa do Disco, lá nos anos 1980. “Tive a oportunidade de participar no início e depois da retomada a partir de 2006. É um dos eventos mais importantes para a música brasileira, especialmente pela diversidade.”

Fotos arquivo pessoal

Dessa época, além das lembranças, Juarez carrega duas pequenas histórias passadas na Festa Nacional da Música nos anos 1980 e publicadas em seu livro “Ora Bolas – O Humor de Mario Quintana”, lançado em 1994 pela editora L&PM, que apresenta causos divertidos e peculiares sobre o poeta gaúcho contados por amigos, familiares e conhecidos. Entre livros, discos e outros projetos com os quais se envolveu, destaque também para a biografia do cantor e compositor Gildo de Freitas (1985), os álbuns “Paralelo 30” (1978), “Barbosa Lessa: 50 Anos de Música” (2002) e a reedição, ampliada e em CD, do clássico LP de Carlinhos Hartlieb, “Risco no Céu” (1994-2004).

Agora, Juarez Fonseca concentra suas energias em um novo projeto: um livro sobre os 40 anos de produção musical do Brasil. Com previsão de lançamento para o final de 2016, a tempo de participar da Feira do Livro de Porto Alegre, a obra será dividida por décadas, contendo resenhas de discos, reportagens, ensaios e entrevistas. “Já estou fazendo pesquisas nos arquivos da Zero Hora e encontrando materiais incríveis, coisas que já tinha esquecido”, afirma. Entre as curiosidades redescobertas estão duas críticas feitas para discos de Vinícius e Toquinho e outro de Elza Soares. “Estava começando a escrever críticas e admirei minha ousadia de malhar o disco de Vinicius de Moraes”, lembra, divertido. No entanto, estas duas resenhas vão ficar de fora. “Não vou incluir no livro porque não concordo mais comigo. Vinicius era da bossa nova e resolveu fazer um trabalho mais popular. Não foi compreendido. Elza Soares não estava num momento bom. Obteve reconhecimento de uns dez anos para cá. É difícil ser crítico”, avalia.

Com Renato Borghetti em Paris

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Com Gilberto Gil


Amigo de Elis

Juarez não disfarça sua predileção por uma cantora que revolucionou a música brasileira e de quem foi amigo: Elis Regina. “Ela era uma pessoa fantástica. Uma das artistas mais inteligentes, sensíveis e focada no trabalho. Não entregava a sua carreira a empresários. Só fazia o que queria”, elogia. “Se não tivesse morrido acho que teria começado a gravar novos gaúchos como Vitor Ramil, Nico Nicolaiewsky, Nei Lisboa, Bebeto Alves. Ela me pedia para que mandasse fitas porque queria ouvir as novidades.” Aliás, sobre a eternidade da música de Elis, Juarez tem uma teoria. “Os argentinos dizem que Gardel não apenas não morreu como canta cada vez melhor. Com Elis é assim...”, compara. Fotos arquivo pessoal

Esse cuidado entre ser verdadeiro, mas não arrasador permeou a carreira e o trabalho do jornalista, que sempre optou por um perfil mais equilibrado. “Se tinha uma observação negativa, escrevia sobre o que poderia ser melhorado, mas tinha o cuidado de não ser destrutivo. Com o tempo, com a redução dos espaços para críticas, só comento o que eu gosto.”

Com o passado bem vivo, mas antenado nas novidades, seu olhar tem se voltado para um bairro conhecido dos porto-alegrenses, o boêmio Cidade Baixa. “Neste local, tem dez ou quinze bares com música ao vivo quase todos os dias, com uma garotada de 18, 20 anos muito boa, tornando forte as cenas do blues, jazz, samba e MPB na capital gaúcha.” Deste nascedouro de talentos, Juarez destaca os grupos Samba e Amor e Tribo Brasil, o show “O Maestro, o Malandro e o Poeta”, em cartaz há 9 anos no Estado, e o Marmota Jazz. Outra iniciativa que tem movimentado o cenário cultural é a Oficina de Samba e Choro do Santander Cultural, na qual tem revelado músicos do cavaquinho e violão.

Com Nelson Coelho de Castro e Geraldo Flach

Com Branco e Vanessa da Mata

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Da safra dourada do rock gaúcho, Juarez cita como herança o Nenhum de Nós e o Humberto Gessinger, vocalista dos Engenheiros do Hawaii e hoje em carreira solo. “Tu sempre ouves falar do Humberto Gessinger. Ele não para nunca e tem um bom divulgador. O Nenhum de Nós está constantemente em atividade, tem um empresário ativo que é o Antonio Meira.” Entre as dificuldades do gênero, o crítico musical lembra da falta de espaço para shows de rock. “Temos bandas como Reação em Cadeia e Acústicos & Valvulados, por exemplo, que são grandes para tocar em barzinhos, mas não têm espaço nos grandes teatros”, analisa o crítico, para quem o bom profissional não apenas fala sobre música, mas faz pensar sobre ela.

Fotos arquivo pessoal

Herança do rock

O rock, Juarez avalia com a sabedoria de quem acompanhou a explosão dos anos 1980 e viu o gênero se retrair nas décadas seguintes. “O rock não morreu nem vai morrer. O uso desta expressão é mais voltado para criticar que não tem nada de novo. Nos anos 1980, o RS, assim como o Brasil, viveram um boom de bandas de rock. Continua havendo muita banda, mas não toca mais em rádio, toca na internet, e como tocar na internet não é mais novidade, fica tudo diluído e a gente tem menos informação a respeito.”

Com Luiz Carlos Borges e Tonho Crocco

Com Fernando Brant e Gloria Braga, superintendente do Ecad

Com Arthur de Faria

Duas histórias do Livro “Ora Bolas”, de Juarez Fonseca, lançado em 1994 pela Editora L&PM Pocket, cujo cenário foi a Festa do Disco, na década de 1980

AR FRESCO

Em 1983 Mario Quintana foi uma das estrelas da Festa do Disco, realizada no Hotel Laje de Pedra, em Canela, que teve como uma das atrações o lançamento do LP com sua “Antologia Poética”. Caminhando pelos enormes corredores do hotel, acabou entrando em um salão onde o pessoal do MPB-4 jogava sinuca. Rui, um dos integrantes do grupo, adiantou-se para cumprimentálo e propôs ceder seu lugar. Mario recusou polidamente. Mas ficou por ali, conversando com o DJ e produtor musical Claudinho Pereira.

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Como o ambiente estava abafado e enfumaçado, Claudinho resolveu abrir as janelas e a sala foi inundada pelo reconfortante ar fresco da serra. Quintana não deixou passar a chance de louvar a região e, ao mesmo tempo, criticar a excessiva calefação do hotel:

da piscina térmica do Laje de Pedra, coberta por uma redoma de plástico transparente. Acompanhado pela cantora Diana Pequeno, com quem acabara de tomar café, o curioso Mario Quintana abre a porta da piscina e manifesta seu espanto, erguendo as sobrancelhas em meio ao vapor.

– É... aqui o ar-condicionado é lá fora...

De dentro da água, alguém convida: – Aí poeta, bota um calção e entra! E ele, já de saída: – Eu não! Isso aí parece sopa de gente...

SOPÃO

Em uma manhã da mesma Festa do Disco, um grupo de artistas curava a ressaca refestelando-se nos 32 graus


Michael Paz/Festa da Música

Sonho de criança

Homenageado na Festa Nacional da Música, Pixote celebra 23 anos de carreira no pagode

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Bruno, do Sorriso Maroto, entrega troféu a Dodô, vocalista do Pixote

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migos íntimos da Festa Nacional da Música, Dodô, Du, Thiaguinho e Tiola Chocolate, do grupo Pixote, foram homenageados na 11ª edição do evento pelos seus 23 anos de estrada no pagode. “Quando recebemos a notícia foi gratificante demais para nós. São tantos artistas de tantos gêneros musicais envolvidos na Festa Nacional da Música e a gente ser homenageado... Caramba! É uma sensação gostosa demais. É mais uma realização e mais uma conquista na nossa carreira”, revela Dodô. Recebidos no palco por Bruno Cardoso, do Sorriso Maroto, o vocalista se emocionou ao receber o troféu em meio à plateia repleta de gigantes da música – muitos ídolos seus.

Grupo Pixote apresenta seus principais sucessos

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Origens

Fotos Arquivo Pessoal

A magia da música se misturou com a infância de cada um dos integrantes – que inicialmente eram sete. “Todos do grupo tinham uma influência que vinha dos familiares. O pai do Thiago e o irmão do Du eram músicos. Eu cantava na igreja, mas minha família frequentava escola de samba também”, lembra Dodô, que quando criança nutria esse sonho de um jeito inocente, como qualquer outro moleque que quer vencer na vida. “Eu cantava no banheiro”, conta ele, aos risos. “Sempre tive o sonho de ser cantor ou jogador de futebol. Como tinha muita influência da família, comecei a ver a música como profissão e o sonho de ser cantor de uma forma mais real.” Pixote no começo da carreira

Grupo de pagode em diferentes fases dos 23 anos de trajetória

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Fotos divulgação Fase atual do grupo paulista

Show do grupo Pixote

Com Netinho de Paula, do Negritude Jr.

Com Mumuzinho

Fissurados por pagode, eles ainda eram pré-adolescentes quando formaram a banda, em 1993 – tempo em que se apresentavam em uma praça. “Nos conhecemos em um pagode tradicional na Zona Sul de São Paulo. Na época, tinha um empresário que queria montar um grupo de crianças, e assim nos juntamos e formamos o grupo.” Descobertos pela gravadora Zimbawê, o grupo passou a se chamar Pixote. “Como a banda não tinha nome, pensamos em colocar ‘Revelação do Samba’, porém não soava legal. Por influência da gravadora e do disco do Zeca Pagodinho, que chamava ‘Pixote’ e tinha crianças na capa, optamos por mudar e achamos melhor. Bem Melhor”, comenta Dodô, rindo.

Com inspirações herdadas da família, eles tinham no diferencial justamente as referências sonoras do samba – claramente maduras para meninos de 12 ou 13 anos, que também eram fãs de Djavan, 14 Bis e Emílio Santiago. “Nossa inspiração sempre foi o Fundo de Quintal. Éramos um grupo de crianças que só tocava Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola-Negra, Almir Guineto, Martinho da Vila e assim por diante... Então era uma novidade. Imagina! Um grupo de criança só tocando a velha guarda”, recorda o vocalista, que valoriza as características originais da boa e velha batucada. “Somos ecléticos e escutamos de tudo. Mas prezamos e gravamos o samba, porém colocando sempre algo diferente. Ousando, mas não mudando.”

Já assinando como Pixote, o primeiro trabalho do grupo foi a participação na coletânea “Pagode de Primeira”, na qual interpretaram as músicas “Sonho Real” e “Sonho de Poeta”. Em 1995, o tão sonhado disco de estreia foi gravado: “Brilho de Cristal”, que tem a faixa-título como um dos maiores hits da carreira. O single, de autoria de Délcio Luiz e Netinho, abriu caminho para sucessos que marcariam o topo do ranking das canções mais tocadas nas rádios de todo o País, como “Idem”, “Beijo Doce”, “Franqueza”, “Fissura”, “Mande um Sinal” e “Insegurança”. “Várias pessoas nos ajudaram. Nossos familiares, a gravadora Zimbawê, por meio do Wilian e do Serafim, que foram as pessoas que acreditaram na gente e gravaram nosso primeiro disco.”

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A vez do Pixote

Com Luiz Carlos, do Raça Negra


Apresentação do grupo Pixote

Com Xande de Pilares, Thiaguinho, Bruno Cardoso, Xuxa e Péricles

Por trás da agenda lotada

Apesar do sucesso do primeiro álbum, alguns deles batalharam pesado em palcos bem menos iluminados antes de se firmarem na carreira. Enquanto se dedicavam à banda, Tiola trabalhava como torneiro mecânico e vendia autopeças; Mineiro – que deixou o grupo em 2014 – era guia turístico em Ouro Preto, Minas Gerais; e Dodô era atendente do Mc Donalds, onde ficou por dois anos e meio. “Quando eu trabalhava na lanchonete, sempre pedia para todo mundo ligar na rádio e pedir nossa música. Às vezes, eu mesmo ligava e dizia ‘queria ouvir Lua de Cristal, do Pixote’, e o cara respondia ‘não é Lua de Cristal, é Brilho de Cristal’. Fazia isso para ver se a música estava na programação”, diverte-se Dodô.

Com Belo e Thiaguinho

Duas décadas depois, mais de dez CDs no currículo, turnê pela Europa e momentos inesquecíveis como o show no Maracanã e a apresentação no Ginásio no Ibirapuera durante a Copa do Mundo de 1994, o cenário é outro e eles valorizam cada momento fora dos palcos e estúdios. “Hoje, todo o tempo que temos livre nós dedicamos à família, aos nossos filhos, pois ficamos muito tempo fora de casa e, quando voltamos, a atenção é toda para eles. Muitas vezes juntamos todas as famílias e fazemos uma ‘bagunça’, claro”, revela o cantor. Com Caetano Veloso e Regina Casé no programa “Esquenta”

Dodô e esposa com Zezé Di Camargo & Luciano

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Pixote na gravação do mais recente clipe

Nos últimos dois anos, o grupo rodou o Brasil divulgando o DVD “20 Anos Sem Moderação”, gravado em 2013 no Credicard Hall, em São Paulo. Comemorativo, o álbum reúne 26 músicas capazes de contar a trajetória do Pixote, como as clássicas “Frenesi”, “Fã de Carteirinha”, “Coisas do Amor” e “Soletra”, e também alguns dos sucessos mais recentes. Agora, a banda se prepara para lançar o 12º CD da carreira. “É sempre muita ansiedade para ver pronto. Em breve estaremos lançando esse novo ‘filho’”, garante Dodô.

Rosa Marcondes/Divulgação

Criação

Com uma lista extensa de hits – a maioria românticos –, os músicos se orgulham de não terem sido um grupo de uma música só, e por isso cuidam criteriosamente da produção e escolha de repertório de cada trabalho. “O processo é delicado. Escutamos tudo e todos os compositores. Temos alguns autores que já têm a linha do Pixote, mas abrimos espaço para os novos também”, explica Dodô. “O que nos chama atenção para gravar uma música é ter uma história bacana. Algumas logo sentimos, quando escutamos, que o nosso público vai gostar, que vai tocar o coração deles e o nosso também.”

Grupo Pixote com Fernando e Fernandinho Vieira e a Turma do Pagode: um brinde à música Comemorando o troféu com Dilsinho

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Michael Paz/Festa da Música

Em defesa da música

Superintendente do Ecad, Gloria Braga é homenageada na edição 2015

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Com Armando Pittigliani

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ma defensora da música brasileira, que assumiu como sua a luta pelos direitos de seus criadores, Gloria Braga foi homenageada na Festa Nacional da Música por sua atuação à frente do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Superintendente executiva do órgão há 17 anos, ela recebeu o troféu das mãos do produtor Armando Pittigliani. “Quero agradecer à minha equipe, às associações de música e também a todos que estão aqui hoje para falar, discutir e entender melhor os seus direitos. Em especial, dedico este prêmio a Fernando Brant, uma pessoa que foi muito importante na defesa dos direitos autorais em nosso País”, disse a advogada durante a homenagem.

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Direitos autorais

Fotos Arquivo pessoal

Reprodução/Folha de S.Paulo

Embora a discussão ainda engatinhasse no Brasil, o envolvimento de Gloria com direitos autorais começou cedo, quando estava se formando em Direito. “O escritório de advocacia no qual estagiava não tinha condições de me admitir quando me graduasse, mas o meu relacionamento com as donas da empresa era muito bom.Elas se sentiram, então, na obrigação de conseguir um emprego para mim. Veja só! Foi assim que me indicaram para trabalhar com o Maurício Tapajós”, lembra. Tapajós, na época, era presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro, além de compositor, cantor e músico conhecido. “Ele era amado e odiado pela classe artística e pelo chamado mercado musical em razão da obstinação com que defendia seus pontos de vista”, conta Gloria, que ao lado dele deu seus primeiros passos em direção ao trabalho que realiza hoje.

Arquivo Ecad/divulgação

Gloria Braga entre seus três filhos, Clara, Lucas e Tiago

Durante palestra no seminário Entendendo o Direito Autoral, edição Rio de Janeiro, organizado pelas associações e pelo Ecad

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Fred Chalub e Rafael Jota/divulgação

Arquivo Ecad/divulgação

Gloria Braga recebe prêmio concedido ao Ecad pelo Instituto Great Place to Work em 2015

Gloria, no entanto, não conhecia a legislação trabalhista específica dos músicos nem nunca tinha ouvido falar em direito autoral, que naqueles anos não fazia parte dos currículos das faculdades de Direito. Mas tudo o que Tapajós queria era um advogado sem vícios de trabalho, que pudesse ser moldado dentro do Sindicato dos Músicos para trabalhar com os músicos e pelos músicos. Assim, a mais nova advogada começava sua carreira. “Meus pais não queriam que eu trabalhasse com ‘esse pessoal da música’ e preferiam que eu fizesse um concurso público para ser juíza. Afinal, na nossa família não havia músicos, compositores, nem nada que chegasse perto disso, mas a proposta me encantou”, recorda.

Foi na AMAR que a carioca viveu momentos memoráveis, que ditariam os rumos dos direitos autorais no País. “Este trabalho me encantava. Defender os direitos autorais dos compositores musicais era muito instigante. E que compositores!” As barreiras e os desafios eram muitos, vinham de todos os lados e faziam parte de todas as relações da classe, desde aquelas existentes entre os próprios criadores, passando por sua conflituosa relação contratual com gravadoras e editoras musicais e desaguavam nos destino das suas associações e de seu escritório central: o Ecad. “As discussões eram sempre infindáveis porque as questões eram mesmo desafiadoras, permitiam inúmeros desdobramentos e sempre várias estratégias e interpretações”, lembra Gloria.

Arquivo Ecad/divulgação

Com artistas no seminário Entendendo o Direito Autoral, edição Belo Horizonte, organizado pelas associações e pelo Ecad. Na foto, Gloria Braga, Macau, Fernando Brant, Neneo, Augusto Cesar, Carlos Dafé, Joelma e Gustavo Vianna.

Com artistas no estande do Ecad na Festa Nacional da Música. Na foto, Nando Cordel, Vinicius D’Black, Renato Teixeira, Michael Sullivan, Silvio Britto e Gloria Braga

Durante um ano de trabalho, Gloria acompanhou de perto diferentes movimentações do mercado musical dos meados de 1980, como as negociações para o reajuste da tabela de preços para gravação de fonogramas, a greve de músicos após a demissão da orquestra da TV Globo, as discussões sobre a regulação da contratação de músicos da noite, 72|FNM

demandas da orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a luta pelo fim dos litígios entre músicos acompanhantes e cantores de bandas. Quando Tapajós deixou a presidência do Sindicato, em 1987, restou apenas a presidência da AMAR (Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes), que a contratou como advogada.


Cada vez mais envolvida com a árdua missão de fazer valer os direitos dos compositores, a advogada abraçou pessoalmente as causas defendidas pela Associação. “Aquela era uma discussão que exigia uma tomada de posição. Não dava para agradar a gregos e troianos. Em outras palavras, ou se defendia os autores ou seus empregadores e tomadores de serviço. Por óbvio, o lado dos autores soava profundamente mais atraente: os direitos eram humanos, os desafios enormes, e os artistas, cada um a seu modo, encantadores”, comenta ela, que logo reuniu as experiências naquele meio e foi trabalhar na área jurídica do Ecad do Rio de Janeiro. “Ali pude ter contato não mais com os artistas, mas com os chamados usuários de música. Hotéis, rádios, produtores de shows, supermercados, academias de ginástica, enfim, todos inventando mil e uma artimanhas para não pagar ou pagar menos direitos autorais.”

Fotos Arquivo Ecad/divulgação

Arquivo Ecad/divulgação Com a cantora Angela Maria na Festa Nacional da Música

Gloria Braga e equipe Ecad com artistas na Festa Nacional da Música. Da esquerda para a direita: Mario Sergio Campos (gerente executivo de Distribuição), Rodrigo Munari, Márcio do Val (gerente de Relações Institucionais), José Pires (gerente executivo de TI e Planejamento Estratégico), Bia Amaral (gerente executiva de Marketing), Tato (grupo Falamansa), Gloria Braga, Vinícius D’Black e Nadja Pessoa

Gloria Braga e a equipe Ecad participante da Festa Nacional da Música. Na foto, sentados: Mario Sergio Campos, Márcio Fernandes, José Pires, Bia Amaral e Gloria Braga. Em pé, Camila Botega (colaboradora da unidade do Ecad no Rio Grande do Sul) e Mônica Gonçalves (gerente de Comunicação e Relacionamento)

Gloria Braga e todos os gerentes executivos do Ecad, que trabalham com ela diretamente no dia a dia. Da esquerda para direita: Clarisse Escorel (gerente executiva do Jurídico), Bia Amaral (gerente executiva de Marketing), José Pires (gerente executivo de TI e Planejamento Estratégico), Mario Sergio Campos (gerente executivo de Distribuição), Márcio Fernandes (gerente executivo de Arrecadação), Gloria Braga (superintendente executiva), Janaína Araújo (gerente executiva de Recursos Humanos), Mario Jorge Taborda (gerente executivo Administrativo/ Financeiro) e Freitas Lobão (gerente executivo de Operações).

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Arquivo Ecad/divulgação

OEcad Gloria Braga e equipe Ecad com Paulo Massadas na Festa Nacional da Música. Da esquerda para a direita: Márcio Fernandes, José Pires, Gloria Braga, Paulo Massadas, Bia Amaral e Mario Sergio Campos

Arquivo Ecad/divulgação

Depois de quatro anos trabalhando no departamento jurídico, uma reforma administrativa no Ecad colocou Gloria na superintendência do escritório, que hoje faz arrecadação em mais de cinco mil municípios brasileiros. O salto é gigantesco, inclusive na distribuição, que passou de R$ 80 milhões distribuídos no ano 2000 para R$ 902,9 milhões para 140.438 titulares de música em 2014 – um recorde. “Buscamos incluir cada vez mais artistas na cadeia produtiva do direito autoral ao criar, nos últimos cinco anos, 14 novas rubricas de distribuição para contemplar os titulares que têm suas músicas tocadas exclusivamente em determinados segmentos musicais. Todos os segmentos cuja distribuição é baseada no sistema de amostra estatística tiveram a sua metodologia certificada pelo Instituto Ibope Inteligência. Isso atesta a qualidade e a credibilidade do nosso trabalho”, revela Gloria, que tem sido premiada ano a ano pela gestão administrativa do Ecad.

Gloria Braga com o jornalista Fernando Vieira e Joelma, cantora e dirigente da associação Socinpro, na Festa Nacional da Música

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O sistema de gestão coletiva musical, composto pelo Ecad e pelas nove associações que o integram, é referência internacional e passou a ser copiado por diversos países. O desafio de conscientizar a sociedade sobre o direito intelectual de quem cria uma obra artística, no entanto, segue como um dos maiores desafios do escritório. “A música é intangível e no Brasil temos um cenário muito diferente do que encontramos no exterior. Através do nosso trabalho, procuramos lembrar que a música possui um ‘dono’ e que ele tem o direito de usufruir do uso de sua obra artística, pois como qualquer pessoa, o criador também tem suas contas para pagar”, defende a advogada.


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14 Bis acentuou o rock nacional com elementos do pop e da MPB

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Michael Paz/Festa da MĂşsica

PĂĄginas de um livro bom


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Sá, da dupla Sá & Guarabyra, entrega homenagem ao grupo 14 Bis

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lirismo trabalhado com guitarras, violões, belas melodias e vocais marcantes acompanham Cláudio Venturini, Vermelho, Sérgio Magrão e Hely Rodrigues há mais de três décadas, quando começaram a tingir o rock nacional com elementos do pop e da MPB. Pelas inovações sonoras inseridas na música brasileira, o 14 Bis foi homenageado na edição 2015 da Festa Nacional da Música – 35 anos depois de terem recebido o troféu da Festa Nacional do Disco, antigo nome do evento. “Essa festa tem uma importância crescente no cenário da música e do show business no Brasil. Ela reflete as tendências e atualidades do panorama musical do momento sem deixar de valorizar artistas e trabalhos mais duradouros”, comenta Vermelho em nome da banda, recebida no palco pelo amigo Sá, da dupla Sá & Guarabyra.

14 Bis apresentou as músicas “Todo Azul do Mar” e “Linda Juventude”.

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Fotos Arquivo Pessoal

O embrião

Vidrados nas harmonias complexas e nos arranjos sofisticados dos garotos de Liverpool, o quarteto – no início quinteto, com Flávio Venturini – decidiu juntar a rica bagagem herdada da fértil cena musical mineira de 1970 e criar um som único, barroco; espelhado em Beatles e entrelaçado com música clássica, rock progressivo, country e pitadas de sua grande escola, o Clube da Esquina. “Claro que cada um de nós tinha suas referências particulares. O Cláudio, por ser mais novo, já pegou mais influência dos guitar heroes, como Hendrix, Peter Towshend, John Mclauglin ou Police e Oasis. Eu sempre fui muito ligado à música erudita e contemporânea. Hely e Magrão tiveram uma vivência maior com música e ritmos brasileiros e um pouco de jazz. Enfim, a soma disso tudo é bem mais complexa do que se poderia descrever: o som do 14 Bis tem uma identidade toda própria”, analisa Vermelho.

Integrantes do Clube da Esquina reunidos com o 14 Bis

Cláudio Venturini, Vermelho, Flávio Venturini e Sérgio Magrão no coquetel de comemoração do lançamento do primeiro disco do grupo pela EMI-Odeon, em 1979

Flávio Venturini com Renato Russo

Vermelho, Sérgio Magrão, Hely Rodrigues e Cláudio Venturini

Hely Rodrigues, Flávio Venturini, Vermelho, Sérgio Magrão e Cláudio Venturini

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Fotos reprodução

A célula desse grupo começou a se formar sem que eles percebessem, em 1968. Com 9 anos na época, Cláudio acompanhava de fora a amizade do irmão nove anos mais velho, Flávio, com Vermelho, que foi morar na casa dos Venturini. Os dois, que se conheceram naquele ano enquanto serviam no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), juntaram a rotina do exército com o gosto pela música. “Nesse tempo, o Flávio e o Hely tocavam em bandas de Belo Horizonte, e o Magrão fazia o mesmo no Rio. O Cláudio, ainda garoto, era ligado em eletrônica. Não é à toa que ele é o mais antenado para essas coisas digitais da banda”, reflete o tecladista. As aspirações, no início, não passavam de compor para as namoradas, mas não demorou muito para começarem a participar de festivais, nos quais conheceram os letristas Murilo Antunes e Márcio Borges – mais tarde colegas de Clube da Esquina, que os colocaria na rota das grandes revelações musicais de Minas Gerais. “Quando começamos a tocar, bem antes de sermos o 14 Bis, ser músico não era uma coisa muito bem conceituada; a família e a sociedade não viam como uma profissão, mas como uma coisa meio marginal. E, de certa maneira, era mesmo – o que se chamava ‘underground’. Mas aos poucos, apesar do País viver um momento político difícil, regime militar fechado mesmo, no campo de vista artístico e social havia uma efervescência cultural muito grande no mundo inteiro”, lembra Vermelho. 14 Bis recebe o Disco de Ouro pela vendagem do DVD ao Vivo

Decolagem

Vermelho, Cláudio Venturini, Hely Rodrigues, Sérgio Magrão e Flávio Venturini

Já no fim da década de 1970, depois de cada um ter suas próprias andanças musicais com diferentes parceiros de letra e melodia, eles decidiram se juntar no mesmo sonho e criar o 14 Bis. “A gente entrou nessa onda. Começamos a fazer nossos shows e as coisas foram acontecendo naturalmente”, conta Vermelho, que lançou a ideia junto com Flávio. “Encontramos a oportunidade de fazer ‘nossa’ banda quando fomos gravar ‘A Página do Relâmpago Elétrico’ – primeiro disco do Beto Guedes. Ali percebemos que eu e Flávio já tínhamos maturidade suficiente para sair, gravar e ir para a estrada. O Cláudio já tinha tido experiência tocando com o Lô Borges, tocava muito guitarra solo, e o Hely tocava sempre batera com a gente.” Ainda sem nome, o grupo precisava de um contrabaixista. Foi aí que convidaram Magrão, o único carioca do grupo, que conheciam da banda O Terço. “Quando escutei ‘Perdidos em Abbey Road’ e ‘Pedra Menina’, fiquei alucinado. Era tudo o que eu queria”, revela Magrão, que aceitou o convite de cara e hoje é o empresário do grupo.

Oficialmente formada em 1979, a banda gravou o primeiro disco um ano depois. O álbum de estreia, homônimo ao grupo, foi produzido por Milton Nascimento, que também cedeu a eles a clássica “Canção da América” – primeiro grande sucesso do 14 Bis. “Milton fez a ponte para que a EMI-Odeon nos contratasse. Lá recebemos apoio de diretores artísticos, que também eram músicos e compositores conceituados, como Mariozinho Rocha, Renato, do Golden Boys, e muitos engenheiros e técnicos de som que fizeram com que a sonoridade da banda se tornasse algo que, mesmo décadas depois, mantivesse a atualidade”, recorda Vermelho.

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Mudança na rota

Na corda bamba entre as agendas do 14 Bis e da carreira solo, Flávio Venturini deixou definitivamente o grupo em 1987. Antes da saída, o ainda quinteto gravou seu último disco juntos: “14 Bis Ao Vivo”, marcando a despedida do músico com um show memorável em pleno Natal daquele ano. A quantidade de shows do grupo, no entanto, não se modificou, mas o álbum seguinte demorou um pouco a chegar: “Quatro por Quatro” foi lançado em 1993 – tempo suficiente para o grupo preparar uma nova decolagem, com canções que realmente expressassem aquele momento de transição.

Encontro Marcado: 14 Bis e Sá & Guarabyra

Hely Rodrigues, Vermelho, Milton Nascimento, Cláudio Venturini, Sergio Magrão e Victor Moreira

Com mais de 20 discos de estúdio, o grupo vem preparando material para um novo projeto – ainda secreto –, além de resgatar conteúdos da década de 1980. “A médio prazo, a Universal deve lançar nossos sete primeiros trabalhos, da EMI-Odeon, em formato digital”, revela Vermelho. Paralelo às apresentações pelo Brasil, o grupo se dedica ao “Encontro Marcado” – show especial que une 14 Bis, Flávio Venturini e Sá & Guarabyra no palco em um repertório recheado de canções que atravessaram décadas e gerações. Apesar da amizade que norteia a banda desde a juventude, eles garantem que o segredo está no equilíbrio entre a troca e a individualidade de cada um. “Justamente para manter essa harmonia e longevidade é que, fora do palco e dos estúdios, a gente não passa o tempo juntos, de jeito nenhum!!! Assim ninguém se aguentaria”, diz o músico, aos risos. “A gente se fala pelo telefone, troca ideias pela internet... Mas é tanto tempo na estrada que, quando viajamos, sempre colocamos o assunto em dia, contamos piada, fazemos planos... E cada um segue sua vida particular, com família e amigos.”

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Fotos divulgação

O segundo LP, “14 Bis II’, chegou às prateleiras em 1982 e trouxe com ele “Caçador de Mim” – um single não só da carreira, mas da década. O lançamento de hits a cada novo disco era uma constante: “A Qualquer Tempo”, “Nos Bailes da Vida” e “Mesmo de Brincadeira”, em 1981; “Uma Velha Canção Rock’N’ Roll” e “Linda Juventude”, em 1982; e “Todo Azul do Mar” e “Nave de Prata”, em 1983, foram algumas das canções que ficaram entre as mais executadas de todo o País. Sempre preocupados em se manter na vanguarda tecnológica dos grupos de rock, eles mergulharam várias vezes de cabeça em investidas na qualidade do som. Em 1982, inclusive, voltaram 100 mil dólares mais pobres dos Estados Unidos – e com uma tonelada e meia de equipamentos de última geração.

Hely Rodrigues, Sérgio Magrão, Vermelho e Cláudio Venturini


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Guilherme Arantes é autor de músicas que embalaram diferentes gerações

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Michael Paz/Festa da Música

Na memória popular


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Guilherme Arantes recebe troféu Festa Nacional da Música de Ivan Lins

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oz que embalou milhares de histórias desde os anos 1970, Guilherme Arantes é o poeta que fez dezenas de canções se tornarem a trilha sonora da vida de pessoas comuns, além de dar letra e melodia a uma pomposa lista de novelas e comerciais de televisão. Foi na década em que estreou na música que ele também esteve pela primeira vez na hoje chamada Festa Nacional da Música – na época com o nome Festa Nacional do Disco. “A Festa marcou profundamente minha carreira desde 1978, o primeiro ano que fui, e especialmente 1982, com meu segundo filhinho recém-nascido no berço – um ano de grande explosão musical para mim”, lembra o cantor, homenageado na edição 2015 do evento. “Isso me dá uma alegria inacreditável e eu quero retribuir homenageando os ‘quarenta-e-tantos’ anos desse evento fundamental: parabéns, de coração”, disse o compositor, que recebeu o troféu das mãos de um ídolo seu: Ivan Lins.

Cantor apresentou um medley com os principais sucessos da carreira

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Com os pais

Com o pai, Gelson Lima Arantes

Guilherme Arantes em 1976 Reprodução

Foi também na infância o seu primeiro contato com instrumentos musicais: aos 6 anos um cavaquinho e, mais tarde, um bandolim – que ficaram para trás. “Arranho muito mal o violão”, brinca. O piano – figura central em sua trajetória – chegou logo depois, em aulas particulares com Dona Joanita, seu Helio e o Gorga. “Todos esforçados, mas era inútil. Eu era dispersivo e indisciplinado”, conta ele, embora adorasse Bach, por exemplo. “O caminho erudito sempre foi maçante e o chamado espontâneo da música popular sempre foi mais forte. E houve uma moda de piano na música popular, com os Beatles, com grupo como Procol Harum, com Stevie Wonder, e depois com as bandas progressivas, como o Yes, Emerson Lake & Palmer, e finalmente com Elton John e Billy Joel, nos anos 1970. Isso me fez achar que estava no caminho certo.”

Fotos Arquivo Pessoal

Musicalidade

Sua história na música, deslanchada em 1976 ao emplacar “Meu Mundo e Nada Mais” na novela “Anjo Mau”, da TV Globo, começou muito antes dos ‘vinte-e-poucos-anos’ que tinha época – e antes mesmo de ter ensaiado uma carreira no rock com o grupo Moto Perpétuo, no qual assumiu vocal e teclados em 1974. Criado em Santo Amaro, em São Paulo, ele cresceu feliz às voltas de sorvete, cinema, pipas, carrinhos de rolimã e vinis levados para casa por seu pai – um sempre antenado nas novidades musicais, que iam de bossa nova a Beatles. “Meu pai teve um papel determinante na minha formação musical, tocando seu violão brasileiro. Tocava superbem, numa linguagem do regional tradicional, com sambas, sambas-canção, chorinhos...”, lembra Guilherme.

Com a esposa, Márcia Gonzales

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Família Arantes: Thiago, Pedro, Paola, Marietta e Gabriel


Fotos: Jackson Ciceri/Festa da Música Com a então ministra da Cultura, Marta Suplicy e Sidney Magal, em 2013

Filipe Pascual, Simone Sobrinho, Pepeu Gomes, Guilherme Arantes, Márcia Gonzales e George Israel

Esmagado por uma profunda incompatibilidade, especialmente com o ambiente e a tão emblemática “atitude do rock”, ele decidiu seguir seu instinto popular, que nada tinha a ver com o que vinha fazendo. “Hoje penso com mais equilíbrio: a atitude do rock, do blues, é fundamental. Naquela época, tinha uma implicância, mas é bobagem isso. Muitas características dessa fase permaneceram. Só foi acrescida uma ‘intenção popular’, um comportamento de aceitar o auditório, o mercado mais prosaico, sem a afetação que o rótulo de rock impunha”, reflete. Reprodução

Com Almir Guineto e Lucinha Lins

Com Leoni e George Israel

Comprometido com as baladas ‘pianísticas’ típicas de Elton John, Guilherme caiu nas graças do público com “Meu Mundo e Nada Mais”, em 1976. “O Otávio Augusto, o Guto Graça Mello e o João Araújo resolveram me lançar como tema da novela das ‘sete’ [“Anjo Mau”], e aí sim começaria de verdade a minha história.” Era o início de uma nova fase – fase que o colocaria, alguns anos depois, no alto escalão da MPB. “Bom mesmo é ser popular. Agradar à elite é mais fácil: basta marketing cultural, crítico e lobbies de bastidores, de crítica, o famoso ‘dizem que...’, hoje bem dominado, e que depende basicamente de ter boas assessorias de imprensa. Com o povão, não: ou ele vai com a sua cara ou não tem acerto. No meu caso, tive sorte, pois estava me popularizando de coração, com amor, com verdade. Sempre tive carinho pelo povão. Não me custou esforço nenhum para agradar. Sou povão também.”

Virada melódica

Com os ouvidos mergulhados em sons como da Jovem Guarda, Chico Buarque, Taiguara, Ivan Lins e nos memoráveis Tropicalismo e Clube da Esquina, Guilherme teve a adolescência atravessada por um aquecido debate existencial sobre a MPB. Alguns anos depois, já na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), ele conheceu o violonista Claudio Lucci, juntou o velho amigo – e baterista – Diógenes e montou a Moto Perpétuo – uma banda híbrida de progressivo e MPB, na qual ficou cerca de um ano.

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Mauro Vieira/Festa da Música Com Sá, da dupla Sá & Guarabyra

Com Daniel

Prazer, Guilherme Arantes

Um ano depois, o Festival MPBShell veio para consagrar o músico de vez. “Planeta Água” ganhou o segundo lugar, mas a MPB abria oficialmente a porta para mais um novo ícone, Guilherme Arantes. “Foi um degrau a mais, um marco pra minha história. Ali eu realmente passava a existir, sem precariedade”, define o compositor, que passou a emendar hit atrás de hit nos anos seguintes, como “Deixa Chover”, “Cheia de Charme” e “Amanhã”. Dali em diante foram mais de 25 novelas embaladas por suas canções, além de musicais infantis como o “Balão Mágico”, que revelou “Lindo Balão Azul” e lhe trouxe fama nacional. Com lugar já garantido entre um estelar elenco da música brasileira, Guilherme atraiu grandes intérpretes para gravar suas composições, como o rei Roberto Carlos, Caetano Veloso, Emílio Santiago, Maria Bethânia e Fafá de Belém. “Não tenho do que reclamar: a música popular se tornou uma deliciosa sala de visitas para mim.”

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Completando 40 anos de trabalho em 2016, Guilherme Arantes prepara novidades comemorativas, como um documentário. “Na sequência, vou reatar com o ‘progressivo’, fazer um ‘disco viajeiro’”, adianta ele. Até lá, o cantor e compositor segue divulgando seu último álbum, “Condição Humana (Sobre o Tempo)”, no qual mostra sua particular “pegada” ao piano e traz, além de algumas faixas românticas, toda sua desilusão com o mundo atual, que ele chama, sem qualquer pudor, de “náusea”. “Esse disco foi motivado por um inconformismo com a ‘situação do mundo’: muita gente e uma ‘qualidade de gente’ muito diluída, muito fragmentada.”

Com Thiaguinho Mauro Vieira/Festa da Música

Apesar do estouro, a indústria era outra. Já passada a febre dos festivais e em um período sem tantos movimentos musicais fervilhando, não foi tão simples se enquadrar no mercado fonográfico com canções tão mais sensíveis do que o cenário da época. “Foi trabalhoso, principalmente resistir. Mas Benjor um dia me ensinou uma coisa: nunca ‘perseguir’ o sucesso desviando da sua rota. Sucesso é questão de durar, prosseguir; um dia ele cruza com você.” E a cada nova canção, o sucesso voltava a bater à porta instantaneamente. Em 1980, então, ele veio pelo telefone: era Elis Regina, pedindo uma música. “Quando a Elis me gravou, fez sucesso, me deu uma impulsão extraordinária no mercado e perante o grande público. Devo muito a ela.” Assim nasceu um dos grandes símbolos de seu trabalho como compositor: “Aprendendo a Jogar” – um hit que ganhou rapidamente as rádios e permanece vivo a cada geração.

Com Nando Cordel e Ivan Lins

Com Fafá de Belém e Mariana Gravação de seu mais recente álbum, “Condição Humana”

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O M O C M I S AS S A T S I T R A OS

Billy Forghieri

BLITZ

XW-G1

SURPREENDA-SE COM CASIO Cleberson Horsth

Ricardo Feghali

ROUPA NOvA

ROUPA NOvA

PX-5S

XW-P1 FNM|87


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Michael Paz/Festa da Música

André, o do disco Um dos personagens mais importantes da indústria fonográfica brasileira, André Midani ajudou a desenhar a história da MPB

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Fotos: Jackson Ciceri/Festa da Música Carlos de Andrade e André Midani

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ersonagem decisivo na chamada fase de ouro da indústria fonográfica brasileira, André Midani revolucionou o papel do disco no País e deu novo fôlego à carreira de ícones da música nacional, como Gilberto Gil, Tom Jobim, Ney Matogrosso e Elis Regina. Aos 82 anos, o sírio que cresceu na França e veio sacudir as estruturas musicais do Brasil foi homenageado na 11ª edição da Festa Nacional da Música, em Canela. Recebido no palco pelo amigo Armando Pittigliani, André não perdeu a piada. “Tinha preparado um discurso, mas fui jantar e encontrei Marina [Lima], depois encontrei Fafá [de Belém]... Fui encontrando vários amigos e agora estou de pileque. Azar do discurso! Mas posso dizer que estou bem orgulhoso de receber uma homenagem desta qualidade frente aos meus pares.”

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A era do vinil

Fotos reprodução

“André, o do disco” era descrição suficiente para que qualquer pessoa do mercado musical brasileiro soubesse a quem se referia. Mas o amor pelo vinil vinha de milhas e milhas distante, e de muito antes também. Apaixonado por música, especialmente pelo tão tocado jazz da França de 1950, ele desviou da rota traçada até os vinte e poucos anos depois de assistir a um documentário sobre o gênero personificado por Louis Armstrong: “Jasmin’ The Blues”. “Ao sair do cinema, a decisão estava tomada: minha trajetória na confeitaria tinha que acabar o quanto antes, e de qualquer maneira”, lembra André, que até então passava os dias trabalhando o açúcar e trilhando o caminho que sua família pensou para ele: o de confeiteiro. Foi quando ele começou sua incansável busca por um emprego que o aproximasse dos discos. Era 1952 – e também o início de sua história de amor com a música. Contratado pela Disques Decca, a chamada ‘Decca Francesa’, ele passou de apontador de estoque a vendedor, descobriu as maravilhas dos estúdios de gravação e logo se tornou parte das sofisticadas reuniões regadas a arte: canções, poemas, histórias e fofocas entre atores, músicos e escritores. Era o mundo artístico parisiense se descortinando à sua frente e seu papel, embora ainda o mesmo na empresa de discos, ganhava outro sabor. André Midani

Com Ultraje a Rigor

Com Miele

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Fotos divulgação Com Fafá de Belém

Midani e a turma do jam session, que rolou no documentário

As coisas pareciam ir bem: enquanto vendia vinis pelo subúrbio de Paris, André esperava por uma promoção na Decca – até ser anunciada, em 1955, a Guerra da Argélia. “A guerra colonialista contra os argelinos prenunciou mudanças nessa minha grande felicidade. Antevendo minha convocação a qualquer momento, tomei a decisão de partir rapidamente para longe”, conta ele, que vendeu o carro, os discos e toca-discos e se foi rumo à América do Sul. Depois de quase um mês se equilibrando entre o balanço do mar e seu coração partido, André escolheu sua nova terra. “Subi correndo para o convés e, de fato, ao longe, despontava a silhueta do Rio de Janeiro – nossa primeira escala. Eu, vindo da chuvosa Paris, nunca tinha visto natureza mais bonita. Quando o navio passou em frente ao Aeroporto Santos Dumont, decidi: ‘é aqui que quero viver’.”

Disposto a trabalhar como cozinheiro, confeiteiro ou garçom até encontrar outra ocupação, André entrou em pânico. “Não havia confeitarias ou restaurantes, somente muitos botequins que, aos meus olhos, eram muito estranhos.” Recorreu, então, às páginas amarelas das listas telefônicas atrás de companhias de discos. Sem qualquer critério, ligou primeiro para a Odeon. “Para minha sorte, como só falava francês e inglês, a telefonista pensou que eu fosse um ‘big shot’ da indústria e me repassou diretamente para o presidente da EMI-Odeon.” A confusão lhe rendeu rapidamente uma reunião com Mr. Morris e, mais rápido ainda, um emprego. Em 72 horas no Brasil, André fazia parte da indústria e, sem demora, recebia o primeiro grande desafio: lançar a Capitol Records no País.

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Com Zélia Duncan e Milton Nascimento Foto Cristina Granato/divulgação

Foto Dan-Behr/divulgação

Com Baby do Brasil

Atuando no departamento internacional, mas sempre atento à sua volta, André percebeu a inexistência de um gênero musical voltado para os jovens. “Eu não entendia por que a indústria fonográfica brasileira ignorava por completo a juventude como um mercado potencialmente muito importante, uma vez que já existiam, lá fora, os sinais da importância que os jovens de todas as classes sociais iriam ter. Estava convencido de que assistiríamos ao mesmo fenômeno no Brasil, quando a nossa juventude descobrisse seus porta-vozes”, reflete André.


Fotos divulgação

Foto Dan-Behr/divulgação

Com Frejat

Com Gilda Midani

Fotos André Muzell/divulgação

Com Beth Carvalho

Horrorizado com as capas dos discos nacionais, lá se foi ele em mais uma empreitada. “Sendo as capas dos discos brasileiros monstruosas de feias, candidatei-me a encarregado do setor, pelo qual não havia alguém formalmente responsável”, recorda André, que na primeira oportunidade juntou um time de primeira para iniciar aquela “revolução” estética. “Aos poucos, foram saindo capas maravilhosas: ‘Caymmi e o Mar’, ‘Caymmi e Seu Violão’, ‘Chega de Saudade’, do João Gilberto, e ‘Se Acaso Você Chegasse’, da Elza Soares...”, orgulha-se.

Jantar com Gilberto Gil e Caetano Veloso Foto Dan-Behr/divulgação

Certo do que o mercado precisava, André não perdeu tempo: entrou em contato com os futuros gênios e vozes da bossa nova: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Nara Leão, entre outros que teve a sorte de ouvir tocar de maneira intimista em uma festa do fotógrafo Chico Pereira. Já conhecia Tom Jobim, embora ainda não como compositor, e logo chegou a João Gilberto por meio de Dorival Caymmi, que conheceu no trabalho extra que assumiu aos sábados, substituindo o engenheiro de gravação de um pequeno estúdio na rua do Lavradio. Não demoraria muito para que, em parceria com Aloysio de Oliveira, André lançasse a bossa nova. “Se é que houve uma hesitação por parte do Aloysio, eu fui talvez o instrumento que tirou a hesitação dele”, brinca o executivo.

Não era mais novidade: André Midani tinha o feeling e a intuição necessários para descobrir o que faria sucesso. Em 1960, então, fundou a Imperial – uma companhia financiada pelo Odeon que vendia discos de porta em porta, chegando a faturar mais do que a própria Odeon. Depois de estabelecer o selo em países como Argentina, Venezuela e Peru, foi convidado a instalar a Capitol no México, trabalhando na gravadora por quatro anos. Em breve o executivo viraria o poderoso chefão da indústria ao assumir, com toda sua visão e influência, a presidência da Philips – que passou a atuar como Phonogram, PolyGram e hoje assina como Universal Music. Foi ali que André, o do disco, reuniu uma das maiores constelações musicais de sua carreira, contratando nomes como Tim Maia, Chico Buarque, Jorge Ben Jor e Raul Seixas, que viriam se juntar a um cast já bastante invejável, com ícones como Elis, Caetano e Gal.

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Da esq. p/ a dir.: Lô Politi, João Augusto, Washington Olivetto, André Midani, Patricia Olivetto, Gilda Midani, Ronaldo Fraga, Andy Summers, Jarbas Agnelli e John Ulh

Em conversa com o turco Nesuhi Ertegun, André questionou quando que o produtor musical abriria uma gravadora no Brasil, que prontamente respondeu: ‘quando você estiver pronto’. E André, obviamente, estava – o que o levou a trabalhar na implantação da moderna Warner do Brasil, em 1976. Com uma fatia de mercado de 3% no início, o selo foi crescendo à medida que André abrilhantava o cast com artistas que ajudou a popularizar e também com novas apostas, como Lulu Santos, Titãs e Kid Abelha. Em 1990, portanto, o executivo assume a cadeira de presidente da Warner para América Latina, mudando-se para Nova York.

Eleito uma das 90 pessoas mais importantes da história da indústria mundial do disco pela revista “Billboard”, André Midani se tornou integrante do conselho da Federação Internacional dos Produtores de Discos (IFPI) e presidente da IFPI latino-americana. Com autobiografia inerente à história da música nacional, o executivo lançou, em 2008, o livro “Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download”, retirado das lojas em 2011 por ação judicial. O pedido de censura, que aconteceu depois de um alto índice de vendas, partiu de um dos executivos citados – de forma não tão agradável – na obra. “Não me arrependo de nada que disse, pois apenas escrevi minha opinião, para mim verdadeira”, conclui André, o do disco.

Rosa Marcondes/divulgação

Com Roberto Menescal e Marcos Valle no lançamednto do documentário “André Midani, do Vinil ao Download”

Com Patinete e o secretário da Cultura de Porto Alegre, Roque Jacoby

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Michael Paz/Festa da MĂşsica

Rima e protesto Quando o rap de Gabriel, o Pensador encontrou o Brasil

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Tico Santa Cruz, vocalista do Detonatas, entrega troféu para Gabriel, o Pensador

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le inovou o rap nacional ao inserir elementos do pop em suas canções e fez com que a música das ruas, antes muito segregada nas favelas, tocasse em rádios de Norte a Sul do País. Desde os anos 1990 colocando discursos na boca de diferentes camadas sociais brasileiras, Gabriel, O Pensador foi homenageado na 11ª edição da Festa Nacional da Música, onde recebeu troféu pelas mãos de Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas. “Essa homenagem tem um significado muito especial porque é feita por quem sente a música da mesma forma que eu. São pessoas que sabem o valor que a música tem. Admiro essa festa, que é um esforço grande para reunir tantas pessoas ligadas à música, de várias áreas da produção de música, que envolve não só o artista, mas tantos outros, debatendo os rumos do mercado a cada ano, se divertindo juntos e reforçando os laços de amizade”, afirma o rapper. 96|FNM

Gabriel, o Pensador apresenta seus sucessos ao lado de Tico Santa Cruz e Fernando Magalhães


Fotos: Reprodução

O despertar de um rapper

Gabriel tinha 11 anos quando colocou no papel suas primeiras letras de música. “Foram cinco letrinhas que até gravei numa fita cassete e que encontrei depois de velho. É até engraçado eu cantando à capela. Estava na quinta série e já ouvia alguma coisinha do hip hop que começou a chegar no Brasil”, recorda o cantor, que tinha uma certa influência do rock nacional. “Tinha uma pegada bem rimada, eram letras bem faladas, mas também muito na onda daquelas bandas que estavam tocando, como Blitz, Ultraje, Titãs, Paralamas... Estava curtindo muito isso também.”

Com o pai e a irmã

A música era companhia certa, mas demorou um pouco para que Gabriel levasse tudo aquilo a sério. “Aos 17 anos foi quando decidi que queria fazer um disco. Gostava de vários estilos musicais; de reggae, das letras do Bob Marley, do Peter Tosh, de MPB, Raul Seixas e tantas outras coisas... Mas a essa altura já tinha escolhido que meu estilo era o rap e, inclusive, abdiquei de morar em Nova York com minha mãe para ficar sozinho aqui e tentar gravar. Era um sonho que eu queria tentar realizar e então comecei a pesquisar as coisas, a aprender um pouquinho de bateria eletrônica, a buscar isso”, diz o filho da jornalista Belisa Ribeiro.

No seu primeiro rap

Com os filhos Tom e Davi

Capa do disco “Seja Você Mesmo Mas Não Seja Sempre o Mesmo”

No clipe Cachimbo da paz O rapper e o surf

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Gabriel com Pro Jota, Emecida e Negra Li no Prêmio Multishow de 2014

Com Miele

Com Dinho Ouro Preto

Menino branco de classe média, Gabriel era, até provar o contrário, uma figura improvável no universo hip hop. Mas seu contato mais forte com o som veio direto da fonte, quando se mudou para São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, e passou a conviver com moradores da Rocinha. “Quando comecei a fazer rap no Rio, pouquíssima gente fazia. Eu não conhecia ninguém. Aí fiz amizade com uns caras que conheci vendo um filme que tinha um rapper como ator no cinema. Um deles é meu DJ hoje. Por acaso nos cruzamos e vimos que estávamos com camisetas e bonés ligados ao rap e aí puxamos conversa sobre isso. Ali, a princípio, ninguém se preocupava com a cor ou a origem do outro. Era mais uma afinidade de gostar do rap”, conta o carioca. Bem-recebido, Gabriel passou a se apresentar para o movimento negro e estudantil – antes de, em 1993, surgir timidamente no cenário musical pela coletânea “Tiro Inicial”, da qual participou ao lado de outros nomes que vinham surgindo, como MV Bill. Sua intenção não era a fama, mas falar sobre suas inquietações sociais, como o racismo e a alienação política da juventude. 98|FNM

Com Sandra de Sá

Com Chorão

“Tinha que mobilizar outros jovens e fui transformando tudo aquilo em letra de música. Fazia isso muito mais para me expressar, para desabafar e fazer o meu protesto do que para tentar ser artista, ficar famoso – o oposto do que vejo em muitas pessoas quando trazem um CD demo querendo fazer uma banda sem um grande propósito. Comigo foi o contrário: eu tinha um propósito mesmo e aquilo era o que me dava força até para superar uma boa dose de timidez que eu tinha.”

Já na faculdade de Comunicação Social da PUC (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), surge o nome artístico de Gabriel. “Assinei pela primeira vez como ‘O Pensador’ não para fazer música. Foi pra distribuir um panfleto contra o racismo na minha faculdade, revela o rapper, que tentou convocar a imprensa para cobrir a ação. “Era um protesto solitário.Nenhum jornalista foi lá cobrir, mas eu já estava adotando essa personalidade de ‘agitador’, digamos assim. ‘O Pensador’ era uma faceta minha de querer fazer as pessoas pensarem em certos assuntos. E a música acabou sendo o canal para fazer isso dar certo.”

Envolvido com a nascente do movimento, o cantor enfrentou as mesmas barreiras que outros rappers: fazer rap em português para o grande público. “Praticamente só o público underground de São Paulo e Brasília conheciam isso. Era um ritmo novo. Fui cantar em baile funk e a galera estranhou muito aquele rap mais consciente. Teve um deles que era um baile de charme, aquele estilo de funk mais lento, e a gente pediu para cantar. Quando chegou lá e o cara sentiu o que era, desligou a voz, cortou o microfone no início da música. Foi ridículo e a gente ficou com vergonha no palco”, lembra.

O Pensador

Rap nacional: um desafio

Com Marcelo D2

Com Jorge Ben Jor


No programa “Domingão do Faustão”

Com Dudu Nobre

Com Toni Garrido

Com Mr. Catra e Diogo Nogueira

Foi também no tempo da universidade que Gabriel lançou seu primeiro rap: “Tô Feliz (Matei o Presidente)”. Sua mãe, na época, era assessora de imprensa de Fernando Collor de Mello, que tinha acabado de renunciar ao cargo diante do impeachment. “Quando lancei a música, estava recém no 2º semestre da faculdade. Faltei algumas aulas, pois a canção foi censurada e eu fui pessoalmente protestar sobre isso. Quando retomei, consegui um contrato com uma gravadora grande, que era o que eu queria, e teria que cumprir horário de estúdio, integral. Aí tranquei a matrícula de vez mesmo.” Contratado pela Sony Music, o rapper lançou seu primeiro disco em 1993. “Gabriel, O Pensador” trazia letras divertidas, porém subjetivamente críticas, como “Lôraburra”, “Retrato de um Playboy” e “Lavagem Cerebral”. Logo com o álbum de estreia ele conquistou o Prêmio da Música Brasileira, que na mesma década ganhou companhia na estante com troféus como o do Prêmio Multishow de Música. Outros grandes hits da carreira vieram no início dos anos 2000, como “Nádegas a Declarar”, em 2002. “De repente as rádios sentiram necessidade de procurar outros raps para incrementar a programação. Até os Racionais, que era um grupo meio avesso à grande mídia, passou a ser tocado na rádio nessa época. As rádios começaram a enxergar o rap com bons olhos a partir do sucesso do meu terceiro disco principalmente, que tocou muito. São essas coisas que deixam a gente feliz.” Além de ter rodado o País inteiro com singles como “Cachimbo da Paz”, “2345meia78”, “Dança do Desempregado” e “Astronauta”, o rapper se aventurou pela escrita de livros como “Diário Noturno”, “Um Garoto Chamado Rorbeto”, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro Infantil em 2006, e “Meu Pequeno Rubro-Negro”. Há mais de 20 anos na estrada, Gabriel ainda divide a agenda entre os filhos, Tom e Davi, a música, os livros, palestras educativas e motivacionais e um ativo papel social, como o que realiza no projeto “Pensador Futebol”. “São mil e um projetos. A toda hora tenho ideias novas. Estamos sempre a mil, mas eu consigo, quando preciso, dar mais foco para a música. Aprendi a dividir o tempo. Agora também estou fazendo a turnê com um derivado dos shows, que é uma festa que criei chamada ‘Ajoelhou Tem que Rezar’”, revela o cantor, que pretende, em breve, colocar outro CD nas lojas. FNM|99


Sertanejos João Bosco e Vinícius têm mais de duas décadas de carreira

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Michael Paz/Festa da Música

Estrada de chão


Jackson Ciceri/Festa da Música Sergio Reis entregou o troféu para João Bosco & Vinícius

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Mauro Vieira/Festa da Música

á mais de duas décadas na estrada da música sertaneja, João Bosco & Vinícius estrearam na Festa Nacional da Música como homenageados da 11ª edição. Com o novo trabalho da carreira na bagagem, que conta com participações especiais como Sergio Reis, eles relembraram no palco um pouco das gravações ao lado de Serjão, que entregou o troféu à dupla e a acompanhou em “Chalana” – um clássico de seu repertório. “Receber essa homenagem pelas mãos de um cara que sempre foi a nossa inspiração musical é a realização de um grande sonho, uma enorme honra para nós. Com certeza será um dos momentos mais marcantes de toda a nossa carreira”, afirmou Vinícius. “Tentamos vir outras vezes, mas por conta da agenda não deu. Uma pena não termos vindo antes a essa festa. Queremos voltar sempre”, comentou João Bosco depois da premiação. Dupla sertaneja interpretou a música “Chalana”

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Fotos Arquivo Pessoal

p Do cam o ao asfalto

João Bosco bebê

Vinícius aos 2 anos

Cidade de Coxim, Mato Grosso do Sul; ano de 1994 – data e local que marcam o início da história de João Bosco & Vinícius, que se conheceram um pouco antes, em 1991. “Nos conhecemos com 10 anos, na cidade onde a gente morava. Três anos depois participamos de um festival, não como dupla, mas concorrendo ao prêmio com outros jovens, e ficamos empatados em segundo lugar”, conta João Bosco. O encontro na competição foi o suficiente para que os dois se apresentassem juntos pela região, e pronto: parentes e amigos começaram a incentivar a formação da dupla – ideia não muito aceita no começo. Em 1999, já como dupla, os dois deixaram as estradas de chão do interior para fazer faculdade em Campo Grande: João Bosco em Fisioterapia, Vinícius em Odontologia. “Cheguei a concluir o curso de odonto e o Vinicius quase terminou. A gente foi com a intenção de exercer a profissão, mas a música falou mais alto e aí começamos a nos desenvolver musicalmente”, lembra João Bosco. As profissões na área da saúde podem não ter vingado, mas a universidade abriu portas além das salas de aula: de barzinhos e festas para os primeiros shows da dupla na capital. “Lá aprendemos tudo. Começamos a entender o processo das músicas, da gravação de um disco e da rotina de shows”, diz Vinícius.

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João Bosco & Vinícius quando criança

João Bosco & Vinícius posam ao lado do busto do compositor Zacarias Mourão

Apresentação no Lions Clube, no início da carreira

Show na escola de Música


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Mauro Vieira/Festa da Música

Fotos Divulgação

Com influências de grandes nomes da música caipira, como Chitãozinho & Xororó, Almir Sater, Renato Teixeira e Milionário & José Rico, eles criaram a a própria identidade. “Depois que começamos a fazer shows em barzinhos, as atléticas das faculdades nos procuraram para cantar em eventos da universidade também. Os shows começaram a ser frequentes e os nossos colegas e amigos viraram o nosso público. A procura pelos nossos shows aumentou também fora das festas e, a partir daí, percebemos que a nossa vida tinha mudado”, recorda Vinícius. “Até mesmo antes da faculdade, por volta dos 15 anos de idade, percebemos que tínhamos potencial para buscar mais. Mas esse foi o nosso período de amadurecimento”, afirma João Bosco.

Com Michel Teló e Fernando & Sorocaba em trio na Bahia

Joao Bosco & Vinicius com a banda Banda Cine Com Carlinhos de Jesus

Novo sertanejo

O primeiro disco da dupla, “Acústico Bar”, aconteceu sem querer, com gravação caseira, e ainda assim vendeu 40 mil cópias no Mato Grosso do Sul. “Nosso trabalho começou na internet. O primeiro CD foi passando de mão em mão, enviado por e-mail, pelo MSN... Alguém gravou o nosso show em um bar e vendeu. O disco foi rodando pelas cidades vizinhas a Campo Grande e passou até mesmo por outros estados”, explica João Bosco. “A gente fazia shows em Campo Grande e região, sem nenhuma música tocando em rádio. Mas a cada dez CDs vendidos nas barraquinhas de camelô da época, estima-se que oito eram nossos”, completa Vinícius.

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Apontados como os pioneiros do sertanejo universitário, João Bosco & Vinícius temem as distorções sobre a vertente. “Nosso estilo é o sertanejo. O rótulo de sertanejo universitário nos foi dado porque nós éramos universitários na época em que estouramos. O nosso público eram os estudantes com quem convivíamos. Nossos primeiros contratantes foram os grêmios estudantis, foram as festas da universidade”, argumenta João, complementado pelo parceiro. “Não nos incomodamos com o rótulo de pioneiros desse gênero, faz parte da nossa história. Só ficamos preocupados com o conceito que deram para a música sertaneja universitária em si. Muita coisa do que surge de ruim hoje em dia eles creditam à música sertaneja universitária e isso não é verdade.”

Com gosto musical parecido, a dupla escolhe o repertório conforme a emoção, e não baseado em compositores preferidos. “Sempre escolhemos músicas que mexam com o nosso coração. Ele é o maior termômetro. Isso é primordial na hora da seleção”, garante João. “Todo mundo considera a gente os precursores do sertanejo universitário, mas pouca gente sabe que fizemos mais de dez anos de shows em barzinhos. E as músicas que a gente cantava eram de acordo com os pedidos que as pessoas faziam. Como o Mato Grosso do Sul sempre sofreu muita influência da música caipira, a gente acabava cantando esse repertório de clássicos sertanejos”, lembra Vinícius.


Com Leandro e Thiaguinho

Com Ronny e Rangel

Com Michel Teló

Depois de estourarem um single atrás do outro em 2009 e emplacarem o hit “Chora, Me Liga” como a música mais executada no País daquele ano, o sucesso da dupla chegou a outros países, como Colômbia e Argentina. Um ano depois, o CD e DVD “Coração Apaixonou” dividiu as rádios, que se revezavam entre três faixas de João Bosco & Vinícius entre as mais tocadas: “Sem Esse Coração”, “Tema Diferente” e “2 Anos”. A consagração no Brasil foi o bastante para colocar os dois na mira do showbusiness internacional e, em 2011, a dupla se apresentou nos Estados Unidos, Espanha, Inglaterra e Portugal. “Nos shows que fizemos fora, 80% do público era brasileiro. O carinho que recebemos deles foi ótimo. Sentimos que eles acompanham mesmo a nossa carreira. A receptividade foi a melhor possível. A gente percebe a carência que os brasileiros têm de coisas do Brasil”, revela João.

Paralelo à turnê do disco “Indescritível”, a dupla lançou em 2015 o álbum “Estrada de Chão”, que faz uma visita às origens e traz canções que inspiraram a carreira – gravadas ao lado dos intérpretes originais. “Desde que começamos a cantar a gente tinha o sonho de reunir esse time de ponta e gravar essas músicas que cantávamos nos bares”, conta Vinícius. O álbum, que conta com a participação de ícones do sertanejo, como Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano, Leonardo e Sergio Reis, também resgata canções que marcaram a infância da dupla. “Todos os artistas que participaram têm uma infinidade de clássicos, mas nós escolhemos aqueles que fizeram parte da nossa história e que a gente canta há muitos anos”, diz João Bosco.

Palcos distantes

Com Latino

Com Júnior Lima

Xand do Aviões do Forró

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O PALCO DA MÚSICA BRASILEIRA

EM 2015, PELO TERCEIRO ANO CONSECUTIVO, O MUSIC BOX BRAZIL TRANSMITIU AO VIVO, PARA TODO O PAÍS, O MAIOR ENCONTRO DE ARTISTAS DA MÚSICA NACIONAL MUSIC BOX BRAZIL: A MÚSICA BRASILEIRA EM PRIMEIRO LUGAR 24 HORAS POR DIA! Net: 123 Claro TV: 123 Sim TV: 98 Vivo TV Florianópolis: 66 Vivo TV Foz do Iguaçu: 39 CTBC: 302 VCB - Via Cabo/STV: 92 Cable Bahia: 98 Linsat: 59 TV SP2: 70 TV Caratinga: 154 TV a Cabo São Bento (SSTV): 50 Cabo Natal: 602 TV Cidade: 98 Boa Vista Cabo: 330 Multimídia: 66 VSAT: 86 Brisanet: 132

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Michael Paz/Festa da Música

Nos bastidores dos megaeventos O empresário Cicão Chies, sócio-fundador da DC Set Promoções, é um dos responsáveis por momentos históricos do show business no Brasil

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Paulo Sérgio Pinto, vice-presidente da Rede Pampa de Comunicação, entregou o troféu Festa Nacional da Música a Cicão Chies

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á mais de três décadas ativo no mercado do show business, Cicão Chies foi um dos homenageados na noite de premiações da Festa Nacional da Música 2015. “Receber esta homenagem é uma honra e me deixa muito feliz. O evento representa o principal encontro da classe artística brasileira”, disse. Chies, ao lado do sócio Dody Sirena, possui um papel fundamental na história dos megaeventos que aconteceram no Brasil desde o início da década de 1980. O empresário trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria fonográfica nacional e internacional, trazendo para o Brasil artistas como Michael Jackson, Paul McCartney e Rod Stewart. “Pessoalmente, lembro que tanto a negociação como a produção do show de Michael Jackson deu mais trabalho na nossa trajetória. Os únicos dois shows realizados no Brasil, no estágio do Morumbi em 1993 foram especiais – trabalhoso, mas muito gratificante”, relembrou. Cicão Chies com o troféu Festa Nacional da Música

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Jackson Ciceri/Festa da Música

Emoções em alto-mar

Com os filhos

Foto reprodução

Chies também possui no currículo o Projeto “Emoções em Alto Mar”, que une o entretenimento aos cruzeiros marítimos que navegam pela costa brasileira. A iniciativa trouxe como atração principal ninguém menos que o Rei Roberto Carlos – e, hoje, reúne anualmente uma média de 4 mil pessoas para viver a programação do navio. A parceria com o astro da música brasileira, no entanto, surgiu muito antes do projeto. “São 24 anos realizando os espetáculos de Roberto Carlos em todo o mundo. Não há nada mais importante em nosso caminho. Trabalhar com o maior nome da música brasileira é uma honra”, comentou Chies. A DC Set é responsável pela administração da carreira do artista e produz shows e turnês, além de lançar produtos no mercado, desenvolver relacionamentos e viabilizar parcerias com grandes empresas, como a Rede Globo e a Sony Music.

Dody Sirena, Waldonys, Roberto Carlos, Tom Cavalcante e Cicão Chies nos bastidores do show do Rei na Arena Castelão, em Fortaleza

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Com David Copperfield

O empresário ingressou no universo de produção e criação de eventos em 1978 de maneira despretensiosa. Organizou os Bailes de Rainha, através do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Dom João Becker, na capital gaúcha, e, em seguida, na Umespa (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Porto Alegre). No ano seguinte conheceu Dody Sirena e, atualmente, já soma cerca de 40 anos de parceria com o sócio.

Cicão com a esposa, Mariana Araújo

Nos anos 1980, os dois empresários expandiram sua área de atuação para muito além das fronteiras brasileiras, abrindo um escritório em Los Angeles, na Califórnia. “Desde o início, a DC Set foi muito atuante e arrojada nas suas metas. Abrir um escritório em Los Angeles foi um passo importante e nos possibilitou realizar grandes shows, como os de Michael Jackson, Rod Stewart, Dionne Warwick, Liza Mineli, Ray Charles e tantos outros”, comentou Chies. A expansão não foi somente geográfica. Atualmente, a DC Set também atua na área imobiliária, no agronegócio e no marketing esportivo.

O projeto “Emoções Incorporadora”, idealizado pelo Rei e concretizado pela empresa, desenvolve atividade para construir incorporadoras de arquitetura e engenharia sustentáveis. Além disso, a DC Set realiza gestão de espaços culturais. A reabertura da Pedreira Paulo Leminski, espaço destinado a espetáculos ao ar livre na cidade de Curitiba, no Paraná, é um dos projetos no portfólio da empresa e, graças à reforma, o parque recuperou sua vida cultural.

Cicão com o sócio Dody Sirena

Cicão e Tom Cavalcante

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Foto Eduardo Bins Ely/especial JC

Kalil Sehbe Neto, Cicão Chies, José Fortunati e Dody Sirena na Arena do Grêmio


Tendas e muitos palcos

Já no setor esportivo, a empresa cria, produz e promove ações de marketing voltadas para o segmento. Suas realizações datam desde a década de 1990, quando foi nomeada organizadora da festa de celebração para a seleção tetracamepã. Hoje, a DC Set representa mais de 160 jogadores de futebol e treinadores – além de organizar torneios e trabalhar com a gestão de clubes. Nos anos 1990, Chies e Sirena foram os responsáveis por criar um conceito inovador dentro dos festivais de música: o multimídia. A estrutura de tendas e diversos palcos foi idealizada para o Planeta Atlântida – evento musical realizado no RS pela DC Set – e, anos mais tarde, adotada para o Rock in Rio de 2001 – inclusive, para as edições de Lisboa e Madri. Foi assim que os sócios conseguiram inserir o Brasil e a América do Sul na rota das grandes turnês musicais.

Com Adriane Galisteu

Atuação fora da indústria fonográfica

Com Dody Sirena e Roberto Carlos

“A DC Set pode afirmar que tem uma importância enorme no mercado brasileiro, realizando os maiores shows e eventos por todo Brasil”, avaliou Chies. Na análise do empresário, o mercado de shows no Brasil cresceu muito na última década, o que trouxe ao País diversas casas de espetáculos e empresas profissionais em todos os tipos de entretenimento, como peças de teatro e musicais. “Hoje, em termos de quantidade, qualidade e diversidade, somos um país de primeiro mundo. Podemos assistir aqui ao mesmo show que há pouco esteve em Londres ou Nova York.” Entretanto, o cenário econômico brasileiro pode afetar o setor, já que o câmbio do dólar pode impulsionar ou não a realização de shows e festivais estrangeiros. “Neste momento, com o dólar alto, deve diminuir a quantidade de shows internacionais no Brasil, principalmWente os de pequeno porte”, disse Chies.

Com Eduardo Smith, do Grupo RBS, na coletiva de imprensa do show “On The Run” (2012), de Paul McCartney, em Florianópolis

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Michael Paz/Festa da Música

A força da voz gospel Com uma incrível vocação para a música, Damares tem tocado o coração de milhares com o seu talento e história de superação

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Jackson Ciceri/Festa da Música

Anayle e Michael Sullivan entregaram o troféu a Damares

“Estou muito feliz em participar 114|FNM

e em ser homenageada na Festa, porque é mais uma conquista entre tantas que recebi de Deus. O carinho das pessoas vem de Deus. Ele as envia para me abençoar, me dar ânimo e forças para continuar. Estou muito emocionada e feliz de estar aqui”, disse. O show gospel, que aconteceu no domingo (18 de outubro), reuniu mais de 7 mil pessoas e levou ao palco outros grandes nomes da música gospel, como Marcelo Crivella e Eli Soares. O talento não é o único motivo para o sucesso da cantora. A determinação é, talvez, o seu maior atributo. De origem humilde, sua trajetória pode ser sintetizada em uma palavra: superação. Entretanto, apesar das dificuldades, Damares já soma quase 20 anos de carreira e, além dos seus trabalhos, também possui o título de Embaixadora da Paz e do Bem Estar Social pela ONU. Sua vocação foi percebida pelos pais muito cedo, aos 6 anos de idade. Anos mais tarde, após se mudar com a família de sete irmãos para um

sítio na zona rural de Umuarama, no Paraná, Damares encontrou dificuldade de levar o seu sonho em frente. Ainda muito nova, começou a trabalhar na lavoura e, por causa da árdua rotina, passou a desacreditar no potencial de se tornar cantora. Mauro Vieira / Festa da Música

“E

u sempre quis cantar para Deus”, revelou Damares, a cantora gospel que tem no currículo sete CDs, cerca de 1 milhão de cópias vendidas com o sucesso “Apocalipse” e um disco de Diamante. Suas músicas buscam valorizar os esforços para superar dificuldades e instigar a determinação. Damares traz nos seus shows e em outros eventos palavras que reforçam a crença de que Deus pode restaurar sentimentos e curar feridas. “Essa é a minha missão”, completou. Homenageada na Festa Nacional da Música, Damares recebeu o prêmio das mãos de Anayle e Michael Sullivan e, em seguida, brilhou na noite de shows e premiações com as canções “O Maior Troféu” e “Sabor de Mel”. Na tarde anterior, foi uma das principais vozes a se apresentar no show gospel, a primeira atração do evento. No palco do Centro de Feiras de Canela, além dos sucessos interpretados na noite de homenagens, também cantou “Consolador” e “O Maior Troféu”.

Damares durante show na Festa da Música 2015


Fotos arquivo pessoal

p Talento recoce

Na escola, com o irmão

Damares na Igreja Assembleia de Deus

Casa da família

Familia reunida

Aos 14 anos voltou a frequentar a igreja a convite do pai – embora ainda se mantivesse relutante. “Não tinha nem roupa e nem calçado para ir à igreja. Era uma precariedade muito grande. Nós vivíamos do que plantávamos”, relembrou. Lá, recebeu a oportunidade do Pastor de cantar – e, assim, sentiu que algo havia mudado. Ela conta que, enquanto cantava, seu pai teve a visão de um anjo entrar na igreja. O anjo se aproximou e derramou em sua boca um líquido, chamado o óleo da unção de Deus. Então, o anjo voltou-se ao pai e disse: “a partir de hoje ela será uma nova criatura. E onde ela não puder ir, sua voz irá chegar”. Embora não tenha tido a mesma visão, Damares revela que sentiu a presença do anjo e começou a chorar. “Minha vida nunca mais foi a mesma. Ganhei um novo potencial de voz; minha timidez começou a ir embora e passei a buscar mais a Deus”, contou. Foi então que o sonho de cantar profissionalmente, enraizado ainda na infância, voltou a ganhar força. Dois anos após o episódio, em 1996, Damares gravou o seu primeiro trabalho, “Asas de Águia”, em fita cassete. Sem recursos financeiros, o material foi elaborado de forma independente e bastante simples. Embora as circunstâncias insistissem em mostrar o contrário, a cantora se manteve confiante de que seguiria a carreira musical. Até que, em 1999 surgiu o que a própria Damares se referiu como uma “luz no fim do túnel”: através da gravadora Louvor Eterno lançou o seu segundo trabalho – já em CD –, “A Vitória é Nossa”.

Trabalho na roça

Lida campeira

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A carreira de Damares começou a ascender em 2004 com o lançamento do CD “Deus que Faz”. Com cerca de 100 mil cópias vendidas, o trabalho contou com uma produção mais elaborada. “Eu queria fazer um trabalho todo ao vivo, com um bom maestro, orquestra, backvocals. Era um sonho e consegui realizá-lo”, contou. Foi graças a esse CD que Damares passou a se apresentar em regiões além do Sul do País, como nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia e São Paulo. Fotos divulgação

Sonho realizado

Se sua personalidade resiliente a levou a alcançar as oportunidades, a persistência é que lhe trouxe o sucesso. A reviravolta na sua trajetória aconteceu em 2008, quando gravou o seu maior sucesso, “Apocalipse”, com a canção “Sabor de Mel”. A partir daí, passou a pisar nos maiores eventos do país e chegou a receber ofertas de gravadoras seculares – como a Sony Music, com a qual mantém contrato há cerca de quatro anos. Em estúdio

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A música gospel sempre esteve presente na vida de Damares. As influências que passaram pela carreira – e vida – são muitas. Por causa dos poucos recursos que possuía na infância e adolescência, não tinha acesso a outros gêneros musicais. “Como vim de cidades pequenas e morei na roça muitos anos, não tive a oportunidade Damares visita a Rádio Feliz FM


de crescer ouvindo grandes cantores mundiais. Então, ouvia o que eu podia ouvir na época, dentro das minhas possibilidades”, explicou.

Arquivo Pessoal

Nomes como Shirley Carvalhares, Rose Nascimento e o grupo Voz da Verdade têm um importante espaço em sua memória e coração. Hoje, Damares revela que é bastante eclética. “Com o passar dos anos, fui me aprimorando. Hoje, ouço de tudo, desde que seu conteúdo me edifique espiritualmente”, disse. Apesar da música secular não fazer parte do seu cotidiano, a cantora reconhece a beleza da pluralidade musical que existe no Brasil. “Existem vozes lindas. O Brasil é rico em musicalidade”, afirmou.

Atualmente, a cantora está focada na divulgação do seu mais recente lançamento. A gravação do DVD “O Maior Troféu – Ao Vivo”, que aconteceu em São Sebastião, SP, reuniu mais de 50 mil pessoas na beira da praia do litoral paulista e introduz canções inéditas. “É um DVD muito especial e teve uma enorme aceitação”, contou. Damares também revelou que está preparando o repertório para seu próximo CD inédito, que tem previsão para maio ou junho de 2016.

Cantora recebe a placa comemorativa de 1 milhão de cópias vendidas do disco “Apocalipse”

Entrevista para a Rádio Gospel

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Com 45 anos de carreira, O Terço segue na linha de frente quando o assunto é tecnologia na música

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Michael Paz/Festa da Música

Vanguarda no rock


Fotos: Jackson Ciceri / Festa da Música Pepeu Gomes entrega troféu ao líder da banda, Sérgio Hinds

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o contrário de grande parte dos músicos, os integrantes de O Terço não conheceram outras profissões a não ser a música. Com uma carreira iniciada muito cedo, eles coroaram 45 anos de estrada com o troféu Festa Nacional da Música, recebido em 2015pela atual formação do grupo: Sérgio Hinds, Flávio Venturini, Sérgio Magrão e Fred Barley. “Nos sentimos muito honrados de estarmos sendo homenageados na festa mais importante da música brasileira”, afirmou Hinds em nome da banda, esperada no palco por Pepeu Gomes.

Sérgio Hinds agradece a homenagem na Festa Nacional da Música

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Fotos: Arquivo Pessoal

Primeiros acordes

Em suas origens estão duas bandas da longínqua década de 1960: Hot Dogs, na qual iniciou o baixista Sérgio Hinds, e Joint Stock Co., integrada pelo guitarrista Jorge Amiden e o baterista Vinícius Cantuária. Logo ali em frente, em 1968, o clássico trio ‘baixo-guitarrabateria’ se juntou para ganhar os palcos sob o nome Os Libertos – banda natural do Rio de Janeiro que, mais tarde, se radicaria em São Paulo. “O grupo era uma atração que agitava as domingueiras cariocas”, lembra Hinds. Os três ainda se apresentaram como Santíssima Trindade para, somente em 1970, se chamarem O Terço, quando lançaram o primeiro LP, homônimo à banda. E o álbum de estreia já surgiu diferente, com uma harmônica mistura de rock anos 1950 e 1960, folk, música clássica e leves tintas progressivas.

Sérgio Hinds, Cézar de Mercês, Vinícius Cantuária e Jorge Amiden com a “tritarra” Sérgio Magrão, Sérgio Hinds, Luiz Moreno e Flávio Venturini

O Terço no palco, em 1971 Luiz Moreno, Sérgio Hinds, Sérgio Magrão e Flávio Venturini

Sérgio Hinds, Franklin Paolillo, Luiz de Boni e Andrei Ivanovic

Sérgio Magrão, Luiz Moreno, Cézar de Mercês e Sérgio Hinds

Sérgio Magrão, Sérgio Hinds, Flávio Venturini e Luiz Moreno

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O novo batismo do trio caiu como uma luva para essa primeira formação da banda – e veio cheia de significado por trás do óbvio número três. “É claro que ‘o terço’ é um ‘fracionário que corresponde a três’ ou à ‘terça parte de alguma coisa’, inclusive a do rosário – o conjunto de contas utilizado na liturgia Católica para computar um determinado número de orações; quinzePai-Nossos e quinze AveMarias. Então ficou ‘O Terço’ como trio e o símbolo do rosário representando união”, diz o baixista. Antes do primeiro LP, o grupo ainda lançou dois compactos simples. Era a época do rock rural e do rock progressivo e eles mergulharam fundo nestas tendências sonoras.

Sérgio Hinds, Fred Barley, Cézar de Mercês, Sérgio Magrão e Flávio Venturini

1970: a década em movimento

O auge de suas proposições estéticas, no entanto, ainda estava por vir: o espetáculo “Aberto para Obras”, montado no Teatro de Arena do Largo da Carioca. “O público entrava por estreitos corredores e se via separado dos palcos por cercas de arame farpado. Descobrindo finalmente como chegar aos seus lugares, tinham que escolher entre olhar para baixo, onde estava a [banda] Módulo 1000, ou para cima, onde se encontrava O Terço”, lembra Hinds, que coleciona detalhes. “Abaixo havia também uma mulher preparando pipoca em um fogão e, mais adiante, sentado em um vaso sanitário, estava o irmão de Jorge Amiden empunhando estático um violão por três horas seguidas, apenas para arrebentá-lo no final de tudo.”

Flávio Venturini, Luiz Moreno, Sérgio Hinds e Sérgio Magrão

Ainda no início dos anos 1970 começaram as idas e vindas que marcam a história do grupo: Sérgio Hinds se afasta para viajar em turnê com Ivan Lins, Cezar de Mercês assume o baixo na banda, Hinds volta, transformando O Terço em um quarteto, e Jorge Amiden deixa o grupo, em 1972. A banda tinha, então, uma nova tríade: Sérgio Hinds, Cezar de Mercês e Vinícius Cantuária. Mas muitos nomes – mais de 20 – ainda passariam por ela, como Luiz Moreno, Sergio Melo e Sérgio Kaffa.

Idas e vindas

De festival em festival, O Terço ganhou seu espaço na mídia especializada, que caiu de amores pelo vocal trabalhado no falsete – uma das principais características do trio. Uma nova década começava e, para eles, 1970 foi o ano: venceram o Festival de Juiz de Fora com a canção “Velhas Histórias”, de Renato Corrêa e Guarabyra, e classificaram “Tributo ao Sorriso”em terceiro lugar no Festival Internacional da Canção. Em 1971, lá estavam eles de novo, no mesmo festival, ostentando estranhos e inventivos instrumentos no palco, como uma guitarra de três braços –“a batizada de tritarra” – ou um violoncelo elétrico. Era a vez da música “O Visitante”, quarta colocada da edição. E estava feito: eles eram considerados a melhor banda de rock daquela década.

Foi assim, misturando mentes criadoras e bagagens musicais, que o grupo foi se reinventando no rock. “As mudanças ocorreram por aspirações individuais e alteraram um pouco, a cada mudança, o som da banda. Mas com a volta da formação que consideramos mais importante [Flávio Venturini, Sérgio Hinds e Sérgio Magrão] o nosso som está bem consolidado. Também trabalhamos por algum tempo com Sá & Guarabyra. Eles nos influenciaram em parte nesse lado rural do nosso repertório”, conta Hinds.

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A formação mais festejada

É no segundo trabalho, homônimo como o primeiro e lançado em1973, que a sonoridade mais progressiva começa a aparecer. “Talvez seja o disco mais homogêneo de toda a nossa carreira. Nele há a participação de Luiz Paulo Simas tocando synth e órgão na suíte de 19 minutos ‘Amanhecer Total’, uma das primeiras canções nacionais a usar o mini moog”, recorda o baixista.

Flávio Venturini, Sérgio Hinds e Sérgio Magrão

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Cézar de Mercês, Flávio Venturini, Sérgio Hinds, Sérgio Magrão e Luiz Moreno

Conhecido pela postura de vanguarda, O Terço mostra que, quatro décadas depois, segue pensando à frente. Primeiro grupo musical a apresentar shows em 3D, eles lançaram recentemente, além de um DVD e CD duplo, um Blu-Ray com esta tecnologia. “Nos apaixonamos pelo resultado, que tem surpreendido a todos. Um telão de 10 metros atrás de nós com projeção em 3D e a plateia com os óculos personalizados, com lente importada, participam de uma experiência única com inúmeros efeitos”, empolga-se Hinds.

OTerçoem3D

Em 1975 foi lançado, então, o LP “Criaturas da Noite”, que consagrou a banda com sua formação mais festejada: Sérgio Hinds, Luiz Moreno – falecido em 2003 –, Sérgio Magrão e Flávio Venturini – indicação de Milton Nascimento para assumir os teclados. A faixa-título, apontada como a síntese perfeita de MPB com ProgSinfônico, virou hit nacional, vendendo centenas de milhares de cópias e presenteando o público com uma das obras-primas do progressivo brasileiro, a clássica “1974”. Considerada um hino do gênero no País, a canção foi composta pelo, na época recém-chegado, Venturini. O mesmo álbum ainda traz um dos maiores singles da história da banda: “Hey Amigo”, que projetou definitivamente o nome do grupo.

O trabalho completo, que traz clássicos da carreira, com muito rock progressivo e rural e também MPB, conta também com um documentário sobre a trajetória da banda. “A produção foi uma parceria entre a Visom Digital e o Canal Brasil com a participação da 3D Mix. O Carlão, o Carlos de Andrade, nos propôs lançarmos a história do Terço, com as principais músicas da fase mais clássica e a história contada em um documentário dirigido pelo cineasta Paulinho Fontenelle”, revela o músico.


Michael Paz / Festa da MĂşsica

Na onda do reggae

Banda gaĂşcha comemora 15 anos de carreira com um novo trabalho

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Fotos Jackson Ciceri / Festa da Música Serginho Moah, da banda Papas da Língua, entrega troféu Festa Nacional da Música para Chimarruts

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om as bênçãos de “Iemanjá” e “energia positiva direto na veia”, a Chimarruts comemorou em 2015 seus 15 anos de trajetória. Nesse período, a banda gaúcha de reggae, que reuniu amigos dos bairros Glória e Medianeira, em Porto Alegre, e uma guria de Santo Ângelo, explodiu no Estado gaúcho e ainda invadiu as ondas das rádios de todo País. Assim, se transformou em uma das referências no estilo com suas canções originais. Para celebrar o aniversário musical, a banda foi homenageada na 11ª Festa Nacional da Música. O troféu foi recebido das mãos de outra banda gaúcha que é sucesso no Brasil: os Papas da Língua. “Ficamos muito felizes pelo reconhecimento, então foi muito importante para nós receber essa homenagem, que é de músico para músico!”, agradeceu Rafa lembrando a evolução musical do grupo. Esse crescimento – para a sorte dos fãs – foi alcançado em cada show realizado, de acordo com Rafa Machado e Tati Portela, duas das vozes que interpretam as canções do grupo. E também com a ajuda da internet. 124|FNM

Rafa Machado, Tati Portela e Sander Fróis depois de receberem homenagem no Salão Implúvio


A explosão na web

Fotos Arquivo Pessoal

“Nós crescemos junto com a internet e acompanhamos cada fenômeno da rede, que contribuiu para levar o som da ‘Chima’ para outros lugares no Brasil”, relembrou Rafa. O surgimento do YouTube, por exemplo, provocou a “explosão” dos sucessos dos músicos gaúchos na web. “Fomos a primeira banda a ter um vídeo com mais de 6 milhões de visualizações no YouTube, com a música ‘Saber Voar’, na época. Em resumo, a gente sempre soube se valer dessa ferramenta.” Tati completou: “O boom da internet facilitou bastante o nosso trabalho, porque a gente, morando no Rio Grande do Sul, passou a ter músicas conhecidas no Rio de Janeiro, em São Paulo, e muitos outros lugares. Aí, é que a gente começou a excursionar Brasil afora”.

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Ter investido no próprio talento também foi decisivo para que a Chimarruts marcasse seu espaço no cenário musical. “Nosso primeiro disco foi independente. Na época, uma coisa bem diferenciada, fazer uma gravação de CD autoral, pagando com seus próprios recursos”, avaliou a vocalista.

Rafa Machado e Tati Portela na Festa da Música 2015

Sucesso vertiginoso

Com “Chapéu de Palha”, em 2002, o sucesso chegou, mudando a vida de todos os oito integrantes. “Foi um pouco vertiginoso. Nós éramos uma banda independente que praticamente aprendeu a tocar ali, no palco. Em um ano gravamos um CD, e dois anos depois já estávamos em grandes festivais e na rádio. O sucesso assustou um pouco”, avaliou Rafa. Já Tati, viu na mudança a realização de um sonho. “Quando estamos no universo independente, sonhamos ser músico [profissional], pra poder viver de música, o que já é uma coisa mais difícil. Por isso, o sucesso para mim foi bem ‘galgadinho’”, lembrou. Apesar do reconhecimento batendo à porta, a “Chima” não perdeu a originalidade. “A diferença maior foi entrar nesse mundo profissional. Porque, em essência, continuamos os mesmos”, destacou Rafa. “Como a gente vê muita banda 126|FNM

boa demorar bastante para fazer sucesso e nós com o primeiro disco já emplacamos cinco músicas, isso foi uma surpresa agradável. Foi possível viver do que gostamos e sabemos fazer”, reforçou Tati. Com o sucesso já alcançado, a banda deveria agora investir no desenvolvimento da carreira, na conquista do público em âmbito nacional. Aí, se impôs um novo desafio. “Nossa maior batalha, nossa maior dificuldade foi consequência de uma escolha. Nós optamos por morar em Porto Alegre, especialmente por causa das nossas famílias”, revela a cantora. “O que é mais difícil para gente é sempre a questão de logística, a distância dos grandes centros. Um exemplo: é preciso conseguir passagens aéreas para 20 pessoas toda vez que vamos para Belém do Pará ou para o Acre, lugares onde vamos com frequência. Mas quando o contratante quer o nosso show, leva, né?” Mas todas as dificuldades são superadas quando a ligação com a música é visceral e o esforço para manter a qualidade do trabalho é contínuo. “É uma luta que é boa de ser travada. Por isso completamos 15 anos juntos”, comemorou Rafa.


Formação original

Atualmente, a Chimarruts leva 11 músicos ao palco. No início eram oito, na “história de voz e violão”, como recordou Tati. E já no primeiro disco entraram trombone (com Boquinha), o trompete (com Tuzinho), e os teclados (com Luquinha). “Desde o primeiro disco eles estão conosco. Na verdade, somos uma banda que não mudou ninguém. E hoje temos mais a técnica. Então somos 20 na correria. ”A Chimarruts conta ainda com Nê (vocais, flauta quena e harmônica), Diego Dutra (bateria), Vinícius Marques (percussão), Emerson Alemão (baixo), Sander Fróis (guitarra) e Rodrigo Maciel (guitarra).

Participação do programa Patrola, da RBS TV, em 2014

Rafa e Tati no palco do Planeta Atlântida 2014

Mesmo com a identidade própria consolidada, a Chimarruts não esquece seus referenciais. “Nossas influências estão em Gilberto Gil, Cidade Negra. Mas é claro que em função de o reggae ser um ritmo internacional, inevitavelmente nós também absorvemos a música produzida no cenário mundial. É impossível não se espelhar em Bob Marley, não ser influenciado pelo Inner Circle”, relembrou Rafa. “Mas a nossa referência principal sempre foi quem fez reggae no Brasil e a própria música brasileira”, destacou o músico.

Para festejar o aniversário, a Chimarruts investiu em um novo EP com duas participações pra lá de especiais. Uma delas é James McWhinney, ex-integrante da banda americana de reggae Big Mountain. Ele veio ao Brasil exclusivamente para gravar duas músicas com os gaúchos – uma delas já foi batizada: “One Big Family”. Outra presença importante no novo trabalho é Duani, um dos guitarristas mais badalados do momento e apontado com referência da “nova MPB”. “Fizemos três músicas com ele e foi fantástica essa mistura. Ele vem com outra pegada. Vai vir muita coisa mais madura desses 15 anos. E que venham mais anos!”, comemorou Tati.

Novos sons

Chimarruts no lançamento do videoclipe com Vibes Up Strong, projeto de James McWhinney

Show em Florianópolis, em 2013

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Com cerca de 1 milhão de cópias vendidas do seu primeiro álbum, padre Alessandro Campos usa a arte para evangelizar

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Michael Paz/Festa da Música

O sucesso do sertanejo cristão


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Ex-Exaltasamba Péricles entregou o troféu ao padre Alessandro Campos

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econhecimento é o motivo de maior alegria para o padre Alessandro Campos, que esteve pela primeira vez na Festa Nacional da Música – evento no qual foi homenageado. “É uma emoção muito grande! Uma coisa é estar no palco com fãs; outra coisa é você estar no palco e ver artistas que conhecem a música, o show business e esse nosso mundo”, comparou. O tributo foi motivo de alegria especialmente porque, presentes na festa, estavam artistas de diferentes gêneros musicais e outros nomes da indústria fonográfica. “Me sinto como da família, bem acolhido, respeitado – me sinto feliz, acima de tudo!”, revelou. A felicidade foi transparente na noite de segunda-feira, quando subiu ao palco para receber o prêmio da Festa Nacional da Música das mãos do exExaltasamba Péricles. O Padre Sertanejo, como é popularmente conhecido, mostrou espírito e presença de palco quando cantou o seu sucesso “O Que é Que Sou Sem Jesus?” e, em seguida, “O Dia em Que Eu Saí de Casa”, de Zezé di Camargo & Luciano. “Uma pergunta que todos nós, alguma vez na vida, respondemos para jornalistas e entrevistadores é ‘como você explica isso? Esse fenômeno, esse sucesso?’. Há uma resposta que, para mim, é a única resposta para o sucesso. É o título do meu segundo CD e DVD, ‘Quando Deus Quer, Ninguém Segura!’. Na nossa vida, é isso que acontece”, falou.

Alessandro Campos se apresenta no Laje de Pedra

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Fotos Arquivo Pessoal

Campeão de vendas

Sua voz tem alcançado milhares de pessoas. Em 2014, foi surpreendido com a venda de 1 milhão de cópias do seu trabalho “O Que é Que Sou Sem Jesus?”. “No momento em que a indústria fonográfica não vende mais o CD físico, e sim a música digital, vender 1 milhão de cópias foi uma surpresa para mim, para a própria gravadora e para o mercado”, analisou. E o seu sucesso não deve estagnar tão cedo: as previsões de venda do seu mais recente lançamento, “Quando Deus Quer, Ninguém Segura”, são maiores que o álbum anterior: a pré-venda do CD e DVD já alcançou cerca de 600 mil cópias e, segundo estimativa da gravadora Som Livre, a venda deve chegar a 2 milhões de cópias. “É um fenômeno e eu fico muito feliz. Agradeço aos fãs, aos meus amigos, à minha família… mas, sobretudo, à Deus”, disse. O padre-cantor também é autor do livro que compartilha um nome semelhante ao do seu primeiro trabalho musical. Fruto de pregações, missas e shows que foram gravados pela produção, “O Que é Que Sou Sem Jesus” sucede “Os Segredos da Felicidade”, lançados respectivamente pelas editoras Loyola e Gente. “Um dia, convidado por uma editora para escrever um livro, eu disse o seguinte: ‘Olha, eu gostaria muito, mas não tenho tempo e não tenho intelecto para escrever um livro’. Então, minha produtora disse ‘Padre, o senhor já tem um livro escrito!’. E me mostrou um CD com 30 pregações minhas gravadas”. O conteúdo do livro, portanto, nada mais é do que as próprias palavras ditas por Campos durante suas bênçãos. Agora, o próximo projeto é lançar, pela Editora Globo, o livro “Quer Ser Feliz? Ame e Perdoe”, também proveniente das gravações de pregações, missas e shows, que falam sobre a felicidade e o amor.

Na primeira Eucarestia, com o padre responsável e a mãe, Maria de Fátima

Na primeira excursão, em Aparecida do Norte

Na orientação diaconal, acompanhado da avó Joana

Celebrando missas

Evento católico na Estação Santa Rita de Cássia Como capelão militar, no Colégio Militar

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“Nunca vou me esquecer – e nem posso me esquecer – que primeiro sou padre, e depois artista”, destacou Campos ao revelar que usa da música para levar a palavra de Deus. “A arte é só uma pedagogia para evangelizar”, completou. Além de suas atividades como músico, o Padre Sertanejo também conduz o programa “Aparecida Sertaneja”, no canal TV Aparecida. O programa vai ao ar toda terça-feira e, às sextas, recebe mais audiência na reprise do que na programação ao vivo. Além dos shows, a agenda de Campos também conta com palestras, pregações, missões e missas.

Caridade

A postura solidária veio antes do sucesso: parte da renda do Padre Sertanejo é destinada para três creches em Mogi das Cruzes (SP), onde reside atualmente. Há cerca de 15 anos, Alessandro Campos fundou a entidade beneficente e, atualmente, as três instituições atendem aproximadamente 385 crianças carentes. “Antes de ser artista, eu já mantinha essas creches. Agora, mais ainda! Hoje, tenho a oportunidade de fazer com que estas instituições tenham uma vida muito mais composta dentro dos seus objetivos”. Ele também investiu cerca de R$ 1 milhão na reforma de uma capela e atende cinco comunidades rurais. Arquivo pessoal

Fotos reprodução

O incentivo para exercer a atividade fora da Igreja vem do próprio Bispo Dom Pedro Luiz Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes – igreja a qual Campos pertence. “Além de ser um grande pai e pastor, também é um grande evangelizador. Ele acompanha e dirige todo o meu trabalho, me liberando para realizar shows e programas de rádio e TV”, explicou.

Com Pe. Antônio Maria

Divulgação

Com a mãe, Maria de Fátima

Com Zezé Di Camargo & Luciano

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Criado por uma família de músicos amadores, Campos sempre teve a música muito presente na sua vida. “Cresci num ambiente de música, onde todo mundo na minha família canta e toca – nada profissionalmente. Parei, pensei e me perguntei: ‘Bom, eu quero ser padre. Por que não usar a música para evangelizar?’ Aconteceu, deu certo, e estou aqui!”, relembra com alegria. Quando perguntado sobre suas maiores influências, Alessandro Campos não hesitou em responder: “Minha família”. Já enquanto músico, o Padre Sertanejo revela que se inspira em nomes como Padre Zezinho, Padre Marcelo Rossi e Padre Fábio de Melo.

Jackson Ciceri/Festa da Música

Entre todas as bênçãos e crenças, entretanto, a compaixão é sua principal ideologia. Enxerga as outras religiões com respeito e afirma que Deus ama a todos. “Quando olho para outra religião, imagino a seguinte frase: aquilo que nos une é muito maior do que aquilo que nos separa. O que nos une é Jesus Cristo, e isto basta”, concluiu.

Vocaçãodesdecedo

O sucesso foi algo que não previa, tampouco desejava. “A única coisa que desejei foi fazer com que milhares de pessoas pudessem conhecer Jesus Cristo”, contou. Aos 7 anos já sabia sua vocação. Brincava de celebrar missa com suco de groselha para representar o sangue de Cristo e bolacha maria para imitar a hóstia – tudo isso caracterizado de padre, usando a camisola da avó. “Vivi toda a minha infância e juventude na igreja. Nos encontros, fazia romaria para a Aparecida com as senhoras do apostolado da oração que me ajudavam muito, inclusive financeiramente. Mais tarde, comecei a cantar nas missas”, contou. Com 13 anos frequentou o seminário e, dez anos mais tarde, tornou-se o padre mais jovem do Brasil.

Reprodução

Alessandro Campos, Fernando Vieira e Jonas Vilar

Com Pe. Fábio de Melo

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União, alegria e reflexão marcam homenagem a Fernando Brant Músicos relembraram a força do compositor na luta pelos direitos autorais

A cantora subiu ao palco junto com Sandra de Sá para iniciar um verdadeiro agradecimento ao trabalho do mineiro falecido em 2015, aos 68 anos, em decorrência de problemas no fígado. Presidente da UBC (União Brasileira de Compositores), Brant assinou, sozinho ou em parceria, a criação de centenas 134|FNM

de canções, entre elas “Travessia”, “Maria, Maria”, “Planeta Blue”, “Promessas do Sol”, obras que são mais do que sucessos, mas referências da riqueza cultural do Brasil.

Defesa do autor “Nós, cantores, músicos, enfim, estamos nos palcos da vida por aí. O autor cria para que a gente possa falar para esse inconsciente coletivo brasileiro e pelo mundo. O compositor brasileiro tem de ser respeitado e remunerado. A defesa do direito autoral, eu entendo, é a obrigação de todo o artista. E essa foi a luta de Fernando Brant, batendo contra modismos criativos”, lembrou Fafá. “Fernando lutou quase como um Dom Quixote junto com um grupo de queridos, coincidentemente mineiros de ordem,

cariocas também, brasileiros, que entendem que o trabalho deve ser remunerado a quem trabalha. Viva o autor brasileiro!”, comemorou a estrela, comovendo a todos e sendo muito aplaudida. Fernando Brant foi homenageado na Festa da Música em 2012

Jackson Ciceri/Festa da Música

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ompositor, jornalista e poeta. Um combatente incansável na luta pela preservação dos direitos autorais dos músicos, um homem além de seu tempo. Assim foi lembrado Fernando Brant na homenagem que a Festa Nacional da Música dedicou ao autor em sua última edição. “Fernando era um cara raro, um cara diferente. Acima do bem e do mal. E que lutava bravamente pela condição do compositor e do autor brasileiro”, lembrou Fafá de Belém.


Mauro Vieira\Festa da Música

estilos, ritmos e gerações da produção musical do País, o grupo de artistas cantou emocionado as músicas “Travessia” e “Nos Bailes da Vida.

Fafá de Belém toma frente da homenagem a Fernando Brant Jackson Ciceri/Festa da Música

Mauro Vieira\Festa da Música

O discurso de Fafá deu vasão a outras manifestações. Sandra de Sá, atual presidente da UBC, provocou: “O autor existe. Apesar de ter muita gente que parece que não sabe, que desconhece ou faz questão de não saber”. “Esse é um discurso que, em 2015, nós nem precisaríamos estar fazendo. Porque deveria ser uma consciência natural a de que todos nós temos de receber pelo nosso trabalho”, reforçou Serginho Moah, do grupo Papas da Língua – ao que Sandra complementou: “Levo fé que essa consciência vai aflorar, que tudo vai melhorar, apesar da gente ‘levar esse papo desde 1981’, aqui, na Festa da Música”. Completando a série de pronunciamentos sobre a importância do direito autoral, Ronaldo Bastos crivou. “Nós não queremos a intervenção direta do Estado no nosso negócio privado.”

Festa no palco Sandra convocou todos os músicos para participar de um congraçamento em memória de Brant, um artista que cumpriu a missão de “espalhar beleza e prazer estético para a humanidade”, como descreve a carta de princípios dos autores brasileiros. Rosemary e Serginho Moah foram os primeiros a chegar, seguidos por Guilherme Arantes, Paula Lima, e, depois dela, o palco foi tomado por todos os cantores e compositores presentes no Salão Implúvio. Representando todos os

Serginho Moah, Dodô, Paula Lima, Bruno Cardoso, Lucas Silveira, Mr. Catra, Rosemary, Ronaldo Bastos, Sandra de Sá e Nando Cordel

Nos bailes da vida

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ompositor e músico, Fernando Brant foi dos mineiros mais importantes para a música nacional. Um dos mais ilustres membros do movimento Clube da Esquina, Brant morreu no dia 12 de junho de 2015, em Belo Horizonte, após complicações por uma cirurgia de transplante de fígado. Natural de Caldas, Fernando Brant nasceu em outubro de 1946. Formou-se em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mais tarde atuou como repórter da sucursal mineira da revista “O Cruzeiro”. Mas foi como músico e compositor que ele fez sucesso. Na década de 1960, conheceu Milton Nascimento, seu principal parceiro em mais de 200 músicas. Em 1967, compôs a primeria delas, “Travessia”, escrita junto com Bituca, como Milton era carinhosamente chamado no Clube da Esquina. A parceria ainda foi eternizada em clássicos como “Canção da América”, “Nos Bailes da Vida”, “Maria, Maria”, “Planeta Blue”, “Promessas do Sol”, “O Vendedor de Sonhos” e “Encontros e Despedidas”.

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Festa Nacional da Música é

PALCO DE DEBATES C om patrocínio do Sebrae, a Festa Nacional da Música 2015 levou ao público estudantil conhecimentos relativos ao mercado de trabalho e comportamento social. Alinhados com o novo cenário profissional enfrentado pelos jovens que buscam suas primeiras oportunidades, o evento apresentou palestras sobre empreendedorismo e mídias sociais. A plateia do auditório do Hotel Laje de Pedra ficou lotada de alunos da rede pública de ensino de Canela – cidade anfitriã do maior encontro da música brasileira.

Empreendedorismo em um novo habitat: a internet A terça-feira da Festa Nacional da Música começou com as palestras “Empreendedorismo Musical”, comandada pelo gestor da Incubadora da Música, Luciano Balen, e “Mídias Sociais e Empreendedorismo”, ministrada pelo relações públicas e diretor da empresa Publibrand, Guilherme Alf. Os debates ainda contaram com a presença do ide136|FNM

alizador do evento, Fernando Vieira, do Guri de Uruguaiana, personagem do humorista Jair Kobe, do violonista Robson Miguel e de Gabriel, O Pensador, que fez uma breve participação.

Por conta dos acelerados adventos digitais, as maneiras de empreender vêm se modificando junto com o mercado de trabalho, que se torna cada vez mais inerente à interação nas redes sociais, à cultura das plataformas móveis e aos conteúdos difundidos por meio de aplicativos de celular. Na música, este “espaço digital” criou mais uma necessidade, mais uma função, além de tantas que já faziam parte do tão corrido backstage. “Na vida de todos os profissionais das artes e da economia criativa existe um trabalho de produção que representa 90% do que eles são e que não é visto pelo público, que enxerga somente a parte artística”, explicou Luciano Balen. “Normalmente os artistas têm alguém que administra tudo isso para eles e a internet é mais um item que precisa ser gerenciado”, completou.

Luciano Balen


Fernando Vieira e Gabriel, o Pensador

Os cuidados com a própria imagem, que hoje é refletida em tempo quase real na internet, tornam o mercado musical ainda mais concorrido. Consequentemente, o músico que zela por aquilo que é visto por seu público sai na frente nessa corrida que não é mais mensurada apenas pela venda de CDs ou bilheteria de shows. “Vocês, jovens de hoje, vivem um excesso de oferta. A minha geração, quando queria ouvir uma música, ou esperava tocar na rádio, ou comprava um disco. Era muito difícil ter acesso. Hoje, para vocês, quando conhecem um artista novo, é fácil ir atrás e encontrar a obra dele”, lembrou Balen.

Rede social como ferramenta de comunicação Para os que trabalham com estraté-

Guilherme Alf

gias digitais, o desafio de criar uma imagem pode ser maior ainda no segmento musical. “Fico me perguntando o que é que vale mais: ser a mais pedida na rádio ou a mais tocada no Spotify? Qual dos dois será que dita quem vai no show?”, questionou Guilherme Alf, que desenvolve este trabalho para artistas como Michel Teló, Gabi Amarantos e Luiza Possi. “Esse é um segmento que tem feito muita diferença na música e acredito que ele seja o habitat natural de vocês [jovens], que já nasceram com esse ‘chip’ e que convivem com a internet muito bem. Mas trabalhar com estratégias digitais é completamente diferente de navegar por diversão”, comparou o especialista.

Guri de Uruguaiana interagiu com estudantes

Nessa era de instantaneidade, a necessidade de atualização frequente das informações também é outro fator determinante para aqueles que usam as redes sociais para se aproximar de um público específico. “Quando um artista aparece num jornal, na TV, é porque ele já está muito estourado, mas ele também precisa estar na internet”, pontuou o RP. O perfil descartável das mídias digitais, no entanto, não permite que um profissional de comunicação para web pare no tempo. “Um especialista em determinada rede social vai se dar mal, porque as redes vão mudar em, no máximo, um ou dois anos, e o cara que era o ‘gênio’ acaba se tornando ultrapassado”, explicou Alf, que deu como exemplo a morte do MSN e do Orkut.

Robson Miguel

Palestra reuniu alunos da rede pública de ensino

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Música como negócio

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a manhã da quarta-feira uma nova mesa se formou para debater o empreendedorismo com foco na música. O encontro foi mediado pelo comunicador Gustavo Victorino e reuniu a gestora do Sebrae, Denise Marques, o administrador Luciano Balen, Fafá de Belém, o músico nativista Délcio Tavares, Guri de Uruguaiana e a cantora mineira Gisa Nunez. O bate-papo, que concentrou atenções nas diferentes funções que podem ser exercidas nos bastidores da música, enfatizou a abrangência dessa cadeia produtiva. “É tanta gente que trabalha por trás do músico, e a gente enxerga quem? O cara que canta, o vocalista. Nem o nome do baterista as pessoas sabem. Mas é preciso muito mais gente, tanto na parte criativa como na operacional, que vai desde o técnico de som até o motorista da van que leva a banda”, afirmou Luciano Balen, que usou o rapper Emicida como exemplo. “Esse cara está reconectando vocês, de 13, 14 anos, com a música brasileira vinculada à crítica social. Mas vocês acham que ele faz tudo na carreira dele? Ele tem um empresário, o Evandro Fiote, que tem 26 anos. São vocês daqui dez anos”, incentivou. Nesta vasta indústria fonográfica, na qual trabalham os mais diferentes profissionais para que o produto final se mantenha nas rotas de consumo,

O comportamento nas redes sociais interfere tanto na vida off-line quanto na on-line. Erros comuns podem custar emprego, oportunidades profissionais e até amizades. Confira as dicas do RP Guilherme Alf para bater um bolão nas redes: • Não fale na rede social o que você não falaria na cara de alguém porque na internet um comentário se espalha muito rápido e toma uma dimensão muito maior • Redes sociais são currículos atualizados em tempo real e tudo o que você posta forma o seu histórico digital • Pelo menos 75% das empresas que recebem currículo checam as redes sociais do candidato a uma vaga. Cuide da sua imagem • Você cresceu. Troque o e-mail do tempo do colégio quando for mandar seus primeiros currículos. Ninguém contrata alguém com um e-mail dudynhavidaloka@ servidor.com • Seja você mesmo. Você é o seu melhor personagem. Tentar parecer alguém que você não é, uma hora ou outra, vai aparecer • Cuidado com posicionamentos polêmicos sobre política e futebol. As duas coisas podem te derrubar muito. Use aquele bom-humor que não agride ninguém para falar desses assuntos • Conte as coisas boas na internet, fale das coisas legais que você faz • Não seja aquele cara que acha que entende de tudo. Se for opinar sobre um tema importante, como tantos que estão circulando pelas redes sociais hoje, fale apenas sobre aquilo em que você tem conhecimento e propriedade • Não compartilhe conteúdos ou opine sobre eles com base apenas no título. Leia o texto, pesquise, investigue antes de comentar

Balen pontuou a importância de pensar a música como negócio – o que nem sempre é prioridade quando um músico decide investir na carreira. “A gente vive um momento em que não existe mais a figura da grande gravadora, aquele contrato que pode mudar uma

vida. Vocês acham que um músico vai estar cantando em um bar e vai passar por lá o produtor do Jô Soares e que no dia seguinte ele vai estar na TV? A chance de isso acontecer hoje é zero. Ninguém vai descobrir um talento assim. É preciso empreender”, reforçou o gestor cultural.

As pessoas por trás do sucesso

Fafá de Belém

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“O sucesso é a arte de fazer amigos”, disse Délcio Tavares sobre as relações que envolvem fazer música. O cantor, que até fazer sucesso teve diversas atividades profissionais paralelamente à carreira musical e chegou a se formar em Administração, lembrou que foi um dos primeiros artistas da música gauchesca a contratar um empresário e a pensar na produção do seu trabalho. “Acredito que fiz escola porque era muito difícil achar um empresário artístico no Rio Grande do Sul e eu tive que ‘fazer’ os meus”, contou. “A pior coisa que tem é o artista querer vender sozi-


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Guri de Uruguaiana

nho o seu próprio show porque a maioria dos caras que querem contratar o músico já chega com um amigo e pede um desconto, e se você fizer de graça, ele vai pedir o troco”, ironizou. O falso glamour em torno da rotina de um músico que já atingiu a fama também foi desmistificado pelo cantor nativista. “Todo o trabalho artístico depende de uma série de itens que se ele [o artista] abrir mão, vai navegar levado pela correnteza. Mas se ele quiser decidir o seu próprio rumo, vai ter que ter bons músicos, técnicos, equipe de produção, ensaios, dedicação e matar um leão por dia”, disse Délcio, que foi complementado por Gisa Nunez. “Não basta só ter vocação. A gente tem que se qualificar porque o mercado está cada vez mais concorrido, saturado, e depende muito de investidores. E o trabalho bem-feito é tão grande que não tem como não ter uma equipe séria por detrás de nós, uma empresa mesmo”, apontou a mineira.

Délcio Tavares

Gustavo Victorino

Com uma trajetória iniciada aos 17 anos, Fafá de Belém optou por trabalhar com um grupo enxuto, porém afinado. “Minha equipe é muito pequena porque é normal irmos encontrando pessoas com quem nos identificamos e acabamos formando uma família. E o que é muito importante é ter grandes músicos ao lado, e o Brasil tem um monte, muitas vezes por trás da cortina

para fazer o ‘balé’ funcionar.” Sobre a linha tênue entre administrar a música como negócio e criar um produto musical sem propósito, apenas para vender, a cantora foi categórica. “Não queiram se caracterizar de uma outra coisa na qual vocês não se sintam confortáveis porque isso vai ter um preço altíssimo. Tem que saber dizer não para isso, por mais tentadora que seja a proposta.”

Guri de Uruguaiana, Délcio Tavares, Gustavo Victorino, Gisa Nunez, Fafá de Belém e Luciano Balen

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Movimento que revolucionou a música, a moda e os hábitos na década de 1960 completou 50 anos em 2015

Graça Paes/Photo Rio News

Festa de arromba

Liebert, dos Fevers, Sergio Reis, Jerry Adriani e Serjão Loroza

Grupo Fevers

A festa de arromba, que nasceu na TV Record em 1965, reviveu na Serra Gaúcha com a banda The Fevers em um medley de “Esqueça”, escrita por Marc Anthony e Roberto Corte Real e lançada por Roberto Carlos, e “Alguém na Multidão”, composta por Rossini Pinto e famosa tanto com Fevers como com Golden Boys. Também entrou no repertório “Menina Linda”, single estrondoso de Renato & Seus Blue Caps, e “Era Um Garoto Que Como Eu”, criada originalmente em italiano nos anos 1960 e estourada no final da década com a regravação em português do grupo Os Incríveis. 140|FNM

Sergio Reis e Serjão Loroza

A trupe dos Fevers logo ganhou reforço no palco com a presença de Serjão Loroza, que assumiu o vocal principal em uma interpretação de “Negro Gato”. A música é uma versão do hit americano “Three Cool Cats”, da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. A versão brasileira, escrita por Getúlio Cortes, foi gravada na época por Renato & Seus Blue Caps e mais tarde por Roberto Carlos e Luis Melodia. Influências de fora não faltavam, e a Jovem Guarda ditava mudanças de comportamento, novas formas de consumo, tendências de moda e de cultura adolescente que, como bem escreveu Marcelo Fróes, era como uma beatlemania no Brasil. Para relembrar esse rock à brasileira, Jerry Adriani se juntou à homenagem no palco da Festa da Música e trouxe à baila canções do seu repertório: “Um Grande Amor”, faixa-título de seu terceiro disco e primeiro LP em português, “Quem Não Quer” e “Doce, Doce Amor”, um clássico criado pelo maluco beleza Raul Seixas em parceria com Mauro Motta.

Com um pé no campo e o outro no rock’n’roll suave, típico da Jovem Guarda, Sergio Reis entrou na comemoração cantando “Coração de Papel” – primeiro sucesso de sua carreira, lançado em 1967. A música, que no estúdio teve a orquestra Peruzzi, Fevers, Golden Boys e Trio Esperança na banda de base, foi a responsável por lhe colocar na turma comandada por Roberto. Da letra inspirada em uma briga com a então namorada, Ruth, nasceu um ídolo da música nacional – e também mais um integrante do programa que arrastava multidões para a frente da TV nas tardes de domingo. Na saideira, o time formado por Luiz Claudio, Liebert, Miguel Ângelo, Otávio Amaral, Sérgio Loroza, Jerry Adriani e Sergio Reis tirou onda com um hino da Jovem Guarda: “Festa de Arromba”, composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

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les foram a versão nacional do “yeah, yeah, yeah”, dos Beatles, e influenciaram gerações com um som que ganhou o nome de Jovem Guarda – programa de TV que ajudou a lançar a cultura da música nas emissoras brasileiras. Completando 50 anos em 2015, o movimento recebeu um tributo na noite de shows da terça-feira na 11º edição da Festa Nacional da Música e fez uma viagem musical à década de 1960.

Jerry Adriani


Fotos Reprodução Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos

Ronnie Von e Vinicius de Moraes

Silvinha e Eduardo Araújo

Programa Jovem Guarda

Você sabia?

Rosemary

O programa Jovem Guarda entrou no ar pela primeira vez às 16h30min do dia 22 de agosto de 1965 pela TV Record

Apresentado pelo trio Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos, a atração foi criada depois que a Federação Paulista de Futebol, ao perceber o vazio dos estádios, proibiu as transmissões esportivas ao vivo pela televisão. A TV Record resolveu, então, investir em algo que arrebatasse a audiência tanto quanto os jogos.

Golden Boys

O nome do programa, e logo do movimento musical, veio de frases de Lênin, como “o socialismo repousa nos ombros da jovem guarda” e “o futuro pertence à jovem guarda”.

Wanderlei Cardoso

Na onda da Jovem Guarda foram criadas mais de 200 versões para músicas dos Beatles. O famoso “iê, iê, iê” era mesmo uma versão abrasileirada do “yeah, yeah, yeah” de “She Loves You”, do quarteto de Liverpool.

Celly Campello

A ternurinha Wanderléa, o tremendão Erasmo e o rei Roberto Carlos lançaram modas que ganharam as ruas, como minissaias, calças boca-de-sino, fivelas, anéis em todos os dedos e medalhão de ouro no peito. Leno e Lilian

O “anel brucutu” foi uma febre criada pela Jovem Guarda. Inspirados por Roberto e Erasmo Carlos, os rapazes achavam o máximo usar um anel enfeitado com o tal brucutu. “Brucutu” era uma pecinha do Fusca responsável por esguichar água no para-brisa do carro, com o autoexplicativo nome técnico de “bico ejetor de água para o para-brisas”.

Paulo Sérgio

As principais gírias jovens da época foram lançadas pela Jovem Guarda: “é uma brasa, mora?”, “bicho”, “papo firme”, “carango”, “broto” e “coroa” são só algumas das expressões surgidas entre eles.

Martinha

Renato & Seus Blue Caps

Antônio Marcos

Trio Esperança

Vanusa

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Mini N Concertos: talento e gestão em um só palco

Palco Mini Concertos Sebrae

Grupo Bob Shut com Milena Dallarosa

Kiko, do KLB, com Claudivan Santiago

Fotos Rosa Marcondes/divulgação

Fotos Mauro Vieira/FNM

a 11ª edição da Festa Nacional da Música, o hall do Hotel Laje de Pedra ganhou um novo atrativo: o palco Mini Concertos do Sebrae, por onde passaram diversos nomes da música nacional. Com participação espontânea, o espaço garantiu o entrosamento entre músicos consagrados e novos talentos e, ao mesmo tempo, prestou consultoria gratuita sobre empreendedorismo musical. “A ideia partiu de estabelecermos uma conexão entre o público da música e o Sebrae, aproximando instrumentos, iluminação e palco – cenário bastante familiar para o meio artístico –, e neste ambiente apresentar conteúdos que possibilitem um ganho para a estruturação da carreira do artista. Essa conexão facilita a linguagem abordada pelo consultor do Sebrae e diminui a distância entre o talento e a gestão”, explicou a gestora da carteira de economia criativa do Sebrae, Denise Marques.

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Fotos Mauro Vieira/Festa da Música

Em um clima descontraído e intimista, passaram pelo palco representantes de diferentes vertentes, como Ivan Lins, Jerry Adriani, Robson Miguel, Oswaldir & Carlos Magrão, João Bosco & Vinícius, Ivo Meirelles, Daniel Torres, Kiko, do KLB, Claudivan Santiago, banda Melody, os novos expoentes Gabriel Fantini, Milena Dallarosa, Jefferson de Sousa, Grupo Bob Shut, Grupo Ária Trio e Grupo Spangled Shore e a emocionante trupe do “Ninho da Criação”, formada neste ano pelos compositores Marco Sabino, Nando Cordel, Paulo Massadas e Sá, da dupla com Guarabyra, junto à cantora e apresentadora da atração, Gisa Nunez.

Marcos Sabino, Nando Cordel, Denise Marques, Paulo Massadas, Sá e Gisa Nunez Graça Paes/Festa da Música

Nando Cordel, Ivan Lins e Sá, da dupla Sá & Guarabyra

Serginho Moah

Ao som de gêneros como MPB, sertanejo, samba, rock, música instrumental e nativista, o papel do Mini Concertos foi além do encontro de músicos no palco. “Percebemos alguns artistas novos no mercado, que ainda não se tornaram empresas, como a Milena Dallarosa, uma cantora jovem, de 17 anos, que estava acompanhada dos pais, com quem conversamos sobre as vantagens de ela se formalizar como MEI (Micro Empreendedor Individual). Esse é o tipo de atuação que o Sebrae busca executar nos eventos: levar informação e conteúdo para os novos empreendedores da economia criativa”, revelou Denise. Com foco no empreendedorismo e na criação de negócios sustentáveis no meio artístico, o Sebrae concentrou os bate-papos na importância de fazer da música um empreendimento pensado estrategicamente como uma empresa. Conforme os consultores, a expansão dos pequenos negócios é capaz de impulsionar resultados crescentes e fomentar o desenvolvimento econômico do País. “O segmento da música é uma das riquezas brasileiras em seus diferentes estilos e aplicações. Este mercado é amplo e, por isso, atuamos com orientação e capacitação dos atores desse ecossistema com o intuito de desenvolvimento e crescimento desses pequenos negócios que fazem parte da economia criativa”, afirmou a gestora.

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Robson Miguel e Jerry Adriani Michael Paz/Festa da Música

Grupo Ária Trio

Oswaldir & Carlos Magrão e Daniel Torres

Rafael Lima e Denise Marques, do Sebrae

Douglas, Juliano e Jeff

Rosa Marcondes/divulgação

Para orientar o ingresso formal do artista na economia criativa – hoje composta por cerca de 92 mil empresas do setor, sendo 75% pequenos negócios –, o Sebrae disponibilizou conteúdos pertinentes à área, como os estudos de “Inteligência de Mercado Música” e “Inteligência do Mercado Audiovisual”, o guia “Empreendedorismo Criativo”, o “Catálogo do Mecenato” e a cartilha “Como Elaborar a Prestação de Contas”, fazendo da atração um misto de diversão e informação. “A Festa da Música é um evento que possibilita abordar estes temas relevantes com foco nos empreendedores e profissionais do setor musical, alinhando e construindo o cenário da música brasileira, que se transforma e se renova a cada edição do evento”, comentou a administradora.

Ivo Meirelles (D) no Palco Mini Concertos

João Bosco & Vinícius com Gisa Nunez

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Ninho da Criação revela a origem das canções e desperta doces memórias

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omo surgiram as músicas que tocam ao nosso coração? Esse é o segredo desvendado pelo Ninho da Criação. O encontro de compositores, promovido há três anos pela Festa Nacional da Música, reuniu em 2015 Marcos Sabino, Nando Cordel, Paulo Massadas e Sá, da dupla Sá & Guarabyra, sob o comando da cantora mineira Gisa Nunez. Os criadores apresentaram suas “criaturas”, despertando doces memórias e embalando o público. O primeiro “mistério revelado” foi a origem da canção “Isso Aqui Tá Bom Demais”, feita por Nando Cordel com Dominguinhos. Foi o sanfoneiro que teve a ideia de chamar outra estrela, Chico Buarque de Hollanda, para gravá-la. “Ela fez um sucesso muito grande no mundo todo”, registrou o autor. Depois de ter criado a música “Diz Pra Mim” para Leandro & Leonardo, ele recebeu deles a encomenda de um xote. Foi necessário buscar inspiração, encontrada na Praia de Boa Viagem, em Recife, sua terra natal. Lá estava um casal se beijando demais. “Era uma ‘beijadeira’ ao meio-dia. O rapaz tinha uns 65 anos e a menina 23”, contou. Assim nasceu “Namoro Novo”. Ele reclamou da falta de 146|FNM

Marcos Sabino, Nando Cordel, Paulo Massadas, Sá e Gisa Nunez

reconhecimento dos compositores. “Muitas vezes o artista tá na TV e o apresentador fala ‘a sua música é muito linda’. E a pessoa responde ‘muito obrigado’”.

Sucesso imortalizado “Quando você tem uma música muito boa e os intérpretes a imortalizam, não há prêmio maior do que esse”, destacou Paulo Massadas. E reverenciou o responsável pelo primeiro sucesso da carreira dele e de Michael Sullivan. “Para mim e para o Sullivan, Tim Maia foi o grande passo. O pontapé inicial da carreira de compositor”, reconheceu. Eles fizeram uma música e enviaram para o ídolo. Alguns amigos instrumentistas que já trabalhavam com Tim Maia resolveram tocá-la antes do cantor chegar ao estúdio para finalizar um disco. Tim ouviu e decidiu dar vida à canção. Assim nasceu o clássico “Me Dê Motivo”. Entretanto, Massadas fez uma crítica. “O compositor é sempre o outro lado do brilho. É o artista que o projeta. E até hoje a maioria das pessoas pensa que essa música é do Tim Maia. Por isso estou esclarecendo aqui. As músicas têm autor. Têm pai e têm mãe”, registrou.

Faz ou morre Paulo Massadas ainda mostrou que nem tudo é inspiração no universo da criação musical. Ele e Sullivan foram desafiados a fazer uma música para Gal Costa, quando ela foi contratada pela gravadora RCA. Mas tinham somente 24 horas para compor. Passou uma noite inteira, e eu via o sol nascendo. E o desespero do sol nascendo e você não tendo feito absolutamente nada, não chegando a lugar nenhum.” Porém, em um lampejo criativo pegou o violão de Sullivan e propôs a primeira melodia da música “Um Dia de Domingo”. “Letra e música ficaram prontos até o meio-dia”, relatou. “Existe a inspiração natural e a transpiração que tem que ser provocada no ‘faz ou morre’”, ensinou.

Discovisão Marcos Sabino categorizou “Reluz” como uma canção simbólica. Ela foi lançada em Canela em 1982, quando a Festa da Música ainda tinha o nome de Festa do Disco. “Ainda tenho o troféu


Fotos Mauro Vieira / Festa da Música

Discovisão daquele ano”, lembrou. “Foi tão bacana quando cheguei aqui em Canela. Eu jovem, em 1982, tocava demais essa música. E falava de Canela, né?”, recordou. Com os temas de novela, ele visitou as paradas de sucesso diversas vezes. “De Qualquer Maneira”, “Dança das Horas” e “Uma História de Amor”, criadas ao lado de grandes parceiros como Dalto e Cacá Moraes, foram alguns deles. E não deixou de lado outro grande hit seu do country rock, “Dia de Rodeio”, gravado por Leonardo, uma referência do estilo sertanejo.

Público confere performance no Ninho da Criação

Marcos Sabino

Nando Cordel

Paulo Massadas

Rock rural Sá revelou o nascimento do rock rural. O estilo surgiu quando Zé Rodrix ainda era seu parceiro. “Eu vivia na casa dele tocando música. Aí o meu primeiro casamento acabou. Saí de casa só com um buggy Gurgel e uma cama. Fiquei na Praça Nossa Senhora da Paz [no Rio] sem saber o que fazer.” A salvação veio. “Passou o Guarabyra por lá e disse ‘cara, vai lá pra casa’”, contou. Desde essa época, não dá para falar de um sem pensar no outro. Ao lado de Zé Rodrix eles formaram um trio. Apaixonados por rock, tiveram uma grande ideia: dar um gás na música regional brasileira eletrificando as violas. Como Zé Rodrix fez muito

sucesso com “Casa no Campo”, que dizia na letra “Eu quero uma casa no campo / Onde eu possa compor muitos rocks rurais”, ficou o rótulo. “Na realidade, era um música interiorana eletrificada”, esclareceu. Sá contou também que Guarabyra fez de uma grande paixão a musa para escrever “Dona”, um dos maiores sucessos da dupla. A moça em questão era veterinária, o que explica a frase “Oh! Dona desses animais”.

Paga ou morre Ele revelou também que, ao lado de Guarabyra, passou pelo “paga ou morre”. Eles resolverem montar um estúdio que custou 1 milhão de dólares. E tiveram de enveredar pela publicidade para pagar o projeto. Foi assim que foram contatados para fazer um jingle para a Caixa Econômica Federal e nasceu: “Vem pra Caixa você também. Vem pra Caixa que tudo bem. Vem”. Resumindo o espírito do encontro, Paulo Massadas observou que “o compositor é um sensitivo, que tem uma captação diferenciada da realidade”. E como! FNM|147


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

O suprassumo de

Fafá

Foi em tom de conversa no sofá de casa que Fafá de Belém conduziu a audição de seu mais recente disco, “Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso”, na Festa Nacional da Música. À vontade, a cantora apresentou o novo álbum – o trigésimo da carreira –, e remexeu nas memórias das suas quatro décadas de estrada, que comemora com o lançamento. “A realidade da música mudou muito, substancialmente. Não gosto de estúdio, não gosto de relho nem de comando. Quando comecei, há 40 anos, a música era feita por pessoas que gostavam de música. Na cabeça das gravadoras, à frente das editoras – quem gostava de música estava ali. Hoje, ela é um grande negócio”, desabafou. 148|FNM

O novo trabalho, que traz a quinta-essência da verve de Fafá dividida em dez faixas, vai ao encontro de toda a bagagem que a cantora traz da construção de sua carreira – os desafios, as alegrias, o aprendizado. Por isso mesmo é que esse encontro, cercado de gigantes da indústria como André Midani, Armando Pittigliani e Ayrton dos Anjos, o “Patineti”, não poderia falar de outra coisa a não ser de como ela se transformou no que é. “Havia um segmento, mesmo dentro das gravadoras, que apostava na música. Mas aí os departamentos de marketing e comercial tomaram a frente dos selos. Imaginem isso para uma pessoa inquieta e irregular como eu, que nunca teve um rumo definido.”

Sua história com a Warner – lembrou a cantora – terminou no ano 2000, quando toda a equipe foi substituída na metade da produção do seu disco, mudando, assim, a filosofia da empresa com quem ela assinou contrato. “Quando me convidaram para gravar com eles, eu disse ‘o que é que eu vou fazer na Warner? Sou uma cantora popular. Estou de saco cheio de algumas coisas, sou improvável, mas acho que o meu perfil não é o da gravadora’”, disse Fafá, que já havia passado pela PolyGram, Som Livre, BMG e Sony. “Eu vinha do popular, do brega, de todos os tipos de classificações que não cabiam dentro de uma gravadora moderna e pop como aquela.”


Fafá de Belém falou sobre o novo disco e os 40 anos de carreira para uma plateia formada por jornalistas, músicos e profissionais ligados ao show business

A independência criativa do novo CD é, portanto, fruto e resgate dessa trajetória livre que Fafá começou a traçar quando percebeu que sempre estaria sujeita a tendências de mercado estando dentro das gravadoras que o ditavam. “Para mim, um trabalho feito com uma gravadora é um trabalho que se fecha no hipotálamo. Não sei trabalhar sozinha. Ouço, discuto, pondero, preciso que me incentivem, que me provem o contrário. Perco o sono, incomodo pessoas. É a minha forma”, explicou a paraense, que queria ir além de recordes de vendas.

Fafá com Armando Pittigliani

Novo CD “Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso

Cantora apresentou algumas músicas do novo disco

Depois de romper barreiras conservadoras e insistir em gêneros mais populares e folclóricos, como sertanejo, lambadas e fados, Fafá partiu para o outro lado da mesa. “Quando vi Madonna lançar Alanis Morissette, pensei ‘cara, quero ter a minha Maverick [gravadora fundada por Madonna, DeMann Frederick, Dashev Ronnie e Time Warner]. Tem tanta gente espalhada pelo Brasil e que não está abraçada pelo mainstream...’ Então comecei esse sonho de montar uma equipe que buscasse outros talentos para que eu pudesse dizer a pessoas que estão chegando o que não me disseram quando eu cheguei”, contou a cantora, que nos anos 2000 passou a produzir seus discos e a licenciar editoras.

Em “Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso”, Fafá de Belém injetou toda a organicidade de sua música. O álbum começou a ser pensado dois anos antes, quando ela escutou, em uma roda de violão, uma composição escrita em sua homenagem: “Meu Coração É Brega”, de Veloso Dias. “Tudo é definido, a cada trabalho que eu faço, por uma canção que dá um rumo ao disco todo”, explicou.

Nessa catarse sonora, passeios por suas mais fortes referências e origens não faltam, como os sons regionais do Pará e sua veia romântica. Condensada em dez canções criteriosamente escolhidas, a história musical da cantora é despida em pitadas características de seu repertório, como o suingue das guitarradas paraenses, as pegadas dramáticas de suas interpretações e os flertes com boleros e clássicos da Jovem Guarda. A viagem é aberta por “Asfalto Amarelo”, traz a arejada “Ao Pôr do Sol” e termina com a colorida e alegre “Gosto da Vida”.

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Jackson Ciceri/Festa da Música Robertinho de Recife

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obertinho de Recife é uma figura que mistura gêneros e estilos. É claro que, enquanto guitarrista, mantém sua predileção pelo heavy metal. Mas o “Robertinho produtor”, como ele próprio se define, é bastante eclético. “Sei dividir bem isso e não tenho preconceito com nada. Todas as pessoas que produzi, se eu produzi, é porque curtia”, contou. Tanto isso é verdade que, durante a Festa Nacional da Música, idealizou um projeto insólito ao lado de Ivo Meirelles e Péricles: o samba-guitarra, que pretende unir o gênero musical ao som do instrumento. “Achei superinusitado! São coisas que esses momentos descontraídos promovem. Acho um barato essa confraternização da música brasileira”, comemorou. Guitarrista, produtor e compositor, Robertinho tem mais de 40 anos de estrada, 300 discos produzidos e um impressionante currículo de interpretações no palco. “Estar ao lado de grandes artistas como Fagner, Zé Ramalho e Gal Costa ajudou muito na minha carreira. Tive um destaque muito grande, porque eles me davam a linha de frente do palco”, relembrou. Quando ingressou no universo da produção fonográfica, Robertinho de Recife passou a trabalhar de forma ainda mais próxima desses artistas que o receberam no palco. “Dentro do estúdio continuamos com essa parceria e troca de ideias”, afirmou. A carreira de Robertinho de Recife reúne uma diversidade de estilos, especialmente depois que passou a trabalhar com produção. Apesar da paixão pelo heavy metal, o músico revela que adoraria trabalhar ao lado de diferentes nomes da música, de diversos gêneros. “Vi uma cantora gospel aqui [na Festa da Música] que me deixou muito impressionado. Pensei: ‘se ela cantasse rock ‘n’ roll… seria uma beleza!’”, brincou. Apesar de carregar brasilidade no próprio nome, o guitarrista esteve ao lado de grandes nomes da música internacional. “Tive o prazer de conhecer e de trabalhar com o George Martin, que é o produtor dos Beatles”, relembrou. Além disso, também tocou ao lado da banda nova-iorquina Manowar – “uma das maiores bandas de heavy metal”, segundo Robertinho. Após anos de carreira, o músico revela que segue atento ao que há de novo no mercado. “Me considero um cientista. Tô ligado em cada mudança, cada descober150|FNM

ta”, disse. Inclusive, revelou que tem interesse em juntar astros do rock e montar uma banda com um repertório que varia entre um trabalho e outro de cada integrante. Mas esse projeto, embora incerto, seria apenas uma “edição limitada”, com algumas apresentações. Afinal, “a música precisa ser diversão, e não um negócio!”, concluiu. Mauro Vieira/Festa da Música

Mais mercado para a música do Brasil


Jackson Ciceri/Festa da Música

Encontro de ritmos

A

finada com a diversidade cultural brasileira, a Festa Nacional da Música promoveu, em mais uma edição, um caldeirão musical no Salão Implúvio do Hotel Laje de Pedra, unindo diferentes ritmos em um só palco. A noite da terça-feira, já consagrada como um show de músico para músico, abriu os microfones com um tributo aos 50 anos da Jovem Guarda. Embalada por The Fevers, Jerry Adriani, Serjão Loroza e Sergio Reis, os eternos ídolos do movimento da década de 1960 fizeram uma viagem no tempo com singles como “Esqueça”, “Doce, Doce Amor”, “Negro Gato” e “Coração de Papel”.

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Festa no palco

Em ritmo de comemoração pelos 20 anos de estrada, o Papas da Língua resgatou hits que marcaram sua trajetória e colocou a plateia inteira para cantar “Vem Pra Cá”, “Eu Sei” e “Lua Cheia” – canções que firmaram os gaúchos entre as bandas de pop rock mais harmoniosas do País. A canja foi uma amostra do que pode ser ouvido no kit com CD e DVD que o grupo lançou para festejar o aniversário da carreira.

Papas da Língua

Lulli Chiaro e Rosemary

Dalto

Dueto ítalo-brasileiro

Dona de uma das mais belas vozes da música popular brasileira, Rosemary deixou no palco todo o lirismo da sua interpretação de “Vitória” – canção composta por Lulli Chiaro, que a acompanhou ao teclado. O músico, que é uma das maiores promessas da música italiana feita no Brasil e um dos artistas mais rentáveis da Sony Music, apresentou “E Tutto Più di Me” em dueto com a cantora. A canção é de autoria sua em parceria com Giggio e a poetisa Valéria Mindel.

Robertinho de Recife

Herói da guitarra

Com o heavy metal na veia, além de uma imensa gama musical na bagagem, Robertinho de Recife descarregou muitos decibéis no palco e fez a guitarra roncar com “Gata” e “Purple Haze”, de Jimi Hendrix. O guitar hero contou com o som dos roqueiros Renato Rocha, Philippe Machado e Fábio Brasil, do Detonautas Roque Clube, que assumiram guitarras, bateria e vocais junto com o ídolo.

Velha guarda

Representando a velha guarda da MPB, Dalto assumiu o palco e fez o público, repleto de músicos, reviver o som da fertilíssima década de 1980, que tinha na trilha sonora muitas de suas canções. Em ritmo de nostalgia, o cantor e compositor interpretou os inesquecíveis sucessos “Muito Estranho” e “Anjo”.

Guri de Uruguaiana

Hino do Guri

Tchê Guri

Tchê music

Do metal ao regionalismo gaúcho, a festa seguiu embalada pelos garotos da Tchê Guri, que romperam as fronteiras dos pampas e levaram uma nova música tradicionalista para vários cantos do País. Eles receberam das mãos de Carlos de Andrade, o Carlão, uma placa distintiva pelos 25 anos de carreira e comemoraram cantando “Não Vá”, “Baita Baile” e “Costela Gaúcha”. 152|FNM

O ritmo campeiro continuou no palco com a chegada do Guri de Uruguaiana, personagem do humorista Jair Kobe. O gaúcho, famoso pelas incontáveis versões de “O Canto Alegretense”, fez uma paródia do Hino Nacional para homenagear um ícone da cultura gauchesca: Nico Fagundes, falecido em 2015.


Leo Gandelman e Paula Lima

O Terço, 14 Bis, Flávio Venturini e Sá

Encontro marcado

Samba de raiz

Afinado com o sax de Leo Gandelman, o timbre aveludado de Paula Lima pediu espaço e aqueceu o show com uma interpretação suingada, e ao mesmo tempo intimista, da canção “Zé do Caroço” – clássico do samba de raiz composto por Leci Brandão e já gravado por Seu Jorge, Ana Carolina e pelos grupos Art Popular e Revelação. Michael Paz/Festa da Música

Graça Paes/Photo Rio News

A banda O Terço se juntou aos parceiros de estrada Flávio Venturini, 14 Bis e Sá, da dupla Sá & Guarabyra, para uma palinha do seu “Encontro Marcado” – projeto musical que une os sete amigos [Cláudio Venturini, Sérgio Magrão, Hely Rodrigues e Vermelho, do 14 Bis, e Flávio Venturini, Sá e Guarabyra] no palco para comemorar quatro décadas de carreira e também a amizade, que vem desde os anos 1970. Os músicos tocaram “Canção da América”, “Noites com Sol”, “Pássaro”, “Planeta Sonho” e “Sobradinho”.

Wilson Paim

Razão e Coração

Som do campo

Tuta Guedes mostrou a força da voz feminina na música sertaneja ao interpretar o clássico caipira “Saudade da Minha Terra”, escrito na década de 1960 por Goiá e gravada por diversos ícones da música, como Chitãozinho & Xororó e Sergio Reis. A cantora paulista convidou Joel Marques, autor de centenas de canções sertanejas, para dividir o microfone em uma de suas composições: “No Dia em que Eu Saí de Casa”, estourada com dupla Zezé Di Camargo & Luciano.

Michael Paz/Festa da Música

Joel Marques e Tuta Guedes

O romantismo chegou ao público pela voz de Wilson Paim, um dos maiores nomes da música nativista gaúcha. O cantor, que está comemorando os 30 anos de carreira com o lançamento do seu 50º disco, batizado “Razão e Coração – Pra Bailar”, embalou a noite com as canções “Reencontro” e “Primeira Vez”, de Elton Saldanha.

Dr. Hank

Oswaldir e Carlos Magrão

De tudo um pouco

Ícones do cancioneiro gaúcho contemporãneo, Oswaldir & Carlos Magrão cantaram “Pilares”, “Herança Nativa” e “Querência Amada”, do saudoso Teixeirinha. A dupla, que completou 30 anos de carreira em 2015, lançou um álbum comemorativo, intitulado “De Tudo Um Pouco”, com 14 faixas inéditas assinadas por eles. O trabalho traz, ainda, uma mistura de ritmos e participações como Grupo Minuano e Serginho Moah.

Independência criativa

Uma das bandas mais ativas do cenário musical independente, Dr. Hank fechou a noite de shows com sua efervescente caldeira de funk, groove e soul. Formado por Renan Queiroz, Ryan Muterle, Lagarto Ortega, Rodrigo Zimmer e Manoel de Andrade, o grupo nascido na Serra Gaúcha tocou a autoral “Fatalidade”. FNM|153


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

O

protagonismo do rock nos shows da Festa Nacional da Música registrou, nesta edição, mais um capítulo de história. Resultado dos encontros musicais pelos corredores do hotel, das jams sessions arrastadas madrugadas adentro e do bate-bola sonoro que eterniza os cinco dias em Canela, a galera do rock’n’roll nacional montou uma big band cheia de gigantes da música brasileira.

O trem do rock juntou o powertrio Rodrigo Santos, Fernando Magalhães e Kadu Menezes, Pepeu Gomes e o filho Filipe Pascual, George Israel e o filho Fred, o saxofonista Leo Gandelman e o sempre multimusical Ivo Meirelles na mesma performance, recheada de riffs eletrizantes e vocais consagrados. O palco foi pouco para esse time, que foi ao chão, subiu na mesa e esquentou a noite com os hits “Fazendo Música, Jogando Bola”, “Pro Dia Nascer Feliz”, “Ska”, “Sonífera Ilha”, “While My Guitar Gently Weeps” e “Olhos Coloridos” com Sandra de Sá ao microfone.

Michael Paz/Festa da Música

Encontro de gigantes do rock Leo Gandelman e George Israel

Rodrigo Santos Pepeu Gomes e Sandra de Sá

Fred e Ivo Meirelles

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Jerry Adriani e George Israel

Filipe Pascual e Fernando Magalhães


Loma Pereira e o Grupo Chão de Areia

Folclore vivo

Banda Melody

Sons do Brasil

Show que fecha a programação musical da Festa Nacional da Música, a noite da quarta-feira é marcada, a cada edição, pela fértil mistura de novos talentos com veteranos da canção. Com os mais diferentes representantes da música brasileira no palco e na plateia, a atração de encerramento foi aberta, em 2015, pelo sexteto da Melody. Formada por três casais de namorados, a banda pop que fisgou o País ao participar o reality global “SuperStar” interpretou singles irresistíveis para os amantes do gênero: “Let’s Go! Dance!” e “Sexy” – músicas do repertório do grupo – e a memorável “Lady Marmalade”, que ganhou novo fôlego como trilha do filme “Moulin Rouge” nos anos 2000.

Daniel Torres

Cultura de raiz

Símbolo musical do “Mercosul”, o nativista gaúcho Daniel Torres combina diversos ritmos latino-americanos em suas canções, que namoram com tangos, toadas, rancheiras, boleros e chamamés. A mescla é quase um retrato de sua própria história: o cantor, filho de pai chileno e mãe argentina, nasceu nos pampas e cresceu no Uruguai. Nessa união dos sons de suas origens, ele apresentou “Simplesmente Latino” e “A Mi Manera”, do Gipsy Kings. No mesmo diálogo com a própria terra, Nando Cordel assumiu o palco representando outro canto do Brasil. O compositor pernambucano, autor de clássicos arraigados na música popular nacional, trouxe os ares do Nordeste com as músicas “Flor de Cheiro”, “Rato” e “Aconchego”.

Tauã e Caiã da Tribo Cordel

Novas vozes

Com a verve musical no DNA, Tauã e Caiã trazem o frescor da nova geração às referências nordestinas herdadas do pai. Como Tribo Cordel, os irmãos revisitam as influências de casa, como o xote, o forró, o pop, o rock, o reggae e o galope, com pitadas de pop. Acompanhados da sanfoneira Thais Andrade e de Reginaldo Pessoa, o trio relembrou o hit “Mariana” – novidade na edição passada da Festa da Música – e apresentou “Doido Pra Te Amar” antes de passar o microfone para Milena Dallarosa, que cantou “Manchete” – faixa do seu primeiro disco. Natural de Gramado, a cantora gaúcha vem trilhando um caminho entre o rock e o pop rock desde 2010 e, além da carreira solo, faz um flerte com a MPB na banda LLaranjeans, da qual é vocalista.

Em um resgate musical dos litorais brasileiros, especialmente do Sul do Brasil, Loma Pereira e o Grupo Chão de Areia são o próprio suingue de seu repertório. Cultuando a riqueza desses sons, como guizos, maçambiques e quicumbis, eles reviveram no palco a musicalidade quilombola e campeira com as canções “Vide Vida Marvada”, de Rolando Boldrin, “Prainha e Morro Alto”, de Ivo Ladislau e Carlos Catuípe, e “Mar de Saudade”, dos Cantores do Litoral. Com um pé nestas melodias folclóricas, o compositor Gelson Oliveira é um dos nomes que escreve a história da música produzida no Rio Grande do Sul, e apresentou sua mistura de frevo com milonga intitulada “Noite Magia” e “Salve-se Quem Souber”.

Gelson Oliveira

Marcos Sabino

Viagem no tempo

Da velha guarda de compositores brasileiros, Marcos Sabino levou a noite de shows a uma viagem aos anos 1970, 1980 e 1990 cantando “You’ve Got a Friend” (1971), de James Taylor, e dois de seus maiores sucessos, “Reluz” (1982) e “Uma História de Amor” (1995). FNM|155


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Cattulo de Campos e Brenda Netto

Maria Cecília & Rodolfo

De volta aos anos 2000, quem estreou no palco foi a dupla Maria Cecília & Rodolfo, que gravou o primeiro CD em 2008. O casal mais querido do universo sertanejo cantou o primeiro hit da carreira, “Você de Volta”, a faixa-título do novo CD, “Espalhe Amor”, e “Pedacinho de Nós Dois”, também do último álbum, que traz uma pegada indie pop e elementos do rock e MPB em canções carregadas de romantismo.

D’Black e Del Sarto

Cordas e Rimas

Vocalista do grupo Cordas & Rimas, que mescla no repertório a sonoridade litorânea gaúcha com MPB e pop rock, a cantora Brenda Netto se apresentou junto ao diretor musical da banda, o violonista, contrabaixista e guitarrista Cattulo de Campos. A dupla cantou a autoral “O Que É Música?”, assinada por Cattulo, Cristian Sperandir e Rodrigo Prates, e “Terra de Gigantes”, da Engenheiros do Hawaii. Entre os nomes interpretados pelo grupo estão diversos compositores do litoral do Rio Grande do Sul, como Mário Tressoldi, de Tramandaí, e Chico Saga e Nilton Júnior, de Santo Antônio da Patrulha.

Juninho Araújo

Grunge, pop e romantismo

Acompanhado pelo percussionista Berbel, o músico e ator Del Sarto trouxe a balada indie da neozelandesa Lorde com a música “Royals”, e emendou o pop rock de “Tenho Sim” e “Beijo” – duas faixas de seu novo CD, “Mãos e Palavras”. O pop continuou no palco com a levada romântica de D’Black, que tocou os hits “Sem Ar” e “1 Minuto” e a suingada “Soul Brasileiro”. Para fechar a rodada pop, o cantor e compositor Juninho Araújo, que tem o amor como fonte de inspiração de suas canções, interpretou “Coração e Alma” e “Contando As Horas”. Grupo Atitude Nobre

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Kauan Rodrigues

Lançamentos

Com o primeiro CD em mãos, que conta com quatro faixas autorais, o sertanejo Kauan Rodrigues esquentou a noite com o hit “Implorando Pra Trair”, escrito por Flavinho Tinto, Nando Marx e Douglas Mello e gravado por Michel Teló com participação de Gusttavo Lima. Já o grupo de pagode Atitude Nobre, formado em março de 2015, apostou no single espanhol “Corazón Partío”, de Alejandro Sanz, e “Acaba Com Essa Solidão”, de Douglas Lacerda e Edgar do Cavaco e estourada com Xanndy.


Instrumental Best Dream

Marlon Dreher

Blues autoral

Formada por Luciano Nazar, Alvaro Borba e Rodrigo Zimmer, a Instrumental Best Dream revisita clássicos do blues, mescla jazz, funk music e jump blues em suas composições e busca inspiração nas obras de nomes como Ronnie Earl, Bill Perry, Tab Benoit, Walter Trout, Arthur Neilson, Nuno Mindelis e Solon Fishbone. A banda, que se prepara para lançar um EP, tocou uma música própria, intitulada “Five Stop”. Mauro Vieira/Festa da Música

Mauro Vieira/Festa da Música

Mica

Le Ticia

Vozes do Brasil

Diretamente do Piauí, o cantor Marlon Dreher apresentou a canção “Do Meu Jeito”, assinada por ele, e “Yesterday”, dos Beatles, e passou o microfone para os irmãos cariocas Gabriela, Rodrigo e Diego Melim, que formam a banda Humawê. Acompanhados de Berbel, o trio cantou a música de trabalho “Meu Abrigo” e “Lucky” – single de Jason Mraz e Colbie Caillat. O surf music do grupo deu espaço para o sertanejo de Miguel Lucatto, que interpretou os sucessos “Logo Eu”, de Jorge & Mateus, e “Cê Que Sabe”, de Cristiano Araújo. A saideira ficou por conta do gaúcho Serginho Moah, que encerrou a noite com “Eu Sei” e “Blusinha Branca” e convidou todos os músicos presentes para fazer a festa no palco, como Ivo Meirelles, Sandra de Sá e Del Sarto.

Nova geração

Já conhecida no cenário rock como vocalista da banda “Divisa”, Mica lançou em 2015 sua carreira solo. Mais madura, a cantora apresentou seu primeiro single, o pop-reggae “Deixa Molhar”, que integra seu álbum de estreia – um trabalho pop com 11 faixas; sendo cinco composições próprias. Outra revelação feminina da composição, a cantora Le Tícia tocou duas de suas canções, acompanhada pelos músicos Elias Frenzel e André Simões. Com passagem de som pouco antes do show, eles deram o toque romântico da noite com “Quero” e “Quem Sabe”, que embalou a temporada 2014 de “Malhação” na voz de Anitta. Seu primeiro EP, produzido por Juliano Cortuah, terá cinco músicas e participação especial de Lua Blanco.

Miguel Lucatto

Gabriela, Rodrigo e Diego Melim

Serginho Moah

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Conselheiro de Cultura do RS, Rafael Passos; secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, Vinicius Wu; secretário adjunto de Estado da Cultura e vice-presidente do Consec – MG, Bernardo Novais da Mata Machado; secretária de Cultura de Chapecó e presidente do Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, Roselaine Vinhas; presidente do Conselho Estadual de Cultura de Roraima, Silmara Costa; coordenador da Região Nordeste/ConECta, Emanuel de Jesus; coordenadora Região Sul/ConECta, Loma Pereira; presidente do Conselho Estadual da Cultura do Maranhão, Wybson Carvalho; presidente do ConECta, Neidmar Alves; secretária Executiva do ConECta, Susana Fröhlich; presidente do Conselho Estadual da Cultura da Bahia, Márcio Ângelo Ribeiro

R

Fórum debate a posição da

eunidos pela segunda vez este ano, o ConECta (Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Cultura) esteve presente durante a Festa Nacional da Música para tratar da mediação das pautas que acontecem nos Conselhos Estaduais de Cultura de diferentes regiões do País. O Fórum trouxe para o debate Wilson Carvalho, representando o estado do Maranhão; Márcio Ângelo, de Minas Gerais; Roselaine Barboza, de Santa Catarina; Silmara Costa, de Roraima; e Rafael Passos, do Rio Grande do Sul. O ConECta também contou com a presença do presidente do Fórum, Neidmar Alves, a secretária executiva Susana Fröhlich e os coordenadores regionais Emanuel de Jesus, representando o Nordeste, e Loma

Pereira, representando o Sul. Esteve presente também, pela primeira vez, o secretário de Articulação Institucional do MinC (Ministério da Cultura), Vinicius Wu, para tratar do reconhecimento institucional do ConECta junto ao MinC. Na ocasião, Wu afirmou sua pretensão de aproximar ambas organizações de forma regimental e garantir o acesso, por mecanismo formal de comunicação, aos Conselhos Estaduais e Municipais de Cultura, incluindo encontros anuais. A presença de Wu no ConECta levou o importante tema do fortalecimento do Fórum Nacional enquanto representação dos Conselhos Estaduais junto ao Ministério, a regulamentação e a busca do

Secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, Vinicius Wu, fala com os representantes do ConECta

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acesso necessário a recursos para implementação de ações. Durante o fórum, debateu-se um tema que já não é mais tão latente no cenário brasileiro: a crise. “A cultura não possui o reconhecimento social de algo que seja fundamental à vida dos coletivos sociais. A questão da saúde, do trabalho e da educação estão em um plano acima. Normalmente, a cultura, num processo de crise, é o setor que mais sofre com a diminuição de recursos. Este é um debate que estamos promovendo”, explicou Alves. Desde que foi anunciado, em março de 2015, a redução do orçamento repassado ao MinC – verba que seria destinada para novos programas ou editais –, tem-se questionado o papel da cultura não apenas a nível nacional, como também sua presença no cotidiano individual. Segundo o Sistema Nacional de Cultura, o conceito das manifestações artísticas são organizadas a partir de um tripé, definido por três princípios básicos: o primeiro, de que a cultura é um direito constitucional, a qual todo cidadão tem o direito de acesso; o segundo, de que atividades do campo simbólico


Fotos divulgação

cultura nacional frente à crise também devem ser consideradas dentro de um processo de reconhecimento – como, por exemplo, a gastronomia e estilos de vida; e o terceiro é o conceito de economia criativa: alguns órgãos, como a Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), sugerem que o Brasil seja o país mais apto à possibilidade de produzir trabalho e renda com a cultura. Segundo Alves, para que isso seja possível é preciso encontrar meios que passem à comunidade o espaço – e importância – das manifestações artísticas na vida. “Nós estamos convencidos que a cultura no Brasil, por essa organização envolvida no Sistema, passará por um processo de reconhecimento e estará dentro desse conjunto das coisas que são absolutamente necessárias para a vida”, disse. Em relação aos cortes de verba destinados a programas culturais, Alves acredita que alternativas imediatas não virão do governo. “A sociedade cultural será a única capaz de reverter esse processo de encolhimento de recursos”, apontou. O assunto foi abertamente discutido durante o Fórum e, de acordo com o presidente, existe o projeto de

criar uma rede nacional que levará os interesses do setor de cultura aos órgãos federais. “Vamos criar uma manifestação que seja capaz de convencer o Congresso Nacional, o Senado e o Supremo Tribunal Federal de que o orçamento justo para a cultura nacional fará com que o Brasil se movimente dentro da escala de progresso, inclusive do ponto de vista econômico. Vamos nos manifestar muito fortemente, respeitando o pacto federativo e o pacto republicano, e trabalhar para que esse reconhecimento chegue nesses órgãos institucionais, que também movimentam decisões”, explicou. Durante a Festa Nacional da Música, o ConECta também trabalhou em

outras pautas substanciais – entre elas a eleição e participação social do novo CNPC (Conselho Nacional de Política Cultural) e a identidade do Fórum – já que, ao mesmo tempo em que o ConECta representa conselhos nacionais de Cultura, estes são formados por duas partes: uma de representação do Governo e outra de representação de entidades culturais. “O Sistema Nacional de Cultura sugere que sejam partitários, ou seja, o mesmo número de conselheiros nomeados pelo Governo e, da outra parte, a sociedade civil, através de eleição, também tem o direito de eleger o mesmo número de representantes. Esse paradigma é um processo de debate e, aqui, nós aprofundamos isso”, detalhou Alves.

Conselheiros de Cultura reunidos em Canela para apresentação do relatório do ConECta

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Na luta pelos direitos autorais

“V

amos parar de correr atrás e vamos chegar junto.” Com essa frase, Sandra de Sá descreveu a real necessidade dos compositores brasileiros se unirem para avaliar como o Governo Federal está tratando a produção artística hoje. Empossada em julho de 2015 como presidente da UBC (União Brasileira de Compositores) depois da morte de Fernando Brant, que comandou a entidade por mais de 20 anos, a cantora assumiu o papel de defender o autor nacional. Essa luta prevê ações contra o desrespeito à obrigação de remunerar a execução de músicas em qualquer meio e uma batalha dura contra a ação invasiva do poder estatal na produção artística. Brigas que ela enfrenta com coragem. “Foi um susto assumir o posto de Fernando Brant. Mas depois de ‘assentar a cabeça’ tudo ficou tranquilo. Temos uma gestão coletiva na UBC. Não é a Sandra quem determina todas as soluções. Tudo é discutido e decidido em assembleias”, descreveu. Ela relatou que, quando o assunto é a inadimplência das empresas que veiculam músicas, a entidade já avançou muito. “Conseguimos acordos com grandes emissoras para regularizar os pagamentos da veiculação de músicas. Mas nosso maior problema, mesmo, é com os órgãos do Estado, que usam as obras sem pagar direito autoral”, revelou a dirigente.

Com o governo, o embate nesse campo continua. E mais uma batalha está sendo travada. A UBC e demais associações que representam a classe artística questionam a constitucionalidade da lei que regulamenta os direitos autorais, a 12.853/13. E questionam por meio de uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade), a legalidade da lei, que indica que a nova norma usurpa e viola direitos de autores, artistas e associações integrantes do sistema de gestão coletiva de direitos autorais, além de interferir na organização de associações privadas como a UBC e o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). 160|FNM


Michael Paz/Festa da Música

Mauro Vieira/Festa da Música

“A aprovação da nova lei foi muito rápida. Não houve debate. A maioria dos artistas não está nem sabendo sobre o que ela se refere. O sistema está fazendo o jogo de nos separar”, denunciou Sandra. Ela também defende que os cantores e compositores devem ter mais consciência e envolvimento com as discussões sobre o que ocorre com a classe, buscando informações sobre o que acontece na sua associação. “As gestões são coletivas”, reiterou a cantora. Reafirmando que a UBC está à disposição de seus associados e possui ferramentas de pesquisa transparentes e modernas em seu site, Sandra traz novamente à tona a figura de Fernando Brant, “o homem do livrinho” como era conhecido, reforçando que todo o artista deve

conhecer seus direitos, buscar apoio nas entidades que o representam e promover discussões permanentes nesse espaço, que atua em seu favor – não para prejudicá-lo. Ela lembrou a Carta de Princípios do autor brasileiro, que obteve mais de mil assinaturas de artistas, para ilustrar bem essa discussão. O texto do documento inicia assim: “O direito autoral é uma conquista da civilização, o contrário é a barbárie. O direito autoral é um dos Direitos Humanos. Ao autor pertence o direito exclusivo de utilizar a sua obra. O direito autoral é um direito privado. Somos capazes de criar e administrar o que nos pertence. Para isso, não precisamos da mão do Estado”. “O direito autoral é uma conquista. O autor existe”, defendeu Sandra de Sá. FNM|161


Clube da Esquina se encontra em Canela

V

ários foram os músicos influenciados pelas inovações estéticas do chamado Clube da Esquina, que não chegou a ser um clube nem um movimento, mas sem dúvida uma forma muito peculiar de tocar, nascida de encontros entre amigos na década de 1960, em Belo Horizonte. “Era uma esquina da rua Divinópolis com a rua Paraisópolis, onde o seu Lô Borges e os seus amigos ficavam tocando violão. A mãe do Lô, a dona Maricota, foi quem deu o nome porque perguntavam “cadê o Lô?, cadê o Telo?’, e ela dizia ‘ah, eles estão lá com aquele clube deles, lá na esquina”, lembra Cláudio Venturini, um dos muitos amigos que, em diferentes fases, fizeram parte das tão férteis reuniões musicais encabeçadas por Milton Nascimento e pelos irmãos Lô, Márcio e Marilton Borges.

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Integrantes e amigos relembram o movimento que ditou novos rumos à MPB


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Flávio Venturini

Artistas homenagearam Fernando Brant na Festa da Música 2015

Sérgio Magrão, Cláudio Venturini e Vermelho na Festa da Música 2015

Clube da Esquina com Juscelino Kubitschek

Tal qual coração de mãe, o clube tinha sempre espaço para novas vozes e mentes criadoras, como Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes e o letrista Fernando Brant, parceiro de Milton em mais de 200 composições e falecido poucos meses antes da Festa Nacional da Música 2015. Desses tantos malucos que renovaram a MPB, Ronaldo Bastos, os irmãos Flávio e Cláudio Venturini, Sérgio Magrão e Vermelho se encontraram em Canela, na 11ª edição do evento. “Isso é muito interessante porque a festa é na segunda, terça e quartafeira, quando ninguém está fazendo show e aí vem para cá, onde a gente pode reencontrar esses amigos”, comenta Cláudio, que vivenciou vários momentos dessa irmandade musical. “Eu era mais novo dessa galera toda, mas estava sempre por ali... E tinham vários lugares onde eles se reuniam. Um deles era a garagem da casa da minha mãe, a dona Dalila, que na verdade era o meu quarto, que eu transformei num estudiozinho, forrei todo... E o pessoal ia para lá e ensaiava”, conta o integrante da banda 14 Bis. FNM|163


Flávio Venturini

Cláudio Venturini

Ronaldo Bastos

Deixando de lado as dores de amor que marcavam muitas canções da época e abordando o cenário político de forma subjetiva, eles experimentavam novas linguagens em qualquer lugar onde pudessem se reunir. “Na época a gente podia tocar na rua, então nós íamos, por exemplo, numa esquina qualquer, e nos encontrávamos, ficávamos ali tocando. Às vezes, o Milton, que estava começando a carreira, aparecia com uma música nova e a gente ia ouvir lá na casa dele, que morava com a família do Lô”, recorda Vermelho. “O Milton trouxe um estilo próprio de música. Como ele era de Três Pontas, lá não pegava rádio direito, pegava um pouco de rádio do Rio, um tanto de São Paulo e de não sei mais onde, então ele tinha referências um pouco diferentes e inventou uma maneira de tocar aquelas canções. Não tinha ninguém para ensiná-lo como tocar aquilo. E essa turma toda aprendeu esse tipo de harmonia diferente que o Clube da Esquina tem. Muito vem do jazz americano, misturado com a bossa nova e com influências do interior de Minas”, analisa Cláudio.

Com uma força poética diferente de tudo o que tocava naqueles anos, eles conseguiram revisitar estrondos como a Bossa Nova e a Tropicália, mesclar tendências do rock britânico como Beatles, elementos progressivos, jazz, psicodelia e ainda abraçar características da música folclórica dos negros mineiros, como tambores de congada – tudo isso de uma maneira muito original, inédita e, acima de tudo, sofisticada. “Acabamos criando uma estética sem se pensar nisso. Éramos jovens e o que realmente queríamos era mudar o mundo”, garante Ronaldo Bastos. O compositor carioca, que chegou no grupo num segundo momento, contribuiu intensamente como letrista, capista, produtor e organizador das composições do disco “Clube da Esquina”. “Acho que a gente era alma gêmea em torno de interesses em comuns pelo Cinema Novo, pela Bossa Nova, pela música, pela poesia... E fomos nos encontrando, nos misturando, de forma que, sem programa, sem teoria, sem nada, a gente foi virando uma coisa só”, diz Ronaldo.

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Odisseia à mineira

Figura catalisadora de todos aqueles talentos ascendentes, Milton, ou Bituca, como era conhecido, foi quem popularizou o título do grupo ao batizar seu primeiro disco com Lô de “Clube da Esquina”, lançado em 1972. Mas a febre por aquela alquimia sonora já vinha se espalhando um pouco antes do álbum, com o Festival Internacional da Canção de 1967. “Foi quando apareceu ‘Travessia’ no festival que o pessoal pensou ‘opa, tem um negócio novo aí’. E aí veio o disco, que fez surgir o nome do movimento nacionalmente. Mas acho que o sucesso veio mesmo com o ‘Clube da Esquina 2’, que é o segundo LP, no qual participa essa galera que todo mundo conhece como o ‘Clube da Esquina’. E esse pessoal está todo reunido nesse trabalho, que é um clássico”, reflete Cláudio. Amigos íntimos da Festa Nacional da Música, Ronaldo, Sérgio, Vermelho, Cláudio e Flávio, entre outros nomes, se reencontram ano a ano, a cada edição do maior encontro da música brasileira, revivendo no palco muitas das tendências criadas na inventiva Minas Gerais de 1960. “O que ficou do Clube da Esquina é esse acervo riquíssimo de composições, que enriqueceu a música brasileira. Vira e mexe, a gente se encontra, participa um do show do outro”, comenta Flávio, que se formou musicalmente com os “amigos do clube”. “Embora eu tenha tido outras influências, uma das mais fortes foi o Clube da Esquina. Posso dizer que toquei com todos os principais membros e isso é uma aula de música porque você aprende a harmonia do outro, entra no universo da pessoa, do compositor e, para mim, foi uma excelente influência.”


Fotos: reprodução Toninho Horta, Nelson Angelo, Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes e Beto Guedes

Hinos do Clube Muitas músicas eternizadas na memória popular dos amantes da MPB existiram graças ao engenhoso Clube da Esquina. Confira algumas:

Kimura, Flávio Venturini e Vermelho

Milton Nascimento, Beto Guedes e Wagner Tiso Fernando Brandt e Milton Nascimento

“Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant “O Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos “Feira Moderna”, de Beto Guedes e Fernando Brant “Nascente”, de Flávio Venturini e Murilo Antunes “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant “Nada Será como Antes”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos “Caçador de Mim”, de Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, de Lô e Márcio Borges “Nuvem Cigana”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos “Cravo e Canela”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos

Milton Nascimento e Fernando Brant Milton Nascimento e Lô Borges

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C

om uma trajetória que caminha junto com a história do rock nacional, Rodrigo Santos acaba de lançar sua autobiografia, intitulada “Cara a Cara”. O livro é um projeto ousado, que reúne quase 500 fotografias e recortes de revistas e jornais sobre sua carreira – sua e, de quebra, de todos os amigos do bom e velho rock’n’roll que marcaram época junto com ele. “Já toquei com muita gente. Léo Jayme, Lobão, Kid Abelha, Pepeu Gomes, Leoni. Essas pessoas todas falam sobre mim e eu falo sobre elas no final do livro. São mais de 40 depoimentos”, conta o músico. Na obra, o eterno baixista do Barão Vermelho, agora em trabalho solo, acompanhado dos “lenhadores” Fernando Magalhães e Kadu Menezes, relembra detalhes de sua vida musical e de seu envolvimento com drogas. “Tem uma parte inteira que fala de quando eu parei com drogas e álcool, que completou dez anos em 2015. É um trabalho cele166|FNM

Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

A história do rock em festa e livro Rodrigo Santos

brativo e começa com uma reunião do Barão, com eles dizendo ‘ou você para de beber ou está fora da banda’”, revela. A biografia, que relata a vida de Rodrigo desde antes da fama, acaba resgatando momentos épicos dos bastidores do rock e, em paralelo, contextualiza a fase histórica em que se passa, como o golpe de 1964, que aconteceu na semana do seu aniversário de 4 anos. “O livro volta lá na minha infância, então eu pedi

depoimentos de todos os baixistas que eu admirava quando tinha 11, 12 anos. Comecei a tocar por causa deles, então tem trechos do Liminha, do Dadi [Carvalho], do Didi Gomes, que é irmão do Pepeu, do Sérgio Magrão, do 14 Bis, e do Arnaldo Brandão”, explica. Rodrigo, que com 15 anos de idade já tocava com nomes que escreveriam inesquecíveis capítulos do rock brasileiro, construiu “Cara a Cara” em parceria com o escritor


Kadu Menezes

Ricardo Pugialli – autor, ao lado de Marcelo Fróes, do primeiro livro original no Brasil sobre a carreira dos Beatles, “Os Anos da Beatlemania”, de 1992, além de outros títulos sobre o quarteto de Liverpool e sobre a Jovem Guarda. “Fiz 400 perguntas a mim mesmo para lembrar de cada época. Então havia a minha visão, mas não era o suficiente. Precisava da visão do outro para a história se interligar. Foi quando entraram os depoimentos dos amigos”, lembra.

Produzido por um ícone da Bossa Nova, Roberto Menescal, o álbum traz oito medleys com singles de nomes como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana, Jorge Ben Jor, Skank e Raimundos. “A ideia do Menescal é fazer uns dez volumes

Fernando Magalhães

[do Festa Rock]. Esse é o volume 1 e já vamos preparar o segundo. A cada álbum do Festa Rock eu devo lançar um disco autoral também”, garante Rodrigo, que possui cinco álbuns autorais na carreira solo, sendo “Motel Maravilha”, de 2013, o mais recente.

A Festa

Nessa onda de contar histórias, o baixista ainda vai lançar um livro de diários de bordo da estrada – projeto que deve chegar às lojas daqui alguns meses. Enquanto isso, Rodrigo ainda tem muito trabalho pela frente com o CD e DVD “Festa Rock”, lançado em paralelo à autobiografia. “Esse é um projeto diferente. Não é autoral, mas tem uma música minha, a “Trem Bala”, no meio de 24 sucessos da história do rock nacional. E o DVD foi gravado com o público dentro do estúdio, como se fosse uma festa na casa de alguém”, comenta.

Animação total: Fernando Magalhães, Kadu Menezes, Rodrigo Santos e George Israel

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Jackson Ciceri/Festa da Música Divulgação

Compositor por vocação, cantor por acidente

Ivan Lins, Cláudio e Flávio Venturini e Dalto Dalto apresentou seus sucessos na Festa da Música 2015

“A

culpa é sempre das canções”, acusou Dalto, compositor em tempo integral e, segundo ele, cantor por acidente. “Quando as canções são legais, as coisas funcionam. E não tem fórmula”, garantiu o criador dos sucessos “Anjo”, “Pessoa”, “Espelhos d’Água” e “Muito Estranho” – obras distintas de um artista que prima pela originalidade. “Como tenho muitas músicas, não precisei copiar nenhuma. Cada uma é uma música”, afirma com orgulho. Dalto avaliou que viver de música pode se tornar algo inviável atualmente. Essa conquista ele alcançou a partir dos anos 1980, com o sucesso estrondoso de “Bem-

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Te- Vi”, o que motivou o abandono da Medicina – sim, ele também é médico. Aproveitando que o papel dos autores foi debatido na Festa Nacional da Música, especialmente com a homenagem ao compositor Fernando Brant, Dalto foi categórico: “ser compositor atualmente não é um bom negócio”. O motivo? A falta de controle na difusão de músicas na internet e o valor reduzido destinado aos autores. “Quem faz música vai ter que trabalhar só por prazer, terá que ter outra profissão. A não ser que você vire cantor, o que ainda é uma coisa que dá pra trabalhar”, avalia, alertando também para a dificuldade de se formar novas gerações

de autores. Segundo Dalto, essa situação acaba fazendo com que os mesmos compositores sejam requisitados. “Sempre quis ser compositor. Virei cantor sei lá o porquê. Foi muito estranho”, brincou. Dalto integrou a banda Os Lobos nos anos 1970 – mas não era “o cara que cantava lá na frente as próprias músicas”. “Acontece que me puseram nessa. Aí deu certo. A culpa não é minha”, justificou mais uma vez. Mas alegou que o sucesso da carreira se deve, em grande parte, ao espírito rebelde. “Isso, às vezes, é ruim para o artista, mas como eu não me considero um artista, só fez bem pra mim”, provocou.


O símbolo do

funk pesadão

Conhecido pelas suas músicas sexualmente apelativas, Mr. Catra falou sobre o erotismo na música brasileira e deu detalhes sobre a nova banda

O gênero “pesadão” é a maior característica de suas músicas autorais. Apesar do forte apelo sexual, o artista acredita que não há divergências no discurso de cada segmento musical. “A maioria das culturas musicais brasileiras têm um apelo sexual, como o arrocha, o axé e o próprio rock ‘n’ roll”, refletiu. Assim como o funk possui suas vertentes – como o gênero “ostentação”, que enaltece o consumo e a vaidade –, todo estilo musical pode ou não sugerir a sexualidade. “São ramificações, mas o pessoal bate muito em cima do funk”, explicou. Apesar disso, Catra já foi chamado de machista por causa de suas canções. Entretanto, ele esclarece. “Sou o cara mais feminista do mundo, porque ninguém gosta mais de mulher do que eu”, brincou.

O projeto da banda Mr. Catra e os Templários já começa a tomar uma forma mais concreta: em abril o grupo lançou a música “O Retorno é de Jedi”. O gênero Super Power Funk ‘n’ Roll, criado pela própria banda, promete misturar as características predominantes de cada estilo musical. “Pegamos a atitude do funk, que é muito trash, o peso do rock ‘n’ roll e o swing”, explicou Catra. O grupo tem como influência nomes dos mais variados estilos musicais. Vai desde os ídolos do rock internacional, Deep Purple, Ozzy Osbourne e Black Sabbath até Chico Salles. Àqueles que se perguntam se este seria o fim da jornada de Catra no funk, o artista responde que não irá abandonar o gênero. “É um projeto paralelo. O funk é uma coisa e o Super Power é outra”, explicou.

Jackson Ciceri/Festa da Música

U

ma das figuras mais irreverentes no cenário cultural brasileiro, Mr. Catra trouxe à Festa Nacional da Música uma pitada a mais de ousadia. Não bastasse a própria personalidade excêntrica, o músico ainda se apropriou, na segunda noite do evento, do espaço de pagode nas Jams Sessions – e levou ao palco o estilo musical com o qual tem mais familiaridade: o funk.

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Plataformas virtuais Painel na Festa Nacional da Música debateu novas tecnolo

Gian Uccello

Thiago Monteiro

Público assiste atento à palestra sobre Mídias Digitais e Plataformas Virtuais

A

transformação acelerada do mercado de música teve espaço garantido na 11ª edição da Festa Nacional da Música. O tema permeou os debates com uma questão recorrente: como proteger os direitos autorais e aumentar a remuneração dos artistas na internet? Uma das “luzes” sobre essas questões foi o painel “Mídias Digitais e Plataformas Virtuais”, que abordou o crescimento dos serviços de streaming e como cobrar pela execução das obras, além de debater a preservação dos bancos de dados de músicas. Executivo do MixRadio, conhecido aplicativo de celulares que se tornou uma plataforma, Gian Uccello 170|FNM

esclareceu que as dificuldades dos artistas em obter o pagamento pela execução de músicas em um montante considerável ocorre em todo o mundo. Segundo ele, houve uma profunda mudança no consumo de música depois do Napster, criado há mais de 20 anos. “O desafio hoje é como remunerar. Já está consagrada a fórmula de ter retorno para curtidas.” Ele ainda lembrou que nada é de graça na internet e que cada vez mais as grandes plataformas estão ampliando a remuneração dos artistas. Thiago Monteiro, diretor da gravadora Deckdisc, prestigiada por ter reativado a Polysom – única fábrica de vinis em atividade da

América Latina – afirmou que a mudança de hábitos transformou o consumo de música. “Na Deck, a venda digital superou a física em pelo menos 50%”, informou. Ele defendeu também que a modalidade de compra da música foi substituída pela música na nuvem”, avaliou. No entanto, ele expôs que, no Brasil, essa mudança vai acontecer mais lentamente devido ao acesso à tecnologia. “O futuro do meio digital, do streaming, é crescer, mas em escala mais demorada. O mundo todo tem conta premium, smartphone. Mas os brasileiros ainda não têm acesso a isso. O modelo que remunera em massa precisa da massa.”


X direitos autorais

gias, proteção do autor e o banco de dados de músicas Ivan Lins e Gustavo Vianna

Carlos de Andrade

Gloria Braga

A situação foi levantada por Carlos de Andrade, sócio-diretor da produtora Visom Digital. Ele relatou que já há no mercado uma tecnologia de marca d’água, que permite a geração de uma pontuação toda vez que a música for executada na rede. Isso pode ampliar a arrecadação se o músico for o dono de sua marca d’água, ou ele perde seus direitos autorais. “O artista tem de conhecer a tecnologia”, assinalou.

É um momento de muita conversa porque todos precisam entender mais sobre o assunto e a Abramus está acompanhando tudo de perto”, afirmou.

Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Gustavo Gonzalez

Bancos de dados musicais Gloria Braga, superintendente do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), destacou que serviços on-line geram remuneração tendo ou não assinantes, através dos usuários “freemium”. Por essa razão, a arrecadação tende a aumentar, porque todos os bancos de dados de músicas têm alto valor para as plataformas. “No mundo todo, as informações nos bancos de dados de músicas são um trabalho das associações. As entidades são assediadas para cedê-los. Mas ter acesso a essas informações não pode ser de graça.”

Gerente de Novos Negócios da Abramus (Associação Brasileira de Música e Artes), Gustavo Gonzalez afirmou que a falta de informação entre os artistas é grande. “Eles querem saber o que acontece quando suas músicas são tocadas no Spotify, no iTunes e nas outras plataformas.

Ele lembrou ainda que são propagadas soluções para aumentar a arrecadação de direitos autorais, mas as empresas querem é ter a base de dados das músicas. “Esse é o ‘x’ da questão. O banco de dados é o bem mais precioso”, ressaltou. Por essa razão, Andrade defendeu: “Deve-se estabelecer no País, como patrimônio da nação, o nosso banco de dados de músicas”, disse, deixando claro que todas as informações musicais deverão migrar rápido para a rede, mas não sem o olhar atento de todos os integrantes do setor. FNM|171


Foto: Mauro Vieira/Festa da Música

O novo sertanejo

Maria Cecília & Rodolfo apresentaram na Festa da Música canções do novo disco, “Espalhe Amor”

E

les se conheceram na faculdade de Zootecnia e acabaram unidos por uma paixão em comum: a música. Depois de ter tentado carreira com uma banda de MPB e pop rock, Maria Cecília reparou no som que o colega, Rodolfo, fazia pelos corredores da Universidade Dom Bosco, tocando canções de nomes como Matogrosso & Mathias e Chitãozinho & Xororó. “Como o nosso curso era da área rural, nós dois ouvíamos muito sertanejo e, vez ou outra, eu parava para dar uma palinha com ele”, lembra a cantora. Dois anos depois, em 2007, começaram a se apresentar como dupla, e logo ganharam o incentivo dos amigos para romperem os portões do campus e se apresentarem em barzinhos do Mato Grosso do Sul. Com poucos meses de trabalho juntos, Maria Cecília & Rodolfo já 172|FNM

estavam na cabeça do público com o hit “Você de Volta”, um presente dos compositores Marco Aurélio e Paulo Sérgio. “Acabaram nos conhecendo por conta do YouTube. Nossos amigos gravavam as nossas apresentações e, com uns três meses de carreira, essa música já tocava”, conta Maria Cecília. Com um ano de trabalho, a dupla já viajava pelo Brasil e, em maio de 2008, gravaram o primeiro CD, em Campo Grande. De lá para cá, vieram mais dois álbuns ao vivo e o último, “Espalhe Amor” – o primeiro de estúdio, que vem cheio de romantismo e flerta com o indie pop e até com características de Bon Jovi e Bryan Adams. “Esse nosso 4º disco traz 15 músicas inéditas e algumas influências de outros sons, mas nunca fugindo da temática sertaneja”, revela Rodolfo. “É o CD mais pop da nossa trajetória. Estamos

mais maduros e resolvemos colocar as referências que temos de MPB, pop rock, fazendo um trabalho muito mais ousado, com muita guitarra. Tem faixas que parece rock’n’roll mesmo. E é a nossa cara”, completa a cantora, empolgada. O novo álbum, que chegou às lojas em junho de 2015, logo deve ser acompanhado nas prateleiras pelo DVD do casal, que pretende gravar ainda neste verão em uma produção com cara de luau – tudo decidido com muito critério. “A gente não pode cantar qualquer coisa. Temos um público infantil muito grande e tomamos cuidado para a música não ser descartável. O sertanejo ainda está vivendo uma época em que as pessoas lançam música para ficar três meses numa rádio e isso não entra na nossa cabeça. Queremos que fique gravado na vida das pessoas”, explica a vocalista.


Divulgação

Bidê ou Balde entre alienígenas

Banda gaúcha é formada por Leandro Sá, Vivi Peçaibes, Carlinhos Carneiro e Rodrigo Pilla

O

s gaúchos da Bidê ou Balde marcaram presença na Festa Nacional da Música 2015 com o oitavo álbum da carreira em mãos, o CD “Gilgongo! – ou, A Última Transmissão da Rádio Ducher”. Quinto disco de estúdio, o trabalho foi lançado poucos dias depois no pomposo Theatro São Pedro, em Porto Alegre. “O ‘Gilgongo’ fecha uma trilogia com os nossos últimos dois lançamentos [o EP “Adeus, Segunda-feira Triste” e o CD “Eles São Assim. E Assim Por Diante”], que são ligados conceitualmente pela influência de um escritor do qual sou muito fã, o Kurt Vonnegut”, explica Carlinhos Carneiro, líder da banda. O disco, que começou a ser moldado um ano antes, foi planejado para

ser um EP, com cerca de cinco canções, e acabou se tornando um megadisco de 26 faixas inéditas. “O repertório, que é um conteúdo que a gente vem trabalhando desde 2008, é a junção de um material que já tínhamos, releituras de músicas e muitas coisas que tinham ‘sobrado’ de outros álbuns. Juntamos tudo isso e transformamos num programa de rádio”, conta o vocalista. O álbum reproduz, entre uma faixa e outra, a última hora de transmissão da imaginária Rádio Ducher, antes que seja invadida e extinta por alienígenas. “A apresentação é da Kátia Suman, com participação do Plato Divorak, que é um amigo e ídolo nosso da psicodelia gaúcha”, revela Carlinhos. O

CD, que conta com vinhetas, comerciais e curiosidades malucas sobre a Bidê, reúne mais convidados, como Franny Glass, Renato Borghetti, Rafuagi, Edu K, Pedro Dom e Luciano Albo, que criou uma versão em inglês para a música “Mais que Um Amigo”. A trilogia encerrada por “Gilgongo” foi batizada de “Kilgore Trio” em homenagem a Kilgore Trout, personagem que é uma espécie de alter ego do norte-americano Vonnegut, inserido em vários de seus livros. “Esse disco ficou tão divertido e a gente gostou tanto, porque ele nos surpreende! E a ideia depois é fazer uma caixinha lançando os três álbuns e também um vinil com a coletânea dos três”, adianta o músico. FNM|173


C

omo uma diva da black music e colhendo os louros do prestígio internacional conquistado com o CD “O Samba é do Bem”, indicado ao Grammy Latino 2014 na categoria de melhor samba, Paula Lima passeia por diferentes estilos, imprimindo a mesma marca: o balanço. Essa característica está presente em seu mais novo single, “Fiu-Fiu”, que aterrissou nas plataformas virtuais. Cenas da cantora embalando o público com o hit invadiram a rede. Esse foi só primeiro passo de um novo caminho traçado no universo digital, que foi iniciado com a gravação do EP “Samba Soul”. O trabalho foi lançado diretamente na internet já como um prenúncio da parceria de Paula com o gigante dos clipes Vevo. “Plataformas virtual, meio digital, redes. Isso é algo muito forte. E a gente realmente vai se dedicar a trabalhar nisso”, revelou Paula, deixando evidente a empolgação. Somando seis CDs na carreira solo e atuações como apresentadora de programas de rádio e TV, a cantora paulista avalia que seu público não mudou. “Percebo que se transforma e aumenta, mas não muda. E eu gosto muito de gente, de compartilhar, estar no palco, estar cantando, ter contato direto”, explicou.

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Michael Paz/Festa da Música

Com “Fiu-Fiu”, Paula Lima invade a rede


Não sou festeiro. Acho que é uma data significativa, claro. Principalmente porque junto com isso tem os 40 anos de minha parceria com Vítor Martins, o autor de praticamente todos os meus maiores sucessos”, avaliou Ivan. O reconhecimento, aliás, veio de repente. “Eu era só um compositor que tenta-

va procurar outra profissão. De repente, eu tinha duas músicas nas paradas de sucesso. Todas elas em primeiro lugar. Foi da noite para o dia. E eu não estava preparado. Sofri muito, porque a máquina engole você. E eu era uma pessoa muito ingênua”, lembrou. Passadas mais de quatro décadas, Ivan Lins é hoje um dos artistas Reprodução

D

iscreto, mas entusiasmado com os novos projetos e a agenda cheia, Ivan Lins comemorou seus 45 anos de carreira em 2015. O químico que chegou ao estrelato logo com uma de suas primeiras composições, “Madalena”, de 1970, se dedicou a uma série de concertos pelo Brasil e lançou um novo CD, “América, Brasil”, já no primeiro semestre. Além disso, investiu na preparação de um DVD, de um documentário somente sobre suas canções acerca do universo feminino e na finalização de uma biografia – feita sem “machucar um monte de gente”, segundo ele, para marcar a nova etapa da carreira.

Vitor Martins e Ivan Lins

Divulgação

Ivan Lins comemora 45 anos de carreira

mais atuantes na luta pelos direitos autorais. “Não fiquei rico com ‘Madalena’. E ela é uma música minha que, sozinha, faria de mim um milionário na época. E eu ‘dancei’ por não entender de nada disso”, contou. “Sou privilegiado porque vivi uma época em que ainda se tocava muita música boa na rádio e na televisão. Hoje não existe mais isso. Tudo foi pro digital. Nesse novo meio, a legislação é perversa com o autor, com todos os artistas. Não pagam nada. As gravadoras dizem que não existe execução pública. E eles pegam 60% a 70% do dinheiro, e pra gente sobram 3%. É cruel e perverso isso”, criticou o músico. A Festa da Música é uma oportunidade para debater essa pauta. “Muitos debates importantes são trazidos para essa festa, que é o encontro mais importante de música que tem no Brasil. Mas eu percebo que ainda há uma alienação muito forte no nosso meio. Isso deve mudar”, defendeu Ivan Lins. FNM|175


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Ecad debate mudanças trazidas pela nova lei 12.853/13 Instituição alerta para o acesso do governo às informações dos artistas que constam em seu sistema O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) colocou em pauta na Festa Nacional da Música de 2015 as mudanças trazidas pela nova Lei 12.853/13. Durante três dias, a equipe do Ecad, formada pela superintendente da instituição, Gloria Braga, e os gerentes executivos Márcio Fernandes (Arrecadação), Mario Sergio Campos (Distribuição), José Pires (TI e Planejamento Estratégico) e Bia Amaral (Marketing) esclareceu dúvidas em seu estande sobre o trabalho da instituição, além dos impactos resultantes da nova regulamentação. A questão do acesso do MinC (Ministério da Cultura) ao banco de dados da instituição foi um dos destaques das apresentações feitas pelo Ecad. Por exigência da instrução normativa da nova lei de direitos autorais, estarão na internet informações sobre quase 6 milhões de obras, mais de 500 mil titulares e 3 milhões de fonogramas que constam no sistema do Escritório Central. Esses dados envolvem toda a cadeia produtiva que gera os rendimentos de direitos autorais – letristas, compositores, versionistas, intérpretes, músicos, editores musicais, gravadoras, entre outros – os quais o governo terá livre acesso.

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Márcio Fernandes, gerente executivo de Arrecadação do Ecad


Para tanto, o Ecad desenvolveu um programa para permitir consultas para o público em geral e para o MinC. “Através da primeira, qualquer pessoa poderá acessar o banco de dados usando o próprio e-mail”, explicou José Pires, gerente executivo de Tecnologia e Planejamento Estratégico do Ecad. Esse perfil dará acesso à base de músicas e a de titulares cadastrados. Já o perfil do MinC, que será usado pelos funcionários da área de fiscalização do Ministério, é diferente. “Vão aparecer para o Ministério os percentuais de cada autor sobre a obra. E na consulta do titular será mostrado, inclusive, o CPF dos artistas”, alerta Pires.

Chico Ribeiro, da Associação UBC, D’Black, Ivan Lins e Nando Cordel

Essa discussão divide a classe. “Alguns autores apoiam essa medida do Ministério da Cultura e outros não. Defendemos é que deve existir um esclarecimento maior sobre a questão”, expôs Pires. “Quem pensa que essa exigência é uma ação de transparência pode não perceber que a medida pode ser, na verdade, uma violação. Os autores devem prestar atenção nisso, pois a música é uma propriedade privada”, destacou ele.

Joel Marques, compositor

A revelação do CPF dos músicos é o que causa maior incômodo entre os artistas. Segundo a superintendente do Ecad, Gloria Braga, dados como nomes civis e pseudônimos estão atrelados ao CPF. “Na época da ditadura militar, os artistas usavam pseudônimos para assinar canções e não se expor, pois não havia a possibilidade de um órgão público acessar e descobrir seu nome, enfim, essas informações todas. Isso mudou, declarou a superintendente.

Produtor musical Armando Pittigliani e cantora Marina Lima

Paulo Massadas e Mario Sergio Campos, gerente de Distribuição do Ecad

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Artistas, produtores e compositores lotaram o espaço Ecad na Festa Nacional da Música para ouvir sobre a nova Lei de Direitos Autorais, a 12.853/13

Arrecadação e Distribuição mais eficientes O Ecad também debateu na Festa da Música a arrecadação pela internet. Conforme Márcio Fernandes, gerente executivo de Arrecadação do escritório, o processo está mais eficiente. “Temos uma tabela de preços já atua-

Sandra e Paulo Massadas, George Israel e Gloria Braga

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lizada para a cobrança nos serviços digitais. É uma arrecadação que começa tímida, porque ainda não conseguimos executar todas as cobranças. Mas há avanços’, frisou. “Esse processo é o mesmo que ocorreu há duas décadas, quando começamos a engatinhar na cobrança da TV por assinatura, que hoje é uma realidade e representa uma parcela muito grande de repasse aos artistas”, esclareceu. O Ecad tam-

bém estabeleceu acordos com as associações dos artistas para distribuir os valores das mídias digitais. “Sabemos que hoje existem milhões de acessos às músicas e a monetização disso ainda é baixa. Mas haverá uma mudança. Os artistas vão ter mais resultados nesse segmento”, previu. Márcio Fernandes explicou também que todo local que hoje executa publicamente uma música tem de pagar direito autoral. “Um supermercado, um corredor de shopping, um lugar que tenha música ao vivo, um lugar que tenho sonorização ambiental, um aposento de hotel, enfim, todo lugar que utiliza música, que não seja a casa da gente e que não seja com finalidade didática, tem de fazer o pagamento de direito autoral”, descreveu.


Produtor musical José Milton

Produtor musical Patineti, representante da Abramus no RS, conversa com o público

“Essa cobrança avançou porque o Ecad investiu muito em capilaridade”, disse. A entidade tem hoje 39 unidades espalhadas pelo País. “Procuramos estar desde o Amazonas até aqui, no Rio Grande do Sul, observando onde está tocando música.” Quando os direitos dos artistas são desrespeitados, o caminho é o Poder Judiciário. “Mas, antes, sempre tentamos negociar com

o usuário de música para fechar acordos”, avaliou Fernandes.

Ivan Lins

Vinícius D’Black

Marina Lima e Fafá de Belém

Bia Amaral e Ivan Lins

Mario Sergio Campos, gerente executivo de Distribuição, além de esclarecer inúmeras dúvidas dos artistas presentes, apresentou a evolução dos valores distribuídos, que alcançou, somente nos últimos cinco anos, um crescimento de 161%.

Em 2014, o Ecad distribuiu mais de R$ 902 milhões a 140 mil titulares de música. Desse resultado, 67,67% contemplou o repertório nacional e 32,33% o repertório estrangeiro. Mario também alertou para o fato de que algumas mudanças trazidas pela nova Lei 12.853/13 podem afetar negativamente os resultados de distribuição do Ecad.

José Pires, André Midani e Armando Pittigliani

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Fotos divulgação

Preservar as raízes da cultura gaúcha M

esmo sem tocar nenhum instrumento, Luiz Marenco decidiu, lá nos anos 1980, que iria dedicar sua vida à música. E foi trabalhando como garçom, em um restaurante na praia do Cassino, Litoral Sul gaúcho, que o primeiro passo foi dado. Ciente de seu talento, o dono do estabelecimento o presenteou com um violão. “Fui aprendendo a tocar sozinho”, contou o artista, que está às voltas com as comemorações de seus quase 30 anos de caminhada na estrada da música nativista. Seu amor pelo estilo começou na década de 1970. “Foi quando eu ouvi no rádio Noel Guarany. Minha inspiração”, recordou. “Existia a música do Teixeirinha, mais urbana, mas não tinha o contexto do folclore”, comparou, reforçando que a busca das raízes culturais do RS foi sempre o que mais o interessou. Esse sentimento aproximou Marenco do poeta Sérgio Carvalho Pereira e, mais tarde, de Jaime Caetano Braun. “Ele [Braun] era o compositor de Noel Guarany”, explicou.

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Assim começou uma carreira que já soma 22 CDs, dois DVDs, grandes sucessos como “Meu Consumo”, “Destinos” e “Batendo Água”, e a apresentação de uma série de shows no Brasil e na América Latina. Marenco também deu um “pulo” na Ásia, levando seu canto à China, onde foi recebido no Piquete de Tradições Gaúchas China Veia, em Dongguan. Espalhada pelo mundo, sua música atingiu muitos segmentos da sociedade. E emociona pela atemporalidade, uma faceta exposta em todas as edições do show “A Cidade Encontra o Campo”, realizado ao lado de Thedy Corrêa, vocalista da banda gaúcha Nenhum de Nós. “Tenho um compromisso com a nossa identidade. Estamos acompanhando o tempo, mas nunca esquecendo o passado, as raízes”, garantiu Marenco, revelando a fórmula do seu sucesso. Elton Saldanha, Luiz Marenco e Patineti


Fotos Jackson Ciceri/divulgação

Tchê Guri comemora 25 anos de banda

Grupo recebeu placa comemorativa na Festa Nacional da Música

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m dos maiores sucessos da música tradicionalista, o grupo Tchê Guri – formado por Lê Vargas na voz e baixo, Alex Vargas e Léo Lemos Pereira no acordeon, Marcelinho na guitarra, Cris Teixeira na bateria e Zé Leandro na voz – comemorou 25 anos de estrada em 2015. A trajetória foi celebrada na Festa Nacional da Música, quando o grupo recebeu uma placa comemorativa das mãos do produtor musical Carlos de Andrade. “Estamos muito honrados com a homenagem. Temos um carinho muito especial pela Festa Nacional da Música”, agradeceu o vocalista e produtor musical Lê Vargas.

Mas o ano foi muito produtivo com o mais recente CD ‘Baile Pronto’, e preferimos deixar para o próximo ano”, confessou Lê Vargas. Atualmente, a banda também trabalha na fase final do CD “Baile Pronto – Volume 2” e prepara a coletânea dos 25 anos

Para as comemorações destas duas décadas e meia, a banda contou, em 2015, com shows especiais que relembraram sua trajetória musical. Em 2016, o grupo pretende lançar o material do aniversário do Tchê Guri. “Na verdade, já era pra ter sido lançado [risos].

Com início na década de 1990, a banda foi o primeiro grupo de música gaúcha a alcançar reconhecimento em âmbito nacional. Neste período, o sexteto já realizou mais de quatro mil apresentações, lançou 17 CDs, três DVDs e ganhou diversos prêmios. Com dois Discos de Ouro no currículo, o grupo destacou o álbum “Festa” entre os seus sucessos mais importantes. “Todos são filhos e não tem como escolher somente um, mas destacaria o álbum ‘Festa’, pois esse trouxe a indicação ao Grammy Latino”, explicou o vocalista. O disco recebeu a indicação de Melhor Música Regional ou de Raízes Brasileiras em 2009.

Com Fernando Vieira

Lê Vargas recebe placa comemorativa das mãos de Carlos de Andrade

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Michael Paz/Festa da Música

Gelson Oliveira faz o que sempre sonhou: música

“C

ada um tem a sua história. Mas se alguém tem predileção pela música, ninguém vai segurar. É como um vírus”, vaticina Gelson Oliveira. O compositor gaúcho, que assina sucessos que vão desde o hino infantil “Papagaio Pandorga” à intimista e cinematográfica “Salve-se Quem Souber”, mantém a alma do jovem artesão que fez Kikitos e começou a tocar em um grupo folclórico de Gramado, “Os Homens-Morcego”. Depois, aprendeu a compor fazendo releituras de hits nacionais em outro conjunto da Serra Gaúcha, o grupo de bailes “Banda Batuka”.

Gelson Oliveira descobriu que fazer música seria o trabalho de sua vida ainda nos anos 1970, ouvindo rádio. “Na rádio Continental tocavam as músicas dos compositores locais, sob o comando de Júlio Fürst. Isso me incentivou. Era o que eu queria”, relembrou. Há 35 anos, o músico se 182|FNM

dedica à primeira das artes, e foi premiado com uma estreia triunfal: dividiu o palco com outro talento com a “cara do sul”, Nei Lisboa, em 1979, no show intitulado “Lado a Lado”. Foi a primeira de tantas parcerias que iriam marcar sua carreira. Nelson Coelho de Castro, Totonho Villeroy, Bebeto Alves e Sérgio Rezende tornaram-se os principais parceiros ao longo da vida. O contato direto com esses amigos deu origem a CDs e ao show “Juntos”, que perpassa o tempo. “Tudo começou com uma entrega do Prêmio Açorianos, no final dos anos 1990. Investimos em músicas nossas e em homenagens a outros compositores”, revelou Gelson Oliveira. Esse trabalho também deu origem a turnês internacionais, que percorreram Argentina, França, Alemanha e Áustria. “Lembro que depois da viagem desembarcamos em Porto Alegre

e fizemos o show de encerramento do 1º Fórum Social Mundial”, recordou o artista, com carinho. Atualmente, Gelson Oliveira encontra com os amigos nos show “Borogodó dos Cafundós”, que vai ser transformado em um novo DVD em 2016. “Com esse trabalho voltaremos ao Uruguai, que já recebeu o show ‘Juntos’”, projetou. Ele ainda festeja o CD e o show infantil “Ônibus do Sobe e Desce”, que vai rodar o RS, e os 25 anos que a canção “Papagaio Pandorga” está no ar no programa “Pandorga”, da TVE. “É a música mais marcante de minha carreira. Grandes maestros a admiram por ser simples na sua complexidade. Mas as crianças a cantam e, ao longo dos anos de apresentação do programa, pediram mais. E eu fiz”, explicou o artista, com a clareza de um dos gênios da música que vivem de seu ofício na cidade em que está a sua história – Porto Alegre.


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Rosa Marcondes/divulgação

Com Fafá de Belém e e Gisa Nunez

O Guri das mídias

Com mais de 2,5 milhões de seguidores no Facebook, Jair Kobe vai lançar um CD infantil e promete se tornar “a Galinha Pintadinha do RS”

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ucesso dentro e fora do Rio Grande do Sul, o Guri de Uruguaiana – interpretado pelo músico e humorista Jair Kobe – atinge milhões de pessoas de todas as faixas etárias. O êxito, entretanto, é um resultado que vai muito além da qualidade de suas interpretações: há sete anos, o personagem alcança ostensivamente um público cada vez maior através do trabalho realizado na internet.

A página do Guri de Uruguaiana no Facebook conta com o maior número de seguidores do que qualquer outra do Estado – ultrapassando, inclusive, a do clube Grêmio FBPA. “É um trabalho muito difícil. Tem que ter uma equipe muito preparada para atuar diariamente e conseguir manter esse título”, explicou Kobe, que mantem desde 2008 um grupo de trabalho focado nesta área. Desde o tempo em que estreou o personagem, o artista lançou um site que foi, segundo o próprio, o “mais bem bolado” da época – muito superior ao que já existia no mercado. Em 2009, desenvolveu um HotSite interativo que até hoje se mantém atual. Hoje, o humorista lança o aplicativo “Guri APP”, disponível para Apple e Android. Para Kobe, visão estratégica é um componente imprescindível para o seu sucesso. “O artista tem que entender que o negócio dele é uma empresa. Precisa ter um setor de mídia, de investimento e saber onde ele precisa ir. O planejamento é infinito”, disse.

Com Robson Miguel

Conteúdo instantâneo é uma forma que o Guri de Uruguaiana e sua equipe encontraram para engajar o público de forma inteligente e bem-humorada. Na final dos jogos da Copa do Mundo, por exemplo, o personagem lançava no seu canal do YouTube um material comentando a partida. Atualmente, o humorista possui um vlog na rede social, atualizado todas as terças e quintas-feiras. O grande projeto para 2016 será o lançamento do “Guri Infantil”, um trabalho em desenho animado que conta com 12 canções inéditas. “O Guri vai se tornar a Galinha Pintadinha do Rio Grande”, brincou Jair Kobe. FNM|183


Jackson Ciceri/Festa da Música

Alf

O cara por trás da

Publibrand

Mauro Vieira/Festa da Música

Entrevista com

Guilherme

Redes sociais foram atualizadas em tempo real

bem. Eles estão usando linguagem de internet nos programas de TV, puxando o jornalismo para o site e depois o conteúdo do site para a TV. Esse é o grande desafio. É conseguir integrar todas as coisas.

Guilherme Alf

A

PubliBrand, agência de comunicação que administra as redes sociais da Festa Nacional da Música desde 2014, tem a sua frente o relações públicas Guilherme Alf – também criador do coletivo Todo Mundo Precisa de um RP e autor do livro “Adeus, Golfinfo Feio (O Manual do Novo RP)”. Sempre em sintonia com o mercado online e off-line, a empresa está lançando a RP School, voltada para todos os curiosos e interessados em se comunicar melhor com esses dois mundos. Para ir aquecendo, confira entrevista com Alf sobre o mercado do social media e as tendências que estão dominando a internet.

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Hoje em dia, tudo o que é feito no âmbito profissional passa pela internet, que tem sido um dos focos da comunicação estratégica. Mas essa é uma área que muda muito rápido. Qual é o maior desafio do momento e o que precisa ser melhorado? Guilherme Alf – Acredito que o maior desafio é a integração. Se a gente pegar os veículos tradicionais e a internet, temos dois mundos bem distintos. A internet tem muitas aberturas, então o mais difícil é integrar, dentro da internet, a mídia tradicional. E isso é o que pouca gente está conseguindo fazer. Vemos veículos muito grandes como a Globo, por exemplo, fazendo isso muito

E o que falta para essa integração acontecer? Gente para fazer isso, equipes maiores ou aquele perfil multimídia que se pregava antigamente como o profissional do futuro? Guilherme Alf – Estamos passando por um momento de transformação, de mudança, então falta um pouco de tudo. Falta gente mais multidisciplinar, que entenda de mais coisas. Por exemplo, a galera de internet saca muito de internet e não faz ideia de como funciona um veículo tradicional. O perfil multitarefa é o profissional do momento. Se ele vai ser o do futuro, não sei, mas ele é o do presente. De que forma essa demanda se reflete no mercado da comunicação hoje?


Divulgação Equipe Publibrand na Festa da Música: Mariah Schmidt, Bruno Centeno, Guilherme Alf, Fernanda Ortiz, Paula Pinto e Bruna Bottin

Guilherme Alf – Hoje, ainda mais nessa crise em que estamos, as empresas não têm dinheiro para contratar uma pessoa que sabe fazer uma coisa só, e internet nunca é uma coisa só: tem que ter bom texto, bom gosto visual, tem que entender de estratégia, tem que entender de números para analisar se uma publicação deu resultado ou não, tem que ter feeling... É uma série de coisas e, ao mesmo tempo, é tudo muito novo, muito perecível, então o profissional tem que estar sempre se atualizando, entendendo o que está acontecendo. Só que eu acredito que isso não vai mudar mais, vai ser para sempre assim. Só vão mudar as ferramentas, então é preciso acompanhar essa nova batida. Não dá para ser especialista em uma rede social só... Guilherme Alf – Não, nunca. Tem é que assimilar essa nova forma de trabalhar, uma forma multidisciplinar de pensar. E, no mercado musical, de que forma as mídias digitais aproximam

o músico do seu público? Porque geralmente tem uma equipe cuidando disso para ele. De que maneira a rede pode ficar menos informal para que o fã, por exemplo, se sinta próximo do artista? Guilherme Alf – A gente tem várias redes. E tem duas ferramentas que eu considero mais pessoais para os artistas usarem. Uma delas é o Instagram, que já é uma plataforma mais consagrada e que dificilmente alguém não conhece. Então esse perfil [no Instagram] normalmente é do artista, é ele quem posta, publica fotos da intimidade... Sempre brinco que me sinto amigo de um monte de gente que nunca vi pessoalmente por causa do Instagram, porque ali a pessoa mostra a sua vida... E a outra rede que eu indico é o Snapchat, que é a grande ferramenta de 2015. Ela tem quatro ou cinco anos, mas em 2015 se consolidou, e é um aplicativo de vídeos de 10 segundos que se apagam em 24 horas. Então é mais uma prova de como as coisas estão perecíveis e o quanto a gente está gostando de coisas assim porque a rede social que mais está se mostrando é essa.

Com tantas redes surgindo, se convergindo e até morrendo, que leitura você consegue fazer da internet como um ambiente estratégico de comunicação? Guilherme Alf – Para mim, o Facebook é a plataforma mais tradicional dos ‘novos veículos’ porque ele integra tudo. E tudo o que surge tem sido barrado pelo Facebook, ele não deixa crescer. No Snapchat você pode desenhar com a mão na tela e agora o Facebook tem isso também. Antigamente tinha o MSN e o Facebook foi lá, criou o Messenger e tomou conta. Com o negócio de fotos ele não conseguiu competir, aí comprou o Instagram. Então ele é um pouco de tudo e acho que a grande sacada do Facebook é que ele une muitas funcionalidades numa rede só e sempre se atualiza – diferente das redes mais periféricas como o Instagram, o Snapchat, o Twitter... Eles não substituíram nada. Para o Facebook desaparecer precisa vir outra coisa no lugar, mas eles têm uma política muito agressiva de dominação. Tanto que a maioria dos sites em que se faz cadastro hoje, não é preciso mais preencher nada; você faz login pelo Facebook. FNM|185


Michael Paz/Festa da Música

Dr. Hank voa alto

A banda acaba de lançar um EP e assinar parceria com a Vevo, maior plataforma de vídeos online do mundo Banda se apresentou na Festa Nacional da Música 2015

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A levada do grupo deixa no ar uma pergunta difícil de ser respondida: que som é esse? Com uma pluralidade nítida, eles dialogam com diferentes linguagens rítmicas, que passeiam pelo soul, rock, funk e pop, e imprimem toda sua sinestesia com o mundo em forma de canção. “As 186|FNM

influências vêm também do lifestyle que levamos, da tattoo, do skate, de morar na montanha e respeitar a natureza, do graffiti, de artistas como Basquiat e Hieronimous Bosch, do cosmos, da crença do multiverso, do budismo, espiritismo e vários outros ismos…”, revelou Renan. Mesclando referências urbanas à calmaria do sítio em que vivem na Serra Gaúcha, eles apostam tudo na liberdade criativa e produzem música quase experimental desde 2010, quando o som que faziam deixou de ser apenas uma brincadeira despretensiosa. “Gostamos de escutar Divulgação

ma das bandas mais ativas do cenário musical independente, a Dr. Hank lançou em 2015 um EP com três faixas inéditas – gravadas ao vivo, em casa, e disponibilizadas em todas as plataformas de streaming, como Spotify, Rdio, Deezer e Soundcloud. Lançado no Opinião, em Porto Alegre, e em outras cidades brasileiras, o trabalho foi batizado de “Hankerhouselivesession” e é o primeiro lançamento depois do álbum “Voa”, de 2013 – responsável por levar o grupo a palcos de grandes festivais. “Esse EP já faz parte das ideias do próximo disco, que devem amadurecer agora, num retiro que faremos na praia para finalizar as músicas que devem entrar no álbum a ser lançado em 2016”, contou Renan Queiroz, vocalista.

Formada por Renan Queiroz, Lagarto Ortega, Rodrigo Zimmer, Manoel Guimarães de Andrade e Ryan Murtele

Sepultura, mas também formamos nossa roda de samba no final de semana tocando Cartola e Fundo de Quintal. Piramos no groove do James Brown e do Racionais Mc’s, mas passamos tardes inteiras escutando Ramones. Entra no carro e bota Caetano Veloso, mas chega em casa e escuta o último single da Anitta ou da Katy Perry.” Formada por Renan Queiroz, Lagarto Ortega, Rodrigo Zimmer, Manoel Guimarães de Andrade e Ryan Murtele, a Dr. Hank já rodou mais de 50 cidades, tocou em festivais como Planeta Atlântida, Grito Rock e Make Some Noize e, em outubro de 2015, repousou em um palco perto de casa: a Festa Nacional da Música, em Canela. “Uma honra sem tamanho tocar entre tantos artistas renomados. Parecia uma noite de sonhos, algo meio surreal, e a gente tenta sempre aproveitar da melhor maneira possível toda energia acumulada em noites como essa. Nesses momentos a criança que temos dentro da gente aplaude feliz os adultos que nos tornamos”, declarou o músico.


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Wilson Paim se apresentou acompanhado do contrabaixista Diego Herencio e do filho, Wilson Paim Filho

Wilson Paim faz pocket show do novo disco

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s acordes românticos de Wilson Paim ecoaram pelo Salão da Lareira do Hotel Laje de Pedra, em Canela, na Serra Gaúcha, durante a 11ª edição da Festa Nacional da Música. Foi nesse ambiente acolhedor que o cantor apresentou seu mais recente CD, “Razão e Coração – Para Bailar”, o 50º da carreira e que também marca seus 30 anos de trajetória musical. Acompanhado do contrabaixista Diego Herencio e do filho, Wilson Paim Filho, o músico mostrou ao público clássicos dos fandangos gaúchos na linha romântica, mas com um certo pé de valsa. “Este CD tem um repertório romântico, mas

foi feito para as pessoas dançarem”, explica o cantor. No set list, estão “Razão e Coração”, música de Léo Bruni que dá nome ao CD, “A Primeira Vez”, composição de Elton Saldanha, “Louco por Chamamé”, de Mauro Ferreira e Luiz Bastos, e “Sina de Gaiteiro”, música de Percival Pedroso em parceria com Wilson Paim, entre outras. Na plateia do pocket show, um grupo seleto formado pelos colegas Edson Dutra e Daniel Torres, o secretário municipal da Cultura de Porto Alegre, Roque Jacoby, o produtor musical Patineti, entre outros. “É uma satisfação muito grande estar aqui na Festa e poder apresentar meu novo trabalho, que

me dá muito orgulho. Apesar de ser meu disco de número 50, é como se estivesse iniciando e aprendendo todos os dias.” Natural de Alegrete, Wilson Paim consolidou seu trabalho nos festivais nativistas nas décadas de 1980 e 1990, especialmente como intérprete e compositor de belas melodias, conquistando centenas de premiações. Posteriormente, desenvolveu a carreira fora do circuito dos festivais, dedicando-se aos shows e discos.

Plateia seleta: Patineti, Roque Jacoby e Délcio Tavares

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sax

Mauro Vieira/Festa da Música

Encontro de

George Israel e Leo Gandelman

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Jackson Ciceri/Festa da Música

“Na terça-feira chamei o Leo para tocar com a galera com quem já tenho intimidade: Pepeu Gomes, a rapaziada do Barão, Kadu Menezes, meu filho Fred Israel e Filipe. Acabaram se juntando também Sandra de Sá, Ivo Meirelles e Jerry Adriani. Foi demais!”, empolga-se George. “Mas talvez o grande barato tenha sido nossa aproximação intensa ao longo dos dois dias. Conversamos muito e fomos juntos à cachoeira do Parque do Caracol [em Canela]. Já que no sax ele me dá um banho, deixamos ele de língua pra fora”, brinca o eterno músico do Kid Abelha, que sempre temperou o som da banda pop com seu sax.

Rosa Marcondes/Divulgação

m sua 11ª edição, a Festa Nacional da Música juntou dois ícones nacionais do saxofone no mesmo palco. O virtuose Leo Gandelman e o popularíssimo George Israel, que já cruzaram o caminho um do outro no mundo musical muitas vezes, dividiram a performance no sax ao lado de grandes nomes do rock, que se uniram em uma big band na noite da típica “terça” no Salão Implúvio.


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Leo Gandelman e George Israel

George Israel, Leo Gandelman e Marina Lima

O troca-troca foi constante, e George até fez piada sobre tocar ao lado de Leo, que circula com excelência entre o erudito e o popular. “Vamos tocar uma canção do Paralamas gravada pelo Leo. Tive a honra de ‘reensinar’ a música para esse mestre. Imaginem só: eu ensinando alguma coisa ao Leo Gandelman”, divertiu-se George no show, antes do time de primeira linha tocar “SKA”. “Como fiz inúmeras canjas com os Paralamas, acabei gravando a música nos discos ao vivo – sem falar que somos amigos desde a maternidade, quando tiramos carteira de músico para fazermos os primeiros shows. Então comecei a relembrar a música para o mestre Gandelman, mas rapidamente ele lembrou e me mostrou exatamente a versão original! Eu toco ela errado”, contou o compositor, aos risos.

parceiros musicais e dão de cara com muitos amigos em comum. “No Kid Abelha acabei virando uma das marcas da sonoridade da banda. Nunca imaginei ser reconhecido como saxofonista, já que nem chego perto do conhecimento do instrumento de caras como o Leo, por exemplo. Mas fiquei muito feliz de tocar ao lado dele na Festa. Percebi que tenho uma identidade musical e que, ao tocarmos juntos, o contraste fica interessante. Ele eleva, eu estrago. Rock and roll”, brinca o músico, que está prestes a lançar seu quarto álbum solo de inéditas. “Pretendo, em algum momento, fazer um disco mais focado no saxofone, já que ultimamente tenho tocado muito com DJs, música eletrônica, e também por causa do meu filho mais novo, o Leo, que toca piano e com quem tenho feito, informalmente, muitas canções instrumentais”, revela George.

Com tendências diferentes dentro da música, o som de Leo e George se encontra quando listam seus diversos

Enquanto isso, o premiadíssimo Leo Gandelman, que passeia por MPB, pop, instrumental e concertos clássicos a bordo da elegância de seu saxofone, equilibra-se entre os vários estilos e prepara projetos comemorativos. “Só existem dois tipos de música: a boa e a ruim. Sendo boa música, qualquer estilo me interessa”, afirma o instrumentista, que completa 60 anos em 2016. “Serão 60 anos de idade e 30 de carreira solo. O bolo de morango já está nas previsões, mas pretendo sim comemorar em alto estilo. Por sinal, adorei participar da versão da Festa da Música 2015. Encontrei vários amigos que não via e não tinha a chance de conviver há muito tempo”, comenta.

Leo Gandelman e Paula Lima

George Israel, Ivo Meirelles, Rodrigo Santos e Pepeu Gomes

Jackson Ciceri/Festa da Música

Rosa Marcondes/Divulgação

A sinergia no palco, que pareceu inédita para quem acompanhou as palinhas pela Festa da Música, já aconteceu outras vezes. “George é um querido amigo, uma pessoa supergenerosa, um grande cara! Gravei com ele alguns arranjos de saxes para o Kid e nos encontrávamos sempre em shows. Eu tocando com Lulu Santos, Guilherme Arantes, Marina e ele no Kid. O interesse pelo sax sempre nos aproximou”, garante Leo, que convidou o colega para uma apresentação intimista com Marina Lima na noite de homenagens. “No palco foi sensacional. Ele gentilmente dividiu comigo a participação”, diz George.

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Mostra de Instrumentos Em busca do som e da batida perfeita

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Com profissionais atendendo dezenas de artistas, a Mostra renova a cada ano a sua importância no contexto do evento, afinal, músico não vive sem o seu instrumento e essa eterna relação de desejo é levada à prova em todas

as edições da Festa. Dessa forma, músicos, cantores, produtores e profissionais tiveram a sua disposição o que de mais moderno a tecnologia oferece para quem procura personalizar o seu trabalho e transformá-lo em algo único e diferenciado. Equipo, Roland, Casio e a novata Earth deram um show de atendimento e suporte técnico aos músicos que fizeram da Mostra de Instrumentos o seu ponto de encontro com a sua razão de existir: o instrumento musical. Novos sons equipando modelos com a mais avançada tecnologia de síntese

e modelação acústica, pensados e desenvolvidos dentro dos mais tecnológicos padrões de ergonomia, representaram a última geração de instrumentos feitos para sonhar. Inseridos entre os melhores itens dos catálogos dessas quatro empresas, os produtos geraram suspiros em um grande ponto de confraternização. Como em todos os anos, o palco do samba teve também a participação da Izzo, que equipou os sambistas com os seus instrumentos de percussão da marca Timbra. E a música mais uma vez se aliou à tecnologia e à modernidade na busca do som e da batida perfeita. (Gustavo Victorino)

Mauro Vieira/Festa da Música

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ponto de encontro dos aficionados por novidades e alta tecnologia mais uma vez se confirmou como uma das maiores atrações da Festa Nacional da Música. Trazendo muitos lançamentos e os modelos clássicos de cada marca, a Mostra de Instrumentos disponibilizou o que de mais avançado existe no segmento de áudio e instrumentos musicais no maior encontro da música brasileira.

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Casio

A força da marca que conquistou o mundo

Casio Celviano, um show à parte

Guilherme Arantes e o Celviano

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quipando os muitos palcos da Festa Nacional da Música 2015, a Casio confirmou a força de uma das maiores marcas mundiais no segmento de tecnologia. A empresa levou a Canela alguns dos seus muitos modelos de sintetizadores e pianos profissionais, que fizeram a alegria dos tecladistas e pianistas de todos os estilos. A variedade de modelos com múltiplos recursos e aplicações faz da Casio uma fonte de curiosidade desde sua primeira participação, em 2012. Para deleite dos pilotos de teclas, a companhia mostrou parte da sua extensa linha de teclados voltados a todos os segmentos, atendendo profissionais e aficionados para qualquer necessidade ou situação.

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Flavio Venturini e Celviano

Conquistando, ano após ano, mais espaço no mercado brasileiro, a empresa incorpora uma filosofia de suporte a profissionais que, associada a uma política de preços realistas, torna cada vez maior a participação da Casio no time sharing verde e amarelo no concorrido segmento de teclas. A Casio levou a Canela alguns dos seus modelos mundiais e justificou a evolução calcada em sua longa história, que começou no Japão em 1957 e virou sinônimo de qualidade e confiabilidade. Desde 1980, quando lançou o Casiotone 201, o seu primeiro teclado eletrônico, a Casio se expande ao redor do planeta também no segmento musical. Compacto e com preço competitivo, a novidade reproduzia os sons de vários instrumentos, sendo à época muito bem recebido por amantes da música em todo o mundo.

Continuamente e ao longo do tempo, a Casio desenvolveu e aperfeiçoou vários recursos que se ampliaram ainda mais com a chegada da tecnologia digital no final do século XX. Surgiu, então, o auto arranger one touch system com capacidade de memorização e gravação, além da reprodução automática e a função guia de melodia inteligente. Com o crescimento, e ao custo de altos investimentos, a empresa expandiu seu foco e ampliou a classe de instrumentos digitais desenvolvidos por ela, lançando baterias e instrumentos de sopro digitais. Casio Celviano e D’Black


Casio Privia nos palcos da Festa 2015

Com foco na síntese moderna, a Casio foi pioneira no lançamento de guitarras sintetizadas que, ao longo de décadas, foram sonho de consumo de uma geração inteira de guitarristas. Sempre com o foco na tecnologia, a Casio Computer Co Ltd é um dos fabricantes que lideram o mercado mundial de produtos eletrônicos ao consumidor, incluindo soluções em equipamentos empresariais e portáteis de uso pessoal. Na Festa 2015, novamente a empresa disponibilizou alguns dos modelos que fazem os tecladistas respirarem fundo pelo prazer de tocar e sonhar. Com a linha Privia, a Casio já impressiona pelo acabamento e dinâmica acima da média. Dotados de recursos praticamente ilimitados, os PX-A800BN e o prático PX-5SWE são alguns dos modelos mais cortejados.

Alexandre Pio e o PX-5S

Ao lado dos Privia, a classe e o charme da linha Celviano... Com um móvel de linhas impecáveis, o classudo piano digital tem uma pista de teclado com ação de martelo numa escala de 88, notas que dispara a poderosa máquina sonora AiR. No segmento de pianos digitais compactos, a Casio impressiona também pela praticidade e timbragem refinada, além do componente mais importante em tempos bicudos: o preço. Entre os sintetizadores, a empresa exibiu os modelos XW-G1 e XW-P1, com tecnologia de ponta desenvolvida para impressionar os ouvidos dos amantes da música na sua mais perfeita riqueza sonora. São sintetizadores equipados com seis osciladores e efeito looper, com

reprodutor de sampler e modo HexLayer, além do recurso de órgão com controles do tipo drawbar. Um sonho para os amantes dos clássicos. Completando o show da Casio, a nova linha Trackformer trouxe modernos controladores voltados a DJs e editores de música eletrônica, tudo com a beleza e o acabamento dignos da marca. Na Festa 2015, a Casio mais uma vez foi representada pelos técnicos e especialistas João Fantini, Ângelo Garcia e Fábio Augusto, que deram um show de atendimento e agilidade na logística dos palcos. E, como sempre, saiu aplaudida da Festa.

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Equipo

O show das grandes marcas

Palco principal

Parceria de peso, Serjão Loroza, Ibanez e Laney

Ibanez e Fernando Magalhães (Barão Vermelho)

Hartke e Macarrão (Detonautas)

om o sucesso da marca Waldman, a Equipo provou que sua história de quase um quarto de século transformou a empresa numa referência no mercado brasileiro e sul-americano de instrumentos e equipamentos voltados a músicos de todos os estilos e bolsos.

até então carente de qualidade. O espetacular catálogo da empresa ainda levou a Canela algumas das grandes marcas internacionais, equipando os palcos e marcando presença na Festa Nacional da Música com produtos de tirar o fôlego de músicos e demais profissionais do segmento.

Não bastasse isso, os palcos receberam as emblemáticas baterias da japonesa Tama, marca que dispensa apresentações por fazer parte da história do instrumento ao redor do mundo.

Parece que o tempo se encarrega de transformar em sucesso todas as novidades e lançamentos da empresa. E a isso chamamos de competência. A marca Waldman consolida o perfil de uma importadora que, ao longo do tempo, fez do Brasil um quintal onde o suprassumo das melhores marcas mundiais foi oferecido ao consumidor

Afinal, quem pode resistir a tocar com alguns dos melhores amplificadores do mundo, como os poderosos amplificadores da inglesa Laney? Ou os devastadores e iconoclastas modelos da marca Hartke Systems, sonho de qualquer baixista profissional? Todas estas marcas são distribuídas com exclusividade no Brasil pela Equipo.

C

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Falar também da marca Ibanez é como explicar a cenoura para os coelhos. É desejo acima da razão, afinal é a melhor guitarra de ataque do mundo e não bastasse isso, desenvolveu uma linha semiacústica que domina o mercado profissional no Brasil. Desde as guitarras do tipo solid body, equipadas sistemas floyd rose, até os modelos semiacústicos, a marca japonesa fez a alegria dos instrumentis-


Equipo, um show à parte

Ibanez Art e Laney, e não precisa dizer mais

Laney empurrando Pepeu Gomes

Flavio Venturini com as novidades da Equipo

Zé Natálio (Papas da Lingua) e Cort

tas que buscavam um som beirando à perfeição. Mas os amantes das cordas não ficaram por aí. A marca Cort também esteve presente com seu design arrojado, que faz dos seus instrumentos um objeto de desejo focado no diferenciado de seus projetos.

empresa levou os técnicos Mike Maeda e Reginaldo Pessoa, que ainda mostraram seu talento como músicos em todas as noites e em praticamente todos os palcos dando show de competência e dedicação profissional, muito além do suporte e informação aos artistas presentes ao evento. Como convidado da Equipo, o guitarrista Dney Bitencourt também representou a marca Ibanez, subindo ao palco com Marina Lima.

E mais uma vez a Equipo fez sucesso se transformando em obrigatória atração da Festa da Música 2015.

A marca Waldman desequilibrou a proposta de equanimidade na relação custo-benefício. O diferencial da qualidade mostrou que preço nem sempre é sinônimo de satisfação. O catálogo Waldman conquistou o Brasil se colocando entre as marcas mais vendidas do País. Coordenados pelo gerente de Marketing da Equipo, Edgard Ribeiro, a

Das marcas mundiais distribuídas com exclusividade pela empresa para o Brasil, além das citadas acima, estão Kross, Groovin, Medeli, Phonic, Rockbag, Rocktron, Sabian, Samson, Vater, Chauvet, GHS e Dixon, entre outras.

Dney Bitencourt e Ibanez Art, dupla perfeita

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Roland

Com as mãos no futuro GT100, a pedaleira dos sonhos

Flavio Venturini e o RD800, o super piano da Roland

Thais Andrade e a sanfona sintetizada da Roland

Sintetizador Roland XPS 10

o longo de décadas, a empresa japonesa virou sinônimo de tecnologia e inovação. E em Canela, a Roland materializa alguns dos sonhos de músicos, produtores, cantores e engenheiros de áudio dos quatro cantos do mundo. Mantendo a tradição de inventividade e vanguardismo, a Roland supera a cada ano as expectativas, e leva à Serra Gaúcha alguns desses equipamentos e instrumentos voltados à modernidade e inovação na produção de sons sintetizados e processadores equipados com o melhor da tecnologia de última geração.

Destaque para o espetacular piano RD800, com uma sonoridade e tocabilidade dignas dos melhores tecladistas do mundo e motivo de cobiça por todos os músicos perfeccionistas.

A empresa, liderada por Takao Shirahata, provoca suspiros com o seu catálogo rico e diversificado. Ter um equipamento da Roland é e será sempre um sonho de consumo para músicos e aficionados.

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Sempre com novos produtos em catálogo, a Roland apresenta lançamentos e novos modelos em praticamente todos os segmentos de sua linha. E grande parte disso esteve na Festa Nacional da Música 2015, marcando presença com o que de mais moderno existe em tecnologia musical para o século 21, buscando sempre o sinônimo de pluralidade e praticidade. 196|FNM

As baterias digitais são outro capítulo à parte e povoam os sonhos de consumo de instrumentistas que buscam praticidade, conforto e vanguarda nos sons percussivos. Os múltiplos modelos da série TD surpreendem em todos os aspectos e se adaptam a qualquer necessidade. Com um avançado processo de digitalização e praticamente sem limitações, as baterias virtuais se completam pela multiplicidade infindável de recursos e aplicabilidade em todos os momentos do dia a dia do músico profissional. A linha TD cresceu e com ela vieram ainda mais alternativas para músicos de todos os bolsos.

A nova linha de sintetizadores liderada pela nova série XPS e ampliada pela prática e sempre inovadora linha Juno faz da arte de pilotar um legítimo sintetizador Roland um motivo a mais de amor à música e à sonoridade de vanguarda. E a Roland vai adiante. Os novos processadores de sinal para guitarristas e os icônicos pedais e pedaleiras da Boss que dominam o mercado mundial há décadas, permanecem como referencial na hora de identificar um instrumentista apaixonado e perfeccionista. Modelos da linha GT e ME foram aperfeiçoados e cada vez mais oferecem infinitas possibilidades e recursos de verdadeiras máquinas sonoras.


Roland equipou os palcos da Festa 2015

Bateria eletrônica V Drums TD-4KP

Estande Roland e a tecnologia futurista

Roland XPS10, teclado para todos os bolsos

Geroge Israel e o prático XPS10

A supremacia tecnológica da empresa no segmento mostra a criatividade e a preocupação de sempre oferecer aos guitarristas uma real possibilidade de viajar nos complexos osciladores algorítmicos na busca da criação de novos timbres e texturas. A guitarra Strato, desenvolvida em parceria com a Fender e equipada com o sistema hexafônico digital da Roland, foi mais uma vez sensação no evento, mostrando que o futuro da guitarra parece não ter limites.

res de voz fazem do backing vocals trabalhoso do passado, algo prazeroso e ilimitado em recursos. Equipados com modelagem algorítmica de múltiplas camadas, os processadores não têm mais limites para timbragem e sobrevozes, o que faz do ato de cantar uma festa para quem domina os recursos dos novos modelos da empresa.

as novidades.

Novos amplificadores de instrumentos mostraram a capacidade de adaptação e a tecnologia inigualável da empresa também na criação de sistemas para expansão sonora. Pequenos, potentes e versáteis, os modelos integram a capacidade de compactação ao cuidado no acabamento e sonoridade. Para os cantores e produtores, a Roland mostra uma evolução e atenção cada vez maior. Os novos processado-

Softwares e acessórios também integram o show da Roland e um extenso leque de equipamentos de gravação e edição digital fizeram profissionais de estúdio e aficionados suspirarem com

O catálogo com centenas de itens para todos os segmentos musicais faz da empresa um dos mais completos fabricantes do mundo. E, tudo isso, aliado a um serviço de suporte que é referencial em segurança, resistência e durabilidade. A equipe Roland esteve em Canela representada por Francimar Maia, Michel Brasil, Thais Andrade e Isac Souza. E como sempre, foi um sucesso nos palcos e fora deles.

Show de rock no espaço Roland na Mostra de Instrumentos

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Earth

A novidade que veio para ficar

Gretsch, Strinberg e Takamine no palco principal

Nando Cordel e Earth

Flávio Venturini e Earth

Ivan Lins e Earth

experiência de décadas de serviços prestados ao segmento de áudio e instrumentos é certamente um referencial na hora de implantar uma nova marca. Com esse princípio basilar, os executivos Ricardo Haddad, Nenrod Adiel e Eber Policate decidiram criar uma sigla que promete conquistar o Brasil com o binômio qualidade a preço compatível com a realidade do mercado.

Com a meta inicial de lançar seus produtos em etapas para o conhecimento e fixação do mercado, a Earth aposta na aprovação de cada linha, gerando impulso para o desenvolvimento de novos projetos e a consequente ampliação do seu alvo no mercado.

Com múltiplos modelos equipados com captação Piezo Earth Sensor, a Earth mostra uma qualidade na sonoridade eletrificada muito acima da média graças a um moderno Pré-Amp ativo com equalizador de quatro bandas, equipado com afinador, inversor de fase, além dos padronizados controles de volume, graves, médios, agudos e o sempre necessário difusor de presença.

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O desenvolvimento de um instrumento de alto nível que agregue preço acessível ao músico brasileiro é sempre uma proposta ousada que exige competência e sensibilidade. Ao longo do tempo, o mercado brasileiro foi palco de exemplos de sucesso para propostas com esse espírito inovador e que conjugue com transparência esses dois elementos. 198|FNM

Lançando uma linha de instrumentos de cordas liderados pelo modelo EFC 50NS, do tipo dreadnought, popularmente conhecido no Brasil como violão folk, a Earth recebeu aprovação de todos que testaram o instrumento e nele identificaram a qualidade exigida pelos profissionais.

Também pela acuidade, Eber Policate supervisiona pessoalmente as fábricas que montam os instrumentos Earth. Tudo isso na busca por madeiras bem sazonadas, escalas em rosewood com qualidade, sem fissuras ou entranças.


Earth em todos os palcos

Geroge Israel e Earth

Sérgio Hinds (O Terço) e Earth

Earth e Serginho Moah (Papas da Lingua)

Os instrumentos têm braço em maple canadense, o que para experts faz toda a diferença na hora da afinação. O tratamento que antecede o verniz e a correção dos ângulos entre o braço e o corpo do instrumento é outro ponto fundamental para deixar o violão Earth com uma gama maior de ajustes, caso o músico tenha preferência por um violão com ação de cordas mais baixas.

Além dos violões, a marca investe também na linha de guitarras e contrabaixos com o mesmo cuidado especial de fabricação. Em breve a empresa anuncia também uma linha de violões do tipo custom shop, prometendo revolucionar o mercado com instrumentos de altíssima qualidade a preços compatíveis com o bolso do músico brasileiro.

Além de Nenrod e Eber, a Earth contou também em Canela com o técnico Danilo Pradela dando suporte aos palcos e artistas presentes ao evento. E a novata da Festa fez sucesso...

Ao focar como objetivo principal o melhor custo-benefício no segmento, a Earth se esmera na atenção redobrada aos detalhes dos seus instrumentos.

Na Festa Nacional da Música 2015, a Earth fechou parceria para endorsement com o líder da banda Papas da Língua, Serginho Moah, e o cantor e compositor pernambucano Nando Cordel. Ainda no list de parceiros, a dupla sertaneja Moises & Luiz Henrique.

Earth, Neto Fagundes e Lucas (Fresno)

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Timbra

A marca do samba e da percussão na Festa 2015

Palco do samba e o Grupo Zueira equipados pela Timbra

Fernandinho Vieira e Timbra no palco principal

Timbra e Ivo Meirelles

Palco Timbra e o melhor do samba

marca Timbra, criada pela Izzo, voltou a marcar presença na Festa Nacional da Música e foi a responsável pela percussão em todos os palcos do evento.

O acabamento esmerado e a sonoridade tipicamente brasileira focada no samba, fazem dos produtos Timbra uma surpresa agradável e apaixonante para quem neles toca pela primeira vez. E tudo isso com um design luxuoso e uma resistência digna das maiores marcas de percussão do mundo.

Com quase um século de história, a Izzo é uma das maiores distribuidoras de peças, acessórios e componentes para instrumentos musicais do mundo. A empresa abriga um catálogo com milhares de itens para instrumentos e músicos de todos os segmentos que buscam componentes de reposição ou acessórios para qualquer tipo de equipamento.

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Desenvolvida como linha top, a Timbra mandou a Canela a sua série profissional que sempre impressiona pela sonoridade, beleza e acabamento. Já consolidada como uma das mais importantes marcas de percussão do cone sul, a Timbra é motivo de cuidados especiais por parte da direção da Izzo no desenvolvimento de produtos baseados na qualidade e durabilidade de instrumentos criados por alguns dos melhores percussionistas do Brasil.

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Conquistando mercado e ocupando espaço no concorrido segmento da percussão brasileira, a Timbra se consolidou como mais uma marca de sucesso desenvolvida pela Izzo, e que justifica sua trajetória a caminho da liderança no mercado nacional de instrumentos de percussão.

Nascida em 1918, na cidade de São Paulo, a Izzo completou, em 2015, 97 anos de serviços prestados ao mercado de instrumentos musicais no Brasil. Com a marca Timbra, a Izzo mais uma vez confirma o seu sucesso pela aprovação unânime de alguns dos maiores nomes da música brasileira que estiveram na edição 2015 da Festa Nacional da Música.


Rosemary esbanja vitalidade e defende: “Meu movimento é a MPB”

Entre shows e participações em programas de TV e novelas, conquistou um público cativo, que a acompanha até hoje. “Artista não tem idade; tem que ter é talento”, defende a cantora que, como contratada do SBT até o início de 2015, se transformou em uma “performer” no programa “Esse Artista Sou Eu”. Ela personificou 18 artistas do cenário nacional e internacional, entre elas Gloria Stefan, Amalia Rodrigues, Marilyn Monroe, Dalva de Oliveira e Waleska Popozuda, reafirmando talento também como atriz.

Artista atemporal

Suas produções musicais são atemporais. O CD e o DVD “Mulheres da Mangueira”, lançados em 2008,

Jackson Ciceri/Festa da Música

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osemary Belkiss, ou simplesmente Rosemary como ficou conhecida em todo o Brasil e no mundo, despontou nos anos 1960, no movimento da Jovem Guarda. De lá pra cá, a “Fada do Iê, Iê, Iê”, como foi chamada na época em função de sua beleza loura e delicada e voz aveludada, transformou-se em uma das artistas mais admiradas nacionalmente. “Sou uma cantora feita nos palcos e na televisão”, destacou para explicar o sucesso.

ainda são sucesso. Desde o lançamento, o DVD já foi transmitido para mais de 180 países. O trabalho teve a participação de Carlinhos de Jesus, Dudu Nobre, Beth Carvalho, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Alcione, baianas, passistas e porta-bandeira da Estação Primeira de Mangueira. Rosemary selecionou canções que retratassem o universo do samba carioca, percorrendo diversos gêneros musicais, desde o samba tradicional, bossa nova e baladas.

Lutadora

Além dos palcos e das câmeras, Rosemary atua na defesa dos direitos dos artistas. Ela integra o grupo de idealizadores do CulturaPrev, plano de previdência destinado aos profissionais da Cultura, que hoje é uma realidade. Atualmente, os profissionais da cultura do País podem contar com um plano de previdência com custos reduzidos. Mas a estrela evita a postura panfletária. “Meu movimento é a MPB”, enfatizou. FNM|201


Vivo pela música Heloísa Genish é diretora de Gestão Responsável e Sustentável da Telefônica Vivo

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Com a música em seu DNA, a Vivo tem um trabalho intenso de fomento à cultura, em especial àqueles dedicados à arte mais popular do Brasil. “A música é uma das maiores paixões do brasileiro e, por isso, torna-se um elemento estratégico no plano de utilização do recurso de incentivo à cultura”, explica Heloísa Genish, diretora de Gestão Responsável e Sustentável da Telefônica Vivo, patrocinadora da Festa Nacional da Música 2015 com a marca GVT. “Em 2016 seremos marca única, Vivo, fortalecida também em âmbito cultural por unir o que as duas empresas fazem de melhor.”


Fotos divulgação Show em São Paulo realizado dentro do projeto Dia da Música, da Fête de La Musique

A Companhia já atua na música pela área comercial com o Vivo by Napster que conecta o cliente com artistas consagrados. Mas ideia é ir além. Por isso, a empresa apoia projetos em música capazes de motivar e revelar novos talentos com potencial para ingressar no rol dos grandes artistas. E para esse processo ficar ainda mais rico, a proposta também é promover o intercâmbio entre quem está na estrada há mais tempo e os estreantes. “É isso que encontramos na Festa Nacional da Música, um dos maiores encontros musicais da América Latina, que conecta músicos experientes e novatos na troca experiência e discussão em torno da inovação e do futuro da música.”

O êxito dos intercâmbios pode ser constatado pela crescente qualidade da produção musical brasileira. No momento em que expandimos o apoio a projetos em diferentes regiões do País, descobrimos uma diversidade cultural muito ampla. “Nossos artistas estão cada vez mais engajados para garantir uma produção cultural acessível e inclusiva, o que está em perfeita sintonia com a nossa política de democratizar o acesso à cultura”, avalia Heloisa. Um exemplo disso está na música instrumental, no projeto Rumpilezzinho, sob o comando do maestro Leitierrez Leite. A iniciativa capacita 50 jovens baianos, a partir dos 14 anos, que recebem formação musical de qualidade.

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Maria Rita gravou o clipe “Bola Pra Frente” com os músicos do projeto Rumpilezzinho

Poder transformador Além de promover ações de intercâmbio entre novos talentos e artistas já consagrados, a empresa acredita no poder transformador da música. Sintonizada com essa proposta, apoia projetos em todo o Brasil, como o Prêmio Caymmi de Música, que nasceu para revelar novos talentos da música baiana; o Porto Alegre Jazz Festival, que em 2016 completa três edições com o patrocínio da empresa; e o Neojibá, núcleo de Orquestras Infantis e Juvenis da Bahia. “São ações que beneficiam também o pequeno produtor cultural e conferem maior acessibilidade e democratização. Todos trazem uma contrapartida social relevante para a comunidade.” O retorno social para a comunidade envolvida está entre os pilares buscados pela Companhia, especialmente se eles estiverem conectados com jovens. Entre as iniciativas está a Corrente do Sorriso, com o cantor Ivo

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Ivo Mozart participa do Corrente do Sorriso, que leva música e diálogo às escolas

Mozart. O projeto leva música e diálogo a estudantes de escolas gaúchas e traz à tona assuntos como bullying, sonhos, perspectivas, trabalho, autoestima e valores a serem cultivados. Outro projeto que segue o mesmo princípio é o Circuito Sócio Cultural – Música Contra as Drogas, uma proposta que aproveita a abertura e a identificação dos jovens com os artistas da banda paulista EX4 para tratar de temas como prevenção ao uso de drogas, comportamento e mercado de trabalho. O poder transformador da música pode ser percebido em números, que comprovam o melhor desempenho escolar, sucesso para ingressar no mercado de trabalho e formação superior entre os jovens que participam de projetos sociais ligados à música. Em comunidades onde a maioria não faz o curso superior ou entra em emprego formal, a empresa registrou 80% de casos de jovens ingressando na universidade e em trabalho com carteira assinada a partir

da participação nos projetos. Para 2016, a Vivo pretende continuar investindo em projetos culturais. Está prevista a aplicação de mais de 32 milhões de reais, com uma maior utilização de leis de incentivo, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Maranhão e Pará, além do Distrito Federal. Oitenta projetos relacionados à música em diversas regiões já estão definidos. Entre as iniciativas bem-sucedidas que devem ganhar força em 2016 está o Bituca, da Universidade Livre de Música de Minas Gerais, escola profissionalizante que aceita iniciantes nos cursos de percussão, piano e teclado, que terá sua capacidade duplicada para 450 vagas este ano. Outro projeto é o Dia da Música, da Fête de La Musique. A iniciativa que acontece em 700 cidades do mundo simultaneamente, promoverá 100 shows gratuitos em São Paulo e no Rio de Janeiro e também levará a marca Vivo.


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Jackson Ciceri/Festa da Música

“Artista não cansa de tocar o seu sucesso”, diz Sá

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ompletando 50 anos de carreira, 43 deles em parceria com o amigo Guarabyra, Luiz Carlos Sá, ou apenas Sá, como ficou famoso, não esconde sua paixão pela música. Orgulhoso de sua trajetória, responsável por trazer à cena cultural brasileira hits que se transformaram em clássicos, ele garantiu: “artista não cansa de tocar o seu sucesso”.

Quanto aos efeitos da fama, Sá não negou que prejuízos também foram contabilizados. “Fazer sucesso foi muito estranho. Foi muito cedo. No primeiro disco, quando éramos um trio – eu, Guarabyra e Zé Rodrix –, a gente tocou no Brasil inteiro, e já houve um certo trauma. O Zé saiu.

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Sá, da dupla Sá & Guarabyra, está em turnê nacional com o show “Encontro Marcado”

Viramos uma dupla”, lembrou. “Tudo isso foi o chamado ‘lado negro da força’”, brincou. Depois de décadas, eles se reuniram de novo. “Acho que se a gente tivesse se encontrado e conversado, teria mantido o trio. Tanto que, quando o Zé voltou, em 2001, fizemos o Rock in Rio e retomamos a carreira juntos, até a morte dele em 2009. E o engraçado é que o Zé dizia todo dia: ‘como é que eu fui sair desse trio?’. Porque o prazer que tínhamos tocando junto era transparente. E no novo show é a mesma coisa. Temos prazer de estar junto, de sermos amigos”, refor-

çou, deixando claro que “Encontro Marcado” é a comemoração de uma trajetória de sucessos, com direito à produção de novo CD e DVD. “Me sinto como antigamente. E como sempre!”, definiu Sá. Reprodução

São esses standards, como ele se refere, que impulsionam o calendário repleto de shows do compositor, cantor e letrista. Um exemplo é a turnê nacional do show “Encontro Marcado”, que começou em março de 2015 e vai invadir 2016, reunindo Flávio Venturini, Sá, Guarabyra e o grupo 14 Bis. “A gente não teria uma agenda ativa hoje sem os nossos sucessos. O público [de hoje e de ontem] quer ouvir é a minha história, e eu não posso contá-la sem cantar meus sucessos”, refletiu o autor de hits como “Sobradinho”, “Dona” e “Caçador de Mim”, esta última em parceria com Sérgio Magrão.

Zé Rodrix, Sá e Guarabyra na década de 1970


Graça Paes/Photo Rio News

Carlinhos de Jesus: “dança é música”

Carlinhos de Jesus é só alegria na chegada à Festa Nacional da Música

Pela primeira vez na Festa Nacional da Música, Carlinhos de Jesus conta que sua rotina é tomada pelo samba, que todos os anos ao longo de seis meses inspira sua criatividade para a montagem de novas coreografias para o carnaval das escolas de samba do Rio. Seus shows têm muito do rock nacional na trilha sonora. E o sertanejo tem espaço cativo em seu bar, o Lapa 40 Graus, que é sucesso na Cidade Maravilhosa e em São Paulo.

Relembrando suas paixões musicais, o coreógrafo reafirmou sua admiração por Elba Ramalho, artista que o projetou nacionalmente ao dividir o palco com ele em seus shows. “A Elba Ramalho é minha grande vitrine. Foi a Elba quem me projetou [no final dos anos 1980], quem me colocou no mercado. Eu já dançava, mas não tinha essa visibilidade, não tinha esse espaço. A Elba foi muito responsável por isso”, frisou. À frente de uma companhia de dança que leva seu nome, duas casas de dança, uma no Rio e outra em São Paulo, e presença constante até em cruzeiros, Carlinhos de Jesus possui uma agenda lotada, mas não descarta uma pausa para a pesquisa de novas tendências e a aproximação com seus ídolos oportunizada pela Festa Nacional da Música. “É um prazer estar aqui, no meio de músicos, no meio de ídolos, diante de referências como

compositores e como intérpretes das músicas que eu danço. É um momento de celebração”, enfatizou o artista. Reprodução

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s ritmos que seduzem os ouvidos também envolvem o corpo em passos bem marcados, como nas coreografias assinadas por Carlinhos de Jesus. O “bailarino popular”, que se tornou uma referência quando o assunto é a dança de salão no Brasil, mostrou que diferentes estilos musicais embalam a sua vida. “A dança é música”, afirmou.

Com Elba Ramalho

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Vozes do Samba em um Gesto de Amor Visita do Bom Gosto ao Hospital da Criança, no Rio de Janeiro

Após ser submetido a um transplante de rim, líder do Grupo Bom Gosto motiva campanha pela doação de órgãos Depois que Fábio Beça, vocalista do Grupo Bom Gosto, encarou de perto a possibilidade de ter uma vida cercada de cuidados médicos delicados por conta de uma insuficiência renal crônica, sua postura diante da vida mudou. Doença sem cura, só havia duas possibilidades: hemodiálises periódicas ou um transplante de rim. Ao contrário da maioria dos brasileiros que precisam de uma doação de órgão, ele teve a alegria de contar com a segunda opção, e recebeu o rim de uma prima em dezembro de 2014. A recuperação, no entanto, não bastava mais para o músico: Beça queria salvar mais vidas por meio da conscientização.

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Com adesão total do Bom Gosto, o cantor lançou, em parceria com o Programa Estadual de Transplante do RJ, a campanha “Faça um Gesto de Amor. Doe + Vida”. “A gente teve a ideia de criar o projeto chamado ‘Gesto de Amor’. E com ele conseguimos ajudar muitas pessoas pela internet. Muitas tiveram coragem de doar, de fazer o transplante, muitas foram se informar... Até que a Secretaria da Saúde do Estado do Rio de Janeiro me procurou para fazermos uma parceria e usarmos nossa imagem para somar mais ainda. E aí virou uma campanha só”, conta Beça, que comemora os bons resultados. “A soma do governo do estado deu outra proporção à campanha. O jogo do Flamengo do dia 27 de setembro [de 2015], no Maracanã, por exemplo, foi no Dia Nacional da Doação de Órgãos. Fizemos uma campanha que bateu recorde de cadastros.”

Fábio Beça em Canela, durante a Festa Nacional da Música 2015


Fotos reprodução

Com Jorge Aragão na gravação do clipe

Jackson Ciceri/Festa da Música

Bastidores do clipe com Mário Sérgio e Ronaldinho do Grupo Fundo de Quintal

O projeto, que começou com uma visita lúdica embalada por muito samba no Hospital da Criança, no Rio de Janeiro, vem ganhando novas ações a cada dia. A mais recente delas foi a gravação do videoclipe “Gesto de Amor”, que reuniu a nata do samba em uma canção de André Renato, escrita especialmente para quem espera por um transplante. Com sambistas renomados, como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Dudu Nobre, Diogo Nogueira, Xande de Pilares, Fundo de Quintal, Revelação, Sorriso Maroto e Mumuzinho, a produção se inspirou no clássico clipe de “We Are The World”, composta por Michael Jackson e Lionel Richie e gravada em 1985 por 45 ícones da música americana em apoio ao projeto USA for Africa.

Todos os esforços exigidos para que Beça tivesse sucesso no processo cirúrgico lhe deram tempo para refletir mais ainda sobre a vida. “Minha dieta por dois anos foi sacrificante, não comia praticamente nada. Vivia na estrada fazendo shows e com a dieta levada em uma marmita. Comecei a dar mais valor à vida. Graças a Deus, hoje estou aqui podendo contar essa história”, desabafa o cantor, que pretende levar informação ao maior número de pessoas possíveis. “Quem não conhece o assunto vai me ver como um exemplo de que isso existe. E o transplante não é só em vida. Quando falamos em doação, falamos também em morte cerebral. Um amigo meu foi salvo assim porque a família autorizou a doação. Muitas pessoas se prendem ao corpo apenas por falta de conhecimento.”

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Ex-Exaltasamba lançou seu novo trabalho em julho de 2015

Í

cone do samba e do pagode, o músico Pinha esteve presente na Festa Nacional da Música 2015. Responsável pela criação do extinto grupo Exaltasamba, ele também estreou em carreira solo, assim como os ex-colegas Péricles e Thiaguinho.

Mauro Vieira/Festa da Música

A nova atuação já colhe os frutos com a música “O Sonho Acabou”: diversas rádios de todo o Brasil estão tocando a faixa. O vocalista e percurssionista, que passou a ser chamado pelo nome artístico Pinha Presidente, lançou o EP “O Nosso Presidente”, no qual conta com colaborações especiais de Dexter, Prateado, Pezinho, Bira Presidente, Ubirany, Jorge Aragão, Gordinho e Péricles – este último também participou do evento na Serra Gaúcha.

“Princesinha do Pagode” encanta público da Festa da Música A

pontada como a “Princesinha do Pagode”, Hellen Caroline esbanjou carisma na Festa Nacional da Música. “Estou feliz. Estou fazendo e cantando o que sempre sonhei”, contou. A admiração pelo estilo e pelos expoentes do gênero musical que abraçou começou cedo: Hellen morava ao lado de uma rádio e da Fundação de Artes de Ubatuba, em São Paulo. E o desejo de se aproximar dos ídolos se transformou em realidade. “Estou perto de artistas de quem sempre fui fã. É uma realização”, comemorou. Seu CD “O Sonho Aconteceu”, produzido por Rodriguinho, dos Travessos, expressa o quanto a paulista de 28 anos lutou para deslanchar na carreira – uma batalha que somou ao seu currículo o terceiro lugar no programa “Ídolos”, da TV Record, e a vitória no quadro “Mulheres que Brilham”, do Programa Raul Gil, no SBT. Hoje, ela conta com a força dos padrinhos Thiaguinho e Péricles e já lançou o segundo trabalho, o CD “Meu Jeito de Ser”. 210|FNM

Divulgação

Pinha

lança EP e estreia voo solo


Divulgação Equipe Sbacem na Festa da Música 2015: Thiago Rossin, Antonio Carlos, Everton Miranda e Orlando Mota posam com padre Alessandro Campos

Sbacem, em defesa do direito autoral

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Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música) esteve pelo quinto ano na Festa Nacional da Música prestando assessoria para os artistas associados. De acordo com o gerente da Associação no Rio Grande do Sul, Everton Miranda, o evento é “certamente o maior encontro de música do Brasil e da América Latina”. Para a Sbacem, participar da festa é fundamental. “Todas as propostas de pautas e agendas nos envolvem e, quando saímos da Festa, nossa bagagem profissional fica ainda mais rica”, avaliou, destacando as palestras no âmbito digital como substanciais para a associação. Além da troca de informações, a presença da Sbacem no evento foi importante para que artistas pudes-

sem manifestar seu interesse em integrar a associação. “Facilitou nossos contatos e comunicação com os titulares. Foi muito interessante e produtivo”, detalhou Miranda. Constituída para a defesa moral e material dos seus associados e desenvolvimento cultural, a associação tem sede na cidade do Rio de Janeiro e possui representações nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio de Janeiro. “Isso demonstra nossa responsabilidade perante os direitos autorais no âmbito nacional”, destacou. O tema mídia digital versus direitos autorais – bastante discutido em palestras e debates na Serra Gaúcha – é assunto importante para a asso-

ciação. Neste sentido, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), órgão responsável por arrecadar direitos autorais de execução pública musical, o qual a Sbacem integra, promoveu palestras sobre o assunto durante o evento. “Acho que o Ecad é o órgão mais coerente e apto para contribuir e elaborar ferramentas de arrecadação no âmbito digital. Pelo que sei, o mesmo já está bem estruturado para começar a trabalhar nesta área em prol dos artistas”, avaliou Miranda. A afiliação à Sbacem pode ser feita pela internet por meio de preenchimento de formulário no site. Em seguida, é preciso imprimir uma via e encaminhá-la ao escritório mais próximo. Para mais informações, acesse: www.sbacem.org.br.

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Quando a música encontra a

Eli Soares

P

rimeira atração da Festa Nacional da Música, o show gospel embalou a cidade de Canela (RS) no dia 18 de outubro. Com a presença de grandes nomes da música cristã, o Centro de Feiras da cidade recebeu cerca de 7 mil pessoas e arrecadou quase cinco toneladas de alimentos não perecíveis, coletados como ingresso. “Nós dissemos, na divulgação do evento, que as pessoas que não pudessem doar um alimento, não teria problema; elas iriam entrar igual. Mas 212|FNM

pedimos que aquelas que pudessem trazer mais, trouxessem. Acho que elas entenderam isso”, comemorou o cantor e apresentador do show, Fabinho Vargas. A extensa programação, que contou com 17 vozes do segmento gospel, desenhou no palco o atual cenário da música evangélica, cada vez mais expressada dentro do mainstream jovem, em ritmos que vão do sertanejo ao rap. Mas o protagonista, acima de

qualquer preferência musical, era o mesmo para todos do público e do palco: Deus. “É um alimento espiritual presenciar o artista em contato com Ele no show. Deus fala através da canção. O show é um alimento espiritual”, defendeu Jeferson Pereira, de 28 anos. Ele veio acompanhado dos pais, Andréia e Geraldo Pereira, que participaram da atração pela terceira vez. “Esse show promovido pela Festa da Música supre uma carência de eventos desse tipo”, observou Geraldo.


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Leão de Judah

Som da multidão

Marina Mesquita

O evento, que teve duração de seis horas, começou com uma participante mirim vinda de Fortaleza, Ceará. Com 11 anos, Marina Mesquita veio ao Rio Grande do Sul especialmente para conferir o show e ver de perto seus ídolos da música gospel. Ela, que cresceu cantando na igreja e no Conservatório de Música Nepomuceno, do qual o pai faz parte, escolheu “Ressucita-me” para abrir as apresentações no domingo. “Faz tempo que eu ouço essa música porque adoro a Aline Barros e quero muito ser cantora. Canto em italiano, espanhol, inglês...”, contou a menina, que também é fã de Damares.

Cairon Roberto

Geraldo Pereira com a familia

Com oito anos de história, a Leão de Judá estreou na Festa Nacional da Música em 2014. “É muito bom estar de volta a este palco porque é bem diferente. É um evento de grande porte, que reúne bastante gente”, disse o vocalista, Éder Gasparini. A banda levantou o público com a interpretação de “Receba”, de Paulo Cesar Baruk, conhecido pela versatilidade sonora que atrai tanto o público jovem, como Daniela Pozzebon, de 19 anos. “A gente não precisa das coisas do mundo. Valorizamos as coisas do espírito e cantando estamos mais próximas de Deus. Por isso viemos à Festa”, disse a adolescente, que foi acompanhada das amigas da Assembleia de Deus de Ivoti – todas vestindo a camiseta com a frase “Meu capitão é Cristo”.

Novo rumo

A tarde gospel seguiu com Cairon Roberto, convertido há três anos. “Já frequentei muito a Festa da Música com a minha dupla sertaneja, “Cairon & Gustavo”, mas depois me converti, encerrei a dupla e em dezembro vai fazer um ano que Deus me permitiu ir para a estrada para falar Dele”, lembrou o cantor, que lançou em 2015 seu primeiro CD gospel, “De Mãos Dadas Contigo”, com 11 faixas autorais e também canções de amigos. “Muita gente fala que largou tudo para servir a Deus. Eu digo que larguei nada para servir a tudo”, explicou o músico, que cantou “Espírito Santo”, composta por ele, e “Poderoso Deus”, já interpretada por muitos artistas. FNM|213


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Yuri Oliver

Bruno Anselmi

Com o pé ainda mais no rock, Brunno Velasco tocou “Vencedor”, “Me Fez Livre” e sua versão mais pesada de “Aleluia”. “A verdade é que eu sou roqueiro. E não existe um estilo musical para adorar a Deus. Todos adoram a Deus pelo coração. Então eu tentei, no primeiro CD [“Me Fez Livre”], atrelar ao rock uma voz mais rasgada. Sempre escutei rock, como Led Zeppelin, Deep Purple... É uma influência que eu trouxe para o gospel para tentar fazer algo meu para Deus”, explicou Brunno, que entrou para a Igreja há 20 anos. “Foi uma bênção. E eu fui sozinho, sem ninguém me levar. Foi Jesus quem me levou”, contou o músico, que participou do show gospel pelo terceiro ano consecutivo e lançou recentemente o DVD “O Vencedor”, pela Sony.

A batida continuou no palco com Yuri Oliver, que levou a pegada pop rock das músicas “Teu Sangue”, “Velejar” e “Atraído”. “Sempre gostei muito de pop e um pouco de rock, então quis juntar um ritmo do qual não sou tão adepto com um que toca muito o meu coração, que é o pop”, explicou o músico, que se converteu há sete anos. “Costumo dizer que a minha história é como a daqueles discípulos que caminharam com Cristo durante dois meses e não sabiam que era Ele. Comigo é igual. Caminho com Cristo desde pequeno, mas descobri quem Ele era aos 18 anos de idade.” O paulista, que participou pela primeira vez da Festa da Música, já tinha uma ligação com o público gaúcho. “Gosto muito do povo daqui, porque eles são bem tímidos, mas depois que gostam de você, te tratam de maneira única, com um carinho que eu nunca recebi em nenhum outro lugar.” O cantor Bruno Anselmi, com quem Yuri já dividiu o palco em um show em Gravataí (RS), sonha viver de música, e acompanhou de perto sua apresentação no Centro de Feiras. “A música gospel tem um papel fundamental. É um divisor de águas para que o Evangelho entre na vida das pessoas e opere mudanças com a sua mensagem”, refletiu Anselmi. Quem assumiu o microfone na mesma vertente foi Roberto Marinho, que cantou “Vencedor Eu Sou”, “Te Amo Deus” e sua versão em português para “Agnusdei”. “Quando surgiu o movimento de adoração no Brasil, mais ou menos em 1998, eu era adolescente, mas fiz parte disso. A maioria das músicas que o País começou a cantar fui eu que trouxe, junto com o meu amigo David Quinlan e tantos outros naquele momento. Por isso tenho essa pegada de adoração, mas uso bastante o pop rock – muito por causa da juventude, para chegar mais fácil até eles. Mas claro que também tenho músicas de adoração profunda”, revelou o cantor, que está comemorando 15 anos de Ministério com o lançamento de 30 músicas em dois DVDs e pretende gravar um CD ao vivo no Rio Grande do Sul em 2016.

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Roberto Marinho

Brunno Velasco

Palco de adoração Na contramão do rock’n’roll, Geraldo Guimarães apresentou os louvores “É Só Mais um Pouco”, “Maravilhosa Casa” e “Deus Acima de Tudo”. “Tem muita coisa acontecendo, muita música boa, mas eu vou caminhando naquilo que Deus me deu, me confiou. Tem muita gente que me ouviu aqui pela primeira vez, mas teve a oportunidade de adorar a Deus. Tem uma diversidade de músicas aqui, são muitas pessoas que fazem parte de um só corpo, mas tem um ser adorado, que é Deus. Todos esses ritmos, todas essas músicas, têm o propósito de adorar Ele”, disse o cantor, que protagonizou uma das apresentações de maior fervor do evento.


Osmar e Valmira Soares

Jairo Bonfim

Com um vocal refinado – que lhe rendeu duas décadas como back vocal de grandes nomes da música gospel –, o solista Jairo Bonfim cantou “Ressurreto”, “Passarinho” e “Mestre”. “Hoje eu canto pentecostal e misturo várias influências, mas minhas raízes mais fortes são o black music”, revelou o cantor, que já trabalhou com nomes como Cassiane, Fernanda Brum, Bruna Karla, Mara Maravilha e Bispo Marcelo Crivella. “Para mim tem uma importância muito grande participar da Festa da Música. Sei que Deus abriu portas para mim porque eu gosto muito desse lugar, gosto muito de vocês, gaúchos, e é um prazer estar aqui.”

Geraldo Guimrães

Leonardo Gonçalves

Fé sem barreiras Centenas de luzes de celular se acenderam quando Leonardo Gonçalves subiu ao palco. O cantor foi filmado pelo público do início ao fim de sua apresentação, na qual cantou “Sublime”, “Acredito”, “Ele Vive” e “Novo”. “Penso que o lance são as canções, as músicas, as letras, os temas universais, as nossas experiências na vida, sobre a ressurreição, sobre as verdades bíblicas... Acho que as pessoas acabam se identificando com tudo isso”, disse o cantor sobre o sucesso. Considerado um dos maiores expoentes da música cristã contemporânea, o músico não nega as influências de diferentes gêneros musicais. “Ouço de tudo um pouco e até não gosto muito dessa divisão que se faz da música sacra e da música profana. Isso é coisa da Idade Média, uma mentalidade ultrapassada. Acredito que existe música boa e música ruim, música que faz bem e música que faz mal.”

Ovacionado, Leonardo foi o motivo de muitas caravanas presentes no show gospel. Todos queriam agradecer suas conquistas junto ao músico, como Osmar e Valmira Soares. O casal reuniu a família para comemorar a recuperação do filho, Cristian, que abandonou o vício em cocaína. “Foram 23 anos de desespero, mas agora alcançamos a vitória”, desabafou Osmar. “A gente sempre quis vir ao show. E conseguimos, neste ano, de uma forma especial: presenteamos nosso filho com uma lua de mel em Canela. No final, toda a família veio junto comemorar unida”, contou Valmira, ao lado da nora e da neta de 8 meses. Cristian tinha ainda mais motivos para agradecer, como a cura de outra doença e o nascimento da filha, Lauren. “Somente depois de um câncer no pulmão, entre a vida e a morte, que decidi ingressar na Igreja. Após 15 dias de internação, fui para a casa. Eu já estava em abstinência [das drogas] e senti algo diferente. Resolvi mudar”, contou ele, que demorou a se converter e foi batizado há um ano na Igreja Encontros de Fé. Sua mulher, Lisiane, estava feliz em celebrar a vitória do marido na Festa Nacional da Música. “Sem Jesus a nossa vida não tem fundamento”, disse ela, enquanto acompanhava o show de Leonardo Gonçalves.

Cristian, Lauren e Lisiane

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Jonas Vilar

Marcelo Crivella

Sertanejo gospel

Pioneiro na inserção do sertanejo na música gospel, Jonas Vilar agitou o Centro de Feiras com as canções “Vitória no Deserto”, “Olha Pra Frente”, “Meu Barquinho” e a nova faixa de trabalho, “Primeiro Reino”. “A juventude, hoje, ouve sertanejo de ponta a ponta nesse País, então, com certeza, é uma arma de evangelização forte para levar a mensagem de Deus para quem não é evangélico”, defendeu Jonas, que colocou o ritmo campeiro já no primeiro CD, gravado em 2008. “Queria fazer uma coisa diferente, que fosse a minha verdade, que transmitisse aquilo que sou. Nasci no sertão da Paraíba, onde está impregnada essa questão do sertanejo. Cresci na fazenda, então eu sou isso”, disse o músico.

Recorde de vendas

Um dos nomes mais esperados pelo público, o bispo e senador Marcelo Crivella levantou a multidão com a canção “Vai Arrebentar”. “Não há palavras para a gente expressar a importância de termos tantos jovens reunidos acreditando, tendo fé, buscando a Deus. Em cada jovem desses tem um potencial extraordinário. E esse potencial, se não for pela fé, bem usado, pode acabar na frustração das drogas, da prostituição, que seriam um desperdício para eles, para a pátria e para os Céus”, disse o cantor, que é um dos maiores recordistas em arrecadação junto ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). 216|FNM

Ton Carfi

Festa dos crentes

Anayle e Michael Sullivan

Música, amor e fé

Ao lado do marido, o compositor Michael Sullivan, Anayle Sullivan cantou “O Que É Seu Mundo” e “Socorro Deus”. O casal, que compõe junto há três anos, já possui 150 músicas. “Eu não tinha coragem de compor. Só de pensar nisso já me sentia mal por ser casada com uma pessoa que tem uma história na arte da composição. E aí comecei a pensar e falei ‘Senhor, preciso escrever tudo aquilo que Você tem colocado no meu coração e, já que eu tenho um marido capacitado, me unge’”, lembrou Anayle, que já participava da Festa da Música acompanhando Michael. “Aqui realmente é a festa que reúne toda a nata musical, além de ser lindo poder comemorar e celebrar a nossa música, que é tão rica, tão plural. A gente ainda faz aquele upgrade com os amigos, troca informações, então é maravilhoso.”

O palco ficou pequeno para a batida black e eletrônica de Ton Carfi, que sacudiu o Centro de Feiras com as dançantes “Festa dos Crentes”, “Jesus Me Conquistou” e “X-Men”, e a melódica “Porque Eu Te Amei”. “Observo muito a evolução da música black americana e sigo a tendência desse tipo de música. Eles fazem esse misto do R&B com o hip-hop, eletrônico e algumas músicas em piano e voz, então comecei a adotar esse estilo e trazer para a minha música e, graças a Deus, está dando muito certo”, contou Carfi, que se apresentou na Festa da Música pela primeira vez. “É um sonho realizado estar aqui. Sempre ouvi falar dessa festa e nunca imaginei que um dia eu estaria aqui cantando.” Ton Carfi anima a plateia


Marcos Nunes

Ritmo campeiro

Nascido no sertão baiano e criado em Goiânia, Marcos Nunes tem nas origens o ritmo do campo. “Sempre tive muito contato com a música de raiz. E comecei, há sete anos, a fazer música sertaneja universitária por causa dos amigos que tenho. Tinha muita amizade em Goiânia com os artistas seculares que começaram nesse movimento, como João & Matheus, Victor & Léo... Acompanhei esse gênero nascer e comecei a fazer o mesmo no gospel”, contou o músico, que tocou “Não Dá Para Entender”, “Depende de Você” e “Eu Não Posso Parar” no show de Canela. “Essa festa é muito importante para a música brasileira. O mercado fonográfico não atravessa um momento muito bom por causa dessas transições e um evento como esse vem para fortalecer, trazer alegria, e eu me sinto muito honrado de fazer parte disso”, afirmou.

Janice Faiette

Damares

Inspiração para vencer

Citada por quase todos do público, Damares subiu ao palco ao som de longos aplausos. A cantora, que foi homenageada na Festa da Música no dia seguinte ao show gospel, cantou quatro músicas intercaladas com louvores fervorosos: “Consolador”, “O Maior Troféu”, “Sabor de Mel” e “Um Novo Vencedor” – a última apresentada em tom intimista, acompanhada apenas pelo violonista Paulo Vargas. “Estou muito feliz em participar e em ser homenageada na Festa Nacional da Música porque é mais uma conquista, entre tantas que recebi de Deus. O carinho das pessoas vem de Deus. Ele envia elas para me abençoar, me dar ânimo e forças para continuar. Estou muito emocionada e feliz de estar aqui”, revelou ela, que foi aguardada por dezenas de fãs em sua saída do palco.

Entre eles estava Janice Faiette, de 20 anos. Ela, que sonha ser cantora e é comparada a Damares pelos amigos, foi uma das primeiras a chegar no Centro de Feiras. “Acompanho a Damares desde o início e vim cedo por causa dela. Preciso vê-la de perto. Tem unção no louvor dela, e em todas as vezes que pensei em desistir [de ser cantora], ouvi as músicas dela e me inspirei, me encorajei.” A mesma admiração pela cantora foi o que levou Leonardo Mendes, de 15 anos, ao show. O adolescente tem paralisia cerebral espática, que já o fez passar por 14 cirurgias, e encontra na música força para superar seus obstáculos e limitações. “’Sacrifício de Adoração’ é a música que muda minha vida todos os dias. Quero sair pelo mundo para evangelizar”, destacou o jovem, que deseja se tornar missionário. Leonardo Mendes

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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Plateia lotou o Centro de Feiras de Canela para assistir ao show gospel

Eli Soares

Daniela Araújo

Sucesso estrondoso na edição passada do show gospel, Eli Soares voltou ao evento com muitos fãs à sua espera, como Andriele da Silva, 20 anos, que foi a Canela com uma excursão da Igreja Missionária de Vila Gaúcha – presença já tradicional na atração. “Adoro as músicas dele. ‘Me Ajude a Melhorar’ é uma delas”, disse. A canção fechou a apresentação solo do músico, que tocou também “Deus Está Aqui” e “Meu Amanhã” e dividiu o palco com Fabinho Vargas em “Meu Senhor”. “Participar dessa festa é realmente uma honra. É o segundo ano e eu vou voltar mais vezes com certeza”, disse Eli, que está lançando um novo álbum, gravado no Rio de Janeiro. “Estou com uma expectativa muito grande a respeito desse trabalho, que se chama “Luz do Mundo”, um CD e DVD com músicas inéditas e outras que já fazem parte do meu repertório”, revelou o músico.

No auge da carreira, Daniela Araújo foi a última a se apresentar e fechou o show gospel 2015 com os singles “Criador do Mundo”, “Verdade” e “Filho de Deus”. “Estou muito honrada por ter participado, por ter fechado a noite, por a galera ter esperado, apesar do cansaço, do frio... Sem palavras. Estou muito contente e senti que o público gosta muito de mim”, disse a cantora, que está bombando no YouTube com o canal “Daniela Araújo Oficial”. “Estou com o meu projeto de músicas mensais no canal. Todo mês a gente lança uma canção nova, que componho sozinha ou com algumas parcerias”, contou a paulista, que segue em trabalho solo há três anos e tem dois CDs, “Daniela Araújo” e “Criador do Mundo”.

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Fabinho Vargas


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Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Crescimento das mídias digitais marca debate gospel Alomara Andrade, Cláudia Fonte, Jeferson Baick, Fabinho Vargas, Maurício Soares e Felipe Kannenberg

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cupando uma parcela cada vez mais importante no mercado fonográfico brasileiro, a música gospel também está dominando as plataformas virtuais e as mídias digitais. Esse foi o foco do debate “Mídias Sociais e Música Digital” realizado na Festa Nacional da Música 2015. Com a mediação do cantor gospel Fabinho Vargas, os representantes das gravadoras que impulsionam os artistas do estilo em todo o Brasil – Maurício Soares, da Sony; Cláudia Fonte, da Som Livre; e Alomara Andrade, da MK Music –, ao lado de Jeferson Baick, representante do site Garagem Gospel, e de Felipe Kannenberg, diretor do Grupo Dial de Comunicação, reconheceram que o consumo das músicas através da internet cresce em velocidade 220|FNM

surpreendente. Maurício Soares foi o mais enfático ao abordar o tema. Para ele, 2015 foi o ano da “grande virada do mercado físico para o digital”. “Hoje, 72% do faturamento total da Sony vem do meio digital e no [segmento] gospel, o percentual chega a 68%”, revelou. Cláudia e Alomara destacaram que Som Livre e MK Music ainda mantêm um investimento forte na produção de CDs. “O nosso trabalho não é passar tudo para o digital ou confiar apenas no digital. Nós buscamos conciliar as duas coisas. Não sei até quando. A gente ainda não tem essas respostas”, expôs Cláudia. Alomara observou que de 70% a 75% do faturamento da MK Music vem dos produtos físicos. “E a

gente louva, levanta a mão e agradece pela vida dos guerreiros lojistas, que não fecharam as portas ainda e continuam bravamente vendendo os produtos”, elogiou.

Mauricio Soares


Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música Jeferson Baick

Felipe Kannenberg

Geraldo Guimarães

Discordâncias à parte, os representantes foram unânimes quanto à importância da inserção dos artistas nas redes sociais. Os nomes com mais seguidores, mais curtidas, que tenham “uma presença virtual interessante” aliada à “personalidade própria” e talento são os que despertam a curiosidade das gravadoras para que seu trabalho seja conferido e cobiçado. “A gravadora não ‘pega’ só talento de quem canta muito, tem outras qualidades que são avaliadas. Há uma

pesquisa em redes para se observar o diferencial”, salientou Soares.

Para viabilizar essa “presença virtual” exclusivamente para os talentos evangélicos é que foi criado o site Garagem Gospel, afirmou Baick. O portal é uma plataforma freemium, que oferece conteúdo gratuito, na qual o artista pode se cadastrar e criar um

perfil completo e apresentar seu trabalho. “Há artistas muito regionais, que podem ser interessantes ou não para as gravadoras, mas no meio digital não há limites. É um meio mais democrático”, ressaltou. Essa igualdade de oportunidades oferece uma vantagem paras as rádios, observou Kannenberg. “Ela acaba tomando uma postura e uma importância diferenciada no sentido de ditar a moda, ditar qual o artista que o ouvinte vai querer escutar.”

Leonardo Gonçalves

Cláudia Fonte

Ton Carfi

Internet: ambiente mais democrático

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Jonas Vilar

Marcos Nunes

Alomara

Yuri Oliver

Roberto Marinho

Brunno Velasco

e ela ajuda a dar visibilidade à carreira”, avaliou Carfi.

perfil com milhares de seguidores. Oliver sustentou que as redes sociais são para aproximar o artista do público, não para mostrar “ah, eu sou o mais crente de todos”. A solução para enfrentar a polêmica foi proposta por Gonçalves. “Não podemos nos tornar reféns do nosso público, jamais”.

A posição de quem faz música Lidar com a exposição na internet, mais do que medir a eficiência do trabalho através dela, foi a pauta que guiou a segunda etapa do debate. Na mesa, estavam os artistas Leonardo Gonçalves, Ton Carfi, Jonas Vilar, Geraldo Guimarães, Roberto Marinho, Marcos Nunes, Brunno Velasco, Roberto Marinho e Yuri Oliver. Eles destacaram que ter um comportamento diferente em cada rede social e saber usar a própria imagem para atingir diferentes públicos é importante. “Tenho estudado muito essa questão da mídia social. E cada cantor tem a sua personalidade dentro da mídia social 222|FNM

Porém, é preciso ter controle e evitar a superexposição. “O público gosta muito de saber de você na sua sala com sua filha, lá sentado. Quando você posta uma foto com a família, as curtidas aumentam muito mais”, testemunhou Vilar. No entanto, ele relatou que no ano em que sua mulher anunciou que estava grávida, os seguidores de seu perfil não economizaram críticas. “Um postou: recém casou e já está grávida?”, lembrou. Roberto Marinho, vítima de reações de ódio por ter apoiado um político, resolveu até abandonar um

A partir daí, lidar com as polêmicas passou a ser o enfoque do encontro. A questão sobre o cantor gospel ser um “ministro da palavra” ou um artista gerou posicionamentos contundentes. “Eu vivo de arte. Sou um produto. Não tem jeito”, afirmou Marcos Nunes. “Há lugar também para que um


Fotos Jackson Ciceri/divulgação No final da palestra, o grupo encerrou com a música “Renova-me”, sucesso na voz de Aline Barros

artista possa transmitir a palavra de Deus, assim como há lugar para que o ministro possa desenvolver uma arte”, ponderou Nunes. Já Velasco destacou seu papel de ministro. “Tenho a música no sangue e desde que me converti tento levar isso, fazer com que isso entre nas casas não para vender, mas para evangelizar”. Também foi discutida a “crise de criatividade” das canções gospel. Carfi chamou a atenção ao fato de que o mercado de música evangélica é novo, o que faz com que as versões de músicas de sucesso sejam mais facilmente identificadas pelo público, facilitando o trabalho dos artistas que ainda estão imprimindo sua personalidade. “Não sinto que estou copiando um estilo. O estilo não é de ninguém, nem deles [seculares], nem nosso. É que, musicalmente falando, eles estão à frente da gente. Então temos que olhar para a tendência que está sendo criada e tentar ultrapassar e mudar”, registrou. Gonçalves aproveitou para criar um novo ditado. “Nem tudo que é original faz sucesso, mas tudo que faz sucesso é original. E nem tudo que faz sucesso é bom.”

Visão de mercado

Até mesmo o vínculo dos artistas com as gravadoras foi colocado em pauta durante o debate. Entretanto, os participantes sustentaram que essa relação é de parceira, mas cada profissional tem de lutar para se fixar no mercado. “O negócio tem de ser bom para os dois. O artista precisa ser viável”, declarou Leonardo. Ele ainda esclareceu que o tão criticado mercado, que massifica todas as produções culturais, não é um “bicho-papão”. Ele é formado por todas as pessoas. “O mercado somos nós. Ele é uma conjunção de pessoas, e a boa notícia é que há mercado para todo mundo”, resumiu Leonardo Gonçalves.

Fabinho Vargas

Público ouviu atento o debate sobre o crescimento das mídias digitais e redes sociais

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Michael Paz/Festa da Música

Oswaldir e Carlos Magrão comemoram 30 anos de estrada

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m gaúcho de Campo Novo e outro de Passo Fundo se reuniram há 30 anos para cantar em todo o Brasil música nativista. E o que pareceu loucura deu certo. Oswaldir e Carlos Magrão marcaram seu espaço na música brasileira.

Vivendo realidades diferentes – Oswaldir foi engraxate, vendedor de maçã, de pastel, mecânico, eletricista, jornaleiro, dono de restaurante e até fotógrafo; e Carlos Magrão chegou a sonhar ser dentista –, os dois se uniram no bar Recanto Nativo. O local, de propriedade de Oswaldir, recebeu Magrão para tocar. “Fiz o convite para criar a dupla em 14 de setembro de 1985, e estamos juntos até hoje”, lembrou Oswaldir. 224|FNM

Depois de cinco anos no bar, eles decidiram investir no próprio LP. Sozinhos, divulgaram o trabalho Brasil afora. A caminhada rendeu a amizade com o cantor Sergio Reis, um ícone da música caipira, e com ela a possibilidade de fazer a abertura de seus shows no projeto “Som da Safra”. Em 1989, uma surpresa: “Ganhamos o festival Rimula Schell com nossa música ‘Tetinha’, lá em São Paulo. E, aí, as portas se abriram”, contou Magrão. Participação em programas da TV, capas de revista e agenda repleta de shows fizeram os dois artistas regionais ganharem a cena nacional e viverem cinco anos fora do Estado. Porém, a saudade de casa os fez voltar. O retorno, no entanto, não

diminuiu o ritmo da carreira. A nova “roupagem” que eles colocaram em “Querência Amada”, um clássico de Teixeirinha, revitalizou a música, que chegou ao status de hino no Estado. “Tivemos a sorte e a competência de, desde o início, quando a gente só cantava regravações, ter todo o cuidado nos arranjos para mudar um pouco, personalizar”, explicou Magrão. Essa dedicação deu origem a 17 CDs. O novo é “De Tudo Um Pouco”. “Não podemos passar por essa vida sem deixar algo importante para os filhos, para os fãs, para os amigos, para a sociedade, enfim. Queremos deixar alguma coisa bonita para o passado: a obra”, resumiram os cantores.


produtor musical, criou a Lef Produções e apoiou os amigos. “Devemos muito de tudo isso a ele”, registrou Nards ao lembrar-se do amigo, falecido em um acidente em 2011. De lá para cá, já são três CDs, milhões de visualizações no YouTube e incontáveis fãs nas redes

sociais desde o Orkut até o Twitter. E um dos caminhos para a projeção nacional também foi encontrado. O Zueira participou do programa “SuperStar”, da TV Globo. “Além da visibilidade maior, que acarreta em uma série de coisas boas, houve a valorização do grupo e também ficamos mais profissionais”, explicou. Mauro Vieira/Festa da Música

A

lcançar o status de artistas internacionais e espalhar pelo mundo o seu samba com toques de pagode, rock e funk – batizado de “samba solto” – é o projeto do Zueira. O grupo gaúcho que conquistou os pampas e fãs em todo o Brasil já se prepara para esse salto. E para isso, Nards (banjo e voz), Denilson (voz), Pingo (surdo e cuíca), Elias (pandeiro), Nei (reco-reco), Rafinha (percussão) e Roger (cavaco) projetam uma mudança estratégica: morar no Rio de Janeiro. “Acreditamos muito no samba solto, nessa salada de ritmos, algo que vai balançar os gringos”, explicou Nards. Por isso, a gravação de um DVD em 2016 também está nos planos. O novo trabalho deve impulsionar a guinada no destino dos sete músicos, que já somam 15 anos de carreira. Eles aprenderam a tocar com familiares e amigos entre 1996 e 2000 e o antigo integrante do grupo, Leandro Silva da Silveira, tornou-se

Divulgação

Zueira

quer espalhar seu “Samba Solto” pelo mundo

Zueira nas rodas de samba do Hotel Laje de Pedra junto com o violonista Robson Miguel, Cezinha do Sem Abuso, Fabiano TdP e Paulinho Bom Ambiente

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Fotos divulgação

Espaço para as artes Virtuose no violão, Robson Miguel contou a história do surgimento de vários instrumentos musicais

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studantes de música, alunos das redes pública e privada e músicos de Canela assistiram à apresentação do violonista Robson Miguel no Gazebo Cultural da cidade, espaço que abriga diversas atividades culturais voltadas para o ensino e a profissionalização das artes. O encontro ocorreu durante a Festa Nacional da Música, quando o artista visitou o local. Também passou pelo centro cultural o guitarrista e compositor Léo Henkin, da banda Papas da Língua, e a cantora Verônica Born, nova artista da cena da música eletrônica, que também apresentou o seu trabalho ao público. “Era possível ver o brilho nos olhos dos adolescentes que ali estavam. Muitos deles querem seguir

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carreira na música e, nesse evento, puderam renovar suas expectativas, buscar novas inspirações e ter a certeza de que viver de arte e encantar o público pode ser um caminho longo, mas extremamente gratificante”, avaliou Fernando Martinotto, diretor cultural do Gazebo. Reconhecido internacionalmente, Robson Miguel encantou a seleta plateia. Com o violão, ele reproduziu o som de vários instrumentos musicais, contando a história do surgimento de cada um deles, reconstituindo a história da música, passando pelos índios, africanos e portugueses. “Toda a equipe do Gazebo Cultural se sentiu imensamente privilegiada em receber grandes artistas e em poder proporcionar

experiências enriquecedoras como esta aos jovens de Canela”, comemorou Martinotto. Inaugurado em julho de 2015, o Gazebo Cultural abriga a Academia de Dança Neusa Martinotto, a Oficina da Música Escola e Estúdio, o Café Maestro, o Omega Studio, o estúdio de design Histeria Coletiva e a Bailala, uma loja de artigos para dança. O objetivo do espaço é oferecer um local para exposições, eventos culturais, reuniões e encontros, mostras, lançamentos, pequenos shows, ideias criativas, gravações em áudio, design gráfico, aulas de inglês, cursos regulares e complementares, além de abrigar duas das principais escolas de dança e música do Estado.


Mauro Vieira/Festa da Música

No embalo do blues

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om Luciano Nazar na guitarra, Alvaro Borba na bateria e Rodrigo Zimmer no contrabaixo, a banda Instrumental Best Dream, formada em 2009, fez sua estreia na Festa Nacional da Música em um dos principais palcos do evento: o Salão Implúvio do Hotel Laje de Pedra. “Essa foi uma experiência bem proveitosa, na qual julgamos ter dado uma visibilidade maior ao nosso trabalho”, comenta Alvaro.

Com o blues como base tanto de releituras como de composições próprias, o grupo tem entre suas referências a música do guitarrista americano Ronnie Earl. “Nos consideramos músicos de blues e nas composições mesclamos jazz, funk music e jump blues. Além de Earl, também temos influências de Bill Perry, Arthur Neilson, Tab Benoit, Walter Trout, Nuno Mindelis e Solon

Fishbone”, revela o baterista. O primeiro CD do grupo, batizado “Instrumental Radio”, foi lançado em 2011 e revisitou clássicos do blues. Agora, o trio se prepara para lançar, um EP no primeiro semestre de 2016. No mesmo ano eles ainda devem mergulhar no projeto do segundo disco, com no mínimo dez faixas autorais. Jackson Ciceri/Festa da Música

Estreia entre ídolos E

streante na Festa Nacional da Música, a gramadense Milena Dallarosa lançou seu primeiro CD na edição 2015 do evento, no qual se apresentou para ícones da música no Salão Implúvio do Hotel Laje de Pedra. “Na Festa pude conviver com intérpretes e compositores que possuem uma vivência e conhecimento musical que não se encontra em nenhum outro lugar. Poder divulgar meu trabalho diante destes mestres me trouxe novas experiências”, comemorou a cantora. Intitulado “Suas Atitudes”, o álbum traz cinco músicas inéditas, sendo duas de sua autoria. “As duas canções simplesmente surgiram em minha mente em momentos totalmente aleatórios. Uso muito como referência a banda de rock gaúcha Fresno e a cantora Pitty”, conta. Entre os projetos para 2016 está a divulgação do disco, a gravação de videoclipes e a produção do segundo CD. Em paralelo à carreira solo, Milena se apresenta pelo Rio Grande do Sul com a banda LLaranjeans, da qual é vocalista desde 2012. Foi um pouco antes, porém, que ela deu início à trajetória musical. “Comecei em 2010, nos espetáculos do Natal Luz de Gramado. Por isso é que, tendo pouco tempo de carreira, participar da Festa da Música foi um grande passo, que com certeza irei lembrar para sempre.”

Milena Dallarosa se apresentou no Salão Implúvio do Laje de Pedra

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Sucesso recente no Brasil, Lulli Chiaro cativa com a música italiana.

“Acho que pelo fato de o CD ser em italiano, ele criou uma faceta um pouquinho diferente”, avaliou o artista após revelar que ficou surpreso com a alta vendagem dos discos. Isso porque a música digital, pela disponibilidade e pelo custo, dificulta a aquisição da mídia física. “Foi algo inesperado e, sinceramente, merecido”, explicou. Apesar do disco “Fra Le Nuvole” 228|FNM

componho, iniciei em português e depois me utilizei de duas poetisas maravilhosas, a Valéria Mindel e a Carla Vercesi, e aí é que fizemos esse álbum”, explicou.

trazer músicas interpretadas em italiano, Chiaro assume que não possui origens da terra de Luciano Pavarotti. “Não tenho descendência. Cresci ouvindo músicas italianas. Quando quis fazer esse álbum, pensei: ‘tenho que descobrir como fazer algo diferente’”. O fato de não ter relações com a Itália não é o único fator que surpreende: Chiaro também revelou que não teve aulas do idioma. “Tenho uma certa facilidade fonética. Como eu Jackson Ciceri/Festa da Música

O

carismático e divertido Lulli Chiaro, compositor e cantor de música italiana, é uma das maiores apostas da Sony Music Brasil. Seu mais recente disco é o terceiro maior sucesso da gravadora no País e chegou a alcançar 158 mil cópias vendidas – com uma saída ainda mais expressiva na região Sul. “O que há de italiano velho por acá, não é?”, brincou Chiaro.

Antes de “Fra Le Nuvole”, Chiaro já havia lançado outros três trabalhos, que não fizeram sucesso. “Nem aquelas benditas das minhas ex-namoradas compraram os meus discos!”, disse com bom humor. Ainda assim, ele pôde se orgulhar de ter a letra da música “Jardim de Infância” interpretada por Ronnie Von. A faixa foi escrita pelo artista quando ele iniciou no universo musical, com apenas 16 anos. Desolado, entretanto, com o fracasso da vendagem dos três primeiros discos, Chiaro deixou a música e passou a fazer trabalhos promocionais. “Era um jeito de alimentar um pouco a alma”, explicou.

Marcos Heiner/Divulgação

Música italiana, autor brasileiro


Michael Paz/Festa da Música

O eterno brilho de “Reluz” A

utor de dez discos, o cantor e compositor Marcos Sabino é participante assíduo da Festa Nacional da Música. Esta frequência se mantém desde que o evento era conhecido por Festa do Disco, nos anos 1980. “O charme e clima prático [da Festa Nacional da Música] traduzem exatamente o que é a música no Brasil. Reencontrar os amigos artistas e profissionais do meio nos revigora e nos incentiva”, falou. Para ele, o evento promove reuniões e troca de informações muito produtivas e esclarecedoras. “Este ano, as reuniões do Ecad foram muito importantes”, destacou. Durante esta edição da Festa, Sabino reencontrou parceiros importantes, como Paulo Massadas, Dalto e Ivo Meirelles. Também participou do Ninho da Criação, encontro

promovido durante a Festa Nacional da Música, que reúne artistas para falarem sobre a história por de trás do processo de composição das canções. “Foi muito emocionante e divertido. Falamos dos parceiros e como nasceram músicas importantes de nossas carreiras”, relembrou. Entre as novidades do artista, está um CD de músicas inéditas, com lançamento previsto para 2016, com a participação de alguns colegas. “Vou começar a procurar alguns parceiros para colocar letras. Estive com o Ronaldo Bastos na Festa e ele é um dos poetas da música com quem eu mais gostaria de compor uma canção”, assumiu. Além do novo disco, o artista tem muitas ideias. “Sempre tenho um projeto no qual estou me dedicando, às vezes dois ou três”, brincou. Em

2016, o cantor irá estrear um programa na Rádio Roquete Pinto FM 94,1, do Rio de Janeiro. “O objetivo é divulgar a música de Niterói, de São Gonçalo e do interior do Rio de Janeiro”, explicou. O sucesso “Reluz”, música lançada em 1982, em Canela/RS, é para o artista a sua marca. “‘Reluz’ é como um filho. Vi nascer, crescer e me acompanhou por toda vida. A diferença é que quando eu não estiver mais aqui, ela estará. Ter o privilégio de ter essa canção considerada uma das eternas do Brasil me faz um artista realizado. Vou sempre cantá-la com muita alegria e emoção”, disse. E de fato, o faz: na última noite da Festa Nacional da Música, Sabino agitou a plateia com a canção e trouxe emoção ao Salão Implúvio do Hotel Laje de Pedra. FNM|229


Divulgação

O sucesso da música tradicionalista Autor de famosas canções sul-riograndenses, Elton Saldanha falou sobre sua atuação em veículos de comunicação e revelou seus projetos para 2016

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antor e compositor de música nativista, Elton Saldanha já lançou 20 discos e possui cerca de 800 músicas gravadas. Entre tantos sucessos, o músico elege a canção “Eu Sou do Sul” como preferida. A múscia venceu, em 2013, a votação de mais emblemática do regionalismo gaúcho. A enquete, promovida pelo jornal Zero Hora, trouxe cerca de 3 mil votos. “Esta canção nos referencia nos clássicos do Sul”, explicou o cantor.

Presente na Festa Nacional da Música 2015, Elton Saldanha definiu o evento como o mais democrático da indústria fonográfica brasileira. “A reunião dos artistas em todos os ambientes, palco e dependências do 230|FNM

Hotel Laje de Pedra permite a aproximação e reconhecimento de músicos do Rio Grande do Sul com os demais colegas do circuito nacional”, disse. O evento possibilita ainda, na visão do cantor, a formação de parcerias – especialmente no segmento

da música tradicionalista. “Sempre nos relacionamos com artistas que trabalham em outras áreas da música ou que cantam outros estilos. Na música gaúcha, tem sempre alguém querendo gravar um material novo”, explicou. Jackson Ciceri/Festa da Música

O músico, extremamente engajado com a cultura gaúcha, também leva o tradicionalismo através de outros veículos de comunicação. Atualmente, apresenta o programa Galpão Nativo TVE e o Estação Regional FM Cultura. Também escreve sobre a cultura gaúcha para a revista “Crioulos” e realiza o circuito Caravana Chamamecera, além dos shows “Eu Sou do Sul”, com artistas que o acompanham. “No início de 2016, vou gravar mais um DVD e, com o grupo de cavalgadas Cavaleiros da Paz, faremos a cavalo os caminhos da Revolução Mexicana com os Charros, no México”, detalhou.

Elton Saldanha na Homenagem a Fernando Brant


Muito além dos 20 anos

Jackson Ciceri/Festa da Música

Depois de lançar o DVD que comemora o aniversário de duas décadas, o Papas da Língua promete novo disco com lançamentos inéditos

Zé Natálio, Serginho Moah, Fernando Pezão e Léo Henkin na Festa da Música 2015

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om cinco álbuns de estúdio – o último, lançado em 2008 –, a banda Papas da Língua mantém sua consistência e atualidade, atraindo novos fãs com músicas que se perenizaram ao longo de sua trajetória. O grupo, que conta com a formação original até hoje – Serginho Moah no vocal, Léo Henkin na guitarra, Zé Natálio no baixo e Fernando Pezão na bateria – gravou em novembro de 2014 o CD e DVD que comemora seus 20 anos de carreira. Hoje, a banda está focada na turnê desse último trabalho, que começou em junho de 2015. A banda, entretanto, já está debruçada no próximo projeto, mas ainda de forma despretensiosa. “Tá na hora de começar a pensar em

coisas novas. Queremos renovar, porque isso também nos renova, e a gente se sente melhor”, declarou Serginho Moah, que participou ativamente com sua banda da Festa da Música 2015. O vocalista afirmou que o quarteto já conversa sobre um novo repertório, mas que as músicas ainda não estão no nível do Papas da Língua. “Depois de 20 anos e tanta coisa boa que rolou, não dá para derrubar isso”, disse. O líder do grupo espera que, em 2016, a banda já possa anunciar um trabalho inédito. “Se Deus quiser, na próxima Festa estaremos com um disco muito bom, que será celebrado pelas pessoas”, revelou. Mas assume que, para preservar a qualidade do som, não força a barra para compor.

“Ainda espero a parada rolar, aquela coisa da inspiração mesmo. De repente, ela vem – e é assim que acontece”, contou Serginho. Com influências musicais como Beatles, Led Zeppelin e The Who, a banda foge das tendências. “Nós trouxemos um pouco mais de reggae e outras bandas se deram conta disso, de que dava para abrir o leque. Dá para fazer uma música baiana no Rio Grande do Sul, como a ‘Blusinha Branca’!”, brincou Serginho Moah, para quem a pluralidade faz parte do sucesso. “O pop conversa e se relaciona com tudo. A gente pode até colocar uma gaita no pop! Os caras do tradicionalismo estão me convidando para fazer um som, e isso é muito legal”, entusiasmou-se. FNM|231


Atitude Nobre estreia na Festa da Música

Jackson Ciceri/Festa da Música

Grupo paulista quer expandir o trabalho por todo o Brasil

Banda paulista é formada por Marcelo Bianchini, Rodrigo Akim, Carlinhos Du e Adriano Leão

U

m ano após o lançamento da banda Atitude Nobre, o grupo participou pela primeira vez da Festa Nacional da Música – e já aproveitou para estrear sua performance com o público gaúcho no Centro de Feiras de Canela. “Senti, pela recepção do público, que eles abraçaram a nossa busca. Acredito que o nosso som vai pegar legal aqui no Sul”, revelou o vocalista Marcelo Bianchini. A banda, formada também por Rodrigo Akim (violão), Carlinhos Du (percussão) e Adriano Leão (contrabaixo), prevê grande sucesso para os próximos meses. O mais recente CD, lançado em 2014, deve expan-

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dir o trabalho para todo o País. “A imprensa abraçou o nosso trabalho por ser uma coisa muito diferente”, avaliou Bianchini. Além de investir no samba e no pagode, o CD também conta com duas músicas latinas, com influências da salsa. Sucesso consagrado no interior de São Paulo, a Atitude Nobre carrega na bagagem influências do samba de raiz e da música gospel. “Fui criado dentro da Igreja Batista, então a minha influência é totalmente gospel. Depois dos 21 anos é que comecei com o samba e o pagode”, revelou Akim. Leão tem origens semelhantes: apesar de não ter o hábito de frequentar a igreja, cresceu num

ambiente religioso. A formação do Atitude Nobre, na realidade, é antiga. “Tanto é que o CD se chama ‘Reencontro’”, apontou Leão. Por motivos ora pessoais, ora profissionais, o grupo se afastou de tempos em tempos. “Mas vira e mexe a gente se reunia para fazer o nosso trabalho. Agora, resolvemos expandir isso para o Brasil inteiro”, contou Akim. Além das apresentações no Centro de Feiras de Canela e na noite de encerramento da Festa Nacional da Música, a banda participou das jam sessions na noite de terça-feira. Lá, tocaram ao lado de grandes grupos de pagode, como Sorriso Maroto, Turma do Pagode, Pixote e Bom Gosto.


Mauro Vieira/Festa da Música

Ivo Meirelles Graça Paes/Photo Rio News

Ivo Meirelles e Rodrigo Santos

Ele também presenteou o público com um novo DVD, “Samba Pop do Meirelles”. Sem perder o pique, ainda se reuniu com um grupo de ilustres flamenguistas – Dudu Nobre, Xande de Pilares, Buchecha e Sandra de Sá – para produzir o EP “ConFLAria”. E além dessas estripulias musicais, Ivo, como sempre, promete marcar presença no carnaval carioca. “Sairei com meu bloco no Recreio, após o domingo de carnaval”, avisou.

Sempre na luta Com tantos projetos colocados em prática e já comemorando 29 anos de carreira, como será que esse camaleão convive com o sucesso? “Sucesso? Só conheço a luta”, respondeu, com a objetividade de quem só alcançou a fama depois de muito trabalho. O primeiro reconhecimento chegou em 1986, com o vitorioso samba-enredo “Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm”. E aconteceram muitas parcerias musicais, com nomes como Lobão, Pepeu Gomes, Arlindo Cruz, Xande de Pilares, além de encontros especiais. “Tenho duas irmãs para o mundo musical que são Sandra de Sá e Fernanda Abreu”, registrou.

Por ironia do destino, a arte chegou a ficar em segundo plano na sua vida em função do envolvimento com a direção da Mangueira. Mas em 2013 ele deixou a presidência da escola e voltou a investir toda a energia na música, sem modificar em nada seu estilo inquieto, alegre e multifacetado. “Só os cabelos é que ganharam outros tons”, brincou Ivo Meirelles, que colocou o público para dançar na Festa Nacional da Música 2015.

Jackson Ciceri/Festa da Música

M

úsico, compositor, ex-dirigente de escola de samba, produtor de clipes de carnaval, enfim, múltiplo. Assim é Ivo Meirelles, que aos 6 anos aprendeu a tocar repinique na bateria mirim da Estação Primeira de Mangueira. E fez da percussão a base da sua música, marcada pelo balanço do Funk’n’Lata, no qual colocou a bateria de escola de samba na batida do swing, black music e funk nos anos 1990. “Sinto tanta saudade do Funk’n’Lata que gravei um disco com a rapaziada para comemorar 21 anos da fundação do grupo”, disse.

reacende seu Funk’n’Lata

Com George Israel

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nquieto quando o assunto é música, o violonista Robson Miguel apresenta ao público seu 19º DVD, “Viva Brasil no Castelo da Suíça”, produzido em maio de 2014 e lançado na Festa Nacional da Música 2015. O álbum, em fase de divulgação, foi gravado dentro de três castelos suíços – Castelgrande, Bellinzona e Sasso – e passeia por gêneros populares como bossa nova, samba e choros. “Embora eu seja um músico de formação clássica, as influências e arranjos são todos próprios, bem populares e de grande aceitação pública, identificando assim o meu estilo pessoal 234|FNM

Do violão à literatura e próprio de tocar”, revela o instrumentista, que defende o espaço dos sons bossanovistas neste trabalho. “A bossa nova é matéria de estudo nas principais universidades da Europa e uma das maiores riquezas culturais musicais”, diz. Paralelo ao DVD, o músico lançou em 2015 o livro “Índios – Uma História contada pelos verdadeiros donos do Brasil”, que se propõe a reescrever a história do País incluindo a voz de seus primeiros habitantes. Conforme o autor, o trabalho vem atender à Lei 11.645/08, que regulamenta a obrigatorieda-

de do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. “Neste livro é abordado o pensamento e hábitos dos povos indígenas, os quais muitos ainda existem no dia a dia, na nossa cultura popular, em brincadeiras e em instrumentos musicais como pau-de-chuva, réco-réco, chocalho, tambor, apitos, zumbidores, flautas de bambus”, explica Robson Miguel, que é casado com We’e’ena Miguel, índia Tikuna brasileira. Segundo ele, mais da metade dos instrumentos da bancada de percussão popular e da orquestra sinfônica tem origem indígena.


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Um palco, vĂĄrios estilos

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Fotos: Mauro Vieira/Festa da MĂşsica


Sertanejo, pagode, funk, rap, soul e pop fizeram a Festa da Música no Centro de Feiras de Canela

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streias, duetos inesquecíveis e sucessos cantados com emoção pelo público fizeram parte do clima emocionante do grande show da música popular da Festa Nacional da Música. Sertanejo, pagode, funk, rap, soul e a música pop nacional e internacional estiveram no palco e fizeram do Centro de Feiras de Canela o ponto de encontro dos artistas com seu público. Uma sintonia de energias que também gerou uma corrente do bem. Cerca de 1 tonelada de alimentos não perecíveis foram coletados durante a festa para as instituições beneficentes da cidade. Ao todo, 18 artistas marcaram presença no evento, que é uma das tradicionais atrações da Festa da Música e o responsável por colocar os fãs em contato com seus ídolos e mostrar as novidades do cenário musical do País.

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Fotos: Mauro Vieira/Festa da Música MC Vesga

Tuta Guedes

Adrielle Gauer

Fenômeno na internet

Furacão platinado

Pop gaúcho

Adriana Biacchi, a repórter Vesga, decidiu investir na carreira musical no ano passado. Ela agora é a MC Vesga, e passou a fazer a sua “cobertura do evento” em cima do palco. A repercussão dos vídeos com as músicas “Ping Pong” e “Tome Love” – cantadas no palco do Centro de Eventos de Canela – já lhe conferiu o status de fenômeno da internet e uma agenda repleta de participações em programas de TV e shows em todo o Brasil. “Adoro que o público cante e dance comigo”, garantiu.

A cantora sertaneja Tuta Guedes seduziu a plateia com seu sucesso “Se Eu te Pego Oh”, que já tem uma série de regravações, e com “O Motivo é Você” – composição feita para envolver os casais. Com sete anos de carreira, a loira natural de Pirassununga (SP) já tem sete CDs gravados e um DVD com participação de Sergio Reis, das duplas Hugo & Thiago e Israel & Rodolfo, além do saxofonista do Kid Abelha, George Israel. “Adoro fazer shows”, destacou.

Adrielle Gauer mostrou em seu segundo ano na Festa da Música que seu talento, música e estilo estão ganhando espaço no cenário pop. O som autoral de “Nada Abalará” foi apresentado em Canela seguido de um cover de “Teenage Dream”, de Katy Perry. A artista de 25 anos já contabiliza dez de carreira. A mais recente novidade é o CD independente “Batendo Asas”, à venda no site da cantora.

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Hugo & Tiago

Apaixonados pelo Sul

Gisa Nunez

Tecnosertanejo Gisa Nunez já experimentou o sabor do sucesso com a música eletrônica. Agora, decidiu investir em sua vocação sertaneja sob orientação do prestigiado compositor Carlos Colla. A nova música de trabalho, “Cê Tá Sabendo”, foi apresentada no Centro de Feiras. A batida marcante pode até mesmo estar inaugurando um novo estilo: o tecnosertanejo. A mineira formada em economia, que largou tudo pela música, assina o hit “Todo Loco”, sucesso entre o público asiático. “Larguei tudo para viver disso. Escolhi a música porque quero ser feliz.”

No palco, Hugo & Tiago incendiaram a plateia com os sucessos “Gaguinho” e “Ninguém Tem Nada com Isso”. Cumpriram a missão assumida por quem adora cantar, principalmente no Sul do País. “Amamos o Sul. Não é conversa”, garantiram. “Desde a primeira vez que pisamos aqui fomos recebidos de uma forma calorosa e respeitosa. O povo gaúcho é muito educado e gentil”, elogiaram. E não negaram que também são admiradores da beleza das mulheres gaúchas. “Ô, mulherada bonita”, brincou Tiago, comemorando a participação em nove Festas da Música.

Sertanejo gaúcho

Desde 2012, Edy & Brian estão juntos na estrada abrindo espaço para a música sertaneja de “raiz gaúcha”. Os primos canelenses partiram do nativismo para o som de origem rural que faz sucesso em todo o Brasil, e com êxito: já gravaram o segundo álbum, “Sou Capaz”. O disco foi lançado na Festa da Música e a resposta do público à novidade foi positiva. Os músicos, que começaram de brincadeira fazendo bailes e festas de aniversário, agora têm agenda de shows no RS e SC. “Nosso trabalho está crescendo”, afirmaram. No show, a animação ficou por conta das músicas “Sou Capaz” e “A Culpa é Sua”, da dupla Henrique & Juliano. Edy & Brian

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Fotos: Mauro Vieira/Festa da Música Péricles

Hellen Caroline

Talento em família

Princesinha do samba

Lucas Morato subiu ao palco para envolver a plateia com “Mundo dos Desencantos” e “Linda Voz” ao lado de um dos ídolos do samba e do pagode, seu pai, Péricles. A união das duas gerações da música foi muito aplaudida. “Me senti honrado por poder fazer parte da festa ao lado de grandes amigos, tão grandes ídolos e ainda mais sabendo que é por uma causa tão nobre”, registrou Morato, ao lembrar que a ação beneficente do show colaborou com instituições de Canela. “Foi minha segunda Festa da Música e adoraria fazer parte das que estão por vir!”, destacou o cantor.

Péricles comemorou sua décima participação no maior encontro da música brasileira. “A Festa Nacional da Música é um evento do qual eu tenho a honra e o prazer de participar. Encontramos artistas renomados do cenário nacional, revemos os ídolos, fazemos novas amizades e, o mais importante, discutimos as novas ideias sobre os caminhos da música brasileira. Sempre que vou a esse encontro, volto renovado e com mais estímulo, mais vontade de lutar pela nossa música.”

Ela não nasceu no samba, mas ama o estilo musical que está revolucionando a sua vida. Assim é Hellen Caroline, apontada hoje como a “princesinha do samba”. A cantora paulista teve a oportunidade de mostrar todo o amor ao ritmo no show. Ela foi recepcionada no palco por um de seus padrinhos artísticos, Péricles, e cantou ao seu lado “Dois Rivais”, uma das músicas do álbum “Feito para Durar”, que o cantor lançou em 2015. A bela sambista também comemorou o sucesso das canções “Príncipe Encantado”, “Minha Verdade” e “De Repente Amor”, que ultrapassou 1 milhão de visualizações no YouTube.

Lucas Morato

Hellen Caroline e Péricles

Uma década de renovações

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Péricles e Lucas Morato


Dodô, vocalista do Pixote

Marcelo Bianchini, vocalista do Atitude Nobre

Leiz, vocalista do TdP

Alegria e descontração

Estreia em grande estilo

Festa de 15 anos

O grupo Pixote mostrou toda a sua alegria e descontração na Festa da Música. Cantando as músicas “Mande um Sinal” e “Insegurança”, os pagodeiros, liderados pelo vocalista Dodô, inspiraram o público a cantar e dançar. “Aqui somos sempre bem-recebidos. É muito bom estar no Sul”, agradeceu Dodô o carinho dos fãs.

Os cinco integrantes do grupo Atitude Nobre fizeram sua estreia na Festa da Música e no Estado, um grande mercado para o samba e o pagode, de acordo com o vocalista Marcelo Bianchini. “Chegamos com força total para emplacar no Sul”, garantiu. No palco eles apresentaram “Acaba Com Essa Solidão”, “Seu Ex” e “Linha de Fogo”, mostrando todo o swing da banda paulista.

A Turma do Pagode comemorou 15 anos de carreira e já planejou para 2016 uma turnê nacional para marcar a nova fase. Em Canela, eles mostraram que os projetos têm sucesso garantido. “Surpresa de Amor” e “Pente e Rala” fizeram o público se divertir, uma marca do grupo nos shows da Festa da Música, evento que eles acompanham há cinco anos. “Gostamos de estar aqui”, destacaram.

Grupo Pixote

Grupo Atitude Nobre

Turma do Pagode

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Fotos: Mauro Vieira/Festa da Música Suel, vocalista do ImaginaSamba

Dilsinho

Vinícius D´Black

Fazendo o bem

Estrela do samba

Sempre especial

Com “Na Alegria ou na Tristeza”, música do álbum “Proposta Indecente”, o ImaginaSamba fez a alegria do público no show. E da lista de sucessos, o grupo escolheu “Retrô” para também empolgar os amantes do samba em Canela, um ponto de encontro de quem gosta e sabe fazer música. “Estamos em nossa segunda Festa da Música. Adoramos a aproximação com a galera do ramo nos três dias em que ficamos juntos na cidade”, registrou o vocalista, Suel. E fazer uma apresentação beneficente também é algo gratificante para os músicos na Festa. “A gente vê esse tipo de evento como uma forma de levar o nosso som para todos os públicos. Quem não tem condições ou não tem idade para assistir tem a oportunidade de conhecer nossa música, e quanto mais pessoas fizerem isso, melhor para o nosso trabalho”, lembrou.

Uma das estrelas de maior ascensão no samba, Dilsinho também marcou presença no Centro de Feiras de Canela. O cantor provocou o delírio dos fãs com as músicas “Já que Você Não Me Quer Mais” e “Vingança” – aquela do clipe com a bela atriz Juliana Paiva. Sucesso nos palcos de todo o Brasil e nas redes sociais, o jovem artista já resumiu como se sente com o crescimento da carreira: “estou vivendo um sonho”.

Vinícius D’Black brilhou no palco e encantou o público com seu estilo marcante. Ele interpretou “Eu Quero Dançar” e “Lembrar de Você”, sucesso na internet com mais de 300 mil views. Desde 2012, ela participa da programação da Festa da Música e garante que todos os anos em que esteve no evento foram importantes. “Este é mais um ano especial aqui. É mais uma oportunidade de fazer música e encontrar os amigos”, comemorou.

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Grupo ImaginaSamba


MC Jean Paul

MC Duduzinho

Mica

Funk melody

“Batidão” em alta

Novo sucesso pop

O romantismo e a energia positiva de MC Jean Paul, um ícone do funk melody, levaram ao delírio a plateia. Pelo quinto ano consecutivo na Festa da Música, o funkeiro descendente de japoneses, que nasceu em São Paulo, mas criou raízes em Porto Alegre ainda nos anos 1990 como DJ, fez o ginásio cantar seus sucessos com toda a força. “É maravilhoso. Você pode trocar experiências com vários artistas e estar próximo ao público”, elogiou. “Toca DJ”, “Summer Funk” e “Noite de Verão” foram os hits que puderam ser conferidos em mais um show do MC em Canela.

Com uma sequência frenética de “batidões”, como “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, “Amar Direito”, “Toda Trabalhada na Beleza”, “Tô pro Crime” e “O Mundo é Nosso”, MC Duduzinho testou o fôlego dos fãs. Mas ninguém perdeu o ritmo. “É a minha primeira Festa da Música. E eu chegando aqui neste evento, e sendo reconhecido de ‘A a Z’ pelo alfabeto da música, desde o sertanejo, samba, pagode, rock e funk, é uma grande emoção”, confessou.

Com um rosto angelical e jeito de menina, Mica estreou nos palcos do Sul do Brasil mostrando seu talento em Canela. A carioca que está dominando o cenário pop nacional interpretou as músicas “Nada Além de Mim”, “Deixa Rolar” e uma versão do hit internacional “All AboutThat Bass” encantando o público, que ela tratou com toda a intimidade já falando “bah!” “Show beneficente é importante, porque todos podem ir. E as pessoas precisam de diversão”, defendeu.

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Fotos: Jackson Ciceri/Festa da Música

Luzes da ribalta Transmissão ao vivo

Transmissão da noite de homenagens

Transmissão da TVCOM

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maior encontro da música brasileira coloca sob os holofotes a arte mais popular do Brasil. Para que as luzes brilhem Brasil afora, um grupo de profissionais trabalha 24 horas por dia para levar a informação até você. Na Festa da Música 2015, dezenas de jornalistas fizeram entrevistas, mostraram os bastidores, os shows, as novidades e o que rola no maior encontro da música brasileira.


Robertinho de Recife no estúdio montado pela Music Box Brazil Michael Paz/Festa da Música

A TVE estreou em 2015 na Festa Nacional da Música. Foram exibidos para Porto Alegre e todo o interior do Estado as homenagens e shows programados para dois dias de evento. A equipe de jornalismo também produziu entrevistas e conteúdo para programas como Radar e Estação Cultura.

Fotos Mauro Vieira/Festa da Música

Com transmissão ao vivo para todo o País, o canal Box Brazil, especializado em música, exibiu as duas primeiras noites de shows e a entrega dos troféus a personalidades da MPB. O canal também divulgou, ao longo da programação, boletins com entrevistas e momentos marcantes da festa no quadro chamado Music Drops. A emissora ainda gravou algumas canjas com os cantores e as bandas, que tanto foram ao ar no Music Drops quanto no programa Jam Session.

Jackson Ciceri/Festa da Música

O jornalista Guaracy Andrade fez entrevistas com artistas para o programa que apresenta no canal 11 da Net, o “Programa Guaracy Andrade”. Vice-presidente da Rede Pampa de Comunicação, o jornalista Paulo Sergio Pinto gravou uma edição do “Pampa Boa Noite” direto de Canela, com a participação de artistas, do organizador da Festa, Fernando Vieira, e da superintendente do Ecad, Gloria Braga.

Repórter Dalva Bavaresco, da TVE, entrevista Sandamí

Pampa Boa Noite: Paulo Sérgio Pinto conversou com Fernandinho Vieira, Gloria Braga, Sergio Reis e Fernando Vieira

Guaracy Andrade entrevista Rosemary

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Homenageado na Festa da Música, o jornalista e crítico musical de Zero Hora Juarez Fonseca não parou de trabalhar. Atento às novidades, ele acompanhou de perto a audição da cantora Fafá de Belém sobre o novo disco. O jornalista Roger Lerina, também de Zero Hora, acompanhou os shows e o movimento dos artistas. Participantes assíduos do evento, o jornal Diário Gaúcho enviou o repórter José Augusto Barros para a cobertura do evento. Equipes de jornalistas locais também marcaram presença, com a participação dos jornais Nova Época, Gramado em Foco, Jornal Integração, Correio Gramadense, Nossa Terra, entre outros, além da revista Star Show, especializada em música e show business. As fotógrafas Graça Paes e Rosa Marcondes fizeram muitos cliques, registrando momentos importantes e divertidos do maior encontro da música brasileira. E como música é a matéria-prima das rádios, a Festa Nacional da Música recebeu muitas emissoras que divulgaram a arte mais popular do Brasil.

Rádio Popular de Teutônia entrevista Dodô

Mariah Schmidt, social media da Publibrand

Cris Barth conduziu a noite de shows

Graça Paes/Photo Rio News

Imprensa cobrindo os shows do Salão Implúvio

Juarez Fonseca com Fafá de Belém

Graça Paes, da Photo Rio News

Rosa Marcondes

Rádio Acústica

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Fafá de Belém em entrevista à TV Inter

Fotos Jackson Ciceri/Festa da Música

Vera Armando apresentou a Noite de Homenagens

Michael Paz/Festa da Música

O “Pânico na Band” enviou os humoristas Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo, e Guilherme Santana para aprontar todas com os artistas. Vesgo diz que já perdeu as contas de quantas vezes participou da Festa da Música. “Vejo essa mistura de vários artistas e acho muito legal”, disse Vesgo.

Rosa Marcondes/divulgação

A noite de abertura teve apresentação da jornalista Vera Armando. Ela conduziu com elegância e competência a cerimônia de homenagens na segunda-feira, dia 18. No dia seguinte, a condução dos shows no salão Implúvio ficou sob a responsabilidade da jornalista Cris Barth.


Fotos Mauro Vieira/Festa da Música

A TVCOM, atualmente Octo, do grupo RBS, voltou este ano à Festa da Música. A emissora transmitiu ao vivo para todo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina a cerimônia de abertura e homenagens na noite de 19 de outubro, e os shows musicais do dia 20, ambos no Hotel Laje de Pedra, em Canela. A RBSTV Caxias também marcou presença, preparando matérias para os programas locais. Além dos shows ao vivo e matérias, o canal registrou os momentos de batepapo e descontração com artistas, além de gravar entrevistas para o programa Galpão Crioulo, comando por Neto Fagundes.

Graça Paes/Photo Rio News

André Midani, Fafá de Belém e Ivan Lins em entrevista para a TVCOM

Padre Alessandro Campos e Damares participaram de programação da TVCOM TVCOM em cobertura do Gre-Nal dos Artistas

Bastidores do programa Galpão Crioulo, da RBS TV

Jackson Ciceri/Festa da Música

Repórter Lucio Brancato entrevista Sergio Reis

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Graça Paes/Photo Rio News

Grêmio

quebra hegemonia colorada no Gre-Nal dos Artistas Jogo eletrizante no Esporte Clube Serrano marcou a quebra da invencibilidade do time colorado, vitorioso nas últimas duas edições da Festa Nacional da Música

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ma chuva torrencial caiu sobre o Estádio Serrano, em Canela, no dia do Gre-Nal dos Artistas. O mau tempo, porém, não desanimou as torcidas que marcaram presença no jogo beneficente, em que o ingresso foi a doação de 1 quilo de alimento não perecível. Além de ajudar, o público pôde conferir a quebra de uma hegemonia colorada. O Grêmio obteve uma vitória de 6 a 1, interrompendo a sequência de vitórias do Internacional, que não perdia uma partida há dois anos. FNM|249


Fotos Micheal Paz/Festa da Música

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Foto oficial da equipe gremista Graça Paes/Photo Rio News

Graça Paes/Photo Rio News

epois de posarem para as fotos oficiais dos times ao lado das musas de cada um dos clubes – Estefani Santiago e Sabrina Hendler, do Inter, e Julia Lemos e Jessica Ribeiro, do Grêmio –, a bola começou a rolar. E já nos primeiros instantes da partida, o goleiro colorado, Ney, do grupo Zueira, pegou a bola com a mão, permitindo ao adversário a batida de uma falta. A primeira chance de gol foi perdida por Ivo Meirelles.

Vitória gremista acabou com a hegemonia colorada

O colorado reagiu. Mas não foi o suficiente. Com 5 minutos, uma falha de Dilsinho deu passagem para o primeiro gol do Grêmio. O segundo e o terceiro gol vieram antes dos 20 minutos de partida. No meio dessa escalada frenética dos adversários, o colorado teve a chance de bater um pênalti com André Marinho, mas o goleiro tricolor impediu a entrada da bola. Mas em uma escapada rápida, Pinha, ex-Exaltasamba, marcou o gol de honra do Internacional.

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Pinha marcou o gol de honra do Inter

O desconto não reverteu o quadro em favor do Internacional. Apenas fortaleceu uma ideia: o gol colorado deveria ficar mais protegido. A solução foi transformar o ex-atacante colorado Fabiano no defensor das redes de seu time. Entretanto, o quarto gol veio aos 31 minutos da primeira fase, soterrando a esperança de uma vitória vermelha. Time gremista comemora resultado

O “professor” que orientou a estratégia gremista foi Ivo Meirelles. Em diversos lances, o músico assumiu o papel de treinador, comandando a vitória tricolor. Trio de arbitragem não registrou falta grave, afinal, o mais importante é a solidariedade


Fotos Micheal Paz/Festa da Música

Ônibus oficiais cedidos pelos consulados dos dois clubes

Paulo Sérgio Pinto, narrador Hugo de la Roque e Ivo Meirelles

No segundo tempo, aconteceu o esperado. Só o Grêmio marcou, apesar de o adversário ter lutado bravamente diante da desvantagem em gols e do campo encharcado. O último gol da partida foi assinado por Rafa Machado, da Chimarruts, que, ao lado de Matheus, Felipe, Willian e Jeferson, foi uma das estrelas da festa gremista. “É uma brincadeira que levamos a sério, afinal, Gre-Nal é Gre-Nal”, destacou o cantor Juninho Araújo.

Graça Paes/Photo Rio News

Graça Paes/Photo Rio News

Foto oficial da equipe colorada

Chuva que caiu no início da partida não desanimou os jogadores

Sem reclamações

Pedidos de pênaltis à parte, o trio de arbitragem, composto por Diego Gall, Ricardo Heidrich e Jair Vangrafien, não registrou nenhuma expulsão ou teve de enfrentar algum atrito com os jogadores, afinal, o mais importante era o esporte e a solidariedade. André Marinho e Nego Joe disputam a bola

Os times

Entre a escalação inicial e substituições, passaram pelo time colorado artistas como Elias (Zueira), Ney (Zueira), André Marinho (ex-Cupim na Mesa), Marcelinho (Turma do Pagode), Vavo (Fresno), Pinha (ex-Exaltasamba), Dilsinho, Filé (Turma do Pagode), Felipe (Jeito Moleque), Leiz (Turma do Pagode) e Bruno (Sorriso Maroto). Assim, o Inter manteve o título de “time dos pagodeiros”, e ainda contou com a presença de um ex-profissional dos gramados: Fabiano. Já o Grêmio contou com nomes como Nego (Nego Joe), Rafa Machado (Chimarruts), Lucas (Fresno), Alessandro Turra (Brilha Som) e Ivo Meirelles, além de jogadores profissionais que marcaram a diversidade do time tricolor. FNM|251


Mauro Vieira/Festa da Música

Graça Paes/Photo Rio News

Diversão na narração

A narração do locutor Hugo La Roque foi uma atração à parte no Gre-Nal dos Artistas. Divertido e irreverente, o comunicador narrou todos os lances, tecendo comentários sobre a forma física dos jogadores e elogios às beldades presentes. A descontração de La Roque contrastou com a discrição do vice-presidente da Rede Pampa de Comunicação, Paulo Sérgio Pinto, que acompanhou a partida ao seu lado, impressionado com o massacre tricolor.

Churrasco à beira do campo

Como uma “pelada” entre amigos, o Gre-Nal dos Artistas não poderia descartar um bom churrasco no intervalo da partida. Os “prazeres da carne” foram oferecidos pela churrascaria Rei do Cordeiro, que destacou uma equipe de assadores para atender ao evento.

Equipe gremista comemora a vitória no saguão do Hotel Laje de Pedra

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Musas do ínter, Estefani Santiago e Sabrina Hendler, e do Grêmio, Julia Lemos e Jessica Ribeiro

A revanche

Inconformado com a derrota, André Marinho usou o microfone de Hugo La Roque para deixar clara sua revolta com o resultado. Ele alegou que o Grêmio, ao convidar vários jogadores profissionais para participar da disputa, impôs uma partida desigual. “Os artistas da bola não estão no time do Grêmio e, sim, profissionais do futebol”, alegou. Ao que Ivo Meirelles respondeu com o grito de guerra “Uhu, aha! A vingança é nossa!” e “Pode chorar”, expressão que faz parte da letra da música “Vou Festejar”. Protesto à parte, ficou no ar a promessa de que a briga pela vitória na próxima edição do Gre-Nal da Festa da Música vai ser eletrizante.

Consulados

Os Consulados do Grêmio e do Inter são os responsáveis pela cessão dos ônibus dos times, das bandeiras, das torcidas, dos uniformes que cada artista usou para defender os clubes gaúchos, enfim, por toda a infraestrutura necessária para a realização do Gre-Nal. Na edição de 2015, o diretor regional consular do Internacional, Alberi Dalateia, e o cônsul adjunto do Grêmio em Canela, Ricardo Silvestrim, foram os destacados para ficar à frente desse processo.

Satisfeitos com o jogo beneficente, eles observaram que o Gre-Nal dos artistas cumpriu a função de divertir o público e mobilizar a comunidade para participar de uma campanha solidária, por meio da doação de alimentos não perecíveis para assistir ao jogo. “O melhor dessa ação é que a população tem acesso aos artistas. Além disso, o que foi arrecadado beneficia a comunidade”, celebrou Dalateia. “O Gre-Nal dos Artistas é muito importante para Canela. É um evento beneficente em que as pessoas colaboram com a própria cidade”, reforçou Silvestrim.

Jackson Ciceri/Festa da Música

Equipe da Rei do Cordeiro providenciou o tradicional churrasco do jogo

Fafá de Belém recebe a camisa personalizada do Internacional das mãos do diretor de relacionamento social, Álvaro Bueno, e do diretor regional dos consulados da Serra, Alberi Dalatéia.


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Jackson Ciceri/Festa da Música

A festa nunca termina

Jam Sessions dão espaço para novas parcerias e mais música no Laje de Pedra

A

s noites da Festa Nacional da Música reservaram surpresas. Todos os ritmos, tons, arranjos, timbres e batidas se espalharam pelo Hotel Laje de Pedra, permitindo a criação de novas parcerias, a releitura de sucessos e a reunião de antigos e novos amigos. Além de, claro, muito som para dançar e cantar até o raiar do sol durante três noites.

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Fotos Michael Paz/Festa da Música

Rodrigo Santos e Jorge Flores, da Dinamite Joe

Nando Cordel e Ivan Lins

“É o encontro mais importante de música que tem no Brasil”, garantiu Ivan Lins, que tocou violão ao lado de Sá, da dupla Sá & Guarabyra. Sá reforçou o quanto gosta de encontrar os colegas: “É fantástico”. “Que bom que a minha voz tá acabando de tanto conversar [e cantar] com os amigos”, afirmou.

Jeff, que desponta com um dos grandes talentos do pop rock nacional – e até folk – também mostrou seu talento ao lado dos ídolos que circulavam por todos os ambientes da festa, sentindo-se “já entre amigos”, como registrou nas redes sociais. Entre os novos parceiros do grande vencedor do programa “Breakout Brasil”, da MTV, no ano passado, está Lucas Silveira, da banda Fresno. Lucas é o produtor do segundo álbum do músico porto-alegrense, que está no início da carreira. Até o cantor piauiense Marlon Dreher, conhecido pelo estilo romântico, voou nas asas do rock e do pop nas jam sessions. Graziela Dias, da banda Melody, também entrou no clima reunindo sua banda no palco. Douglas, Juliano (bateria) e Jeff

Lucas Silveira, da banda Fresno, e Fabio Brasil, do Detonatas Vinícius D’Black e Nando Cordel

Encontros de mestres à parte, a união de diferentes gerações também foi celebrada nos palcos das Jam Sessions. Nando Cordel e Vinícius D’Black protagonizaram um desses momentos, unindo pop e MPB em instantes de magia, em que cordas de violão e teclas de piano foram afinadas para a mesma melodia. O baixista Rodrigo Santos, do Barão Vermelho, e Jorge Flores, da Dinamite Joe, fizeram com que duas fases do rock nacional se transformassem em uma só, atemporal, cantando hits nacionais e internacionais. Nessa vibe, George Israel, do Kid Abelha, mostrou toda a sua paixão pelo rock em performances empolgantes. O limite entre palco e plateia foi totalmente ignorado pelo músico, que dançou e tocou sax, eletrizando o público.

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Graziela Dias


O espaço que foi tomado pelo samba permaneceu lotado durante as três noites de agito musical. Talentos do Sul se misturaram com ídolos nacionais com total afinação. Os integrantes do Zueira e do Bom Gosto se reuniram com o violonista de prestígio mundial Robson Miguel, unindo samba, pagode e música clássica com muita alegria.

Denilson (Zueira ), Paulista e Beça (Bom Gosto) Dodô, do grupo Pixote, e Serginho Moah, do Papas da Língua

O samba até fez par com o sertanejo e com o pop. Dodô, vocalista do grupo Pixote, decidiu mostrar seus múltiplos talentos, e se apresentou no palco sertanejo ao lado de Michael Júnior, Nego Joe e Serginho Moah em um encontro divertido e repleto de performances inusitadas. Após imitar todos os maneirismos dos cantores do estilo, Dodô também dançou. Um talento completo.

Grupo do Bola, Saimon, Bola, Neni e Filé, da Turma do Pagode

Teve soul, black music, reggae, hip hop, pop, rock, e o samba do Grupo do Bola também se juntou com o pagode do Jeito Moleque. Já a Turma do Pagode dividiu o palco com os músicos do Atitude Nobre, trazendo o talento dos paulistas de fazer samba nos pampas. Michael Júnior e Dodô (Pixote)

Gui Santana, do Pânico na Band, no Palco Sertanejo

Falando em alegria, Gui Santana, do “Pânico na Band”, não perdeu a oportunidade de mostrar seu talento como comediante e como cantor na festa, exibindo sua paixão pelo estilo sertanejo. Fazendo caras e bocas, mas também cantando com empolgação, arrancou mais aplausos do que risos do público.

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Fotos Michael Paz/Festa da Música

Rosa Marcondes/Divulgação

Mantendo o mesmo estilo, a dupla Hugo & Tiago se dividiu e foi experimentar outras parcerias. Tiago cantou acompanhado por Kiko, do KLB, no piano, e Hugo subiu ao palco para conferir o talento de Michael Júnior. O jovem também atraiu Maria Cecília & Rodolfo para os microfones, mostrando o lado mais dançante do sertanejo universitário.

Edu & Rapha

Rosa Marcondes/Divulgação

Hugo, Kiko e Kauan Rodrigues

Os sertanejos dos pampas do Brasil marcaram presença. Edu & Rapha, conhecidos por ser a primeira dupla sertaneja do Sul do Brasil a tocar no Brazilian Day, em Nova York (EUA), levaram ao palco da Festa Nacional da Música a sua mescla de canções consagradas do sertanejo de raiz com composições autorais.

Kiko e Tiago

Oswaldir & Carlos Magrão com Daniel Torres

Durante as jam sessions também foi reservado o espaço para a música nativista gaúcha nas vozes de Oswaldir & Carlos Magrão que se juntaram a Daniel Torres. Os belos versos sobre as raízes interioranas do povo do Sul do Brasil despertaram a paixão de seu público cativo. Maria Cecília & Rodolfo no Palco Sertanejo George Israel , Marlon Dreher e Rodrigo Santos

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Landinho


Mauro Vieira/Festa da Música Gisa Nunez mobilizou uma roda de violeiros

O funk impôs sua força, e pediu passagem para enlouquecer a galera da festa. Mr. Catra e MC Duduzinho comprovaram o sucesso do batidão fazendo todo mundo ir até o chão e cantar o mais alto possível uma série de versos proibidões. Adriel, da banda Pollo, trouxe e seu rap para o baile, completando a fórmula do combustível que incendiou por horas o bar do Hotel Laje de Pedra e colocou para cantar e dançar astros de todas as vertentes musicais.

Contra a maré, Gisa Nunez ignorou a escuridão da madrugada e mobilizou uma roda de violeiros, acompanhada por um acordeon para cantar já com o sol despontando. Mas com total animação, esticando a duração de uma festa que parecia não ter fim – para a sorte dos amantes da música. Fotos Michael Paz/Festa da Música

Mr. Catra nas jams sessions

Del Sarto com D’Black, Rodrigo e Diogo Melim, da banda Hamawê

Juninho Araújo, Del Sarto, George Israel e Ivo Meirelles

Del Sarto foi quem reuniu a maior variedade de estilos da MPB a sua volta para cantar de tudo um pouco. Ivo Meirelles, George Israel, Vinícius D’Black, Juninho Araújo, os irmãos Melin [Gabriela, Rodrigo e Diogo], os integrantes da Dr. Hank – a grande revelação do cenário musical da Serra Gaúcha e do RS no momento – e outros artistas, se revezaram para fazer parte da roda. Esse “coletivo musical” se desvencilhou dos palcos das jam sessions, fazendo uma reunião completamente informal, original e de altíssimo astral no hall de entrada do hotel.

Hugo la Roque

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1 - Áurea Pinto e Paulo Sérgio Pinto 2 - Denise Marques e Jerry Adriani 3 - Fafá de Belém e Antonella Vieira 4 - Graça Paes e Nadja Pessoa 5 - José Paulo Cairoli e Fernando Vieira 6 - Diogo Melim, Rodrigo Melim, Gabriela Melim, Gabriela Lucero, Ivo Meirelles, Fernandinho Vieira e João Gabriel 7 - André Marinho e Dodô, do Pixote 8 - Viviane Rodrigues, Tuta Guedes, Thácio Silva, Collette Pirró, Ângela Bavini e Sergio Reis 9 – Bernadete Tissot, Terezinha Machado, Jerry Adriani, Áurea Pinto e Eliane Laitano 10 - Rafael Balle, Helene Hoy e Mariana Dedavid 11 - Adriana Ramos e Leandro de Oliveira 12 - Bruno Mad, Thomaz Verardi, Danieli Corrêa e JJ 260|FNM


1 - Del Sarto e Nando Cordel 2 – Collette, Juliane, Carlinhos e Zanza 1 - Del Sarto e Nando Cordel 3 Claudio, Sérgio Loroza, eLie2 -–Luiz Collette, Juliane, Carlinhos bert, Jerry Adriani e Rama Zanza 4 Melo, MariaLoroza, Cecilia,Lie3 - Leandro Luiz Claudio, Sérgio Rodolfo e Fernando Santos bert, Jerry Adriani e Rama 5 Adriani e George Israel 4 - Jerry Leandro Melo, Maria Cecilia, 6 Carol Verissimo e Hellen Rodolfo e Fernando Santos Caroline 7 Marinho, Mr. Catra e Lucas 5 - André Jerry Adriani e George Israel Morato 6 - Carol Verissimo e Hellen Caroline 8 e Danielli Silvae Lucas 7 - Victor André Hugo Marinho, Mr. Catra 9 – Nando Cordel, Nédio, Sergio Reis Morato e Péricles 8 - Victor Hugo e Danielli Silva 10 Laura Deves Serginho Moah 9 –-Nando Cordel,e Nédio, Sergio Reis 11 Cristia Luceiro, Vanessa Antue Péricles nes, Vanessa Teixeira e Mônica Dias 10 - Laura Deves e Serginho Moah 12 Paola Nottolini Ferrari e Felipe 11 Cristia Luceiro, Vanessa AntuSaad, do JeitoTeixeira Moleque nes, Vanessa e Mônica Dias 12 - Paola Nottolini Ferrari e Felipe Saad, do Jeito Moleque

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1 – Mariana Vargas e Fabiana Vasconcelos 2 - Vanessa Antunes e Luiz Marenco 3 – Fernandinho, Fernando, Antonella e Manoela Vieira 4 - Felipe Mafioletti, Giseli Mafioletti e Fernando Vieira 5 – George Israel, Leo Gandelman, Carlinhos e Frederico Israel 6 - Padre Alessandro Campos, Vivi Freitas, Geraldo Guimarães e Milce de Castro 7 - Fernandinho Vieira e Manoela Vieira 8 - Rosi Celes, Viviane Rodrigues, Nando Cordel e Collette Pirró 9 – Fernando Vieira, Sergio Reis, Ângela Bavini e Antonella Vieira 10 – Manoela Vieira e Carlinhos 11 - Áurea Pinto e Terezinha Machado 12 - Grupo do Bola 262|FNM


1 - Ivan Lins, Joรฃo Carlos e Miguel 2 - Nego Joe e Pati Fontana 3 - Eber, Danilo, Fabio Augusto e Nenrod Adiel 4 - Rafael Lima, Paulo Massadas, Sรก, Gisa Nunez, Nando Cordel, Marcos Sabino e Denise Marques 5 - Debora Feijรณ e Julia Martins 6 - Daiane Oliveira, Alessandra Santos, Ricardo Santos, Zanza, Mariane Silva, Simone Mageli e Cris Sfair 7 - Gustavo Victorino e Claudia Kovaski 8 - Joel Marques, Fernando Vieira e Oswaldir 9 - Marina Lima e Angela Johansen 10 - Leandra Wichmann, Vianei Kaiser e Lisi Campana 11 - Tuta Guedes, Anselmo Costa, Fernando Vieira e Sabiรก 12 - Gisa Nunez e Denise Marques

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1 - Debora Feijó, Tico Santa Cruz, Julia Martins, Rodrigo Vesgo e Paola Ferrari. 2 - Vera Armando 3 - Nadja Pessoa 4 - Claudivan Santiago e Joel Marques 5 – Maira Figueiredo 6 – Rosi Celes, Paulo Júnior, Ju Coimbra, Collette Pirró, Paula Santos e Carlinhos 7 - Vanessa Antunes e Wilson Paim 8 - Renan Santos, Bruno Santos, Paula Santos, Ricardo Santos, Gisa Nunez e Rafael Santos 9 - Paula Martins, Renate Melgar e Karen Espinosa 10 - Julia Martins 11 - Viviane Rodrigues e Claudio Melo 12 – Fafá de Belém, José Milton e Sergio Reis

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1 – Rafaella, Jair e Silvia Kobe 2 – Natália e Jéssica 3 – Gabriel, O Pensador e Pati Fontana 4 – Gustavo, Lidiane, Ramão, Rodrigo, Gabriela e Bruna 5 - Estafane Santiago 6 – Luci Trindade e Fernanda Caldasso 7 – Fernando Vieira, Manoela Vieira, Felipe Laitano e Gabriella Laitano 8 – Luanda, Louinnie, Andressa Félix e Desmond 9 - Meninas da UBC: Angela, Danieli e Cléo 10 – Ivo Meirelles, Gisa Nunez, San, Paulo Massadas e Sandra Rios 11 – Isadora Abdala, Bernando Bacin, Gabriel Costa e Sthefany Barbosa 12 – Paulinho Bom Ambiente e Leo Gandelman FNM|265


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