Coletânea de Contos Infantis Sesc (2022)

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Coletânea Sesc de Contos Infantis

Curitiba, 2022

Serviço Social do Comércio – Sesc PR

Catalogação na Fonte: Sesc Paraná - Gerência de Cultura

CRIANÇAS QUE ESCREVEM O FUTURO

O ato de escrever é um dos exercícios mais ricos para o desenvolvimento de uma criança. Seus benefícios pedagógicos são amplamente reconhecidos, porque impulsionam a criatividade, que por sua vez estimula o cérebro.

É sempre enriquecedor quando vemos o resultado que a escrita proporciona. Claro que a importância dos professores e professoras é essencial, até para mostrar aos alunos a relação entre ler e escrever.

Em um depoimento para a Revista Fecomércio, o reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto, declarou que foi um professor quem descobriu sua vocação para escrever. O mestre olhou a redação que o futuro escritor tinha feito e comentou que tinha gostado muito, porque ele usou a palavra vasculhar.

C694 Coletânea Sesc de Contos Infantis/ilustração de Gabriela Almeida

Schmidt; curadoria de Lucas Buchile Pinto.

Curitiba: Sesc PR, 2022.

70 p.: il. color.

ISBN 978-65-86651-14-0

É que esse não é um termo que faça parte do vocabulário infantil. O fato de Miguel ter usado a palavra significava que ele lia – depois, reproduzia o resultado da leitura nas redações que produzia no colégio.

Por isso, ficamos extremamente gratificados com os resultados do programa Sesc de Contos Infantis. Não podemos esquecer que o Paraná é conhecido pelos escritores e escritoras que revela. Em todos os gêneros da literatura, nosso estado se destaca.

1. Contos infantis. 2. Literatura Infantojuvenil. I. Sesc PR. II.

Schmidt, Gabriela Almeida. III Pinto, Lucas Buchile. IV. Título.

CDD – 028.5

Amanhã os jovens escritores de hoje estarão fazendo tanto sucesso quanto Miguel Sanches Neto, Laurentino Gomes, Adélia Maria Woellner e outros autores que são atrações para os leitores.

Aos novos talentos que aqui surgem, muito obrigado por este presente. Vocês representam o futuro da literatura paranaense e brasileira.

Isabel Cristina Bizerra da Silva – CRB9/1258

PASSAPORTE POÉTICO

Recordo-me que em uma das edições da Semana Literária Sesc Paraná que, em Curitiba, realizamos com a Feira do Livro da Editora UFPR, a escritora Glória Kirinus embevecida contava sua experiência com o universo literário e como a literatura traz vitalidade e serve como um passaporte poético ao leitor. Toda esta vivacidade poética é alimentada pela curiosidade.

Este material que chega até você é resultado do compromisso que o Sesc Paraná tem com a produção literária estadual, com a ampliação do imaginário infantil, com o desenvolvimento da leitura desde a tenra infância, com o despertar da criatividade e com o conhecimento.

Dez autores aceitaram o desafio de alargarem o olhar para os mais diversos elementos que formam a cultura do nosso estado e produzirem contos voltados ao público infantil. Pela literatura, o Sesc Paraná convida você a conhecer e viajar pelo nosso estado, ampliar o conhecimento sobre sua paisagem, seu povo, cidades, costumes, tradições, e a perceber que o Paraná, nossa cultura e identidade vão muito além do pinhão, da ervamate e da gralha-azul. Somos multiculturais.

Boa leitura e boa viagem pelo imaginário literário! Emerson Sextos Diretor

AS CRIANÇAS AZUIS Lílian Ávila 13 A MENINA TREVOSA Marcela Rodrigues 19 COLOMBINAS Marcia Paganini 25 O BEM-TE-VI ENCANTADO Maria Cristina Madeira 30 UM MISTÉRIO NO FAXINAL Maria Magdalena Nerone 36 BRINCANTES Narazinga 42 GIGANTINHO Rafael Ginane Bezerra 49 A CASA E O PINHEIRO Maia Piva 55 A CURIOSIDADE DO KURUMIM Tiago Nhandewa 61 A CHUVA DE VERÃO E MUITA IMAGINAÇÃO Ney Arboleya 66
Sumário

LÍLIAN ÁVILA

Formada em Ciências Sociais pela UFPR e em Artes Plásticas pela Unespar, a autora iniciou suas atividades na área Editorial em 2010 como ilustradora profissional, em projetos didáticos e literários para o ensino Fundamental. Seu primeiro livro infantil “Diário do Álvim: mamãe casou de novo” (Editora Terra Sul) foi aprovado no PNLD Literário 2018 (Ministério da Educação) e distribuído na rede de ensino público do Brasil. Em 2021, pela Editora Falare, publicou “Quem tem medo do Lobo Mau”, “O Telescópio Amarelo”, “Carolina e seus Sapatos” e “Olha o Bicho”. Seja como autora ou ilustradora, seu trabalho tem como foco o público infantojuvenil, ao qual vem se dedicando desde o início de sua carreira.

As crianças azuis

LÍLIAN ÁVILA

Começou

em Curitiba, bem debaixo dos narizes de todo mundo, inclusive das araucárias e das gralhas. Primeiro foi a ponta do dedinho, depois uma pinta na orelha, seguida por uma manchinha no tornozelo. Nada demais, pensaram pais, tios, avós, professores, provavelmente brincavam com tinta, pintando uma gralha-azul. Mas então aquilo foi crescendo, crescendo até as crianças ficarem completamente azuis! E foi se espalhando: chegou em Pato Branco, alcançou Foz do Iguaçu, passou por Umuarama e se estendeu além de Maringá. Até em Jardim Olinda, tão pequenina, a coisa azulou. E de lá para o mundo foi um pulo, e também um susto! Parisienses, pasmos à janela, murmuravam: Tout bleu!

Aparvalhados, governos mundiais organizaram um congresso em Curitiba para discutir a situação: cientistas, educadores, psicólogos, políticos, palpiteiros de plantão, todos chamados a opinar sobre aquele misterioso e inexplicável acontecimento. Foi um tal de cruzar dados, apresentar fatos, levantar hipóteses, e nada... Ouvi dizer que saiu até briga lá pelas tantas (juram que um sapato voou na direção de um nariz distraído, mas não tenho provas). Só concordaram em uma coisa: fazer tudo para que as crianças se sentissem felizes com sua nova cor.

E assim, o jeito foi se adaptar. Se as crianças agora eram azuis, que azuis ficassem. Ponto. E se a questão era fazer as crianças se sentirem confortáveis sob sua nova pele, o azul seria, de agora em diante, a cor da moda. Para tudo, tudo mesmo: de edifícios a brinquedos, passando por salgadinhos e chinelos de

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dedo. Tudo azul para um mundo azul! Eis o novo lema para a nova realidade (as araucárias torceram os narizes, já as gralhas exultaram de alegria).

E aos poucos o lema foi se tornando real, igualando tudo: saberes e fazeres. As crianças tornaram-se pequenos robozinhos, vivendo tudo igual todos os dias. E também os adultos. E também os bichos. E também as plantas. Tudo imerso num azul largo, quieto e profundo. E tedioso. E o tédio, que também era azul, só cantava Blues. Pobre mundo, agora sempre o mesmo: redondo e chato (até as gralhas acabaram melancólicas, invisíveis na monotonia).

O tempo passou e veio o cansaço. Ninguém mais aguentava aquele estado de coisas, era preciso mudar. Mas como? Um novo congresso! Porém, mergulhados no azul, os cérebros tinham ficado lentos e as ideias embaralhadas. Foi preciso algum esforço para alguém se lembrar de uma filósofa que vivia lá pelas bandas de Morretes, subindo a Serra do Mar, no meio da Mata Atlântica e que, segundo diziam, era muito sábia. Talvez ela tivesse a solução. Não custava perguntar...

Foi eleita uma comitiva de notáveis para visitar a tal filósofa: uma renomada cientista, um grande médico, uma famosa psicóloga, um conhecido político, uma consagrada educadora e um respeitado teólogo. Juntos, embarcaram numa van azul e tocaram para a Estrada da Graciosa. Depois de algum tempo jogados de lá pra cá e de cá pra lá a cada curva (a psicóloga ficou até enjoada), desceram num ponto remoto perto da serra. Lá subiram em burricos azuis e começaram uma demorada viagem por trilhas inóspitas, azulando mata a dentro.

Horas depois apearam num pequeno sítio cercado de vegetação colorida (aquele era o único pedaço de mundo original que restara) e meio aturdidos entre tantos tons e semitons (falta de costume), tocaram a campainha. Uma senhora de vestido amarelo e chapéu violeta os atendeu com um largo sorriso

e ouviu com atenção o estranho problema que o mundo atravessava (não tinha TV no sítio). Terminado o relato ela soltou um assobio, encarou a comitiva por trás dos óculos redondos e pediu três dias para pensar sobre o assunto. Todos concordaram e acamparam ali perto, debaixo de uma grande araucária. Findo o prazo, ela os chamou de volta e apresentou a solução: as crianças deveriam, todos os dias, fazer uma coisa diferente. Os membros da comitiva, acostumados a muitas palavras, entreolharam-se surpresos: “só isso?” Mas não discutiram. Agradeceram e retornaram a Curitiba, entregando ao mundo a solução apresentada. Sobrancelhas ergueram-se perplexas (inclusive das araucárias e das gralhas), mas pelo sim pelo não, resolveram tentar. E dia após dia (depois de uma certa dificuldade, por terem perdido o costume do novo), as crianças começaram invencionices para reinventar o cotidiano: rabiscar poemas em bolhas de sabão, inventar línguas inexistentes, pintar estrelas no vento, pular amarelinha de trás para frente, e o que mais desse na telha. No começo, nada aconteceu. Mas eis que um dia, assim de repente, viram surgir uma manchinha na ponta do nariz da Silvinha, outra na orelha do Carlinhos, duas no braço do Luís, alguns cachinhos negros no Pablo. O azul finalmente cedia espaço e as crianças voltavam a ser como eram, policromáticas e novidadeiras. E logo, logo todo o resto.

E onde tudo começou, também recomeçou. De Curitiba até o mundo inteiro, passando por Pato Branco, Foz do Iguaçu, Umuarama, Maringá e, é claro, Jardim Olinda, comemorações foram ouvidas (inclusive das araucárias e das gralhas). Em Paris, às janelas, gritos e saudações: Tout coloré! E o mundo, ainda que bem redondo, deixou de lado a chatice e se vestiu de alegria. E a alegria, que era colorida, compôs um samba e foi desfilar na avenida.

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MARCELA RODRIGUES

Nascida em Cianorte – PR, em 1994, mora em Paranavaí desde 2001. Professora, formada em Letras pela Unespar e mestre em Ensino pela mesma instituição. Acumula seis prêmios literários e publicações em coletâneas do Femup (Festival de Música e Poesia de Paranavaí), entre contos e poesias; duas premiações no Varal Literário (2014) promovido pela Unespar (categoria poesia e crônica); publicação de um conto e menção honrosa na coletânea promovida pelo concurso Beleza e Simplicidade (2020), além da participação em um ebook e livro físico (a ser produzido) de contos selecionados num concurso da Editora Cartola (2022). Atualmente também atua como dramaturga na Companhia de Teatro Selva, de Paranavaí.

A menina trevosa

MARCELA RODRIGUES

Ravena

era uma menina muito meiga e bondosa, que adorava fazer amigos, cantar, brincar, comer doces, chupar laranja e tomar caldo de cana com os primos. Entretanto, ela tinha uma coisa diferente das outras crianças: adorava coisas sombrias, como histórias de lobisomem e assombração; não tinha medo de baratas e achava aranhas caranguejeiras até que bem bonitas; não tinha receio em relação a trovão, não via problema em passar debaixo de escada, e nunca teve medo do bicho-papão, nem de bruxa! Na verdade, ela adorava bruxas, e acreditava que elas eram boazinhas e malcompreendidas.

A mãe de Ravena ria com as peculiaridades da filha e dizia: “Que menina trevosa!”.

Havia um urutau, também conhecido como mãe-da-lua, pássaro que faz um barulho sinistro, que morava pelas redondezas de sua casa, que ficava em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Sua avó falava que o barulho dele era agourento, mas Ravena, que nem sabia o que era agourento, achava que ele só estava cantarolando, e ela adorava suas canções! A avó ria consigo enquanto cozia um tapete de crochê: “Que menina trevosa!”.

Por falar em pássaros, uma vez ela leu uma história sobre um corvo, e adorou. No mesmo dia, ouviu o avô contar que onde nasceu, uma região mais fria do Paraná, havia na sua infância muitas araucárias que recebiam visitas de um pássaro belíssimo, um primo paranaense do corvo da história que leu: a

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gralha. O avô contou que a gralha tinha lindas penas azulões, e a garotinha ficou fascinada. Tanto que seu avô, que adorava passarinhos mais coloridos e falantes como bem-te-vis ou maritacas, achou bem engraçado e exclamou: “Que menina trevosa!”.

Só que não era todo mundo que achava tais características de Ravena divertidas. Na escola, as meninas que só gostavam de rosa ficavam abismadas quando Ravena dizia que sua cor preferida era a cor preta. Elas também cochichavam: S“Que menina trevosa!”. Só que, nesse caso, os cochichos eram como críticas. Ravena foi ficando meio chateada com a situação, afinal, ela era mesmo trevosa, mas isso não a fazia menos divertida e amável. Ela não se importava em ser diferente, mas desejava ter algum amiguinho de verdade, que a amasse como ela era.

Até que um dia ela conheceu um gatinho preto bem serelepe. Ele era magrelo e meio orelhudo, e por ser todo pretinho, ele lembrava até um morcego. Então, Ravena deu-lhe o nome de Morceguinho, ele virou seu melhor amigo! Eles brincavam à tarde toda, correndo para lá e para cá na quadra em que morava, e rolando na terra vermelha do seu quintal.

Foi aí que as crianças da vizinhança vieram lhe dizer que gato preto dava azar! Ela ficou chocada. Não era possível que aquelas crianças acreditassem mesmo nisso. As crianças disseram: “Que menina trevosa!”, e foram embora, deixando Ravena sozinha com Morceguinho. Ela ficou bem triste por ter sido excluída, mas jamais abandonaria seu amigo felino, que como ela, tinha um coração extremamente colorido e cheio de carinho.

Então, a menina trevosa ia voltando para casa com seu gatinho, quando percebeu que entre os matinhos no solo aos pés de um grande ipê-amarelo havia um dente-de-leão. Quando ela abaixou para pegar a planta, ela encontrou algo incrível: um trevo-de-quatro-folhas!

Ravena então pensou que talvez fosse trevosa mesmo: afinal, possuía agora um belíssimo trevo-de-quatro-folhas e toda a sorte que vem com ele.

No caminho de casa, com o trevo na mão e com Morceguinho seguindo seus passos, Ravena percebeu que ela já era muito sortuda: tinha uma família que a amava, as histórias do vovô e da vovó, os passarinhos e as árvores para ouvir e ver, livros fantásticos para ler, e um amiguinho felino que lhe dava muito amor e sorte. Amava coisas sombrias, sim, mas também amava coisas coloridas, como o céu azul, o ipê amarelinho quando florido, a terra vermelha onde pisava, o arco-íris em dia de sol e chuva. Afinal, as aranhas, os urutaus, trovões e escadas encostadas na parede fazem parte do mundo que a cercava, assim como os dentes-de-leão, as laranjas e o crochê da vovó, e ela amava por inteiro o mundo que a cercava! Notou que azar é de quem julga algo pela aparência, e ter a amizade de Morceguinho era uma sorte sem fim.

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Formada em Letras pela UEL e mestra em Educação pela mesma universidade. Autora de coleções didáticas de língua portuguesa para os Ensinos Fundamental 1 e 2 e de livros literários, dentre eles ABC das coisas boas, Histórias bemcontadas (em coautoria com Ricardo Dalai) e A menina e a planta, este último ganhador do Prêmio Flipoços – Amare 2020–2021. Contemplada no Prêmio Outras Palavras 2020, categoria Livro ilustrado, pela obra Existir, resistir, com ilustrações de Walter Lara. Tradutora de Numa pensão alemã, de Katherine Mansfield, em coautoria com Carla Kühlewein e Contos macabros, em coautoria com Cassia Leslie, ambos editados pela editora Alumbre. É editora-chefe na Florear

Livros. Dentre os livros que editou, está Encontros à Hora Morta, de Vanessa Ratton e Maria Valéria Rezende, e Filhotinho, de Yasmin Mundaca.

Colombinas

— Mãe, quem são esses? — perguntou Alícia, apontando para as pessoas retratadas em uma fotografia antiga, que ela retirou de uma caixa. Márcia havia tirado a tarde para fazer umas arrumações nos armários e gavetas, e Alícia aproveitava para bisbilhotar as coisas.

— É a sua bisavó e o seu bisavô, no dia do casamento deles.

— E você conheceu eles?

— Apenas a sua bisavó, que era a minha avó. O meu avô morreu antes de eu nascer.

— Puxa! — lamentou Alícia. — E como ela chamava?

— Rosa. Deixe-me mostrar outras fotos.

Márcia vasculhou a caixa de fotografias e pegou uma que parecia perfeita para apresentar a bisavó à Alícia.

— Olha só! Ela, com um dos vestidos de estampa florida que costumava usar. Lembro muito dos vestidos da minha avó. E também da casa, toda de madeira pintada de alaranjado, telhado de barro vermelho e muro baixo com portãozinho de ferro azul. Quem transitasse pela rua Iracema, naquela época, iria ver Dona Rosa sentada na varanda. As pessoas passavam, se cumprimentavam e logo uma conversa começava.

Alícia olhou para a fotografia e ficou pensando que iria gostar muito de conversar com a bisavó Rosa.

— A bisa Rosa sempre morou nessa casa alaranjada, mãe? — Alícia quis saber.

— Não, filha! Ela nasceu num outro país, bem longe daqui. Ela contava que um dia partiu da Itália para o Brasil ainda criança em um navio, junto com a mãe e o pai, além de outros nove irmãos, numa viagem que durou mais de um mês.

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— Uau! Um mês em um navio, sem ter que ir pra escola e sem ter que ajudar a secar a louça! Deve ser demais! — Alícia brincou.

— Ah, você é que pensa que era fácil. Isso aconteceu lá pelos anos de 1920. A viagem foi longa e difícil. Os navios não eram como os de hoje. Minha vó e a família precisaram deixar o país delas por causa da guerra e da pobreza que havia no seu país — Márcia explicou. — Imagine se você tivesse que sair daqui, da nossa casa e do nosso país, pra ir morar num outro país, em que você não conhecia as pessoas, não entendia a língua delas, não estava acostumada a comer a comida que elas comiam.

Alícia fez uma carinha de quem estava entendendo:

— Acho que seria mesmo muito triste!

A mãe continuou:

— Quando a família aportou na cidade de Santos, onde os navios vindos da Europa costumavam desembarcar, seguiu para fazendas do interior do estado de São Paulo. Foi depois que se casou, nos anos de 1940, que ela veio morar aqui no Paraná, numa cidade do norte do estado chamada Rolândia. Era lá que ficava a casa alaranjada na qual ela permaneceu até o fim da vida. Agora, mocinha, vamos terminar de arrumar essa bagunça toda que preciso fazer o jantar.

Naquela noite, Alícia ficou pensando na bisavó Rosa, imaginando como seria legal brincar no quintal da casa dela. No dia seguinte, na hora do café da manhã, pediu:

— Mãe, me conta mais sobre a minha bisa Rosa?

Márcia pensou por uns instantes e começou a contar:

— Quase todos os dias, a minha mãe e as minhas tias iam à casa da vó Rosa pra conversar, costurar e fazer pão. Então, meus primos e eu nos encontrávamos e brincávamos à tarde toda.

— Aqui em casa o pão é da padaria, né, mãe?

— Verdade. Mas naquela época era comum as casas terem no quintal um forno de barro onde se assavam pães, bolos, bolachas... Mal podíamos esperar o dia seguinte, pois sabíamos que íamos ganhar nossas colombinas. A gente implorava:

— Nona, queremos colombina! Queremos colombina!

— Nona? Colombina? — Alícia perguntou, estranhando aqueles nomes.

— “Nona” era como a chamávamos. Quer dizer “vó”, em italiano. E “colombina” significa “pequena pombinha”. Nesse caso, era um tipo de pãozinho.

Alícia ficou encantada com a história das colombinas! Ela Dormiu e sonhou que estava comendo colombinas. No sonho, ela e outras crianças devoravam os pãezinhos quentes. Assim que acordou, contou o sonho para a mãe.

Naquele fim de semana, Márcia decidiu que faria uma surpresa para a menina. Comprou no mercado os ingredientes e convidou:

— Vamos fazer colombinas, Alícia?

A menina nem podia acreditar! Soltou um “eba” bem alto e as duas voaram para a cozinha.

A mãe misturou os ingredientes, ensinando a filha como se faz pão caseiro. Depois que a massa cresceu, foi esticada em um rolo. Aí, Márcia começou a moldar as colombinas, ensinando Alícia como fazê-las.

— Você se saiu muito bem, Alícia! Ficaram perfeitas as suas colombinas! Depois de assados, Alícia provou os pequenos pães e ficou imaginando a mãe, menina, comendo colombina na casa da nona. E pensou que, de alguma forma, pôde viver naquele passado. Pensou também que certamente iria contar a história da avó e a da mãe para seus filhos. E ensiná-los a fazer as colombinas da nona Rosa.

“Acho que esse é um modo de não morrer nunca!”, Alícia pensou, baixinho.

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Professora, escritora e poeta. Natural da cidade de Assis Chateaubriand; nasceu no dia 25 de junho de 1973. No ano de 1976, com a família, passa a residir no município de Umuarama. É formada em Língua Portuguesa e pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura brasileira pela Universidade Paranaense. Atua como professora das séries iniciais no município de Umuarama desde 2005. Autora do livro infantojuvenil “Umuaraminha e o Pequeno Príncipe na Capital da amizade” e do livro “Marcas que não se apagam”.

O bem-te-vi encantado

muito tempo, quando o Paraná era habitado apenas por indígenas, no noroeste do estado, vivia a civilização Xetá. Os Xetás eram uma comunidade muito pequena, com pouco mais de quinhentos habitantes. Por ser um grupo com poucas pessoas, era costume algumas moças se casarem com índios de outras tribos. Com a realização desses casamentos, a pequena aldeia recebia proteção de outros irmãos indígenas, caso fossem atacados por inimigos.

Quando o pajé teve sua primeira filha, Agripina, ela foi prometida em casamento para o filho do cacique dos Guaranis, que habitavam a região Oeste do estado. A menina cresceu e se tornou uma linda moça. Muitos rapazes da aldeia se encantavam por sua beleza, porém, todos sabiam que ela estava prometida em casamento.

Um dia, Agripina estava a banhar-se no riacho, quando percebeu que alguém a observava. Ela nadou, mergulhou nas águas do rio e saiu na parte oposta de onde estava. De mansinho, foi até uma grande árvore onde seu primo, Rudá, escondia-se para espioná-la, e questionou-o:

— Rudá, o que você está fazendo aqui? Já faz dias que percebo que está me seguindo. Não preciso de pajem, já sei cuidar de mim.

O índio então, vendo que estavam a sós, tomou coragem e declarou seu amor por Agripina. A índia, comovida, saiu em disparada rumo à aldeia.

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Ficou dias e dias sem sair de sua oca, pois temia encontrar o olhar de Rudá e de ser descoberto o grande amor que carregava no peito pelo primo. Os dias se passaram e Agripina foi novamente banhar-se no rio. Quando retornava para a aldeia foi interceptada por Rudá, que pediu licença e colocou uma flor em seus cabelos. Agripina retribuiu com um lindo sorriso. A partir desse dia, todas as tardes, os apaixonados se encontravam escondidos na mata. Para não serem pegos por ninguém da tribo, combinaram um canto. Rudá falava “Vim te ver” e Agripina respondia “Estou aqui”. Enquanto entoavam esse canto, um ia se aproximando do outro, até se encontrarem na densa floresta.

O pajé percebendo as constantes ausências da filha, ao mesmo tempo em que Rudá abandonava seus afazeres na tribo, colocou um índio para segui-los, que logo descobriu o canto que os apaixonados usavam para se encontrarem.

Numa tarde, no horário em que o casal costumava se encontrar, Rudá foi até a floresta e entoou seu canto “Vim te ver”, “Vim te ver”, “Vim te ver”.

Porém, não escutava a resposta da sua amada. Ao anoitecer, voltou para a aldeia e soube que o pajé havia levado Agripina para o noivo prometido.

O jovem, enlouquecido de amor, saiu pela floresta tentando alcançar sua querida, gritando “Vim te ver”, “Vim te ver”, “Vim te ver”. Caminhou por dias na mata entoando seu canto, até chegar às margens das Sete Quedas, onde chorou copiosamente, pois elas eram intransponíveis, impedindo que continuasse sua procura. A Mãe d´água, vendo a grande dor do guerreiro, pediu para que ele mergulhasse em suas águas, pois iria ajudá-lo. No mesmo instante, o jovem pulou em uma das quedas, mergulhando em suas profundezas. Após alguns minutos, o índio emergiu do rio, mas agora em corpo de pássaro.

Desta forma, o índio continuou a busca pela sua bela Agripina, entoando uma melodia parecida com a que recitava nos encontros com seu doce amor. Porém, esse era um canto de saudade e nostalgia, que representava o passado. E, nas matas paranaenses, esse pássaro encantado não se cansa de entoar: bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi...

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Maria Magdalena Nerone, pesquisadora pioneira e especialista no estudo dos Faxinais do Paraná, com investigações sobre o tema na Universidade de Salamanca-Espanha. Doutora em História e Sociedade pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp/Assis) e mestre em Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Dentre suas produções científicas, destacam-se os livros “Sociologia das Organizações: o comportamento humano nas organizações complexas”, obra premiada com publicação pelo Concitec do Paraná e atualmente recomendada pelo Conselho Regional de Administração do Paraná como “dica cultural”, e “Sistema Faxinal: terras de plantar, terras de criar”. Membro fundador da Academia de Letras, Artes e Ciências de Guarapuava, da qual foi presidente (2010–2013). Membro da Academia de Letras e Artes de Paranapuã-RJ, do Instituto Histórico de Guarapuava e da Adaunicentro.

Um mistério no Faxinal

MARIA MAGDALENA NERONE

Quase

todas as histórias começam com “Era uma vez...”.

Esta começa assim: Era uma sexta-feira.

A menina de oito anos, Nena, estava muito feliz. Parecia que o sol brilhava mais, os passarinhos cantavam diferente, o ar estava mais leve, até as borboletas apareceram. Não era por acaso. Papai e mamãe permitiram que pela primeira vez a menina fosse fazer um passeio à noite. Era uma aventura no meio rural.

Um passeio no faxinal, paisagem típica da região Centro-Sul do Paraná, no interior de Rebouças, onde morava.

— Que aventura mamãe ir à noite à casa do tio Alfredo brincar com minhas primas!

A casa do tio Alfredo ficava distante da casa de Nena mais ou menos 1 km. Naquele dia, à tardinha, foi preparado um facho, como de costume, para iluminar o caminho.

O facho, assim chamado, era um feixe de ripinhas de madeira, de mais ou menos um metro de comprimento, amarradas entre si. Embebia-se uma das pontas em querosene e na hora de sair ateava-se fogo. O facho aceso, na noite escura, dava um ar de mistério. Era bem melhor que as lanternas, as quais eram raras no meio rural.

Aquela era uma noite sem estrelas e a lua não apareceu. Na hora de sair, muita gritaria, pois as outras crianças queriam ir também, mas somente Nena, por ser a filha mais velha, tinha permissão.

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Assim, acompanhada de suas tias e tios, um grupo de cinco pessoas, partiram naquela noite escura. Nena foi cantando e pulando até chegar lá. Causos foram contados e por volta das 22h retornaram pelo mesmo caminho: a estrada grande. O facho que tinha sido apagado, foi aceso novamente. Emoção dobrada... um pouquinho de medo.

No caminho de volta, alguns animais dormiam no gramado, perto da estrada, dentre eles vacas e cavalos, pois viviam no faxinal, no espaço do criadouro comum, um lugar onde as pessoas faziam uso coletivo da terra para criar animais.

Durante o percurso, ouvia-se apenas o coaxar dos sapos e as vacas ruminando. Os vagalumes acendiam suas lanterninhas, parecendo pisca-piscas... era um encantamento.

Enquanto passavam pela encruzilhada, silêncio total, pois diziam ser assombrada. Nena sentiu um calafrio. Apressaram o passo e, de repente, a coisa veio...

Ouviu-se um estrondo. Os pinheiros, as árvores, os pés de ervamate faziam tanto barulho que era como se estivessem sendo arrancados e tombando sobre Nena e seus tios. A menina assustada gritou: — Tia Zizi, me dê sua mão.

Dentro de si, ela se perguntava: “Será que é um fantasma?”

Diante do vento que assoviava parecendo uivar, gritaram: Socorro! Visagem!!!

E todo mundo correu e o facho se apagou. Nena, que segurava a mão da sua tia, perdeu-a. E naquele escuro ecoavam os gritos, pois ninguém se achava e... “pernas pra que te quero”.

Depois de um grande pavor e o coração em disparada, chegaram ao portão da casa. Tio Norato abriu-o, adentraram a casa iluminada apenas pela luz do lampião.

No outro dia, cedinho, todos foram investigar o mato, as árvores, os pinheiros... tudo estava no mesmo lugar, enraizados. Que mistério!!!

Muito tempo se ouviu falar sobre o causo, que ficou conhecido como “a visagem da encruzilhada da estrada grande e da estrada menor”. Desde então, todos evitavam passar à noite por aquela encruzilhada. Também Nena nunca mais pediu para passear à noite. O encantamento do facho aceso acabou. Por isso é que no meio rural se diz quando alguém perdeu a empolgação: “Está de facho apagado!”

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Nará Souza Oliveira, professora, nasceu em Rio das Flores, RJ, vive no Paraná. Na infância inventava histórias para sobreviver à violência em um morro. Entre os anos 1981 e 1994 escrevia para alfabetizar em escolas municipais de Curitiba, para não usar os textos dos livros didáticos, que eram carregados de preconceitos. Atualmente aposentada, escreve por prazer. Publicou: Curumim / prefeitura de Piraquara; Panela de Barro e Colher de Pau – broa de milho, berimbau e carnaval / Mazza BH; Léia a menina que tem o nome na flor /Flamingo – literatura infantil de Lisboa para o mundo. Prêmios literários recebidos: Oliveira Silveira de Literatura Infantojuvenil /Fundação Cultural Palmares 2019; Palmares Arte–2021; Novas leituras curitibanas

/Pinguim Produções, 2020; Editora Jandaíra, 2021.

Brincantes

NARAZINGA

NARAZINGA

Asnetinhas de dona Arlete quilombola pediram uma história bonita. Três tias encenaram. Tia Dita segurou no ombro da tia Isabel, afastou o corpo para trás e escondeu a cabeça. As duas foram cobertas por acolchoado estampado. O abajur da sala, na cabeça da tia Isabel virou cabeça do boi, não virou chapéu. O espanador de pó virou rabo de boi. Tia Noca fez a toalha da mesa da sala de saia, fez da vassoura a bengala e da sombrinha o berrante, e dona Arlete narrou assim:

— Lá vem o boi, lá vem o boi... No carnaval, no quilombo de Palmas, a grande atração era um boi especial, o boi de mamão, que não tinha cabeça de mamão nem de melão, nem de fruta-pão. Em janeiro, dona Adelaide Maria Trindade Batista, que já era bem velhinha e já usava bengala, chegava de mansinho no terreiro varrido para preparar a festa mais bonita. Ela perguntava:

— Algum boi morreu atolado no banhado durante o inverno passado?

— Morreu um, atolado, coitado! A cabeça está na cerca, espetada, sequinha, lavada. Virou caveira. Ficaram só os buracos para visão e respiração da festeira — a criançada sapeca e feliz respondia.

Dona Adelaide Maria sorria mostrando os dentes brilhantes e chamava o artista:

— Pinte a cabeça do boi alegre, ele é festeiro, é o boi de mamão carnavalesco.

— Pintarei o boi risonho, cheio de alegria, com confetes e serpentinas — o artista prometia. Dona Adelaide Maria ria e chamava o marceneiro:

— De madeira especial faça bem caprichada a armação do corpo do boi formoso e encorpado.

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— Sim, senhora — ele respondia, e ela chamava rendeira, costureira e bordadeira:

— Comprem linhas, tesoura, chitão florido, agulhas, fitas e dedal. Cortem o pano e façam o vestido bonito para o boi mais atrevido, o boi do carnaval.

— Sim, senhora — elas diziam e dona Adelaide Maria chamava cantadeiras, brincantes e dançadeiras e pedia cantoria bonita, embelezada, e dança ritmada.

— Faremos a festa mais animada e divertida — elas prometiam.

— Olha o boi! Quem não chegar na hora poderá chegar depois — a criançada gritava no terreiro durante os ensaios, o mês inteiro.

Na terça-feira esperada, na terça de carnaval, dona Adelaide Maria chegava no terreiro varrido todo enfeitado de fita, arrastando o sapatinho, e com a saia rodada de estampa florida beirando o chão. Chegava com bengala, com berrante pendurado no pescoço e falava:

— O boi de mamão já morreu atolado. A cabeça secou na cerca. O artista pintou alegria na cara do boi. O corpo foi feito de madeira delicada, lixada e perfumada. A roupa está pronta, rendada e bordada. As brincantes já entraram na armação. As cantadeiras e as dançadeiras estão enfeitadas, pintadas e com as vozes afinadas para dança e cantoria, então eu vou tocar o berrante para a alegria geral:

— O, o, ô! — ela tocava, o povo aplaudia o som do berrante e começava o carnaval!

— Lá vem o boi! Viva o boi de mamão! Viva a nossa alegria!

Gente que estava sentada em banco, em toco, em cadeira, em esteira, em barranco, levantava e fazia a roda para brincar com a esperada atração.

— Olha o boi! — as pessoas cantavam quando o boi aparecia. Batiam palmas, gritavam, saudavam o boi bonito, enfeitado com vestido estampado,

florido. O boi entrava na roda, dançava, se mostrava, requebrava, rebolava, fingia que caía, fingia que chorava, provocava, mas se aprumava e gargalhava. Fazia piruetas, fingia que ia, mas não ia, pulava para frente e para trás. Levantava a cabeça para alcançar o céu, se abaixava, querendo beijar o chão.

No meio de tanta alegria uma grávida aparecia e comia a língua do boi com farinha, sal, pimenta-malagueta, agrião e cebolinha. O boi caía, estremecia, morria. A criançada chorava e as cantadeiras cantavam assim:

— “O meu boi morreu, o que será de mim?” (...)

Índios, negros e brancos chegavam com fogo, folhas, água, terra e ventania, para fazer o boi de mamão reviver, enquanto na roda o povo sofria.

De repente, dona Adelaide Maria tocava o berrante e gritava:

— “Ô abre alas...” Viva o boi de mamão de Palmas!

O boi se aprumava, pulava, revivia. Recomeçavam as cantorias, as palmas, as batucadas, tudo voltava a ser alegria. O povo brincava, se divertia.

— Viva o boi! Viva o boi! Viva o boi que reviveu — todo mundo aplaudia.

Depois de grande folia, cansado, o boi se despedia, cantando com satisfação:

— Vou-me embora, minha senhora. Vou-me embora, meu bem.

Vou brincar em outro terreiro, voltarei ano que vem.

— Lá vai o boi! Lá vai o boi! — o povo cantava e ria, e o boi desaparecia. Com a saia florida beirando o chão, dona Adelaide Maria, de mansinho saía, apoiada na bengala, e com o berrante pendurado no pescoço, mas o povo continuava cantando, dançando, batendo palmas. Assim começava o carnaval.

Dona Arlete concluiu a história, as netinhas bateram palmas e falaram:

— Agora nós somos as brincantes do boi de mamão na sala.

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RAFAEL GINANE BEZERRA

Graduado em Ciências Sociais pela UFPR (1996). Mestrado (2003) e Doutorado (2009) em Sociologia pela mesma Universidade. Estágio Pós-doutoral em Didática da Leitura e da Escrita pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina (2019). Professor vinculado ao Departamento de Teoria e Prática de Ensino e ao Programa de Pós-Graduação em Educação: Teoria e Prática de Ensino, do Setor de Educação, da UFPR. Leciona as disciplinas de Didática, Leitura e Mediação e Letramento Literário. Coordena o evento de extensão

“De Próprio Punho – Oficina de Leitura e Escrita”, em parceria com a Biblioteca Pública do Paraná. Publicou os livros de contos A dor de uma família (2018) e Rua Professor Cleto, 381 (2019).

Gigantinho

RAFAEL GINANE BEZERRA

dor no pescoço olhar esses eucaliptos. Tudo aqui na Eppinghaus é muito grande, principalmente os meninos que quicam a bola de um lado pro outro. Fico só olhando, esperando que me chamem. Se eu fosse como o vô, não iam me deixar aqui plantado. Mas o problema é que eu sou diferente, ninguém acredita que levo jeito pro basquete.

O vô já nasceu gigante. Quando o médico olhou na barriga da mãe dele, a bisavó que morava aqui pertinho na Machado de Assis, ele teve que chamar três enfermeiros: um segurou as pernas, o outro a bunda e o terceiro a cabeça. Depois, quando foram pra casa, o vô não cabia no carrinho e a bisavó teve que usar escada pra dar de mamá. E isso que o vô era só um bebê!

Quando ele foi pra escola, naquele prédio grandote lá na João Gualberto, as coisas pioraram ainda mais. O vô ficava por último na hora de formar fila e se sentava no fundo da sala pra não atrapalhar os colegas. Além disso, todos sabem como são as coisas na escola, sempre tem alguém fazendo brincadeira boba. Perguntavam pro vô se lá em cima fazia frio, diziam que ele era girafa e botavam apelidos como Bracatinga, que é uma árvore magricela e espichada.

Também teve a vez que um papagaio do Passeio Público errou de direção e fez ninho na cabeça do vô. Se fosse outro pássaro, não teria sido um problema, mas o papagaio era desaforado e todo mundo pensou que o vô era boca suja, inclusive a bisavó, que não admitia palavrão. Ela pegou a escada pra esfregar a boca do vô com sabão, mas por sorte, quando chegou lá em cima, encontrou o louro falando bobagem. Se não me engano, ela ficou aliviada quando descobriu a verdade e devolveu o bicho pro Passeio Público. Quem vai

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lá é só atravessar aquele lago imenso e procurar a gaiola do tamanho de uma floresta pra encontrar os descendentes dele xingando quem passa pela frente.

Pro vô, as coisas só melhoraram quando o técnico de um time de basquete apareceu. Assim que viu o vô, ele soube que tinha encontrado joia rara e conversou com a bisavó pra ela deixar o filho treinar. No começo, o vô só acertava a cesta bem de pertinho. Depois, como treinava muito, também passou a acertar de longe. Ele ficou tão bom que logo apareceu outro técnico querendo que ele jogasse em um time desses que viajam de ônibus e até de avião. E foi assim que o vô foi parar na seleção, que é o time mais importante de todos e que joga naqueles torneios que passam na televisão.

Um dia, chamaram o vô pra jogar num lugar enorme que se chama

Estados Unidos, num time cheio de gigantes como ele. Só que naquela época o vô já tinha conhecido a vó e ele escolheu ficar aqui pra se casar com ela. Eles também moravam aqui pertinho na Machado de Assis. As três filhas que eles tiveram são parecidas com a vó, não são nem muito altas, nem muito baixas. É por isso que ninguém consegue entender por que foi que eu nasci desse jeito.

Eu já nasci miúdo. Quando o médico olhou na barriga da mãe, naquela época ela morava aqui na Augusto Stresser, ele não me encontrou e teve que pedir pra um enfermeiro buscar uma lupa. Não fosse isso, eu teria ficado lá dentro até hoje, mas por sorte ele conseguiu me pegar com uma pinça. Depois, fizeram furos em uma meia de lã, pra passar a cabeça, os braços e as pernas, e me vestiram com ela. É claro que o berço não era pra mim. No começo, tiveram que me colocar com cuidado em uma caixa de sapatos, e pra me dar banho não podiam esquecer de colocar o tampão de plástico no fundo da pia. É que eu podia descer pelo ralo.

Tudo que envolve água sempre foi um problema. Na primeira vez que me colocaram pra fazer xixi no peniquinho, eu caí lá dentro. A sorte é que estava

limpo porque nunca tinha sido usado. E teve a vez que a gente foi pra praia, lá em Shangrila, e a vó teve que encher o baldinho de areia com água pra eu poder mergulhar. Nem por sonho que eu podia chegar perto do mar. Hoje em dia, as coisas mudaram. Eu cresci um pouco e até comecei a fazer natação em um lugar que fica aqui pertinho na Arthur Loyola.

A escola não tem sido uma experiência fácil, mas eu não desanimo. Ao contrário do vô, sou o primeiro da fila e me obrigam a sentar na primeira carteira, na frente da professora. Durante o recreio, sempre aparece um bobalhão querendo me chamar por apelidos como pouca sombra, pintor de rodapé e tampinha, até que uma bola de basquete vem parar nas minhas mãos. Nessa hora, todo mundo descobre quem eu sou de verdade.

É por isso que esses meninos aqui da Eppinghaus precisam me chamar logo. Não sou gigante, mas pulo e paro no ar como um beija-flor. Não sou forte, mas corro e driblo como um guepardo. E treino tanto, tanto, que consigo acertar a cesta lá do meio da quadra. Sei que não sou parecido com o vô. Mas quando me derem uma chance, vou mostrar pra todo mundo que mesmo sendo diferente eu também consigo jogar.

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Sumara Gomes, bacharel em Artes Cênicas pela Unespar/ FAP desde 2007 e mestre em Letras pela Unioeste, com pesquisa sobre dramaturgia de autoria feminina paranaense. Tem 32 anos de experiência com teatro e atua nas áreas de interpretação teatral, direção e docência, sendo professora das áreas de Interpretação, Análise Dramatúrgica e História do Teatro. É também dramaturga, roteirista, diretora teatral, mediadora de leitura e contadora de histórias. Atualmente mora em Cascavel – PR e leciona no Curso Técnico em Teatro do Colégio Eleodoro, onde foi coordenadora de 2019 a 2021. Ministra aulas livres de teatro para iniciantes e oficinas regulares sobre dramaturgia.

A casa e o pinheiro

MAIA PIVA
MAIA PIVA

O Vento uivava.

— Vruuuuuuuuu!

De um lado para o outro.

E a Casinha de madeira balançava, balançava. E fazia força para não sair voando!

— Ô, Seu Vento! Por favor! Sou uma pobre Casinha de madeira. Não vou aguentar muito tempo aqui no chão, com você rugindo desse jeito, feito um leão!

Mas o Vento não ouvia a Casinha. Continuava a berrar:

— Vruuuuuuuuu! Vruuuuuuuu!

E a Casinha, pobrezinha, com muito medo de levantar voo, fazia cada vez mais força para continuar firme no chão. De repente ela ouviu um barulho estranho:

— Tréééééc! Tréééééc!

Ficou muito assustada. O que era aquilo agora? Não bastava todo aquele vento, mais aquele barulho esquisito de dar medo? E o som continuava:

— Trééééééc! Trééééééc!

A Casinha olhou e viu que o som vinha do enorme Pinheiro, que ficava na frente do terreno. — Ô, Seu Pinheiro! Por que fazer esse barulho esquisito, de dar medo na gente?

E o enorme Pinheiro respondeu:

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— Vruuuuuuuuuu!

— É que o Vento é muito forte e está me empurrando daqui para lá e de lá para cá. Minhas raízes não estão aguentando e acho que vou desabar!

E foi só o Pinheiro falar nisso para o vento soltar uma rajada bem forte:

— VRUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!

Dessa vez, quase mesmo que a Casinha se foi pelos ares. Até umas telhas saíram voando. E o Pinheiro envergou tanto, que as folhas chegaram a tocar no telhado da casa!

— TRÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉC! Ai, que agora eu vou para o chão!

— Vem, não, Seu Pinheiro! Que se o senhor vier, cai bem em cima de mim! – disse a Casinha.

— O senhor é muito grande, vai me esmagar!

Então, o Pinheiro fez força, fez força, fez força e conseguiu se segurar. Depois de passada a tempestade, a Casinha agradeceu e disse:

— Olha, Seu Pinheiro, o sol está brilhando de novo.

— Não é bom isso? – perguntou o Pinheiro.

— Isso o quê? – perguntou a Casinha.

— Saber que depois da tempestade, o sol sempre sai para nos aquecer de novo?

E os dois, Casinha e Pinheiro, ficaram ali, admirando o sol e pensando no que Seu Pinheiro tinha acabado de dizer.

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Tiago de Oliveira pertence ao Povo Guarani Nhandewa. Formou-se em Pedagogia Intercultural pela USP (2005–2008), depois seguiu no curso Pedagogia convencional, formando-se em 2016. Fundador e membro do Fórum de Articulação dos Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fapisp). Cursou Especialização em Antropologia pela Unisagrado (2017–2018).

No ano de 2021, tornou-se o primeiro indígena da T.I, Araribá e Avaí a obter título de mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP (2019–2021). Integra o Centro de Estudos Ameríndios

(CeEstA) também da USP. Em 2020 publicou seu primeiro livro de autoria “Quando eu caçava Tatu e outros bichos”.

Atualmente mora no município de Piraquara-PR e cursa

Doutorado em Antropologia Social pela USP (2022–2025).

A curiosidade do Kurumim

TIAGO NHANDEWA

TIAGO NHANDEWA

Hámuito tempo – nem tanto tempo assim –, em uma comunidade indígena, do povo Guarani Nhandewa, localizada no norte do Paraná, vivia um menino que sonhava com muitas coisas, mas o que instigava sua imaginação era o que existia depois dos morros que cercava aquela aldeia. Os morros não permitiam que se pudesse ver ao longe, era um verdadeiro paredão verde e alto.

Todos dias lá estava ele perguntando algo para alguém. Os mais velhos eram os seus alvos preferidos. Quando o Kurumim via algum ancião ou anciã passando por perto, lá corria a perguntar:

— Txeramõi, o senhor saberia me dizer o que tem depois daquele morro?

O avô respondia: — Tem muitas coisas, meu neto, um dia você vai ver! Não satisfeito logo ia novamente indagar outra pessoa, bastava alguém atravessar na sua frente a pergunta era certa.

— Txedjaryi, a senhora poderia me dizer o que há atrás daqueles morros?

A avó explicava: — Filho, só sei dizer que tem muitas coisas lá, quando chegar a hora você verá! As respostas não lhe satisfaziam.

Kurumim passava os dias imaginando e sonhando quando iria ver o que havia do outro lado. O tempo ia passando, e ele crescendo, e quanto mais crescia, mais a sua curiosidade aumentava.

Os anos se passaram, e a sua curiosidade continuava aguçada como

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sempre. Agora aquele menino já tinha idade suficiente para descobrir o que durante muito tempo o deixava intrigado do que poderia ter depois dos montes verdes e agudos.

Pronto! Chegou a hora de descobrir. Mas não era tão simples assim. Agora a pergunta era para ele mesmo: Como vou fazer? Quando eu vou? Vou sozinho? Até onde posso ir? Será que tem pessoas? Elas são parecidas comigo?

Tem mais aldeias? E bichos, será que tem? O que vou encontrar? Uma coisa o Kurumim sabia, tinha que se preparar para o que poderia encontrar do outro lado, além das montanhas.

Ora, só tinha um jeito: era superar aquela barreira e ver o que acontecia. Depois de levantar todos os questionamentos do que poderia encontrar por lá, ele não perdeu tempo. Juntou algumas coisas na mochila, que iria precisar para aquela aventura, então, seguiu em direção ao desconhecido, o qual ele haveria de conhecer em breve.

O kurumim seguiu pela longa e sinuosa estrada de pedras, subiu as ladeiras, desceu por terrenos íngremes, e, quando percebeu, lá estava ele, do outro lado das montanhas, que durante muito tempo despertou sua curiosidade. Agora era contemplar, mas o que ele havia encontrado? O que ele viu? Qual foi a sensação naquele momento?

— Oh!!! Foi a única palavra que disse, ficou mudo por alguns instantes, seus olhos brilhavam, somente observava a paisagem que se revelava na sua frente: cidades bem pequenininhas ao longe, tinha uma rodovia movimentada com muitos veículos trafegando, mais para perto havia as plantações de café, cana, soja, milho e algodão, também havia os pastos com muitas vacas e cavalos.

Admirado com tudo que via, seu pensamento era de que deveria seguir adiante, mas infelizmente não era possível, apesar de já ter idade, os limites eram somente até aquele ponto. Tudo aquilo era deslumbrante para aquele

menino que sempre sonhou com o dia em que pudesse ir além dos limites da sua comunidade. No entanto, para ir mais além e continuar com sua aventura de descobertas, dependia de outras questões, que envolviam uma viagem mais longa e mais complexa. O jeito era voltar e se planejar para a tão sonhada jornada.

Depois de algum tempo de contemplação, o menino fez o caminho da volta, porque ainda não podia avançar mais do que aqueles limites estabelecidos pelos seus avós. Ainda não tinha idade suficiente para viajar sozinho para outros lugares, tinha que se contentar em apenas observar o que se revelara ali após anos de suspense e de muitos questionamentos. O menino voltou para esperar por mais alguns anos quando pudesse realmente seguir para além dos morros verdejantes.

O tempo continuou passando, e o Kurumim cresceu o suficiente para seguir os seus sonhos, não mais dependia dos adultos, agora tinha sua liberdade e autonomia, então podia seguir com seus desejos de descobrir novos lugares, novas aldeias, novas culturas e principalmente conhecer novas pessoas.

E assim foi. Ele se foi, seguiu o destino, que era viajar além das montanhas verdes para conhecer novos mundos e experimentar novas formas de vida.

Desde sua ida muitos anos se passaram, agora ele se tornou adulto, formado e pai de família. Hoje o Kurumim voltou para seu lugar de origem com muitas histórias em sua bagagem para contar e compartilhar com as pessoas.

E sua curiosidade ainda continua? Bom, essa pergunta somente ele poderá responder!

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Valdinei José Arboleya nasceu em Engenheiro Beltrão, no Paraná, mas mora no Oeste há mais de 40 anos e, na cidade de Toledo, onde reside há 15 anos. É professor da rede pública municipal de ensino e do Ensino Superior na Faculdade Assis Gurgacz. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais (2006) e em Letras (2014) pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná; especialista em Arte Educação e Metodologias de Ensino e em História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e doutorando em Letras também pela Unioeste.

A chuva de verão e muita imaginação

NEY ARBOLEYA

NEY ARBOLEYA

Pedrinho

estava dormindo um sono gostoso quando um forte estrondo o acordou. Levantou a cabeça um pouquinho, meio interessado, meio querendo não saber o que era, e prestou atenção. Ouviu a mãe fechando as janelas rapidamente enquanto um novo estrondo rasgava o céu.

Quis se levantar e espiar aquilo de perto, mas estava escuro. E se tivesse um crocodilo escondido atrás da porta? Tinha esse medo desde que assistira a Peter Pan, mas o pai o acalmara dizendo que não existem crocodilos no Brasil, só jacarés, e que no Oeste do Paraná havia somente uns jacarezinhos que não gostavam muito de aparecer para as pessoas e que viviam bem escondidos dentro do Parque Nacional do Iguaçu.

Nem em Foz do Iguaçu os jacarés aparecem, o pai repetia. Mas ele duvidava que não tivesse nenhum naquela água toda. No passeio que fez com a turma da escola às Cataratas, a professora confirmou que não havia crocodilos ali e que os jacarés estavam muito longe, mas seu amigo jurou que o tio já tinha visto um crocodilo enorme bem no Marco das Três Fronteiras, só não sabia se era brasileiro, argentino ou paraguaio.

Pedrinho sempre torceu para que não fosse brasileiro e que fosse patriota e não quisesse sair do seu país, mas agora, ouvindo aquele barulho todo, o danado do crocodilo parecia ser bem brasileiro. E se ele tivesse conseguido fugir da Terra do Nunca e chegado bem na Terra das Araucárias, dominado os jacarés e montado um exército de crocodilés, um bando de jacarés submissos a um crocodilo, que perderam sua identidade.

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Ouviu outro barulho forte e, devagarinho e silencioso como uma pena em cima do colchão, sentou-se na cama, ajeitando o lençol sobre as pernas pra não deixar os pés descobertos. De repente, imaginou ter ouvido um tic-tac, tictac e ficou paralisado de medo.

Só poderia ser o relógio do crocodilo, e agora? Pedrinho ia gritar por socorro quando ouviu outro som ensurdecedor rasgar o céu. Balas de canhão, pensou, do navio dos piratas, atacando o crocodilo bem nas barrancas do Rio Iguaçu e a Marinha do Brasil atacando os piratas. Ou todos eles atacando o crocodilo? E se o crocodilo estivesse liderando os jacarés?

Passos rápidos cortaram a sala até a porta, que foi aberta num solavanco de assustar quem via e mais ainda quem só ouvia.

— Acode, Dona Marta! Acode se não vai ser o fim.

Dona Marta era sua mãe e aquela voz era a da vizinha. Pedrinho se desesperou, então era mesmo verdade, o crocodilo estava atacando por ali.

Quis correr até a janela do quarto e ver quem estava em perigo, mas não se arriscou a botar o pé fora da cama. O crocodilo estava no Brasil e parecia conhecer bem o Rio Iguaçu.

— Espia o céu! – berrou a vizinha.

Epa, lá no céu não! Crocodilo no céu era a coisa mais fantástica de que já ouvira falar. Seria um crocodilo de asas ou estaria viajando num balão?

De repente, um zunido veio cortando o céu devagarinho, aumentando, aumentando e aumentando até estourar bem em cima de sua casa. Era um avião de guerra, pensou.

Um crocodilo malvado no comando de um avião era ataque aéreo na certa. Pedrinho se encolheu embaixo do cobertor quando de repente ouviu outro barulho assustador. Bóris entrou a latir furioso. Será que estava tentando atacar o crocodilo? Então o vento começou a soprar forte e um clarão

preencheu seu quarto de modo assustador. Depois outro estalo forte que rebombou no céu inteiro.

— Acode que o céu vem abaixo! – Gritou a vizinha – Recolhe a roupa seca, vizinha, que o céu vai cair em água.

E começou uma chuva pesada. Nada de crocodilo voador, nem ataque aéreo, nem exército de crocodilés. Era só mais chuva de verão em uma tarde quente do Oeste do Paraná. Pedrinho sossegou o coração e virou de lado. Melhor coisa era dormir aproveitando o barulho gostoso da chuva.

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO PARANÁ

Ari Faria Bittencourt

Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR

Emerson Sextos

Diretor Regional do Sesc PR

Mariah Fank

Gerente de Cultura

Cesar Luiz Gonçalves

Coordenador Geral do NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

Ernani Buchmann

Coordenador de Jornalismo do NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

Rosane Guarise

Assessora de Comunicação e Marketing do NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

Kristiane Foltran Rodrigues

Analista de Comunicação – Núcleo de Comunicação e Marketing

Fabricio Julio Braga

Gerente Executivo do Sesc da Esquina

Isabel Cristina Bizerra da Silva

Analista Pleno do Sesc da Esquina

Leomir Bruch

Analista da Gerência de Cultura

Uma história, uma criança e muitas possibilidades para falar sobre a cultura paranaense. Esta coletânea literária, fruto da sétima Seleção de Contos Infantis e inéditos promovida pelo Sesc Paraná, mostra a diversidade e a riqueza de nossas manifestações culturais, lendas e costumes.

O Sesc reconhece e valoriza os elementos da cultura paranaense presentes nas mais diversas manifestações artísticas e aqui incentiva a literatura e a formação de novos escritores.

Venha ler conosco!

AUTORES:

Lílian Ávila - São José dos Pinhais

Marcela Rodrigues - Paranavaí

Marcia Paganini - Rolândia

Maria Cristina Madeira - Umuarama

Maria Magdalena Nerone - Guarapuava

Narazinga - Pinhais

Rafael Ginane Bezerra - Curitiba

Maia Piva - Cascavel

Tiago Nhandewa - Piraquara

Ney Arboleya - Toledo

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