Coletânea de Contos Infantis Sesc (2016)

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Serviço Social do Comércio Sesc PR

Coletânea Sesc de Contos Infantis

Curitiba, 2016

TRADIÇÕES DA CULTURA PARANAENSE REUNIDAS EM COLETÂNEA INFANTIL

Para homenagear a cultura e a arte paranaense, o Sesc Paraná organizou uma coletânea de Contos Infantis. É uma seleção de narrativas inéditas – produzidas por novos autores – que estão morando no Paraná ou são nativos do estado e hoje vivem em outros lugares.

Os trabalhos aqui reunidos chegaram de várias cidades. A antologia dedicada aos pequenos é composta por 10 histórias as quais foram ilustradas e representam um pouco das nossas tradições culturais.

Agradecemos aos autores que dedicaram algum tempo para escrever sua história de relação com o Paraná e que a partir de agora será compartilhada com crianças e adultos também. BOA LEITURA

Sesc
Paraná
SUMÁRIO DANIÉLLE CARAZZAI | CAMPO LARGO O MENINO CHUVA..............................................9 LEANDRO CARLOS MUNIZ | TOMAZINA O MISTÉRIO DA COBRA GIGANTE..................14 DIRCELI ADORNES PALMA DE LIMA | CURITIBA UCRANIÓPOLIS..................................................23 MÁRIAM TRIERVEILER PEREIRA | UMUARAMA O ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS DA VOVÓ..........29 BERNADETE MARIANI | GUARAPUAVA NINA MENINA....................................................36
LILIAN DEISE DE ANDRADE GUINSKI | CURITIBA NETO, O NETO DO SEU AVÔ............................42 NATÁLIA CRISTINA MARTINS DE SÁ | LONDRINA NAIPI E A LENDA DE SEU NOME.....................51 ROBSON ROGÉRIO DO REGO | APUCARANA MUNDOS DIFERENTES?....................................58 HÉRCULES JOÃO LACOVIC | CASCAVEL O MENINO DA FLORESTA DOURADA............66 PATRÍCIA SIQUEIRA SILVA | GUARAPUAVA A MENINA E A ÁRVORE....................................73

DANIÉLLE CARAZZAI

Jornalista graduada pela UFPR e pós-graduada em Comunicação para o Terceiro Milênio pela PUC-PR. Atuou com comunicação corporativa na maior parte de sua carreira, sendo executiva em empresas como Grupo Positivo, Renault do Brasil e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Em sua trajetória, foi responsável por conteúdos mais fortemente relacionados com educação, cultura e meio ambiente. Atualmente é empreendedora individual com atuação em planejamento estratégico organizacional.

Desde 2012, dedica-se também às artes visuais, especialmente em cerâmica artística e pintura. É artista representada pela AIREZ Galeria de Artistas Independentes e frequenta oficina livre de pintura no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba. Participou de exposições coletivas no MON, Museu Alfredo Andersen, Fundação Mokiti Okada, Sesc Água Verde, entre outros.

O MENINO CHUVA O MENINO CHUVA

DANIÉLLE CARAZZAI

João

não se lembra da última vez em que viajou e viu o sol. Por falta de sorte ou pelo destino mesmo, todas as vezes em que pegava a estrada, com quem quer que fosse da família, as nuvens já começavam a se formar e era botar o pé na praia, na montanha, na nova cidade e... chuva!

Na escola, se sentia até constrangido ao ler a redação sobre suas férias ou mesmo quando colocava a bermuda e apareciam aquelas coxas branquinhas, branquinhas. Nenhum raio de sol pra tirar a cor de bicho de goiaba, enquanto seus amiguinhos exibiam o bronzeado e as fotografias dos ensolarados dias à beira-mar.

Antes de dormir, pedia ao seu anjo da guarda para ter melhor sorte na próxima viagem. Tinha até uma imagem de São Pedro colada no armário para ver se agradava o santo! Afinal, já tinham se passado oito longos anos de aventuras debaixo d´água.

Muitas vezes ficou imaginando se não teria sido culpa de seus pais. O pai, quando viajava a trabalho, sempre se deparava com sol e muito calor; a mãe, ao contrário, costumava chegar aos destinos de viagem com tempo nublado e frio. Mas somente ele era capaz de fazer chover! Então, pensava: se juntar muito calor com muitas nuvens, dá chuva. Então talvez meu pai + minha mãe = eu explique a situação.

Outro pensamento de João era sobre um garoto chamado El Niño. Sempre que ele ia a algum lugar também chovia. Será que eram irmãos gêmeos separados ao nascer? E ele ficava imaginando como seria bom conhecê-lo para encontrarem juntos uma solução para essa desventura climática. Mas ele devia morar muito, muito longe de Curitiba, e até do Brasil, porque falava outra língua.

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Não tinha jeito. Ele foi para lugares onde raramente chovia e era chegar para cair água do céu. As pessoas diziam: “faz dez anos que não chove aqui desse jeito”! Mas João não achava graça nenhuma.

Quando ouvia a previsão do tempo pensava até em ser voluntário para levar chuva aos lugares mais secos e virar o super-herói do tempo. Ele se imaginava chegando nos lugares e fazendo aquele aguaceiro para matar a sede das pessoas e dos bichos e para fazer toda plantação crescer verdinha, verdinha. Seria praticamente um super-herói!

Nem os índios com sua dança da chuva eram mais eficientes do que João e se ele quisesse poderia deixar os meteorologistas constrangidos ao fazer o clima mudar inesperadamente. Teriam que saber para onde ele iria antes de dar as notícias do tempo.

Um belo dia, João teve uma ideia brilhante! As férias estavam próximas e todos na casa já preparavam suas malas quando ele pediu para a mãe comprar um guardachuva branco. Não podia ser de outra cor, nem azul, nem amarelo, muito menos vermelho. Branco, só servia branco.

Meio entristecida pela previsão já pessimista do filho, mas sabendo que provavelmente a história da chuva se repetiria, a mãe não hesitou em atender o menino. Foi ao centro da cidade e embora a vendedora quisesse vender os modelos infantis mais procurados, inspirados nos desenhos da tevê, ela resistiu e comprou um totalmente branco.

João esperou ansiosamente e quando a mãe chegou com o guarda-chuva ele correu para seu quarto e fechou a porta. Procurou o estojo de canetas coloridas e ficou por lá um longo tempo. Naquele dia ele nem quis jantar e ninguém ousou interrompê-lo.

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Cuidadosamente, João abriu o guarda-chuva, colocou-o no chão e deitou com a cabeça embaixo dele. Dali, ele conseguia ver a luz acesa e pegou a caneta amarela. Fez o contorno da lâmpada, no formato de um sol bem grande. Ao redor do sol, decidiu usar um azul bem clarinho, e não colocou no seu céu uma nuvem sequer. Estava farto de nuvens. Lembrou-se dos dias de sol que aconteciam quando não estava em férias e colocou um passarinho bem feliz voando pela paisagem. Acompanhando a ave, uma pipa bem colorida arrancou um sorriso de João.

E estava pronto! Deitado no chão, ele abria o guarda-chuva e olhava pra cima vendo aquele que teimava em desaparecer de suas viagens. O dia perfeito, o dia de sol. Então, a partir de agora, tudo seria diferente.

João estava levando o sol com ele para todo lugar e quando chovia ele não ficava mais triste. Abria seu guarda-chuva de sol e dava até para sentir os raios quentinhos e a alegria voltando. Até o guarda-sol de praia ganhou o desenho do João e toda a família aprendeu a viver cada viagem chuvosa como uma gostosa brincadeira de colorir!

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LEANDRO CARLOS MUNIZ

A. Zhoras é o pseudônimo de Leandro Carlos Muniz, nascido em abril de 1980, na cidade de Tomazina, Norte Pioneiro do Paraná. Licenciado em Letras e especialista em Estudos Linguísticos e Literários pela Universidade Estadual do Norte do Paraná, começou a desenvolver seu talento literário aos quatorze anos de idade, compondo poemas. Em 2002, foi um dos selecionados no Projeto Livraria Paraná, da Secretaria de Estado da Cultura, sendo contemplado com a publicação de sua primeira obra “SRNGR consoantes assassinas”. No ano de 2006, integrou a antologia do Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, também promovido pela SEEC-PR, com o conto “A morte da galinha”. Em 2012, publicou “Varal sem lei” (poemas) e “Mulheres no vazio da praça” (contos); em 2015, o texto dramático “Os gatos do balaio”.

MISTERIO DA COBRA GIGANTE O MISTÉRIO DA COBRA GIGANTE

LEANDRO CARLOS MUNIZ

O

Oi!

Meu nome é Antônio. E o seu?

Bom, agora que a gente já se conhece, vou contar uma coisa muito legal a você: eu moro numa cidade cheia de mistérios que ninguém consegue desvendar. Ela se chama Tomazina, e fica no norte do Paraná. Minha cidade é muito muito muito antiga!

Quando começou a ser construída, em torno dela havia somente matas, com muitas espécies de animais, árvores e plantas. Mas, com o passar dos anos, foram chegando mais e mais pessoas, de várias partes do Brasil e do mundo. Tomazina foi crescendo, e aquelas pessoas também construíram outras cidades na região. Uma cidade tão antiga como a minha tem sempre muitos segredos. Você sabe qual é o maior deles?

Se não sabe, eu vou dizer: aqui em Tomazina passa um rio bem no meio da cidade. Seu nome é Rio das Cinzas. É limpo e calmo na maior parte do tempo. Porém, algumas pessoas acreditam que um monstro vive mergulhado nas suas águas. Descobri isso num dia em que meu avô e eu fomos pescar…

Com o embornal cheio de iscas, subimos de bote até um ponto do rio, onde os pescadores costumam ficar. No caminho, passamos perto de uma grande parede de pedra. Ali o rio faz uma curva, e isso provoca um movimento diferente nas águas. Então, Vô Alfredo começou a falar:

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Está vendo esse redemoinho, Toninho? Há muito tempo, uma criança recémnascida foi jogada ali pela própria mãe. Eu me espantei ao ouvir aquilo, e perguntei:

– Ela morreu?

– O movimento do redemoinho empurrou a criança rio acima. – Explicou Vô Alfredo.

– Mas o que aconteceu com ela, vô? – Insisti.

– Ela se encontrou com outra criança, que descia rio abaixo e que também tinha sido jogada pela mãe, só que lá nas corredeiras.

– Por que as mães eram tão malvadas?

– É que naquela época, Toninho, apenas moça casada é que podia ter filho. Mas as mães daquelas crianças eram solteiras. Se alguém ficasse sabendo que os bebês tinham nascido, as duas sofreriam castigos: levariam uma surra e depois seriam jogadas na rua para viver como mendigas. Foi por medo que abandonaram as crianças.

Achei aquilo muito triste. Uma vez minha mãe disse que as regras mudam conforme o tempo passa. Deve ser disso que ela estava falando. É como as calças, que antes eram roupa apenas de meninos, e hoje em dia todo mundo usa.

– E o que aconteceu com as duas crianças, vô? – Perguntei.

– Elas se abraçaram, e um encantamento transformou as duas numa cobra. Essa cobra cresceu muito e se tornou um monstro enorme. Hoje ela é maior do que a cidade inteira. Dizem que tem quatro olhos e quatro braços, que são como braços de gente.

Só de imaginar aquele monstro já fiquei morrendo de medo, ainda mais porque estávamos ali no rio, que é a casa da cobra. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas meu avô me acalmou, dizendo:

– Não precisa ter medo, Toninho. As pessoas dizem que a cobra está dormindo. Bem quietinha.

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A essa altura da conversa, nós já tínhamos chegado ao local da pesca. Colocamos as iscas nos anzóis e jogamos na água. Ficamos parados um tempão sem fisgar um só peixinho. O sol foi embora e estava quase tudo escuro, quando Vô Alfredo falou que era melhor voltarmos para casa. Porém, antes de ele começar a remar, nós escutamos um barulho. Parecia de alguma coisa se mexendo na água. Era bem baixinho e foi aumentando, aumentando, aumentando, até que o bote começou a balançar muito. Vô Alfredo tentou disfarçar, só que eu percebi o quanto ele ficou assustado. Minha vontade era de pular na água e fugir nadando até a beira do rio. Porém, não dava para enxergar naquela escuridão. Então ficamos parados, segurando firme nas laterais do bote, esperando que a calmaria voltasse. Vô Alfredo remou até o lugar onde deixava o bote atracado. Não abriu a boca durante o trajeto. Tinha se assustado mais que eu.

– Foi ela. Só pode ser! – Disse Vô Alfredo.

– Ela quem, vô?

– A cobra gigante. Como pode uma barulheira daquela num rio tão calmo como este? Tenho certeza de que foi a cobra gigante que se mexeu na água!

– Ela está dormindo, vô. – Lembrei o que ele mesmo tinha dito.

– Meu pai falava que a cobra pode acordar a qualquer momento. Se acordar, vai destruir a cidade.

– Acordar? Com o nosso barulho? – Perguntei, assustado.

– As cobras são surdas, Toninho.

– Então como, vô?

– Essa cobra é encantada. Ela pode ser acordada com as maldades das pessoas. E existe muita gente fazendo maldades no mundo.

Chegando em casa, contei tudo a minha mãe. Ela disse que já conhecia a história da cobra. Em Tomazina, todo mundo conhece. Que não preciso ter medo, pois é apenas uma lenda, uma história que alguém inventou e que todo mundo conta, mas que não é verdade. E o barulho na água deve ter sido um bando de capivaras

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que passou por nós.

Até hoje, não sei acredito no que o Vô Alfredo me contou, ou na explicação da minha mãe.

Você, que leu essa história, acredita em quem?

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DIRCELI ADORNES PALMA DE LIMA

Formada em Psicologia pela UFPR e em Bacharelado em Artes Cênicas pela FAP. Mestre em Estudos Literários pela UFPR e cursando Letras/Português na mesma instituição. Trabalha como atriz, revisora, produtora cultural e como contadora de histórias. Integrou o Núcleo de Dramaturgia Sesi Paraná –nível iniciante (2013).

Atuou como Instrutora de Cursos na área de Teatro no Centro de Atenção Psicossocial II de Colombo/PR de fevereiro a junho de 2012.

Atuou como contadora de história e mediadora de leitura na Casa de Leitura Jamil Snege da Fundação Cultural de Curitiba de maio de 2011 a fevereiro de 2013.

UCRANIOPOLIS UCRANIÓPOLIS

DIRCELI ADORNES PALMA DE LIMA

Amãe de Heitor perguntou se ele já tinha organizado suas roupas. A mãe estava agitada, pois fazia muito tempo que não ia visitar sua família no interior. Mas Heitor ainda não tinha nem escolhido os brinquedos que iria levar, imagina escolher as roupas. Enquanto decidia se levava o Capitão América ou o Pateta, Carlos entrou em seu quarto.

– Daí Heitor! Vim aqui te dar tchau, já que vamos ficar o feriado todo sem brincar.

– Pois é, minha mãe inventou de levar eu e meu pai para a cidade da minha avó Olga no interior do Paraná. Faz um ano que a gente não vai pra lá. Já até imagino minha vó falando, com aquele sotaque engraçado, dizendo que eu cresci, que eu devia ir lá mais vezes para comer Borsch, pois sou muito magro...

– Bo o quê?

– Borsch. É uma sopa vermelha, que fica dessa cor por causa da cenoura e da beterraba. Eu sempre como um pouquinho, para não desagradar minha vó. Mas não é minha comida favorita. Eu gosto mesmo é de comer Cracóvia.

– Ah, um dia vou com você para comer essa sopa de porsche. Mas essa cobra aí que você falou, não vou comer não.

– Carlos, não é cobra, é salame.

– Ah então eu topo comer salame também. Mas e agora, vamos brincar de alguma coisa?

– Ish, só se for bem rapidinho. Minha mãe já pediu para eu arrumar a mala e eu não dobrei nem uma blusa ainda.

– Eu te ajudo, assim sobra mais tempo pra brincadeira.

– Fechado! A gente podia brincar de uma história que minha vó sempre me conta. Ela sempre diz que a mãe dela veio de uma cidade chamada Galícia, por causa de um povo que ocupava o lugar onde ela morava.

– Então vamos fazer assim, você é a sua bisavó e eu sou esse povo.

– Hummm...Então aqui na cama vai ser a casinha de madeira. Vou pegar esses

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blocos aqui e encaixar igual à casinha dela.

– Ei vovozinha, sou um marechal polonês e ordeno que você saia dessa cabaninha de madeira.

– Mas quem autoriza o senhor a chegar assim, pedindo minha humilde casinha? Eu e meu marido levamos dias para levantar esses blocos. Onde irei plantar minha beterraba, minha farinha, o milho?

– Não interessa. Embarque no próximo navio e se mande para terras longínquas.

Heitor escuta a mãe chamando da cozinha.

– Ih, é minha mãe de novo. Agora sou euzinho que vai ter que ir para terras longínquas.

– Ah, mas a gente nem terminou a expulsão. Minha avó também conta que sua família saiu de um país bem longe daqui. Quando eles entraram no navio, acabaram em Marechal Cândido Rondon. Todo ano meu pai gosta de ir para a festa da cerveja em outubro.

– É, a gente está indo para ver o Grupo Vasselka. Minha mãe fazia parte do grupo. Mas depois que ela veio para Curitiba estudar, teve que largar. Às vezes, quando ela está varrendo a casa ou lavando a calçada, ela põe uma música com uma letra esquisita e se põe a dançar com a vassoura. Meu pai acha muito engraçado. Diz que se apaixonou por ela quando viu ela cheia de flor na cabeça, bailando pra lá e pra cá. Diz que foi ele que não conseguiu tirar aquela flor dançarina da cabeça.

– Esses adultos são engraçados né. Imagina se apaixonar por causa de flores na cabeça.

A mãe de Heitor entra no quarto e diz que eles vão sair dali 10 minutos.

– Mas Heitor, pra onde você vai afinal?

– Para Prudentópolis!

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MÁRIAM TRIERVEILER PEREIRA

Engenheira civil, mestre e doutora em engenharia ambiental e docente há mais de 15 anos, tendo atuado em ensino médio, cursos técnicos, tecnológicos, graduações e pós-graduações. Atualmente é professora do Instituto Federal do Paraná e coordena projetos culturais em parceria com a Fundação de Cultura e Turismo de Umuarama.

É bailaora e professora de dança flamenca, além de produtora artística e diretora da Cia de Dança IFPR Schubert, desde 2010. Influenciada pela mãe jornalista, nas horas vagas é escritora de contos infantis e infantojuvenis.

O ALBUM DE FOTOGRAFIAS DA VOVO O ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS DA VOVÓ

MÁRIAM TRIERVEILER PEREIRA

Nina, Beatriz e Marcos eram trigêmeos de onze anos e moravam em uma pequena e bela cidade do Paraná. Seus pais eram comerciantes e tinham uma livraria, a única da cidade.

Os três irmãos gostavam muito de brincar no parquinho de areia que tinha na praça da igreja. Mas tinha uma coisa que eles gostavam mais: ir na casa da vovó Léa. Toda vez que eles chegavam, a vovó Léa estava esperando com uma mesa recheada de gostosuras. Sempre tinha um bolo quentinho, um pão caseiro, suco de laranja apanhada no pé, cereais com banana e mel, queijo caseiro... hummm...

Na varanda da casa da vovó Léa tinha dois balanços e uma rede, onde os irmãos se revezavam. A vovó gostava de sentar-se em sua cadeira de balanço para contar histórias e as crianças ficavam encantadas com as aventuras que vovó narrava.

Certo dia, quando a garotada chegou para uma visita, a vovó estava em sua cadeira de balanço com um álbum de fotografias. Os netinhos logo quiseram ver aqueles retratos.

Vovó Léa mostrou então uma foto do Parque Nacional do Iguaçu. Vovó mostrou uma menininha sorridente com vários quatis ao fundo e disse:

– Olhem aqui, essa é a mãe de vocês com oito anos. Nesse dia, um quati pensou que ela estava com comida e mordeu sua mão. Como o quati é selvagem, ela teve que tomar cinco vacinas.

– Puxa, coitadinha da mamãe. – falou Nina.

– Vejam, o vovô na Ilha do Mel! Ele estava jogando bola com o tio Antônio. Eu me lembro que nesse dia o vovô estava com dinheiro no bolso do calção, mas

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se esqueceu e entrou na água do mar. Quando saiu, o dinheiro não estava mais lá. Então ele chamou o tio Antônio e a mamãe de vocês e pediu para ajudarem a procurar. Ninguém acreditava que poderiam achar, mas foi só chegar perto da água que o tio Antônio viu duas notas boiando... Hahaha... foi tão engraçado esse dia!

– Ah, eu queria estar lá para achar essas notas! – exclamou Marcos.

– O ferry-boat de Guaratuba, crianças! Foi neste dia que eu conheci seu avô. Cada um tinha ido com amigos de Curitiba para Guaratuba e lá na praia conversamos um pouco. Eu estava de coque no cabelo com um lenço na cabeça para me proteger do sol. Marcamos de nos encontrar depois de uma semana na frente do teatro Guaíra para assistirmos a uma peça. Não encontrei seu avô e fiquei na frente do teatro, esperando. Vi que um rapaz também ficou, mas não se aproximou. Depois de muitos minutos, acho que ele me reconheceu e perguntou se eu era a Léa. Disse que sim e ele deu uma gargalhada... Ele havia se confundido porque eu estava de cabelo solto, liso, preto, na altura da cintura...

– Sério, vovó? – perguntou Beatriz – Seu cabelo era preto e comprido?

– Sim, minha linda. Eu adorava fazer penteados!

– Ah, esse é o parque do Ingá, em Maringá. Antes ele tinha pedalinhos no lago, agora não tem mais. E olhem, o parque das Grevilhas, aqui as crianças gostam de brincar de esconde-esconde. Reparem, esse é o teatro São João, que fica na Lapa. Certa vez, a mamãe de vocês dançou flamenco aqui com a companhia dela.

– Que lindo esse lugar! – admirou Nina.

– E dessa casa, vocês se lembram? Fica em Francisco Beltrão, lá onde vocês gostavam de andar de bicicleta em volta do lago do parque Alvorada. Eu me lembro que tinha um teiú que morava embaixo dessa casa de madeira e um gambá que morava no forro...

– Hahaha... – gargalharam as crianças.

– E esse é o Lago Igapó, em Londrina, onde nasceu a mamãe de vocês e o tio Antônio. Nesse lugar, estávamos pescando um dia e o tio Antônio ficou com raiva

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porque a mamãe estava segurando um saquinho de leite com peixinhos dentro e não deixava ele ver. Furioso, ele empurrou a mamãe e ela caiu no lago. Mas era raso, só foi um grande susto.

– Vovó, você fica triste quando olha esse álbum de fotos? – indagou Marcos.

Não, querido. Nossa vida é assim, somos feitos de experiências e memórias. Eu trago no meu coração um pouquinho de cada um desses lugares e isso me faz muito feliz!

– Vovó, quando eu crescer eu quero ser piloto de avião. Assim, vou poder conhecer vários lugares! – falou Marcos. – E eu vou trabalhar em um navio bem grande para poder viajar também!

exclamou Nina.

– E eu quero ser guia turística para levar as pessoas para conhecerem lugares maravilhosos! – concluiu Beatriz.

Melissa, a mamãe dos trigêmeos, havia ouvido a conversa e disse:

– Crianças, o papai e eu temos uma livraria, que é o lugar onde cabe o mundo todo e mais um pouco. Cada livro é uma experiência que vivemos enquanto lemos. Nos livros, participamos das estórias, conhecemos lugares e pessoas, sonhamos... E os escritores são os que dão vida e cor para os momentos.

– Então eu quero ser escritor! – falou Marcos. E foi logo pegando seu tablet e escrevendo:

“Nina, Beatriz e Marcos eram trigêmeos de onze anos e moravam em uma pequena e bela cidade do Paraná. Seus pais eram comerciantes e tinham uma livraria, a única da cidade...”

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BERNADETE MARIANI

Natural de Guarapuava-PR.

Artista plástica com várias participações em Salões de Arte, incluindo 1ª Bienal da Gravura de Santo André - SP, em 2001.

Poeta e escritora com participação em várias antologias.

2º lugar no Concurso de Contos “Newton Sampaio”, em 2003.

Autora do livro POETAR.

Membro da Alac , Academia de Letras, Artes e Ciências de Guarapuava.

NINA MENINA NINA MENINA

BERNADETE MARIANI

Desde que veio morar com a tia ranzinza para ficar mais perto da escola, Nina, menina alegre e peralta, perdera um pouco seu brilho. No fim da tarde, quando a saudade de casa batia mais forte, para escapar das sandices da tia, ia para o casebre de Corá. Corá era uma senhorinha franzina que nascera surda e por consequência não falava. Lá sempre havia, na cozinha de chão batido, fogo crepitando no rústico fogão feito de uma mistura de barro e cinza. Na chapa, sempre pinhões assando ou milho verde cozinhando. Num canto, num pequeno poleiro, um papagaio, companheiro inseparável de Corá, que a entendia e traduzia a harmonia daquele lugar simples e aconchegante.

Nina aprendeu rapidamente a interagir com Corá que por gestos e olhares entendia e se compadecia da solidão da menina.

Às vésperas da festa do Divino, a tia preparava os “bolos de reza”, feitos de polvilho e coalhada que seriam servidos aos foliões do Divino que visitariam a casa. Com suas cantorias e a bandeira enfeitada de fitas, trariam as bênçãos para os moradores.

Os “bolos de reza” eram assados no forno de barro no terreiro. Queimava-se a lenha dentro, varriam-se as brasas com vassoura de guanxuma e então colocavamse as formas com os bolos fechando a porta até que assassem.

Nina, curiosa e arteira, esperou um tempo e foi para trás do forno e, tirando o tijolo que fechava o “suspiro”, foi espiar os bolinhos. O cheiro que encheu suas narinas atiçou ainda mais sua vontade.

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Sem pensar duas vezes, enfiou o braço magrelo e agarrou alguns biscoitos, só então se deu conta que queimara o braço na façanha. Certa que não seria boa ideia pedir socorro à tia, enrolou os bolinhos na saia e correu para a cabana de Corá que compadecida tratou a queimadura.

Ao som do papagaio dizendo: Ai...ai...ai...

Dá café pro Lôro! Nina e Corá saborearam os bolinhos com uma caneca de café quentinho.

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LILIAN DEISE DE ANDRADE GUINSKI

Nasceu em Curitiba no dia 08/11/1963. No ano 2000, licenciou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e em 2004 concluiu seu Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Obras publicadas: Newton Sampaio: médico escritor; Newton Sampaio: vida, obra e silêncio, ambas as obras tratam da vida do escritor paranaense Newton Sampaio e sua importância no cenário cultural do estado do Paraná; As patuscadas de um livro infantil (... patuscada?) esse livro foi agraciado com o 1º lugar no 4º concurso literário nacional promovido pela Cepe – Companhia Editora de Pernambuco, no ano de 2013, sendo publicado no ano de 2014.

NETO, O NETO DO SEU AVO NETO, O NETO DO SEU AVÔ

LILIAN DEISE DE ANDRADE GUINSKI

Erauma vez um menino “da pá virada” que ainda pequenote já fugia do berço para correr, ou melhor, engatinhar atrás dos seus amigos bezerrinhos, galinhos, gatinhos, patinhos e outros moradores do sítio da sua família, em uma casa com lambrequins, rodeada por araucárias e embalada pelo canto da gralha azul, lá pelos arrabaldes do Parque Estadual de Vila Velha.

Enquanto engatinhava atrás da bicharada o piazito não parava de tagarelar:– Béé Cocoricó Miau Quac.

O guri se entendia tão bem, mas tão bem com os animais do sítio que o pai costumava falar:

– Esse menino é poliglota! Tão pequeno e já fala diversas línguas: o bezerrês, o galinhês, o gatinhês e até o patinhês... Menos o português!

Mas quando enfim começou a falar como gente, o garoto não dava conversa para o silêncio, era uma parolagem só, especialmente quando perguntado por que se chamava Neto.

– Sou Neto porque meu pai é Júnior e meu vô é Humberto.

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Como todos se chamam Humberto, ia ser uma bagunça daquelas quando alguém gritasse HUMBERTO!! Os três iam responder. Os três iam falar ao mesmo tempo e ninguém ia se entender. E repetindo uma das frases preferidas do avô: “é de bagunçar o coreto!”. Sem dar chance de ser interrompido, continuava: – O certo seria meu avô chamar Humberto, meu pai Doisberto e eu Trêsberto. Concluía a explicação.

Aliás, Vô Humberto era o grande companheiro de travessuras do menino. Avô e neto eram tão camaradas, mas tão camaradas que ambos sonhavam em conhecer o mundo juntos – claro!

– Vô, hoje vamos escalar o Pico Paraná ou descer de boia o Rio Morretes? Perguntava Neto assim que acordava.

– Não! Primeiro vamos passear de parapente nas Cataratas do Iguaçu e depois surfar na praia de Matinhos. Respondia o avô dando asas aos sonhos do piá.

Olhando os dois conversando e bagunçando sempre juntos, ninguém diria que um deles tinha pouco mais de seis anos e o outro bem mais de seis décadas de vida – ambos estavam na flor da juventude. Como alguns amigos diziam: “os dois calçavam o mesmo pé”, ou seja, os dois tinham os mesmos gostos e mesmos sonhos.

Um dia os dois estavam sentados aguardando o almoço quando o menino disse:

– Vou até a casinha tirar a água do joelho. Não coma todo o barreado e não surrupie a vina do meu prato.

– Esqueci meus dentes. Sem eles não posso comer, você pode trazer meus dentes?

– Seus dentes? Eles não tinham que estar na sua boca? Como eles saíram da sua boca?

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E o Seu Avô explicou que tinha ido até a casinha e tinha lá esquecido o copo com a dentadura e que precisava dela para comer o barreado com banana prata e a vina.

Na casinha Neto viu o copo lhe sorrindo e pensou: – Aqui os dentes do Vô. E achando graça dos dentes que lhe sorriam de dentro do copo de vidro, teve uma ideia que tagarelou com os próprios botões.

– O Pernil está sem dente há um tempão, já nem sabe o gosto de ter dente na boca. Vou emprestar os dentes do vovô só para o Pernil ficar um pouquinho feliz – ninguém vai saber.

E saltitando de alegria e de inquietação, cantarolava: – Vou deixar meu porquinho um pouquinho feliz.

E o pirralho foi em desabalada carreira, com o copo nas mãos, atrás do bacorinho. Um tempinho depois...

– O porco! PEGA! Os gritos vinham da boca desdentada do Seu Avô.

– PEGA! O porco tá rindo com os meus dentes! Sebo nas canelas. Pega o porco. Ninguém entendia o motivo de tamanho alvoroço. Todos olhavam o velho correndo atrás d o suíno e o suíno correndo atrás do menino e se perguntavam: – Que que está acontecendo?

– Pega o Pernil! Indignado o homem sem dentes esbravejava. – Esse porco não vale o que um periquito rói.

– Como? Porco? Periquito? A família não entendia o que ele queria, tamanha era a gritaria e o alvoroço.

– Ele está rindo com os meus dentes! Gritava o idoso.

Já sem fôlego Seu Avô parou e tentou falar: – Seus... Seus... O po... po... porco está... com meus dentes.

– O Vô caducou?

– Cruz credo! Falou dona Esperança fazendo o sinal da cruz. – O Pernil vai preparar o pinote! Falava o avô. Ele está azeitando as canelas e

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vocês estão passando atestado de burro pro porco. E a família continuava sem entender a aflição do velhinho, as gargalhadas do pirralho e a correria do porquinho.

– O espírito de porco... o porqueira do... do Neto deu meus dentes pro porco. Só quando viram o Seu Avô sem os dentes e o Pernil de dentadura é que todos entenderam o que estava acontecendo. Daí não era apenas o velho correndo atrás do porco, o porco correndo atrás do menino, agora era a família toda correndo atrás dos dentes do Seu Avô.

Seu Avô nunca mais esqueceu os dentes dentro do copo na casinha, o único problema é que ele ficou sentindo gosto de bacon sem ter comido a iguaria, mas com mais uma divertida lembrança das traquinagens feitas por Neto, filho do Seu Júnior e neto do Seu Avô.

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NATÁLIA CRISTINA MARTINS DE SÁ

Natália tem 19 anos e cursa o terceiro ano de Letras da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Não tem nenhuma publicação de livros de poesias ou prosa, mas mantém a escrita como hobbie e participa de concursos locais. Foi premiada duas vezes em concursos da Escola Educacional MAF, em Londrina/PR e no Ciranda de Poesias. Sua principal aspiração ao escrever é inspirar sonhos e manter viva a alegria infantil de contar e ouvir histórias fascinando-se a cada palavra.

NAIPI E A LENDA DE SEU NOME

NAIPI E A LENDA DE SEU NOME

NATÁLIA CRISTINA MARTINS DE SÁ

Naipi

correu pela passarela das cataratas do Iguaçu, enquanto seus pais corriam atrás da pequena garota para que ela não se perdesse. Quando a alcançaram, Naipi falou, rindo:

– As cataratas são lindas!

Naipi era descendente de índios. Aos 8 anos, ela sempre havia morado na cidade, mas sabia que seus tataravós moravam no meio da natureza, antes que os homens brancos surgissem e tomassem o lugar que sempre fora dos índios. Sua família sempre lhe contava histórias sobre quando os índios tinham na natureza tudo o que precisavam e sobre seus costumes, como por exemplo, rezar a deuses muito diferentes do Deus para quem os amiguinhos que Naipi tinha na escola rezavam. Era a primeira vez que Naipi visitava as Cataratas do Iguaçu, que seus pais diziam ser um lugar lindo e que havia inspirado seu nome.

– Papai, mamãe! – ela chamou de repente – A vovó disse que o meu nome tem a ver com as cataratas! Me conta a história do meu nome??

O pai e a mãe de Naipi se entreolharam sorrindo. Olharam para trás, para esperar a avó de Naipi, dona Tabira, que vinha andando mais devagar até eles. Ela tinha ouvido o que a menina pedira para lhe contarem e falou:

– Ah, Naipi, venha aqui que a vovó vai te contar essa história!

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Naipi correu até dona Tabira, que segurou sua mão e, olhando para as cataratas, começou a contar:

– Diz a lenda que os índios que viviam às margens desse rio – Dona Tabira apontou para o rio Iguaçu – acreditavam que o mundo era governado por um deus com forma de serpente. Eles chamavam esse deus de M’boi. O cacique da tribo se chamava Igobi, e tinha uma filha chamada Naipi, uma moça muito linda...

– Linda como você! – interromperam os pais de Naipi.

– ... tão linda que os rios paravam quando a índia olhava seu reflexo em suas águas! – continuou dona Tabira.

Naipi sorriu ao saber que seu nome havia sido inspirado na índia mais linda que já existira na tribo. Dona Tabira continuou a história:

– Por causa da sua beleza, Naipi seria consagrada pela tribo ao deus M’boi, para viver somente para ele, então não poderia se casar com nenhum índio...

– Ei! – Naipi interrompeu. – Isso não é justo. Era a índia quem deveria escolher se casaria ou não.

O pai de Naipi sorriu e passou as mãos pelos cabelos negros da menina:

– Nós sabemos, filha, nós sabemos. Mas era um costume da tribo oferecer a índia mais linda para dedicar-se aos deuses, como uma forma de “agradecimento”.

– Exatamente. – confirmou dona Tabira, continuando a história – E Naipi aceitava esse destino, até que... se apaixonou por um jovem guerreiro! O jovem guerreiro se chamava Tarobá.

– E eles conseguiram ficar juntos? – quis saber a pequena Naipi.

– Eles tentaram. – respondeu sua avó. – No dia da festa de consagração de Naipi

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ao deus M’boi, enquanto todo mundo estava distraído, Naipi e Tarobá fugiram pelo rio Iguaçu em uma canoa.

– Então deu certo?! – Naipi vibrou, mas dona Tabira fez uma careta.

– Até certo ponto, deu. Mas o deus M’boi descobriu que Naipi havia fugido com Tarobá e ficou furioso! Você se lembra de que ele tinha forma de serpente, né?

Naipi fez que sim com a cabeça e dona Tabira continuou: – Então... ele entrou na terra e contorceu seu corpo. Mas ele era enorme e muito forte, e só de contorcer seu corpo dentro da terra, produziu uma fenda que formou essas cataratas.

Enquanto a avó fazia silêncio ao fim da história, Naipi olhou ao seu redor, para o tamanho das cataratas. A pequena índia era capaz de imaginar o tamanho do deus apenas por ver a fenda enorme que seu corpo teria formado, de acordo com essa história. Mas lembrou-se de que a avó não havia terminado de contar a lenda, então perguntou:

– E o que aconteceu com Naipi e com Tarobá? Eles conseguiram fugir??

Dona Tabira abriu um sorriso triste e terminou de contar a história:

– Eles caíram das cataratas e desapareceram. Diz a lenda que Naipi foi transformada em uma das rochas centrais das cataratas e Tarobá tornou-se uma palmeira que fica à beira de um dos abismos dessas quedas d’água. E é por causa disso que temos toda essa visão linda aqui.

Naipi ficou em silêncio, pensativa. Dona Tabira tocou o ombro da menina e disse:

– É claro que tudo isso é apenas uma lenda, minha filha. Mas é uma linda história, que fala sobre costumes e crenças do nosso povo, e por isso você se chama Naipi. Você carrega a lembrança da índia mais bonita do nosso povo e um pedaço da nossa história no seu nome.

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Naipi sorriu e continuou observando a paisagem, orgulhosa da lenda contada por sua avó, de seus antepassados e de seu nome. Mas uma coisa estava diferente: agora, cada palmeira à beira dos abismos e cada rocha no centro das cataratas pareciam lhe contar histórias...

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ROBSON ROGÉRIO DO REGO

Nasceu em Toledo, no Paraná. Mas não residiu muito tempo nessa cidade, ainda criança mudou-se para Cascavel, município próximo a sua cidade natal. Como seu pai era funcionário público, a família nunca permaneceu no mesmo lugar durante anos, porém, sempre no estado do Paraná. Ainda jovem foi para Capanema e depois Francisco Beltrão, onde mais tempo se fixou até então. Já adolescente, sempre junto à família, mudaram-se para Apucarana, norte do Paraná, e lá se encontra por 20 anos. Foi na cidade alta que conheceu sua esposa, formou sua própria família com dois filhos, Luisa e Arthur. Concluiu sua faculdade em Letras e mestrado na área de Estudos da Linguagem, pela Universidade Estadual de Londrina.

MUNDOS DIFERENTES?

MUNDOS DIFERENTES?

ROBSON ROGÉRIO DO REGO

Oslivros sempre acompanharam Alice, e de uns tempos pra cá, suas histórias preferidas eram de índios. Talvez pelas aventuras de Papacapim – ela adorava gibis – ou ainda pela encenação de teatro na escola, contando a história de Iracema. O mundo indígena não lhe saía da cabeça.

Em uma sexta-feira à noite deitou-se e abriu seu livro, como de costume. Foram horas de leitura, os olhos já acusavam o sono, mas ainda faltavam cinco páginas, era o desfecho da aventura, a consagração do herói que conseguiu expulsar o homem branco de suas terras e salvar toda a sua tribo. Alice resistiu até o fim. Com um sorriso de vitória e admiração, fechou o livro e ficou olhando para o teto. Via uma floresta gigante, toda verdinha com pássaros coloridos, podia até sentir o ar úmido e puro da mata, ao fundo, ouvia grunhidos e gorjeares, tudo perfeito... Adormeceu.

Já pela manhã, ainda sonolenta, levantou-se. Sua cachorrinha Mel, já latia, chamando Alice para brincar no gramado ao lado da piscina. Desceu e encontrou um bilhete na porta da geladeira dizendo: “Amor, fui à padaria, volto já. Mamãe.” O pai, como todos os sábados de manhã, foi à feira do bairro. Mel arranhava a porta para entrar como que pedindo socorro. A menina estranhou. Onze anos, sozinha em casa, nunca ficara muito tempo sem a companhia dos pais. Aproximou-se da porta e, apesar do vidro não ser transparente, conseguiu ver que havia alguma coisa pequena bem no fundo do quintal, mas não se mexia, e isso a encorajou.

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Ao fixar os olhos conseguiu perceber uma pessoa agachada com a cabeça entre as pernas e as mãos entrelaçadas na nuca, quase nu. Era uma criança. Estava chorando baixinho e lamentando algumas palavras incompreensíveis. Alice ficou imóvel, “mas como é que uma criança conseguiu chegar ali?” o muro tinha mais de dois metros de altura e reforçado com cerca elétrica.

– Quem é você? – falou alto e com voz autoritária, olhando o pequeno. – O que quer? – Quando o menino levantou cabeça ela então percebeu que era um... Um indiozinho!? Fechou os olhos com força e os abriu novamente.

Levantou-se, enxugou o rosto com as mãos e disse: − Meu nome é Cretã, da tribo Caingangue, não sei por que estou aqui, acordei neste lugar parecido com uma jaula – e caminhou lentamente em direção a Alice que, imediatamente, fechou a porta, atordoada.

− Vai embora! Minha casa se parece com uma jaula para que gente como você não entre.

− Preciso de ajuda, não estou entendendo nada – lamentou, Cretã.

Alice não sabia o que fazer. Mas algo dentro dela dizia que não era preciso temer, não era nenhum adulto! Então foi abrindo a porta aos poucos. – Entre e me conte o que aconteceu, mas já te aviso: meu pai já deve estar chegando, e ele é muito bravo.

− Lembro-me que estava brincando à beira do Rio Tibagi, e cansado, deitei-me à margem para dormir um pouco. Ao acordar já estava nesse lugar – relatou com os olhos marejados.

Pensou em fotografá-lo para mandar pelo Whats, caso contrário, suas amigas não acreditariam. Desistiu. Seria desumano, ele estava muito abatido.

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− Espere aqui! – e rumou para seu quarto.

Já vestido com uma blusa da Minnie e um short de coraçõezinhos que foi praticamente obrigado a usar, Cretã sentia-se ridículo. – Está me apertando! não há sentido! todos se vestem assim aqui? – Alice virou o rosto e não conteve o riso.

− Minha mãe está chegando vou te esconder na sala de jogos, venha!

Ao entrar, as duas conversaram um pouco, enquanto Mel, não parava de latir. – Deve ser algum gato, ela está latindo a manhã toda – amenizou. A mãe, desatenta, avisou que iria assistir a uma vídeoaula. Quando voltou à sala o menino estava embaixo da mesa de sinuca.

− Venha cá! Deixa eu te mostrar uma coisa – e foi ligando a tevê e o videogame, Alice começou a jogar um tipo de batalha, com muitos gritos, explosões e tiros. Assustado, e novamente não entendendo nada, Cretã perguntou se não havia por ali um pouco de milho. Alice trouxe, por curiosidade. – Vou lhe ensinar um jogo muito melhor, chama-se Buzo – costumava jogar com meus irmãos, na tribo.

Depois de pouco tempo, os dois jogavam entusiasmados, vibrando a cada vitória.

− O que é aquilo? – perguntou o indiozinho, já mais confiante, apontando para um violão.

Ouvindo os primeiros acordes tocados por Alice, Cretã lembrou-se de seu povo, principalmente dos pais. Olhando para o lado, enfim reconheceu um objeto, uma flauta de plástico que Alice ganhara quando criança. O hábil menino acompanhou o som do violão. Impressionada, cessou as cordas e contemplou um espetáculo de pureza, suavidade e muita emoção ao som da flauta. Era como um pássaro contemplando a natureza e agradecendo a liberdade, não havia melodia

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mais doce aos ouvidos. Então ela percebeu que era hora de ajudá-lo a encontrar seu caminho.

− Já sei! – disse a menina num sobressalto – Você disse que estava à margem do Tibagi, vamos tentar achar alguma imagem que você reconheça pela internet.

− Vamos! – respondeu sem ter a mínima ideia do que era aquilo. Alice começou a pesquisar fotos do rio com comunidades Caingangues. Foram poucas. Cretã percebeu certa semelhança.

− Onde estão as árvores que espremiam o rio? Só vejo um punhado, e, de resto, muita terra vermelha! Onde está meu povo? Não há lugar nem para animais!

− Cretã, praticamente não há mais índios, essa terra é para plantar ou criar gado, não pertence mais a vocês. Sinto muito – baixou os olhos, envergonhada.

O menino foi até a saída, olhou para o céu azul e ficou por algum tempo em silêncio. Alice percebeu que, naquele momento, uma alma inocente conversava com Deus.

Um ruído vindo da porta da garagem anunciava a chegada de seu pai. Saiu correndo para desviá-lo, dizendo que a mãe queria falar-lhe. Quando voltou não encontrou Cretã. Procurou por todos os lados e, olhando para um canto da sala, viu um feixe de sol sobre a flauta. Alice sorriu, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

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HÉRCULES JOÃO LACOVIC

Nasceu em Corbélia – PR, em 18/04/1991. Aprendeu com o pai o gosto pela música, pelo canto e escrita. Aos 11 anos, iniciou seus estudos de violão, começando a carreira musical na noite aos 16 anos, quando iniciou suas primeiras composições literário-musicais. Formou-se em música pela Anhanguera e mudou-se para Cascavel em 2011.

Por cinco anos foi professor de música para adolescentes em conflito com a lei, hoje ensina música na rede de solidariedade Marista e na Companhia dos Jesuítas, além de ter fundado em 2015 o projeto Raízes Culturais que atende voluntariamente mais 100 crianças das periferias de Cascavel.

Vocalista da banda Raiz Vermelha, lançou em 2015 seu primeiro EP autointitulado e em 2016 teve aprovado pelo MinC um projeto cultural que contempla o lançamento de seu primeiro livro e CD musical de contos e poesias intitulado “Tudo diferente, mas nada mudou”.

O MENINO DA FLORESTA DOURADA

O MENINO DA FLORESTA DOURADA

HÉRCULES JOÃO LACOVIC

Carlos era um menino muito pensador. Para lá de pensador!

Todos as tardes, ao voltar da escola, pintava em sua cabeça mundos muito estranhos e divertidos. Certo dia pensou que vivia em um mundo onde os carros eram elefantes coloridos e que o som de suas buzinas era um enfadonho grasno de pato. Outra vez imaginou um mundo em que os cães levavam seus donos para passear na coleira e outro em que picolés gigantes tentavam lamber todas as pessoas, que berravam e esperneavam loucamente por socorro.

Uma vez ele deitou depois do almoço, fechou os olhos, respirou e aí...

Pensou fundo...

Beeeeem fundo...

Muuuuuuuuito fundo...

Até que ele mesmo acordou em uma floresta. Mas essa não era uma floresta comum. Era noite e tudo era muito escuro e silencioso. Tudo parecia sem vida. Carlos teve muito medo. Até que do horizonte um raio de sol apareceu. O menino ainda não via nada, mas quando o primeiro raio tocou o topo da árvore mais alta, ele pôde ouvir o som dela despertando. Logo viu que era um lindo pinheiro de araucária. Seus longos galhos se mexiam e começavam a sacudir-se com os primeiros ventos da manhã que agora sopravam. Seus passarinhos começaram a cantar, saudando o sol que chegou também aos pinheiros vizinhos, que também acordavam. Conforme o sol ficava mais forte, Carlos percebeu algo muito esquisito: Todo lugar que o sol batia ficava dourado! Percebeu que estava entrando em uma imensa floresta dourada!

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E assim que o sol surgia, apareceu um saltitante bebê de macaco-prego dourado. Ouviu também o grito de um grande gavião do banhado dourado e na beira de um laguinho dourado avistou várias capivaras e antas douradas banhando-se no delicioso sol. Nem mesmo a arara azul escapou da cor de ouro! Por trás das capivaras ela pousou e cavou uma semente de araucária na terra, levantando voo e pousando no topo de um pinheiro com suas outras amigas araras. Carlos se divertia e se encantava nesse mundo radiante até que, de repente, o sol se escondeu atrás de uma nuvem. A floresta começou a escurecer e dormir novamente. O garoto começou a correr para onde o sol batia, até que deu de cara com uma tribo de índios Kaingangs dourados, que começaram uma dança. Eles cantavam forte: “Kasu Ta Ti Jé Tu Myhá! Kasu Ta Ti Jé Tu Myhá! ”, enquanto bailavam lindamente. Carlos não se aguentou e também entrou na dança! Quanto mais cantavam, mais rápido a nuvem corria para longe da floresta, que voltava a se alegrar.

O mundo era como uma grande orquestra do sol, que regia a todos e formava uma linda sinfonia.

Carlos explorava a floresta quando uma cavalgada medonha tocou seus ouvidos. De longe, avistou dois cavaleiros sombrios em cavalos sem cabeça vindos na sua direção. O menino saiu em disparada para escapar dos terríveis cavaleiros, que escureciam tudo por onde passavam. Correndo cada vez mais rápido, ouvia cada vez mais alto o som dos cavalos. Então a floresta foi se modificando. As capivaras e antas, do nada, desapareceram! E aí o filhote de macaco-prego sumiu e até mesmo as araras azuis douradas não estavam mais lá. Carlos corria rapidamente em direção ao último pinheiro de araucária que restou e sentia os cavaleiros se aproximando cada vez mais. Quando chegou, enfim, estava encurralado. Carlos tremeu ao ver de perto os cavaleiros mascarados, montados naqueles enormes cavalos bufantes sem cabeça. Foi quando um deles decidiu levantar a máscara.

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Carlos ficou de olhos arregalados, curioso e apavorado, esperando a aparição do temível ser. Para sua surpresa, quando o cavaleiro se desmascarou, avistou sua mãe.

Com cara de brava, ela o olhou profundamente e gritou: – CARLOS! ACORDA, PIÁ! TA NA HORA DE LAVAR A LOUÇA!

E assim, despertando em sua cama, descobriu que nem só de imaginação vivem os meninos.

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PATRÍCIA SIQUEIRA SILVA

Nasceu e vive em Guarapuava. Trabalhou em agências de publicidade até descobrir que gosta mesmo é de ler, escrever e falar sobre isso.

Lê bulas de remédio, placas de trânsito e cartas de tarot, mas sua grande paixão são os livros.

Guia e turista de viagens das quais não sabe o destino, aprecia todos os detalhes do caminho.

A MENINA E A ARVORE A MENINA E A ÁRVORE PATRÍCIA SIQUEIRA SILVA

Depois de tanto tempo, era chocante saber que o pai tinha morrido poucos meses depois de sair de casa para viver com uma mulher da qual ela mal lembrava. A confirmação da morte dele lhe causava um misto de alívio e decepção, porque não era agradável saber que passara a vida criando diálogos e inventando desaforos para um fantasma.

Quando ele foi embora levando duas malas velhas e o aparelho de som no carro velho da família, a mãe caiu doente. Ainda estava no resguardo do nascimento do Tico, o irmão caçula que nunca chegou a ver as fuças do pai, nem por foto, porque a mãe tinha rasgado todas. Fazia um frio de lascar e a menina foi mandada para a casa da avó, no interior, até que as coisas se ajeitassem.

Chegou contrariada naquela casa de madeira onde o fogão a lenha parecia estar eternamente aceso, e de onde todos os dias exalava o aroma de pão assado. Não conhecia muito bem a avó, que visitara a casa deles na capital uma única vez, para uma consulta médica. Quando vinham passar o natal, havia a pequena multidão de crianças e ela nunca tinha registrado qualquer relação especial com aquela mulher amarga e magra, que demonstrava amor através da comida e detestava ser contrariada.

Na primeira semana, deixaram que levantasse da cama depois que todos já tinham tomado café, até que um dia acordou sacudida pelas mãos fortes da avó. – Levanta, guria. A vida não para só porque a gente está triste. Saiu pela primeira vez ao pátio que ficava nos fundos da casa. O sol começava a

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derreter a geada que tinha se formado na grama e o frio transformava sua respiração em fumaça, quando ela olhou para cima e a viu: uma araucária majestosa, com galhos longos de um verde fechado contrastando de um jeito bonito com o céu azulzinho. Sentiu um aperto no peito, foi caminhando com os pés pesados até perto da árvore e ali se sentou, como que desabando sob o peso da própria alma. As lágrimas brotaram e quando deu por si, chorava soluçado, limpando o nariz na manga da blusa. Depois de esvaziada a tristeza, voltou para o calor da casa e encontrou a avó na cozinha, descascando batatas para o almoço.

– Chorar é bom, mas não pode acostumar senão é muito custoso de parar.

Chegava da escola ansiosa por cumprir sua lista de tarefas, que ia de arear as panelas a ferver as toalhas, porque assim que acabasse podia ir para o quintal e sentar debaixo do pinheiro com algum livro, e ali sentia como se raízes daquela árvore fossem uma extensão do seu corpo.

– Ô vó, quantos anos será que tem aquele pinheiro lá atrás?

– Ah, quando o pai do meu pai era piá ele já era desse tamanho... deve ter mais de duzentos.

– Duzentos ???

O espanto causado pela antiguidade da árvore aumentava seu fascínio e a vontade de ficar perto dela era tanta que se convenceu que a árvore também lhe respondia, e assim foi para o pinheiro que ela contou que tinha um piá no colégio que fazia seu coração bater diferente no peito, e que cada vez que ele se aproximava ela sentia o rosto corar. Foi lá que ela chorou muitas vezes de saudade da mãe e dos irmãos e o pinheiro era a única criatura a quem ela confessava que também sentia saudade do pai. Assim, entre confidências e conselhos, o inverno se transformou em primavera, o natal em ano novo, ela ficou mocinha, a mãe veio vê-la trazendo os irmãos e eles ficaram tanto tempo abraçados que o pequeninho

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começou a chorar de tanto que o apertaram.

– Mãe, posso ficar aqui com a vó?

Quando chegou a época de fazer faculdade, foi ficando inquieta por ter que se mudar e a vó, percebendo seu desassossego, a chamou para conversar e disse que viver é mudar e que mudanças eram para melhor, ela não se lembrava de quando chegou ali, e afinal não tinha tudo se ajeitado bem? O pinheiro lhe disse coisas parecidas e ela se convenceu que estava na hora de ir embora, mas fez uma promessa que mantém até hoje, muitos anos depois de a avó ter morrido e a casa dela ter sido substituída por um sobrado onde hoje mora o filho do Tio Nelson: voltar todos os anos para ver sua melhor amiga Araucária.

Fez faculdade de biologia, onde aprendeu que a araucária, ou pinheiro do Paraná, tem um nome científico: Araucaria Angustifolia, e que é a espécie que caracteriza a Floresta Ombrófila Mista, que por este motivo recebe o nome popular de Floresta com Araucária. Descobriu ainda que a árvore é uma espécie ameaçada de extinção e todas as vezes que pensa nisso sente um arrepio na espinha, pois tem poucas certezas na vida. Por exemplo, tem certeza que tudo aconteceu exatamente como deveria ter acontecido. Tem certeza que tem uma vida maravilhosa, apesar das dores vividas. Mas especialmente tem certeza que um mundo sem araucárias seria muito menos bonito e mágico.

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO PARANÁ

Darci Piana

Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR

Dieter Lengning

Diretor Regional do Sesc PR

Cesar Luiz Gonçalves

Coordenador Geral do NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

Ernani Buchmann

Coordenador de Jornalismo do NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

Glória Kirinus

Jurada da Seleção

Simon Taylor

Ilustração

AGRADECIMENTOS

Equipe técnica DEC, Unidades de serviços e NCM – Núcleo de Comunicação e Marketing

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