Fazendo 41

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FAZENDO boletim do que por cá se faz

17 de junho de 2010 | Quinta | Edição # 41 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuição Gratuita

Os prédios degradados dão pinturas bonitas.


Opinião

Opinião

Indústrias Culturais e Criativas

Crónica

Seis factos e uma constante

renumeração leva a melhores resultados, se o trabalho

Jácome Armas

(1) Um ambiente estimulante leva à formação de redes

envolver um mínimo de capacidade criativa a renumeração

Livro Verde é o nome dado a um documento elaborado pela

neuronais mais complexas e mais estáveis (Susan Greenfield

leva a piores resultados. A classe criativa é movida por

Comissão Europeia com o intuito de promover a discussão e o

et al). Os avanços recentes na área da neurociência, em

autonomia, possibilidade de aperfeiçoamento das suas

debate sobre um determinado tópico, incentivando qualquer

particular devido à descoberta da ressonância magnética,

capacidades e por uma noção de objectivo – um propósito.

indivíduo e organização a contribuir e participar, resultando

permitiram conduzir uma série de experiências que têm vindo

(6) A reinvenção do método escolar com base na abordagem a

eventualmente na elaboração de um Livro Branco – um

lentamente a desmistificar conceitos como a consciência, a

problemas reais e a envolvência das comunidades no sistema

documento oficial onde constam uma série de propostas que

mente e a criatividade que outrora julgavam-se impossíveis

de ensino levam a um ambiente capaz de providenciar aos

mais tarde serão utilizadas como força motriz para a

de serem estudados recorrendo ao método científico. Hoje

alunos um maior desenvolvimento das suas capacidades

implementação de leis adequadas.

em dia sabe-se que a mente é uma construção única de cada

criativas (Charles Leadbeater et al).

Com o objectivo de desenvolver o potencial das Indústrias

indivíduo que depende da totalidade da sua experiência

Culturais e Criativas (ICC) surgiu um Livro Verde, publicado

pessoal. Um ambiente estimulante faz com que as células

Jardinagem da Criatividade: a visão do Fazendo:

em Abril do ano corrente, que entre outras, levanta questões

cerebrais cresçam e criem mais ligações com outras células

Os factos acima apresentados levam-nos a concluir o seguinte:

que pretendem averiguar quais são as melhores formas das

dando origem a diversos circuitos associativos que tomam o

para que a criatividade surja é necessário criar as condições

ICC obterem financiamento ou como poderão estas servir de

nome de redes neuronais. A criatividade é a capacidade

ideais. Dito de outra forma, para potenciar a criatividade é

intermediárias entre as comunidades artísticas e criativas e a

humana que permite criar novas ligações entre diferentes

preciso vestir um “fato” de jardineiro: preparar o solo e dar

sociedade.

redes, que ainda não tinham sido estabelecidas, ou seja, por

condições à planta para crescer. Se puxarmos por uma tulipa

Na passada terça-feira realizou-se no auditório da Biblioteca

outras palavras, permite ver uma determinada coisa de uma

com as mãos ela não cresce, mas se lhe dermos condições

Pública

o

as

Indústrias

Criativas,

forma diferente.

(luz, água, solo rico em nutrientes…) é provável que cresça.

(2) Não são as pessoas que vão atrás dos empregos, são as

Da mesma forma, para que a criatividade surja numa cidade,

Associação Cultural Fazendo, representada por Pedro Lucas,

empresas que vão atrás do capital humano. Um estudo

é preciso que esta providencie as ferramentas, as estruturas

apresentou diferentes propostas concretas aos desafios

conduzido por Richard Florida et al confirmou que a escolha

e as estratégias necessárias. Mais concretamente é necessário

levantados pelo Livro Verde. Esta curta palestra estará

da cidade onde um indivíduo com formação superior quer

instituir o espírito comunitário nas diferentes ICC; criar uma

online

Fazendo

viver precede a procura de emprego. Por esta razão as

boa rede de transportes; facilitar a habitação no centro; criar

conjuntamente com um breve estudo sobre a Criatividade e

empresas tendem a deslocar-se para as cidades onde se

pólos universitários e de formação; criar espaços de encontro

as ICC. O propósito deste artigo é o de resumir de uma forma

encontra a mão de obra especializada.

entre a comunidade artística e criativa e a sociedade; criar

sucinta este estudo.

(3) Existe uma correlação entre a desenvoltura cultural e o

espaços autênticos em concordância com a cultura local;

desenvolvimento

combater o neo-analfabetismo; instituir a tolerância.

brevemente

colóquio

Potenciar

organizado pela Direcção Regional da Cultura, onde a

disponível

no

blog

do

económico. Através

de

outro

estudo

Uma breve nota histórica: No fim do século XIX a economia

conduzido por Richard Florida et al concluiu-se que as

do mundo ocidental estava estabelecida como uma economia

cidades com uma economia em ascensão são culturalmente

Algumas propostas concretas ao Livro Verde: Um resumo

agrícola, não só o sector agrícola produzia o maior retorno

ricas, por outras palavras, estas cidade têm uma elevada

das propostas do Fazendo estará online dentro em breve,

monetário como também providenciava o maior número de

concentração de membros da classe criativa.

aqui destacamos apenas algumas:

empregos. Com o desenvolvimento dos meios tecnológicos a

(4) A confiança e o sentido comunitário, caso presentes nas

- Encontrar métodos de envolver a sociedade nos projectos

Revolução Industrial deu origem a uma mudança gradual de

empresas, conduzem à elaboração de soluções criativas. Um

das ICC, transformando os utilizadores em criadores. A título

uma economia agrícola a uma economia industrial, de procura

estudo levado a cabo por Manuel Castells et al a equipas de

de exemplo destacamos o projecto open source do linux ou a

de mão de obra capaz de lavrar a terra à procura de mão de

sucesso em inovação como a Nokia, Google ou iPhone,

wikipedia – a enciclopédia que qualquer um pode modificar.

obra capaz de operar uma máquina, economia esta que se

concluiu que a confiança entre os vários membros de uma

- Criar wikis* físicos como o Fazendo em que toda a

encontrava efectivamente estabelecida após a segunda

equipa leva a uma maior troca de ideias e de informação

comunidade pode participar dando o seu contributo para um

Guerra Mundial. Contudo, nos últimos vinte anos temos

enquanto que o sentido comunitário, a inter-ajuda e a

objectivo comum – neste caso a publicação de um jornal.

assistido a uma nova mudança, agora de uma economia

partilha de objectivos comuns permitem uma combinação de

- O poder local deve adjudicar de algumas das suas

industrial a uma economia criativa. Enquanto no sector

esforços mais eficiente.

competências a instituições civis através da criação de

agrícola ou industrial o capital tomava a forma física de três

(5) A mão de obra criativa mostra um comportamento

protocolos. Um exemplo seria abrir a Semana do Mar à

sacos de batatas ou dez latas de atum, no sector criativo (que

económico irracional. Um estudo feito por Dan Pink et al

comunidade atribuindo a responsabilidade de organização de

inclui as áreas de investigação, inovação, ciência, artes,

conclui que se escolhermos um qualquer indivíduo e

diferentes secções a diferentes grupos civis, à semelhança da

cultura, etc...) o capital é maioritariamente intangível: o

oferecermos uma renumeração monetária extra em troca de

entrega da organização do Festival de Teatro ao Teatro de

produto toma a forma de uma ideia. Como lidar com isto, é

maior produção, ou melhor qualidade de trabalho, em média

Giz.O

uma das grandes questões do Livro Verde.

observaremos o seguinte: se o trabalho for mecânico a

a fácil modificação e edição de vários documentos.

se tenha perdido) no universo de hiperligações presentes num

partir de agora, na versão digital do jornal, os termos de

texto da wikipedia, passou meia hora no YouTube seguindo

maior destaque nos textos conterão hiperligações para os

de vídeo em vídeo ou acabou a partilhar esses vídeos, notícias

sites oficiais ou outros sites com informação relevante

“Web 2.0” é um termo cunhado em 2004 pelo norte-

de jornais ou fotos do Flickr na sua página do Facebook. Não

relativa a essas palavras. Tentamos assim facilitar o

-americano Tim O’Reilly referindo-se a uma nova forma de

há serviço na internet hoje que não dê a possibilidade de

aprofundamento dos temas tratados no jornal através do

utilizar a internet como plataforma, e não propriamente a

comentar ou que não tenha associado o pequeno botão com a

acesso à informação em rede e oferecer uma nova experiência

uma actualização das suas especificações técnicas. Já todos

palavra “share” que permite partilhar os conteúdos entre

no seu uso.

nós utilizámos esta segunda geração da internet que se

diferentes plataformas.

Já agora, se não quiser contactar-nos directamente para

caracteriza, num sentido muito lato, pela sua utilização em

Passando para o assunto que dá título a este artigo, o Fazendo

participar no jornal, pode sempre passar em fazendofazendo.

redes nas quais os utlizadores são simultaneamente co-

2.0 também não se trata de uma nova versão do jornal, de

blogspot.com e deixar um comentário ou partilhar os

-criadores: quem não se perdeu (ou não conhece alguém que

uma remodulação do seu conceito ou de um novo design. A

conteúdos com outras pessoas. O

Fazendo vai 2.0 Pedro Lucas

*wiki é o nome a um software colaborativo que permite

ficha técnica - fazendo - isento de registo na erc ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de janeiro, art. 9º, nº 2 - direcção geral: jácome armas - direcção editorial: pedro lucas - coordenação geral: aurora ribeiro - coordenadores temáticos: catarina azevedo, luís menezes, luís pereira, pedro gaspar, ricardo serrão, rosa dart - colaboradores: carlos cordeiro, eva giacomello, fausto cardoso, gui menezes, joana vaz-pereira, orlando guerreiro, pedro juliano cota, rita braga, sara soares, tiago castro, tomás silva - projecto gráfico: paulo neves, elcubu, contact@elcubu.com - capa: matilde marçal - propriedade: associação cultural fazendo - sede: rua rogério gonçalves, nº 18, 9900 horta - periodicidade: quinzenal - tiragem: 400 exemplares - impressão: gráfica o telégrapho - contactos: vai.se.fazendo@gmail.com, http://fazendofazendo.blogspot.com - distribuição gratuita

02 Apoio: Direcção Regional de Cultura


Música Música http://www.oddmusic.com/gallery/

Música Esquisita Fausto

, baixo, bateria, piano? Esqueçam. São pouco esquisitos, e estão mais que vistos. Está na altura de você, caro leitor, inventar o seu próprio instrumento. Não tem dinheiro? E que tal ir à lixeira? Ou usar peças do quotidiano, já postas de parte para irem para o lixo. Pois, mas é preciso perceber de música, pensam vocês. Depende do grau de exigência. Não é preciso saber de música para alinhar

copos

de

diferentes

tamanhos

e

diferentes

quantidades de líquido dentro, para fazer sequências de sons cristalinos. Pode-se na realidade “brincar” com o som, sem a necessidade de um compromisso teórico. Estão convencidos? Eu sei que não. Obviamente que não. Bom, de qualquer maneira, para quem quiser experimentar, aqui fica um sítio na internet onde se poderão deliciar a ver e ouvir (há samples) invenções musicais, e que, quem sabe, vos motivará a experimentar. Há instrumentos para todos os gostos, peças

fogo, a água, a vento… Estou certo que alguns destes

artistas e artesãos que pelo mundo inteiro dedicam o seu

bonitas, feias, simples, complicadas, bizarras, transformadas,

instrumentos passarão a ser universais em pouco tempo, pois

tempo à invenção de novos instrumentos e novas sonoridades,

que soam bem, que soam mal, esculturas musicais, devaneios,

preenchem os requisitos necessários para tal: simplicidade,

e é um excelente contributo para estimular a imaginação e o

sons celestiais para os nossos ouvidos, instrumentos “agora é

manuseabilidade, versatilidade harmónica, e qualidade do

aparecimento de novas ideias. Quem sabe não surgirá no Faial

que ele se passou de vez”, acústicos, eléctricos, a gasolina, a

som produzido. Este site mostra o trabalho de inventores,

uma ideia genial? O

Rildo Hora

À descoberta

Discos do Além Fausto

Rita Redshoes Fausto

(2008). Diz quem já ouviu que se trata de um disco mais directo, de canções mais orgânicas e menos orquestradas, mantendo no entanto evidentes as influências norte-americanas anteriores, mas onde sobressaem mais elementos de country e folk, e vozes soul e gospel. Para já, e no círculo da crítica preliminar, o disco não reúne consensos, sendo por vezes referenciado como um trabalho de altos e baixos, tanto em termos de intensidade como de interesse. Por vezes quando a crítica espera uma continuidade, depara-se com

a hora de Rildo Hora. “Já não era sem

uma ruptura para a qual não está psicologicamente

tempo”, dizia-se na altura. O artista ponderou, e achou que

preparada, e reage mal. Eu cá desconfio sempre da crítica,

seria aquele o momento ideal para investir na sua carreira

assim como você, caro leitor, deve desconfiar sempre do que

musical. “Estou no meu melhor momento”, afirmava após o

eu escrevo. Mas voltando ao disco, a ex-vocalista dos Atomic

lançamento. Rildo Hora ressurgia então em bom estilo e com

Bees e teclista de David Fonseca contou com a participação

o seu melhor aspecto de sempre, após grandiosos insucessos

de alguns músicos convidados como Danna Colley (ex-

como “Pickles/ Coisinha Especial”, e um interregno de cinco

-saxofonista dos Morphine), José Pino (antigo guitarrista do

anos, época em que abriu um cabeleireiro. Estávamos em

Conjunto Mistério) e Paulo Furtado (Wraygunn, Legendary

1971,

“Lights & Darks”

Tigerman), elementos que segundo a compositora têm “um

vertiginosamente ascendente e descendente, ascendente e

Rita Redshoes 2010

som muito específico e uma identidade bastante definida”. A

descendente do artista, altura em que se mudou para o

e

este

disco

foi

o

início

de

uma

carreira

edição especial do disco inclui ainda 13 curtas-metragens

décimo andar de um prédio com elevador em Copacabana.

Redshoes tem um novo disco. Lights

assinadas (entre outros) por David Fonseca, André Cepeda e

Por vezes apelidado pela crítica de fastidioso e execrável,

& Darks foi apresentado esta semana na Fnac do Chiado, e é

pela própria Rita Redshoes. Para além de ser uma das poucas

passando por intragável e até caricato, Rildo Hora foi um

o segundo trabalho da autora, chegando às lojas já na semana

cantoras/ compositoras portuguesas, e de ter uma atitude

artista incompreendido, na minha opinião, muito à frente na

que vem. Segundo a cantora, foi um parto difícil,

bastante corajosa na música, prevê-se pela crítica a este

sua época. Apenas o Sr. Victor da RCA, um visionário da

principalmente

de

disco que Rita Redshoes demonstre agora a sua versatilidade,

indústria discográfica, e eu, um miserável escritor de artigos

dar

não se confinando ao universo de “Golden Era”, para o bem e

que ninguém lê, conseguimos entender o talento de Rildo

para o mal. A ouvir vamos… O

Hora. E assim se perdem talentos… O

composição,

nas

onde

semanas pesou

a

iniciais

do

processo

responsabilidade

de

continuidade ao sucesso do primeiro trabalho “Golden Era”

03


Teatro e Cinema A

Cinema O Cinema Europeu Pedro Juliano Cota, Director da Azores Film Commission

Açores, Região Europeia

para esta realidade: desde as línguas originais, até às verbas

indirectamente para as contas nacionais. Existem alguns

2010, e partindo de um acordo entre a Azores Film

disponíveis para produzir cinema. Parece, no entanto, que os

casos emblemáticos deste ‘input’ económico que é importante

Commission e o Governo dos Açores, através do Secretário

filmes europeus, na sua origem, não são produzidos para

referir: “Braveheart - O Desafio do Guerreiro”, com Mel

Regional da Presidência, entendeu-se que seria de todo o

agradar às multidões. Relevante é ainda o facto destes filmes

Gibson

interesse aproveitar este momento para homenagear o

carecerem de um verdadeiro projecto comercial. Muitos dos

europeia) fez disparar em 300% o número de visitantes na

Cinema e em especial, porque a ocasião a isso se presta: o

projectos cinematográficos chegam ao seu final quando

Escócia; cerca de 400%, foi o aumento do turismo da Nova

Cinema Europeu.

terminada a montagem da película, negligenciando-se a

Zelândia devido à trilogia “O Senhor dos Anéis”; 30% da

Assim, no passado dia 5 de Junho, precisamente na cidade da

componente

é

receita do turismo na Suíça provém da indústria audiovisual;

Horta – que muito tem feito pela Sétima Arte –, inaugurou-se

determinante para o sucesso de uma indústria, e que no caso

27% dos britânicos decidem o destino das suas férias com

um ciclo de cinema de âmbito regional, intitulado “A Imagem

de Hollywood, conta na maioria dos casos com orçamentos

base nos filmes e séries que vêm no cinema ou na televisão.

da Europa”, que tem como objectivos não só promover a

quase superiores aos da produção do próprio filme.

De qualquer modo é urgente repensar os modelos de

promocional.

Componente

essa

que

Sétima Arte do Velho Continente, como demonstrar que esta

(curiosamente

uma

produção

maioritariamente

financiamento à produção de cinema na Europa, de forma a

segue, muito embora as diferenças e diversidades (até

Na Europa, existem fundos comunitários de apoio à produção

torná-lo mais rentável. Talvez seja essa a única forma de o

regionais), as mesmas matrizes culturais; por outro lado

cinematográfica

entre

preservar, face à grande crise económica e ao défice

mostrar que o cinema pode contribuir para uma tão necessária

outros), que têm ajudado a concretizar em alguns países

orçamental dos Estados. Na verdade, aos poucos tem

construção de uma verdadeira identidade europeia. O cinema

europeus (França, Alemanha, Itália, Espanha, principalmente)

aparecido uma nova geração de realizadores e produtores de

é, por excelência, um grande veículo de comunicação de

projectos com retorno financeiro e sucessos de bilheteira,

cinema, capazes de entender esta necessidade e que

(MEDIA,

EURIMAGES,

IBERMÉDIA,

massas. Se observarmos o fenómeno Hollywood, saberemos

que vão ajudando a consolidar uma bem sucedida indústria

procuram inovar nos seus projectos, adoptando linguagens

que muita da construção da “imagem” que o mundo tem dos

europeia de cinema ou pelo menos uma actividade rentável

mais populares, buscando a internacionalização e sinergias

EUA, parte de um cinema que foi capaz de construir um

no plano económico nacional, em termos de mercado

de produção, apostando mais na promoção dos seus produtos

imaginário nas multidões, criando paixões e ódios, mas acima

internacional. Apesar de ser muito difícil aos filmes europeus,

e obras. Isto também, porque os novos formatos de fundos de

de tudo uma actividade económico-artística que foi capaz de

de adoptar o modelo de produção cinematográfico norte-

apoio à actividade audiovisual começam a exigir resultados

construir uma percepção, promovendo ao mesmo tempo uma

-americano, a verdade é também que muitos dos projectos

financeiros, cedendo apenas estes apoios a título de

“imagem” daquele País. Certo é que vemos, muitas vezes, as

da indústria de Hollywood, são “remakes” de obras deste

empréstimo.

novas gerações a tomar por verdade o que visualizam nos

lado do oceano, devidamente adaptados e dirigidos ao grande

As questões aqui levantadas e outras que se interligam, serão

filmes norte-americanos, apropriando-se dessas ideias para a

público. Aqui reside a grande diferença e um dos paradigmas

alvo de uma conversa e de um debate que se vai realizar no

sua realidade.

do cinema europeu: um conteúdo feito à imagem de um vasto

próximo dia 18 de Junho, na belíssima cidade da Horta,

público ou um produto feito apenas à imagem do seu

animado

Apesar de a Europa produzir anualmente, no seu conjunto de

“criador”, dirigido a um público muito restrito? O ideal seria

cinematográfica e do jornalismo audiovisual: Mário Augusto

por

três

conhecidas

referências

da

crítica

países, muitos mais filmes que Hollywood, infelizmente estes

contarmos com o meio-termo dando um salto qualitativo,

(RTP), João Antunes (Jornal de Noticias) e José Vieira Mendes

não alcançam os mesmos êxitos de bilheteira que os seus

inovando na forma e dando oportunidade aos cineastas de

(RTP). Esperamos que reunindo estes três especialistas,

congéneres norte-americanos. E alguns desses filmes europeus

criar obras de arte, sem perderem de vista o reconhecimento

possamos ajudar a reflectir e a explicar um pouco melhor os

até

do cinema europeu pelo grande público.

caminhos a seguir. De modo a preservar os valores que têm

internacionais de cinema, como Cannes, Veneza, Berlim ou

É indiscutível também que o desenvolvimento de uma

sido preciosos no escrutínio dos nossos caminhos, dos grandes

até mais recente, com os Prémios EFA - European Film Awards

indústria audiovisual tornou-se crucial para todos os países do

fenómenos sociais que marcaram a evolução e a política,

(os Óscares do Cinema Europeu) e o Prémio Lux, atribuído

mundo, incluindo os europeus. Trata-se igualmente de um

desta Europa teimosa, persistente na manutenção dos seus

pelo Parlamento Europeu. Podemos apontar muitas razões

importante motor de desenvolvimento económico, directa ou

ideais.O

foram

premiados

nos

mais

prestigiados

festivais

O conto de um caminho de retorno Fausto Cardoso

de pedra. A porta que dá para a rua desvela uma ilha feita de

uma pedra para sempre ao teu coração. E a criança em

um pequeno pátio de chão de madeira com duas pedras

esforço e dor vai até ao barco e até à colina e encontra o

esculpidas à porta de entrada. Um galo e um barco cheio de

peixe já morto e enterra-o. Mas encontra o sapo ainda a

figuras ondulantes completam a imagem. É o barco, claro,

tentar saltar e consegue libertá-lo da pedra. E correndo para

que faz a ponte com o exterior. Foi nesse barco que chegou a

encontrar a serpente já chega demasido tarde perante o

criança e antes o monge que talvez sempre lá esteve.

corpo desventrado desse símbolo animal da vida. E chora. E o

Nas colinas a criança aprende a lição maior da vida – que tudo

velho mestre observa com compaixão.

tem retorno – que todas as acções retornam à fonte. Assim

Mais tarde já homem, já tendo passado pela cidade, tendo

como a própria vida. Um ciclo interminável. E esse ciclo vivo

amado e assassinado por paixão, o menino retorna ao seu

impõe uma moral. Fazes o bem, o bem volta para ti. Dás,

mosteiro flutuante já sem o velho mestre que o libertara sem

recebes. Ages mal, receberás o mal, mais tarde ou mais cedo.

ele saber. E antes de uma mulher misteriosa lhe entregar o

o que seria viver numa pequena casa

Quem semeia ventos, colhe tempestades, diz-se por aqui. E a

seu filho, ele sobe até à mais alta das colinas com a figura do

de madeira suspensa num lago envolto por vales. Dentro da

criança tem de aprender. Pois a vida está toda ligada e fazer

buda com uma pedra amarrada ao corpo. E reza.

casa dois espaços delimitados por duas portas, mas sem

mal a algo aqui, é fazer mal a si próprio. A criança tem de

paredes, como se fossem, quisessem ser os quartos que não

aprender. Vai amarrando pedras, ao peixe, ao sapo e, por fim,

Primavera, Verão, Outono, Inverno… Primavera, um filme de

são. Isto porque dentro deste sítio tudo está aberto, a ilusão

à serpente e ri-se. O velho mestre amarra então uma pedra

Kim Ki-Duk

da separação é usada conscientemente pelo espírito humano.

durante o sono ao corpo do menino. E diz-lhe: é dificíl não é?

No centro uma imagem do buda. Um velho e uma criança que

Também é difícil, para o peixe, o sapo e a rã. Vai e encontra-

Quem se atreve a fazer o longo caminho de purificação à raíz

dormem no chão, a cabeça apoiada numa almofada quadrado

-os e liberta-os, pois se algum morrer ficará amarrado como

do mal em si próprio? O

04


Arquitectura ee Artes Artes plásticas Arquitectura Plásticas Exposição temporária de Matilde Marçal

Matilde Marçal

Memória do Etéreo

Nota Biográfica

Luís Menezes

Luís Menezes

Marçal é professora associada da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Membro da Academia Nacional de Belas-Artes, Investigadora Chegamos por vezes a ter a sensação de estarmos a folhear

no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de

um álbum dos nossos registos passados, que moldaram a nossa

Alta Cultura e Membro da Comissão Técnica da Cooperativa

consciência e forçaram o nosso olhar e sensibilidade sobre o

de Gravadores Portugueses.

presente.

Em 39 anos de actividade participou em mais de três dezenas

Também nas séries de paisagens, paisagens diurnas,

de exposições no País e no Estrangeiro, em países como:

paisagens nocturnas, poesia outonal ou em silêncios sem

Alemanha, Angola, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados

estrelas, decorre uma delicada sensibilidade sobre o registo

Unidos da América, França, Itália, Irlanda, Noruega, Polónia,

Resquícios do tempo ou vazios por ele deixados, surgem de

de perda, de alguma angústia/solidão, na expressão do vazio

Roménia, Suécia e Suíça.

forma lapidar em obras como fragmentos duma presença

dos espaços ou “nudez” das paisagens, que assim apreendidas

Do seu vasto currículo consta mais de uma vintena de prémios

VII, páginas de registos IV e V, reencontro no tempo, além

se encontram ao mesmo tempo pejadas de recordações, de

recebidos, de que se destacam: Prémio «ex-aequo» na V

do tempo ou mesmo na série no limiar da paisagem e a

onde sobressai o trabalho de uma luz inebriante que confere

Bienal Internacional de Arte, Ibiza, Espanha (1973); Prémio

Zurbaran I e II,

uma extraordinária profundidade espacial.

da Bienal Inter-Grafika de Berlim (1984); Prémio da Aquisição

elemento figurativo, onde se cruzam os objectos utilitários

De certo que se pode dizer que esta é uma pintura

na «European Large Format Print Making», Dublin, Irlanda

com a natureza morta, o retrato ou um retalho de papel.

contemplativa, mas vai muito para além disso, porque tem

(1991); Prémio Nacional «Cordeiro Ramos» da Academia

Obras

recheadas

numa linguagem poética sublimada pelo

uma

narrativa, movimento e conduz-nos à consciência de um

Nacional de Belas-Artes (1992); Prémio Internazional Biella

profundidade temporal que nos deixa em confronto com a

de

apontamentos,

conferem

mundo em transmutação. Em toda esta obra há qualquer

Per LIncisione, Itália (1993); «Professores da Faculdade de

fragilidade da nossa existência, projectada por uma densidade

coisa de etéreo, que se observa e escuta de imediato e com

Belas-Artes (1995); «FAC» - Feira de Arte Contemporânea de

dramática apreendida em jogos de contraluz deslumbrantes.

naturalidade.O

Lisboa (1997).O

Fauvismo, Arte Pop E outros Movimentos mais...

Rita Braga

28 de Junho a 1 de Julho 2010 - 10h30 às 12h -Museu da Horta As crianças interessadas poderão inscrever-se apenas numa sessão ou em várias. as inscrições são limitadas e poderão ser feitas, desde já, por email (Margarida.MA.Barreto@azores.gov.pt) ou em papel, na recepção do Museu, das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30 participante experimentará recriar uma das obras destes , analisar e explorar as obras de

mestres, dando-lhe um cunho pessoal.

artistas como Henri Matisse, Vincent Van Gogh, René Magritte

O atelier “Fauvismo, Arte Pop e outros Movimentos mais...”

e Andy Warhol é o que as crianças com idades situadas entre

visa promover o alargamento do direito à informação, à

os 7 e os 12 anos irão fazer neste atelier de Educação para a

cultura e ao conhecimento em diferentes segmentos

Arte. Utilizando diferentes metodologias, o público-alvo

populacionais; potenciar o desenvolvimento do espírito

descobrirá as biografias destes artistas e aprenderá a

crítico, da imaginação e da criatividade; e desenvolver

descrever os seus trabalhos e os seus estilos, únicos em

formas

termos de cor, design, forma e composição. Depois cada

autónomas.O

de

participação

conducentes

05

a

identidades


Literatura

Literatura

“História, Património e Desenvolvimento numa Cidade Insular. A Horta entre 1852 e 1883”

de Carlos Lobão Carlos Cordeiro

quem diga que a História está

povoam o universo faialense não se alheiam

na moda. Lançamento de livros, realização de comemorações,

dos problemas do quotidiano. Pelo contrário,

colóquios e congressos, representações, séries televisivas…

como

são bem a demonstração de que a história está “viva”,

empenhadamente, quer através da imprensa,

contradizendo a ideia tão comum de que a história só trata

quer liderando iniciativas do mais diverso tipo

dos mortos e, como passado que é, não serve para nada. Não

em prol da “causa pública”. O associativismo

será este o momento e muito menos o local para se abordar

cultural, recreativo e filantrópico é pedra

questões como a da “importância da História para a vida” ou

fundamental na caracterização do período

sobre os possíveis perigos do “excesso de história”. No fundo,

estudado e é, igualmente, bem revelador da

cada comunidade tem direito à sua própria história – melhor

importância destes “vultos”, pois serão eles, quase

– ao conhecimento da sua história. Uma história que se

sempre, as personalidades em destaque na instituição,

Um jardim no Faial com a ilha do Pico

pretende

manutenção e progresso dessas instituições.

ao fundo (c. 1850; in O Panorama, vol.10 ...)

compreensiva,

rigorosa

na

sua

metodologia,

demonstra

o

autor,

intervêm

interrogativa mais do que explicativa e alheia a qualquer tipo

Carlos Lobão traz-nos também importantes informações sobre

de “missão” na demanda da – possível – realidade histórica,

a problemática da instrução pública e das suas vicissitudes.

fora do todo social.

sempre tão fluida e provisória.

Mas, se a informação “objectiva”, tanto quanto permitem as

Para além disso, há que evidenciar a quantidade e diversidade

Ora, foi precisamente a partir destes pressupostos que Carlos

fontes disponíveis à consulta, é uma preocupação do autor (e

das fontes de que constituem o suporte deste História,

Lobão

balizando-a

em que o quantitativo não é esquecido), o facto é que o

Património e Desenvolvimento numa Cidade Insular. A Horta

cronologicamente entre 1853 e 1883 e tendo por foco uma

“móbil” central da obra se mantém sempre presente: o

entre 1852 e 1883. A História não se faz sem recurso à

cidade insular – a “sua” Horta. Trata-se de uma obra que

debate cultural acompanha todo o desenvolvimento da

documentação, é certo. Mas será bom ter a noção de que

resulta, no essencial, da sua dissertação de Mestrado em

temática como linha mestra estruturante do trabalho. Refira-

Carlos Lobão percorreu arquivos de diversa natureza

Património, Museologia e Desenvolvimento, defendida na

-se que neste contexto, uma vez mais, deparamos com a elite

(paroquiais,

Universidade dos Açores em 2008 e em boa hora editada pelo

local envolvida de forma empenhada e consequente na defesa

filantrópicas, de estabelecimentos de ensino, de filarmónicas,

Núcleo Cultural da Horta.

da causa da instrução pública entendida como uma questão

além, naturalmente, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Não há dúvida que se trata de um trabalho importante, que

fortemente marcada por uma vertente humanitária.

e da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta),

vem preencher lacunas evidentes na historiografia açoriana

Será também utilizando esta “metodologia” que Carlos Lobão

consultando de forma aprofundada a imprensa local,

relativa ao século XIX, em particular no que toca à área da

percorre outros temas, como as dinâmicas em torno das

relatórios oficiais, opúsculos, almanaques, entre outras fontes

história cultural. Ainda que centrada, sobretudo, no contexto

conjunturas de crise e de progresso, e as problemáticas

manuscritas e impressas. Ora, este afã na pesquisa, este

cultural e vivencial da Horta no período referido, não deixa

ligadas à pobreza e aos excluídos. Em todos os aspectos do

cuidado em apresentar as provas para sustentar as afirmações

de integrar o pulsar daquela cidade em contextos mais vastos,

quotidiano hortense encontramos a “realidade” e as suas

conferem à obra uma solidez científica que não é demais

tanto a nível insular como nacional. A sua preocupação

representações tal como são apercebidas e reveladas através

enaltecer.

centra-se na problemática cultural, vincando a sua relevância

da leitura das intervenções dessa plêiade de homens de

Assim, História, Património e Desenvolvimento numa Cidade

não só enquanto componente elitista e de comprazimento

cultura, que pugnam pelo desenvolvimento da sua terra com

Insular… contribui, de facto, para o enriquecimento da

espiritual

verdadeiro espírito cívico.

historiografia açoriana, sendo igualmente certo que a

“problemas que diariamente afectam os indivíduos, sendo o

Mas há ainda que destacar um outro aspecto nesta obra de

capacidade de trabalho, o rigor científico e a pertinência das

suporte e o significado de uma vivência”, como bem sublinha

Carlos Lobão: a interligação entre o económico, o social, o

análises de Carlos Lobão exigem a continuidade do seu

o autor.

cultural e mesmo o religioso como vertentes da realidade

trabalho de investigação, apurando a pesquisa e suscitando o

No fundo – e este é, sem dúvida, um aspecto inovador da obra

global que integra o todo da vida das comunidades, ao invés

debate e a problematização das questões para patamares de

que merece especial realce – os chamados “notáveis” que

de serem vistos como realidades estanques e com vida própria

exigência ainda mais elevados. O

Um universo estranho, povoado de magia, como se as forças

nenhum olhar que reflicta o perdão; em que se aceita o

da terra habitassem mais os homens que estão isolados, ainda

destino traçado, resignadamente, “sabendo que há coisas que

presos às crenças que habitavam os antigos, ladainhas

jamais adianta iludir”; em que Abel e Caim ressurgem e o

repetidas ao longo da vida e do tempo e que acabaram por se

carregar

instalar no imaginário de cada um.

destruindo-a.

Cada história surge como espelho de um Portugal telúrico em

A Casa do Fim é sobretudo uma obra habitada por símbolos

que se pode, invadido pelo silêncio, esperar quarenta anos

infinitos da presença da morte, o filho que repete,

por uma palavra de amor que não vem, embora (ou talvez,

meticulosamente, o gesto do pai que descobriu enforcado,

justamente por causa disso) esta seja a única realização de

como se até a morte fosse apenas um reflexo no espelho de

um amor nunca dito; em que o suicídio é recorrente e assume

uma casa vazia, como se o destino fosse inelutável e como se

desenvolveu

dos

a

sua

cidadãos,

mas

investigação,

também

associada

aos

de

instituições

culturais,

recreativas

e

A Casa do Fim

de José Riço Direitinho Catarina Azevedo

José Riço Direitinho

da

culpa

nunca

partilhada

invade

a

alma,

de histórias breves, a meio caminho

uma dimensão supra-humana, como se fosse a resposta lógica

todos os amores que perduram no tempo fossem uma sombra

entre o conto e a novela, A Casa do Fim mergulha-nos no

e absoluta ao sofrimento humano; em que um homem se

paralela da morte.

mundo rural de um Portugal interior, brevemente desvendado,

mata quando o homem que o perdoou morre, como se o

Contudo, este não é um livro necessariamente habitado pela

apenas entrevisto durante um piscar de olhos, entre a força

horror do pecado renascesse com a morte da misericórdia,

tristeza, apenas o confronto com a realidade do que nos

da vida e o abismo da morte.

num homem incapaz de encarar um mundo em que já não há

rodeia.O

06


Ciênciae eAmbiente Ambiente Ciencia Fazendo ciência no Fundo do Mar Eva Giacomello e Gui Menezes - DOP/UAç

Desde o passado dia 1 de Junho, e durante os próximos dois anos, o Banco Condor, a sudoeste da ilha do Faial, ficará reservado para a instalação de um observatório científico. É a primeira vez, no mundo, que um monte submarino é fechado à pesca para fins de investigação científica. O fecho temporário do Condor resultou de um acordo entre cientistas, pescadores e Governo Regional1.

montes submarinos (MSs) são estruturas comuns nos oceanos de todo o mundo, estimando-se que poderão existir globalmente cerca de 25 milhões2, e, nos Açores, mais de 4503. Os MSs são estruturas geológicas

O observatório cientifico Condor. Os equipamentos incluem: navios de investigação (1-4), veículos operados remotamente

importantes,

elevada

(5,6), submarino (7), equipamentos oceanográficos (8-12), de amostragem biológica (13-16), de pesca (17,18), de telemetria

biodiversidade e são locais de agregação de peixes e outros

(10,19), acústicos (20,21), de amostragem de sedimento (22), de imagem (23), de mapeamento do fundo (24), de registo de

possuem

normalmente

uma

organismos . Graças a esta riqueza, grande parte da pesca

sons de animais (25).

demersal e de profundidade da Região é aí desenvolvida.

equipamentos valiosos e recolher dados com uma mínima

deste

Apesar de serem tão produtivos, são ecossistemas vulneráveis

ingerência humana. Desde há muitos meses que o observatório

tecnologias, criar novas oportunidades de investigação e

à pesca, como o demonstram as histórias de rápidos

já alberga equipamentos fundeados para medir correntes e

estudar

adaptadas às características naturais dos Açores. O

4

observatório é uma oportunidade única para testar formas

inovadoras

de

gestão

pesqueira

mais

esgotamentos de vários stocks comerciais em vários MSs no

vários parâmetros oceanográficos, e outros que estão a

mundo5. Não obstante a sua importância, investigar os MSs,

registar os sinais emitidos por peixes marcados e as

típicos do mar profundo, não é fácil devido ao seu carácter

vocalizações de cetáceos. Para além das muitas campanhas

remoto, e por isso ainda não foram esclarecidos muitos dos

processos naturais que neles ocorrem.

científicos, para recolher imagens e organismos, estudar o

1. Portaria Regional n. 48/2010 de 14 de Maio de 2010

É neste sentido que o DOP, em colaboração com parceiros

sedimento, e descrever a diversidade de peixes, crustáceos e

2. Wessel et al., 2010. Oceanography, 23 (1): 24-33

internacionais, está a implementar o observatório científico

corais. Para além do fundo, a coluna de água e os organismos

3. Morato et al., 2008. Marine Ecology Progress Series, 357: 17-21.

Condor, para aumentar o conhecimento e melhorar a

que aí vivem estão também a ser estudados, com o auxílio de

4. Morato et al., 2008. Marine Ecology Progress Series, 357: 23-32.

qualidade de aconselhamento para uma gestão sustentável

sondas acústicas e redes.

5. Koslow et al., 2000. ICES Journal of Marine Science, 57, pp. 548-

dos MSs. As restrições à pesca no Condor permitirão instalar

Apesar do interesse puramente científico, a implementação

557.

Reticulitermes grassei, térmita subterrânea; e a Cryptotermes

http://www.sostermitas.angra.uac.pt,

brevis, térmita de madeira seca. As duas primeiras espécies

aprender formas de combate e controlo com o intuito de

têm origem no continente europeu e a última é endémica da

minimizar os potenciais estragos que cada espécie pode

costa oeste da América do Sul (Chile e Peru). Ambas as

causar.

Térmitas

Orlando Guerreiro - EMCTA

realizadas,

estão

ainda

previstos

vários

cruzeiros

Bibliografia

onde

se

podem

térmitas são insectos da ordem

espécies referenciadas se encontram dispersas pela cidade da

Isoptera. Esta ordem é caracterizada, como o nome indica,

Horta e as duas últimas espécies (a subterrânea e a de

Actualmente, o Grupo da Biodiversidade dos Açores (do Grupo

por os seus indivíduos possuírem dois pares de asas idênticas.

madeira seca) poderão tornar-se sérias pragas urbanas,

CITA-A) realiza um projecto de monitorização da espécie

Nos Açores, a palavra térmitas é associada a algo negativo;

acarretando

Cryptotermes brevis, térmita de madeira seca, que até ao

no entanto, em várias partes do planeta as térmitas possuem

económicos.

com

isso

graves

danos

patrimoniais

e

momento mais danos causou nas ilhas açorianas. Este

um papel significativamente importante para a manutenção

projecto percorrerá todo o arquipélago, inicialmente nas

dos ecossistemas, nomeadamente na reciclagem de madeiras

É importante, por isso, que todos os cidadãos da cidade da

ilhas Terceira, Faial, São Jorge, São Miguel e Santa Maria,

mortas e arejamento dos solos. É verdade que as térmitas

Horta (e também de toda a ilha do Faial) se mantenham

locais onde a espécie foi detectada. Futuramente será

existentes nos Açores não têm o mesmo papel na manutenção

informados acerca dos indícios destas térmitas em suas casas

realizado um levantamento nas restantes ilhas do arquipélago,

dos ecossistemas e a razão reside no facto de serem espécies

e quintais. Quando detectados indícios da presença de

procurando indícios da existência de térmitas. O objectivo é

exóticas potenciais invasoras, tendo algumas já atingido o

térmitas, algumas medidas deverão ser tomadas, a fim de

evitar que pequenos focos de térmitas se possam tornar numa

estatuto de ‘praga urbana’.

evitar a sua dispersão a outros locais.

praga de muito difícil solução. Quando detectadas no início,

Na Ilha do Faial existem três espécies de térmitas: a

Os indícios

Kalotermes flavicollis, térmita de madeira viva ou húmida; a

referenciadas poderão ser conhecidos no sitio da Internet -

de

cada

uma

das

espécies

de

térmitas

as infestações de térmitas podem ser solucionadas de forma bastante mais simples e barata. O

Whale watching... uma alternativa inteligente Joana Vaz-Pereira e Tiago Castro - Dive Azores

(Balaenoptera

borealis),

continuam

a

ser

ilegalmente

melhores zonas do mundo para a observação de cetáceos em

caçadas.

estado selvagem, o arquipélago açoriano é actualmente um

mais de dois séculos de baleação

Os Açores, como muitas outras regiões e países, conseguiram,

destino de eleição para os amantes de baleias e golfinhos.

intensiva que culminou na quase extinção de várias espécies

de uma forma inteligente, preservar as sua memórias

Para além do seu potencial turístico, o whale watching surge

de baleias, países como o Japão, Noruega e Islândia

baleeiras e abraçar com a mesma dedicação a actividade de

como uma valiosa ferramenta que dá a conhecer a todos os

continuam a caçar grandes cetáceos apesar da moratória

whale watching (observação de baleias e golfinhos), cada vez

participantes um pouco da vida de animais que habitam os

imposta na década de oitenta que proíbe a sua captura com

mais importante para o turismo de natureza na Região.

nossos mares há vários milhões de anos, sensibilizando

fins comerciais em todo o mundo. Espécies ameaçadas, como

Considerado por cetólogos como uma importante área de

também

as baleias comum (Balaenoptera physalus) e sardinheira

concentração de cachalotes no Atlântico Norte e uma das

conservação.O

07

para

a

necessidade

da

sua

protecção

e


fazendus

Fazendos Agenda até 25 de Julho Exposição: Banco de Artistas

20 de Junho

Banco de Portugal

Encontros de Porto Pim Teatro “Montanha Russa”

17 de Junho

Praia de Porto Pim | 17h30

Encontros de Porto Pim Workshop de Reciclagem

Duatlo “Açoreana de Seguros”

Sala dos Óleos, Centro do Mar | 09h30

Praia de Porto Pim | 18h30

Percursos Pedestres “Vem conhecer

22 de Junho

a Biodiversidade do Monte da Guia”

DIAS VERDES

Ponto de Encontro | Centro do Mar | 19h

“Compostagem Doméstica Aprendendo com as crianças”

18 de Junho

Sessão de Esclarecimento

Encontros de Porto Pim

Inscrições na CMH: ambiente@cmhorta.pt

Workshop de Reciclagem

ou 292 202 040

Sala dos Óleos, Centro do Mar | 09h30

Escola de Castelo Branco

Percursos Pedestres “Vem conhecer

23 de Junho

a Biodiversidade do Monte da Guia”

São João da Caldeira

Ponto de Encontro | Centro do Mar | 19h

Mega Pic-Nic 19h30 – Sardinha assada oferecida pela CMH

Abertura da Exposição

21h00 – Baile com música ao vivo, Nelson Mota

de Matilde Marçal (ver pag. 5)

23h00 – Caldo verde oferecido pela CMH

Sala de Exposições da Biblioteca | 18h

23h30 – Fogueira de S. João Ermida de S. João | Caldeira

Ciclo de Cinema-Imagem da Europa Mesa Redonda com Dr. André Bradford, Dr. Mário Augusto,

24 de Junho

Dr. João Antunes, Dr. José Mendes, Dr. Pedro Cota

São João da Caldeira

Cine-Teatro Faialense | 21h

12h00 – Eucaristia na Ermida 13h00 – Pic-nic com “Porco no Espeto”

18 e 19 de Junho

oferecido pela CMH

26 de Junho

Cinema: “Eu amo-te Philip Morris”

15h00 – Encontro de folclore e Chamarritas

Reunião do Grupo de Aleitamento Materno

de Glenn Ficarra e John Requa

17h00 - Filarmónica Lira e Progresso Feteirense

Hospital da Horta, Piso 3

Cine-teatro Faialense | 21h30

18h00 – Marchas populares

Serviço de Obstetrícia | 15h

20h00 – Filarmónica Nova Artista Flamenguense

19 de Junho

27 de Junho

21h00 - Encerramento

Encontros de Porto Pim

Cinema/ Animação:

Construções na Areia “Biodiversidade Marinha”

25 e 26 de Junho

“Como Treinares o teu Dragão”

Praia de Porto Pim | 16h

Cinema: “Homem de Ferro 2”

de Dean Deblois e Chris Sanders | 17h

de Jon Fraveau

Entrega de Prémios

28 de Junho a 1 de Julho

Cine-Teatro Failense | 21h30

Atelier de Educação para a Arte

Rampa do Museu do Centro do Mar | 21h

25 a 29 de Junho

“Fauvismo, Arte Pop e outros Movimentos mais...”

Concerto com Renatah Rodrigues

PORTO DE CASTELO BRANCO

com Rita Braga (ver pag. 5)

Rampa do Museu do Centro do Mar | 22h

FESTEJOS DE SÃO PEDRO

Museu da Horta

Gatafunhos Tomás Silva - ilhascook

08


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