Mundo Contemporâneo Edição 4

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Número 4 Junho de 2009

Mensal

Um país vestido de negro Dramático, trágico, aterrorizador! Assim se prevê que seja o ano em termos de fogos florestais.

Portugal

Literatura na Primeira Pessoa

Desporto

PS derrotado nas Europeias e Sócrates enfraquecido. E agora?

Paulo Kellerman revela em exclusivo os seus projectos para o futuro

Roger Federer iguala Pete Sampras e torna-se no melhor tenista de sempre


EDITORIAL

Editorial

E

m plena época de exames e com os alunos do secundário num esforço pleno para cortar a meta antes do companheiro do lado, difícil seria efectivamente não voltar a olhar para o assunto em jeito de retrospectiva. Recorde-se que à semelhança de anos anteriores, a tendência parece manter-se, com os alunos a mostrar clara preferência pelos cursos de ciências: como é o caso de Medicina, no topo das preferências, seguindo-se de Medicina Dentária e Farmácia, posicionadas imediatamente a seguir, no rasto do sinuoso e habilidoso caminho que separa muitos alunos do sonho de uma vida. Só no ano de 2008, quarenta e quatro mil alunos ingressaram no ensino superior com aspirações para as mais diversas áreas, ficando afastados, no entanto, muito deles do objectivo final: a entrada no curso pretendido. A maior parte das “negas” às aspirações dos estudantes deram-se claro está em Medicina, curso no qual a nota mais baixa de acesso rondou os 18.07, na Universidade Nova de Lisboa. Aos que festejaram com júbilo a entrada em Medicina, contrapuseram-se os que ficaram separados por décimas da alegria de concretizar um sonho. O acesso ao curso de Medicina em Portugal começa a lembrar-nos vagamente um disco riscado, uma cassete gravada consecutivamente com a mesma música: música de embalar desilusões, música de atropelar expectativas e superar limites, música de preencher vagas de Enfermagem quando a entrada em Medicina começa a 2

assemelhar-se a uma miragem…lá no fundo, cada vez mais fundo. Astutos e ferozes na busca do futuro, os aspirantes a médicos pensam em todas as hipóteses… desde ingressar em Ciências Biomédicas para pedir posteriormente transferência para Medicina, passando pelo ingresso na carreira militar como forma de penetrar no universo utópico, até ao “choradinho” por uma entrada ao abrigo do estatuto de atleta de alta competição. É um jogo onde vale tudo. É um jogo onde quem chegar mais alto, vence. Um jogo sem limites e, muitas vezes sem regras. Um jogo onde não vence o sonho nem a vocação. Um jogo onde vencem as letras e os números cautelosamente desenhados nas pautas. Um jogo onde os peões se digladiam por um lugar no pódio. Um jogo onde se eliminam portugueses para contratar estrangeiros. Um jogo onde se matam sonhos para se semear utopias. Voltará este ano a repetir-se a história? Talvez volte, afinal, volta sempre.


INDICE

INDICE 4

Portugal E agora José? MUNDO

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A vida Privada de Berlusconi Gatekeepers na comunicação na internet Literatura NA PRIMEIRA PESSOA

10 Paulo Kellerman - Entrevista CULTURA

14 18 20 22

Festivais aquecem Verão! Salaviza d’Ouro Artes do Espectáculo Mundo Contemporâneo Sugere... ESPECIAL

24 Um país vestido de negro

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Festivais de Verão

Todos os anos, os festivais de Verão são às dezenas por todo o país. Paredes de Coura, Marés Vivas, SBSR, Optimus Alive ou Rock One merecem destaque...

DESPORTO O Senhor 94 milhões - C. Ronaldo

28 34 Olhanense campeão, 34 anos depois. 36 Roger Federer, o melhor de sempre 40 MUNDO AO CONTRÁRIO 42 registos do mês

FICHA TECNICA Proprietária: Profª Doutora Aurízia Anica Directora: Isa Mestre Sub-Director: Fábio Lima Redactores Principais: Adriano Narciso

10 Entrevista Paulo Kellerman

O famoso escritor português abre o jogo ao Mundo Contemporâneo, revelando tudo o que lhe vai na alma. Os projectos e as ideias também são revelados.

28 Cristiano Ronaldo

De Manchester para Madrid. Cristiano Ronaldo é o novo reforço da Dream Team de Florentino Pérez. 94 milhões foi o que custou o astro luso.

e David Marques Director de Arte: Fábio Lima Portugal e Mundo: Adriano Narciso, Isa Mestre, Sofia Trindade e David Marques Cultura: Adriano Narciso e Grethel Ceballos Desporto: Fábio Lima e David Marques

36 Roger Federer

14 Grand Slams conquistados pelo tenista suíço colocam-no na rota de mais um recorde batido. E pode já ser em Wimbledon...

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PORTUGAL

E agora José? texto_ David Marques

M

ais do que a “simples” nomeação de deputados para o próximo legado de Bruxelas, as eleições europeias funcionaram como barómetro avaliativo à actuação de Sócrates e companhia nos últimos quatro anos. O resultado foi elucidativo: a vitória do partido laranja, encabeçado por Paulo Rangel, não só pode ser encarada como um cartão amarelo ao governo socialista, como também uma prova lacónica de que o PSD não está tão moribundo como muitos já ousaram preconizar. Quando em meados de Maio as sondagens colocaram o PSD a dois pontos do seu alvo a abater, Rangel, professor universitário e jurisconsulto, relativizou: “ [a sondagem] vale o que vale”, afirmou confiante. Faltavam exactamente duas semanas para o dia 7 de Junho e a mais recente pesquisa colocava os socialistas com 34,3 por cento das intenções de votos, contra 32,1 do PSD. Bloco de Esquerda surgia na liderança da disputa do lugar de terceira força política, à frente de PCP e CDS-PP, acima dos 10 por cento. Rotulado por Ana Gomes como um “maratonista da demagogia”, certo é que a sua perseverança permitiu não só anular a desvantagem para Vital Moreira, como construir uma vantagem superior a 5 pontos. O PSD foi o partido escolhido por mais de 31 por cento dos votantes e o BE superiorizou-se a CDU e a CDS-PP. Assumindo as despesas da derrota política, José Sócrates não procurou desculpabilizar-se. Elogiou o seu candidato, que garantiu ter sido escolhido por unanimidade e congratulou a oposição. Em suma, foram oito os

deputados eleitos pelo partido vencedor – mais um do que o partido socialista. As restantes sete cadeiras das vinte e duas destinadas a deputados portugueses (são 736 no total) estarão ocupadas por BE (3), PCP (2) e CDS-PP (2).

O APERTAR DO CERCO A cerca de 100 dias das próximas legislativas, a imagem de invulnerabilidade patenteada pelo executivo de Sócrates dissipouse. O agudizar da crise económica global fez brotar o aparente défice governativo do partido socialista, fortemente criticado pela decisão de nacionalizar o Banco Português de Negócios, a incapacidade em evitar negociar uma boa solução para a Quimonda, por apostar na construção de grandes obras públicas, numa altura de “alto risco”, em que, inclusive, 28 economistas –

O novo Ferrari F-60

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fotografia_ PSD

entre os quais oito antigos ministros das Finanças – elaboraram um documento em que solicitam ao Governo que repense a sua política nesse âmbito. Por último, a exposição pública do primeiro-ministro, através de investigações sobre a sua alegada ligação a acções ilícitas respeitantes à autorização para a construção do outlet Freeport, não foi benéfica para uma imagem que se pretendia credível e incorruptível. Acusado por Manuela Ferreira Leite de ter “insensibilidade social”, José Sócrates, em entrevista concedida à SIC, afirmou estar “muito satisfeito” consigo. Difícil é preconizar se os portugueses lhe darão aval para – citando o primeiroministro – “fazer mais e melhor”, mas os sinais denunciados pelos fracos resultados de dia 7 levantam, no mínimo, algumas interrogações.



MUNDO Foto: www.baixaki.com.br

O Acordo da Discórdia Portugal adia entrada em vigor do Novo Acordo Ortográfico

A vida privada de «Papi» Berlusconi

Perto de completar 73 anos em Setembro, Silvio Berlusconi é, muito provavelmente, o ancião mais revigorado das altas esferas políticas internacionais. Sexo, corrupção, traição, mentiras e citações de humor duvidoso acompanham o quotidiano rocambolesco do homem mais poderoso de Itália que, ainda assim, continua de pedra e cal na função de primeiro-ministro da pátria de Garibaldi. texto_ David Marques

O

s vínculos conjugais do chefe do governo italiano nunca foram pródigos em confiança. Que o diga Veronica Lario, segunda esposa do político e mãe de três dos seus cinco filhos. A primeira-dama cansou-se da vida boémia de ‘Il Cavaliere’ e das suas sucessivas traições e há algumas semanas deu entrada com um processo de divórcio. A gota de água terá sido a descoberta de que o seu “mais que tudo” teria estado presente no 18.º aniversário de Noemi Letizia, a quem oferecera um valioso colar e que alegadamente seria sua amante. “Não posso continuar com um homem que frequenta menores”, confidenciou a uma amiga, afirmando posteriormente que o magnata nunca teve atitude semelhante para com os seus filhos, de 24, 22, e 20 anos. Ber-

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fotografia_ El Pais

lusconi bem tentou defender-se da cólera da ainda esposa, argumentando que a jovem é apenas mais um membro de uma família pela qual nutre uma longa amizade. A acrescentar, garantiu à imprensa que as insinuações sobre cenas ‘picantes’ com a rapariga eram totalmente falsas – jurou pelos seus filhos – e que caso se provasse o contrário renunciaria imediatamente ao seu cargo de primeiro-ministro, que considera desempenhar com «enorme sacrifício» por não existir um «líder capaz de unir a centro-direita do país». A este último “pular de cerca”, juntam-se outros episódios. Na tentativa de garantir maior número de votos para o seu partido (PDL) nas eleições europeias de 7 de Junho, em meados de Abril resolveu recrutar bailarinas, mod-

elos, apresentadoras de televisão, participantes em reality shows e actrizes. Motivo? «Caras novas para renovar a imagem do PDL na Itália e em toda a Europa», afirmou Berlusconi. Porém, as intenções de “embelezar” as políticas “cinzentas” foram goradas pela primeira-dama, que adjectivou o estratagema político de «vergonhoso». Esta não foi a primeira nem a última vez em que «Papi» – como é carinhosamente apelidado por algumas actrizes e apresentadoras italianas – manifestou publicamente a sua apetência para mulheres bonitas. Depois de há dois anos ter endereçado um pedido de desculpas público à sua mulher por alegados casos extra-conjugais, em Maio de 2008 a nomeação de Mara Carfagna, antiga modelo e concorrente do concurso Miss


MUNDO Itália, para o cargo de ministra da família gerou polémica. Consta que o septuagenário cortejou a beldade natural de Salerno, 40 anos mais nova. Já este ano, quando se deslocou à vila medieval de Áquila no rescaldo do sismo de 6 de Abril, tentou a sorte com uma médica que se encontrava no local a prestar auxílio aos feridos: «quem me dera ser ressuscitado por si», poetizou Berlusconi que, não obstante a falta de reciprocidade, não se prostrou e voltou à carga com a assessora da solidariedade da província de Trento, Lia Beltrami, perguntando-lhe se lhe dava permissão para a «apalpar um pouco». A interpelação do chefe do governo foi apelidada pelos media e oposição como pouco adequada devido ao contexto de emergência e pesar em que a visita ocorreu. Comparar todas estas peripécias acima mencionadas com as fotos divulgadas nos últimos dias, é como comparar David com Golias. Depois de ter tentado publicar as imagens que em poucos dias já percorreram todo o mundo, o fotógrafo Antonello Zappadu acabou por conseguir divulgá-las por intermédio do periódico espanhol «El País». Obtidas entre o Verão de 2007 e Janeiro deste ano, a objectiva do fotógrafo italiano captou mais de uma centena de imagens de festas privadas numa das mansões do primeiro-ministro em Sardenha onde, fortemente vigiada, seria palco

Uma das inúmeras fotos captadas por Antonello Zappadu e que comprometem o primeiro-ministro italiano

de bacanais aos fins-de-semana. Nelas estão presentes Berlusconi vestido com um roupão confortável, várias mulheres – na sua maioria em topless – e o seu antigo homólogo checo Mirek Topolanek – pronto para um mergulho árctico – que afirmou tratar-se de uma fotomontagem. Por arrasto, os hóspedes ainda eram transportados comodamente em aviões do estado, pelo que já foi aberto um inquérito com o objectivo de se apurar a verdade acerca do suposto uso

indevido de recursos do erário italiano para benefício próprio. Como reacção, ‘Il Cavaliere’ atacou o fotógrafo e o jornal espanhol, acusando-os de entrarem na «privacidade e na intimidade das pessoas» e que, isso sim, é «verdadeiramente escandaloso». Antonello Zappadu, que ultimamente tem feito a cobertura do conflito civil na Colômbia, afirmou que tem mais medo do chefe do executivo italiano do que da guerrilha colombiana.

UM «NOBEL» SEM PAPAS NA LÍNGUA Intitulado «O Caderno», é o mais recente livro do Nobel português. Compilando uma série de crónicas sobre os mais variados t e m a s contemporâneos que podem ser consultados no seu blogue pessoal – ver «caderno.josesaramago.org» – em dois deles o escritor português menciona o primeiro-ministro italiano, proprietário da editora «Einaudi», responsável pela

tradução e publicação de 20 dos seus títulos por terras transalpinas. Saramago descreve Berlusconi como um indivíduo corrupto, mafioso e delinquente. Não será difícil adivinhar que a distribuição deste livro pela editora sediada em Turim foi cancelada definitivamente. A editora ainda tentou persuadir Saramago para que retirasse as referências ao político italiano, mas o escritor opôs-se à ideia. Em baixo leia algumas citações dos textos escritos em Setembro de 2008 e no passado mês de Maio: «Realmente, na terra da máfia e da camorra, que importância poderá ter o facto provado de que o primeiro-

ministro seja um delinquente?». «…ao menos [o dinheiro ganho com os seus livros] lhe deve estar dando para pagar os charutos, supondo que a corrupção não é o seu único vício». «W. é um filme que ataca a Bush, e Berlusconi, homem de coração como o pode ser um chefe mafioso, é amigo, colega, compincha do ainda presidente dos Estados Unidos». “Demasiado abusaste de nós, Berlusc, a porta está ali, desaparece”. E se essa porta for a da prisão, então poderemos dizer que justiça terá sido feita. Finalmente».

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MUNDO

Gatekeepers na comunicação na internet No rescaldo do mês em que se comemora do dia de liberdade de impressão a revista «O Mundo contemporâneo» debruça-se sobre a sua casa, a internet. E sobre a forma como as novas tecnologias, mais concretamente a Web 2.0 pode acabar com os gatekeepers e com as limitações convencionais de uma redacção, assim como medeia novas formas de comunicação. texto_ Sofia Trindade

É

indiscutível, a nossa sociedade actual é vista como uma sociedade de informação e não é a toa que se usa esse termo. Há quem fale em sociedade de informação há quem fale em sociedade informacional, no sentido em que é utilizada como forma de atingir uma certa produtividade e apelando mais ao carácter da publicidade. Mas o que e certo é que a informação é central nas nossas vidas, na nossa sociedade. Os meios de comunicação electrónicos, interactivos são de facto estruturantes nas construções das nossas relações na interligação cada vez maior entre a nossa esfera privada, entre o trabalho e lazeres. São a forma de mediar tudo a nossa vida e as nossas relações sociais. Fernando Carrapiço, professor de Informática e Tecnologias da Comunicação defende que « A Web 2.0 trouxe uma mais-valia muito forte

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à comunicação, na medida em que permite que haja novos públicos, que haja novas ferramentas e que a exposição e a recolha de informação seja feita de maneira diferente». Se por um lado temos uma opinião em que a Web 2.0 é vista como uma possibilidade de se estabelecer comunicação com um público mais atento, e nessa medida ser mais interactivo e fugir dos limites convencionais de segurança da informação enquanto necessidade de controlo, «há uma fuga de controlo, e isso permite que a informação circule mais limpa, no sentido de ser mais pura, e mais fidedigna» como defende o professor. Por outro temos a opinião da professora Filipa Cerol Martins, que lecciona disciplinas como Discurso dos Media e Jornalismos Televisivo e que já trabalhou como jornalista, que defende que a Web 2.0 poderá «não libertar os

jornalistas de gatekeepers, porque eles têm que existir de qualquer maneira». Afirmando que o jornalista continua a ter as mesmas fontes, a partilhar as notícias com os seus colegas, continua a trabalhar num registo de uma redacção. Chegando mesmo a afirmar que a Web 2.0 pode em alguns casos criar mais um gatekeeper, que é o próprio leitor enquanto produtor da informação. A ex-jornalista defende que o facto de haver mais ou menos gatekeepers não invalida que haja mais ou menos transparência no processo, e talvez a Web 2.0 permita essa interactividade, permita que haja mais velocidade e por outro lado mais transparência no processo, embora o jornalista tenha menos tempo para fazer justiça aquela que e a sua função que é mediar a sua função correctamente. Numa altura em que se recorda o ganho da liberdade de expressão coloca-se em causa até que ponto os


MUNDO

“A WEB 2.0 PODE EM ALGUNS CASOS CRIAR MAIS UM GATEKEEPER, QUE É O PRÓPRIO LEITOR ENQUANTO PRODUTOR DA INFORMAÇÃO

Filipa Cerol Martins

ideais e os limites convencionais de uma redacção não poderão funcionar como gatekeepers a um jornalista ou a alguém interessado em publicar um artigo de opinião. A internet funciona como um espaço de partilha, de exposição e crítica de diversas matérias. Mas como tudo na vida apela-se ao bom senso do utilizador para que dela possamos tirar o maior proveito e expressar a sua opinião valorizando o facto de o podermos fazer livremente e reconhecendo a seriedade que o anonimato por trás de críticas tem na nossa sociedade actual. Existem imensos comentários em blogues ou noutras plataformas de comunicação na internet em que os autores se refugiam atrás do anonimato para dizerem ou fazerem acusações menos apropriadas e que não se sentiriam a vontade para o fazer noutra situação. Mas por outro lado temos casos em que a Web 2.0 concede alguma liberdade de expressão no mundo virtual, é o caso de yoani sanchez, que lhe permite exprimir sobre certos assuntos o que em praça pública no seu país, Cuba, não o poderia fazer. Com pena de ser severamente punida. A Web 2.0 mostra-se assim como um refúgio a pressões politicas, mas não devemos encarar como uma Meca, mas sim como algo, que quando usado correctamente pode servir para comunicarmos, uma capacidade e acima de tudo necessidade do Homem. A Web 2.0 apresenta-se assim

como uma poderosa arma de difusão da mensagem. O post de 30 de Abril no seu blogue Geration Y dizia que o MSN tinha sido cancelado no seu país, «agora a proibição vem do outro lado, precisamente da parte dos que fizeram um programa que nos ajudava a escapar do controle. “Foi interrompido Windows live Messenger IM para os usuários de países embargados pelos EEUU” diz a nota que a Microsoft publicou anunciando o corte. Sinto que com ela, nós os cidadãos, voltaremos a perder, pois os nossos governantes

têm os seus próprios canais para se comunicarem com o resto do mundo. Isto é - claramente - um golpe para os internautas, aos “foragidos da rede” que somos quase todos os que entramos na Internet desde Cuba». Mas a pergunta mantêm-se podemos ou não exprimirmo-nos livremente através da internet e das ferramentas de comunicação que a Web 2.0 põe ao nosso dispor? A revista «O Mundo Contemporâneo» tem aproveitado o que a Web 2.0 nos dá de melhor!

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LITERATURA NA PRIMEIRA PESSOA

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ENTREVISTA

PAULO KELLERMAN Texto_ Isa Mestre

Fotografia_ Mundo Contemporâneo

N

ascido em 1974, ano histórico para os portugueses, Paulo Kellerman desde cedo provou que a liberdade de transportar sentimentos para o papel lhe corria nas veias. Foi na adolescência que embateu com o fascínio da escrita, que iluminou e se deixou iluminar pelo ofício que confessa ser hoje “ um reflexo deformado” do que é, do que sente, do que deseja e do que teme. Depois de publicações como Silêncio entre Nós, Os Mundos Separados que Partilhamos e Gastar Palavras, entre outros, o escritor continua a considerar o acto da escrita “um gesto de humildade e de arrogância”. Vencedor do grande prémio do conto da Associação Portuguesa de Escritores, em 2005, venha conhecer o que Paulo Kellerman tem para nos dar a conhecer em pleno ano 2009, com um universo literário repleto de novidades nomeadamente no seu espaço na blogosfera portuguesa – o blogue a Gaveta do Paulo.

Enveredou pela área da Psicologia, curso que viria a abandonar posteriormente, crê que os seus livros e narrativas curtas traduzem aquilo que lhe A relação de um escritor com vai na alma?

Quando lhe surgiu o gosto pelas palavras? Percebeu nesse momento que queria ser escritor?

as palavras será essencialmente pragmática; as palavras são um utensílio, uma ferramenta, já que o seu trabalho começará por residir na 11 capacidade em transmitir seja o que for que pretenda transmitir recorrendo de modo criativo e criterioso à paleta de palavras que tem à sua disposição. Mas nem um escritor é apenas um organizador de palavras nem o gosto pela palavra se esgota no exercício da escrita, como é óbvio. Comecei a antever o fascínio da escrita criativa (e a praticá-la) algures pela adolescência, altura em que o poder (e não tanto o gosto) da palavra, ou da sua ausência, já era muito nítido para mim.

O que escrevo poderá ser visto como um reflexo deformado do que sou, do que sinto, do que desejo, do que temo; mas será, também, uma projecção ficcional do que não sou e poderia ser, do que não sinto mas poderia sentir, do que não desejo mas poderia desejar, do que não temo mas poderei vir a temer. Há no que escrevo um jogo entre realidade e especulação; olhar para dentro num esforço, que pode ser inglório e sofrido, de busca: procurar lógicas, ordenar sentidos e explicações, dar forma aos mistérios de que somos feitos. Mas é também, e em simultâneo, uma procura de tudo

isso partindo de um ponto de vista diferente, uma tentativa de perceber o mundo sob o olhar do outro, da personagem.

Qual a principal razão para escrever? O acto da escrita é simultaneamente um gesto de humildade e de arrogância. Humildade porque parte, pelo menos no meu caso, da constatação de que há muitas perguntas por responder (ou, antes disso: muitas questões por colocar); e a escrita será uma forma de reflexão controlada, de auto-conhecimento e introspecção, de exploração de possibilidades, de especulação; colocar questões e buscar-lhes respostas que coloquem novas questões; e ir avançando por aí. De arrogância porque ao escrever e publicar, está-se a partir do princípio de que se tem algo a dizer, de que

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LITERATURA NA PRIMEIRA PESSOA

alguém se interessará. Suponho que a motivação para a escrita, para mim, estará algures no equilíbrio entre a necessidade quase patológica de questionar permanentemente e a vaidade de partilhar com outros os resultados dessa busca, na esperança de que alguém aí reconheça algum grau de empatia.

artificiais ou procurar afinidades circunstanciais entre pessoas que pouco terão em comum entre si e que seguem percursos muito distintos. Há escritores da minha geração que são verdadeiramente notáveis, há outros que serão simplesmente irrelevantes; e a uni-los pouco mais do que o facto de terem nascido algures nos anos setenta e escreverem em português.

na Colibri. Por fim, o momento chave ocorreu com a publicação do verdadeiro primeiro livro, na Deriva; depois, veio o prémio da APE e os restantes livros, assim como algumas participações em antologias.

Foi vencedor do prestigiado prémio de conto Camilo Castelo Branco, da APE, com o seu livro Gastar Palavras. Que sentiu nesse momento? Como caracterizaria a obra que o levou ao sucesso?

De onde surgiu a preferência pela Conte-nos um pouco acerca do seu percurso literário… Que narrativa curta? dificuldades enfrentou? Como Senti alguma incredulidade porque A minha escrita vive muito de conseguiu triunfar no mundo da situações sentimentalmente agressivas literatura nacional? O que sentiu é considerado o prémio português e de introspecções transitórias ao ver um livro seu publicado mais prestigiado e prestigiante na área específica do conto. Houve uma e inconfessáveis; basicamente: pela primeira vez? de momentos, de fragmentos de vidas das personagens. O impacto narrativo tenderá a ser superior se a violência das ideias sobre as quais se estruturam as estórias for concentrada num conto breve e não se diluir num texto mais longo. O que não invalida a possibilidade de interligação entre ideias e personagens numa rede mais complexa e estruturada, conferindo uma outra dimensão a cada uma das partes.

Qual a sensação de pertencer a uma geração de novos talentos da literatura portuguesa, que incluem nomes como José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe, entre outros? Confesso que não vejo grande utilidade em forçar relações

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O

meu percurso literário, que será mais modesto do que triunfante, começou na imprensa regional; colaborei, por exemplo, com um jornal onde publiquei ficção diariamente, durante vários meses. Depois, seguiu-se a imprensa nacional, tendo sido particularmente importante a colaboração esporádica com o saudoso DNa do Pedro Rolo Duarte. Durante seis anos publiquei regularmente pequenas edições de autor, livros artesanais de distribuição restrita, que serviram de veículo de divulgação e promoção do meu trabalho (função algo semelhante à que o blogue desempenha, actualmente). Seguiram-se alguns prémios literários, de que resultou por exemplo a publicação de um pequeno livro de micro-narrativas

mistura de alegria, orgulho; também um sentimento de honra, por integrar um palmarés de galardoados tão rico. Foi obviamente importante, por permitir algum reconhecimento e proporcionar alguma visibilidade. Quanto ao livro, representou um momento de viragem, de evolução; concluiu e resumiu um longo período de exploração e investigação e simultaneamente pretendeu ser uma espécie de manifesto, de declaração de intenções quanto ao futuro.

Em duas palavras como caracterizaria a literatura portuguesa? Pode ser em três? restantes. Tão rica como nas suas especificidades, como todas as outras vulgaridades.

Igual às as outras tão banal nas suas


ENTREVISTA

Um estudo da Marktest revela que os portugueses lêem cada vez menos. Enquanto escritor como pensa “agarrar” cada vez mais leitores? Os portugueses lêem cada vez menos e editam cada vez mais. E em parte por isso, os escritores vão deixando de ser apenas escritores para passarem também a ser divulgadores, publicistas e promotores dos seus livros. Basicamente, e de modo algo perverso, conta cada vez mais a visibilidade, o potencial mediático, do autor em determinado momento do que o valor intrínseco do seu trabalho. È isso que “agarra” os leitores.

Que conselho daria àqueles que sonham com uma carreira no mundo da literatura?

Escrevi há pouco uma estória, disponível no blogue, inspirada numa canção de que gosto muito e que tem o seguinte verso: “I don’t advise and I don’t criticise, I just know what I like with my own eyes.”

Que planos tem para o futuro, Paulo? Podemos esperar para breve a publicação de um novo livro? Livro novo na Deriva possivelmente só no início do próximo ano. Até lá, haverá uma série de ebooks disponibilizados gratuitamente no blogue. Há um grupo de teatro a trabalhar em textos meus, com o objectivo de os levar à cena, em breve. Vou regressar à escrita de letras, para uma banda de música electrónica que integro. E há mais alguns projectos em desenvolvimento, em fase mais incipiente.

O blogue A Gaveta do Paulo é já considerado um caso de sucesso na blogosfera portuguesa. De onde surgiu esta ideia? O blogue surgiu em simultâneo com a publicação do primeiro livro, em Dezembro de 2005; no início, era uma espécie de complemento, um arquivo público onde divulgava estórias que não estavam mas poderiam ter estado no livro. Depois foi evoluindo, primeiro para uma espécie de laboratório interactivo, onde testava temas e técnicas, buscava reacções, e depois para uma plataforma de divulgação, uma antecâmara dos que próximos livros poderão ser.que integro. E há mais alguns projectos em desenvolvimento, em fase mais incipiente.

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CULTURA

FESTIVAIS AQUECEM VERAO! Paredes de Coura, Marés Vivas, Optimus Alive, Sudoeste... Inúmeros festivais para todos os géneros e para todos os gostos. Num país com fama de ter dos mais ferverosos fãs das bandas, multiplicam-se as opções de escolha para as pessoas.

texto_ Adriano Narciso e Fábio Lima

C

om a chegada do Verão, chegam também os Festivais de Verão. Uns mais recentes que outros, todos eles parecem prender não só jovens, mas também graúdos. De Norte a Sul, grandes nomes da música atraem multidões e enchem os recintos. Paredes de Coura, Vilar de Mouros ou Marés Vivas marcam o panorama de festivais a Norte. A Sul, Optimus Alive, Sudoeste ou Sagres Summer Fest são as outras alternativas. De seguida pode ler um roteiro dos

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festivais mais importantes que ocorrem no Verão de 2009. VILAR DE MOUROS SÓ EM 2010

Quando em 1971, por altura das comemorações do IX centenário da doação de Vilar de Mouros à Sé de Tuy, foi realizado um festival de música, ninguém pensaria que em 2009 esse festival estivesse nas mentes de todos aqueles que vivem a música. Elton John foi a figura de cartaz dessa edição. 11O anos depoisF-60 realizou-se a segunda novo Ferrari

edição deste festival, com os U2 a serem a grande figura. De lá para cá, Primitive Reason, Eagle Eye Cherry, Alanis Morissette, Iron Maiden, Skunk Anansie, Ben Harper ou Guano Apes foram dos grandes nomes que pisaram o palco minhoto, e que fizeram deste festival um ponto central de todos os festivais. Espera-se então, que em 2010, superadas as divergências com a PortoEventos, se realize o festival que há 38 anos se estreou por terras minhotas.


CULTURA

MÚSICA EM ESTADO PURO

Tendo a Praia do Tabuão como pano de fundo, a 17ª edição do Festival Paredes de Coura conta com um cartaz marcadamente alternativo, com os Franz Ferdinand a ser cabeça de cartaz. A banda escocesa traz ao Minho o novo albúm «Tonight: Franz Ferdinand», e promete aquecer a noite de 30 de Julho. Nos restantes dias, Nine Inch Nails a 31 de Julho trazem o seu rock industrial ao Norte de Portugal. E na última noite, Jarvis Cocker fecha em beleza. Realce ainda para o tradicional «Jazz na relva», que ocorre em todas as tardes do festival. As zonas Ibero Sounds e After Hours são as restantes deste festival que promete deixar os fãs das bandas em questão bastante satisfeitos. METAL EM FORÇA NO ERMAL

Ilha do Ermal pode fazer lembrar episódios menos bonitos da relação «Portugal - bandas», como aquele que aconteceu aos Nickelback em 2002, quando os fãs resolveram atirar pedras ao membros da banda, fazendo-os abandonar o recinto minutos depois. Porém, o festival Ilha do Ermal 2009 não deve ter novas cenas menos dignas, visto o seu cartaz estar bem direccionado para um determinado público e estilo musical, segundo directivas definidas pela própria organização. A banda brasileira Sepultura surge como sendo o nome principal de um cartaz que conta com nomes muito conhecidos no mundo do metal, tais como os também brasileiros Angra, os gregos Firewind ou os germânicos Disbelief. Quanto a bandas nacionais, RAMP, Men Eater e The Temple são as bandas mais conceituadas.

Para final do ano está marcado um segundo acto deste festival, sem ter ainda qualquer nome confirmado.

imenso ao longo dos anos.

MARÉS (BEM) VIVAS EM GAIA

Com cartazes muito discutíveis, o festival Super Bock Super Rock volta a dividir-se em dois actos, o primeiro na Invicta e o segundo na capital Lisboa. No acto portuense, Depeche Mode são os cabeças de cartaz, tendo como companhia Nouvelle Vague ou Peter Bjorn and John, num evento que ocorrerá no Estádio do Bessa. Uma semana depois, no Estádio do Restelo, The Killers, Duffy e Brandi Carlile abrilhantarão uma noite que conta com nomes bem mais conceituados do que a portuense. Ainda neste acto lisboeta, a banda lusa Bettershell procurará mostrar-se ao país, e provar que a música portuguesa tem qualidade.

Depois de a edição de 2008 ter esgotado, o Festival Marés Vivas entra na sua 7ª edição com um cartaz de luxo. Tendo uma vista de sonho, o rio Douro, o festival portuense conta com os britânicos Kaiser Chiefs e Primal Scream para abrilhantar a primeira. Na segunda noite, muita nostalgia irá percorrer os olhares dos fãs que se deslocaram à Praia do Cabedelo, com Scorpions e Guano Apes a prometerem concertos electrizantes, cada um à sua maneira. A abrir esta noite de grandes nomes estará Secondhand Serenade, artista que tem deixado a sua marca muito recentemente na música mundial. Para o último dia, a organização do festival reservou momentos mais intimistas, com Keane, Colbie Caillat ou Jason Mraz a fecharam com chave de ouro um festival que tem crescido

SUPER ROCK OU SUPER POP?

MÚSICA PARA TODOS OS GOSTOS

Ainda a Norte, inúmeros festivais para gostos mais variados ocorrem. Caos Emergente 2009, Ecos da Terra,

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CULTURA

Energie Azurara, Fade In ou Maiaact são alguns dos exemplos dos eventos que ocorrem dos meses de maior calor no ano ALIVE PARA ARRASAR

Considerado por muitos o melhor festival português e um dos melhores do mundo, o Optimus Alive 2009 não fugiu à regra e apresenta este ano um cartaz que agradará a muita gente. Houve uma grande preocupação em conciliar grandes nomes da cena musical com nomes que estão a desapontar tanto internacionalmente como em Portugal. Desta forma, o festival vai contar com a participação de Mazgani, Tiguana Bibles e the bombazines no primeiro dia, 9 de Julho, e Zig zag Warriors, Coldfinger, Dj Ride, Bezegol e Youthless no dia 10. O último dia estará a cargo dos Linda Martini, Dj Kitten, Madame

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Godard, Olive tree, entre outros. No que respeita a grandes nomes que marcam presença no festival, a palavra de ordem é ecletismo. Desde ao metal até ao pop, há musica para todos os gostos. O primeiro dia é marcado pelo metal sendo os Metallica os senhores da noite. A precederem-nos estão os Slipknot, Machine Head, Lambo f God e os portugueses Ramp. O dia 10 é mais variado e conta com a presença dos The Prodigy, Placebo, Blasted Mechanism, The kooks, Eagles os Death Metal e Os Pontos Negros. O último dia é marcadamente mais Pop-rock e Hiphop. Depois das actuações de Boss AC e Avo, os festivaleiros podem contar com as participações de Chris cornell, dos Black EyedPeas e dos sempre bemvindos Dave Mathews Band. SUDOESTE PARA DESCONTRAIR

O

festival

do

Sudoeste,

na

Zambujeira do Mar, é um dos mais emblemáticos do nosso país e este ano conta com um cartaz de luxo. Depois de um dia destinado a receber os campistas, no dia 5 de Agosto, contase com um desfile de bandas que vão encher o recinto de música. O dia 6 vai ser encabeçado pelos Buraka Som Sistema e pelos The National, com participações de Macaco, The veils, Armin Van Muuren. O dia 7 de Agosto vai ter como cabeça de cartaz dos suecos Madcon, que prometem levar o recinto ao rubro com músicas energéticas como é o caso de Begging e Liar. A fadista Mariza e Legendary tigerman são outros dos destaques deste dia. No dia 8 será um dos com maior afluência. Para além dos Blind Zero, poder-se-ão ouvir os Mad caddies e os saudosos Faith no More. A fechar as hostes, o dia 9 vai ter como cabeça de cartaz a britânica Lilly allen. São participação garantida neste dia os Basement JAxx,


CULTURA Amy McDonald, Gomo, Au Revoir Simone, Caravan Palace, Virgem Suta, Anaquim, Bunnyranch e Marcelo D2.

MUNDO CONTEMPORÂNEO SUGERE...

LOULÉ, CAPITAL DO MUNDO

O Med 2009, direccionado para um publico mais eclético apreciador da chamada World Music, conta este ano com um rol de nomes que vão encher de música a ciddae de Loulé entre 24 e 27 de Junho. Destaques para Bajofondo, Moriarty, Ojos de Brujo, Eneida marta, os portugueses Donna Maria, Camané e Lura, que fecha o festival. MÚSICA, CARROS E FESTA

O Rock One, sem dúvida a maior novidade deste ano. Ainda sem um cartaz totalmente completo, estão garantidas as participações de James Morrison, Tara Perdida, Fonzie e Os Pontos Negros no dia 5 de Agosto, os ingleses Bloc Partyn os dia 6. os míticos James serão os cabeça de cartaz do dia 7, que contará também com a presença de Ana free e Mia Rose. O dia 8 de Agosto, ultimo dia do festival a decorrer em Portimão, estará a cargo dos The Offspring. Outro dos destaques deste festival vai para a possibilidade de dez dos festivaleiros terem durante o festival o melhor emprego do mundo. Ao comprarem o bilhete, as pessoas podem-se inscrever no site do festival e habilitam-se a um salário de vinte mil euros durante o evento, estadia num hotel de cinco estrelas e um carro topo de gama.

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CULTURA

Salaviza d’Ouro João Salaviza deu a Portugal pela primeira vez em muitas participações a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Orgulhoso, o jovem realizador sabe que o patamar agora está bastante alto.

texto_ Adriano Narciso

J

oão Salaviza, jovem de 25 anos, reside em Lisboa e é ainda estudante de cinema, mas o que o diferencia de outros estudantes do seu curso é que ele já ganhou uma palma de ouro de Cannes, com a curta-metragem «Arena». Concorrendo na categoria de melhor curtametragem, Salaviza tornou-se no primeiro português a ganhar uma palma de ouro em Cannes, embora Manoel de Oliveira tenha recebido um prémio, ainda que no tocante à sua carreira enquanto cineasta. A curta-metragem, que se centra na vida de um jovem em prisão domiciliária, Mauro, que enfrenta o dilema de transgredir a lei para acertar contas com um grupo de miúdos marginais tinha já ganho um premio no festival Indie Lisboa, mas o realizador, no decorrer do Festival de Cannes sempre disse que «Arena» não era um filme «para ganhar aqui». A verdade é que a expectativa era muita. Em Portugal, a curta era tida como um «híbrido entre o documento da realidade e o espectáculo da sensualidade dos corpos e do espaço». Para o realizador lisboeta foi uma honra esta atribuição, não só por o recompensar pelo seu trabalho como por dar conta da mudança que tem atingido o próprio conceito de curta-metragem. Antes pareci haver a necessidade de uma moral, uma punch-line sem a qual o filme estaria incompleto. Segundo João salaviza, os responsáveis pelo festival

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fotografia_ wordpress.com

“não estão à procura da típica curta com a ‘punchline’ final. Estão à procura de coisas novas. Senti que o meu filme foi escolhido por isso”. De destaque também o vencedor da palma de Ouro para melhor filme - Michael Haneke -, com Das Wiesse Band (A Fita Branca) . O realizador austríaco, de 67 anos, que já era conhecido acima de tudo pela adaptação para a película de um romance da já nobelizada Elfriede Jelineck, «A pianista» foi o grande nome desta 62a. edição do Festival de Cannes. O filme aborda a historia de um grupo de crianças e adolescentes que pertencem a um coro regido por um professor. São apresentados tanto os personagens como as suas famílias. O enredo adensa-se quando começam a acontecer acidentes fora do comum. O prémio que visa homenagear a carreira de um individuo que se tenha destacado na sétima arte foi este ano para Alain Resnais, que dirigiu o filme Les Herbes Folles. Brillante Mendoza ganhou o prémio para melhor realzador. A melhor actriz para os júris do festival foi Charlotte GAINSBOURG pela sua prestação no muito falado e poémico «Antichrist» de Lars Von Trier. A palma para melhor actor foi atribuída a Christoph Waltz no filme Inglorious bastards de Quentin Tarantino. Louis Sutherland foi distinguido com uma distinção especial para curta metragem com o filme The six dollar fifty man.



CULTURA

Artes do Espectáculo Numa altura em que a arte parece ser renegada para segundo plano o Algarve mostra não ser só praia nem marionetes nas mãos encenadas dos financiamentos para a cultura. Novos cursos profissionais abrem, com eles crescem oportunidades nas vidas académicas e profissionais de alunos que vivem de arte e sonham viver para ela.. texto_ Sofia Trindade

L

uzes, palcos e aplausos. Desde pequenos que brincamos ao teatro naqueles jogos tão inocentes de auto descoberta. Para uns essa experiência passa, mas noutros nasce o desejo de ir mais longe, de continuar e fazer da paixão uma carreira profissional. Mas nem sempre é fácil a oferta até bem à pouco tempo era escassa especialmente na nossa região, o Algarve, esquecido durante os meses de inverno. Os casinos, até então, pareciam ser a quase única fonte de promoção de

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fotografia_ Sofia Trindade

espectáculos e apesar disso tendiam em recorrer a companhias estrangeiras em vez das regionais, já sobre lotadas e pouco solicitadas. Hoje em dia apesar do pouco apoio às artes, em especial à do espectáculo parece aparecer uma nova vaga de pessoas interessadas em reformular esta vergonhosa realidade. Formação é a palavra-chave, é através dela que hoje em dia se criam futuros novos profissionais, que possuem todas as ferramentas para se afirmarem enquanto intérpretes da mudança cultural que se quer, e que já

vai começando a ser notada cá em terras de sol e praia. Dando seguimento as sonhos de muitos alunos, quase esquecidos por falta de oportunidades surgiram dois cursos profissionais de artes do espectáculo no Algarve. O primeiro surgiu à dois anos na secundaria Pinheiro e Rosa em Faro através da iniciativa da professora Ana Oliveira, com mestrado em teatro e educação. A mesma explicou à revista «O Mundo Contemporâneo» que este curso surgiu de «um desafio que lancei na


CULTURA

escola. Surgiu esta oportunidade da escola agarrar um curso profissional ligado às artes do espectáculo, eu falei com dois alunos de companhias teatrais aqui da região, eles consideraram que era oportuno e então decidimos ir para a frente com ideia da abertura de um curso para actores, nas artes do espectáculo mas na vertente de interpretação». Este curso destina-se a alunos que querem ser animadores, que querem ser actores, que querem conduzir a sua vida através das artes do espectáculo. Destinam-se a pessoas que querem que a sua vida seja ligada as artes do espectáculo. Porque como nos disse Clara, uma aluna do curso, «há poucas pessoas que se apercebem o que é que é o teatro, mas há muitas que querem fazer teatro». Os aspirante a actores têm entre 18 e 20 anos, tendo a turma apenas dois alunos com 16 anos. Alguns deles desinteressaram-se pela escola e chegaram a desistir como a Mafalda Santos, de 20 anos que sempre «quis seguir uma carreira ligada à rate, mas não sabia o que tirar até que deixei os estudos 1, 2 anos. Surgiu este curso e decidi participar e estou a aguentar até agora». O curso profissional surgiu como uma oportunidade para contrariar a desistência da escola, dos sonhos dos alunos e da falta de formação nesta área que existia no Algarve. Devido ao sucesso e forte adesão deste curso abriu este ano lectivo outro curso idêntico em Albufeira, sob a coordenação do professor Paulo Moreira que tirou o mesmo mestrado e que dá continuidade a este projecto iniciado pela colega Ana Oliveira. Os cursos de forte componente prática correspondem às expectativas dos alunos, mas também exigem muito dos

mesmos, tal como Wilson Benedito nos contou «Estou a gostar apesar de estar a pedir mais do que pensava […] quando estamos no 9º ano o teatro parece fácil, uma brincadeira, mas é difícil. Mas tem um lado bom, por aqui eu aprendo e talvez quando sair daqui quem saiba..». O sonho leva a que Wilson e os colegas enfrentem «5 horas por semana só para aprenderem a colocar a voz, a falar e a pronunciar correctamente as palavras; 5 horas por semana só de uma disciplina que se chama movimento, para terem a consciência do seu corpo, como devem preencher o palco, como estão em cima dele; e têm 6 horas por semana de interpretação» disciplina leccionada por Ana Oliveira que nos explicou a estrutura dos cursos. É uma carga técnica pesada, o que não impede que seja completada com a componente científica que também é importante: dramaturgia, história da cultura e das artes e psicologia, são três núcleos fundamentais para a criação e gestão de um actor, como nos contou a professora. A mesma sente-se bastante realizada ao passar-lhes a sua experiência e saberes

«É bastante gratificante, eles são muito generosos porque dão bastante de si próprios. Acreditam muito nos valores que lhes transmitimos». Este alunos vêm provar que há adolescentes que ainda acreditam no valor da arte e da cultura, que a cultura poderá mudar muitas práticas e quando tirarem talvez renovem o Algarve, tanto a nível de projectos culturais como a nível de hábitos. Porque assim como César «no futuro não me vejo a fazer outra coisa fora do espectáculo!» os seus colegas também não. Como não poderíamos deixar de o fazer a revista «O Mundo Contemporâneo» aconselha vivamente a cultivarmo-nos enquanto espectadores: Dia 26 de Junho os alunos farão uma apresentação aberta ao público geral, na sua escola a secundária Pinheiro e Rosa. Nós, em nome dos futuros actores fazemos o convite! Venha conhecer 8 heroínas trágicas da nossa história e ajude a construir a história profissional destes jovens com aplausos.

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CULTURA

Espectáculos a não perder Música

Teatro

Cristina Branco Fado

Data: 21/05 Local: Teatro Municipal, Portimão Hora: 21h30 Preços: 15€

Ojos de Brujo (Festival MED) New Flamenco/ Fusão

Data: 25/06 Local: Centro Histórico, Loulé Hora: 23h00 Preços: 12€

Elton John

Pop/ Pop Rock/Jazz/Blues

Data: 28/06 Local: Pavilhão Atlântico, Lisboa Hora: 22h00 Preços: 40€ - 125€

Katy Perry Pop/ Pop Rock

Teatro Lethes, Faro 18 De Junho; 22H00

Caravan Cabaret Teatro das Figuras 2 De Julho; 22H00

Jimmy Joyced! Relembra o ano de 1904 através dos olhos de JJ Staines, um vendedor no Mercado de Rathmines em Dublin que tem uma perigosa obsessão por todas as obras do escritor James Joyce. Entre as mais importantes constam as desavenças com o seu pai, uma noite de fogo-de-artifício na torre Sandycove, o seu resgate de Monto pelo homem que se tornou Bloom, e a sua paixão por Nora Barnacle e o seu passeio fictício no dia 16 de Junho – Bloomsday*. “Tudo neste espectáculo é emocionante e memorável – nada menos do que “um génio inspirado por um génio”.

Bem-vindos ao Caravan Cabaret. Um fragmento ambulante de história. Uma caixa de surpresas; um refúgio para proscritos; a estação terminal dos artistas que nenhum espectáculo quer. Para esta família de outsiders interestelares o cabaret é uma forma de viver, de ver, de sentir. Um boulevard de sonhos desfeitos, um castigo divino; pequenas doses de arte concentrada, a ponto de serem deitadas para o vazio do esquecimento. Um espectáculo de vanguardismo fulgurante e prestígio garantido.

Preços: 5€

Preços: 5€ - 10€

CD TOP 5

Data: 28/06 Local: Campo Pequeno, Lisboa Hora: 20h00 Preços: 23-29€

Jimmy Joyced! De Donal O’kelly - One man show!

The High End of Low de Marilyn Manson

Stória, Stória ... de Mayra Andrade

Sensation - The Ocean Of White: Portugal 2009

This Is The Life de Amy Macdonald

Ali e Radici de Eros Ramazzotti

Marilyn Manson voltou a reunir-se com o seu amigo de longa data, o baixista Twiggy Ramirez, e dá-nos “We’re From America”, a primeira amostra do próximo álbum The High End of Low.

É o 2ºálbum de originais da cantora Cabo-Verdiana Mayra Andrade. Depois de ter atingido o estatuto de Disco de Ouro no seu anterior trabalho “Navega”, Mayra Andrade apresenta-nos mais um disco com raízes no arquipélago.

Mergulhe nas profundidades desconhecidas e explore o vórtice espiritual. Um espectáculo inigualável para lá de qualquer expectativa. Sacie-se na extravagância de Sensation.

Um trabalho surpreendente! Com mais de 3 milhões de discos vendidos, Amy Macdonald estreou-se ao vivo em Portugal na apresentação do Festival Sudoeste TMN (onde actuará dia 9 de Agosto 2009).

‘Ali e Radici’ foi gravado em Los Angeles (Califórnia) e é o 11.º álbum de estúdio que Eros edita, 4 anos depois de ‘Calma Apparente’ e dois anos depois de ‘E2’, ambos discos que atingiram várias marcas de platina em todo o mundo.

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MUNDO CONTEMPORÂNEO SUGERE

Literatura O Tigre Branco

De Araving Adiga O primeiro romance de Araving Adiga valeu-lhe o Man Booker Prize em 2008. Um caso atípico no historial deste galardão. O livro apresenta-nos uma imagem da Índia enquanto potência mundial que tardamos em conhecer, um país em mudança e os efeitos que esta mudança potencia nas pessoas. Balram Halwai nasce numa família pobre e para fugir a um fatalismo endémico migra para Nova Deli, onde subir na vida é uma realidade que se torna possível se se lutar para isso.

Meridiano de Sangue

De Cormac McCarthy Cormac McCarthy, visto pela crítica como o mais directo herdeiro do estilo de William Faulkner, escreveu em 1985 a sua magnum opus. Meridiano de Sangue aborda a vida no seu sentido mais puro e selvagem e para isso o narrador mune-se de uma linguagem crua e violenta para falar da maldade inerente ao ser humano enquanto descreve as paisagens belas do sul dos EUA.

Barroco Tropical

De José Eduardo Agualusa José Eduardo Agualusa volta a surpreender depois de escrever As mulheres d meu pai, obra que lhe valeu críticas bastante positivas por todo o mundo. O enredo passa-se em 2020 numa Angola que vive de contrastes. O povo elegeu uma mulher para a Presidência e a tradição tem ainda um grande peso. Uma mulher que acredita falar com Deus cai do céu e o protagonista, um escritor famoso, vê-se obrigado a tentar perceber o que se passa.

Cinema Brüno

A Ressaca

De Michael Bay, com Megan Fox, Shia LaBeouf e Hugo Weaving. País: EUA Género: Acção, Ficção Científica Distribuidora: ZON Lusomundo Estreia a 25 de Junho de 2009

De Dan Mazer, com Sacha Baron Cohen, Alice Evans e Trishelle Cannatella. País: EUA Género: Comédia Distribuidora: Columbia Warner Estreia a 09 de Julho de 2009

De Todd Phillips, com Bradley Cooper, Heather Graham e Ken Jeong. País: EUA Género: Comédia Distribuidora: Columbia Warner Estreia a 18 de Junho de 2009

A extraordinária saga dos Transformers – seres gigantes de um planeta distante que se sentem forçados a camuflar a sua verdadeira identidade sob a forma de automóveis, aviões e inúmeros outros aparelhos electrónicos na Terra.

Em 2006, Borat fez o mundo tremer, agora com Brüno, Sacha Baron Cohen promete superar o héroi cazaque. Um homosexual austríaco que pretende ser o mais famoso depois de Hitler, será que consegue? Dia 9 de Julho num cinema perto de si.

Tudo começa numa viagem para Las Vegas. Quatro amigos vão a uma despedida de solteiro e começam a beber. A pior parte é que acordam no dia seguinte com um tigre no quarto, um bebé num armário e não se lembram de nada.

Transformers: Retaliação

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ESPECIAL

UM PA

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UM PAÍS VESTIDO DE NEGRO

AiS VESTIDO DE NEGRO ANO APÓS ANO, MILHARES DE HECTARES ARDEM NO NOSSO PAÍS, A PONTO DE SERMOS RESPONSÁVEIS POR METADE DA ÀREA ARDIDA NOS CINCO PAÍSES MEDITERRÂNICOS. CENTENAS DE BOMBEIROS, MILHARES DE CIVIS COMBATEM TODOS OS ANOS OS MALFADADOS INCÊNDIOS. E PREPAREM-SE, QUE 2009 SERÁ TRÁGICO, SEGUNDO OS ESPECIALISTAS! texto_ Fábio Lima

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ESPECIAL

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ortugal continua a ser um país dramático no que a incêndios florestais diz respeito. Só nos primeiros cinco meses do ano, de acordo com a Autoridade Nacional Florestal, mais de 16 mil hectares arderam este ano, o quadruplo de período homólogo do ano passado. Quanto a ocorrências de incêndios, este ano já leva o dobro das do ano transacto. Ainda com o Verão a chegar, os especialistas dizem que as altas temperaturas aliadas à falta de cuidado habitual com a mata levarão a um ano trágico no nosso país. Em 25 anos, Portugal é o país do Sul da Europa com mais fogos florestais e aquele que tem maior área ardida. Estes dados podem não significar muito se não for esclarecido que Portugal é bem mais pequeno que os restantes países. Em conversa com o Comandante dos Bombeiros Municipais de Faro, Vitor Afonso, procuramos respostas para o facto de sermos tão flagelados por incêncios. Procuramos também saber se as corporações estão apretechadas o suficiente para o combate eficaz.

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UM PAÍS DE FLORESTA

Com 3.3 milhões de hectares de floresta, Portugal tem uma das maiores àreas florestadas da Europa, cerca de 35.8 %. Este pode ser um dado ainda mais relevante quando comparado com os outros países. Portugal conta com predominância de Pinheiro bravo (29,1%), Sobreiro (21,3%) e o Eucalipto (20,1%). Voltando atrás no tempo, até 1866, com base num inventário feita na época é possível concluir que nessa data apenas 18,310 mil hectares de floresta (quase o mesmo que ardeu até agora este ano). O país cresceu a nível florestal graças ao Estado Novo. Ainda em 1907, o país já se cobria de verde, contando com 1,96 milhões de hectares arborizados. A floresta acabou também por se tornar uma fonte de lucro, quer fosse na venda de madeira como também na produção de cortiça e resina. Nesta época, a cortiça acabou por se tornar uma fonte importante de receita para o país. Da mesma forma, a resina começou

a tornar-se um mercado importante, levando mesmo o Estado Novo a criar a Junta Nacional dos Resinosos. Com uma legislação bem assente e seguida à risca, nesta época viveu-se a melhor relação da história com a floresta. TEMPOS MAUS COM A DEMOCRACIA

Libertados da ditadura instaurada no país durante quase 50 anos, a chegada da democracia acabou por não ser muito positiva para o futuro da floresta nacional. Com imensos fundos a serem canalizados para este sector, a ganância dos produtores acabou por falar mais alto. Durante a época do Estado Novo, além da aposta na cortiça e na resina, foi feita um investimento forte no eucalipto. O «petróleo verde», como fora apelidado por Mira Amaral, começava a tornar-se uma fonte inegável de receita nacional, porém a forte arborização eucaliptal levou a efeitos nocivos no ecossistema nacional. Foram até plantados eucaliptos em zonas em nada aptas para esse efeito,


UM PAÍS VESTIDO DE NEGRO

era o desespero financeiro a falar mais alto. Mas não era só o eucalipto que rendia nesta época. Sobreiros, ou azinheiros também serviam para alimentar a carteira esfomeada do português sedento por qualquer centavo de lucro. O FOGO EM PORTUGAL

Dados da União Europeia colocam Portugal com metade da àrea ardida de entre os cinco países mediterrânicos - Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia - o que por si só diz bem da predisposição para haverem incêndios no nosso «cantinho à beira mar plantado». Fenómenos como o despovoamento rural e a transformação de habitats agrícolas e silvo-pastoris em áreas de vegetação pronta a ser devastada pelo fogo, são as principais causas deste flagelo. Em dez anos desapareceu mais de um quinto da floresta nacional e ao ritmo que segue, este ano pode aumentar. Numa análise mais detalhada conseguem-se dados ainda mais preocupantes. No ranking de maior destruição de floresta, Faro surge no primeiro posto, com 55% desde 1995. Castelo Branco (42%), Guarda e Porto (36%) e Viana do Castelo (33%) são os distritos que completam o Top-5 dos distritos com maior àrea ardida. Quanto a 2009, todos apontam para consequências catastróficas. As condições climatéricas, prevê-se um dos anos mais quentes dos últimos 100 anos, a falta de zelo por parte dos proprietários das zonas florestais, poderá levar a que este ano seja bastante negro. Vitor Afonso, comandante da corporação de Bombeiros Municipais de Faro, partilha da mesma opinião, afirmando que 2009 «será um ano crítico», enaltencendo que «as condições meteorológicas serão um dos factores fulcrais».

E DE QUEM É A CULPA?

Com tanto incêndio a inundar o país, a questão que mais se coloca e que mais pertinência tem é: de quem é a culpa? Porém, a resposta tarda em surgir de uma maneira concreta. Por um lado, o forte abandono das zonas rurais, leva a um maior perigo dessas zonas em relação a incêndios. Segundo um estudioso da materia, Pedro Almeida Vieira, a forma como é feita a articulação das entidades não é a mais correcta. Vitor Afonso rebate estas declarações, afirmando que «quando há uma maior envolvência de vários corpos de bombeiros, nesse caso as operações ficam no comando de um comandante de bombeiros distrital que depois articula com as forças no terreno. As coisas têm corrido bem.» «Os bombeiros em Portugal estão numa fase de reestruturação no que diz respeito à parte organizacional, com nova legislação para articular melhor os meios em termos de comando. E desde 2005 para cá, os governos têm estado a trabalhar nesse sentido», defende o comandante da corporação de Faro, que

conta com 40 anos nos Bombeiros. No que a meios diz respeito, raros são os casos em que as corporações estão contentes com aquilo que lhes é atribuído. No caso da corporação de Faro, o comandante admite que «é óbvio que ambicionamos e desejamos sempre mais e melhores meios. Além de materiais, também estamos preocupados com os meios humanos. Porque o voluntariado escasseia, e sei que há muitas corporações que se debatem com esse flagelo e nós não fugimos à regra». Ainda na esfera da culpa do drama que é o período dos incêndios florestais de Verão, Vitor Afonso rejeita comentar com precisão se há ou não interesses por detrás dos incêndios mas chega a dizer que «há sempre um motivo para a causa do crime. Mas o que é facto é que constatamos que as vezes os incêndios ocorrem de uma forma esquisita, mas também temos todas as condições propicias a que hajam incêndios.» 2009 adivinha-se desastroso e nas palavras de Pedro Almeida Vieira há razões para se estar alarmado, «Se for como prevemos, nem quero estar cá.»

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DESPORTO

O SENHOR 94 MILHOES Das ruas da Madeira para o Santiago Bernabeu. Cristiano Ronaldo, o jogador mais caro da história do futebol, espalha magia nos relvados e glamour fora deles. As fintas estonteantes, os remates indefensáveis, os rockets como marca registada, Cristiano Ronaldo é uma figura planetária. Por Fábio Lima

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DESPORTO

Q

uando Ronaldo foi contratado ao Nacional da Madeira por 4500 contos, os dirigentes sportinguistas olharam para este investimento como tendo um valor muito arriscado, mas lá avançaram com o negócio. Quatro anos depois de desembolsar 22.5 mil euros, o Sporting recebe 14.5 milhões de euros e o miúdo maravilha de Alvalade voa para Manchester com apenas 18 anos. Em seis anos de Manchester, Ronaldo conquistou tudo o que havia para conquistar, e até no momento da mudança conquistou um novo ceptro, o jogador mais caro do planeta. Mudase então para Madrid a troco de uns astronómicos 94 milhões de euros. DO ANDORINHA AO NACIONAL

Nascido em 1985, Cristiano Ronaldo herdou o apelido do nome do então Presidente dos EUA, Ronald Reagan, visto este ser uma referência para a sua mãe. Cresceu na zona pobre do Funchal, vivendo no seio de uma família humilde e bastante unida. O despertar para o futebol surgiu nas ruas da freguesia de St. António, jogando com os seus colegas de rua. O seu primo mais velho, alinhava no Andorinha e certo dia convidou o miúdo Cristiano para ir treinar ao clube. Cristiano chegou, viu, gostou e ficou. Assim que começou a jogar futebol no clube da terra, a sua mãe Dolores sempre teve o sonho de que «Cristiano fosse tão bom como [Luís] Figo». Nos jogos do modesto clube, Ronaldo deixava a sua marca e começava a ganhar fama no arquipélago. O seu padrinho, Fernão Sousa, então jogador do Nacional decide ver se o que se falava do miúdo era verdade e vai ver um jogo do Andorinha. No final desse jogo, Fernão decide que Ronaldo tinha que ir para o clube rubro-negro. Aos 10 anos, Ronaldo protagoniza a sua primeira transferência, a troco de bolas e equipamentos. Chegado ao Nacional, Ronaldo tomou como hábito jogar contra os mais velhos, acabando por crescer mais rápido, como o próprio

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afirma. Um ano de Nacional fez com que o pequeno génio madeirense se tornase conhecido nas esferas da formação nacional e já despertasse a cobiça dos grandes. 4500 CONTOS AOS 12 ANOS

Fernão Sousa percebia que Cristiano já não tinha qualidade para jogar na Madeira, merecia vôos mais altos. Aos 11 anos, o padrinho do jogador tenta levá-lo para Alvalade. No rescaldo do negócio, o Sporting ficava com o prodígio, e o Nacional via saldada uma dívida antiga. Em 1997, Ronaldo desloca-se a Alcochete para treinar junto com a equipa. Os responsáveis pela observação de Ronaldo, Osvaldo Silva e Paulo Cardoso, ao verem a potencialidade do jovem madeirense disseram logo que este jogador seria para manter. O papel de convencer a direcção de que o miúdo valia mesmo os 4.500 mil contos estava entregue a Aurélio Pereira, que no relatório de recomendação afirma que apesar do elevado custo, este podia valorizar muito. Com a contratação acertada, Ronaldo viaja para Lisboa em Agosto de 1997, passando a viver em conjunto com muitos outros jogadores no Centro de

Estágio de Alcochete. Sempre integrado em equipas de jogadores mais velhos, Ronaldo foi cultivando uma fama de líder, levando a que até os mais velhos o respeitassem. Esta capacidade de líder aliada à sua perseverança de ser ainda melhor, fizeram dele o jogador que agora é. O responsável pela formação leonina, Aurélio Pereira, afirma ter apanhado Cristiano a treinar à uma da manhã sem autorização no ginásio, algo que revela bem a sua determinação. Na vida em Alcochete, Ronaldo recebia 10 contos (50€) de salário e a família sempre que podia ajudava-o. Sentindo bastante esta predisposição da família para o ajudar, o jovem madeirense afirmava na altura que um dia a sua mãe não voltaria a trabalhar. Este sentimento de solidariedade alargou-se também aos seus colegas do Sporting. Ronaldo tinha grande empatia com Semedo e quando este teve perto de ser dispensado devido à falta de camas, Ronaldo disponibilizou-se para ceder a sua, para desta forma o actual jogador do Charlton pudesse manter-se por perto. Segundo rezam as crónicas dos seus tempos de formação no Sporting, Ronaldo foi o melhor em todos os torneios em que entrou. José Mourinho,


DESPORTO quando o viu pela primeira vez apelidou-o de «filho do Van Basten», devido à sua elegância e capacidade técnica. Aos 17 anos, Laszlo Boloni decide integrar o jovem definitivamente na formação principal. E nesse mesmo ano realiza o seu primeiro jogo europeu, ante o Inter de Milão. Mas o grande momento (e último) de Cristiano Ronaldo com a camisola leonina surge no dia da inauguração do Estádio Alvalade XXI. No dia anterior ao jogo, a direcção de ambos os clubes havia acertado a transferência do prodígio madeirense, mas apenas na época seguinte. Porém, Ronaldo realiza uma exibição soberba e convence Sir Alex Ferguson a levá-lo logo para Inglaterra. Ferguson não podia esperar, e a troco de 14,5 milhões de euros, CR28 passou a ser CR7 no Teatro dos Sonhos. O NOVO 7 DO UNITED

Ronaldo em Manchester passa a

envergar a camisola 7, que outrora fora de Beckham, Cantona ou Bryan Robson. Porém, o madeirense inicialmente pretendia o 28, mas Ferguson acreditava que ali estava o digno merecedor de tão reputada camisola. Ronaldo foi para Manchester ganhar 16000 contos (80 mil euros), quando saiu de Alvalade a receber modestos 400 contos (2000 euros). Chegava a hora que Ronaldo havia prometido a sua mãe, esta não teria mais que trabalhar. Na mesma altura, decide apoiar a irmã e abre uma loja no Funchal com a sua marca - “CR7”. Na primeira temporada em Manchester, faz quatro golos, jogando em rotação no plantel. Ferguson sabia que era fundamental uma adaptação faseada do miúdo à realidade britânica. UM PAÍS RENDIDO À SUA MAGIA

No Verão de 2004, chegava o Euro 2004e Portugal vivia com enorme ansiedade e emoção cada momento da

sua selecção. Ronaldo começa no banco, mas ao terceiro jogo Scolari percebe que a selecção precisava de Ronaldo para agitar as águas. O «menino» marcou dois golos no torneio (contra a Grécia na primeira jornada e contra a Holanda nas Meias-Finais). Porém, o pior estava guardado para a final, Portugal diante o futebol cínico dos gregos e Ronaldo, e muitos outros portugueses, não contém as lágrimas de ter falhado em momento tão precioso. Apesar do dissabor, Ronaldo mostrou-se ao mundo, e a partir de agora nada seria igual. A AFIRMAÇÃO EM MANCHESTER

Após a primeira época de reconhecimento, Ronaldo estava preparado para «ser lançado às feras». Em 2004/2005, Ronaldo faz 7 golos por terras de Sua Majestade mas já era muito mais utilizado. Na selecção nacional era já uma pedra essencial. E foi na selecção nacional que o jovem com 20 anos na altura recebeu uma

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das notícias mais dolorosas, a morte do seu pai. Foi o seleccionador de então, Scolari, a dar a notícia. Ronaldo apesar do sentimento de perda, não deixou de representar a selecção e Scolari como gesto de retribuição por tal facto, cedelhe a braçadeira de capitão para aquele jogo. Na temporada seguinte, CR7 sobe a fasquia e faz 10 golos na Liga e é cada vez mais decisivo no xadrez de Sir Alex Ferguson. Finda a época, chegava a festa do futebol do mundo, o Campeonato do Mundo, o primeiro de Cristiano. Ronaldo faz seis jogos a titular, marcando apenas um golo. Apesar do talento já mais que evidenciado de Ronaldo, a selecção fica-se pelas meiasfinais, caindo aos pés da eterna rival França. Deste Mundial fica o incidente com Rooney que fez CR7 querer sair de Manchester, mas a muito custo Jorge Mendes e Alex Ferguson convencem -no a ficar na cidade inglesa. A temporada 2006/2007 mostrou um Ronaldo cada vez mais forte, talvez impulsionado pelos constantes assobios que vinham das bancadas, ainda fruto do incidente com Wayne Rooney. 34 jogos na Liga Inglesa, e 17 golos marcados. Ferguson já não vivia sem Ronaldo no seu «onze». Nomeado pela primeira vez para a escolha do melhor jogador

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do mundo, Ronaldo fica em terceiro lugar, atrás de Kaká e Messi. A começar a acumular prémios, Ronaldo ao foi galardoado com o 2º lugar na eleição de melhor jogador europeu pela France Football e como 3º melhor jogador do mundo pela publicação americana World Soccer.

ao serviço da selecção das quinas. Em 2008, Portugal disputou na Áustria/Suíça o campeonato europeu. E como seria de previsível, muito se esperava de Cristiano Ronaldo. Porém, à imagem daquilo que a selecção fez, Cristiano deixou muito a desejar. Nos jogos seguintes, com novo seleccionador, a contestação manteve-se e a selecção nacional pode até falhar o Campeonato do Mundo da África do Sul, algo que afectará muito a imagem do craque formado no Sporting. Sem conquistar nenhum troféu a nível de selecções, teme-se que Ronaldo não deixe a sua marca em definitivo no futebol mundial devido à falta de um título relevante em termos de selecções. ÚLTIMA TEMPORADA DE UNITED

O melhor estava definitivamente para chegar! 2007/2008 iria mostrar um Ronaldo mortífero e fenomenal. 31 Golos apontados na liga, num total de 40 golos em todas as competições fizeram de Ronaldo o melhor marcador europeu, recebendo dessa forma a Bota de Ouro. Ainda fruto desta soberba temporada, Ronaldo foi considerado o melhor jogador do Mundo pela FIFA, melhor jogador da Europa pela France Football, melhor avançado e melhor jogador da Liga dos Campeões e melhor jogador para a World Soccer. Um ano verdadeiramente de sonho para Cristiano, onde a nível de clube conquistou a Liga Inglesa e Liga dos Campeões.

2008/2009 seria a última temporada no Teatro dos Sonhos. Começando a época lesionado, Ronaldo demorou a entrar em forma e a equipa inglesa parecia ressentir-se da falta do génio português. Mas quando este tomou a forma, a equipa de Alex Ferguson não mais parou. Em Dezembro, no Japão, Ronaldo conquistou o Campeonato do Mundo de Clubes. Vitórias atrás de vitórias, os red devils conquistaram a Liga Inglesa e foram à final da Liga dos Campeões, perdendo com o Barcelona de Messi. Ronaldo acabou por ser o melhor em campo por parte dos ingleses, mas batido por Messi no troféu. O Manchester nesta temporada ganhou ainda a Carling Cup. Com tudo conquistado em Manchester preconizava-se a saída de Old Trafford do astro português.

A SELECÇÃO COMO HANDICAP

SEIS ANOS DE SONHO NO TEATRO

O MELHOR DO MUNDO

Uma das lacunas na carreira do génio madeirense continua a ser a falta de títulos e falta de qualidade exibicional

Chegado a Manchester em 2003, Cristiano pisou o Teatro dos Sonhos e rapidamente se tornou um fenómeno


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de popularidade. Odiado por uns, amado por muitos mais, Ronaldo tem até direito a uma música especial dos adeptos dos red devils, «There’s only one Ronaldo» - Há apenas um Ronaldo. Com a camisola dos diabos vermelhos, Ronaldo conquistou três títulos britânicos consecutivos, 2 Taças da Liga, uma Liga dos Campeões, um Campeonato do Mundo de Clubes e inúmeros títulos pessoais, de onde se destaca o de melhor jogador do mundo em 2008. A sua saída provocou uma onda de choque por terras britânicas, com muitos adeptos do Man Utd a jurarem ódio eterno ao extremo, e outros a pedirem que este um dia regresse a Old Trafford. UM SONHO REALIZADO

Ronaldo em tempos já havia afirmado que tinha como sonho representar o Real Madrid e em meados de Junho a transferência para o clube blanco foi mesmo confirmada. Depois de garantir Kaká por 65 milhões de euros, Florentino Pérez resolveu garantir um velho sonho ao desembolsar 94 milhões de euros, um recorde mundial. Cristiano poderá finalmente a camisola do Real Madrid e Florentino Pérez no seu regresso à presidência do clube madrileno pretende desde já cavar um fosso para os rivais Barcelona. O mesmo Florentino Perez que passa a ser o responsável pelas quatro transferências mais caras de sempre no futebol, Ronaldo, Zidane, Kaká e Figo, num total estonteante de 293.5 milhões de euros. Cristiano Ronaldo deixará de usar a camisola 7 que o caracterizou no Manchester United, passando, ao que tudo indica, a usar a camisa 9, que já foi do «fenómeno» Ronaldo. Bom prenúncio para o madeirense, que espera, a par de Kaká formar uma dupla terrível. Aliás, o valor que o Real Madrid pagou pelo internacional luso daria para comprar 12 Maradonas e 235 Cruyffs, num estudo elaborado pelo jornal

Marca. Dados interessantes também foram feitos em relação ao que se podia comprar com os 94 milhões da transferência do novo 9 do Madrid. A FAMÍLIA COMO ALICERCE

Desde cedo que Ronaldo mostrou que a sua família significa muito. Quando ainda estava no Sporting, o jovem jogador afirmara que um dia iria fazer com que a sua mãe não tivesse que voltar a trabalhar e anos depois, com a ida para Manchester, conseguiu. Apoiou as irmãs, vive bem de perto com uma família que desde o seu começo foi sempre unida, e bastante humilde. Ronaldo considera que o apoio da família é essencial. Sempre que pode, Ronaldo mima os seus familiares, surpreendendo os seus entes queridos, como a sua mãe quando na última festa de aniversário lhe ofereceu um novo automóvel.

FIGURA MEDIÁTICA

Considerado o jogador mais mediático do mundo, segundo os estudos de mercado, Ronaldo adora fazer publicidade. BES, Coca-Cola ou Nike são algumas das marcas com contratos exclusivos com Ronaldo. Com uma legião de fãs enorme, Ronaldo arrasta multidões. Figura de campanhas publicitárias de renome, a marca Ronaldo deixa sucesso por onde passa. Recentemente, com a transferência para o Real Madrid, Ronaldo mudou a sua marca registada para CR9, de forma a manter-se no mercado de forma única. Com o salário que passará a auferir em Madrid, Ronaldo bem que pode dispensar os prémios de publicidade. Perto de 10 milhões limpos de impostos mais o bónus de direitos de imagem. Ronaldo beneficiará do sistema fiscal mais suave que a vizinha Espanha aplica aos cidadãos que vêm de fora.

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Olhanense campeão, 34 anos depois Trinta e quatro anos depois, lágrimas e sorrisos, gritos de euforia e rostos de quem nunca havia visto o Olhanense no escalão superior do futebol português. Num estádio de São Miguel, em Gondomar, a rebentar pelas costuras a festa não se pode conter após o vitorioso golo de Toy, aos setenta e um minutos.

texto_ Isa Mestre

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vitória sobre o Gondomar deu antecipadamente ao Olhanense o título de campeão da Liga Vitalis, ainda que faltasse disputar a partida final frente ao Gil Vicente. Marco histórico em terra de pescadores, o Olhanense voltou a provar porque é considerada uma das equipas mais combativas da Segunda Liga e foi recebido em êxtase pelos seus adeptos por volta das duas horas da madrugada, hora de chegada ao reduto Olhanense. Abraçados e acarinhados tal heróis da terra, os jogadores foram simplesmente “engolidos” pela multidão que, aglomerada no afamado Jardim dos Pescadores cantava o hino da vitória numa noite que prometera ser de festa rija. O treinador do Olhanense, Jorge Costa, afirmou à chegada a Olhão que o título e a consequente subida à Liga Sagres foram, para a equipa e para o clube, nada mais nada menos que “um feito histórico, conseguido com dificuldades, com um orçamento baixo, mas com um grupo de trabalho maravilhoso». Realçando a qualidade

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fotografia_ Olhanense.com

e esforço dos seus jogadores, o antigo internacional português, qualificou-os como tendo sido “inexcedíveis”. Perante sete mil adeptos que entoaram estridentemente o seu nome, Isidoro Sousa afirmou ter concretizado “ um sonho de vida” ao ver os rubronegros de regresso ao convívio entre os grandes do futebol português. Por entre vivas dos adeptos e pedidos para que continue na direcção do Olhanense, o Presidente assegurou que “há muito que desejava viver um momento como este”. Autor do golo Olhanense e um dos obreiros da subida também Toy deu voz à alegria dos algarvios, afirmando: “O golo que marquei vale ouro. Isto é um espectáculo!”. Em destaque na festa algarvia esteve também Rui Duarte, capitão da equipa de Olhão, que assegurara na edição passada à Revista Mundo Contemporâneo estar crente na subida: “Vamos conseguir, tenho a certeza que vamos conseguir e alcançar um feito histórico não só para o clube mas também para todos os jogadores e treinadores”.

De facto, el capitán não se enganou na rota e efectivamente foi no porto do bom sucesso que atracou a caravela comandada por Jorge Costa. Também no rumo do bom sucesso, não apenas pelo percurso colectivo mas especialmente pela carreira individual que desenvolveu ao longo do campeonato, encontramos Djalmir, ponta-de-lança da equipa de Olhão que se afirmou como o “bota de ouro” da prova, com um total de vinte golos em vinte sete jogos realizados. A veia goleadora do brasileiro valeulhe o slogan que aterrorizou jogo após jogos as defesas adversárias: “Deus perdoa, Djalmir não”. Imensamente acarinhado pelos adeptos Djalmir foi apenas um dos pilares da equipa que Jorge Costa comandou até ao título, a equipa que jogo após jogo, minuto após minuto demonstrou o valor da camisola envergada, a camisola que no próximo ano figurará entre no escalão principal: a Primeira Liga. Parabéns ao Olhanense!


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ParabĂŠns Olhanense!

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O MELHOR DE SEMPRE Depois de nos últimos três anos ter deixado o título escapar para Nadal, Roger Federer finalmente venceu o major que lhe faltava. Desta vez, sem ter de medir forças com o tenista maiorquino, foi ele quem levantou a Taça dos Mosqueteiros em Paris, igualando o recorde de 14 torneios do Grand Slam conquistados por Pete Sampras. texto_ David Marques

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esde 2001 que se augurava um futuro auspicioso para o jovem suíço quando durante o torneio de Wimbledon assinou a maior surpresa da quinzena ao eliminar precocemente o hepta-campeão Pete Sampras. À data, Federer contava com apenas 19 anos e ainda estava longe de alcançar a regularidade que Lleyton Hewitt, uns meses mais velho, já apresentava. Hoje, oito anos depois, o tenista helvético já não é uma promessa nem uma certeza: tornou-se o expoente máximo da história do ténis. A ASCENSÃO E A PERDA DA INVENCIBILIDADE

O seu compromisso com a história começou a escrever-se em Wimbledon, no ano de 2003, quando, ao bater na final o australiano Mark Philippoussis, levantou pela primeira vez o troféu de vencedor de um Grand Slam. Seguiu-se um domínio quase asfixiante do circuito por parte do tenista natural de Basileia, que permaneceu ininterruptamente no topo do ranking entre o dia 2 de Fevereiro de 2004 – a seguir à conquista do Open da Austrália – e 18 de Agosto de 2008, quando foi destronado pelo seu maior rival, Rafael Nadal. Totalizando, foram 237 as semanas em que manteve o seu trono inviolável. Actualmente, a aura de intocável que preconizou Federer nos seus anos de apogeu já não é a mesma. Desde o início

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fotografia_ AFP

de 2008 que alguns tenistas penetraram nas fragilidades que anteriormente se desconheciam da sua parte. Depois de dez presenças consecutivas em finais de Grand Slams, é eliminado nas meias-finais do Open da Austrália por Djokovic. Alguns dias depois é-lhe diagnosticada uma mononucleose, doença que, desconhecidamente, já o acompanhava desde Dezembro último. Ainda em défice físico, Federer regressa à competição no Dubai, onde é eliminado na primeira ronda pelo britânico Andy Murray, seguindo-se uma sequência de maus resultados que só culmina com a vitória no Estoril Open. Sucede-se derrota pesada frente a Nadal em Roland Garros e perde, igualmente para o tenista maiorquino, o título de Wimbledon conquistado nas cinco anteriores edições. A CRIAÇÃO DE UM “MONSTRO”

A incrível sequência de vitórias que acompanhou o helvético durante quatro épocas transformou as derrotas em acontecimentos pouco toleráveis. Após a derrota com Djokovic na meiafinal do Grand Slam australiano Federer foi claro quanto às expectativas que se haviam constituído em seu torno: “Eu criei um monstro, por isso sei que tenho de ganhar sempre todos os torneios, mas chegar às meias-finais não deixa de ser um bom resultado”, afirmou visivelmente desgastado.

De facto, Federer chegou onde quase todos duvidavam que alguém pudesse chegar. Até mesmo Sampras confirmou que não acreditava que o seu recorde de 14 títulos máximos conquistados fosse igualado tão cedo. Enquanto o tenista norte-americano precisou de doze anos e de participar em 45 Grand Slams para chegar à décima quarta vitória aos 31 anos, a Fedexpress (27) bastaram-lhe 24 desde o primeiro título em 2003, há seis anos. Desde então, participou em 19 finais (recorde que partilha com o checo Ivan Lendl), tendo perdido apenas para a sua “besta negra”, Nadal, três vezes no Open de França, e uma em Wimbledon e na Austrália. O domínio destes dois jogadores é tão avassalador, que dividem entre si 19 dos últimos 22 maiores torneios disputados: os restantes são distribuídos por Gaudio em Roland Garros e Safin e Djokovic, ambos em Melbourne (Austrália). Outro dado impressionante é o facto de Federer ter estado presente em 15 das últimas 16 finais de torneios de Grand Slam A SUPERAÇÃO DA MALDIÇÃO…

Desde 2005 que o único homem capaz de imiscuir-se na demanda do tenista de 27 anos foi Rafael Nadal. Nesse ano caiu nas meias-finais às mãos do jovem maiorquino acabado de completar 19 anos, que viria a conquistar a Taça dos Mosqueteiros pela primeira


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vez. No ano seguinte, Federer atinge pela primeira vez na carreira a final do maior torneio disputado na superfície do pó-de-tijolo, chegando ao encontro decisivo com um percurso quase imaculado, cedendo apenas um set nos seis anteriores encontros: em vão, pois perde novamente para o espanhol, situação que se repete nos dois anos seguintes, sempre na final. Um ano depois, os dois melhores tenistas do mundo chegam a Roland Garros com estatutos invertidos. Nadal é número 1 do mundo desde Agosto de 2008 – algumas semanas após o épico duelo de Wimbledon – e Federer luta para se defender da regularidade exibicional dos jovens Novak Djokovic e Andy Murray. Apesar do incontestável favoritismo fundamentado pelas vitórias nas quatro edições anteriores, o “rei” da terra batida chega ao seu torneio favorito após final perdida em Madrid precisamente para Federer, por duplo 6-4. Os mais cépticos argumentaram que a derrota na capital espanhola se deveu ao simples facto de Nadal ter precisado de quatro horas para eliminar Djokovic no dia anterior. Comedido nas palavras, “Rafa” argumentou que a terra do torneio permitia que a bola circulasse a uma velocidade superior à que é comum no pó-de-tijolo, o que favorecia o tipo de jogo mais ofensivo do seu oponente. Talvez, mas Federer, ao desbloquear uma senda de cinco desaires consecutivos em finais frente ao seu arqui-rival, pode ter recuperado a estabilidade emocional que lhe foi

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“sugada” com tanto brio pelo prodígio maiorquino. ...E A CONSAGRAÇÃO

Vaticina-se nova final entre os tenistas que monopolizaram entre si os dois primeiros postos do ranking nas últimas cinco temporadas. Federer terá de defender a sua honra e mostrar que ainda pode voltar a ser o tenista dominador que entre 2004 e 2007 conquistou 11 títulos maiores, mas poucos são agora capazes de afirmar de “boca cheia” que estará presente na final pelo quarto ano e, muito menos, que levará para casa o ceptro que nem no auge da sua forma conseguiu arrebatar. Por sua vez, ninguém duvida agora que não existe alguém capaz de pôr termo à hegemonia que Nadal patenteou em Paris desde 2005. Enganam-se. No último dia da primeira semana o impensável acontece: depois da eliminação de Djokovic, Robin Soderling (número 23 do mundo) elimina precocemente o “campeoníssimo” espanhol, cedendo apenas um set. É a primeira derrota da carreira de Nadal no pó-de-tijolo da “cidade das luzes”. Para trás ficam 31 vitórias sem conhecer por uma única vez o sabor amargo da derrota. Bem… pelo menos até agora. Com a surpreendente saída do seu maior obstáculo à conquista do tão almejado troféu, a pressão cai sobre Federer. “Se não for este ano, nunca mais será”, afirma insistentemente o público parisiense. Jogando de forma menos convincente do que nas últimas quatro edições do torneio, o tenista helvético acaba por marcar presença na final, depois de vencer dois encontros no decisivo set e de ceder seis em igual número de jogos, algo inédito nas 18 finais anteriormente disputadas. À

sua espera está precisamente Robin Soderling, o “carrasco” do número 1 mundial, e 15 mil espectadores na expectativa de observarem ao vivo o maior feito do século no ténis – o empate com Pete Sampras em provas conquistadas do Grand Slam e a consumação do “Grand Slam carreira” (a conquista das quatro principais provas da temporada). Fazendo uso da experiência adquirida de tantas finais (perdidas), Federer superiorizou-se ao seu oponente e nem mesmo um percalço motivado pela invasão do court por um “espectador impaciente”, o desviou de se comprometer com a história, vencendo categoricamente com os parciais de 6-1, 7-6 (7-1) e 6-4. Visivelmente emocionado, aquele que para muitos é considerado o melhor tenista da história do ténis não teve dúvidas em escolher este momento como o ponto mais alto de uma carreira recheada de títulos. “Esta é a maior vitória da minha carreira”, garantiu Fedexpress antes de desabafar. “Muita pressão saiu de cima de mim. Agora posso jogar em paz o resto da minha carreira. Nunca mais ninguém me vai voltar a dizer que nunca ganhei Roland Garros”, rematou enquanto recebia de Agassi – outra lenda do ténis que há precisamente dez anos conquistou nas margens do rio Reno o único Grand Slam que não constava no seu currículo – a, tão difícil de obter, Taça dos Mosqueteiros. Soderling, autor de proeza que nem a vitória no torneio igualaria, vergou-se perante Federer. “Não tem nenhum ponto fraco, por isso merece ser considerado o melhor de sempre…”, afirmou resignado. .MELHOR DE SEMPRE?

Há quem hesite em colocar o tenista suíço no mais alto pedestal da história do ténis, à frente de nomes como Rod Laver, Roy Emerson, Jimmy Connors, Bjorn Borg ou Pete Sampras.


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ROD LAVER

JIMMY CONNORS

Dois nomes marcaram a história do ténis na década de 60. Os australianos Roy Emerson e Rod Laver partilham entre si 23 títulos do Grand Slam, tendo a cumplicidade de ambos terem logrado vencer os quatro principais torneios. Mas ao contrário do primeiro, Rod Laver esteve privado de participar nos quatro majors durante cinco temporadas por se ter tornado profissional (entre 1963 e 1963). Ainda assim arrecadou um total de 11 torneios do Grand Slam, sendo até aos dias de hoje o único que alcançou a proeza de vencer os quatro torneios numa só época em duas ocasiões, em 1962 e em 1969, um ano depois de os principais torneios abrirem as portas à participação de profissionais. É difícil preconizar se Rod Laver pode ser considerado melhor do que Federer ou até mesmo Sampras. Comparar eras tão distintas na história do ténis é tarefa ingrata, difícil ou até mesmo impossível de realizar, embora seja inequívoco que “nesta época a competição é muito mais feroz que na de Laver”, argumenta Sampras. Se não fosse a sua ausência dos quatro principais torneios durante cinco anos, provavelmente Rod Laver ultrapassaria os números apresentados em parceria pelos dois recordistas. Um dos “handicaps” que podem pesar contra o tenista australiano prende-se com o facto de três dos quatro grandes torneios se disputarem em tapete verde.

Ao longo da sua carreira venceu mais de 1000 encontros (1241) e conquistou 109 títulos ATP, um recorde que muito dificilmente algum dia será batido. Com 8 títulos de Grand Slam no palmarés, nunca atingiu sequer a final do Open de França, mas partilhou os courts com John Newcombe, Guillermo Vilas, passando também por Borg, McEnroe e até Ivan Lendl. BJORN BORG

Um caso estranho na história do ténis. Com apenas 25 anos já contava com 11 títulos máximos, distribuídos apenas por Wimbledon (5) e Roland Garros (6). Talvez tenha sido por começar a ganhar cedo (ganhou pela primeira vez em França com 18 anos) que cedo se cansou de ganhar. Retirouse aos 26 sem nunca vencer em Flushing Meadows (EUA), pese embora tenha somado quatro derrotas em finais, ou na Austrália, onde só participou por uma ocasião. Borg precisou de 8 épocas para atingir os 11 troféus conquistados, enquanto Federer necessitou de apenas 5 para, igualmente com 25 anos, conquistar o mesmo número de troféus do que Ice-Borg. PETE SAMPRAS

“Pistol Pete” fixou em 2002 o novo máximo de títulos do Grand Slam, conquistando o 14.º no US Open para, de seguida, se retirar aos 31 anos. Entre

eles contam-se 7 em Wimbledon, 5 nos Estados Unidos e 2 em Melbourne. A única pedra no sapato do norteamericano foi Roland Garros, onde nunca venceu, e toda a terra batida, superfície em que o seu serviço – a sua principal arma – abrandava em demasia e onde nunca aprendeu a deslizar convenientemente, como elucida o parco número de torneios conquistados (3). Recapitulando, ao todo foram 18 as finais disputadas por Sampras, tendo conhecido como adversários Agassi, Jim Courier, Stefan Edberg, Boris Becker, entre outros. Pode argumentar-se que Federer nunca teve ninguém à sua altura nos seus anos de apogeu, como Pete Sampras teve. Como resposta, defende-se que nunca teve ninguém à sua altura (pelo menos até aparecer Nadal), porque evoluiu até um patamar que muitos pensavam ser impossível de alcançar, exibindo um ténis asfixiante. Enfrentou vários números 1 como Agassi, com quem tem um saldo favorável de 8 vitórias contra apenas 3 derrotas, Safin (10-2), Hewitt (14-7), Kuerten (1-2), Ferrero (9-3) Carlos Moya (7-0), Roddick (18-2) e o próprio Sampras (1-0). Totalizando o total de Grand Slams conquistados por todos estes atletas em conjunto, chega-se ao número de 32, correspondente a oito épocas. Roger Federer iguala Sampras com apenas 27 anos, tendo já vencido em todas as superfícies, sendo que do primeiro ao 14.º triunfo, disputaramse 24 torneios – do primeiro ao último grande título do norte-americano, foram necessários 45.

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MUNDO AO CONTRÁRIO VIDA DE VACA É COMPLICADA... Uma vaca acabou enfiada numa àrvore sem razão aparente. Aconteceu na Austrália, Tanya Cahill acredita que a sua vaca esteve durante três dias «espetada» na àrvore. Para ser resgatada, o seu dono teve que se socorrer de uma motoserra para a libertar. O mais engraçado nesta história, é que a referida vaca tinha nome, «Princess Mary»... Tanta imaginação! Já imaginaram como seriam se o mundo perdesse mais um membro da realeza? O TAMANHO SEMPRE IMPORTA

CONDUZIR COM CALOR!

Um paciente russo identificado apenas como Konstantin realizou uma cirurgia para aumentar seu pênis em Fevereiro, numa clínica em Moscovo, mas arrependeu-se e agora quer voltar atrás na operação. As razões para a decisão de refazer o que a operação alterou deve-se ao facto de o novo «orgão» do garanhão russo de 40 anos não ter tido boa aceitação por parte da mulheres. Com 40 anos, ainda com problemas de tamanho?

O norte-americano Andrew Jones, de 34 anos, foi preso ao ser apanhado a conduzir apenas de boxers na região de Dunbar, no estado da Virgínia Ocidental (EUA). Foi acusado de exposição indecente e posse de metanfetamina - um saco foi encontrado dentro do veículo, um Chrysler Sebring. Jones foi detido após a polícia ter recebido uma denúncia feita por dois motoristas, que disseram ter visto um homem a masturbando-se enquanto conduzia.

«UPS! ENGANEI-ME NA CASA!» Antes fosse um engano ao bater na porta de outra pessoa a meio da noite. Uma empresa de demolições da Geórgia, usou o GPS para dar a morada de uma demolição, mas pelos vistos as coordenadas estavam erradas. O dono da casa erradamente derrubada levou um valente susto quando chegou a casa e só viu escombros. Segundo o dono da casa, os funcionários da empresa não tinham morada, apenas as coordenadas fornecidas pela empresa. A JOGAR CARTAS É QUE A GENTE SE ENTENDE No Arizona ainda há tradições que se mantém. Na cidade de Cave Creek, após empate nas eleições para a Câmara de Vereadores, o lugar em questão foi decidido através de um jogo de cartas. Adam Trenk, de 25 anos contra Thomas McGuire, de 64. Venceu o mais jovem. Apesar de derrotado, McGuire diz que esta é a melhor maneira de desempatar estas questões. Segundo a constituição deste Estado, é permitida a decisão de cargos políticos através de jogos de azar. Decidam assim as Legislativas e vai ser o Sócrates a praticar até lá... 40


HUMOR BENDITA BOLA DE PAPEL O museu do Werder Bremen terá um objecto estranho entre os demais troféus que o clube tem expostos. Trata-se de uma bola de papel, mas não é uma bola de papel qualquer. Aos 38 minutos da segunda parte, a bola de jogo tocou na dita bola, a de papel, e foi para canto. No canto, a equipa do português Hugo Almeida marcou o golo que garantiu a presença na final da Taça UEFA, vencendo os compatriotas do Leverkusen. Um azar para os alemães, sorte para os outros alemães.

BERLUSCONI, SEU MALANDRO! Silvio Berlusconi, Primeiro-Ministro de Itália, não consegue estar longe de polémicas nem por um segundo. E há sempre mulheres pelo meio. O caso que contámos data da altura do sismo de assolou a zona italiana de Abruzzo, quando o «sedutor» Berlusconi ao posar para uma foto numa igreja destruída, fala para Lia Giovanazzi Beltrami, voluntária da Solidariedade Internacional, perguntando “posso apalpar um pouco a senhora?”. As imagens desta cena foram captadas pela televisão reginal de Abruzzo, que divulgou estas imagens há dias. Nem nos momentos de luto nacional, Berlusconi deixa de tentar ser «engatatão». Ai Silvio, seu malandro!

O BODE LADRÃO

NÃO ÀS MINIS SAIAS E DECOTES

Em Janeiro deste ano, um bode foi acusado pelas autoridades nigerianas de ter roubado um carro. Não fosse já de si um acto hilariante, os polícias nigerianos afirmam que o ladrão era humano e que se transformou em bode. Apesar de ser uma história absurda, o certo foi que o bode lá teve que ficar detido, com a justificação de que eram normas da justiça. Da próxima vez que virem um bode, desconfiem!

Na Escola EB 2,3 José Maria dos Santos, no Pinhal Novo, foram proibidas as saias muito curtas, decotes e as calças demasiado descaídas. Estas medidas foram acrescentadas ao Regulamento Interno da Escola. O Conselho Executivo da escola diz que é uma questão de respeito e que há limites de bom senso a cumprir. 41


REGISTOS DO MÊS

“Nunca vi um pessimista criar um único posto de trabalho” Jóse Sócrates

“PS e PSD são um pouco como a Pepsi e a Coca-Cola.” Miguel Portas

“Se estivesse no lugar de Sócrates, ia para casa” Vasco Pulido Valente

“Moura Guedes é um exemplo de péssimo jornalismo, se é que se pode chamar jornalismo ao que ela faz.”

José Alberto Carvalho in DN

O ataque dos Clones

Federer que se cuide! Se um Nadal dá trabalho, imaginem bem dois! 42


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