CRU N.º 34

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gundos assim que a velocidade da net nos Estados Unidos se equiparar à do resto do mundo). Actualmente, a indústrias da música e cinematográficas ainda estão presas ao passado e avançam muito lentamente rumo ao futuro. Ainda acreditam que as pessoas, daqui por cinco anos, vão querer comprar dvds e blu-rays e que um bilhete de cinema vale de facto quinze dólares. A Netflix é aquilo que mais joga a seu favor neste momento, mas os estúdios insistem em fazer-lhe a vida difícil e a vê-la como uma ameaça e não como uma solução. É perturbador. O que os estúdios têm de perceber é que todos os produtos que vendem são excessivamente caros. É incrível que, por exemplo, o preço dos bilhetes de cinema continue a aumentar. Como é que podem de facto achar que ao cobrarem dez ou quinze dólares por um bilhete vão fazer com que o número de espectadores das salas de cinema aumente? Em vez de baixarem os preços, duplicam-nos, pensando que coisas como o 3D e o IMAX justificam um aumento de cinco dólares por bilhete. Não conseguiram perceber que as pessoas preferem que as coisas sejam fáceis. Deslocar-se a um cinema já é por si só suficientemente trabalhoso sem que se tenha de pagar pelo privilégio. Ir a uma loja comprar um dvd em vez de o alugar ou fazer o download é, em termos gerais, algo de pouco prático a não ser que : a) gostes mesmo de um filme em particular ou b) sejas um apaixonado por cinema ou um coleccionador ávido. Vi há uns tempos no reddit um conceito para uma ferramenta de distribuição online de filmes que seria o maior aliado da indústria do cinema - se estes se dessem ao trabalho de a analisar. Era, no fundo, como o Steam (a distribuidora online para clientes de jogos-de-vídeo para PC). Dar-nos-ia a possibilidade de alugar ou de fazer o download de filmes de forma fácil, de fazer listas e selecções personalizadas, de utilizar diferentes interfaces e partilhar conteúdos com amigos e outros utilizadores. O serviço seria de facto mais eficaz do que o processo de pirataria por sete etapas: 1. Abrir “Movie Steam”; 2. Procurar “The Hangover 2”; 3. Clicar no enter para alugar o filme por $2 durante 24 horas e 4. Ver o filme. O processo seria mais eficaz, poupando-nos três etapas! E teria a vantagem de não nos fazer sentir culpados por estarmos a fazer algo de ilegal. Em parte, o Netflix funciona assim, apesar de o utilizador nunca possuir na verdade os filmes que quer ver e de a possibilidade de escolha ser muito limitada. No que à compra de novos filmes diz respeito, os

estúdios estão tão presos a uma imagem do passado que dá vontade de rir. As ofertas consistem frequentemente na compra de um blu-ray por trinta dólares que tem como extra um segundo disco com meia dúzia de cenas cortadas... Poupem-nos! E que tal pagar antes dez dólares pelo novo Harry Potter e vê-lo quando e onde me apetecer? Ou seja, trata-se de uma negociação em que o cliente poderá sempre fazer o download gratuito do filme. Mas parece que, pelo contrário, são eles que nos estão a fazer um favor ao considerarem a hipótese de porem à disposição um download legal. Como se fossem eles a ditar as regras do jogo! Não é assim que funciona uma negociação! Talvez as regras do jogo não sejam as mais correctas, mas é esta a realidade a enfrentar. No entanto, os estúdios ameaçam acabar com a Netflix cobrando-lhes enormes percentagens em troca de uma autorização de acesso aos seus conteúdos. A Netflix está na linha da frente contra a pirataria e os grandes estúdios não parecem querer perceber isso. É incrível. O “Movie Steam” traria consigo alguns problemas práticos. Seria difícil fazer com que várias multinacionais concordassem utilizar o mesmo serviço de distribuição, e eu de certeza que não gostaria de ver a “Sony Steam,” a “Universal Steam” e a “Paramount Steam” amontoadas no meu computador. Também seria difícil gerar um consenso entre elas no que a uma descida de preços diz respeito, visto estarem habituadas a cobrar entre quinze a trinta dólares por produtos físicos. Seria quase impossível fazer com que não inventassem novos direitos de autor digitais, e nem pensar na opção de partilhar um filme com outra pessoa. Claro que tal medida também poria fim a serviços como o Netflix e a Redbox (e dava cabo de uma vez por todas da Blockbuster), afectando todos os pequenos comércios de venda de dvds. É óbvio que podemos sempre argumentar que os dvds vão de qualquer forma desaparecer dentro de dez anos e que as pequenas lojas terão de qualquer das formas de encarar essa realidade. O argumento de que “as pessoas vão sempre querer suportes materiais” também é corrente, mas pessoalmente desconfio que tal pode não ser o caso dentro de vinte, dez ou mesmo cinco anos. Ora, ao oferecerem um serviço deste género, pelo menos estariam a tentar adaptar-se à realidade. Pelo menos estariam a ir na direcção certa. Fazer pressão para que se aprovem leis que ameaçam a liberdade na internet e irritam toda a população de um país é, no mínimo, uma péssima escolha. Os milhões de

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