Entender a mulher #1

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Unidas pela

texto Mariana Gomes e Roberta Castro fotos Gabriel Rinaldi, Humberto Furtado, Fabiano Dallmayer ilustração Rodrigo César e Paula Bittar

as garotas de rosa Dona Ernesta, ao centro: 98 anos, 30 deles dedicados a apoiar quem, como ela, sofreu com o câncer. Com as voluntárias do Hospital A. C. Camargo, ela leva adiante a missão de Carmen Prudente de humanizar o tratamento

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las formam um exército numeroso, mas discreto. Estão nos maiores hospitais e em cidades tão pequenas que nem hospital há. Não são profissionais de saúde nem assistentes sociais. Na verdade, o trabalho delas não exige formação. Mas pode ser tão importante no tratamento do câncer quanto a medicação mais avançada. O que essas mulheres fazem é simples – e imensurável. Elas dão apoio. De todos os tipos que pacientes carentes possam precisar: da ajuda para conseguir atendimento à companhia afetuosa nas horas difíceis. E fazem isso com os recursos à mão – nenhum deles maior do que a força que mulheres unidas têm para resolver problemas. Esta é a história da Rede Voluntária de Combate ao Câncer, também chamada de Rede Feminina, seu nome original. Não é à toa: o movimento começou com uma mulher, e foi pela dedicação de milhares de outras que se espalhou pelo Brasil, dando origem a centenas de redes independentes. Nem a fundadora, uma escritora gaúcha de livros de viagem radicada em São Paulo, esperava tanto – embora fosse conhecida por não sonhar pequeno. Carmen Anne Dias criou a Rede Feminina em 1946, com um projeto ambicioso: angariar fundos para construir um hospital dedicado ao câncer. Casada com o médico Antônio Prudente, seu parceiro na causa, Carmen não só pôs de pé aquele que hoje é conhecido como Hospital A. C. Camargo, referência internacional em oncologia, como instituiu uma nova forma de voluntariado. Da missão original de arrecadar recursos, a Rede passou a estender suas preocupações à pre-

Elas resolvem qualquer problema com dose extra de doçura. são as mulheres da Rede feminina de Combate ao Câncer, pioneiras no apoio social à saúde

venção do câncer, ao apoio das famílias dos pacientes e à qualidade de vida no tratamento. Reunindo donas de casa em suas tardes livres, senhoras das altas rodas em busca de uma obra de caridade e gente sensibilizada pela causa,Carmen formou um batalhão de mulheres generosas, dispostas a doar o que tinham. Podia ser tempo para acompanhar pacientes, recursos para comprar medicamentos, cara de pau para pedir donativos, talento para costurar lençóis. E foi a visão de que qualquer mulher tem algo com que contribuir que transformou a Rede num movimento nacional. Embora não tenham conexão entre si – não se sabe nem mesmo quantas redes há ao certo –, esses grupos levaram adiante a missão de Carmen, falecida em 2001, aos 90 anos. Hoje, Brasil afora, há redes bem estruturadas, que reúnem centenas de voluntárias, recebem financiamento e oferecem serviços especializados, de terapia ocupacional a próteses. Há muitas quase caseiras, mas capazes de mobilizar uma comunidade inteira num jantar beneficente para custear a viagem de um paciente que precisa se tratar em outra cidade. Em comum, elas reúnem mulheres de todas as idades e origens, dedicadas a prevenir e combater a doença que é a segunda que mais mata no Brasil. Na própria pele Para seguir os passos de Carmen Anne, duas vezes por semana Ernesta Calia Callegaro pegava quatro ônibus para ir e voltar até o Hospital A. C. Camargo, onde continua a funcionar a Rede Voluntária. Há pouco mais de um ano, faz o trajeto de ida de táxi. “É que comecei a ficar cansada. Mas o médico set/out 2010 << entender a mulher

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