Agrotec Nº 1

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A qualidade e a tecnologia inovadora dos tractores SAME, LAMBORGHINI e DEUTZ-FAHR esperam por si.

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FICHA TÉCNICA NÚMERO 1 / DEZEMBRO 2011 Director Bernardo Sabugosa Portal Madeira diretor@agrotec.com.pt

AGROTECREVISTA.WORDPRESS.COM

Editor António Malheiro a.malheiro@publindustria.pt Redacção Júlia Guimarães redacao@agrotec.com.pt . secretariado@publindustria.pt Joana Moreira editorial@publindustria.pt Duarte Moreno duartemoreno@agrotec.com.pt Tel. +351 225 899 620 Comercial e Marketing Helder Marques Tel. +351 225 899 627 marketing@agrotec.com.pt Arte Miguel Monteiro Paginação Luciano Carvalho Publindústria, Lda. Assinaturas Tel. +351 220 104 872 assinaturas@engebook.com | www.engebook.com Conselho Editorial António de Fátima Melo Antunes Pinto (ESAV-IPV) António Mexia (ISA-UTL) Henrique Trindade (UTAD) Isabel Mourão (ESA-IPVC) Jorge Bernardo Queiroz (FCUP) José Estevam da Silveira Matos (UAC) Nuno Afonso Moreira (UTAD) Pedro Aguiar Pinto (ISA-UTL ) Ricardo Braga (ESA Elvas) Ana Malheiro (Advogada) Colaboraram neste número Acácio Geraldo de Carvalho, Alfredo Aires, Ana Aguiar, António Cannas, António Mexia, António Pinto, António Rangel, António Simões, Bernardo da Costa Mesquitella, Carlos Pinto João, Catarina Abreu, Cecília Monteiro, Cristina Calheiros, Cristina Sousa Correia, David G. Crespo, Emanuel Moreda, Fátima Mariano, George Stilwell, Henrique Trevisan, Henrique Trindade, Ilda Abreu, Inácio Fonseca, Isabel Berger, José Estevam Silveira Matos, José Martino, José Torres Farinha, Laura Duarte Carvalho, Luís Miguel Cunha, Miguel Lopes Gonçalves, Nelson Dias, Orquídea Barbosa, Paula Castro, Paulo Jorge Rodrigues, Pedro Aguiar Pinto, Raquel Silva, Ricardo Braga, Sandra Marques, Sandra Velho, Sílvia Azevedo e Susana Caldas Fonseca Periodicidade: Trimestral Redacção e Administração Publindústria, Lda. Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, PORTUGAL Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629 secretariado@publindustria.pt | www.publindustria.pt Propriedade e Edição Publindústria, Lda. Empresa Jornalística Registo n.º 213163 Correspondentes Bruxelas: Ana Carvalho, ana.carvalho@agrotec.com.pt Reino Unido: Cristina Sousa Correia, reinounido@agrotec.com.pt Rio de Janeiro: Henrique Trévisan, riodejaneiro@agrotec.com.pt Angola: Gil Grilo, angola@agrotec.com.pt Áustria: Maria Miguel Ribeiro, austria@agrotec.com.pt Itália: Martina Sinno Impressão e Acabamento Anduriña. S.A. Tiragem: 12.000 exemplares Publicação Periódica: Registo n.º 126 143 INPI Registo n.º 479358 ISSN: 2182-4401

ESTATUTO EDITORIAL Título Agrotec – Revista Técnico-Científica Agrícola. Objecto Promoção de tecnologias inovadoras que sustentem a competitividade da agricultura nacional e dos países de expressão portuguesa. Objectivo Estabelecer pontes de diálogo técnico e cooperação com profissionais que operam no sector das Ciências Agrárias, Empresários, Gestores, Formadores e Produtores. Enquadramento Formal A Revista Agrotec respeita os princípios deontológicos da imprensa e a ética profissional, de modo a não poder prosseguir apenas fins comerciais, nem políticos, encobrindo ou deturpando a informação, indo ao encontro das necessidades dos leitores e do bem comum. Na revista haverá liberdade de menção a marcas e produtos sem que tal esteja associado à presença ou ausência de anunciante do artigo mencionado. Caracterização Publicação periódica especializada. Suporte A Revista Agrotec estará disponível ao público em formato de papel e também em e-book. Estrutura Redactorial Director Editor Conselho Editorial Redacção Colaboradores Selecção De Conteúdos A selecção de conteúdos científicos é da exclusiva responsabilidade do Director e Conselho Editorial. As restantes rubricas serão propostas pelo director executivo e pela redacção, de acordo com a linha editorial da revista. Poderá ser publicada publicidade redigida nas seguintes condições: (i) identificada com o título de “publi-reportagem”; (ii) com a aposição no texto do termo “publicidade” se publicada no formato de notícia. Organização editorial Sem prejuízo de novas áreas temáticas que venham a ser consideradas, a estrutura de base da organização editorial da revista compreende: Editorial; Reportagem; Casos de Estudo; Ciência e Investigação (artigos assinados); Agricultura Tropical; Artigo de Opinião; Informação Técnico-Comercial; Tecnologias, Processos e Equipamentos; Cuidados Veterinários; Espaço Consultório (Agrotec Responde); Jornal; Eventos; Bibliografia; “Como Fazer”; Fichas Culturais; Sanidade Vegetal; Viticultura Prática; Enologia; Zootecnia; Secções rotativas: Apicultura, Agricultura Biológica, Agricultura de Precisão, Biotecnologia, Planeamento do Território, Ecologia, Silvicultura, Técnicas de Regadio, etc. Publicidade. Espaço Publicitário A publicidade organiza-se por espaços de páginas e fracções, encartes e publi-reportagens. A tabela de publicidade é válida para o espaço económico europeu. A percentagem de espaço publicitário não poderá exceder 1/3 da paginação. A direcção da revista poderá recusar publicidade nas seguintes condições: (i) se a mensagem não se coadunar com o seu objecto editorial; (ii) se o anunciante indiciar práticas danosas das regras de concorrência ou sociais. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Depósito Legal: 337265/11 Foto da Capa / Modelo Marta Jardim / Irina Ivanova

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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ÍNDICE

Notas do Editor Editorial Agrotec responde Empresas que já são futuro

4 5 6

Beirabaga / Serramel

8

Cultura da framboesa e da amora

12 18

Jersey, uma vaca leiteira

22 24

Avicultura 26

Cuidados veterinários Cuidar dos mais pequenos

28

Actualidade pastagens e forragens

30 34

Hortofruticultura e floricultura Biofumigação 3 36 Actualidade hortofruticultura Estufas góticas Flores comestíveis Cogumelos Pleurotos Primavera em Outubro Vilmorin: Inovação em tecnologia Actualidade hortofruticultura

39 40 42 44 47 48 50

Protecção de culturas Epitrix Similaris A utilização de adjuvantes

8 / BEIRABAGA - SERRAMEL

Instalação de jovens agricultores 113

Ciências florestais Floresta, financiamento público 118

Actualidade Mercado Actualidade pecuária Feiras e eventos SIA2012 VDMA: no rescaldo da agritechnica

Prados, pastagens e forragens O papel das pastagens e forragens

Agronegócio GlobalGAP certificação agrícola 114

A pecuária em tempo de crise

Galinhas de Angola

Riscos eléctricos 107 Inovações agritechnica 2011 108

Zootecnia

Toiro de lide

94

Especial olival

Actualidade maquinaria agrícola 100

Colóquio de agricultura biológia Calendário de feiras e eventos

Bibliografia Opinião

119 126 129 130 135 136 138 141 142

18 / A PECUÁRIA PORTUGUESA EM TEMPO DE CRISE

Muralhas ao sucesso 144

30 / O PAPEL DAS PASTAGENS E FORRAGENS NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA

52 55

A agricultura vista por... Haverá agricultura para lá de 2013? 3 59

44 / INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO NA VIDA ÚTIL DE COGUMELOS PLEUROTOS

Apicultura O mel e o milho vão a tribunal Actualidade apicultura Selecção natural de abelhas

64 65 66

Enologia Quinta da Pacheca Actualidade enologia

68 69

Agricultura tropical Girolando Actualidade agricultura tropical

70 72

Ciência e investigação Tratamento de águas residuais Solarização dos solos Pólen do milho transgénico

74 76 80

Território Gestão e ordenamento de território

82

Maquinaria agrícola Agricultura de precisão

84

Manutenção de máquinas agrícolas

90

Os motores diesel

93

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59 / HAVERÁ AGRICULTURA PARA LÁ DE 2013? FÁTIMA MARIANO



25.o

NOTAS DO EDITOR NÚMERO 1

ANIVERSÁRIO

AGROTECREVISTA.WORDPRESS.COM

Marcas com história Parece que foi ontem mas já passaram 25 anos... Decorria o ano de 1986. Ano de concretização do sonho europeu português. As palavras de ordem eram então a modernização do nosso sector industrial. Imbuído no espírito de missão de jovem engenheiro e tomando por referencial factores de competitividade que passassem pela automatização de processos, lancei a Revista Robótica e Automatização, cujo objecto era, e continua a ser, a promoção de tecnologias, processos e modelos de gestão que contribuíssem para a competitividade das nossas empresas. Em 1992 a Publindústria lança a Revista Indústria e Ambiente, primeiro título português da imprensa especializada que tinha como objecto editorial a promoção da ciência e das tecnologias que contribuíssem para o desenvolvimento sustentável. Uma iniciativa ousada para a época. Um projecto económico de baixo retorno, mas de grande alcance interprofissional junto da comunidade de técnicos do sector. A sua isenção, rigor científico e inovação foram factores relevantes para a sua eleição de membro português da European Environment Press a que pertence. Outro marco assinalável da nossa história de 25 anos foi o lançamento, em 2010, da Revista Renováveis Magazine. Uma aposta editorial no tempo certo e na medida certa de contribuir para a satisfação de necessidades de informação técnica e normativa dos quadros legais do exercício profissional de projectistas instaladores e fornecedores de equipamentos. O assinalável êxito alcançado, num tão curto espaço de tempo pela Renováveis Magazine (se bem que decorrente da intensa procura por imperativo socioeconómico da escassez de recursos fósseis), está também associado ao desenvolvimento de uma linha editorial objectivada para a satisfação de necessidades práticas do seu público leitor.

Vinte e cinco anos depois Com uma reduzida equipa imbuída de espírito de missão e sem fundos comunitários, estamos a lançar no mercado da imprensa especializada de Agronomia, a Agrotec, Revista Técnico-Científica Agrícola. Na sua génese de objecto editorial estão contidas as sementes de mudança para a agricultura nacional. Sente-se no ar que respiramos a necessidade de regressar ao ponto de partida... o mito do eterno retorno de Friedrich Nietzsche. A Revista Agrotec e todo o projecto de comunicação subjacente têm como matriz conceptual a premissa de que a agricultura do futuro irá receber o imenso potencial do conhecimento biológico e tecnológico disponível nas empresas e nas universidades. Penso que será uma agricultura que consumirá menos água, menos energia, menos química, menos mão-de-obra e mais tecnologia!

Agradecimentos Neste tempo de efeméride, quero expressar a colaboradores e anunciantes o meu público reconhecimento por me acompanharem na construção deste projecto de afirmação da Publindústria como editora de referência no segmento da imprensa especializada. Uma palavra de apreço muito especial para os actuais e anteriores directores das revistas. Bem-hajam.

ANTÓNIO MALHEIRO / (CEO DA PUBLINDÚSTRIA)

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EDITORIAL NÚMERO 1 AGROTECREVISTA.WORDPRESS.COM

Na preparação do projecto editorial da AGROTEC foi feita uma grande auscultação nacional junto de empresários, técnicos e académicos sobre se haveria ou não espaço para mais uma revista na área da Agronomia. A resposta, quase unânime, indicou que não só era necessário um novo periódico, mas um novo ideário. O desafio proposto é trazer o laboratório para o campo. E acabar com ilhas em que se tornaram as nossas instituições políticas e de investigação, desligadas que estão do país rural. A audácia da AGROTEC vai ao ponto de no seu projecto estar escrito que: “se quer fiel ao princípio técnico-científico, tira-se a palavra à política, dandoa a quem trabalha no sector sem, no entanto, deixar de dar opinião. Mostrar-se-á como exemplo o que de melhor se faz, e dir-se-á como fazê-lo. Não será pioneira, mas será única.” A situação a que chegou o país fez-me achar oportuno lembrar os seguintes parágrafos do célebre Major Costa Júnior, que os publicou em 1929. “No extremo ocidental da Europa havia uma linda e rica propriedade, mas irregularmente cultivada. Os seus proprietários, uns por não precisarem, outros por não saberem e ainda outros por falta de ajuda, não seguiam o exemplo dos que faziam bem produzir as suas terras, nem os conselhos das publicações agrícolas e deixavam as terras ao Deus dará. As consequências, sofria-as a maioria dos proprietários da linda e rica propriedade, por terem de comprar, no estrangeiro, os géneros de primeira necessidade e de os pagar em OURO, que dificilmente conseguiam. A caminhar assim, aquela linda e rica propriedade, acabaria por ser hipotecada um dia; e, depois, os seus proprietários seriam os servos dos novos e estranhos senhores.” E não se enganava ele, pois a caminhar assim, chegou-se a um momento em que para pagar o OURO que se pediu se teve que invocar a vinda do FMI. Mas na AGROTEC acreditamos nos empresários e invocamos os Lusíadas: “Fazei, Senhor, que nunca os admirados Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses Possam dizer que são pera mandados, Mais que pêra mandar, os Portugueses" E aqui está apresentada a AGROTEC, que vem, com espírito missionário dizer, sem pudor, que “a agricultura é a fronteira que melhor defende os países”. E falando assim se fará desta, não uma revista pioneira, mas sem dúvida uma revista única. Neste número ouvimos perspectivas para o futuro e conhecemos empresas que são futuro, que vivem sem olhar para Bruxelas, mas para os mercados, para os consumidores e para as plantas. E é o que todos temos de fazer. E aquilo a que a AGROTEC se vai dedicar.

O desafio proposto é trazer o laboratório para o campo. E acabar com ilhas em que se tornaram as nossas instituições políticas e de investigação, desligadas que estão do país rural. (...) a agricultura é a fronteira que melhor defende os países.

BERNARDO SABUGOSA PORTAL MADEIRA

DIRECTOR AGROTEC

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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AGRO TE C FOLHAS DE EUCALIPTO COM MANCHAS

A AGROTEC, cumprindo o seu objectivo de colocar as suas páginas ao serviço dos empresários agrícolas, entendeu que uma das necessidades mais prementes por eles sentida é obter de forma rápida e clara resposta técnica a problemas relacionados com a sua actividade (direito, patologia, enologia, silvicultura, zootecnia, apicultura, olivicultura, agricultura tropical, etc). Assim, os leitores que queiram, poderão remeter-nos pelo correio a sua consulta (gratuita), que deverá ser sucinta e objectiva. As questões serão publicadas na revista no número seguinte, podendo ser resumidas e adaptadas pela redacção da Agrotec. Se possível e útil para a resposta a ser dada deverão ser enviadas amostras de material ou fotos. A Agrotec encaminhará a questão colocada para especialistas nas áreas que versem a consulta. Se, com o envio da consulta, for fornecido um endereço de e-mail, as respostas serão dadas directamente logo que disponíveis e posteriormente publicadas no número seguinte da revista.

Numa jovem plantação de eucaliptos (2011) surgiram no final do Verão muitas árvores com as manchas que se vêm nas fotos que envio. É uma doença? Tem tratamento? Pode provocar prejuízos? Leonardo José da Silva Agrotec: Relativamente à imagem que enviou, trata-se de um ataque de um fungo Mycosphaerella spp geralmente referido no meio florestal como Micosfarela. Em Portugal ocorre com mais frequência no litoral, e como quase todos os fungos, em locais húmidos em períodos com temperaturas altas. Os danos sentem-se principalmente nos primeiros anos, e traduzem-se numa perda de produtividade por redução da capacidade de fotossíntese da árvore, podendo em ataques muito severos provocar a morte das plantas jovens. No entanto, e como o fungo ataca principalmente as folhas jovens (as de maior dimensão e de cor verde claro), a árvore por norma recupera bem após a mudança para as folhas adultas.

Por correio: Praça da Corujeira, n.o 38, 4300-144 Porto Por e-mail: secretariado@publindustria.pt

Nota: se for necessário realizar análises laboratoriais ao material enviado, e estas impliquem algum pagamento, o consulente será antecipadamente informado.

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O grupo PortucelSoporcel comercializa actualmente uma variedade de clones que, por mudarem para a folha adulta mais rapidamente, estão a dar resultados positivos na prevenção desta doença. De qualquer forma, a preparação de terreno deve ser feita de forma a promover uma boa drenagem e arejamento da plantação. Carlos Pinto João Eng. Florestal

INSECTO DESCONHECIDO Na nossa plantação de couves (penca, galega e bróculo) tivemos um enorme ataque durante o Verão do insecto de que se envia foto, havendo milhares deles em cada pé de couve, estragando as folhas e em alguns destruindo a ponta da couve que acabava ramificando. A plantação foi estrumada, não foi adubada nem se fez nenhuma aplicação de insecticidas em toda a parcela nem nas culturas vizinhas (cebola). Qual é este insecto? É comum? (nunca o tínhamos notado…). Como tratar? Margarida Silva Agrotec: Nestes, como noutros insectos, a identificação correcta ao nível específico é por vezes complexa sem o exame laboratorial dos insectos (pelo que se recomenda que em próximas consultas sejam enviados exemplares de amostra). Contudo, as fotos enviadas permitem fazer uma aproximação, crendo-se que se está perante o percevejo-da-couve, pertencente ao género Eurydema (Hemiptera: Pentatomidae). No Sul da Europa existem pelo menos três espécies, podendo duas delas ser confundidas, pois são muito semelhantes, nomeadamente o Eurydema ventralis e o Eurydema ornata.

Em Portugal, estas espécies têm pelo menos duas gerações, e apresentam grande predilecção por couves. Na geração outonal é comum apresentar sobretudo a cor vermelha, mas na geração primaveril apresenta formas vermelhas, alaranjadas e amarelas. É comum em brássicas (couves) em modo de produção biológico porém, a razão para o desequilíbrio observado é desconhecida (talvez o facto de a Primavera e Verão terem sido anormais do ponto de vista climático). Outras explicações para o aparecimento de desequilíbrios são doses elevadas de azoto ou aplicações de insecticidas. Quanto a tratamentos, temos como opções insecticidas organofosforados ou piretróides, de entre os homologados para


horticultura. Em modo de produção biológico pode-se utilizar um óleo vegetal (óleo de colza refinado) ou um sabão potássico, pois costumam ser eficazes, podendo também utilizar-se o espinosade (Spintor). António Mexia Professor Instituto Superior de Agronomia

COMO SALVAR AS FOTÍNIAS DO MEU JARDIM? No meu jardim algumas das fotínias apresentam umas manchas acastanhadas nas folhas. Inicialmente são pontuações avermelhadas que depois alastram e acabam por secar. O que é e como posso tratar? José de Sousa (Porto) Agrotec: Aparentemente as suas plantas apresentam infecções provocadas pelo fungo Entomosporium maculatum causador da entomosporiose, doença bastante comum nas fotínias e em rosáceas, como roseiras e macieiras.

Este fungo hiberna na forma de micélio nas folhas contaminadas do ano anterior. As manchas negras da entomosporiose podem aparecer nas folhas e nos ramos, são arredondadas e avermelhadas, dentro das quais aparecem pequenas crostas pretas consequência da frutificação do fungo. Estas manchas vão aumentando por toda a superfície das folhas, perdendo a sua cor e beleza original. A infecção ocorre quando as folhas ficam durante 8 horas sujeitas a um filme de água

e com temperaturas entre 20-25 ºC. Para que haja infecção é necessário que as folhas estejam molhadas; há que evitar que se formem filmes de água sobre as folhas que facilitam a infecção, nomeadamente a partir de salpicos do chão. Como medidas preventivas, sugere-se recolher e queimar as folhas caídas durante o Inverno, evitar regar molhando as folhas e em dias quentes, fazer uma poda alta, evitar fortes adubações azotadas e espaçar adequadamente as plantas para permitir o arejamento entre elas e assim reduzir o período de humectação. Algumas variedades, como a "Red Robin", são tolerantes a esta doença. Em caso de uma incidência muito grave, poderá aplicar, por exemplo, o Tiofanato de metilo (TOCSIN WG), o Propiconazol (Bumper) e o Mancozeb, além de fungicidas cúpricos, nomeadamente o hidróxido de cobre (Kocide, etc). Cecília Monteiro, Biotecnóloga


BEIRABAGA DO FUNDÃO PARA TODA A EUROPA FÁTIMA MARIANO


EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO

BEIRABAGA DO FUNDÃO PARA TODA A EUROPA

É

em Alpedrinha e no Fundão, em plena Beira Interior, que em 1991 começou a funcionar uma das empresas portuguesas actualmente com maior sucesso na área da produção e comercialização de pequenos frutos. Fundada por Bernardo e Frederico Horgan e a mulher deste, Rita Horgan, a Beirabaga nasceu para dar resposta a um nicho de mercado cuja procura estava a crescer na altura, tendência que se mantém e impulsionou a empresa a expandir-se, este ano de 2011, com uma nova unidade de produção, neste caso em Tavira, no Algarve. “Tinhamos terrenos disponíveis no concelho do Fundão e queríamos rentabilizá-los. Começámos a pesquisar o que poderia ser mais favorável para lá produzir e, em Espanha, aconselharam-nos a apostar nos pequenos frutos, que tinham já um bom mercado na Europa”, recorda Bernardo Horgan. Um estudo de mercado realizado pelo Ministério da Agricultura português “também dava boas perspectivas para os pequenos frutos”, acrescenta. No início, a Beirabaga explorava uma área de apenas dois hectares. Actualmente, com a expansão ao Algarve, são cerca de 18 hectares de terreno para produção de framboesa (80 toneladas/ano), amora (25 toneladas/ano) e groselha (10 toneladas/ano). E se inicialmente o objectivo era a produção e comercialização dos pequenos frutos para a indústria, o facto de, “no primeiro ano de actividade, o preço ter caído fez com que nos dedicássemos apenas à comercialização de frutos frescos”, refere o empresário, que actualmente é detentor de 100% do capital da Beirabaga. Com um volume anual de negócios na ordem dos dois milhões de euros, o balanço destes 20 anos de actividade não poderia ser mais positivo. O segredo, explica Bernardo Horgan, está na “gestão e na aposta nos produtos certos. Os clientes gostam da qualidade e nunca nos

Nome: Beirabaga Sector: pequenos frutos da Cova da Beira Contactos: www.beirabaga.com

ocorreu desistir”. A Beirabaga tem entre 40 a 50 colaboradores, número que na época da apanha mais do que duplica. As previsões dos agentes do sector apontam para um crescimento na ordem dos 300% na produção e comercialização de pequenos frutos entre 2007 e 2013. A empresa vende 50% da produção para o exterior, nomeadamente: França, Bélgica, Holanda e Inglaterra. A actual crise económica mundial tem-se feito sentir ao nível da quebra dos preços, mas “não na procura”, sublinha Bernardo Horgan. “Os preços caíram porque a concorrência é maior. Espanha, por exemplo, que não produzia pequenos frutos, começou a fazê-lo. E porque a oferta aumentou os preços caíram”, explica. E a Beirabaga não quer perder velocidade. A propriedade em Tavira permite à empresa produzir durante todo o ano, uma vez que as condições climatéricas o permitem. Deste modo, poderá entrar nos mercados do Norte da Europa numa altura em que estes já não têm produção própria. Em Alpedrinha e no Fundão, a produção tem início em Maio e termina em Dezembro. De forma a potenciar ainda mais a produção e a poder responder às exigências do mercado

...o Estado deve criar condições para os empresários continuarem a trabalhar, condições essas que não passam necessariamente pela concessão de apoios financeiros...

ao longo de todo o ano, a empresa tem vindo a apostar numa técnica ainda pouco utilizada no país desenvolvida por um pesquisador holandês. As plantas são cultivadas em vasos e colocadas em pavilhões frigoríficos, onde

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO

ACIMA Framboesa em vaso

as temperaturas oscilam entre os -2 e os 0 ºC, de modo a simular o natural período de dormência invernal. “Desta forma, podemos controlar o timing de amadurecimento da fruta. As plantas voltam a ver o sol quando nós queremos. Nessa altura, retoma o seu desenvolvimento natural, o que nos permite ter frutos fora da época normal”, justifica. Relativamente ao futuro, Bernardo Horgan promete continuar a expandir a Beirabaga, defendendo que o Estado deve criar condições para os empresários continuarem a trabalhar, condições essas que não passam necessariamente pela concessão de apoios financeiros.

Nome: Serramel Sector: Produtos naturais das abelhas Contacto: www.serramel.com

NO INÍCIO FOI O MEL Antes de fundar a Beirabaga, Bernardo Horgan explorava com o irmão Frederico, a empresa Serramel, sedeada em Penamacor, na região da Serra da Malcata. As raízes desta empresa estão no ano de 1900, quando Jorge de Almeida Lima comprou as primeiras colmeias e as começou a explorar na Quinta do Lameiro, na freguesia lisboe-

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ta de São Domingos de Benfica. Em 1974, os seus trinetos começaram a interessar-se pela apicultura e recuperaram as velhas colmeias da quinta, onde a família continuava a viver. Cinco anos mais tarde, deslocaram a sua actividade para Penamacor e fundaram a Serramel. A escolha da Serra da Malcata, uma reserva natural com uma área de 21 mil hectares, deve-se à riqueza de flores silvestres, em especial as urzes e o rosmaninho ou alfazema selvagem (Lavandula stoechas). Entre os méis comercializados destacam-se, entre outros, os méis monoflorais de rosmaninho, eucalipto, flores de laranjeira e ainda mel com amêndoas ou própolis.. A empresa não tem sentido os efeitos da crise económica mundial pois “O mercado de exportação tem compensado a quebra sentida no mercado interno”, refere Frederico Horgan, referindo, contudo, que 70% da produção da empresa é vendida em Portugal, sobretudo para “pequenas lojas de alta qualidade”. Estados Unidos, Canadá, Angola e Moçambique são alguns dos países para os quais a Euromel exporta. O empresário explica que a empresa “foi evoluindo com naturalidade”, crescendo de forma sustentável. O segredo está no facto de conhecerem “muito bem os produtos” com os quais trabalham. “Sabemos o que é o mel e o que tem qualidade ou não”, sublinha. Apesar da crise não ter ainda batido à porta da Euromel, Frederico Horgan defende que “tem de ser o Estado a apoiar e os empresários a ter as ideias”. Estamos perante dois jovens empresários que não temeram

apostar na agricultura, nem dependeram do Estado para se lançarem. Souberam eleger nichos de mercado inexplorados e posicionaram-se na liderança nacional graças à sua excelente visão empresarial. Sempre com atenção e respeito para com os clientes, produzindo bem, com qualidade e rigor profissional. Ingredientes sobejamente conhecidos para o sucesso, mas que muitos julgam ser um segredo.

FÁTIMA MARIANO



EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO

CULTURA DA FRAMBOESA E DA AMORA

G

rande parte da Superfície Agrícola Útil portuguesa encontra-se nas mãos de pequenos agricultores ou de empresas agrícolas de dimensão familiar. Embora, em qualquer parte do mundo, este tipo de estrutura empresarial tenha uma competitividade limitada, ela pode ser particularmente eficiente em certas culturas muito exigentes em mão-de-obra ou na qual se pode agregar valor a produtos de qualidade excepcional, inalcançável em sistemas capitalistas ou industrializados. Desde há muito tempo que os pequenos frutos – e falamos, por exemplo, dos mirtilos ou arándanos, das camarinhas, dos morangos, das groselhas e em particular das amoras e framboesas – têm sido apresentados como dos mais interessantes negócios para a agricultura familiar e para o minifúndio. Isto resulta do facto de estes pequenos frutos, quase de uma forma geral, serem muito delicados e perecíveis, exigindo grande atenção na sua produção e especialmente na

Figura 1 Framboesa de frutificação no Verão

Figura 2 Framboesa de frutificação no Outono

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Por: Bernardo Madeira

sua colheita. Efectivamente, apesar de haver, em vários países, extensas áreas cultivadas com estes frutos, que são totalmente mecanizadas, os seus produtos não alcançam, satisfatoriamente, o mercado de fruta fresca que mais os valoriza. Este mercado exige uma cuidadosa colheita manual, refrigeração e transporte no mesmo dia, sendo assim um artigo bem pago, permitindo elevados rendimentos por unidade de superfície. Porém, como os custos de produção são igualmente elevados, a rentabilidade depende da circunstância de a mão-deobra ser própria da exploração ou, então, de os salários serem baixos. Apesar da relativa facilidade de cultivo de alguns destes frutos (dada a sua rusticidade), não importa apenas saber produzir, mas sim passar a mais importante barreira que é a comercialização que deve ser feita com igual profissionalismo. Neste contexto, o associativismo, em torno de cooperativas, é uma das soluções para o minifúndio e que (por exemplo, na Beira Litoral) permitiu a expansão, em primeiro lugar, da cultura do mirtilo, estando em projecto outras acções semelhantes no resto do país. Apesar de os melhores mercados consumidores se encontrarem no centro e norte da Europa, Portugal tem potencial concorrencial, aliando custos de mão-deobra mais baixos com um clima mais benigno que permite, seja ao ar livre, seja em abrigo, ter fruta fresca durante quase todo o ano, nomeadamente utilizando plantas vernalizadas e cultivadas em vaso. Hoje ocupamo-nos de duas frutas-irmãs, bem simples e conhecidas: a framboesa e a amora. Quer as silvas quer as framboeseiras pertencem ao género Rubus, família das rosáceas (a flor lembra a de uma rosa, possuindo 5 pétalas), género muito comum na Europa e especialmente em Portugal, onde existem mais de 20 espécies nativas. Apesar de as framboesas serem ainda pouco cultivadas no nosso País e as amoras silvestres estarem há muito esquecidas, a verdade é que o comércio internacional destas plantas é importante e crescente sendo, conjuntamente com a maioria dos restantes pequenos frutos, das culturas cuja expansão tem maior interesse nacional visto, entre outras razões, ser economicamente autosustentável sem recurso a subvenções, es-


pecialmente no contexto das explorações do tipo familiar e serem fáceis de cultivar, mais concretamente por estarem perfeitamente adaptadas ao nosso clima. Apesar desta circunstância e das boas condições de adaptação, a área cultivada é ainda inexpressiva. Há uma enorme diversidade de espécies, quer de amoras quer de framboesas, havendo também vários híbridos inter-específicos (como a célebre e secular Loganberry), estes últimos geralmente apenas destinados para a indústria de compotas. O trabalho de melhoramento destas plantas tem sido intenso (infelizmente, nenhum realizado em Portugal) tendo-se resolvido, por exemplo, um dos obstáculos que se colocavam à expansão da cultura da amora, que eram os seus acúleos (espinhos) havendo já variedades que os não têm. Embora as framboeseiras e as silvas sejam plantas muito semelhantes, a primeira e mais evidente diferença entre as duas plantas está no facto de as amoras serem frutos maciços e as framboesas ocos, e esta distinção é por todos facilmente reconhecível. Ao nível do sabor, as diferenças são também absolutas e inconfundíveis. Assim se explica que, apesar de serem plantas que aparentemente são muito próximas entre si, apresentem hábitos de produção bastante distintos.

de produzirem fruto no próprio ano em que nascem, geralmente no final do Verão e no último terço da vara. No ano seguinte essa mesma vara vai produzir fruto na Primavera/Verão e na parte média e inferior da vara. Neste caso, a poda invernal pode ser feita de dois modos: 1) No Caseiro (em que importa uma produção contínua de fruta), as varas são eliminadas quando completaram o segundo ano de produção, havendo assim,

sempre, e em simultâneo, varas de primeiro e de segundo ano, produzindo em diferentes épocas do ano. 2) No Industrial, são valorizados os frutos produzidos fora de época, sendo preferível a eliminação de todas as varas, o que obviamente simplifica muitíssimo os cuidados culturais. Pelas razões expostas, há que ter um cuidado criterioso na compra das plantas,

Figura 3 Variedades de frutitificação no Verão Eliminar as varas que deram fruto

FRAMBOESAS Basicamente há dois tipos diferentes de framboeseiras e que importa distinguir sob pena de ser total o falhanço da sua cultura: 1) Plantas de frutificação primaveril; 2) Plantas de frutificação outonal ou remontantes.

Figura 4 A vara deverá ser cortada até 30 cm na altura de plantar

Dentro destes dois tipos, existem variedades que se distinguem pelo vigor, resistência a doenças, sabor e cor. As framboeseiras do primeiro tipo emitem todos os anos varas a partir de uma “touceira”, varas que não irão produzir qualquer fruto nesse ano mas sim e apenas no ano seguinte, não voltando esta vara a, satisfatoriamente, produzir no ano subsequente. Neste caso, e na cultura convencional em solo, a condução e poda destas plantas apenas se restringe à eliminação das varas que produziram fruto nesse ano, deixando as melhores varas nascidas nesses mesmos doze meses para frutificarem no ano seguinte. As plantas de floração outonal têm a característica

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EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO

Figura 5 Cotações da Framboesa

Figura 6 Sistema de vedação dupla (medidas em cm)

verificando-se que a variedade adquirida é a correcta e que corresponde aos requisitos vegetativos preconizados. Se exceptuarmos as plantas produzidas industrialmente a partir de técnicas de clonagem, a maioria das plantas disponíveis no mercado são obtidas a partir da divisão de touceiras ou, melhor dizendo, provêm das varas anuais que são obtidas com raiz e de seguida engrossadas. A plantação das framboeseiras deve ser feita em linhas, geralmente em bardos encordoados, com um espaçamento entre linhas que não deve ser inferior a 2 metros, e um espaçamento entre plantas que pode variar dos 20 aos 50 cm. A opção por densidades de plantação maiores ou menores apenas se prende com a disponibilidade de capital para investimento inicial e o interesse em se atingir mais rapidamente a

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entrada em produção pois, quando em plena produção, as plantas deverão produzir rebentos que formarão uma “paliçada” contínua. Apesar da plantação ser feita em linhas, é normal o aparecimento de rebentos fora da linha e mesmo rebentos-ladrões nas entrelinhas. Por este motivo, é desejável que se faça um desbaste em verde dos ramos em excesso e a eliminação daqueles que nascem nas entrelinhas, inclusivamente com herbicidas. É recomendável a utilização de “mulchings” vegetais ou empanhamentos na linha. Tal tem como objectivo prevenir o excessivo aparecimento de ervas infestantes e reter a humidade do solo. A utilização de mantas ou de plásticos é também possível, porém, há que ponderar os prós e os contras. A principal contra-indicação para, na linha de plantação, se utilizarem mantas é que estas podem interferir com a rebentação e expansão das novas varas, para o que se tem que rasgar os plásticos na linha o que, logo à partida, vai trazer como resultado uma ineficiência no controlo de infestantes. Seja qual for o método de plantação, a água de rega não deve faltar, devendo preferir-se a rega localizada, evitando-se, assim, molhar folhas, flores e frutos, por óbvias razões sanitárias. Como em praticamente todas as culturas, é também nesta possível a cultura sem terra, em vasos com substratos ferti-irrigados. Porém, estes sistemas tecnologicamente mais avançados devem restringir-se aos casos em que a plantação é feita sob abrigo, em que se pode proceder à vernalização (simulação de um período de Inverno ou importação de plantas de outras latitudes) de plantas para que estas produzam fora de época, ou em que a plantação no solo implique custos acrescidos em termos de espaço, doenças e controlo de infestantes. Na verdade, as doenças radiculares são um problema real no caso das framboeseiras, devendo procederse à rotação de culturas. Em situações ideais, a plantação pode ter uma vida útil entre os 8 e 12 anos. Embora algumas variedades não exijam tuturamento (nomeadamente algumas remontantes), a maioria das variedades de framboeseira é suficientemente vigorosa para que seja requerido algum tuturamento. Por este motivo, as linhas de plantação devem ser encordoadas, como se faz no caso de uma vinha (ver esquemas ilustrativos), havendo sistemas de arames paralelos ou arames simples.


Como se disse, as silvas e seus híbridos, apesar de muito próximas das framboeseiras, apresentam algumas diferenças consideráveis: As variedades de silvas diferem mais entre si quanto ao tamanho, dureza, sabor e perfumes do fruto e vigor da planta do que no caso das framboeseiras, mas menos na gama de cores, que normalmente é azulada ou negra. Acresce o facto de haver variedades com e sem acúleos. Apesar de as plantações deverem ser feitas com variedades definidas e geneticamente melhoradas, há que referir que mesmo em Portugal se encontram no estado silvestre muitas espécies e clones de silvas cujos frutos têm excelentes qualidades comerciais, não ficando atrás das variedades melhoradas, havendo, neste contexto, bastante trabalho que poderia ser feito a nível nacional. O maior defeito da maioria das amoras silvestres está no facto de serem geralmente mais moles (o que é preferido pelo mercado consumidor mas não pela cadeia de distribuição deterioram-se rapidamente por serem pouco resistentes à colheita e transporte) e também de tamanho inferior ao das melhores variedades, porém, muitos destes frutos superam em sabor e aromas as variedades comerciais, continuando a ter um valor superior. Aliás, quer em Portugal quer em França (tal como os morangos e os mirtilos selvagens) também as amoras silvestres têm clientes dispostos a pagar uma valor superior por estes frutos. A frutificação das silvas pode começar antes de Julho e vai até Setembro, dependendo da localização e variedade, não havendo plantas com diferentes comportamentos como no caso das framboeseiras. Na verdade, as silvas não são remontantes e apenas produzem amoras nos ramos do ano anterior. Ao contrário do que acontece com as framboeseiras, a propagação das silvas é do mais fácil que há, podendo ser feita por estacas de Verão ou de Inverno ou mergulhia. É de todos sabido como estas plantas facilmente se propagam (até por semente) e se tornam infestantes! Como são plantas muito vigorosas (as plantações podem perdurar até 20 anos) o espaçamento é variável de acordo com a variedade, podendo ir dos 2 aos 4,5 metros entre plantas. Dada a grande diferença de valores é fundamental conhecer muito bem qual a variedade que está a ser plantada. Os cuidados culturais são semelhantes aos que

Figura 7 Sistema poste-e-arame (medidas em cm) Arame galvanizado robusto (12-14)

Esticadores

AMORAS

Figura 8 Variedades de frutificação no Outono

Figura 9

se devem prestar às framboeseiras, nomeadamente em termos de rega, ferilização e aplicação de um mulching. A condução racional é feita em cordão múltiplo, de 3, 4 ou 5 arames (passando o primeiro a 0,8 metros até ao máximo de 2 metros de altura), aos quais são horizontalmente amarradas duas a quatro varas (ver esquemas ilustrativos). A poda – se a condução durante o período vegetativo for feita correctamente – é muito simples e, dada a forma de frutificação, limita-se a eliminar não apenas os ra-

mos ladrões e mal posicionados mas também toda a lenha que produziu nesse ano, preservando-se os ramos novos do ano, o que pode ser extremamente fácil se se optar por um sistema em leque como aquele que está aqui ilustrado. Na verdade, neste caso a condução, em cada ano, e alternativamente, para cada lado oposto, as varas anuais. Quer as framboesas quer as amoras devem ser colhidas cuidadosamente, quando maduras, directamente colocadas em cuvetes e refrigeradas quanto antes e expedidas quando pronta a carga.

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Neste mercado o “tempo é dinheiro” e só deste modo se consegue apresentar um produto de qualidade duradoura e que receba a justa remuneração. Caso não se tenha estes cuidados os frutos colhidos não podem ir para o mercado fresco, tendo de ser direccionados para a indústria de compotas e polpas ou de congelação, perdendo-se a competitividade das empresas portuguesas relativamente aos grandes países produtores de áreas mecanizadas.

FRUTOS FRESCOS E SECOS * Comércio Internacional de Portugal – Janeiro a Agosto (1000 euros) Produto Amora Framboesa

2011 Entradas Saídas 78 447 769 14012

Variação Entradas Saídas 42,1 42,2 -55,1 63,1

Comércio Internacional de Portugal – Janeiro a Agosto (toneladas) Produto Amora Framboesa

Figura 10 Primavera e Verão

Figura 11 Amoras

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2010 Entradas Saídas 55 314 1712 8592

2010 Entradas Saídas 12,9 50,6 53,1 1134,3

2011 Entradas Saídas 14,1 56,1 40,9 1286,7

Variação Entradas Saídas 9,6 10,7 -23,0 13,4



ZOOTECNIA

A PECUÁRIA PORTUGUESA EM TEMPO DE CRISE UM DESAFIO

P

ortugal é um importador líquido de alimentos e, pese embora o aumento da produção nacional, esta tem sido incapaz de responder ao ritmo do constante crescimento da procura. A produção pecuária representa cerca de 50% do valor da produção da agricultura portuguesa, no entanto, o défice da balança de pagamentos do sector pecuário rondará os 900 milhões de euros (Quadro I), isto apesar do país apresentar consumos médios per capita de produtos pecuários em geral inferiores à média da União Europeia. O país é marcado pelo envelhecimento da população, por uma concentração demográfica excessiva no Litoral (desertificação galopante do Interior), e agora, no contexto da actual crise, pelo desemprego, em particular dos jovens, muitos dos quais se vêm forçados a emigrar. Em contraste com esta situação, segundo o documento que resultou do estudo que deu origem ao ProDeR (Programa de Desenvolvimento Rural), Portugal possui apenas 2,9% de Jovens Agricultores, sendo a média comunitária de 5,3%. Temos potencial para produzir mais alimentos e sermos mais auto-suficientes. A crise financeira (e não só) em que mergulhámos pode e deve significar uma oportunidade para a necessária mudança de políticas que contrariem o despovoamento do mundo rural, a fuga dos jovens do País. Porque somos um país de sol, um país culturalmente rico, o desenvolvimento da indústria do turismo, que se deseja, encontra na nossa riqueza gastronómica um factor de enriquecimento e esta encontra na agricultura e nos seus produtos, a principal razão e o suporte da sua diversidade. A este respeito importa preservar os nossos patrimónios genéticos, animal e vegetal, e muitos dos sistemas tradicionais de produção – factores de enriquecimento – susceptíveis de conferir uma identidade própria aos nossos produtos, irrepetível noutros espaços – a nossa diferença. Façamo-lo por nós mas também pelo lucro – por uma oferta turística diferenciada, de maior qualidade, mais rentável; pela diminuição das importações; pela exportação de produtos de maior valor.

OS RECURSOS GENÉTICOS Segundo o “Relatório Nacional sobre os Recursos Genéticos Animais em Portugal” publicado pelo INIAP, em 2004, existem no nosso país mais de 35 raças nacionais de espécies pecuárias, a maioria das quais em risco de se extinguir. Défice médio em milhões de euros Carne de bovino 357 Carne de ovino e caprino 27,7 Carne de suíno 200 Carne de aves 61,6 227,1 227,1 TOTAL 873,4 Fonte: Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares (OMAIAA) Quadro 1 - Balança de pagamentos do sector pecuário (2008-9)

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Por: José E. Silveira Matos /Universidade dos Açores

Este património genético significa riqueza, e não só no sentido de um património cultural. Com ele é possível o aproveitamento produtivo, sustentável, de áreas e recursos marginais, que de outra forma seriam deixados ao abandono, dada a sua elevada rusticidade e à possibilidade que estes animais têm de adaptação a diferentes sistemas de produção, a diferentes condicionalismos ambientais – muitas vezes adversos –, aos quais as raças importadas revelam dificuldades em se adaptar. Embora Portugal seja um país pequeno, os sistemas de produção animal diferem substancialmente de região para região, em função da geografia e clima, solos, dimensão e estrutura fundiária, das tradições culturais, do regime de propriedade e da condição social das populações. Esta diversidade constitui um potencial único, irrepetível, que se encontra intimamente associado à qualidade da nossa gastronomia mais tradicional e ao valor de muitos produtos artesanais transformados: salsicharia, queijos, doçaria (produtos DOP, IGP, biológicos, ou de uma produção integrada, com baixos inputs de agroquímicos). Três exemplos ilustram a importância dos genomas e dos sistemas de produção na qualidade dos produtos animais e seu rendimento: 1. Influência do genoma na qualidade do leite quando transformado em queijo; 2. Influência do pastoreio nas propriedades nutritivas e organoléticas do leite e derivados e da carne; 3. Influência da bolota na composição da carne e salsicharia do porco alimentado com bolota, em montado.

1.O EXEMPLO - INFLUÊNCIA DO GENOMA NA QUALIDADE DO LEITE QUANDO TRANSFORMADO EM QUEIJO As caseínas do leite são constituídas basicamente por 3 tipos de proteínas, designadas pelas letras gregas α, β e K. Estas três caseínas formam uma espécie de pequenos novelos, chamados micelas, que se mantêm em suspensão no leite num equilíbrio muito instável. Quando adicionamos coalho ao leite (renina) esta enzima actua sobre a Kcaseína, rompendo este equilíbrio, fazendo


ACIMA (ESQUERDA) Vaca da Raça Marinhoa (Foto tirada pelo autor)

com que as caseínas precipitem, arrastando consigo gordura, água e sais de cálcio e fósforo, formando-se assim a coalhada que, por acção do dessoramento, da salga e da cura, se transforma em queijo. A quantidade de proteína e de gordura no leite influencia muito o fabrico do queijo; não só o rendimento queijeiro, como as qualidades organolépticas do próprio queijo (sabor, textura, cheiro). Não espanta, por isso, que ao longo de séculos os homens tivessem empiricamente melhorado geneticamente os seus animais para produzirem leite mais adequado à produção de queijo. Por esta razão, também não admira que os grandes queijos – os queijos DOP (Denominação de Origem Protegida), com origem em certos “territórios” – estejam associados a determinadas raças (por exemplo, Ovelha Serra da Estrela e o queijo daquela Região; ou a Ovelha Saloia e o queijo de Azeitão). Também é amplamente reconhecido que vacas de certas raças (como a Jersey, a Normanda, a Parda Suíça, a Simentaler) produzem leites – ricos em proteína e gordura – mais adequados ao fabrico de queijos. Pelo contrário, tem-se vindo a constatar que a introdução de raças melhoradas para a produção de maiores quantidades de leite resulta num empobrecimento do rendimento queijeiro e das qualidades organoléticas do queijo. A razão para estas diferenças reside obviamente nos genes. Sendo a K-caseína tão importante no processo de coagulação, temse concluído, através de diversos estudos, que a sua governação genética está intimamente ligada à composição do leite e à sua maior ou menor aptidão queijeira. Sabe-se hoje que dois genes – designados por A e B – são os maiores responsáveis por estas diferenças. Uma vez que estes genes se associam

entre si aos pares, os genótipos dos animais resultantes da sua combinação podem ser: AA; AB; BB. Vários estudos realizados em várias partes do mundo têm estudado a frequência destes genótipos nas diversas raças de bovinos, ovinos e caprinos e leiteiros. Por exemplo, nas raças bovinas, tradicionalmente utilizadas para produzir leite rico em sólidos, com maior aptidão queijeira, a frequência do Genótipo BB é maior do que nas raças de elevada produção (por exemplo, na Raça Holstein, a frequência deste genótipo não excede geralmente 4 %, enquanto que nas raças Jersey e Normanda esta ultrapassa os 40 %). Com a colaboração de outros cientistas e técnicos da Universidade dos Açores, integrados no Centro de Biotecnologia dos Açores e na Granja Universitária, e do Professor Pedro Louro Martins e a sua equipa, do INIA-ISA, iniciámos, no ano transacto, um estudo que teve por principal objectivo determinar a influência dos polimorfismos da caseína K sobre a composição – gordura e proteína – e propriedades tecnológicas na produção de queijo feito com o leite dos 3 genótipos dos animais cruzados HolsteinxJersey explorados em condições de pastoreio.

Genótipos K-caseína AA AB BB

Gordura leite (g/100g)

Proteína leite (g/100g)

0K20 (s) A2R (V) (Tempo de (Firmeza coagulação) da coalhada)

3,88±0,15 c 3,74±0,13 c 276± 20a 3,98±0,26 b 3,89±0,08 b 269±13 a 4,86±0,07 a 4,12±0,07 a 245±11 b

18,58±1,70b 19,27±1,00b 22,45±0,90a

Rendimento queijeiro (kg de queijo/ 10 kg leite) 1,088 1,250 1,370

Nota: Em cada coluna, letras diferentes indicam diferenças significativas (P<0,05). Os valores indicam a média de três ensaios independentes. (Adaptado do poster: “Effects of K-casein genotypes on yield and the quality of cheese produced from milk of F1 JerseyxHolstein cows grazing permanent pasture in the Azores – preliminary results”. Autores: Baron, E, Silveira, M. G. , Martins, A. P. L., Machado, A. e Matos, J. E., apresentado no Seminário Internacional do World Cheese Awards 2009, que se celebrou na Gran Canaria, em Outubro de 2009).

Quadro 2 - Influência do genótipo da K-caseína na composição do leite, propriedades da coagulação e rendimento queijeiro

O genótipo BB revelou neste estudo (ver Quadro II) um efeito significativo na composição do leite, proteína e gordura, muito valorizados por serem os componentes do leite mais importantes na produção de queijo. As percentagens de gordura e proteína foram significativamente maiores para o genótipo BB e significativamente menores para o genótipo AA. Estas diferenças corresponderam também a um maior rendimento queijeiro para o genótipo BB e menor para o genótipo AA. O genótipo BB esteve ainda associado a uma maior velocidade de agregação micelar, menor tempo de coagulação e a uma maior consistência da coalhada. Em conclusão, o leite do genótipo BB revelou ter uma maior aptidão para o fabrico de queijo, influenciando para além do rendimento e dos parâmetros de coagulação, a própria textura final do queijo, sendo esta mais desejável no queijo fabricado a partir do leite das vacas com o genótipo BB – textura mole, mais elástica – do que no queijo fabricado com o leite das vacas do genótipo AA – com uma textura mais dura, menos elástica, tipo borracha.

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Estes resultados, que corroboram outros obtidos (nomeadamente na Irlanda), comprovam que existem vantagens – maior rendimento e melhor qualidade da textura do queijo – em seleccionar os animais produtores de leite cujo destino seja o fabrico de queijo, no sentido de aumentar a frequência do genótipo mais desejável da K-caseína – o Genótipo BB.

2.O EXEMPLO – INFLUÊNCIA DAS PASTAGENS NAS PROPRIEDADES NUTRITIVAS DO LEITE E ORGANOLÉPTICAS DO QUEIJO Em média, a maioria dos AGs do leite são saturados (66 %), 30 % monoinsaturados e 4 % polinsaturados. Esta composição em AGs varia com diversos factores, (nomeadamente os genéticos) mas os de maior importância estão relacionados com a alimentação dos animais (Daley et al. 2010). É conhecido que a alimentação dos ruminantes influencia a composição lipídica da sua carne, do leite e dos lacticínios dele derivados (Akers, 2002). Esta influência é particularmente positiva quando os animais são alimentados com erva, o que determina que a sua carne e o seu leite sejam mais ricos na componente mais desejável de ácidos gordos insaturados, os ácidos linoleicos conjugados (CLAs) e uma razão óptima de ácidos gordos ómega 3/ómega 6. A composição em ácidos gordos da gordura do leite tem um grande efeito na sua qualidade, incluindo nas suas propriedades organolépticas e nutricionais, mas também nos aspectos tecnológicos enquanto matéria-prima no fabrico dos diversos lacticínios (ponto de fusão e consistência da manteiga, textura, ponto de fusão e plasticidade do queijo). As preocupações do consumidor têm evoluído e, para além dos critérios económicos e organoléticos, ganha cada vez maior relevo a relação entre os alimentos e a saúde, afinal a razão de ser dos probióticos, prébióticos e nutracêuticos, hoje tão em voga. Os ácidos linoleicos (CLAs), presentes sobretudo nos alimentos com origem nos ruminantes, possuem um efeito preventivo do cancro e da aterosclerose, são estimuladores da imunidade e promotores do crescimento, promovendo a alteração da composição corporal, no sentido de um decréscimo na gordura corporal e um aumento da massa muscular (Kent, 2007). Tem sido também atribuída à relação entre os ácidos polinsaturados da família ómega 3 e 6 uma grande importância quando relacionada com aspectos da saúde humana, referindose que o quociente ideal na dieta humana entre os ácidos gordos ómega 3 e 6 seria de 1:4. A carne, o leite e os lacticínios dos ruminantes explorados em sistemas de pastoreio extensivo possuem um quociente inferior a este, podendo contribuir para um melhor equilíbrio da dieta humana (Daley et al. 2010). Esta seria, pelo menos uma das razões apontadas para o facto dos franceses – que são, como se sabe, grandes consumidores de queijo, para além do consumo associado de vinho – terem taxas de acidentes cardiovasculares (ACV) inferiores a outros povos com menor consumo de gordura animal, ao contrário do que seria de esperar, o que ficou conhecido como sendo o “Paradoxo Francês”. Ao inverso, temos o chamado “Paradoxo Israelita” em que, apesar de os israelitas fazerem habitualmente uma dieta mediterrânica, a taxa de ACVs ser entre eles elevada, facto que se relacionaria com uma elevada relação ómega 3:6, ao contrário do que acontecerá com os franceses e também com outros povos em torno dos Alpes (Paradoxo Alpino) (Yam et al., 1996; Hauswirth et al., 2004). Um estudo publicado por uma equipa do INRA francês (Bugaud, 2002) chegou ainda à conclusão que as diferenças organoléticas, e de textura, que se verificam em queijos DOP, feitos numa mesma zona protegida, se devem sobretudo à variedade das forragens consumidas pelas vacas. Assim, também por esta razão, será igualmente importante cuidar da preservação da diversidade dos pastos naturais, responsáveis também pelas características próprias do “terroir” dos nossos queijos tradicionais.

3.O EXEMPLO – INFLUÊNCIA DA BOLOTA NA COMPOSIÇÃO DA CARNE E SALSICHARIA DO PORCO ALIMENTADO COM BOLOTA A exploração dos porcos das raças Alentejana, em Portugal – quase desaparecida nos anos 50 e 60 devido à peste suína africana – e Ibérica, em Espanha, são hoje casos de sucesso, únicos na Europa, de exploração de porcos em regime extensivo, num sistema agro-

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silvo-pastoril perfeitamente integrado, onde a montanheira (engorda dos animais nos montados de azinho e sobro) constitui elemento preponderante. Os presuntos, os enchidos e também a carne destes animais, são produtos merecidamente reconhecidos e muito valorizados, com elevada procura no mercado, constituindo um nicho da economia pecuária que tem vindo a ganhar cada vez maior importância. Este sucesso deve-se, no caso português, a uma melhor organização da fileira, com profundas alterações a partir dos anos 90, com a organização dos produtores em associações, com a certificação e protecção da carne e dos produtos transformados, através da certificação de Denominação de Origem Protegida (DOP) e de Indicação Geográfica (IGP, novas e modernas unidades industriais de transformação). Graças a tudo isto, foi possível salvar da extinção uma raça nacional, hoje em expansão, optimizando-se a utilização do montado, num sistema agrosilvo pastoril único, ambientalmente sustentável, que facilmente poderá ser classificado de biológico, orgânico ou ecológico. Para além disso, através do porco da raça Alentejana, ou da raça Ibérica, a bolota é transformada em alimentos para humanos mais ricos em ácidos gordos insaturados essenciais (gordura boa) em que a razão entre os ácidos gordos polinsaturados (PUFA), n6/n-3, é também mais baixa, por isso mais saudável (Quintas et al., 2005).

A PECUÁRIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO Há muitos anos, numa reunião científica, ouvi referir uma tese de doutoramento – da qual não consegui encontrar agora a referência – cujo objecto de estudo era a correlação histórica, na bacia mediterrânica, entre a decadência dos rebanhos de caprinos e a incidência de fogos na mesma bacia. A tese estabelecia uma correlação negativa entre áreas ardidas e decréscimo do número destes animais. Faz sentido. De acordo com as publicações do Instituto Nacional de Estatística, o efectivo caprino nacional terá passado de mais de 1 milhão de animais na década de 70, para cerca de 500 mil em 2009, o que representa um decréscimo de mais de 50 % em 40 anos. Este fenómeno terá acontecido, e continua acontecendo em toda a Europa, facto que fez com que o Parlamento Europeu


PORQUE AS MANTEIGAS NÃO SÃO TODAS IGUAIS? Quando se compara a manteiga dos Açores com a manteiga produzida em Portugal Continental saltam à vista duas características bem evidentes: A cor (mais amarela na manteiga açoriana); A textura e untuosidade (mais fácil de barrar na manteiga açoriana). Estas diferenças não resultam de diferentes formas de fabrico nem de corantes ou aditivos. A diferença está na dieta das vacas. Quando as vacas são alimentadas predominantemente à base de pastos (como sucede nos Açores), e como a erva fresca é rica em ácidos gordos polinsaturados e em fibra (o que tem inf luência no pH do rúmen e na f lora microbiana) o resultado é que o leite produzido vai ter também um teor de gorduras polinsaturadas mais elevado, ou seja, gorduras mais moles, entre as quais ácidos linoleicos conjugados (CLAs), resultando em manteigas mais fáceis de barrar e, teoricamente, saudáveis.

ACIMA À esquerda, manteiga dos Açores, à direita, manteiga continental

Por outro lado, a erva verde é rica em β-caroteno (que é um pigmento natural e é o percursor da vitamina A). Este pigmento carotenóide, bem como as xantofilas (como a luteína), não são totalmente decompostos na digestão, circulando no sangue e acumulando-se na gordura do leite. Por esta razão, a manteiga produzida (além de ser mais rica nestes importantes compostos) tem uma atractiva cor amarelada, que é sinal de qualidade, e por isso algumas indústrias adicionam corantes para a imitar, o que, por regra, não sucede nas manteigas produzidas em Portugal.

aprovasse um relatório onde se apela à tomada de medidas urgentes propondo novos tipos de apoio aos produtores: um prémio por cabeça, para manter ovinos e caprinos em áreas ecologicamente sensíveis; ajudas para a introdução do sistema de identificação electrónica; um logótipo europeu para promover o consumo. Na Califórnia, passaram-se a usar cabras para ajudar os bombeiros na limpeza das florestas. O governo português também se comprometeu recentemente a financiar um projecto ibérico (50 % português e 50 % espanhol) de combate a incêndios, que envolve a compra de 150 mil cabras para instalar na região transfronteiriça Duero-Douro. Estes exemplos, tal como o porco alentejano e o montado, exemplificam a necessidade de considerar a pecuária como um elemento essencial na gestão sustentável dos recursos do território. Um grupo de especialistas do sector florestal publicou recentemente no Jornal Público (16 de Setembro de 2011) um “Manifesto pela Floresta Portuguesa” apelando “à resolução das causas profundas estruturais que estão na base da degradação da floresta portuguesa”. Concordando com o diagnóstico feito e com as soluções avançadas, sugeríamos que, mutatis mutandis, as mesmas se apliquem a toda a agricultura, nomeadamente a necessidade de uma reestruturação fundiária e uma reforma fiscal “que estimule a gestão activa e profissional do recurso terra” estimulandose o bom uso da mesma. Mais diríamos que à semelhança de outros países se deveriam urgentemente publicar cartas de uso dos solos, definindo-se a melhor utilização a dar a cada uma das parcelas, de acordo com o

BIBLIOGRAFIA >

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seu potencial produtivo, bem como realizar uma urgente modernização e actualização dos registos cadastrais dos prédios rurais, recorrendo a Sistemas de Identificação Geográfica (GIS). Defendemos ainda que os recursos pecuários nacionais deveriam fazer parte de soluções integradoras de sistemas agro-silvo-pastoris modernos, com uma visão integradora, complementar e sustentável do uso dos recursos da terra. De repente, a agricultura portuguesa ficou na moda, talvez graças “à crise”! O mais alto magistrado da Nação, o Senhor Presidente da República, dedicou-lhe a sua atenção. Os meios de comunicação social também lhe passaram a dedicar mais do seu tempo e do seu espaço. Ainda bem. Descobrimos a nossa vulnerabilidade relativamente à auto-“in”suficiência alimentar, mas, também, descobrimos que temos casos de sucesso: a pêra rocha, o olival, o vinho, o “porco preto”, o sector hortícola, etc.. Casos estes que nos levam a meditar sobre as razões destes sucessos e da possibilidade de usar os seus exemplos noutras fileiras do sector. Também redescobrimos a riqueza da nossa gastronomia tradicional – na verdade, única no mundo – e multiplicam-se os programas televisivos sobre culinária portuguesa. Até descobrimos que temos muito mais do que as “7 Maravilhas da Gastronomia”! Também já nos apercebemos de que o turismo poderá ser uma das nossas possíveis saídas para esta crise. Certamente que sim, mas juntando, de mãos dadas, estes três sectores, na defesa e, já agora, na venda, do que mais genuíno e melhor temos, o sucesso poderá ser retumbante! Saibamos também mobilizar e incentivar os mais jovens para estes objectivos. ■

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ZOOTECNIA

JERSEY, UMA VACA LEITEIRA ESPECIAL Tendo como solar a ilha de Jersey, no Canal da Mancha, os animais da raça Jersey popularizaram-se internacionalmente no final do século XIX pela sua docilidade e especialmente pelas características do seu leite. De pequeno porte (sempre menos de 500 kg), rústicos, ainda habilitados ao pastoreio, produzem naturalmente – e de forma independente da sua dieta – leite com teores de gordura e de proteína mais elevados do que a maioria das raças leiteiras. Se é certo que produzem menos leite, a literatura é diversa e alguma considera-os mais eficientes na conversão de alimento, havendo mesmo assim animais que ultrapassam já as 10 toneladas/ano. Na verdade, sendo uma raça que se popularizou muito nos Estados Unidos da América, surgiu nesse país uma linhagem distinta da europeia, em que os animais são mais corpulentos e produtivos, vantagem que, no entanto, compromete a referida qualidade do leite. Mas não é apenas uma questão de teor de proteína e de gordura que distingue estes animais. A diferença está também ao nível da qualidade das proteínas (especialmente as caseínas βda caseína k, como no caso do leite de ovelha), com influência no rendimento queijeiro e do tipo de glóbulos de gordura com influência na qualidade do queijo, manteiga, leite natural e iogurtes. Assim, os produtos elaborados com leites destes animais são, geralmente, de qualidade superior em vários níveis, e por isso estes são animais de eleição dos produtores de leite e derivados em Modo de Produção Biológico. Em Portugal encontram-se animais desta raça em algumas manadas onde cumprem apenas uma missão

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de melhoramento do leite do tanque total. Porém, e dado o seu potencial, não são animais que estejam a ser aproveitados na sua plenitude. A Nova Zelândia tem a maior população de vacas Jersey do mundo – cerca de 600 mil vacas leiteiras Jersey num rebanho nacional de 4,4 milhões de vacas em lactação (13,6%). Mas destas, 1,6 milhões são vacas cruzadas FriesianxJersey (36 % do rebanho). Estudos de campo feitos neste país – onde o leite é produzido fazendo uso exclusivo da erva, em pastoreio directo – demonstram, que as Holstein são "superiores" para a produção de grandes volumes de leite, mas as Jersey e as cruzadas de JerseyxHolstein são superiores, quando se trata de produzir sólidos, especialmente gordura e proteína, sendo por isso mais lucrativas naquelas condições de produção. ■



ZOOTECNIA

O TOIRO DE LIDE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O

Toiro de Lide é cultura genética. É um animal criado pelo homem, destinado exclusivamente ao espectáculo tauromáquico. Aquilo que o distingue, no universo da raça bovina, é uma mistura de atributos físicos e temperamentais. Ao toiro de lide exige-se a bravura, resultado da combinação equilibrada entre a casta e a nobreza. Sem uma das duas, o resultado só pode ser a mansidão, o que dificulta sobremaneira a lide. O trapio é o que impressiona, é o que nos salta à vista. Diz-se que um toiro tem trapio quando reúne as qualidades morfológicas e as condições físicas de um verdadeiro atleta. Os principais rasgos morfológicos para determinar o trapio de um toiro são o tamanho e o peso, a estatura, a conformação do tronco, extremidades, cabeça, cachaço e os cornos. É um animal que busca a segurança e refúgio numa manada. Depois do nascimento e antes de ser desmamado, o bezerro viverá cerca de nove meses alimentado e protegido pela mãe. Dado que a sua madureza sexual se produz aos dezasseis meses aproximadamente, pouco depois de um ano separam-se os machos e as fêmeas, que a partir desse momento viverão em cercas distintas. As diferentes idades do toiro de lide têm nomes específicos: añojos (1 ano), erales (2 anos), utreros (3 anos), cuatreños (4 anos) e cinqueños (5 anos). Numa manada estabelece-se uma rigorosa hierarquia. Chama-se mandõn ao toiro dominante e que se impõe. Com certa frequência é desafiado por outro membro do grupo para arrebatar-lhe a liderança. Ao toiro derrotado denomina-se abochornado e é atacado e perseguido pelo resto da manada, ficando

ACIMA (ESQUERDA) Impressionante o trapio deste toiro Palha

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Por: Bernardo da Costa (Mesquitella) Foto: francisco romeiras “in palha “

afastado da mesma, tornando-se violento e perigoso. O custo da criação de um toiro de lide é bem mais alto que do gado de corte e o preço do destino final (corrida de toiros) depende da qualidade e do prestígio da ganadaria. Existem actualmente, no nosso país, cerca de 110 ganadarias, que empregam cerca de 350 pessoas, entre maiorais, campinos e outros trabalhadores. O toiro de lide é, a par do cavalo lusitano, que muito se desenvolveu graças ao primeiro, das poucas indústrias pecuárias que Portugal exporta para o mundo taurino. É o elemento principal de uma corrida, verdadeiramente excepcional em todo o reino animal, e tão admirado hoje como sempre o foram os seus antepassados. Hoje apenas existe para a lide e sem as corridas de toiros deixaria de existir. A proibição das corridas de toiros, defendida por algumas associações menos esclarecidas, implicaria por isso, para além do fim de um património artístico e cultural de valor inestimável, a extinção de uma espécie e a consequente perda de todo um ecossistema que, hoje só existe e se mantém graças ao toiro de lide. ■


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AVICULTURA

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onhecida como Galinha de Angola, Galinha da Índia, Galinha do Mato, Pintada ou simplesmente Fraca (pelo permanente piar que lembra esta palavra), a Numida meleagris é uma das mais interessantes e rentáveis aves de capoeira. Apesar de no estado selvagem habitar zonas tropicais e inter-tropicais, adaptou-se de forma excelente aos climas temperados doces da Europa e mesmo a zonas extremamente áridas da África Oriental, de tal modo que já os romanos as estimavam enormemente há mais de 2000 anos. Apesar de muito comum no passado, actualmente esta ave tem sido esquecida, quer pela excessiva industrialização em torno das galinhas comuns quer pelo preço ligeiramente mais elevado (o que em tempo de crise tem impacto) e, finalmente, pela ignorância dos consumidores das grandes cidades que estranham esta ave quando a encontram nas prateleiras dos supermercados. Porém, estamos perante uma ave gourmet que, em capoeira, sai a um custo inferior ao da vulgar galinha. São aves apreciadíssimas no estrangeiro, nomeadamente em França, onde os melhores restaurantes as têm sempre nos seus menus. Porém, as aves criadas industrialmente não são tão saborosas como as criadas ao ar livre, o que se faz de forma muito mais fácil do que a criação do vulgar frango do campo. Na verdade, estas aves que têm sensivelmente o mesmo porte de galinhas de carne, são muito mais rústicas, quer pela resistência às intempéries e doenças quer pelo facto de andarem sempre em bandos unidos, pelo que se podem abandonar em matas sem vedação pois não deambulam de forma tresmalhada. Além disso, os seus instintos semi-selvagens fazem com que dificilmente sejam apanhadas por predadores oportunistas, refugian-

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Por: Bernardo Madeira / Fotos: Bernardo Madeira e Marta Jardim

GALINHAS DE ANGOLA RUSTICIDADE, FACILIDADE DE CRIAÇÃO E CARNE DE EXCELÊNCIA

do-se nos pavilhões quando se sentem ameaçadas. Além disto são aves extremamente ruidosas, o que embora possa ser um problema de vizinhança é também um alerta para algo que esteja errado. Embora possam ser criadas em total confinamento, estão especialmente adaptadas à criação em pavilhões abertos, e pelo facto de serem aves que percorrem distâncias muito superiores aos vulgares frangos do campo, como não se restringem às zonas limítrofes em torno do pavilhão, pode sair mais económica a sua criação, se houver disponibilidade de área com vegetação. É também neste modo de criação que a carne desta ave, naturalmente escura, atinge a sua melhor qualidade, comparada neste parâmetro à do faisão, e realmente ultrapassa pela sua finura, sabor, untuosidade e tenrura o melhor peru, pato ou frango. A galinha de Angola apresenta uma quilha recta, o que faz com que naturalmente os seus músculos peitorais sejam muito desenvolvidos e por isso se obtenha grande rendimento desta peça nobre. Tal como no caso das galinhas comuns, há diversas estirpes melhoradas que permitem acelerados ganhos de peso, bem como posturas de ovo muito elevadas e sem propensão para chocar. Embora menores do que os ovos de galinha, são mais nutritivos e apresentam clara mais consistente. Em Portugal, quem quiser adquirir pintos para recria pode encomendá-los aos melhores aviários fornecedores de pintos, porém, tratam-se ainda – cremos nós – sempre de aves importadas, pois não há criadores de matrizes. São animais muito nervosos e assustadiços, pelo que devem ser criados em ambientes calmos, porém habituam-se facilmente aos tratadores. Dado o seu temperamento inquieto, devem evitar-se as redes que possam magoar estas aves no caso de entrarem em pânico e, como são boas voadoras,

devem as pontas das suas pontas ser amputadas, operação que já está realizada nos pintos adquiridos em aviário. Apesar de haver várias cores de plumagem, a mais normal é a galinha pintada de branco sobre fundo cinza. A distinção entre sexos é difícil. Fazse primeiro pelo comportamento, pela voz e pelas belfas que no macho são azuladas e um pouco maiores enquanto que na fêmea são vermelhas. Embora rústicas, não são imunes às doenças comuns das aves de capoeira, pelo que se devem implementar programas de vacinação e prevenção, nomeadamente para a Bouba, Coriza, Newcastle e Coccidiose. Por todas as razões, esta ave deve passar a merecer a maior atenção quer de criadores industriais ou caseiros, da restauração e principalmente dos consumidores. ■

Adopção da soja surgiu mais cedo do que se julga: Pensava-se que a domesticação humana da soja tenha ocorrido pela primeira vez no centro da China há qualquer coisa como 3 mil anos atrás, mas os arqueólogos sugerem agora que civilizações de outras eras ainda mais precoces e noutros locais do planta já haviam adoptado o legume. (Science Daily)


AGROTEC / JULHO 2011

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CUIDADOS VETERINÁRIOS

CUIDAR DOS MAIS PEQUENOS GEORGE STILWELL

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e é certo que de pequenino se torce o pepino, também não é menos verdade que só de uma boa vitela(o) se faz uma boa vaca ou novilho. O esquecimento disto traz dois grandes conjuntos de inconvenientes: ameaça o bem-estar do animal e causa enormes prejuízos económicos ao produtor. Voltando à frase inicial eu acrescentava que “só uma feliz vitela(o) faz um produtor feliz”. Neste curto texto vamos ver porquê e apontar algumas formas de prevenir/corrigir a situação.Infelizmente, os prejuízos de que falávamos e que decorrem da deficiente recria estão, na sua maior parte, mascarados.

Trocando isto por miúdos: os adolescentes farão mais vezes pneumonias, as novilhas demorarão mais tempo a ficar cheias, as vacas darão menos leite e a vida útil para a exploração acabará muito mais cedo do que seria desejável. Os novilhos de engorda precisarão de mais tempo e mais alimento para atingirem o tamanho ideal para abate. Ou seja, vitelas mal criadas (e não quero dizer que não sejam educadas) nunca serão as vacas espectaculares e produtivas que esperávamos. O outro grande inconveniente – o efeito sobre o bem-estar animal – é uma lógica consequência do que acabámos de apresentar. Se

tentam oferecer a melhor “cama, comida e roupa lavada” aos seus vitelos. Parece ser bastante oferecer boa alimentação e protecção das agressões ambientais através das camas, edifícios, ventilação etc… Muitas vezes, mesmo os muito bemintencionados produtores, pensam tratar-se de um exagero as medidas que se destinam a permitir a expressão do comportamento natural dos vitelos. Falar em socialização, movimentação ou mesmo brincadeiras entre vitelos parece ser um exagero. Mais uma vez, a Ciência vem provar que não. Por exemplo, a presença de úlceras e gastroenterites são mais frequentes em animais que viviam iso-

Os novilhos de engorda precisarão de mais tempo e mais alimento para atingirem o tamanho ideal para abate É verdade que em situações extremas existe a morte do animal e esse prejuízo é sentido até pelos mais distraídos, se bem que muitas vezes sub-valorizado pois julga-se ter perdido apenas o valor que o animal daria se fosse vendido na altura, sendo o potencial para a exploração muitas vezes descurado. Dizemos infelizmente, porque percebendo melhor o que se perde, seria mais provável a adopção de medidas preventivas. O prejuízo maior vem do facto de estarmos a criar um animal que possui uma bagagem genética para atingir um determinado rendimento e, por nossa incúria, não consegue cumprir sequer uma pequena parte. Inúmeros estudos mostram que percalços na vida dos jovens bovinos reflectem-se na taxa de crescimento, na idade à primeira inseminação e ao primeiro parto, na resistência a doenças, na produção de leite, no peso ao abate e na precocidade do refugo.

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um animal não consegue fazer aquilo que os seus genes permitem é porque as condições de vida não são as ideais. Quando na recria nos esquecemos de proporcionar algum elemento essencial ao correcto e saudável crescimento das vitelas, abrimos caminho para uma série de agentes patogénicos que das duas uma – ou obrigam o animal a um constante combate ou superam as suas resistências e matam-no. Sabemos que um sistema imunitário constante e fortemente activado consome 25% da energia disponibilizada pela alimentação. Ou seja, sobram poucos recursos para o crescimento! O atraso no crescimento, as doenças (por vezes sub-clínicas, ou seja, sem sinais evidentes) e a debilitação são causas de desconforto, stress e dor. E tudo isso prejudica ainda mais a sua performance. O animal não só não rende como ainda está em sofrimento.Na tentativa de prevenir estes efeitos, muitos produtores

lados e não brincavam quando comparados com os que tinham acesso a parques exteriores comuns. Outros estudos indicam que vitelas criadas em grupos (5-7 animais) apresentavam melhores índices de crescimento e menos patologias, mesmo até à idade do primeiro parto. Há ainda um terceiro inconveniente para uma recria mal feita em que as doenças e mortes são frequentes – a imagem da produção perante os consumidores. Este é um pormenor que muitas vezes é desprezado, mas que cada vez se torna mais importante. A opinião pública não só influencia o consumo dos produtos de origem alimentar como a própria legislação. Como em qualquer empresa, a produção animal tem de transmitir uma boa imagem – de qualidade, competência, rigor, segurança e, porque não, de compaixão. Num espaço como este é impossível apresentar todas as regras de bom maneio


na recria. Apresentamos aqui apenas as mais importantes e numa outra ocasião iremos continuar com o mesmo tema. A primeira e crucial medida, sem a qual todas as outras colapsarão como um castelo de cartas no meio da tempestade Irene, é o maneio do colostro. Os bovinos recém-nascidos são imunitariamente indefesos contra os microorganismos do seu ambiente até ao momento em que ingerem o colostro. O colostro é rico em imunoglobulinas e outros factores de resistência que serão absorvidas pelo intestino do vitelo ou actuarão a nível do lúmen intestinal. Os produtores que pretendem crias saudáveis que darão pouco trabalho e quase nenhuma despesa extra, têm de se convencer que as regras de administração de colostro são fundamentais. E tão fáceis. De seguida listamos as 6 regras de ouro: 1.ª Vaca e úbere saudável – apenas um colostro de qualidade poderá garantir uma transferência adequada de anticorpos efectivos. A dadora do colostro (obrigatoriamente um animal recém-parido, mas não obrigatoriamente a mãe do vitelo) e o seu úbere devem estar saudáveis. A ideia que o colostro de novilhas é menos bom do que o de vacas não parece ter suporte científico. O que será desejável será usar colostro de animais que já estão na exploração há, pelo menos, vários meses. 2.ª Níveis de anticorpos – a quantidade de imunoglobulinas considerada suficiente para conseguir uma boa protecção do vitelo é de 50g/L de colostro. Isto destina-se a que, seguidas todas as outras regras, se consiga, no vitelo, níveis sanguíneos de anticorpos superiores a 10 mg/mL. A vacinação das dadoras de colostro pouco tempo antes do parto contra os agentes causadores de doença nos vitelos, é uma excelente forma de aumentar a qualidade do colostro. Também o tempo entre o parto e a colheita

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6.ª

do colostro influencia os níveis de anticorpos – menos 17, 27 e 33% se primeira ordenha se atrasar 6, 10 ou 14 horas, respectivamente. Uma forma indirecta e muito fácil de avaliar a qualidade do colostro é através do colostrometro que mede a densidade do líquido. Colostro sempre disponível – como as regras anteriores nem sempre são possíveis de atingir, aconselha-se ter sempre colostro de qualidade congelado. O colostro congelado mantém as suas propriedades por longos períodos. A descongelação deve ser feita com cuidado para evitar a desnaturação excessiva das proteínas (banho-maria ou micro-ondas na forma de descongelação). Usar leite de vacas paridas “há pouco tempo” ou substitutos comerciais não substitui um bom colostro. Oferta a tempo – a capacidade de absorção das imunoglobulinas esgota-se rapidamente após o nascimento. No vitelo, a absorção é cerca de 50% às 6 horas de vida, 33% às 8 horas e praticamente nula por volta das 24 horas de idade. Achar que dar colostro “no dia seguinte” porque o parto ocorreu tarde ou não se tem paciência para ordenhar a vaca naquele momento é um erro comum e desastroso. Quem o faz não se pode admirar de ter muitos vitelos doentes. Quantidade suficiente – este valor depende obviamente da qualidade do colostro já que não é o volume de líquido que interessa, mas a quantidade de anticorpos. Está estabelecido que quantidade inferiores a 3 litros para um vitelo recém-nascido é provavelmente pouco. A oferta de 4 litros é possível mas geralmente o vitelo fica prostrado e inactivo durante umas horas. A via – Deixar o vitelo mamar na vaca tem alguns inconvenientes sanitários e torna difícil perceber a quantidade ingerida. Para além disso, o úbere de muitas

vacas não permite o fácil acesso aos vitelos. Por esta razão, é sempre preferível oferecer o colostro à mão. As três vias possíveis são: num balde, biberão ou entubação. A última é a única em que se pode garantir a ingestão de grandes quantidades de colostro (os tais 4 litros) mas deve ser feita com material adequado, com cuidado e por pessoas treinadas. O uso de balde é o mais comum mas está provado que se for feito através de uma tetina, a absorção é muito mais efectiva do que se for bebido directamente do recipiente. O biberão é uma alternativa boa e relativamente fácil de executar. As falhas em pelo menos uma destas regras é bastante comum em muitas vacarias. Num estudo que efectuámos (Stilwell e colegas, "Can Vet Journal, 2011), confirmámos que 37% dos vitelos não apresentavam níveis protectores. Neste grupo de animais os níveis de doença e de mortalidade eram significativamente maiores. Numa próxima oportunidade falaremos sobre outras regras básicas para conseguir obter o melhor efectivo de substituição ou os melhores animais de engorda. As finanças da exploração e os próprios animais agradecem que estas medidas sejam instituídas.

NOTA Não queria deixar de fazer um alerta para certas situações que acontecem hoje em dia e que podem parecer que fogem às condições que apresentamos. Estamos a falar dos machos em vacarias de leite que muitos julgam não compensar investimentos em tempo e dinheiro. Nada mais errado. Mesmo retirando da equação a tal má imagem pública que se transmite e a obrigação ética de cuidar dos nossos animais, está perfeitamente estabelecido que manter animais imunodeprimidos e constantemente doentes na recria aumenta exponencialmente a probabilidade dos companheiros também adoecerem. Ou seja, nunca será possível ter fêmeas saudáveis e a crescer enquanto se desprezam e se deixam adoecer os machos. Como vimos, a prevenção é tão fácil e barata que não parece difícil cuidar de todos igualmente. Mas se acontecer é preferível matar esses animais. Para bem deles.

GEORGE STILWELL stilwell@fmv.utl.pt Médico-Veterinário, Diplom. ECBHM

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PRADOS, PASTAGENS E FORRAGENS

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oda a gente fala da crise: da financeira, porque o dinheiro escasseia e o seu preço sobe, enquanto Portugal se vê em sérias dificuldades para reequilibrar os balanços entre gastos e receitas públicas; da energética, porque o petróleo é um recurso finito cujo fim se anuncia para dentro de 3-4 décadas, o que faz com que os preços do barril subam e se tentem encontrar novas fontes de energias alternativas. Embora Portugal tenha vindo sucessivamente a alcançar notáveis progressos na produção de energias renováveis (hídrica, eólica e luz solar), permanece a grande dependência das energias fósseis importadas, com reflexos negativos na balança de comércio externo e sobretudo nos custos dos factores de produção. Por isso, é bom pensar quais os rumos que deve tomar a agricultura nacional para tentar sobreviver à crise. Para mim, um dos aspectos fundamentais tem de ser o de aumentar a produção de maneira sustentável, para o que é imprescindível respeitar a vocação ecológica de cada região, ou mesmo de cada exploração, aumentando a capacidade de produzir a baixo custo, ou seja utilizando tecnologias conducentes a um máximo aproveitamento dos factores naturais de produção e reduzindo ao mínimo aqueles que envolvem elevados custos energéticos. Porém, será conveniente começar por analisar as mudanças que a nossa produção agropecuária sofreu ao longo das últimas décadas e que são responsáveis por a maioria dos sectores se encontrar hoje em situação económica pouco confortável. No fundo, tais mudanças começaram logo após o termo da II Guerra Mundial, com a introdução de novas tecnologias (extensiva mecanização das operações culturais e de processamento de produtos, uso abundante e generalizado de fertilizantes e pesticidas, etc.), todas elas requerendo elevados consumos de energia não renovável, acompanhadas de tendências para o abandono de boas práticas agronómicas, tais como as rotações de culturas, a valorização dos estrumes, etc. Produziram-se cereais fortemente subsidiados em condições de solo e formas de o trabalhar manifestamente impróprias, de que resultaram baixas produções, ao mesmo tempo que se degradou o capital solo e a biodiversidade antes presente. Por outro

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Por: David G. Crespo / Sócio n.o 1 da SPPF (Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens)

EM TEMPOS DE CRISE QUAL O PAPEL DAS PASTAGENS E FORRAGENS NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA* lado, os animais domésticos herbívoros, em particular os ruminantes, antes alimentados exclusivamente à base de erva, passam a competir com o homem pelos cereais e grãos oleo-proteaginosos, ainda que tal represente um enorme desperdício energético, dado que o homem é três vezes mais eficiente na sua utilização metabólica que os ruminantes. Chegámos ao extremo de alguns produtores pecuários, em particular os de leite, considerarem a erva mais como fornecedora de fibra para encher a pança dos animais e facilitar a utilização dos alimentos compostos, do que propriamente como fonte natural de nutrientes para as suas vacas. Mas também os produtores de carne passaram a considerar que para recriar e engordar os seus animais, era indispensável recorrer a alimentos concentrados, contrariando assim as leis da natureza. Sobretudo, esquecemos que a produção de alimentos compostos envolve elevados gastos de energia fóssil e que os ruminantes são fracos conversores de alimentos de elevada concentração energética, tendo porém uma especial aptidão para ingerir erva e obter dela todos os nutrientes que necessitam. Esquecemos também que uma unidade forrageira

(UF) obtida em erva pastada custa apenas 15 a 20 % da mesma UF obtida a partir de alimento concentrado, e que a carne ou leite obtidos a partir da erva são de qualidade muito superior aos obtidos em sistemas com elevado consumo de concentrados, já que os provenientes da erva são ricos em Vitamina E, em CLA (ácidos linoleicos conjugados) e Ómega 3, ao contrário dos obtidos a partir de elevadas doses de concentrados, que são indutores de colesterol e, eventualmente cancerígenos. Por fim, os apoios da Política Agrícola Comum (PAC), em grande parte dos casos mal equacionados, em conjunto com a globalização dos mercados, acabaram por ser responsáveis pelo declínio acentuado das áreas cultivadas, particularmente as de cereais, o que conduziu a um aumento exponencial das superfícies de pastagens naturais de baixa produtividade, ou mesmo ao abandono de terras, que tendem a ser invadidas por matos, com aumento do risco de incêndio. Como consequência desta mudança, o país viu crescer as importações de cereais panificáveis, de tal modo que hoje cerca de 85% do pão que consumimos é feito com

*Este artigo foi publicado no n.o 1 da “Trifólia” (a newsletter da SPPF – Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens) em Março de 2011


trigo importado. No domínio da produção pecuária extensiva, assistimos a um decréscimo do número de pequenos ruminantes, pela dificuldade em encontrar pastores e pelo insensato menor subsídio que a PAC lhes atribuiu. Por isso, mesmo para um modesto consumo nacional per capita, temos de importar um terço da carne de ovino que consumimos. Neste aspecto esquecemos simplesmente que os ovinos e caprinos (e nos montados, também o porco alentejano) são os animais que melhor utilizam os recursos das pastagens mediterrâneas, predominantes em grande parte do país. Mesmo onde os bovinos predominem, as ovelhas são muito úteis para fazer e manter uma boa pastagem. Não obstante o aumento significativo do efectivo de bovinos de carne, estes mais fáceis de manejar e com subsídios mais atrativos que os pequenos ruminantes, a produção de carne continua a ser nitidamente insuficiente para satisfazer as necessidades de consumo, o que leva à importação de cerca de metade da carne de bovino que consumimos. E aqueles que dizem que atingimos a autossuficiência em leite, esquecem que tal foi devido não só à custa do melhoramento genético das vacas, mas também a uma mudança radical do seu regime alimentar, envolvendo um elevado consumo de concentrados e uma forte redução da sua vida produtiva, obrigando a elevadas taxas de substituição. Por isso, a carne e leite que produzimos em Portugal contêm uma forte componente externa, a qual contribui para aumentar a nossa dependência do exterior em matéria alimentar que, como é sabido, se aproxima dos 50%. Convém também recordar que dos gastos intermédios totais da agricultura portuguesa, cerca de metade cabe aos alimentos concentrados destinados a animais, os quais são na sua esmagadora maioria importados. Com tais números como queremos ser independentes?!!! Por outro lado, as recorrentes subidas do custo das fontes de energia fóssil (petróleo, gás e carvão) que desde os anos setenta se fazem sentir e que agora se acentuam com maior acuidade, levam o homem a sonhar com a produção de bioenergia (bioetanol, biodiesel, biogás) a partir de

mesmo para um modesto consumo nacional per capita, temos de importar um terço da carne de ovino que consumimos

produtos agrícolas, ocupando terras antes directamente usadas na produção de bens alimentares e provocando assim uma maior escassez de alimentos. Uma tal prática, só possível nas nossas condições ecológicas se fortemente subsidiada, não só colide com a necessidade actual de produzir mais alimentos para reduzir a dependência do exterior, como também na maior parte dos casos falta-lhe sustentabilidade, já que os balanços energéticos envolvidos no processo são negativos, isto é, a energia gasta no processo produtivo é superior à quantidade de energia obtida. Mas a nossa realidade agropecuária não se limitou apenas a adoptar sistemas que envolvem um grande consumo ou desperdício de energia e a contribuir para o abandono ou mau aproveitamento do solo. Contribuiu também para a perda de fertilidade dos solos e da biodiversidade em alguns ecossistemas, para a diminuição da qualidade alimentar de alguns produtos e até para a degradação ambiental, através do aumento de nitratos nos aquíferos, do teor de CO2 na atmosfera, etc.. Este é o cenário em que temos vivido, mas donde urge sair e, para tanto, há que rever sistemas de uso da terra e, em particular, os de produção agropecuária, sendo interessante analisar o papel que as pastagens e forragens, quando racionalmente escolhidas e praticadas, podem desempenhar na restauração do sector. A adopção de uma política de desenvolvimento de culturas pratenses e forrageiras ricas em leguminosas, em que as pastagens semeadas de carácter permanente passem a ocupar todos os terrenos marginais para culturas de cereais ou outras, nas áreas onde a dimensão da propriedade facilita o pastoreio – mais de um milhão de hectares, na sua maioria hoje ocupados com pastagens naturais degradadas e mantendo um encabeçamento mé-

dio inferior a 0,4 cabeças normais (CN/ha/ /ano) – possibilitaria facilmente mais que duplicar o número de vacas aleitantes e aumentar em mais de 50% o número de ovelhas, permitindo assim a produção nacional de toda a carne de bovino e ovino que consumimos e deixando ainda uma parte para exportação, já que a carne obtida predominantemente em pastoreio começa a ser valorizada como carne de excelente qualidade. Por outro lado, os terrenos de melhor qualidade em sequeiro (cerca de 900 mil ha), serviriam para produzir, em rotação com cereais ou outras culturas, misturas forrageiras anuais ricas em leguminosas para corte e conservação sob a forma de feno-silagem, a utilizar nos períodos críticos de insuficiência de pastagem, embora algumas pudessem ter utilização mista (pastoreio e corte). A recria e engorda dos bovinos, bem como a produção de leite, deveriam de preferência ocupar os regadios mais eficientes, onde pastagens temporárias ou permanentes de regadio, complementadas com culturas forrageiras mais intensivas (prados anuais ou temporários ricos em leguminosas, em rotação com milho ou sorgo para silagem) possibilitariam tais operações a baixo custo.

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PRADOS, PASTAGENS E FORRAGENS

É ainda de destacar o papel fundamental que certos microrganismos, hoje apelidados de biofertilizantes, podem desempenhar na poupança de fertilizantes sintéticos (adubos azotados e fosfatados). É o caso da prática de inoculação de sementes de leguminosas com estirpes específicas de Rizobio, uma tecnologia de baixo custo capaz de substituir a cada vez mais dispendiosa fertilização azotada. Nas culturas pratenses e forrageiras ricas em leguminosas, podemos considerar que a cada tonelada de matéria seca de leguminosas produzida, correspondem 3040 kg de azoto fixado por via simbiótica e, concluir que nas nossas condições mediterrâneas, a produções de erva de 4 a 8 t MS/ ha/ano em sequeiro, ou de 12 a 20 t MS/ ha/ano em regadio, contendo na sua composição 50% de leguminosas, correspondem níveis de fixação de azoto simbiótico de 60 a 160 kg/ha/ano em sequeiro e de 180 a 400 kg/ha/ano em regadio. Tratando-se de culturas puras de leguminosas (ex. luzerna), tais níveis de fixação podem atingir 550-600 kg de N/ha/ano. Tendo em conta o elevado custo dos fertilizantes azotados sintéticos, geralmente indexados ao preço

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do petróleo, só por si, este contributo representa um valor notável das leguminosas para baixar o custo da produção de erva, sobretudo se compararmos com a prática ainda muito comum de cultivar gramíneas forrageiras estremes (aveia, azevém, milho, etc.), cuja produção requer elevadas quantidades de fertilizantes, sobretudo azotados. Mas outro aspecto a ter em conta é o superior valor nutritivo das misturas pratenses e forrageiras ricas em leguminosas, já que contêm maiores níveis de proteína e são ingeridas pelos animais em maiores quantidades que as gramíneas puras, dando assim lugar a maiores produções por animal. Mais recentemente, começamos a dispor também de tecnologias de inoculação de sementes com estirpes de Azospirilo ou outros agentes microbianos capazes de, em associação simbiótica com as raízes das plantas, mobilizarem o fósforo insolúvel do solo, disponibilizando-o para as plantas, reduzindo assim as necessidades de adubação fosfatada. O uso de misturas biodiversas ricas em leguminosas em pastagens e forragens beneficia também e de forma notável, a fertilidade do solo (maior riqueza em nutri-

entes, melhor estrutura, maior capacidade de retenção de água, maior biodiversidade, etc.) com reflexos positivos sobre os rendimentos das culturas, inclusivo das que eventualmente se lhes sigam em rotação e, consequentemente, sobre o seu custo de produção. Um outro aspecto importante das pastagens permanentes biodiversas ricas em leguminosas é a sua maior capacidade para fixar carbono atmosférico, conduzindo ao sequestro de quantidades significativas de carbono no solo, programa já apoiado pelo Ministério do Ambiente e que nos vai permitir uma redução dos compromissos financeiros para com o Protocolo de Quioto. Ainda outro ponto digno de destaque é o papel que as pastagens permanentes ricas em leguminosas podem desempenhar no controlo de fogos florestais, estando já provada a sua grande eficiência quando estrategicamente introduzidas em manchas f lorestais. Em conclusão, a introdução deliberada de pastagens e forragens biodiversas ricas em leguminosas nos sistemas de uso da terra portuguesa, de preferência estabelecidas com métodos apropriados de mobilização do solo (mobilização mínima, sementeira directa), permitiria aumentar a produção de carne e leite a baixo custo, de modo a satisfazer todas as necessidades internas e até exportar alguma carne de grande qualidade, além de reduzir substancialmente a importação de cereais e de oleo-proteaginosas para o fabrico de concentrados. Permitiria ainda criar melhores condições de fertilidade do solo, com ref lexos muito positivos sobre as produções de cereais panificáveis, reduzindo assim a quantidade a importar. Teriam ainda um papel de grande relevo no melhoramento do ambiente em geral (incluindo as paisagens) e no controlo dos incêndios florestais que, como sabemos, originam todos os anos perdas de muitos milhões de euros. Embora frequentemente se ouça dizer que para atenuar a crise financeira o País tem sobretudo que exportar mais, não esqueçamos que uma outra forma de a minorar consiste em importar menos e, neste caso, as pastagens e forragens ricas em leguminosas, podem dar um contributo muito valioso. No fundo, o que se pretende é produzir mais, conservando melhor.



A C T U A L I D A D E / P A S T A G E N S E FO RRA G E N S

FAO AJUDA CRIADORES DE GADO A GANHAR DINHEIRO PELO CARBONO QUE SEQUESTREM AQUANDO DA REABILITAÇÃO DE ECOSSISTEMAS EM RISCO

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciou esta semana a introdução de uma nova metodologia que irá abrir caminho aos créditos de carbono para a restauração das pastagens em amplas extensões de terras moderada ou gravemente degradadas. Segundo a FAO, a sua implementação “poderá eliminar gigatoneladas de carbono da atmosfera e aumentar a resiliência às alterações climáticas”. Ainda segundo a organização, e até à data, “os mecanismos de crédito de carbono que financiam projectos de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e de sequestro de carbono pouca atenção prestaram à agricultura”. O novo método elaborado em colaboração com a Academia Chinesa de Ciências Agronómicas, a Academia Chinesa das Ciências e o Centro Mundial Agroflorestal permitirá explorar o enorme potencial que as pastagens têm para apoiarem os meios de subsistência sustentáveis, sequestrando o carbono da atmosfera e contribuindo para travar o aquecimento global do planeta. A FAO pensa ter “encontrado um meio fiável” e “rentável” que permitirá que os criadores de gado “que invistam na recuperação das pastagens demonstrem que sequestram quantidades” de carbono suficientes para “ financiarem as suas actividades acedendo ao financiamento de mitigação”, declarou a este propósito Pierre Gerber, especialista de pecuária na FAO e um dos responsáveis pelo projecto. “A nossa abordagem permite não apenas medir directamente o sequestro do carbono através da recolha de amostras do solo, mas também através de modelização computorizada com base nos tipos de solos e das suas actividades”, explica Leslie Lipper, economista da FAO que participa no projecto. “Ser capaz de demonstrar uma monitorização fiável é essencial para os projectos que queiram participar nos mercados de carbono”, diz. “E a modelização reduz os custos dessa monitorização, permitindo a participação tanto dos mais pequenos pastores como dos grandes criadores”. Iniciada em 2008, a metodologia encontra-se em fase de testes num projecto-piloto na província de Qinghai, na China, devendo emitir créditos de carbono significativos ao longo de um período de dez anos. Para além das considerações económicas – no final, os criadores deverão poder “retirar rendimentos dos créditos de carbono em mercados de comércio de direitos de emissões” – os três parceiros procuraram, juntamente com os próprios criadores, “conceber melhores práticas de pastagem e de gestão das terras capazes de restaurarem a saúde dos solos ou melhorarem a produção de leite e de carne”. Procura-se ainda “gerar serviços ambientais que permitam a redução de cheias e inundações súbitas e a conservação da biodiversidade”. Daqui a dez anos, “as pastagens restauradas terão armazenado a maior quantidade possível de carbono, sendo que os rendimentos derivados das trocas de carbono diminuirão. Mas as terras terão recuperado a sua plena produtividade e os sistemas de pecuária terão evoluído para um modelo sustentável”, capaz de responder às necessidades de muitas gerações de criadores de gado. As receitas serão investidas em operações de restauração da sanidade das terras de que dependem e ainda na criação de associações comerciais que visem melhorar os lucros retirados da pecuária tradicional. Segundo Pierre Gerber, “o projecto na China é apenas um exemplo daquilo que a metodologia pode concretizar. Poderá ser aplicada da mesma forma num outro local, e dimensionado para obtenção de resultados similares noutras pastagens carenciadas”. A FAO acaba de submeter a sua metodologia (Methodology for Sustainable Grassland Management) para validação à organização Verified Carbon Standard (VSC).

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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA

BIOFUMIGAÇÃO EFEITO DAS SIDERAÇÕES VERDES E DA ADIÇÃO DE COMPOSTADOS VEGETAIS AO SOLO NO CONTROLO DE PRAGAS E DOENÇAS NA AGRICULTURA

A

aplicação ao solo de resíduos orgânicos apresenta efeitos importantes na qualidade do solo, na produtividade vegetal e no ambiente. O seu uso como fertilizante é atractivo para os agricultores, especialmente em solos pobres em matéria orgânica como acontece na grande maioria das regiões portuguesas (Cabral et al., 1998), resultando em alterações benéficas sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (Kuai et al., 2000). A adição de elevadas quantidades de carbono (C) pelos resíduos vegetais, estimula acentuadamente a actividade microbiana do solo, com consequências para o ambiente. Os microrganismos do solo desempenham um papel-chave nas transformações ocorridas nos ciclos dos principais elementos, com destaque para os processos de transformação do C e do azoto (N) (Hattenschwiler

et al, 2005; Geisselera et al, 2010). Desta acção podem resultar perdas de C e N por emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), amoníaco (NH3), óxido nitroso (N2O) e óxido nítrico (NO) e por lixiviação de nitratos (NO3-). A adição de resíduos vegetais compostados ou a sideração de culturas pode ainda ter efeitos positivos sobre as culturas agrícolas e o ambiente devido ao efeito no controlo de pragas e doenças que esses materiais podem apresentar. As plantas produzem uma vasta gama de metabolitos secundários, conhecidos como fitoquímicos, os quais se considera desempenharem um papel importante em mecanismos de defesa contra os herbívoros, micróbios ou de competição com outras plantas (Wink, 1999; Wink 2004). A função específica de muitos fitoquímicos é ainda incerta, embora um número considerável de estudos tenha mostrado que eles estão envolvidos nas relações entre plantas/pragas/doenças. Podem ainda funcionar

Por: Henrique Trindade e Alfredo Aires* Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro 5001-801 Vila Real, Portugal / htrindad@utad.pt

Figura 1 Fórmula química (estrutura molecular) um isotiocianato

como substâncias mensageiras com o objetivo de atração de animais para a polinização ou a dispersão de sementes. Os fitoquímicos são substâncias de baixo peso molecular e podem ser agrupados em duas classes principais consoante con-

Figura 2 Biofumigação por decomposição de resíduos de brássicas GLs - Glucosinolatos ITCs - Isotiocianatos

Glsnt.

Decomposição

Esporos e fungos vivos

Acumulação de GSLs

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Destruição de esporos e fungos

Esporos e fungos mortos

Libertação dos GLs e sua conversão em ITCs

*Departamento de Agronomia – Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias >CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas


tenham azoto, como fenóis e polifenóis, terpenos e saponinas, ou não contenham azoto, como alcaloides, glucósidos cianogénicos, aminoácidos não-proteicos e glucosinolatos (Wink, 2004; Rosa et al., 2007). Existem evidências crescentes de que materiais vegetais contendo glucosinolatos ou ricos em outros fitoquímicos, por exemplo elevadas concentrações de (poli)fenóis, têm a capacidade de actuar como agentes de controlo de numerosas doenças bacterianas e fúngicas, de nemátodos fitoparasitas e na repulsa de insectos e moluscos (Fenwick et al., 1983, Glen et al., 1990; Brown e Morra, 1997; Buskov et al., 2002, Serra et al., 2002; Zasada e Ferris 2004; Lazeri et al. 2004). No caso da adição de resíduos muito ricos em glucosinolatos, como é o caso das couves (Brassica sp.), o efeito parece estar associado ao catabolismo daqueles compostos através dos seus produtos de hidrólise e especificamente à formação de isotiocianatos (ITC) biologicamente activos (Bones e Rossiter, 1996; Agrawal, 2000; Mithen 2001). Os ITCs são compostos voláteis de elevada toxicidade cuja acção resulta de reacções irreversíveis com proteínas (Brown e Morra, 1997). Como os isotiocianatos apresentam uma actividade antimicrobiana de largo espectro, a aplicação de resíduos de plantas que produzem estas substâncias activas após hidrolização tem sido designada de “biofumigação” (Angus et al., 1994, Brown e Morra, 1997; Workneh et al., 1993 ). Um outro grupo de compostos secundários que tem assumido uma enorme importância nos últimos anos tem sido o dos fenóis e polifenóis. Estes compostos constituem um grupo quimicamente muito heterogéneo (Harborne, 1999; Podsedek, 2007), o que lhe confere

ACIMA Campos de colza

uma grande diversidade de funções entre as quais também a defesa das plantas contra a acção de pragas e ocorrência de doenças (Harborne, 1999). A diversidade estrutural dos fenólicos deve-se em grande parte à grande variedade de combinações que acontece na natureza, e com isso tornam-se multifuncionais. Das diferentes classes de fenólicos presentes nas plantas, pelas suas propriedades antipatogénicas, antimicrobianas e alelopáticas, destacam-se as fitoalexinas, os ácidos fenólicos e os taninos (Afek e Sztejnberg, 1995; Schofield et al., 2001; Ohno, 2001; Qu e Wang, 2008; Vasilakoglou et al., 2011). Estes compostos, quando em elevadas concentrações podem tornar-se tóxicos, actuam como repelentes e servem também como defesa contra o ataque de microrganismos. Esta capacidade poderá constituir uma vantagem aquando da incorporação de adubos verdes de espécies vegetais que tenham uma elevada concentração destes compostos. Com o controlo de fitopatogéneos por meios químicos, mesmo quando são empregues boas práticas agrícolas, é expectável que persistam resíduos perigosos nos alimentos obtidos e, consequentemente, advenham efeitos negativos na saúde pública e no ambiente. A utilização de materiais ricos em fitoquímicos bioactivos tem evidenciado progressivamente ser um método alternativo importante e eficaz no controlo de problemas fitopatogénicos economicamente relevantes, permitindo a redução de fertilizantes químicos e pesticidas de síntese e dos problemas a eles associados.

Apesar destes resultados promissores, a aplicação de adubos verdes com o objectivo específico de controlo de pragas e doenças é contudo ainda muito complexa, pois muitas questões estão actualmente por responder. Como estes compostos são tão reactivos é possível que as doses eficazes no controlo de doenças possam ter efeitos negativos na microfauna e microflora do solo, como por exemplo nas bactérias benéficas e nas micorrizas. Questões como a velocidade de degradação no solo dos glucosinolatos em ITCs, a sensibilidade das culturas a tais aplicações, bem como o cálculo da real quantidade de matéria verde necessária para que estes compostos sejam eficazes nas condições reais de campo, necessitam ainda de ser bem clarificadas. Acresce ainda que devido ao facto dos glucosinolatos não serem biologicamente activos mas sim os seus derivados (ITCs), e porque actualmente se sabe que estes se degradam muito rapidamente no solo, o esclarecimento dos processos de transformação dos glucosinolatos e o controlo dos mecanismos químicos da biofumigação, deverá permitir incrementar a sua eficácia. Comparativamente, a utilização de resíduos ricos em fenóis e polifenóis pode apresentar vantagens decorrentes da circunstância destes compostos apresentarem maior estabilidade e persistência no solo. Além das avaliações de “velhos” e “novos” biopesticidas (adubações verdes), é importante ter um conjunto de dados sobre os resultados do efeito da aplicação destas adubações nos microrganismos benéficos do solo, na potencial fitoxicidade e de que forma estas aplicações podem afectar outros processos no solo, como por exemplo a emissão de gases de estufa.

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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA

ACIMA Campos de colza

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A C T U A L I D A D E / H O R T O FR U T IC U L T U RA

SUPER-BRÓCOLOS PARA LUTAR CONTRA O CANCRO

Investigadores britânicos estiveram a apurar o “Beneforté”, um super-brócolo enriquecido com um composto conhecido por combater as doenças cardiovasculares e determinados tipos de cancro e que será colocado à venda esta semana no Reino Unido nos supermercados da cadeia de lojas Marks & Spencer. O Centro John Innes e o Instituto para a Investigação em Alimentação (em Inglês Institute of Food Research – IFR), em Norwich, obtiveram, através de cruzamento clássico, uma espécie de brócolos melhorados em compostos naturais bons para a saúde. As investigações partiram de uma espécie de brócolos selvagens descobertos em 1983 que possuem naturalmente níveis elevados do composto glucofarina.

Brócolos revistos e corrigidos O superbrócolo “Beneforte” assemelha-se a um brócolo normal, mas contém duas ou três vezes mais glucofarina, que tem a propriedade de se transformar em molécula activa (o sulforafano) em contacto com a f lora intestinal. Este composto activo contribui, segundo uma série de estudos, para reduzir as inflamações crónicas e combater o desenvolvimento de determinados cancros.

Consumir cru O “Beneforte” aumenta o nível de sulforafano ingerido pelo organismo duas a quatro vezes em relação aos brócolos normais. Estudos demonstraram que o consumo regular de vegetais crucíferos (como os brócolos, a couve-f lor, couve, couves de Bruxelas) poderá ajudar a prevenir determinados tipos de tumores malignos. Os brócolos, consumidos diversas vezes por semana, poderão estar associados a um risco decrescido de cancro nomeadamente colorrectal, do estômago, dos pulmões e da próstata. De modo a manter todas as suas propriedades, os brócolos deverão ser ingeridos crus, apenas ligeiramente cozidos em água ou grelhados. Revelam-se ainda eficazes nas doenças cardiovasculares. Para o professor Richard Mithen, do IFR, a investigação forneceu novos dados relativos ao papel dos brócolos e de outros alimentos similares, mostrando como este novo conhecimento pode contribuir para o desenvolvimento de variedades mais nutritivas de legumes que nos são já familiares.

BASF ANUNCIA BATATA GM PARA CONSUMO HUMANO

A empresa BASF solicitou às autoridades da Comissão Europeia, a autorização para uma batata geneticamente modificada (GM) destinada ao consumo humano. Já conhecida como “Fortuna”, esta batata tem a característica de ser resistente ao míldio (Phytophtora infestans), a doença responsável pela Grande Fome* que assolou a Irlanda no século XIX (1845-1849). Actualmente, e em cada ano perdem-se 20% das colheitas por acção desta doença do batatal. A Fortuna baseia-se numa batata de variedade europeia para a qual se transferiram dois genes de uma variedade de batata silvestre da América do Sul que lhe proporcionam resistência à doença. A autorização recentemente solicitada contempla tanto o cultivo como o seu uso no sector alimentar humano e animal da União Europeia. Tendo iniciado a sua investigação em 2003, a multinacional germânica refere que a nova batata foi testada em ensaios de campo ao longo de seis anos, prevendo a sua comercialização já em 2014/15. Apesar das tentativas de obter – através de meios convencionais – uma batata com genes de resistência e de elevado rendimento agronómico terem já cerca de cinquenta anos, só agora dois cientistas holandeses descobriram os genes presentes na batata GM. Saiba mais em www.basf.com/plantscience * N.R. A Grande Fome de 1845-1849 na Irlanda foi um período de fome, doenças e emigração em massa, em que a população irlandesa diminuiu entre 20 e 25 por cento, tendo a fome provocado a morte de cerca de um milhão de pessoas. A causa mais próxima da fome foi a doença provocada pelo oomiceto Phytophthora infestans, que contaminou em larguíssima escala as culturas das batatas em toda a Europa durante essa década. Apesar de todo o Velho Continente ter sido atingido, a Irlanda foi o país mais afectado, com um terço da sua população a depender unicamente de batatas para sobreviver. O problema veio ainda a ser exacerbado por uma série de factores ligados à situação política, social e económica que ainda hoje são matéria de debate na comunidade académica

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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA

ESTUFAS GÓTICAS MAIOR ESTANQUIDADE E MÁXIMA VENTILAÇÃO

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progressiva descoberta científica, impulsionada pela exigência global de maior e melhor produção alimentar, fez evoluir os métodos de produção. Todavia, e neste particular – como a ciência não domina a natureza, nomeadamente o clima, que é um dos mais importantes agentes que inf luencia, quantitativa e qualitativamente todas as produções – obrigou o engenho humano a desenvolver técnicas que propiciam níveis satisfatórios para os resultados pretendidos. É costume dizer-se que a agricultura é uma indústria sem tecto. Portanto, há que o dar! Surgem, neste contexto, as estufas, estruturas que têm como objectivo a acumulação de calor no seu interior mantendo, assim, níveis de temperatura e humidade favoráveis, auxiliando, ainda, na protecção mais eficiente de outros factores condicionantes, tais como ventos, chuvas, geadas e raios solares, contribuindo, também, para o maior controlo contra pragas e doenças. Entre os vários tipos e modelos de estufas disponíveis no nosso mercado destacamse as, ainda, raras estufas góticas que têm como característica possuírem o tecto em ângulo em que a abertura zenital é total. A geometria desta estufa permite evitar a queda de condensação sobre as plantas no Inverno, como ilustra a Fig. 1. Além disso, o modelo gótico distingue-se, ainda, por disponibilizar ventilação e estanquidade vantajosas com redução das perdas de energia e simultaneamente um arejamento/arrefecimento mais rápido quando necessário, permitindo, assim um maior controlo sobre as temperaturas do seu interior, tanto no Verão como no Inverno. Este modelo de estufas prima, também, por possuir grande capacidade de suporte a vários tipos de culturas exigentes. Sob o ponto de vista estrutural, este tipo de estufa é bastante resistente embora a forma como são construídas e o material usado na construção Figura 1 Vantagem do modelo Gótico sobre o modelo Convencional no que respeita à Condensação

CONDENSAÇÃO Modelo Convencional

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Modelo Gótico

Por: Emanuel Moreda Estudante da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima / Fotos: Bernardo Madeira

dependa directamente do construtor ou fabricante – sem deixar de ter em conta a verba que o comprador pretende disponibilizar. Para assegurar esta valência, a sua base assentará em postes e colunas alicerçados por sapatas de betão chumbadas no solo e todos os tubos metálicos, bem como os parafusos e porcas que os agregam devem ser em aço galvanizado, sendo importante conhecer a micragem da galvanização e obter a devida garantia do fabricante. Esta estrutura está, também, munida de caleiras, postas de forma a permitir um escoamento eficiente das águas resultantes da pluviosidade. O revestimento da cobertura e fachadas é assegurado por plástico térmico, podendo ser o da cobertura simples ou duplo com insuflador. Quanto à ventilação, característica chave deste modelo como referido anteriormente, poder-se-á ter à disposição várias aberturas por toda a estrutura, entre as quais janelas – laterais e de topo –, portas em ambas as extremidades e ainda aberturas supe-


riores, incluindo a abertura zenital, opcionalmente equipadas com um motor que efectue e controle as mesmas. Convém salientar que os fabricantes põem, ainda, à disposição do agricultor extras opcionais, também utilizados noutros modelos de estufas, como são exemplo os sensores de temperatura e humidade, de direcção de vento, motorredutores para as aberturas superiores e até mesmo variados sistemas de rega, adaptados ao cultivo pretendido, a fim de proporcionar ao agricultor uma maior ergonomia, perfeição e celeridade na sua actividade.

Quanto às medidas desta estufa o mercado oferece várias medidas de largura, comprimento, pé direito e altura totais, standard. Salvaguardando que todas estas dimensões poderão ser alteradas de forma a acondicionar a estufa nos mais particulares espaços, resolvendo tal constrangimento, mas onerados com custos adicionais. Comparativamente com outros modelos de estufa mais solicitados no mercado nacional estes têm, em termos percentuais, um custo superior de aproximadamente 20%. De facto, em relação, por exemplo, a uma convencional estufa de laterais rectas, o modelo gótico tem um custo superior que varia entre 1,5 a 2,5€ por m2. Diz-nos o mercado da oferta e da procura que este modelo de estufa está em franca expansão, ganhando cada vez maior presença na vida agrícola. Tendo em consideração as vantagens que este modelo oferece, sob inúmeros pontos de vista, será sem dúvida, uma opção a ter em conta em futuros projectos. Caberá ao agricultor decidir pelo que optar de forma a rentabilizar a sua produção.

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FLORES COMESTÍVEIS

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ada vez mais, as f lores comestíveis ganham apreciadores. Normalmente reconhecidas como meros elementos de adorno de jardins, casas, ou para assinalar momentos especiais, a maioria das pessoas não as associa à culinária, daí que, frequentemente, sejam surpreendidas aquando da sua apresentação numa refeição. As f lores não só têm cor, cheiro, mas também sabor. Na alta cozinha e no uso doméstico, as f lores dão um toque especial e marcam a diferença, podendo ser utilizadas em entradas, saladas, bebidas… Dada a variedade de flores comestíveis, é necessário ter conhecimentos acerca das que podem ser consumidas, uma vez que muitas são venenosas e podem, inclusive, levar à morte. Uma das flores comestíveis, e que é frequentemente encontrada nos jardins, é a Tropaelum majus L. vulgarmente conhecida por capuchinha, chaga, chaguinha, agrião do México, agrião grande do Peru, nastúrcio, f lor de sangue, entre outros. É conhecida em diversas culturas como uma planta multifuncional e, além de ornamental e medicinal, é também utilizada na culinária.

FLOR A flor tem entre 4 e 6 cm de diâmetro, composta por 5 pétalas e um um “esporão”. As flores variam entre o amarelo, laranja e vermelho. A f loração ocorre continuamente entre a Primavera e o Outono, podendo a colheita das f lores ser feita ao longo deste período. A

Por: Orquídea Barbosa / Engenheira Agrónoma orquideabarbosa@hotmail.com

Nome científico: Tropaeolum majus L. Família: Tropaeolaceae Origem geográfica: América do Sul

capuchinha tem um sabor fresco e picante, semelhante ao do agrião, podendo ser usada em saladas frias, sumos e na finalização de pratos. Actualmente é valorizada, principalmente, pelos restaurantes gourmet, pelo seu sabor exótico e aspecto decorativo, abrirem o apetite, favorecerem a digestão. A flor é rica em carotenóides (próvitamina A) e luteína e em vitamina C. À capuchinha também se atribuem propriedades bactericidas, digestivas, expectorantes e sedativas (consumir Tropaeolum majus à noite ajudará a combater a insónia).

PREPARAÇÃO A flor da Tropaeolum majus é toda ela comestível, não necessitando de cuidados especiais, contudo deve verificar-se a existência de insectos, que por vezes se alojam no interior da corola, e passar a f lor por água de modo a remover poeiras, mas sem proceder à fricção da mesma para não danificar os tecidos e provocar o seu enegrecimento. Poderá ser usada inteira, com as pétalas e as sépalas, ou só as pétalas, dependendo do gosto e da utilidade que se pretende.

CONSERVAÇÃO As flores são muito perecíveis devido à sua alta actividade respiratória e ao reduzido conteúdo de carbohidratos de reserva, o que faz com que a comercialização seja limitada tendo em conta a reduzida longevidade da mesma. A baixa temperatura no armazenamento é um factor importante no retardamento da deterioração, uma vez que diminui os processos metabólicos e o crescimento de

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patogénios, mantendo, assim, a qualidade por mais tempo. O período máximo de conservação das flores é de oito dias, quando acondicionadas em embalagens de PVC e armazenadas em câmara fria, enquanto as que não são conservadas no frio se apresentam murchas ao segundo dia. Devem utilizar-se as f lores frescas, porém, também podem secar-se à sombra, em local ventilado e sem humidade, e guardar em sacos de papel ou pano, armazenando, depois, em local fresco e seco.

PLANTA A Tropaelum majus é uma planta herbácea anual de crescimento rápido, caules carnudos e postrados podendo crescer até aos 3,5 metros de comprimento. As folhas são peltadas, de margens lisas, com cerca de 8 a 15 cm de diâmetro, com cor verde escuro basso na página superior e verde glauco na página inferior, suportadas por um longo pecíolo de 4 a 6 cm, que se insere ao centro da folha. As f lores inserem-se no caule ao nível da axila foliar. Esta planta não é exigente quanto ao solo, adaptando-se bem a solos

ácidos, neutros ou básicos, tendo perferência por solos com altos teores de matéria orgânica. Prefere climas amenos com temperatura média anual de 22 0 C, é exigente em água e sensível às geadas. Nesta planta, à excepção da raíz e do caule, todo o resto é comestível, podendo

usar-se as flores, as folhas e as sementes, sendo que as folhas são maioritariamente servidas em saladas e as sementes utilizadas em substituição da pimenta.

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INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO NA VIDA ÚTIL DE COGUMELOS PLEUROTOS (PLEUROTUS OSTREATUS (JACQ. EX FR.) P.KUMM.)

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os vários géneros de cogumelos utilizados na alimentação humana, os da espécie Pleurotus ostreatus ((Jacq. ex Fr.) P.Kumm.) destacam-se pelo seu aroma suave e textura aveludada e têm vindo a tornar-se cada vez mais populares entre os consumidores. Para além da versatilidade em termos gastronómicos, os cogumelos desta espécie possuem um excelente valor nutritivo, ao apresentarem teores elevados de fibra e proteína de elevado valor biológico. São ainda muito ricos em vitaminas dos complexos B e C, sais minerais, e compostos antioxidantes com inúmeros benefícios em termos de uma dieta saudável [1, 2, 3]. Por serem fungos, os cogumelos apresentam algumas particularidades no que se refere ao seu armazenamento, quando comparados com outros produtos hortícolas. Ao contrário das plantas, os cogumelos não possuem tecidos específicos que constituam uma barreira à perda de água e à deterioração microbiológica [4], estando, desde logo, mais sujeitos a perdas rápidas da qualidade. Resumidamente, os pleurotos são caraterizados por apresentarem elevadas taxas respiratórias [5] e de transpiração. Como resultado deste elevado metabolismo, ocorrem perdas de massa acentuadas, alterações de cor e textura, com depreciação global da qualidade e efeitos negativos quer para produtores, quer para consumidores [4]. À temperatura ambiente, as perdas de qualidade podem ocorrer quase de imediato [6, 7], sendo que em condições óptimas de armazenamento os pleurotos frescos poderão apresentar-se adequados para consumo após 96 horas [8]. Estas perdas rápidas de qualidade limitam a vida útil e dificultam a comercialização do produto enquanto produto fresco [9]. A melhor forma de garantir a qualidade global do cogumelo é através da refrigeração do produto imediatamente após a colheita e subsequente manutenção a baixas temperaturas e a humidades relativas elevadas. Contudo, nem sempre é possível manter a temperatura baixa ao longo da cadeia de distribuição, podendo ocorrer com frequência a exposição do produto a temperaturas demasiado elevadas, o que facilita o agravamento das perdas pós-colheita [10]. Como complemento às técnicas de refrigeração, existem outras tecnologias, tais como a atmosfera modificada, as Figura 1 Evolução da variação total de cor - TCD (média ± IC a 95%) de cogumelos armazenados a diferentes temperaturas. As linhas a tracejado representam a recta a justada aos pontos experimentais.

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Por: Sílvia Azevedoa/ Luís Miguel Cunhaa,b,*/ Susana Caldas Fonsecab,c

PLEUROTUS OSTREATUS é a designação científica do cogu-melo comummente designado por pleuroto. Em algumas zonas do país é conhecido como repolga. É um produto muito apreciado, não só pela sua versatilidade gastronómica, mas também pela sua composição química. Existem diversos estudos internacionais que comprovam o valor nutritivo dos pleurotos. São considerados uma excelente fonte de proteína, de aminoácidos essen-ciais e de fibra. Possuem ainda um baixo valor calórico, dado o elevado teor de água e um teor de lípidos residual, e contribuem positiva-mente para o aporte de vitaminas e minerais na dieta. Utilizado desde tempos ancestrais como produ-to medicinal na cultura oriental, esta espécie de cogumelo parece ter, entre outros efeitos benéficos, importantes efeitos antioxidantes. Assim, para além de apresentarem um excelente sabor, o consumo de pleurotus de qualidade pode trazer potenciais benefícios para a dieta do consumidor no âmbito de uma alimentação variada.

quais permitem um importante aumento na vida pós-colheita dos pleurotos [11]. A natureza particularmente sensível e perecível do cogumelo, a sua importância económica, assim como o interesse no aumento da sua vida útil impulsionam a necessidade de analisar e selecionar as melhores técnicas de armazenamento para a manutenção do produto fresco. Neste contexto, o conhecimento e análise do metabolismo do produto (p. ex., pela medição das taxas respiratória e de transpiração) e a influência que as condições de armazenamento possuem no metabolismo e na qualidade em geral, poderá revelar quais as condições de armazenamento necessárias para optimizar a retenção da qualidade, acrescentando valor ao produto. O presente trabalho teve como objectivo principal o estudo do efeito da temperatura de armazena-

DGAOT, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto / b REQUIMTE, Universidade do Porto / c Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politécnico de Viana do Castelo / * Campus Agrário de Vairão, R. Padre Armando Quintas, 4485-661 Vairão, Portugal / Tel +351-252 660 400; Fax +351-252 660 760


mento na retenção de atributos de qualidade de Pleurotus ostreatus frescos.

Material e métodos Para o efeito, foram utilizados cogumelos produzidos em Modo de Produção Biológico, sobre substrato de palha, os quais foram colhidos em cacho, imediatamente pré-refrigerados e transportados para o laboratório. Após o arrefecimento, os cogumelos foram destacados do cacho e separados de acordo com a cor, dimensão e grau de maturação. Para avaliar as alterações metabólicas e da qualidade dos cogumelos, foram analisados os seguintes parâmetros: 1.ª taxa respiratória (mL.kg-1.h-1); 2.ª cor da superfície superior; 3.ª teor em sólidos solúveis totais (SST, ºBrix) e iv) 4.ª perda de massa (PM, %). As taxas respiratórias (RO2) foram determinadas por balanço mássico simples, considerando a diferença dos valores de concentração de O2 num determinado intervalo. A concentração de O2 foi determinada com um analisador de gases (Checkmate 9100, PBI-Dansensor, Dinamarca) recorrendo ao método de sistema fechado [12, 13], utilizando-se frascos de vidro (1,9 L) estanques, nos quais se colocaram aproximadamente 0,15 kg de cogumelos. Para cada combinação tempo-temperatura utilizaram-se 3 réplicas.

A cor da superfície superior do cogumelo foi avaliada utilizando um colorímetro de reflectância (CR 400, Minolta Corp., Osaka, Japão), usando o iluminante C. As medições foram feitas em sistema CIE-L*a*b*, onde L* corresponde à luminosidade, a* ao avermelhamento e b* ao amarelamento. Foram ainda calculados os valores de variação total de cor – TCD = ((L*0-L*)2+(a*0-a*)2+(b*0b*)2)1/2, e de índice de acastanhamento – BI, calculado de acordo com o descrito por Maskan (2001) [14]. O teor em SST foi medido em ºBrix recorrendo a um refractómetro manual (MR2ATC, Atago, USA). Para cada temperatura, ao longo do armazenamento, a perda de massa (PM, % do peso inicial) foi determinada para 10 cogumelos, por diferença gravimétrica. A análise dos resultados experimentais foi efectuada com o aplicativo SPSS for Windows v.16.0, por aplicação de análise de variância (ANOVA a dois factores com interacção), apresentando a temperatura e o tempo como factores fixos.

Resultados e discussão Os dados experimentais revelaram diferenças significativas (p < 0,05) para todos os atributos qualitativos analisados, quer em função do tempo quer em função da temperatura, com excepção dos SST. Os atributos de cor, L*, b*, TCD e BI apresentam aumentos significativos com o tempo, sendo mais marcados a temperaturas mais elevadas, revelando um efeito signifi-

cativo da interacção sinergética tempo-temperatura. Relativamente aos valores obtidos para TCD os resultados sugerem aumentos lineares com o tempo com um significativo efeito potenciador da temperatura nas alterações globais de cor (ver Figura 1). A cor influencia o aspecto geral do produto e é um dos primeiros atributos utilizados pelos consumidores para avaliar a qualidade dos produtos frescos [6]. A degradação desta espécie de cogumelos é caracterizada por um escurecimento global, o qual se apresenta mais acentuado a temperaturas mais elevadas. Um dos aspectos mais marcantes foi a elevada perda de massa observada para as condições testadas. No final das 96 horas de armazenamento, a perda de massa foi elevada, para os cogumelos conservados a temperaturas superiores a 10 ºC. Nessas condições, verificou-se que a perda de massa às 24 h de armazenamento foi da ordem dos 10%, ou superior. Tal como ocorre para uma grande parte dos produtos hortofrutícolas, perdas de massa de tal ordem inviabilizam a comercialização do produto. Na tentativa de prever as perdas de massa de pleurotos em diferentes condições ambientais, verificou-se que a perda de massa seguiu um aumento exponencial com o tempo (ver Figura 2A), com a dependência da constante reaccional (kT, h-1) face à temperatura de armazenamento descrita por uma equação do tipo Arrhenius (ver Figura 2B).

Figura 2 a) Perda de massa (média ± IC a 95%) dos cogumelos em função do tempo e da temperatura de armazenamento. As linhas tracejadas representam o modelo exponencial (PM = Exp{kT*tempo}) que melhor se a justa. a) Representação da constante reaccional (kT) em função da temperatura absoluta. A linha a tracejado representa o a juste do modelo de Arrehnius (kT = k0*Exp{-Ea/(R*T)}).

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Figura 3 Evolução da taxa respiratória, RO2 (mL.kg-1.h-1) (média ± erro padrão) de cogumelos Pleurotus ostreatus armazenados a diferentes temperaturas.

Estes resultados expressam bem a importância do controlo da temperatura para uma melhor conservação do cogumelo e realçam também a importância do controlo da humidade relativa durante o armazenamento deste produto. A taxa respiratória, expressa pela variação da quantidade de O2 presente no espaço livre da embalagem, dá-nos uma indicação da taxa de consumo de O2, (RO2, mL.kg-1.h-1) e encontra-se representada na Figura 3. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se uma diminuição acentuada da taxa respiratória 24 h após o corte dos cogumelos, independentemente da temperatura. Após esse período, as taxas respiratórias aparentam estabilizar, permanecendo contudo elevadas e marcadamente dependentes da temperatura, A temperatura apresenta um efeito significativo na taxa respiratória do produto, dado que a mesma se apresenta genericamente mais elevada para temperaturas de armazenamento mais elevadas.

rotus ostreatus, com vista à maximização da retenção da qualidade global do produto. O armazenamento a 2 ºC demonstrou ser o mais eficiente no que se refere à manutenção da cor e à diminuição da actividade metabólica do produto. Nas condições testadas, verifica-se que 2 ºC será então a temperatura ideal para prolongar a vida-útil deste produto, mantendo a qualidade aceitável e acrescentando valor a um produto que por si já possui um excelente valor de mercado. Considerando ainda as elevadas perdas de massa do produto, será também fundamental considerar e quantificar a influência da humidade relativa da atmosfera circundante do produto na perda de massa, na qualidade e na vida-útil do mesmo.

AGRADECIMENTOS A autora S. Azevedo agradece à Fundação para a Ciência e a Tecnologia o apoio financeiro atribuído no âmbito do projecto de Doutoramento SFRH/BD/38577/2007.

CONCLUSÃO O produto que chega ao consumidor é reflexo não só das condições culturais adotadas durante a produção como também das condições de acondicionamento, transporte e armazenamento do produto. Neste contexto, dada a sua composição e o interesse geral por produtos frescos e saudáveis, a fase do pós-colheita de Pleurotus ostreatus assume então particular importância relativamente à qualidade do produto a ser consumido. Os resultados do ensaio reforçam a importância da utilização de temperaturas baixas no armazenamento dos cogumelos Pleu-

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REFERÊNCIAS [1] Mattila, P., Konko, K., Eurola, M., Pihlava, J.M., Astola, J., Vahteristo, L., Hietaniemi, V., Kumpulainen, J., Valtonen, M., Piironen, V. 2001. "Contents of Vitamins, Mineral Elements, and some Phenolic Compounds in Cultivated Mushrooms." Journal of Agricultural and Food Chemistry. 49: 2343-2348. [2] Lindequist, U., Niedermeyer, T. H. J., Julich, W.-D. 2005. "The Pharmacological Potential of Mushrooms." eCAM 2: 25-299. [3] Manzi, P., Gambelli, L., Marconi, S., Vivanti, V., Pizzoferrato, L. 1999. "Nutrients in Edible Mushrooms: an Inter-species Comparative Study." Food Chemistry 65: 477-482. [4] Sapata, M.M., Ramos, A.C; Ferreira, A; Andrade, L.; Candeias, M. 2010. “Processamento

Mínimo de Cogumelos do Género Pleurotus.” Rev. de Ciências Agrárias. 33 (2): 15-26. [5] Villaescusa, R., Gil, M. I. 2003. "Quality Improvement of Pleurotus Mushrooms by Modified Atmosphere Packaging and Moisture Absorbers." Postharvest Biology & Technology 28: 169. [6] Lopez-Briones, G., Varoquaux, P., Bureau, G., Pascat, B. 1993. "Modified Atmosphere Packaging of Common Mushroom." International Journal of Food Science & Technology. 28: 57-68. [7] Tano, K. and Arul, J. 1999. "Atmospheric Composition and Quality of Fresh Mushrooms in Modified Atmosphere Packages." Journal of Food Science. 64: 1073. [8] Azevedo, S., Cunha, L.M., Amaral, C., Fonseca, S.C. 2009. “Influência do Tempo e da Temperatura de Armazenamento em Atributos da Qualidade de Cogumelos do Género Pleurotus (Pleurotus Ostreatus) Obtidos em Modo de Produção Biológico.” Actas do 9.º Encontro de Química dos Alimentos, 28 Abril a 2 Maio 2009, Angra do Heroísmo, Portugal. [9] Antmann, G., Ares, G., Lema, P., Lareo, C. 2008. "Influence of Modified Atmosphere Packaging on Sensory Quality of Shiitake Mushrooms." Postharvest Biology and Technology. 49: 164-170. [10] Paull, R. E. 1999. "Effect of Temperature and Relative Humidity on Fresh Commodity Quality." Postharvest Biology and Technology. 15: 263-277. [11] Sapata, M.M.; Ramos, A.C; Candeias, M. 2004. “Efeito Combinado da Embalagem em Atmosfera Modificada e da Humidade na Conservação de Pleurotus Sajor-caju.” IV Simpósio Ibérico - I Nacional - VII Espanhol - Maturação e PósColheita 2004, Oeiras: 255-259. [12] Cameron, A.C., Boylan-Pett, W., Lee, J. 1989. “Design of Modified Atmosphere Packaging Systems: Modelling Oxygen Concentrations within Sealed Packages of Tomato Fruits.” Journal of Food Science, 54(6), 1413-1416. [13] Song, Y., Vorsa, N. e Yam, K.L. 2002. "Modelling Respiration-transpiration in a Modified Atmosphere Packaging System Containing Blueberry." Journal of Food Engineering 53(2): 103-109. [14] Maskan, M. 2001, “Kinetics of Colour Change of Kiwifruits during Hot Air and Microwave Drying.” Journal of Food Engineering 48: 169175.


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Por: Bernardo Madeira

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PRIMAVERA EM OUTUBRO

mbora raro, não é inédito termos inícios de Outono suficientemente quentes para que as plantas se iludam e rebentem de novo, “convencidas” de uma falsa Primavera. Este foi um desses anos. Agosto e Setembro foram frescos. Deu-se o normal atempamento da lenha do ano em árvores fruteiras e até videiras, com queda de folhas como normalmente ou até mais cedo do que o normal. Porém, um final de Setembro quente e um Outubro anormalmente quente (pelo menos o mais quente desde há 70 anos), levou a que muitas árvores de fruto, de flor (como camélias), e videiras rebentassem de novo e se apresentassem no final do mês cobertas de flores e rebentos como se estivéssemos numa verdadeira Primavera. A produção deste fenómeno é algo temido pelos fruticultores e viticultores. A rebentação outonal, e especialmente a f loração nesta época, resulta do facto de ter havido uma acumulação de temperaturas (somatório) que permite a rebentação. Esta desregulação leva, obviamente, à perda dos botões f lorais que agora se desenvolveram, abrolharam e que nunca produzirão fruto com a chegada do frio. Pior ainda é o facto de estes gomos que deveriam produzir fruto no próximo ano se perderem e não haver tempo para as plantas produzirem novos botões e dar-se o atempamento dos rebentos que agora se geraram, podendo comprometer, em parte, a fertilidade das árvores no próximo ano.Este fenómeno está relacionado com o facto de algumas plantas estarem dependentes de somatórios de temperaturas, positivas no Verão e negativas no Inverno. Assim, como é por de mais conhecido, no milho fala-se em somatórios de temperatura desde a sementeira, ou seja, os requisitos de graus de temperatura acima de 6 o C. Se uma variedade está indicada como necessitando de 1.200 oC, significa que para que complete o ciclo é necessário que haja calor suficiente, acima de 6 graus, para que o milho

amadureça. Se um dia estiverem 16 oC em média, então, esse dia conta como 10 oC, somando-se assim os dias até se atingir os requisitos requeridos pelas plantas (se todos os dias tivessem esta média, o crescimento e maturação dar-se-iam em 120 dias). Por este motivo, quando se diz que uma variedade é de ciclo de 90 dias, tal apenas se reporta a situações médias, dependendo, obviamente, do clima. O mesmo sucede com as temperatura negativas. Algumas plantas não abrolham regularmente se não se sujeitarem a um certo somatório de temperaturas negativas. Isto para que não rebentem sem que termine o Inverno e assim serem queimadas por geadas. Porém, estes requisitos de frio podem ser “baralhados” com Outonos quentes que levam a um excessivo somatório de graus de temperatura positiva, como sucedeu este ano.

Foto: Bernardo Madeira

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VILMORIN INOVAÇÃO EM TECNOLOGIA

Por: Sandra Marques I+D+C Vilmorin Ibérica SA

TECNOLOGIA DE SEMENTES VILMORIN A qualidade reconhecida das sementes Vilmorin é fruto de uma genética única, associada ao controlo da produção e das distintas etapas de transformação na fábrica. Há mais de 20 anos que a Vilmorin tem vindo a investir num programa ambicioso de investigação de tecnología de semente ou tecno-semente. Processos como a activação, encapsulagem e peliculagem aplicam-se em especial a lotes seleccionados de semente, relativamente a parâmetros como calibre, germinação ou vigor. O objectivo é explorar todo o seu potencial e apresentar um valor acrescentado para os produtores. A experiência da Vilmorin permite oferecer uma gama ampla de produtos e diferentes soluções de alta tecnologia que respondam às expectativas de todos os mercados. O objectivo é ser o mais eficaz possível e conseguir que 1 semente = 1 produto comercializado, garantindo assim uma maior homogeneidade de produção, um melhor controlo de despesas e maior rendimento comercial.

SOLUÇÕES AGRONÓMICAS E VALOR ACRESCENTADO Desenvolveram-se várias soluções para dar resposta às necessidades de cada cultura e de cada produtor, tais como a Activação, Encapsulagem e Peliculagem. A Activação favorece uma germinação rápida e crescimento uniforme através da realização de tratamentos de melhoramento: priming, fotocura, termocura, etc... Apresenta-se como uma solução de grande utilidade para culturas florestais, hortícolas ou ainda para culturas de ar livre efectuadas em condições limite de temperatura (frio) ou outras. O priming activa o processo de germinação sem chegar a haver saída da radícula, que é posteriormente bloqueado para permitir a conservação das sementes melhoradas. O objectivo é que durante a sementeira todas as sementes germinem em simultâneo. A termocura permite a germinação dentro de um amplo intervalo de temperaturas. A fotocura permite a germinação no escuro (inclusivé para cápsulas).Este tratamento está disponível para rabanete, salsa, cenoura, endívia e tomate.

Acima (esquerda): plantas resultantes de semente activada

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Acima (direita): plantas resultantes de semente normal

A Encapsulagem permite facilidade e precisão de sementeira. Aumenta o tamanho da semente envolvendo-a por uma substância sólida que modifica a sua forma e tamanho. Permite uma melhor visualização das sementes. Existe em três formas: – Mini-cápsulas VILROB: favorece um melhor posicionamento da semente no terreno, reduz duplicações ou falhas de sementes, é facilmente visivel e reduz os problemas de electricidade estática. Para utilização em sementeiras de ar livre com semeador pneumático. Disponível para cenoura, endívia, cebola amarela e alho-francês. – Cápsulas VILROB: favorece um melhor posicionamento da semente no terreno, reduz duplicações ou falhas de sementes. Para utilização em sementeiras de ar livre com semeador mecânico. Disponível para cebola branca, alho-francês e nabo. – Cápsulas SPHERA: favorece a ausência de duplicações ou falhas, e a colocação perfeita da semente no mote/alvéolo. Utilização em sementeiras em tabuleiro ou caixa para viveiro produtor de planta. Disponível para alface com termocura para uma maior facilidade de utilização (germinação dentro de um amplo intervalo de temperaturas). Para chicória frisada e tomate. A Peliculagem garante a precisão da sementeira e a aplicação de tratamentos. Existe sob duas formas: – Tratamento sem pó (sementes calibradas): estas sementes são calibradas de forma rigorosa e recebem um tratamento sem pó através da aplicação de um filme especial. Incluem a aplicação de tratamentos fitosanitários. Evitam a electricidade estática e permitem sementeiras mais fiáveis e rápidas. Disponível para cenoura, couve-flor, beringela, pimento, tomate, canónigos e salsa.


– Peliculagem VILSEED: é uma técnica elaborada destinada a sementes de elevada qualidade germinativa (por exemplo, para cenoura com uma qualidade de germinaçao de 90% mínimo). A peliculagem protege as sementes e as plântulas através da aplicaçao de um plástico especial de cor. A forma e o tamanho da semente não muda. Podem incorporarse ingredientes adicionais como tratamentos insecticidas, fungicidas, etc.). Permite optimizar as densidades no campo por facilitar a sementeira (melhor fluidez) e obter um produto mais homogéneo. Disponível para cenoura, couve-flor, endívia e salsa.

SITUAÇÃO EM PORTUGAL No nosso País, a par com a evolução tecnológica a nível de sementeira em viveiro

ou directamente em campo, a utilização de sementes de alface SPHERA, e de cenoura VILSEED e VILROB está perfeitamente difundida e tornou-se prática recorrente.

PROXIMIDADE E INOVAÇÃO: O LEMA DA VILMORIN Com o objectivo primordial de reforçar a imagem da Vilmorin enquanto empresa especializada em tecnologia de sementes, realizou-se nos dias 3 a 6 de Outubro último uma visita a França à fábrica da Vilmorin em La Menitré, com interlocutores de cenoura da zona do Montijo. Ali, foi possível observar in situ todo o processo de fabrico de sementes de cenoura, com especial incidência para a tecnologia VILROB e PRIMING.

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A C T U A L I D A D E / H O R T O FR U T IC U L T U RA

DE FRUTO DESCONHECIDO A CASO DE SUCESSO NACIONAL Cooperativa pioneira instalada em Sever do Vouga, a Mirtilusa – Sociedade de Produtores Horto-Frutícolas, Lda. foi criada em 1994 por produtores de mirtilo que após terem investido neste pequeno fruto, sentiram a necessidade de se unir e organizar para promover o seu escoamento e divulgação, quer no mercado internacional (no qual as vendas são mais expressivas), como no nacional, onde as bagas azuis vêm conquistando adeptos fiéis. Esta cultura surgiu de uma experiência incentivada por uma fundação holandesa – a Lokorn –que verificou que as condições edafo-climáticas da região são óptimas para a produção do mirtilo. Desde então, as plantações e consequentes produções têm vindo a aumentar, incentivando cada vez mais jovens e interessados nesta cultura que se tem verificado viável economicamente e paisagisticamente, contribuindo para a recuperação de terrenos dantes ao abandono, e transformando Sever do Vouga na capital do mirtilo. Actualmente, composta por 104 produtores (dos quais 48 são sócios da empresa), a Mirtilusa escoa o fruto nos mercados mais vantajosos e presta apoio técnico aos seus produtores em todas as áreas necessárias à boa produção como selecção das cultivares, instalação do pomar, manutenção, implementação e manutenção de certificações, formação aos produtores, etc. Recentemente e de modo a poder responder à crescente procura de plantas por parte dos seus produtores, bem como de novos clientes, a empresa licenciou um viveiro onde efectua a propagação de plantas sãs e robustas. A produção escoada através da Mirtilusa neste ano de 2011 foi de 77 toneladas, e prevê-se um aumento gradual nos próximos anos, sendo a filosofia da empresa fomentar a produção de fruta de qualidade para que a presença nos mercados mais exigentes seja possível. Numa realidade de agricultura de minifúndio, com pequenas parcelas em produção, a qualidade é a aposta de continuar presente num mercado cada vez maior e mais competitivo. www.mirtilusa.com

Sobre o mirtilo: Mirtilo (Vaccinium corymbosum) Dimensões: Entre os 7 e 12 mm de diâmetro Características: cor e estrela de cinco pontas na parte superior Cor: Azul-ceroso (quando alcança o amadurecimento total) ou vermelho, segundo a variedade. Coberto por uma espécie de cera, denominada pruína. Textura e sabor: pele firme e polpa sucosa e aromática, de sabor agridoce. Conhecido pelo seu elevado teor de antioxidantes (prevenindo os sinais do envelhecimento), o mirtilo é rico em vitaminas, A, B, C e PP, possuindo ainda sais minerais, magnésio, potássio, cálcio, fósforo, ferro, manganês, açúcares, pectina, tanino, ácido cítrico, málico e tartárico, sendo também utilizado como planta medicinal. Frágeis e com pouco tempo de vida (duas semanas no máximo), requerendo imensos cuidados e não só no processo de apanha, as pequenas bagas azuis começam a perder

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qualidades logo no momento em que são colhidas, tendo de ser imediatamente encaminhadas para o frio.

Muito apreciado para consumo ao natural, o versátil mirtilo é ainda procurado na culinária (combinando com caça, saladas e outros pratos) sendo amplamente utilizado no fabrico de licores, sumos, chás e compotas, bem como na pastelaria em tartes, bolos, pudins, biscoitos, gelados, e rebuçados.

ERA UMA VEZ A BATATA MAIS CARA DO MUNDO… Na localidade de Noirmoutier, mesmo junto à Costa Oeste da França, vive a mais cara e exclusiva cultura de batatas que o mundo alguma vez viu: La Bonnotte. O preço de um quilograma destas batatas de elite pode chegar a uns surpreendentes 468 euros uma vez que por ano são apenas colhidas 100 toneladas, o que as torna virtualmente extintas, não fosse a atenção e desvelo de poucos. Os campos de La Bonnotte são fertilizados com plantas e algas retiradas do mar ali tão perto e a sua presença no solo enriquece o paladar simultaneamente salgado e terroso, com um leve travo a limão e noz que torna estas batatas tão únicas e indescritíveis. Permanecendo agarradas ao caule, são tão delicadas que têm de ser apanhadas à mão com extremo cuidado de modo a não partirem, sendo transportadas para os (poucos) restaurantes de luxo que as servem no próprio dia. Plantadas em Fevereiro, estão regra geral disponíveis para consumo em meados de Maio. Mas tudo isso parece destinado a mudar. No Reino Unido, a gigantesca cadeia de supermercados Tesco conseguiu forma de comprar quantidades suficientes deste vegetal gourmet supremo e tão procurado. É actualmente possível o cultivo desta espécie de batata na ilha de Jersey, pelo preçopechincha de 2,65 £/quilo (cerca de 3 euros).


MORANGOS PROTEGEM O ESTÔMAGO DO ÁLCOOL

Uma equipa de investigadores italianos, sérvios e espanhóis confirmou o efeito protector dos morangos num estômago de mamífero danificado pelo álcool. Segundo um artigo publicado na revista “Plos One”, os cientistas administraram etanol (álcool etílico) a ratos de laboratório e comprovaram que a mucosa gástrica dos animais que haviam ingerido extracto de morango sofria menos lesões. “Os efeitos positivos dos morangos são associados tanto à sua capacidade antioxidante e alto teor em compostos fenólicos (antocianinas), activando as próprias enzimas ou defesas antioxidantes do organismo”, explica Sara Tulipanim, investigadora da Universidade de Barcelona (UB) e co-autora do trabalho. As conclusões indicam que uma dieta rica em morangos pode exercer um efeito benéfico na prevenção de doenças gástricas relacionadas com a geração de radicais livres ou outras espécies reactivas do oxigénio. Esta fruta poderá mesmo atenuar a formação de úlceras estomacais em humanos. A gastrite ou inflamação da mucosa do estômago, além de estar relacionada com o consumo de álcool, pode também ser provocada por infecções virais ou pela acção de fármacos anti-inflamatórios não-esteróides (como a aspirina) ou os que se usam no tratamento contra a bactéria Helicobacter pylori. “Nestes casos, a ingestão de morangos durante ou depois da patologia poderá aliviar a lesão na mucosa gástrica”, sugere Maurizio Battino, coordenador do grupo de investigação na Universidade Politécnica de la Marche (UNIVPM, em Itália), à vista dos resultados. A equipa encontrou menos úlceras nos estômagos dos ratos que, antes de receberem o álcool, haviam ingerido durante 10 dias extracto de morangos (40 miligramas/dia por quilo de peso). Conforme salientou Battino, “Este trabalho não foi projectado para aliviar os efeitos de uma embriaguez, mas para localizar moléculas protectoras da mucosa gástrica face aos danos que podem causar diferentes agentes”. Para o tratamento de úlceras ou outras patologias gástricas, os investigadores procuram obter novos fármacos protectores com propriedades antioxidantes e os compostos dos morangos podem ajudar.

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PROTECÇÃO DE CULTURAS

EPITRIX SIMILARIS PRAGA DOS BATATAIS

S

ITUAÇÃO ACTUAL

Este pequeno escaravelho, oriundo do continente americano, identificado pela primeira vez em 2004 tem, em Portugal, e desde 2008, provocado estragos de importância económica nos batatais de algumas regiões, estando em curso estudos para compreender melhor a biologia da praga e a sua relação com os danos observados, existindo já meios de luta homologados para o combate a esta praga quando se verifiquem infestações que justifiquem o controlo químico, esgotadas que estejam as possibilidades de controlo cultural.

Figura 1 E. similaris

1 cm

COMO IDENTIFICAR Os adultos de Epitrix similaris têm cerca de 1,5-2 mm de comprimento e são negros e ovais, podendo revelar uma tonalidade levemente acastanhada na parte posterior dos élitros (asas duras exteriores), os quais são percorridos longitudinalmente por fileiras de pêlos brancos semi-erectos muito curtos e fileiras de pontuações profundas. As antenas são filiformes, com 11 artículos, e são mais claras que o resto do corpo, assim como as patas. As fêmeas põem ovos esbranquiçados, lisos e alongados, bem como as larvas, as quais têm uma pequena cabeça castanha e patas curtas junto à cabeça. As pupas são esbranquiçadas e difíceis de detectar devido ao seu pequeno tamanho e localização no solo.

Figura 2 Ciclo de vida da Epitrix similaris

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Figura 3 Danos de E. similaris em folhas e tubérculos

BIOLOGIA E ECOLOGIA

NATUREZA DOS ESTRAGOS

Este insecto hiberna no estado adulto fora das plantações, nas fendas do solo, em detritos da cultura, sebes ou em margens não cultivadas. No início da Primavera, os adultos despertam e retomam a alimentação nas plantas solanáceas (por exemplo, ervamoira, tomate, beringela), passando para as batatas após a emergência destas, mas não se sabe a que temperatura esta espécie retoma a sua actividade. O E. similaris pode também afectar, para além da batata, a beringela, erva-moira (solanum nigrum) e figueira-doinferno (Datura stramonium), o que evidencia uma preferência pela família das solanáceas e tolerância aos tóxicos presentes nestas plantas. Depois do acasalamento, que ocorre nas plantas, a postura dos ovos é feita no solo, junto aos caules da batateira. Depois da eclosão dos ovos, as larvas dirigem-se para as raízes onde completam o seu desenvolvimento roendo as raízes e a superfície das batatas, sendo este o principal estrago com impacto económico pelas galerias que fazem na superfície que, além de deteriorarem o aspecto do produto, propiciam o aparecimento de podridões. As larvas pupam no solo, emergindo uma segunda geração (neste caso de adultos de Verão, que dão início a mais uma geração). No entanto, não se sabe o número de gerações que podem ter nas nossas condições, sabendo-se apenas que o ciclo de vida na Europa varia entre 3 a 5 semanas e que foram observados adultos vivos no mês de Outubro, em beringelas e figueira-do-inferno (Datura stramonium), o que poderá indicar mais do que duas gerações anuais.

Os adultos de E. similaris alimentam-se das folhas das plantas causando estragos que normalmente não afectam o desenvolvimento da planta nem a formação dos tubérculos. Já as larvas podem causar danos importantes, pois roem as raízes e a superfície dos tubérculos, que ficam marcados por sulcos estreitos e sinuosos.

VIGILÂNCIA Devido à possibilidade de introdução no país de outras espécies americanas do género Epitrix extremamente parecidas com Epitrix similaris e potencialmente perigosas, a monitorização do Epitrix da batateira deverá ser rigorosa e os serviços oficiais informados das infestações.

FORMAS DE LUTA DISPONÍVEIS A melhor estratégia de luta é a prevenção, que consiste na utilização de medidas culturais que diminuam a população de insectos de ano para ano. As medidas culturais utilizadas para esta praga são a rotação da batata com culturas não solanáceas, a eliminação de “volunteer crops” – que são batatas esquecidas no terreno que vão germinar dando alimento e abrigo para a hibernação – e a remoção de resíduos de batateira e infestantes. Outra estratégia é o cultivo de variedades de batatas que possibilitem a recolha dos tubérculos mais cedo, podendo ser colhidas antes do início da eclosão dos primeiros

ovos da praga ou serem colhidas como batata nova, no estado imaturo. Também existe outro meio de controlo que consiste na colocação de uma linha de batatas que germinem mais cedo, atraindo os insectos para estas linhas podendo de seguida ser aplicado um tratamento localizado, reduzindo, assim, o ataque à cultura, o que se torna mais económico do que a aplicação de um insecticida sobre toda a superfície cultivada. Crê-se que é possível o controlo biológico com o recurso a um nemátodo, Steinernema carpocapsae, o qual reduz os danos causados pelas larvas de Epitrix similaris. Se as medidas culturais e biológicas se revelarem ineficazes, devemos recorrer à luta química com a utilização de insecticidas, repelentes ou fago-inibidores. Para o tratamento ser mais eficaz deverá ser feito no início da colonização, atingindo os adultos que emergem no Inverno e as suas posturas, uma vez que as larvas (ao puparem no interior do solo) estão a salvo dos comuns insecticidas de contacto. O produto Talstar da empresa FMC Corporation, com base em substâncias activas piretróides, como bifentrina (o qual deve ser aplicado na concentração de 4-5 gramas/hectolitro, com um intervalo de segurança de 91 dias e no máximo com uma aplicação) e o produto Epik SG da empresa Sipcam Quimagro, com base em substâncias activas neonicotinóides como acetamiprida (que deve ser aplicado na concentração 3-5 gramas/hectolitro com um intervalo de segurança de 7 dias e com 2 aplicações no máximo), são geralmente eficazes, sendo os únicos insecticidas homologados pelo Ministério da Agricultura para

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Figura 4 Exemplo de utilização de plantação armadilha (Boavida, 2010)

Cultura da batateira

Locais de hibernação

Batateiras armadilha o controlo do Epitrix na batateira em produção integrada. Ao todo, são actualmente quatro os fitofármacos homologados para o combate a esta praga, nomeadamente os já citados Talstar e Epik SG, e o Gazelle SG e Gazelle da empresa Nisso (com base em substâncias activas acetamiprida), que também são aplicados no controlo mas não são autorizados em produção integrada. Os produtos organofosfatados, apesar de serem eficazes, têm uma persistência de acção menor e uma ecotoxicidade maior. A utilização da luta química deverá ser feita com recurso a uma estratégia que procure evitar o aparecimento de resistências e não prejudicar os auxiliares e abelhas.

Paulo Jorge Barbosa Rodrigues Biotecnólogo /

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A UTILIZAÇÃO DE ADJUVANTES NA QUALIDADE DA PULVERIZAÇÃO

N

os últimos anos temos assistido a uma notória evolução dos equipamentos de aplicação de fitossanitários. Bombas de baixa pressão, bicos de aplicação com as mais diversas funcionalidades, utilização de GPS, etc. Por outro lado, as empresas produtoras de moléculas de fitossanitários têm correspondido aos desafios ambientais do presente, com a criação de substâncias activas cada vez mais eficazes e com menor dose de aplicação. A necessidade de a agricultura se adaptar às novas exigências de sustentabilidade levou, nos últimos anos, a uma redução significativa do volume de calda aplicado por hectare. Em França, o volume de calda médio por hectare em aplicações de herbicidas é de 140 litros, enquanto nos fungicidas e insecticidas esse volume é de apenas 200 litros. Com estes volumes de aplicação a difusão no ar da calda aplicada é bastante reduzida, bem como a possível contaminação de águas subterrâneas e aquíferos de superfície.A toda esta evolução juntou-se a necessidade de assegurar em todas as aplicações a máxima eficácia. Os adjuvantes, “inauguraram”, um pouco por toda a Europa, um novo segmento de mercado, muito especializado, e capaz de assegurar a máxima eficácia das aplicações, quer por acção química sobre as caldas (pH, por exemplo), quer actuando sobre as suas propriedades físicas (como sejam a limitação da deriva, ou a expansão da gota que atinge o alvo). Os adjuvantes são, assim, auxiliares altamente especializados da pulverização, não existindo neste segmento o “tudo em um”, devendo a sua escolha ser ponderada em função da, ou das funcionalidades pretendidas. Quais são então essas funcionalidades? 1.ª Molhabilidade: trata-se da capacidade que determinado adjuvante tem, de uma vez adicionado à calda, expandir o diâmetro da gota que atinge o alvo;

Por: António Cannas Departamento de Desenvolvimento Lusosem, S.A.

2.ª Retenção: adesividade da gota ao alvo após o impacto; 3.ª Penetrabilidade: capacidade da calda em mobilizar uma determinada substância activa para o interior da planta, por acção, quer sobre os estomas (pequenos “poros” microscópicos da folha por onde esta respira), quer sobre a cutícula; 4.ª Manutenção das propriedades da calda: capacidade que determinado adjuvante tem de acidificar a água que serve de suporte à calda, prolongando o tempo de vida da mesma (caldas de herbicidas); 5.ª Aderência: capacidade conferida à calda por determinado adjuvante, que limita as perdas por “salpico” no momento do impacto; 6.ª Anti-deriva: capacidade que determinado adjuvante tem de reduzir drasticamente a difusão da calda pelo ar à saída dos bicos de aplicação; 7.ª Qualidade da calda: intervenção do adjuvante na redução de espuma, ou na compatibilização da mistura de mais de um fitossanitário. Existem presentemente no mercado duas classes de adjuvantes, de acordo com a sua composição e finalidade: 1) Tendo por princípio activo a lecitina de soja e o ácido propiónico, destinados a caldas de herbicidas e reguladores de crescimento: a) Possuem um efeito molhante ampliando o diâmetro da gota até 6x o tamanho da mesma quando atinge o alvo (efeito tensioactivo); b) Retêm a gota sobre a superfície impactada, melhorando a eficácia da substância activa, quer se trate de um herbicida de contacto, ou sistémico; c) Por acidificação da calda, mantêm as propriedades químicas da mesma, evitando a degradação por hidrólise alcalina; d) Agindo sobre o diâmetro da gota à saída do bico de pulverização, limitam as perdas por deriva ou por escorrimento; e) Mantêm a estabilidade das caldas que tenham por base a mistura de dois ou mais herbicidas, impedindo fenómenos de floculação ou precipitação. 2) Adjuvantes baseados em látex sintético, destinados a serem associados a caldas de fungicidas e insecticidas: a) O seu efeito “super-molhante” amplia o diâmetro da gota até 15x o seu diâmetro original no momento em que atinge o alvo; b) Retêm a gota sobre o alvo (superfície vegetal, insecto, fungo ou outra), melhorando consideravelmente a eficácia dos fungicidas ou insecticidas, sejam eles sistémicos ou de contacto;

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c) Criam um imediato efeito de aderência ao alvo, impedindo o escorrimento, ou as perdas motivadas por “salpicos”.

Que factores deverão ser ponderados no momento de uma aplicação? 1) 2) 3) 4) 5)

Climatologia; Equipamento de aplicação; Quantidade de produto a aplicar/ha. Volume de calda a aplicar; Qualidade da água que serve de suporte à elaboração da calda.

1) Climatologia Deveremos ter especial atenção à intensidade e direcção do vento no momento da aplicação, de forma a evitar sobredosagens na cultura tratada, ou efeitos fitotóxicos sobre culturas vizinhas. Por outro lado, não deveremos tratar quando o alvo se encontra molhado por uma orvalhada matinal, quando se prevêem chuvas nas horas seguintes à aplicação, ou quando a humidade atmosférica é muito baixa. As melhores condições para a aplicação dão-se normalmente ao início da manhã, ou no final do dia. 2) Equipamento de aplicação Deve ser o adequado à aplicação em causa. Normalmente, em culturas extensivas faz-se por meio de uma barra com bicos de pulverização “de leque”, ou de “injecção de ar” também chamados de “anti-deriva”. Presentemente, muitos fabricantes de bicos de pulverização aderiram à norma “ISO”, que permite relacionar directamente o débito com a cor dos mesmos:

Cor do Bico Laranja Verde Amarelo Azul Vermelho Castanho Cinzento Branco

Débito por minuto à pressão constante de 2,8 bar Galões Americanos Litros 0,1 0,38 0,15 0,57 0,2 0,76 0,3 1,14 0,4 1,51 0,5 1,89 0,6 2,27 0,8 3,03

A escolha do tipo de bico (leque simples, ou de injecção de ar) deve ser ponderada em função do tipo de formulação dos herbicidas a utilizar, tendo em conta que algumas formulações por si mesmas têm tendência para produzir gotas de maior ou menor diâmetro: Formulação WG SC SL EW EO EC

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Descrição Tipo de gota produzida Grânulos dispersíveis Fina em água Suspensão concentrada Fina Solução concentrada Fina Emulsão óleo em água Média Emulsão água em óleo Média Concentrado para emulsão

Grande

Tendo em conta que os bicos de injecção de ar são chamados de anti-deriva devido ao tamanho “grande” da gota que produzem, os produtos com formulações do tipo EW, EO ou EC não são recomendados na aplicação com este tipo de bico. A pressão de trabalho é factor de primordial importância, na medida em que esta se encontra intimamente ligada ao fraccionamento da gota e por consequência aos fenómenos de deriva ou escorrimento que podem ocorrer. Na aplicação de herbicidas a pressão deve situar-se entre os 2 e os 4 bar. Aos fabricantes de pulverizadores fica desde já o desafio de passarem a lançar para o mercado manómetros limitados aos 10 bar. Os actuais (40 ou 80 bar) não permitem determinar com precisão pressões iguais ou inferiores a 4 bar. No caso de agricultores que necessitem de um equipamento misto para aplicação de herbicidas em culturas extensivas, e de insecticidas ou fungicidas com auxílio de “lança” (em castanheiros por exemplo), um esquema de distribuição da calda em “T” com torneiras e dois manómetros, um de 10 bar e outro de 40 bar, podem resolver de forma eficaz e económica a situação. 3) Quantidade de produto a aplicar/ha Devem ser respeitadas as indicações do fabricante tendo em conta que em muitos casos as doses variam em função das infestantes a combater ou das condições atmosféricas no momento da aplicação. 4) Volume de calda a aplicar É presentemente o maior desafio que se coloca ao aplicador de herbicidas. A título de exemplo, refira-se que uma seara de cereal em pleno desenvolvimento tem em média uma capacidade de retenção de água (sem escorrimento) de apenas 400 litros/ ha. Seguramente, as infestantes que combatemos numa fase muito precoce (3 ou 4 folhas) não conseguirão reter para além de 100 litros/ha. Altos volumes na aplicação de fitossanitários têm como consequência enormes perdas por escorrimento, potencial contaminação de aquíferos subterrâneos e de superfície, e uma real perda de eficácia dos mesmos. Se pretendermos aplicar 0,5 litros/ha de uma determinada especialidade fitofarmacêutica, e o fizermos com um volume de 100 litros/ha, a concentração do mesmo na calda é de 0,5%, enquanto que se o fizermos num volume de 600 litros/ha a concentração baixa para os 0,08%. Então, se perdemos produto por escorrimento e/ou deriva, e a concentração de substância activa que fica efectivamente em contacto com o alvo é muito débil, teremos seguramente uma quebra de eficácia! A determinação do volume de calda a aplicar por ha deve ser calculada em função do número de impactos que pretendemos obter por cm2, o qual varia segundo o tipo de fitofármaco que utilizamos: Produtos sistémicos: 20 a 30 impactos por cm2; Produtos de contacto: 50 a 70 impactos por cm2. A determinação do número de impactos bem como da sua uniformidade pode ser facilmente visualizada recorrendo ao auxílio de papel hidrosensível. Normalmente, um volume de 150 a 200 litros de calda/ha permite atingir o objectivo, no que diz respeito ao volume de calda. A título informativo, relembramos que a média francesa em

VER > Para mais informações, ou se pretender determinar o volume de calda a aplicar por hectare em função da pressão utilizada, velocidade de avanço do tractor e bicos utilizados (norma ISO), consulte a seguinte página na web: http://www.lusosem.pt/mediaRep/lusosem/files/destaques/LI_700_Calculos_Debitos.xls


com adjuvantes

sem adjuvantes

grande culturas é presentemente de 140 litros de calda/ha, em herbicidas, e 200 litros de calda/ha em insecticidas e fungicidas. Qualidade da água que serve de suporte à elaboração da calda. Numa aplicação de herbicidas a água não é mais do que um “veículo” destinado a fazer chegar a substância activa ao “alvo”, e em regra não é um meio “conservante”. Podemos afirmar que a generalidade das águas utilizadas em pulverização é de reacção alcalina, mas nem mesmo as de reacção neutra (pH 7) são um meio favorável à aplicação de herbicidas. No nosso quotidiano, podemos depararmo-nos com diversos produtos com longos períodos de conservação e que têm por base um meio ácido (caso dos refrigerantes do tipo cola com um pH 2,5). Por outro lado, a hidrólise alcalina está na base do processo de saponificação de gorduras para a produção de sabão (meio alcalino). Também não será “por acaso” que o melhor produto (N.R. Phytnet ) do mercado para a limpeza de pulverizadores tem por base o amoníaco (pH 11,5) como princípio activo e agente sequestrante de moléculas. Poderemos, assim, dizer de um modo genérico, que os meios ácidos são “conservantes” e os meios alcalinos “desagregadores”. Na aplicação de herbicidas a primeira preocupação a ter é a de baixar o pH da água que servirá de base à calda, e só depois deveremos juntar o produto comercial destinado ao combate das infestantes. A acidificação de caldas destinadas a fungicidas e insecticidas não é uma prática recomendada! ■

CONSIDERAÇÕES FINAIS >

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A aplicação de fitofármacos deve ser alvo dos mesmos cuidados e preocupações que levam o empresário agrícola a escolher uma determinada semente, um determinado esquema de fertilização, um determinado fungicida ou herbicida. Para o ajudar a obter o máximo rendimento da sua aplicação deverá procurar no mercado adjuvantes com base em lecitina de soja e ácido propiónico, para associação com as suas aplicações de herbicidas ou reguladores de crescimento; e contendo látex sintético para juntar às aplicações de fungicidas e insecticidas.

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Texto: Fátima Mariano

HAVERÁ AGRICULTURA PARA LÁ DE 2013?


“Haverá agricultura para lá de 2013?”

N

uma altura em que a Comissão Europeia se prepara para iniciar o debate sobre a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) pós-2013, em Portugal, são cada vez mais as vozes que se queixam da asfixia do sector agro-alimentar e reclamam maiores apoios. Com o país mergulhado numa grave crise económica, os produtores, a indústria e a distribuição alimentar acreditam que este sector pode contribuir para o equilíbrio das contas nacionais. Apesar de enfraquecido. O Recenseamento Geral Agrícola de 2009, divulgado em Maio deste ano, traça um quadro cinzento do sector agrícola português. A área ocupada pela produção agrícola recuou meio milhão de hectares em 10 anos; desapareceram 112 mil explorações agrícolas no mesmo período e existem actualmente menos 1,4 milhões de cabeças de gado do que em 2009, para não falar nos recuos nas culturas industriais e da produção dos frutos frescos tradicionais. Contudo, apesar deste retrato de contornos esbatidos e do agravamento da situação económica do país, há quem continue a defender que o sector agrícola “tem que desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento da nossa economia e na manutenção da coesão do território nacional”. Luís Vasconcellos e Souza, presidente da Anpromis – Associação Nacional de Promotores de Milho e Sorgo, socorre-se dos dados mais recentes da Autoridade de Gestão do PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural) para sustentar a sua posição: no último concurso do PRODER foram apresentadas 1487 candidaturas, que superam os 900 milhões de euros. “Estes dados traduzem de forma inequívoca a predisposição dos agricultores portugueses em investirem no país e na sua agricultura, sendo, no entanto, fundamental o Estado garantir os recursos financeiros necessários à plena utilização dos fundos comunitários disponibilizados pelo PRODER”, alerta. O Presidente da República deixou esse mesmo aviso no discurso que proferiu nas cerimónias de comemoração do Dia de Portugal, a 10 de Junho, em Castelo Branco. Cavaco Silva referiu que “redescobrir o valor do interior e do espaço rural é um imperativo de portugalidade”, chamando a atenção para a necessidade de “desenvolver um programa de repovoamento agrário do interior, criando oportunidades de sucesso para jovens agricultores”. Mais: tendo consciência de que o país não pode ser auto-suficiente em matéria alimentar, Cavaco Silva não aceita os actuais níveis de produção, nem que os gastos com a importação (seis mil milhões de euros anuais) sejam o dobro dos gastos com a exportação de bens agrícolas. Fernando Cardoso, secretário-geral da Fenalac – Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite, atribui parte da responsabilidade à “moderna Distribuição, que não reconhece esta

LUÍS VASCONCELLOS E SOUZA Presidente da Anpromis (Associação Nacional de Promotores de Milho e Sorgo) realidade e continua a impor condições comerciais baseadas apenas nos seus critérios de lucro próprio”. Segundo este responsável, “a estratégia da Distribuição em privilegiar as suas marcas próprias levou a uma alteração das suas fontes de abastecimento baseadas nas importações, essencialmente a baixo custo e com preços de venda ao público frequentemente inexplicáveis tendo em atenção os custos correntes dos produtos”. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, a importação de produtos lácteos (leite, iogurtes e queijo) aumentou em valor 33% nos últimos anos, como mostra a Tabela 1. Fernando Cardoso explica que “em diversas situações, as importações tratam-se de excedentes de países com elevadas produções e, por isso, não representativos dos custos médios nesses mesmos mercados”. De acordo com um estudo publicado pela Autoridade da Concorrência, em Julho de 2010, a representatividade dos grandes grupos retalhistas no valor global do comércio a retalho cresceu de 77,4% em 2002 para 83,5% em 2008. Este crescimento provocou um reforço do grau de concentração destes grupos nos mercados de aprovisionamento e de venda a retalho, ainda segundo o mesmo documento.

DISTRIBUIÇÃO RECLAMA PRODUÇÃO MAIS ORGANIZADA Ana Trigo Morais, directora-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), refuta as críticas, referindo que “há inúmeros exemplos de colaboração entre a distribuição e produtores agrícolas e fornecedores de produtos alimentares” e um “esforço grande da parte da distribuição para comercializar produtos regionais, em especial os de origem protegida”. Isto apesar das dificuldades que “algumas vezes” a produção tem para abastecer a distribuição, pelo facto de “não estar organizada suficientemente para atingir a capacidade de abastecimento necessária pela distribuição e cumprir de regras relacionadas com a segurança alimentar”. A distribuição alimentar (que representa 9% do PIB) reclama uma produção mais organizada e de maior dimensão, de forma a que a sazonalidade não afecte o sector. Ou seja, que os produtos agroalimentares estejam disponíveis ao longo de todo o ano, evitando grandes oscilações nos preços de venda ao consumidor e o recurso à

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A A G R I C U L T U R A V I S T A P O R. . .

ANA TRIGO MORAIS Directora-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição)

importação. Algo já conseguido pelos produtores de pêra rocha do Oeste, por exemplo, que conseguem fornecer a distribuição 10 meses por ano, produzindo anualmente cerca de 200 mil toneladas. Apenas menos de metade é consumida no país. No programa Prós e Contras, transmitido pelo canal 1 da RTP no dia 19 de Setembro, Francisco Avillez, professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia, referiu que “culturalmente, somos profundamente individualistas e durante muitos anos fomos desencentivados a organizarmo-nos”, para justificar a falta de coordenação ao nível da produção, e alertou para o facto de irmos “ser obrigados a ultrapassar isto”. A própria ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas (CDS), assumiu já publicamente que uma das prioridades do governo é “ajudar organizar melhor a produção para ganharem massa crítica” e sentar à mesma mesa produtores, indústria e distribuidores. 2006

2007

2008

Leite 111 117 221 (1000 ton) Leite (M €) 73 112 155 Lácteos* 282 292 371 (1000 ton) Lácteos* 318 384 429 (M €) Produção nacional 1.832 1848 1868 Leite (1000 ton) *Leite, Iogurtes e Queijo Fonte: INE

2009

2010

10/06

228

190

+71%

127

130

+78%

421

348

+24%

435

422

+33%

1845

1808

-24

Tabela 1 - Evolução da importação de produtos lácteos

Na segunda convenção social-democrata do distrito de Setúbal, dedicada às actividades relacionadas com o campo e o mar, que se realizou em Santiago do Cacém no dia 8 de Outubro, Assunção Cristas defendeu que o crescimento da produção tem de ser acompanhado de uma organização do sector produtivo, acrescentando que é também importante “encontrar mecanismos para calibrar as relações entre a produção, a indústria e a distribuição”. A própria Comissão Europeia já deu nota de que “a assimetria do poder de negociação tem fomentado um certa reorganização” dos produtores agrícolas, nomeadamente “através da constituição de agrupamentos de produtores e cooperativas”. A Fenalac, federação composta por quatro organizações cooperativas (Agros, Proleite, Lacticoop e Serraleite), confirma que “a estratégia para contornar a crise tem passado por uma gestão prudente e rigorosa e pela manutenção de um espírito de união e de solidariedade que caracteriza o sector cooperativo”.

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FERNANDO CARDOSO Secretário-geral da Fenalac (Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite)

REGULAÇÃO PRECISA-SE? Para João Dinis, da Confederação Nacional de Agricultores (CNA), em Portugal, “é o agro-negócio que dita as suas regras”, enquanto Luís Saldanha Miranda, presidente Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural, salienta a dificuldade que os produtores têm em aceder aos mercados, o estrangulamento do sector por parte das grandes superfícies e o não pagamento do valor justo pelos produtos produzidos. A Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA) tem vindo a defender a revisão da legislação relativamente às práticas comerciais e a reclamar um acesso “equilibrado” às prateleiras dos hipermercados que permita ultrapassar as desvantagens face às chamadas marcas brancas, com preços mais baixos ao consumidor. A APED refuta também este ponto. “Qualquer consumidor sabe que são frequentes as feiras temáticas de produtos regionais nos super e hipermercados”, afirma Ana Trigo Morais. “Há um esforço grande da parte da distribuição para comercializar produtos regionais, em especial os de origem protegida, na sequência da procura sentida pelos consumidores”. Como exemplo, aponta a campanha “Compro o que é Nosso”, lançada pela Associação Empresarial de Portugal, cujo objectivo é sensibilizar o consumidor para o consumo de marcas de origem portuguesa. “Os nossos associados estão muito empenhados nesta campanha e têm contribuído para a identificação da origem nacional dos produtos junto dos consumidores”. Firmino Cordeiro, presidente da Associação de Jovens Agricultores, considera imperativa a existência de “um mecanismo regulador como há noutros sectores de actividade”. Fernando Cardoso, da Fenalac, defende que “a promoção da produção nacional passa pela regulação do relacionamento entre operadores e Grande Distribuição, através da definição de normas e regras de conduta e do estabelecimento de políticas públicas que estimulem o investimento”. Luís Capoulas Santos, antigo ministro da Agricultura do PS e actualmente eurodeputado, admite que “a desproporção de forças entre o sector da produção, altamente atomizado, e da distribuição, super concentrado, dita uma relação desigual que as normas de concorrência não têm sabido equilibrar”. Num inquérito realizado em Maio deste ano pelo Eurobarómetro sobre a Política Agrícola Comum (PAC), 91% dos agricultores portugueses defenderam que a União Europeia deve incentivar os mercados locais e os canais de distribuição que permitam que os produtos agro-alimentares estejam rapidamente disponíveis aos consumidores. Quanto a uma eventual introdução de um tecto máximo aos subsídios atribuídos aos agricultores no âmbito da PAC, 45% responderam positivamente, argumentando que as grandes explorações agrícolas não necessitam de pagamentos directos tão elevados, mas continuariam a beneficiar destes. Quase 70% consideram que o nome dos beneficiários e o valor exacto que lhes é atribuído deveria


ser tornado público. O eurodeputado socialista refere que “estão em curso algumas iniciativas no plano europeu”, nomeadamente no sentido de introdução de esquemas de contratualização ou de apoio ao reforço das organizações de produtores, mas reconhece que “ou estão apenas no início da discussão, ou são ineficientes face à lógica do mercado que tem imperado nas escolhas políticas dos cidadãos europeus”.

por exemplo, que os agricultores portugueses recebam menos apoios que os seus concorrentes directos. Os dados da União Europeia mostram que os produtores nacionais recebem 179 euros por hectare (a média europeia situa-se nos 271 euros), os franceses recebem 300 euros (mais 68%) e os espanhóis 246 euros (mais 37%).

RESERVAS ALIMENTARES

LUÍS CAPOULAS SANTOS Eurodeputado

PAC PÓS-2013 Capoulas Santos recorda que a Comissão Europeia apresentou já as suas propostas financeiras no âmbito da discussão, “que será certamente difícil”, relativamente à reforma da Política Agrícola Comum (PAC) para o período após 2013. As medidas de apoio ao sector para o período 2014/2020 só ficarão definidas no final do próximo ano, mas as informações já divulgadas têm feito correr muita tinta. Num relatório intitulado “Avaliação da Reforma da Política Agrícola na União Europeia”, divulgado no início de Outubro, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) refere que os apoios directos aos agricultores deverão descer para os 27% do total do orçamento destinado à agricultura e ao desenvolvimento rural em 2012. Só no ano passado, a União Europeia investiu 58,2 biliões de euros neste sector. As informações já disponibilizadas pela Comissão Europeia a propósito das novas regras da PAC pós2013 indicam que haverá uma menor aposta nas produções mediterrâneas (como o vinho, as hortícolas, a fruta, a batata e o olival) a favor dos cereais, da leite e da carne. Os produtores reclamam uma atitude firme do Estado na defesa dos interesses nacionais perante os parceiros europeus. Para evitar,

Paralelamente a todas estas questões, há duas outras que preocupam todos os actores do sector agro-alimentar, governo e consumidores: a do défice da balança comercial e a das reservas alimentares. Os portugueses estão cada vez mais dependentes das importações para comerem, mesmo em produtos como a batata de conservação (53%), a cebola de consumo (8%) e o tomate (6%). A batata e o tomate constam da lista de produtos onde houve maiores recuos na última década, ainda de acordo com o Recenseamento Geral Agrícola 2009. Em Janeiro deste ano, o Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-alimentares alertava para o facto de os portugueses estarem “dependentes do estrangeiro para comerem e, por isso, […] vulneráveis a uma escalada dos preços das matérias-primas alimentares”. Os cereais são apenas um dos exemplos. Luís Vanconcellos e Souza, presidente da Anpromis, refere que “a acentuada volatilidade dos preços dos cereais, que se tem acentuado nos últimos meses, coloca indubitavelmente entraves à concretização de investimentos por parte das empresas agrícolas”. De acordo com o INE, Portugal possui um grau de auto-aprovisionamento em cereais de cerca de 21% (no caso específico do milho são 32%). O país produz 632 mil toneladas de milho, mas os portugueses consomem um total de 1,984 milhões de toneladas deste cereal. “Tendo em conta as condições de produção extremamente favoráveis que o nosso país apresenta para a produção do milho, e como possuímos bastantes produtores dos mais competitivos do mundo, julgamos ser fácil aumentar significativamente o nosso grau de auto-abastecimento neste cereal”, afirma o mesmo responsável, acrescentado que este é “o principal cereal semeado em Portugal”. Tanto mais que na última campanha agrícola se verificou um aumento a área de cultivo do milho de grão de 6158 hectares e uma redução de 1235 hectares no caso do milho para silagem, “a que não é alheia a crise vivida actualmente no sector leiteiro nacional”. Numa exploração pecuária, os custos com a alimentação dos animais podem representar entre 50% a 70% do custo total de produção. A despesa com a electricidade é outro dos factores de produção que sofreu, e vai voltar a sofrer, um forte agravamento, não tendo qualquer destes custos sido reflectidos no preço pago à produção.

Arroz Cevada

Milho

Sorgo

Trigo mole e duro ha 58.904 51.025 39.532

ha ha ha ha 2009 27.871 39.050 136.408 6.166 2010 28.992 20.324 132.488 6.691 2011* 31.191 16.199 137.411 6.170 Dif. 2.199 -4.125 4.923 -521 -11.493 2010/2011 (Fonte: IFAP e DRACA) * dados provisórios

Total cereais ha 371.730 356.657 336.317 -20.340

Tabela 2 - Evolução da produção de cereais em Portugal nos últimos 3 anos

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A A G R I C U L T U R A V I S T A P O R. . .

Dados do INE referem que o défice comercial no sector agroalimentar português aumentou 23,7% entre 1999 e 2009, totalizando 3,3 mil milhões de euros. Apesar de as exportações terem crescido mais de 100%, as importações também subiram mais de 50% e representam quase o dobro dos produtos que são exportados. Capoulas Santos considera que “há sectores com potencial de crescimento, dependendo da existência de estímulos e da capacidade de modernização de infra-estruturas, como sejam os regadios, as electrificações, os caminhos agrícolas e os equipamentos. Tem vindo a ser desenvolvido um grande esforço de modernização desde a nossa adesão à União Europeia”. Contudo, lembra, “fazer o ajustamento estrutural da nossa agricultura não é, infelizmente, uma tarefa a curto prazo”.

JOVENS PRECISAM-SE Não bastam apoios estatais ou europeus para que o sector agroalimentar possa fortalecer-se e ajudar o país a sair da crise económica. É imperativo que continue a existir quem queira apostar no sector e que a mão-de-obra rejuvenesça. Dados do Recenseamento Geral Agrícola de 2009 mostram que 48% dos agricultores portugueses têm mais de 65 anos, contra os 27% da média da União Europeia. Apenas 2,5% tinham menos de 35 anos, enquanto que na Europa rondam os 7%, segundo informações do Conselho Europeu de Jovens Agricultores. Consciente desta realidade, o Presidente da República apelou, num artigo de opinião publicado no semanário “Expresso”, no dia 10 de Junho deste ano, à abertura de um espaço de diálogo permanente entre os jovens agricultores e o Governo. “Nunca, como hoje, foi tão necessário interessar os jovens portugueses nas actividades do sector agrário”, escreveu, chamando a atenção para o facto de que “só eles poderão alavancar e apressar o salto qualitativo de que a nossa agricultura necessita para poder contribuir de forma muito significativa para atenuar a crise em que vivemos”.

LUÍS SALDANHA MIRANDA presidente da Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural Os jovens portugueses mostram que estão interessados em investir neste sector. “Há uma nova geração empreendedora com óptimos exemplos nas diversas áreas e em diversas regiões”, garante Luís Saldanha Miranda, presidente da Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural. A questão, acrescenta, é que “há, em Portugal, uma imagem do sector demasiado estereotipada, fundamentada essencialmente nos aspectos negativos, que tem contribuído para que se valorize pouco o que se faz bem e as potencialidades que este sector tem”. Dessa imagem estereotipada, Luís Saldanha Miranda salienta “o facto de se considerar que os rendimentos auferidos neste sector são menos atractivos e que trabalhar na agricultura é algo menos dignificante”. Mesmo assim, há muitos jovens que

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não desistem de trabalhar a terra. Precisam apenas de incentivos e de condições para desenvolverem os seus projectos. Luís Saldanha Miranda reivindica um “maior envolvimento autárquico na fixação dos jovens agricultores nas zonas do interior”, cada vez mais desertificadas, envelhecidas e sem equipamentos. “É preciso que não sejam fechados equipamentos sociais, creches, escolas e centros de saúde mas regiões do interior pois criam a sensação de abandono em quem se quer instalar nas zonas rurais”, alerta. Por outro lado, acrescenta, deve ser facilitado o acesso à terra a quem quer desenvolver actividade nesta e não tem condições para a obter. “Desde 2005 que defendemos que as terras abandonadas devem estar disponíveis no mercado, pelo que deveriam ter um imposto crescente quando abandonadas. Deste modo, poderia trabalhar-se no projecto de constituição de um Banco de Terras”.

PARA QUANDO UM BANCO DE TERRAS NACIONAL? A ideia da criação de um Banco de Terras chegou a ser acarinhada pelo anterior ministro da Agricultura, António Serrano, mas nunca passou disso mesmo: uma ideia. Em Agosto, o novo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural considerou que “a terra é um valor estável e concreto”. Tratando-se de um “cofre” que o país tem à disposição, Daniel Campelo frisou que “apenas é preciso saber aproveitá-lo”. No mês seguinte, a ministra da Agricultura revelou que o Governo está a ponderar a criação de estímulos para incentivar a utilização das terras. “Com a actualização do cadastro rural, será possível criar estímulos para que as pessoas aproveitem as terras, sejam agrícolas, sejam de floresta”, referiu Assunção Cristas, à margem da sessão de abertura da Conferência Internacional da Floresta. “Em caso de não terem propensão para as aproveitar – porque muitas vezes as pessoas herdam as terras e nem sequer sabem onde elas estão –, o simples facto de terem um ónus fiscal sobre isso leva a poderem dispor dessas terras para um banco de terras”. Enquanto o Governo não oficializa a criação do Banco de Terras Nacionais, há municípios que já o fazem, como são os casos de Montemor-o-Novo, Paços de Ferreira e Cabeceiras de Basto. Em Julho deste ano foi criada uma comunidade no Facebook designada “Banco de Terra Portugal” que conta já com mais de mil seguidores. Mais um sinal de que, de facto, ainda há quem não queira deixar morrer a agricultura portuguesa.

FÁTIMA MARIANO



A PIC U L T U RA / C R Ó N IC A S

O MEL E O MILHO VÃO A TRIBUNAL A

decisão1 do Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) anunciada no passado dia 6 de Setembro de 2011 sobre mel que contenha pólen transgénico pode trazer profundas implicações para o futuro do cultivo de milho transgénico em Portugal. O caso começou em 2005 quando um apicultor alemão verificou através de análises laboratoriais que o seu mel apresentava pólen proveniente de milho geneticamente modificado MON 810 da Monsanto, cultivado a cerca de 500 m das colmeias. Sen-

ingrediente derivado do milho original, e como tal a sua comercialização está sujeita a autorização prévia. Essa obrigatoriedade de autorização prévia aplica-se qualquer que seja a quantidade do ingrediente: mesmo que o pólen em causa esteja presente no mel em quantidades pequeníssimas ou até vestigiais, ainda assim ela é necessária. O problema é: o pólen proveniente de milho GM não está autorizado na União Europeia. E isso torna ilegal a venda e consumo de todo o mel em que ele esteja pre-

para a Saúde e a Defesa do Consumidor, John Dalli, em comentário a estes desenvolvimentos, os Estados-Membros deverão definir regras de coexistência para contemplar a nova realidade legal. Portugal é um dos países que já publicou tais regras 2 , aplicadas desde 2006. Mas a apicultura em geral e a contaminação do mel em particular não foram objecto de consideração por parte do legislador. Face a tal omissão e considerando que, de acordo com Sabugosa-Madeira et al3 . uma abelha pode abranger zonas distantes 12 km e uma única colmeia pode colher pólen de uma área de mais de 100 km 2 , será difícil que apicultores e agricultores de milho GM se

Mas em Portugal, país de brandos costumes, não seria a primeira vez que se optaria pelo método da Bela Adormecida.

tindo-se prejudicado, o apicultor apelou ao tribunal administrativo – que veio então solicitar algumas clarificações ao TEJ. O resultado vem pôr em causa o que tem sido prática corrente nesta área. De acordo com o TEJ, o pólen proveniente de milho geneticamente modificado (GM) não é ele próprio GM, uma vez que perdeu a capacidade de se reproduzir. No entanto é classificado como sendo produzido "a partir de milho GM", ou seja, é considerado um

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sente. Esta nova realidade abre a porta a múltiplas queixas judiciais (e respectivas compensações financeiras) e põe em causa a apicultura em zonas de cultivo de milho GM... ou põe em causa o cultivo de milho GM em zonas onde haja apicultura. O futuro se encarregará de esclarecer exactamente quem vai sobreviver. Uma questão parece certa: pode demorar anos até que a autorização ao pólen GM venha a ser acordada. Até lá, e segundo o Comissário Europeu

venham a entender e encontrar uma solução mutuamente confortável. Talvez o futuro venha a revelar uma terceira via: se ninguém testar, ninguém se vai aborrecer. Neste caso, o consumidor será penalizado e a legislação será atropelada. Mas em Portugal, país de brandos costumes, não seria a primeira vez que se optaria pelo método da Bela Adormecida.

LAURA DUARTE CARVALHO

1 O caso é “Bablok e outros vs. o Estado da Baviera”, envolve também a Monsanto, e está disponível em : http://curia.europa.eu/jurisp/cgi-bin/form.pl?lang=EN&Submit=Submit&numaff=C-442/09 2 Decreto-Lei 160/2005, de 21 de Setembro 3 Journal of Apicultural Research 46(1):57–58, 2007


A PIC U L T U RA DESTAQUE UMA NOVA E GRAVE DOENÇA DAS ABELHAS: A NOSEMOSE ASIÁTICA OU TIPO C

ABELHAS DE SALAMANCA VOAM COM MICROCHIP

Durante anos, uma das doenças a que os apicultores davam grande importância era à Nosemose, doença causada pelo Nosema apis e que era bem evidente na Primavera e no Outono com o aparecimento de manchas de fezes das abelhas sobre o estrado e entrada da colmeia. Na altura, os apicultores usavam e abusavam de um antibiótico célebre, a fumagilina, apresentada como Fumidil B, hoje em dia não homologado em Portugal para o uso apícola por falta de regulamentação europeia sobre os limites máximos admissíveis de resíduos deste antibiótico no mel. E como a nosemose era uma doença relativamente benigna e fácil de controlar desde que os apiários estivessem bem localizados (em locais bem expostos e secos) e as colónias mantidas fortes, esta não tem sido uma preocupação para a apicultura. Porém, foi recentemente confirmada em Portugal uma nova nosemose, neste caso a nosemose asiática ou tipo C, provocada pelo Nosema ceranae, e que, tal como o ácaro Varroa terá passado das abelhas Apis ceranae – nas quais não era uma doença grave – para as nossas abelhas europeias, muito susceptíveis a esta doença. Não se sabe ao certo qual a data precisa em que terá aparecido na Europa, porém, desde 2005 que está identificada em Espanha, e a sua presença está, até ao momento, pelo menos confirmada por testes genéticos na zona de Trás-os-Montes. Contudo, presume-se que a sua difusão em território nacional seja muito maior. Ao contrário da nosemose, a nosemose asiática não apresenta uma sintomatologia clara (como diarreia), manifestando-se em qualquer altura do ano, especialmente se as colónias sofrerem algum stress que afecta directamente o seu sistema imunitário. Aparentemente, poderá provocar uma elevada mortalidade mas esta é discreta, pois as abelhas morrem no campo, não sendo visíveis os cadáveres no interior ou entrada da colmeia. Esta doença provocará, também, uma alteração do comportamento social das abelhas, modificando a repartição do trabalho e, com isto, uma redução da colheita, da higiene e até da postura das mestras. Segundo alguns autores, esta doença (que tem actuado silenciosamente) poderá estar a provocar perdas superiores às que actualmente são causadas pela varoose, suportando este ácaro a “culpa” por mortalidade que na verdade se deve à nosemose asiática, e ser um dos principais responsáveis pelo misterioso Síndroma do Colapso das Colónias (“Colony Collapse Disorder”). Como no caso de todas as doenças, antes de se tratar há que fazer o seu diagnóstico, o que só pode ser feito com recurso a testes laboratoriais, pelo que, em caso de suspeita, amostras de abelhas devem, como habitualmente, ser encaminhadas para o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV). Como a fumagilina não está homologada para o tratamento desta doença – embora seja eficaz – há que contrariar o ciclo da doença, evitando que as abelhas sofram stress alimentar ou outras perturbações e as mestras devem ser sempre renovadas. A HiFarmax apresenta no mercado o suplemento “vitafeed Gold”, que publicita como apresentando alguma protecção contra a nosemose, porém, muito pouco se sabe ainda sobre esta nova doença e sobre os meios efectivamente eficazes de a controlar e combater.

O objectivo é medir o seu índice de mortalidade. A província de Salamanca acolhe um projecto pioneiro em Espanha que consiste na colocação de um microchip numa população representativa de abelhas, a fim de estudar o seu elevado índice de mortalidade, num fenómeno conhecido como Síndroma do Colapso das Colónias. A investigação irá ser feita numa colaboração da Associação de Apicultores de Salamanca com laboratórios de Granada. Segundo as informações veiculadas, as abelhas seleccionadas terão um microchip na parte do tórax que permitirá a transmissão de dados diários. O microchip é rectangular, mede 2 mm de comprimento e 1,5 mm de largura, e sem fios transmite a um dispositivo situado na entrada colmeia o número de vezes que a abelha entra e sai. O Síndroma do Colapso das Colónias tem sido responsável em todo o mundo pela grande redução do número de colónias e é uma ameaça para a apicultura. Este sindroma, de causa ainda não totalmente esclarecida, leva a que as que abelhas morram precocemente por esgotamento, havendo registos de anos recentes em que morreram mais de 30% das colónias. As colónias experimentais serão testadas durante um ou dois anos e serão submetidas a provas de stress, mediante a colocação de cera limpa e cera contaminada no interior das colmeias. Outro dos objectivos do estudo é acabar com o efeito devastador do ácaro denominado “Varroa destructor”, capaz de se introduzir nos alvéolos dos favos. Segundo os apicultores da região, quando a rainha deposita os ovos nos alvéolos dos favos, o “varroa” introduz-se neles antes que a abelha os feche com cera. Passados 21 dias, na altura do nascimento das crias, estes ácaros, que se alimentaram das larvas, levaram ao aparecimento de malformações ao nível das patas e das asas, nascendo as abelhas obreiras incapazes para o trabalho de campo.

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A PIC U L T U RA

Selecção natural de abelhas, selecção artificial de um ácaro, e a preservação de raças desfavorecidas na luta pela sobrevivência

A

s abelhas (Apis mellifera) eram um dos modelos centrais dos estudos de Darwin1 e Mendel2, mas em ambos os casos vieram a proporcionar resultados decepcionantes. Surpreendentemente, nos últimos 30 anos voltaram a merecer as luzes da ribalta. A grande diversidade genética tem sido cada vez mais explorada através do processo de selecção artificial e de reprodução em laboratório. Nos primeiros anos da década de 60 do século passado, algumas colónias de abelhas europeias (Apis mellifera) foram colocadas nas proximidades de colónias de abelhas orientais (Apis cerana). Como consequência, o ácaro ectoparasita Varroa destructor pôde passar de uma espécie para a outra. A abelha oriental parece

tolerar o ácaro, uma vez que, habitualmente, este não resulta na morte das colónias. Pelo contrário, quando as estirpes europeias são infectadas pelo mesmo ácaro, a morte acaba por chegar em menos de dois anos. A disseminação do ácaro foi muito rápida e todos os anos foram surgindo (e ainda surgem) novos relatórios do seu avanço em todo o mundo. Em 1970, chegou à Europa de Leste1 e América do Sul, em 1982 à França3, em 1984 em Espanha, Suíça e Itália. Em 1987, alcançou os Estados Unidos e Portugal4,5. Desde a década de 90 que o ácaro entrou em praticamente todos os territórios onde existem abelhas, registando-se uma invasão algo mais lenta em territórios isolados como as ilhas. Esta tão bem fundamentada disseminação permitiu que os apicultores de cada país se preparassem para a sua chegada, pelo que

Por: Bernardo Madeira

puderam, numa primeira abordagem, recorrer a acaricidas para tratar as suas colónias. O desaparecimento de enxames silvestres foi quase completo e, de modo geral, foi considerado que as raças de abelhas europeias não possuiam meios de resistir à invasão e que a preservação da espécie apenas poderia ser feita com a ajuda do Homem. Neste contexto, tiveram início campanhas de tratamento que inicialmente recorreram à substância piretróide “Fluvalinato” que se mostrou muito eficaz. Todavia, em meados dos anos 90, cientistas anunciaram que em algumas regiões esse pesticida deixara de ser eficaz, uma vez que o ácaro havia adquirido resistências6,7. Recentemente, uma equipa de investigadores concluiu que, desde o primeiro grande impacto da doença, subsistem ainda na natureza alguns enxames tal como em apiários que não foram alvo de tratamentos8,9. Estas colónias não se limitam a resistir durante muitos anos, como se reproduzem rapidamente, dando origem a novos enxames. Estas conclusões puderam ser observadas na natureza e também experimentalmente10. Fries et al. (2006) apuraram que a mortalidade das colónias intencionalmente infectadas e não tratadas diminuiu ao longo de 6 anos de 76% (por ano) para um valor muito baixo de

O desaparecimento de enxames silvestres foi quase completo e, de modo geral, foi considerado que as raças de abelhas europeias não possuiam meios de resistir à invasão e que a preservação da espécie apenas poderia ser feita com a a juda do Homem.

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> O Foto: capped_ones_are_future_workers_FOTO morguefile <


0,2%. Estes resultados não são tão surpreendentes se tivermos em conta que as abelhas africanas (subespécie da Apis mellifera) possuem traços fisiológicos e comportamentais que as tornam tolerantes ao ácaro. Tal significa que o mecanismo de resistência está presente no código genético das abelhas e que a selecção natural permitiu a sobrevivência dos enxames melhor preparados. Em conclusão, encontramos evidências que as abelhas podem sobreviver sem intervenção do Homem (todos os problemas foram, aliás, por ele provocados). Presentemente, os seres humanos estão, com o seu uso abusivo de acaricidas, ironicamente envolvidos na selecção artificial das linhagens resistentes dos ácaros e na manutenção das variedades de abelhas “não-resistentes”. O mais surpreendente, nesta história ainda inacabada, é que tudo se desenvolveu de uma forma muito rápida e veio a resultar exactamente como referiam as teorias das leis evolucionistas. Afinal, as abelhas podem ser um modelo darwiniano a considerar!

NOTAS

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1 Darwin, C. R. 1872. “The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life”. London: John Murray. 6.a edição. 2 Vecerek, O. (1965). “Johann Gregor Mendel as a beekeeper”. Bee World 43(3):86-96. 3 Colin, M. E., 1982. “Varroa infection ». Point Veterinaire 14: 21–28. 4 Gomez Pa juelo A., 1988. « Situation of the varroatosis in Spain and Portugal. Present status of varroatosis in Europe and progress in the Varroa mite control”. In: Cavalloro, R. (Ed.), Proc. Meet. EC Experts’ Group, Udine, Italy, Balkema, Rotterdam, pp. 41–43. 5 Anonymous, “Varroa mites found in the United States”, Am. Bee J. 127 (1987) 745-746. 6 Baxter, J., Eischen, F., Pettis, J., Wilson, W. & Shimanuk, i. H. 1998. “Detection of fluvalinate-resistant Varroa mites in U.S. honey bees”. Am. Bee J., 138, 291. 7 Lodesani, M., Colombo, M. & Spreafico, M. 1995. “Ineffectiveness of Apistan treatment against the mite Varroa jacobsoni Oud. in several districts of Lombardy (Italy)”. Apidologie, 26, 67–72. 8 Le Conte, Y., Vaublanc, G., Crauser, D., Jeanne, F., Rousselle, J. & Bécard, J. 2007. « Honey bee colonies that have survived Varroa destructor”. Apidologie, 38, 566-572. 9 Seeley, T. D. (2007). "Honey bees of the Arnot Forest: a population of feral colonies persisting with Varroa destructor in the northeastern United States." Apidologie(38): 19-29. 10 Fries, I., Imdorf, A. & Rosenkranz, P. 2006. “Survival of mite infested (Varroa destructor) honey bee (Apis mellifera) colonies in a Nordic climate”. Apidologie, 37, 564-570.

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ENOLOGIA

Por: Bernardo Madeira / Fotos: Marta Jardim

QUINTA DA PACHECA lança “Vinha da Rita” e “Grande Reserva” 2009

E

m Lamego, a histórica Quinta da Pacheca, das mais antigas casas produtoras e engarrafadoras de vinho do Porto e vinho DOC Douro, colocou no mercado os seus mais recentes vinhos de mesa de elite, “Vinha da Rita” e “Grande Reserva”, ambos de 2009 e assinados pela Enóloga Maria Serpa Pimentel, uma das sócias e continuadoras. Tratam-se de vinhos riquíssimos em corpo e aromas com as bem vincadas características dos vinhos do Douro (a que se soma o esmero que fez destas colheitas reservas especiais). Todos os vinhos desta quinta são produzidos de forma tradicional, com pisa a pé, em lagares de pedra, desengaço parcial e estágio em barricas de carvalho. O vinho “Vinha da Rita” atinge no mercado um elevado preço por se tratar de uma colheita rara e preciosa, obtida numa histórica vinha correspondente ao único hectare da quinta que nunca foi replantado, obtendo-se assim uvas de excepcionais videiras centenárias das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e

Tinta Roriz. A Quinta, que se encontra desde 1903 nas mãos da família Serpa Pimentel, aproveitou recentemente a excepcional beleza das instalações e casa agrícola para abraçar um projecto enoturístico que incluiu a abertura de um dos mais prestigiosos hotéis rurais do país, onde a elegância, requinte e o bom gosto imperam. Tem 15 quartos, todos eles diferentes e com mobiliário original da casa bem como ricas antiguidades. O enoturista pode aqui desfrutar de momentos de grande tranquilidade e principalmente um acolhimento familiar, feito pelos próprios proprietários que não negam simpatia aos visitantes, especialmente o patriarca, D. José de Serpa Pimentel e sua filha Catarina, a quem estamos agradecidos pelo convite para visitar a quinta, provar seus vinhos e iguarias

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* http://www.wonderfulland.com/wonder2006/wine/pacheca/indexwine.htm


ACTUALIDADE / ENOLOGIA

AQUECIMENTO GLOBAL TORNARÁ VINHOS MAIS ALCOÓLICOS

As consequências do aquecimento global na indústria do vinho têm vindo a despertar o interesse geral, isto numa altura em que os produtores começaram a sofrer os seus efeitos e a aperceberemse dos potenciais perigos em que se podem ver envolvidos. Em eventos e estudos recentes realizados um pouco por todo o mundo, sucedem-se os alertas relacionados com o facto de os vinhos se estarem a tornar mais alcoólicos (o volume de álcool já aumentou, em alguns casos, de 10-11 para 14º C), terem um pH superior e menor acidez natural. Existe ainda o receio que alguns vinhos tintos possam vir a perder a sua cor e sabor e que outros vinhos brancos percam as características típicas da sua variedade de uva.

UVAS PROTEGEM CONTRA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA Segundo um estudo1 realizado por investigadores da Universidade de Barcelona e do CSIC (Conselho Superior Espanhol de Investigações Científicas), alguns compostos presentes nas uvas ajudam a proteger as células da pele da radiação ultravioleta do sol, razão pela qual deveriam ser usadas em produtos de protecção solar. Os raios ultravioleta (UV) emitidos pelo sol são a principal causa ambiental de doenças de pele, provocando cancro da pele, queimaduras e eritemas solares, bem como envelhecimento prematuro da derme e epiderme. Os UV actuam na pele, activando espécies reactivas de oxigénio (ERO), compostos que por sua vez oxidam macromoléculas como os lípidos e o ADN, estimulando determinadas reacções e actividades enzimáticas (JNK e p38MAPK), induzindo a morte celular. Os cientistas das duas instituições mostraram que algumas substâncias polifenólicas extraídas das uvas (f lavonóides) podem reduzir a formação de ERO nas células epidérmicas humanas expostas a radiação ultravioleta de onda longa (UVA) e média (UVB). O estudo, desenvolvido laboratorialmente in vitro, foi publicado no “Journal of Agricultural and Food Chemistry”, sugerindo que estes “resultados encorajadores deveriam ser tidos em consideração na farmacologia clínica que recorre a extractos polifenólicos de origem vegetal para o desenvolvimento de novos produtos de fotoprotecção da pele." 1

PESTICIDAS/VITICULTURA PESTICIDAS DA VINHA ASSOCIADOS A UM AUMENTO DA MORTALIDADE E INCIDÊNCIA DE DOENÇA DE PARKINSON

Um estudo do Observatório Regional de Saúde (França) agora divulgado conclui que há uma taxa de mortalidade acrescida nos trabalhadores rurais, especialmente no caso de vinhateiros. Um relatório do Conselho Regional Poitou-Charentes (região onde também é produzido o Cognac) revela que entre a população adulta há uma incidência acrescida de 29% da doença de Parkinson (29%) e 19% de linfomas, associados a trabalhadores agrícolas onde se aplicam muitos pesticidas, como é o caso da vinha. O estudo "Pesticides et Santé" comparou a mortalidade associada a certas patologias entre 2003 e 2007 e em quatro diferentes tipos de uso agrícola do solo (grandes culturas, pradarias, vinhas e florestas), evidenciando, também, que os trabalhadores f lorestais apresentam uma incidência menor em 10% da doença de Parkinson em relação à média dos restantes trabalhadores agrícolas.

“Protective Effect of Structurally Diverse Grape Procyanidin Fractions against UV-Induced Cell Damage and Death”

ENOLOGIA O REGRESSO DA CORTIÇA Natural e ecológica, a tradicional rolha de cortiça, que nos últimos tempos havia sido substítuída por rolhas de rosca um pouco por todo o mundo, está a registar actualmente um poderoso regresso e tudo, dizem, devido aos novos “snobs do vinho”. Uma boa notícia, portanto, para Portugal e para a sua indústria de cortiça, a principal produtora mundial deste produto. Investigação recente demonstrou que os apreciadores de vinho assumem que os vinhos com rolhas de cortiça natural são melhores, mostrando-se disponíveis para pagarem um pouco mais para os adquirir. O grande golpe para a indústria de cortiça deu-se em plena década de 90, quando se propagou a ideia de que os vinhos com rolhas deste material estariam a ser contaminados, começando-se a assistir à sua substituição pelas mais baratas rolhas de rosca. Mas o renascimento da cortiça está a acontecer, com as vendas a subirem notoriamente. Cerca de 70% dos produtores de vinho voltam a dar preferência à rolha tradicional, abandonando as versões de rosca ou de plástico. Só no ano passado, a indústria de cortiça nacional vendeu qualquer coisa como 3,2 bilhões de rolhas.

Fonte: TreeHugger

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AGRICULTURA TROPICAL

GIROLANDO Uma raça leiteira preparada

Por: Bernardo Madeira

para os trópicos

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o estado doméstico existem duas espécies bovinas: os bovinos de tipo europeu, da espécie Bos taurus e os bovinos da região tropical, típicos da índia, da espécie Bos indicus ou zebus. Embora sejam perfeitamente férteis entre si, estes dois tipos de bovinos apresentam algumas diferenças importantes, principalmente relacionadas com a adaptação às condições tropicais. Os zebus apresentam uma bossa, pernas altas, peles mais abundantes (barbelas que servem para dissipação do calor) e maior tolerância a doenças tropicais, tudo se traduzindo num mais eficiente controlo da temperatura e sobrevivência nas regiões quentes. As vacas holandesas são mundialmente conhecidas como as recordistas na produção de leite, porém, quando levadas para os trópicos, sofrem excessivamente com as elevadas temperaturas (o seu óptimo sem stress vai até aos 25 ºC), e a deficiente adaptação ao meio traduz-se numa menor produção de leite, menor fertilidade (maior intervalo entre partos), deficiente conversão de alimento e maior mortalidade. Deste modo, a criação de animais puros holandeses é mais custosa nos trópicos desde logo pelo facto de que exige que nas vacarias sejam instalados sistemas de refrigeração (ventiladores e nebulizadores). Em compensação, as raças zebuínas, apesar de bem adaptadas às condições tropicais, são fracas produtoras de leite (principalmente por falta de selecção).

BOS INDICUS (ZEBUS)

BOS TAURUS (VACA HOLANDESA)

GIROLANDO

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Por este motivo, é comum no Brasil proceder-se ao cruzamento de animais holandeses com raças zebuínas, especialmente a raça Gir. Este cruzamento, estudado e desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), levou ao estabelecimento de uma raça sintética (artificial) chamada Girolando, com 5/8 de sangue holandês e 3/8 de sangue zebuíno. Aliás, estima-se que 80 % da produção leiteira brasileira proceda de animais desta raça ou de cruzamentos de entre raças zebuínas e animais holandeses. O cruzamento destas raças já era feito de forma informal desde há 60 anos, porém, a partir dos anos 80, a criação de animais desta raça profissionalizou-se e foram estabele-


DIAGRAMA 1

MOÇAMBIQUE > CONCESSÃO DE TERRAS NO NORTE DE MOÇAMBIQUE ARRANCA EM 2011

DIAGRAMA 2

ESTRATÉGIA DE CRUZAMENTO GIROLANDO

Em Agosto de 2011, o Governo de Moçambique, aproveitando o potencial de conhecimentos e experiência brasileiros, colocou à disposição de agricultores e empresários daquele país, por um prazo de 50 anos, renováveis, em condições preferenciais e simplificadas, áreas nas províncias do norte e centro do país (Niassa, Nampula, Cabo Delgado e Zambézia) correspondentes a seis milhões de hectares (dois terços da área de Portugal). Em Moçambique, o solo pertence ao Estado, não se podendo comprar ou vender propriedades. Porém, de acordo com a Lei, o Governo pode conceder a exploração do solo por períodos e condições preestabelecidas. O projecto, baptizado BrasilMoçambique, pretende o desenvolvimento do norte do país e estreita uma já longa história de cooperação e pesquisa, nomeadamente por intermédio da Embrapa, que aí tem o seu maior projecto de investigação fora do Brasil (integrando o projecto “Prosavana”, no qual também participa a Agência Japonesa de Cooperação Internacional). Segundo as notícias, o acordo estipula a obrigação de 90 % da mão de obra empregada nas novas explorações ser local e 95% da produção se destinar também ao consumo interno. O investimento brasileiro no sector agrícola também não é novidade em Moçambique. Por exemplo, na campanha 2010/2011, a Guarani, uma empresa de São Paulo, especializada na produção de açúcar e que instalou uma refinaria em Moçambique, moeu mais de 536 mil toneladas de cana de açúcar, cultura que está em expansão em resultado do aumento da procura mundial de etanol para suprir a procura de bio-combustíveis.

cidos padrões para os cruzamentos para se atingir a raça estável bimestiça, com a proporção de sangue acima indicada. Uma vez realizados os cruzamentos e atingida a percentagem de mistura de sangue padronizada, procede-se à selecção artificial dos animais da nova raça fixada, escolhendo para reprodutores os melhores indivíduos quanto às características desejadas. Os animais Girolandos são reconhecidamente bons produtores de leite, havendo vacas que, em concursos, produziram tanto como as suas congéneres holandesas puras. A grande vantagem que estes animais proporcionam é permitirem a correcção dos problemas associados à falta de rusticidade nos trópicos das vacas de raça holandesa, possibilitando alargar as fronteiras da produção leiteira às zonas mais quentes. Não deixa de ser importante referir que as os touros desta raça são também bons produtores de carne, tal como outros cruzamentos industriais, aproveitando eficientemente os recursos proporcionados pelas pastagens de baixa qualidade. O exemplo do Brasil na criação de animais cruzados para produção de leite deveria ser seguido por outros países tropicais, embora uma boa opção seja a introdução de animais já seleccionados da raça Girolando.

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A G R IC U L T U RA T RO PIC A L

OESTE AFRICANO DEMASIADO QUENTE PARA O CACAU EM 2050 Segundo as conclusões de um estudo liderado pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), perto do ano de 2050, uma subida da temperatura de mais de dois graus Celsius levará a que em muitas áreas na zona da África Ocidental a produção de cacau seja inviável. No Gana e Costa do Marfim, onde mais de metade do cacau mundial é produzido, o cacau representa uma fonte crucial de rendimentos para centenas de milhares de pequenos agricultores. “Podemos já ver os efeitos da subida de temperatura nas culturas de cacau actualmente produzido em áreas periféricas; com as alterações climáticas, estas irão certamente crescer,” afirmou Peter Laderach, cientista no CIAT e principal autor do relatório. “Numa altura em que a procura global de chocolate sobe rapidamente, particularmente na China, verificam-se já pressões no sentido de aumento dos preços. Não é inconcebível que isso, aliado ao impacto da mudança climática possa vir a causar o escalar acentuado dos preços deste produto.” Com as temperaturas mais altas, as zonas de cultivo ideais irão deslocar-se gradualmente para as maiores altitudes. “O problema é que a maior parte da África Ocidental é relativamente plana e não existem elevações de terreno. Tal será uma das principais causas de eventuais descidas acentuadas no nível de adequabilidade do cacau à região,” acrescenta Laderach. A reorientação dos cultivos poderá também dar origem à desflorestação à medida em que os agricultores mudarem a produção para áreas mais frescas. “É por estas razões que se torna essencial focarmo-nos em aumentar tanto quanto possível a resiliência dos sistemas de produção existentes.” Para além da utilização de árvores de sombra (já usadas por muitos agricultores, nomeadamente em São Tomé e Principe), o estudo recomenda o cultivo de culturas de rendimento alternativas no caso de uma vir a falhar. Pede-se ainda a introdução de novas variedades de cacau que tolerem as maiores temperaturas, mais investigação em matéria de sistemas de irrigação apropriados e ainda o desenvolvimento de políticas nacionais que ajudem à adaptação dos agricultores. “O relatório quantifica os riscos e sublinha as áreas particularmente vulneráveis a tempo de se tomarem medidas

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eficazes,” conclui o cientista. “Os produtores nas áreas afectadas ficarão protegidos se estiverem preparados para a mudança, e se possuirem os conhecimentos, as ferramentas e o apoio institucional que os ajudem na adaptação.”

Leia o relatório completo: “Predicting the Impact of Climate Change on the Cocoa-Growing Regions in Ghana and Côte d’Ivoire”. http://www.ciat.cgiar.org/Newsroom/Documents/ghana_ivory_ coast_climate_change_and_cocoa.pdf

FUNDO ALIMENTAR G-20 PRETENDE CRIAR FUNDO ALIMENTAR DE URGÊNCIA PARA O OCIDENTE AFRICANO

Segundo anunciou o ministro francês para a Cooperação, Henri de Raincourt, à margem de uma reunião de desenvolvimento do G-20 realizada em Washington, o Grupo dos 20 irá avançar para a criação de um stock de urgência de alimentos no Oeste Africano de modo a poder diminuir-se o risco de futuras carências naquela que é a região mais pobre do mundo. Raincourt afirmou que a ideia passa por criar um stock de 67 mil toneladas de alimentos que irá servir um total de 11 países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO ou em inglês, ECOWAS) formada por 15 nações, oficialmente classificadas como os países menos desenvolvidos. São eles: Burkina Faso, Cabo Verde, Gana, Gâmbia, Guiné, Guinés-Bissau, Libéria, Mali, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e República Togolesa. Ao longo do ano de duração da sua presidência do G-20, a França pretende promover o crescimento em matéria de agricultura sustentável e encorajar a criação de reservas alimentares que poderiam responder a períodos de escassez em países debilitados. Nas afirmações de Raincourt, “O objectivo destes stocks alimentares é permitir que a população tenha acesso a comida durante 45 dias. Segundo pudémos analisar no decorrer da fome que se viveu no Este Africano, este é o tempo necessário até que a comunidade internacional se mobilize e parta em socorro.” O ministro francês comentou ainda que os países da ECOWAS, muitos dos quais antigas colónias francesas, foram seleccionados para o projecto-piloto por se terem candidatado para o efeito. O custo deste fundo alimentar rondará os 45 milhões de dólares e organizações africanas afirmaram já que poderiam assumir algum deste investimento.



CIĂŠNCIA E INVESTIGAĂ‡ĂƒO

TRATAMENTO DE Ă GUAS RESIDUAIS

POR MEIO DE FITO-ETAR. PROJECTO IMPLEMENTADO NO PAÇO DE CALHEIROS

A

produção de åguas residuais em unidades de Turismo de Habitação sofre grandes oscilaçþes em termos de quantidade e qualidade de acordo com a taxa de ocupação podendo afectar, negativamente, o desempenho dos sistemas de tratamento convencionais. Os custos de instalação e operacionais de sistemas de tratamento de åguas residuais convencionais, seja para fins hoteleiros, pequenos aglomerados populacionais ou uso domÊstico tornam a sua implementação proibitiva na maioria das situaçþes, principalmente em zonas rurais e de montanha onde não existe sistema de saneamento båsico. Neste caso, a alternativa de destino das åguas residuais Ê serem parcialmente tratadas em fossas sÊpticas. A qualidade das åguas subterrâneas destas åreas Ê pois posta em causa pela lenta infiltração das åguas residuais provenientes dessas mesmas fossas sÊpticas. A ågua residual contÊm microrganismos potencialmente patogÊnicos que, dependendo da concentração, poderão constituir um risco para a saúde pública. Nas fossas sÊpticas ocorre alguma redução das bactÊrias coliformes e fecais mas as autoridades de saúde preocupam-se sobretudo com as bactÊrias patogÊnicas e vírus. O tratamento de åguas residuais em fossa sÊptica pode ser

Por: Cristina Sousa Coutinho Calheiros1 / AntĂłnio Osmaro Santos Silva Rangel2 / Paula Maria Lima Castro3 Fotos: Cristina Calheiros

completado com Leitos de Plantas, tambÊm denominados de Fito-ETAR´s. Este sistema utiliza vegetação, substrato (p. ex. argila expandida) e microrganismos, como tecnologia de tratamento de åguas, recriando e tentando mimetizar as condiçþes depurativas encontradas nas zonas húmidas naturais. Para encontrar soluçþes pråticas, económicas e sobretudo eficazes foi instalada uma fito-ETAR recorrendo a soluçþes tecnológicas mais interessantes no Paço de Calheiros, unidade de Turismo de Habitação situada em Ponte de Lima. A implementação deste projecto resultou da parceria desta unidade com a Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica no Porto, estando tambÊm envolvida a Universidade de Aahrus, na Dinamarca e a Saint-Gobain Weber Portugal, S.A.. A fito-ETAR estå em funcionamento desde hå um ano. As åguas residuais, em bruto, são encaminhadas para um tanque

Acima Leito de plantas implementado no Paço de Calheiros em duas Êpocas do ano

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mccalheiros@esb.ucp.pt / 2aorangel@esb.ucp.pt / 3plcastro@esb.ucp.pt Š 1,2,3 CBQF/Escola Superior de Biotecnologia, Universidade Católica Portuguesa, Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto, Portugal


subterrâneo oculto, onde se dá a decantação de sólidos. Deste tanque sai o efluente decantado que segue para a fito-ETAR. Esta é constituída por um tanque revestido com uma tela impermeabilizante, preenchido com argila expandida (Leca® M, granulometria entre 4 e 12,5 mm), que serve de substrato para as plantas sendo o efluente alimentado por um distribuidor na entrada. O efluente passa abaixo da superfície do substrato (fluxo subsuperficial horizontal), passando lentamente pelo leito, saindo para um tanque de recolha

a partir do qual a água depurada pode ser usada, por exemplo, em sistemas de rega. Está ainda salvaguardado o contacto da água do leito com animais, não sendo perceptíveis odores desagradáveis nem a presença de insectos, como mosquitos. Foram utilizadas diferentes espécies de plantas, canas da índia, jarros e agapantos (Canna flaccida, Canna indica, Zantedeschia aethiopica, Watsonia borbonica e o Agapanthus africanus), seleccionadas de entre aquelas que se estabelecem no local. Estas

plantas, para além de desempenharem a sua função biológica, auxiliando na depuração da água, permitem uma boa integração paisagística e valorização em termos ornamentais do próprio espaço. O desempenho do sistema, incluindo monitorização da qualidade da água ao nível físico-químico e microbiológico está a ser avaliado face às oscilações de ocupação na unidade de turismo. Nos primeiros meses de funcionamento o sistema apresentou elevadas eficiências de remoção de matéria orgânica – até 99% em CBO5 - Carência Bioquímica de Oxigénio (de uma entrada de 10280 mg L-1) e em CQO - Carência Química de Oxigénio (de uma entrada de 20-688 mg L-1), bem como de nutrientes. No mesmo período, o leito permitiu elevadas remoções de microrganismos fecais indicadores. O sistema tem permitido dar resposta a situações reais e comummente encontradas em cenários do sector do Turismo de Habitação, como flutuações de carga orgânica, mostrando robustez e resiliência às condições a que foi submetido, mas é igualmente aplicável a situações domésticas de menores ou maiores dimensões.

AGRADECIMENTOS Este trabalho teve o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) através da bolsa (SFRH/BPD/63204/2009).

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CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO

SOLARIZAÇÃO DO SOLO

Por: António de Fátima de Melo Antunes Pinto / Prof. Adjunto da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu

UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A SUA DIVULGAÇÃO E APLICAÇÃO EM PORTUGAL

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. INTRODUÇÃO

Convictos das potencialidades da solarização do solo, entendemos por bem elaborar este trabalho onde iremos apresentar as potencialidades deste novo meio de luta, em diversas culturas, para formar e informar agricultores, técnicos, alunos de ciências agrárias e outros agentes do sector. A actividade agrícola moderna tem-se intensificado a um ritmo impressionante, visando quase exclusivamente o lucro a qualquer preço, mediante a obtenção de elevadas produções por unidade de superfície, à custa do uso excessivo de pesticidas, fertilizantes e de uma sobreexploração da terra, o que tem conduzido a sérios problemas ambientais. Assim, com o objectivo de minimizar ou mesmo evitar os problemas e inconvenientes referidos, tem-se vindo a adoptar sistemas de produção mais adequados e menos agressivos para o homem e para o ambiente, como tem acontecido, em particular, na protecção das plantas, com a utilização de métodos e técnicas alternativas ao uso dos pesticidas não permitidos no modo de produção biológico em agricultura. A solarização do solo surge assim, como um meio de luta cultural e inovador, não químico, não poluente e eficaz para o combate de uma variada gama de infestantes, doenças e pragas das plantas. Actualmente, este método é ensaiado e aplicado em muitíssimos países do mundo, destacando-se a sua utilização (já à escala comercial), em diversas culturas nos Estados Unidos, Israel, Itália, Japão e outros. Os estudos desenvolvidos em Portugal, à semelhança dos realizados noutros países, revelaram resultados bastante promissores, confirmando a eficácia e a aplicabilidade deste novo método de luta no combate a diversas infestantes e a variados agentes fitopatogénicos veiculados pelo solo. Por se tratar de um meio de luta não químico, seguro para o aplicador e para o ambiente, faz com que a solarização se torne

particularmente adequada a integrar as estratégias de combate aos inimigos das culturas, numa lógica de produção integrada e de agricultura biológica.

2. DEFINIÇÃO E ACÇÃO Inicialmente desenvolvida em Israel, em 1973, a solarização do solo baseia-se no aproveitamento da energia solar à custa de um filme de plástico transparente de espessura reduzida (0,03 a 0,05 mm) que se coloca sobre a superfície dum solo previamente humedecido, durante os meses mais quentes do ano, por um período de 30 a 60 dias ou mais, que vai provocar uma elevação das temperaturas do solo e destruir os propágulos dos agentes patogénicos e das infestantes. Poder-se-á usar plásticos de maior espessura (à volta de 0,1 mm ou mais), mas o seu uso encarece o custo da solarização, uma vez que o plástico é adquirido ao peso. Para além da acção directa da temperatura na destruição dos agentes patogénicos, sementes de infestantes e outras estruturas vivas, referese também a evidência do envolvimento de determinados mecanismos biológicos nesse processo, dado o surpreendente combate que algumas vezes tem sido atingido com a solarização, mesmo quando as temperaturas alcançadas não são suficientemente elevadas para justificar o efeito letal directo.

3. APLICAÇÃO

Figura 1 Pormenor da fresagem do solo

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Para que a solarização seja eficaz, tornase necessário executar uma mobilização adequada do terreno a solarizar, até cerca de 20 a 30 cm de profundidade. Para garantir que a superfície do solo fique perfeitamente homogénea e esmiuçada, procede-se de seguida a uma fresagem a pequena profundidade, de modo a obter uma superfície do terreno plana e suficientemente lisa, requisito necessário para uma adequada e eficaz colocação posterior do plástico no solo. Proceder a uma rega abundante do solo, por gravidade ou por aspersão, debitando


Figura 2 Pormenor da rega

Figura 3 Pormenor da colocação do plástico para cobertura contínua

uma dotação adequada de rega, aplicada em dois dias sucessivos, procurando que o terreno permaneça saturado ao longo do perfil. Com esta rega pretende-se aumentar a condutividade térmica do solo, privilegiando assim a eficácia da solarização. Depois, cobrir o solo com um filme de polietileno transparente de espessura reduzida, como já foi referido. Deve ter-se um cuidado especial durante esta operação, para garantir que o plástico fique esticado e perfeitamente aderente à superfície do solo, de modo a evitar a formação de bolsas de ar. O plástico deverá permanecer esticado e fixo, por enterramento das suas extremidades, numas valas laterais abertas para esse efeito, manual ou mecanicamente. O plástico pode aplicar-se ao longo de toda a parcela a solarizar ou então aplicar-se apenas em faixas ao logo das linhas, onde posteriormente se

Figura 4 Aspecto final de uma parcela solarizada em faixas. Pormenor do tubo de rega para a futura cultura

irão plantar, por exemplo, pomares ou vinhas (Figuras 1, 2, 3 e 4).

festantes: Amaranthus spp, Anthemis arvensis, Chenopodium spp, Chrisanthemum segetum, Coronopus didymus, Euphorbia spp, Fumaria officinalis, Lolium spp, Malva silvestris, Medicago spp, Mercurialis annua, Juniferus spp., Picris echioides, Poa annua, Polygonum aviculare, Portulaca oleraceae, Raphanus raphanistrum, Rumex spp, Senecio vulgaris, Setaria spp, Solanum nigrum, Sonchus tenerrimus, Stellaria media, and Urtica spp ( Fig. 5). Importa ainda sublinhar o efeito a longo termo que a solarização exerce sobre muitas espécies infestantes, tendo-se verificado reduções significativas no total da infestação, passados 8 meses após a remoção do plástico.

4. CULTURAS BENEFICIADAS

5.2. FUNGOS

Esta técnica pode ser aplicada em todas as culturas hortícolas, em pré- sementeira ou pré-plantação, tanto em estufas como ao ar livre. Em culturas frutícolas deverá ser aplicada em pré-plantação. Pode também ser aplicada em pós-plantação, mas, neste caso, só nos primeiros anos seguintes à plantação e a sua aplicação não deve ser generalizada.

A solarização tem-se mostrado muito efectiva no combate a fungos do solo causadores de doenças em plantas hortícolas, nomeadamente Fusarium oxysporum, Plasmodiophara brassicae, Sclerotinia spp, Pyrenochaeta terrestis, P. lycopersici, Rhyzoctonia solani, entre outros. No que respeita a espécies que causam doenças em fruteiras, a solarização tem-se mostrado também muito eficiente no combate a Verticillium dahliae em pomares de pistácias e de oliveiras. Também em pomares de pessegueiros, a solarização reduziu as populações de Pythium spp, o mesmo acontecendo em pomares de macieiras com 15 anos de idade, em que a solarização combateu a podridão branca das raízes, causada pelo fungo Rosellinia necatrix. Por último, referir a eficácia deste mé-

5. INIMIGOS CONTROLADOS 5.1. INFESTANTES O efeito herbicida da solarização tem sido um dos aspectos referenciados com maior relevância desta técnica. No final do período da solarização e imediatamente após a remoção dos plásticos, tem-se verificado a eliminação total e ou destruição, entre outras, das seguintes espécies de in-

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CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO

todo no combate aos parasitas Pythium ultimum e Verticillium dahliae em pomares de nogueiras e Sclerotium rolfsii em macieiras.

5.3. OUTROS INIMIGOS A solarização do solo tem revelado igualmente resultados promissores quando aplicada no combate a nemátodos fitófagos. Diversos estudos têm mostrado, também, a eficácia da solarização na redução de bactérias, nomeadamente Agrobacterium spp., cujas populações se mantiveram suprimidas, durante 6 a 12 meses, após a aplicação deste método. Relativamente ao efeito da solarização no combate de pragas veiculadas pelo solo, conhece-se em Israel a eliminação total até 30 cm de profundidade das populações de ácaros da espécie Rhyzoglyphus robini. Um outro aspecto interessante da solarização que urge referir, diz respeito ao seu uso como um processo barato de sanitização de materiais de utilização agrícola, impedindo assim a propagação das doenças. A este propósito verificou-se que a incidência da doença do cancro do tomateiro Didymella lycopersici nas plantas em que se utilizaram tutores previamente solarizados foi de apenas 1,9 %, contra 20,7 % nas plantas com tutores sem qualquer tratamento.

6. SELECTIVIDADE A capacidade selectiva da solarização tem-se traduzido por resultados muito curiosos e muito positivos no sentido de com-

Figura 5 Pormenor do efeitos destrutivos sobre infestantes

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bater os microrganismos fitopatogénicos e poupar os microrganismos benéficos do solo. Assim, tem-se verificado que populações de potenciais antagonistas – como Trichoderma spp – experimentaram incrementos significativos em solos solarizados. Populações de bactérias com actividade lítica contra o fungo Sclerotium rolfsii aumentaram também, frequentemente, na generalidade dos solos solarizados. Estudos exaustivos mostraram que, enquanto populações de vários microrganismos, incluindo bactérias e fungos, foram reduzidas imediatamente após a solarização, populações de actinomicetos, de fungos termofílicos ou termotolerantes, de Bacillus spp. e pseudomonas fluorescentes rapidamente proliferaram nos solos solarizados, aí permanecendo com densidades populacionais mais elevadas. Estas alterações biológicas positivas, têm sido apontadas como a principal razão da indução da supressividade nos solos solarizados.

prejuízos causados pela doença. Resultados apresentados por diversos autores, quer em estufa quer ao ar livre, revelaram aumentos significativos de crescimento e/ou produção em diversas culturas, em estufa, nomeadamente: na cultura de tomate, do feijão, do pimento e da alface. A solarização do solo tem provocado igualmente acréscimos significativos no crescimento e/ou produção nas culturas, quando praticada ao ar livre, nas culturas de tomate, de beringela; de batata, do cártamo, do algodão, da couve chinesa, do aipo, da alface, da melancia, da cenoura, da ervilheira, do grão-de-bico, da faveira, do feijão, da cebola, do trevo e do trigo. Resultados espectaculares foram observados na altura e no peso seco de nogueiras e pessegueiros, onde se verificaram aumentos significativos após a sua instalação em solo solarizado, como pré-tratamento, num pomar onde existiram nogueiras durante 20 anos

7. CRESCIMENTO E PRODUÇÃO

8. QUÍMICA DO SOLO

A solarização do solo tem sido frequentemente referida como responsável por acréscimos do crescimento e dos rendimentos das culturas em que tem sido utilizada. Estes efeito positivos são considerados como uma consequência directa da sua acção na redução da densidade e, nalguns casos, na erradicação da própria doença, dependendo os níveis das produções obtidos do grau de redução verificado, do nível de infestação do solo e da importância económica dos

Os primeiros investigadores que procuraram relacionar a estimulação do crescimento das plantas, em solos solarizados e isentos de agentes fitopatogénicos, com as variações de alguns constituintes químicos do solo, foram Chen & Katan em Israel. Vários estudos por eles realizados em diversos solos do país, revelaram aumentos significativos em alguns constituintes químicos, nomeadamente: matéria orgânica solúvel, condutividade eléctrica (directamente relacionada com a concentração de sais na solução), azoto nítrico e amoniacal, potássio, cálcio e magnésio solúveis. Também aumentos dos teores dos micronutrientes (Mn++, Fe++ e Cu++) foram observados em muitos solos solarizados. Mais recentemente, verificou-se que os teores de K+, Ca++, Mg++ e condutividade eléctrica, aumentaram consistentemente na generalidade dos solos solarizados em Israel. Em Portugal, verificaram-se também aumentos altamente significativos dos valores da condutividade eléctrica nos solos solarizados e, curiosamente, em relação ao Ca++ e Na+, verificou-se uma redução significativa daqueles constituintes químicos nos solos solarizados. Relativamente ao K+ e Mg++, não se encontraram diferenças significativas entre as parcelas solarizadas e não solarizadas. Em relação ao pH do solo, os resultados obtidos com a solarização têm-se revelado


também pouco consistentes. Com efeito, o valor do pH tem permanecido inalterado, tendo sofrido acréscimos ou reduções nos diferentes tipos de solos estudados e ensaiados. Os teores de fósforo assimilável sofreram também variações inconsistentes, isto é, aumentos e reduções nos solos sujeitos à solarização. Em Portugal, relativamente ao potássio assimilável, não se verificaram diferenças significativas nas parcelas solarizadas relativamente às não solarizadas. Aumentos nos teores de NO3- e diminuição nos teores de NH4+ na maioria dos solos sujeitos à solarização, são também referidos. Por outro lado, na Índia, referem-se aumentos significativos nos teores de azoto nítrico e nenhuma alteração nos teores de azoto amoniacal nos solos solarizados face aos não solarizados. Curiosamente, nos Camarões e em Israel, não se verificou qualquer alteração significativa nos teores de NO3- e NH4+ nos solos solarizados face aos não solarizados. Contudo, em alguns ensaios temse verificado um aumento significativo nos solos solarizados, do teor total em azoto combinado (NO3- + NH4+). Estudos mais recentes realizados em Israel constataram aumentos dos teores de azoto nítrico na maioria dos solos sujeitos à solarização. Em Portugal também se observaram aumentos significativos dos valores de azoto nítrico e amoniacal nos solos solarizados. Como se pode verificar, a solarização tem sido responsável pela obtenção de resultados pouco consistentes em alguns dos constituintes químicos do solo. No entanto, para outros constituintes, têm-se verificado, de uma maneira geral, aumentos consistentes nos solos solarizados.

9. POPULAÇÕES MICROBIANAS Paralelamente às alterações químicas, também modificações ao nível da componente microbiológica têm sido constatadas nos solos solarizados. Assim, alguns grupos de microrganismos, relacionados directamente com a estimulação do crescimento das plantas (Plant Growth Promoting Rhizobacteria – PGPR) e microrganismos com actividade antagonista, rapidamente colonizam as raízes e rizosfera das plantas dos solos solarizados, aí permanecendo a níveis muito superiores aos atingidos nos solos não solarizados. As alterações microbiológicas a favor de microrganismos benéficos que

ocorrem nos solos solarizados, podem estar relacionadas com a indução à supressividade verificada nestes solos e que se traduz pelo impedimento da sua reinfestação por fitopatogénicos, durante 2 a 3 anos. Estudos exaustivos desenvolvidos em Israel mostraram que as populações de Pseudomonas fluorescentes foram aumentadas em mais de 130 vezes na rizosfera das plantas crescendo nos solos solarizados. As espécies mais representativas do grupo das Pseudomonas que foram isoladas a partir de raízes de tomateiro foram identificadas como Pseudomonas putida, P. fluorescens e P. alcaligenes, tendo-se atribuído a estas espécies a responsabilidade da estimulação do crescimento verificado nas culturas de tomateiro instaladas em diversos solos sujeitos à solarização. Em relação aos microrganismos deletérios, em particular os fungos pertencentes aos géneros Aspergillus, Penicillium, nomeadamente, Penicillium pinophilum, e Pythium spp (considerados fungos da rizosfera das plantas, que podem causar doenças menos importantes nas plantas, sobretudo devido à inexistência de patogénicos principais), os resultados obtidos revelaram reduções drásticas nas populações destes fungos nos solos solarizados. Relativamente às populações de micorrizas, o estabelecimento de Glomus spp. em raízes de fruteiras não foi afectado pela prática da solarização do solo. No entanto, mais recentemente, referese que, embora na generalidade dos casos a solarização não tenha afectado as populações de fungos micorrízicos, não significa que estas associações simbióticas não possam ser afectadas negativamente naquelas situações em que as temperaturas atingidas debaixo do plástico sejam excepcionalmente elevadas, já que as espécies micorrízicas são pouco resistentes ao calor. Relativamente aos efeitos da solarização nos microrgan-

CONCLUSÃO >

ismos fixadores de azoto em simbiose (em particular nas populações de Rhizobium), os resultados mostraram que a taxa de nodulação apenas foi reduzida nos primeiros estádios das plantas. Com o decorrer do ciclo cultural, a nodulação foi progressivamente aumentando, verificando-se no final do ciclo valores da taxa de nodulação semelhantes entre as plantas crescendo nos solos solarizados e não solarizados. Por outro lado, existem também as populações de microrganismos fixadoras livres de azoto, que conjuntamente com as populações de Rhizobium são responsáveis por mais de 70 % do azoto fixado anualmente no nosso planeta. Relativamente a estas bactérias – nomeadamente Clostridium pasteurianum e Azotobacter spp – os primeiros estudos desenvolvidos em Portugal revelaram-se bastante interessantes, uma vez que, apesar das populações de Azotobacter spp serem significativamente reduzidas (em cerca de 60 %), nas parcelas solarizadas, imediatamente após a remoção dos plásticos, rapidamente se desenvolveram, atingindo passados dois meses níveis populacionais cerca de 30 % mais elevados. Nas populações de Clostridium pasteurianum, a solarização não provocou alterações significativas nas populações desta bactéria. Contudo, nas determinações, imediatamente após a remoção dos plásticos, estas bactérias apresentaram níveis populacionais superiores, em cerca de 45 %, nas parcelas solarizadas face às não solarizadas. Por último, a solarização do solo tem provocado uma redução significativa, de cerca de 36 %, na flora microbiana total. No que respeita aos microrganismos celulolíticos, verificou-se uma menor redução (apenas de cerca de 7 %), não criando o tão negativo vazio biológico, como acontece com os químicos usados na desinfecção dos solos. ■

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Para além dos seus resultados efectivos no combate aos patogénicos do solo e a infestantes, a solarização exerce também efeitos secundários positivos que se traduzem no incremento do crescimento e da produção das culturas, através da indução de uma melhoria das características químicas do solo e/ou de um aumento das populações microbianas benéficas. Ao tratar-se de um meio de luta não químico, estamos seriamente convencidos que a solarização será a chave para o sucesso da produção biológica em agricultura, pois sendo eficaz como herbicida, fungicida, insecticida e até bactericida, é segura para o aplicador e ainda não são conhecidas consequências negativas para o ambiente. Neste sentido, apresentámos o presente trabalho, cientes que estamos a dar um contributo para a sua maior divulgação e aplicação na agricultura portuguesa.

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CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO

PÓLEN DO MILHO TRANSGÉNICO Possível efeito ecológico nas colónias de abelhas

Por: Henrique Trevisan1 hentrevisan@gmail.com /

Acacio Geraldo de Carvalho2 acacio@ufrrj.br /

Ana Aguiar3 aaguiar@fc.up.pt /

Bernardo Madeira4 / Ilda Abreu5 ianoronh@fc.up.pt /

Fotos: Henrique Trevisan

A

adopção de vegetais transgénicos que expressam proteínas entomopatogénicas tem suscitado diversas discussões éticas e científicas. Entre estas destacam-se nos principais debates presumíveis impactos no meio ambiente em consequência da alteração de interacções ecológicas. Um desses casos é a relação do lepidóptero Galleria mellonella (Linnaeues, 1758) (Lepidoptera, Pyralidae), conhecida como traça da cera, com as abelhas Apis mellifera. Este lepidóptero ocorre naturalmente em colónias de abelhas, juntamente com Achroia grisella (Fabricius, 1754) (Lepidoptera, Pyralidae), ocupando o mesmo nicho ecológico. As larvas destes piralídeos alimentam-se de cera velha, pólen e exúvias, material presente de modo natural nas colmeias de abelhas. Devido a este hábito alimentar, determinados investigadores consideram estas traças como pragas dos apiários, havendo outros que as classificam como organismos importantes na reciclagem de matéria orgânica dentro das colmeias. Nessa primeira visão são consideradas nocivas às abelhas, e por isso são combatidas, pois acreditase que as larvas inutilizam os favos e consomem o pólen, prejudicando assim a produção de mel. Na segunda visão preconiza-se que a presença destes lepidópteros nas colónias não só liberta espaço pela destruição de favos velhos e inutilizados (principalmente em colónias selvagens), como também, em caso de morte da colónia, destroem toda a cera restante que tenha larvas e pólen. Nesse contexto, desempenham um papel importante no controlo de diversas doenças microbianas que afectam as abelhas. Logo, pode-se considerar que se não fosse pela actuação das traças de cera, os favos velhos permaneceriam por períodos muitos longos no ambiente, o que, desta forma, seria fonte de dispersão de doenças nas abelhas.

Sob a linha de raciocínio que considera a acção desses piralídeos um benefício ecológico para as colónias, o prejuízo que exista para estes organismos pode ser interpretado como nocivo para a apicultura. A implementação de plantações transgénicas resistentes a insectos, pela utilização das denominadas plantas Bt, pode ser um dos factores com efeitos nocivos sobre estes lepidópteros. Sendo assim, as abelhas – ao recolherem e acumularem nas colónias pólen de plantações transgénicas com essa característica – poderão com isso expor as larvas desses piralídeos à intoxicação pela acção da proteína entomopatogénica Cry presente no pólen, o que poderá desestabilizar a relação das abelhas com as traças, já que, pequenas

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quantidades desse pólen podem ser letais à G. mellonella, como demonstrado numa pesquisa americana com a proteína transgénica Cry1F. Para avaliar essa conjectura, em 2009 foi realizada uma parceria entre a Universidade do Porto e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com o intuito de se investigar esses pressupostos através de bioensaios em laboratório, o que resultou na concretização de parte de uma tese de doutoramento. A pesquisa consistiu em simular, em laboratório, condições alimentares e ambientais semelhantes ao ambiente natural onde a traça ocorre. Dessa forma, avaliou-se o desenvolvimento larval, pupal e do adulto do insecto em função do tipo de alimentação ofertada. Esta alimentação foi composta por substratos alimentares onde o pólen do milho transgénico, que expressa a proteína Cry1Ab, e o pólen do milho convencional foram considerados. Entre os resultados obtidos, constatou-se que o pólen do milho transgénico que expressa a proteína Cry1Ab não afectou significativamente os parâmetros biológicos da traça da cera em relação ao pólen de milho convencional. Sobre isso, foi colocada a hipótese de que a traça não seria efectivamente susceptível à proteína transgénica Cry1Ab, o que já havia sido apontado por investigadores americanos quando avaliaram somente o aspecto de mortalidade desta traça. Esse tipo de constatação poderia sugerir que em situação de campo seria pouco provável que a traça fosse afectada, no entanto, pode-se apenas informar que existem muitas outras proteínas transgénicas e que será necessário realizar mais estudos sobre este assunto para podermos tirar conclusões. Somente a proteína Cry1Ab, procedente do pólen do milho transgénico, teve a sua influência avaliada neste trabalho sobre parâmetros biológicos específicos (fases de desenvolvimento) da traça da cera G. mellonella, restando ainda vários outros eventos trans-

Universidade Federal Rural do Rural do Rio de Janeiro / Brasil, Rio de Janeiro, Seropédica / 2Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro / Brasil, Rio de Janeiro, Seropédica / 3Faculdade de Ciências da Universidade do Porto & REQUIMTE-ICETA / Porto, Portugal / 4Escola Superior Agrária Ponte de Lima e Grupo do Ambiente do Centro de Geologia da Universidade do Porto / 5 Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Grupo do Ambiente do Centro de Geologia


ACIMA Apis mellifera visitando uma panícula de milho ( Zea mays ). Barcelos, Macieira de Rates, 2009.

génicos que expressam diferentes proteínas, bem como outras culturas além do milho. Além do facto de, até ao momento, não ter tido realizada nenhuma investigação sobre o impacto deste tipo de pólen sobre a A. grisella, a outra espécie de traça. Desta forma, sabendo-se da maior susceptibilidade da traça à proteína Cry1F, torna-se relevante realizar uma investigação semelhante, tendo como foco outras proteínas transgénicas expressas no pólen e a sua influência no desenvolvimento das duas espécies de traça da cera e as possíveis consequências ecológicas. A investigação realizada em parceria ainda propôs, relativamente à susceptibilidade da traça da cera a essas proteínas transgénicas, face à informação conhecida, de que combinações de proteínas Cry podem proporcionar uma toxicidade sinergética ou antagónica em relação ao desenvolvimento de lepidópteros, quando são realizadas combinações destas e incorporadas na alimentação destes insectos. Com isso, especulou-se que a mistura de diferentes tipos de proteínas Cry, perante a apanha de pólen pelas abelhas operárias nas diferentes linhagens de plantas transgénicas com essa característica, poderia proporcionar alguma consequência à traça da cera, hipótese essa ainda também não investigada. Os autores relataram ainda que estimativas da apanha de pólen de milho pelas abelhas podem, teoricamente, fornecer informações sobre a exposição das larvas da traça da cera às proteínas Cry, expressas no milho Bt. Sobre isso já se sabe que a A. mellifera recolhe também pólen em panículas de

milho, como ilustrado na figura. Da mesma forma, alguns trabalhos franceses demonstraram já que na ausência de outras fontes de pólen, o milho pode suprir cerca de 90 % da procura de pólen das colmeias. Deste modo, estas comprovações podem ser consideradas como indícios de que a exposição das larvas da traça da cera ao pólen transgénico ocorre perante a demonstrada recolha desse material pela A. mellifera. Assim, a acção entomopatogénica da proteína Cry1F ou de qualquer outra proteína transgénica sobre as traças da cera, deve também ser comprovada em ensaios de campo. Esta abordagem torna-se importante já que, ao recolherem o pólen, as abelhas adicionam saliva, veiculando dessa forma enzimas neste material polínico. Desconhece-se a acção destas enzimas sobre as diferentes proteínas Cry contidas no pólen das plantas transgénicas. Soma-se a isso os factores ambientais que podem actuar na proteína entomopatogénica presente no pólen, como por exemplo, a luz ultravioleta que, segundo investigação realizada, promove uma rápida degradação destas. Desta forma, considerando as possibilidades de o pólen Bt ser recolhido de forma significativa pelas abelhas, e a proteína Cry não ser degradada pelos efeitos ambientais ou sofrer alguma modificação na propriedade insecticida proporcionada pelas enzimas salivares das abelhas (e desta forma entrar em contacto com as larvas da traça da cera nas colmeias), apesar disso, deve-se considerar a probabilidade da geração de descendentes, face à diversidade alimentar que existe dentro da colónia, como a presença de exúvias, pólen de outras plantas, etc. Mesmo em condições de quantidade significativa

de pólen Bt, o ciclo biológico da traça da cera pode ser completado, como observado com a proteína Cry1Ab, o que não descarta a hipótese de ocorrer o contrário com outra proteína transgénica que seja mais tóxica a esse insecto. Sendo assim, esta constatação sugere que a pressão de selecção de descendentes que poderiam tornar-se resistentes às proteínas transgénicas poderia ser passível de ocorrer em ambiente natural. Diante do exposto, pode-se concluir que os efeitos ecológicos de uma possível acção tóxica do pólen Bt sobre a traça da cera – como, por exemplo, a deficiente reciclagem da cera velha e consequente aumento da prevalência de agentes patogénicos às abelhas nas colónias, investigado por investigadores portugueses e brasileiros – estão sem comprovação efectiva. Este facto chama a atenção para a necessidade de novas investigações a fim de elucidar essas questões, sendo que trabalhos como este alertam para o facto de que a libertação do pólen das plantas transgénicas no ambiente ocorreu e ocorre, habitualmente, sem que todas, ou pelo menos grande parte, das preocupações com o ambiente e a saúde estejam esclarecidas.

da Universidade do Porto Portugal / PARA SABER MAIS >TREVISAN, H. “Análise da Influência de Plantas Transgênicas em Urbanus acawoios (Williams, 1926) (Lepidoptera: Hesperiidae) e em Galleria mellonella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Pyralidae”. Seropédica (s.n) 93 f. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais e Florestais) UFRRJ. IF, 2010 / SABUGOSA-MADEIRA, J. B., ABREU, I., RIBEIRO, H., CUNHA, M. “Bt Transgenic Maize Pollen and the Silent Poisoning of the Hive”. Journal of Apicultural Research. v. 46, p. 57-58, 2007


TERRITÓRIO

Por: Sandra Velho Foto: José Pedro Araújo

GESTÃO E ORDENAMENTO do Território em debate na ESAPL

A Gestão Ambiental e o Ordenamento do Território têm sido, nos últimos anos, temas com crescente importância. Por este motivo, a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima (ESAPL) organizou, no passado dia 25 de Novembro, as “2.as Jornadas em Gestão Ambiental e Ordenamento do Território” com o objectivo de promover o debate sobre temas relativos ao ambiente, técnicas de gestão e ordenamento do território e ainda as perspectivas de saídas profissionais nas áreas de gestão ambiental e sustentabilidade do território. A sessão foi iniciada com uma nota introdutória do director da ESAPL, Professor Jorge Agostinho, que destacou a aposta que tem sido feita no curso de Engenharia do Ambiente, e que tem como objectivo formar profissionais particularmente competentes e dinâmicos. De igual modo, Professor Miguel Brito, coordenador do curso de mestrado em Gestão Ambiental e Ordenamento do Território ministrado na Escola, sublinhou a aposta no ensino de excelência acompanhado da evolução técnica e científica do uso de novas tecnologias. Um dos temas abordados foi a importância dos recursos endógenos, sublinhando-se a sua importância a nível ambiental, nomeadamente da floresta, na medida em que são intervenientes na qualidade do ar, na formação e fixação dos solos, na regulação do ciclo hidrológico e no suporte de biodiversidade. A exploração de recursos naturais (que nos dias que correm se tornou intensiva), pôs em causa o património florestal, que se encontra cada vez mais degradado, tornando-se pois necessário reunir formas de monitorizar os indicadores de qualidade e produtividade dos ecossistemas florestais. Um outro problema identificado foi o das invasoras lenhosas (como por exemplo, acácias) que põem em causa a sobrevivência de espécies raras, a produtividade dos ecossistemas florestais e a própria qualidade de paisagem. Relativamente aos planos de gestão ambiental, verifica-se uma crescente preocupação por parte das empresas e municípios. Mário Amaral, representante da Europac Kraft Viana, sublinhou que a empresa tem vindo a implementar medidas com vista à redução de impactos ambientais, nomeadamente optando por sistemas mais eficientes para o “despoeiramento” de gases, estações de tratamento de efluentes e utilização de combustíveis renováveis (biomassa florestal). Por sua vez, o município de Ponte de Lima, que nestas jornadas esteve representado pela Vereadora do Ambiente, Eng.a Estela Almeida, desenvolve campanhas e projectos para promover a educação ambiental, como são exemplos o caso da Quinta Pedagógica de Pentieiros, o projecto “Nós pela Natureza”, que promove auditorias para avaliação do grau de compromisso ambiental das empresas, e ainda o Festival Internacional de Jardins. Outro tema forte foi a questão da pegada hídrica das empresas do sector agrícola. Destacou-se o dinamismo do comércio da água virtual, ou seja, todo o volume de água que entra directa ou indirectamente no processo produtivo de um bem e a importância de reduzir o desperdício e aumentar a eficiência do uso da água. Por fim, como conclusão destas jornadas, ficou a consciência de que é importante a utilização de tecnologia associada a planos de gestão e ordenamento de território para que seja possível aproveitar o potencial dos recursos florestais e o potencial da biomassa como recurso energético, gerindo a floresta de protecção e a floresta de produção de forma sustentável. Da mesma forma é importante que nos lembremos da água antes que o poço seque, para o que é imprescindível uma boa gestão dos recursos hídricos.

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AGRICULTURA DE PRECISÃO ADOPÇÃO & PRINCIPAIS OBSTÁCULOS

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OS MOTORES DIESEL

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A MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

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ESPECIAL OLIVAL APANHA MECÂNICA DE AZEITONAS

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AGRITECHNICA 2011

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RISCOS ELÉCTRICOS COM MÁQUINAS DE ENSILAR E CEIFEIRAS

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AGRICULTURA de PRECISテグ adopテァテ」o & principais obstテ。culos POR: RICARDO BRAGA & PEDRO AGUIAR PINTO

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M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A AUTORES / Ricardo Braga ESA ELVAS, Instituto Politécnico de Portalegre ricardo_braga@esaelvas.pt /

Pedro Aguiar Pinto Instituto Superior de Agronomia /

A agricultura de precisão já se encontra relativamente bem divulgada em Portugal. No entanto, a adopção em contexto empresarial continua a ser escassa ou mesmo nula para determinadas aplicações. Este artigo pretende rever alguns conceitos dando uma noção do grau de adopção das principais tecnologias e aplicações no nosso país. Faz-se também uma breve análise aos principais obstáculos a uma adopção mais generalizada. O termo “Agricultura de Precisão” dificilmente será estranho a qualquer empresário do sector agrícola minimamente atento e informado. Poderá não conhecer em rigor todas as suas aplicações e potencialidades, mas certamente que saberá que a agricultura de precisão é um sistema de cultura em que, por intermédio de algumas ferramentas, se procura aumentar o rigor, na maior parte das vezes na sua componente espacial, com que as operações culturais são praticadas. São também comuns as ideias, destas vez não totalmente correctas, de que a agricultura de precisão envolve sempre tecnologias avançadas e que apenas está ao alcance dos empresários agrícolas mais avançados e/ou de maior dimensão. Poder-se-á definir a agricultura de precisão como um sistema de cultura que visa a gestão da variabilidade temporal e espacial das parcelas com o objectivo de melhorar o rendimento económico da actividade agrícola, quer pelo aumento da produtividade e/ou qualidade quer pela redução dos custos de produção, reduzindo também o seu impacte ambiental e risco associados. Esta definição

é suficientemente abrangente para poder ser classificada como agricultura de precisão sensu lato já que se pode incluir nela um largo espectro de actuações, sobretudo se se der maior ênfase à variabilidade temporal. Por exemplo, de acordo com aquela definição, a monitorização do stress hídrico com recurso a sondas de água no solo poderia ser incluída na agricultura de precisão. Neste âmbito, agricultura de precisão seria quase sinónimo de agricultura mais criteriosa, rigorosa, pormenorizada, de base científica. Na prática, o que diferencia a agricultura de precisão é a preponderante componente de gestão da variabilidade espacial quer da produtividade quer dos recursos. É essa componente que é verdadeiramente nova e diferenciada do que se vem fazendo nas últimas duas décadas no sector. Ou seja, a agricultura de precisão (sensu stricto) será um sistema de cultura em que é dada grande ênfase à variabilidade espacial dos recursos, dos factores de produção e da produtividade/qualidade, de forma que a sua gestão garanta melhores indicadores físicos, económicos e ambientais das parcelas e das explorações agrícolas. Na maioria das aplicações, a agricultura de precisão envolve sempre o uso mais ou menos intenso de tecnologias geo-espaciais (GPS – Global Positioning Systems, SIG – Sistema de Informação Geográfica, monitores de produtividade, VRT – Variable Rate Technology, detecção remota, etc). De facto, em grandes áreas, poderá torna-se complicada a aplicação da agricultura de precisão sem o recurso aquelas tecnologias que têm como base o GPS. Contudo, casos há em que o bom senso dita que a sua utilização seja economicamente inviável. Por exemplo, aplicação diferenciada de herbicida em que o operador consegue sem grande esforço ou erro fazer a aplicação localizada de forma manual ou em que após a realização de amostras de solo,

Produtividade t/ha

4.5 - 6.0 6.0 - 7.5 7.5 - 9.0 9.0 - 10.5 10.5 - 12.0 12.0 - 13.5 13.5 - 15.0 15.0 - 16.5 16.5 - 18.0

Margem bruta €/ha

-350 - -150 -150 - 0 0 - 150 150 - 450 450 - 750 750 - 1050 1050 - 1350 1350 - 1650 1187 - 1375

Figura 1 Carta de produtividade (esq.) e carta de margem bruta (dir.) de duas pequenas parcelas de milho (total 10 ha)

o empresário divide a parcela em duas zonas tão geograficamente distintas a a sua gestão diferenciada manual se torna simples. Apesar de o domínio das tecnologias geo-espaciais ser importante, o fulcro da aplicação da agricultura de precisão é a gestão da informação e do conhecimento agronómico. As tecnologias são (devem ser) encaradas como meras ferramentas de diagnóstico (detecção remota, mapeamento) ou meios de actuação (VRT, GPS), sendo o conhecimento agronómico neste domínio, o elo mais fraco da cadeia. Estamos perante um caso típico em que a tecnologia está bastante à frente da ciência. Toda a formação e prática agronómica desde a segunda guerra mundial até aos anos oitenta do século passado, foi sempre e, na grande maioria dos casos, continua a ser, sobretudo no domínio das culturas arvenses, orientada para os valores médios das parcelas. Por questões de ordem prática,

sempre se sacrificou a variabilidade dos solos e das culturas em função da média. Ora, a agricultura de precisão, beneficiando do desenvolvimento de algumas ferramentas, permite gerir diferenciadamente as zonas de potencial produtivo diferenciado dentro de uma mesma parcela. A maioria das aplicações em agricultura de precisão envolve grandes volumes de dados que é preciso gerir e converter em informação útil passível de ser utilizada como base no processo de tomada de decisões no dia-a-dia das explorações. De facto, a redução do custo da monitorização do meio ambiente e das próprias plantas (por exemplo, com recurso as estações meteorológicas, fito-sensores, detecção remota), gera muitas vezes um grande volume de dados que em si mesmos pouco valor têm se não forem correctamente interpretados de modo a alimentarem o processo de tomada de decisão. Desta forma, é sempre necessário colocar especial ênfase na gestão

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do conhecimento agronómico no sentido de tornar úteis todos os dados disponíveis, evitando o drowning-in-data (afogamento em dados).

APLICAÇÕES As aplicações da agricultura de precisão na actualidade podem classificar-se de diversas formas conforme os aspectos considerados. Quanto ao horizonte temporal, as aplicações podem ser do tipo one-time ou “curto prazo” em contraste com aplicações de “médio-longo prazo” ou em “ciclo”. As aplicações one-time são as que resultam da correcção de factores limitantes da produção numa única campanha. Por exemplo, através da carta de produtividade de uma parcela, detecta-se uma zona com problemas de drenagem com forte impacto na produtividade. Ou detectam-se zonas da parcela com pH abaixo do indicado. Ou mesmo, no caso de center pivots, detectam-se faixas concêntricas de menor produtividade resultantes de aspersores deficientes. Nestas situações, será possível numa única ou em poucas intervenções, eliminar ou controlar o factor limitante de forma a que este deixe de ter impacto significativo na produtividade. A utilização de cartas de condutividade eléctrica do solo para delineamento dos sectores de rega, a redefinição dos limites das folhas/ talhões em função da variabilidade encontrada numa carta de produtividade também podem ser indicados como exemplos de aplicação tipo one-time. Nas aplicações em “ciclo”, em que os factores limitantes responsáveis pela variação espacial da produtividade/qualidade são dinâmicos na campanha e entre campanhas (pragas, doenças, NPK, água disponível, etc.), as aplicações sucedem-se num ciclo interminável de medição/estimação (análises de terra, detecção remota, sondas, condutividade eléctrica aparente) – aplicação (VRT low tech ou high tech) – aferição (cartas de produtividade, cartas de qualidade, carta de margem bruta). Estas constituem, de facto, o tipo de aplicação da agricultura de precisão mais comum. Por exemplo, (a) a aplicação diferenciada de NPK com recurso à tecnologia VRT, tendo por base zonas de gestão/ maneio definidas com base numa carta de produtividade (ou, de preferência, várias cartas referentes a vários anos); (b) a variação da densidade de plantas em função do tipo de solo ou do volume de calda em função da dimensão das plantas; (c) a variação espacial da dotação de rega ou intervalos entre regas em função da capacidade de armazenamento do solo com recurso a center pivot com tecnologia VRI (variable rate irrigation), ou redefinição dos sectores de rega, ou diferenciação da densidade de gotejadores. Dada a dinâmica dos factores limitantes em causa, neste tipo de aplicações, será sempre necessário trabalhar em “ciclo” num processo algo intenso em conhecimento agronómico em resultado aplicações diferenciadas em si e também pelas implicações/ interacções nas restantes operações culturais. A ferramenta central neste tipo de aplicações, e que importa maximizar, é a carta de margem bruta da parcela (Fig. 1), obtida com base na carta de produtividade e na conta de cultura de cada zona de gestão. É também importante frisar que as intervenções neste âmbito devem obrigatoriamente ser precedidas de uma correcta análise de investimento. Casos haverá em que, certamente, a variabilidade da produtividade não justificará a gestão diferenciada. Quanto ao grau de intervenção na gestão diferenciada dos factores de produção, as aplicações podem implicar ou não a sua existência. Os exemplos das aplicações em “ciclo” ilustram bem o tipo de aplicações em que o grau de intervenção é elevado. Há, contudo, aplicações em que apesar de se observar variabilidade da cultura, a aplicação poderá não envolver qualquer actuação diferenciada, mas apenas o “tirar partido”

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/ Produto Interno Bruto.

da variabilidade observada. Um exemplo do tipo de aplicação sem intervenção ao nível da gestão dos factores de produção, é a segmentação da vindima (Fig. 2). Nesta aplicação, é obtida entre a floração e o pintor informação multiespectral da vinha, que é utilizada, através das cartas de NDVI, para definir zonas de qualidade de uva diferenciada e desta forma, permitir a constituição de lotes distintos da mesma casta à entrada da adega. Desta maneira, é possível dentro de uma mesma parcela, definir por exemplo lotes/zonas para “reserva” e lotes para “entrada de gama”. De forma similar, no olival, é possível definir zonas/lotes para “virgem” e “virgem extra”. Este tipo de aplicação permite uma gestão mais eficiente da “matéria prima” de forma a melhorar a performance económica de cada parcela e da exploração agrícola. Apesar de ser possível utilizar as cartas de NDVI para actuar de forma diferenciada ao nível dos factores de produção, na prática aquelas têm sido utilizadas apenas para a segmentação de lotes no próprio ano. Neste tipo de aplicação há uma perspectiva estritamente utilizadora da variabilidade espacial (“tirar partido da variabilidade”), e não tanto a perspectiva de intervenção. As aplicações em “ciclo” podem também ser agrupadas em duas formas de actuação VRT: em “tempo real” ou “baseada em cartas”. No ciclo medição/estimação – aplicação – aferição referido anteriormente, a componente medição/estimação – aplicação VRT pode ser em simultâneo (“tempo real”) ou não (baseada em cartas). Nas aplicações baseadas em cartas (as mais frequentes), as duas componentes não são efectuadas em simultâneo, sendo necessário o recurso a GPS e cartas, quer do recurso (produtividade, NPK, etc) quer, posteriormente, da recomendação. É esta carta de recomendação, ou carta de prescrição, que é alimentada aos sistemas VRT, e que no campo, em função do posicionamento GPS executa a taxa prescrita na zona definida. Este processo é moroso, caro e algo exigente em conhecimento técnico (envolve GPS, softwares SIG, VRT, equipamentos, etc.). Nas aplicações em “tempo real”, com o recurso a sensores de diversos tipos, quer à planta (teor de clorofila ou diferenciação de infestantes/cultura) quer ao solo (condutividade eléctrica aparente), a medição/estimação e a aplicação VRT faz-se em contínuo de forma instantânea (Fig. 3). Este tipo de sistemas, ainda pouco comuns mas a ganhar terreno (por exemplo, na aplicação de N), são considerados o futuro das aplicações VRT já que eliminam as principais dificuldades das aplicações baseadas em cartas. De facto, depois de aferidos, os sistemas em “tempo real” reduzem a necessidade de recurso ao GPS, aos software SIG, etc. O operador terá apenas que se limitar a percorrer a parcela e deixar que o sistema determine o estado da cultura e calcule e aplique a taxa de factor de produção indicado. Finalmente, as aplicações em agricultura de precisão, poderão classificar-se de passivas ou activas. Nas aplicações activas, por oposição às passivas, as mais comuns, as próprias plantas, sobretudo em culturas permanentes, munidas de sistemas de comunicação (RFID, por exemplo) podem interactuar com máquinas e/ou operadores permitindo obter a simples localização ou mesmo a prescrição (por exemplo, a intensidade de poda com base no historial de produção/vigor). Outro domínio de aplicação da agricultura de precisão, talvez o mais simples e intuitivo de aplicar, é o dos sistemas de condução assistida ou automática por GPS, conforme o grau de intervenção do operador. Nestes, o objectivo não é diferenciar a taxa de aplicação de factores de produção na parcela nem tão pouco o de tirar partido da variabilidade observada, mas sim o de, com recurso ao GPS, garantir que a taxa ou taxas prescritas são efectivamente aplicadas da forma o mais homogénea possível. De facto, estes sistemas permitem auxiliar o operador na tarefa de


M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A garantir que as passagens são o mais paralelas possível e desta forma minimizar as sobreposições e falhas, entre outras vantagens (poupança de combustível, semente, adubo, menor cansaço do operador, etc).

SOLUÇÕES Como referido anteriormente, a agricultura de precisão é um caso típico em que a tecnologia está bastante à frente da ciência. Apesar de a vantagem da agricultura de precisão estar perfeitamente demonstrada, até no âmbito da sustentabilidade dos sistemas de agricultura, nota-se ainda, ao fim de 20 anos de aplicação a nível mundial, alguma falta de metodologias que tirem completo partido dos dados que hoje em dia é possível obter no campo (detecção remota, condutividade eléctrica do solo, cartas de produtividade, etc. etc.). A capacidade que a indústria tem para lançar novidades tecnológicas neste âmbito é bastante superior à capacidade que, por um lado, os empresários agrícolas têm em apreendê-las e integrá-las no seu sistema de produção e, por outro, que os investigadores têm de as trabalharem para desenvolver soluções práticas e agronomicamente úteis. As soluções comerciais de tecnologia para Agricultura de Precisão na actualidade centramse sobretudo em dois domínios: os sistemas de condução assistida ou automática por GPS e os sistemas de monitorização do rendimento/monitor de aplicação diferenciada (VRT) i.e. sistemas para aplicações em “ciclo”. Nos anos iniciais de aplicação da Agricultura de Precisão, sobretudo nos EUA e Austrália, foram pequenas empresas da área da electrónica que desenvolveram os primeiros sistemas de monitorização da produtividade e controladores VRT. A utilização dessas soluções, necessariamente externas aos equipamentos (ceifeiras, semea-

dores, distribuidores) dos grandes fabricantes, necessitavam sempre de um elevado grau de adaptação e esforço de integração. Hoje em dia, a maior parte dos grandes fabricantes fornece já soluções perfeitamente integradas (tendo muitas vezes para o efeito adquirido a tecnologia às empresas originais) quer para monitorização de produtividade nas ceifeiras quer para controladores VRT nos equipamentos de distribuição e sementeira, eliminando em grande parte o esforço inicial de adopção da tecnologia (cf. Greenstar @ deere.com; PLM @ newholland.com; fieldstar @ agcotechnologies.com). Nalguns casos, contudo, as soluções de montagem artesanal, continuando perfeitamente válidas, podem ser interessantes num cenário de adaptação de equipamentos já existentes na exploração ou de soluções de menor investimento. Por outro lado, o standard ISOBUS (Fig. 4), que especifica um protocolo de controlo e comunicação entre tractores, máquinas e alfaias veio, também, facilitar bastante a utilização conjunta de equipamentos de fabricantes distintos, sobretudo de sistemas de aplicação diferenciada VRT. De facto, em vez da necessidade um controlador adicional, que estabelecia a comunicação entre o sistema VRT (ou seja pelo menos duas consolas dentro da cabine do tractor) e o distribuidor de adubo, por exemplo, neste momento, se o distribuidor estiver equipado com a tomada ISOBUS, a comunicação e controlo poderão ser directamente estabelecidos com o sistema VRT. Fora dos dois domínios de soluções comerciais referidas, existem ainda outras mais específicas, como são os casos da viticultura de precisão, da irrigação de precisão ou do controlo fraccionado da barra de aplicação de produtos fitossanitários. O fabricante Same Deutz-Fahr, por exemplo, comercializa uma má-

Figura 2 Carta de NDVI evidenciando zonas de qualidade de uva diferenciada utilizadas na segmentação da vindima. (Fonte: AREA400.COM / ESPORÃO)

quina de desfolha cuja intensidade pode ser controlada em VRT em função do vigor das plantas previamente mapeado e convertido numa carta de recomendação a ser transferido para o controlador (Fig. 5). Outro sistema, da New Holland, para vindimadoras (EnoControl) permite, através de uma carta de NDVI previamente obtida, automatizar o processo segmentação da vindima i.e. de

separar as uvas entre os dois tegões, de acordo com o potencial de qualidade. Quanto à irrigação de precisão, a Valley anunciou no ano passado uma parceria com uma empresa australiana (farmscan. net.au) para a comercialização em breve de sistemas center pivot com capacidade VRI. Finalmente, a Ag-leader disponibiliza um equipamento de controlo (EZ-Boom), que, através do GPS, permite automaticamente desligar secções da barra de aplicação de produtos fitossanitários de forma a minimizar a sobreaplicação sempre que o tractor voltar a percorrer uma zona da parcela já tratada. Além

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Figura 3 Distribuidor VRT de N em tempo real. A taxa de aplicação em (1) é função do teor de clorofila estimado em (2). (Fonte: Oklahoma State University)

da oferta tecnológica, é também importante referir os restantes actores no “sistema de inovação”. Assim, existem no momento em Portugal entre 5 a 10 empresas com know-how na prestação de serviços, nomeadamente no que toca a detecção remota (cartas de NDVI), cartas de condutividade eléctrica, gestão da informação e aplicação de conhecimento agronómico em SIG, máquinas e equipamentos (ceifeira com monitor de produtividade, semeadores e distribuidores com ISOBUS). Quanto à investigação e desenvolvimento, já decorreram ou estão ainda a decorrer cerca de uma dezena de projectos nas instituições de ensino superior portuguesas, nomeadamente nas áreas de viticultura, olivicultura, culturas arvenses e pastagens, envolvendo

cerca de 15 investigadores. Muitos destes projectos resultaram de parcerias com empresários agrícolas, fundamentalmente nas regiões do Alentejo e Ribatejo.

ADOPÇÃO E PRINCIPAIS OBSTÁCULOS A adopção de sistemas de agricultura de precisão por parte dos empresários agrícolas em Portugal é, na generalidade, ainda escassa. No entanto, verifica-se uma variação da adopção em função da aplicação em causa. No que toca a ceifeiras-debulhadores equipadas com monitor de produtividade, devem existir cerca de uma dezena em funcionamento, incluindo prestadores de serviços. Quanto a aplicações VRT, julgamos não existir qualquer utilização comercial até ao momento, apesar de haver pelo menos um prestador a oferecer essa possibilidade para adubos e sementes. A viticultura de precisão, e especificamente a segmentação da vindima com recurso a cartas de NDVI, tem sido uma das aplicações mais adoptadas, nomeadamente por cerca de 20 empresários ao longo dos últimos 10 anos. Alguns daqueles obtiveram

Figura 4 Tomada standard ISOBUS que permite a comunicação e controlo entre equipamentos de diferentes fabricantes. (Fonte: Farmerjo169 em http:// commons.wikimedia.org )

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também cartas de condutividade eléctrica do solo com o intuito de caracterizar melhor os micro-terroirs da exploração e melhorar a tomada de decisão quanto a sectores de rega e porta-enxertos. A aplicação de agricultura de precisão com mais elevada taxa de adopção é a condução assistida por GPS (lightbar ou barra de luzes) em que se estima que existam em utilização no país, sobretudo no Alentejo, cerca de três centenas destes sistemas. Já os sistemas de condução automática não foram praticamente adoptados pelos empresários agrícolas portugueses. Estas taxas de adopção contrastam com a de outros países. À escala global, o monitor de produtividade/carta de produtividade é a tecnologia de agricultura de precisão mais adoptada. Nos EUA, por exemplo, cerca de 40% da área de cereais é colhida com ceifeiras equipadas com este tipo de tecnologia. Já no que toca a aplicações VRT, a taxa de adopção baixa para os 10 %. Verifica-se nalguns países (EUA, Brasil, Argentina) que existe uma tendência para que os adoptantes de sistemas de mobilização de conservação (em cereais) sejam também adoptantes de tecnologias de agricultura de precisão (cartas de produtividade), uma vez que ambas procuraram tornar os sistemas de produção mais eficientes pela via da redução de custos e, simultaneamente, redução do impacte ambiental. Em termos comparativos, a taxa de adopção de sistemas de mobilização de conservação nos EUA é de cerca de 50 % para produtores de cereais e soja. Entre os factores que afectam a adopção da agricultura de precisão, e genericamente de qualquer tecnologia, podem enumerar-se: Empresário: nível educacional/formação, idade, a capacidade de investimento, conhecimento informático, recursos humanos, aversão ao risco, dimensão, perspicácia; b. Tecnologia: perceptibilidade dos ganhos, facilidade de operacionalização, custo de investimento inicial; c. Outros: existência de prestadores de serviços, suporte competente e eficaz por parte dos fabricantes/vendedores, força do “sistema de inovação”/comunicação. No caso concreto da agricultura de precisão, os factores mais determinantes da taxa de adopção parecem ser o elevado conhecimento informático necessário, a difícil percepção dos ganhos/elevado risco e a facilidade de utilização/suporte/prestadores de serviços. Os ganhos resultantes de aplicações como a distribuição de nutrientes em VRT dependem de vários factores desconhecidos à priori. Este facto conduz a que a percepção dos ganhos seja especialmente difícil para aquela tecnologia, ou seja, torna-se complicada a análise de limiares de rendabilidade. De facto, o ganho financeiro de aplicações VRT vs. aplicações convencionais (taxa fixa) depende sobretudo do grau de variabilidade espacial do nutriente no solo em conjugação com a dimensão da parcela. Deste modo, é impossível a percepção dos ganhos sem algum investimento prévio na avaliação da variabilidade espacial. Ou seja, haverá nesta aplicação um investimento com algum risco (por exemplo, avaliação da variabilidade de determinado nutriente no solo). Pelo contrário, noutras aplicações, é bastante mais fácil determinar limiares de rendabilidade, como é o caso dos sistemas de condução assistidos por GPS (a tecnologia de agricultura de precisão mais adoptada em Portugal), bastando para esse fim conhecer os custos de operação do tractor e distribuidor e os custos do factor de produção a distribuir. O limiar de rendabilidade de um sistema tipo barra de luzes em culturas de cereais Outono-Inverno com distribuição de fundo e cobertura, determinado em estudos anteriores, é de cerca de 60 ha. a.


A distribuição de nutrientes em VRT implicará a existência de algum conhecimento informático, o que, não existindo prestadores de serviços competentes, pode tornar-se também um obstáculo à sua adopção por parte dos empresários. No curto–médio prazo, até que surjam empresários agrícolas com forte formação informática/digital, antevê-se assim como crucial o surgimento de prestadores de serviços qualificados nesta área. Na actual conjuntura de preços de factores de produção e produtos, com a antevisão de elevada escassez de alimentos à escala global em meados deste século, a pressão para que os empresários agrícolas produzam de forma economicamente eficiente, com elevados standards de qualidade, respeitando ainda o ambiente, é colossal. Estamos certos, que a agricultura de precisão terá um forte peso na solução deste verdadeiro quebra-cabeças. Assim trabalhem em conjunto os diversos actores do “sistema de inovação”: empresários agrícolas, investigadores, prestadores de serviços, fabricantes/vendedores de equipamento e políticos.

Figura 5 Máquina de desfolha cuja intensidade pode ser controlada em VRT em função do vigor das plantas. (Fonte: abolsamia.pt)

BIBLIOGRAFIA Braga, R. (Ed.). 2009. Viticultura de Precisão. Inovação e tecnologia na formação agrícola. AJAP. 84pp. (disponível em http://agrinov. ajap.pt/manuais/Manual_Viticultura_de_Precisao.pdf) Coelho J.C. e Silva R.M.(Ed.s). 2009. Agricultura de Precisão. Inovação e tecnologia na formação agrícola. AJAP. 125pp. (disponível em http://agrinov.ajap.pt/manuais/Manual_Agricultura_de_Precisao.pdf)

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A manutenção de máquinas agrícolas como factor estratégico de competitividade (Parte I / III) AUTORES / José Torres Farinha torresfarinha@torresfarinha.com

António Simões assimoes@isec.pt

Inácio Fonseca inacio@isec.pt3

As máquinas agrícolas, não obstante representarem um recurso estratégico na economia, têm sido negligenciadas na perspectiva de aplicação das inovadoras metodologias de manutenção, não apenas ao nível das que se encontram consolidadas na indústria mas também no que reporta à utilização de novas vertentes da gestão.A agricultura corresponde inequivocamente a um sector edificador da economia, seja na vertente da sustentabilidade, seja no PIB1. Ora, tendo sido, ao longo do tempo, a componente da manutenção das máquinas agrícolas desvalorizada, isso implica que tem sido menosprezada uma variável estratégica que pode dar um contributo relevante para o incremento da competitividade da agricultura nacional. Actualmente, a indústria compete para introduzir as mais modernas metodologias de gestão de manutenção, designadamente as de origem japonesa. Contudo, se compararmos o estádio da manutenção desta área económica com a das máquinas agrícolas, constata-se que urge colmatar um diferencial de várias décadas. A abordagem feita nesta primeira parte do artigo incide sobre a vertente da lubrificação

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das máquinas agrícolas. A parte II incidirá sobre a vertente dos ef luentes e, finalmente, a última parte (III) sobre as novas metodologias de gestão.

1. INTRODUÇÃO As máquinas agrícolas possuem as mesmas características técnicas de qualquer outro equipamento, sendo passíveis de políticas de manutenção adequadas. Contudo, cada equipamento carece de ser analisado no seu contexto operacional e, no caso vertente, usualmente as condições de operação são extremamente exigentes, designadamente no que concerne às poeiras, humidades, água, lama, areia e outras condições atmosféricas que em muito condicionam o

/ Produto Interno Bruto.

desempenho do equipamento. Há uma grande diversidade de situações neste sector, desde o pequeno empresário agrícola que possui um número exíguo de equipamentos até ao grande empresário com um grande parque de máquinas e à empresa e ou cooperativa que possui um grande e diversificado número de máquinas para servirem os seus clientes ou associados. Seja em que situação for, é possível conseguirem-se ganhos de produtividade através de uma redução de custos, seja no primeiro caso, seja nos segundos. O desafio é levar a efeito uma política de optimização da manutenção e, progressivamente, adaptar as novas metodologias de gestão à cultura específica do sector agrícola.

2. CARACTERIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS E DA SUA MANUTENÇÃO Alguns dos equipamentos agrícolas mais usuais são os seguintes: – Tractor; – Charrua; – Grade; – Escarificadora; – Fresa; – Pulverizador; – Máquina de abate e descasque de árvores.


M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A

Ainda nesta perspectiva, os períodos usuais adoptados nesse tipo de manutenção seguem os seguintes intervalos entre intervenções: – Manutenção diária ou a cada 10 horas de trabalho; – Manutenção semanal ou a cada 50 horas de trabalho; – Manutenção mensal ou a cada 200 horas de trabalho; – Manutenção semestral ou a cada 500 horas de trabalho; – Manutenção anual ou a cada 1.000 horas de trabalho. Usualmente, os intervalos de manutenção planeada são progressivos, ou seja, a manutenção realizada semanalmente ou a cada 50 horas de trabalho inclui também a realização dos procedimentos adoptados na realização da manutenção diária ou a cada 10 horas de trabalho. Dessa forma, na manutenção anual ou a cada 1.000 horas, são realizados os procedimentos de todas as outras intervenções de manutenção de menor duração. Um dos aspectos da manutenção mais relevantes neste tipo de equipamentos corresponde à lubrificação, pelo que será analisado no ponto seguinte.

3. LUBRIFICAÇÃO

O tractor agrícola é uma máquina complexa, constituída por um motor de combustão interna, vários tipos de sistemas de transmissão, utilizados para realizar tarefas em diferentes locais e condições de trabalho. Por isso, é muito importante adoptar procedimentos adequados de manutenção antes e depois das operações, de modo a evitar falhas no funcionamento do equipamento, o que acarreta custos directos e indirectos. A variável de controlo mais utilizada é o tempo de serviço, sendo o instrumento do tractor utilizado para o efeito o horímetro. Alguns dos procedimentos transversais de manutenção planeada recomendados pelos fabricantes são os seguintes: lubrificação; ajuste da tensão ou substituição de correias; aperto de porcas e parafusos; inspecção dos sistemas de direcção e travagem, limpeza e ou troca de filtros.

Os lubrificantes são substâncias que, colocadas entre duas peças móveis, ou uma fixa e outra móvel, formam uma película protectora que tem como função: – Reduzir o atrito e o desgaste; – Auxiliar na diminuição do calor e na vedação do motor; – Fazer a limpeza das peças; – Proteger contra a corrosão; – Evitar a entrada de impurezas. Os lubrificantes apresentam-se principalmente no estado sólido (grafite), pastoso (massas) e líquido (óleos lubrificantes). Os óleos lubrificantes podem ser de origem animal ou vegetal (massas), derivados de petróleo (óleos minerais), ou produzidos em laboratório (óleos sintéticos), podendo ainda ser constituídos pela mistura de dois ou mais tipos (óleos compostos). As principais características dos óleos lubrificantes são a viscosidade, dada pelo Índice de Viscosidade (IV) e a densidade: – A viscosidade mede a dificuldade com que o óleo escorre (escoa) - Quanto mais viscoso for um lubrificante (mais grosso), mais dificilmente escorre, portanto, maior será a sua capacidade em se manter entre duas peças móveis fazendo a lubrificação das mesmas. A viscosidade dos lubrificantes não é constante,

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M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A São classificados por duas letras, a primeira indica o tipo de combustível do motor e a segunda o tipo de serviço.

variando com a temperatura - quando esta aumenta a viscosidade diminui e o óleo escoa com mais facilidade. O Índice de Viscosidade mede a variação da viscosidade com a temperatura. É aqui neste ponto onde as políticas de manutenção, designadamente de condição, podem assumir um papel relevante, atendendo a que as operações de limpeza de filtros, de acordo com as condições de funcionamento, designadamente as poeiras, humidade, água, entre outras, podem provocar variações muito significativas na deterioração dos óleos e no incremento dos consumos. – O motor dos tractores e alfaias agrícolas têm características exigentes, tais como o funcionamento a altas rotações, a temperatura e a pressão, além da contaminação pelos resíduos da combustão. Para facilitar a escolha do lubrificante adequado existem várias classificações, sendo as principais a SAE e a API: – SAE – Classifica os óleos lubrificantes pela sua viscosidade, que é indicada por um número - quanto maior for este número, mais viscoso é o lubrificante, sendo divididos em três categorias: » Óleos de Verão – SAE 20, 30, 40, 50,60; » Óleos de Inverno – SAE 0W, 5W, 10W, 15W, 20W, 25W; » Óleos multi-viscosos (Inverno e Verão) – SAE 20W40,20W-50,15W-50 (a letra W vem do inglês "Winter" que significa Inverno). As principais vantagens dos óleos multi-viscosos em relação aos óleos mono-viscosos são as seguintes: · Arranques a frio mais fáceis; · Lubrificação adequada numa faixa mais ampla de viscosidade; · Menor desgaste do motor; · Menor consumo de combustível; · Menor consumo de lubrificantes; · Maior durabilidade da bateria. · – API – Baseia-se nos níveis de desempenho dos óleos lubrificantes, isto é, no tipo de serviço a que a máquina estará sujeita.

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Quanto à lubrificação do sistema de transmissão de um tractor, sendo esta constituída por embraiagem, caixa de velocidades (câmbio), diferencial, redução final, freios (a banho de óleo) e Tomada De Força (TDP), é responsável pela transmissão da potência produzida pelo motor para movimentar as rodas de tracção e alfaias colocadas no tractor através da TDP do tractor, sendo os óleos lubrificantes utilizados igualmente classificados pela SAE e API: – SAE – Semelhante à utilizada para óleos lubrificantes para motores. » Óleos para Verão – SAE 90,140,250; » Óleos para Inverno – SAE 70W, 75W, 80W, 85W; » Óleos multi-viscosos (Inverno e Verão) – SAE 80W-90, 85W-140. · API – Nesta classificação, o óleo é classificado pelas letras "GL" (Gear Lubrificant), que significa lubrificante para engrenagens, seguido de um número que indica o tipo de serviço a que se destina – quanto maior o número, mais severo é o serviço a que corresponde. No que respeita ao sistema hidráulico de levantamento de três pontos de um tractor, responsável pela elevação e posicionamento de alfaias e máquinas agrícolas, a direcção é hidráulica ou hidrostática, sendo também accionada hidraulicamente, podendo ou não ser independente do sistema hidráulico. Os óleos lubrificantes utilizados neste sistema são os seguintes: – Classificação ISO – Análoga à SAE – a ISO (International Organization for Standardization), tem uma classificação tendo em consideração apenas a viscosidade do óleo lubrificante, não considerando o seu uso. O grau ISO indica que a viscosidade do óleo pode variar até 10% acima ou abaixo daquele valor; – Classificação DIN – A norma DIN baseia-se na qualidade do óleo mineral – Classifica os óleos lubrificantes como: » C – óleo lubrificante para circulação; » CL – óleo com maior poder anticorrosivos; » H-L – óleos hidráulicas sem aditivos anti-desgaste; » H-LP – óleos hidráulicos com aditivos anti-desgaste. Como se constata, os óleos têm uma importância estratégica na manutenção das máquinas agrícolas. Ora, sendo a análise de óleos uma das técnicas mais consolidadas e difundidas de manutenção condicionada preditiva, impõe-se a sua utilização extensiva a este tipo de equipamentos. Este tipo de manutenção será novamente abordado em artigos posteriores.

BIBLIOGRAFIA 1- Farinha, J. T. (2011): Manutenção – “A Terologia e as Novas Ferramentas de Gestão”. Monitor, Lisboa, Portugal. ISBN 978-972-9413-82-7.


L U B R I F I C A Ç Ã O / M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A

Os Motores Diesel

Sistema Common-Rail num motor V6 (Foto: AUDI).

SINTETICA www.sintetica.pt

O motor diesel é o mais eficiente de todos os motores de combustão interna. Juntamente com a grande fiabilidade e durabilidade, esta é uma das razões pelas quais os fabricantes de tractores escolhem este tipo de motores. Além disso, os recentes avanços na tecnologia dos motores diesel melhoraram o desempenho, diminuíram o ruído e o consumo de forma significativa, fazendo deles uma opção ainda mais atractiva. Hoje, os veículos a diesel consomem em média menos 30% de combustível e produzem 25% menos emissões de CO2 do que os veículos a gasolina. Combustíveis mais limpos e novas tecnologias nos motores continuarão a melhorar as taxas de eficiência do combustível e da emissão de CO2 , assim como a emissão de partículas. A procura mais forte do diesel é na Europa, onde o sector agrícola conta com aproximadamente 100% do mercado, sendo que no caso dos veículos ligeiros essa percentagem é de cerca de 53%. O consumidor europeu compreende inteiramente os benefícios do diesel e tira partido da taxa de incentivos e dos benefícios económicos do gasóleo agrícola. O motor diesel é também o mais eficiente de todos os motores de combustão interna devido ao princípio do “learn-burn”. A introdução das modernas injecções directas no diesel trouxe melhorias adicionais a nível do ruído, do desempenho, da eficiência do combustível e das emissões. Estes avanços tecnológicos têm aumentado a competitividade do diesel “vis-à-vis” da gasolina. O motor diesel funciona segundo o conceito lean-burn (mistura pobre), ou seja, menos combustível para o mesmo volume de ar, permitindo que este motor de combustão interna opere com rácios da mistura ar-combustível mais elevados do que o mínimo necessário para uma completa queima do combustível. Por outro lado, a avançada tecnologia do motor com injecção directa no diesel proporciona soluções avançadas no preciso controlo da injecção do combustível que resultou na redução de emissões e uma significativa melhoria do desempenho. Os motores diesel modernos exibem um excelente desempenho e conforto, especialmente os motores de hoje com intercoolers e injecção directa do combustível. Geram um torque mais elevado comparativamente aos motores a gasolina, significando que são mais indicados para “puxar cargas”. Outra questão a ter em conta nos motores diesel é o seu combustível. No processo de refinação do petróleo para a produção do combustível diesel, utiliza-se menos energia, o que resulta em emissões mais baixas face à produção de biocombustíveis. São estes biocombustíveis – que no caso do diesel é designado por biodiesel – que são misturados em diferentes percentagens no Diesel Clássico, formando a actual percentagem mínima obrigatória na União Europeia (UE) de B07 (mistura de 7% de Biodiesel no Diesel Clássico), disponível nos postos de abastecimento de combustível. Esta percentagem tem de ser aumentada para os 10% (B10) até 2020. A introdução deste biocombustível fica a dever-se ao controlo das emissões poluentes que, por sua vez, introduzem um novo e grave problema no lubrificante motor e no próprio motor, sendo este um assunto para um próximo artigo. De facto, sem a contri-

buição do crescimento do motor diesel e as suas novas tecnologias, não seria possível conseguir os objectivos na redução do consumo de combustível e das emissões de CO2 na UE nos últimos anos. As emissões de diesel foram já reduzidas na ordem dos 80% entre 1990 e 2000 sob o programa EURO III (actualmente no sector agrícola está em vigor a Fase III B).

OS AVANÇOS NA TECNOLOGIA DO DIESEL Common-rail é uma avançada tecnologia de injecção de combustível que se caracteriza pela existência de uma rampa comum a todos os injectores. Uma única bomba de combustível de alta pressão alimenta os injectores que, através de um sistema electrónico, controlam com precisão a pressão, o tempo e a duração da injecção do combustível. Tempo Variável da Injecção é uma outra inovação no novo sistema de controlo do combustível em que um injector de combustível de alta pressão controlado electronicamente liberta a quantidade precisa de combustível no momento exacto para que se consiga em cada ciclo atingir a pressão máxima da combustão (maior rendimento do motor). Turboalimentação utiliza a energia da exaustão (turbo-compressor) do motor para aumentar o seu desempenho. Os gases de exaustão movem uma turbina existente no colector de escape, que por sua vez faz mover outra turbina, através do mesmo veio, no caracol da entrada de ar (compressor) que força uma maior quantidade deste a entrar no motor, reduzindo as emissões e incrementando a performance do motor. Recirculação dos Gases de Escape (EGR – Exhaust Gas Recirculation) é um sistema com a função de reduzir as emissões poluentes de NOx (Óxido Nitrogénio). Através de um controlo electrónico, e dependendo do regime do motor, são colocados através da válvula EGR gases de escape no sistema de entrada de ar, para serem novamente queimados. Este é um sistema fundamental para o cumprimento da norma EURO III.

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ESPECIAL OLIVAL

Apanha Mecânica de Azeitona VAREJADORES

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as diversas fases do processo produtivo da produção de azeite, a apanha da azeitona era e continua a ser a que mais contribui para a composição do custo de produção. O sistema ancestral do varejamento, apanha e limpa por processos manuais circunscreve-se hoje à apanha de pequenas parcelas destinada ao consumo próprio e da família próxima. É ainda uma prática recorrente em Trás-os-Montes e nas Beiras. O crescente desenvolvimento de oferta de soluções mecânicas para varejamento e vibração veio contribuir para uma melhoria do processo e alterar significativamente a “paisagem” típica dos nossos olivais, no período que decorre entre os meses de Novembro e Fevereiro. Estando longe de ser o high-tech da tecnologia de apanha de azeitona, reservada para os sistemas de apanha em contínuo de produção intensiva, os varejadores são, pela sua versatilidade e custo de aquisição, os equipamentos ideais para pequenas explorações de algumas centenas de oliveiras. Os ganhos pela redução do número de homens necessários para varejar e grau de eficácia de operacionalização tornam estes equipamentos altamente indispensáveis em explorações de reduzida dimensão. São já várias as ofertas de Varejadores de Azeitona comercializados em Portugal. No quadro que se segue apresentamos aos nossos leitores um estudo comparativo das diversas marcas e modelos que nos foi possível identificar. Registamos desde já uma lacuna neste trabalho, particularmente no que concerne a parâmetros de ergonomia, vibrações e produção de gases de escape. Parâmetros de todo relevantes para uma escolha, mas que não fornecidos pelos fabricantes com validação por entidade certificadora.

NOTA: Para além das marcas referenciadas neste estudo comparativo, foram por nós detectadas no mercado nacional as seguintes marcas: Castellari, AgroPimar, Benza, Olivator, Pellenc, Agris Brumi, Campagnola. Apesar dos nossos empenhados esforços junto dos seus agentes e representantes, não nos foi possível obter a informação pretendida.

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VAREJADOR ELÉCTRICO MAMBO KARBONIUM O novo varejador para a colheita de azeitona MAMBO KARBONIUM representa o inĂ­cio de um novo mĂŠtodo de trabalho. Estudado sob o princĂ­pio da oscilação, a elevada frequĂŞncia simula o voo de um morcego tomando todas as suas qualidades: leveza, rapidez e silĂŞncio. A transmissĂŁo ĂŠ composta por engrenagens de aço especial lubrificadas e montadas sobre rolamentos, num suporte de alumĂ­nio, garantindo a sua durabilidade. Motor electrĂłnico sobredimensionado (500W). Varetas amovĂ­veis em carbono. Centralina electrĂłnica com protecção tĂŠrmica, kit de bateria em mochila de 12Ah ou 15Ah. %BEPT UĂ?DOJDPT .PUPS FMFDUSĂ˜OJDP EF FMFWBEB QPUĂ?ODJB 8 t 7BSFUBT BNPWĂ“WFJT FN GJCSB EF DBSCPOP t &TUSVUVSB F SFWFTUJNFOUP EB DBCFĂŽB FN UFDOPQPMĂ“NFSP F GJCSB EF DBSCPOP t "MJNFOUBção a bateria 12 V (de tractor por ex.) ou com bateria de mochila disponĂ­vel em 12Ah (6horas) PV "I IPSBT t )BTUF UFMFTDĂ˜QJDB FN BMVNĂ“OJP DPN TJTUFNB BOUJ SPUBĂŽĂ?P F EFTCMPRVFJP SĂˆQJEP %F NU B NU PV EF B NU t $FOUSBMJOB FMFDUSĂ˜OJDB DPN MJNJUBEPS EF BCTPSĂŽĂ?P NĂˆYJNB BMBSNF UĂ?SNJDP F OP DBTP EBT DPN CBUFSJB DPOUSPMP EF DBSHB EF CBUFSJB F GVTĂ“WFM EF protecção incorporado; Interruptor de capacidade IP67. DisponĂ­vel nas opçþes: ElĂŠctrico - SĂł com cabo e centralina (pronto a ligar a uma bateria de tractor por exemplo) • KAL200 com haste telescĂłpica de 170 a 250cm • KAL300 com haste telescĂłpica de 210 a 340cm. Com bateria de 12Ah (em mochila para trazer Ă s costas) • KAL200 PLUS 12Ah • KAL300 PLUS 12Ah. Com bateria de 15Ah (em mochila de trazer Ă s costas) • KAL200 PLUS 15Ah • KAL300 PLUS 15Ah. PneumĂĄtico • Karbonium AIR AL200 • Karbonium AIR AL300. Motor combustĂŁo • KARBONIUM COMBI (motor Honda a gasolina)

ELECTRO’LIV VAREJADOR ELÉCTRICO DE OLIVEIRAS RENDIMENTO MĂ XIMO, VIBRAÇÕES MĂ?NIMAS PARA O UTILIZADOR O sistema elĂ­ptico com patente registada pelo Sr. Daniel Delmas da sociedade INFACO justifica-se por um movimento redondo ou oval conforme a inclinação do pente. Este movimento especial traz uma melhor recolha das azeitonas mais difĂ­ceis num tempo muito mais curto. Graças as este sistema as azeitonas caiem junto ao pĂŠ da oliveira e nĂŁo sĂŁo projectadas fora das lonas ou redes. Dois tamanhos de pentes estĂŁo Ă sua disposição para melhorar a colheita, seja qual for a qualidade das oliveiras, bem como dois tamanhos de varas, fixa ou telescĂłpica. A ELECTRO’LIV foi feita para se adaptar a todas as situaçþes da colheita. Divida por 3 o seu tempo de colheita (* teste efectuado em comparação com a colheita manual).

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Marca

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Cifarelli

Motor de 2,1 kW

Motor de 2,2 kW

Motor de 2,2 kW

SP 481 Vara curta (de gancho profissional.)

SP 481 Vara comprida (de gancho profissional.)

Motor 4-MIX

SP 90 T

SP 451 - Vara comprida (de gancho profissional.)

Motor 4-MIX

SP 90

Motor de 2,1 kW

Motor 2-MIX

KM 56 RC-E

SP 451 Vara curta (de gancho profissional.)

Cifarelli C5

Cifarelli C5

SC 800

SC 105

Motor

Modelo

STIHL

48,7 cm³

48,7 cm³

44,3 cm³

44,3 cm³

28,4 cm³

28,4 cm³

27,2 cm³

50,8 cm³

50,8 cm³

Cilindrada

2,2 kW/3,0 PS

2,2 kW/3,0 PS

2,1 kW/2,9 PS

2,1 kW/2,9 PS

0,95 kW /1,3 PS

0,95 kW /1,3 PS

0,8 kW/1,1 CV

1,9 kW/2,5 cv.

2,1 kW/2,8 cv.

Potência

Cabeça redutora com lubrificação vitalícia.

Caixa redutora com eixos de balanço contra-rotativos com lubrificação vitalícia.

Caixa redutora com eixos de balanço contra-rotativos com lubrificação vitalícia.

Caixa redutora com eixos de balanço contra-rotativos com lubrificação vitalícia. 3328/min.

3328/min.

3328/min.

14 Kg (não abastecida).

13,9 Kg (não abastecida).

14 Kg (não abastecida).

3328/min.

1820/min.

6,2 Kg (não abastecida).

13,9 Kg (não abastecida).

1820/min.

Caixa redutora com eixos de balanço contra-rotativos com lubrificação vitalícia.

6,4 m/s2 (dta). 7,4 m/ s2 (esq).

6,1 Kg (não abastecida).

Cabeça redutora com lubrificação vitalícia.

5,7 m/s2 (dta). 5,7 m/s2 (esq).

5,7 m/s2 (dta). 5,7 m/s2 (esq).

5,7 m/s2 (dta). 5,7 m/s2 (esq).

5,7 m/s2 (dta). 5,7 m/s2 (esq).

6,4 m/s2 (dta). 7,4 m/ s2 (esq).

3,7 m/s2 (dta). 4,6 m/ s2 (esq).

6,3 Kg (não abastecida).

Cabeça redutora com lubrificação vitalícia.

Mais de 1800/min.

Mais de 2000/min.

Vibrações

10,8 Kg (vazio).

14,9 Kg (vazio).

Redutor mecânico com engrenagens helicoidais em banho de óleo.

Impulsos

Redutor mecânico com engrenagens helicoidais em banho de óleo.

Peso

Transmissão

145 cm.

231 cm.

231 cm.

Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX.

Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX.

Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

287 cm.

327 cm.

287 cm.

327 cm.

Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX. Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX. Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX. Mistura de gasolina com óleo HP (medida 1:50) ou MotoMIX.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

Ignição comandada por microprocessador com regulação do ponto de ignição.

210 cm.

Desde 210 cm a 320 cm.

Comp. Vara

Mistura de óleo e gasolina.

Mistura de óleo e gasolina.

Combustível

Mecânico.

Mecânico.

Accionamento

ElastoStart. Bomba de combustível integrada. Sistema anti-vibratório com redução em 70% das vibrações ao operador. Punho multifuncional.

ElastoStart. Bomba de combustível integrada. Sistema anti-vibratório com redução em 70% das vibrações ao operador. Punho multifuncional.

ElastoStart. Bomba de combustível integrada. Sistema anti-vibratório com redução em 70% das vibrações ao operador. Punho multifuncional.

PVP c/ IVA 1750,00€

PVP c/ IVA 1716,00€

PVP c/ IVA 1605,00€

PVP c/ IVA 1569,00€

PVP c/ IVA 1033,00€

Princípio de 8 dedos em carbono. Sistema anti-vibratório. Haste divisível com possibilidade de acoplamento de outras ferramentas. Prolongamento em carbono(1 m) ou alumínio(1 m ou 0,5 m). Podem ser acoplados. Bomba de combustível integrada. ElastoStart. Bomba de combustível integrada. Sistema anti-vibratório com redução em 70% das vibrações ao operador. Punho multifuncional.

PVP c/ IVA 955,00€

PVP c/ IVA 959,00€

Princípio de 8 dedos em carbono. Sistema anti-vibratório. Bomba de combustível integrada.

Punho circular. Haste divisível com possibilidade de acoplamento de outras ferramentas. Ergostart. Acoplamento rápido com porca de encaixe.

1,379.00€ + IVA

1,445.00€ + IVA

Sistema anti-vibração. Capacidade do depósito 1,5 L. Protecção do motor. Golpe 62 mm. Acessórios: tubo alargador telescópico, colete ergonómico.

Sistema anti-vibração. Capacidade do depósito 1,5 L. Protecção do motor. Golpe 55 mm.

Preço

Outras Características

ESPECIAL OLIVAL

VAREJADORES PARA A COLHEITA DA AZEITONA CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS


Marca Transmissão em alumínio.

Motor de escovas de 12 V. Pode-se conectar com qualquer bateria.

OLIV-ONE

OLIVECO

Lisam

50,6 cc

50,6 cc

Motor pneumático alto rendimento.

Motor pneumático alto rendimento.

Motor Xtorque (máxima potência com menor consumo).

Motor Xtorque (máxima potência com menor consumo).

Motor Xtorque (máxima potência com menor consumo).

Pente FLASH PICKER

Pente PIRATA

34303

35304

35304X

AGROTEC / DEZEMBRO 2011 HP

2,4 kw / 3,22 Transmissão Low Vib.

Transmissão Low Vib.

11,7 kg

45,2 cc

Motor pneumático alto rendimento.

Pente MG MAGNESIUM

2,4 kw / 3,22 HP

1,1 Kg

Motor pneumático alto rendimento.

Pente V7 MAGNESIUM

15 kg

13,3 kg

1,1 Kg

1,1 Kg

0,95 Kg

Motor pneumático alto rendimento. 0,68 Kg

2,7 Kg

2,9 Kg

2,7 Kg

Peso

Pente V8 TITANIUM

Transmissão Low Vib.

Transmissão em alumínio.

Motor de 12 V de última geração. Pode-se alimentar com 1 pilha comum de 12 V de baixo consumo (absorção 8 Ah/hora)

2,1 kw / 2,82 HP

Motor directo.

Transmissão

OLIWATT2

Potência

Motor de 12 V de última geração. Pode-se alimentar com 1 pilha comum de 12 V de baixo consumo (absorção 8 Ah/hora)

Cilindrada

Motor

Modelo

1800/min.

1800/min.

2900/min.

1500/min.

1300/min.

1500/min.

1600/min.

1800/min.

1150/min.

1300/min.

1300/min.

Impulsos

2.7/5.1 m/s² (esq./dir.)

3.9/18.2 m/ s² (esq./dir.)

6.1/20.6 m/ s² (esq./dir.)

Vibrações

Pneumático.

Pneumático.

Pneumático.

Pneumático.

Pneumático.

Controlo Electrónico.

Controlo Electrónico.

Controlo Electrónico.

Accionamento

Mistura de gasolina com óleo (medida 1:50 = 2%).

Mistura de gasolina com óleo (medida 1:50 = 2%).

Mistura de gasolina com óleo (medida 1:50 = 2%).

Bateria portátil de iões de lítio.

Bateria portátil de iões de lítio.

Bateria portátil de iões de lítio.

Combustível

421,00 €

1.460,37 € (com IVA)

1.580,09 € (com IVA)w

1.809,92 € (com IVA)

Consumo de ar 200 It/min. Pressão do exercício 6-8 bar. 2 modelos do Pirata Magnesium, com encaixe de barra oblíquo (mod. SR) e com encaixe de barra recto (mod. FD). Gancho de grande abertura em forma de V. Equipado com arnês. Golpe: 30 mm. Abertura de gancho: 32 mm. Sistema eficaz de amortecimento para o usuário. Gancho de grande abertura em forma de V. Equipado com arnês. Golpe: 50 mm. Abertura do gancho: 42 mm. Diâmetro do cilíndro: 45 mm. Capacidade do tanque: 0.8 l. Sistema eficaz de amortecimento para o usuário. Gancho de grande abertura em forma de V. Equipado com arnês. Golpe: 40 mm. Abertura do gancho: 42 mm. Diâmetro do cilíndro: 45 mm; Capacidade do tanque: 0,8 l. Sistema especial de amortecimento anti-vibratório para o usuário (vibrações quase nulas).

Longitude do tubo: 900 mm. Total: 2.280 mm.

Longitude do tubo: 2055 mm. Total: 2.930 mm.

Longitude do tubo: 2055 mm. Total: 2.930 mm.

421,00 €

421,00 €

451,00 €

631,00 € sem bateria

782,60 € sem bateria

Preço

400,00 €

Consumo de ar 200 It/min. Pressão do exercício 6-8 bar.

Consumo de ar 200 It/min. Pressão do exercício 6-8 bar.

Consumo de ar 200 It/min. Pressão do exercício 6-8 bar.

Outras Características

Consumo de ar 200 It/min. Pressão do exercício 6-8 bar.

Telescópica máx. 3 m.

Telescópica máx. 3 m.

Telescópica máx. 3 m.

Comp. Vara

VAREJADORES PARA A COLHEITA DA AZEITONA CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS

Husqvarna

97


500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

500 W

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Motor eléctrico sobredimensionado 500 W.

Mambo Karbonium Evo AL 300/K

Karbonium Evo Plus AL 200/K 12 Ah

Karbonium Evo Plus AL 300/K 12 Ah

Karbonium Evo Plus AL 200/K 15 Ah

Karbonium Evo Plus AL 300/K 15 Ah

Olivar Electric AL 200/O

Olivar Electric AL 300/O

Kit Olivar Plus AL 200/O

Kit Olivar Plus AL 300/O

Kit Olivar Plus AL 200/0 15 Ah

Kit Olivar Plus AL 300/0 15 Ah

Potência

Mambo Karbonium Evo AL 200/K

Cilindrada

Motor

Modelo

Marca

98

Zanon Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Transmissão

Electrónico.

Electrónico.

2,2 Kg + 6,9 Kg bateria.

2,4 Kg + 6,9 Kg bateria.

Electrónico.

Electrónico.

Electrónico.

Electrónico.

Electrónico.

2,5 Kg

2,3 Kg + 5,9 Kg bateria.

2,5 Kg + 5,9 Kg bateria.

2,3 Kg + 6,9 Kg bateria.

2,5 Kg + 6,9 Kg bateria.

Electrónico.

Electrónico.

2,4 Kg + 5,9 Kg bateria.

2,3 Kg

Electrónico.

Electrónico.

Accionamento

2,2 Kg + 5,9 Kg bateria.

Vibrações

Electrónico.

Impulsos

2,4 Kg

2,2 Kg

Peso

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria 12 V (tractor por exemplo).

Bateria 12 V (tractor por exemplo).

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria com tecnologia LI-FEP04.

Bateria 12 V (tractor por exemplo).

Bateria 12 V (tractor por exemplo).

Combustível

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Telescópica em 2 opções: AL200 (170/250cm) ou AL300 (210/340).

Comp. Vara

Alimentação: 33 V. Bateria de mochila. Cabo espiralado de 1,5 m.

Alimentação: 33 V. Bateria de mochila. Cabo espiralado de 1,5 m.

Alimentação: 33 V. Bateria de mochila. Cabo espiralado de 1,5 m.

Alimentação: 33 V. Bateria de mochila. Cabo espiralado de 1,5 m.

Alimentação: 12 - 33 V. Cabo de 15 m. Interruptor IP-67. Estrutura em tecnopolímero e fibra de carbono.

Alimentação: 12 - 33 V. Cabo de 15 m. Interruptor IP-67. Estrutura em tecnopolímero e fibra de carbono.

Alimentação: 33 V. Cabo de 2,5 m. Bateria com tecnologia LI-FEP04. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Alimentação: 33 V. Cabo de 2,5 m. Bateria com tecnologia LI-FEP04. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Alimentação: 33 V. Cabo de 2,5 m. Bateria com tecnologia LI-FEP04. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Alimentação: 12 - 33 V. Cabo de 15 m. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Alimentação: 12 - 33 V. Cabo de 15 m. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Alimentação: 12 - 33 V. Cabo de 15 m. Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Outras Características

Preço

ESPECIAL OLIVAL

VAREJADORES PARA A COLHEITA DA AZEITONA CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS


Marca

Zanon

Infaco

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

99

Electro'Liv

Super Mambo 22D

Mambo Light

Mambo Speed

Bateria de carro ou tractor 12 V ou bateria tipo ELECTRO'LIV 48V.

Motor pneumático de dimensões compactas com cilindro de bronze de alto rendimento.

Motor pneumático de dimensões compactas com cilindro de bronze de alto rendimento.

Motor Honda de 4 tempos.

Karbonium Combi multifunções

Karbonium AIR

Motor

Modelo

Cilindrada

150 W

Potência

1 Kg

0,89 Kg

Estrutura em tecnopolímeros de altíssima resistência preparada para o trabalho intensivo, mesmo a baixas temperaturas.

Estrutura em tecnopolímeros de altíssima resistência preparada para o trabalho intensivo, mesmo a baixas temperaturas.

0,95 Kg

0,75 Kg

Estrutura em tecnopolímeros de altíssima resistência preparada para o trabalho intensivo, mesmo a baixas temperaturas.

Estrutura em tecnopolímeros de altíssima resistência preparada para o trabalho intensivo, mesmo a baixas temperaturas.

7,1 Kg

Peso

Engrenagens em aço temperado, lubrificadas e montadas sobre rolamentos em chassis de alumínio de alta resistência.

Transmissão

1000/ min.

1300/ min.

1500/ min.

1600/ min.

1200/ min

Impulsos

Vibrações

Eléctrico.

Pneumático.

Pneumático.

Pneumático.

Pneumático.

Combustão.

Accionamento

Gasolina.

Combustível

Vara fixa 2 m ou vara telescópica de 2,10 m a 3,10 m.

AL300 (200-340 cm).

AL200 (120/200 cm).

AL100 (70-120 cm).

3 opções telescópicas.

1 opção: 300 cm.

Comp. Vara

Tensão da bateria: 48V (disponível também em 12 V). Autonomia da bateria: 3 a 8h. Tempo de carga: 2-10h. 2 tipos de pentes em carbono.

Pentes: 24,5 cm 11+11. Pressão: 6-8 Bar. Aspiração do ar: 200 Lt./min.

Pentes: 24,5 cm 9+9. Pressão: 6-8 Bar. Aspiração do ar: 200 Lt./min.

Pentes: 24,5 cm 11+11. Pressão: 6-8 Bar. Aspiração do ar: 200 Lt./min.

Amplitude de movimentos: 25 - 50 cm.

Silenciador. Com lubrificação forçada. Novo sistema antivibração. Com vários acessórios.

Outras Características

Preço


M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A

SÉRIE AXION 900 UMA MODERNA TECNOLOGIA DE TRACTOR

economia de combustível. O AXION 900 está disponível nas variantes de 40 e 50 kph. Os pneus traseiros com um diâmetro até 2,15 metros permitem que a potência do motor seja efectivamente transferida para o solo. Já os da frente têm um diâmetro até 1,7 metros. Pneus duplos frontais e traseiros são opcionais.

Cabina e ergonomia

A família de tractores CLAAS foi alargada com a chegada de uma gama inteiramente nova. Os quatro modelos AXION 920, 930, 940 e 950, com saídas de potência máximas de 320, 350, 380, 410 hp (ECE R 120) vêm preencher uma lacuna nos conceituados tractores de alta potência 4x4 AXION 800 (164-260 hp) e XERION 3300 e 5000 (330-530 hp). Todos os tractores de alta potência 4x4 CLAAS na série XERION foram adaptados às condições de trânsito europeias e às regras de trânsito em vigor, estando equipados com quatro pneus de 2,15 metros de diâmetro e 90 cm de largura.Tendo as primeiras máquinas de pré-produção AXION 900 entrado em funcionamento em 2009, desde então o novo tractor tem vindo a ser exaustivamente usado em campos um pouco por toda a Europa e em diálogo directo com os utilizadores. Design e tecnologia inovadora estão bem patentes neste novo tractor. De modo a destacar a sua tracção e eficiência, o veículo exibe uma longa distância entre eixos (3,15 metros) e uma distribuição equilibrada de peso. Contudo, as suas dimensões compactas asseguram uma boa manobrabilidade não é impedida.

No que toca a tecnologia agrícola, a actual tendência para que menos máquinas mas de maior dimensão cubram áreas mais amplas, vem colocar crescentes exigências tanto ao homem como à máquina. Como resultado, o conforto e a ergonomia da cabina tornam-se cada vez mais importantes. O AXION 900 exibe uma nova cabina de quatro pilares, desenvolvida em estreita colaboração com agricultores de toda a Europa e que leva o conforto e a funcionalidade para um novo nível. Nesta matéria, os pontos de vista dos utilizadores e a análise científica dos requisitos do condutor em termos de design e conforto de cabina foram incorporados num novo conceito ergonómico. Tal proporciona, entre outras coisas, uma melhor visibilidade frontal mas também à rectaguarda. O melhorado posicionamento do assento e a janela traseira convexa permitem uma excelente panorâmica mesmo das maiores expansões, sem verticalidades que perturbem o campo de visão do condutor. A suspensão do eixo dianteiro e o revisto sistema de suspensão da cabina proporcionam um ambiente de trabalho muito confortável e sem fadiga tanto durante as operações de campo como nas viagens rodoviárias. O novo comando CMOTION (já visto nos modelos XERION 5000/4500) foi especialmente desenvolvido para facilidade de utilização. O conceito de três dedos permite o controlo intuitivo de até 20 funções sem ter de ajustar a sua força. O terminal CEBIS a cores e de fácil operação encontra-se integrado no novo braço de apoio e a estrutura de menus é de fácil assimilação, encontrando-se garantido o acesso directo a todas as principais funções. Um total de 20 luzes de trabalho (incluindo luzes xenon) proporcionam iluminação de 360º, permitindo que o condutor obtenha uma visão excelente e segura mesmo no escuro.

CPS (CLAAS POWER SYSTEMS) Com um conceito de design inteiramente novo, a nova série abrange um conjunto de inovadores avanços tecnológicos, como a tecnologia SCR (Selective Catalytic Reduction), onde o conversor catalítico SCR se encontra alojado sob o capot do motor. Os novos modelos AXION incorporam ainda o conceito CLAAS POWER SYSTEMS (CPS), que oferece uma combinação optimizada de componentes recentemente desenvolvidos e tecnologia de tracção. Não se trata apenas de performance de motor e conformidade com os padrões de emissões, mas também da máquina como um todo, da sua eficiência no uso diário e o uso inteligente de energia. O AXION 900 retira a sua energia de um motor common rail FPT Cursor 9 de seis cilindros de 8,7 litros e 4 válvulas, sendo o primeiro modelo de tractor da marca a cumprir os requisitos da rigorosa norma de emissões de gases de exaustão Stage IIIb (TIER 4i). Um outro elemento deste conceito é a transmissão variável contínua (CMATIC) ZF Eccom 3.0. Quatro sistemas de autonomia mecânica asseguram uma eficaz transferência de alta potência e consolidam um conceito de transmissão a diesel de elevada

100

www.claas.com

JÚRI SITEVI’11 PREMEIA INOVAÇÃO Decorreu no Parque de Exposições de Montpellier, em França, de 29 de Novembro a 1 de Dezembro, a 25.a edição da SITEVI, feira internacional de referência para materiais, equipamentos e serviços das fileiras vinha-vinho & frutas-legumes. Servindo de barómetro a todo o sector, rico em conteúdos e novidades, o SITEVI proporciona novas perspectivas aos produtores, apresentando soluções e ferramentas e apontando ao futuro. A montra de Inovação é um dos pontos altos do certame gaulês que este ano voltou a distinguir diversas empresas e as suas novidades:

GRÉGOIRE Medalha de Ouro para a sua máquina FléxiSpray para a apanha de azeitona em cultura intensiva e que proporciona uma colheita contínua.


ACTUALIDADE

PELLENC Medalha de Prata pela sua máquina adaptada à apanha da azeitona em sebes. Como vantagens apresenta a preservação das oliveiras graças à altura de colheita, sistema vibratório duplo, vibração dinâmica, excepcional visibilidade, novo sistema de prato para impedir o desperdício de azeitona no chão, entre outras.

CTIFL Medalha de Prata para o seu aparelho de pré-calibragem dos frutos: Pixfel©.

TIXAD Medalha de Prata para o aparelho integrado destinado ao controlo e registo de aplicações de pesticidas.

NEW HOLLAND AGRICULTURE Premiada com duas Medalhas de Prata e uma menção honrosa nos prémios Sitevi 2011. Uma das medalhas foi atribuída ao Sistema de Segurança Activa e Pesagem (Active Safety and Weighing System ou ASW), desenvolvido para a gama Braud 9000 de ceifeirasdebulhadoras multifunções, que melhora a segurança do operador e regista o rendimento da colheita. A outra foi entregue à ceifeira-debulhadora Braud 9090X Olive, concebida para aumentar a eficiência e a qualidade do tão intensivo cultivo da azeitona. O conceito ECOBraud, que permite calcular as emissões de carbono das vinhas e oferece estratégias para a redução global de gases com efeito de estufa, recebeu uma Menção Honrosa.

www.sitevi.com

AS NOVIDADES FENDT CHEGAM A PORTUGAL No início do ano, a Sociedade Agrícola Quinta dos Torreões adquiriu à Novapercampo um Fendt 939 Vario Profi-Plus, o tractor convencional de maior potência do mercado e um Fendt 415 Vario, que é um dos modelos de mais sucesso da marca alemã em Portugal. Estas aquisições enquadram-se na estratégia de modernização e redução de custos operacionais que João Monteiro Grilo, agricultor e gestor da Quinta dos Torreões, tem vindo a desenvolver (de notar que para além do Fendt 939, já no ano passado o empresário adquiriu um cultivador Rubin KUA 9/600 da marca Lemken) sendo estes os primeiros veículos vendidos em Portugal. O Fendt 939 está equipado com um motor Deutz de 7,8 litros com seis cilindros, injecção Common-Rail que atinge uma pressão máxima de 2000 bar e sistema SCR (Selective Catalitic

Reduction) que reduz os gases de escape nocivos em 95 %. Esta inovação, que já era utilizada na nova série 800 Vario, permite cumprir a norma ambiental nível 3b, obrigatória a partir do próximo ano de 2012. Este sistema faz o tratamento dos gases de escape sem interferir na combustão do motor, logo o tractor torna-se mais eficiente e reduz o consumo de combustível em pelo menos 7 %*. A gestão do motor e da conhecida transmissão Vario (de variação contínua) é feita automaticamente pelo sistema TMS (Tractor Management System), pelo que o motor opera a cada momento no regime mais eficiente para a potência requerida, permitindo uma eficiência imbatível em todo o tipo de operações. Esta eficiência em transporte é ainda melhorada pelo facto de a transmissão Vario permitir que o tractor atinja a velocidade de 60km/h com o motor a apenas 1750 rpm e 50 km/h a apenas 1450 rpm. Por outro lado, inclui equipamentos de segurança como o sistema de travão ABS e o sistema de controlo de estabilidade FSC. Outra inovação é o terminal Vario, agora composto por um ecrã táctil de 11” onde são feitos todos os ajustes e programações do tractor e das alfaias, incluindo os sistemas de gestão de cabeceiras VariotronicTI, de gestão de alfaias e o sistema de informações Variodoc onde, com um esforço mínimo, se podem armazenar informações importantes para a gestão da exploração. Neste ecrã podem ainda ser visualizadas as imagens de uma ou duas câmaras em modo de ¼, ½ ou ecrã total. A utilização deste terminal Vario é muito simples, rápida e extremamente intuitiva, prova disso foi a fácil adaptação dos operadores a este tractor. Tanto João Monteiro Grilo como a sua colaboradora Graça Catarino quase não necessitaram do apoio da Novapercampo para ajustar o tractor às alfaias e às condições de trabalho, bem como para fazer as programações necessárias de modo a tirarem todas as potencialidades dos equipamentos, nomeadamente o controlo dos diferentes componentes das alfaias de forma sequencial e simples através do joystick multifunções. Outro importante equipamento, incluído no Fendt 939, é a préinstalação do sistema de auto-condução automático VarioGuide, que reduz a sobreposição das passagens sucessivas em média 6 %, reduzindo, na mesma proporção, custos como tempo, combustível, sementes e fertilizantes. O terminal Vario é também aqui fundamental uma vez que permite a visualização do mapa do terreno sem recurso a um ecrã extra. Por tudo isto, e aliado ao excelente conforto proporcionado, este tractor garante ao operador uma jornada de trabalho com muito menos cansaço, logo mais eficaz, e ao agricultor garante máxima eficiência e rentabilidade.

Por Nelson Dias, Novapercampo *Medições em laboratório Fendt, comparação 3 3b.

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

101


ACTUALIDADE DESTAQUE PARA QUANDO UM TRACTOR SOLAR? Dia sim, dia não somos atacados com o conceito de poupança de energia e no sector agrícola tal não é excepção, sendo recorrentes as ideias ou soluções avançadas para se conseguir reduzir quer os tempos habitualmente gastos nas várias tarefas, quer os consumos de materiais e combustíveis. Sendo o sol benéfico para imensas coisas (entre elas a preservação da vida na Terra), não raras vezes surge alguém que sugere a criação de um tractor solar que tornaria a lavoura num processo bem mais ecológico. Mas, pese embora o actual estado de desenvolvimento tecnológico do sector, o tractor solar ainda não passa de uma quimera. A empresa austríaca Open Energy tem há já algum tempo a ideia de um protótipo para um tractor deste tipo. O modelo proposto incorpora painéis solares de até 26 metros quadrados com a particularidade de se tratarem de painéis f lexíveis que se adaptam às formas do veículo. Estes painéis foram especialmente desenvolvidos para ajustarem constantemente a sua posição de modo a captarem uma forte percentagem de raios de sol ao longo de todo o dia, aumentando a eficiência em cerca de 40%, ao mesmo tempo que reduzem a dependência da luz solar directa. Mais eficientes que os painéis convencionais, os responsáveis pelo projecto pretendem que o tractor possa acumular energia e conseguir trabalhar durante um dia sem paragens, auxiliando o agricultor em tarefas de monda, perfuração e sementeira, e sem aumentar a sua pegada de carbono no ambiente. Outras abordagens mais convencionais mostram a inclusão de um “tecto solar”, num tractor que gerando apenas cerca de 2 kW poderá ser suficiente para trabalhos de tratamentos ou sementeira, considerando a energia adicional armazenada em baterias. Se muitos consideram estes projectos ainda demasiado “poéticos”, é já possível observar uma série de realidades materializadas em maquinaria agrícola de dimensões mais reduzidas que um tractor, nomeadamente os veículos ATV segadores (as motos de 4 rodas) para uso off-road. Outro exemplo de projecto plenamente desenvolvido é o veículo de modelo “Gator”do fabricante John Deere do qual existem já versões diesel-eléctricas.

NH2, New Holland

102

QUATRO NOVOS MODELOS DE 6 CILINDROS COM POTÊNCIAS ENTRE 185 E 235 HP NOVA SÉRIE DE TRACTORES MF 7600 Com o lançamento da nova série MF 7600, a Massey Ferguson está a introduzir no mercado quatro tractores de topo, potentes, leves e versáteis. Estes combinam tecnologia comprovada com os mais recentes e eficientes motores, adicionando ainda conforto de utilização e controlo por parte do operador. A série MF 7600 pode ser equipada com transmissão Dyna-6 Eco, semi-powershift ou Dyna-VT de variação contínua. Todos os modelos estão equipados com a nova versão de motores AGCO SISU POWER e3 com redução catalítica selectiva de 2.a geração, fornecendo potências entre 185 e 235 hp, assim como uma gestão da potência disponível: “Power Management”. A cabina da série, completamente redesenhada, aumenta a visibilidade, proporciona conforto adicional e um maior espaço interior, podendo os utilizadores escolher entre 3 níveis de equipamento – Essencial, Eficaz e Exclusivo – com novas opções de controlo para atingir os seus requisitos. A imagem exterior dos novos veículos segue o estilo elegante e prático da já conceituada linha MF 8600. www.tractoresdeportugal.com


M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A

TM1000 HIGH POWER: O MAIOR PNEU DE TRACTOR ALGUMA VEZ PRODUZIDO A Trelleborg Wheel Systems apresentou na recente edição da Agritechnica (Hannover, 15 a 19 de Novembro) o pneu TM1000 High Power. Com uma altura e diâmetro total de 2.300 milímetros e uma jante de 46 polegadas, o TM1000 é o maior pneu alguma vez fabricado, tendo sido criado para satisfazer os requisitos da nova geração de motores e transmissões de tractores. “O pneu TM1000 High Power é o resultado de investimentos substanciais em I&D e tecnologia de fabrico, bem como de anos de iniciativas de desenvolvimento conjunto com alguns dos principais fabricantes de tractores”, afirma Paolo Pompei, presidente da divisão de Pneus Agrícolas e Florestais da Trelleborg Wheel Systems. “Este pneu antecipa o tamanho e a potência dos tractores do futuro. Estamos extremamente satisfeitos com os resultados dos testes que mostram que esta nova solução excede as expectativas em quaisquer condições de trabalho e a longo prazo. Ambicionamos redefinir os padrões da indústria agrícola, proporcionando ao agricultor uma solução capaz de impulsionar a produtividade e eficiência da sua exploração em total respeito pelo ambiente”. O pneu foi submetido a um significativo número de testes de interior e exterior de modo a poder cumprir os ambiciosos objectivos de desempenho sob as mais severas condições de trabalho, tanto em campo como em estrada. Nas operações de campo proporciona uma capacidade de tracção 5 a 8 % superior à média do mercado, apresentando um rasto 5 % maior a baixa pressão de enchimento graças à tecnologia Trelleborg BlueTireTM. No campo, a sua elevada resistência à rodagem permite uma redução no consumo de combustível e nas emissões na ordem dos 4 e 6%, proporcionando aos agricultores poupanças que poderão chegar aos 1300 euros por ano. O desenvolvimento deste novo pneu foi motivado por dois valores-chave: produtividade agrícola e preservação do ambiente. O TM1000 High Power será a escolha ideal para a promoção de tecnologias agrícolas sustentáveis, tais como a produção de fontes de energia renováveis e alternativas, agricultura de precisão e avançadas técnicas de reciclagem.


ACTUALIDADE

NOVO TRACTOR SUB-COMPACTO DA JOHN DEERE

disponível um elevador dianteiro de Categoria 0, especificamente desenvolvido para o mercado europeu e com ampla capacidade de elevação para instrumentos largos e instalados na parte da frente. Uma cabina de conforto opcional apresenta portas largas, um ambiente espaçoso pra o operador, um banco em tecido e luzes de trabalho integradas, oferecendo uma excelente visibilidade à noite. A altura total do tractor com cabina incorporada é inferior a 2 m, o que se revela útil para acesso a edifícios baixos e nas alturas em que se trabalha na proximidade de árvores e outros obstáculos. www.deere.pt

Concebido e construído pela John Deere, o novo tractor subcompacto 1026R proporciona elevada potência, desempenho e versatilidade, ao mesmo tempo que oferece uma série de características standard habitualmente encontradas em máquinas maiores. Trata-se de um modelo completamente novo e dirige-se aos clientes particulares e comerciais que necessitam de algo mais para além de um simples cortador de relva. Uma gama alargada de acessórios e implementos (que podem ser mudados rapida e facilmente e em toda a segurança) tornam o veículo apropriado para autarquias, empreiteiros privados, paisagistas, grandes e pequenos proprietários. O 1026R apresenta um motor a diesel de três cilindros e 26 hp (23,8 hp ECE R24), e uma transmissão hidrostática de duas gamas com pedais Twin Touch para facilidade de utilização e um funcionamento preciso. Tanto a tracção às quatro rodas como a direcção assistida são parâmetros standard, proporcionando uma excelente manobrabilidade em todas as condições. O tractor exibe ainda uma maior largura de faixa de 1,2 m para maior estabilidade. A plataforma de fácil acesso e superfície plana, o controlo de velocidade padrão, a coluna de direcção ajustável e um banco suspenso deluxe proporcionam um conforto adicional e uma operação simples. Fazem também parte do equipamento de série um conjunto de iluminação de alta especificação, uma saída de 12 V e um Roll-Gard ROPS amovível. Esta nova máquina pode transportar dezenas de acessórios e implementos, incluindo um carregador frontal de acoplamento rápido com uma capacidade de elevação de 380 kg na sua altura máxima, um sistema de corte rotativo de descarga lateral AutoConnect em montagem central, acessórios de fixação traseira em ligação de três pontos de Categoria padrão I, e outros acessórios instalados na parte frontal tais como lâmina de neve ou escova rotativa com recurso ao sistema Quick Hitch. A robusta plataforma de corte de 3,5 ou 4,5 mm de espessura encontra-se disponível nas larguras de corte de 1,37 ou 1.52 m respectivamente, e é muito fácil de anexar. Recorrendo à tecnologia exclusiva AutoConnect, o operador simplesmente conduz até ao topo da cabina para anexação automática ao tractor. A altura de corte da plataforma pode também ser facilmente ajustada a partir do banco graças a uma manete convenientemente colocada, sendo que a cabina pode ser subida ou baixada através de um sistema independente controlado pelo joystick standard do carregador frontal. A ligação de três pontos com controlo de posição tem uma capacidade máxima de elevação de 525 kg nos extremos dos braços, ou 309 kg a 61 cm atrás dos braços. Também

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DISCO DE CORTE INOVADOR PARA LIMPEZA FLORESTAL

Ulex (nome científico do género a que pertence o tojo) é a designação da marca de um inovador disco de corte para aplicar em roçadoras. A solução desenvolvida é especialmente vocacionada para trabalhos de limpeza florestal e limpezas de grande exigências em terrenos agrestes com pedras e outros obstáculos sólidos que produzem grandes desgastes nos discos. O projecto desenvolvido por Marco Portocarrero, silvicultor com formação em tecnologias de fabrico mecânico, foi objecto de vários prémios de inovação e está presentemente em fase de desenvolvimento empresarial. Formado no CENFIM (Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica), o jovem técnico contou com contributos de investigadores do INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial), instituição com fortes tradições no apoio à investigação e ao desenvolvimento de prototipagem bem como do Instituto Politécnico de Leiria. A empresa alemã IGUS – especialista em deslizamento – desenvolveu a solução do polímero adequado a uma solicitação de grande desgaste à fadiga e ao choque. Através de tecnologias de produção de componentes metálicos e materiais compósitos, concebeu-se um disco de corte polivalente (Ulex Pro), totalmente isento de manutenção e com um rendimento de trabalho excepcional. Baseado no princípio das lâminas metálicas centrífugas, com aplicações conhecidas desde há muito em engenhos pesados para agricultura, silvicultura ou manutenção das bermas das estradas, com a introdução no mercado de um disco com 375 mm de diâmetro e quatro lâminas auto-aguçáveis com geometria própria, a Ulex® oferece agora um acessório realmente eficaz e seguro para equipamentos portáteis (moto-roçadoras) e a pensar em profissionais exigentes. www.ulex.pro


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AIVECA REVESTIDA A DIAMANTE MENOR FRICÇÃO, MENOR A POTÊNCIA EXIGIDA... MENOR GASTO DE COMBUSTÍVEL, POR CRISTINA SOUSA CORREIA Os revestimentos a carbono-diamante são extremamente rígidos e resistentes e são usados, por exemplo, na protecção dos discos duros de computadores e no fabrico de esferas de rolamentos para assegurar que estas permaneçam lisas. No futuro, poderão também ajudar os agricultores a poupar combustível enquanto lavram as terras e tornando a execução desta tarefa mais fácil. A título de exemplo, sabe-se que para arar o solo os agricultores alemães consomem cerca de um bilião de litros de combustível por ano. Cerca de 50 por cento desta energia é perdida em consequência da fricção entre as aivecas e a terra.De forma a alterar este cenário, cientistas do Instituto Fraunhofer de Mecânica de Materiais (IWM), localizado em Freiburg e outros parceiros do projecto RemBob estão a desenvolver aivecas com revestimento a carbono-diamante. Os testes indicam uma redução da fricção de 50% e do consumo de combustível do tractor até 30 %. Para os agricultores, estas novas aivecas significam um ganho de tempo significativo. Os agricultores poderão optar por uma gama maior de equipamentos (tractores mais pequenos e de menor custo de aquisição) e usufruir de poupanças tanto no consumo de combustível como nos custos de manutenção dos equipamentos que se tornarão menos frequentes. Do ponto de vista ambiental, a utilização de tractores mais pequenos traz vantagens em termos de compactação do solo. Por sua vez, solos menos compactados exigem menor potência do motor. Solos menos compactados são também mais ricos em vida biológica o que ajuda na retenção de nutrientes. Mais ainda, solos compactados perdem capacidade de retenção de água e secam mais rapidamente. Mesmo na Alemanha, que é um país avançado do ponto de vista de conservação do solo, se verifica uma perda de solo anual por compactação e erosão superior ao ganho de solo gerado por processos naturais. Outra vantagem do revestimento a carbono-diamante é a protecção que este concede contra a corrosão e desgaste. As aivecas de aço inoxidável de longa duração podem perder até 50% da sua massa numa só estacão de lavoura. Vários tipos de revestimentos foram experimentados no sentido de proteger o aço das aivecas, mas todos eles se desgastaram rapidamente quando em contacto com o solo, areia e pedra. Apesar do revestimento a carbono-diamante tolerar stresses extremos, um problema fundamental continua a impedir a sua distribuição no mercado das charruas e outros equipamentos agrícolas: o aço deforma-se com grande facilidade ao atravessar o solo e esta característica é incompatível com a natureza rígida e inflexível do revestimento a carbono-diamante. Por conseguinte, o aço inoxidável não pode ser utilizado como material de base a este tipo de revestimento. Vários tipos de aivecas fabricadas com materiais diferentes (desde aço nitretado até plástico reforçado com fibras de vidro e carboneto de tungsténio) estão neste momento a ser experimentados no campo. Logo que se encontre um material base compatível com o revestimento a carbono-diamante, a aiveca anti-desgaste passará de futuro a presente, e presente que todos os agricultores quererão. A aiveca revestida a carbono-diamante (DLC) corta o solo tal como uma faca quente corta a manteiga.

www.iwm.fraunhofer.de

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ACTUALIDADE DESTAQUE ROBÓTICA ROBOTS NA APANHA DE MORANGOS?

Numa era em que caminhamos a passos largos para a triagem automatizada de laranja e dos tractores autónomos, o que se seguirá no processo da substituição de trabalhadores agrícolas por máquinas? No Reino Unido, os cientistas do Laboratório Físico Nacional (NPL) afirmam que a próxima novidade serão os robots de apanha de morangos, graças a um sistema que identifica, ainda no campo, os morangos maduros. Os trabalhos no sistema tiveram início em 2009, altura em estava a ser desenvolvido para uso com couves-f lor. Apesar dos bons resultados iniciais, a queda acentuada na procura de vegetais fez com que o projecto estagnasse. Desde então, os cientistas procuraram recuperá-lo para uso noutras culturas, tendo os morangos sido considerados particularmente adequados à tecnologia, já que o seu elevado teor de água e as suas folhas secas fazem com que o sistema consiga mapeá-los mais facilmente, sendo o moroso processo de os apanhar manualmente muito reduzido através da automação. O sistema “vê” não-invasivamente abaixo da superfície da folhagem dos morangueiros, recorrendo a: frequências de rádio, microondas, radiação terahertz (raios-T) e luzes infravermelhas. Tanto o hardware como o software incluídos detectam quais os frutos que estão suficientemente maduros para apanhar, fazendo-o a um custo relativamente baixo. Apesar do facto de estes robots de apanha de morango virem certamente a ameaçar o posto de trabalho de alguns trabalhadores, poderão, por outro lado – e segundo os cientistas do NPL – impulsionar a eficiência e reduzir o desperdício, uma vez que os frutos ainda verdes não seriam apanhados e de seguida descartados. A tecnologia poderá também vir a ser usada na triagem de resíduos urbanos. Fonte: Gizmag

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O MERCADO DE TRACTORES AGRÍCOLAS EM OUTUBRO DE 2011 Em Outubro de 2011 foram matriculados 413 tractores agrícolas, o que significa um decréscimo de 16,1 por cento, relativamente ao mesmo mês do ano anterior. Esta evolução do total do mercado foi determinada, quer pelo decréscimo das matrículas de tractores convencionais (-16,6 %), quer pelo das matrículas de tractores compactos (-14,6 %). Em termos de valores acumulados, de Janeiro a Outubro de 2011 foram matriculados um total de 4.198 tractores o que representa uma descida do mercado de 11,2 por cento, relativamente ao mesmo período do ano anterior. Este decréscimo do mercado face ao mesmo período do ano anterior, foi igualmente determinado pela quebra das matrículas de ambos os tipos de tractores, convencionais (-9,3 %) e compactos (-16,1 %). Quanto à distribuição do mercado de tractores agrícolas por classes de potência, os escalões que vão dos 30 aos 73 kw (40 aos 98 HP) representaram 61,7 por cento do total das matrículas, os escalões até aos 29 kw (39 HP) baixaram para 25 por cento e os escalões com mais de 73 kw (98 HP) aumentaram o seu peso para 13,3 por cento.


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Riscos eléctricos com máquinas de ensilar e ceifeiras debulhadoras de milho AUTOR/ Bernardo Madeira

Fotografia: Made S.A. www.made-sa.com

Máquinas cada vez mais potentes e de maior dimensão começam a comportar graves riscos de acidentes quando trabalham sob linhas de alta tensão. São inúmeras as cearas de milho que são atravessadas por linhas de alta tensão cujos cabos, na sua menor distância ao solo, se encontram entre os 6 e os 10 metros de altura. Embora esta distância ao solo seja considerada segura para o homem, em condições de secura, ou mesmo de nevoeiros, a verdade é que quando se trabalha com máquinas agrícolas (especialmente aquelas que estão equipadas com braços metálicos, como as máquinas de ensilar) a distância entre o

equipamento e os cabos pode ser excessivamente curta e suficiente para que se dêem descargas eléctricas. Risco aumentado quando as máquinas em trabalho geram grande quantidade de poeiras que podem levar a que se crie o efeito de um “arco eléctrico”. Em condições normais, se o operador permanecer dentro da cabine, e com esta fechada, ela poderá funcionar como uma “Gaiola de Faraday”, protegendo o operador. Porém, os riscos são excessivamente elevados, quer para operadores quer para equipamentos. Consequentemente, há que ter muita atenção na aproximação às zonas onde as linhas eléctricas passam a baixa altura e respeitar as normas de segurança. A empresa Made [www. made-sa.com] criou, em colaboração com a John Deere, um equipamento que, aplicado nas máquinas agrícolas, permite prevenir o operador através de

um sinal sonoro e luminoso da aproximação das linhas eléctricas, havendo ainda a possibilidade de bloquear o veículo se o risco se tornar demasiado elevado. Em caso de electro-

cussão, o socorro deve ser feito garantindo que o risco eléctrico já não existe ou evitando tocar, sem equipamento isolante, directamente na vítima e peças metálicas.

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As principais inovações da Agritechnica

ENTRE AS NOVIDADES ANUNCIADAS PARA A GRANDE FEIRA DE HANNOVER QUE DECORREU DE 15 A 19 DE NOVEMBRO ÚLTIMO, O JÚRI DA AGRITECHNICA DECIDIU ATRIBUIR DUAS MEDALHAS DE OURO E 39 MEDALHAS DE PRATA. CONHEÇA ALGUMAS DAS GRANDES NOVIDADES.

MEDALHAS DE OURO FENDT GuideConnect De modo a satisfazer a procura de mercado em termos de maiores larguras de trabalho, a Fendt lançou-se num caminho inteiramente inovador. Com o GuideConnect, é possível dar resposta às necessidades dos agricultores sem as desvantagens das regras de trânsito. Neste sistema dois tractores são ligados e comunicam através

de GPS, wi-fi e ondas rádio. O condutor utiliza o terminal Vario para indicar qual dos tractores será o mestre (o que conduz) e o “escravo”, programando ainda a distância a manter entre os dois veículos. No campo, o tractor não-tripulado espera que o guia tenha terminado as suas manobras para começar a efectuar as suas e seguir as mesmas pisadas, respeitando sempre a distância entre veículos. Numerosos dispositivos de segurança permitem que o condutor mantenha o controlo absoluto sobre o tractor tido como secundário. Dois tractores mais pequenos podem ser usados de modo mais f lexível face a um grande tractor de características similares e assim reduzir a pressão exercida no solo. Uma solução pensada para os agricultores que trabalham sozinhos e que lhes permite duplicar a sua produtividade.

www.fendt.com

KRONE Ultima A produção de fardos cilíndricos é uma operação de colheita muito exigente, e tem como objectivo obter um fardo bem formado e compactado, atado e embalado de modo uniforme. Embora os actuais sistemas de enfardamento proporcionem elevados rendimentos, as paragens para atamento de embalamento dos fardos não podem ser evitadas. O dispositivo “Non-Stop” introduzido pela marca Krone permite que as operações de compactação, atamento e embalamento do fardo se sucedam de forma contínua. O controlo inteligente de uma câmara dotada de função de enfardamento preliminar permite uma operação automática. Enquanto isso, a velocidade de deslocação do tractor é adaptada à carga de trabalho da enfardadeira e a automatização alivia a carga de trabalho do operador. O rendimento da máquina pode ser aumentado até 50 %, o que impulsiona o índice de trabalho e a capacidade de utilização da máquina. Trata-se de uma combinação que destaca a produtividade e a qualidade de trabalho e que reduz os custos de energia e mão-de-obra.

www.krone.de

MEDALHAS DE PRATA A New Holland obteve diversas medalhas em várias categorias (VER DESTAQUE)

Fendt vario

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FENDT Vario Com base no terminal Vario, a pressão da alfaia em

Krone ultima

contacto com o solo (por exemplo, trituradores, ceifeiras ou limpa-neves) pode ser ajustada pelo operador da máquina e durante o trabalho. Graças ao reconhecimento activo das irregularidades no solo através de um sensor de posição instalado na unidade de levantamento frontal, a pressão é ajustada automaticamente. Tal permite a adaptação dinâmica a diferentes contornos de solos ao mesmo tempo que mantém a mesma pressão de contacto na alfaia. FENDT Cargo Profi A gama de funcionalidades técnicas dos carregadores frontais é amplamente alarga-


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John Deere

Grimme

da com recurso a uma nova tecnologia de sensores, permitindo novas funções. Podem ser pré-seleccionadas e automaticamente acedidas (função memo) duas posições finais para o feixe e para a ferramenta, limitando assim a zona de trabalho. Os resultados obtidos através de um sistema de pesagem integrado com sensor de inclinação estão documentados. O sistema inclui ainda as funções de vibração, amortecimento direccional e de fim de curso. A operação encontra-se completamente integrada no terminal do tractor.

www.fendt.com JOHN DEERE Active Seat A Active Seat II é um inovador conceito de cadeira que consiste em componentes activos eléctricos e electrónicos. Em contraste com o anterior sistema hidráulico, o uso de um sistema de accionamento eléctrico resulta numa resposta mais rápida, na redução da exposição às vibrações e, simultaneamente, numa redução de 90% dos requisitos necessários de energia (54 W em vez de 500). JOHN DEERE Carregador frontal “H” A John Deere acrescenta duas funções aos seus carregadores

frontais que estarão disponíveis nos modelos 6R e 7R. A primeira consiste no dispositivo RTP ou “retorno à posição” que permite a memorização de duas posições, conseguindo realizá-las automaticamente através do movimento do joystick. A outra função é a activação do modo automático que permite trabalhar com o garfo paralelo ao chão. Esta função é adaptada ao trabalho com paletas.

www.johndeere.com GRIMME Potato Suite Tendo em vista a optimização da qualidade do trabalho desenvolvido pelo arrancador, este assume o controlo do tractor com uma série alargada de novas funções. A velocidade de trabalho do tractor é regulada pelo rendimento do arrancador. Os parâmetros de operação são armazenados no ISOBUS.

www.grimme.de

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M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A CINCO MEDALHAS DE PRATA PARA A NEW HOLLAND A New Holland confirmouse uma vez mais como referência absoluta no sector como fabricante de uma vasta gama de equipamentos com cinco medalhas de prata Agritechnica nos três principais segmentos da sua actividade de negócio: tractores, equipamentos de colheita e máquinas especializadas, tendo o júri reconhecido a produtividade e sustentabilidade das soluções inovadoras da marca, nomedamente o sistema de Travagem de Reboque Inteligente, o sistema Smart Key, o mecanismo de transmissão central SynchroKnife™, a colhedora de azeitonas Braud 9090X e a abordagem de viticultura sustentável ECOBraud. KRONE Electronic Braking System (EBS) A Krone adaptou o sistema de travões electrónicos e estabilidade habitualmente usado nos conjuntos de veículos-reboque (combinações camião-atrelado) às condições especiais dos reboques agrícolas. Tal não melhora somente a segurança de travagem dos reboques, estabilizando activamente qualquer instabilidade que surja no duo tractor-reboque recorrendo à travagem selectiva de rodas individuais. Esta tem vindo a ganhar importância numa altura em que as unidades de transporte se tornam maiores e mais rápidas.

www.krone.de

O JÚRI DA FEIRA GERMÂNICA DISTINGUIU AINDA COM MEDALHAS DE PRATA AS EMPRESAS WEIDEMANN/ CLAAS, BERGMANN, RIGITRAC, LEMKEN, RAUCH (KUHN), KVERNELAND, AMAZONE, INUMA/TEEJET/LEMKEN, QUANTOFILL M, BINTEC, MSO, REICHHARDT, CLAAS AGROSYSTEMS E AGRI COM.

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dida com a maior rapidez e segurança possíveis. Esta força de travagem controlada e harmonizada significa que a distância de paragem do conjunto veículo tractor e reboque é praticamente a mesma que a do veículo tractor sozinho ao desacelerar.

SISTEMA DE TRAVAGEM DE REBOQUE INTELIGENTE: MELHOR SEGURANÇA E ESTABILIDADE EM ESTRADA

SMART KEY: GESTÃO DE UTILIZADORES E FROTA MELHORADA

O sistema de Travagem de Reboque Inteligente melhora a segurança, controlando automaticamente a válvula que regula a força de travagem exercida sobre o reboque em relação à desaceleração do tractor, criando assim um efeito de travagem equilibrado entre o tractor e o reboque. Um sistema de controlo electrónico que modula os travões do reboque assegura uma travagem uniforme do tractor e do reboque, com vista a eliminar o efeito de "empurrão" que pode, em última análise, conduzir a uma flexão (jack-knifing) perigosa. Este sistema melhora a segurança do transporte quando é efectuada uma desaceleração com a transmissão ou com o travão do motor, pois esta redução de velocidade é detectada e ocorre o mesmo processo de modulação de travagem do reboque, a fim de assegurar que o reboque atinge a desaceleração preten-

O sistema Smart Key proporciona aos agricultores e contratantes uma ferramenta de optimização da produtividade para a gestão de utilizadores e frota. Também combate a crescente prevalência de roubo de máquinas agrícolas. Cada operador recebe a sua Smart Key específica, que melhorará significativamente a sua experiência operacional no dia a dia. Cada Smart Key está equipada com um chip de identificação por radiofrequência programável com um identificador de chave único, que permite aos proprietários de frotas controlarem a atitude de trabalho dos operadores e a utilização da frota. Cada Smart Key pessoal atribuída aos operadores pode ser programada para trabalhar com determinadas máquinas de uma frota (a cada chave podem ser atribuídas 40 máquinas), ou como "master key" (chave mestra) compatível com todas


as máquinas. Isto assegura que os operadores apenas podem colocar em funcionamento as máquinas que tiverem sido previamente especificadas para a sua chave pessoal. Além disso, uma única chave é compatível com todos os produtos New Holland, eliminando a necessidade de várias chaves. A cada chave podem ser associados parâmetros de máquina específicos, por exemplo, limitando a velocidade máxima em estrada em máquinas conduzidas por condutores com um "pé pesado". Os operadores individuais podem consultar as suas configurações operacionais específicas para a máquina através do monitor IntelliView™, que reconhece automaticamente o proprietário da chave quando a máquina é ligada, permitindo iniciar imediatamente o trabalho e reduzindo assim o tempo improdutivo necessário para introduzir as preferências pessoais cada vez que a máquina é utilizada. O sistema também pode registar os perfis de operador individuais, tais como a sua média de consumo de combustível, hectares trabalhados e, eventualmente, utilização incorrecta por parte do operador, sendo estes dados transmitidos por telemática para o software de gestão. Isto permite que os agricultores atribuam tarefas

individuais aos operadores mais eficientes, com vista a aumentar a rentabilidade. Além disso, também proporciona às grandes explorações agrícolas um registo electrónico das horas de trabalho, para permitir uma contabilização simplificada. Os perfis SmartKey individuais são geridos através do monitor IntelliView™ da máquina (para máquinas não equipadas com um monitor de ecrã táctil, a assistência técnica e a programação são realizadas pelo concessionário local). Para aceder ao menu de gestão da chave (KMM – Key Management Menu), que define o perfil ou perfis da chave para essa máquina específica, é utilizado o código de acesso do veículo (VAC – Vehicle Access Code) definido para o utilizador. O KMM permite adicionar ou eliminar chaves, bem como efectuar um back-up. Também é possível definir uma data de validade para chaves individuais, a fim de evitar uma utilização abusiva quando existe contrato de aluguer da máquina ou durante a utilização da mesma em termos de trabalho casual. Pode ser escolhido um VAC específico para cada máquina, mas também é possível utilizar o mesmo VAC para toda a frota. MECANISMO DE TRANSMISSÃO SYNCHROKNIFE™ UNIFORMIDADE DA COLHEITA, CONFORTO E QUALIDADE EM COLHEDORES DE CEIFEIRAS-DEBULHADORAS

A New Holland revolucionou a forma como os colhedores são impulsionados, com uma transmissão SynchroKnife™ montada centralmente que assegura uma distribuição uniforme do peso no colhedor, permitindo uma maior uniformidade da altura do restolho. Além disso, estes colhedores perfeitamente equilibrados asseguram um

funcionamento mais eficaz de mecanismos avançados de controlo da altura do colhedor como, por exemplo, o Auto Float™ II. Esta solução de perfil estreito está idealmente localizada sob a plataforma de base do colhedor, que mantém um fluxo de colheita homogéneo para o colhedor, com vista a um melhoramento das características de alimentação, bem como a uma redução da largura não funcional e de um potencial desbravamento de colheita adjacente de boa qualidade, eliminando as caixas de velocidades volumosas montadas lateralmente. A localização central da transmissão SynchroKnife™ veio reduzir a complexidade mecânica, eliminando a necessidade de caixas de velocidades secundárias em plataformas de colheita tipo Draper. As transmissões hidráulicas duplas opostas da lâmina vieram reduzir substancialmente o esforço exercido sobre a barra da lâmina, o que consequentemente permitiu melhorar a fiabilidade e reduzir a probabilidade de períodos de inactividade dispendiosos e prejudiciais para a rentabilidade durante a estação de colheita intensiva. Além disso, este sistema permitiu aumentar consideravelmente o conforto no interior da cabina, reduzindo as vibrações a que o operador fica sujeito. Estas cabeças foram concebidas para se adaptarem às gamas de ceifeiras-debulhadoras CR e CX8000. COLHEDORA DE AZEITONAS BRAUD 9090X: NO CULTIVO INTENSIVO DA AZEITONA

A produção mundial de azeite está em constante crescimento, e para aumentar a produtividade e controlar os aumentos dos custos associados, os cultivadores estão a optar por plantações super intensivas, que requerem técnicas de colheita altamente mecanizadas. A New Holland desenvolveu, em conjunto com os cultivadores, a nova e pioneira Braud 9090X Olive que pode aumentar a eficiência de colheita até 20% e proporciona mais de o dobro da velocidade de colheita, com vista a melhorar significativamente a produtividade. O modelo está equipado com um sacudidor concebido com rolos dianteiros/centrais e traseiros específicos, que envolvem a árvore antes e após esta ser sacudida, de forma a possibilitar uma colheita ideal. A cabeça de colheita pode trabalhar em três dimensões, guiando e prendendo a folhagem, de

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forma a assegurar um fluxo regular para os cestos Noria de dupla articulação patenteados, que encaminham as azeitonas para os tegões. O conhecido sistema de sacudidor de dupla colheita foi especialmente concebido para vencer as forças de resistência significativas que são características na colheita das azeitonas, e que são dez vezes superiores às das vinhas convencionais do tipo liana/ cipó. O sistema sacudidor principal é composto por 2x17 hastes que actuam sobre a parte rígida da árvore, juntamente com as 2x4 hastes firmes adicionais que efectuam a colheita na parte superior e flexível da árvore, onde se encontram as azeitas de melhor qualidade. Um segundo sistema sacudidor patenteado adicional com 2x4 hastes aumenta a eficiência da colheita na parte superior da árvore. Esta tecnologia de ponta traz vantagens significativas em termos de eficiência de colheita, sendo mais de 95% das azeitonas colhidas a uma velocidade de marcha em frente constante de aproximadamente dois quilómetros por hora, o que significa que as azeitonas são colhidas quando se encontram no seu estado de maturação ideal, permitindo a máxima rentabilidade.

venção por parte do operador, a fim de evitar eventuais acidentes e aumentar a segurança global da colheita, mesmo durante uma operação nos terrenos mais difíceis e irregulares e durante o transporte a alta velocidade em estrada.

www.newholland.com

JOHN DEERE 7280R É O “TRACTOR DO ANO 2012”

ECOBRAUD: VITICULTURA SUSTENTÁVEL

O programa de Viticultura Sustentável ECOBraud da New Holland visa aumentar a produtividade e a rentabilidade, reduzindo em simultâneo o impacte ambiental da viticultura. O ECOBraud abrange a gama completa de equipamentos de viticultura da New Holland, incluindo as máquinas vindimadoras Braud e tractores especializados, e permitirá reduzir até 40% da pegada de carbono nas vinhas. Isto contribuirá directamente para uma redução de 10% da pegada de carbono global de cada garrafa de vinho produzida. A nova gama de colhedoras multifuncionais Braud 9000 estabeleceu uma nova referência em termos de redução da pegada de carbono e aumento da segurança da colheita. O Sistema de Gestão Inteligente (IMS – Intelligent Management System) que controla as principais funções da máquina em função da carga pode actualmente reduzir o consumo de combustível em até 31%. Em associação com a taxa de aplicação de fertilizantes controlada, é possível obter uma redução total de 40% da pegada de carbono nas vinhas. A segurança do operador é melhorada através da realização de um diagnóstico de bordo das principais anomalias de funcionamento que podem eventualmente ocorrer e subsequente alerta do operador, bem como paragem automática da máquina ou desactivação do sistema de auto-nivelamento para evitar a ocorrência de situações potencialmente perigosas. O operador também está protegido contra utilização incorrecta acidental, dado que uma série de funções, incluindo a marcha em frente, o nivelamento e esvaziamento do tegão, apenas podem ser realizadas quando o operador está presente. Um indicador de estabilidade em tempo real utiliza uma rede de sensores que transfere dados como, por exemplo, o peso exacto em cada roda, a inclinação lateral, as condições do solo, o nível e distribuição de enchimento do tegão e a utilização de equipamentos multifunções, em tempo real para o computador de bordo. Estas informações são então associadas para alertar o operador quando o veículo se aproxima do seu limiar de estabilidade, através do monitor intuitivo IntelliView™ III. Este sistema de segurança activo está disponível em modo multifunções, bem como durante a colheita em terrenos difíceis. A altura da máquina e a posição lateral são automaticamente ajustadas, com zero inter-

O tractor John Deere 7280R (potência máxima de 310 CV com gestão inteligente de potência) foi eleito no decorrer da feira Agritechnica “Tractor do ano 2012” por um júri composto por editores de 20 revistas europeias de maquinaria agrícola. James Wienkes, responsável pela fábrica de Tractores John Deere de Waterloo e Helmut Korthöber, director da filial alemã, receberam em nome da marca a importante distinção. Escolhido entre 7 finalistas, o 7280R representa a última geração em tecnologia de tractores. Incorporando o motor Só-Diesel Fase III-B, pode ser equipado com a nova tecnologia de direcção ActiveCommand. O Sistema de direcção ActiveCommand adapta automaticamente a potência de circulação para optimizar o controlo e a manobrabilidade em campo e em estrada. A cabina CommandView II, com a nova consola CommandArm, o monitor GreenStar 3 CommandCenter e o assento opcional ActiveSeat, oferecem máxima comodidade ao operador. O 7280R, equipado de fábrica com as soluções telemáticas JDLink Ultimate e ServiceAdvisor Remote, representa uma ferramenta de grande versatilidade para empreiteiros e agricultores de grandes explorações. Para o título de “Tractor do Ano 2012” estiveram ainda nomeados seis tractores para além do vencedor 7280R: Case IH Puma 230 CVX, Deutz Fahr TTV 430, 724 Vario SCR Fend, Massey Ferguson 7624 Dyna-VT, T8.390 New Holland e Valtra T213 Versu. A Massey Ferguson com o tractor 7624 Dyna-VT recebeu o prémio “Golden Tractor for Design”, que premeia os tractores com melhor imagem. Na categoria de “Melhor Tractor Especializado”, o vencedor foi o Antonio Carraro TRH 9800.

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A G RO N EG Ó C IO

REFLEXÕES SOBRE OS APOIOS ProDeR À INSTALAÇÃO DE JOVENS EMPRESÁRIOS AGRÍCOLAS

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stão a funcionar em pleno os apoios à instalação de Jovens Agricultores. Parece-me tratar-se de um importante sistema para criar postos de trabalho na agricultura e sobretudo, um esquema para promover o empreendedorismo agrícola combatendo o elevado desemprego dos jovens. É determinante que estas acções do ProDeR perdurem no tempo, até final deste Programa previsto para finais de 2013, pois a sua estabilidade temporal é determinante para gerar confiança e motivação para os jovens investirem e retirarem Portugal da cauda da Europa no que diz respeito ao envelhecimento dos seus empresários agrícolas, bem como da crise económica que se abateu sobre o país. Os apoios à instalação de jovens agricultores são atribuídos a uma única candidatura e são de dois tipos: – Prémio de 1.ª Instalação: incentivo não reembolsável no valor de 40% do investimento no valor máximo de 30 000 euros para candidaturas individuais ou 40 000 euros para empresa em que tenham dois jovens agricultores em condições de instalação (terem entre mais de 18 e menos de 40 anos, nunca terem sido titulares de uma exploração agrícola, terem a maioria do capital da empresa e serem gerentes). Este valor é pago após a contratação das ajudas e tem sido: – Incentivo não reembolsável ao investimento: a) Na agricultura: 60% do investimento elegível para regiões desfavorecidas (Portaria n.º 377/88, de 11 de Junho) e 50% para as regiões favorecidas. É importante realçar que para as Regiões Desfavorecidas, a maioria do território continental, com excepção da região litoral, é possível fazer investimento elegível no valor de 75 000 euros, tendo 100% de apoios do ProDeR (40% de prémio de 1.ª instalação e 60% de apoio ao investimento). Isto não significa que seja recomendável fazer investimentos sem capitais próprios, pois é necessário suportar o IVA, mesmo que este seja reembolsável e ter fundo de maneio para suportar os custos de exploração dos primeiros tempos de funcionamento da exploração agrícola enquanto a conta de tesouraria não é positiva. b) Na agro-indústria, industrialização dos produtos da exploração agrícola: 40% do investimento do elegível.

Por: José Martino Espaço Visual

O valor máximo dos apoios por candidatura para instalação de jovem agricultor é de 250 000 euros (o valor do prémio não conta para este efeito). A Espaço Visual celebrou protocolos de colaboração/parceria com diversos empresários agrícolas de sucesso, tendo como objectivo promover estágios, com a duração de um ano, para que os potenciais jovens agricultores que se queiram instalar na actividade agrícola conheçam os seus pormenores (consultar: www. espaco-visual.pt). Estou convencido, pela minha experiência, que a atitude do empresário, bem como as suas competências de gestão, humanas e técnicas, são o factor mais determinante para a obtenção da rentabilidade adequada nos investimentos agrícolas. Recomendo vivamente aos candidatos a empresários agrícolas que além dos estágios, visitem explorações agrícolas, que o façam de forma sistemática. Tenham a humildade de aprender com os erros e sucessos dos que os procederam na actividade, que os podem ensinar sobre os erros que não devem cometer, as melhores estratégias para baixar custos e promover as maiores produções, com padrões de qualidade mais ajustada à procura do mercado. O ProDeR paga entre os 90 e os 180 dias, a contar da data de apresentação do respectivo pedido de apoio, as ajudas à instalação do jovem agricultor. Primeiro faz-se o investimento e depois recebe-se a ajuda. Podem ser realizados até quatro pedidos de pagamento do investimento. Excepção, pode ser pedida a antecipação de 50% do valor global do montante da ajuda, neste caso terá de ser apresentada uma garantia bancária no valor de 110% do valor a antecipar. Por outro lado, quando não há orçamento disponível para atribuir a novas candidaturas, o ProDeR encerra o período da sua submissão e passam para o sistema de concurso, há um período temporal definido para submissão das candidaturas, estas são analisadas e classificadas e as ajudas são atribuídas aos projectos por ordem decrescente das classificações até se esgotar o montante do orçamento disponível.

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A G RO N EG Ó C IO

GlobalGAP UM SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO PARA A GARANTIA DAS BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS

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ara ir ao encontro das expectativas dos seus clientes e dos consumidores, os produtores primários têm recorrido cada vez mais à certificação GlobalGAP, que lhes permite evidenciar que os seus produtos são seguros e obtidos de forma sustentável. Depois de muitas décadas em que o cidadão comum se foi tornando cada vez mais um citadino e foi perdendo o vínculo à terra, as crescentes preocupações com as questões ambientais, sociais e com a segurança dos alimentos têm-no levado, como consumidor, a uma maior consciencialização para as atividades agrícolas. Como a produção primária se tornou cada vez mais intensiva e globalizada, é frequentemente questionada a sua sustentabilidade e a qualidade/segurança dos produtos. Conceitos como os produtos tradicionais ou a agricultura biológica têm colhido uma aceitação cada vez maior, mas não são em geral compatíveis com uma produção com volumes e preços adaptados à procura do mercado. Tornou-se, por isso, importante definir Boas Práticas Agrícolas para a agricultura convencional, que sejam um compromisso no sentido da sustentabilidade económica, ambiental e social.

Por: Isabel Berger Directora de Certificação SGS ICS International Certification Services

/ Raquel Silva Gestora de Produto SGS ICS

a versão 3 do Sistema Integrado de Garantia da Produção GlobalGAP passa a integrar os vários referenciais de acordo com uma estrutura modular. A dinâmica continua com o aparecimento de mais módulos produtivos e para actividades de suporte à produção que visam complementar a cadeia de produção agrícola, como Material de Propagação, Alimentos Compostos para Animais, Transporte de Animais e ainda uma componente para Práticas Sociais. Esta estrutura ficou consolidada na versão 4 publicada em Setembro de 2011 e que está representada na Tabela 1.

ORIGEM E EVOLUÇÃO Em 1997 foi lançado o referencial EurepGAP pelo Euro-Retailer Produce Working Group (EUREP). A distribuição europeia foi a força motriz inicial, tendo decidido corresponder ao que já sentia vir a ser uma questão relevante para os seus clientes, harmonizando os seus critérios de avaliação que eram por vezes bem diferentes. Por essa razão, o desenvolvimento de um referencial de certificação com uma aceitação mais generalizada também era do interesse dos produtores. O EurepGAP focalizou-se nas Boas Práticas Agrícolas (GAP ou Good Agriculture Practices, em inglês), realçando a importância da Produção Integrada e da protecção das condições de trabalho da mão-de-obra agrícola. Na década que se seguiu, um número cada vez maior de produtores e retalhistas em todo o mundo foram aderindo ao conceito e o EurepGAP começou a ganhar significância a nível global como referencial internacional para as Boas Práticas Agrícolas. De forma a corresponder a esta realidade, em final de 2007 foi decidido alterar a marca para GlobalGAP. O GlobalGAP é hoje uma organização privada que estabelece normas voluntárias para a certificação de produtos agrícolas em todo o mundo, cujo secretariado está baseado na Alemanha. O seu objectivo é estabelecer normas de Boas Práticas Agrícolas (BPA), que incluem diferentes requisitos para os vários produtos, e que possam ser adaptadas a toda a agricultura mundial. O GlobalGAP conta com membros voluntários que se dividem em três grupos: produtores/fornecedores, retalhistas/distribuidores alimentares e membros associados (ex. fornecedores de factores de produção para a agricultura, organismos de certificação).

REFERENCIAIS DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS PARA AS VÁRIAS VERTENTES DA PRODUÇÃO PRIMÁRIA O EurepGAP/GlobalGAP começou por se concentrar na produção de frutas e legumes por serem os produtos agrícolas que mais directamente chegavam ao consumidor, tendo-se realizado os primeiros testes práticos com o referencial para Frutas & Legumes em 2000. Contudo, já em 2003 apareceu o referencial para Flores & Ornamentais e foi organizado o Sistema Integrado de Garantia da Produção que passou a englobar para além das Frutas & Legumes, as Culturas Arvenses, os Bovinos & Ovinos, os Suínos, as Aves e a Produção Leiteira. Em 2004, surgem os referenciais para Café verde e para a Aquacultura. A partir de 2007,

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REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS Os referenciais GlobalGAP definem exigências a nível de Boas Práticas Agrícolas que podemos tentar organizar nas vertentes seguintes, apesar de estas nunca serem estanques e existir sempre um elevado grau de interligação entre elas: – Agronómica – nomeadamente, a escolha do material de propagação, gestão do solo ou substratos, da rega e da fertilização, maquinaria e sua manutenção/ calibração, protecção das culturas ou animais; – Segurança alimentar – os cuidados de higiene (condições, formação e regras), nomeadamente durante a colheita e eventuais operações de embalamento/ processamento na exploração, a qualidade da água de rega e principalmente de lavagem, o controlo de pragas, e o cumprimento de intervalos de segurança para fitofármacos e medicamentos veterinários; – Ambiental – refiram-se, como principais pontos, o uso anterior da terra, o combate à erosão, a boa gestão da água, o levantamento de espécies e habitats, a identificação de áreas de conservação, a gestão da poluição, dos resíduos e reci-


CS Bovinos e ovinos RB base ruminantes DY Gado leiteiro LB (bovinos e ovinos) CYB Bezerro Módulo de s/carne de vitela produção PG Suínos animal PY Aves TY Perús AB módulo de aquicultura (peixes, crustáceos e moluscos) Produtores de forragens e compostas (Fonte: http://www.globalgap.org/cms/front_content.php?idart=2162

Transporte

Análise de risco global G.A.P. para prácticas sociais (GRASP)

AF Módulo base unidade de produção

MATERIAL DE PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FV Frutas e Legumes CB CC Culturas para alimentação animal Módulo CO Café (verde) base produção TE Chá vegetal FO Flores e Ornamentais

Tabela 1: Sistema Integrado de Garantia da Produção Versão 4

clagem, o tratamento dado aos dejectos e cadáveres de animais; – Bem-estar animal – condições e densidade nos locais de confinamento, acesso a água e alimento, saúde animal; – Social – higiene e segurança no trabalho, condições de acomodação/habitação na exploração, remuneração, direito de associação e revindicação; e, ainda, de uma forma transversal – a rastreabilidade, a manutenção de registos, a realização de inspecções/auditorias internas, o tratamento de reclamações.

tos serem não aplicáveis à exploração agrícola em causa. Para ser certificado, o produtor deve cumprir todos os requisitos “Maiores” e 95% dos “Menores” aplicáveis. As “Recomendações” devem ser avaliadas mas servem apenas para identificar oportunidades de melhoria. A certificação deverá ser concedida por um Organismo de Certificação aprovado, mediante a realização de uma visita à exploração. Eventuais

que terão normalmente explorações já com alguma dimensão. Já a Opção 2 ou de grupo destina-se a produtores mais pequenos e que podem encontrar algumas dificuldades em implementar o sistema sozinhos, tanto por falta de capacidade financeira, como eventualmente técnica. Neste caso, os produtores podem juntar-se formando um grupo em forma de associação ou outra entidade legal que solicita a certificação. A entidade que gere o grupo terá por obrigação assegurar que os membros do grupo cumprem os requisitos do GlobalGAP, nomeadamente de auditorias, mas também tem um papel dinamizador e de suporte técnico. Neste caso, a intervenção do Organismo de Certificação visará apenas avaliar a entidade que gere o grupo e uma amostra dos membros do grupo, permitindo assim reduzir o custo da certificação. O sistema de certificação de grupo tem demonstrado ser muito adequado à realidade agrícola e uma importante ferramenta para os pequenos produtores conseguirem a certificação. As Opções 3 e 4, equivalem respectivamente à 1 e à 2, mas para certificação de acordo com outros referenciais para Boas Práticas Agrícolas, normalmente sistemas específicos de um determinado país, que

O ESQUEMA DE CERTIFICAÇÃO GLOBALGAP

O seu objectivo é estabelecer normas de Boas Práticas Agrícolas (BPA), que incluem diferentes requisitos para os vários produtos que possam ser adaptadas a toda a agricultura mundial

Toda a documentação que suporta a certificação está disponível, em várias línguas no site do GlobalGAP (www.globalgap.org) de forma totalmente gratuita. Entre muitas outras informações úteis, constam no site os requisitos a serem cumpridos pelos produtores e as regras para se obter a certificação. Os requisitos do GlobalGAP estão apresentados sob forma de uma “checklist” para cada um dos módulos que se apliquem à actividade a certificar, existindo ainda para cada ponto das “checklist” notas explicativas do que se pretende que exista para dar cumprimento a cada ponto. Os vários pontos da “checklist” estão classificados como requisitos “Maiores”, “Menores” ou “Recomendações”, assinalados respectivamente a vermelho, amarelo e verde. Existe a possibilidade de alguns requisi-

requisitos que não sejam cumpridos devem ser identificados no final da visita. Se correspondem a requisitos “Maiores” e/ou mais de 95% dos “Menores”, o produtor tem um prazo pré-definido para evidenciar a sua resolução ao Organismo de Certificação, e este estará então em condições de emitir um certificado válido por um ano e identificar o produtor como aprovado na base de dados do GlobalGAP disponível na internet. Uma auditoria anual permitirá ir mantendo a certificação, mas o sistema prevê igualmente uma percentagem de visitas sem aviso prévio do produtor. É ainda importante referir que o GlobalGAP define 4 opções. A Opção 1 ou individual destina-se a certificar produtores

foram aprovados pelo GlobalGAP depois de um processo de “benchmarking”. O “benchmarking” corresponde a uma comparação com o GlobalGAP levada a cabo por um de dois Organismos de Acreditação (DAP da Alemanha ou JAS ANZ da Austrália/Nova Zelândia), considerando toda documentação de suporte, pareceres de especialistas entre os membros do GlobalGAP e avaliação de auditoria em campo.

CERTIFICAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS A NÍVEL GLOBAL A adesão ao sistema GlobalGAP tem sido muito significativa e tem-se registado

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A G RO N EG Ó C IO

Figura 1 Produtores certificados individualmente ou por grupo*

Figura 2 Crescimento do n.o de produtores certificados*

Figura 3 Produtores certificados no mundo*

um crescimento regular do número de produtores certificados ao longo dos últimos anos. Assim, de 2004 até 2008, o número de produtores certificados foi multiplicado por cinco, e em 2010 já ultrapassava os 100.000 (ver Figura 2). Por outro lado, dez anos após a emissão do primeiro certificado EurepGAP, o número de países com produtores certificados não tem parado de aumentar (ver Figura 3). A certificação de Frutas e Legumes continua a ser a mais implantada, sendo de salientar alguns países que têm registado importantes crescimentos: – países em que o GlobalGAP se implantou no ano de 2010 de forma significativa (mais de 50 certificados) - Coreia do Sul, Paquistão e Vietname na Ásia, Gana, Tanzânia e Madagás-

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car em África e Bósnia-herzegovina e Malta na Europa: – países em que mais de 500 novos certificados forma emitidos em 2010 – Espanha, Itália, Peru, Turquia, Alemanha e Guatemala. A Espanha tem uma posição preponderante: um em cada 5 certificados é espanhol.

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a produção animal, as certificações de explorações suinícolas (maioritariamente em Espanha e Itália) e avícolas (principalmente no Brasil, Hungria e China) são as mais relevantes. A maior expansão geográfica tem-se verificado relativamente à certificação da Aquacultura com 144 grandes pisciculturas situadas em 19 países (Figura 4). Contrariamente a outros elos mais a jusante na cadeia alimentar, nomeadamente a nível das agro-indústrias, no sector primário constata-se que o sistema de certificação GlobalGAP tem conseguido impor-se de forma global e transversal. Antes de mais, o GlobalGAP tem sabido manter um equilíbrio entre o grau de exigência e a compreensão do mundo agrícola, com produtores muito pouco propensos à gestão de “papelada”. Mas também não serão alheios a este sucesso a flexibilidade e dinamismo do sistema: que se vai adequando aos vários tipos de produções através de um esquema por módulos; que se adapta a grandes ou pequenos produtores graças à opção individual ou por grupo; e que permite ainda o “benchmarking” com outros sistemas de certificação que existam a nível nacional. Mas também será importante referir que a transparência e acessibilidade a toda a informação acerca do sistema por parte de qualquer interessado, seja ele produtor, retalhista, certificador ou consumidor, tem permitido ao GlobalGAP manter a sua imagem de isenção e distanciamento face a interesses instalados, dando-lhe credibilidade. Confirmando a sua consciência da importância deste aspecto, o GlobalGAP lançou ainda o CIPRO, um Programa de Integridade da Certificação de forma a validar a eficácia do sistema, através da avaliação de Organismos de Certificação e produtores certificados.

Fonte: Relatório Anual GlobalGAP: Out 2010

Gráficos originais em: http://issuu.com/globalgap/docs/globalg.a.p_annual_report_2010/1?mode=window&pageNumber=20


Figura 4 Produtores de aquacultura certificados no mundo


CIÊNCIAS FLORESTAIS

FLORESTA: FINANCIAMENTO PÚBLICO

Direcção da Acréscimo 1 www.acrescimo.org

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as últimas décadas, com especial destaque para o período pós-adesão à União Europeia, têm sido anunciadas, pelos diferentes Governos, várias medidas de apoio à Floresta Portuguesa, com a disponibilização de centenas de milhões de euros de fundos públicos. Ainda recentemente, em Março último, o então Secretário de Estado das Florestas, acompanhado do presidente da Autoridade Florestal Nacional, anunciou que o Estado iria investir 745 milhões de euros nas florestas nacionais, até 2013. Todavia, na altura não frisou a proveniência do montante anunciado. As medidas de apoio às florestas, definidas no âmbito dos Quadros Comunitários de Apoio, são aplicações financeiras oriundas dos impostos pagos pelos contribuintes europeus em geral, e pelos portugueses em particular. Por seu lado, o Fundo Florestal Permanente, corresponde a uma taxa cobrada aos consumidores de combustíveis em Portugal, quer na gasolina quer no gasóleo. Assim, será estratégica a realização atempada de um diagnóstico da aplicação dessas verbas públicas, caracterizando os seus beneficiários, os projectos de investimento apoiados, mas, mais importante, identificar quais os resultados para a Economia e para a Sociedade, quer nos bens transacionáveis que proporcionou, mas igualmente nos serviços ambientais obtidos. Quem controla o passado, controla o futuro. No que respeita à aplicação presente e futura dos recursos financeiros públicos, PRODER (2007/2013) e Fundo Florestal Permanente, mas sobretudo no período pós-2013, deverá o Estado assegurar a transparência da sua aplicação, definindo critérios de eficiência e de eficácia, já que importa dar garantias claras à Sociedade de que os investimentos que financia trarão retorno assegurado a todos nós contribuintes – os actuais e sobretudo os futuros. Para o presente período de apoio público, 2007/2013, estava estimado, e foi aprovado pela Comissão Europeia, um investimento total nas florestas de 391,8 milhões de euros em Competitividade, dos quais 147 viriam de Bruxelas, cerca de 49,2 do Orçamento de Estado, sendo o remanescente oriundo dos promotores beneficiários dos apoios públicos. Já em Sustentabilidade, foi aprovada por Bruxelas a disponibilização de 200 milhões de euros, aos quais estavam previstos acrescer cerca de 45,4 milhões do OE e cerca de 95,3 milhões dos promotores, num total de 341,3 milhões de euros. No somatório das duas medidas florestais do PRODER estavam estimados cerca de 733 milhões de euros de investimento florestal. Contudo, a execução do PRODER, no que respeita às medidas florestais, tem sido um verdadeiro desastre. A taxa de execução física ronda os 5%, em referência a Junho de 2010. Portugal precisa urgentemente de investir nas florestas, quer na produção de bens e serviços, quer para conservação da natureza. Hoje importamos o que temos melhor condições do que outros para produzir. Anualmente, são gastos cerca de 200 milhões de euros em importação de material lenhoso. Por outro lado, temos uma área significativa do País sem gestão adequada, desprotegida e vítima de incêndios cíclicos, de pragas e de doenças. Mais, face à imperiosa necessidade de reduzir as emissões de GEE, com a substituição de combustíveis fósseis, concretamente do petróleo, do gás e do carvão mineral, bem como de diminuição da dependência energética, com medidas de substituição da importação destes, o País carece de apostar em energias alternativas, entre outras na proveniente da combustão de biomassa florestal, proveniente de florestas com a gestão sustentável certificada. Contudo, esse investimento tem de ser efectivo, os anúncios governamentais têm de ser comprovados no terreno, e tem de assegurar rigor na aplicação dos fundos públicos destina-

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Associação de Promoção ao Investimento Florestal

..Hoje importamos o que temos melhor condições do que outros para produzir...

dos ao efeito. Este é, entre outros, um factor decisivo para que a Sociedade compreenda a importância estratégica da sua aposta financeira na Floresta Portuguesa. ■


DESTAQUE AGRICULTURA BIOLÓGICA ACORDO ENTRE UE E CANADÁ EM MATÉRIA DE EQUIVALÊNCIA EM PRODUTOS BIOLÓGICOS

No seguimento de longas e intensas conversações entre a Comissão Europeia e as autoridades canadianas, em Junho, foi finalmente alcançado um acordo entre a União Europeia (UE) e o Canadá quanto a uma equivalência no segmento de produtos biológicos. A revisão das respectivas regras em matéria de produção e sistemas de controlo de produtos orgânicos levou à conclusão que as regras actualmente vigentes são equivalentes às impostas na legislação de ambas as partes. Adicionalmente, as autoridades desenvolveram acções de controlo in loco às regras de produção e medidas de controlo presentemente aplicadas. Do lado comunitário, a regulação que acrescentou o Canadá à lista de países reconhecidos foi publicada a 21 de Junho de 2011. Por seu lado, o país norte-americano, confirmou a 23 de Junho que passa a reconhecer todos os produtos orgânicos made in UE como equivalentes ao Regulamento Canadiano para os Produtos biológicos. A equivalência agora firmada irá facilitar e, consequentemente, impulsionar o comércio de produtos agrícolas biológicos entre os dois mercados. Ainda no seguimento desta recente equivalência, os respectivos logótipos para produtos biológicos poderão ser usados em ambos os mercados.

CEREALICULTURA / MERCADO DOS CEREAIS É O QUE MELHOR REAGE EM SITUAÇÕES DE CRISE ECONÓMICA A aceleração e desaceleração económica têm um impacto crucial nos mercados agrários. Mas este impacto varia segundo o produto agrário em causa e não é homogéneo quando se considera os países a nível individual. Nas alturas de crescimento económico, é certo que este inf luencia mais a procura do que a oferta. Já numa situação de estabilidade, o consumo aumenta, resultando na subida dos preços das matérias-primas agrárias. Por sua vez, estas quotizações altas fomentam a produção que não é capaz de responder ao maior consumo, havendo tendência a importar-se mais e a armazenar-se menos, o que faz com que o rácio stock/uso diminua. Assim, quando se instala uma crise económica (como as vividas em 2008 e 2009) o consumo decresce nesse ano, enquanto que a produção se vê afectada nos doze meses seguintes, como consequência dos menores preços e do menor consumo. Mas nem todos os mercados de produtos agrícolas reagem de igual modo. Os mercados dos cereais reagem de uma forma mais flexível que os pecuários ou os agro-industriais: são os que sofrem as maiores diferenças de preços, mas, ao mesmo tempo, os que recuperam mais rapidamente os níveis de preços iniciais. Pelo contrário, os mercados pecuários são os que denotam uma resposta mais lenta e inf lexível. São mais estáveis, o que lhes permite sofrer reduções de preço menos severas, mas paralelamente, são os que necessitam de mais tempo para recuperar as quotizações anteriores. Estas são as conclusões de um estudo realizado pelo Centro Comum de Investigação (Joint Research Centre) que pretendeu avaliar a forma como as mudanças no crescimento económico podem interferir no desenvolvimento dos mercados das matérias-primas agrícolas no período que vai de 2010 a 2020. Leia o relatório em: http://ageconsearch.umn.edu/bitstream/114766/1/ Kavallari_Aikaterini_590.pdf

http://ec.europa.eu/agriculture/organic/home_pt

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AGROQUÍMICOS FALSIFICAÇÕES SÃO MAIS GRAVES NA EUROPA

Actualmente, segundo o "Wall Street Journal", o mercado europeu de pesticidas movimenta somas muito substanciais, motivo mais do que suficiente para que os falsificadores explorem as lacunas de legislação para melhor a contornarem e fazerem circular produtos não-homologados, sobretudo nos países mais permeáveis nessa área que fazem fronteira com a União Europeia (UE). Segundo o portal do jornal norte-americano, a actual lacuna na legislação europeia faz com que um determinado número de pesticidas importados não fiquem abrangidos pelas leis contra a falsificação em vigor na UE. Não é fácil adiantar estimativas fiáveis em matéria dos números de produtos fitossanitários contrafeitos que entram na UE, encontrando-se esta categoria fundida entre as restantes categorias de produtos falsificados que entram no espaço comum. Segundo os números da ECPA, a Associação Europeia de Protecção das Culturas, as vendas ilegais deste tipo de produtos representariam entre 400 a 1200 milhões de euros (5 a 15% das vendas totais) de vendas totais de pesticidas no mercado. A Europa de Leste é uma das zonas mais afectadas. Na Ucrânia, país fortemente agrícola, os produtos falsificados chegam a representar até 50% do mercado dos pesticidas, sem dúvida valores substanciais para os grupos criminosos que dominam o mercado e que se fornecem no “mercado negro” asiático, revendendo os artigos a um preço oito vezes superior ao valor de compra. É contra este pano de fundo que os industriais – até à data forçados a suportar as despesas de armazenamento e de destruição dos produtos ilegais apreendidos – pressionam as entidades no sentido de se avançar para a revisão da legislação, medida que se espera venha a ser implementada pelo Parlamento Europeu ao longo dos próximos meses. Pretende-se a uniformização das leis anti-contrafacção, muito ao exemplo daquela que se pratica nos Estados Unidos. Segundo escreve o Wall Street Journal, a partir do momento em que se prova a intenção de falsificação, todos os componentes podem ser apreendidos, mesmo se forem transportados separadamente. Mas a resposta a estes actos ilícitos irá requerer mais que apenas leis. Os agricultores necessitarão de serem informados quanto ao risco de virem a perder todas as suas colheitas, se estas estiverem contaminadas por químicos ilegais. Ao mesmo tempo, as empresas agroquímicas legítimas deverão ser capazes de garantir que os seus clientes reconhecem sem dificuldade os produtos legais, sendo que os agricultores de produtos biológicos poderão vir a beneficiar desta conjuntura à medida que os receios dos consumidores face esta nova ameaça à sua saúde alastrem. Fonte: France Agricole

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INDÚSTRIA DO PLÁSTICO PREÇO DO PLÁSTICO NA AGRICULTURA No momento actual é impossível deixar de se atender ao efeito da crise mundial sobre o AgroNegócio, sendo disso exemplo a indústria do plástico para a agricultura, na qual o preço final dos seus produtos aumentou, substancialmente, nos últimos anos. Caso não alheio a este aumento – pelo contrário portador do mesmo ADN – é a subida do preço do petróleo. Com efeito, é matéria-prima na produção de multi-derivados – nomeadamente resinas – compostos importantes na composição dos diversos plásticos, de modo particular os destinados à agricultura. Importa, ainda, sublinhar o preço dos combustíveis, designadamente nos transportes, que também têm inf luência no aumento do seu custo desde a origem, passando pelo intermediário, até ao consumidor final. É oportuno verificar a evolução do preço de um plástico para a agricultura de 2005 a 2011 conforme os gráficos ilustrativos. Observando os valores apresentados verifica-se que o aumento nos últimos anos é notório. Do ano 2005 até 2008 a variação percentual (considerando a média de 7 anos) é pouco significativa, no entanto, no presente ano, verifica-se o maior aumento dos últimos 7 anos (na ordem dos 21 pontos percentuais), o que confirma o efeito das causas acima descritas. A título de curiosidade, ainda, importa relacionar o preço do plástico que se verificava em 2005, com o de 2011, verificando-se um aumento absoluto de aproximadamente 29%. Face ao exposto, e perante tão grandes flutuações anuais num sector que sempre esteve habituado a ajustamentos de reduzida dimensão, põe-se a interrogação: até que ponto a “plasticultura” e as produções agrícolas sobre abrigo têm capacidade para aguentar esta imprevisibilidade dos factores de produção num ciclo de crise de consumo?

Por Emanuel Moreda / emanuelmoreda@hotmail.com Fonte: Emanuel Moreda/dados fornecidos pela Estufas Minho


ACTUALIDADE

AMBIENTE / ZONAS RURAIS NA EUROPA: AVES DAS ZONAS RURAIS ATINGEM OS NÍVEIS MAIS BAIXOS

Novos números revelam que as populações de aves em todo o continente europeu encontram-se actualmente nos níveis mais baixos desde que existem registos. O Sistema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (em inglês Pan-European Common Bird Monitoring Scheme) avaliou em 25 países europeus, entre os anos 1980 e 2009, os números das populações de 145 espécies de aves comuns. Entre as espécies abrangidas pelo estudo, as aves dos meios agrícolas constituem o grupo mais ameaçado, com 20 entre 36 espécies em declínio, sendo que estes números revelam o nível mais baixo de sempre, 48% abaixo dos valores registados em 1980. Algumas das espécies com populações mais afectadas ao longo das três últimas décadas incluem aves rurais familiares como a Perdiz Cinzenta Perdix perdix (-82 %), a Laverca Alauda arvensis (-46 %), o Pintarroxo Carduelis cannabina (-62 %) e o Trigueirão Miliaria calandra (-66 %). Os ecologistas afirmam que estes resultados provam a necessidade de uma reforma urgente da Política Agrícola Comum (PAC), de forma a recompensar e a encorajar os agricultores que implementem medidas favoráveis à preservação das espécies. As propostas para a iminente reforma da PAC deverão ser publicadas já em Outubro, mas a BirdLife Europe mostra-se preocupada com a possibilidade de não serem suficientemente abrangentes, que não inclua apoios suficientes para esquemas agro-ambientais que ajudem à implementação de medidas agrícolas que promovam a biodiversidade. www.ebcc.info/index.php?ID=470

BANCO DE TERRAS AGRICULTURA: PORTUGAL AVANÇA EM 2012 COM BANCO DE TERRAS PARA TRAVAR ABANDONO AGRÍCOLA E FLORESTAL O secretário de Estado do Desenvolvimento Rural anunciou a constituição de um Banco de Terras para “aumentar” a produção agrícola e florestal nacional, admitindo atribuir benefícios fiscais aos proprietários que disponibilizem terrenos para exploração. Segundo explicou Daniel Campelo, este Banco de Terras será um “Programa Nacional a criar em 2012”, actualmente em fase de estudo, para “permitir que novos agricultores, ou os já existentes, possam aproveitar as terras disponíveis, de proprietários que não têm vocação para essa actividade”. “Com benefícios para os proprietários e agricultores que tomam essa terra para ampliação ou constituição de explorações novas, aumentando a produção através da utilização de terras actualmente incultas, abandonadas ou parcialmente aproveitadas”, acrescentou o governante, com a tutela das Florestas e Desenvolvimento Rural. Daniel Campelo garante que estão a ser estudadas medidas para “ fomentar” este Banco de Terras, como benefícios fiscais e assim “mudar a atitude em relação ao abandono da terra”. “Por exemplo isentar ou reduzir pela via fiscal quem gere bem a terra. Vamos trabalhar no sentido de valorizar quem aproveita este potencial para criar riqueza nacional e gerar emprego”, disse ainda Como exemplo apontou o facto de metade da área nacional com potencial florestal não ter hoje uma gestão eficiente. “Podemos crescer muito na vertente florestal desta forma, que é um potencial enorme no norte e centro. O Banco de Terras pode proporcionar um aumento de escala na produção, com a consequente subida da rentabilidade florestal”, sublinhou. Garantiu ainda que este “nunca será um processo coercivo”. “Temos uma posição de respeito pleno da propriedade, mas queremos premiar e incentivar quem gere bem a terra, que é uma riqueza nacional", disse. Daniel Campelo falava à Lusa durante uma visita oficial à Galiza, Espanha, onde ficou a conhecer o modelo local de Banco de Terras, implementado há três anos, tendo reunido, em Santiago de Compostela, com os congéneres do Governo Regional galego. “Vamos aproveitar bastante o que aqui já está a funcionar e bem, em vez de perder tempo a experimentar coisas que não temos a certeza que vão funcionar”, sustentou, prometendo para 2012 a apresentação de “resultados” do modelo português.

AS QUATRO PRAGAS Em 1950, Mao Tse Tung organizou, na China, uma campanha de salvação do país: “Erradicar as Quatro Pragas”. Consistia na ordem para que os chineses matassem todos os pardais, moscas, ratos e mosquitos que encontrassem. Foram organizados ataques coordenados para eliminar, por exemplo, todos os ninhos de pardais (aves que temporariamente se alimentam de grãos). Uma estratégia muito eficaz era a fadiga de voo. Nenhuma ave podia pousar, pois a população tentava assustálos. Os pardais e outras espécies praticamente se extinguiram. Nos anos seguintes, assistiu-se à “Grande Fome” de 1960 e o colapso da agricultura em resultado da devastação provocada por pragas de insectos de todas as ordens que normalmente serviam também de alimento aos pardais. Terão morrido 30 milhões de pessoas. Fonte: Lusa

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SUINICULTURA / BEM-ESTAR ANIMAL BÉLGICA RENUNCIA À CASTRAÇÃO DOS LEITÕES SEM ANESTESIA

Numa decisão da Federação Belga da Carne (FEBEV), é já no início de 2012 que a castração de leitões sem anestesia deixará de ser tolerada no país. Foi em 2010 que a Bélgica se comprometeu a cessar a prática de castração sem anestesia já a partir do primeiro dia do próximo ano, passando a proibir qualquer qualquer tipo de castração a partir de 2018. Esta medida vem no seguimento dos estudos do Instituto de Investigação Agrícola e das Pescas (ILVO) que “demonstraram o impacto dos diferentes métodos no sector e no bem-estar animal”. A FEBEV sublinha que se trata de uma iniciativa voluntária da indústria belga da carne, mas que uma base jurídica de âmbito europeu se começa a justificar. René Maillard, director do departamento belga da carne em Bruxelas, refere que “a fileira da carne na Bélgica posiciona-se desta forma na frente do pelotão, pretendendo assim responder às expectativas dos seus cidadãos mais preocupados com o bemestar dos animais. Trata-se de um passo na direcção certa que terá efeitos positivos nas nossas relações comerciais com os clientes”.

PLANTAS DE DENTE-DE-LEÃO A PNEU ECOLÓGICO As crianças adoram soprar as suas sementes ao vento e os coelhos acham-nos uma delícia. Mais recentemente, os dentes-de-leão começaram também a suscitar o forte interesse da indústria de borracha. Uma equipa de investigação da Universidade de Münster, na Alemanha, estudou o látex presente neles e chegou a uma espantosa descoberta. Os dentes-de-leão produzem goma elástica – igual em qualidade ao látex da árvore-da-borracha (seringueira) e esta descoberta poderá vir a transformar esta erva selvagem numa significativa fonte de borracha para o futuro.

AVICULTURA/BEM-ESTAR ANIMAL GALINHAS POEDEIRAS: 12 ESTADOSMEMBROS NÃO VÃO CUMPRIR O PRAZO Segundo anunciou recentemente John Dalli, o comissário responsável pela Saúde e Protecção dos Consumidores, serão doze os Estados-membros que não aplicarão o veto às gaiolas convencionais para galinhas poedeiras até à data-limite de 1 de Janeiro de 2012. Apesar de ter sido em 1999 que foi tomada a decisão de melhorar o bem-estar destes animais já a partir do próximo ano, Dalli lamentou que explorações agrícolas da Bélgica, Bulgária, Chipre, França, Grécia, Hungria, Itália, Letónia, Polónia, Portugal e Roménia não tenham sido ainda equipadas

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com gaiolas mais modernas. “As consequências no bem-estar dos animais e o risco de distorções no mercado são reais,” comentou. “Estas distorções podem comprometer os investimentos e esforços de cumprimento legislativo e minar a confiança do consumidor, o que é inaceitável.” A Comissão não tenciona adiar a data-limite e não hesitará em activar processos de infracção para casos de incumprimento. O comissário informou ainda que membros do Serviço Alimentar e Veterinário (sigla inglesa FVO) irão desenvolver inspecções em Estados-membros já em Janeiro do próximo ano. Especialistas dos diversos países encontram-se hoje, 28 de Outubro, para tentarem estabelecer soluções práticas que impeçam a colocação ilegal no mercado de ovos provenientes de explorações que não preencham os novos padrões. Para John Dalli, a melhor solução passará por limitar a venda de ovos que não estejam em conformidade aos Estados-membros onde forem produzidos, e para uso apenas em produtos transformados.

Fonte: Europolitics

SOLOS / DESERTIFICAÇÃO UM TERÇO DO SOLO PORTUGUÊS ESTÁ DESERTIFICADO Um terço do solo português está degradado e em processo de desertificação, revelou ontem a Agência Espacial Europeia (ESA) com base em dados de uma monitorização feita por satélites e divulgados numa conferência das Nações Unidas. "O projecto DesertWatch, apresentado durante a 10.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, que decorreu na semana passada na Coreia do Sul, identificou o grau de desertificação em Portugal: 33% do solo está degradado", informa a ESA no seu site. O projecto DesertWatch é desenvolvido pela ESA e visa fazer uma monitorização e avaliação da degradação do solo, com recurso a dados de satélite.


ACTUALIDADE

GENÉTICA CIENTISTAS INGLESES REVELAM “LIGAÇÃO” GENÉTICA DAS SEMENTES O conjunto de genes (rede genética) que regula ou “permite à semente decidir” qual a melhor altura para germinar foi recentemente revelado por cientistas da Universidade de Nottingham, que concluíram que estes genes são também responsáveis pelo desencadear da f loração. Esta descoberta ajuda a compreender os mecanismos genéticos usados pelas plantas na detecção de estímulos ambientais e pode tornar-se numa ferramenta importante no desenvolvimento de variedades mais resistentes às mudanças climáticas, mais f lexíveis às condições de campo e com rendimento mais estável. A equipa compilou dados de expressão genética disponíveis ao público na internet e recorreu à análise estatística para esclarecer interacções entre genes envolvidos na germinação na planta Arabidopsis thaliana. Esta planta é muito usada em estudos de biologia vegetal não só por ter sido a primeira espécie com genoma sequenciado mas também por ser de fácil manipulação genética e apresentar um ciclo de vida muito curto. A análise estatística resultou numa ferramenta de bioinformática baptizada de SeedNet e que é capaz não só de revelar genes de função já conhecida durante a germinação, mas também de prever novos genes reguladores com grande precisão. A SeedNet revelou também que os componentes genéticos que controlam a germinação são os mesmos que controlam a indução da floração, processo igualmente muito sensível a estímulos ambientais. Adicionalmente, a rede genética revela que os genes usados pelas folhas e raízes na resposta ao stress ambiental são os mesmos que as sementes accionam para suspenderem a germinação. O facto da semente ser um órgão de evolução muito mais recente que o resto da planta leva a crer que durante o período evolutivo as plantas optaram por adaptar os genes originais de resposta ao stress a novas e variadas funções associadas aos diferentes órgãos vegetais.

Por: Cristina Sousa Correia Fonte: Universidade de Nottingham

OLIVICULTURA UTAD: APROVEITAMENTO DE FOLHAS DE OLIVEIRA PARA ALIMENTAÇÃO ANIMAL E TRATAMENTO DOS EFLUENTES DOS LAGARES

Países como Portugal, Espanha, Itália, França e Grécia representam cerca de 73 % da produção mundial de 2,5 milhões de toneladas de azeite. Por sua vez, e após o processo de apanha das azeitonas, a folha da oliveira representa cerca de um milhão de toneladas de material remanescente. Foi a pensar nestas estimativas que em Vila Real, uma equipa de investigadores da Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro (UTAD) se tem vindo a dedicar ao estudo da olivicultura em áreas que vão desde o aproveitamento da folha de oliveira na alimentação animal ao tratamento dos efluentes dos lagares de azeite. Para o investigador Miguel Rodrigues, a valorização deste co-produto na alimentação animal pode ter importantes benefícios económicos e sociais, reduzindo um problema de poluição ambiental. A equipa de investigadores estudam o valor nutritivo destas folhas (sem tratamento e sujeita a tratamento prévio com fungos) na alimentação animal nomeadamente no desempenho de crescimento dos coelhos. Segundo o estudo, foi observado que níveis de incorporação superiores a 5 % têm efeitos negativos que poderão ser contudo minorados recorrendo ao tratamento biológico. Os investigadores avaliam ainda as propriedades antioxidantes das folhas e o seu efeito sobre a capacidade antioxidante da carne de suíno. Nas palavras de Miguel Rodrigues, “Para níveis de incorporação de 5 % de folha de oliveira na alimentação do porco foram observados efeitos positivos na capacidade antioxidante, o que poderá contribuir para um aumento do período de conservação da carne”. João Claro, docente do Centro de Química da mesma UTAD, é autor do projecto BioCombus, que conta com um financiamento comunitário de 1,16 milhões de euros e está ser concretizado através de uma parceria com Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça. Actualmente encontra-se em construção a linha de produção do protótipo, que deverá entrar em funcionamento em Março de 2012 para tratar os resíduos da presente campanha de apanha de azeitona. Representando um problema ambiental altamente complexo, os efluentes da produção de azeite – as chamadas “águas ruças” – têm uma carga poluente 200 a 400 vezes superior ao esgoto doméstico. Fazendo uma média da produção de azeite a nível nacional, a totalidade das águas ruças produzidas correspondem à produção equivalente de 2,5 milhões de pessoas. O investigador propôs-se resolver dois problemas em simultâneo, os resíduos e efluentes resultantes dos sectores oleícola e da cortiça, juntando-os e transformando-os em biomassa, que poderá ser utilizada como combustível sólido em caldeiras domésticas. O processo a implementar dará origem a um produto com um dos mais elevados poderes caloríficos do mercado em termos de biomassa. Fonte: Lusa

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VETERINÁRIA MELHORADA A VACINA PARA PREVENÇÃO DA LÍNGUA AZUL

Cientistas da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical conseguiram reconstruir em laboratório o vírus da doença da Língua Azul. Esta ferramenta poderá ser agora utilizada para criar vacinas com propriedades mais vantajosas para os agricultores. A Língua Azul é uma importante doença não contagiosa da vaca e da ovelha que se transmite através de picadas de mosquitos. No passado, atingia sobretudo o continente africano mas desde 1998 que se vem disseminando pela Europa. Esta doença é economicamente devastadora, causando a morte de até 70 % dos efectivos pecuários. Segundo os investigadores, a reconstrução do vírus da Língua Azul em laboratório foi complicada, devido ao facto de este vírus ter uma estrutura particularmente complexa. Os resultados obtidos irão não só permitir o desenvolvimento de uma vacina mais eficaz no controlo desta doença, como também funcionar como um molde para o desenvolvimento de vacinas para outras viroses. A equipa sintetizou cada um dos genes e proteínas estruturais da versão selvagem do vírus da Língua Azul e colocou-os na sua ordem natural de forma a obter uma versão sintética funcional. Depois, no sentido de verificar a eficácia desta construção, infectaram algumas células de mosquito e verificaram que os vírus sintéticos se começaram a replicar de modo automático e autónomo, tal como os da versão selvagem. Actualmente, as vacinas de controlo da Língua Azul são produzidas através do tratamento químico de vírus “naturais” no sentido de os inactivar. A reconstrução do vírus em laboratório permitirá ainda aprofundar conhecimentos acerca da biologia e funcionamento destes organismos, o que trará ainda mais vantagens em termos do controlo epidémico, para além da vacinação.

pelos hábitos da sua velha Inglaterra. Iniciativa de um grupo de empreendedores da zona originalmente reunidos na Central Láctea Lda. (em 1948), o negócio retirou a sua inspiração do modelo bem inglês de entrega diária de leite fresco porta a porta. Mostrando tecnologia e equipamento do mais inovador para a época, a Lacticínios Vigor pretendia ainda assentar o seu negócio no desenvolvimento de um eficiente sistema de distribuição. Em garrafas de robusto vidro transparente nas versões de litro, meio litro e 1/4 de litro, o Leite Especial Vigor Pasteurizado veio ainda a apresentar-se na modalidade de leite parcialmente desnatado e também sob a forma de iogurtes (embalados num copo de faiança nos tons de azul e branco saídos da já extinta Fábrica de Louça de Sacavém). À medida que os anos foram passando, o gradual aumento dos custos das matérias-primas e as diferentes exigências da vida moderna e do próprio consumidor fizeram com que a marca passasse a dedicar-se com maior intensidade à produção de leite fresco, substituindo as garrafas de vidro por outras embalagens (plástico ou cartão), excepto no caso do 1/4 de litro e nos produtos destinados ao sector da restauração. O século mudou e com ele as cooperativas produtoras de leite foram ganhando preponderância, assistindo-se ainda à tendência para concentração do sector. Estes factores redundaram na integração da Lacticínios Vigor no universo do grupo Lactogal (ano 2000) que veio a assinalar um novo ciclo de vida para a marca que prontamente apostou na inovação implementando em 2006 o chamado Método de Conservação Natural (MCN), considerado pelos responsáveis como uma revolucionária inovação no sector do leite fresco, pois permite aumentar o tempo médio de vida do produto para 14 dias e sem recurso a conservantes. A empresa avançou ainda para a inevitável diversificação da sua oferta de produtos a pensar nas necessidades de grupos específicos de consumidores modernos, lançando o Vigor Magro, o Vigor Chocolate e o Vigor Especial Cálcio. Líder nacional no segmento de leite pasteurizado (fundamentalmente na região da Grande Lisboa), contribui com 1,5 milhões de litros para as venda da Lactogal, os últimos anos ficaram marcados pela transferência da fábrica de produção de leite de Odrinhas (na original Sintra) para o complexo da Lactogal em Oliveira de Azeméis e pela completa extinção das velhinhas embalagens de vidro.

Por: Cristina Sousa Correia Fonte: ScienceDaily

EMPRESAS UMA MARCA SEXAGENÁRIA, MAS CHEIA DE VIGOR Considerada ícone tradicional da cultura portuguesa, sinónimo de qualidade e prestígio, foi há 60 anos (ano 1951) que, em Sintra, ainda no rescaldo da Segunda Grande Guerra, a marca de lactícinios Vigor viu a luz do dia, produzindo leite que começou a ser fundamentalmente dirigido aos refugiados britânicos que residiam em grande número no eixo Estoril-Cascais, nostálgicos

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www.lactogal.pt


ACTUALIDADE

CEREAIS / PREÇOS VOLATILIDADE DOS PREÇOS UMA REALIDADE À ESCALA MUNDIAL Segundo Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o elevado preço dos alimentos e os baixos níveis de stocks de cereais fazem com que o mundo continue na chamada “zona de perigo”. O mesmo responsável considerava que “a esperada volatilidade” nos preços de alguns produtos pode ter “efeitos inesperados” nos preços dos alimentos nos próximos meses. “A vigilância é vital, devido às incertezas e à volatilidade existentes”. A volatilidade referida por Zoellick, em Agosto último, é uma realidade em todo o mundo a que Portugal e a União Europeia não escapam. A análise do gráfico que se segue, onde constam as cotações diárias do milho no mercado de Bordéus (Rendu Bordéus) nos últimos 5 anos, permite constatar que a partir do pico atingido em Outubro de 2007 (229€/tonelada), o milho teve uma acentuada quebra, chegando a um mínimo de 109€/tonelada, em Agosto de 2009. No espaço de duas campanhas o milho desvalorizou 120€/tonelada (-52%). A partir desta data, a cotação do milho foi-se incrementando gradualmente, até atingir os 230 €/tonelada no início do presente ano civil. No entanto, também este ano está a ser marcado por uma acentuada volatilidade das cotações do milho no mercado mundial, estando actualmente a cotação média do milho no mercado de Bordéus nos 182€/tonela, o que corresponde a uma desvalorização de 48€/tonelada (-21%), desde o início do ano. A acentuada volatilidade que se apoderou do mercado mundial de cereais cria inúmeras dificuldades não só aos produtores de cereais, dificultando de sobre maneira o correcto planeamentos das suas explorações agrícolas, como também aos nossos clientes dos sectores animais que face a estas constantes oscilações têm dificuldade em programarem atempadamente as suas compras ao longo do ano. Por último, cabe relembrar que de forma a minimizar os efeitos da volatilidade dos preços dos cereais na União Europeia, a ANPROMIS tem defendido desde a primeira hora que no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC), agora em revisão, sejam criados mecanismos de regulação dos mercados que permitam garantir o rendimento dos agricultores europeus e assegurem o aprovisionamento alimentar da população europeia.

OLIVICULTURA AZEITE PORTUGUÊS VIRADO A LESTE

Cinco produtores de azeite virgem extra e um embalador industrial do concelho de Abrantes anunciaram um investimento de 2 milhões de euros num projecto conjunto que visa a competição no mercado externo. Em declarações à agência Lusa, André Lopes, proprietário da marca produtora do azeite virgem extra Ourogal DOP, comentou que esta união de esforços com os produtores dos azeites da SAOV, Zé Bairrão, Casa Anadia e Val Escudeiro se fica a dever ao facto de as marcas posicionadas nos mercados nacionais premium e gourmet terem de se "adaptar às exigências" dos mercados internacionais, tanto em relação ao volume como à diversidade de produtos, criando sinergias que potenciem as mais-valias da região em termos da experiência secular de saber-fazer azeite. Sabendo equipar-se ao longo dos últimos anos investindo em lagares de última geração, os produtores que compõem o projecto apostaram fortemente na obtenção de azeites de excelência, "com qualidade e credibilidade reconhecidas em qualquer parte do mundo”." André Lopes efectuou recentemente uma viagem à Rússia, onde apresentou as várias gamas de azeite a empresas importadoras, sublinhando a importância do mercado dos países de Leste e da região do Báltico. "Queremos começar a exportar, em Abril do próximo ano, 600 mil litros para os países que detenham um nível cultural evoluído e com poder de compra, assim como para alguns países considerados emergentes", referiu. Segundo o engenheiro técnico agrícola, aquele volume de azeite corresponde à "quantidade suficiente" para responder ao mercado global, "pelo menos numa fase inicial previsível de três anos".

In newsletter “Informação Anpromis”, n.o 2, Outubro de 2011

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MERCADO

ENERGIAS RENOVÁVEIS ENERGIA SOLAR NA AGRICULTURA Segundo dados do Instituto de Meteorologia, em Portugal, com o seu clima mediterrânico, o sol brilha cerca de 1.600 horas no norte e até 3.300 horas por ano no sul. Apesar disso, o nosso país ainda está longe de aproveitar o seu potencial em termos de energia solar. Por outro lado, a agricultura desempenha, ainda, uma função essencial na economia nacional e, a adopção de novas tecnologias que integrem princípios de sustentabilidade e de rentabilidade, sem agressão do ambiente, é um exemplo a reter, sendo de destacar os benefícios da utilização da energia solar como fonte alternativa aos combustíveis fósseis. Actualmente, a utilização de sistemas de energia solar de microgeração ou minigeração permite que o agricultor beneficie de tarifas atractivas de venda de energia directamente à rede eléctrica. Aplicando um sistema que ocupará uma área que irá dos 40 aos 1.700 m 2 , o agricultor poderá aplicar os painéis fotovoltaicos numa zona de terreno livre ou no telhado de um pavilhão, rentabilizando essas áreas e diminuindo significativamente os custos com energia eléctrica. O retorno do investimento será rápido, em virtude da fiabilidade de equipamentos com um ciclo de vida de cerca de 25 anos. Existem, igualmente, sistemas autónomos de produção de energia eléctrica através do sol para locais distantes da rede eléctrica e adaptáveis a sistemas de bombagem de água para irrigação e, ainda, para alimentação dos equipamentos usados em contexto agrícola. Os sistemas de aquecimento de águas sanitárias até 90-100 ºC, com colectores solartérmicos, constituem outra aplicação interessante da energia solar para utilizações relacionadas com limpezas e/ ou preparação de produtos. A Ambiene projecta, instala e operacionaliza sistemas chave-na-mão dos equipamentos de energias renováveis mais adequados a cada aplicação.

ambiene – ambiente e energia, lda mail@ambiene.pt | mail@ambiene.pt www.ambiene.pt

BIOTECNOLOGIA NOVA TECNOLOGIA PROMETE CAPTURAR AMONÍACO EM DEJECTOS LÍQUIDOS Um novo método de extracção do gás amoníaco de dejectos líquidos está atrair o interesse tanto de criadores de animais como de ambientalistas. A tecnologia por detrás deste processo envolve a utilização de uma membrana permeável a gases que, em testes laboratoriais, demonstrou capacidade de, em apenas 20 dias, reduzir em 50% o amoníaco dissolvido nos dejectos líquidos. Esta tecnologia foi desenvolvida pelo departamento de engenharia agrícola e biológica da Universidade do Texas e permite capturar o gás amoníaco em vez da sua separação e consequente perda, como sucede com os métodos mecânicos actuais ou das lagoas de digestão. Através deste método, o amoníaco é directamente concentrado na forma de sulfato de amónio cuja posterior utilização como fertilizante poderá compensar os custos do processo de remoção. Outros métodos de controlo das emissões de amoníaco a partir de dejectos líquidos incluem a aspersão dos dejectos com soluções ácidas e “ biofilmes”, e a adição de compostos químicos tais como argilas acidificadas e bissulfato de sódio. Embora estes métodos tenham mostrado alguma capacidade de remoção acarretam também inúmeras desvantagens, tais como não permitirem a recuperação da amoníaco para fins úteis e, principalmente, a de implicarem custos elevados. A tecnologia de membrana porosa é relativamente simples e de menor custo. Exige basicamente um tubo, com porosidade de 2 microns (o cabelo humano tem o diâmetro de 70 microns! que é submerso num tanque com dejectos líquidos e um sistema de bombagem que faz passar acido sulfúrico diluído através do tubo. A teoria por de trás desta tecnologia é de que o gás amoníaco, dissolvido a grande concentração nos dejectos, vai tender a migrar para as regiões de menor concentração, isto é, para dentro do tubo. Em termos práticos, uma pequena parte dos dejectos será conduzida para um tanque mais pequeno onde o tubo retirará parte do gás amoníaco presente e, posteriormente, conduzida de volta ao tanque principal. Através da repetição deste processo, o gás amoníaco será progressivamente concentrado numa solução de sulfato de amónio de elevado pH. A membrana tubular foi designada de “politetraf luoretileno expandido”, abreviado para ePTFE. Este material, utilizado no fabrico de vasos sanguíneos sintéticos em sistemas de filtração de sangue, esteve protegido por patentes que recentemente expiraram, o que permite agora aumentar as suas utilizações a custos muito inferiores.

Por: Cristina Sousa Correia

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PECUÁRIA / DISPOSITIVO PARA MASSAGEM DE VACAS Se os animais domésticos são submetidos a repetidos afagos – seja através de carícias na barriga ou meras cóceguinhas no pescoço – porque não dar o mesmo tratamento calmante aos animais criados industrialmente para nosso próprio proveito? A falta de uma resposta adequada fez com que a empresa sueca Sveaverken AB (em parceria com o designer industrial Andreij Nylander) desenvolvesse o Care-for-Cows, uma escova de massagem em borracha montada na parede pensada para uso autónomo de vacas leiteiras. Uma vez instalada, os animais gravitam naturalmente em direcção à escova, cujos benefícios de saúde vão para além do simples conforto. A massagem que se segue ajuda a melhorar a circulação sanguínea nas capilares sob a pele da vaca, removendo simultaneamente as pulgas e os parasitas aí alojadas. Por outro lado, o sistema aumenta o nível de actividade física das vacas, à medida que estas se dirigem e afastam do local onde se encontra instalado. Apresentando uma longa durabilidade e de fácil limpeza, este simples mas eficaz produto foi um dos vencedores da edição de 2011 do prestigiado Red Dot Product Design, na categoria “Best of the Best”. Andreij Nylander afirma ter-se inspirado no trabalho de Temple Grandin, zootécnico especializado na indústria de pecuária e que colabora nas áreas de desenho de instalações e bem-estar dos animais.

sveaverken ab www.sveaverken.se


NANOTECNOLOGIA EMBALAGENS INTELIGENTES FUNCIONAIS PARA ALIMENTOS NUMA INOVAÇÃO “MADE IN PORTUGAL” Durante meses, as universidades do Minho (IBB/CEB e Centro de Física), de Aveiro, Vigo, País Basco e Complutense de Madrid, numa colaboração com o Centro de Investigação Valenciano IATA-CSIC investigaram a aplicação de nanocomponentes em sistemas de embalagens num esforço de aumentar a qualidade, segurança e conservação dos alimentos no âmbito do projecto internacional Nanopacksafer.Investigador do Instituto para a Biotecnologia e Bioengenharia/Centro de Engenharia Biológica (IBB/CEB) da Universidade do Minho, José Teixeira é o coordenador nacional da inovação que deverá chegar ao mercado a médio prazo. O projecto pretende desenvolver embalagens alimentares com melhores propriedades antimicrobianas, mecânicas e térmicas através de nano-revestimentos edíveis (ou seja, com protecção comestível), filmes não-edíveis e nano-partículas. Estes permitirão ainda a monitorização efectiva das propriedades do alimento, passando a ser possível verificar a qualidade de produtos como o peixe, o queijo ou mesmo a fruta, através de “sinais” de nanossensores incorporados no próprio revestimento. A camada fínissima formada em redor de um alimento poderá ser comestível sem que tal interfira no sabor dos alimentos. Segundo José Teixeira, estas embalagens inteligentes funcionais aumentam a protecção da comida e prolongam mesmo o seu ciclo de vida. Será possível o controlo da atmosfera interna do invólucro, a libertação controlada de moléculas (nanoaditivos bioactivos) com actividade antimicrobiana, antioxidante ou de captura de oxigénio, bem como o uso de nano-hidrogeis poliméricos que libertam determinados ingredientes em resposta às condições ambientais. Conforme vinca o investigador do IBB/CEB, a “utilização desta tecnologia está em forte expansão e temos recebido interesse de várias empresas e instituições”, sendo que a nanotecnologia aplicada a embalagens na indústria alimentar deve rondar os 20 mil milhões de dólares em 2012.

GRAMÍNEAS AVALIAÇÃO RÁPIDA DO ÁLCOOL PROVÁVEL EM GRAMÍNEAS

PROJECTO DE UM ENTERRO ECOLÓGICO OU COGUMELOS QUE COMEM CADÁVERES

Cientistas americanos do Agricultural Research Service (ARS) desenvolveram um método económico para estimar o grau de álcool provável (álcool etílico) em gramíneas perenes que permite a sua avaliação logo que chegam ao terreiro de descarga da biodestilaria. Os investigadores utilizaram um sensor de infra-vermelho próximo (NIRS) que consegue detectar e quantificar até vinte componentes da biomassa da gramínea Panicum virgatum L. Estas componentes incluem os açúcares contidos nas paredes celulares, os açúcares solúveis e a lenhina, informação que permite a determinação de até treze características agronómicas, incluindo a estimativa do álcool provável. Foi a primeira vez que se utilizou o infra-vermelho próximo na estimativa do álcool provável da biomassa total de gramíneas, embora este método estivesse já desenvolvido para o grão milho. Métodos menos recentes de previsão baseavam-se apenas no teor de hexoses (açúcares com 6 átomos de carbono) e nos açúcares solúveis. A optimização deste método para a detecção de um maior leque de componentes celulares surge como resposta a inovações nos processos de conversão de açúcares em álcool etílico, incluindo a conversão de pentoses (açúcares com 5 átomos de carbono). Assim, a nova curva de calibração do aparelho de infra-vermelho próximo permite estimar o álcool provável que seria obtido se todos os açúcares fossem utilizados. Várias variedades e linhas experimentais foram já avaliadas utilizando este método e diferenças significativas foram encontradas entre as mesmas (por tonelada e por hectare). Também se encontraram diferenças entre variedades no que diz respeito a álcool provável e álcool real (a eficiência de conversão varia entre variedades). O custo de aplicação deste método é de 5 dólares por amostra, o que contrasta com o custo de 300 a 2000 dólares por amostra se forem utilizados métodos analíticos convencionais. As curvas de calibração do aparelho de infra-vermelho próximo desenvolvidas por este estudo podem ser utilizadas em vários campos de investigação vegetal, desde genética e melhoramento até às tecnologias de conservação e armazenamento deste tipo de cultura. Uma tecnologia que poderá ser de interesse para a agricultura portuguesa, onde o investimento em biocombustíveis tem vindo a crescer, nomeadamente através de culturas produtoras de álcool combustível, como o sorgo sacarino, o milho sacarino e a própria cana de açúcar.

Como parte de um projecto que pretende que as pessoas aceitem e abracem a sua própria mortalidade, a artista visual Jae Rhim Lee tenta que cogumelos shiitake e pleurotos se alimentem e decomponham tecido humano. Para tal, criou um protótipo de fato em algodão orgânico revestido com uma rede impregnada de esporos pensado para ser usado em conjunto com um cocktail especial de embalsamento (sem formaldeídos) composto por lamas de esporos destinado a desagregar a matéria orgânica do corpo e limpar as toxinas acumuladas, produzindo um composto rico em nutrientes. O projecto do Infinity Burial Suit pretende fomentar o desenvolvimento de um sistema de enterro natural que irá facilitar a decomposição do corpo, e fornecer nutrientes às plantas da área circundante. Entretanto, um grupo denominado “The Decompiculture Society” nasceu apenas para apoiar o projecto e é composto por pessoas como especialistas em enterros ecológicos, trabalhadores do sector de saúde e simples curiosos.

Fonte: ScienceDaily Por: Cristina Sousa Correia

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MERCADO

REGA SMART IRRIGATION IN A BOX*: PARA UMA IRRIGAÇÃO MAIS INTELIGENTE NOVIDADE “MADE IN PORTUGAL” São 16 anos de experiência a ajudar agricultores em todo o mundo a irrigarem as suas propriedades sintetizados numa única caixa. A empresa alentejana Hidrosoph aproveita o melhor equipamento de humidade do solo disponível e instala-o no seu campo, deixando-o ver o que acontece ao nível da raiz e proporcionando dados meteorológicos actualizados bem como previsões meteorológicas locais. Logo no primeiro dia após a instalação do equipamento, o agricultor pode analisar a informação recolhida em formato gráfico e de simples assimilação no software de gestão de irrigação IrristratTM. Com base nesses dados, é imediatamente possível alterar os parâmetros de irrigação que tem activos e adequá-los conforme a necessidade. Adicionalmente, pode aceder à informação em qualquer altura e local através de um simples navegador de internet, sendo ainda possível tomar notas e manter registos e fotos muito úteis que o ajudarão a obter melhores colheitas. A “Smart Irrigation in a Box” encontra-se disponível em duas versões. Na caixa de modelo Standard e para uma estação agrícola de 4 meses, terá: – Uma Sonda de Humidade do Solo Enviroscan de alta performance pronta a usar; – Possibilidade de instalação e desinstalação do equipamento de monitorização; – Acesso ao software da caixa IrristratTM, incluindo: características de humidade do solo, dados meteorológicos, registos de monitorização de campo. Permitindo que o utilizador retire ainda mais vantagens do sistema, a caixa Plus proporciona: – Software de interface smart phone para fotografias de campo e recolha de dados; – Configuração remota assistida Irristrat™ Irrigation Schedulling; – Aconselhamento de irrigação semanal assegurado por via remota por agrónomos especializados (30 minutos).

www.hidrosoph.com HIDROSOPH, info@hidrosoph.com| (*) Apenas disponível em Portugal.

Versão da caixa IrristratTM Sonda GPRS Enviroscan Dados e previsões meteorológicas

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AVICULTURA SISTEMA DE INCUBAÇÃO DE OVOS SMARTPROTM Após três anos de intensiva investigação e desenvolvimento, a empresa holandesa Pas Reform lançou no mercado o SmartPro™ , a sua mais recente e avançada novidade de incubação modular de uma só fase, numa solução que contempla a Incubação Circadiana™. O objectivo do moderno centro de incubação é produzir uma significativa quantidade de pintos do dia, robustos e uniformes. A robustez é um critério de saúde – que começa na fase de vida embrionária das galinhas – directamente correlacionada com o desempenho e resistência de pintos individuais sob condições distintas de criação. Investigações recentes demonstraram que esta robustez pode ser obtida através da estimulação do embrião com um activador específico, isto é, um estímulo através de calor ou frio, durante períodos críticos do processo de incubação. Tal faz com que a chamada “impressão embrionária” que age a um nível fisiológico, produza uma galinha que se desenvolve bem no seu ambiente. É precisamente este condicionamento térmico diário que está no centro do sistema de Incubação Circadiana™ – conhecido por melhorar a eclodibilidade, e pelos efeitos duradouros que incluem o aumento de 1-2% no peso final e melhores taxas de conversão alimentar (1-2 pontos). Os lotes de pintos do dia robustos asseguram igualmente uniformidade na idade de abate, melhorando desta forma o rendimento, eficiência e desempenho do processo em toda a cadeia de produção. De modo a apoiar a utilização da Incubação Circadiana™, a incubadora deverá assegurar um controlo preciso da atmosfera circundante. E para alcançar uma distribuição de temperatura verdadeiramente homogénea, o desafio passa pelas trocas de energia, CO2/ O2 e humidade – sem afectar a uniformidade da temperatura em redor dos ovos. Para cumprir com exactidão este requisito, a SmartPro™ combina três características fundamentais: design modular (com diferentes ambientes seccionais que podem ser controlados individualmente), o novo princípio de f luxo de ar Vortex™ (homogeneidade de temperatura) e Adaptive Metabolic Feedback™ (assegura que a atmosfera da incubação satisfaz as necessidades metabólicas de cada embrião ao longo do seu desenvolvimento). Ergonomicamente avançado, ecológico, simples de usar, o SmartPro™ foi especificamente concebido para cumprir com rigor os exigentes requisitos higiénicos das modernas incubadoras. Com sensores subdivididos por secções, com incubadoras modulares que impedem a contaminação cruzada, com a incorporação da protecção antibacteriana Microban® nos cestos de incubação e tubos de refrigeração integrados em paredes de alumínio, o tempo necessário para limpar em profundidade toda a unidade é muito reduzido.

HORTICULTURA ETIQUETA QUE MUDA DE COR CONSOANTE A FRESCURA DO PRODUTO A empresa britânica Open Life Packaging patenteou uma etiqueta revolucionária que informa o consumidor da frescura de um produto. A etiqueta é activada quando o produto se abre e vai mudando de cor à medida que o produto vai ficando menos fresco e deteriorando.A etiqueta mostra a cor verde quando o produto se encontra nas melhores condições para consumo. Quando fica âmbar, é porque se aproxima a data limite de consumo e o vermelho indica um produto já deteriorado. Inicialmente concebida para ser colocada em produtos frescos, a etiqueta (disponível em várias formas e tamanhos) foi adaptada para poder ser usada em jarras, garrafas e pacotes. A tecnologia usada baseia-se em tiras indicadoras que mudam de cor consoante se altera o pH e também em enzimas acrescentadas que começam a reagir quando o produto é aberto. Os produtos que geram a reacção de enzimas produzem uma mudança no pH do meio e logo, a cor da etiqueta. A velocidade de reacção das enzimas depende directamente do tempo decorrido e da temperatura a que está o produto, pelo que com mais tempo e a temperaturas mais altas, se produz mais reacção e assim, mais alteração de pH, que faz com que a cor mude mais rapidamente. As revolucionárias etiquetas contam com a tecnologia patenteada Oli-Tec e começarão a ser comercializadas no início do próximo ano. Os inventores deste inovador sistema pensam que este irá ajudar a reduzir as enormes quantidades de produtos que diariamente vão parar ao lixo sem serem consumidos por terem perdido a sua frescura. Testes de cheiro, testes de paladar e testes visuais era tudo o que existia até à data. A nova Oli-Tec irá espelhar com toda a exactidão a degradação desse alimento submetido ao tempo e às temperaturas.

A PASREFORM é representada em Portugal pela AVISILVA SA.

Crown Bio Technology, http://crownbio.co.uk/media


A G RO P EC U Á R I A

VACAS ALIMENTADAS A ALHO PARA COMBATER O AQUECIMENTO GLOBAL Segundo um estudo liderado por cientistas galeses e divulgado pela Euronews, reduzir os gases emitidos pelo gado acrescentando alho à sua dieta pode vir a reduzir substancialmente as emissões de gases de efeito de estufa (GEE). No âmbito de um programa de investigação orçado em 5 milhões de euros e desenvolvido na Universidade de Aberystwyth, uma equipa de cientistas liderada pelo Professor Jamie Newbold concluiu que um composto orgânico sulfurado obtido no alho elimina as bactérias que produzem metano no sistema digestivo das vacas. Para os cientistas, as vacas alimentadas com ração enriquecida com o composto do alho – denominado alicina – emitem menos 40% de gases e não vêem perturbado o seu processo normal de fermentação digestiva. Ainda segundo os investigadores, o metano surge como um gás de efeito de estufa bem mais potente que o dióxido de carbono, e as emissões agrícolas constituem aproximadamente 18% da produção global de GEE. A redução das emissões de metano em 40% iria combater substancialmente o aquecimento global. David Williams, da empresa Neem Biotech – fabricante da alicina – afirmou que o fornecimento de um quarto do rebanho bovino do Reino Unido iria requerer 5,5 mil toneladas de alho por ano, o que poderia significar “um negócio muito, muito significativo”. Como único inconveniente é apontado o facto de a alicina interferir no sabor do leite e de outros produtos lácteos, pelo que os investigadores – que realizam também experiências com ovelhas e outros animais – estão a procurar outras formas de metabolitos à base de alho que consigam o mesmo efeito mas sem aspectos negativos.

UNIÃO EUROPEIA: A IDENTIFICAÇÃO ELECTRÓNICA DE BOVINOS MEDIDA VAI FORTALECER A SEGURANÇA ALIMENTAR E A SAÚDE DO ANIMAL

do sector, ao reduzir os encargos administrativos através da simplificação dos actuais procedimentos. Não obstante o seu carácter voluntário, a proposta da Comissão permite que os estados-membros introduzam um regime obrigatório a nível nacional. Para além dos sistemas de identificação electrónica, a Comissão irá inserir alterações relativamente à rotulagem, revogando as actuais provisões em matéria de rotulagem voluntária de carne. Para John Dalli, Comissário da Saúde e da Política do Consumidor, trata-se de um importante passo em frente no reforço da segurança da cadeia alimentar na UE. Quando em vigor, a proposta irá facilitar a transmissão dos movimentos do animal à base de dados central. Como outras vantagens, o sistema consolidará a protecção do consumidor, melhorará a prevenção de doenças e o controlo e gestão de crises, apoiando a competitividade do sector (por exemplo, através da facilitação das funções de identificação e registo ou mesmo melhorando os sistemas de reprodução animal e de gestão da produção) e abrindo maiores perspectivas para o comércio. As empresas de processamento de carnes e os comerciantes de gado irão também beneficiar graças à redução dos custos de mão-de-obra. A proposta de lei será agora submetida ao Parlamento e Conselho Europeu, sendo que a data de implementação irá depender do tempo necessário para que as duas instituições cheguem a acordo. Fonte: Science Daily

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A 30 de Agosto, a Comissão Europeia (CE) adoptou uma proposta de lei que, depois de implementada, irá melhorar a segurança alimentar e salvaguardar a saúde animal na União Europeia (UE). De modo particular, a proposta da Comissão estabelece o quadro legal para a introdução (pela primeira vez e numa base voluntária) de um sistema de identificação electrónica para os bovinos. Estes sistemas são já usados em diversos estados-membros da UE a título privado e fundamentalmente para fins de gestão agrícola. A sua implementação em grande escala irá reforçar o actual sistema de rastreabilidade para bovinos e produtos alimentares (por exemplo, para a carne) tornando-o mais rápido e exacto. Poderá ainda beneficiar agricultores e outros protagonistas

– até 30 de Março de 2012 –

̓ Envio de cheque endossado à Publindústria, Lda. (indicar n.°

Banco ) ̓ Pago por transferência bancária para o NIB 0035 0743 0001 1990 2305 3 em / / no valor de euros (para efectivar a assinatura deverá enviar o comprovativo por fax, correio ou email: agrotec@publindustria.pt ̓ Autorizo o pagamento por débito directo, com renovação automática da assinatura anual (até indicação em contrário) Morada Cód. Postal Telefone Empresa/Entidade Data

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FE I RA S & EVENTOS

PROVAR O FUTURO NA ANUGA MEAT EXPORTAÇÕES DINAMIZAM O CRESCIMENTO NO SECTOR DA CARNE Aproximadamente 800 fornecedores de cerca de 50 países proporcionaram um amplo leque de informação, mostrando ao público presente em Colónia as suas inovações em embalagem. Depois da Anuga FineFood, o segundo maior salão do universo ANUGA é a Anuga Meat, que teve lugar de 8 a 12 de Outubro, em Colónia. Apresentando produtos dos subsegmentos de carne, salsichas, caça e aves de capoeira e mostrando grandes empresas do sector da Alemanha e estrangeiro, a Anuga Meat ofereceu aos compradores do sector, da restauração e do mercado de catering uma notável plataforma informativa e de contactos comerciais. Ocupando os pavilhões 5, 6 e 9 e abrangendo um espaço bruto de exposição que rondou os 50 mil m 2 , estiveram criadas todas as condições para nesta edição se ultrapassarem os bons resultados obtidos em 2009. Muito importante na edição de Outubro de 2011 foi a questão da saúde, com crescentes números de visitantes a comprarem apenas produtos livres de alergénios, intensificadores de sabor, glúten e corantes artificiais. No que toca aos produtos de carne, a intolerância à lactose desempenha hoje em dia um papel cada vez mais importante, razão pela qual muitos produtores de salsichas e enchidos deixaram de a usar nas suas receitas. No quadro internacional, a indústria de carne alemã continua a ser um forte protagonista: mais de um quarto dos produtos de carne produzidos na Europa são provenientes da Alemanha.

www.anuga.com fotos: KölnMesse

WWW.MECHANICCORN.COM MECHCORN@IOL.PT

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FRUIT ATTRACTION / FEIRA PROFISSIONAL DO SECTOR DE FRUTAS E HORTALIÇAS

Os pavilhões 7 e 9 da Feira de Madrid foram os palcos para a terceira edição da FRUIT ATTRACTION, uma co-organização da IFEMA e FEPEX e que decorreu de 19 a 21 de Outubro último. Para esta convocatória, o certame reuniu uma ampla representação do sector hortofrutícola, num total de 550 empresas expositoras que ocuparam mais de 15 mil metros quadrados, o que supõe um aumento de 28% relativamente à edição anterior. Estes são dados que confirmam a importância que, em apenas duas edições, a feira conseguiu adquirir, como fórum indispensável para o mercado espanhol – todas as áreas produtivas do país estiveram representadas na oferta de exposição – e referência para o internacional, especialmente o europeu. Também a presença internacional se reforçou marcadamente, com a participação de empresas vindas de países como o Irão, Bélgica, França, Itália, Reino Unido, Brasil, México, Argentina e, naturalmente, de Portugal, representado em Madrid por uma mão-cheia de marcas especializadas sob a égide da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. Num caso muito concreto, as empresas vindas da América Latina (e México) resultaram especialmente interessantes para a feira, dada a complementaridade sazonal da sua produção com a europeia, e o interesse das suas culturas específicas, como as frutas tropicais, cada vez mais procuradas pelo consumidor do Velho Continente.

PORTUGAL NA FEIRA Prova da confiança que os profissionais portugueses depositam já na feira madrilenha (que encaram como uma plataforma de crescimento de negócios, promoção da qualidade, diferenciação e inovação e de reforço da internacionalização), foram 14 as empresas presentes na Fruit Attraction: Abrunhoeste, Campotec, Cooperfrutas, Coopval, Cooperativa Agrícola de Mangualde, Cooperativa Agrícola do Távora, Extrafrutas, Frutalvor, Frutoeste, Hortapronta, Luís Vicente, Lusopêra, Nutrigreen II Salads, Primores do Oeste, SOMA, Torriba, Triportugal e Ucanorte XXI, Vale da Rosa, Vitacress. Entre outros produtos e serviços, representam mercados como a Pêra Rocha, maçãs, kiwis, citrinos e outras variedades de fruta. No segmento de vegetais, expuseram gamas que incluiram tomates, courgetes, beringelas, abóboras-cabaça, batatas, vegetais crucíferos e produtos prontos-a-usar.

www.fruitattraction.ifema.es


2.O CONGRESSO MUNDIAL DO SOBREIRO E DA CORTIÇA / CORTIÇA: PRODUTO DECISIVO NA FILEIRA FLORESTAL E DETERMINANTE PARA A ECONOMIA NACIONAL

Num dia pautado pelo anúncio do aumento de exportações da cortiça – que apresentou um crescimento de 8% em 2010, e uma recuperação em cerca de 11 % no 1.o semestre de 2011, face ao período homólogo (segundo dados do INE) – realizou-se o 2.o Congresso Mundial do Sobreiro e da Cortiça, um evento que reuniu cerca de 450 participantes em Lisboa e que analisou o futuro da fileira, que é hoje decisiva para a alavancagem da economia nacional. A sessão de abertura contou com a presença da Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas, que destacou a cortiça como um sector estratégico, tendo em conta o seu valor económico, ambiental e social, e elevou-a como o mais importante produto de toda a fileira f lorestal nacional. Salientando a importância da certificação f lorestal por parte dos produtores f lorestais e a recuperação de mercado pela rolha de cortiça, face aos alternativos, Assunção Cristas garantiu ainda o seu empenho para que a informação sobre o vedante passe a constar no rótulo das garrafas de vinho, tentando, junto da Comissão Europeia, alargar esta obrigação a todo o espaço comunitário. O seu discurso terminou com o apelo à plantação de sobreiros, evocando o ditado português “quem se preocupa com os seus netos planta um sobreiro”. Do Congresso Mundial do Sobreiro e da Cortiça ficaram também as mensagens de alerta para a preservação de um sector pilar da política florestal e para a tomada de consciência de uma “Economia Verde”, modelo que pauta as políticas europeias no campo da sustentabilidade ambiental para 2020, obrigando a uma nova forma de olhar para o território, valorizando-o economicamente. A rolha de cortiça foi considerada por todos os especialistas presentes como o vedante de eleição e insígnia de qualidade junto do consumidor: o TCA é um problema cada vez menor do sector, uma vez que estudos demonstram uma redução de 82% nos níveis deste composto desde 2000; a performance da rolha de cortiça supera os vedantes alternativos; é altamente sustentável pois uma rolha de cortiça polui menos 300% que os sintéticos, pela emissão de carbono. Sobre o futuro, o sector continuará a investir em I&D e na estratégia da diversificação, sendo o seu uso em bebidas alcoólicas brancas o próximo desafio. A capacidade de resposta da cortiça face a passagem do tempo, a multiplicidade de aplicações e sua competência técnica foram algumas das premissas discutidas no painel que se debruçou sobre a cortiça ao serviço da construção e design. Maleável e adaptável, a cortiça é um poderoso isolante, é eco-sustentável e um ícone de estética. É um produto intemporal com a mais alta qualidade. Jordi Bonet, o arquitecto que dirige os trabalhos arquitectónicos da Sagrada Família, em Barcelona, e responsável pela incorporação de pavimento em cortiça na manutenção da Catedral, protagonizou um dos momentos altos do Congresso ao referir que tenciona utilizar mais uma vez a cortiça na Sagrada Família de Gaudì, uma das obras mais visitadas em todo o mundo. Os desafios do futuro fecharam o 2.o Congresso do Sobreiro e da Cortiça, sendo a consagração da cortiça a nível internacional uma das principais apostas, nomeadamente nos mercados emergentes como o do Brasil e da China. Rob Schneider, actor norte-americano e protagonista da campanha internacional desenvolvida pela Corticeira Amorim “Save Miguel”, alertou ainda para a aposta em Hollywood, pela capacidade de inspiração e inf luência na cultura global. Numa palestra temperada pelo humor a que o actor já habituou a plateia mundial, Schneider evidenciou a relação vencedora entre a cortiça e todas as suas aplicações, salientando que “a cortiça traz romance à relação com o vinho”, ao contrário das screwcaps. António Rios de Amorim, Presidente da APCOR, fez ainda um outlook sob a performance e sector da cortiça, assinalando que o futuro é promissor mas não é garantido. A aposta no valor e na qualidade durante a próxima década é absolutamente decisiva. A liderança de Portugal neste sector continuará a ser possível através do esforço e investimento em I&D, novas aplicações e novos produtos, reforçada pela continuada e crescente comunicação internacional, bem como uma concertação de todos os intervenientes do sector. O 2.o Congresso Mundial do Sobreiro e da Cortiça culminou com a realização da Gala Anual da Cortiça 2011, no Convento do Beato, em Lisboa, onde foi reconhecida a excelência de personalidades e/ou entidades que, de algum modo, tiveram uma relação com o sector da cortiça e que se destacaram nos últimos anos. Entre sete categorias, de salientar o Prémio Mérito, galardão recebido por Américo Amorim.

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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FE I RA S & EVENTOS

SITEVI E VINITECH JUNTAM FORÇAS NA FRENTE INTERNACIONAL

Dedicadas aos equipamentos ou técnicas de cultivo de frutas e produção de vinho, duas grandes feiras francesas – SITEVI e VINITECH – decidiram trabalhar juntas no panorama internacional. A nova joint-venture é fundamentalmente direccionada para a organização de salões no exterior de França, realizando-se os certames tradicionais de modo independente em território nacional. O Sitevi teve lugar em Montpellier no final de Novembro, enquanto que a Vinitech (que terá como palco a cidade de Bordéus) está planeada para o Outono do próximo ano. Com o nome de SITEVINITECH, o formato internacional derivado da nova parceria será lançado em 2012. A primeira feira conjunta decorrerá em Mendoza, Argentina, de 31 de Maio a 2 de Junho, seguindo-se um salão em Yantai, na China, de 20 a 22 de Junho. Mais adiante, em 2013, está previsto um outro certame na cidade de Santiago, no Chile. Os organizadores farão incidir os seus esforços de promoção nos mercados com maior potencial em termos de crescimento para os sectores da fruta e vinhos.

AGRO: UMA DAS PRINCIPAIS FEIRAS AGRÍCOLAS DE PORTUGAL PARQUE DE EXPOSIÇÕES DE BRAGA – 22 A 25 DE MARÇO DE 2012

O Parque de Exposições de Braga (PEB) organiza, entre os dias 22 e 25 de Março de 2012, a 45. a edição da AGRO – Feira Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentação de Braga. A AGRO é a única feira agrícola do país que integra a elite das feiras representadas na UFI (União de Feiras Internacionais) e na Eurasco. Depois do sucesso da última edição, a organização pretende consolidar o crescimento do certame, recuperando o prestígio que granjeou no seu passado. A AGRO vai continuar a apostar nas principais fileiras do sector agrário regional. Depois do sucesso na edição anterior, a organização irá manter a aposta no sector do leite, com a realização do 2.o Concurso de Raça Frísia, que incluirá o programa de formação e discussão “AGRO Informa, Divulga e Discute”. Outro dos destaques da feira serão os concursos de Raças Autóctones, ao todo serão aproximadamente três centenas de animais das raças Barrosã, Arouquesa, Minhota, Maronesa e Marinhoa, esta última apenas em exposição. Para os mais interessados na área da Maquinaria Agrícola, na AGRO 2012 poderão encontrar tudo aquilo que procuram. Ao todo serão mais de 400 máquinas agrícolas, com a maior diversidade de marcas e modelos, que estarão expostas ao longo de mais de 20 mil m2. Para além dos já referidos, a Pecuária, a Agricultura Biológica, a Horticultura e Floricultura e os Vinhos e Sabores são outros dos sectores que fazem parte deste certame. Um programa bastante completo muito graças às parcerias com a AGROS, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI), a Associação para o Apoio à Bovinicultura Leiteira do Norte (ABLN), a Cooperativa Agrícola do Alto Cávado (CAVAGRI), entre outras. Jorge Miguel Corais, administrador-executivo do PEB, pretende que a AGRO seja “cada vez mais reconhecida pelos seus agentes como a principal mostra de dinamização e galvanização do sector agrícola, reforçando mais sectores e parceiros”. É neste ambiente característico e bem popular que a AGRO 2012 se desenrolará, sendo certo que este certame tem na sua longevidade uma das garantias da sua relevância enquanto montra da agricultura portuguesa.

www.peb.pt

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FRUIT LOGISTICA E FRESHCONEX O MUNDO DOS PRODUTOS FRESCOS 8 A 10 DE FEVEREIRO DE 2012 Nos próximos dias 8 a 10 de Fevereiro de 2012 vão realizar-se em simultâneo, em Berlim, os salões Fruit Logistica e Freshconex, organizadas pela Messe Berlin, dedicadas ao segmento de mercado agrícola da hortofruticultura e dos produtos frescos. Representam dois dos principais salões deste segmento realizado na Europa e no mundo, o que se ref lecte na elevada af luência de inscrições de expositores de todas as partes do mundo. Na Fruit Logistica vão marcar presença mais de 2400 expositores oriundos de cerca de 80 países com o objectivo de apresentar a sua variedade de produtos e serviços, relativos a todos os elos da cadeia de valor, e procurar tirar o melhor partido do networking entre diferentes empresas e profissionais, o que constitui um dos mais importantes atractivos deste tipo de eventos. Antes ainda da abertura da feira, no dia 7 de Fevereiro de 2012, realizarse-á o Fresh Produce Forum, conferência onde será debatido o futuro da hortofruticultura e os vários desafios com que esta se deparará (De que forma os aumentos de produção vão influenciar os mercados? Quais os efeitos do fornecimento directamente nos produtores por parte da distribuição e retalho alimentar? Que impactos podem ter as evoluções demográficas e a expansão de mercados como a Rússia, o Médio Oriente e a Ásia?) Paralelamente, decorrerá o Freshconex Business Forum 2012, dedicado aos produtos frescos de conveniência, e cujo tema principal da edição deste ano será o da segurança alimentar, num contexto onde ainda se fazem sentir os efeitos profundamente negativos que a crise da bactéria E-coli provocou nos produtores europeus, durante o Verão passado. Na verdade, esta crise trouxe para o centro do debate a importância da segurança e do controlo da produção agro-alimentar, da necessidade de uma maior harmonização dos procedimentos para que esse controlo seja eficaz, do papel dos meios de comunicação social para a sensibilização do público e da importância das novas tecnologias.

www.fruitlogistica.de www.freshconex.de

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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FE I RA S & EVENTOS

BIOFACH 2012: ÊNFASE À SUSTENTABILIDADE De 15 a 18 de Fevereiro de 2012 o mundo biológico em toda a sua variedade, volta a reunir-se em Nuremberga, na Alemanha, esperando-se a comparência de perto de 2500 expositores e 44 mil visitantes profissionais. Reflectirão sobre as bases de uma indústria alimentar verdadeiramente sustentável e a forma como a indústria biológica define um dos seus principais tópicos: a sustentabilidade. A BioFach e Vivaness formam a maior plataforma mundial de partilha de conhecimentos e informação e em 2011, foram mais de 8 mil os profissionais que participaram nos mais de 150 eventos que compuseram a conferência. Para 2012, o tema “A Sustentabilidade no Movimento Biológico” passa para a ribalta no decorrer do novo Fórum de Sustentabilidade. Todos os segmentos especiais da dupla BioFach/Vivaness convidarão ao intercâmbio de ideias e num total de sete fóruns: Fórum do Comércio Especializado, Fórum da Feira, Fórum Gastronómico, Fórum Têxtil, Fórum Vivaness e ainda o Fórum dos Vinhos. Adicionalmente a estas iniciativas, os visitantes vindos de todos os cantos do mundo (em 2011 estiveram representados 131 países – poderão obter toda a informação de que precisam no decorrer das numerosas apresentações de empresas. www.biofach.de

FRUTITEC/HORTITEC 2012 CULTIVE OS SEUS NEGÓCIOS EXPOSALÃO BATALHA 15 A 18 DE MARÇO Numa altura em que o sector da horticultura aspira por uma maior visibilidade e promoção, a FRUTITEC/HORTITEC apresentase como uma excelente oportunidade para as empresas do sector se apresentarem ao mercado com as suas propostas e soluções a pensar num público cada vez mais exigente. Será na Exposalão Batalha que, de 15 a 18 de Março de 2012, fabricantes, importadores e grossistas de produtos, máquinas e acessórios para a fruticultura e horticultura, associações sectoriais, imprensa especializada e promoverão o encontro entre a oferta e a procura da fileira. O facto de este evento se realizar em conjunto com a EXPOJARDIM – uma feira de reconhecido historial e uma referência para os profissionais de jardinagem – traz óbvias vantagens, gerando sinergias ao nível dos visitantes, cujos interesses se complementam.

EXPOJARDIM: INSPIRE-SE! É o mais florido dos eventos Exposalão. Feira de plantas, flores, mobiliário urbano e de jardim, piscinas e acessórios, equipamentos e máquinas para jardinagem, a Expojardim converte o Centro de Exposições da Batalha no ponto de encontro para todos os que se interessam pela arte da jardinagem, como que uma manifestação de boas-vindas à estação que se aproxima, a Primavera. www.fruitattraction.ifema.es

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FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS

SIA 2012 AS NOVAS TECNOLOGIAS BRILHAM NO SALÃO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA

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história do Salão Internacional da Agricultura (SIA) remonta a Março de 1964, dando continuidade ao Concours Général Agricole, que existia desde 1870 (ver caixa). O SIA é uma feira-exposição anual organizada em Paris no Parque de Exposições Porte de Versailles, tendo início no fim de Fevereiro, estendendo-se por 8 dias. Reúne toda a fileira agrícola e do mundo rural francês. É a mais importante feira agrícola de França, orientada para o grande público e profissionais do sector. Muito prestigiada, é frequentemente qualificada pelos meios de comunicação gauleses como a “grande quinta de França”, revelando uma oferta inigualável de savoir-faire, entretenimento, talentos e sabores. A cada dois anos realiza-se, em simultâneo, no parque de exposições de Paris-Nord Villepinte, o SIMA – Salão Internacional de Maquinaria Agrícola, reservado aos profissionais nos domínios da maquinaria agrícola. Juntos, transformam Paris na capital mundial da agricultura, criando sinergias únicas que beneficiam os seus visitantes. A pensar na comodidade dos especialistas que não prescindem da visita a um e outro evento, a Organização disponibiliza transporte gratuito entre os dois locais, balcões de boas-vindas, promoções conjuntas, entre outras iniciativas, pensadas para simplificar uma visita que se quer o mais confortável possível. Ano após ano, edição atrás de edição, a agricultura mostra-se dinâmica e sustentável, multiplicando-se em eventos e temas de actualidade: as energias sustentáveis, o respeito pelo ambiente, profissionais da fileira, as ligações entre agricultura e alimentação… O sucesso do salão é traduzido pelos números de participação tanto de visitantes como de expositores, que por sua vez mostram a forte ligação afectiva que o público tem em relação ao SIA.

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Um Concurso centenário! O Concours Général Agricole cumpriu a sua 120.a edição. Reflexo da excelência de toda uma vida de pecuária e gastronomia francesa, ícone de referência, o CGA é o concurso oficial levado a cabo pelo Ministério da Agricultura francês, constituindo um elemento da política de valorização dos produtos típicos. Autêntica viagem gustativa ao coração das regiões francesas, reúne cerca de 4.500 jurados que têm a difícil tarefa de seleccionar os produtos que mais se distinguem em cada sessão. Instalada num dos pavilhões da feira, a sua "Boutique" permite que todos degustem e adquiram produtos que se sabem premiados.


FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS

NO RESCALDO DA AGRITECHNICA: Bernd Scherer, Director-executivo da VDMA Landtechnik Fonte: VDMA (www.vdma.de)

VDMA PREVÊ FORTE CRESCIMENTO NA INDÚSTRIA DE MAQUINARIA AGRÍCOLA

Os fabricantes de tractores e maquinaria agrícola viajaram até à Agritechnica 2011 numa fase de retoma económica excepcionalmente forte. “É extraordinária a forma dinâmica com que a indústria de maquinaria agrícola tem vindo a crescer este ano“, afirmou o director-executivo da VDMA (Associação Alemã da Indústria de Maquinaria Agrícola), Bernd Scherer, no decorrer da conferência de imprensa que inaugurou a edição deste ano da grande feira germânica, adiantando que o actual dinamismo levou a associação a "rever em alta a nossa já ambiciosa previsão de crescimento de Setembro com mais 8 pontos percentuais, situando-se agora em 28%.Vendas de maquinaria ‚made in Alemanha‘ que ascendem a 7 biliões de euros são sensacionais e verdadeiramente inspiradoras".

ESPERADOS AUMENTOS LIGEIROS ADICIONAIS PARA O PRÓXIMO ANO As estatísticas na VDMA mantêm elevadas as expectativas para 2012, esperando-se mais aumentos ligeiros, pelo que do ponto de vista actual se calcula um nível de facturação na ordem dos

7,4 bilhões de euros. "Esse número transporta-nos para o maior recorde de vendas de todos os tempos em termos de maquinaria e equipamentos agrícolas atingido em 2008“, salientou Scherer. A presente carga de trabalho nas fábricas confirma por inteiro esta previsão. A uma taxa de capacidade de utilização de mais de 85%, a indústria de maquinaria agrícola trabalha actualmente e de facto "à sua capacidade máxima“.

EXCELENTE ATMOSFERA DE NEGÓCIOS NA INDÚSTRIA EUROPEIA O actual Barómetro de Negócios CEMA (uma sondagem mensal elaborada por altos executivos da fileira de maquinaria agrícola do Velho Continente) alinha pelo mesmo discurso, indicando valores de topo. Mostra que a maioria absoluta de todos os inquiridos classifica a actual situação de negócios como muito boa ou boa. "O facto destas classificações se basearem em fundamentados índices de negócios e não se deverem a euforias momentâneas é demonstrado pela atitude de expectativa positiva para os próximos seis meses“, afirmou Scherer. Cerca de 41% dos gestores afirmaram antever para os próximos tempos um crescimento adicional. "Os fabricantes do sector de maquinaria de tractores e de colheita mostram-se muito satisfeitos e permanecem optimistas relativamente aos desenvolvimentos de mercado. Tendo em vista os aumentos registados nas encomendas recebidas, as expectativas de vendas permanecem totalmente optimistas“.

MAQUINARIA AGRÍCOLA ALEMÃ MAIS FORTE DO QUE NUNCA A Alemanha está a afirmar-se como principal referência de motores na Europa Ocidental. A VDMA prevê um volume de mercado de 4,9 biliões de euros para 2011, equivalente a um aumento de 25%., superando mesmo o ano de 2008 em quase 9%. O mercado de tractores que cresceu significativamente no primeiro semestre deste ano pode servir de espelho para este desenvolvimento. Com uma previsão de vendas de tractores até final do ano de cerca de 35 mil tractores, o volume de vendas será o maior de sempre desde meados da década de 80. "E convém não esquecer que nessa altura existia o dobro de explorações agrícolas e, por isso, o dobro de potenciais clientes“, salienta a responsável da associação. Depois do recorde deste ano, realisticamente não serão expectáveis novos aumentos para 2012. Contudo, espera-se ainda um bom volume de mercado de 4,5 biliões de euros.

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MERCADOS DE EXPORTAÇÃO VIRADOS PARA O CRESCIMENTO Também os mercados de exportação exibem um dinamismo incrível. "No cômputo geral, este ano registámos crescimento em 13 dos nos 15 principais mercados, feito que já vai sendo raro“. A França está no topo da lista como o mercado estrangeiro mais forte, sendo que as vendas locais a nível de fornecedores alemães deverão atingir este ano 1,2 biliões de euros. Mas também mercados mais pequenos como a República Checa, a Dinamarca ou os estados bálticos exibem elevados níveis de crescimento. Globalmente, o mercado da União Europeia em matéria de maquinaria e equipamentos agrícolas deverá subir para cerca de 24 biliões de euros em 2011, correspondendo a um acréscimo de 16 por cento. Pela primeira vez desde 2008, a Rússia fica com o segundo lugar na tabela de exportações da VDMA, após ter descido para o sexto lugar há dois anos atrás. No final do ano, maquinaria e tractores agrícolas no valor de quase 600 milhões de euros terão saído da Alemanha para a Federação Russa. "A razão para o crescimento deste importante mercado do futuro é a ainda elevada procura de mecanização“, enfatizou Scherer, afirmando que é agora possível dar resposta a esta necessidade de uma forma mais eficaz graças às opções de financiamento externas actualmente disponíveis. "Por outro lado, a espada de proteccionismo de Dâmocles ainda pesa sobre o agronegócio e sector de maquinaria russo. Isso prejudica não apenas a concorrência em termos de inovações, como constitui um obstáculo perceptível ao crescimento de agricultores nesta área“.

Produzimos Comunicação Especializada

25.o

ANIVERSÁRIO

AGRICULTORES COM DISPOSIÇÃO IDEAL PARA INVESTIR A atmosfera entre os agricultores alemães dificilmente poderia ser melhor. Os bons preços no produtor para os trabalhos de quinta e campo estão a encorajar as intenções de investimento dos agricultores e contratantes. Cerca de 31% dos agricultores planeia investir em maquinaria e equipamento nos próximos seis meses. A quotaparte de explorações agrícolas que pretendem adquirir maquinaria e equipamento permanece contudo ao nível do ano passado, mostrando uma ligeira tendência para aumentar.

RECRUTAR JOVENS COLABORADORES COMO MEDIDA DE CAPACIDADE DE INOVAÇÃO A crescente intensidade da tecnologia na indústria de maquinaria agrícola e os previsíveis desenvolvimentos demográficos fazem com que o sector se vire cada vez mais para o recrutamento de novos e jovens membros. De modo a assegurarem a capacidade de inovação da indústria de forma sustentável, as empresas terão de confiar mais do que nunca em jovens engenheiros qualificados. Com o seu evento "Agritech Future" que decorreu a 18 de Novembro, a VDMA conseguiu cativar alunos de nível secundário para as funções de engenharia industrial. As atenções gerais viraram-se para os factores de um futuro seguro, variedade tecnológica e responsabilidade social. Da mesma forma é importante que nos lembremos da água antes que o poço seque, para o que é imprescindível uma boa gestão dos recursos hídricos.

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Grupo Publindústria


FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS

AGRICULTURA BIOLÓGICA: A UNIÃO FAZ A FORÇA

A

união entre os produtores de culturas biológicas pode impulsionar o aumento de competitividade do sector. Se Gabriela Graça, da Sociedade Agrícola da Herdade de Carvalhoso, fala de uma aliança para fazer frente aos custos de distribuição e de vendas dos produtos biológicos, Luís Alves, da Cantinho das Aromáticas, defende a união dos agricultores no sentido de se estabelecer uma rede de partilha de conhecimentos, tecnologias e saberes. O 3.º Colóquio Nacional de Horticultura Biológica foi realizado em simultâneo com o 1.º Colóquio Nacional de Produção Animal Biológica, numa iniciativa promovida pela Associação Portuguesa de Horticultura e pela Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica. O certame teve lugar em Braga, entre os dias 22 e 24 de Setembro. Foi nesse evento que a Agrotec conversou com Gabriela Graça, da Sociedade Agrícola da Herdade de Carvalhoso, em Montemor-o-Novo. A empresa comercializa alimentos e rações biológicos, tem produção e distribuição próprias e dedica-se ao descasque e branqueamento de arroz, aveia e cevada. Nascida nos anos 80, a Herdade de Carvalhoso começou por fazer apenas o tratamento de arroz que era produzido no vale de Sorraia, Montemor-o-Novo e Alcácer do Sal. "Funcionou bem até a Política Agrícola Comum mudar fazendo com que aquela zona do Alentejo deixasse de produzir e ficar praticamente a zero", lembra Gabriela Graça. Entretanto, conta, "a empresa, que sempre esteve atenta aos mercados internacionais, viu que o movimento dos produtos biológicos estava a crescer. No início de 2000, houve uma queda abrupta de produção de cereais e a empresa estava a ver-se sem matéria-prima para trabalhar". Nessa mesma altura, a União Europeia lançou uma série de medidas agro-ambientais e começou a haver a necessidade de produzir rações biológicas para responder a um mercado emergente. A Herdade de Carvalhoso montou uma unidade de produção de rações biológicas para animais, que arrancou em 2003 e tem vindo a expandir-se desde então de acordo com as necessidades do mercado. Actualmente, a Herdade de Carvalhoso é a única empresa de transformação de cereais em Portugal, as marcas estão espalhadas por todo o país e têm uma unidade de desidratação de vegetais e frutas que misturam com arroz e açúcar. Estes produtos são destinados “ao mercado com mais-valia que são as lojas gourmet".

RESPONDER AO NICHO DE MERCADO Para Gabriela Graça, "os consumidores biológicos são um nicho de mercado, embora esse nicho tenha tendência a aumentar, nunca vai passar de um nicho". E nesse sentido, defende,

Por: Catarina Abreu

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Demasiado Nutrimais para pouco mercado José Martino, da LIPOR, apresentou o Nutrimais, um correctivo agrícola orgânico proveniente da compostagem de matériasprimas orgânicas vegetais, separadas na origem e recolhidas em circuitos específicos e compostadas na Central de Valorização Orgânica da LIPOR. Recomenda "a aplicação do Nutrimais como complemento da matéria orgânica produzida na exploração e como complemento das culturas que são utilizadas para fornecer nutrientes ao solo". A qualidade do Nutrimais, disse José Martino, deve-se à recolha criteriosa das matérias-primas que são usadas na compostagem, a monitorização contínua do processo de compostagem e ao controlo de qualidade analítico nas várias fases do processo, recorrendo a análises laboratoriais internas e externas. Apesar do potencial evidenciado do Nutrimais para a Agricultura Biológica, aquele responsável lamentou "não ter tanto mercado para o composto produzido". "As análises que fizemos em 2010 indicavam que todas as medas podiam ser comercializadas para agricultura biológica, mas infelizmente não temos tanto mercado para este composto e negociamos abaixo, consoante as necessidades deste mercado".

Plástico também para a agricultura biológica O mulch AGROBIOFILM pretende revolucionar a utilização dos plásticos biodegradáveis na agricultura, fazendo deste material um substituto viável aos mulch film de polietileno. Melhorar o rendimento da cultura (em termos quantitativos e qualitativos), reduzir ou eliminar totalmente o uso de herbicidas, reduzir o consumo de água, maximizar o controlo de pragas e doenças, facilitar e

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Gabriela Graça, Herdade de Carvalhoso / Luís Alves, Cantinho das Aromáticas / Carlos Vicente, Toma Lá Dá Cá e fundador da rede de supermercados Brio / José Martino, LIPOR (Nutrimais) / Cristina Santos Agrobiofilm


DESTAQUE

agilizar a preparação dos solos são algumas das metas a alcançar às quais o consórcio envolvido no projecto AGROBIOFILM se propõe. Este produto, que deveria ter sido apresentado durante o 3.º Colóquio Nacional de Horticultura Biológica, resulta de uma parceria entre várias entidades públicas e privadas, num consórcio transnacional. Formado por três PME – a Silvex (coordenador em Portugal), BIOBAG (Noruega) e ICSE (França) –, este consórcio conta ainda com a participação de quatro universidades e centros de investigação – o Instituto Superior de Agronomia (Portugal), Centro Tecnológico de la Agroindustria (Espanha), Université de Montpellier (França) e Aarhus University (Dinamarca) e três utilizadores finais: Hortofruticolas Campelos, SA (Portugal), Explotaciones Agrarias Garrido Mora CB (Espanha) e Olivier Madeville, Domaine de Vaissière (França). O mulch Agrobiofilm ou BioMulchFilm é produzido a partir da matéria Mater-Bi, uma família de plásticos completamente biodegradáveis e compostáveis, cuja composição tem amido de milho, entre outros cereais, e diversos óleos vegetais. Esta matéria-prima cumpre as normas europeias e está certificada pela Vinçotte (certificadora belga). As suas características permitem que o mulch Agrobiofilm seja incorporado ao solo no final do ciclo de cultura, dispensando assim um dos factores que mais onerava todo este processo: a remoção dos resíduos que o mulch film tradicional exige. O projecto Agrobiofilm, com duração prevista de dois anos, está a ser testado nas culturas de morango, melão e pimento, podendo ser posteriormente adaptado em outras culturas semelhantes. Também será testado na vinha como alternativa inovadora. Na descrição do produto disponível online, lê-se que o Agrobiofilm pretende ter um impacto no aumento da competitividade dos agricultores e na sustentabilidade das práticas agrícolas, num sector que enfrenta cada vez mais a pressão da concorrência externa e os desafios ambientais. Este projecto propõe-se sobretudo a alcançar proficiência técnica nas regiões-alvo, o que inclui superar a falta de conhecimento sobre a fiabilidade das películas de plástico biodegradável em sistemas de produção. O BioMulchFilm deve ser personalizado e as suas propriedades facilmente adaptadas para diversas culturas.

Uma das vantagens apontadas pelo consórcio que desenvolve o Agrobiofilm são os seus resultados económicos. Através de uma análise custo/benefício, tendo em conta, não só o custo do plástico, mas também, no fim do ciclo de vida das culturas, os custos de remoção, reciclagem e/ou eliminação dos diferentes plásticos, esta tecnologia apresenta vantagens quando comparada aos mulch film de polietileno.

Melhoria da eficiência energética – a sua produção é optimizada de modo a minimizar as suas necessidades energéticas, reflectindo-se directamente no preço comercial para os utilizadores finais – é outra das mais-valias deste produto. Além disso, é fácil de usar e terá a capacidade de reduzir o uso de herbicidas e controlar o aparecimento de pragas e doenças, contribuindo para a melhoria do rendimento da exploração. Apesar de ser um produto cujas culturas de referência foram escolhidas visando o controlo analítico do máximo número de variáveis e, assim, aumentar o potencial para uma posterior generalização dos resultados obtidos, o Agrobiofilm precisa de ampliar as áreas de utilização. O consórcio pretende ainda que esta tecnologia seja disseminada, demonstrada e validada.

"nós não nos podemos dar ao luxo de criar um canal de vendas (com distribuidores e representantes) como os produtores convencionais fazem, nós vendemos directamente às lojas e aí evitamos uma etapa". "É dessa forma que conseguimos ser competitivos porque de outro modo seria incomportável", sentenciou, "pois é impossível ter um vendedor próprio a correr todas as lojas e centros dietéticos do país e depois a fazer distribuição. São preços muito

elevados".Um dos problemas identificados é "a penetração lenta no mercado porque só podemos contar com empresas pequenas, familiares e artesanais, que têm sempre dificuldade para arranjar meios". Aí está a grande lacuna, diz: "É necessário o associativismo em termos de distribuição e vendas". "Se pensarmos numa economia de escala e associarmos os nossos produtos aos de outros produtores, com essa união de distribuição seria mais simples penetrar no mercado. Não há ninguém que não tenha custos de distribuição e vendas e seria melhor arranjar uma forma conjunta para criar as condições

...como são matérias-primas para exportação, não se gera aquela aversão como se estivéssemos a trabalhar no mesmo mercado...

para um mercado mais profissional". Outra das estratégias propostas por esta responsável passa pela introdução no mercado nacional de "sabores portugueses". "O consumidor português biológico vai a um mercado e depara-se com uma parafernália de marcas estrangeiras e não tem sabores portugueses, quando é isso que o consumidor quer e agradece".

UMA FILEIRA DE CONHECIMENTO Luís Alves, da Cantinho das Aromáticas, veio expor a sua experiência de agricultura biológica em meio urbano e a principal ideia

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS

passa pela criação de uma fileira. À Agrotec conta que o seu "ideal de fileira é trazer pessoas ao [seu] projecto e mostrar-lhes aquela que é uma realidade, não ter portas fechadas. Mostrar-lhes qual o modelo de produção, porque já fechamos um circuito de fazer bem e exportamos. Esta abertura de portas tem uma acção pedagógica sobre os agricultores e não é algo forçado, porque muitas empresas tentam gerar fileiras de outras formas, isto é, pondo outras pessoas a produzir para si e tentam ser os canais". O que este agricultor quer é que as pessoas produzam "massa crítica, fundamental para se poder exportar". Até agora, o que têm feito “é formar uma rede informal de partilha de conhecimentos que tem funcionado muito bem". Explica que "como são matérias-primas para exportação, não se gera aquela aversão como se estivéssemos a trabalhar no mesmo mercado”. E insiste neste ponto, defendendo que "se deve evitar excedentes, com vários produtores a fazer diferentes referências para não nos tornarmos competitivos uns com os outros". "O que me seduz nesta fileira é que há inteligência emocional, as pessoas não são seguidistas. O futuro desta fileira é criar uma central, quando existir a tal massa crítica, que tornará todo o processo mais eficiente". Luís Alves perspectiva uma "estrutura profissional, inovadora, de prestação de serviços, que procurará novos mercados e canais de escoamento. E que dê mais-valias à matériaprima, porque uma hortelã-pimenta que saia daqui em bruto é diferente de uma transformada, que poderá valer até 100 vezes mais". O Cantinho das Aromáticas escoa quase 95 por cento da sua produção para ser transformada em França. Luís Alves disse à Agrotec

Cantinho das Aromáticas

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o seu segredo: "Crescíamos como viveiristas para estarmos no "mercadinho" português ou diversificávamos para exportar. Fomos à Biofach e identificámos compradores a quem perguntámos “Como posso ser competitivo”? Em 2005 fomos à Biofach, em 2006 já tínhamos as plantações e em 2007 começamos a exportar". Mas deixa o aviso de que "é preciso correr riscos e ser um pouco louco".

CONSUMIDOR BIOLÓGICO NÃO É RICO Carlos Vicente, da empresa Toma Lá Dá Cá e fundador da rede de supermercados Brio em Lisboa, desconstrói um mito e afirma: "um consumidor biológico não é de classe económica alta". O gestor esteve no colóquio para falar da sua experiência em comercialização de produtos biológicos em Portugal e aproveitou a ocasião para delinear o perfil do consumidor biológico. "Têm um nível de formação elevado, acima da média, são pessoas muito críticas

que tomam uma decisão activa quanto àquilo que consomem. Têm atitude e informação", sublinhou. Disse ainda que as pessoas que consomem biológico são "preocupadas com a sua saúde e assumem um papel activo em corrigir comportamentos para equilibrar o meio ambiente". Além disso, escolhem o biológico também pela sua "integridade social em que os consumidores se revêem nas empresas". Na sua comunicação, Carlos Vicente, apontou alguns dos handicaps do mercado biológico, que passam sobretudo pela falta de disponibilidade de produtos no nosso dia-adia. "Os produtos biológicos têm de estar onde estão os consumidores", sentenciou. E deixou alguns conselhos: "As pessoas têm de ser informadas e entender a diferença entre as cenouras que encontram numa loja biológica e num supermercado convencional, os respectivos benefícios e o seu preço para chegar ali. Quando as pessoas entendem isso, o preço para o consumidor passa ao plano secundário".


FE I RA S C A L E N D Á R IO

DESIGNAÇÃO

TEMÁTICA

LOCAL

DATA

CONTACTO

INTERASPA

Produção de bagas e espargos e marketing directo

Hannover, Alemanha

11 e 12 de Janeiro de 2011

www.interaspa.de

INTERNATIONAL GREEN WEEK BERLIN

Salão de Produtos Alimentares, Agricultura e Horticultura

Berlim, Alemanha

20 a 29 de Janeiro de 2012

www.gruenewoche.de

IPM ESSEN

Feira Internacional de Plantas, Floricultura

Essen, Alemanha

24 a 27 de Janeiro de 2012

www.ipm-messe.de

SISAB

Salão Internacional do Vinho, Pescado e Agro-Alimentar

Lisboa, Portugal

27 a 29 de Janeiro de 2012

www.sisab.org

VIII CONGRESSO NACIONAL DO MILHO (ANPROMIS)

Congresso Nacional

Lisboa, Portugal

8e9 de Fevereiro de 2012

www.anpromis.pt

FRESHCONEX

Feira Internacional de Produtos Frescos

Berlim, Alemanha

8 a 10 de Fevereiro de 2012

www.freshconex.de

FRUIT LOGISTICA

Feira Internacional de Frutas e Hortaliças

Berlim, Alemanha

8 a 10 de Fevereiro de 2012

www.fruitlogistica.de

FIMA

Feira Internacional da Maquinaria Agrícola

Saragoça, Espanha

14 a 18 de Fevereiro de 2012

www.feriazaragoza.com/ fima_agricola.aspx

BIOFACH

Salão do Mundo Biológico

Nuremberga, Alemanha

15 a 18 de Fevereiro de 2012

www.biofach.de

SALON DU VÉGÉTAL

Salão da indústria hortícola

Angers, França

21 a 23 de Fevereiro de 2012

www.salonduvegetal.com

VIV INDIA

Feira de Produção e Processamento Intensivos de Animais

Bangalore, Índia

22 a 24 de Fevereiro de 2012

www.vivindia.nl

INTERNATIONAL HORTI EXPO

Exposição Internacional de Horticultura, Alimentação e Tecnologia

Nova Deli, Índia

24 a 26 de Fevereiro de 2012

www.hortiexpo.com

SIA

Salão Internacional da Agricultura

Paris, França

25 de Fevereiro a 4 de Março 2012

www.salon-agriculture. com

SISAB

Salão Internacional do Vinho, Pescado e Agro-Alimentar

FIL,Lisboa, Portugal

27 a 29 de Fevereiro de 2012

www.sisab.org

MERSIN AGRODAYS

Feira Internacional de Agricultura

Mersin, Turquia

1a4 de Março de 2012

www.mersinagrodays.com

APIMELL

Apicultura, Produtos e Equipamentos Apiários

Le Mose, Itália

2a4 de Março de 2012

www.apimell.it

SEMINAT

Agricultura e Plantas Ornamentais, Sementes e Equipamentos para Jardinagem e Horticultura

Le Mose, Itália

2a4 de Março de 2012

www.seminat.it

FEICANA

Feira de Negócios do Sector de Energia (Agroindústria e Bioenergia)

São Paulo, Brasil

6a8 de Março de 2012

www.feicana.com.br

GANDAGRO

Salão da Criação de Gado e Agricultura

Pontevedra, Espanha

8 a 10 de Março de 2012

www.gandagro.com

EXPOJARDIM

Feira de Plantas, Flores, mobiliário urbano e de jardim, piscinas e acessórios, equipamentos, máquinas e acessórios para jardinagem

Exposalão, Batalha, Portugal

15 a 18 de Março de 2012

www.exposalao.pt

FRUTITEC / HORTITEC

Mostra Profissional de Máquinas, Equipamentos, Produtos e Tecnologia para Fruticultura e Horticultura

Exposalão, Batalha, Portugal

15 a 18 de Março de 2012

www.exposalao.pt

AGRO

Salão Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentos

PEB, Braga, Portugal

22 a 25 de Março de 2012

www.peb.pt

DATAS As datas previstas podem sofrer alterações sem aviso prévio do promotor da feira. Consulte o site oficial do promotor

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“AUTOMATIZACIÓN Y TELECONTROL DE SISTEMAS DE RIEGO”

€27,50

Autores: Antonio Ruiz Canales, José Miguel Molina Martínez Editora: Marcombo Ano de edição: 2010 ISBN: 9788426716347 N.o de páginas: 426 Idioma: Espanhol

à venda em: www.engebook.com

A automatização e o controlo dos sistemas de rega contribuem de maneira decisiva para a sustentabilidade dos recursos hídricos, num meio onde as carências e baixa qualidade da água são cada dia mais prementes. Este livro oferece uma visão geral das possíveis aplicações dos sistemas de automatização e controlo na gestão e manuseamento de irrigações e instalações de rega. Proporcionam-se os conhecimentos básicos necessários para que o leitor possa desenhar sistemas de aquisição de dados, supervisão e controlo (SCADA) e fazer uso do controlo remoto para automatizar as instalações de rega. Tomando como origem os fundamentos teóricos, esta obra dá um enfoque prático dos temas tratados, ao mesmo tempo que apresenta uma bibliografia actualizada que permite ampliar conhecimentos. Esta edição vem avalizada por uma equipa de professores de diferentes universidades espanholas (Universidade Miguel Hernández de Elche, Universidade Politécnica de Cartagena, Universidade de Santiago de Compostela e Universidade de Castilla-A Mancha) com linhas de investigação relacionadas com a temática do livro. Pelo seu conteúdo, é uma boa ferramenta de consulta para diferentes graus de estudos: formação profissional, bacharelato, licenciatura e terceiro ciclo. Índice: 1. La planificación de regadíos en España. 2. Sistemas de automatización y control en la modernización de regadíos. 3. Comunidades de Regantes. Funciones y modelo de gestión. 4. Redes de distribución y sistemas de almacenamiento. 5. Automatización de instalaciones en parcela. Sistemas de bombeo. 6. Automatización de instalaciones en parcela. Sistemas de riego localizado. 7. Automatización de instalaciones en parcela. Sistemas de riego por aspersión. 8. Automatización y programación de riego de espacios verdes. 9. Transductores y acondicionadores de señal para el clima. 10. Transductores y acondicionadores de señal para el riego. 11. Transductores y actuadores empleados en sistemas de riego. 12. Fundamentos de control y programación del riego. 13. Lógica básica para el diseño de automatismos. 14. Lógica secuencial. Registros de desplazamiento y contadores. 15. Automatismos eléctricos cableados. 16. Automatismos eléctricos programados. 17. LabVIEW como lenguaje de programación. 18. Programación gráfica aplicada. 19. Adquisición de datos, supervisión y control. 20. Introducción a los sistemas de telecomunicación. 21. Redes de comunicaciones y datos. 22. Generalidades y fundamentos de los sistemas de telecontrol.

"MAQUINARIA PARA CULTIVO”

€18,70

Autores: A. Porras Piedra, A. Porras Soriano Editora: Editorial Agrícola Ano de edição: 2000 ISBN: 9788485441570 N.o de páginas: 144 Idioma: Espanhol

Ainda que nas últimas décadas se tenham verificado importantes avanços tecnológicos, a terra é ainda lavrada, as sementes ainda são semeadas, as plantas cultivadas continuam a precisar de adubo e protecção fitossanitária e é ainda necessário colher. O trabalho agrícola, além de fazer-se em condições adversas, requer o esforço físico que hoje, devido precisamente à utilização das máquinas agrícolas, é possível reduzir, o que melhorou a qualidade de vida dos agricultores e a eficiência do seu trabalho. Este livro centra-se no estudo das máquinas agrícolas e abrange as que preparam o terreno, semeiam, fertilizam e pulverizam. Nele se estudam metodicamente, com minúcia, os princípios em que se fundamentam, as funções e as características do seu trabalho. O leitor obterá informação suficiente para poder utilizar as máquinas para cultivo de forma a que, realizando o mínimo de esforço, possa atingir os melhores resultados. É incluído um CD-ROM com os aspectos mais marcantes do livro. Índice: 1. Implantación de cultivos. 2. Laboreo. Principios agronómicos del laboreo. 3. Abonadoras. Maquinaria de abonado 4. Aplicación de productos fitosanitarios. 5. Sembradoras. Principios y características. 6. Plantadoras y repicadoras.

à venda em: www.engebook.com

“TECNOLOGÍA EN INVERNADEROS Y CULTIVOS PROTEGIDOS” As inovações tecnológicas melhoram tanto a eficiência do cultivo como os aspectos financeiros e ambientais. A técnica de nutrição laminar NFT e os novos sistemas surgidos da recente investigação (maioritariamente espanhola), são formas de cultivo hidropónico com ausência de substrato. Estes avanços referem-se ao controlo climático integral das estufas, rotações de cultivo, defesa sanitária, desinfecção do solo, automatismos em geral, seguros em culturas protegidas, etc., sem esquecer a utilização dos plásticos na agricultura do vale do Ebro. €23,10

Autor: Colegio Oficial de Ingenieros Agrónomos de Centro y Canarias Editora: Editorial Agrícola Ano de edição: 2004 ISBN: 9788485441723 N.o de páginas: 304 Idioma: Espanhol à venda em: www.engebook.com

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Índice: 1. Evolución tecnológica en invernaderos de bajo consum energético en el sudeste español. 2. Tendencias en la construcción, control ambiental, mecanización y operaciones de cultivo en invernaderos. 3. Innovaciones tecnológicas y economía en invernaderos del área mediterránea española. 4. Nuevas normas de cultivo hidropónico desarrolladas en España. 5. El control automático aplicado a la producción vegetal bajo invernadero. 6. Rotación de cultivo en invernaderos. 7. Control de plagas y enfermedades en invernaderos con el mínimo impacto medioambiental. 8. El seguro agrario combinado y su aplicacióna los invernaderos españoles. 9. Utilización de los plásticos en la horticultura del valle medio del Ebro.


BIBLIOGRAFIA “CATTLE MEDICINE”

€118,80

Autores: Philip R. Scott, Colin D. Penny e Alastair I. Macrae Editora: Manson Publishing/ The Veterinary Press Ano de edição: 2011 ISBN: 9781840761276 Número de páginas: 288 Idioma: Inglês

Os autores descrevem, com a ajuda de um número alargado de imagens únicas e de alta qualidade, as importantes doenças de gado diagnosticadas por veterinários na sua prática corrente junto dos animais de quinta. O livro abrange o diagnóstico, tratamento, prognóstico e controlo e, sempre que possível, são usadas imagens sectoriais para acompanhamento do leitor ao longo de todas as fases do processo da doença, sublinhando os aspectos clínicos mais relevantes no diagnóstico. Os capítulos são organizados por sistema orgânico e, sempre que apropriado, sugere-se uma abordagem para o exame clínico. Os autores combinam a sua experiência nas áreas da medicina e cirurgia bovina, do seu trabalho em clínica geral e ainda no ensino e investigação em hospitais universitários de renome. O livro pretende ser uma referência para os profissionais em medicina de animais de quinta e como texto prático conciso para os estudantes de veterinária nos seus anos de clínica. Índice: Capítulo 1. Sistema reprodutivo. Capítulo 2. Obstetrícia e doenças de parturientes. Capítulo 3. Trato digestivo e abdómen. Capítulo 4. Doenças respiratórias. Capítulo 5. Doenças cardiovasculares. Capítulo 6. Doenças do sistema nervoso. Capítulo 7. Doenças músculo-esqueléticas. Capítulo 8. Doenças do trato urinário. Capítulo 9. Doenças da pele. Capítulo 10. Doenças dos olhos. 11. Mastites e doenças das tetas. Capítulo 12. Doenças parasitárias. Capítulo 13. Clostridiose. Capítulo 14. Doenças metabólicas. Capítulo 15. Deficiências em oligoelementos e vitaminas. Capítulo 16. Doenças infecciosas diversas e doenças exóticas. Capítulo 17. Venenos. Capítulo 18. Anestesia.

à venda em: www.engebook.com

“POISONOUS PLANTS (second edition)”

€65,70

Autores: Dietrich Frohne e Hans Jürgen Pfänder Editora: Manson Publishing Ano de edição: 2005 ISBN: 9781874545941 Número de páginas: 469 Idioma: Inglês

Muitas f lores de jardim, árvores decorativas, plantas domésticas e selvagens contêm substâncias que podem levar ao envenenamento no homem ou nos animais. Ao lado de medicamentos e produtos químicos domésticos, as plantas ou partes de plantas ocupam o terceiro lugar nas estatísticas de casos de intoxicação relacionados com crianças. Encontram-se na maior parte dos ambientes domésticos plantas vindas de todo o mundo. A maioria das espécies tratadas neste livro têm origem em zonas temperadas, e o texto identifica em pormenor plantas potencialmente perigosas, a sua distribuição, nível de toxicidade, sintomas de envenenamento e tratamento sugerido. A primeira edição de “Plantas Venenosas” foi extremamente bem recebida, elogiada pela sua combinação de ampla cobertura, simplicidade de utilização e soberbas ilustrações a cores. A segunda edição da obra representa uma revisão completa e contém mais 50% de textos adicionais e de material ilustrativo. A nova edição deste prático manual de referência será preciosa para uma série alargada de grupos profissionais (médicos, farmacêuticos, toxicólogos, biólogos e veterinários). Índice: I. Problemas derivados do envenenamento por plantas. II. Constituintes da planta toxicologicamente significativos. III. As plantas mais importantes com propriedades alegada ou efectivamente tóxicas. IV. Frutos tipo bagas – uma sinopse tabular. V. Compilação de características-tipo das folhas. VI. Apêndice: algumas notas adicionais sobre as plantas de importância toxicológica na América do Norte. VII. Glossário de termos botânicos. VIII. Índice.

à venda em: www.engebook.com

“PRÁTICAS DE VITICULTURA (2.a edição)” (actualizada e aumentada)

€22,00

Autor: Manuel Urbano Gonçalves Moreira Editora: Publindústria Ano de edição: 2011 ISBN: 9789728953898 Número de páginas: 192 Idioma: Português

Redigido de uma forma simultaneamente simples e completa, o “Práticas de Viticultura” aponta alguns dos erros que se praticam na viticultura que inf luenciam posteriormente a longevidade das videiras, a produtividade, a qualidade das uvas e por conseguinte a própria qualidade do vinho. Passando por conceitos como a enxertia, a pré-poda e a poda propriamente dita, Urbano Moreira faculta ao leitor os conhecimentos teórico-práticos sólidos que permitirão tomar atitudes conducentes a boas práticas vitícolas em busca de uma viticultura sustentável. O presente livro está indicado sobretudo para os alunos do ensino técnico agrícola de todos os níveis, bem como para os viticultores, técnicos e outros profissionais a quem interessa o aperfeiçoamento no campo da viticultura. Índice: 1. Enxertia na vinha. 2. Garfo atempado - Fenda Cheia. 3. Enxertia com dois garfos. 4. Enxertia na mesa. 5. Pré-poda da vinha. 6. Poda da vinha na ramada. 7. Breves considerações sobre os principais órgãos da videira. 8. Constituição interna da cepa, dos braços e dos sarmentos. 9. Poda da vinha na ramada. 10. Poda de cordão simples ascendente. 11. Alguns erros da poda na vinha. 12. Erros na poda de formação na ramada. 13. Erros na poda de frutificação na ramada. 14. Erros na poda de formação nos sistemas de condução modernos. 15. Erros na poda de frutificação nos sistemas de condução modernos. 16. Erros nas intervenções em verde. 17. Outros erros que se encontram nas vinhas. 18. Destinos para a lenha da poda da videira. 19. Combustível para uso doméstico. 20. Trituração da lenha. 21. Uso nas camas de gado. 22. Obtenção de estrume por compostagem. 23. Queima da lenha. 24. Processo de recolha da lenha. 25. Bibliografia. 26. Índice Remissivo.

à venda em: www.engebook.com

AGROTEC / DEZEMBRO 2011

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OPINIÃO

Muralhas

ao sucesso >

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ortugal sempre se caracterizou por ser um país orgulhosamente consciente das qualidades da sua terra, da sua gente, nomeadamente da sua agricultura e solo fértil. Porém sapiência e orgulho já não conferem as ferramentas necessárias para acompanhar o Admirável Mundo Novo da tecnologia, de elementos que funcionam twenty four seven, de um mundo que não dorme e está atento a tudo o que é inovação e implementação de modos mais eficientes. A agricultura portuguesa, em concreto a sua centenária cultura vinhateira, encontram-se num momento crucial. É impreterível acompanhar o comboio de um novo tecido agrí-

Monção está a trilhar no sentido de se tornar um player mundial e como vários são os jovens que, como ele, neste momento estão focados em tornar Monção numa referência incontornável. Encheu-me o corpo por dentro saber que uma nova geração de empreendedores está neste momento a batalhar para fazer o melhor vinho do mundo. Num país onde o vinho é uma arte e os seus artesãos se adaptam a tudo, algo me parece que continua a faltar. Branding, layout e posicionamento de marca. Numa recente conversa com o CEO da NDrive, Luís Baptista contava-me que a única coisa que os chineses não conseguem copiar é a “cultura” de um produto. Neste contexto parece-me evidente que diversos esforços devem ser empenhados no sentido de transportar a cultura maior da Terra Monção; é necessário

UMA GARRAFA DE VINHO QUE SUSPIRA VOLÚPIA NÃO É APENAS UMA GARRAFA DE VINHO, É UM PEDAÇO DE LIFESTYLE E NÃO NOS PODEMOS ESQUECER, EM MOMENTO ALGUM, QUE O CALL DO MERCADO NESTE MOMENTO É: THIS IS THE FASHION BUSINESS! cola, com novas soluções e tecnologias, tornando-o mais sofisticado e eficaz. Importa aportar a este nicho técnicas, estratégias e novos layouts de negócio e penso, mesmo a alguma distância, que Monção o está a fazer. A qualidade do “nosso” vinho dispensa neste momento introduções. Segundo a União Europeia, empreendedorismo é a nossa capacidade de tornarmos ideias em actos, bem como a noção de se compreenderem novas oportunidades. São então necessários actores com características de empreendedores, acima de tudo arriscar conscientes dos prós e contras, capazes de incutir uma nova energia que leve a mais inovação e iniciativa. Empreendorismo é agir com propósito, foco e drive. Um dos meus grandes amigos regressou a Monção depois de uma fantástica aventura de vários anos numa das mais importantes e competitivas empresas do Mundo do vinho. Curiosamente ele é enólogo e numa recente conversa com o João Luís Pontes, ele explicava-me os novos processos vitivinícolas, o caminho que

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colocar os nossos produtos na boca do mundo. Marketizá-los com uma força centrífuga e mostrar que há qualidade real. Penso que são necessárias campanhas integradas below e above the line onde o vinho de Monção se inscreva como um produto sexy, apelativo, contemporâneo, urbano e cool. Uma garrafa de vinho que suspira volúpia não é apenas uma garrafa de vinho, é um pedaço de lifestyle e não nos podemos esquecer, em momento algum, que o call do mercado neste momento é: this is the fashion business!

MIGUEL LOPES GONÇALVES

miguel@sparkagency.pt




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