Cartilha de Boicote ao ENADE - 2015

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EDUCAÇÃO AO AVESSO

Boicotar o

ENADE não esqueço

!


CARTILHA DE BOICOTE AO ENADE - 2015

Organizada pelo Grupo de Estudos e Trabalhos sobre Qualidade da Formação de Comunicadoras/es (GET de QFC) da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (ENECOS)

cnenecos

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enecos.

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Cartilha de Boicote ao ENADE - 2015

EDUCAÇÃO: DIREITO ÁS AVESSAS negros e pobres. Sem qualidade de vida para estudar, A educação pública, há anos, explicita a não tem iguais condições de formação e permanece em necessidade de mudanças estruturais progressistas, escalas de desigualdade cruel no ensino superior. novas concepções pedagógicas, filosóficas e polí cas O ensino público está ainda mais ameaçado que estejam de acordo com a construção de uma com a massiva inves da do capital privado. A aprovação sociedade livre de desigualdades e opressões. do novo Plano Nacional da Educação (PNE) é mais um Vivemos, no Brasil, um constante processo de aprofundamento do sucateamento da educação reformas com claro caráter neoliberal. Isso significa pública. Possibilitando o repasse de dinheiro público que as polí cas que vem sendo criadas no nosso país para a educação privada, o PNE amplia o processo de tem um caráter priva sta, que eximem o Estado das priva zação iniciado no governo do sociólogo Fernando suas responsabilidades. Através de polí cas públicas, o Henrique Cardoso (PSDB). Estado deveria garan r a todos o acesso a direitos Uma das principais bandeiras dos governos do básicos como educação, saúde, segurança, trabalho, PT é a ampliação do acesso à educação de nível superior. moradia, assistência social etc. A priva zação de leitos No entanto, o Execu vo parece optar pelo inves mento em hospitais públicos, as reações violentas a no setor privado de ensino, facilitando, assim, o ocupações urbanas, fileiras enormes de fortalecimento de grandes grupos empresariais e a desempregados que tem que se sujeitar a péssimas mercan lização da educação. Vale lembrar que, em condições de trabalho são apenas alguns exemplos do julho de 2015 a presidenta Dilma Rousseff liberou que vivemos nos úl mos anos. crédito extraordinário de R$ 5,1 bilhões para o Fundo de Na educação superior, a história não é Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). diferente. No início de 2015, sob o lema “Brasil Pátria Este programa, des nado a estudantes de baixa renda, Educadora”, foi iniciado o segundo mandato da permite que a/o financiada/o faça a graduação em uma presidenta Dilma Rousseff. Se a promessa era de mais ins tuição privada e, ao final, pague o curso. Dessa atenção ao setor da educação, na prá ca, em menos de seis meses de governo, R$ 12 maneira, as/os estudantes saem bilhões foram cortados do setor, da faculdade com uma enorme Entender que o ENADE faz universidades federais dívida a ser quitada. Os recursos parte de um sistema muito passaram a funcionar com concedidos à rede privada, por maior de desmonte da déficit de 30% de seu orçamento meio de financiamento de Educação Superior é importante e crises nos serviços programas como ProUni e FIES e para não vermos o Exame de terceirizados e na assistência de incen vos fiscais, deveriam forma pontual, estudan l pipocaram em ser des nados à educação diversas ins tuições de ensino descontextualizado. O sistema pública, de modo que superior do país. de avaliação do ENADE, fruto do democra zasse, de fato, as O cenário, ainda que universidades federais, Reuni, segue a mesma política agravado, não é novo. Desde garan ndo a abertura de mais implementada no setor da 2008, com a implantação do vagas e de verbas para polí cas educação. Um ensino voltado Reuni (Reforma Universitária) a de assistência e permanência para o mercado de trabalho, educação superior tem sofrido estudan l, ainda defasadas. sem qualidade de formação e inchaços e precarização. A O Brasil hoje tem o maior cada vez mais privatizado. expansão das universidades grupo de educação privada do públicas não se deu, na mesma mundo, representado pela fusão perspec va quando o assunto é qualidade. Com a das empresas Kroton+Anhanguera. A polí ca de adesão do ENEM como principal meio de entrada, inves mentos públicos na educação privada segue a estudantes de todo o país passaram a sair de suas linha proposta pelo Banco Mundial, ao colocar a casas para estudar em outros estados. Desses, muitos educação como um produto, o teor da formação na foram frustrados com a falta de condições adequadas linha de interesses do mercado tradicional e estudantes de permanência. O número de bolsas não condizente como mão de obra barata e qualificada . Nesse cenário o com o custo de vida das cidades, editais reduzidos, avanço de serviços terceirizados e de consórcios com alojamentos lotados, bandejões caros e sem empresas privadas nas IES públicas demonstrou ainda o condições de abarcar a demanda. Nessa conjuntura, as obje vo central da Pátria Educadora: o desmonte do e os estudantes prejudicados, mais uma vez, são ensino público, gratuito e de qualidade.


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SISTEMAS DE AVALIAÇÃO PAIUB (1992 - 1994) O primeiro sistema de avaliação das universidades brasileiras foi o Programa de Avaliação Ins tucional das Universidades Brasileiras, no governo Itamar Franco. Suas principais caracterís cas eram a avaliação interna, externa e a reavaliação, contando com a adesão voluntária das ins tuições de ensino, além da possibilidade de flexibilização de métodos a serem u lizados no processo de avaliação interna.

ENC (1995 - 2002) No governo Fernando Henrique Cardoso entra em vigor o Exame Nacional de Cursos, o chamado Provão. Aplicado aos graduandos concluintes dos cursos, eram avaliados em cinco conceitos de A a E. Os cursos mal avaliados recebiam retaliações. Durante a vigência do provão, diversos movimentos denunciaram o caráter puni vista, meritocrá co e que só se preocupava em avaliar o produto da formação acadêmica e não o processo como ele se deu e em quais condições. Foi então que o movimento estudan l passou a realizar o boicote em protesto. ensino, além da possibilidade de flexibilização de métodos a serem u lizados na avaliação interna.

SINAES (2002 - ATUAL) A par r da primeira gestão do governo Lula (2003-2006), foi convocada uma comissão de especialistas para elaborar um projeto novo de avaliação ins tucional. Assim foi criado o Sistema de Avaliação da Educação Superior que existe até hoje. Para que o sistema funcionasse, foi criada uma Comissão Nacional de Avaliação da Educação (CONAES) que, pela lei, contaria com representação de órgãos governamentais, especialistas das áreas do conhecimento, um representante discente e um docente. Todos esses nomeados pela Presidência da República sem uma par cipação democrá ca. Essa comissão tem plenos poderes decisórios sobre as questões burocrá cas, pedagógicas e metodológicas para as avaliações. O processo avalia vo do SINAES é sustentado por um tripé: a avaliação ins tucional das IES, a avaliação de desempenho estudan l e a avaliação dos cursos.

AVALIAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

Essa etapa é responsável por verificar a organização didá copedagógica, corpo social e instalações sicas, ar culação dos cursos com o desenvolvimento da ins tuição. Feita por Comissões Externas, formada por especialistas designados pelo INEP, apenas coordenadores possuem acesso a data da visita e a composição da comissão.

2006

AVALIAÇÃO DOS CURSOS

vador M Sal ENECO

Dividida em duas fases. A primeira acontece com a autoavaliação, norteada sob os critérios específicos estabelecidos pela CONAES (Portaria 2051, Art.10º) criando uma comissão interna responsável por construir um instrumento de avaliação e auto avaliá-lo. Tornando o processo pouco coerente. No segundo momento acontece a Avaliação externa in loco: Comissões externas de avaliação ins tucional são designadas pelo INEP (Portaria 2051, Art. 13º) para fazer essa avaliação. Os critérios avaliados não são divulgados, havendo uma total autonomia dessas comissões e a inexistência de orientação metodológica para as avaliações. O Conceito Preliminar do Curso (CPC) estabelece que aos cursos com notas 3 e 4, a avaliação in loco só é feita caso solicitada, reforçando a ênfase dada ao exame aplicado ao corpo discente e diminuição de responsabilidades com a avaliação ins tucional.


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ENECOM For

AVALIAÇÃO DE ESTUDANTES (ENADE)

taleza 2004

O ENADE - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes é uma prova de fase única e nacional, sem dis nguir a diversidade das ins tuições de ensino e das especificidades regionais. O obje vo é avaliar a formação geral, competências profissionais e habilidades acadêmicas dos estudantes. A prova tem duração de 4 horas, com 10 questões (8 múl plaescolha e 2 disserta vas) de Formação Geral e 30 questões (27 múl pla-escolha e 3 disserta vas) específicas do curso que está sendo avaliado e é aplicada aos estudantes concluintes. A avaliação do ENADE, foca o desempenho do estudante para que o aluno seja um bom profissional para o mercado, ignorando se essa capacidade qualita va se deu em ideais condições de assistência estudan l, infrae st r u t u ra , e q u i p a m e nto s , p ro j eto s p o l í co pedagógicos referenciados e em diálogo com o corpo discente. Sem se preocupar se os projetos de extensão tem relevância social e as pesquisas condizentes com o interesse público, a avaliação se mostra destoante aos critérios de qualidade elencados pelo tripé universitário. Fatores esses que deveriam ser o referencial para uma universidade e um curso de qualidade são ignorados pelo Ministério da Educação, vetando um retorno efe vo dos inves mentos públicos nas ins tuições federais para o povo.

COMO É CONSTRUÍDO O CONCEITO?

CACOFF UNESP (Boicote 2009)

CACOM UNB (Boicote 2006)

Os conceitos do ENADE variam de 1 a 5, sendo ob dos a par r de um cálculo esta s co e de uma padronização da nota geral de estudantes daquele curso, ins tuição e município. A Nota ENADE do curso é a média ponderada da nota padronizada dos estudantes concluintes na Formação Geral e no Componente Específico. Nesse sen do, a Formação Geral ocupa 25% da nota e a Componente Específico tem peso de 75%. Desde 2011, o critério de comparação entre o desempenho dos estudantes ingressantes e concluintes é feito com base nos resultados dos estudantes ingressantes através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em comparação com o resultado do ENADE, feito por alunos concluintes. Há uma incoerência com esse modelo de avaliação, pois o ENEM não avalia critérios de curso e é realizado antes mesmo do ingresso na universidade. O curso ficará sem conceito se apenas um estudante concluinte realizar a prova, pois é vetado a divulgação de notas individuais. Caso não haja prova, o curso é excluído da divulgação.


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ABRINDO AS PÁGINAS VERMELHAS DO SINAES No sistema capitalista, a importância da educação se dá pela criação de mão-de-obra qualificada e capitalização de recursos, estando na contramão do caráter emancipador e transformador registrado nas palavras de Paulo Freire que versam sobre educação libertária, defendendo que “Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou construção”. Atendendo a uma proposta capitalista e forçadas pelos baixos inves mentos em pesquisa e extensão, as ins tuições de educação no Brasil se adequam a produção de conhecimentos rentáveis à sobrevivência no mercado. Avaliações, no todo, não são neutras e trazem consigo projetos e concepções do que se entende por ideal; na Educação não seria diferente. O SINAES representa o oposto de uma avaliação constru va e qualificada sobre o ensino superior, dado que não avalia critérios e condições necessárias para qualidade da formação e, quando cursos apresentam avaliações não-sa sfatórias aos parâmetros estabelecidos, instaura arbitrariamente polí cas de sanções financeiras, polí cas e pedagógicas às Universidades.

Nessa lógica, o SINAES se direciona as/aos estudantes por duas vias: Na primeira, como cliente, não sujeito de direitos, ao tratar educação como mercadoria; Na segunda, como um produto final cuja qualidade é medida e atestada no desempenho no ENADE. Reconhecer-se e superar os desafios iden ficados em nossa formação são passos importantes para desenvolvimento da democracia universitária. A análise diagnós ca pautada pelo projeto polí co-pedagógico dos cursos, por condições estruturais que garantam a qualidade de ensino, p e s q u i s a e ex te n s ã o, p e l a re l a çã o e n s i n o aprendizagem em condições de dignidade, pelos quadros docentes e técnicos administra vos, pela perspec va de diálogo do curso com a sociedade definidos nos currículos e ênfases teórico-prá cas e, claro, pela análise das possibilidades que estudantes possuem de ques onar o mundo que os rodeia e construir um projeto de sociedade que supere o sistema desigual em que vivemos. Entretanto, o SINAES não se pretende a avaliar dessa forma o Ensino Superior, instaurando elementos historicamente cri cados por movimentos sociais, como:

01 - RANQUEAMENTO O ENADE classifica estudantes, ins tuições e cursos em cinco categorias diferentes a par r dos conceitos da avaliação, que variam de 1 a 5. A divisão reflete uma concepção produ vista do ensino em detrimento do seu papel social, tornando a educação e o resultado da avaliação um elemento de publicidade ins tucional e compe ção entre ins tuições públicas e privadas. É certo que que uma nota de 1 a 5 em nada resolve a situação das nossas Universidades, dado que funciona como um parecer e não encaminham ações e estratégias efe vas para superação de problemá cas iden ficadas. O ranqueamento segue o pensamento meritocrá co. Em 2006, o projeto de Reforma Universitária (PL 7200/06) do Governo Lula previa que a divisão de inves mentos nas Universidades fossem equivalentes ao desempenho no SINAES. Logo, escolas bem avaliadas receberiam mais se comparadas àquelas não foram tão bem, quando a lógica deveria ser a inversa. Apesar de não aprovada, a reforma universitária tem sido implementada em fa as e seguem com pressões do Ministério da Educação em falas ameaçadoras nas Universidades Públicas às\aos estudantes, no intento de garan r a realização da avaliação e resultados sa sfatórios. Em Universidades pagas, que em geral se apropriam do resultado para marke ng, as medidas de es mulo se dão a par r da aplicação de descontos em mensalidades e matrículas, realização de churrascos, sorteios de prêmios e cursos preparatórios para o ENADE, denotando a fragilidade do método avalia vo.


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02 - CARÁTER OBRIGATÓRIO E PUNITIVO A penalização dos cursos mal avaliados e que não conseguem se recuperar de acordo com o Protocolo de Compromisso (Termo de responsabilidade que registra garan as da Universidade em solucionar os problemas apresentados). Como se não vesse responsabilidade nenhuma com a pauta, o Estado, por sua vez, não apresenta estratégias e medidas que promovam a superação dos problemas evidenciados. Assim, o MEC assume uma posição de observadorregulador - se eximindo do encargo par cipa vo. A pressão segue ao instaurar o Exame como obrigatório ao componente curricular. Dessa maneira, estudantes convocadas/os devem estar presente na prova, caso contrário com irregularidades no histórico. Em decorrência do ENADE em 2012, o MEC puniu a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) com a suspensão dos ves bulares dos cursos de Comunicação Social. A medida foi tomada pelo ministro Aloizio Mercadante (PT), assumindo a polí ca de que “punições mais severas suprem a necessidade de um maior rigor na supervisão, pois as sanções anteriores não foram suficientes para impedir que as notas baixas se repe ssem.”, revelando o descompromisso do Ministério em solucionar os problemas iden ficados nas Universidades. O ves bular para cursos de Comunicação da UFPR foi reaberto 3 meses depois, após intervenção polí ca; Na UFPA, apenas em janeiro de 2015 as medidas cautelares sobre os cursos de Comunicação foram revogadas. Na UFES, somente no semestre 2015.2 aconteceu o ingresso de estudantes, totalizando dois anos e meios de salas vazias nos cursos de comunicação e mais de 250 estudantes não ingressantes nos cursos de Jornalismo e Publicidade.

03 - PREMIAÇÃO DOS MELHORES COLOCADOS Ao premiar estudantes que alcançam melhores desempenhos com bolsas de estudo (Lei 10.861, Art. 5, §10º), além de estabelecer privilégios, fere a Cons tuição quando viola a isonomia entre sujeitos - a igualdade de direitos. A perspec va de incen vos aos que alcançam bons resultados ainda confere caráter excludente. Estudantes precarizadas\os e que não encontram nas Universidades uma polí ca adequada de permanência e assistência estudan l, possuem menores chances de desenvolvimento e aprendizagem. Logo, assim como nos cursos, a lógica de inves r apenas no que já está funcionando não soluciona problemas.


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04 - DESRESPEITO ÀS CARACTERÍSTICAS REGIONAIS Mesmo que orientado pela Lei de Diretrizes e Bases, que organiza de forma geral o ensino dos cursos de graduação, a prova do ENADE é única para todas/os os estudantes, de um mesmo curso, do país inteiro. Desse modo, desconsidera as par cularidades sociais, polí cas, econômicas e culturais entre as diversas regiões brasileiras bem como a diversidade de linhas ideológicas e de pesquisa das várias ins tuições. Entendemos que o ensino de comunicação se dá de forma diferente, atendendo aos interesses e par cularidades de cada estado/região. Assim, uma avaliação nacional não respeita a pluralidade e diversidade dos projetos pedagógicos de cada curso e inibe o desenvolvimento cien fico e inven vidade de nosso campo.

PARA ALÉM DE MARCAR UM (X) D epois de tantos argumentos: Sim, o SINAES/ENADE não representa um modelo de avaliação corresponsável com as Universidade e não corresponde ao projeto de educação emancipadora defendida pela ENECOS, FENEX e outros movimentos em defesa da Educação. A par r disso, lutar contra o atual modelo e propor uma nova alterna va não pode ser visto como uma possibilidade, mas como uma condição necessária para alcançarmos a educação que queremos. 2015 é ano de ENADE para os cursos de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Design. Nesse ano, o Governo Federal já cortou R$89,4 bi das áreas sociais, incluindo Educação. Greves e movimentos em defesa da educação estouraram em todo o país. No cenário em que as mobilizações por uma educação de qualidade e socialmente referenciada pelos povos já é

BOICOTA? O QUE ACONTECE COM QUEM

constante e presente, o chamado ao Boicote do ENADE se torna cada vez mais necessário e um marco afirma vo da urgência de mudanças no atual projeto de educação, desde o pensamento socio-pedagógico aos modelos avalia vos e gestões orçamentárias. A par r do dia 18 de setembro, o INEP disponibilizará a lista de estudantes que farão o Exame no dia 22 de novembro de 2015. Nesta data, mostraremos ao Governo Federal, à sociedade e aos monopólios de comunicação que não estamos de braços cruzados frente à precarização de nossas Universidades, ano após ano maquiada pelo SINAES. Convocamos, então, todas/os as/os estudantes que farão o ENADE a boicotar a prova, denunciando e lutando contra a priva zação e desqualificação das Universidades brasileiras.

Somente estudantes que não comparecem à prova - sem jus fica va - são classificados com situação irregular. Mas por quê? Conforme a Portaria nº 2051, o ENADE é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação. Ao boicotar, relaxe! Não há o que temer. É falsa a ideia de retenção do diploma de quem boicota a prova; A divulgação individual das notas não é publicitada (Lei 10.861, Art 5º, §9) e o MEC não pode, legalmente, estabelecer qualquer outra forma de punição. Estudantes de Universidades Pagas não perdem suas eventuais bolsas no PROUNI ou FIES.


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CACOFF - UNESP (BOICOTE-2009)

O QUE ACONTECE COM CURSOS QUE

BOICOTAM?

O QUE ACONTECE COM CURSOS DE

UNIVERSIDADES PAGAS QUE

?

BOICOTAM

O Estado investe dinheiro público nas Universidades pagas, isentando essas ins tuições de imposto, através da concessão de bolsas a estudantes que não tem condições de pagar a formação, quando deveria garan r o acesso e permanência dessas\es estudantes na Universidade pública - que, afinal, é direito. Fortalecendo a indústria da educação, o ENADE se apresenta como um elemento necessário ao marke ng ins tucional das Universidades pagas, mas como um discurso de terror às\aos estudantes precarizadas/os que ocupam esses espaços através das bolsas do FIES e PROUNI. Fragilizadas e coagidos, muitas se vezes se veem na impossibilidade de exercer a liberdade polí ca, garan da por lei, para boicotar o exame. Primeiro, é preciso entender que bolsas do PROUNI e FIES não podem ser re das por conta do boicote. Segundo, tomar conhecimento de que os cortes de verbas na educação pública são constantes, assim como os inves mentos de polí cas que beneficiem monopólios de educação privada, com aumento de R$ 5,2 bi em inves mentos no FIES um dia após o úl mo corte (30 de julho). Compreendendo esses dois pontos, rebelar-se contra o ENADE vai além da discussão do método avalia vo, assumindo um discurso incisivo em defesa da educação pública acessível para todas/os.

Cursos que passam pelo boicote, em geral, ficam com notas baixas no ENADE. Quando os resultados são insa sfatórios para o Ministério da Educação, cria-se o Protocolo de Compromisso (Lei 10.861, Art. 10º), com datas e ações estabelecidas pela Direção de Departamento ou Colegiado de Curso com mudanças efe vas no curso. Em geral, o Protocolo de Compromisso é criado durante visita do MEC à Universidade. Logo, é estratégico que, após o boicote, estudantes par cipem da construção do Protocolo e coloquem em pauta as demandas relacionadas a infraestrutura, professores, equipamentos e assistência, pressionando para que as colocações integrem o documento, que os prazos estabelecidos sejam cumpridos e que o Ministério assuma um real compromisso com o curso. Caso a Universidade não cumpra com os termos acordados no Protocolo de Compromisso, as punições são mais duras, como previstas no §2, do Art.10, da Lei 10.861. Em Universidades Públicas, as medidas podem ser duas: a suspensão temporária da abertura de processo sele vo de cursos de graduação ou advertência, suspensão ou perda de mandato do dirigente responsável pela ação não executada, no caso de ins tuições públicas de ensino superior. Já em Universidades pagas, a cassação da autorização de funcionamento da ins tuição de educação superior ou do reconhecimento de cursos por ela oferecidos é o processo geralmente adotado. É importante compreender a valia do boicote ao pressionar a Universidade para construção de um documento de compromissos para mudanças nos c u rs o s e a n e c e s s i d a d e d e fi s ca l i za çã o d e cumprimento dos termos acordados. Não suficiente, é fundamental pressionar por atuação efe va do Ministério nessa etapa e atuar poli camente contra as medidas puni vas instauradas no governo PT a estudantes e movimentos em defesa da educação. Resis r e transformar nossas universidades, sempre!


Cartilha de Boicote ao ENADE - 2015

QUEREMOS UMA AVALIAÇÃO DE VERDADE! Boicotar o ENADE não significa abrir mão de toda e qualquer avaliação do Ensino Superior. O boicote também é uma afirmação de que temos um projeto de avaliação, mais complexo e que se estrutura de forma a possibilitar passos por uma educação de qualidade e transformadora. Entendemos que avaliar nossa formação vai além de questões curriculares, mas tem vínculo direto com pautas de estrutura, equipamentos, professores e permanência. Para além das ementas das disciplinas, o laboratório adequado para aulas de radiojornalismo, as câmeras necessárias para seguimento da disciplina de fotopublicidade ou trabalhos prá cos extra-classe da disciplina de Ateliê de Cinema, os professores necessários para discussão sobre Teorias da Comunicação e acesso a Residência Universitária, por exemplo, são elementos necessários para bom fluxo dos cursos de Comunicação. É preciso pensar nossa formação do ponto de vista macro e, assim, construir uma avaliação baseada em todos os pormenores que tem diálogo direto com os estágios vivenciados na trajetória acadêmica, respeitando a diversidade local e os contextos inerentes aos curso de Comunicação de cada Universidade. Com esse olhar, o Movimento Estudan l organizado por Execu vas de curso através do FENEX - Fórum Nacional de Execu vas e Federações de Curso está ar culado em torno de uma proposta alterna va de avaliação ao SINAES. Em 2011, foi lançada a Car lha de Avaliação dos Cursos (disponível no ISSUU da ENECOS) que orienta as/os

estudantes no processo de avaliação do Ensino Superior levando em conta os seguintes aspectos: o papel da formação, as questões curriculares, o tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão), a infraestrutura, o corpo docente e técnico-administra vo, a assistência estudan l e a democracia interna, entendida como diálogo entre os diversos atores e atrizes do meio universitário. Dessa maneira, percebemos que o boicote ao ENADE por si só não é suficiente, apesar de ser o primeiro passo para demonstrarmos a nossa insa sfação por este método. Para além disso é preciso envolver a sociedade para discu r os aspectos da educação e lutar pela garan a de direitos à universidade pública, gratuita, par cipa va e de qualidade. Uma avaliação de verdade não se faz com uma nota, mas pela detecção de falhas, proposições e superação de desafios que amarram o desenvolvimento da educação superior. Devemos dar NOTA 0 ao ENADE e construir uma nova avaliação! Indo até o local de prova no dia 22 de Novembro e deixando a prova com as informações que merece: Páginas em branco e um grande ‘BOICOTE ao ENADE! Por uma avaliação de verdade’ escrito com letras garrafais na primeira página. Em seguida, u lizando a Car lha de Avaliação dos Cursoso, fazermos juntos essa grande e real análise do ensino superior brasileiro, levando em conta as verdadeiras demandas da sociedade, não do Governo Federal! Por uma Universidade verdadeiramente do povo, para o povo e que atenda aos interesses dos povos! Por uma Universidade Popular!

CACOFF - UNESP (BOICOTE-2009)


COMO ORGANIZAR O BOICOTE AO ENADE 1

Confira na sua faculdade ou no site do INEP se você foi selecionado para o Exame.

2

Procure seu Centro\Diretório Acadêmico ou en dade representa va de estudantes para estudar os documentos mais importantes sobre o Exame. Você encontra o Manual do ENADE no site do INEP, Car lhas históricas sobre o boicote no Issuu da ENECOS e postagens atualizadas sobre o assunto na página da ENECOS e no Grupo de Estudos e Trabalhos sobre Qualidade da Formação de Comunicadoras/es.

3

Reproduza essa car lha e outros materiais e compar lhe com seus colegas.

4

Organize uma Assembleia de Estudantes do seu curso para deliberar sobre a realização (ou não) do Boicote. Lembre-se de que o boicote só é válido quando feito pelo máximo de estudantes, assim, o curso não fica com uma nota intermediária e você consegue demonstrar seu ato polí co.

5 6

Incida sobre a mídia local e realize intervenções na cidade para ampliar a discussão sobre o boicote, fortalecer o movimento e atrair olhares para pauta.

7

Assine a lista de presença, cole seus adesivos ou escreva: ‘BOICOTE ao ENADE! Por uma avaliação de verdade’. Entregue a prova em branco.

8

Organize um documento que publicize a posição polí ca adotada pelo grupo de estudantes e entregue para seus professores, reitoria e estenda à comunidade (jornais, cartas públicas e outras plataformas).

9

Protocole a ação no Ministério Público, com uma carta explicando o boicote assinada pelos estudantes que boicotaram e pelo Centro Acadêmico.

10

Não se restrinja ao boicote! U lize também a Car lha de Avaliação dos Cursos do FENEX e faça uma análise completa do seu curso, da sua Universidade, iden ficando os reais problemas do Ensino Superior Brasileiro. .

Compareça pontualmente ao local de prova.



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