45 anos da Primeira Turma Quadro Complementar - 1972 - Por CMG (Ref. T) Elson de Azevedo Burity

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Rio de Janeiro Outubro - 2017


OS 45 ANOS DA PRIMEIRA TURMA QUADRO COMPLEMENTAR MARINHA DO BRASIL 1972 – TURMA: JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADE E SILVA

“Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.” (Fernando Pessoa.)

Elson de Azevedo Burity * Capitão-de-mar-e-guerra (Refº-T) ____________________________________________________________________________ ____________________________________________

*Aperfeiçoado em Eletrônica no CAEO-1975, foi comandante do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade, Delegado na Delegacia em Tabatinga, Vice-Diretor da Diretoria de Portos e Costas e Capitão dos Portos do Maranhão.

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SUMÁRIO

►Introdução ► O recrutamento e adaptação ►A formatura ►O desenvolvimento da carreira ►As comemorações dos 45 anos ►Conclusão

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INTRODUÇÃO

Durante

o ano de 1971 quando fomos chamados em nossas faculdades a ingressar na Marinha do Brasil, não imaginávamos o quanto o futuro nos reservaria de empolgante em nossas vidas. Tudo aquilo acalentava os sonhos daqueles jovens ao atender o chamamento do então Vice Alte. Ramon Leite Gomes Labarthe, que, como diretor da Diretoria do Pessoal Militar da Marinha (DPMM) saiu pelos quatro cantos do Brasil proferindo palestras e divulgando a criação do Quadro Complementar. Muitos de nós víamos pela primeira vez um oficial da Marinha e principalmente numa universidade. Era tudo muito novo e empolgante: ser oficial da Marinha do Brasil!

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O RECRUTAMENTO E ADAPTAÇÃO

Logo

após a aprovação no

exame de seleção, muitos começaram a chegar no Rio de Janeiro (mui provavelmente era a primeira viagem à cidade carioca) e depois ocorreu a apresentação na Escola Naval. Sempre valorizamos muito nossos instrutores, com quem naquele dia a dia, bem diferente, conseguíamos absorver diversos conhecimentos técnicos e marinheiros em várias disciplinas, como: Navegação Costeira e Estima, Navegação Astronômica, Máquinas, Armamento e Ordem Unida. O que iria permitir, mais tarde, a perfeita adaptação no estágio embarcado, nos navios da Esquadra e batalhões do CFN. O Contra-Almirante Rubem José Rodrigues de Mattos – Diretor, acompanhado do Capitão-de-mar-e-guerra José Pardellas – Vice-Diretor.

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Surgia então o esperado momento do estágio embarcado e nós, logo cedo, partimos da EN para o Cais Norte do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). Enquanto os colegas fuzileiros se apresentavam nos Batalhões Humaitá, Paissandu e Riachuelo, todos os demais embarcaram nos CT Pernambuco, Pará, Paraná, Piauí e Santa Catarina, NAeL Minas Gerais e C Tamandaré. Naquela ocasião tivemos a grande oportunidade de participar da então famosa Operação Unidas XIII, no litoral brasileiro, juntamente com navios argentinos, uruguaios e norte americanos e foi talvez a fase mais difícil daquele período, pois a vida de bordo tem muitas de suas características peculiares e totalmente adversas em determinadas situações, como sabemos. Então, foi ali que alguns sucessos e

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frustrações foram conhecidos e no meu caso específico, não pude me considerar totalmente realizado, em função da dificuldade de adaptação em determinadas situações. Mas aquilo tudo era aprendizado e serviu muitíssimo para os dias futuros. E como serviram! A FORMATURA

Passada

a fase de classificação na turma e a designação das próximas comissões, a expectativa a seguir seria com a tão sonhada formatura. Manhã de 25/OUT/1972 e nós naquele majestoso e engalanado campo de atletismo da Escola Naval, que comportava a Guarda da Bandeira, a banda de música, o pelotão de desembarque, convidados, estação de salva e nós, 90 (noventa) Guardas-Marinhas, prestes a tornarem-se oficiais. E assim deu-se início ao cerimonial com a leitura da Ordem-do-Dia nº 0076/1972, assinada pelo ContraAlmirante Rubem José Rodrigues de Mattos, Diretor da Escola Naval:

Rocha Plaisant Furlanetto Julio Kinack Roberto

Castro Varoni Burity

Mário César

Maia Sauma Baena

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“ Exortação: Grande é a nossa alegria ao chegar o tempo em que, de modo mais efetivo, os senhores se integrarão no processo de trabalho da Marinha. Mais uma vez a esperança, sentimento comum às cerimônias que aqui se realizam, se consubstancia e concretiza: nunca, caso hoje, ela se faz tão presente. Os sete meses de preparação, durante os quais buscaram situar-se no novo “status”, conscientemente assumido por cada um, serviram, com a maior certeza, para consolidar em todos, nos senhores como em nós outros, a convicção de os termos em boa hora chamado ao nosso convívio. Oriundos de todas as regiões do Brasil, do pampa sulino ou da Amazônia, do Nordeste e Planalto Central, bem como dos estados mais próximos, constituídos, sem dúvida, um painel magnífico de gente moça do melhor quilate, de cores vivas de um país jovem, forte, audaz, consciente e trabalhador. Aqui reunidos, a riqueza de cada um pôde multiplicar-se no trato fraterno de todos. Engenheiros, matemáticos, contabilistas, administradores, economistas, geógrafos, cartógrafos, químicos, biólogos, físicos, assumindo o momento de agora, que é o de colaborar, de dar mãos e de somar esforços, trazem o conhecimento adquirido na Universidade e participam da construção da nova Marinha, que, sendo a mesma, em suas tradições e em sua glória, não deixa de se projetar no futuro, com o empenho que contagia hoje a Pátria inteira. E por isso o conjunto harmônico que constituem reflete na variedade conhecimentos e na pluralidade de origens a grandeza física e a pujança intelectual do Brasil, no linear das distâncias como no poliédrico das aptidões. Simbolizam, assim, o abraço civil à Marinha, não apenas afetivo, mas sobretudo profícuo; civis que se fazem marinheiros, e , marinheiros, se propõem a colocar sempre acima dos interesses pessoais o interesse comum, pela “ordem” e pelo “Progresso”, levados pelo mesmo amor que o Patrono da Turma, o Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrade e Silva, sempre dispensou à nossa corporação. Ao receberem hoje platinas e espada, fazem-se os nossos mais novos Segundos-

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Tenentes, seiva moça e preciosa que ajudará a fazer crescer, pelo trabalho, a Marinha, a cujo serviço abraçaram. Constituindo a primeira turma do Quadro Complementar depois de recente e feliz reestruturação, abrem horizontes que permitem vislumbrar uma integração cada vez maior de nossos quadros com o meio civil, universitário ou técnico, para enriquecimento de ambos os setores da vida nacional. Tenentes: Renovando o compromisso de servir à Marinha, os senhores fizeram uma opção consciente. Servir à Marinha, antes de tudo, é servir à Pátria, e, servindo a esta, servir-se a si, como cidadão livre que se engaja em gloriosa carreira, cujo valor aprenderão a descobrir, pelo próprio serviço. Sejam felizes! “ Éramos a partir de então os jovens segundos-tenentes (QC-CA, QCIM e QC-FN), que uma vez distribuídos por diversas organizações militares pelo Brasil, passamos definitivamente a integra-nos ao serviço militar naval.” O DESENVOLVIMENTO DA CARREIRA

Poucos

anos depois, a Marinha abriu a possibilidade daqueles oficiais do QC se habilitarem em cursos de carreira, em igualdade de condições com os oficiais oriundos da Escola Naval, o que possibilitou alavancar a carreira de muitos, ao se especializarem em Aviação Naval, Comunicações, Eletrônica, Hidrografia e Navegação, Máquinas, Submarino, Intendência e os demais da área do CFN, como Engenharia e Infantaria. Adiante, vieram os Cursos Básico da EGN e o Superior de Guerra Naval. Enfim, a carreira abriu os horizontes daqueles que de diversas formas mostraram suas aptidões técnicas e marinheiras. Devo aqui, como exemplo, citar o nosso colega Castro, que na área da oceanografia e hidrografia, realizou importantíssimos cursos, chegando a alçar a chefia do Departamento de Instrução da DHN. Entretanto, ainda havia um obstáculo a ser vencido e tão sonhado: o fluxo de carreira e os cargos de direção. Somente em 1977, por decisão do então Ministro da Marinha, Alte. Esq. Mauro Cesar Rodrigues Pereira, foi criado o Quadro Técnico

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(QT), houve uma reestruturação no número de vagas, aliviando o gargalo das promoções e abriu-se a perspectiva de cargos de direção para, os agora oficiais do Quadro Técnico, Capitão de Corveta, Capitão de Fragata e Capitão de Mar e Guerra. Enfim, havíamos conquistado nosso sonho maior, aquele em que somos convocados para um cargo de direção. Particularmente, sou eternamente grato à Marinha por me ter convocado para três situações fantásticas: Comandante do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), como CC, Delegado da Delegacia em Tabatinga (Amazonas), como CF e Capitão dos Portos do Maranhão, como CMG. AS COMEMORAÇÕES DOS 45 ANOS

Para nosso contentamento, uma data desse porte não poderia passar tão incógnita pelos nossos queridos companheiros de turma e eis que uma comissão formada pelos amigos Walter, Monteiro, Nilton, Sclindwein e Rafael, organizou os festejos da nossa formatura na cidade de Florianópolis, SC, com grande pompa e organização. O evento reverteu-se de tamanha importância que a seguir transcrevo a mensagem enviada pelo atual Comandante da Marinha; a quem agradecemos:

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Marinha do Brasil Gabinete do Comandante da Marinha

Mensagem do Comandante da Marinha aos Oficiais da Primeira Turma do Quadro Complementar. Prezados Oficiais, É com grande satisfação que apresento os sinceros cumprimentos pelo 45º Aniversário da turma QC72, pioneira a enriquecer os Quadros da Marinha com jovens de variadas formações acadêmicas, escolhidos em rigoroso processo seletivo. Nesta data especial, registro, como Comandante da Marinha, meus sinceros agradecimentos pela valorosa contribuição que prestaram ao longo de suas carreiras, integrando-se perfeitamente aos diversos Corpos e Quadros, dedicando-se plenamente ao engrandecimento da Força e absorvendo os valores maiores que cultivamos. Quando Tenente, tive o privilégio de servir com alguns dos senhores na Força de Contratorpedeiros e no Curso de Aperfeiçoamento de Eletrônica do CIAW, experientes e devotados Oficiais com quem muito aprendi e de quem guardo excelentes recordações. Tenham a certeza que a consolidação dos Quadros Complementares como realidade viva e imprescindível deve-se muito à atuação dos oficiais da primeira turma, que, com competência, elevado conhecimento técnico e liderança mostraram à Marinha o quão acertada foi a decisão de captar recursos humanos provenientes dos meios universitários. Parabéns a todos e sejam muito felizes! Eduardo Bacellar Leal Ferreira Almirante-de-esquadra Comandante da Marinha

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CONCLUSÃO

Hoje todos aqueles jovens tenentes constituem um universo de oficiais reformados, outros deixaram o serviço ativo precocemente e alguns, lamentavelmente, atenderam o chamamento do Senhor Deus, para a vida eterna. Mas há um outro pequeno contingente ainda labutando (mesmo reformados) em várias OM, como os colegas Mário Barriga (CPMA), Rudajá (CPAOR), Castro (MD), Gagliardi (IPqM), Serra Pinto (BNA), Carlindo (PNNSG), Schlinduvin (EAMSC) e eu particularmente, no Tribunal Marítimo. Após aquela nossa declaração de oficial em 25 de outubro de 1972, até os dias de hoje, temos a convicção que acertamos no alvo e nos sentimos orgulhosos do nosso passado ao servir à Marinha e ao Brasil e ter a oportunidade de praticar as tradições navais, o profissionalismo e o patriotismo, deixando um legado de exemplo e do dever bem cumprido para as gerações futuras.

ViVa a Marinha do Brasil!

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