Livro Orações com vícios de Linguagem Elton Pinheiro

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Orações com vícios de linguagem

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Apresentação A Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo submete este livro à apresentação dos leitores como um dos cinco textos classificados do edital 06/2006, destinada à seleção e à difusão de obras literárias inéditas de autores residentes no Espírito Santo. Esses textos, que abrangem tanto a prosa de ficção como a poesia, foram selecionados por uma Comissão Julgadora integrada por especialistas de renome – os escritores Francisco Aurélio Ribeiro, Deny Gomes e Sérgio Blank, representando, respectivamente, a Academia Espírito-santense de Letras, o Núcleo de Estudos e Pesquisa da Literatura do Espírito Santo (vinculado ao Mestrado em Estudos Literários da Universidade Federal do Espírito Santo) e a Subgerência de Humanidades desta Secretaria. A decisão da Comissão, como se poderá ver, contemplou autores já consagrados nas letras capixabas, como os poetas José Irmo Goring e Erly Vieira Jr. (este último publicado agora seu primeiro livro em prosa), bem como três autores inéditos – Alessandro Darós, Andréia Delmaschio e Elton Pinheiro – que têm, assim, a oportunidade de divulgar de modo mais efetivo o seu talento no campo da criação literária. A qualidade dos cinco textos que ora damos a público vêm confirmar que continuam a surgir, no cenário cultural capixaba, nomes importantes para somar-se ao rico elenco de autores que fazem literatura no Espírito Santo.

Dayse Maria Oslegher Lemos Secretária de Estado da Cultura

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Secretaria de Estado da Cultura

Governador do Estado do Espírito Santo Paulo César Hartung Gomes Vice-governador do Estado do Espírito Santo Ricardo Rezende Ferraço Secretária do Estado da Cultura Dayse Maria Oslegher Lemos Subsecretária de Patrimônio Cultural Christiane Wigneron Gimenes Gerente de Ação Cultural Maurício José da Silva Gerente do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Rita de Cássia Maia e Silva Costa Subgerente de Humanidades Sérgio Blank

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Edital SEC nº 006_2006 Edital para seleção de incentivo à difusão de obras literárias inéditas de autores residentes no Espírito Santo, objetivando a publicação de livro. Capa: “Desenho sem título” Obra de Elton Pinheiro Conceito gráfico: Janayna Araújo Revisão: Herbert Farias Revisão Final: do Autor Projeto gráfico e Editoração: Renato Carniato Impressão e acabamento: DIO – Departamento de Imprensa Oficial – ES __________________________________________________________

P654o Pinheiro, Elton Orações com vícios de linguagem / Elton Pinheiro. --- Vitória : Secult, 2008. 138p. 1. Poesia brasileira. I. Título. CDD B869.1 ________________________________________________________ 1ª Edição: 2008 Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo Rua General Osório, 83 - Ed. Portugal - 16º andar Centro – Vitória - ES – CEP: 29020-900 Tel.: (27) 3132 8366 humanidades@secult.es.gov.br www.secult.es.gov.br Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer parte desta obra, por qualquer meio, sem autorização do autor, da autora, ou da editora constitui violação da LDA 9610/98.

http://eltonpinheiro.blogspot.com/

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Elton Pinheiro

Orações com vícios de linguagem

Poemas

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Agradecimentos: Janayna, pelo que hĂĄ de precioso, belo e sensĂ­vel; Elton Mayo, Dione, Elaine e Eber; pela liberdade da verdade; Herbert Farias, pelo trabalho primoroso.

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Para Vitória “Estas palabras que te escribo piensan de modo diferente y en otras cosas que non son tú y yo.” Jenaro Talens

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Martes

Neste relatório não sei o que ponho se nuvem ou sonho. Um modo bastante simples, o manual nº 5, mas nele sorrio demais... ainda brinco. Neste dia não sei o que livro, se João Cabral, Lêdo Ivo. O canto... o canto... uma cor que não sei pinta o verão sem acalanto. O claustro minta de tudo que não sei do outro o pranto.

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E deste, aquém da janela. É tudo xícara e café além dela.

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Sábado

Varanda... Noir... ...morcego sem fruta... ...dança num remix de Rita Lee... A solidão dos jovens descobrindo a Lua... ...nos livros na América Latina. Da iluminação a festa... Uma solidão de quem não sabe dançar. Solidão... das putas de Camburi. Solidão... que não quer a libertação. Solidão... do auditório de domingo. O luar despe carros vaporados sem delicadeza. Eles rasgam a praia, seu horizonte de ferro. A buzina do navio petroleiro... ou do trem?

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Solidão Noir... quase respiração das ninfas analfabetas; mesma solução no mix de produtos dos marqueteiros. ...nos livros de Hammett. Solidão. Da pobreza intelectual da sala de não fumantes: a solidão dos homens que pensaram ser Hamlet.

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Ópio “Le soleil est près de moi” Air

0, Nave... no elevador eu era igual a todos os outros ... a letra minúscula igual bicho, formiga, work in progress. … Os novos heróis não lêem... Eu era igual. Quase todos os carros luzem, é noite para saber Adorno ou Marcuse... O atonalismo da letra solfeja meu

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o discurso . O vôo saber, o que seja... Air... (le soleil est près de moi) Ave seca dissipada na treva com estrelas. O oxigênio era igual. Hoje eu quero apenas gozar, é noite para saber, deixa entrar. / -2; -3; -5; -8; -9; -10; -13... etc.

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Outro

Olho para a nuvem sem saudade e água máscaras de uma utopia transformam-se nela. A tarde despenca de outra paisagem. E esta, outra dela, passara bem antes. Desmancha-se o branco para outro corpo. É dele uma forma que o azul domina: O único verso de seu gemido vai inexprimível aonde não sei.

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Dispersos

É janeiro, não há nada... ...barulho de palavras sem dizer Poesia, seu sangue de moça Cata-ventos como rosas que mentem É noite, seu fim tremeluz... não há tempo, cultura A literatura dos outdoors sufocou a angústia; não há perda Profetas falsos... um cuspe, um sorriso...; não há silêncio, pensamento, mácula

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Somos elogiados quando aparentamos O sucesso é evangelho de revista, estamos tristes, ninguém nos ajuda, ao contrário, gozam em nossa cara o resto Que dizer? Os aparentes não se importam, querem o gosto do frango morto. É festa (...) As ovelhas do marketing foram apascentadas numa cultura sem vícios Infantis... ...; nada sabemos sobre o que não falamos

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Noturno Voa... do claustro, medo... ...o desejo, o erro A bruma imóvel do sonho desenha um ventre de vícios Voa para o fim do mar intenso dor sem objeto, quando este, sim, denso bebe o sal completo no teu corpo | Doa com teu desejo de asas negras a abraçar com escuro um quarto de lua

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Coa anterior ao deserto Voa para a noite virgem chorar nos teus braรงos

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Matinée

Desperto do sonho noturno no azul (o silêncio não existe) e é certo sonho de sol desenhado com infância. Da leveza o Sísifo cá observa o mundo sem pedras. Relógio na parede vasta gasta até o portão das horas... essas faltam das festas, (sua fartura ameniza o luar) ... sobre as copas das árvores há um massacre... nuvens de um púrpura e remédio derramam ganância.

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O trabalho mói a carne pour moi da figura do Mickey nazista da fome dos anúncios por nós da Roma queda pão e circo da omissão dos artistas plásticos da medicina dos laboratórios (bondade marcial dos homens de bem)

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Canto

Um rosto descarnado percorre a rua dos loucos ... rua dos barulhos moucos; escuta o não falado, anda nu e abandona os doutos, de copo e cana na academia ensinando angu. Mestres no Boulevard com Dulcce & Garbana, seus rostos alvos, grandes Alexandres altivos, depois parecem vários Dantes,.. sentem o gosto de Chivas nos odres, babam as pernas boas das estudantes. Sem desejo o abissal os deprava na estória de suas vidas sem dolo. Para a moral que a castidade lava roubam das ninfas o seu colo,

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para o sonho das raparigas em flor algo dava aos seus carrosséis corcéis alados... Para a outra carne de sua lava o punho escroto dos soldados. Ele espera o muting e canta ex... o descontrole futuro do prazer de santo. A donzela que grita em muitas tvs É a vítima intensa de seu único canto e bordava uma noite com duas luas nas mãos de marfim. Ele espera uma noite de todas as ruas no louvor alado de um querubim. Pela aldeia, no meio das casas sua voz ecoa. Trazem-lhe a peste na flor do campo que Freud as Moiras com asas enquanto a histeria goza olor. Por que a túnica de José o vestia? Joio de seu próprio trigo; sacramento... Quando o último sábio ele consumia entregava-lhe seu entretenimento, quando o sonho do barro brilhava sonhava com asas de um monumento... para todas as coisas ele inventava as asas que Hermes roubou do vento, e as cidades que sempre cantava

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existiam numa constelação sem alento até quando alta noite o mundo descansava e as estrelas eram seu talento. Acendei... crivai de luzes o teto onde a caravana branca atravessa. No espetáculo roto de tudo exceto o outro tudo de outra estória nessa e os heróis digam que suas glórias estavam escritas nos autos e que desde sempre se foram em memórias de párocos, gênios, mendigos, arautos e que desde sempre morrem de tarde quando já nem existe por que morrer... Enlouquecei... acendei o covarde medo de viver. Um rosto descarnado percorre a rua dos loucos ...rua dos barulhos moucos;

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Casa de estrelas cubistas

O adjetivo sem gosto transfigura tua palavra ... somos o sonho que nos resta. Pedra, coisa, substantivo. Essa coisa (alguma dela) não vem. Pelada a palavra mostra rasgo no fim da rua, faróis e pétalas vermelhas... ...o desejo pego pelo rabo do medo da morte, nessa terra goza sem paz. Somos pesadelo dos outros, adjetivo deles. O gosto é imaginário,

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como os outros, de rosto Ăłpio. De noite reconhecemos estrelas sem rosto. ... tĂŞm um nosso.

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Ensino

a letra lavra paa... lavragaga... Beleza mesa luzes; letra vazia como os intelectuais ... num espetáculo simples... o dever de casa. Asfalto, Auto de Natal, de Protesto... Letra vazia da civilidade. ... Moças, na revista vendem-se... vêem a luz. Um écarté sem fim come a noite na toalha verde. Beleza mesa luzem; Letra lenda lenta diluição

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no fim dói em si no impossível a não ser por cada um. Tudo exceto, as formigas continuam. Esta letra sem palavra, esfera. O gozo hermético faz, diz, curso dos mestres. Beleza lousa cruzes; ... . (...) *\ ; a certeza da palavra não é humana.\* Há destreza em coisas erráticas 010090807060504030201000,10,20,3... o embaralhamento é ato de algumas.

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Tela

A fêmea nua mexe os quadris. A sala vazia nosso diálogo impossível. ... , finjo pensar metáforas. Visito seu corpo de tela e Matisses para encontrá-la

nua. ...nuvem branca num quadro e matizes, tempos imemoriais. A noite mexe a cintura nas dores banais. A noite real é dura

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sem originais.

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Sessão da tarde “Only w\hen the clock stops does time come to life” William Faulkner

...crianças correm sem destino entre árvores; caem no súbito dos pais; amor-te no firmamento. ...; o porvir deixa um rosado para o sopro levar. A tarde finda no livro revive... . O mundo seco nela espera chover

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sobre a infância. Não há o que lavar... uniformes, seu branco sem nome fere... ...nem a tarde morta nos livros. Os mestres ensinam... Seu corpo flácido leva a curiosidade, seu destino... Firmamento, o porvir deixa rosar. Tarde outra mesma mágoa.

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Contraponto

...paz mortal, Só. Não há palavra, beijo. ...páginas fáceis de uma novela, nem essas. Ou mais difíceis, destas, imaginando contrários: outra conversa, no som das gotas de chuva.

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Noite gasta “C’est avec les beaux sentiments que l’on fait la mauvaise littérature” André Gide

...um livro seja sem palavras na cara dos mestres, figuras clássicas; agora sangram estrelas errantes, quando sobem o assente firmamento; sabem das flores baixas preparadas... a dor que ao longe adormece sob a constelação do outro e germina seu espetáculo no segredo das gerações sua castidade rebenta preces mudas,

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perdulárias ladainhas tentam enganar a Deus oh! contrição menos provável êxtase da santa, imagem, seus lábios contorcem abertos: teimam ...dar à boca o gosto das rosas fáceis, mundo nas costas; ...um livro sem memória na cara dos mestres, ;

bebo o corpo da noite no vício das horas iluminadas pelos olhos de trágicos sonhadores; ... acarinho o excesso de amor perdido, digo que ele não vale nada, . . . gasta Vênus de Milo e tantas, dentro delas, seu mesmo mundo. O escuro efêmero que a noite mente entrega fácil a luz do dia:

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capelão, morto, fodedor, antigo retórico... a demagogia dos ajuntamentos ...(sem dizer) ...ao podre colegiado, conselho de alunos tristes, incapazes da perda, felicidade; (...) . Um livro contra o vento dos mestres... cuspir na cara deles, a noite na superfície; tudo é superficial e interessa, varre estrelas com as mãos, ....... ...... ..... .... ... .. . ...os sonhos, como se fossem capricho, manha de manhã, cães baratos esquecidos, não sonhados. ... Saio pela noite...; vejo e revisto a escuridão de mentiras. ... (sou um dos miseráveis) ; imundos que antes foram belos e as donzelas afagaram no colo, ; párias que um dia freqüentaram 40


melhores casas de ópio. ...depois, vinda a desgraça, restaram à noite apática; ... devoram o breu de pecado (que é a memória dos vencedores), mancham as ruas ... ; o desprezo vem dos bons . Mas os resistentes continuam... ... (perseveram até o fim) respiram a cidade cheia de histórias e mentiras de jornal, esquecem os professores sem tragédia, livro, (seus melodramas do medo), descortinam comédia na obra dos acadêmicos imortais ... de sonhadores ou curiosos, restaram vertidos em temerosos escribas.

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Preservativo

A nuvem rasga sem dor no céu; enquanto a tarde escapa. Vou pela calçada ainda lírico, um gozador. ...sonho morto que aceita meu rosto, minha cruz meu nome. Nuvem sonho nu plastifica e encapa. De onde vou? Para onde vim? À tarde sem história, quem a conte; tarde vai embora, (já não sai de eu). A civilização está seca.

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Pequenas gotas lambem os homens, molham a cidade com palavrões enquanto a moça chora vaporam de repente, voam para Deus... Há um hemisfério ungido nessas matinês, nos bares, longe dos templos. ...mas ninguém quer saber

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Esportista

As nuvens são leves e pássaras indo embora. A tarde anônima trai. secretamente destruído A beleza das pradarias vem pagã nas rosas. Beleza sem piedade que a tarde dança nas árvores. secretamente destruído A tarde sangra o rosa delicado num finito firmamento. Arde rasa 44


sem dor ou sorte. secretamente destruĂ­do Corpo entregue as donzelas cavalgam a mĂĄquina no alto das colinas de vidro por sobre a cidade. secretamente destruĂ­do

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Constelações Para Janayna

quando o sol voltar... e minha tristeza seca vai ao campo de girassóis amarelos ...o quanto eu amo ...o quanto não vivo sem você nessas horas o lençol branco suspenso depois da espuma Electrolux e tantos os sonhos que eu não te dei tudo que eu planto arranco e perdi que perdi joguei pelos cantos as pedras que eu não cantei quando o sol... e minha certeza peca sacramenta o gozo dos castelos

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...o quanto eu desejo ...o quanto morro de viver sem você por que eu e o mundo somos assim sem pontuação e os mestres eu os sou antes de tudo de que fugi as academias as lesmas os vermes em mim em eu modernista mas quando o sol sarar... e minha tristeza sorria em nossas fotografias tiradas em pb ...o quanto eu amo ...o tanto que eu amo em você faço música nos aviões e rasgo a nuvem branca até gozar no fim do mundo e minha voz é sua e do seu corpo tatuado de constelações

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Véu

...e isto não o sabemos ... quantas tardes de pecar agora o corpo vence e morre de nuvens aladas exatas

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Letorgia popular

$ Vento sul gasolina e sexta sexy. Bacantes jorram sangue, esses caras indo para a morte rosto feito Prestobarba, ...; o guarda transita Neanderthal o corpo Brisa a cidade; absorvente pelos cĂŠus... Transige, poema prosaico de Carlos , e todos vocĂŞs, as tias, bando de pombos... revoam junto 49


com esses, que esperam. ...a mocinha aprende a fingir, a televisão felicidade; mas cala dentro um raio de Zoomp... ...a intenção dos carros era expressionista, não pop... ; o outdoor manchado de chuva saliva e vende celular, alíngua e conserva; lambe até sentir o gosto, menina safa. No firmamento a febre. ...os meteorologistas estão perplexos, sem dizer. Letargia sem culpa, liturgia banal da fé infantil na prosperidade; a brega Sé cacareja

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e prega de galinha ; meninos prodígio-problemas... agora que racham sonhos, aceleram fodelança, seus corvos particulares de never more à noite no racha vencido é tudo até a racha, turbo mentira; --- Estacionária Maranello, aceite o muro. Deu zebra na curva e estilhaços... ...o que a boca de fogo cospe e encerra jovem, dragão de plástico e nitrogênio até explodir

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Copacabana “Rio puro? E isso ainda tem? Tem misturado. Mas Rio.” João Antônio

...virgens e secas por dentro transgênicas sem dor o ponto ameno lá no fundo é inafiançável sem delírio ...beber a noite com estrelas sem medo das esquinas vastas na mostra de corpos sob o azul-cobalto do céu noturno é trabalho e amor antinatural

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no esgar da noite o rasgo de carros-luz é corte desde o Cervantes até os versos na calçada da Rainha Elizabeth; o Borkum Riff desenha a nuvem da madrugada até Ipanema e livra os eruditos de fim de semana

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Civit

; passarĂĄs a noite neste campo ao longe, </ avenida e carros > As nuvens suspendem grandes lagos passarĂĄs a noite ; a fria noite das eras Posto de gasolina batizada e teus sonhos campeiam Mas a lenta Kombi se arrasta ; outros circulares a molestam sob o frio

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Passarás a noite neste campo (imenso coração de homem)

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Beauté Bénite

A boca das santas contorce uma prece. Um novelo delas toma seus lábios e o choro exíguo virgem errante derrama escarlate. Os sonhos morrem mas perturbavam sem gozo. Péssimos poetas morreram parnasianos sem dizer absolutamente nada e legaram a beleza benta. O gosto no vento atravessou a ruína. A ilha inóspita 56


de nosso desejo sufocado marca o ponto cego na tarde sem prazer. Leva a angĂşstia dos corpos de pedra. Das igrejas catĂłlicas ao idolatrar a ninfa perversa acalentando o outro com semblante e ĂĄgua casta.

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Menta (Esperando um Transcol na Praia da Costa)

Acalma, noite de menta a força mesquinha dessas manhãs não rouba tua história ela te escapa uma água bebenta mas te liberta em tua memória. Espera, sem alma como os benfeitores elegantes. Mas esfrega teu corpo na brisa escura quando ela molha e te segura os cabelos. Rasga o medo virgem que te entregam numa travessura. Conta como eram belas as páginas do teu livro, mostra o teu pecado aos homens de negócio, aos evangelistas ocidentais (o corpo universo liberta os que cegam),

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que te aplaudam invejem

odeiem (o artista traz ao mercado beleza e tortura). Acarinha com teu sangue floral de escuro e veneno a delícia e o desespero da moça fácil. Leva na cara, princesa do mar de sargaço, teu prazer é o que dói sereno nos dentes de um leão de plástico sem resquícios; pergunta aos teus: por que viestes presumir um deus entre mortais amenos, contorce e abraça o cenário falso. Mas lembra que voltarás aos eus trazendo o escuro à senda de vícios; cai na relva devastada que rebenta frugal, deita com teu corpo de amor. Ensina que o prazer hirto dos seios é o nascer banal da força que engasta o gênio nos dias de dor e atrapalha a civilidade dos comícios; embrenha-te na luz das estrelas, mortas iluminuras acima da mesa gasta das tradições que dão beleza e martírio às jovens deselegantes e duras esperando o salvador esportista. 59


Abraça os homens cegos pela glutonaria dessas mesas (dança no meio deles com teu corpo de baile sensual e negro, roça o ventre escuro nas mulheres). Joga teu cabelo no semblante dos faunos sem culpa de sua fortuna impiedosa, anódina. Morre, como fazem as festas imunes pela manhã. Mas entrega teu vício para que furtem com ele a felicidade das coisas íntegras. À força horrorosa dos talheres (escravos da fartura noturna), canta o riso das coisas ilesas. Acalma noite de mentira... a força sozinha dos teus braços trouxe à luz a manhã desmaiada... (tudo é mesmo o que és quando ferir estrela por estrela e for mais nada)

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Lua cheia & frio (lendo sobre John Cage)

Eu gostaria de trabalhar numa tabacaria. Experimentando fumos, lendo poemas. A estrela do Eu ao longe. Sua dor ilumina analisada. Sair pela cidade sob a noite

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que as marcas de néon chamam de amor. Meu cantovoz em silêncio é som nas palavras erradas. Imperfeito preté rito da poesia; breu presente são e som. É impossível estar vivo e em silêncio.

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Eutro

Casa assombrada de amores cassados sou este aquele nome minúsculo; ponto finito multifacetado no happy hour polifônico; sem rancores a cidade ilumina um sertão nas bandeiras, mostra o pau-brasil encordoado no arame elétrico: o ponto órfão iridescente aquele esse errado

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ainda dos cem poemas do sĂŠculo.

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Motociclista

É seu, mas não termine tão rápido. Diga o que mais você quer; terá tudo, dentro do plástico. Traga no sonho o motociclista. Vista as ruas de desejo e pétalas; use-as em dias de sol dentro da casa. Pode usar, mas não gaste, não deixe seu nome, sua marca; não pague nem mostre essa caligrafia; ela não vale. Lá fora é Cinéma; heróis quase mortos

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como você; sua rua opaca em neblina evade-se no motociclista do Amarcord; viera o tempo em que a praça leiloada e exposta ao balé roto era ainda sem treva. Seu pai no artefato, como acelerava! Leia, mas não amasse o caderno de notas marrons e tristes; olhará para trás. Conquiste, mas sem viajar, sem corpo, tarde, luz, telefone, sem desejo. Mesmo que vá, estará aqui, anterior, este sentimento. Use, mas sem dizer; mostre mas não goze de seu nome, corpóreo e furioso, quando arrancar as tripas das moças sem estragar a camisa e seu caimento.; Não deixe nesses corpos seu desejo, sua loucura por eles. Quando chegar à casa perdida e eterna, seu epitáfio de fantasias, e os novos desbravadores mostrarem sua lembrança às bacantes num retrato,

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vá também sem dizer do que dói e mata de prazer, fúria. A verdade arrancada retorna imune ao paraíso de remédios aleivosos de púrpura e o gosto das horas lembra que o esquecimento é a fome que a vida tem de matá-lo. Peça, mas não seu verdadeiro horror. A elipse das coisas corta com sua voz a noite rica, belíssima. Voe... pássaro dessa noite... sua capa de sonhos alada faça uma epifania de escuro, derrame na víscera teatral das cidades o som do motor extinto e depois de todas elas (sem o gozo delas; o gosto delas) volte para frear aqui.

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Lista de verificação cabralina

A lista verifica o que está escrito. Passam por ela muitos assuntos. Dentro tem palavras que o vento mutila nas mudas horas sobre a mesa gasta. Os números cegos mostram-se naturais; apontam objetos sem nuance. Esses objetos na lista são signo. Em frases inteiras despedaçam em ordem. A ordem não é esta, tampouco outra.

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Ordena de uma verdade secreta. Essa vaidade quieta a lista verifica. Fora dela, o barulho de muitas perguntas.

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Arrivista

Bons e fartos têm pena de mim. Sou a vergonha das gerações. Quando as estrelas acendem eu canto sua beleza desesperada. Homens de bem virgens e leviatãs têm medo de mim. Conheci o mundo de Marlboro em bancas de

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revistas folheando moças iguais. A treva não me calou e amanheci.

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Praia

; os pássaros calam vôo e braços desenho entre restos escapam devotas a imensa boca para sempre algumas ficam se reviram nuas revoltam pelo ar azul até as costas do horizonte se eram livres e não saibam escrever asas trêmulas de língua e gozo às pernas do livro

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se eram plásticas e não sejam esses pássaros tão gaivotas lhes ensinem dor e silêncio

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Mendigo (...) um dia o horizonte abra, bucho plástico... ; de noite rastejantes vizinhos crianças pedras Aquelas idéias eram roupas usadas Esgarçam lembranças, explicam a solidão; quando esquinas, puídas cabeça degolada amores e costumes não cessam de trazer ... Tempos fáceis revirando corpos fáceis; ensino da vida fácil aos que não 74


reconhecem o desejo, doentes, que matam por dentro.; depois não mais saber levantar o rosto... éramos como esses que passam a vida enriquecendo as gerações Crianças jogávamos pedras brincando maldade cérebro pintado já aprendendo valores são os mesmos pais na mesmice nos apresentam ao que podem também compreender dos seus alguma dor nossa sala de Star Wars ...livres insetos fugidios; chuva noturna no centro da cidade poça de mijo calçada, úmida notícia relampeia somos perigosos 75


antes da novela; mundo detestável, cheio de notícias variações de felicidade para quem tem ambição boca repetindo caras e palhaços boa noite, boa noite que remédio (?) Basta, aqui tenho amigos mais chegados que irmãos Estamos sozinhos sob a marquise Nossos heróis coração comprado nos deixaram, já não procuramos espelho para lembrá-los, geralmente em datas festivas, quando a cidade explode e peca por nós; Não temos nome, estamos, antes do nascimento doce das noites impregnadas de lume; quando a liberdade é também a prisão Perdemos 76


a dignidade que não servia nem servirá. ...sem mais nem lembrança vida de todos continuou... ordem, anúncio, ... Nós já fomos usados tempo animalejo que a imensa noite por vezes estripa, depois apresenta como motivo Não para nós; o escuro sorve-nos com desinteresse, desdém Estamos nele também por um desinteressado esporte

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Classe média

A criança do vizinho chora e incomoda o sábado. Seu pai é farofeiro ameno, armado com caixas de som. (A moral e os bons costumes o atacam desde a manhã, sai para o trabalho vestido com o uniforme da classe média.) Estaciona o carro de ponta-cabeça e

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tira do porta-malas um saco de carvão depois grita no caraoquê Raul Seixas para condomínios

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Swingers

Mulher, 42 anos. Vida de problemas. O love da filha arregaça a Ferrari paulista no Play Station. Cama perdida; lua manhã. O marido não sabe roubar crisálidas; as jovens não sabem gozar, nem esperam ladrões. Virá sobre elas o enfado... À noite geme para o gentleman noir

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de Michael Curtis; posa na fase figurativa de Arcângelo Ianelli, mas espera tanto Sade quanto Proust quando mostra (cita) o que (?) lê. O corpo equilibra o Masp, arde Le Temps Retrouvé; corpo dado à dor metropolitana, pariu um estudante da Princeton. A filha adolesce na cara um destino cruel ...

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Parnasiano pós-muderno

O sonho esvazia sem memória até cerzir silêncio e fogo como que por encantamento eram palavras quando esquecia noutra história de iludir ruído e rogo quanto rebento plágio e lavras ... antigas musas, sem affaire nas cidades que passaram de viver o que hoje escondem

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no choro fingido de antes do inferno dos Dantes no cloro nadam, respondem por esporte, sem sofrer e troçar maldades até acender o suor sob as blusas. ... O corte diário vai sem beber ao trabalho mas o corpo ressona de anátemas quando à cidade acorda no vício amargurado, escarlate e sortimento para a venda, a rua trai o Verbo no orvalho corpo a corpo a queda bate, mas não cai além da horda, tudo está ditado és tomate e pensamento feira e lenda

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... que escapa sem sorrir verdura e trigo, teu nome de joio sabe morrer no quebra-queixo um fim com intervalo riquíssimo e espera um outro ouvido saber escutar sem voltar ao que é perdido a feira quisera o chamado belíssimo quando dizes: eu vim disposto a perder para além deste aboio mas cala contigo enquanto existir ... teu medo olvidaras nome próprio e pudores mas agora o Caos recicla mesmos ruídos de quantos Hades para mostrar-te teu próprio alento,

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o qual ouve no desassossego mĂşsica e haveres de todos os seres com desapego; o que houve em cada fragmento ĂŠ Arte espalhada pelas cidades, teus desejos perdidos noites, estrelas, naus eram amores nĂŁo coisas raras

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Lacaio

O sonhador não sabe que está morto, sorri. No final da tarde um descampado. Burocratas felizes ferem o mundo sem amenidades; corpo, asas, palavra: A coisa árida e tensa que os dias não valem, não levam. O sorriso estranha um soneto de dentes cerrados.

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Apopcalipse Para Luís Otávio Nogueira Gomes

amores & músicas cidades & livros divãs & divas iluminação & topografias petróleo & traficantes noites estreladas & rendas amigos & lendas dinheiro & romances perfeitos notícias & metas excelsos & industriais malditos & profetas abandonados & policiais êxtase & outdoors priápicos & passivos genoma & o cavaleiro verde adolescentes & soropositivos mesas & musas lobos & igrejas revistas & cervejas

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hipódromos & blusas aceleradores & sonhos playboys & ficção marketing & maldade Mega Mass & chão silicone & vontade comida & a quilo estômago & vaidade fome zero & mamilo televisão & carne crianças & mentiras aleijados & campanhas babás & pombajiras fome & cefaléias fome & turismo sexual mães & medéias americanos & paz romana Quilombo & Gana urbano & rural copo sujo & cana Jesus Cristo & berimbau egos & pregadores preconceito & música preconceito & arte ambição & consumidores angústia & artistas acadêmicos & esportistas bandeiras & frutas 88


Alfredo Volpi & Marc Chagall deputados & prostitutas Homer Simpson & telejornal deputados & prostitutas MST & litoral deputados & prostitutas abandono & Funai abono & corte ianomâmi & Txai justiça & morte aborto de rua & pai exército & recrutas herança paterna & pau Jackson’s Five & Bad ceará & sal poluição & Radiohead seara & taça de cristal perdição & comércio de gente silêncio & arco-íris coca & festa de crente gênios & Janires padres & meninos mentiras & perversidade internet & suicidas asiáticos Hemingway & outros sinos pais & filhos liberdade & pavor liberdade & medo da vida 89


libertação & pecador escravos & latifundiários êxodos & escravidão inocência & inocêncios inocentes & prisão Adidas falsificado & seventeen benefícios & executivos indústria pornô & Bombaim campeonatos & aperitivos tênis & terceiro mundo Onu & maná fábricas na Malásia & o fim do mundo novela das oito & ménage à trois o fim do caminho & Tom Jobim nossos filhos & as águas de março de onde sou & para onde sim Andy Warhol & All Star sem cadarço

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Black tie

...noite que passa e sabe que trai... Nada vicia mais que o black tie. ... a noite é isso que vai, a lei amanhã é herança do pai ; o baile debela a si quando cai. Lá dentro dele calai.

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Der Mond (Praia do Canto, num café) “All we need is love, love... Love is all we need.” John Lennon

dentro da noite uma lâmina de fogo ; viço novo de carne efêmera rosa ... rasga para a noite de estrelas doer cheia de escuro e ganância, escuro

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de tudo perdido . . . sem poesia, declaração, romance ; água doce. Poemas... (argh! para que servem?) arrependam-se poetas, deixem às professoras sem carne, aos clérigos cães o gozo sem dor; às ninfas poliglotas o disfarce da moça feia na cidade se vestindo de indústria;

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Corp|oração

Lo go volt as, emites for mulário arauto. A nu nciai labirin tites ... teu labir in to incauto, Condenai o mundo ao Minotauro exausto, Alicerçai o fundo Fausto, Caloi ou calai. Pedalarás infante... A to d os alcançai Cada vez mais pedante. Teu bl oco denotas; a pelos; fiscais; só can te tu do pas sará.

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Oração sem medo Agora, este outro enervas, mas sabes que há verdade tão muda esquálida nisto onde arde bóia teu desejo nome e passarás; ponto vírgula inóspito neste mudo monte da oração viciada ; invade nisto seio do mundo é noite calos de escuro; empenha-te na contralavra errada. */ Esses lingüistas, acadêmicos, diretoras, santas, românticos, ricaços, colegiados... sai... foge... nada queres com essa gente /* , seus paraísos de costumes...

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; no corpo da noite teu desverso é errado esmo a empalar o cão muderno, a análise das academias, ... mostra assim teu nome, esse isso assim assaz que o Verbo rasga estrebucha corta te quebra desfaz, </jarro>; reconstrói ... teu sofrimento campeia mas sabes.., não há para o que voltar a não ser para o medo navegas... cortas tam bém o ar a jato ateu mundo... é agora

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Oràdor marketing “Voici le temps des assassins” Arthur Rimbaud

Fume obedeça roa as unhas e coma no McDonald's Peça, um não vai dar compre o maço Tudo Tout le jour Corte, dois lados estripe o papel, puxe com os lábios Assista à Xuxa,

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venda as crianças Credite professores, repita país & filhos O mundo é meleca de carne prensar Inspire, lipoaspire depois Teletubby, célula pré-paga Você sem ponto final na língua Jack Daniel’s Mostre o Jontex à princesa que não lubrifica sem malhar a dor A academia está cheia de suor e desespero

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Cantiga

O muxoxo já cozinha essa mesma ladainha quem te vi tão bem te vinha ; Deus te guie alma sozinha Oh! Senhor lembrai a minha que peca na camarinha ... depois reza a ladainha descansando a espinha da carne – saco e farinha ; Venha a nós essa lapinha Dá-nos a vaidadezinha Cremos na fada madrinha ; Ora e vírgula cantiga desconjura o que ela tinha na senzala ou na cozinha

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; Essa mesma ladainha domingueira malandrinha em Teu nome mas ĂŠ minha

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Atenção

; é pior voltar no tempo quando me acontece não pronuncio palavras por elas cheguei até aqui, quaisquer outras, em seus lugares, não me trariam aonde estou.

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aos que têm amor mas não sabem; aos que têm higiene demais para amar . Quando a moça caminhava ingênua e deixava de ser mesquinha todas as sendas do mesmo cigarro desenharam fonemas perdidos; ... a luz que chorava sem palavras única e última caça mortal , o futuro vem... tão tedioso animal sem óculos 102


nascer comer se der mond for der-amar flaneur onde sublunar ao ler Le Monde ; ...olhem os lírios de pixels... Os tigres relembram no bar o rosto de antigos desbravadores. As melhores canções fazem crônica disso, dizem: Love, love, love

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Bailarina muda (Numa aula do curso de Marketing)

Bailarina muda tua flor, cabelo negro voa pasmada sem morte lava os pais gordos das ninfas alva dor, breu espetáculo. Purpurina muda uma rotina. A noite posa nua flor e figurino bailarina fotografada com olhar de surto e sorte. As famílias foram embora outra cor despetalava o rosa dos seios órfãos para encantar o homem de bem.

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Moça feia

Faço um canto pouco inteiro que não chega a ser pedaço entre setembro e janeiro. Vivo o pouco que desfaça a cidade paralítica. A moça feia que passa com vaidade entre setembro e janeiro dá ilusão, espedaça meu corpo noturno, lima meu bagaço a mais,

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esta voz alta descampada língua tua dor e te bebe mar de sargaço que a poesia concebe e em poema não lembro nem janeiro. Quando minha esperança quer morrer serena farta de todas as moralidades e as ruas sem nome dormem sem prazer e sem história até que em sonho o medo do torpor faz flertar sua memória com o que eu lhes ensino

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Jornal Nacional

; era o grito rouco que a noite sufoca e usa sublimado na sala de estar.

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Chá

Tá na pista e as luzes jogam cenário... Ela rebola o Brasil da metrópole sem volta e cai na cama das adolescentes; Namora o diretor da novela e acendeu uma noite em São Conrado, agora dói. ...; Anda descalça no filme enquanto reza par leve casal se a revista de chá e o Aiatolá comeu o hímen... hoje todo mundo é precoce e os que são mesmo se matam porque tá na pista e o cenário chupa o seio da estátua de sal;

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Até que um dia Ronald McDonald venha de mãos dadas com a menina de Hanói ... ; e faz campanha pelas crianças

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Vitória “Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados” Manuel Bandeira

Moça, nunca me livrei das tuas noites ; inventava meus filmes no cinema dos 70. ... Teu contorno é aterrado trânsito histérico desejo em três vias apertando de repente duas; a força no horizonte de ferro 110


devolve sonhos, squash cultural. Tua boca Pega forte no entrelábios; seduz poetas com um pouco de língua ... pelo que saibam perder em ti a esperança e deixá-la, para sempre; ... sendo aqui

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Happer Para Francisco de Assis

Pegaram BiguĂĄ;; e enfiaram porrada ...tĂŠ cansar depois do show... o molambo voltava pra casa O sangue cerebral na pala provoca a paz romana. O policial malvado vinha de Opala e agora tem moto bacana, faz o poder tarado quando soca. ;;

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... quatro horas ali deitado foi metido numa Palio Weekend...; jogado debaixo da Ponte Ayrton Senna. Oh! Santa Casa sem misericรณrdia

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John Player Special

... parar o fluxo dos carros quando cortam meu rosto fauno depois corroer a tela, terodentina de Narciso. ... ...Dá saudade na travessa... Rios... livrarias, não podeis me livrar. teu gosto planeta silencioso de C. S. Lewis além dele. however, tuas unhas costas de cruz meu poema te impregna. ; tua cama nunca chegar

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ao meu riso in de siso gasto, espectral. ... somos tantos amantes no corte desmemorial vestido que aperta seios ; o nuncaverbo curva-nos, corva-nos never more com Whisky do Tennessee. ; desmamar teu desenho da tarde é revoltar avenida sem ponteio. Tarde chuvosa e tempestade; sem a viola campeia no cebolão em D. Meu coração é a metrópole no teu gosto rosa; sou e perco... its too late, I think… any losers. isto que não sei sextasex me and the city.

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Departures Para Herbert Farias

Não há nada ... num raio de cinqüenta quilômetros. Café e solidão de aeroporto na sala com revistas. Aonde ir, além da palestra do Professor Ludwik? Eles venceram. Luzem fractais. Voici le temps des départs, Rimbaud... ... o peso do pó cinza agasta; esmaga belezas... ...

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a Tabacaria também se foi... Ah, como estão felizes!, Por que prosperam com adoçante?... O que aconteceu depois? ...doce amargo esse Finn... Não há nada ... raio de mil e cinqüenta quilômetros.

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Camburi

Lá atrás do mar tem um lugar que me atravessa lá atrás tem o mar que não me impeça lá faz um arco sem íris, o cego Tirésias previne meu barco Plutão ou Plutarco escrevem meu ego no estrelato sem peça onde sei quem lá atrás tem um lugar que me peça lá onde é ar 118


de tanto faz sem cais e o caos qualquer lugar seja a paz dos bons ou mais dos maus lá não tem mar tem outra vida e uma dessa lá atrás do mar tem um lugar que não me interessa

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Casa de veraneio drummondiana Para Elaine e Eber

Depois que as festas perecíveis firmarem que erram ... e voltam sem acabar... o café está passado. E o tempo pequeno faz declarações. Depois que o mar quebrar a praça em pedaços... o que em noite alta é sem lua. Depois que o milho

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verde na varanda estiver seco, maduro sem pensar, e Marcolino contava histórias de uma serenata. O que os homens voltam de sua história e correm às mulheres nuas quando os verões morrem sem mais. Depois que estes revirarem no teto de gesso o sonho nos sonhos vividos, perdidos em nós, ... as palavras que nossos pais nos deram hoje nos ensinavam uma posteridade. Depois de nossos nomes

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O círculo ...círculo que não se fecha. Começa uma curva e seria tão certa, declina, contudo de uma esfera a qual seria de único plano. Retorce a leveza que o desenhista não sabe que tinha para educar quando ao final desata mais gélido seu risco de morte nunca o completa a revolta se arma mas é como todas as voltas no corpo da revolução, o papel a recebe sendo ela várias quando novamente perde a completude

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...círculo inóspito que se revela perdido de si sem uróboro; até que o monturo aceita seu vício, e em muitos papéis amassados o fecha nas contas dos tristes, ou formas que a dor agora retorce nos cantos erráticos no cesto desmaiam, e em lixo de sonhos restam, até que seu nome sem círculo exato aviltado recicle no amor das indústrias e sua política e a peste correta dos burocratas, o amor imundo e sua qualidade desfaça a volta que era singular e gere figuras sem nódulos; quando são mostras ao mundo e sejam,

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verbo que foram na inflexão. Quando o estancam perfeito na forma e dentro morte, sorriso, revistas... quando a aparência o veste completo e a linha antes erro já se penetra até seu umbigo. ...Nada o alcança de outro que exista... então o esmagam usando ganância, em novos papéis o sangram correto agora convicto e a perfeição usando humildade por ele ensina aos menos perfeitos, mostra encontro de início e sentido, impõe o dorso de uma gestão. Afinal circular sua paragem se estende despótica

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e agora educada deslinda outros, estripa as lascas de uma ventura.. até quando forem ao mesmo destino recebendo a força de um treinamento... ...depois usado, no entanto, é o beijo dos mestres o caminho ao mesmo monturo, retalhado em honra seu último fim no labor esquecido não terá nome; seu lugar é de outro dele, enquanto a perfeição o cegar.

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O motorista

Se vai ou volta em círculos concêntricos conhece caminho e norte , algo falta à revolta quando a noite é o mar da sorte; sem o gosto das revoluções escuta os excêntricos,.. espera a moça sem rosa errar o círculo das paixões, acreditar que a noite goza; no caminho dos outros leva ou traz humildade nas palavras dos mesmos finge não ter coragem de ouvir a cidade; sem nome o chamam, num aceno o carro pára. Enquanto entram ou saem

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das coisas que amam, esconde-lhes sua esperanรงa rara; se vacilam ou caem debela-os o mal. Quando a lembranรงa banal entreva nas coisas exatas, dรฃo-lhe umas pratas

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Palavras e gestos

; ... minha boca te faz e meu veneno é a noite tua boca me deu o escuro na língua ... toda mágoa é banal afinal, eu fui o furo na grade língua fiz o fogo de grande lábia ... sou infeliz e canto a beleza dos aristocratas a vaidade dos militantes o ozônio dos industriais a omissão dos artistas plásticos O Cristo dos profetas

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. NĂŁo esperei lingĂźistas quando derem aceite e o verbo carne erra pelos campos vestido de sol ...

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Cirandeira

A tarde esquiva boa, igual ao tempo ruim à morte viva canta banal nas plantas e em mim sem força rima as agonias e despedaça o fim de ontem nas covardias sem cara; se o passado passar no corpo a manhã quer sangue e o futuro matar o corpo avelã come a saga;

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depois retarde, viver é repetir o que não pára até o fim no fundo é um poema que a noite estraga e a tarde dá paga pra consumir até nos comprar. Porque o mundo é sem rima e posto em gasolina um cacete, chamar raimundos... é tão vasto um mundo quanto repete, e depois demora toda hora um vício, ora do que mente. Um dia deleta a paralisia cantando rejoyce ou desperta um crocodilo nas prisões bentas; ou logo medra numa elegia os mentires de amar: 131


o amor vendido vence a poesia em qualquer geração tudo está perdido no rio de cerzir o Heráclito atroz para o jovem poeta depois cuspir nesse pano de chão; a bandeira ridícula é moça e gostosa mas sem olor, em umbigo de piercing. Seu Olavo babão vê o top verde de malhar e jura baixinho. Balé funk, venha pedir pra bombar sem razão pra menina amarela de verde sofrer enquanto acaba. O caos moral e cívico na escola maldita pro mundo expirar o resto de festa matutina de rave 132


é esperança de amar; é namorar estrelas mortas metades que dizem nos guiar é berrar de êxtase a noite de Madri em tantas cidades e depois chorar o surto de vê-las no sol sem verdades é lá e aqui uma cirandeira... safada e namoradeira é a ciranda inteira onde escuto essa brincadeira.

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Praça do Cauê

voltar para quê cai cai retrouvé Haicai sim senhor Hölderlin ou Basho de Tam ou de Tim noir pela voz le départ cirandar à gauche a droite the aproach vai pintar o balão

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na tv party o pão e cai cai não cai não sei dançar ficar est mauvais ai ai Rabelais plagiai sim Sinhô ciranda de dois varanda o morcego e a noite que sou num dia de alma Azevedo ou Rimbaud brinquedo e comédia sem par e sorrisos voltar por que teu cadarço 135


e amarras no corpo dos vícios aqui na minha mão maquina um mundo à rua do sabão aluado me nino sem ver sua máquina correr e cair no solar do Cauê voltar para quê cai cai retrouvé

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Sumário Martes 13 Sábado 15 Ópio 17 Outro 19 Dispersos 20 Noturno 22 Matinée 24 Canto 26 Casa de estrelas cubistas 29 Ensino 31 Tela 33 Sessão da tarde 35 Contraponto 37 Noite gasta 38 Preservativo 42 Esportista 44 Constelações 46 Véu 48 Letorgia popular 49 Copacabana 52 Civit 54 Beauté Bénite 56 Menta 58 Lua cheia & frio 61 Eutro 63 Motociclista 65 Lista de verificação cabralina 68 Arrivista 70 Praia 72 Mendigo 74 Classe média 78 Swingers 80 Parnasiano pós-muderno 82 Lacaio 86 Apopcalipse 87 Black tie 91 Corp|oração 92 Oração sem medo 93

Oràdor marketing Cantiga Atenção Der Mond Bailarina muda Moça feia Jornal Nacional Chá Vitória Happer John Player Special Departures Camburi Casa de veraneio drummondiana O círculo O motorista Palavras e gestos Cirandeira Praça do Cauê

95 97 99 100 104 105 107 108 110 112 114 116 118 120 122 126 128 130 134

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