Cenário: Depósito de Matéria Critiva - Arquitectura e Implementação

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Eduardo Morais de Sousa

Cenário Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação Dissertação submetida para a obtenção do grau de Mestre em Multimédia, realizada sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Paula Maria Marques de Moura Gomes Viana, Professora Coordenadora do Instituto Superior de Engenharia do Porto, Instituto Politécnico do Porto

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 2010





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Resumo

Os progressos verificados durante a última década relativamente à acessibilidade do acesso à Internet em banda larga originaram novos hábitos de utilização da Web, principalmente por parte dos utilizadores mais jovens. À medida que ingressam em áreas do Ensino Superior de vocação artística e criativa, os novos estudantes verificam frequentemente que os serviços Web implementados pelas respectivas instituições respondem de forma inadequada às suas necessidades e expectativas. A presente dissertação descreve o contexto, os princípios de concepção e o desenvolvimento de um protótipo do Cenário, uma aplicação Web especificamente concebida para responder à necessidade de plataformas de partilha de conteúdos vocacionadas para a catalogação dos projectos criativos de uma nova geração de estudantes do Ensino Superior. Inicialmente concebido para implementação no contexto específico da Academia do Porto, o Cenário é um repositório relacional cujo objectivo principal é a evidenciação das relações existentes entre estudantes, projectos e instituições. A especificidade dos princípios de concepção do Cenário levou, através do uso de tecnologias Web correntes, ao desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos Mille Plateaux. Neste estudo descreve-se o seu desenvolvimento, dando-se relevo à implementação das funcionalidades que melhor o definem, incluindo a associação entre objectos catalogados, a arquitectura de software REST, a adopção da norma de metadados Dublin Core, o tratamento de artefactos multimédia e a API (Application Programming Interface) que permite disponibilizar um conjunto de serviços a aplicações externas. Como resultado desta investigação, apresenta-se um sistema especificamente concebido para a implementação de um catálogo dos projectos criativos desenvolvidos por estudantes do Ensino Superior. O objectivo último de tal sistema será facilitar novas oportunidades para a cooperação entre criadores, disciplinas e instituições.



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Abstract

The progresses in the deployment and affordability of broadband Internet that took place during the last decade have led to new habits of Web use, especially by younger users. As they enroll in Higher Education courses with artistic and creative objectives, new students often find the Web services implemented by the respective institutions inadequate in meeting their needs and expectations. The present dissertation describes the context, the design principles and the development of a prototype for Cenário, a Web application aimed at addressing the need of content sharing platforms specifically designed to catalog the creative projects of the new generation of Higher Education students. At first intended for implementation in the specific context of Porto’s academia, Cenário is a relational repository primarily concerned with the presentation of the existing relationships between students, projects and institutions. The specificity of the design principles of Cenário led to the development, through the use of common Web technologies, of the Mille Plateaux content management system. This study describes its development, highlighting the implementation of its most defining features, including the relation between catalog objects, the REST software architecture, the adoption of the Dublin Core metadata standard, the handling of multimedia artifacts and the Application Programming Interface that provides a number of services to external applications. As a result of this investigation, a system is presented that is specifically tailored for the implementation of a catalog of the creative endeavors of students in High Education. The ultimate goal of such system is to enable new opportunities for cooperation between creators, disciplines and institutions.



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Agradecimentos

À Professora Paula Viana, orientadora desta dissertação e determinante no processo desenvolvimento deste projecto, agradeço a disponibilidade, a dedicação, as sugestões e críticas construtivas. Ao Professor Artur Pimenta Alves, por todas as sugestões oferecidas relativamente à concepção do projecto e pelo empenho no seu encaminhamento. Aos professores que contribuíram para o desenvolvimento do projecto, tendo disponibilizado o seu tempo e as suas sugestões. Presto um especial agradecimento aos Professores Isidro Vila Verde, Eurico Carrapatoso e Carlos Oliveira, do Mestrado em Multimédia. A Mariana Figueiredo, pela concepção original do projecto e pelo convite para o integrar, assim como pelo trabalho incansável que desempenhou na sua concepção e divulgação. A todos os colegas e amigos que contribuíram de forma indelével para o desenvolvimento do projecto através das suas sugestões e críticas. Aos restantes amigos e familiares.



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Índice

Lista de Figuras ........................................................................................................................................ xv Lista de Tabelas ...................................................................................................................................... xvii Lista de Abreviaturas .............................................................................................................................. xix

Capítulo 1 Introdução ................................................................................................................................ 1 1.1 Motivação .......................................................................................................................................... 2 1.2 Objectivos .......................................................................................................................................... 3 1.3 Estrutura da Dissertação .................................................................................................................... 4 Capítulo 2 Participação e Envolvimento na Web Contemporânea ........................................................ 7 2.1 A Nova Geração de Utilizadores ....................................................................................................... 9 2.2 Motivação e Excedente Cognitivo ................................................................................................... 10 2.3 O Impacto dos Novos Paradigmas ................................................................................................... 12 2.4 A Web em Simbiose com a Realidade ............................................................................................. 14 Capítulo 3 Modelos e Plataformas de Partilha de Conteúdos............................................................... 17 3.1 Modelos de Partilha ......................................................................................................................... 19 3.1.1 Bibliotecas Digitais .................................................................................................................. 20 3.1.2 Portfolios Digitais .................................................................................................................... 21 3.1.3 Wikis ......................................................................................................................................... 22 3.1.4 Showcases ................................................................................................................................ 23 3.1.5 Cedência de Alojamento Web .................................................................................................. 24 3.1.6 Serviços Web Externos ............................................................................................................ 25


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3.1.7 Outras Soluções ....................................................................................................................... 25 3.2 Plataformas de Código Aberto......................................................................................................... 26 3.2.1 Greenstone, Fedora e DSpace .................................................................................................. 28 3.2.2 Drupal e Joomla ....................................................................................................................... 30 3.2.3 WordPress ................................................................................................................................ 32 3.2.4 Elgg .......................................................................................................................................... 34 3.2.5 Mahara ..................................................................................................................................... 35 3.2.6 MediaWiki ............................................................................................................................... 36 3.2.7 Avaliação ................................................................................................................................. 36 Capítulo 4 Os Princípios de um Depósito de Matéria Criativa ............................................................ 41 4.1 Princípios Gerais.............................................................................................................................. 42 4.2 Princípios Específicos ...................................................................................................................... 43 4.2.1 Fluidez de Navegação .............................................................................................................. 45 4.2.2 Relevância de Autores e Escolas ............................................................................................. 45 4.2.3 Flexibilidade na Composição dos Projectos ............................................................................ 46 4.2.4 Consistência das Colecções e Perfis ........................................................................................ 48 4.3 Princípios Funcionais ...................................................................................................................... 49 Capítulo 5 Desenvolvimento de um Sistema de Gestão de Conteúdos ................................................. 51 5.1 Tecnologias Web ............................................................................................................................. 52 5.1.1 Tecnologias do Servidor .......................................................................................................... 53 5.1.2 Tecnologias do Cliente ............................................................................................................ 55 5.2 Construção do Protótipo .................................................................................................................. 57 5.2.1 O Modelo REST ...................................................................................................................... 58 5.2.2 Base de Dados.......................................................................................................................... 60 5.2.3 Metadados ................................................................................................................................ 61 5.2.4 Endereços Web ........................................................................................................................ 64 5.2.5 Identidades ............................................................................................................................... 65 5.2.6 Utilizadores .............................................................................................................................. 67 5.2.7 Grupos...................................................................................................................................... 69 5.2.8 Projectos .................................................................................................................................. 71 5.2.9 Artefactos Multimédia ............................................................................................................. 73 5.2.10 Pesquisas ................................................................................................................................ 78 5.2.11 API ......................................................................................................................................... 79 5.3 Considerações Finais ....................................................................................................................... 83 Capítulo 6 Conclusões .............................................................................................................................. 85 6.1 Trabalho Futuro ............................................................................................................................... 86


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Bibliografia................................................................................................................................................ 93 Anexo A Interfaces do utilizador............................................................................................................. 99 Anexo B Exemplos do uso da API ......................................................................................................... 109



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Lista de Figuras

Figura 1: Interface Web incluída na distribuição do Greenstone. ............................................................... 29 Figura 2: Exemplo de implementação do Islandora. .................................................................................. 31 Figura 3: Partilha de imagens através do BuddyPress. ............................................................................... 33 Figura 4: Visualização de um trabalho académico criada no Mahara. ....................................................... 35 Figura 5: Estrutura do conteúdo em ‘rizoma’. ............................................................................................ 44 Figura 6: Relação entre objectos sociais. .................................................................................................... 46 Figura 7: Objecto composto por múltiplos artefactos. ................................................................................ 47 Figura 8: Relação entre as tecnologias de servidor utilizadas. ................................................................... 53 Figura 9: Inconsistências na interpretação de CSS entre diferentes navegadores. ...................................... 55 Figura 10: Página inicial do protótipo. ....................................................................................................... 57 Figura 11: Esquema simplificado da execução do Mille Plateaux. ............................................................ 59 Figura 12: Relações entre as tabelas da base de dados. .............................................................................. 60 Figura 13: Formulário de registo de um novo utilizador. ........................................................................... 65 Figura 14: Perfil de um utilizador............................................................................................................... 67 Figura 15: Porção do esquema da base de dados relativa aos utilizadores. ................................................ 68 Figura 16: Perfil de um grupo..................................................................................................................... 69 Figura 17: Porção do esquema da base de dados relativa aos grupos. ........................................................ 70 Figura 18: Ficha de um projecto, estando seleccionado o painel de consulta de vídeos............................. 71 Figura 19: Porção do esquema da base de dados relativa aos projectos. .................................................... 73 Figura 20: Lista de projectos associados a um grupo. ................................................................................ 76 Figura 21: Interface de pesquisa. ................................................................................................................ 78 Figura 22: Página inicial do protótipo. ....................................................................................................... 99 Figura 23: Formulário de início de sessão. ............................................................................................... 100 Figura 24: Utilizador com sessão iniciada. ............................................................................................... 100


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Figura 25: Formulário de registo de um novo utilizador. ......................................................................... 100 Figura 26: Lista de utilizadores. ............................................................................................................... 101 Figura 27: Lista de grupos. ....................................................................................................................... 101 Figura 28: Ficha de um utilizador. ........................................................................................................... 102 Figura 29: Edição do perfil de utilizador. ................................................................................................. 102 Figura 30: Ficha de um grupo. ................................................................................................................. 103 Figura 31: Atribuição de permissões de gestão de grupos........................................................................ 104 Figura 32: Ficha de um projecto............................................................................................................... 105 Figura 33: Formulário de criação de um projecto. ................................................................................... 106 Figura 34: Formulário de criação de artefacto.......................................................................................... 106 Figura 35: Ficha de um projecto, estando seleccionado o painel de consulta de imagens. ...................... 107 Figura 36: Ficha de um projecto – maximização da imagem seleccionada. ............................................. 107 Figura 37: Acesso ao script de geração de RSS através do Google Reader. ............................................ 115


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Lista de Tabelas

Tabela 1: Os sistemas de gestão de conteúdos em análise. ......................................................................... 27 Tabela 2: Capacidades nominais dos sistemas de gestão de conteúdos. ..................................................... 37 Tabela 3: Avaliação qualitativa dos sistemas de gestão de conteúdos........................................................ 38 Tabela 4: Tabelas SQL da plataforma Mille Plateaux. ............................................................................... 61 Tabela 5: Elementos base da norma Dublin Core ....................................................................................... 62 Tabela 6: Principais endereços Web do Cenário. ....................................................................................... 64 Tabela 7: Atributos da tabela de definição de utilizadores. ........................................................................ 68 Tabela 8: Atributos da tabela de definição de grupos. ................................................................................ 70 Tabela 9: Atributos da tabela de definição de projectos. ............................................................................ 72 Tabela 10: Atributos da tabela de definição de artefactos multimédia. ...................................................... 73 Tabela 11: Tipos de artefactos multimédia. ................................................................................................ 74 Tabela 12: Atributos pesquisados na versão actual do Mille Plateaux. ...................................................... 79 Tabela 13: Métodos da API do Mille Plateaux. .......................................................................................... 80 Tabela 14: Variáveis GET suportadas pelas instruções de listagem da API. .............................................. 81



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Lista de Abreviaturas

AJAX

Asynchronous JavaScript and XML

API

Application Programming Interface

CMS

Content Management System

CSS

Cascading Style Sheet

DC

Dublin Core

HTML

HyperText Markup Language

HTTP

HyperText Transfer Protocol

JSON

JavaScript Object Notation

PHP

PHP Hypertext Preprocessor (abreviatura recursiva)

RDBMS

Relational DataBase Management System

RDFa

Resource Description Framework – in attributes

REST

Representational State Transfer

RSS

Really Simple Syndication

SQL

Structured Query Language

URI

Uniform Resource Identifier

UI

User Interface

XFN

XHTML Friends Network

XHTML

Extensible Hypertext Markup Language

XML

Extensible Markup Language

WYSIWYG

“What You See Is What You Get”



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Capítulo 1

Introdução

É uma situação paradoxal que em 2010 a maioria dos trabalhos de natureza criativa desenvolvidos no contexto académico seja frequentemente inacessível aos professores e aos colegas dos respectivos criadores. Postas de parte as obrigatórias apresentações em contexto de aula, que podem permitir um vislumbre aos colegas de turma, ou a selecção de uma mão-cheia de trabalhos para mostras, festivais, ou eventual publicação, verifica-se que a maioria das obras produzidas fica esquecida após o momento da avaliação. Algumas perdem-se em espaços físicos de arrumação; outras, mesmo que porventura disponibilizadas na Internet por intermédio de sites como o YouTube, o Flickr, o DeviantArt, ou quem sabe no blogue do respectivo criador, perdem-se no ciberespaço, desagregadas do contexto da sua produção. A maioria das instituições de ensino de vocação criativa possui de facto espaços na Internet dedicados à divulgação dos trabalhos dos estudantes, contudo, estes inscrevem-se demasiadas vezes numa lógica de pequenos showcases incompletos [Figueiredo, 2010]. Falta uma abordagem sistemática relativamente à divulgação da produção académica de âmbito criativo, facto este tanto mais grave quanto uma nova geração, actualmente a ingressar no Ensino Superior, já cresceu com as redes sociais e os serviços de partilha na Web. O objectivo principal do projecto Cenário é o preenchimento desta lacuna, através do desenvolvimento do que denominamos um depósito de matéria criativa: uma plataforma integrada que permita a alunos, professores, eventuais empregadores e outros interessados um acesso fácil à produção criativa de estudantes e instituições.


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1.1 Motivação “Colaborar na concepção e desenvolvimento de uma plataforma que possibilite a partilha de trabalhos académicos de âmbito criativo de um modo em linha com o que é possível na Web contemporânea.” Foi este o desafio proposto pela minha colega no Mestrado em Multimédia, Mariana Figueiredo, e que prontamente aceitei. Enquanto docente numa escola artística – a Escola Superior Artística do Porto (ESAP), compreendo bem a necessidade de tal plataforma. Os alunos que iniciam um novo ano lectivo desconhecem frequentemente o trabalho desenvolvido pelos colegas no ano anterior. A inexistência de métodos acessíveis para consultar este trabalho leva a que o desenvolvimento académico de cada turma se desenrole de forma algo hermética: frequentemente dissociado do que é desenvolvido nas outras turmas e unidades curriculares, o trabalho ignora o que é feito nos outros cursos e nas outras escolas. Isto acontece numa época em que a interdisciplinaridade é um importante requisito da prática artística e uma palavra-chave na vida académica. A título de exemplo, muitos dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do curso de Cinema e Audiovisual da ESAP são entregues em suportes físicos como cassettes ou DVDs, que são arquivados com deficiente catalogação em espaços sem condições para a sua preservação. Exceptuando mostras pontuais e uma pequena compilação anual dos melhores trabalhos finais, torna-se difícil visionar muita da produção deste curso. Dependendo de algum voluntarismo por parte dos criadores, alguns destes trabalhos podem ser partilhados através de serviços como o YouTube. Não é garantida contudo uma forma fácil e coerente de aceder, por exemplo, à produção de um determinado ano ou de um determinado aluno. Verifica-se que é um trabalho árduo a percepção das redes de colaboração que se consolidam entre os alunos do curso ou, por exemplo, quando os alunos de Cinema e Audiovisual são auxiliados por alunos de Teatro. Noutro caso específico, o da Universidade do Porto, este género de dificuldades no acesso à produção criativa vem prejudicar o desenvolvimento de trabalho interdisciplinar, já de si complicado por factores como a distribuição territorial da Universidade: The University of Porto is a large traditional university with different schools operating in traditional areas in a rather autonomous way. They are placed in different parts of town and, this geographical displacement in addition to the considerable difference in the cultures of the academic communities that each one of them has generated (and this diversity is a plus point) makes it difficult to achieve the creative multidisciplinary environment that will lead to the preparation of the new builders of the digital age. [Pimenta Alves, 2008]

Como foi referido anteriormente, a plataforma online a que se chamou Cenário tem como objectivo colmatar as lacunas que encontrámos no acesso à produção criativa das instituições de


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ensino, sendo a Academia do Porto o âmbito inicial de intervenção. Pretende-se que, enquanto plataforma transdisciplinar, esta possa desempenhar um papel de relevo na divulgação da obra de estudantes e instituições. A nível pessoal, espero contribuir, através da minha participação neste projecto, para que a geografia não dite o destino no que diz respeito ao desenvolvimento de redes de colaboração interdisciplinar.

1.2 Objectivos The hardest part of creating a social application happens before any code is written. Understanding human behaviour and creating something that fits in and perhaps changes current behaviour is a tough nut to crack. [Bell, 2009]

Um dos principais objectivos desta dissertação é a especificação e desenvolvimento do protótipo do sistema de gestão de conteúdos que suportará a plataforma Cenário. Contudo, esta dissertação visa de igual forma reflectir sobre o modo como a arquitectura das plataformas sociais condiciona o comportamento dos seus utilizadores e, consequentemente, o sucesso da própria plataforma. A minha colega na concepção do Cenário, Mariana Figueiredo, definiu da seguinte forma os objectivos do Cenário [Figueiredo, 2010]: […] Espera-se a implementação futura de uma plataforma que: i.

Pela partilha de conhecimento, permita o aumento de criatividade;

ii.

Pela divulgação da produção académica, permita percepcionar tendências;

iii.

Por tornar explícitas as relações existentes entre os vários elementos da comunidade académica, permita a criação de novas redes.

Esta dissertação pretende dar um contributo acrescido para a concepção de uma plataforma com maiores probabilidades de adopção que os sistemas existentes, e possa desempenhar igualmente uma função de aproximação dos vários actores da vida académica ao resto da sociedade. Subscrevendo os objectivos enunciados pela minha colega, encetei uma investigação complementar à sua própria dissertação. Foram procuradas respostas para um conjunto de questões antes de se empreender a implementação de um protótipo: i.

Que expectativas terão os alunos que cresceram com a denominada ‘Web 2.0’ e que actualmente ingressam ou se preparam para ingressar no Ensino Superior, relativamente ao acesso a estas obras?


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ii.

De que formas é actualmente facilitado o acesso via Internet a obras de carácter criativo produzidas em ambiente académico?

iii.

Existem plataformas de partilha em software livre cuja adopção possa trazer um salto qualitativo na acessibilidade às obras?

iv.

Que atributos deverá ter uma plataforma online que vise o acesso às obras de um modo que satisfaça tanto as expectativas dos alunos como os objectivos das instituições?

A resposta a este conjunto de questões foi uma etapa crucial da concepção e desenvolvimento de um sistema de gestão de conteúdos (vulgo CMS – Content Management System) concebido à medida dos objectivos e requisitos apurados em ambas as dissertações. Tal concepção à medida não implica contudo que a elasticidade do sistema deixe de ser um requisito. Apesar da idealização do Cenário como depósito da matéria criativa produzida pela Academia do Porto, foi de igual forma prioritária uma concepção do sistema de gestão de conteúdos que permita a sua implementação noutros locais e, porventura, noutros contextos.

1.3 Estrutura da Dissertação A presente dissertação encontra-se organizada em seis capítulos. Neste primeiro traçaram-se os principais objectivos do projecto Cenário; tendo sido igualmente abordada a minha motivação pessoal para a participação no mesmo. No segundo capítulo – Participação e Envolvimento na Web Contemporânea – serão descritas as tendências de evolução da Web na última década e o modo como estas tendências se traduzem, para uma nova geração que está neste momento a iniciar a vida académica, num conjunto de expectativas acerca do acesso aos conteúdos de natureza criativa produzidos neste contexto. Tendo em conta estas expectativas, no terceiro capítulo – Modelos e Plataformas de Partilha de Conteúdos – serão analisadas algumas das arquitecturas de partilha e participação actualmente em uso no contexto académico. Será feito um levantamento das capacidades de algumas plataformas de software de código aberto, com o intuito de avaliar possíveis mais-valias relativamente ao cumprimento dos objectivos traçados para o projecto. No quarto capítulo – Os Princípios de um Depósito de Matéria Criativa – serão discutidos os vários princípios que orientaram o desenvolvimento de uma plataforma conteúdos em linha com as realidades de utilização anteriormente descritas.


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No quinto capítulo – Desenvolvimento de um Sistema de Gestão de Conteúdos – será relatado o desenvolvimento do Mille Plateaux, um sistema de gestão de conteúdos destinado à implementação do protótipo da plataforma Cenário. Apresentar-se-ão as tecnologias utilizadas e será descrita, com base no capítulo anterior, a implementação técnica dos princípios de funcionamento da plataforma. O sexto capítulo trará uma conclusão a esta dissertação. Serão feitas considerações acerca dos progressos do projecto Cenário até ao momento presente, sendo também levada a cabo uma reflexão sobre as lacunas ainda existentes no protótipo. Serão, por fim, apontados caminhos para investigação e desenvolvimento futuro.



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Capítulo 2

Participação e Envolvimento na Web Contemporânea

No ano lectivo 2008-2009, de acordo com os números oficiais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, existiam 373 mil inscritos no Ensino Superior em Portugal (incluindo o ensino público e privado, tanto Universitário como Politécnico), trinta e dois mil dos quais em cursos descritos como de Artes e Humanidades – o universo de utilizadores potenciais do Cenário [GPEARI, 2009]. Nesse mesmo ano lectivo inscreveram-se pela primeira vez no Ensino Superior oitenta e dois mil estudantes, oito mil dos quais em cursos de Artes e Humanidades. Segundo é relatado pela comunicação social, o número de inscritos num novo curso superior deverá aumentar no ano lectivo que se avizinha. Uma parte significativa destes alunos recém-chegados à vida académica já terá uma considerável experiência na utilização na Internet. Em 2005, quando muitos dos que irão ingressar no Ensino Superior este ano entravam na adolescência, cerca de 32% dos agregados familiares portugueses tinham acesso à Internet (tendo 20% dos agregados acesso de banda larga). Em 2007, altura em que os caloiros de 2010 iniciavam o Ensino Secundário, já são 40% os agregados familiares com acesso à Internet (30% em banda larga) [UMIC, 2010]. Mas mais significativo, e uma vez que são bastante apreciáveis as diferenças relativamente à adopção de Tecnologias de Informação nos agregados familiares onde existem estudantes, é o facto de que em 2008, segundo números do Observatório da Comunicação, 97% dos estudantes portugueses utilizavam regularmente a Internet [OberCom, 2009]. Será importante definir que Internet é esta. Durante os últimos anos, as formas de acesso e utilização da Internet mudaram radicalmente. Os números mencionados demonstram que em


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meados da década anterior se registou um crescimento explosivo da conectividade em banda larga dos lares portugueses. O acesso telefónico analógico, que além de lento era pago por tempo de utilização e obrigava a uma utilização frugal e planeada da Internet, deu lugar à ligação permanente à Internet através das tecnologias cabo e ADSL. A comercialização da banda larga móvel e a multiplicação de pontos de acesso a redes sem fios levou, em conjunto com a maior acessibilidade dos computadores portáteis, a uma ubiquidade de acesso à Internet. A Web mudou de acordo com esta tendência de universalização e constância do acesso: Over the past decade, the Web has become an increasingly social place. Social activity has moved beyond message boards to become a wider part of the Internet. Most people have heard of Facebook, MySpace, and Twitter; indeed, many people now have a profile on a social network. [...] What is different in this new world? People will come to you with a prior existence; they are on the Web already. [Bell, 2009]

Pelo menos metade dos utilizadores da Internet portugueses tem um perfil em pelo menos uma rede social online. No início de 2009, 47% dos internautas portugueses tinham perfil no Hi5, e metade dos jovens entre 15 e 18 anos acediam diariamente às redes sociais. A produção e a partilha de conteúdos na Web também se vulgarizaram: 43,1% dos internautas portugueses já tinham, nesta mesma altura, partilhado fotografias na Web, e 40,9% já tinham feito upload de vídeos [OberCom, 2009]. A Web evolui rapidamente e, tendo em conta o crescimento explosivo da utilização do Facebook no período que entretanto decorreu, amplamente divulgado na comunicação social, o número de jovens portugueses que hoje acedem regularmente às redes sociais deverá ser bastante superior. O progresso da última década leva a que os estudantes que hoje ingressam no Ensino Superior tenham um conjunto de expectativas e pressupostos relativamente à disponibilização de conteúdos por parte das instituições académicas. No caso de instituições e cursos do ensino artístico ou com uma grande componente criativa, os modelos de partilha de conteúdos a que as instituições recorrem (abordados em maior detalhe no capítulo 3) revelam-se pouco satisfatórios aos olhos de quem cresceu com as redes sociais e outros serviços Web como o YouTube ou o Flickr. Já em 2000, o modo como se efectuava a partilha de conteúdos académicos, através das bibliotecas digitais das instituições, era alvo de críticas relativamente à forma como a sua implementação negligenciava as necessidades e práticas dos seus utilizadores: How can new media positively transform scholarly practices? One possible way is for scholarly archives such as e-journals and digital libraries to better support the needs and practices of their users, instead of the publishing process. [Sumner, 2000]

Dez anos depois, esta última afirmação é talvez ainda mais relevante. Será indubitavelmente necessário entender as necessidades, as práticas, e inclusivamente os hábitos dos utilizadores,


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quando falamos do acesso a conteúdos académicos de natureza criativa. Neste capítulo será descrita a nova geração de estudantes que ingressarão no Ensino Superior a curto prazo – a geração dos chamados Nativos Digitais –, que carrega um conjunto de práticas e expectativas relativamente ao uso da Web. Abordar-se-á o potencial, ainda largamente por explorar, para a participação activa e o envolvimento nos serviços Web, gerado pela transição para os novos media. Será discutido também o modo como o crescimento destes serviços se integra numa profunda mudança de paradigma relativamente à forma como concebemos as Tecnologias de Informação – a transição para a cloud computing. Por fim serão ainda abordadas as limitações de redes sociais e demais serviços Web de cariz generalista e a forma como a partilha de conteúdos de natureza académica poderá, ao transpor para um serviço Web a ‘rede social’ existente na realidade académica, influenciar decisivamente esta mesma realidade.

2.1 A Nova Geração de Utilizadores Segundo números relativos a 2009, 91% dos jovens portugueses entre os 15 e os 18 anos são utilizadores regulares da Internet [OberCom, 2009]. O número será com certeza mais elevado – uma virtual totalidade – entre os estudantes do Ensino Secundário que se preparam para entrar no Ensino Superior. No entanto, um outro estudo do Observatório da Comunicação centrado apenas no uso da Internet pelos jovens entre os 10 e os 15 anos diz-nos que já em 2008, 95% destes eram utilizadores da Internet, e 59,7% destes jovens acediam à Internet na sua própria casa [OberCom, 2010]. Estes números retratam um índice de utilização da Internet superior entre os utilizadores mais jovens (com idades entre os 10 e os 15 anos). Será possível inferir uma tendência crescente relativamente ao nível de literacia em Tecnologias de Informação dos estudantes que ingressam no Ensino Superior, cada vez com mais anos de experiência na utilização da Internet. O estudo sobre Nativos Digitais do Observatório da Comunicação revela que 10,2% dos jovens com acesso à Internet entre os 10 e os 15 anos mantêm o seu próprio blogue, 22,5% participam regularmente em fóruns de discussão, e 20,4% afirmam partilhar na Web conteúdos produzidos por si [OberCom, 2010]. Estes jovens chegarão ao primeiro ano das respectivas licenciaturas ou mestrados integrados com uma sólida base de conhecimento, muito frequentemente adquirido de forma empírica, relativamente à utilização dos media digitais e dos serviços Web [Ito et al, 2009].


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Subjacente à criação e partilha de conteúdos na Web por parte dos jovens prosumers, * está a utilização dos media digitais como facilitadores da interacção social com os pares [Goldman et al, 2008]. A Internet não se limita a permitir aos jovens com vocação criativa o acesso a informação e serviços. Frequentemente será na Web que irão encontrar um contexto social que lhes facilita e incentiva a exploração, o desenvolvimento e a expressão dos seus interesses [Ito et al, 2009]. Frédéric Filloux e Jean-Louis Gassée atribuem aos Nativos Digitais uma perspectiva lúdica na sua interacção com as Tecnologias de Informação [Filloux & Gassée, 2010]. Caracterizam-nos como uma geração de jovens impacientes, empreendedores e desconfiados relativamente a estruturas hierarquizadas: os autores referem que os jovens utilizadores da Internet preferem obter informação a partir de esforços colectivos e abertos a todos como a Wikipedia. Os Nativos Digitais, providos de uma forte consciência de grupo, vêm o escrutínio da informação como um processo colectivo. Serão assim uma geração à imagem do conceito de ‘multidão inteligente’ [Tapscott & Williams, 2006]. Através desta descrição é possível inferir características que o Cenário poderá incluir de forma a ser uma plataforma mais apelativa para os seus utilizadores. A plataforma deverá ser facilitadora da interacção social entre utilizadores, integrando capacidades que visem a evidenciação das redes sociais existentes no meio académico. A impaciência atribuída aos utilizadores implica que a interface de utilização deverá ser de apreensão imediata. E tendo em conta a abordagem dos Nativos Digitais relativamente à fiabilidade da informação, a iniciativa de inserção de conteúdos poderá, embora com supervisão, ser entregue aos estudantes.

2.2 Motivação e Excedente Cognitivo Existe um reverso inerente aos números apresentados pelo Observatório da Comunicação acerca dos Nativos Digitais [OberCom, 2010]: verifica-se que 89,8% dos jovens entre os 10 e os 15 anos utilizadores da Internet não escrevem num blogue, 77,5% não participam em fóruns de discussão, e 79,6% não partilham conteúdos na Web. Estes são números em conformidade com a Lei de Pareto, que prevê que 80% do esforço de participação num determinado contexto – neste caso a Web – seja feito por apenas 20% dos utilizadores [Bell, 2009]. Muitos estudantes chegarão ao Ensino Superior sem um historial significativo de participação e envolvimento na Web. Será possível afirmar que os jovens ‘prosumidores’ são uma minoria, embora

*

Termo criado por Alvin Toffler que ilustra o esbatimento entre produtor e consumidor.


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significativa, mesmo nas sociedades mais avançadas. Geert Lovink observa que “o utilizador comum é um observador passivo” e o “envolvimento é o estado de excepção” [Lovink, 2008]. * Não descartando a observação de Geert Lovink, será contudo possível supor que os estudantes que ingressam em cursos superiores de áreas artísticas estarão acima da média no que diz respeito à partilha de conteúdos na Web. Presumivelmente, estes estudantes terão revelado a sua vocação criativa anteriormente, e ter-se-ão sentido mais motivados a partilhar do que os seus colegas sem vocação artística. Segundo Daniel Pink, para além das motivações extrínsecas para a participação (como necessidade de afirmação dentro de um grupo), existem motivações intrínsecas que será necessário ter em conta. Estas motivações intrínsecas estão, afinal, na génese do impulso criativo: We have a biological drive. [...] We also have a second drive - we respond to rewards and punishments in our environment. But what we've forgotten - and what the science shows is that we also have a third drive. We do things because they're interesting, because they're engaging, because they're the right things to do, because they contribute to the world. [...] We think the only reason people do productive things is to snag a carrot or avoid a stick. But that's just not true. Our third drive - our intrinsic motivation - can be even more powerful. [Pink & Shirky, 2010]

No mesmo artigo, Clay Shirky fala do que denomina de excedente cognitivo: o tempo livre, anteriormente esbanjado em frente à televisão, que a população dos países desenvolvidos tem para a participação nos novos media. Shirky refere, a título de exemplo, que o tempo dispendido até hoje na construção da Wikipedia, estimado em cem milhões de horas, é apenas uma fracção minúscula dos duzentos mil milhões de horas de televisão vistas anualmente nos Estados Unidos. Contrariando a opinião de Geert Lovink, Clay Shirky e Daniel Pink subscrevem que os seres humanos são activos e participativos por natureza. Caberá de facto às instituições a tarefa de tirar partido do potencial latente nesse “tremendo recurso – o excedente cognitivo de milhões – coordenado através de redes” [Pink & Shirky, 2010]. † Os números referidos demonstram que inúmeras vezes o envolvimento será, de facto, o “estado de excepção”. Para tirar partido do potencial latente no excedente cognitivo e mobilizar uma ‘multidão inteligente’ de estudantes, será determinante a arquitectura que configura a participação dos utilizadores. Será um enorme desafio para o Cenário garantir uma concepção que permita uma catalogação significativa de projectos académicos de carácter artístico e criativo, evitando tanto quanto possível o recurso a uma hierarquia. Os alunos de cursos com

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“The default user is the lurker. Engagement is the state of exception [...]” [Lovink, 2008]

“[…] a tremendous resource – the cognitive surplus of millions – being coordinated using networks.” [Pink & Shirky, 2010]


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

fortes componentes criativas são muitas vezes incentivados a elaborar trabalhos de acordo com as suas próprias motivações e interesses. Reiteramos que deverá ser esta motivação intrínseca dos estudantes, mais do que uma burocracia, a presidir à partilha destes trabalhos na Web.

2.3 O Impacto dos Novos Paradigmas As infra-estruturas de banda larga implementadas durante a última década abriram a porta à prestação de serviços de computação, facilitando aos utilizadores o acesso a um poder de processamento ordens de magnitude para lá do possível no paradigma da computação pessoal [Carr, 2009]. Um acto trivial como uma pesquisa na Web através do motor de pesquisa Google envolverá a acção concertada de toda uma infra-estrutura distribuída pelo globo, que processará em fracções de segundo uma quantidade de informação inimaginável num computador pessoal. A Amazon rentabilizou o seu investimento em meios tecnológicos através da prestação de serviços de processamento e distribuição de conteúdo. Qualquer pequeno empreendedor pode alugar uma quantidade antes inimaginável de hardware na denominada Cloud (na realidade uma sólida infra-estrutura de redes de banda larga e grandes centros com milhares de servidores), pagando apenas os ciclos de processamento e a largura de banda consumida. Evitando-se a necessidade de grandes investimentos prévios em hardware, tornaram-se viáveis muitos dos serviços da chamada ‘Web 2.0’. Julgando que será demasiado optimista a promoção do novo paradigma da Cloud, Geert Lovink cita algumas objecções anteriores de Nicholas Carr [Lovink, 2008]: Net critic Nicholas Carr asks if there is a counter-argument to be made to the Web 2.0 hype. “All the things Web 2.0 represents - participation, collectivism, virtual communities, amateurism - become unarguably good things, things to be nurtured and applauded, emblems of progress toward a more enlightened state. But is it really so?” [Carr, 2005] Web 2.0 promoters, says Carr, “venerate the amateur and distrust the professional. We see it in their praise of Wikipedia, and we see it in their worship of open-source software and their promotion of blogging as an alternative to 'mainstream media'.”

Nicholas Carr equaciona a promoção da ‘Web 2.0’ com razões de natureza económica. Além das reservas de âmbito cultural que manifesta relativamente ao novo paradigma, Carr observa que a transição implicará a obsolescência de uma grande parte dos empregos em Tecnologias de Informação, cujas responsabilidades passarão a ser asseguradas por uma pequena quantidade de


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prestadores de serviços. Nicholas Carr prevê um impacto no sector terciário da economia equivalente ao da automação industrial e a robótica no sector secundário [Carr, 2009]. Embora não se pronuncie sobre o impacto económico, o filósofo Hubert L. Dreyfus partilha o pessimismo cultural de Nicholas Carr. Ambos os autores referem que os serviços Web e as comunidades virtuais estimulam uma cultura superficial, * uma vez que o acesso a uma enorme quantidade de informação não implica uma assimilação com qualidade [Dreyfus, 2009; Carr, 2009]. Apesar dos méritos destas visões críticas, serão muito influenciadas pelo pensamento de Marshall McLuhan que equaciona a introdução de novos media com a génese de crises sociais [McLuhan, 1964]. Dreyfus e Carr enfatizam aquilo que é desmantelado pelos novos paradigmas, ignorando as oportunidades para a reconstrução social e revitalização das comunidades locais [Tapscott & Williams, 2006; Anderson 2007]. Julga-se que argumentação culturalmente pessimista dos críticos relativamente ao uso dos serviços Web ignora por vezes o contexto mediático anterior, com a falta de participação e o centralismo inerentes aos mass media tradicionais [Pink & Shirky, 2010]. Desta forma, tal argumentação ignora o potencial ainda por aproveitar latente no ‘excedente cognitivo’ referido por Clay Shirky. É necessário reconhecer as capacidades evidentes das Tecnologias de Informação enquanto auxiliares à gestão do conhecimento: The new media have caught on for a reason. Knowledge is increasing exponentially; human brainpower and waking hours are not. Fortunately, the Internet and information technologies are helping us manage, search and retrieve our collective intellectual output at different scales, from Twitter and previews to e-books and online encyclopedias. Far from making us stupid, these technologies are the only things that will keep us smart. [Pinker, 2010]

As observações críticas demonstram a importância crucial da selecção e gestão da informação relevante. Hubert L. Dreyfus concede a este respeito diversos méritos à Wikipedia [Dreyfus, 2009], evidenciando a utilidade do seu modelo particular de gestão de conhecimento – as wikis –, e salientando assim a importância da arquitectura de participação dos serviços Web. Estará de facto em curso um processo gradual de substituição do computador pessoal por terminais, ou ‘thin clients’ (julgamos possível citar o Apple iPad como exemplo) que dispensam grande armazenamento e processamento locais, em virtude da execução das aplicações ocorrer na denominada Cloud [Carr, 2009]. Alguns autores referem inclusivamente que tal modelo poderá conduzir à perda de relevância da própria Web [Anderson & Wolff, 2010]. A concepção do Cenário deverá ser sensível à evolução da Internet. Consciente do potencial de influência dos

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“[...] a culture many miles wide, inches deep.” [Carr, 2009]


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

serviços Web e das aplicações em rede, a plataforma deverá ser dotado de uma arquitectura de participação e gestão do conhecimento que lhe permita exercer uma influência construtiva sobre a realidade presente.

2.4 A Web em Simbiose com a Realidade Nas secções anteriores delinearam-se os hábitos e as expectativas de uma nova geração de utilizadores relativamente ao uso da Web; discutiram-se as motivações e o potencial latente para a participação na mesma; abordaram-se as possíveis oportunidades e consequências resultantes do actual momento de transição tecnológica. Todos estes factores, concluiu-se, influenciarão decisivamente a concepção de um serviço Web como o Cenário. A arquitectura da plataforma deverá, como foi discutido, respeitar os hábitos, as expectativas e as motivações dos utilizadores. Será contudo necessário ter em consideração a natureza bidireccional das arquitecturas de participação. Da mesma forma que os diferentes meios de comunicação têm o poder de modificar a sociedade, não pelo seu conteúdo mas através de uma “alteração irresistível” dos nossos “padrões de percepção” [McLuhan, 1964], * também a arquitectura das nossas experiências na Web terá um impacto na construção da nossa identidade [Lovink, 2008]. Na opinião de Chris Anderson, uma rede social online que aspire a alguma forma de consequência não deverá ser um fim em si mesmo [Anderson, 2007]. † A ‘rede social’ deverá ser uma característica adicional de um serviço focalizado em torno de um nicho de interesse. Mesmo o Facebook, tida como uma rede social generalista, tem como ponto de interesse inicial a captura de uma rede de amizades pré-existente. O alargamento da rede é possibilitado através de uma arquitectura que favorece a sua exploração, e através do acesso a grupos representativos de afinidades focalizados. O Cenário pretende evidenciar na Web as redes sociais pré-existentes num contexto académico específico. Para tal, a sua concepção deverá aderir a um conjunto de princípios, descritos no capítulo 4, que visam a exploração das relações existentes entre os conteúdos colocados na plataforma. Espera-se que tal concepção contribua para a criação de novas redes de colaboração entre estudantes e entre instituições.

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“The effects of technology do not occur at the level of opinions or concepts, but alter sense ratios or patterns of perception steadily and without any resistance.” [McLuhan, 1964]

“Social Networking is a feature, not a destination.” [Anderson, 2007]


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The lack of avenues for effective public involvement has tended to shut down imagination as an agent of change. […] What is at stake is the flourishing of an affective sense of place born out of multiple contributions, the creation and enhancement of narratives and symbolic systems associated with tangible territories. […] In a social landscape such as the Portuguese one, traditionally reliant on higher structures, this paradigm shift may have an impact beyond anything we can imagine. But this shift will only bear fruit once the individual realizes that, for better or for worse, it no longer makes sense to blame it all on a higher power, that a paradigm shift can only be enacted by her own contribution. [Alvelos, 2008]

O objectivo final do Cenário será o incentivo, ainda durante a fase de formação académica, à adopção de novos hábitos de participação e envolvimento público por parte dos diversos membros das comunidades artísticas e criativas portuguesas. Tal só será possível através de um modelo de partilha e participação que atribua um papel central à contribuição e ao envolvimento dos próprios criadores.



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Capítulo 3

Modelos e Plataformas de Partilha de Conteúdos

No anterior capítulo foi abordada a profunda transformação no relacionamento entre a Web e os seus utilizadores ocorrida durante os últimos anos. A universalização do acesso em banda larga e a transição para um modelo de computação em rede resultaram em novos hábitos de socialização em que os serviços Web desempenham um papel central. A década anterior ficou marcada por uma aparentemente infindável sucessão de lançamentos neste campo, cada novo serviço trazendo um contributo adicional quando comparado com a novidade que o precedeu, desde redes sociais – Friendster, Hi5, MySpace, Facebook, Foursquare – a serviços de blogging – Blogger, Livejournal, WordPress.com, Tumblr –, passando por serviços de partilha de criações visuais, fotografias e vídeos – Fotolog, DeviantArt, Flickr, YouTube, Vimeo. As empresas e instituições mais sensíveis à evolução tecnológica passaram a garantir uma presença nos serviços Web. Admitindo implicitamente que os seus sites já não são uma presença suficiente na Web, as organizações aderiram ao Facebook, criaram os seus canais no YouTube, lançaram comunicados no Twitter. Sem um momento de estabilização no horizonte, a feroz competitividade do actual modelo económico dita que a constante procura de uma presença nos mais recentes fenómenos da Internet se torne numa tarefa a tempo inteiro. Geert Lovink terá razões para comparar o lançamento sucessivo de novos serviços Web com a bolha especulativa em torno do comércio electrónico do final do século XX [Lovink, 2008]: There is no doubt that technology such as the Internet lives on the principle of permanent change. There is no normalization in sight. The “tyranny of the new” rules, and it is this echo of the dot-com era that makes Web 2.0 look so tired right out of the gate.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Esta instabilidade inerente à Web contemporânea, que Geert Lovink justamente apelida de ‘tirania do novo’, estará porventura na génese de uma atitude mais retraída, por parte das instituições académicas, relativamente à adopção de práticas sociais de partilha de conteúdos na Web. Como veremos, muitas dessas instituições criaram de facto presenças nos principais fóruns da Web social – o Facebook, o YouTube ou o Flickr. São contudo, na maioria dos casos, presenças focadas na comunicação institucional e que estão longe de disponibilizar ou catalogar uma boa medida dos conteúdos produzidos por essas instituições. Num contexto organizativo em que os repositórios e showcases estão frequentemente sob a alçada das bibliotecas das instituições, nota-se de igual forma uma atitude conservadora ao nível das ferramentas de partilha na Web adoptadas mais frequentemente. Existe uma preponderância particular do uso de sistemas de gestão de Bibliotecas Digitais, que se verificam pouco orientados para a realidade da Web 2.0. Uma migração constante para novos sistemas, ao sabor das últimas novidades, não é prática. No caso das instituições académicas de vocação criativa, o trabalho acrescido que a partilha implica – desde a digitalização de obras de artes plásticas à fotografia de maquetes, passando pela conversão de formatos de vídeo – leva a que, na melhor das hipóteses, as instituições façam uma selecção muito restrita, representando numa showcase excertos de uma mão-cheia de trabalhos. A partilha na Web dos conteúdos produzidos fica, na maioria dos casos, dependente do eventual esforço de alguns alunos mais afoitos, que todavia o farão de uma forma habitualmente desenquadrada com o contexto da sua produção. Os trabalhos curriculares ficam fora de catálogo, perdidos no DeviantArt, no YouTube ou num endereço Blogspot.com: [Os conteúdos] estão distribuídos entre várias plataformas sem mecanismos que forneçam uma visão integradora. Outro problema comum está relacionado com a inexistência de mecanismos eficazes de catalogação, o que, dada a velocidade a que os conteúdos são produzidos, representa uma limitação importante na real disponibilização dos mesmos. [Figueiredo, 2010]

Neste capítulo serão descritos alguns dos modelos de partilha de conteúdos adoptados ou adoptáveis pelas instituições de Ensino Superior, sendo debatido até que ponto permitem aos estudantes uma partilha coerente e contextualizada dos seus projectos. Será ainda analisada uma amostra representativa de alguns sistemas de gestão de conteúdos passíveis de adopção para este fim, que serão avaliados relativamente aos princípios que definimos como centrais para a nossa plataforma de partilha de matéria criativa, descritos em maior pormenor no capítulo 4.


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3.1 Modelos de Partilha A partilha de conteúdos criativos no contexto das instituições académicas toma diversas configurações, fruto das diferentes opções disponíveis para a gestão de uma presença na Web. A escolha de uma opção depende de uma série de factores, entre os quais se incluem os recursos informáticos existentes na instituição, o nível de qualificação dos recursos humanos, a complexidade do espólio e o nível de interesse na sua divulgação, assim como a arquitectura organizativa da instituição ou a estratégia de comunicação da mesma. As instituições podem recorrer a serviços Web externos ou optar por uma implementação própria; esta pode consistir apenas num website estático ou num serviço Web assente numa plataforma de software livre, cujo nível de personalização dependerá dos factores mencionados. A opção tomada pode ser a compra de uma licença de um sistema de gestão de conteúdos comercial, ou o desenvolvimento dessa mesma plataforma dentro de portas. Esta presença na Web pode ainda ser intencionalmente regulada para diferentes graus de participação por parte dos diferentes agentes da vida académica. Como se referiu no capítulo 2, a opção por um modelo de partilha e pela arquitectura de participação correspondente tem implicações no grau de envolvimento de alunos e professores com as respectivas instituições, assim como entre si. Muitas das instituições, porventura a maioria, optam pela adopção paralela de diferentes modelos de partilha [Figueiredo, 2010]. Showcases coexistem com o acesso online à biblioteca digital, o blogue de um curso coexiste com a wiki de outro. De acordo com a nossa experiência, cada curso, professor ou turma adopta frequentemente uma modalidade de partilha de acordo com as suas necessidades e preferências. Esta fragmentação acarreta um esforço suplementar considerável para apreender a produção de uma única instituição de ensino. O Cenário pretende, através de uma arquitectura que evidencie as relações entre o trabalho criativo, os estudantes e o contexto institucional, combater esta apreensão fragmentada. Para tal será necessário entender os modelos de partilha de conteúdos de uso frequente no contexto académico, e perceber até que ponto a adopção paralela de múltiplos modelos resulta de insuficiências encontradas em cada um destes. Serão a seguir descritas, em traços gerais, algumas modalidades adoptadas para a partilha dos conteúdos produzidos no contexto académico. Entre estas encontram-se as bibliotecas digitais, os portfolios digitais, as wikis, as showcases institucionais, a cedência de alojamento Web a alunos e professores, assim como o recurso a serviços Web externos.


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3.1.1 Bibliotecas Digitais As dificuldades em encontrar uma definição satisfatória para Biblioteca Digital são amplamente discutidas. Christine Borgman traça um panorama dos muitos entendimentos existentes, optando por citar como sucinta, entre as originárias da comunidade dos investigadores em informação e computação, a definição de Clifford Lynch e Hector Garcia-Molina: “Uma biblioteca digital é um sistema que facilita a uma comunidade de utilizadores o acesso de forma coerente a um grande e organizado repositório de informação e conhecimento”

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[Lynch &

Garcia-Molina, 1995; Borgman, 2003]. Já David Bainbridge e Ian Witten deixam espaço na sua definição para aquilo que denominam de ‘biblioteca virtual’, desprovida de um repositório e onde existem apenas ligações externas para o conteúdo [Bainbridge & Witten, 2002]. Perante a abrangência do termo, não existe sequer um acordo quanto à identificação das funcionalidades que deverão estar associadas a uma Biblioteca Digital [Candela et al, 2007]. Será assim justo mas pouco útil afirmar que diversos modelos de partilha configuram uma ou outra forma de Biblioteca Digital. Para efeitos desta dissertação, iremos adoptar uma postura heurística relativamente à definição do termo, considerando as Bibliotecas Digitais como associadas à implementação de um tipo particular de sistemas de gestão de conteúdos. Entre estes sistemas, apresentados como vocacionados para a gestão de bibliotecas e repositórios digitais, encontram-se diversas plataformas de código aberto, como o DSpace, o Fedora e o Greenstone, que serão posteriormente analisadas em maior pormenor. Tradicionalmente, muitos destes sistemas de gestão de bibliotecas e repositórios digitais foram concebidos por técnicos habitualmente associados ao campo das bibliotecas [Gonçalves et al, 2004]. Muito do esforço de desenvolvimento foi feito no sentido de assegurar uma maior interligação entre diferentes bibliotecas através da adesão a metadados e normas de descrição de conteúdos normalizadas, com vista a permitir a federação das pesquisas. As Bibliotecas Digitais dão assim provimento à necessidade existente nas instituições académicas de uma catalogação útil e rigorosa dos seus objectos digitais, sendo largamente utilizadas como plataformas de acesso aos textos aí produzidos. Normas de metadados, como o Dublin Core (que será descrito em pormenor no capítulo 5), estabelecidas no contexto do desenvolvimento dos sistemas de gestão de conteúdos das Bibliotecas Digitais, foram adoptadas por uma gama mais vasta de serviços Web, como resposta à necessidade generalizada de mecanismos uniformes de descrição de conteúdos.

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No original: “A digital library is a system that provides a community of users with coherent access to a large, organized repository of information and knowledge.” [Lynch & Garcia Molina, 1995]


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É no entanto necessário observar que ao estarem vocacionadas principalmente para o arquivo, preservação e catalogação dos objectos digitais, não se encontram preocupações de cariz ergonómico no desenvolvimento das Bibliotecas Digitais. Os seus sistemas de gestão de conteúdos foram desenvolvidos por técnicos com parcos conhecimentos de design de software e de interfaces [Gonçalves et al, 2004]. Assim, a maioria dos sistemas encontrados em uso no contexto académico tem um acesso via Web pouco atractivo, e apesar da robustez e da complexidade dos seus motores de pesquisa, a navegabilidade é reduzida [Figueiredo, 2010].

3.1.2 Portfolios Digitais Existem, tal como sucede no caso das Bibliotecas Digitais, múltiplas definições para Portfolio Digital ou e-portfolio. Existem sobreposições com os entendimentos mais abrangentes de Biblioteca Digital na definição proposta por George Lorenzo e John Ittelson: An e-portfolio is a digitized collection of artifacts, including demonstrations, resources, and accomplishments that represent an individual, group, community, organization, or institution. This collection can be comprised of text-based, graphic, or multimedia elements archived on a Web site or on other electronic media. [Lorenzo & Ittelson, 2005]

Os e-portfolios distinguem-se pelo seu objectivo principal, que incide na partilha de objectos digitais que comprovem as competências de uma entidade singular ou colectiva. A este respeito, são citadas três grandes categorias de utilização: pelos estudantes, pelos educadores, e pelas instituições [Cunha Silva, 2008]. Lorenzo e Ittelson acrescentam que, além de colecção de artefactos, um Portfolio Digital “pode ser de igual forma uma ferramenta de gestão e organização do trabalho criado com diferentes aplicações” [Lorenzo & Ittelson, 2005]. * Existe uma afinidade entre as capacidades citadas como relativas aos Portfolios Digitais e as capacidades das ferramentas de e-learning. A complementaridade entre os dois tipos de ferramentas é bem exemplificada pelo Mahara, uma plataforma de código aberto de gestão de e-portfolios que cita a interligação com o popular software de e-learning Moodle como um dos seus pontos fortes. Existe um elevado grau de afinidade entre o principal objectivo dos Portfolios Digitais e o principal objectivo da plataforma Cenário: a partilha de trabalhos, sob a forma de objectos digitais, que comprovem as competências de estudantes e instituições. Não se pretende, contudo, que o Cenário esteja dotado de capacidades de gestão e organização de aprendizagem.

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“[An e-portfolio] can also serve as an administrative tool to manage and organize work created with different applications […]” [Lorenzo & Ittelson, 2005]


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No contexto da educação superior em áreas de incidência criativa, a gestão de projectos é feita em muitos casos através do recurso a ferramentas especializadas nas áreas artísticas em questão, como por exemplo o Celtx, * orientado especificamente para projectos dramatúrgicos e audiovisuais. Como será discutido no capítulo 4, a simplicidade de utilização de uma plataforma focada na partilha de projectos concluídos será um requisito importante e deste ponto de vista, um aumento da complexidade não traria qualquer valor acrescentado ao Cenário.

3.1.3 Wikis Será porventura apropriada a procura de uma definição de wiki recorrendo à inteligência colectiva da Wikipedia, onde se lê: “Uma wiki é um site onde é permitida, através do navegador Web e do recurso a uma linguagem de marcação simplificada ou a um editor de texto do tipo WYSIWYG, a fácil criação e edição de um número de páginas interligadas” [Wikipedia, 2010].† Foi na Wikipedia, iniciada em 2001 por Jimmy Wales e Larry Sanger, que as wikis, cuja primeira plataforma foi desenvolvida por Ward Cunningham em 1994, atingiram a sua mais famosa e comprovada implementação. Durante o processo de edição de uma wiki, a colocação de um link para uma página inexistente é o processo pelo qual se cria essa mesma página. As wikis apresentam uma forma elegante de criação, edição e publicação de hipertexto. Todavia, uma vez que a força do conceito wiki reside no facto de que os utilizadores são frequentemente livres de intervir directamente na informação alojada no site, tornam-se importantes as capacidades de supervisão das alterações efectuadas. Na maioria das plataformas de gestão de wikis, como por exemplo a MediaWiki, é automaticamente mantido um registo de todas as alterações. Um administrador pode, a qualquer momento, repor a versão anterior de uma página. Embora se tenha visto anteriormente que uma nova geração de utilizadores confiará mais na inteligência colectiva das wikis do que na informação prestada de forma directa pelas instituições [Filloux & Gassée, 2010], subsistem contudo dúvidas acerca da fiabilidade da informação presente neste tipo de plataformas. No contexto académico as wikis são utilizadas de forma pontual, mas em implementações de pequena escala. Surgem habitualmente no contexto do apoio ao trabalho desenvolvido numa unidade curricular, como site administrado pelo professor, e destinado portanto a um conjunto de utilizadores pequeno e conhecido de antemão. *

www.celtx.com

“A wiki is a website that allows the easy creation and editing of any number of interlinked web pages via a web browser using a simplified markup language or a WYSIWYG text editor.” [Wikipedia, 2010]


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Será necessário reconhecer os pontos fortes de uma hipotética adopção do modelo wiki em grande escala, no contexto da partilha de trabalhos académicos. Neste modelo, é permitido aos utilizadores mais participativos enriquecer a plataforma com conteúdos que não partilhariam num sistema que os limitasse à contribuição para o seu próprio e-portfolio. Tal participação activa em wikis implica, contudo, um processo de aprendizagem, uma vez que será necessário conhecer a linguagem de formatação específica das wikis (embora um número considerável de sistemas já tenha adoptado editores WYSIWYG, que mesmo assim requerem algum domínio). A adopção deste modelo no contexto do Cenário poderia alienar um número considerável de utilizadores com conteúdos para partilhar. A compreensão do modo de participação nas wikis é assim menos imediata do que aquela a que os utilizadores casuais dos serviços Web estão acostumados. Mas é sobretudo necessário considerar que, ao deixar a edição do conteúdo à descrição dos utilizadores, numa wiki a organização semântica e a ergonomia de todas as páginas será da responsabilidade dos participantes. Desta liberdade resulta uma plataforma que não assegura uma experiência de consulta consistente.

3.1.4 Showcases Na procura de cursos superiores de vocação criativa, é possível encontrar diversos sites cujo propósito é o de publicitar uma instituição ou um curso através da apresentação atractiva de elementos representativos dos trabalhos nela desenvolvidos. Uma vez que o objectivo destas showcases é publicitário, raramente encontramos nestes sites mais do que alguns excertos altamente seleccionados de conteúdos produzidos na instituição. No seu panorama da partilha de conteúdos criativos por parte de uma amostra de instituições de Ensino Superior, Mariana Figueiredo encontrou showcases em uso no contexto académico nacional que prestam muito poucas informações acerca dos criadores dos trabalhos ou acerca do contexto do seu desenvolvimento [Figueiredo, 2010]. Mesmo numa mostra que tome a forma de galeria de imagens onde sejam prestadas informações acerca do título e da autoria, raramente se encontra mais do que uma representação parcial dos trabalhos: uma única fotografia representará todo um projecto de arquitectura, todo um trabalho de design de produto, ou todo um trabalho audiovisual. As showcases não deverão ser confundidas com a utilização de e-portfolios em contexto institucional. Inerente a estes últimos está uma preocupação com o registo detalhado do trabalho aí desenvolvido, que simplesmente não existe nas showcases. Com frequentes preocupações de cariz estético, a construção destas não está necessariamente associada à utilização de um CMS.


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Não se pretende que o Cenário seja uma mera galeria de exposições. Dadas as aspirações inter-institucionais do projecto, tal não faria sentido, uma vez que as showcases estão como se referiu fortemente ligadas à publicitação do trabalho produzido em contextos específicos, representando um curso, uma instituição ou até uma turma. O Cenário poderá, no entanto, contribuir para agilizar o processo de criação de showcases por parte das instituições, fornecendo por exemplo uma API pública que permita o desenvolvimento de aplicações Web que acedam aos conteúdos disponibilizados na plataforma.

3.1.5 Cedência de Alojamento Web Diversas instituições de Ensino Superior facultam aos seus estudantes e professores uma quota de espaço num servidor de alojamento Web, com o intuito que este espaço seja utilizado para a criação de sites onde seja divulgado o trabalho desenvolvido nos respectivos cursos. No entanto, é evidente que este tipo de solução requer aos estudantes alguns conhecimentos de design ou desenvolvimento para a Web. Julga-se que a cedência de alojamento num servidor Web fará todo o sentido quando destinada ao desenvolvimento e disponibilização de trabalhos que utilizam a Web como meio. Julgamos que não fará tanto sentido quando destinada à criação de portfolios. Nesta modalidade de partilha, as URIs dos sites criados serão a única evidência de contextualização dos conteúdos, ao conterem o nome de domínio da respectiva instituição de ensino (por exemplo, fe.up.pt). Não existe uma garantia implícita de inter-relação entre os sites de, por exemplo, estudantes de uma mesma turma ou estudantes que tenham cooperado num mesmo projecto.

Prestação de alojamento de blogues Uma variante particular da cedência de alojamento Web e que valerá a pena discutir é a implementação, por parte das instituições de ensino, de um serviço de alojamento de blogues, recorrendo por exemplo ao sistema WordPress. Certas instituições académicas incentivam os seus alunos à manutenção de um ‘e-portfolio’ através de um blogue, uma vez que é de facto possível encarar um blogue como um Portfolio Digital simplificado [Norman, 2009]. As plataformas de blogging com suporte para múltiplos blogues e utilizadores têm, regra geral, capacidades de criação de grupos e de federação da informação colocada nos blogues; garantindo desta forma alguma contextualização da informação. No entanto, tal como sucede no caso das wikis, os blogues deixam, em larga medida, o modo como a informação é apresentada a cargo dos respectivos criadores, sem que se mantenha


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a vantagem de permitir (de uma forma tão transparente e útil) a contribuição de novos dados e o melhoramento do conteúdo por parte de terceiros. O percurso através de múltiplos blogues com o intuito de procurar informações acerca de trabalhos criativos com alguma relação entre si não configura uma experiência de navegação elegante.

3.1.6 Serviços Web Externos Como foi referido na introdução a este capítulo, algumas instituições de Ensino Superior também partilham os conteúdos nelas produzidos através do recurso a serviços Web externos. Existem nomeadamente bastantes exemplos do uso de serviços de partilha de vídeo como o YouTube ou o Vimeo, uma vez que estes serviços oferecem gratuitamente a largura de banda e o espaço de alojamento necessários à distribuição de conteúdos audiovisuais, recursos cuja prestação a partir de um servidor próprio implicaria ainda uma custos consideráveis. Constatou-se contudo que muitas das instituições que recorrem a estes serviços de partilha de vídeo os utilizam para divulgação de eventos ou enquanto videotecas de conteúdos de aprendizagem. Percorrendo os directórios do Vimeo e do YouTube, * conclui-se que são raras as instituições que recorrem aos serviços Web enquanto plataformas para a divulgação dos trabalhos nelas desenvolvidos, para além da lógica do showcase e do showreel. † No seu levantamento da presença Web de dezasseis instituições de ensino superior de vocação criativa, Mariana Figueiredo detectou apenas duas instituições nacionais que recorriam a serviços Web de partilha de vídeo [Figueiredo, 2010]. Tendo em conta o volume apreciável de produção audiovisual feita nos cursos superiores de vocação criativa, conclui-se que existe ainda um desaproveitamento considerável do recurso aos serviços Web por parte destas instituições. Como foi anteriormente referido, a partilha de trabalhos nestes serviços é na maioria dos casos feita pelos estudantes e em nome pessoal.

3.1.7 Outras Soluções Uma vez que a preocupação principal do Cenário incide sobre o acesso a projectos elaborados em cursos académicos de vocação criativa, o panorama elaborado nos pontos anteriores apenas mencionou os modos de partilha na Web que se julgam relevantes nesse contexto. Não se pretendeu a elaboração de uma taxonomia rigorosa. Deixou-se de fora uma menção especial aos

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www.youtube.com/education e www.vimeo.com/categories/education/universities

Compilação de excertos de trabalhos em suporte vídeo, muito utilizada nos cursos da área Audiovisual.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

ambientes de aprendizagem virtuais, representados em plataformas como o Moodle, assim como outras hipotéticas modalidades de partilha de objectos educativos ou OpenCourseWare em que não existam sobreposições com os objectivos do Cenário. Num texto assinado, entre outros, por Tim Berners-Lee, afirma-se que “a Web está num processo de mudança cujo ritmo é impossível de acompanhar mesmo pelo investigador mais diligente” * [Hendler, Berners-Lee et al, 2008]. A categorização elaborada anteriormente – bibliotecas e portfolios digitais, wikis, showcases, alojamento de blogues – encerra diversas ambiguidades e zonas de fronteira e expansão onde se produzem inovações e novos modos de partilha. Um exemplo da inovação em curso será o sistema de partilha de vídeos recentemente implementado pela Universidade do Porto, † que dispõe da interessante capacidade de suportar transmissões em directo. Pretende-se que o Cenário venha a ser outro exemplo.

3.2 Plataformas de Código Aberto This much we have learned about technology and communities of practice: Good technology in itself will not a community make, but bad technology can sure make community life difficult enough to ruin it. [Wenger et al, 2005]

De acordo com a Open Source Initiative, o software de código aberto distingue-se por ser distribuído sob uma licença de utilização que cumpre um conjunto de critérios que incluem a liberdade de redistribuição do software e a obrigatoriedade da inclusão do código fonte na distribuição, de forma a possibilitar a análise do código e a introdução de modificações [OSI, 2010]. Como foi discutido na secção 2.4, as arquitecturas de participação inerentes a cada modalidade de interacção com a Web encerram o poder de moldar os nossos hábitos sociais. Perante a preponderância, devida aos baixos custos e à facilidade de introdução de modificações, do uso de plataformas em software de código aberto para a implementação dos mais diversos serviços Web, incluindo no contexto das instituições de Ensino Superior, será justa a observação de que estas ferramentas open-source “moldam as nossas experiências sociais” [Lovink, 2008]. ‡

*

No original: “The Web is changing at a rate that may be greater than even the most knowledgeable researcher’s ability to observe it.” [Hendler, Berners-Lee et al, 2008]

http://tv.up.pt/pt/live

The more people work online, the more important it is to understand that the technical architecture of the tools we use is shaping our social experiences. [Lovink, 2008]


27

Tendo em vista a implementação do Cenário, foram testados diversos sistemas de gestão de conteúdos. Procurou-se compreender até que ponto as ferramentas open-source se adequam à partilha de trabalhos académicos de natureza criativa. Para tal, foi delineado um conjunto de princípios que visam orientar a concepção de um sistema de gestão de conteúdos vocacionado especificamente para este contexto. De acordo com estes princípios, que julgamos em linha com as realidades descritas no capítulo 2, e que serão discutidos em pormenor no próximo capítulo, tal sistema deverá assegurar o seguinte: i.

A experiência de navegação será fluida e coerente;

ii.

Será prestada relevância à autoria e ao contexto institucional das criações;

iii.

Será possível representar os projectos de forma flexível;

iv.

As colecções e os perfis serão apresentados de forma consistente.

Perante o grande número de sistemas de gestão de conteúdos open source existentes, foi escolhida uma amostra representativa de diversas modalidades de partilha de conteúdos. Tendo a compatibilidade com tecnologias de servidor populares e de baixo custo, privilegiaram-se os sistemas desenvolvidos em PHP e com acesso a bases de dados MySQL.

Género

Linguagem

Base de Dados

Licença

Versão (data)

Greenstone

Biblioteca

Java

interna

GNU GPL

3.04 (08/2009)

Fedora

Biblioteca

Java

MySQL, etc.

Apache Lic.

3.3 (12/2009)

Islandora

DSpace

Biblioteca

Java

PostgreSQL, Oracle

BSD Lic.

1.5.2 (04/2009)

J-CAR

Drupal

CMS Web

PHP

MySQL, etc.

GNU GPL

6.15 (12/2009)

Islandora

Joomla

CMS Web

PHP

MySQL

GNU GPL

1.5.15 (11/2009)

J-CAR

WordPress

CMS Web, Rede social

PHP

MySQL

GNU GPL

2.9.1 MU (01/2010)

BuddyPress

Elgg

Rede social

PHP

MySQL

GNU GPL

1.6.1 (09/2009)

Mahara

Rede social, e-portfolios

PHP

MySQL, etc.

GNU GPL

1.2.3 (2/2010)

Wiki

PHP

MySQL, etc.

GNU GPL

1.15.1 (07/2009)

MediaWiki

Tabela 1: Os sistemas de gestão de conteúdos em análise.

Plug-ins relevantes


28

Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

A Tabela 1 resume os sistemas analisados, nas versões mais recentes em Fevereiro de 2010. Serão a seguir analisados mais pormenorizadamente estes sistemas, seguindo-se a sua avaliação relativamente à forma como incorporam os princípios mencionados.

3.2.1 Greenstone, Fedora e DSpace O Greenstone, o Fedora Repository e o DSpace são sistemas de gestão de conteúdos orientados para a construção e gestão de bibliotecas digitais. Como vimos na secção 3.1.1, os sistemas vocacionados para este tipo de aplicações contém geralmente capacidades aprofundadas de catalogação, pesquisa e federação de repositórios. O Greenstone – www.greenstone.org – é um projecto da Universidade de Waikato da Nova Zelândia, que conta com a cooperação da UNESCO e da organização não-governamental Human Info. Os seus criadores mencionam que graças aos parcos requisitos de sistema e ao seu vasto suporte para múltiplas línguas e conjuntos de caracteres, a plataforma é utilizada frequentemente no contexto das organizações humanitárias e das instituições de países em vias de desenvolvimento. A distribuição do software inclui um executável, compatível com diversos sistemas operativos, onde é feita a gestão dos repositórios, assim como um servidor Web que possibilita o acesso exterior às colecções. O Fedora Repository – www.fedora-commons.org – foi desenvolvido por investigadores da Universidade de Cornell, sendo o projecto actualmente gerido pela organização sem fins lucrativos DuraSpace. O seu site Web menciona uma variedade de contextos de implementação, de museus à indústria dos media, passando por agências governamentais e universidades, enfatizando uma arquitectura de repositórios flexível. Tal como o Greenstone, a distribuição do Fedora inclui um executável para administração dos repositórios, assim como um servidor que permite o acesso ao catálogo através de um frontend Web. É também incluída uma segunda interface Web como alternativa de acesso às funções de gestão. O sistema também permite que as suas colecções sejam armazenadas em diversas bases de dados externas, incluindo a MySQL. O DSpace – www.dspace.org – é um projecto de investigadores do MIT e dos HP Labs em Cambridge, Massachusetts, que actualmente também é desenvolvido sob a égide da DuraSpace. Verifica-se que este sistema é frequentemente utilizado para a implementação de repositórios académicos, sendo adoptado pelos repositórios da Universidade do Porto, * entre outros. A distribuição do DSpace não inclui qualquer executável para facilitar a administração do repositório, pelo que as tarefas de gestão se efectuam através de interfaces Web. O servidor

*

Ver http://repositorio.up.pt/repos.html


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não é incluído na distribuição, pelo que o DSpace requer a instalação prévia de software adicional, nomeadamente o servidor Apache com suporte a servlets Java. O Greenstrone foi considerado por diversos estudos comparativos, nomeadamente nos critérios relativos ao desempenho e à escalabilidade, como a melhor plataforma de gestão de bibliotecas digitais [Goh et al, 2006; Bainbridge et al, 2009]. No entanto, tendo em conta a forma como os trabalhos académicos de natureza criativa serão frequentemente representados por múltiplos artefactos, o DSpace distingue-se ao permitir que um único objecto catalogado tenha associados anexos de diferentes tipos, como imagens ou vídeos. As plataformas de gestão de conteúdos orientadas para as Bibliotecas Digitais não se revelam ideais para uma implementação do Cenário. O Greenstone e o Fedora têm interfaces de gestão dissociadas do acesso via Web aos conteúdos, verificando-se a obrigatoriedade de controlo institucional sobre a gestão das colecções. Além disso, as interfaces de acesso via Web a estes sistemas revelam-se insatisfatórias: fora do recurso às funções de pesquisa, a navegação até um determinado objecto implica a consulta sucessiva de listagens.

Figura 1: Interface Web incluída na distribuição do Greenstone.

Um interface Web alternativo como o EmeraldView* apenas acrescenta melhorias de carácter superficial ao interface antiquado e pouco apelativo distribuído com o Greenstone (fig. 1), *

www.yitznewton.org/emeraldview


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

mantendo-se a mesma estrutura de navegação insatisfatória. Fedora e DSpace também dispõem de frontends alternativos para o acesso aos seus repositórios. Na próxima secção serão referidos o Islandora e o J-CAR, que permitem o acesso a estes repositórios a partir de sites implementados através do Drupal ou do Joomla, dois CMS orientados para a construção modular de sites Web. Esta combinação de dois sistemas de gestão de conteúdos de diferentes vocações, embora prometa colmatar algumas das lacunas das Bibliotecas Digitais no que diz respeito à participação por parte dos utilizadores, revelar-se-á ainda insuficiente.

3.2.2 Drupal e Joomla O Drupal e o Joomla são dois dos mais respeitados membros de uma família de sistemas de gestão de conteúdos orientados para a construção e manutenção de sites Web, através de um interface de administração amigável. Tipicamente, estes CMS gerem um conjunto de módulos que podem ser aplicados ao site em construção consoante as necessidades. Entre estes incluem-se páginas estáticas, blogging, fóruns e galerias de imagens. Uma grande parte das plataformas suporta a introdução de módulos adicionais através de plugins. O Drupal – www.drupal.org – foi originalmente desenvolvido em 2001 por Dries Buytaert, um estudante da Universidade de Antuérpia, como ferramenta destinada à gestão de fóruns de discussão. Desde então, tornou-se um dos CMS mais populares para a criação e gestão de sites Web. O sistema requer um servidor configurado com um interpretador de PHP, assim como acesso a uma base de dados relacional, sendo compatível, entre outras, com a MySQL. O Joomla – www.joomla.org – surgiu em 2005 de uma divisão na comunidade dedicada ao desenvolvimento de um outro CMS, o Mambo. Tal como o Drupal, é um dos sistemas de gestão de conteúdos mais populares, implementado numa enorme variedade de contextos. O Joomla requer um interpretador de PHP e acesso a uma base de dados MySQL.

Integração de repositórios através do Islandora e do J-CAR O Islandora e o J-CAR são plugins que adicionam módulos de acesso a um repositório digital ao Drupal e ao Joomla, permitindo uma certa simbiose entre as capacidades dos CMS orientados para a criação de sites Web com as capacidades dos sistemas de gestão de repositórios digitais. A utilização de plugins para sistemas de gestão de conteúdos acarreta, contudo, algumas cautelas. Verifica-se que a compatibilidade com os plugins já existentes é frequentemente posta em causa com o lançamento de novas versões dos CMS, cuja adopção é normalmente encorajada devido a questões relacionadas com a segurança informática.


31

O Islandora – www.islandora.ca –, desenvolvido no Canadá pela Universidade de Prince Edward Island, integra um módulo de acesso a um repositório Fedora numa implementação do Drupal (fig. 2). Este sistema é apresentado como solução integrada e amadurecida, sendo distribuído de várias formas. É possível descarregar e instalar individualmente o plugin, mas também é disponibilizada uma máquina virtual pré-configurada com todos os componentes, porventura como forma de contornar possíveis incompatibilidades com uma instalação prévia do Drupal. Esta máquina virtual é disponibilizada em versões para implementação local, via VirtualBox *, e para instalação no serviço de cloud computing da Amazon. †

Figura 2: Exemplo de implementação do Islandora.

Um projecto semelhante ao Islandora, mas que visa a integração de repositórios DSpace em sites implementados com o Joomla, é o J-CAR - http://joomlacode.org/gf/project/j-car. Este módulo está no entanto num estado consideravelmente mais atrasado do seu desenvolvimento. Não foram encontradas na Web quaisquer implementações desta combinação. Da integração do frontend de acesso aos repositórios em sites construídos com o Drupal ou o Joomla resulta um aspecto visual mais atractivo do que o encontrado originalmente nos frontends nativos do Fedora e do DSpace. No entanto, a estrutura de navegação continua

*

www.virtualbox.org

http://aws.amazon.com/ec2


32

Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

insatisfatória, obrigando ainda a que a consulta de obras relacionadas seja feita pela navegação através de um número excessivo de hiperligações. Verifica-se também que a simbiose entre as capacidades destas plataformas deixa muito a desejar. Os módulos integrados no Drupal e no Joomla existem num estado de paralelismo, uma vez que conteúdos geridos por estes CMS não adquirem qualquer relação com os conteúdos dos repositórios – por exemplo, os nomes de autores das obras presentes no repositório não têm qualquer possibilidade de relação com os utilizadores registados nos fóruns e blogues providenciados pelo Drupal ou pelo Joomla. Conclui-se assim que, tendo em vista uma eventual implementação no contexto do projecto Cenário, estes sistemas combinados oferecem poucas mais-valias.

3.2.3 WordPress O WordPress – www.wordpress.org –, cujas origens remontam a 2001, será porventura um dos sistemas de gestão de conteúdos mais populares actualmente. Originalmente denominado Cafelog e orientado para a criação e manutenção de blogues, o sistema adquiriu entretanto capacidades que aproximaram o seu âmbito de utilização ao de ferramentas como o Drupal e o Joomla, embora as funcionalidades de blogging se mantenham centrais. A Automattic, uma das principais investidoras no desenvolvimento do projecto open-source, explora o Wordpress.com, um serviço Web de criação de blogues sustentado, como o nome indica, pela implementação do WordPress. A implementação local aqui em discussão requer um servidor Web com interpretador de PHP e o acesso a uma base de dados MySQL. Como foi discutido anteriormente, há importantes lacunas na implementação de serviços de alojamento de blogues efectuada por algumas instituições de Ensino Superior com o intuito de se prestar aos estudantes uma plataforma onde seja possível a manutenção dos seus ‘e-portfolios’ [Norman, 2009]. O WordPress tem algumas capacidades de federação, numa página central, do conteúdo de diversos blogues, mas verifica-se que tais capacidades se limitam, por defeito, à pesquisa e à agregação dos conteúdos introduzidos mais recentemente. Neste contexto, sem se esquecer os reparos feitos anteriormente acerca do uso de plugins, o BuddyPress – www.buddypress.org – surge como uma interessante extensão das capacidades do WordPress. Este plugin adiciona capacidades de criação e gestão de redes sociais, disponibilizando funcionalidades para a criação de perfis, grupos e o desenvolvimento de redes de ‘amigos’. Este plugin permite assim uma federação mais intricada e complexa dos sites criados via Wordpress. O BuddyPress também inclui algumas capacidades de partilha de


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imagens e, através de um plugin adicional, de upload de vídeo para um servidor Kaltura. * Verifica-se contudo que estas capacidades estão implementadas em paralelo e não como um complemento à biblioteca de media pré-existente do Wordpress, que armazena os conteúdos multimédia incluídos nos blogues mas que é apenas acessível aos seus administradores. As capacidades de gestão e partilha de conteúdos multimédia encontradas no BuddyPress, além de implicarem uma relativa duplicação de funcionalidades, são meramente simbólicas (fig. 3), uma vez que não é permitida a atribuição de títulos às imagens partilhadas. O blogue continua a ser o mecanismo privilegiado para a partilha de conteúdos.

Figura 3: Partilha de imagens através do BuddyPress.

Entre a variedade de plugins disponíveis para o Wordpress, † existem também propostas para a utilização do WordPress enquanto plataforma de gestão de bibliotecas digitais, através de um plugin como o Scriblio [Mitchell & Gilbertson, 2008]. ‡ Todavia, demonstrando as cautelas com a compatibilidade que o uso de plugins merece, verificou-se a existência de incompatibilidades sérias entre o Scriblio e a versão do Wordpress testada. Verifica-se que, no geral, o grau de sofisticação da maioria dos plugins disponíveis não é elevado. O BuddyPress será excepcional no modo como complementa o WordPress com

*

www.kaltura.org

www.wordpress.org/extend

http://about.scriblio.net


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

capacidades sociais, uma vez que não foram encontradas extensões que, em paralelo, acrescentassem ao Wordpress substanciais capacidades de gestão de conteúdos multimédia.

3.2.4 Elgg Com origens no campo das ferramentas de aprendizagem, a plataforma Elgg – www.elgg.org –, desenvolvida pela empresa inglesa Curverider Ltd., permite a implementação de redes sociais online. Tal como no caso dos CMS orientados para a criação de sites Web, o Elgg disponibiliza diversos módulos aos criadores das redes, entre os quais se incluem módulos para blogging, gestão de grupos e de contactos, funcionalidades que podem ainda ser alargadas através de plugins. A exemplo do WordPress, existe uma exploração comercial da plataforma, o Elgg.com. A implementação do Elgg em servidor Web próprio requer um interpretador de PHP e o acesso a uma base de dados MySQL. Verifica-se que as capacidades nominais encontradas nesta plataforma não diferem de forma substancial das encontradas numa implementação do WordPress com recurso ao plugin BuddyPress. Se as capacidades do módulo de blogging do Elgg são claramente inferiores, por outro lado este encontra-se perfeitamente integrado na interface da plataforma, em vez de existir paralelamente, com frontend e módulo de administração próprios, como acontece no caso da combinação WordPress-BuddyPress. De igual forma, as capacidades de pesquisa e tagging do Elgg também abrangem todos os módulos da plataforma, enquanto no caso do WordPress verifica-se a existência de uma linha de fronteira entre os componentes nativos e os módulos adicionados pelo plugin. Em comparação com a combinação WordPress-BuddyPress, o Elgg revela capacidades superiores para a partilha de conteúdos multimédia. No entanto, verifica-se que as capacidades de organização destes mesmos conteúdos ainda são limitadas, uma vez que no Elgg existe uma relação de correspondência entre artefactos multimédia e objectos partilhados. Tendo em vista a partilha de trabalhos académicos que podem atingir um grau apreciável de complexidade, seria importante que o Elgg incluísse a capacidade de associar vários artefactos multimédia a um único objecto, tal como possibilitado pelo DSpace e, como veremos a seguir, pelo Mahara.


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3.2.5 Mahara O Mahara – www.mahara.org – é uma plataforma de gestão de Portfolios Digitais que integra capacidades bastante assinaláveis de implementação de redes sociais, desenvolvida no seio da colaboração entre quatro instituições académicas neo-zelandesas. O Mahara requer um servidor Web com interpretador de PHP, assim como acesso a uma base de dados relacional, sendo compatível, entre outras, com a MySQL.

Figura 4: Visualização de um trabalho académico criada no Mahara.

O Mahara é um sistema dotado de capacidades sociais similares às encontradas no Elgg, verificando-se contudo a existência de capacidades acrescidas de construção de portfolios. O sistema possibilita aos seus utilizadores a compilação dos seus portfolios através da criação de ‘vistas’. Estas consistem em páginas individuais onde um trabalho pode ser representado pela afixação de diversos tipos de módulos, incluindo texto, imagem e embedding de vídeo (fig. 4). Esta concepção configura uma resposta satisfatória à necessidade de anexar diversos artefactos à ficha representativa de um único projecto. Encontram-se, todavia, alguns aspectos negativos na concepção do Mahara. Tal como implementadas, cada 'vista’ é uma página distinta, separada da interface de utilizador do Mahara. Além disso, julgamos ser concedida aos utilizadores uma flexibilidade excessiva na organização de cada ‘vista’. Tais características quebram a continuidade da navegação na plataforma, contribuindo assim para uma experiência de utilização e consulta incoerente, que


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

requer mais clicks do rato que o que se presumia necessário, ou o recurso ao botão ‘voltar atrás’ do software de navegação Web. Verifica-se sobretudo, de forma algo incoerente num sistema orientado para uso académico, que o Mahara ignora a possibilidade do trabalho em grupo. Não é permitido que uma ‘vista’, representando um trabalho académico, dê crédito e tenha a autoria partilhada por múltiplos utilizadores. Apesar destas fraquezas, julga-se que o Mahara terá qualidades suficientes para que se justifique uma adopção crescente, por parte das instituições académicas, deste sistema de gestão de conteúdos que se verifica ainda pouco implementado. Tendo sido vocacionado para a criação de e-portfolios centrados no trabalho dos estudantes, julga-se que o Mahara será, entre os sistemas analisados, talvez o que melhor se adequa às necessidades de partilha de trabalhos académicos de natureza criativa.

3.2.6 MediaWiki O MediaWiki – www.mediawiki.org – é um sistema de gestão de wikis, desenvolvido desde 2002 para a implementação da Wikipedia e de outros projectos entretanto lançados sob alçada da Wikimedia Foundation. A exemplo de outros sistemas de gestão de conteúdos analisados, as capacidades do MediaWiki podem ser alargadas através de plugins. A sua instalação requer um servidor Web que suporte scripts PHP, assim como acesso a uma base de dados relacional, encontrando-se a MySQL entre as suportadas. As virtudes do MediaWiki no que se refere à implementação de wikis em grande escala serão evidenciadas pelo facto de este ser o sistema de gestão de conteúdos implementado pela Wikipedia. No entanto, tal como foi discutido anteriormente a propósito do uso de wikis enquanto modelo para a partilha de conteúdos, do uso do MediaWiki para implementação do Cenário resultaria um modelo em que toda a organização dos conteúdos ficaria a cargo da comunidade de utilizadores. O MediaWiki, apesar das capacidades comprovadas, encerra assim uma filosofia de participação bastante diferente da encontrada nos restantes sistemas.

3.2.7 Avaliação A análise levada a cabo considerou sete soluções: o Greenstone, o Elgg, o Mahara, o MediaWiki, as combinações entre Drupal e Fedora (Islandora) e Joomla e DSpace (J-CAR), assim como a expansão do sistema WordPress através do plugin BuddyPress.


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Na Tabela 2 demonstra-se que foram encontradas na maioria dos sistemas analisados muitas das capacidades nominais habitualmente encontradas nos serviços Web dedicados à partilha de conteúdos multimédia. Entre estas incluem-se a possibilidade da gestão dos conteúdos ser feita por múltiplos utilizadores, a capacidade de criação de perfis para utilizadores e para grupos, o suporte do uso de etiquetas (vulgo ‘tagging’), a capacidade de inserção de vídeos e outros conteúdos externos (vulgo ‘embedding’) e o registo de metadados descritivos dos conteúdos catalogados. O WordPress (com BuddyPress), o Elgg e o Mahara oferecem inclusivamente capacidades, porventura desejáveis, de criação de redes sociais.

Greenstone

Islandora 1

J-CAR 2

WP-BP 3

Elgg

Mahara

MediaWiki

Criação de páginas

Blogging

×

×

Comentários

×

×

Fóruns

×

Múltiplos Administradores

Perfis de Utilizadores

×

limitados

limitados

Rede Social

×

×

×

×

Grupos

limitados

Biblioteca de Media

limitada

limitada

limitada

Embedding de Media

×

limitado

Tagging

×

limitado

×

Acesso a Metadados

×

×

×

Apresentação do conteúdo personalizável

×

×

×

no blogue

×

Plug-ins

×

poucos

1

Combina as plataformas Fedora e Drupal. Combina as plataformas Dspace e Joomla. 3 WordPress com plugin BuddyPress. 2

Tabela 2: Capacidades nominais dos sistemas de gestão de conteúdos.

Do ponto de vista das capacidades nominais, verificou-se que apenas o Greenstone tem, para além de uma interface Web que pode ser considerada antiquada, um conjunto muito parcial das capacidades encontradas nos restantes sistemas.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

No entanto, na mera análise das capacidades nominais dos CMS esconde-se o facto de que a simples presença de certas capacidades nestes sistemas não garante uma arquitectura de participação satisfatória. Nos sistemas modulares, orientados para uma gama abrangente de possíveis implementações, como o Elgg, o Drupal–Islandora e o Joomla–J-CAR, aquilo que na realidade se encontra é uma colagem de componentes com uma fraca inter-relação. A frequent mistake: [when public institutions] realize the need of setting up a Social Interactive System: place side by side a collage of some popular web-based applications / modules [...] conceived and designed for different purposes and for a different audience. [De Cindio, 2010]

Tendo em vista uma avaliação dos sistemas de gestão de conteúdos, as possibilidades de inter-relação entre os objectos partilhados por intermédio das plataformas, as suas interfaces de utilização e a sua simplicidade de compreensão revelam-se factores consideravelmente mais importantes que o conjunto de capacidades nominais implementadas.

Fluidez de navegação

Relevância dada a autores e grupos

Flexibilidade na composição das obras

Consistência de colecções e perfis

Greenstone

fraca

 boa

Islandora 1

fraca

 boa

J-CAR 2

 boa

 boa

WP-BP 3

fraca

 razoável

4

 razoável

 boa

 boa

 razoável

fraca

 boa

 boa

 razoável

4

4

4

4

Elgg Mahara MediaWiki 1

Combina as plataformas Fedora e Drupal. Combina as plataformas Dspace e Joomla. 3 WordPress com plugin BuddyPress. 4 Dependente da participação dos utilizadores. 2

Tabela 3: Avaliação qualitativa dos sistemas de gestão de conteúdos.

No próximo capítulo será detalhado o conjunto de princípios, já resumidos anteriormente, delineados com o intuito de orientar a concepção de um sistema vocacionado especificamente para a partilha de trabalhos académicos de natureza criativa. Na Tabela 3 demonstra-se que relativamente a esse conjunto de princípios apenas o Mahara garante uma arquitectura de participação que se julga satisfatória, embora com algumas lacunas de cariz ergonómico que,


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como se viu, prejudicam a consolidação de uma experiência de navegação fluida e coerente. Verifica-se também que uma implementação do Cenário através da plataforma MediaWiki teria o potencial de aderir aos princípios delineados. Contudo, como foi referido anteriormente, tal concordância seria da responsabilidade dos utilizadores participantes na construção da wiki. O recurso às plataformas open-source pré-existentes acarreta compromissos. Muitos dos sistemas de gestão de conteúdos produzidos no contexto das comunidades dedicadas ao desenvolvimento de software de código aberto procuram rivalizar com os sistemas similares – tanto open-source como comerciais – através da inclusão das capacidades encontradas nos concorrentes. Uma longa lista de capacidades será muitas vezes valorizada em detrimento da prestação de boas interfaces e experiências de utilização, sobretudo quando os sistemas são desenvolvidos em contextos eminentemente técnicos [Gonçalves et al, 2004; Lovink, 2008]. A simplicidade acaba sacrificada pela preocupação com uma generalidade de possíveis usos, o que justifica a dissonância verificada entre as capacidades nominais e a real relevância dos sistemas em análise. Neste contexto, a seguinte citação, do designer e cientista informático John Maeda, embora a propósito da utilização frequente de ferramentas pré-existentes no campo da criação artística digital, sintetiza de forma eloquente as objecções anteriormente mencionadas ao uso acrítico de plataformas de código aberto [Wenger et al, 2005; Lovink, 2008; De Cindio, 2010]: […] in the field of digital art, an entire generation of creators shop at the equivalent of home improvement megastores, eagerly acquiring all kinds of prefabricated components and add-ons. Blissfully unaware of – or even worse, uninterested in – the basic nature of the technologies they are using as tools, the creative élite oversee the assembly of substandard digital objects and experiences. [Maeda, 2000]

Com base nestes argumentos, e perante a ausência de uma satisfação total com os sistemas analisados, tomou-se a opção de conceber e implementar, desde a raiz, um sistema de gestão de conteúdos que responda de forma mais fiel aos objectivos e aos princípios que foram delineados para o Cenário. A concepção e o desenvolvimento do sistema destinado à implementação do Cenário serão os temas dos próximos capítulos.



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Capítulo 4

Os Princípios de um Depósito de Matéria Criativa

Nas últimas décadas verificou-se uma mudança de paradigma na arquitectura e na gestão das bibliotecas existentes no espaço físico. O modelo tradicional, inspirado na Biblioteca de Alexandria e em vigor desde a Antiguidade, tem como principal preocupação o arquivo do maior número possível de obras bibliográficas. Recentemente, todavia, as reais necessidades das comunidades levaram ao favorecimento de um novo modelo, em que a facilitação do acesso aos utilizadores é central na sua concepção, resultando numa biblioteca multifuncional e mais aberta à comunidade [Bainbridge & Witten, 2002]. Várias bibliotecas públicas de construção recente foram projectadas tendo em vista uma experiência mais lúdica de utilização. Complementaram-se os espaços de consulta bibliográfica com mediatecas, áreas para exposições e auditórios que acolhem eventos tão díspares como conferências, sessões de cinema ou apresentações teatrais. Nestas novas bibliotecas a consulta do catálogo, entretanto feita através de meios informáticos, passou a ser apenas um auxílio ao livre acesso, por parte dos utilizadores, às estantes com os livros (e também com os filmes e com os discos). Permitir o manuseamento das obras tornou-se nalgumas bibliotecas uma missão tão importante como a sua preservação e arquivo continua a ser noutras instituições. Verifica-se um forte paralelismo entre estas mudanças, verificadas na arquitectura das bibliotecas físicas, e a evolução descrita no capítulo 2 na relação entre a Web e os seus utilizadores. Os serviços Web actuais também privilegiam a navegação pelos conteúdos – metáfora do acesso directo às estantes –, deixando à pesquisa e à consulta de catálogos e directórios um papel complementar. No entanto, sem o recurso ao espaço físico do qual resulta


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

invariavelmente uma organização das obras, é importante que a arquitectura dos serviços Web considere métodos para a sua contextualização e inter-relação. What to make of Archive.org’s wild claim that it provides “universal access to human knowledge?” What if the interfaces are becoming too complex and the databases overgrown with nonsense data? [Lovink, 2008]

Os serviços Web vocacionados para a partilha de conteúdos têm vindo a implementar uma miríade de soluções tendo em vista a sua contextualização. Regra geral, estas soluções implicam um nível de participação acrescido por parte dos utilizadores, para lá do momento da submissão dos conteúdos. Encontram-se assim mecanismos de etiquetagem (vulgo tagging), de construção de grupos, colecções e canais, de registo de favoritos e de criação de playlists. Verifica-se que o utilizador passou a desempenhar regularmente o papel de curador. Funcionalidades associadas, como sistemas de comentários, fóruns de discussão ou a capacidade de construção de redes de amigos, também desempenham um importante papel na contextualização dos conteúdos. Em alguns serviços Web, como o YouTube, o Flickr ou o Vimeo, são organizados regularmente eventos como exposições e concursos de criação temáticos, cujo intuito será estimular uma participação e uma lealdade acrescida a essas comunidades por parte dos utilizadores. Tendo em conta estas e outras realidades já discutidas nesta dissertação, serão descritos neste capítulo os princípios orientadores da concepção e desenvolvimento de um sistema de gestão de conteúdos destinado especificamente à partilha de projectos criativos elaborados no contexto académico. Serão também mencionados os princípios de funcionamento e o processo de inserção de conteúdo no sistema. Antes serão abordados os princípios gerais de tal sistema, tendo em consideração as particularidades dos serviços Web concebidos para implementações em grande escala.

4.1 Princípios Gerais O Cenário será um serviço Web com uma escala considerável. Mencionou-se anteriormente que os cursos superiores descritos como de Artes e Humanidades eram frequentados, no ano lectivo 2008-2009, por trinta e dois mil estudantes, incluindo oito mil novos inscritos [GPEARI, 2009]. Estes números representam o universo de potenciais participantes no Cenário: uma plataforma onde se espera que venha a ser possível o acesso aos projectos desenvolvidos por dezenas de milhar de estudantes, associados porventura a centenas de cursos. No livro intitulado Developing Large Web Applications, Kyle Loudon delineou em traços gerais alguns princípios que deverão ser incorporados na concepção de aplicações Web de larga


43

escala. A concepção do Cenário, além de dever suportar o vasto conjunto de utilizadores mencionado, deverá incorporar o seguinte conjunto de princípios [Loudon, 2010]: i.

Disponibilidade contínua: a plataforma deverá estar permanentemente acessível, pelo que a sua implementação terá que ser tecnicamente robusta;

ii.

Longevidade: deverão ser previstas as necessidades decorrentes do crescimento;

iii.

Actualização em tempo real: as actualizações efectuadas por um utilizador sobre o conteúdo da plataforma deverão ser imediatamente acessíveis aos restantes;

iv.

Distribuição ‘piece-by-piece’: os conteúdos acedidos deverão ser enviados para o cliente à medida que cada fragmento de informação seja requerido;

v.

Diversidade: o código fonte deverá ser flexível, de forma a poder ser reutilizado por diferentes componentes do sistema ou em contextos alternativos;

vi.

Suporte de múltiplos ambientes: o acesso à plataforma em múltiplos contextos deverá ser previsto, considerando-se os múltiplos navegadores Web e resoluções de ecrã existentes, assim como os dispositivos alternativos ao computador, como telemóveis ou tablets.

A concepção de um sistema de gestão de conteúdos vocacionado especificamente para a partilha de trabalhos criativos elaborados em contexto académico implica a existência de um segundo conjunto de princípios orientadores que considere as especificidades organizativas e dos conteúdos produzidos nesse contexto. Segue-se uma descrição mais aprofundada destes princípios específicos à concepção do Cenário.

4.2 Princípios Específicos Design has become the most powerful tool with which man shapes his tools and environments and, by extension, society and himself. [Papanek, 1971]

Tendo em consideração tanto as realidades já descritas como a sua própria investigação sobre a abordagem de diversas instituições de Ensino Superior à partilha da sua produção criativa, Mariana Figueiredo delineou quais as características específicas dos três principais elementos que deverão ser geridos pelo Cenário [Figueiredo, 2010]: Projectos, Autores e Escolas. De forma a possibilitar a inter-relação entre estes três tipos de elementos, pretende-se que cada projecto, autor e escola catalogado na plataforma seja um ‘objecto social’, enriquecido com informações que contextualizem a sua relação com outros objectos [Bell, 2009]. Desta forma, cada um destes objectos tornar-se-á um nó, que poderá ser identificável e acessível


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

através de um endereço Web permanente [Berners-Lee, 1998], numa rede descentralizada de conhecimento. Pretende-se assim que a plataforma facilite uma melhor compreensão das relações de colaboração que estruturam a comunidade académica. Tal concepção incorpora o modelo de conhecimento em ‘rizoma’ proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari na sua compilação de ensaios filosóficos Mille Plateaux [Deleuze & Guattari, 1980].

Figura 5: Estrutura do conteúdo em ‘rizoma’.

Como se verá a seguir, verifica-se uma correspondência entre os princípios orientadores da concepção do Cenário e o conjunto de requisitos, já mencionados, que o sistema deverá assegurar: i.

A experiência de navegação será fluida e coerente;

ii.

Será prestada relevância à autoria e ao contexto institucional das criações;

iii.

Será possível representar os projectos de forma flexível;

iv.

As colecções e os perfis serão apresentados de forma consistente.

Veremos a seguir que um dos princípios orientadores da concepção do Cenário será a prestação de uma experiência de navegação que explore o potencial da estrutura em ‘rizoma’ dos conteúdos presentes. A concepção da plataforma deverá de igual forma ter em consideração as particularidades e complexidades inerentes a cada um dos três tipos de objectos sociais. Por fim, a complexidade latente nos conteúdos da plataforma deverá ser contrabalançada pela procura de uma experiência de utilização simples e consistente.


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4.2.1 Fluidez de Navegação Verifica-se que a possibilidade de deriva é uma importante componente da apreciação e, porventura, do sucesso de serviços Web como o YouTube ou a Wikipedia. Nestas plataformas, cada visita configura um percurso que explora a miríade de relações multidimensionais existentes entre os objectos sociais. A inter-relação existente entre os conteúdos leva a que, nos sites mencionados, com um único click do rato se aceda imediatamente a um novo vídeo ou a uma nova entrada enciclopédica. A curta distância, a nível hipertextual, entre conteúdos afins contribuirá para uma experiência de utilização lúdica e aprazível. A arquitectura do Cenário deverá incorporar a estrutura em ‘rizoma’ antes mencionada (fig. 5). Para além do acesso às funcionalidades de pesquisa e ao directório de conteúdos, na página inicial da plataforma deverão existir links que encaminhem o visitante para uma amostra de objectos sociais, cujo critério de selecção poderá ser aleatório, de recomendação pelos utilizadores ou de novidade. Consultando-se um projecto, o perfil de um autor ou de uma escola, deverá existir sempre a possibilidade de visitar um objecto social relacionado com um mero click adicional. Para tal, no momento de geração de cada página, o sistema de gestão de conteúdos deverá criar links de acordo com as referências cruzadas existentes na base de dados, cuja organização será abordada no capítulo 5. De forma a proporcionar aos utilizadores ocasionais ou em busca de novas descobertas o mesmo tipo de navegação lúdica e exploratória encontrada nos serviços Web que melhor interpretam a resposta a estas necessidades, será vital que no Cenário se verifique que a distância entre as páginas correspondentes a objectos sociais relacionados esteja reduzida ao mínimo possível, ou seja, um único click do rato.

4.2.2 Relevância de Autores e Escolas Em complemento ao ponto anterior, a plataforma Cenário deverá permitir não só a consulta e a deriva entre obras de um autor ou de uma escola, mas deverá permitir igualmente a consulta de elementos adicionais acerca dos referidos autores e escolas. How many artists collaborate in the making of a work? Almost all. How visible is this togetherness in the artwork? Hardly at all. How much do we know about the process of working together? Next to nothing. [Lovink, 2008]

Pretende-se valorizar o Cenário enquanto ferramenta com o potencial de revelar tendências na produção de cariz criativo dos diversos cursos das instituições académicas aderentes, assim como nos percursos académicos individuais e nas redes de colaboração dos autores das obras


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

catalogadas. Para tal, os nós na rede correspondentes a autores e escolas não deverão ser meros pontos de associação dos trabalhos académicos. Estes elementos deverão existir enquanto objectos sociais catalogados na plataforma, dotados de perfis com diversas informações relevantes associadas, tais como informações de cariz biográfico ou histórico, ou ainda links para os próprios sites. Mariana Figueiredo verifica que um único objecto social será porventura insuficiente para representar toda uma instituição de Ensino Superior, pelo que uma divisão em grupos, que poderão corresponder a departamentos, cursos, turmas, ou anos lectivos, fará todo o sentido [Figueiredo, 2010]. Será necessário que os objectos sociais correspondentes ao contexto escolar contenham dados que os relacionem hierarquicamente, de modo a que possam reproduzir fielmente o contexto institucional onde foram desenvolvidos os trabalhos com eles relacionados. Veremos no capítulo 5, aquando da abordagem à organização da base de dados, que tal será possível através da inclusão de um campo que referencie o objecto acima na hierarquia, caso este exista.

Figura 6: Relação entre objectos sociais.

Julga-se que os autores e os projectos associados a um subgrupo deverão ser associados de forma automática aos grupos hierarquicamente superiores. No exemplo da Figura 6, verifica-se que o projecto e um dos autores estão associados directamente a uma turma e, por inerência, ao curso e à escola respectivas. Outro dos autores apenas tem associação directa com o curso, logo apenas está associado por inerência com a escola, o nível hierárquico superior.

4.2.3 Flexibilidade na Composição dos Projectos Tal como os Autores e as Escolas, os Projectos são objectos sociais com requisitos de representação muito específicos. Sendo o Cenário direccionado a uma área específica do Ensino Superior – a dos cursos de vocação criativa e artística – verifica-se que a sua concepção terá obrigatoriamente que considerar a grande variedade de trabalhos desenvolvidos nestes cursos.


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Existem diferentes requisitos por parte dos projectos desenvolvidos em cursos de áreas tão diversas como a Arquitectura, o Design de Comunicação, as Artes Plásticas, a Música, o Multimédia, o Audiovisual e as Artes do Espectáculo. De forma a responder a esta realidade, cada projecto catalogado na plataforma deverá poder ser representado por uma mistura de múltiplos artefactos (fig. 7).

Figura 7: Objecto composto por múltiplos artefactos.

Julga-se ser possível, com base neste número restrito de elementos, uma partilha de conteúdos que abrange uma grande variedade de projectos e que será feita de uma forma enriquecida: o perfil de um projecto audiovisual não se limitará necessariamente a prestar acesso ao respectivo vídeo. Será porventura possível a consulta de fotografias da sua produção, ou a descarga de documentos em formato PDF com os dossiers correspondentes. A página que apresenta um projecto de criação Web poderá conter o link para o site que foi criado, mas também poderá incluir o texto da memória descritiva, algumas imagens do progresso do trabalho, e ficheiros para a descarga do código fonte. E será fácil imaginar muitas outras possibilidades: Um projecto de teatro, para além de documentos de texto (como o texto dramático), [poderá ser constituído por] imagens (ilustrações de cenografia ou registos fotográficos), vídeo, áudio (faixas da banda sonora, por exemplo) e attachments diversos (a título de exemplo, os ficheiros de controle da iluminação). A complexidade presente nos projectos académicos de carácter criativo terá de ser obrigatoriamente considerada. [Figueiredo, 2010]

Será exposto no capítulo 5, a propósito da organização da base de dados, que a flexibilidade descrita relativamente à composição dos projectos poderá ser implementada através da associação de duas tabelas distintas – uma contendo as informações gerais acerca de cada projecto, a outra contendo as informações acerca dos artefactos multimédia.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

4.2.4 Consistência das Colecções e Perfis Os três princípios delineados até este momento terão um valor reduzido numa plataforma que não preste aos seus utilizadores experiências consistentes de consulta e de navegação. Dada a complexidade dos conteúdos partilhados no Cenário e da sua respectiva organização, pensa-se que a concepção visual e ergonómica da plataforma deverá ser tão simples quanto possível. Ter-se-á em consideração o conjunto de regras delineadas por John Maeda no seu livro The Laws of Simplicity [Maeda, 2006]: i.

Reduce: The simplest way to achieve simplicity is through thoughtful reduction.

ii.

Organize: Organization makes a system of many appear fewer.

iii.

Time: Savings in time feel like simplicity.

iv.

Learn: Knowledge makes everything simpler.

v.

Differences: Simplicity and complexity need each other.

vi.

Context: What lies in the periphery of simplicity is definitely not peripheral.

vii. Emotion: More emotions are better than less. viii. Trust: In simplicity we trust. ix.

Failure: Some things can never be made simple.

x.

The one: Simplicity is about subtracting the obvious, and adding the meaningful.

Julga-se que os princípios anteriormente enunciados estão de acordo com estas leis. Mas tendo em vista uma experiência de utilização consistente, será necessário ainda garantir uma concepção que incorpore uma redução da complexidade aparente da plataforma. Como se referiu durante o capítulo 3, a flexibilidade concedida aos utilizadores pelo modelo wiki e por alguns dos sistemas de gestão de conteúdos analisados responsabiliza toda a comunidade pela coerência e navegabilidade da plataforma. Julga-se assim que a flexibilidade porventura concedida aos utilizadores do Cenário, nomeadamente na partilha de projectos compostos por diversos artefactos multimédia, não deverá ser acompanhada por capacidades muito substanciais de personalização ao nível da apresentação dos conteúdos. A concepção do Cenário deverá limitar-se a um conjunto de capacidades que contribuam de facto para uma utilização mais simples e de compreensão imediata da plataforma de partilha de conteúdos criativos. Neste sentido, não se julga desejável a introdução de funcionalidades adicionais que, pouco contribuindo de positivo, constituam distracções que impliquem uma maior curva de aprendizagem e uma navegação mais lenta, levando consequentemente a uma experiência de consulta menos aprazível.


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4.3 Princípios Funcionais Através do estudo do processo de edição da Anuária, uma publicação dedicada à divulgação dos projectos elaborados pelos estudantes da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Mariana Figueiredo delineou um conjunto de princípios orientadores do processo de inserção e administração dos conteúdos no Cenário. Concluiu-se nomeadamente que, permitindo aos autores dos projectos a submissão dos próprios trabalhos, a plataforma deverá igualmente permitir aos docentes e demais responsáveis académicos a validação dos conteúdos nela inseridos. [Figueiredo, 2010]. Em linha com a procura da simplicidade que está na raiz de muitos dos princípios anteriormente discutidos, julga-se que não deverá existir no Cenário a distinção, encontrada em alguns dos sistemas de gestão de conteúdos anteriormente analisados, entre utilizadores e administradores. Reportando-me ao meu caso pessoal, um estudante numa instituição académica poderá, eventualmente, ser docente numa outra, pelo que se julga que a plataforma não deverá distinguir estruturalmente entre tipos de utilizador. Na tríade definida anteriormente, considera-se que um Autor será um utilizador registado ao qual existem projectos associados. Qualquer pessoa será livre de se registar como utilizador do Cenário e de pedir reconhecimento como membro de um grupo. Sendo aprovado por um gestor do respectivo grupo, poderá receber adicionalmente a permissão para gerir esse grupo. Julga-se que os gestores de grupo deverão possuir o seguinte conjunto de permissões: i.

Edição das informações identificativas do grupo (correspondente, por exemplo, a um curso) e de todos os eventuais subgrupos (uma turma, ou uma disciplina), geridos por inerência;

ii.

Autorização dos pedidos de associação feitos pelos utilizadores;

iii.

Atribuição e revogação de permissões de gestão do grupo e de eventuais subgrupos a qualquer um dos respectivos membros;

iv.

Criação de subgrupos;

v.

Edição e eventual remoção dos projectos associados ao grupo ou a eventuais subgrupos, que terão sido submetidos pelos respectivos membros.

Evidentemente, uma vez que associação prévia a um grupo, enquanto membro, será um pré-requisito para se receber tal conjunto de permissões, os gestores de grupo também estarão livres de tomar a iniciativa da submissão de projectos. De forma a encorajar a participação e o enriquecimento da plataforma, permite-se que estes projectos sejam contribuídos por outros


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utilizadores que não sejam os autores declarados, embora estes últimos devam porventura possuir idênticas permissões para supervisionar estes conteúdos. Pensa-se que o modelo de supervisão descrito será suficientemente flexível para se reproduzirem na plataforma, de forma bastante aproximada, os modelos organizativos existentes nas instituições. Poderá, contudo, vir a revelar-se desejável um controlo mais minucioso das permissões individuais de cada utilizador no contexto de cada grupo. Tal capacidade não será implementada de momento, ficando no entanto registada como uma das funcionalidades a incluir eventualmente no decurso do desenvolvimento futuro do Cenário — cuja implementação de um protótipo será o tema do próximo capítulo.


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Capítulo 5

Desenvolvimento de um Sistema de Gestão de Conteúdos

No capítulo anterior abordaram-se os princípios orientadores da concepção de aplicações Web, incluindo os princípios específicos que deverão orientar a concepção de um sistema de gestão de conteúdos que vise a implementação do Cenário. Anteriormente, no capítulo 3, havia-se verificado que nenhuma das plataformas de gestão de conteúdos então analisadas iria totalmente ao encontro desses princípios específicos. Tomou-se assim a opção de desenvolver de raiz um protótipo que os incorpore. Apesar do objectivo imediato ser o desenvolvimento de uma ferramenta de partilha de projectos criativos para a academia do Porto, a plataforma a desenvolver deverá ser escalável e flexível para que possa, eventualmente, ser utilizada noutros contextos, de dimensões e particularidades distintas deste. [Figueiredo, 2010]

Pretende-se que tal protótipo esteja dotado de um elevado grau de funcionalidade, pelo que não será esquecido o objectivo de alicerçar o Cenário num sistema suficientemente flexível que seja aplicável a outros contextos, como por exemplo o das associações culturais, onde seja encontrada o mesmo género de organização triangular dos conteúdos, repartidos por obras, criadores e grupos. Através do recurso a tecnologias Web populares desenvolveu-se, para tal efeito, um sistema de gestão de conteúdos que se denominou Mille Plateaux. * Neste capítulo abordar-se-á o desenvolvimento deste sistema de gestão de conteúdos. Numa primeira secção serão abordadas as diversas tecnologias Web utilizadas pelo sistema. *

O nome é tanto em alusão a uma possível tradução para a língua francesa da palavra ‘cenário’ como à obra mencionada em que Deleuze e Guattari teorizaram o conceito de ‘rizoma’, aplicado à concepção da navegação na plataforma.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Seguir-se-á uma descrição aprofundada do desenvolvimento do protótipo, abordando-se nomeadamente o modo como as tecnologias Web adoptadas foram implementadas de modo a satisfazer os princípios delineados no Capítulo 4. Por fim, serão feitas algumas considerações adicionais, tendo em vista a implementação real do Cenário como serviço Web auxiliar ao meio académico nacional.

5.1 Tecnologias Web O Mille Plateaux, o sistema de gestão de conteúdos desenvolvido com o intuito de servir a implementação de um protótipo do Cenário, utilizará ele próprio um conjunto vasto de tecnologias Web. Estas poderão ser divididas em dois grandes grupos: as tecnologias utilizadas no servidor Web que irá armazenar, processar e transmitir ao cliente – ou seja, o visitante do site – a informação pedida; e as tecnologias implicadas no acesso à plataforma por parte do cliente. Verifica-se que uma discussão acerca das tecnologias a implementar do lado do servidor será consideravelmente mais complexa. Existem diversos servidores Web que poderão ser utilizados – como o Apache, o Microsoft IIS ou o Nginx. Existe também um grande número de linguagens de scripting orientadas para o desenvolvimento de aplicações Web – o PHP, o Ruby, o Python, ou o ASP.net –, cada uma com os seus méritos, além da possibilidade, que mereceria igual análise, de recorrer a código compilado, escrito por exemplo em C++. De igual forma se verifica a existência de uma variedade de sistemas de bases de dados relacionais – como o MySQL, o PostgreSQL e as soluções comerciais oferecidas pela Oracle e pela Microsoft –, que também mereceriam ser objecto de uma análise que deveria ainda considerar outros géneros de sistemas, como as bases de dados em XML. Discutindo-se as tecnologias disponíveis do lado do cliente constata-se que, visando a compatibilidade com os dispositivos e navegadores Web existentes, será encontrado um número relativamente modesto de normas, tais como o HTML, o CSS ou o XML, cuja adopção será de certa forma consensual. A escolha de tecnologias mereceria um estudo aprofundado e exaustivo das várias opções disponíveis, e cujas conclusões seriam provisórias devido ao ritmo da evolução tecnológica. Julga-se que a redacção de tal estudo está fora das nossas competências e do âmbito desta dissertação. Desta forma, as tecnologias empregues no desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos Mille Plateaux foram-no sobretudo em função da sua popularidade e ubiquidade no mercado. Pretendendo-se a implementação de um protótipo, a familiaridade prévia e a facilidade de aprendizagem foram também tidas em conta. Tais tecnologias serão descritas a seguir.


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5.1.1 Tecnologias do Servidor No desenvolvimento do Mille Plateaux, adoptou-se a popular combinação A.M.P. – Apache, MySQL e PHP – de tecnologias de servidor open-source. Cada uma destas tecnologias cumpre uma função específica que será, respectivamente, servidor Web, base de dados e linguagem de scripting (fig. 8).

Figura 8: Relação entre as tecnologias de servidor utilizadas.

A popularidade de Apache, PHP e MySQL justificar-se-á devido aos baixos custos inerentes às tecnologias de código aberto, verificando-se que esta é uma combinação habitualmente implementada pelos prestadores comerciais de alojamento Web. Além disso, a aprendizagem destas tecnologias é parte frequente dos curricula académicos. Verifica-se que o servidor Apache é um caso, porventura sem paralelo, de sucesso do software de código aberto, sendo actualmente o mais popular software do género em utilização. Será responsável, segundo números recentes, pelo acesso via Web a 56% dos domínios existentes, uma vantagem que atinge os 66% se apenas se considerarem o milhão de domínios mais populares [Netcraft, 2010]. Encontraram-se diversas distribuições conjuntas de pacotes que incluem o Apache, o MySQL e o PHP. Nos sistemas Windows e Mac OS X onde se desenvolveu e testou o nosso sistema de gestão de conteúdos, recorreu-se ao pacote XAMPP – www.apachefriends.org/ en/xampp.html –, disponível para vários sistemas operativos.

Em complemento ao pacote XAMPP, utilizou-se o framework PHP Fat-Free de forma a facilitar o desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos na linguagem PHP. Segue-se uma descrição mais detalhada desta tecnologia.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

O PHP Fat-Free Framework Os frameworks orientados para o desenvolvimento de aplicações Web consistem em bibliotecas de funções que aliviam a necessidade de programar especificamente algumas das tarefas mais comuns encontradas neste contexto de desenvolvimento. Existe uma grande variedade de frameworks de desenvolvimento para a linguagem PHP. Alguns dos mais populares serão o CodeIgniter, o CakePHP e o Zend Framework. O Drupal e o Joomla, anteriormente discutidos enquanto sistemas de gestão de conteúdos orientados para a criação e manutenção de páginas Web, podem de igual forma ser adoptados como frameworks de desenvolvimento. No desenvolvimento do Mille Plateaux, recorreu-se a uma biblioteca recente, o PHP Fat-Free Framework – http://fatfree.sourceforge.net. Julgou-se este framework em particular bastante útil para o desenvolvimento de um protótipo, uma vez que ao contrário das bibliotecas mais populares, verifica-se que o PHP Fat-Free não requer a adesão por parte do programador a convenções pré-determinadas relativamente ao processo de desenvolvimento ou à organização dos dados. Uma vez que a implementação desta biblioteca se efectua através da inclusão no código PHP da chamada a um único ficheiro (através da função include() *), existe a liberdade de se utilizar apenas as capacidades que se julgarem necessárias. Durante o desenvolvimento do Mille Plateaux, recorreu-se nomeadamente às seguintes funcionalidades do PHP Fat-Free: i.

O encaminhamento (‘routing’) dos pedidos feitos ao servidor Web para a função relevante do sistema de gestão de conteúdos, e que é uma componente importante da implementação de endereços Web permanentes para os objectos sociais;

ii.

A geração de páginas HTML a partir de modelos (‘templates’) modulares, um processo que facilita a introdução de alterações ao aspecto visual da plataforma;

iii.

O ORM – object-relational mapper –, que facilita o acesso às tabelas na base de dados MySQL, apresentando-as como objectos no contexto da programação em PHP, dispensando desta forma a utilização constante de instruções SQL; †

iv.

A filtragem dos dados submetidos através de formulários, devido a considerações de segurança informática.

Por diversas vezes foram colocadas questões e relatados bugs ao programador responsável pelo desenvolvimento do PHP Fat-Free. A pequena escala deste projecto open-source permitiu o

*

www.php.net/manual/en/function.include.php

Esta funcionalidade foi introduzida numa versão do framework lançada já durante o desenvolvimento do Mille Plateaux. Algumas das funções então já desenvolvidas não foram reescritas, mantendo-se no código o interface com a base de dados através do envio de instruções em SQL.


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estabelecimento de uma dialéctica entre o desenvolvimento do Mille Plateaux e o processo de desenvolvimento do framework, influenciando-se a qualidade das versões subsequentes.

5.1.2 Tecnologias do Cliente No lado do cliente, verifica-se a necessidade do Mille Plateaux utilizar linguagens normalizadas que possam ser interpretadas, como referido anteriormente, em ambientes tão diferentes como os diversos navegadores Web e os dispositivos móveis. Existe desta forma um relativo consenso relativamente à adopção das linguagens HTML e CSS, XML e JavaScript. Apesar da normalização, verifica-se contudo que os diferentes fabricantes de navegadores Web – como a Microsoft, a Mozilla Foundation, a Google e a Apple – diferem na forma como os seus produtos implementam as normas HTML, CSS e JavaScript. Frequentemente verifica-se que quanto mais destinado a explorar as capacidades de um determinado navegador for o código de uma página Web, mais incompatível poderá ser com os restantes navegadores e dispositivos. Desta fora, terão de ser frequentemente adoptadas medidas que visem a compatibilidade geral por parte dos criadores de páginas Web.

Figura 9: Inconsistências na interpretação de CSS entre diferentes navegadores (Google Chrome 5 à esquerda, Internet Explorer 8 à direita).

Procurou-se garantir, durante o desenvolvimento do protótipo do Cenário, que o site teria uma apresentação semelhante num conjunto de navegadores Web. Os resultados de tal tarefa foram meramente razoáveis (fig. 9). Para além das normas mais correntes, adoptaram-se durante o desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos algumas tecnologias auxiliares que serão a seguir descritas em maior detalhe. Adoptaram-se ‘microformatos’ de forma a enriquecer semanticamente as páginas Web, assim como se utilizou o framework de JavaScript jQuery de forma a facilitar o desenvolvimento nesta linguagem.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Microformatos Existem pequenas normas auxiliares que visam complementar a norma HTML com capacidades destinadas ao enriquecimento semântico dos documentos. Tais ‘microformatos’ especificam conjuntos de palavras-chave e atributos que poderão ser utilizados para assinalar o significado de um determinado elemento num documento HTML. Desta forma possibilita-se a interpretação destes elementos através de software e de uma forma que não porá em causa a visualização do documento no navegador Web. Gavin Bell cita dois exemplos de microformatos simples e orientados para funções específicas [Bell, 2009]. O hCard * destina-se a assinalar contactos, identificando os elementos HTML que contenham informações de nome, morada, telefone, etc., de forma a possibilitar o preenchimento automático de um livro de endereços através de software apropriado. O XFN (XHTML Friends Network), † de uso popular em blogues, destina-se a assinalar num link qual o relacionamento entre os autores do documentos, permitindo a elaboração de uma rede social a partir dos links existentes. Um microformato como o hCard poderá ser utilizado na página relativa ao perfil de um utilizador. No entanto, no contexto da implementação do Cenário, verifica-se ser especialmente pertinente o recurso à norma RDFa (Resource Description Framework in attributes). Esta recomendação do W3C ‡ permite a atribuição de metadados aos elementos existentes num documento HTML. Um exemplo concreto será a identificação, dentro do documento HTML gerado acerca de um projecto, de quais os elementos relativos a campos definidos pela norma de catalogação Dublin Core (title, creator, date, etc.), abordada na secção 5.2.3.

O framework jQuery A exemplo das bibliotecas orientadas para o desenvolvimento em PHP antes mencionadas, os frameworks de JavaScript disponibilizam uma biblioteca de funções destinada a aliviar as tarefas mais comuns do desenvolvimento de programas nesta linguagem. Verifica-se a existência de incompatibilidades entre várias ferramentas de navegação na Web também no que diz respeito à interpretação de código JavaScript. Frameworks como o Dojo, o YUI ou o jQuery disponibilizam aos programadores uma camada de abstracção no acesso aos objectos que constituem uma página Web. Uma vez que as funções incluídas nestas

*

www.microformats.org/wiki/hcard

www.gmpg.org/xfn/

www.w3.org/TR/xhtml-rdfa-primer/


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bibliotecas já incluem o código para o fazer, poupa-se assim aos programadores a tarefa de gerir as incompatibilidades entre navegadores Web. No desenvolvimento do Mille Plateaux adoptou-se, de uma forma contida e exploratória de algumas das capacidades de manipulação visual dos elementos de uma página Web, o framework jQuery – www.jquery.com. O jQuery tem no entanto todo um conjunto de capacidades para lá da animação e estilização de elementos, prevendo-se que venha a constituir uma peça central da utilização futura da técnica AJAX, abordada no próximo capítulo.

5.2 Construção do Protótipo Recorrendo às várias tecnologias Web anteriormente descritas, desenvolveu-se o sistema de gestão de conteúdos que irá suportar o protótipo do Cenário. Usufruindo da capacidade de integração de templates presente no framework de desenvolvimento PHP Fat-Free, tentou-se reproduzir no protótipo a ergonomia e o design gráfico propostos por Mariana Figueiredo na sua dissertação [Figueiredo, 2010]. Um pequeno conjunto de projectos elaborados por alunos do Mestrado em Multimédia foi utilizado como catálogo auxiliar ao desenvolvimento e teste da plataforma de gestão de conteúdos.

Figura 10: Página inicial do protótipo.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

As próximas secções constituirão uma memória descritiva do desenvolvimento de pormenores específicos do sistema de gestão de conteúdos Mille Plateaux. Será descrita a arquitectura da plataforma e da base de dados, assim como a implementação da norma de metadados Dublin Core. Também serão abordadas as especificidades inerentes a cada um dos três géneros de objectos sociais catalogados na plataforma – utilizadores, grupos e projectos – e serão discutidos os mecanismos de pesquisa. Por fim será descrita a implementação e as funcionalidades de uma API (Application Programming Interface).

5.2.1 O Modelo REST A arquitectura do Mille Plateaux foi inspirada pelo modelo REST (Representative State Transfer), proposto por Roy Fielding na sua tese de doutoramento Architectural Styles and the Design of Network-based Software Architectures [Fielding, 2000]. Neste modelo, pressupõe-se a atribuição de significados precisos tanto aos endereços Web (URIs), como à instrução HTTP utilizada no seu acesso. A atribuição de significados precisos aos URIs (Uniform Resource Identifiers), implica que cada objecto social catalogado esteja dotado de um endereço Web permanente, o que vai ao encontro dos princípios definidos no capítulo 4 e será descrito em maior pormenor na secção 5.2.4. No modelo REST o acesso ao endereço http://www.cenar.io/projectos/555 implica que se efectue uma acção sobre o projecto identificado na base de dados pelo número 555. A determinação da acção a executar virá da outra componente do modelo REST: a atribuição de significados precisos às quatro instruções especificadas pelo protocolo HTTP – GET, POST, PUT e DELETE – que verbalizam o tipo de pedido efectuado ao servidor Web.

Supondo que a página de entrada do Cenário tem como endereço http://www.cenar.io/, o acesso a endereços idênticos terá um resultado diferente consoante a instrução HTTP utilizada: GET http://www.cenar.io/projectos/ produzirá uma lista de projectos, enquanto a instrução POST http://www.cenar.io/projectos/ adicionará ao catálogo um novo projecto contendo dados

submetidos pelo utilizador (pressupõe-se o preenchimento de um formulário), devolvendo porventura uma página HTML relatando o sucesso ou insucesso da operação. GET http://www.cenar.io/projectos/555

produzirá a página relativa a um projecto específico.

Verifica-se que na prática a utilização das instruções PUT e DELETE coloca dificuldades acrescidas ao nível da configuração do servidor Web. Desta forma, a eliminação de um projecto não recorrerá como previsível à instrução DELETE http://www.cenar.io/projectos/555, mas sim a um endereço Web específico para esta acção – neste caso a instrução HTTP será GET http://www.cenar.io/delete/works/555.


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Encaminhamento e Execução Referiu-se que uma das capacidades do PHP Fat-Free é o encaminhamento (routing) de pedidos via HTTP para a execução das funções relevantes do script PHP. Desta forma, o servidor Apache foi configurado de modo a que todos os pedidos sem correspondência no sistema de ficheiros sejam encaminhados para o script index.php. Em conformidade com o modelo REST, este script associa a execução das funções relevantes aos pedidos HTTP recebidos pelo servidor. O seguinte diagrama ilustra, de forma simplificada, o processo de resposta do Mille Plateaux aos pedidos de leitura do catálogo (ou seja, pela instrução GET), efectuados por um navegador Web ou por uma aplicação que tire partido da API.

Figura 11: Esquema simplificado da execução do Mille Plateaux.

Um pedido efectuado a partir de um navegador Web será encaminhado em primeiro lugar para uma função de autenticação da classe session. Interagindo com a base de dados através da classe dbAccess, será determinado se o utilizador está registado e se os seus dados de sessão estão correctos, de modo a autorizar eventuais alterações à base de dados resultantes do pedido. A execução do script prosseguirá através da execução das funções relevantes dentro da classe de visualização apropriada (mpUsers, mpWorks, mpGroups, etc.). As informações requisitadas serão recolhidas através da chamada de funções contidas na classe de interacção com a base de dados (dbRead), sendo de seguida inseridas nos templates apropriados, de modo a devolver ao cliente uma página HTML.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Até ao momento apenas foi implementada uma API de leitura, que presta o acesso ao catálogo mas não permite a sua modificação. Os pedidos GET dirigidos a endereços Web sob http://domínio/api/read/ serão encaminhados para a função relevante da classe apiRead sem

que haja lugar a autenticação prévia. Serão chamadas funções contidas nas classes de interacção com a base de dados de forma a recolher os dados relevantes. Caso o formato de resposta requisitado seja o XML, esta será gerada também através do preenchimento de templates.

5.2.2 Base de Dados Na concepção da base de dados do Mille Plateaux recorreu-se, de acordo com o modelo relacional, ao uso de tabelas de junção como mecanismo de registo das diferentes relações entre objectos sociais. Tal mecanismo de registo das inter-relações existentes entre projectos, grupos e utilizadores é ilustrado pelo diagrama seguinte (omitiram-se em cada tabela, para melhor clareza da figura, os atributos não correspondentes a chaves primárias ou externas).

Figura 12: Relações entre as tabelas da base de dados.

A título de exemplo, na tabela groups_users são registadas, através de referências cruzadas, as associações entre utilizadores e grupos: caso exista um grupo ‘FEUP’, com o atributo id (que será uma chave primária e única) igual a 7 na tabela groups, e um utilizador chamado ‘Eduardo’ com o atributo id igual a 23 na tabela users, verificar-se-á que este utilizador pertence ao grupo


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‘FEUP’ caso a tabela groups_users contenha um registo em que o valor do atributo gid seja 7 e o valor do atributo uid iguale 23. Tal concepção da base de dados efectua, segundo se verifica, uma separação entre a definição dos objectos sociais (os nós da rede) e a definição das ligações. Será garantida desta forma a flexibilidade da plataforma tendo em vista o seu desenvolvimento futuro. A implementação de uma nova funcionalidade, como por exemplo a capacidade de escrever comentários relativos aos projectos, poderá ser feita sem modificar a estrutura da base de dados existente: bastará adicionar uma tabela que contenha os comentários e as chaves que relacionam cada comentário com o projecto e o utilizador relevantes.

Tabelas SQL

Função

groups

Grupos (Escolas)

groups_admin

Associa Grupos e Utilizadores que os administram

groups_users

Associa Grupos e Utilizadores associados

groups_works

Associa Grupos e Projectos associados

users

Utilizadores (Autores)

users_access

Informações de autenticação do Utilizador (password, etc.)

users_likes

Associa Utilizadores e Projectos favoritos

users_works

Associa Utilizadores e Projectos dos quais são criadores

works

Projectos

works_artifacts

Artefactos multimédia dos Projectos Tabela 4: Tabelas SQL da plataforma Mille Plateaux.

No quadro acima descrevem-se as tabelas existentes na base de dados da actual versão do Mille Plateaux. Os atributos de cada tabela de definição dos conteúdos – groups, users e works – serão abordados em maior detalhe nas próximas secções.

5.2.3 Metadados Ilaria Torre afirma que a diferença entre os termos ‘Web 2.0’ e ‘Web semântica’ (ou ‘Web 3.0’) residirá no uso respectivo de “técnicas semânticas fracas” e “técnicas semânticas fortes” por parte dos serviços Web que interpretam tais paradigmas. O primeiro conjunto de técnicas será caracterizado pelas chamadas ‘folksonomias’, ou seja, técnicas que permitem à comunidade de utilizadores a etiquetagem (tagging) dos conteúdos que contribuem para um serviço Web. As


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

técnicas semânticas fortes serão caracterizadas pela adopção de taxonomias, através de um uso rigoroso de normas de descrição dos conteúdos (‘metadados’) e pela adopção de vocabulários controlados na descrição dos mesmos [Torre, 2009]. Na concepção do Mille Plateaux adoptaram-se conceitos de ambos os géneros de técnicas semânticas descritos por Ilaria Torre. É prestada aos utilizadores a capacidade de enriquecer as descrições de projectos e de grupos através da atribuição livre de etiquetas (vulgo ‘tags’). Estas poderão ser utilizadas como auxiliares às funções de pesquisa e ao estabelecimento de relações entre objectos. No entanto, foi de igual forma implementadas técnicas que visam a adopção de taxonomias. Mariana Figueiredo referiu na sua dissertação a necessidade de o Cenário – e em consequência o sistema de gestão de conteúdos – adoptar a norma de catalogação Dublin Core [Figueiredo, 2010]. Na mesma dissertação também foi definido um vocabulário normalizado a ser utilizado na definição do assunto de uma obra (elemento subject). Elementos

Significado

title

Título

creator

Autor

subject

Palavras-chave que descrevem o assunto

description

Descrição

publisher

Responsável pela disponibilização

contributor

Entidades que contribuíram

date

Data (segundo a norma em www.w3.org/TR/NOTE-datetime)

type

Tipo de conteúdo

format

Formato físico ou digital

identifier

Referência singular ao recurso

source

Referência a um recurso do qual o recurso actual deriva

language

Idioma

relation

Referência a um recurso relacionado

coverage

Referência espacial, temporal ou de jurisdição sobre o recurso

rights

Propriedade intelectual Tabela 5: Elementos base da norma Dublin Core [DCMI, 2010].

A concepção da base de dados do Mille Plateaux incorporou desta forma alguns elementos da norma Dublin Core. Na secção 5.2.8 abordar-se-á a constituição do perfil de um projecto, verificando-se a correspondência entre os atributos que o caracterizam (tabela works) e alguns


63

dos elementos especificados pela norma Dublin Core. A norma não contempla a obrigatoriedade de uso de todos os elementos especificados, pelo que só foram adoptados os elementos mais relevantes no contexto do Cenário. A concepção da API do Mille Plateaux também reflecte a norma Dublin Core. O exemplo seguinte ilustra a resposta em formato XML ao pedido de dados acerca de um projecto, feito através da instrução HTTP GET http://cenar.io/api/read/getwork.xml?id=19: <works> <work id="19"> <dc.title>Change Your Habits Today</dc.title> <dc.creator>Eduardo Morais</dc.creator> <dc.subject>video</dc.subject> <dc.description> An ecological message.</dc.description> <dc.contributor id="1">Eduardo Morais</dc.contributor> <dc.date>2009</dc.date> <dc.type>Collection</dc.type> <dc.identifier>http://cenar.io/projectos/19</dc.identifier> <created_at>Thu, 11 Mar 2010 17:34:11 +0000</created_at> [...] <artifacts> <artifact id="2" type="video"> <dc.title>Video</dc.title> <dc.description> The streaming video.</dc.description> <dc.type>MovingImage</dc.type> <dc.identifier>http://cenar.io/projectos/19#video-2 </dc.identifier> <dc.source>http://cenar.io/projectos/19</dc.source> <resource>http://www.vimeo.com/3034217</resource> </artifact> [...] </artifacts> </work> </works>

Alguns dos elementos da norma Dublin Core (identificados pelo prefixo dc) presentes no exemplo são inferidos a partir de informação recolhida noutras tabelas da base de dados. Os nomes dos criadores, por exemplo, estão registados na tabela users, sendo a associação ao projecto efectuada, como se viu, pela tabela de junção users_works. A norma Dublin Core também permite, através dos elementos source e identifier, que se represente um projecto como constituído por uma colecção de diferentes artefactos multimédia: veja-se, no exemplo anterior, como o elemento type do projecto, adoptando o vocabulário normalizado * sugerido pela norma Dublin Core, remete para uma colecção de artefactos.

*

Especificado em www.dublincore.org/documents/dcmi-type-vocabulary/


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

5.2.4 Endereços Web There are no reasons at all in theory for people to change URIs [Berners-Lee, 1998].

O Mille Plateaux trata-se de um sistema concebido para a gestão de um catálogo com três tipos de objectos sociais – obras, grupos e utilizadores – correspondentes à tríade Projectos, Escolas e Autores definida para o Cenário. Como foi discutido, o enriquecimento de objectos com dados acerca das suas associações obriga a que todos estes objectos estejam identificados através de uma referência única. No sistema desenvolvido, tal referência corresponde ao atributo id das tabelas da base de dados correspondentes à definição de objectos. A existência deste código de identificação único vem permitir a implementação já referida de endereços Web permanentes para cada objecto social e subjacente ao modelo REST. Vem também ao encontro dos reparos de Tim Berners-Lee em defesa da adopção de URIs permanentes por parte dos serviços Web que pretendam prestar aos seus utilizadores uma boa ergonomia e uma garantia de longevidade dos links de acesso aos conteúdos [Berners-Lee, 1998]. Gavin Bell menciona três problemas correntes a ter em conta na planificação de endereços Web: referências à tecnologia, inconstância e falta de singularidade [Bell, 2009]. Na Tabela 6 são listados alguns dos endereços Web geridos pelo Mille Plateaux. Julga-se que a sua concepção permite evitar os problemas mencionados, verificando-se que cada endereço relativo a um dado objecto social é singular, estando identificado o tipo de objecto a que se refere e a acção que a página permitirá efectuar caso não esteja em causa a mera leitura do catálogo. Endereços Web (a partir de http://domínio)

Informação gerada

/

Página Principal

/autores 1

/autores/# 1

Lista de autores / Ficha do autor nº #

/projectos 1

/projectos/# 1

Lista de projectos / Ficha do projecto nº #

/grupos 1

/grupos/# 1

Lista de grupos / Ficha do grupo nº #

/signup /login

Inscrição de um novo utilizador /logout

Formulário de login / Pedido de logout

/create/*

Formulários de criação de grupo / projecto

/edit/*/#

Formulários de edição do utilizador / grupo / projecto nº #

/api/read/*

Endereços da API de leitura

1

A plataforma Mille Plateaux permite configurar as palavras ‘autores’, ‘projectos’ e ‘grupos’.

Tabela 6: Principais endereços Web do Cenário.


65

Supondo que o domínio Web do Cenário é cenar.io, o acesso através da instrução GET ao endereço Web http://cenar.io/projectos/888 prestará, como vimos, acesso à página Web do projecto catalogado na tabela works com o atributo id igual a 888. Através do acesso ao endereço http://cenar.io/api/read/getwork.json?id=888, relativo à API de leitura do Cenário (abordada em detalhe na secção 5.2.11), uma aplicação poderá obter os dados acerca do mesmo projecto no formato JSON. O sistema de encaminhamento anteriormente descrito, implementado pela combinação do uso do módulo mod_rewrite do servidor Apache com a capacidade de routing do framework PHP Fat-Free, dissocia os endereços adoptados pelo site da arquitectura do mesmo. A introdução de novas funcionalidades e a mudança de tecnologias na plataforma não implicará necessariamente a desactualização dos links que possam existir para os objectos nela catalogada. Garantir-se-á a sua manutenção através de ajustes no sistema de reencaminhamento.

5.2.5 Identidades No actual estado do protótipo, é permitido que qualquer pessoa se registe como utilizador da plataforma Cenário. De modo a encorajar esse registo e a prestar uma experiência de utilização simples, verifica-se que no formulário respectivo (fig. 14) apenas é requisitado ao utilizador o seu nome, o seu endereço de e-mail e a password desejada. Os restantes atributos constituintes do perfil de um utilizador poderão ser adicionados posteriormente, como será abordado na próxima secção.

Figura 13: Formulário de registo de um novo utilizador.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Uma vez que toda a gestão e manutenção dos catálogos implementados através do Mille Plateaux será efectuada pelos utilizadores registados, será fundamental assegurar a segurança das identidades. No seu livro Building Social Web Applications, Gavin Bell sugere algumas medidas de segurança simples que deverão ser implementadas [Bell, 2009]: i.

Deverá ser requerida uma verificação do endereço de correio electrónico;

ii.

Os endereços de e-mail nunca deverão ser exibidos publicamente no site;

iii.

Deverá ser implementado um sistema que ajude os utilizadores a escolher passwords fortes;

iv.

O processo de login deverá ser protegido, no mínimo, pelo protocolo de segurança SSL de 256 bits;

v.

Nunca deverá ser registada uma password sem encriptação.

Na implementação actual do Mille Plateaux seguem-se alguns destes conselhos. Verifica-se que os endereços de correio electrónico, utilizados em conjunto com as passwords no processo de início de sessão, são mantidos confidenciais, pretendendo-se desta forma tentar proteger os utilizadores de eventuais intrusões nos seus perfis e da recepção de correio não solicitado. Igualmente se verifica que as passwords gravadas na base de dados são previamente encriptadas por via do recurso à função sha1() * do PHP (que implementa o US Secure Hash Algorithm 1). Alguns dos conselhos de Bell ainda não se encontram implementados nesta fase de desenvolvimento de um protótipo. No entanto, a adopção de sistemas de verificação dos endereços de e-mail e da fiabilidade das passwords deverão ser prioridades do desenvolvimento futuro da plataforma, devendo estar implementados antes do seu lançamento público. Admite-se que não é uma boa solução, do ponto de vista da experiência de utilização, forçar cada utilizador ao registo em mais um site e a recordar-se daquela que será mais uma password de acesso. Será necessário mencionar as tecnologias de autenticação em actual desenvolvimento: Protocolos e APIs como o OpenID † e o FacebookConnect ‡ permitem a federação do registo em vários sites sob uma única identidade, enquanto o oAuth § visa modalidades de autenticação ainda mais precisas, relativas por exemplo a um único objecto social. A exploração destas tecnologias emergentes não se enquadra nesta dissertação, mas deverá ser também prioritária no desenvolvimento futuro da plataforma Mille Plateaux.

*

www.php.net/manual/en/function.sha1.php

www.openid.net

http://developers.facebook.com/docs/guides/web

§

www.oauth.net


67

5.2.6 Utilizadores Verifica-se que, entre os três tipos de objectos sociais geridos pelo sistema Mille Plateaux, os utilizadores serão o tipo de objecto cuja composição será mais simples. A figura seguinte consiste numa captura de ecrã de uma página Web do Cenário, correspondente a um perfil de utilizador inteiramente preenchido, tal como visualizada através do navegador Google Chrome. Repare-se que uma vez que esse perfil corresponde ao utilizador que tem a sessão iniciada na plataforma, surgem do lado direito links de acesso às funções de edição do perfil.

Figura 14: Perfil de um utilizador.

O perfil de um utilizador é composto pelo seu nome e as datas de registo e último acesso à plataforma, sendo opcional o envio de uma imagem (discutida na secção 5.2.9) e o preenchimento de um endereço Web pessoal e de um pequeno texto introdutório – que poderá conter endereços Web adicionais que serão transformados em links quando se aceda ao perfil por via do frontend Web. No quadro seguinte resumem-se os atributos que definem o perfil de um utilizador na tabela respectiva da base de dados.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Tabela users

Atributos

id

Número de identificação do utilizador

created_at

Unix time de criação do perfil

last_login

Unix time da última visita ao site pelo utilizador

name

Nome do utilizador

email

E-mail do utilizador

url

Endereço Web da página pessoal do utilizador

description

Texto de apresentação do utilizador Tabela 7: Atributos da tabela de definição de utilizadores.

Como foi mencionado, o atributo email servirá apenas para a autenticação do utilizador, mantendo-se confidencial. Verifica-se no entanto que uma quantidade mais vasta de informação estará associada a perfil de um utilizador consoante as relações estabelecidas com grupos e projectos. O seguinte diagrama ilustra as relações possíveis, na actual versão da plataforma, com as restantes tabelas existentes na base de dados.

Figura 15: Porção do esquema da base de dados relativa aos utilizadores.

Verifica-se que as passwords encriptadas dos utilizadores são registadas separadamente na tabela users_acess, de modo a garantir que não são legíveis através de uma instrução SQL que aceda a todos os atributos da tabela users. Verifica-se ainda que a tabela users_works, destinada a estabelecer as relações de autoria entre utilizadores e projectos, está dotada de atributos que permitem caracterizar essa relação: role e is_colab registam respectivamente qual a tarefa desempenhada pelo utilizador na execução do projecto e se o utilizador é ou não um colaborador externo (como sucederá, por exemplo, no caso de um estudante de artes performativas que colabore como actor num projecto de um curso da área audiovisual).


69

5.2.7 Grupos A complexidade do perfil de um grupo catalogado numa implementação do Mille Plateaux advirá da possibilidade, discutida no capítulo 4, de cada grupo se situar num patamar hierárquico. Considerado individualmente, julga-se que o perfil de um grupo será tão simples como o perfil de um utilizador. A captura de ecrã seguinte diz respeito ao perfil de um grupo, visualizado no Google Chrome. Tratando-se de um subgrupo, surgirão acima do nome links para as fichas dos grupos superiores na escala hierárquica. Verificando-se a existência de subgrupos, os links de acesso aos perfis respectivos surgem abaixo da descrição.

Figura 16: Perfil de um grupo.

A ficha de um grupo catalogado na plataforma será composta pelo seu nome e pela data de criação, sendo opcional a atribuição de etiquetas, o envio de uma imagem ilustrativa (discutida na secção 5.2.9) e o preenchimento de um pequeno texto introdutório (que poderá conter endereços Web que serão transformados automaticamente em links). O quadro seguinte resume quais os atributos que definem o perfil de um grupo na respectiva tabela da base de dados:


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Tabela groups

Atributos

id

Número de identificação do grupo

created_at

Unix time de criação do perfil

name

Nome do grupo

url

Endereço Web do grupo

description

Texto de apresentação do grupo

tags

Etiquetas relativas ao grupo

parent

Número de identificação do grupo a que pertence (se subgrupo) Tabela 8: Atributos da tabela de definição de grupos.

Uma quantidade de informação mais vasta estará associada a perfil de um grupo mediante as relações estabelecidas com utilizadores e projectos. No diagrama abaixo ilustram-se as relações possíveis entre a tabela de definição de grupos e as tabelas de junção com os restantes tipos de objectos existentes.

Figura 17: Porção do esquema da base de dados relativa aos grupos.

Verifica-se não ser necessário o registo de múltiplas etiquetas numa tabela dedicada. O atributo tags poderá conter um único string de texto com várias etiquetas delimitadas por vírgulas,

transformável numa matriz (array) de etiquetas através da função de PHP explode(). * Verifica-se também que a relação hierárquica entre grupos será definida sem recurso a uma tabela de junção, que neste caso se julga desnecessária. Na tabela groups encontra-se o atributo parent, que referencia o id do eventual ‘grupo-mãe’.

Neste momento ainda não fazem parte da base de dados as estruturas necessárias para a definição de relações provisórias entre grupos e utilizadores, de modo a permitir a existência de um processo de aprovação dos membros de um grupo. A implementação de tal capacidade, que faz parte dos princípios funcionais definidos no capítulo 4, deverá ser uma das primeiras prioridades do desenvolvimento futuro do Mille Plateaux.

*

www.php.net/manual/en/function.explode.php


71

5.2.8 Projectos Entre os três géneros de objectos sociais geridos pelo CMS Mille Plateaux, verifica-se os projectos terão a constituição mais complexa, quando considerado que da sua composição poderá fazer parte um conjunto de artefactos multimédia. Na captura de ecrã seguinte, que diz respeito à página Web de um projecto (visualizada através do Google Chrome), é possível verificar-se a existência de diversos painéis de consulta dos artefactos multimédia associados:

Figura 18: Ficha de um projecto, estando seleccionado o painel de consulta de vídeos.

Um projecto catalogado terá uma ficha composta pelo seu título, pela data de criação, pelo assunto ou género e pelo número de visitas à página Web do projecto. O utilizador que submeta o projecto poderá ainda escrever uma descrição, atribuir etiquetas e indicar uma imagem que represente o projecto, que poderá ser enviada ou escolhida entre imagens que já tenham sido previamente enviadas como artefactos multimédia. Na Tabela 9 resumem-se os atributos que definem o perfil de um projecto na respectiva tabela da base de dados. Como foi mencionado anteriormente, verifica-se que alguns destes atributos correspondem ao definido pela norma Dublin Core (ver Tabela 5). Verifica-se, por exemplo, que a data do projecto (date) será registada num dos formatos especificados pela


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

norma. * Isto contrasta com a forma utilizada na plataforma para registar as datas de criação de perfis (created): a exemplo da forma adoptada nas tabelas correspondentes a utilizadores e grupos, tais datas são registadas através do seu número Unix timestamp †, permitindo a fácil conversão para qualquer formato de data através das funções incorporadas na linguagem PHP. Tabela works

Atributos

id

Número de identificação do projecto

created_at

Unix time de criação do perfil

title

Título do projecto (Dublin Core)

subject

Assunto do projecto (Dublin Core, vocabulário controlado)

description

Texto de descrição do projecto (Dublin Core)

contributor

Número de identificação do utilizador que submeteu o projecto (Dublin Core)

date

Data do projecto (Dublin Core, formato DD-MM-AAAA, MM-AAAA ou AAAA)

tags

Etiquetas relativas ao projecto

views

Número de visitas ao perfil do projecto Tabela 9: Atributos da tabela de definição de projectos.

Verifica-se que os utilizadores podem ter três tipos de relação com um projecto: como autores ou participantes, tendo adicionado o projecto aos seus favoritos, ou como responsáveis pela catalogação (um por projecto, referenciado no respectivo atributo contributor).

Figura 19: Porção do esquema da base de dados relativa aos projectos.

No diagrama acima ilustram-se as relações possíveis entre as tabelas de definição de projectos e as tabelas de junção com os restantes tipos de objectos existentes. A composição dos artefactos multimédia associados será abordada em maior detalhe na próxima secção.

*

www.w3.org/TR/NOTE-datetime

Registo dos segundos passados desde a meia-noite (GMT) do dia 1 de Janeiro de 1970 [Stover, 2006].


73

5.2.9 Artefactos Multimédia Como mencionado anteriormente, o objectivo de prestar aos utilizadores o acesso a uma quantidade bastante significativa de informação acerca dos trabalhos desenvolvidos nos cursos superiores de carácter criativo leva a que cada projecto catalogado numa implementação do Mille Plateaux seja enriquecido pela incorporação de artefactos multimédia de diversos tipos. Verifica-se que apesar da variedade de artefactos, todos são definidos numa única tabela da base de dados, cujos atributos são resumidos no seguinte quadro: Tabela works_artifacts

Atributos

id

Número de identificação do artefacto

wid

Número de identificação do projecto a que pertence

sorting

Unix time através do qual são ordenados os artefactos

type

Tipo de artefacto (vocabulário controlado)

title

Título do artefacto

description

Texto de descrição do artefacto

resource

Conteúdo do artefacto (texto, URI ou código HTML) Tabela 10: Atributos da tabela de definição de artefactos multimédia.

Segundo se conclui, o atributo type permite a diferente interpretação dos restantes atributos de um artefacto consoante o tipo (texto, imagem, vídeo, etc.). Inclusivamente, a utilização do atributo type como nome de uma classe CSS permitirá a apresentação diferenciada, no navegador Web, entre tipos de artefactos semelhantes. Na Tabela 11 apresenta-se o vocabulário controlado adoptado na definição do atributo type de um artefacto. Seguir-se-ão descrições pormenorizadas de cada tipo de artefacto. Tipos de artefactos

Conteúdo

text

Textos

link

Hiperligações para páginas Web

download

Hiperligações para ficheiros para descarga

image

Imagens

video

Inserções de vídeo externo (embedding)

audio

Inserções de áudio externo (embedding)

embed

Inserções de conteúdos diversos externos (embedding) Tabela 11: Tipos de artefactos multimédia.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Texto A ficha de um projecto poderá ser enriquecida através da introdução de textos adicionais. Em tais artefactos, identificados com a palavra text no atributo type, os atributos title e description corresponderão, evidentemente, ao título e a um texto curto – que poderá ser a descrição ou súmula de um texto maior. Nesse caso, o atributo resource, de preenchimento opcional, definirá um texto maior, que poderá ser expandido. Embora tal capacidade não seja prevista ao nível de um único artefacto, a divisão do texto associado a um projecto em capítulos separados será possível através da associação de múltiplos artefactos deste tipo.

Hiperligações e Ficheiros De momento, encontram-se implementados dois tipos de artefactos destinados à associação de hiperligações a projectos – link e download –, correspondentes respectivamente à ligação a uma página Web ou a um ficheiro para descarga. Sendo evidente que o atributo title deverá conter o título a dar ao link, o atributo resource deverá conter o endereço URI relevante. Não se julga obrigatória a redacção de um texto que descreva o link, que poderá no entanto ser definido através do atributo description. Na actual versão do sistema de gestão de conteúdos não é prevista a possibilidade de permitir ao utilizador o envio dos ficheiros a disponibilizar para descarga, pelo que desta forma tais ficheiros terão que estar alojados num outro servidor Web. Pensa-se que tal capacidade implica uma séria exigência de recursos de armazenamento e de largura de banda ao servidor Web onde esteja implementado o sistema Mille Plateaux. O desenvolvimento futuro do projecto Cenário ditará a eventual implementação de uma capacidade de gestão de ficheiros armazenados localmente ou num serviço de alojamento e distribuição de conteúdo em larga escala.

Imagens Relativamente aos artefactos definidos pelo tipo images implementou-se a capacidade de upload por parte dos utilizadores, existindo a alternativa de ser indicado o URI de uma imagem alojada num outro servidor Web, que será então copiada para o servidor onde esteja implementado o Mille Plateaux. A atribuição de títulos e textos descritivos a cada imagem será inteiramente opcional. Será através do atributo id – o número de identificação do artefacto – que as imagens armazenadas localmente serão identificadas.


75

Um utilizador que aceda via Web ao protótipo do Cenário, poderá deparar-se com a mesma imagem, apresentada em tamanhos variados, em diferentes secções do site. Enquanto se verifica que na ficha de um projecto a imagem representativa terá 500 pixels de largura, a mesma imagem surgirá com 160 pixels de largura quando integrada numa listagem (fig. 21), ou será apresentada como um quadrado de 75 pixels de lado quando apresentada na barra lateral do perfil de um grupo, como relativa a um dos projectos aí desenvolvidos. Uma das capacidades incorporadas no Mille Plateaux é o redimensionamento automático das imagens, à medida que estas forem requisitadas, para tamanhos e relações pré-definidas entre largura e altura.

Figura 20: Lista de projectos associados a um grupo.

Caso se verifique a inexistência de uma imagem no endereço http://cenar.io/content/images/ artifacts/555_160.jpg, relativa à versão com 160 pixels de largura do artefacto identificado com

o atributo id igual ao número 555, o sistema de reencaminhamento de pedidos HTTP descrito anteriormente levará à execução de uma função, do script PHP, que irá redimensionar a imagem originalmente enviada para o sistema e que estará arquivada, no servidor Web numa localização como por exemplo /original_content/images/artifacts/555.png. Suportam-se os formatos de imagem JPEG, GIF e PNG, efectuando-se a conversão conforme o formato requisitado. A gestão das imagens representativas de utilizadores, grupos e da descrição geral de um projecto efectua-se da mesma forma.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Apesar de o protótipo a suportar, a gestão de um arquivo de imagens implica requisitos de espaço de alojamento Web que poderão ser elevados se considerado um catálogo muito vasto. Os tamanhos possíveis para as imagens disponibilizadas são pré-definidos (e configuráveis), de modo a evitar a possibilidade de que aplicações que tirem partido da API do Mille Plateaux levem a uma produção desmesurada de imagens redimensionadas. Recuperando o exemplo anterior, o sistema de reencaminhamento anteriormente descrito responderia ao pedido da imagem http://cenar.io/content/images/artifacts/555_161.jpg com o erro 404 do protocolo HTTP (recurso não encontrado), verificando-se que 161 pixels de largura não é um tamanho autorizado.

Vídeo, Áudio e ‘Embedded Media’ Existe uma grande afinidade entre os últimos três tipos de artefacto geridos pela actual versão do CMS Mille Plateaux – video, audio e embed. Como foi referido nas considerações acerca da disponibilização de ficheiros para descarga, a actual concepção do sistema de gestão de conteúdos não comporta funcionalidades que impliquem a gestão e distribuição de grandes volumes de dados, pelo que a associação de vídeos, faixas de som e outros conteúdos multimédia será feita através do recurso a serviços Web externos que permitam o embedding de conteúdos por eles alojados e distribuídos. O tipo de artefacto video destina-se à inserção de artefactos vídeo a partir de locais como o YouTube e o Vimeo, enquanto o tipo audio se destina à inserção de artefactos áudio a partir de serviços como o Soundcloud. O tipo embed permitirá a inserção de artefactos diversos a partir de outros serviços que facilitem o embedding, como o Slideshare (apresentações) ou o Issuu (documentos PDF). A atribuição de títulos e textos descritivos a cada um destes conteúdos será inteiramente opcional. O atributo resource, no entanto, deverá conter a porção de código HTML com o conteúdo a inserir, que deverá ser disponibilizada pelo serviço Web em causa. Tal como sucede no caso dos artefactos do tipo link e download, a escolha entre os três tipos – video, audio e embed – tem como função principal a especificação do tratamento formal a ser dado à apresentação do artefacto (em que separador, com que estilo CSS, etc.). A implementação destes artefactos não impede a inserção de vídeos no separador ‘Áudio’ e vice-versa, devendo o utilizador responsável pela inserção fazer a escolha correcta. Os artefactos explicitados como do tipo video têm contudo uma funcionalidade acrescida: no caso da inserção de vídeos a partir do YouTube ou do Vimeo, bastará que atributo resource contenha o endereço Web da página relativa ao vídeo nos respectivos sites, em vez da porção de HTML necessária para a inserção, uma vez que foram implementados acessos às respectivas


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APIs oEmbed. *. Mediante o envio de um conjunto de parâmetros, entre os quais, evidentemente, a identificação do vídeo a ser inserido mediante o respectivo URI, tais APIs devolvem um fragmento HTML já configurado para a inserção do vídeo com as dimensões adequadas, entre outros parâmetros. Verifica-se que a maioria dos artefactos inseridos através do método de embedding consistirá em aplicações Adobe Flash. Assim, a visualização de tais artefactos não estará disponível em alguns dispositivos de popularidade emergente, como o iPad da Apple. No entanto, alguns serviços Web têm vindo a ser tomar medidas tendo em vista a resolução de tais incompatibilidades. O fragmento HTML de inserção de vídeos disponibilizado pelo Vimeo, por exemplo, contempla a inserção de vídeo através da respectiva etiqueta da norma HTML 5 por parte dos dispositivos que não suportem o Adobe Flash. Será previsível que outros serviços Web venham a seguir este exemplo.

5.2.10 Pesquisas Search often comes last on the list of things to design and build; it's almost an afterthought. Two factors contribute to this: it is hard to build a decent search interface when you have a sprinkling of test content, and the common, visually led design approaches focus on pages you can navigate easily. Search is likely to be an area of the site you revise often, sometimes completely replacing the functionality. [Bell, 2009]

Como Gavin Bell refere, verifica-se que uma das dificuldades da implementação do sistema de pesquisa do Mille Plateaux consistiu no tamanho reduzido do catálogo de teste. Uma vez que se verifica que a navegação por objectos associados será o método privilegiado de consulta do catálogo, pensa-se que o desenvolvimento das capacidades de pesquisa deverá crescer com as implementações do CMS Mille Plateaux, nomeadamente o projecto Cenário. A versão actual do Mille Plateaux adopta uma interface de pesquisa minimalista: uma única caixa de inserção de texto permite a pesquisa de projectos, utilizadores e grupos. Um pequeno menu surgirá durante o preenchimento da caixa, permitindo escolher qual o tipo de conteúdo a pesquisar. Surgirá seleccionado por defeito o tipo de conteúdo relativo à área do site onde se estiver, estando pré-seleccionada a pesquisa de projectos no caso de se estar a aceder a uma área neutra como a página inicial.

*

www.oembed.com


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Figura 21: Interface de pesquisa.

Na implementação da funcionalidade de pesquisa encontrada na versão actual do sistema de gestão de conteúdos, a pesquisa efectua-se pela comparação do texto introduzido com os dados relativos a um conjunto de atributos de projectos, grupos e utilizadores. No seguinte quadro resumem-se os atributos pesquisados relativamente a cada tipo de objecto: Objectos sociais

Atributos pesquisados

Projectos

Título, assunto, descrição, etiquetas.

Utilizadores

Nome, endereço de e-mail.

Grupos

Nome, etiquetas. Tabela 12: Atributos pesquisados na versão actual do Mille Plateaux.

Mencionou-se que os endereços de e-mail dos utilizadores são mantidos confidenciais, sendo verdade que nunca são exibidos publicamente em qualquer área do site. No entanto, julga-se útil poder efectuar a pesquisa de utilizadores através deste dado. Como salvaguarda, a pesquisa de um endereço de e-mail apenas terá resultado se introduzido o endereço exacto do utilizador, pressupondo-se assim um conhecimento prévio por parte de quem faz a pesquisa. Gavin Bell afirma que a adopção de formulários avançados de pesquisa, que permitem escolher quais os atributos exactos a pesquisar, será um erro que complexificará, em vez de simplificar, a tarefa de encontrar um dado objecto [Bell, 2009]. O autor concede, no entanto, a importância de possibilitar uma filtragem cronológica. Embora esta capacidade ainda não esteja implementada, fica assim apontada como uma evolução a implementar na funcionalidade de pesquisa do Mille Plateaux. Será igualmente pertinente, porventura, a implementação futura da capacidade de se pesquisar um determinado tipo de objecto com base nas suas associações. Tal permitiria a obtenção, por exemplo, de uma lista de autores a partir de uma pesquisa que coincida com o título de um projecto, ou de uma lista de projectos através de uma pesquisa que corresponda também a uma das etiquetas que define o grupo a que pertencem.


79

5.2.11 API Como foi mencionado, o Mille Plateaux disponibiliza uma API (Application Programming Interface) de forma a possibilitar o desenvolvimento de aplicações que usufruam do catálogo gerido pelo CMS. Tal API poderá ser explorada, por exemplo, na implementação de uma showcase actualizada permanentemente através do acesso ao catálogo de projectos associados a uma determinada instituição académica. A API poderá também ser utilizada para alicerçar o desenvolvimento de aplicações móveis de acesso ao catálogo do Cenário ou de outro serviço Web que implemente o Mille Plateaux. De momento apenas foi implementada uma API ‘read-only’, ou seja, que apenas permite a leitura do catálogo. A sua concepção foi inspirada na arquitectura das APIs dos serviços Web Tumblr * e Twitter, † incorporando o modelo REST referido anteriormente. O acesso à API por parte de uma aplicação será efectuado através do envio do seguinte pedido via HTTP: GET http://domínio/api/read/método.formato?parâmetros

Segue-se uma descrição mais pormenorizada dos métodos, parâmetros e formatos suportados pela API do Mille Plateaux.

Métodos e Parâmetros A API de leitura do Mille Plateaux permite efectuar dois tipos de operações relativamente a cada tipo de objecto social gerido pela plataforma: a obtenção de listagens (que podem resultar de uma pesquisa) e a obtenção de fichas detalhadas. No seguinte quadro listam-se quais os seis métodos suportados actualmente pela API do Mille Plateaux: Métodos

Resultados

listworks

Lista de projectos.

listusers

Lista de utilizadores.

listworks

Lista de grupos.

getwork

Ficha de um projecto.

getuser

Ficha de um utilizador.

getgroup

Ficha de um grupo. Tabela 13: Métodos da API do Mille Plateaux.

*

www.tumblr.com/docs/en/api

http://dev.twitter.com/pages/streaming_api


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

A obtenção de dados específicos através da API requer também o envio de parâmetros (query strings) para o servidor. Supondo que o Cenário tem como domínio cenar.io, a seguinte instrução produzirá a ficha, em formato XML, do projecto identificado pelo id 27: GET http://cenar.io/api/read/getgroup.xml?id=27

Será obviamente imperativa a especificação de qual a ficha de um utilizador, projecto ou grupo a obter. O envio do parâmetro id será assim obrigatório no uso dos métodos getuser, getwork e getgroup. Evidentemente, presume-se que uma aplicação que utilize a API já tenha determinado

o id desejado a partir da interpretação dos dados resultantes de um pedido de listagem, cujos métodos suportam um conjunto de diferentes parâmetros, descritos na seguinte tabela: Parâmetros

Funções

Configuração num

Número de resultados por página (por defeito: 20)

page

Página a listar (por defeito: 1)

sort_by

Critério de ordenação (por defeito: data de criação)

sort_dir

Sentido da ordenação – ASC ou DESC

Pesquisa

Métodos onde aplicável

search

todos

Pesquisa texto (no nome, descrições, etc.)

tag

listgroups, listworks

Pesquisa etiquetas

subject

listworks

Lista projectos de um determinado género

group

listusers, listworks

Lista utilizadores/projectos associados ao grupo #

user

listgroups, listworks

Lista grupos/projectos associados ao utilizador #

work

listusers, listgroups

Lista utilizadores/grupos associados ao projecto #

parent

listgroups

Lista subgroups do grupo #

liked

listusers

Lista utilizadores que adicionaram o projecto # aos favoritos

likes

listworks

Lista projectos favoritos do utilizador #

Tabela 14: Variáveis GET suportadas pelas instruções de listagem da API.

A seguinte instrução produzirá uma lista em ordem alfabética dos utilizadores associados ao grupo com o id 20. Foi requisitada a terceira página da lista, dividida em 10 registos por página: GET http://cenar.io/api/read/listusers.json? group=20&num=10&page=3&sort_by=name

A funcionalidade de pesquisa comporta apenas o uso de um dos parâmetros especificados, não sendo de momento possível a realização de pesquisas que intersectem, por exemplo, o conjunto


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de projectos de um determinado grupo com o conjunto de projectos aos quais uma determinada etiqueta tenha sido atribuída. A implementação de tal capacidade poderá ser considerada durante o desenvolvimento futuro da aplicação.

Formatos de resposta De momento a API do Mille Plateaux permite o recurso a três formatos de resposta: o XML, o JSON (JavaScript Object Notation) e o PHP serializado. O XML (formato xml) visa a fácil interpretação dos resultados por parte das aplicações desenvolvidas nas mais variadas linguagens, verificando-se uma disponibilidade quase universal de bibliotecas que visam a interpretação deste formato. Na secção 5.2.3 exemplificou-se a resposta XML ao pedido da ficha de um projecto. Para a implementação desta capacidade, recorreu-se à funcionalidade de preenchimento de modelos do PHP Fat-Free, verificando-se a existência de um ‘template’ para a resposta em formato XML de cada método da API. Os restantes formatos de resposta suportados pela API – o JSON e o PHP serializado – visam utilizações em contextos mais específicos. O PHP serializado (formato serial) descreve a estrutura de objectos ou matrizes PHP. Nesta linguagem, tais estruturas podem ser facilmente convertidas em cadeias de texto e vice-versa, através das funções serialize() e unserialize(). * Este formato facilitará o acesso ao catálogo por parte de aplicações do lado do servidor, possibilitando por exemplo o fácil desenvolvimento de um script PHP – exemplificado no anexo B – que produz um feed RSS a partir da requisição de uma lista dos projectos adicionados mais recentemente à plataforma: GET http://cenar.io/api/read/listworks.serial? num=20&sort_by=created&sort_dir=DESC

De forma semelhante ao PHP serializado, o JSON (formato json) descreve a estrutura e o conteúdo de um objecto JavaScript, podendo ser facilmente interpretado e processado por um script nesta linguagem. Constituirá assim uma alternativa ao XML a considerar no desenvolvimento de scripts executados no navegador Web, nomeadamente no contexto da implementação do modelo AJAX. As versões mais recentes da linguagem PHP incluem uma função – json_encode() † – que possibilita a conversão imediata de estruturas de dados, como objectos e matrizes, em código JSON, pelo que o uso de modelos não foi necessário para a sua implementação.

*

www.php.net/manual/en/function.serialize.php e www.php.net/manual/en/function.unserialize.php

www.php.net/manual/en/function.json-encode.php


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Possibilidades futuras Pensa-se que a disponibilização da API trará um valor acrescentado às aplicações Web que implementem o Mille Plateaux, estimulando a exploração de novos usos e formas de participação por parte dos utilizadores. Possibilitar-se-á o cruzamento de dados do catálogo com os dados retirados de outras APIs públicas [Valeski, 2009], permitindo o desenvolvimento de aplicações que enriqueçam, por exemplo, a ficha de uma instituição ou de um projecto com os tweets e artigos de blogues relacionados. Também será possibilitado, tendo em vista a eventual adopção museológica, o desenvolvimento de interfaces tangíveis de acesso ao catálogo [Noble, 2009]. As potencialidades da API serão virtualmente ilimitadas. Gavin Bell propõe que o desenvolvimento de uma API tenha adicionalmente em vista a facilitação da interacção entre o servidor e o navegador Web através do uso de técnicas AJAX [Bell, 2009], referidas no próximo capítulo. Tal revisão do frontend exigirá uma expansão das capacidades da API, uma vez que funcionalidades de autenticação dos utilizadores e de escrita na base de dados serão essenciais para que esta possa ser uma componente central do acesso às plataformas através do navegador Web. A expansão das funcionalidades da API deverá ser assim incluída no desenvolvimento futuro do Mille Plateaux.

5.3 Considerações Finais A concepção e o desenvolvimento do Mille Plateaux visaram responder às necessidades de uma plataforma destinada à partilha de conteúdos académicos de natureza criativa, que por sua vez responda ao conjunto de realidades discutidas nesta dissertação e na tese complementar redigida por Mariana Figueiredo [Figueiredo, 2010]. We suggest that rather than fighting human nature by trying to force the participation of user groups throughout a project, we should broaden our thinking about development and implementation methodologies to reflect what happens in practice. We find that in practice user participation can be most powerful after ‘go live’ when users are truly engaged. [Wagner & Piccoli, 2007]

No entanto, em concordância com as opiniões citadas de Erica Wagner e Gabrielle Piccoli, pensa-se que mesmo no contexto de uma plataforma orientada para a optimização da experiência dos utilizadores, a abertura do desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos ao feedback da comunidade será mais relevante e construtiva após o lançamento de uma implementação.


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Julga-se que o lançamento online da plataforma Cenário, que actualmente existe apenas como um protótipo em servidor Web local, permitirá a obtenção de novos dados que irão auxiliar o desenvolvimento do Mille Plateaux. Parafraseando Wagner e Piccoli, espera-se que o Cenário se torne relevante para os estudantes das áreas criativas do Ensino Superior e venha a modificar os seus hábitos de criação [Wagner & Piccoli, 2007]. As reacções destes e outros utilizadores da plataforma irão condicionar inegavelmente a evolução futura do sistema de gestão de conteúdos.



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Capítulo 6

Conclusões

A crença de que será possível desenvolver um serviço Web que represente uma forma mais actual, útil e consistente de prestar acesso ao trabalho desenvolvido nos cursos académicos de vocação criativa foi a principal motivação para o desenvolvimento do Cenário. Nesta dissertação procurou-se assim compreender o significado da palavra ‘actual’, quando utilizada como adjectivo que qualifica a Web. Caracterizaram-se os hábitos de uma geração que porventura terá feito todo o seu percurso de formação escolar enquanto utilizadores da Web, debateram-se as suas motivações e hábitos de participação e envolvimento social. Mencionou-se a influência da transição para o novo paradigma da Cloud e falou-se da relação entre as arquitecturas da Web e a modelação, para lá de mediação, das interacções sociais. No capítulo seguinte, procurou-se avaliar a utilidade, relativamente à partilha e à consulta de trabalhos criativos desenvolvidos no contexto académico, tanto de um conjunto de modelos de partilha implementados habitualmente pelas instituições, como de um conjunto de diversas ferramentas de software de código aberto. Concluiu-se que, de forma aparentemente paradoxal, a flexibilidade, prometida por ferramentas cujo desenvolvimento foi orientado para uma gama abrangente de possíveis implementações, acaba por limitar a prestação de uma experiência de utilização actual e que respeite a especificidades dos projectos artísticos e criativos. Compreendendo aquilo que não se considerou satisfatório e aquilo que será esperado, delinearam-se os princípios que, indo ao encontro da concepção proposta pela minha colega Mariana Figueiredo, orientaram o desenvolvimento de um sistema de gestão de conteúdos que se julga útil, consistente e especificamente orientado para a implementação do Cenário. Descreveu-se o desenvolvimento de tal sistema – o Mille Plateaux –, através do recurso a um conjunto de tecnologias Web de adopção generalizada, sobre o qual assenta um protótipo da


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

plataforma Cenário dotado de um pequeno catálogo de teste. Abordou-se particularmente o modo como foram desenvolvidas as capacidades que respondem aos princípios específicos da sua orientação para a catalogação de matéria criativa. Como se verificou, tais capacidades serão porventura comuns noutros sistemas mas raramente coexistem de forma elegante numa só ferramenta open-source. Embora se verifiquem ainda algumas lacunas, acredita-se que uma implementação real e pública do Cenário será possível a breve prazo. Nas conclusões à sua própria dissertação, Mariana Figueiredo referiu que no entanto tal implementação irá requerer o envolvimento de diversos actores individuais e institucionais [Figueiredo, 2010]. Além dos recursos materiais e financeiros necessários à disponibilização e manutenção de uma aplicação Web de larga escala, será necessário o envolvimento de uma equipa de desenvolvimento onde sejam incluídos especialistas que possam aprofundar o desenvolvimento do sistema de gestão de conteúdos, de modo a colmatar as lacunas existentes. Pensa-se que os principais requisitos para um lançamento bem-sucedido do Cenário serão sobretudo a consciencialização por parte das instituições de Ensino Superior da pertinência da plataforma, assim como a consequente adopção por parte dos respectivos alunos. O primeiro objectivo da implementação será a adopção do Cenário por parte das instituições da academia do Porto, sendo necessário referir, a esse respeito, o trabalho de divulgação já efectuado por Mariana Figueiredo, que se espera que possa ter continuidade. Pretende-se a implementação de uma plataforma que, como anteriormente referido, incentive ainda durante a sua formação académica a adopção de novos hábitos de participação, envolvimento e cooperação por parte dos criadores nacionais.

6.1 Trabalho Futuro O desenvolvimento de uma aplicação Web raramente poderá ser considerado concluído. A evolução constante da Web ditará a constante introdução de ajustes e novas funcionalidades. Ao longo do capítulo anterior identificaram-se algumas das fragilidades e lacunas presentes na actual versão do Mille Plateaux. Segundo Gavin Bell, verificando-se que uma aplicação Web está num estado de desenvolvimento aceitável, a ausência de algumas funcionalidades não deverá constituir um entrave ao seu lançamento [Bell, 2009]. Tal lançamento, de uma aplicação que interprete de forma eficiente um conjunto reduzido de capacidades, poderá garantir que o crescimento das funcionalidades acompanhará, de forma simbiótica, o crescimento da comunidade de utilizadores.


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Apesar de desconhecidas as reacções que o lançamento do Cenário poderá suscitar aos seus utilizadores e quais as mudanças no sistema de gestão de conteúdos que tal lançamento poderá implicar, resumem-se a seguir quais as lacunas detectadas actualmente, assim como algumas funcionalidades cuja incorporação futura se julga desejável. Estas constituem as actuais prioridades de desenvolvimento do Mille Plateaux. No entanto, julga-se que a detecção e a correcção de falhas (bugs) na actual versão do sistema deverão ser prioritárias relativamente à implementação de novas capacidades.

Melhorias na segurança e no processo de autenticação Pensa-se que o lançamento real de uma implementação do sistema deverá ser precedido por uma auditoria especializada do código fonte, que procure eventuais falhas de segurança. Além disso, como mencionado na secção 5.2.5, existe um conjunto de boas práticas de segurança [Bell, 2009] que ainda não foram incorporadas no sistema de gestão de conteúdos, nomeadamente a introdução, no momento do registo do utilizador, de etapas de verificação dos endereços de correio electrónico de modo a limitar eventuais abusos. Verificou-se ainda que merecerá uma reflexão cuidada a implementação de protocolos e APIs como o OpenID ou o FacebookConnect, tendo em vista a prestação aos utilizadores de uma alternativa federada para a sua autenticação.

Capacidade de supervisão de conteúdos e associações Ainda assim, é essencial permitir aos docentes das cadeiras a possibilidade de autorizar ou não a inserção dos conteúdos – a necessidade da existência de um sistema de validação é adivinhada. [Figueiredo, 2010]

Como foi mencionado anteriormente, ainda não se encontra desenvolvido um sistema que permita a supervisão dos conteúdos e das associações criadas, prevista pelos princípios funcionais da plataforma. Tal capacidade poderá ser incorporada através da introdução de tabelas na base de dados que definam associações provisórias. A aprovação por parte de um gestor de grupo ditaria a transferência dos dados para as tabelas de junção que definem as associações visíveis a todos os utilizadores e visitantes da plataforma. De forma complementar, a definição de um grupo poderá eventualmente ser expandida, de modo a incorporar atributos que definam as permissões concedidas aos utilizadores. Desta forma, a necessidade do processo de aprovação de utilizadores e projectos poderia variar consoante o grupo.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Capacidades acrescidas de pesquisa Como foi mencionado anteriormente, a capacidade de filtrar temporalmente as pesquisas de projectos efectuadas no Mille Plateaux poderá ser importante. Pensa-se que será de igual forma útil a implementação de um sistema que permita a pesquisa de um determinado tipo de objectos sociais através das suas associações. Tal expansão das capacidades de pesquisa também poderá vir a repercutir-se numa API com maior flexibilidade a este nível.

Escrita de comentários Julga-se que a capacidade dos utilizadores escreverem comentários acerca de projectos será um mecanismo importante de participação no Cenário e demais plataformas que possam vir a implementar o Mille Plateaux. Sendo um desafio relativamente trivial do ponto de vista de uma implementação simples, abordada na secção 5.2.2, verifica-se que existem no entanto questões importantes que merecem uma reflexão antes da inclusão de tal capacidade, entre as quais se incluem as possibilidades de anonimato e da moderação. Poderá adoptar-se um sistema em que cada autor ou gestor de grupo será livre de determinar o conjunto de permissões relativamente aos comentários de cada projecto. Tais considerações acarretam uma implementação consideravelmente mais complexa do sistema de comentários.

Ligação a redes sociais e blogues Em linha com a caracterização da Web contemporânea delineada no capítulo 2, verifica-se que o sistema desenvolvido deverá incluir um conjunto de capacidades que permitam a interligação com blogues e redes sociais. Desta forma, julga-se que as páginas Web relativas aos perfis de projectos, grupos e utilizadores deverão incluir as hiperligações necessárias para a rápida partilha dessa página em redes sociais como o Facebook ou o Twitter. Pensa-se que a prestação de feeds RSS (Really Simple Syndication) * será igualmente importante. Tal capacidade possibilitará a inserção num blogue ou noutro site de uma lista dos projectos mais recentes de um utilizador (no Apêndice B encontra-se a listagem de um script PHP que recorre à API para produzir tal feed).

*

www.rssboard.org/rss-specification


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Adopção do modelo AJAX e API mais completa Tendo em vista um maior desempenho e uma experiência de utilização mais elegante, muitas das aplicações Web desenvolvidas nos últimos anos têm vindo a adoptar, na sua implementação, o conjunto de técnicas conhecido como AJAX (Asynchronous JavaScript and XML). Numa página Web que adopte estas técnicas existirá um programa em JavaScript que fará um pedido ao servidor Web sempre que necessário, e que processará subsequentemente a resposta em formato XML (ou também em JSON), gerando e inserindo na página o conteúdo adicional sem que tenha sido necessário o recarregamento de toda a página Web. Verifica-se assim que o modelo AJAX permite optimizar os recursos do servidor, uma vez que lhe são feitos apenas os pedidos necessários, indo desta forma ao encontro do princípio de distribuição ‘piece-by-piece’, desejável numa aplicação Web de larga escala [Loudon, 2010]. O desempenho de certas tarefas de processamento será dividido com o software de navegação Web do cliente, permitindo uma optimização ainda mais acrescida dos recursos do servidor. Julga-se que a introdução destas técnicas deverá integrar o desenvolvimento futuro do Mille Plateaux, uma vez que além da optimização de recursos que proporciona, e que será um factor importante à medida que se verifique o crescimento de implementações deste sistema, as aplicações Web que integram o modelo AJAX também proporcionam uma experiência de utilização mais aprazível aos seus utilizadores. Para tal, pensa-se que será necessário um aumento considerável das capacidades da API que, adoptando de forma mais completa o modelo REST anteriormente descrito, deverá incorporar funções de gestão do catálogo.

Utilização da norma HTML 5 As mais recentes versões da norma HTML datam de há quase uma década. Tal como já se discutiu nesta dissertação, a Web evoluiu de forma dramática neste período, pelo que está actualmente em discussão uma nova versão da norma HTML, actualizada de forma a considerar tal evolução. Mark Pilgrim realça, entre o novo vocabulário definido nas versões preliminares * da norma HTML 5, elementos para uma melhor estruturação semântica dos documentos (delimitando especificamente cabeçalhos, rodapés, barras de navegação, etc.); elementos para a inserção directa de vídeo e áudio; o elemento <canvas> que define uma área de desenho que será manipulável pela execução de scripts; suporte à localização geográfica e ao armazenamento de dados no cliente local por parte das aplicações Web [Pilgrim, 2010]. Alguns dos fabricantes de navegadores Web têm vindo a implementar parcialmente, nas mais recentes versões do seu software, alguns destes elementos. Julga-se pertinente uma *

O rascunho mais recente da norma HTML 5 pode ser encontrado em www.w3.org/TR/html5/


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

referência aos dispositivos móveis da Apple, cujos navegadores Web não suportam a tecnologia Adobe Flash, requerendo o uso de elementos especificados pela norma HTML 5 para a inserção de vídeos e outros conteúdos multimédia em páginas Web. Ainda não se adoptou, nesta fase de prototipagem, o uso de elementos previstos para a norma HTML 5. Uma vez que a geração de documentos HTML no Mille Plateaux é feita através do recurso a modelos possibilitado pelo framework PHP Fat-Free, a actualização destes templates tendo em vista a incorporação de capacidades oferecidas pela norma HTML 5 será um desenvolvimento futuro de implementação relativamente fácil.

Adequação a dispositivos móveis Julga-se que a interface gráfica desenhada por Mariana Figueiredo será perfeitamente adequada para aceder ao Cenário através dos navegadores Web de computadores portáteis de menor dimensão e de tablets, sendo respeitadas as resoluções de ecrã de tais dispositivos. Existiu um especial cuidado em garantir que os elementos funcionais do site teriam uma dimensão mínima adequada a uma navegação em dispositivos tácteis. Referiu-se que a utilização de serviços Web externos para prestar o alojamento de alguns artefactos, como áudio e vídeo, implica a eventual incompatibilidade com dispositivos como o iPad e o iPhone, por via do seu recurso à tecnologia Adobe Flash. A resolução destas incompatibilidades dependerá dos prestadores desses serviços, a menos que se venha a implementar um alojamento próprio destes conteúdos. Verifica-se que o frontend desenvolvido não se encontra optimizado para dispositivos de menor dimensão, como os telemóveis. A adequação aos navegadores destes dispositivos poderá ser efectuada através de ajustes na folha de estilos. A possibilidade de desenvolvimento de aplicações dedicadas para sistemas operativos móveis como o iOS ou o Android será uma justificação adicional para o contínuo desenvolvimento da API, de forma a possibilitar capacidades acrescidas a estas aplicações. Será meritória, no entanto, uma investigação acerca da pertinência do acesso ao Cenário em tais dispositivos.

Avaliação do impacto e eventual reavaliação dos objectivos do Cenário Efectivando-se o lançamento público do Cenário, poder-se-á procurar compreender o impacto do projecto e efectuar uma reavaliação das prioridades do seu desenvolvimento futuro. Tal avaliação deverá ser comparada com a investigação mais recente acerca do impacto da adopção dos novos sistemas de gestão de Portfolios Digitais [Cambridge, Cambridge & Yancey, 2009], de forma a determinar a relevância das características que se julgam específicas do projecto Cenário e do respectivo sistema de gestão de conteúdos.


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Caso a implementação real e pública do Cenário venha a ser uma realidade de sucesso, julga-se que a clarificação do seu papel no contexto da academia nacional poderá vir a ser objecto de um estudo aprofundado. Neste caso, deverá ser considerada a hipótese de o Cenário vir a assumir o objectivo de se tornar um arquivo completo. A tomada de tal opção implicaria a necessidade de meios e recursos que possibilitassem a recolha e o arquivamento de todo o tipo de artefactos, incluindo vídeo, pelo que o recurso a redes de armazenamento e distribuição de conteúdos mereceria avaliação. A implementação de um arquivo acarretaria igualmente problemas específicos de preservação que poderiam ser abordados: Megan Winget e Caitlin Murray abordam a rápida incompatibilização com os sistemas actuais como um desafio ao arquivo e preservação de videojogos [Winget & Murray, 2009], que se julga paralelo ao desafio colocado à preservação por artefactos como o software produzido em cursos superiores da área multimédia.

Reflexão sobre uma eventual adopção do modelo ‘open-source’ Até ao momento tem-se vindo a desenvolver o CMS Mille Plateaux num regime fechado. Merecerá contudo uma reflexão cuidada a possibilidade de se vir optar por um modelo de código aberto. Tal opção poderá permitir que se estabeleçam entre o desenvolvimento do Mille Plateaux e as suas respectivas implementações na Web dialécticas semelhantes à ocorrida com o desenvolvimento do framework PHP Fat-Free, da qual resultaram diversos contributos à sua evolução. Julga-se, no entanto, que a adopção do modelo open-source dependerá do sucesso do projecto Cenário e do interesse suscitado pelo respectivo sistema de gestão de conteúdos.

Exploração de usos alternativos do sistema de gestão de conteúdos Embora o sistema de gestão de conteúdos Mille Plateaux tenha sido desenvolvido de raiz com o objectivo de incorporar os princípios delineados para o Cenário, foi prevista a sua possível implementação noutros contextos, diferentes da partilha de projectos académicos de vocação criativa. O Mille Plateaux poderá revelar-se uma ferramenta adequada para a implementação de diferentes serviços Web onde seja pertinente a catalogação de projectos, utilizadores e grupos. Julga-se que será meritória uma investigação relacionada com a viabilidade do modelo delineado para o Cenário em diferentes áreas e níveis de ensino. Pensa-se que merecerá igual estudo a implementação do Mille Plateaux em diferentes serviços Web, vocacionados por exemplo para a partilha de conteúdos criados nos âmbitos das associações culturais ou das organizações não-governamentais.



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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

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99

Anexo A Interfaces do utilizador

Neste anexo pretende-se ilustrar, de forma não muito exaustiva, as interfaces de utilizador do actual protótipo da plataforma Cenário, e que vão ao encontro do desenho proposto por Mariana Figueiredo [Figueiredo, 2010]. As imagens que se seguem são capturas de ecrã do protótipo, implementado em servidor local, quando acedido através do navegador Google Chrome.

Figura 22: Página inicial do protótipo.


100

Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Figura 23: Formulário de início de sessão.

Figura 24: Utilizador com sessão iniciada.

O acesso a funções relacionadas com a autenticação dos utilizadores está presente no canto superior direito de todas as páginas. Caso o utilizador tenha sessão iniciada, existirá aí uma hiperligação para o seu perfil, assim como um botão que permite finalizar a sessão (fig. 24). Caso o utilizador não tenha sessão iniciada (fig. 23), o botão ‘Login’ fará surgir o respectivo formulário, e o botão ‘Sign up’ permitirá aceder a um formulário de registo.

Figura 25: Formulário de registo de um novo utilizador.

De forma a incentivar o registo por parte dos utilizadores, neste formulário (fig. 25) é requerido um conjunto mínimo de dados. Os utilizadores poderão enriquecer o seu perfil posteriormente.


101

Figura 26: Lista de utilizadores.

Apenas um dos utilizadores da lista representada na fig. 26 terá adicionado uma imagem ao seu perfil. Quando o ponteiro do rato passa sobre um dos itens da lista, revelam-se informações adicionais sobre o utilizador – o respectivo número de projectos e de favoritos. As restantes listagens têm idêntico comportamento. Nas listas de grupos (fig. 27) revela-se os números de utilizadores e de projectos associados, enquanto nas listas de projectos (secção 5.2.9, fig. 20) se revelam os números de consultas e de favoritos.

Figura 27: Lista de grupos.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Figura 28: Ficha de um utilizador.

Figura 29: Edição do perfil de utilizador.

A fig. 28 representa a página Web relativa a um perfil de utilizador inteiramente preenchido. Uma vez que esse perfil corresponde ao utilizador que tem a sessão iniciada, surgem do lado direito links de acesso às funções de edição do perfil (fig. 29).


103

Figura 30: Ficha de um grupo.

A mesma zona de funcionalidade contextual existe nas restantes páginas geradas pelo CMS Mille Plateaux. Dependendo das relações existentes entre um utilizador com sessão iniciada e um dado grupo, a página relativa ao perfil deste poderá conter diversas hiperligações que permitirão executar tarefas administrativas (fig. 30).


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Figura 31: Atribuição de permissões de gestão de grupos.

A fig. 31 ilustra a interface de atribuição de privilégios de gestão de grupo. Embora possam ser atribuídos privilégios de gestão a todos os membros dos grupos geridos por quem os irá atribuir, tais privilégios apenas podem ser retirados aos gestores de grupos de nível hierárquico inferior.


105

Figura 32: Ficha de um projecto.

Na fig. 32 apresenta-se a ficha de um projecto resultante da colaboração de dois autores. Por razões de espaço, os projectos com mais que um autor são apresentados como “criações colectivas” no respectivo sumário. O painel ‘Sumário’, que contém a imagem representativa do projecto e a respectiva descrição, encontra-se seleccionado por defeito. De modo a evitar possíveis falhas de segurança e a assegurar a consistência gráfica, são retirados todos os elementos de código HTML eventualmente presentes nos textos submetidos em toda a plataforma. No entanto, os endereços Web que estejam eventualmente presentes nas descrições de projectos, grupos e utilizadores serão automaticamente transformados em hiperligações.


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Figura 33: Formulário de criação de um projecto.

Figura 34: Formulário de criação de artefacto.

Na fig. 33 apresenta-se o formulário de criação de um novo projecto, ao qual será possível aceder a partir do perfil de um grupo de qual se seja membro. Após a criação do projecto, será possível associar-lhe artefactos (fig. 34).


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Figura 35: Ficha de um projecto, estando seleccionado o painel de consulta de imagens.

Figura 36: Ficha de um projecto – maximização da imagem seleccionada.

Na fig. 35 ilustra-se a ficha de um projecto em que foi seleccionado o painel de consulta de imagens. As imagens poderão ser aumentadas através de um click do rato (fig. 36).



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Anexo B Exemplos do uso da API

Neste anexo pretende-se exemplificar o uso da API. Serão demonstrados os conteúdos das respostas, em formato XML, aos pedidos relativos a cada um dos métodos actualmente disponíveis. Será também demonstrada uma aplicação simples – geração de um feed RSS –, que recorre ao formato de resposta PHP serializado, que se julga ideal para o desenvolvimento de aplicações em PHP.

Dados sobre utilizadores (formato XML) Na seguinte listagem demonstra-se a resposta, em formato XML, ao pedido de uma lista de utilizadores, feito através da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/listusers.xml: <users total="nº total de respostas" start="registo inicial da listagem"> <user id="nº identificação do utilizador"> <name> nome do utilizador </name> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)">

data de registo (RFC 822) </created_at> <works> nº de projectos </works> <likes> nº de favoritos </likes> </user>

[... utilizadores adicionais ...] </users>


110

Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Já na seguinte listagem é demonstrada a resposta ao pedido da ficha de um único utilizador, feito através do uso da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/getuser.xml?id=id: <users> <user id="nº identificação do utilizador"> <name> nome do utilizador </name> <url> URI do site pessoal do utilizador </url> <description> texto de descrição </description> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_image_url max-width="largura da imagem">

URI da imagem (com a respectiva largura) </profile_image_url>

[... mais imagens com tamanhos adicionais ...] <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)">

data de registo (RFC 822) </created_at> <last_login timestamp="último login (Unix time)">

data de último login (RFC 822) </last_login> <works author="como autor" colab="como colaborador">

nº de projectos (total) </works> <likes> nº de favoritos </likes> </user> </users>

Dados sobre grupos (formato XML) Na seguinte listagem demonstra-se a resposta ao pedido de uma lista de grupos, feito através da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/listgroups.xml: <groups total="nº total de respostas" start="registo inicial da listagem"> <group id="nº identificação do grupo" parent="nº identificação do ‘grupo-pai’"> <name> nome do grupo </name> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)">

data de registo (RFC 822) </created_at> <works> nº de projectos </works> <users> nº de utilizadores </users> </group>

[... grupos adicionais ...] </groups>


111

Na listagem que se segue demonstra-se a resposta ao pedido do perfil de um único grupo, que será efectuado através da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/getgroup.xml?id=id: <groups> <group id="nº identificação do grupo" parent="nº identificação do ‘grupo-pai’"> <name> nome do grupo </name> <description> texto de descrição </description> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_image_url max-width="largura da imagem">

URI da imagem com a respectiva largura </profile_image_url>

[... mais imagens com tamanhos adicionais ...] <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)"> data de registo (RFC 822) </created_at> <works> nº de projectos </works> <users> nº de utilizadores </users> <tags> <tag> etiqueta </tag>

[... etiquetas adicionais ...] </tags> </group> </groups>

Dados sobre projectos (formato XML) Na seguinte listagem demonstra-se a resposta ao pedido de uma lista de projectos, efectuado através da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/listworks.xml: <works total="nº total de respostas" start="registo inicial da listagem"> <work id="nº identificação do projecto"> <dc.title> nome do projecto </dc.title> <dc.creator> nome do autor </dc.creator> <dc.subject> assunto </dc.subject> <dc.date> data do projecto (DD-MM-AAAA, MM-AAAA ou AAAA) </dc.date> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)">

data de registo (RFC 822) </created_at> <likes> nº de favoritos </likes> <views> nº de visitas ao perfil </views> </work>

[... projectos adicionais ...] </works>


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

Já na listagem seguinte demonstra-se a resposta ao pedido do perfil de um único projecto, efectuado através da instrução HTTP GET http://domínio/api/read/getwork.xml?id=id: <works> <work id="nº identificação do projecto"> <dc.title> título do projecto </dc.title> <dc.creator> nome do autor </dc.creator> <dc.subject> assunto </dc.subject> <dc.description> texto de descrição </dc.description> <dc.contributor id="nº id. do responsável pela submissão"> nome do responsável pela submissão </dc.contributor> <dc.date> data do projecto (DD-MM-AAAA, MM-AAAA ou AAAA) </dc.date> <dc.type>Collection</dc.type> <dc.identifier> URI do perfil </dc.identifier> <profile_image_url max-width="largura da imagem"> URI da imagem com a respectiva largura </profile_image_url>

[... mais imagens com tamanhos adicionais ...] <profile_thumbnail_url>

URI da imagem (pequena) </profile_thumbnail_url> <created_at timestamp="data de registo (Unix time)"> data de registo (RFC 822) </created_at> <likes> nº de favoritos </likes> <views> nº de visitas ao perfil </views> <tags> <tag> etiqueta </tag>

[... etiquetas adicionais ...] </tags> <creators> <user id="nº identificação do utilizador" role="tarefa desempenhada" iscolab="colaborador externo (true/false)"> nome do utilizador </user>

[... criadores adicionais ...] </creators> <groups> <group id="nº identificação do grupo" parent="nº identificação do ‘grupo-pai’"> nome do grupo </group>

[... grupos adicionais ...] </groups> <artifacts> <artifact id="nº id. do artefacto" type="tipo de artefacto (interno)"> <dc.title> título do artefacto </dc.title> <dc.description> descrição do artefacto </dc.description> <dc.type> tipo de artefacto (DCMI Type Vocabulary) </dc.type> <dc.identifier> URI directo do artefacto </dc.identifier> <dc.source> URI do perfil do projecto </dc.source> <resource> recurso (texto, HTML ou URI) </resource> </artifact>

[... artefactos adicionais ...] </artifacts> </work> </works>


113

Dados nos restantes formatos Através dos formatos de resposta JSON (json) e PHP serializado (serial) é possível obter o mesmo conjunto de dados que através do formato XML. No entanto, uma vez que a geração dos dados nestes formatos se efectua pelo recurso às funções internas do PHP, que convertem matrizes (arrays) associativos para uma cadeia de texto num destes formatos, verifica-se que sua organização terá diferenças. O seguinte script em PHP permite a leitura da estrutura do objecto que será obtido pela descodificação de uma resposta em formato JSON a um pedido da API: <?php /** * Ler JSON * Imprime a estrutura de uma resposta JSON da API * * @author Eduardo Morais * @version 2010.09.17 */ /* Método GET: */ $url = 'http://localhost.cenario/api/read/getwork.json'; /* Parâmetros: */ $query = http_build_query(array( 'id' => '19', ), '', '&'); /* Imprime */ print_r(json_decode(@file_get_contents($url.'?'.$query))); ?>

Criação de um feed RSS Como abordado na secção 5.2.11, a seguinte chamada produz uma lista dos dez projectos mais recentes, no formato PHP serializado (serial): GET http://cenar.io/api/read/listworks.serial? num=10&sort_by=created&sort_dir=DESC

Como se referiu, esse formato de resposta revela-se ideal para o desenvolvimento de scripts em PHP que explorem a API. O seguinte script PHP demonstra a geração de um feed RSS: <?php /** * RSS Projectos * Feed de projectos recentes a partir da API do Mille Plateaux * * @author Eduardo Morais * @version 2010.09.17 */


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Cenário: Depósito de Matéria Criativa – Arquitectura e Implementação

/* Opções: */ $url = 'http://cenar.io/api/read/listworks.serial'; $query = http_build_query(array( 'num' => '10', 'page' => '1', 'sort_by' => 'created', 'sort_dir' => 'DESC' ), '', '&'); /* Headers XML + RSS */ header("Content-Type: text/xml"); echo '<?xml version="1.0" encoding="utf-8"?>'."\n"; ?> <rss version="2.0" xmlns:content="http://purl.org/rss/1.0/modules/content/" xmlns:wfw="http://wellformedweb.org/CommentAPI/" xmlns:dc="http://purl.org/dc/elements/1.1/" > <channel> <title>Cenário - RSS últimos projectos</title> <link>http://www.cenar.io/</link> <description>Últimos dez projectos catalogados pelo Cenário.</description> <language>pt-pt</language> <?php /* Obtenção de array a partir da API: */ $workArr = unserialize(@file_get_contents($url.'?'.$query)); $works = $workArr['works']; /* Data de actualização = primeiro projecto da lista */ $lastupdt = gmdate("D, d M Y H:i:s", $works[0]['created_at']['timestamp'])." GMT"; echo "<lastBuildDate>$lastupdt</lastBuildDate>"; /* Gerar items */ foreach ($works as $work) { echo "<item>\n"; echo "<title><![CDATA[ ".$work['title']."]]></title>\n"; echo "<link>http://cenar.io/projectos/".$work['id']."</link>\n"; $description = $work['subject'] .' - '.$work['creator'] .'('.$work['date'].')'; $description .= "\n<br />" . "<img src=\"{$work['poster_thumbnail_url']}\" />"; echo "<description><![CDATA[ $description ]]></description>\n"; echo "<content:encoded>" ."<![CDATA[ \n$description\n ]]></content:encoded>\n"; echo "<pubDate>" .gmdate("D, d M Y H:i:s", $work['created_at']['timestamp']) ." GMT</pubDate>\n"; echo "<guid isPermaLink=\"true\">" ."http://cenar.io/projectos/".$work['id']."</guid>\n"; echo "</item>\n"; } ?> </channel> </rss>


115

A seguinte figura ilustra o acesso a este script através do leitor de RSS Google Reader:

Figura 37: Acesso ao script de geração de RSS através do Google Reader.


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