Saidnaya

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MAURÍCIO BORBA FILHO

SAIDNAYA

Edições do Prego.


Edições do Prego: Maurício Borba Filho Contato: mauricioborba132@hotmail.com Belém, PA -2016* SAIDNAYA, 20-24.12.2015

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Ne cherchez plus mon coeur; les bĂŞtes l'ont mangĂŠ.

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R Ç O O T R T

O O R S O O O

T R O T R O E

O Ç O O S R U

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névoa densa como a noite na xícara de chá: meus dias meus :destino a-,m-

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Sabequeo pépenetraapedra vigíliacentopedivigília – {o-olho noutro ponto: descanso} Sabequea’lguém disseisso – {dormiu ou morreu: encontro}

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manipular o chumbo: meu torso: argila, pus da terra espalhar com os dedos guache azul por trรกs dos olhos: a isso chamam sonhar a fuga

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remada longa de cĂŠu: o cĂŠu, sozinho: semente-nuvem, quente o vinho, cor de mulher: lembrar o rosto, :o outro ser do ĂŞxtase-

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Antes de estacar a tenda na faixa do sono anônimo na fala do sono dum estranho, casa dum alguém que se ignora quem seja:

Le tonnerre et la pluie ont fait un tel ravage Qu’il reste en mon jardin bien peu de fruits vermeils

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Certas mem贸rias: vir. O arame, as arestas do 谩lbum que imagino: certas lonjuras grossura da corda de se caminhar: sobre

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CONTATO – Bigorna de grafite embrulhada no bolso: um peso para chegar ao fundo e do fundo equilibrar a ågua

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UMA CARTA tua lembrança veio : enfurecida égua, pêlo - sangue de crepúsculo vento , esquecimento

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Imagino que a certa hora virarei a fotografia da minha saudade – ou de uma saudade qualquer, antiga fiando a longa linha do nosso sangue - creio que a certa hora serei esta fotografia, e serei algo mais também terei em mim talvez a gema verde talvez a artéria embalsamada de uma doença viva: pulsa : um grão do chrome: imagem de uma árvore a-frutífera.

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Imagino Que a essa hora do dia O sol respire como um Animal combalido, um Grande bicho gasto, exausto Um boi que se arremessa Contra a parede, incurável na nuvem Porque a janela é só uma brecha Um fôlego curto de vírgula.

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Com olhos de pĂĄssaro sigo o exĂ­lio sigo cada passo seu: ereto, sua coluna: espinhos de rosa. e olor de rosas sua voz que inflama meu sossego ergo sum

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Quem é você que vem ao meio-dia e poda os galhos do meu corpo fendido com a sua pele de sol Quem é você que de dia traz a hora mais aguda da noite consigo e arrebenta a fala. a cela: a natureza:. as línguas todas num só gemido e dá um segundo um terceiro um quarto corpo à minhaalma que já passeou mil cem mil mortes? - Quem é você que esparge o ar do meu sangue como mel nos lá bios do segredo, Quem -: você que no mesmo instante explica a pedra, você que no mesmo instante envolve a pedra com a baba-nanquim da noite- ? Quem.:

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Diferente das noites que contavam tua história: Diferente Diferente das noites do assobio constante do grilo, do crescimento aberrante do esqueleto, dos dentes abrindo o gomo carnoso da saudade: Diferente Diferente porque enfim será a segunda história do mundo a nascer, o duplo curso do silêncio que esteve aqui, sempre aqui escondido a revelar-se enfim nas investidas do teu peito: Diferente Diferente: e será então a segunda história, o outro mar dos mares a vazar será a demolição definitiva dos prédios, a contaminação dos arquivos, a praga das frutas a pintar o ouro e eu digo que estaremos sob a mesma noite : a noite feita à tua imagem virá.

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o ferr茫o da abelha a pele, a voz mineral do teu segundo ser ali, com o ar, ali fermentando o p贸 pelos cantos

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Dormindo n達o se ouvia sequer o maremoto hibernou na tinta turbilh達o sub-dito 20


fantasiei desencobrir a asa do mofo pregada à pupila : se debatendo como uma mariposa a aproximação do mapa de sombras na palma da mão inquieta fechava se abria

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RAPTO À vista do sabre, se abre o silabário: flor de pernas longas, gê do gozo, voando pétalas ao nosso redor

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DEFORMAÇÕES .

Meu amor cercou teu nome muitas vezes – sete dias – sete noites – como um corpo maltratado pela sede percorrendo sempre a mesma miragem Meu amor pediu teu nome muitas vezes – sete vogais longas de sons que não conheço sete dias – sete noites – sob a pele dum deserto

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Tu falas. A língua arde. Sou a tua pedra assombrada de vulcão, escorada ao pé da tua casa caída. Tombei do cimo feito uma carta que tomba dum livro, alfabeto tombado dum livro, ou um 23


postal mesmo, solto num livro, a dedicatória sumindo entre os teus dedos quando o catas do chão: um corpo sólido, inteligível, para depois não - e somente assim digo - Sou tu falas. A língua arde. Sou tua primeira fornada de labirinto sou - até o sétimo giro.

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Tens os olhos vermelhos do touro arremetendo na arena - nas estâncias do terrível .. 24


SAIDNAYA OU

O SEGUNDO OPÚSCULO DE VARIAÇÕES

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