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Universidade Estadual de Campinas Reitor
Marcelo Knobel
Coordenadora Geral da Universidade Teresa Dib Zambon Atvars Projeto Comvest Coordenação Acadêmica Coordenador Executivo José Alves de Freitas Neto Coordenadora Adjunta Ana Maria Fonseca de Almeida Coordenadora Acadêmica Márcia Rodrigues de Souza Mendonça Comissão de Seleção das Redações Cynthia Agra de Brito Neves Daniela Palma Patrícia Aquino Secretárias de Execução do Projeto Heloísa Vieira da Silva Luciana Amgarten Quitzau
Conselho Editorial Presidente Márcia Abreu Ana Carolina de Moura Delfim Maciel – Euclides de Mesquita Neto Márcio Barreto – Marcos Stefani Maria Inês Petrucci Rosa – Osvaldo Novais de Oliveira Jr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira – Vera Nisaka Solferini
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Pró-Reitoria de Graduação Comissão Permanente
para os
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ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação
Bibliotecária: Maria Lúcia Nery Dutra de Castro – crb-8a / 1724 R245
Redações 2020 / organização: Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2020. 1. Redação. 2. Exame vestibular. 3. Linguística – Coletânea. I. Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp.
II. Título.
cdd - 469.5 - 378.1664 - 410 isbn 978-65-86253-36-8 Copyright © by Comvest Copyright © 2020 by Editora da Unicamp As opiniões, hipóteses, conclusões e recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores, e não necessariamente refletem a visão da Editora da Unicamp. Direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, dos detentores dos direitos. Printed in Brazil. Foi feito o depósito legal. Direitos reservados à Editora da Unicamp Rua Sérgio Buarque de Holanda, 421 – 3o andar Campus Unicamp cep 13083-859 – Campinas – sp – Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728 www.editoraunicamp.com.br – vendas@editora.unicamp.br
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Sumário Apresentação................................................ 7 Introdução. ............................................... 11 Provas de redação 2020............................ 23 Expectativas da banca................................ 41 Redações selecionadas – Proposta 1. ....... 55 Redações selecionadas – Proposta 2. ..... 109
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Apresentação Em Vestibular Unicamp: Redações 2020, temos mais um registro das produ ções escritas de candidatos ao Vestibular Unicamp. Mas não só isso. O nosso “li vrinho de redação” documenta também a dinâmica dos processos seletivos realizados na Unicamp. E, por esses dois motivos, me rece ser conhecido por professores, estudan tes e outros leitores interessados. Há mais de duas décadas, a Comvest leva a público exemplares de alguns dos me lhores textos escritos para a prova de redação do vestibular, uma tarefa capitaneada pela Editora da Unicamp. No vestibular de 2020, a possibilidade de escolher entre duas pro postas de redação – além de uma reorga nização da segunda fase, com a criação de provas destinadas especificamente a cada 7
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uma das grandes áreas de conhecimento dentro da Unicamp e a inclusão de questões interdisciplinares abertas – evidencia a ca pacidade de renovação do sistema seletivo desta Universidade. O vestibular de 2020 permitiu que os candidatos escolhessem entre duas propostas de escrita, nas quais situações de interação e também gêneros do discurso distintos – crônica e roteiro de podcast – foram-lhes apresentados. Os dois temas – (1) relação entre sociodiversidade e biodiversidade e (2) micromachismo –, mais do que assuntos sobre os quais se deveria escrever, confi guraram a preocupação da Universidade com o debate público, com as perguntas, as dúvidas e os interesses da sociedade, no seu tempo presente. Antenar-se com a comu nidade externa também nas propostas de redação do seu vestibular é um princípio que tem regido esse exame a cada edição. Do ponto de vista da tarefa solicitada, a escrita é entendida como uma ação situada 8
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socioculturalmente, na qual não basta “saber escrever”. Exige-se que os candidatos con siderem todas as condições de produção do discurso – para que, para quem, em que suportes/mídias, em que gênero, sob quais circunstâncias – e que saibam ler bem os textos oferecidos na prova, sem equívocos e inferindo o necessário. A capacidade de interpretar bem os textos de leitura é que permitirá às candidatas e aos candidatos selecionar os dados que melhor atendam ao seu projeto de texto, ou seja, àquilo que pretendem dizer e do modo como preten dem fazê-lo. Esta 22a edição da coletânea Vestibular Unicamp: Redações compartilha uma seleta parte do acervo de textos elaborados pelos candidatos em 2020, com as comunidades universitária, escolar e outras extracampus. Mas o objetivo maior desta publicação, e de todas as edições anteriores, é valorizar a lei tura e a escrita na formação geral dos cida dãos, independentemente do vestibular. 9
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Além disso, objetivamos, ainda que de forma indireta, destacar o esforço realizado pelas escolas para ensinar seus alunos a escrever no seu sentido mais amplo, o que envolve compreender a escrita como prática social e não como mera técnica. Por isso, a prova de redação exige a imersão dos candidatos em situações que demandam a circulação de textos em gêneros diversos e para diferentes finalidades, tarefa que se expande para as práticas acadêmicas da vida universitária. Esperamos que a publicação continue contribuindo para o trabalho de professores e pesquisadores, especialmente quanto ao ensino de leitura e de escrita. Aproveitem a leitura de algumas das melhores redações do Vestibular Unicamp 2020! José Alves de Freitas Neto Diretor da Comvest Márcia Mendonça Coordenadora Acadêmica da Comvest
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Introdução A prova de redação do Vestibular Uni camp 2020 apresentou duas propostas de textos, de gêneros discursivos diferentes, para que os candidatos escolhessem apenas uma. Para este livro foram selecionadas 30 reda ções muito bem avaliadas no processo sele tivo, 15 de cada uma das propostas temáticas da prova. São exemplos de redações sin gulares, as quais, sem qualquer pretensão de perfeição, evidenciam ser possível cumprir as tarefas de leitura e de produção escrita exigidas na prova da redação do Vestibular Unicamp – mesmo com toda pressão e ten são que envolvem o processo –, atendendo às expectativas da banca. A ideia de publicar esta coletânea faz parte de uma política de ações de transpa rência assumida pelo Vestibular Unicamp 11
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nos últimos anos. Em 2019, como parte dessa política, decidiu-se, por exemplo, pu blicar também a grade analítica de avaliação das redações de seu exame. Desse modo, ao divulgar para a comunidade escolar os crité rios de correção das redações e compartilhar uma amostra de bons textos elaborados pe los candidatos na situação de seu vestibular, a Unicamp visa desmi(s)tificar a avaliação de sua prova de redação, incentivando não só que estudantes autoavaliem seus textos, como também que professores (re)pensem suas práticas de ensino de leitura e escrita nas escolas de educação básica. Em 2020, a prova de redação do Ves tibular Unicamp dispôs aos candidatos as seguintes propostas de escrita: a Proposta 1 sugeria que eles assumissem o papel de um(a) colunista de uma revista eletrônica brasilei ra especializada em temas ambientais e es crevessem uma matéria, encomendada pelo editor da revista, a ser lida em voz alta em um podcast, sobre a inter-relação entre bio 12
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diversidade e sociodiversidade e sua impor tância para o crescimento sustentável do Brasil. Já a Proposta 2 solicitava que os candidatos assumissem o papel de um(a) cronista de revista semanal e escrevessem uma crônica narrando um episódio de mi cromachismo vivenciado e considerado natu ral por ele(a), até o momento em que, ao ler uma matéria de Ianko López no El País sobre o assunto, tomou consciência de que tal fato era, como argumentava o jornalista, uma demonstração do micromachismo en raizado em nossa sociedade. Na primeira proposta, destacaram-se as redações de candidatos que souberam ler com propriedade os excertos da coletânea para a construção de seu projeto argumen tativo de texto. Nesse sentido, não bastava reproduzir ipsis litteris as informações con tidas nos excertos da coletânea sem articulá -las entre si, mas, ao contrário, foram bem avaliados os textos de candidatos que sou beram selecionar e correlacionar as informa 13
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ções fornecidas na prova. Por exemplo, as definições de biodiversidade e sociodiversi dade contidas no excerto 1 foram mobiliza das para defender que a inter-relação entre elas garante uma destruição menos preda tória da natureza brasileira, haja vista a ação dos indígenas nas terras onde vivem, como assinala o excerto 4. Outra estratégia argumentativa valo rizada pela banca foi a dos candidatos que souberam ler as imagens poéticas que de nunciam a destruição do Cerrado, no excer to 2, associando “a faca fina do arado cortou a raiz [...] e aí [...] brotou[...] soja” à ameaça da expansão do agronegócio que, segundo informa o excerto 3, reduziu a região do Cerrado à metade. A devastação dos seus “arbustos de galhos retorcidos” impacta a oferta hídrica e o clima do Centro-Sul do país. “Quem vai pagar o preço de tamanha destruição? Nossos netos” – responde a poe sia em tom distópico. A leitura produtiva do poema de Nicolas Behr foi um diferencial 14
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na avaliação das redações, já que muitos candidatos simplesmente ignoraram os ver sos do poeta. A preocupação com a susten tabilidade foi outro aspecto desejado na ar gumentação: foram bem avaliados os textos em que os candidatos defenderam a pre servação da nossa biodiversidade e da nossa sociodiversidade em prol de um crescimento sustentável do Brasil, concluindo que é pos sível, sim, se desenvolver, porém sem neces sariamente desmatar. E, porque são textos situados, outras informações além daquelas disponíveis na coletânea da prova foram igualmente bem -vindas, desde que em consonância com o projeto de texto dos candidatos. Foi o caso de Greta Thunberg, “pirralha” de 19 anos, ati vista da causa ambiental, que ganhou des taque mundial em 2019, e por isso foi bas tante citada nas redações; ou mesmo da referência ao hotspot do Cerrado que, amea çado pela expansão do agronegócio, em es pecial da soja, vira commodity, que eleva o 15
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PIB, argumentaram os candidatos. O ecocí dio nas tragédias de Mariana (2015) e Bru madinho (2018) foi lembrado com pesar; a pressão da bancada ruralista e a consequen te liberação de diversos produtos agrotóxi cos pelo presidente, em 2019, foram atitudes igualmente criticadas; e não faltou quem fizesse referência ao slogan global “Agro é tech, agro é pop”, subvertendo-o, aqui, em “Bio é vida” ou “Brasil é bio”, no batismo irô nico de seus podcasts. Ao propor a escrita de um texto argu mentativo para ser transmitido oralmente em um podcast, o Vestibular Unicamp ressalta, mais uma vez, a importância da produção de textos dos gêneros orais formais públicos. Os candidatos que escolheram fazer a Pro posta 1 demonstraram ter familiaridade com os textos orais que circulam nesse veículo de informação tão contemporâneo que é o podcast, pois, como se pode notar, na maio ria dos textos selecionados para este livro, embora não fosse obrigatório, muitos opta 16
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ram por explicitar a interlocução com seus supostos ouvintes; outros por imitar jargões como “bom dia, boa tarde, boa noite”; h ouve ainda aqueles que anunciaram entrevistas; e os que simplesmente preferiram não marcar qualquer interlocução, com todo direito a fazê-lo. Vale explicar que o tom amistoso e informal do texto foi aceitável nas marcas de interlocução, não cabendo ser esse tom trans posto para a argumentação séria e formal, como a temática ambiental exigia ser. Na segunda proposta, que solicitava a produção de um texto narrativo-reflexivo, do gênero crônica, sobre o micromachismo patriarcal enraizado em nossa sociedade, destacaram-se, por sua vez, as redações de candidatos que souberam ler com compe tência a situação de produção descrita no enunciado da prova, seguindo passo a passo as instruções do que deveria ser feito, e que, desse modo, ao realizarem as tarefas, apro veitaram os excertos da coletânea em prol de sua crônica. Dito de outra maneira, para 17
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uma boa avaliação de seus textos, era neces sário que os candidatos assumissem (implí cita ou explicitamente) o lugar de um cro nista “livre de preconceitos e que sempre apoiou a igualdade de gêneros” que, ao ler a matéria “Micromachismos: se é homem e faz alguma destas coisas, deve repensar seu comportamento”, de Ianko López, no El País, tomasse consciência de que vivenciara (como agente ou como vítima) um episódio micromachista no passado (distante, próximo ou imediato), tal como aquele que acabara de ler topicalizado no jornal espanhol. Contudo, era imprescindível, vale fri sar, que essa tomada de consciência do cronista-narrador-personagem se desse a partir da leitura da matéria do El País, que deveria funcionar não apenas como mote para a crônica, mas também como excerto da coletânea, uma vez que, na matéria, Ianko López explica o conceito de micromachismo e historiciza brevemente as lutas feministas contra o machismo estrutural. Notação pare 18
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cida se aplica ao excerto 2, de Chimamanda Ngozi Adichie. A narrativa reflexiva de Seja mos todos feministas, apresentada na prova, poderia ser lida tão somente como modelo de crônica, mas também, e principalmente, como uma explicação da autora africana so bre o micromachismo culturalmente enrai rado, inconscientemente reproduzido: pe quenas atitudes machistas que, tantas vezes repetidas, tornam-se normalizadas e, por conseguinte, normatizadas. Essas leituras foram, felizmente, realizadas por alguns candidatos, cujas crônicas estão presentes neste livro. Faz-se ainda importante explicar que, em suas crônicas, os candidatos poderiam se alongar tanto na narrativa do episódio vi venciado no passado, quanto nas reflexões e nos sentimentos despertados por esse acon tecimento no presente, quando então to mam (cons)ciência de que aquele compor tamento fora micromachista. Essa escolha de valorizar mais a narrativa ou a reflexão crí 19
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tica em sua redação fez parte do estilo que os candidatos quiseram – e puderam – im primir em suas crônicas. E o que não faltou nas redações aqui selecionadas foi estilo: do título ao texto. “Um golpe no estômago”, “um tapa na cara”, “meu mundo parou por um segundo”, “fui surpreendida e declarei -me culpada”, “fiquei horrorizado”, “anes tesiado”, “incrédulo” são exemplos preciosos desse estilo que marca o clímax na crônica, isto é, o instante preciso da tomada de cons ciência do ato falho micromachista. Dos 13 exemplos de episódios micro machistas elencados por El País, todos foram escolhidos – uns mais recorrentemente, ou tros menos – pelos candidatos que optaram pela Proposta 2. Como este livro apresenta uma seleção de 15 crônicas, alguns desses episódios micromachistas se repetiram em certos textos aqui apresentados. Entretanto, há crônicas para todos os gostos: há homens envergonhados por apelidarem outros de “babá”; por se oferecerem para “ajudar” suas mães ou esposas; por excluírem as colegas 20
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