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PAVEL, O MAGO DA POESIA NO METAL DA PINTURA

ESTÚDIO LÂMINA, EXPERIÊNCIA DO CORPO, POR MARINA BITTEN

CONRADO SANTOS: CACAU DO PARÁ NO MERCADO MUNDIAL

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mineração, criatividade e desenvolvimento A secretária de estado de indústria, comércio e mineração, Maria Amélia Enríquez, fala sobre o desafio do desenvolvimento do Pará, a partir de suas potencialidades industriais, criativas e naturais.

TEATRO

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DANÇA

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MÚSICA

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DOCUMENTÁRIOS

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ARTES VISUAIS


NOVEMBRO

Shopping

Realização

Ga ran DE tia

Vis ão

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FACIAPA

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sumário

documentário

literatura

DOCUMENTÁRIO

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POESIA

O Prêmio de Poesia Belém do Grão Pará escolhe obras de autores paraenses. O crescimento da participação efetiva de poetas inscritos tanto da cidade de Belém quanto, dos municípios do interior do Estado, dá uma visão mais elucidadroa dos meandres que envolvem o prêmio .

artes plásticas PAVEL MÚLTIPLO

Filósofo, poeta, escritor, ator. Pavel Fernandes, o mago da poesia no metal da pintura, mostra seus dotes artísticos. Dênis Cavalcante e o professor de Filosofia Ernani Chaves comentam a obra do artista paraense.

design

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ESPAÇO SÃO JOSÉ LIBERTO

Território Criativo, o Polo Joalheiro é modelo de gerenciamento da Economia da Cultura Amazônica.

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cinema

teatro

a identidadequilombo

Nos quilombos paraenses, embora o emprego da mão-de-obra negra, especificamente na Amazônia, não tenha alcançado as mesmas cifras que em outras regiões do país, essas comunidades desmistificam que na nossa região a escravidão não teve tanta importância. Por Ismael Machado.

expedições

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Expedição Multicultural na Amazônia. Uma viagem de muitas histórias e um olhar sobre a Amazônia, por Viviane Menna Barreto.

TEATRO

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INTERCÂMBIO

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CINEMA PARAENSE

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npd pARá

O cinema paraense apresenta sua produção, mais de 300 títulos.

FOTOENSAIO

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“Espia o Pará”

Fernando Sette escreve com luz a realidade e o imaginário da nossa região.

pará MÚSICA

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holofotevirtual

A peça “Transophia”, de Pedro Olaia, é uma viagem pela mutação de gênero e traz direção e visualidade de Nando Lima e pesquisa musical e operação de som de Dudu Lobato.

SÃO PAULO

Estúdio Lâmina, Maria Bitten, “Experimentando o Corpo Legítimo”.

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A ascenção de Nanna Reis Em seu primeiro single solo, com direção de Carlos Eduardo Miranda e produção de Marcel Barreto, a cantora mostra a que veio.

chorinho

“O Choro de Ontem, Hoje” é mais um dvd do O Charme do Choro.

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fotoensaio

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entrevista economia

Maria Rodrigues fala de Territórios Mineradores e Criatividade

indústria

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chocolat pai d’egua

O Pará deverá tomar a frente da produção do cacau do país.

parácriativo

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estratégia

A cultura como eixo de desenvolvimento regional.

cartografia

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MAPEAMENTO

A base cartográfica de Belém auxiliará no planejamento urbano.

HUMOR

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desenhos

O 6 º Salão internacional de Humor da Amazônia.

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ENTREVISTA Foto: JANDUARI SIMÕES

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humor

pará música

Doutora em desenvolvimento sustentável pela UnB, além de um vasto currículo acadêmico que inclui passagens pela Unicamp e USP, além de pesquisas no Chile e no Canadá, Maria Amélia Enríquez é expert em mineração, tema de seu PhD. Trabalhou no Ministério de Minas e Energias, ajudando a formatar o novo marco regulatório da mineração. Há quatro anos foi chamada a ser secretária adjunta da Seicom (Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração), onde coordenou o Plano Estadual de Mineração 2030, documento que serve como ferramenta estratégica ao planejamento do Estado nesta área. Em entrevista exclusiva à PZZ, ela fala sobre as alternativas de desenvolvimento para a Amazônia, e diz que os recursos da mineração devem ser utilizados para diversificar a Economia do estado. Para ela, não existe povo desenvolvido que não seja letrado, portanto resta ao Pará investir em educação, inovação e criatividade para fomentar o nosso desenvolvimento. Em uma entrevista densa ela aborda os principais pontos da dinâmica de desenvolvimento do Estado. Imperdível.

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O Instituto SENAI de Inovação em Tecnologias Minerais (ISI) já nasce como referência em pesquisa avançada no setor mineral. O ISI está em operação no centro de Belém e possui projeto de ampliação, em construção, em uma área de 8.000 m², localizado no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, ambiente propício ao desenvolvimento do conhecimento e tecnologia entre universidades, instituições de pesquisa, empresas e mercado.

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da Redação

Desenvolvimento e Criatividade Nos últimos anos, a indústria vem alcançando espaço relevante na pauta econômica local, pelo seu alto poder de empregabilidade e pelos efeitos dinamizadores da economia regional. Vivemos um processo irreversível, onde é preciso associar os interesses industriais ao desenvolvimento econômico regional. No Pará, o debate do desenvolvimento e da sustentabilidade envolve a quebra de paradigmas. Priorizar os investimentos no setor da educação, cultura, ciência e tecnologia, turismo, criação de redes integradas de formação, debate, reflexão, socialização e circulação de bens culturais podem gerar novos valores e o incremento na economia do Estado. Neste momento podemos refletir sobre nossa atual situação no contexto nacional e internacional. É um assunto tão importante para o Estado, mas causa estranhamento na sociedade. Quando não se discute o que pode ser feito para transformar nossa realidade perdemos a chance de nos desenvolvermos. Como transformar uma atividade insustentável provisória em uma atividade sustentável? Pela magnitude dos subsetores das indústrias extrativas e de transformação mineral (serviços, fornecedores etc.) podemos ser um grande indutor desenvolvimentista sobre os demais segmentos da economia. A sociedade paraense deve entender sobre este assunto que diz respeito ao Pará e ao Brasil. Difundir as informações do setor mineral para que a população se aproprie desse conhecimento e entenda o quanto a mineração está presente em nosso cotidiano e de que forma essa atividade pode contribuir para o desenvolvimento do Estado é o que pautamos na entrevista de capa desta edição com a Secretária de Indústria, Comércio e Mineração, Maria Amélia Enríquez. A PZZ segue destacando a Cultura, matéria prima mais rica do nosso Estado, considerado componente central dos processos de desenvolvimento econômico e social. O reconhecimento desta realidade, a percepção sobre o valor econômico das atividades culturais e sua importância no processo de globalização têm levado a Cultura ao centro da agenda de desenvolvimento mundial e das políticas a ele direcionadas nos mais diversos países. Como destacou Celso Furtado, “a diversidade cultural não pode ser compreendida, senão a partir da ideia de inovação, de transformação econômica e social”, isto é, “a partir da própria noção de desenvolvimento”. Esta ligação capital entre desenvolvimento, cultura e inovação é o que fundamenta os estudos sobre Arranjos Produtivos Locais e sobre nossa atuação no Norte do país. Boa Leitura!

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Edição 19 | setembro/outubro de 2014

Diretoria Executiva Carlos Pará e Fábio Santos Editor Responsável Carlos Pará (2165 - DRT/PA) Editor Assistente Elielton Alves Amador (1298 - DRT/PA) Editor de Arte/Projeto Gráfico Rilke Penafort Pinheiro Produção Executiva Pedro Vianna, Narjara Oliveira, Thiago Bezerra, Diogo Vasconcelos Fotógrafo Janduari Simões Webdesigner Andrey dos Anjos Editor São Paulo Samir Raoni Revisão Final: Elias Teles Impressão Gráfica Sagrada Família Distribuição Belém - Pará - Brasil. Assessoria Jurídica Alfredo Nazareth Melo Santana (11341 OAB-PA) Contatos (91) 98335-0000 - 9616-4992 - 9616-3400 email editoraresistencia@gmail.com Twitter @revistapzz Facebook facebook/revistapzz site www.revistapzz.com.br cartas A Revista PZZ é uma publicação bimensal da Editora Resistência Ltda - Av. Duque de Caxias, 160, Loja 14, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Cnpj : 10.243.776/0001-96 Issn: 2176-8528 Patrocínio:


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POESOFIA

Vasco Cavalcante

Prêmio de Poesia Belém do Grão Pará Entrevista com Pedro Vianna sobre a Iniciativa inédita de A Senda Produções que realiza o concurso de poesia para fomentar o diálogo e a produção cultural do Pará.

F

ui indicado para fazer uma entrevista com o poeta Pedro Vianna, que além de escritor, é produtor cultural em A Senda, tradutor, e um dos criadores e responsáveis pelo Prêmio de Poesia Belém do Grão Pará, agora em sua segunda edição. Com seus depoimentos Pedro elucida alguns pontos fundamentais sobre o prêmio, envolvendo sua origem, o processo de escolha das obras premiadas, o crescimento da participação efetiva de poetas inscritos tanto da cidade de Belém quanto, dos municípios do interior do Estado, dando-nos uma visão mais elucidadora dos meandres que envolvem o prêmio e seu processo, assim como da importância que é para a poesia e a cultura paraense, termos um prêmio com essas características em nossa região. De onde veio a ideia e o desafio de criar um prêmio literário de forma independente e para uma área específica da literatura tão difícil de ser entendida e consumida como a poesia e o que mais te motivou à isso? Depois de publicar meu primeiro livro, “Itinerário Interno”, de forma indepen-

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dente, vivenciei de perto os gargalos de produzir poesia, e principalmente, querer publicar poesia no Norte do país: falta de editoras, a falta de interesse das editoras do eixo sul/sudeste e a falta de interesse das livrarias locais no livro de poesia enquanto produto. Em 2008 meu segundo livro, “Sementes da Revolta”, foi o vencedor do Prêmio Ipiranga de Poesia, e de certa forma isso me permitiu respirar um pouco e ter a

Vivenciei de perto os gargalos de produzir poesia, e principalmente, querer publicar poesia no Norte do país: falta de editoras, a falta de interesses das editoras do eixo sul/sudeste e a falta de interesse das livrarias locais no livro de poesia enquanto produto. minha obra publicada e divulgada. Vejo que o prêmio pra mim tem muito dessa coisa de dar de graça o que recebi de graça. Penso que o que me motivou foi simplesmente a vontade de contribuir com a cena da forma mais contundente

possível: colaborando para publicar e divulgara a obra dos autores que estavam próximos de mim e vivenciando as mesmas dificuldades que eu. A demanda nas inscrições naturalmente ainda provém em maior número da capital paraense, mas já existe um foco trazendo autores residentes no interior do Estado? Claro que a grande maioria das inscrições são de Belém, porém tivemos um número significante de inscrições do interior. Creio que no ano passado perto de 15% das inscrições foram de outras cidades do estado que não da capital. Quanto ao interesse do poeta na região, já ocorre um bom número de inscritos mesmo levando-se em conta que ainda está no segundo ano de lançamento do prêmio? Ficamos muito felizes com a inscrição de vários poetas que já tem uma certa expressividade na cena, incluindo os três finalistas: Dand M, Clei de Souza e Harley Dolzane. Além deles outros nomes participaram da edição passada como Rodrigo Barata, Josette Lassance


FOTO: janduari simões

PEDRO Pedro Vianna é poeta e Idealizador do Prêmio de Poesia do Grão Pará além de ser Gerente de Projetos de A SENDA PRODUÇÕES.

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POESOFIA FOTO: janduari simões

e Benilton Cruz, com pontuações muito próximas dos vencedores. Agora é um barato também ver as pessoas que sem qualquer tipo de pretensão literária participando do projeto, desde adolescentes até idosos. Tivemos até uma inscrição de um jovem que se inscreveu ainda cumprindo medida corretiva. Existe na história da poesia mundial um menor número de poetas mulheres, sabemos que isso tem a ver com uma questão machista e preconceituosa advinda de gerações passadas. Esse quadro tende a mudar? Ou seja, nas inscrições para o prêmio já existe um certo crescimento ou equilíbrio quanto a isso? Apesar de não ter quantificado esse dado, é fato que o número de mulheres inscritas foi bem inferior. Mas tivemos sim poetas mulheres inscritas, inclusive com livros que passaram da primeira triagem e foram para a avaliação final com boas pontuações.

Os critérios de avaliação foram basicamente a consistência do texto, seu grau de inventividade e experimentalismo e a unidade do texto enquanto livro A curadoria para a escolha dos premiados é fixa ou varia a cada ano? Existem alguns critérios via organização do prêmio junto a curadoria para a escolha dos livros ou ela é inteiramente livre e de acordo com a opinião de quem está analisando os trabalhos? A ideia é que a curadoria mude todo ano. No ano passado fomos eu, Antonio Moura e Ramiro Quaresma. Os critérios de avaliação foram basicamente a consistência do texto, seu grau de inventividade e experimentalismo e a unidade do texto enquanto livro. Claro que esses quesitos foi algo que nós da curadoria discutimos antes de atribuir notas de 5 a 10 a todos os inscritos. Os autores escolhidos são realmente os melhores concorrentes ao prêmio ou é critério, preferência e identificação pelo trabalho destes poetas, 12 www.revistapzz.com.br

PARCERIAS O Prêmio de Poesia do Grão-Pará Edição 2014 teve o patrocínio do CESEP, e da Prefeitura Municipal de Belém, Fundação Municipal de Cultura de Belém - FUMBEL, através da Lei de Incentivo a Cultura Municipal “Tó Teixeira”. Apoio Cultural da Sol Informática, Fundação Cultural Tancredo Neves e Editora Resistência


Há uma tendência nos editais, não apenas no que diz respeito a literatura em geral, mas em todos os segmentos artísticos, de os inscritos não selecionados, desqualificarem o resultado final acusando a curadoria de protecionismo, o dito “efeito panelinha”. O que me dizes quanto a isso? Que palavras poderias dizer aos que não são premiados? Isso é natural. Vivemos numa sociedade competitiva onde somos educados para a vitória. Além do mais há todo esse lan-

Assumimos o compromisso de auxiliar o premiado na distribuição para lojas e pontos de venda da cidade. Também reservamos exemplares para distribuição para bibliotecas, centros culturais e para críticos literários de outros estados. ce do ego envolvido pelo fato de estarmos mexendo com a obra das pessoas. Nesse tipo de edital as pessoas tem que entender que o grande vencedor não é o cara que tem seu livro publicado, mas a literatura. Há muito mais envolvido do que prêmios: trata-se de uma ação de resistência cultural e artística. Por que a exigência do ineditismo quanto aos poemas que concorrem ao prêmio? A poesia como forma de expressão literária já não trás para o poeta grandes dificuldades no que diz respeito as vias de mostrar sua produção? Precisávamos adotar um critério que nos salvaguardasse de cair na armadilha de premiar um livro já publicado, apenas isso. Após a premiação e lançamento dos livros, como é feita a distribuição das edições nas livrarias e locações para que as pessoas possam adquirir as

obras? É responsabilidade única do premiado? Eis aí a grande questão. Pensamos bastante nisso e resolvemos dar os livros para o autor, porém assumimos o compromisso de auxiliá-lo na distribuição para lojas e pontos de venda da cidade, caso seja da vontade dele. Também reservamos exemplares para distribuição para bibliotecas, centros culturais e para críticos literários de outros estados.

miados na edição 2013: Dand M., Harley Davidson e Clei de Souza, sob tua mediação, no Instituto de Artes do Pará - IAP. Achei demais gratificante o resultado e a participação do público, e do quanto é importante essa aproximação do leitor junto ao poeta para uma compreensão maior de sua obra. Essa iniciativa continuará ao longo das próximas edições do prêmio? O que vocês pensam sobre isso? Esse ciclo de conversas é importantíssimo. É o momento de deixar os poetas falarem sobre aquilo que mais amam. Aquilo que move seu espírito, suas vidas. Acho o máximo que os leitores e demais interessados possam ter essa oportunidade de conviver um pouco com a figura do poeta. Isso humaniza a coisa. Além disso é uma forma de colaborarmos com o tão reduzido calendário de atividades literárias da cidade.

A que atribuis a dificuldade de absorção do grande público quanto a poesia contemporânea? Perguntinha complicada! Pra começo de conversa as pessoas leem pouco. A poesia parece de certa forma também ter caminhado para um hermetismo que assusta os leitores, e muitas vezes inviabiliza a leitura do leitor mediano (se é que isso existe!). Agora bem sinceramente eu não vejo problema nenhum nisso! Não acho que a poesia deva se aproximar do leitor, principalmente não acho que os autores devam tornar seus poemas degustáveis para o leitor. O leitor que se vire! Após um grande legado poético que temos na região, com poetas grandiosos como Max Martins, Paulo Plínio Abreu, Ruy Barata, etc. Existe uma real produção contemporânea com qualidade à se perpetuar futuramente na escrita poética paraense? A qualidade é indiscutível! Agora se isso irá se perpetuar, só o tempo dirá. Estamos no meio de uma revolução, onde a tecnologia vem reconstruindo as relações entre o homem e a arte, sabe Deus o que ainda virá pela frente. Sabe Deus se a poesia sequer sobreviverá. Será que nós sobreviveremos? De que maneira as redes virtuais contribuem para uma melhor percepção do momento atual da poesia produzida hoje, aqui em nosso estado, no resto do Brasil e no mundo? O acesso foi violentamente democratizado com a internet. Porém a rede é uma biblioteca de Babel. O grande problema é a dificuldade de separar o joio do trigo diante do infinito mar de informações existente. Participei agora no mês de maio de um ciclo de conversas com os pre-

Há uma meta à ser alcançada quanto ao prêmio, um plano fechado, ou as ideias vão sendo criadas de acordo com a experiencia de vivenciá-lo em cada instância? Por princípio queremos manter a mente aberta. Nossa meta é sobreviver enquanto iniciativa, e colaborar para a produção poética contemporânea no Estado, através da publicação, dos prêmios e das atividades paralelas como conversas, debates e etc. Queremos dar nossa humilde colaboração para que a poesia sobreviva. Pedro Vianna é Idealizador do Prêmio de Poesia do Grão Pará e Gerente de Projetos de A SENDA PRODUÇÕES. ______________________________ FOTO: luiza cavalcante

pela curadoria? É complicado qualificar como melhor ou pior. Claro que em qualquer curadoria a subjetividade dos curadores estará envolvida, mas posso dizer que os vencedores naquele momento trouxeram algo a mais para nós da curadoria. É muito relativo isso, talvez uma releitura dos textos hoje mudasse o resultado, é difícil medir isso.

Vasco Cavalcante é poeta desde os tempos do Fundo de Gaveta, atualmente é web designer e editor do site www. culturapara.art.br site no qual divulga, difunde, sempre se chega, quase que invariavelmente, ao buscar, no infinito espaço virtual da internet, informações sobre a trajetória de artistas ou grupos paraenses na área do teatro, artes plásticas, fotografia e literatura. Contatos: vasco@culturapara.art.br

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ARTES PLÁSTICAS

pavel,o mago da poesia no metal da pintura

Filósofo, poeta, pintor, escritor, ator de cinema e advogado, Pavel Fernandes funde poesias-pinturas numa fuselagem pra alcançar o voo mais alto da viagem em suas literalturas, ofício natural de quem assa em paixão, a fria arte de metal.

Denis Cavalcante é carioca, mas reside há quase 50 anos em Belém. Jornalista e escritor, Denis, também, é livreiro, escritor e membro da APL

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A poesia de Pavel e uma extensão do Pavel artista, do Pavel filósofo. Sua poesia é madura, forte, e, paradoxalmente suave. O leitor, que desavisado ler os poemas de Pavel, há de parar, refletir, e indagar curioso: Que idade terá o bardo? Quem o conhece (como eu) nao se surpreenderá com a verve fácil, os poemas sem rima, as estrofes contundentes, que, muitas vezes nos fazem parar e refletir sobre a vida. Nosso poeta tem lampejos angustiantes de Leminski. Facetas de Caio Fernando Abreu. O sarcasmo contundente de Bucowski. Ouso arriscar mais! Enigmáticas como o autor, como os títulos de seus poemas; explosões de lágrimas incineradas, varridas pelo tempo, magias por vezes sombrias, divinas, joviais, eternamente jovens, como a poesia, como o poeta. Delírios, pileques, caleidoscópio de palavras perdidas, achadas, soltas ao vento. Como se a intuição mágica do Pavel artista se fundisse com a po-

esia. É isso! Temos um artista que pinta poesia; um poeta que escreve arte. Conheci o jovem Pavel pelos bares da vida. Ou vocês acham que poetas, artistas, dão em árvores, caem do céu? Nosso bardo lembra ainda quiçá um querubim. Lembro-me como se fosse hoje, num final de tarde, quando tímido, mostrou-me seus escritos; pensei escreve bem o garoto. De outra feita foi a vez do Pavel artista apresentar-me belos esboços pictóricos. O cronista que entende pouquinha coisa de poesia pinçou uma pequena mostra do conteúdo que vos espera: “...Viva! / Gargalha! / No tablado vazio... / Do amor; Migalha” Nosso jovem poeta e uma força da natureza! Pavel se revela um feitiçeiro, caldeirão fumegante, senhor todo poderoso das alquimias, poções mágicas, bruxo da poesia... Querem saber quem é o melhor; o artista, o filósofo, o poeta? – Leiam o livro.


FOTOs: janduari sim천es

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ARTES PLÁSTICAS MAJESTÁTICO

FRIA MENINA DE METAL

LITERALTURAS

o periférico tomado

canetas de cores escuras tintas secas

compasso a passo arrasto ossos de palavras

um surto panorâmico que de repente o mofo ela a matéria opaca

caço borboletras pelo jardim do papel e monto verbos_ fuselagem

suspensa no elevador da pupila brilha onde sem rumo feito o feitiço

já não faço festas em mim dormi mais cedo ontem

pralcançar o vôo mais alto da viagem literalturas.

prevendo acordar em ti ..................................................

majestaticamente fico

rebocado o corpo

a observá-la

fraca fagulha de vida

trem

sobre as muletas dos nervos de vidro arrasto comigo, os mandamentos do covarde de fuga para espelhos

posseciumentalização

vagões perfumes.

posse, posse, falta de direção. pesadelos mal entendidos são brincadeiras perversas dessa falta de razão

.................................................. A HIPOCONDRIA ROMÂNTICA

um ofício natural de quem arde em paixão

posseciumentalização maldição da insegurança

a última parcela da verdade contaminada!

fria menina de metal. flecha tóxica do cupido ..................................................

dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço arremessados na atmosfera volátil da plenunidade do querer pulsa pela extensão desse genoma luminoso

morto CRÂNIO CREPÚSCULO pelos hectares da língua cultivam-se lagartas lisérgicas clitóris elétricos e grilos_ falantes que entre saltos atômicos iluminam o céu do crânio crepúsculo.

acido que sufoca incandescendo olhos e boca othelogia quase antropofagia

..................................................

doença maldita, que o amor justifica.

descaradamentescancarado

.................................................. APRENDENDO A VOAR

todas as clausuras da linguagem

eu e meu lixo literário aplaudimos nesse mundo de escárnio onde as diversões são caras e os julgamentos severos

todas as defesas imuno-ilógicas;

a violência da vida

apertar cintos, parafusos soltos orgulhos e cadarços

derrubada pela coragem de alguns

o vírus um agente metafísico latente asfalta o trepidar receio de se dar invalidando todos os sofismos da moral

mergulhar (calafrio de cadafalsos) nessa elétrica freqüência pele-boca-labirinto mulher metástase. 16 www.revistapzz.com.br

no caldeirão alquímico das palavras remexo sem cessar à procura das que tem asas

a ousadia nos espaços vazios

meu pé chumbo-matéria às vezes, me faz acreditar ser pesado demais pra ter que voar

o som do novo

mas palavras e, arrotos plumagens

amo aos loucos

imagens

não aos poucos

e voo...


www.revistapzz.com.br 17 Obra: Incitatus / Acervo: Frederico Bitar


ARTES PLÁSTICAS

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ARTES PLÁSTICAS

Ernani Chaves é Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986) e Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1993).

Pavel múltiplo - Inquietação, inquieto: talvez essas duas palavras, que remetem aos sobressaltos da alma, possam circunscrever, com alguma precisão, a figura de Pavel Fernandes, artista múltiplo, que envereda por diversas formas de expressão artística. Como estudante de Filosofia, o encontrei, pela primeira vez, já faz algum tempo. Sentado na primeira fileira, era somente olhos perguntadores, um mar de indagações, de questões que se estendiam após as aulas. E sempre, um prazer na escrita, textos sempre repletos de entrelinhas, por mais que necessitassem ainda do célebre rigor conceitual que costumamos cobrar dos alunos. Mas já plenos dessa inquietação que se deixava ver na fala incisiva, nos gestos largos das mãos, no riso sempre presente e nos olhares de espanto. Pavel múltiplo se multiplica sempre, seja como ator, como artista plástico e, agora, experimentando com as palavras nesse jogo que desde os tempos imemoriais parece ser o mais sublime, o mais nobre e, ao mesmo tempo, o mais difícil: o da poesia. Em “Comprimidos do exílio: uma hipocondria romântica” nos encontramos desde o título, no interior desses estados de exacerbada intensidade, alimentados por um comprimido muito especial, um comprimido de “vício-verso”, o qual, ao contrário do efeito desejado pela medicina, em vez de interromper esses processos intensos e exacerbados e com isso acalmar, dopar, fazer dormir, produz, cria, constitui o seu estado absolutamente oposto: o da hipocondria. Mas, se trata de uma hipocondria “romântica”! Romantismo nesses tempos ditos pós-modernos, de crise dos valores e desestabilização das verdades, nesses tempos também chamados de híbridos, onde os afetos se desfazem facilmente, tempos de amores “líquidos”? Não, Pavel não comete nenhum anacronismo simpático, não ide20 www.revistapzz.com.br


aliza amores eternos, nem nos convida para que juntemos as mãos e contemplemos, no horizonte, a felicidade que chega célere, trazida pela brisa de nosso bom comportamento. Seu “romantismo” não é dessa ordem, pois ele sabe que o poeta arrasta somente “ossos de palavras” e que ele se transformou apenas em um caça dor de “borboletras pelo jardim de papel”, como se lê em “Literalturas”. Trata-se de um romantismo circunscrito pela aguda consciência de que uma “natureza morta” pode se apresentar em “carne viva”. Os estados amorosos surgem, assim, atravessados por uma “metástase”, contra a qual só existem esses “comprimidos de exílio”. Entretanto, a “bula” que os acompanham nada ensina e nada diz acerca do modo como usá-los. Uma bula sem nenhuma “posologia”. Talvez, no limite, uma bula em branco. Resta, portanto, “arder em angústia”. A “oficina”, imagem que nos remete aos processos de trabalho pré-industriais, espaço de aprendizado entre mestre e discípulo, no qual trabalho e prazer em aprender ainda pareciam formar uma mesmo que precária unidade acaba por se transformar na banheira que acolhe a ressaca da noite insone, na qual “os diabos batem ponto”, como se fosse a última estação daqueles que acabam por “tombarenferrujados” em algum “hospício on the rocks” das esquinas da vida. Para fazer jorrar a inquietação própria de um mundo que já não oferece nenhuma segurança (embora ofereça muitas consolações), de uma geração para quem dia e noite se confundem num amanhecer que nem sempre chega, Pavel não se poupa, usando e abusando muitas vezes, de todos os clichês, multiplicados nas imagens de sombras, nas metáforas hiperbólicas, nas composições de palavras. Mas, em alguns momentos, as delícias do humor também aparecem muito mais reveladoras, na sua concisão. O melhor exemplo, está em “Desjejum”: - “Garçom!Uma faca e...um pescoço por favor” “Faca” e “pescoço” poderiam assim sintetizar o ofício do poeta iniciante imerso em uma banheira de angústia, ainda perplexo diante do próprio desatino, do próprio destino (o de poder fazer poesia?): uma faca afiada pela linguagem de encontro às palavras-pescoços. Vida longa ao jovem poeta Pavel! www.revistapzz.com.br 21


ARTES PLÁSTICAS

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FOTOs: janduari simões

Pavel Fernandes é Brasileiro de Belém do Pará. Precoce, “pinta o sete desde sêde”, seja atuando em campanhas publicitárias, seja fazendo barulho como vocalista de rock pelos inferninhos da cidade. Nos idos dos anos 90, mais especificamente em 98 ingressa no curso de Filosofia Bacharelado - Licenciatura na UFPA (Universidade Federal do Pará), ganha o 1‘ lugar no concurso da semana filosófico-Literária realizada pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas com a poesia “POSSECIUMENTALIZAÇÃO”. No ano seguinte conquista Menções Honrosas no circuito realizado pelo centro de literatura da UFPA com a poesia “PARAFUSADO” e participa do livro de coletâneas de poemas “ESTES POETAS” com três poemas; “AS VIRTUDES DE UMA GAROTA PERVERSA”, “ENTORPESTICITAÇÕES” e “TODO MEU NOSSOS”, também patrocinada pela UFPA. No mesmo ano realiza sua primeira exposição individual de artes plásticas na boate “THE MASK” e na sede do Clube Assembléia Paraense. Atua no filme “DIAS” de Fernando Segtowith. Quando se forma fecha os livros e vai pro mundo. Muda-se para os Estados Unidos e faz uma série de exposições de Miami à Nova York, atravessa o Atlântico e apresenta sua arte em Londres, Paris, Amsterdã, entre outras cidades. De volta ao Brasil lança o primeiro livro individual; “COMPRIMIDOS DE EXÍLIO; UMA HIPOCONDRIA ROMÂNTICA”. Forma-se em Direito, vira Advogado militante e segundo as palavra do jornalista Tony Remígio, Pavel continua “Irremediavelmente transgressor combatente da mesmice, da jequice e da pieguice...” CONTATOS COM O AUTOR: Email: pavelfernandesadv@gmail.com / Telefone: 91968129 - 32233736 - 3230-5440 / Endereço Comercial: Rua 28 de Setembro, 269, sala 207 / Bairro: Campina – CEP: 66010-100 / Belém – Pará - Brasil. www.revistapzz.com.br 23


DESIGN

Luciane Fiuza

FOTO: Carlos Sodré/Agência Pará

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Espaço São José Liberto: Território Criativo, modelo em cultura amazônica

Ao reunir história, arquitetura, artesanato, gastronomia, joias, moda e outras categorias criativas, o Espaço São José Liberto (ESJL) atrai o olhar do visitante de vários continentes e acolhe empreendedores criativos do estado do Pará, estudantes e pesquisadores. Inaugurado em 2002 para abrigar setores e categorias culturais, o São José Liberto é um território criativo considerado referência no Brasil pelo Ministério da Cultura (MinC) por desenvolver ações em seis áreas da economia criativa no Estado do Pará. A visita ao local permite um passeio sobre a diversidade cultural paraense e o encantamento com a história e memória do lugar. No prédio centenário, restaurado em 2002, estão expostas para comercialização tipologias de artesanato de todas as regiões do Estado e joias exclusivas criadas pelos integrantes do Programa de Desenvolvimento do Setor de Gemas e Joias do Pará, conhecido como Polo Joalheiro, criado em 1998 e instalado no local desde 24 www.revistapzz.com.br

a sua fundação. O São José Liberto abriga o Museu de Gemas do Pará, o Jardim da Liberdade, a Casa do Artesão, o Memorial da Cela, Capela São José, anfiteatro Coliseu das Artes, espaço gourmet, oito lojas de joias, duas ilhas com serviços especializados em ourivesaria e lapidação, além da escola de ourivesaria. Produtos de moda e acessórios com características artesanais e de trabalho autoral também podem ser encontrados no São José Liberto. Com acervo com mais de 4 mil peças, o Museu de Gemas do Pará reproduz um pouco da magnitude da riqueza mineral existente no imenso território paraense. No Jardim da Liberdade, considerado um museu gemológico a céu aberto com seus cristais, quartzos, ametistas e citrinos a céu aberto, harmonizados em formato de mandala com plantas e uma bela fonte de água, o visitante é conduzido a um cenário inimaginável para um lugar que, por mais de 100 anos, deixou a beleza, a criatividade, os sonhos e a chama da vida lá fora.

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FOTO: Sidney Oliveira/Agência Pará


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FOTO: Ascom/Igama

1 Fachada do Espaço São José Liberto; 2 Bracelete “Barcos de Miriti”, criação do designer Fares Farage - Exposição Joias de Nazaré 2014 do Polo Joalheiro; 3 Barco de miriti, artesanato comercializado na Casa do Artesão do ESJL; 4 Artesanato de cerâmica vendido na Casa do Artesão do ESJL.

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FOTO: João Ramid AIB

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DESIGN

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1 Espaço Moda ESJL; 2 Colar “Florir de Fé”, criação de Bárbara Müller; 3 Acessórios do Espaço Moda ESJL; 4 Cursos de capacitação profissional promovidos pelo ESJL. FOTO: sidney oliveira/ag. pará

O espaço também oferece visitas monitoradas a grupos de instituições de todos os níveis de ensino e atende turistas de transatlânticos, bem como instituições especializadas para troca de experiências nos setores de gemas e joias, turismo e economia criativa. História e criatividade - O prédio principal do São José Liberto data de 1749 e foi erguido para ser o convento de São José. Já funcionou como olaria, quartel, depósito de pólvora, hospital, cadeia pública e presídio. Em 2002, depois de restaurado e denominado Espaço São José Liberto, passou a funcionar como espaço intersetorial e transversal concebido para abrigar ações turísticas, culturais, capacitação profissional na área de design, joalheria, artesanato, moda e meio ambiente. Hoje, realiza e promove, em parceria, ações de capacitação técnica, gestão e mercado. Dispõe de uma loja incubadora de negócios na área de gemas e joias; promove e comercializa objetos e produtos derivados de setores criativos e suas iniciativas têm como referência a diversidade cultural amazônica, a inovação, o empreendedorismo criativo e a sustentabilidade. O espaço realiza, ainda, exposições com curadorias e atende designers, ourives, lapidários, estilistas, microempresários, mestres artesãos, empreendedores, criadores, produtores, artesãos independentes, associações de artesãos do Estado do Pará e demais profissionais destes segmentos criativos, promovendo a geração de trabalho e renda. A qualidade e diversidade do artesanato e da joia do Polo são alguns dos principais pontos de atração do turista ao São José Liberto, de acordo com Rosa Helena Neves, diretora executiva do espaço e do programa. A diretora destaca que a joia comercializada no ESJL é resultado de pesquisas e novas idéias desenvolvidas pelos designers em parceria com ourives, lapidários e mestres de artesanato, além de apresentar referências culturais e estilo autoral. “A joia artesanal do Polo, reconhecida em todo o Brasil e no exterior, incorporou matéria-prima diferenciada e sustentável ao metal nobre. Madeira certificada, sementes, cascas de árvores, chifres de búfalo, ouriço de castanha do Pará, fibras e gemas minerais naturais contribuíram para o surgimento de uma joia onde a originalidade comunica a cultura do seu

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FOTO: igama/divulgação FOTO: carlos sodré/ag. pará FOTO: igama/divulgação

território”, ressalta. Cultura, turismo, economia e talento – Com o compromisso de promover a economia criativa - onde a criatividade impulsiona a inovação - e divulgar manifestações culturais, religiosas e turísticas do Estado, uma programação especial foi elaborada para o mês de outubro, quando acontece o Círio de Nazaré, uma das maiores procissões religiosas do mundo e a maior manifestação cultural do povo paraense. A programação inclui exposições e comercialização de produtos temáticos como forma de comunicar tradições centenárias, revelando como os empreendedores criativos paraenses traduzem em seus produtos e serviços a festividade da sua padroeira, Nossa Senhora de Nazaré. No período, são expostos e comercializados artesanato de variadas tipologias, acessórios de moda, adornos e joias com design autoral, valor expressivo com significados culturais e representação da Festa do Círio. Dentro dos conceitos da economia criativa, em que tradições culturais de trabalho passam a ter vínculos com variadas atividades produtivas modernas, o São José Liberto é uma vitrine do trabalho de empreendedores criativos paraenses, agregando valor aos seus produtos. Ao unir tradição e modernidade, no local podem ser encontrados tanto produtos artesanais oriundos de saberes de comunidades tradicionais do Estado, como as indígenas, ribeirinhas e quilombolas, quanto produtos tendo a inovação como referência. O Espaço São José Liberto é uma expressão deste valor cultural e econômico que difunde a produção artístico-cultural de músicos, escritores, bailarinos, atores, além dos mestres artesãos, designers, ourives, lapidários e demais empreendedores que integram o Programa Polo Joalheiro do Pará. Uma amostra da riqueza desse trabalho pode ser vista na programação do mês de outubro do ESJL, com destaque para duas exposições com temática do Círio, que integram a programação oficial turística do Estado do Círio 2014. Uma deles é a mostra “Natureza, Cultura e Fé: a Grandiosidade do Círio de Nazaré”, aberta no dia 7 de outubro e que segue até o dia 31 na capela do espaço, recontando um pouco dos 222 anos da história do Círio, por meio de parceria firmada entre o Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama)/Secretaria de Estado de Indústria,

Comércio e Mineração (Seicom), Companhia Paraense de Turismo (Paratur), Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa), Fundação Escola Bosque e Universidade do Estado do Pará (Uepa). A outra é tradicional “Joias de Nazaré”, que chega a sua 11ª edição mostrando a fé e suas diversas formas de expressão encontradas no Círio, fonte de inspiração para designers e empresários do setor, que criaram joias que comunicam a devoção do povo paraense, a partir da visualidade plástica da festividade. A exposição tem como tema “Expressões da Fé” e pode ser visitada na Casa do Artesão do Espaço São José Liberto até o dia 31 de outubro. Na mostra, podem ser vistas 107 joias em prata e ouro, resultado do trabalho desenvolvido pelo Programa Polo Joalheiro do Pará, com consultoria de Rosângela Gouvêa, designer e professora da Uepa, e ambientação da designer Bárbara Müller. Segundo a diretora executiva Rosa Helena Neves, a coleção de 2014 apresenta um “diálogo poético” entre o tradicional e a inovação, o artesanal e o tecnológico, as técnicas tradicionais e a criatividade. “Esses complexos diálogos foram construídos e formatados em joias religiosas que brincam com o belo da diversidade cultural amazônica, gerando um luxo que agrega opostos: o metal precioso com o plástico e o papel, os diamantes com as gemas orgânicas de origem animal (chifre de búfalo), as fitas dos pedidos dos promesseiros com variados tipos de quartzos. Um luxo acessível, exclusivo, raro e encantador!”. As microempresas e empreendedores individuais que fazem parte da nova coleção são Amajoia, Amazon Art, Amazonita, Ana Cassia Lima, Barbara Müller, Celeste Heitmann, Danatureza, Ednaldo Pereira, Eli Cascaes, Fábio Monteiro, Francileudo Furtado, HS Criações e Design, Ivam Silva, Ivete Negrão, José Lucas, Laise Lobato, Marcilene Rodrigues, Ourogema, Rahma Gemas e Joias, Realiza Joias, Rosa Castro e Yemara, que contaram com o trabalho de ourives, cravadores, mestres artesãos e lapidários. A realização da “Joias de Nazaré 2014” é da Seicom, Igama, Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Setur e Paratur, com apoio da Uepa. Outra atração do local é o Espaço Moda ESJL, que começou a funcionar no mês de

outubro e apresenta para o visitante uma coleção atemporal com inspiração no Círio de Nazaré. Situado na Casa do Artesão, o local reúne o trabalho de designers, criadores, microempresas e demais empreendedores integrantes do Grupo de Moda do Polo Joalheiro e do Arranjo Produtivo Local (APL) de Moda e Design do Pará. Produtos inspirados no Círio de Nazaré foram criados para o lançamento do espaço, vitrine para a produção paraense de acessórios de moda que se destacam pela criatividade no design e utilização de matéria prima diversificada, de origem vegetal, sustentável e industrial. No local estão sendo comercializadas bolsas, carteiras, chaveiros, braceletes, maxicolares, anéis, pingentes, brincos e outras peças, confeccionadas em algodão cru, madeira (imbuia e pupunheira), ouriço da castanha do Pará, couro, paneiro, fibras de arumã e buriti, aço inox, ferro, fitas de promesseiros do Círio, resina, acrílico, tecido e lentes de óculos reaproveitadas, entre outros materiais. O “Espaço Moda ESJL” é uma realização do Programa Polo Joalheiro do Pará, mantido pelo Governo do Estado, por meio da Seicom e gerenciado pela OS Igama. A iniciativa dá continuidade à trajetória cultural do São José Liberto de fomentar talento, desenvolver habilidades criativas, valorizar o imaginário amazônico e potencializar a qualidade do pensamento criativo. É um território que cresce e se renova cravado na tradição. ________________________________ SERVIÇO: O Espaço São José Liberto (Praça Amazonas, s/n, Jurunas, Belém-PA-Brasil) funciona nos seguintes horários: de segunda a sábado, das 09 às 19h, e aos domingos e feriados, das 10 às 18h. O “Espaço Moda ESJL” está situado na Casa do Artesão do São José Liberto e pode ser visitado no horário normal de funcionamento do local. AGENDA: Nos dias 24 e 25 de novembro acontece, no ESJL, o “III Workshop de Integração das APL’s de Gemas e Joias”, realização do IBGM, Sebrae, Igama, Seicom e Governo do Pará. Mais informações com o NDTO do Igama: ndto.igama@gmail.com. Contatos: Fone (0XX91) 3344-3514 / Fax: (0XX91) 3344-3510 / E-mail: igama_secretaria@hotmail. com e ascom@saojoseliberto.com.br / Blog: www. espacosaojoseliberto.blogspot.com.br / Site: www. saojoseliberto.com.br / Facebook: www.facebook. com / EspacoSaoJoseLiberto Twitter: www.twitter. com / PoloJoalheiroPA.

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DOCUMENTÁRIO

Ismael Machado

IDENTIDADE QUILOMBOLA NO PARa’ 28 www.revistapzz.com.br


FOTOs: Ismael Machado

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a comunidade África, entre Moju e Abaetetuba, no nordeste do Pará, crianças enfermas costumam ser tratadas com ervas naturais, cujo conhecimento a respeito das propriedades medicinais de cada erva, folha ou raiz é passada de mãe para filha. São cerca de 20 famílias. Em Laranjituba, comunidade próxima, Francisca Moraes Cardoso também conhece os segredos das plantas, das rezas, das benzeções. “Meu avô era pajé, minha avó era pajé. Eu só uso os saberes quando é necessário. Não abuso muito não”, diz. O dom de Jorge Trindade, o Mestre Jorge é benzer. É como ele cura o que chama de ‘espinhela caída’, quando o “sujeito está meio descompensado”, meio que explica o processo complicado para um leigo. “Mas olha, tem que respeitar o que a mata dá. Não pode brincar com as coisas

da natureza”, ensina. Conhecimentos simples como esses são preservados porque há um espaço adequado para que essas tradições se mantenham. São as comunidades quilombolas, locais onde os remanescentes de negros escravizados encontraram a possibilidade de possuir uma terra em conjunto. Nela, antigos valores são ensinados, ao mesmo tempo em que se buscam inserções na sociedade tecnológica atual. Mas, assim como existem ameaças cada vez maiores às florestas com a aprovação no Novo Código Florestal, comunidades tradicionais como ribeirinhos, indígenas e quilombolas também correm risco, mesmo com o Tribunal Regional Federal garantindo a constitucionalidade da extensão do direito constitucional de acesso ao território para comunidades quilombolas.

Até hoje esse tem sido o principal instrumento de garantia para os descendentes negros da época da escravidão no Brasil de terem assegurado direito à posse da terra onde vivem. Mas as garantias estão ameaçadas. Capitaneada pelo DEM, a bancada ruralista do Congresso Nacional entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade do Decreto 4887/2003, que é responsável por regulamentar a titulação de terras quilombolas no Brasil. A derrota do DEM, mesmo assim, pode não ser suficiente para barrar o olhar de cobiça às terras quilombolas. No Pará já foram identificadas mais de 400 comunidades quilombolas. Mais de 120 são tituladas e possuem território delimitado. Em todo o Brasil, existem comunidades quilombolas em 24 estados. O processo de titularidade chega a levar um ano. O Pará é quem mais titulou ter-

COMUNIDADE NEGRA No estado do Pará existem 240 comunidades quilombolas e acredita-se que muitas outras ainda serão identificadas. Embora o emprego da mão-de-obra negra na Amazônia não tenha alcançado as mesmas cifras que em outras regiões do país, essas comunidades desmistificam que na Amazônia a escravidão não teve tanta importância.

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DOCUMENTÁRIO ras quilombolas no Brasil. Na comunidade do Poacê, uma das 15 comunidades do Jambuaçu, pertencentes ao município de Moju, parte dos moradores buscou resgatar a tradição do artesanato, como uma atividade de resistência e resgate, porque o artesanato para a fabricação de utensílios domésticos fazia parte da vida comunitária, mas aos poucos foi sendo esquecido pelas gerações mais novas. Em Santana, comunidade quilombola distante cerca de 30 minutos de barco de Abaetetuba, às margens do rio Taverá-Açu, há muita vontade de fazer com que a história vivida não seja apagada entre as mais de 130 famílias que vivem na comunidade, reconhecida como terra quilombola há apenas uma década. A pobreza, as dificuldades educacionais e a ameaça de os descendentes de escravos perderem as matas próximas para atividades madeireiras estão entre os maiores desafios. O surgimento de cooperativas de artesanato e mel são formas de resistência. A bisavó de Sebastiana Carvalho, 71 anos, foi escrava. A avó por parte de mãe foi índia. Ambas passaram pelos braços do “sinhô”, como eram chamados os brancos, os que mandavam, os que tinham o poder. Sebastiana teve dez filhos. Só não sabe contar quantos netos. “É muito neto e bisneto”, resume. A lua-de-mel do casamento foi no meio do mato mesmo. “A minha primeira vez foi no roçado”, ri a bisneta de escravos que hoje está aposentada como lavradora. Borges dos Santos costuma ser o sobrenome de quase todos os moradores da comunidade de Macapazinho, em Santa Izabel. São 40 famílias e aproximadamente 200 moradores. “Conseguimos o título coletivo da terra em maio de 2008”, lembra Nerci de Aguiar dos Santos, 50 anos, considerado uma espécie de líder da comunidade. São quase 70 hectares de terra já titulados. Em Santa Rita da Barreira, uma comunidade quilombola incrustada no município de São Miguel do Guamá, no nordeste paraense, os moradores decidiram investir no artesanato a partir de sementes. É nessa atividade que pretendem buscar alternativa de renda além do roçado de subsistência e da produção de farinha. Para ser colhida a semente, é preciso que os homens da comunidade sigam o igarapé Açu, que desemboca no rio Guamá, 30 www.revistapzz.com.br

atravessem o rio em canoas e na outra margem encontrem a matéria-prima. No Moju, a comunidade de São Sebastião do Traquateua, com 39 famílias e área de 1.129 hectares; Santa Luzia do Tracuateua, 32 famílias, em 268 hectares e na comunidade Santana do Baixo, com 34 famílias e 2.123 hectares de terra, obtiveram há menos de quatro anos o reconhecimento como território quilombola. “Se não tivéssemos nos organizado não teríamos nada, estaríamos na periferia da cidade”, diz Nélis Rodrigues Fagundes, a dona Jane, 55 anos, moradora de Santa Luzia do Tracuateua. Em São Sebastião, Conceição de Souza Silva, 47 anos, diz que sente a titulação de terras como vitória pessoal. “Logo no começo algumas famílias não aceitaram isso de terra comunitária, de um documento só para todos. Queriam permanecer com seu titulo individual. Mas dessa forma, a gente fica mais protegido. Ninguém pode vender mais. A área é coletiva”, diz ela. Nessa historia de luta contada no feminino, o povo quilombola finca raízes em terras que parecia um dia que seriam retiradas dos próprios pés. “Dá um alívio. Agora teremos mais forças para resistir. E resistiremos”, diz. Resistência foi a palavra de ordem em Burajuba, comunidade do município de Barcarena. Burajuba é o nome de uma árvore que os mais antigos utilizavam para construir canoas. Árvore forte, que resistia ao fogo sem rachar, a espécie quase não é mais encontrada nas matas por uma comunidade que adotou ser batizada com o nome dessa árvore no município de Barcarena. Como a árvore que lhe deu o nome, a comunidade de São Sebastião de Burajuba resistiu ao ‘fogo’ das ameaças de perda das terras. No dia 1º de janeiro de 2014 as famílias da comunidade passaram a ser oficialmente autodefinidas como quilombolas. A certidão de autodefinição, publicada pela Fundação Cultural Palmares no final de 2013, foi entregue às famílias em cerimônia promovida pela prefeitura local com a participação da Superintendência do Patrimônio da União no Pará. Para a comunidade, foi uma grande vitória. A certidão atesta às instituições e órgãos públicos que a comunidade se enxerga como quilombola. É um reconhecimento das origens e dos direitos das famílias. Além de possibilitar que a

VÁRIAS CONQUISTAS Apresentar alternativas políticas, definir novos rumos, é uma obrigação básica para salvaguardar os interesses desses povos na lutar por melhorias.


FOTOs: Ismael Machado

comunidade tenha acesso mais amplo a políticas públicas, o reconhecimento é o primeiro e mais importante passo para a obtenção da titulação das terras quilombolas, fornecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “É uma verdadeira carta de alforria. É o reconhecimento de que eu não sou invasora, sou quilombola”, disse a líder comunitária Maria do Socorro Costa da Silva. O processo teve início no ano passado. Em 2013, a comunidade entrou em contato com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e solicitou à professora Rosa Acevedo Marin, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), apoio na produção de estudo que registrasse a história das famílias de Burajuba. A pesquisa histórico-antropológica foi realizada em Belém e

A pobreza, as dificuldades educacionais e a ameaça de os descendentes de escravos perderem as matas próximas para atividades madeireiras estão entre os maiores desafios. em Barcarena. Na capital a pesquisa de fontes documentais foi realizada na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, na Comissão Demarcadora de Limites, no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e na biblioteca do Naea. Em Barcarena foram feitas entrevistas gravadas e trabalhos de georreferenciamento, registra relatório da pesquisa enviada à Fundação Cultural Palmares. A pesquisadora Rosane Maia, que participou da elaboração dos estudos, também esteve presente na cerimônia do último sábado. O reconhecimento como quilombolas pode ser também um passo gigantesco em relação a uma luta que dura quatro décadas contra a empresa Companhia de Desenvolvimento de Barcarena (Codebar), que reivindica as terras. Em 2008 o Ministério Público Federal no Pará chegou a entrar com um pedido de medida cautelar à Justiça Federal para que fosse impedida a venda das terras dos ribeirinhos da comunidade de Burajuba pela www.revistapzz.com.br 31


DOCUMENTÁRIO Codebar. A venda das terras ameaçava a integridade territorial de uma população que o MPF entendia ser protegida pela Constituição, incluída nos critérios da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. A disputa com a empresa começou por volta de 1984, quando a Codebar entrou no local, tomando posse das terras para formar o Distrito Industrial. É uma história tipicamente amazônica, no que tem de simbólico em relação à posse, ocupação de terras e poder econômico sobrepujando comunidades tradicionais. O relato feito pelos moradores em ofício encaminhado à Justiça Paraense em agosto de 2008 é revelador dessa situação. Diz o texto: “Em 1980 recebemos uma comissão do Iterpa, para que fizéssemos um novo cadastro no órgão, a fim de recebermos o título definitivo de posse de nossas áreas. Passaram-se três meses, como combinado, uma comissão foi até o Iterpa. Lá fomos recebidos pelo dr. Cezar Bentes, que nos deu a notícia de que nossas terras tinham sido vendidas para o Distrito Industrial. Ele mandou que esperássemos para que fôssemos indenizados. Neste mesmo período chegaram as empresas abrindo as ruas e destruindo tudo o que estava na frente. Os funcionários da Codebar diziam que tínhamos de colaborar com o governo doando nossas terras, que seriam propriedade da União, para o Projeto Industrial e que só teríamos o direito de receber a indenização de nossas benfeitorias. Deram um prazo de uma semana para que 44 famílias fizessem o levantamento das plantações e benfeitorias”. “Já morávamos aqui. Temos certidões desde 1964. Essas terras eram dos nossos bisavós, que deixaram para os nossos avós, que deixaram para nossos pais e que pretendemos deixar para nossos filhos”, dizia Raimundo Amorim de Barros, atualmente com 60 anos. Cerca de 50 famílias- das 500 originaisvivem no local. É uma área ainda extensa, mas que já foi muito mais. O rio Murucupi, que passa aos fundos, foi contaminado por diversas empresas. “A gente vivia do camarão, do peixe, do que plantávamos. Não precisávamos de nada. Agora não se pode mais pegar nada desse rio”, diz Clarivaldo do Amorim Brandão, 50 anos, irmão de Raimundo Amorim. No meio da mata, há restos do que era 32 www.revistapzz.com.br

o centro da comunidade. Uma escola e uma igreja centralizavam a vida da comunidade. Na igreja, quatro santos eram venerados em quatro festas anuais. A de Santa Ana, São Sebastião, Nossa Senhora das Graças e São Tomé, a maior de todas. Cada santo tinha uma imagem que ficava com uma família da comunidade. Em 1984, a professora Judite de Souza Lemos teve que correr com os alunos quando dava aula porque as máquinas da empresa vieram para derrubar tudo. Da escola, Judite foi para a igreja. Não adiantou. Hoje só há ruínas lembrando o episódio. Judite Lemos tem hoje 60 anos e nove filhos. É uma mulher pequena, de passos miúdos e rápidos. Conhece como poucos as histórias da comunidade. Guarda papéis que comprovam a existência das famílias de Bujaruba. São certidões de nascimento, batizado, casamentos, com

Como a árvore que lhe deu o nome, a comunidade de São Sebastião de Burajuba resistiu ao ‘fogo’ das ameaças de perda das terras. datas dos anos 60, 70, 80. Um exemplo é a certidão de um dos filhos, Renato Júnior de Souza Lemos, registrado no dia 30 de março de 1977. O local do nascimento é a comunidade de Bujaruba, registra o documento. Segundo o MPF, na área central da Vila dos Cabanos, região nobre do município, parte da comunidade foi removida para casas de madeira em um bairro de periferia chamado Laranjal, a troco de indenizações que muitos sustentam não terem sido pagas. Como o dinheiro era insuficiente e as cerca de 50 famílias estavam habituadas a viver de roça, pesca e coleta, muitos moradores de Burajuba não conseguiram se adaptar ao ambiente urbano e retornaram às terras, o que gerou conflito com a extinta Codebar. “Burajuba é um caso emblemático de como os grandes projetos implantados na Amazônia simplesmente negaram a realidade do povo que vive aqui”, diz o procurador da República Felício Pontes Jr. Por essas e inúmeras outras dificuldades, o reconhecimento da comunidade como quilombola foi comemorado como uma

HISTÓRIA ESCRAVA Nas várias regiões do atual Estado do Pará, os escravos negros foram utilizados como mão-de-obra nas atividades agrícolas e extrativistas, nos trabalhos domésticos e nas construções urbanas.


FOTOs: Ismael Machado

grande vitória. “É a justiça começando a ser feita”, disse o morador de Burajuba Eduardo Cravo. A comunidade ainda enfrenta litígios com outras empresas, também de olho nas terras quilombolas. O quinto filho de Kátia Cilene Moraes Cardoso, 35 anos, tem só três meses de vida, mas aparenta pelo menos uns dois a mais. Pelo menos uma vez a cada 15 dias toma um banho caprichado que mistura ervas como favaquinho, cascas de paus diversos, folha de alho e manjericão. “É bom para evitar tosse, catarro e para proteger o corpo”, diz ela. Emanuel, o menino, raramente fica doente, garante a mãe. É assim que a comunidade África, de remanescentes quilombolas, costuma tratar seus moradores quando o assunto é saúde. O que der para ser curado pelas ervas plantadas no quintal evita uma ida

“Já morávamos aqui. Temos certidões desde 1964. Essas terras eram dos nossos bisavós, que deixaram para os nossos avós, que deixaram para nossos pais e que pretendemos deixar para nossos filhos” a algum posto médico de Moju ou Abaetetuba. As 18 famílias que moram na comunidade sempre se consideraram de Moju, mas agora oficialmente são munícipes de Abaetetuba, o que gera revolta e indefinição. A ambulância de Abaetetuba não os transporta porque não pode levar os doentes da comunidade para Moju, município mais próximo. O que sobra então é a sabedoria popular. Catarina Macedo Nascimento, 51 anos, é um exemplo. Aprendeu com a mãe que, por sua vez aprendeu com a avó de Catarina, que as ervas curam. E como. Catarina caminha pelo terreiro da casa e vai apontando: “esse aqui é gergelim preto, a gente faz fricção para os casos de derrame. Ajuda a recuperar os movimentos. Aquele ali é o manjericão, mas é outro, não é o de por na comida não. esse manjericão aqui a gente faz chá para controlar pressão. Esse cipó de alho é bom para dar banho em criança e é cicatrizante também”. www.revistapzz.com.br 33


DOCUMENTÁRIO Na comunidade de Laranjituba, próximo à África, Francisca Moraes Cardoso também conhece os segredos das plantas, das rezas, das benzeções. “Meu avô era pajé, minha avó era pajé. Eu só uso os saberes quando é necessário. Não abuso muito não”, diz. Francisca é uma mulher pequena, mas ligeira. Fala rápido e mais rápido ainda vai dizendo para que serve cada cipó, folha ou garrafada. “Coisa simples, como baques, feridas, tosses, a gente cura por aqui mesmo e só usando o que a terra dá”, diz ela. “Até para arrumar namorado eu tenho a planta certa”, ri. Pariri, cabi, carucaá, mucurará...os nomes são complicados, vindos da mistura entre índios e negros. Mas os resultados são simples. Curam anemia, tosse, dores de barriga. É o que garante Domingas da Conceição Moraes, do alto de seus

A ambulância de Abaetetuba não os transporta porque não pode levar os doentes da comunidade para Moju, município mais próximo. cabelos brancos cultivados ao longo de 83 anos. Domingas é considerada a mais sábia, a melhor entre as que conhecem os segredos das ervas. “Da comunidade África para cá só eu mesmo”, diz sem pitada alguma de modéstia. “Aprendi com os meus pais. Isso é coisa que a gente vai passando de geração a geração. Mas tem de ter o dom”, diz ela. Em Oriximiná, oeste do Pará, quinze comunidades quilombolas aguardam pela regularização das terras. As terras estão sendo ocupadas aos poucos por mineradoras, hidrelétricas, madeireiras e pela soja. Os processos de titulação dos territórios Alto Trombetas, Jamari, Moura e Ariramba foram abertos pelo Incra e pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa) em 2004 e 2005. É uma área de mais de 330 mil hectares, o equivalente a mais de 300 mil campos de futebol. Seis anos depois, os processos pouco andaram. “Nem mesmo a fase inicial dos estudos de identificação foi executada”, diz Lúcia Andrade, da Comissão Pró-Índio, de São Paulo (CPI-SP), uma das organizações responsáveis por um amplo estudo chamado ‘Terras Quilombolas em Oriximi34 www.revistapzz.com.br

TERRAS QUILOMBOLA Foi no Pará, no município de Oriximiná, que pela primeira vez uma comunidade quilombola recebeu o título coletivo de suas terras, no ano de 1995.


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ná: pressões e ameaças’. O documento esmiúça a situação de índios e quilombolas no município, principalmente dos segundos. Os quilombolas vivem em nove territórios nas margens dos rios Trombetas, Erepecuru, Acapu e Cuminã. São 35 comunidades em Oriximiná. O município se espalha na chamada Calha Norte do Pará, onde está a maior concentração de áreas protegidas do mundo, com quase 13 milhões de hectares de unidades de conservação estaduais, 1,3 milhão de hectares de unidades de conservação federal e pouco mais de 7 milhões de Terras Indígenas. Apenas sete terras quilombolas estão tituladas na área de influência da Calha Norte. “A pressão tem sido grande”, diz o líder comunitário Domingos Printes, 42 anos, morador do Abuí, no Rio Trombetas.

As terras estão sendo ocupadas aos poucos por mineradoras, hidrelétricas, madeireiras e pela soja. “Durante décadas, o isolamento ajudou os quilombolas a manter suas terras protegidas. Seus territórios apresentam grandes extensões de florestas com quase 100% de suas áreas preservadas. Mas o avanço da ocupação dessa região torna os quilombolas cada vez mais vulneráveis a uma série de ameaças, como a exploração madeireira e mineral, planos de exploração do potencial hidrelétrico dos rios que cortam suas terras e ações de pescadores e garimpeiros”, afirma Lúcia Andrade. Tomando como base imagens de satélite, a CPI-SP constatou que o desmatamento na área do entorno das terras quilombolas totalizou quase 300 quilômetros quadrados até 2009. “Isso representa 19% de toda área desmatada de Oriximiná, diz Andrade. É uma situação que pode se agravar ainda mais. Segundo o documento da CPI-SP, nos últimos cinco anos, as comunidades quilombolas em Oriximiná receberam diversas ofertas de parceria por parte de empresas madeireiras para exploração florestal. Isso porque os territórios quilombolas já titulados nessa região apresentam-se como opção bastante atraente para as empresas. Há dois motivos para essa cobiça. O primeiro são as extensas

áreas de floresta. O segundo, a situação regularizada. Em fevereiro de 2011 duas associações ligadas a comunidades quilombolas firmaram acordos para exploração de madeira em seus territórios, com a Construtora Medeiros Ambiental, com sede em Tocantins. A parceria é questionada. “Os contratos não fazem referência nem anexam documentos que demonstrem que os membros das associações quilombolas tenham ciência e aprovaram em assembleia os termos do contrato”, questiona Lúcia Andrade. “Isso aconteceu porque não existiu depois da titulação uma política pública do governo. Titularam e pronto. As associações não tiveram outra opção”, defende Domingos Printes. Como não contam com meios para fazer um monitoramento adequado e garantir que a exploração florestal seja realizada por meio de manejo de baixo impacto, as comunidades terão de correr o risco de ver o território ameaçado. É um risco real. Um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) já mostrou que 73% dos hectares explorados no Pará entre 2008 e 2009, por exemplo, não haviam sido autorizados pela Secretaria de Meio Ambiente. A exploração mineral é outra fonte de preocupação dos quilombolas em Oriximiná. Dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) indicam a existência de 94 processos minerários que incidem em terras quilombolas. Bauxita, fosfato e ouro encabeçam os processos. A única empresa que já desenvolve atividades de exploração em Oriximiná é a Mineração Rio do Norte, que afirma estar cumprindo todos os requisitos legais para a atividade e com respeito às comunidades quilombolas, sem invasão de terras dessas comunidades. A Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (Arqmo) discorda e diz que o diálogo com a MRN se iniciou após a denúncia dos quilombolas ao Ministério Público Federal (MPF) que funcionários da empresa já estavam realizando atividades nas terras, sem uma conversa prévia com as comunidades e que em nenhum momento, nem as comunidades nem a Arqmo deram autorização ou anuência para a realização de pesquisa ou extração de minérios na área. www.revistapzz.com.br 35


literatura expedição

Viviane Menna Barreto

Expedição multicultural na Amazônia Na noite escuracom poucas estrelasa nau de passageirosavança solitária. Éa única luz em meioao rio ea floresta. Dentro do barco centenas de redes preenchemtodoo espaço armadas emtodasas direções. Instaladas por uma noitecompõem umatrama multicolorida de estampasque embalam em um único espaço muitas histórias.

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fotos: Agência colaborativa Estácio

“ESSE RIO É MINHA RUA” Um grupo de jovens universitários sentados em suas redes aproveitam os últimos minutos de internet. Iluminados pela tela de seus notebooks fazem os últimos posts e downloads antes de experimentarem pela primeira vez a chance de participar de uma expedição destinada a fotografar, desenhar, filmar, escrever e viver experiências Amazônicas.

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literatura expedição Um grupo de jovens universitários sentados em suas redes aproveitam os últimos minutos de internet. Iluminados pela tela de seus notebooks fazem os últimos posts e downloads antes de experimentarem pela primeira vez a chance de participar de uma expedição destinada a fotografar, desenhar, filmar, escrever e viver experiências Amazônicas. Trabalhando em uma espécie de Agência Colaborativa os estudantes unem seus conhecimentos, fragilidades e talentos para criar em múltiplas plataformas novas narrativas sobre a cultura tradicional Paraense. A proposta destes artistas e comunicólogos viajantes é conseguir criar um canal de comunicação entre os saberes e fazeres dos homens amazônicos e o ciberespaço buscando possibilitar novas conexões entre estes mundos e temporalidades. A ideia inspirada no projeto Rondon, com viés antropológico, já aconteceu ao longo dos rios Tocantins, Amazonas, Pará, Canaticu, entre outros. Trata-se de um trabalho de Extensão Universitária, denominado Cartografias Amazônicas, que está sendo desenvolvido pela faculdade Estácio FAP sob minha coordenação e que já resultou em 55 produções desde seu inicio em 2013. As ‘Cartografias’ nasceram com intensão de apresentar a Amazônia aos estudantes que desconhecem as realidades do interior, das ilhas, das florestas e manifestam apenas preconceitos com relação as manifestações culturais caboclas, indígenas e quilombolas. Observamos que muitos jovens vivem apenas o Pará urbano o que nos soou como algo alarmante, uma vez que o melhor de Belém é ser uma capital onde ainda é possível conviver com a cultura e visualidade amazônica. Muito próximo a capital, podemos nos surpreender com a riqueza de pequenas festas sagradas e profanas ainda desconhecidas. No entanto por haver poucas narrativas sobre essa realidade no ciberespaço resolvemos facilitar aos estudantes estas experiências. Enfatizando a responsabilidade social da comunicação já viajamos para Cametá para produzir reportagens sobre os mestres do carnaval das ilhas do rio Tocantins que se apresentam mascarados sobre barcos encenando comédias carnavalescas que revelam verdadeiras crônicas sobre o cotidiano local. Fomos as serras de 38 www.revistapzz.com.br

Monte Alegre e construímos com base em pesquisas sobre imaginários locais Histórias em Quadrinhos para promover preservação de inscrições rupestres deixadas nas rochas por nossos antepassados há mais de 11 mil anos. Em Santarém Novo produzimos charges narrando parte do ciclo de Festivais de Carimbó que vem reunindo tocadores de todo estado em um processo de reconhecimento do carimbo como Patrimônio Cultural nacional e no Marajó produzimos ensaios fotográficos nos municípios com menor IDH (Indice de Desenvolvimento Humano) do Brasil para registrar as realidades sociais, naturais, patrimoniais e fazer um contraponto com o paradigma eurocêntrico, urbanocêntrico, cartesiano e dual acerca dos significados do IDH (Índice de De-

Um grupo de jovens universitários sentados em suas redes aproveitam os últimos minutos de internet. Iluminados pela tela de seus notebooks fazem os últimos posts e downloads antes de experimentarem pela primeira vez a chance de participar de uma expedição destinada a fotografar, desenhar, filmar, escrever e viver experiências Amazônicas. senvolvimento Humano). Apaixonados por rios e audiovisuais já filmamos em furos e igarapés alguns círios fluviais. O mais belo ainda acontece a bordo de barcos a remo em Macapazinho, uma agrovila situada em Castanhal. Filmamos também uma meia-maratona realizada nas terras indígenas dos Parkatejê quando ocorriam as comemorações referentes ao lançamento do livro de memórias idealizado pelo cacique Krôhôkrenhum denominado “Meikwy tekjê ri” e dedicado a seu povo em resposta ao temor de perder sua cultura e suas raízes.

MAPA CULTURAL As ‘Cartografias’ nasceram com intensão de apresentar a Amazônia aos estudantes que desconhecem as realidades do interior, das ilhas, das florestas e manifestam apenas preconceitos com relação as manifestações culturais caboclas, indígenas e quilombolas..


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literatura expedição Em outros momentos visitamos comunidades da Amazônia para realizar em parceria com estudantes de engenharia pesquisas em furos para entender por meio de pesquisa participante as dificuldades e demandas dos ribeirinhos que vivem sem água encanada e sem luz. Muitos projetos renderam frutos, outros estão em processo em uma ciranda que envolve mais e mais alunos que simultaneamente trabalham em diferentes projetos de comunicação. Sob o por do sol laranja a bordo de uma voadeira, em um trapiche ou do alto de catamarã desenha-se nas telas da filmadora o skyline da floresta, o trânsito de barcos. Neste cenário captamos as vozes da Amazônia. Orientados pelas demandas da comunidade, seguindo princípios da interculturalidade e interdisciplinaridade, reunimos conhecimentos diversos para produzir conteúdos de forma colaborativa que são compartilhados nas redes sociais, mídias livres e veículos de comunicação de massa locais e nacionais. Nesse sentido, tentamos utilizar símbolos partilhados para desenvolver uma espécie de cidadania multicultural e inclusiva que leve um pouco destas histórias para o resto do Brasil. Assim este projeto Cartografias Amazônicas vem confluindo infinitamente através de uma grande viagem pelas comunidades Amazônicas. E a ideia de cartografia vem se cumprindo não apenas nos resultados obtidos, mas, realmente na tensão que se forma no ponto de encontro e reencontro entre objeto visado e a subjetividade do fotografo, do artista visual, do comunicólogo na apreensão, configuração e geração de mecanismos transmissivos. Nessa vivência incluímos erros, acertos, buscas por metodologias que respondam as demandas que sempre nos surpreendem e também retornos para compartilharmos e validarmos resultados em um ir e vir infinito onde deixamos amigos, conhecemos sabores, desfrutamos intimidades numa troca em que o grupo todo a cada viagem revê e atualiza valores. ________________________________ Viviane Menna Barreto é artista visual, professora de Cultura Brasileira, apaixonada pela Amazônia e coordena o Projeto de Extensão da Universitária Estácio/FAP.

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VIVÊNCIA Nessa vivência incluímos erros, acertos, buscas por metodologias que respondam as demandas que sempre nos surpreendem e também retornos para compartilharmos e validarmos resultados


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TEATRO PRAENSE HOLOFOTE VIRTUAL

Luciana Medeiros

transophia, drag hi-tec e “yellowcake” O

Estúdio Reator em sua programação “Yellowcake”, apresentou a peça “Transophia”, de Pedro Olaia que traz direção e visualidade de Nando Lima e pesquisa musical e operação de som de Dudu Lobato. Nesta nova criação, Olaia traz à tona a personagem Sophia, uma drag criada por ele, muito antes de pensar a se envolver com o universo da performance. Sophia nasce nas ruas - Aos 36 anos, Pedro Olaia, formado em engenharia elétrica, hoje, exerce o ofício de artista multimídia, realizando trabalhos independentes construídos coletivamente. Em 1999, ainda com 21 anos, andava a noite pelos guetos GLBT’s de Belém e sem ter conhecimento de teatro construiu sua primeira personagem, Sophia Mezzo, uma drag mezzo uomo mezzo Donna, que vem protagonizando várias de suas performances, sempre realizadas na rua. Sophia ficou “esquecida” durante alguns anos até ressurgir, dentro de uma linguagem mais específica da performance. Desta forma, sua primeira

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aparição nas ruas como a drag performática de Olaia, foi em 2010, quando o artista completava 33 anos. Contando com a ajuda de amigos artistas, no dia de seu aniversário, Olaia realiza uma ação que iniciou na Escadinha, atravessou a Estação das Docas, culminando no Ver-o-Peso. Sophia é uma personagem andrógena. Ao misturar uma série de referencias em sua concepção, Olaia traz para o corpo da drag a tecnologia desconstruída. No cenário, um tablado em forma quadrada que pode lembrar um quarto ou um camarim, a drag se vê rodeada de fragmentos de HDs e outras peças de computador, que vão sendo gradativamente agregadas em seu corpo, proporcionando ao público, uma visão cada vez mais onírica. Da rua ao Reator - As incursões de Sophia, até então, vinham sendo feitas nas ruas. É a primeira vez que a personagem é trazida para dentro de espaço para vivenciar uma forma mais elaborada do ponto de vista técnico. ‘Há uma diferença sim em fazer a Sophia dentro do Reator. Personagem de rua é outra coisa, você tem que fazer

tudo grande e exagerado, aqui dentro tem algo mais intimista, próximo das pessoas, a atenção está toda nela, não tem nada externo. Então, muda a ambientação, a plasticidade. É como se fosse um quadro sendo pintado, com a luz e a maquiagem desenhando este corpo. Na rua é tudo mais cru”, comenta o artista. “Transophia” mantém a discussão mais presente no trabalho de Olaia, que é a crítica ao consumo e o olhar voltado para a reutilização de materiais diversos, e desta vez mais enfaticamente, o lixo tecnológico que consumimos. “Reencontrei o Nando Lima, ano passado, e disse a ele que eu queria fazer algo agregando a tecnologia na performance. Já vinha desmontando computadores, impressoras velhos e descobrindo objetos para construir um novo corpo. Este ano nos unimos para realizar isso”, explica Olaia. Parceria - A parceria com Nando Lima surge em 2006, no espetáculo Frozen. Em 2008 e 2010, trabalha com ele em duas edições do Festival Territórios de Teatro e atualmente desenvolve mais


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HOLOFOTE VIRTUAL uma parceria, que segue firme, trazendo à público a Transophia. O espetáculo desnuda ou veste o universo drag, ao mesmo tempo em que relaciona este processo à questão do lixo tecnológico, o consumo excessivo de tecnologia. “Transophia” coloca em cheque uma Amazônia que não tem acesso à mesma tecnologia disponível na Europa. “Aqui já consumimos a sucata deles. Por isso no espetáculo há muito da truquenologia, da gambiarra, do reuso de equipamentos e da tecnologia do possível. Tudo isso está conceituado no me trabalho”, finaliza o artista, que possui performances, videoperformances e outros vídeos e ações imersivas na rua e que normalmente discutem as relações humanas com o

“Personagem de rua é outra coisa, você tem que fazer tudo grande e exagerado, aqui dentro tem algo mais intimista, próximo das pessoas...” consumismo, o corpo e o meio ambiente. O primeiro trabalho em teatro, no ano de 2006, foi realizado com o Usina Contemporânea de Teatro, mas foi ao conhecer o artista Nando Lima, em 2006, que Olaia deu início a uma nova etapa desta trajetória. Naquele ano monta com ele o espetáculo Frozen. Em 2008 e 2010, também com Nando Lima, Olaia trabalha em duas edições do Festival Territórios de Teatro. Atualmente, a parceria, que segue firme, traz à público a Transophia. Mais sobre Pedro Olaia - Depois de concluir Engenharia Elétrica, em 2001, Pedro Olaia entra para a Escola de teatro e Dança da UFPA, e já em 2002 participou de seu primeiro espetáculo de teatro: A-MOR-TE-MOR. Mas ainda não era o caminho que ele dois anos depois encontraria para trilhar. Em 2004, depois de participar do I Encontro de Performance e Performers do Pará, organizado pela professora Karine Jansen, ele apresentou na rua, a sua primeira performance: Barato 44 www.revistapzz.com.br


LIXO TECNOLÓGICO A diferença abissal dos consumidores modernos, entre países pobres e ricos, conduz o diálogo antropofágico do espetáculo.

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HOLOFOTE VIRTUAL

TÁTICAS DE GUERRILHA Discutir as relações humanas com o consumismo, o corpo e o meio ambiente, é a tônica conceitual das ações perfomática do artísta Pedro Olaia.

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é aqui! O trabalho em 2006 foi levado para Virória-ES em um encontro independente de intervenção urbana organizado pelo coletivo Entretantos. No ano seguinte (2007), juntamente com amigos, ele forma o coletivo arRUAssa e organiza o primeiro evento deste coletivo na praça do Carmo, onde novamente apresenta a performance Barato é Aqui! Já em 2009, junto com a rede [aparelho], Pedro Olaia registra, edita e publica vídeos do Carnaval de Belém, e soma com coletivo em outras ações na rua, utilizando a performance como táticas de guerrilha contra o sistema dominante. Não parou mais. Entre seus trabalhos em performance, indo da atualidade ao início de sua trajetória, Pedro Olaia destaca, em 2013:

“Aqui já consumimos a sucata deles. Por isso no espetáculo há muito da truquenologia, da gambiarra, do reuso de equipamentos e da tecnologia do possível.” “Depilei-te”, “Sophia Christi: Louvores em Tons de Rosa”, O Segunda Égua: Sarau do Corpo Poelytico, “Cuidado C’an-dor que o santo é de lixo: O Nascimento da Nossa Senhora do Bom Lixo”. Em 2012, ele fez “Trava Carne: O Pato do Cirio”, dentro da programação do Segunda Égua, “Primeira Égua: O Enforcamento”, “Índio Vai A Brasília Pra Fechar Negócios”, “O Canto”, videoperformance no Sitio Brilho “Verde Colares”. Em 2010, realizou De-leite, onde ressurgiu com a drag Sophia e O Canto da Vaca (Café com Direitos - SDDH). Em 2009, fez “Ele Fal(h)ou” (Forum Social Mundial, Belém, 2009) e em 2006, “Barato é Aqui”(multipliCIDADE, Vitória).

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ESTÚDIO LÂMINA

Marina Bitten

experimenta o corpo legít

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ando ítimo CORPO NÚ Marina apresenta imagens exclusivas, nas quais discute a temática do “corpo experimentado e corpo legítimo”. Em suas obras vemos corpos reprimidos e vulneráveis, solitários e usáveis, coloridos e construídos, poderosos e fetichistas.

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ESTÚDIO LÂMINA

M

arina Bitten nasceu em Tubarão, SC, e fotografa profissionalmente há 08 anos. É graduada em Publicidade e Propaganda e pós-graduada em Moda. Estudou fotografia Instituto Internacional de Fotografia e no Museu de Arte Moderna em 2012. A fotografia autoral possibilitou questionar as ideologias a respeito do ser feminino, as quais ela vem se aprofundando durante os anos. Marina apresenta imagens exclusivas, nas quais discute a temática do “corpo experimentado e corpo legítimo”. Em suas obras vemos corpos reprimidos e vulneráveis, solitários e usáveis, coloridos e construídos, poderosos e fetichistas. Marina une o verdadeiro ao fantástico, a carne ao objetos de decoração e o uso comum, entre luzes e cores cinematográficas. Alterna a primazia técnica e a fatura despreocupada. Sua poética interroga o mundo em que vivemos, criando a impessoalidade das figuras sem rostos. Há um estado onírico nas obras da artista que revelam os pensamentos mais profundos: sexo, sonhos, realidades inflexíveis e fetiche.

Sua poética interroga o mundo em que vivemos, criando a impessoalidade das figuras sem rostos. Combinações perturbadoras de efeito estranhamente sensual. A obra de Marina nos instiga ao ver que: não podemos acreditar e sim questiona. Questionar a realidade vivida, o papel feminino e o papel de seu observador. Ou apenas se envolver nos sonhos que essa realidade desperta.

A OBRA Marina nos instiga ao ver que: não podemos acreditar e sim questiona. Questionar a realidade vivida, o papel feminino e o papel de seu observador. Ou apenas se envolver nos sonhos que essa realidade desperta..

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Marina Bitten


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ESTÚDIO LÂMINA

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Marina Bitten


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CINEMA / NPD

Danielle Franco

NPD Pará oferece mais de 300 filmes O cinema paraense apresenta sua produção, por todos os canto deste imenso estado, mais de 300 títulos, só no Pará, estão reunidos e catalogados e prontos para serem acessados pelos amantes da sétima arte.

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foto: Simone Jares

arcevo do npd Filmagem do documentário “Mestre Damasceno - O Resplendor da Resistência Marajoara”, de Guto Nunes.

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CINEMA / NPD 1

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IMAGEM E DOCUMENTOS 1 - Filmagem do documentário “Mestre Damasceno - O Resplendor da Resistência Marajoara”, de Guto Nunes; 2 - Projeto Por que A Gente é Assim, da Matizar Filmes; 3 - Catálogo do NPD; 4 - Curta Espelho e Silêncio, de Vince Souza; 5 - Afonso Gallindo, gerente do Núcleo de Produção Digital; 6 Doc Rádio 2000, de Eric Lopes; 7 - Histórias do Mar, filme de Luiz Arnaldo Campos.

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Não são poucos os que torcem o nariz ao ouvir a frase “cinema paraense”; afinal, dizer que se faz cinema no Pará durante muito tempo soou como ilusão e a visibilidade para estas produções sempre foi escassa. Por conta disto se tornou urgente não apenas reunir estas produções, mas disponibilizá-las para quem quiser ver comprovar. Assim, nasceu a ideia de compilação dessas produções, num projeto que o Núcleo de Produção do Pará – NPD, localizado no Instituto de Artes do Pará, disponibiliza a partir de agora. Com mais de 300 títulos apenas do Pará e outros 100 de produções internacionais, o catálogo do NPD engloba as mostras “Parazinho” e “Pirilampo”, com animações infantis, sendo esta última uma parceria com a Fundação Curro Velho. Lançado em junho deste ano, o catálogo do NPD iniciou seu processo de compilação em 2012. Em quase dois anos, foram catalogados mais de 290 títulos, entre animações, ficções, documentários e curta metragens, que deram origem à Mostra Pará, uma seleção que circula todo o Estado em apresentações ao ar livre e que já foi apresentada para mais de 10 mil espectadores, em cerca de 80 cidades paraenses. A visibilidade que a Mostra Pará tem recebido levou o NPD a criar o catálogo virtual, onde o público consegue encontrar todos os filmes disponibilizados, incluindo fotos, sinopses e contatos dos realizadores. O catálogo recebeu um endereço próprio na internet onde estão os títulos das Mostras Pará e Parazinho. Além das produções do estado, o catálogo disponibiliza ainda o acervo nacional e internacional do NPD, com mais de 330 filmes de várias regiões do Brasil e de países latino-americanos como Cuba. De acordo com Afonso Gallindo, gerente do NPD, a necessidade do catálogo veio a partir do aumento das produções na região e por consequência o aumento dos filmes no acervo. “O catálogo comprova que existe produção em todo o território paraense e o esforço do realizador em fazer, surpreendendo pela diversidade de gêneros e abordagens de temas. Isso rompe definitivamente com o paradigma de que não existe demanda para a produção audiovisual no Pará.”, referenda o gerente. Dentre os mais de 300 títulos das Mostras Pará e Parazinho, são encontradas

produções das cidades de Santarém, Santarém Novo, Canaã dos Carajás, Castanhal, Vigia, Marabá, Bragança, Anajás, Santa Isabel, Parauapebas, Capanema, Marapanim, Gurupá, Ponta de Pedras, Monte Alegre, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Óbidos e Mosqueiro. Sobre o NPD Criado em 2006 no Instituto de Artes do Pará - IAP, o NPD – Núcleo de Produção Digital, surgiu através de iniciativa da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD Nacional que propôs o formato para a Secretaria de Audiovisual – SAV do Ministério da Cultura, que o viabilizou em edital, direcionado a todas as capitais brasileiras. No Pará, o Núcleo foi implementado através da parceria como Governo do Estado, sendo gerido pelo IAP em cogestão com a Fundação

“A intenção com os editais e cursos do Núcleo é que mais pessoas produzam o audiovisual. A verba é pública e deve ser direcionada ao público.” Paraense de Radiodifusão – Funtelpa, Instituto de Ciências da Arte – ICA/ UFPa, Associação Fotoativa e Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABDeC/PA). No Pará, o Núcleo de Produção Digital surgiu como programa da Rede Olhar Brasil, com a finalidade de incentivar à produção, e o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área do audiovisual em suas diversas linguagens, suportes, formatos e plataformas. O incentivo a produções locais se desenvolve por dois caminhos: O primeiro de fomento à criação com cessão de equipamentos de captação/edição de imagem e som para produtores independentes de todo o Estado, gratuitamente. O segundo proporcionando o aperfeiçoamento técnico e artístico de profissionais na área de audiovisual com realização de cursos, oficinas e outras atividades de qualificação e conta com parcerias importantes, como a do Centro Audiovi-

sual Norte-Nordeste (CANNE-FUDAJ) de Pernambuco. Hoje o NPD Pará é um dos principais responsáveis pela difusão das produções realizadas e busca construir outras parcerias. Com estrutura completa de equipamentos para captação e edição de som e imagem, o NPD disponibiliza ao público seu Edital de Pauta para utilização dos equipamentos. O edital fica disponibilizado no endereço virtual do IAP: iap.pa.gov. br. e permite inscrições entre os meses de fevereiro e dezembro de cada ano. Para utilização dos equipamentos podem candidatar-se obras audiovisuais autorais e artísticas que não tenham finalidade publicitária, institucional ou político-partidária e que se enquadrem nos seguintes gêneros: documentário, ficção, clipe, videoarte, experimental e animação. As inscrições para uso dos equipamentos são gratuitas e devem ser realizadas com no mínimo 15 (quinze) dias antes do período solicitado. O edital fica aberto a pessoas físicas residentes no Pará há pelo menos dois anos. As oficinas propostas pelo NPD também são gratuitas, direcionadas ao aperfeiçoamento dos profissionais do cinema e audiovisual. Alguns dos títulos presentes da Mostra Pará são resultado direto da parceria de seus diretores com o NPD, seja em caso de utilização de equipamentos, seja através das equipes que se formaram durante os cursos oferecidos pelo Núcleo no IAP. Filmes de cineastas como Luiz Arnaldo Campos e Bruno Assis foram produzidos com os equipamentos e as ilhas de edição do Núcleo; assim como o de coletivos de novos produtores de cidades como Ponta de Pedras, no Marajó e Santa Isabel. Para Afonso Gallindo “a intenção com os editais e cursos do Núcleo é que mais pessoas produzam o audiovisual. A verba é pública e deve ser direcionada ao público.”, finaliza. Para conhecer o acervo do Catálogo Virtual, basta acessar o link: http://issuu. com/catalogonpdpara/docs/catalog2014 Toda a produção também pode ser solicitada para exibição através da Mostra Pará. Para quem torceu o nariz, talvez esta seja a hora de rever não apenas uma ideia pré concebida, mas, principalmente, ver as nossas produções e dizer o Pará também é lugar de cinema. www.revistapzz.com.br 57


FOTOENSAIO

FERNANDO

sette Fotografando o Pará, Fernando Sette escreve com a luz de suas impressões a realidade e o imaginário da nossa região.

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ernando Sette, dedica-se à arte da fotografia como quem cultiva a luz, a cada dia, colhendo imagens que representam sua maneira de ver o mundo ao seu redor. O resultado dessa interpretação está no livro de fotografias “Espia o Pará”, editado pela Imprensa Oficial do Estado (IOE). O lançamento ocorreu durante a XVIII Feira Pan-Amazônica do Livro. Além do livro, ocorreu a exposição com 26 fotografias que constam no livro. Com mais de 700 fotos, o livro foi dividido por temas como: lendas, turismo, cidade, pessoas, ribeirinhos, culinária, chuva, novos fotógrafos e artistas convidados. “Nele estão fotos desde o tempo em que eu fotografava de forma amadora, com câmera compacta, até agora, com as câmeras digitais”, explica. O livro é um recorte das coisas que viu e que lhe encantaram nas cidades que visitou. São cenas do dia a dia de Belém, Mosqueiro, Icoaraci, Salvaterra, Salinas, Itupanema, Caripi, entre outras. Cenas da sua vivência fotográfica até hoje. Fernando Sette, que também é designer gráfico, disse que algumas séries acabaram tendo vida própria, como a dos ribeirinhos; e a da chuva, por exemplo. “Eu comecei a retratar as pessoas que moram nas regiões das ilhas e, de repente, essa iniciativa tomou um rumo diferente do que eu pretendia. Assim também aconteceu com a série da chuva. Foi um tipo de encantamento”. Sobre a série das lendas, Sette conta que quase todas foram feitas em estúdio com pessoas amigas, familiares, ou conhecidas. “A única que foi feita em externa, no Bosque Rodrigues Alves, foi a Vitória Régia”. Ele disse que as pessoas foram escolhidas para representar as personagens pelo tipo físico. “Eu observava que a pessoa tinha algum traço das personagens e o resto era resolvido no estúdio mesmo”. Fernando Sette <fernandosette@gmail.com>

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FOTOENSAIO

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FOTOENSAIO

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PARÁ MÚSICA

A ascensão de

Nanna

Reis Cantora prepara seu primeiro single solo com assessoria técnica de Carlos Eduardo Miranda e produção de Marcel Barreto

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foto: milena andrade

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PARÁ MÚSICA

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epois de trabalhar para popularizar Gaby Amarantos, juntamente com uma grande rede de colaboradores, o produtor Carlos Eduardo Miranda (o mesmo que participou dos programas de televisão Astros e Ídolos e produziu discos de dezenas de artistas brasileiros de renome como Skank, Raimundos e Lobão), já tem uma nova aposta paraense. Trata-se da jovem e brilhante cantora Nanna Reis. Não que o aval de Miranda sirva de parâmetro de qualidade – uma vez que ele andou a debater pela internet a qualidade das últimas produções de Gaby. Mas seu trabalho com a música paraense, que se iniciou em meados dos anos 2000 com bandas de rock, tem servido de referência para as mídias nacionais. A aproximação entre Miranda e Nanna Reis faz acender o sinal de alerta sobre uma das cantoras mais talentosas da nova safra de artistas paraenses. Aos 22 anos de idade, Nanna já se sente quase uma veterana, apesar da pouca experiência com produção. Essa sensação se dá pelos longos anos de estudo e pela presença em mais de 12 festivais de canções pelo país, onde ela ganhou mais de uma dezena de prêmios como melhor intérprete. Nanna é filha do compositor Alfredo Reis e também é incensada por figurões da cultura local como o ex-secretário de comunicação, Ney Messias Jr., e o atual secretário de cultura, Paulo Chaves Fernandes. Ou seja, começa a se formar em torno de Nanna a rede de colaboração que ajudou a projetar a própria Gaby Amarantos quatro anos atrás. Num ambiente pouco estável como é a cena regional, a projeção de uma artista, mesmo com o talento irrefutável de Nanna Reis, parece depender cada vez mais dessas alianças que se formam em torno de alguém que consegue cativar as atenções e os afetos para si. Foi assim com Felipe Cordeiro, com Lia Sophia e está sendo assim com Natália Mattos e Luê, além da própria Gaby. Essa situação suscita algumas questões. Uma delas decorre do fato explícito em um texto como este: o fazer e os comportamentos de bastidores acabam se tornando tão atraentes ou determinantes quanto a música em si. A outra é a necessidade objetiva de ter agentes que

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foto: renata reis

APROXIMAÇÃO Nanna Reis fez parceria com o DJ Proefx e criou o Projeto Charmoso. Sua aproximação com Carlos Eduardo Miranda acende o sinal de alerta sobre uma das cantoras mais talentosas da nova safra de artistas paraenses. Aos 22 anos de idade, Nanna já se sente quase uma veterana pelos longos anos de estudo e pela presença em mais de 12 festivais de canção pelo país, onde ela ganhou mais de uma dezena de prêmios como melhor intérprete.

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PARÁ MÚSICA façam a mediação entre uma cultura regional, fechada, e um mercado global, de amplitude maior, em muitos casos, a “tábua de salvação” do artista que se pretende profissional. Miranda, assim como Hermano Vianna, Kuru Lima e outros, tem exercido significativo papel de mediações. Seu papel fundamental passa por amainar o ânimo de artistas e espectadores locais com forte impulso nativista. Vira e mexe eles promovem ataques e agressões pelas redes sociais. Aconteceu há alguns meses quando o dono do Apce

Num mercado pouco estável como é o regional, a projeção de uma artista, mesmo com o talento irrefutável de Nanna Reis, parece depender cada vez mais dessas alianças que se formam em torno de alguém que consegue cativar as atenções e os afetos em torno de si. Foi assim com Felipe Cordeiro, com Lia Sophia e está sendo assim com Natália Mattos e Luê, além da própria Gaby. Estúdio, Assis Figueredo, publicou no Facebook uma foto de Nanna ao lado de Miranda e do produtor de seu primeiro single, Marcel Barreto. Uma internauta espectadora não hesitou em dizer que Miranda “só vem buscar dinheiro do nosso Estado!”. Miranda respondeu agressivo e impaciente. Afirmou que estava trabalhando de graça e que gostaria de ver dela um pedido de desculpas. A internauta não respondeu positivamente, apenas silenciou e excluiu o post. O sentimento de exclusão ou expropriação é latente, e ganha força quando as ações desses mediadores, e mesmo de políticas públicas como o projeto Terruá Pará, não atendem a um número significativo de artistas, no atacado, por assim dizer – houve bastan74 www.revistapzz.com.br


foto: renata reis

REGIONALISMO Nanna é filha de Alfredo Reis, um dos mais premiados e reconhecidos compositores regionais, autor de músicas de sucesso como “Chamegoso”, que virou hit na voz do cantor Marco Monteiro no final dos anos 1980. Desde o berço ela se identifica com a cultura regional.

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PARÁ MÚSICA tes artistas na última edição do projeto, mas sempre existem artistas demais para um só projeto. Miranda não pode ignorar que o sentimento de exclusão é latente há muito tempo. Mas ele reagiu com agressividade típica da chamada trolagem: “Por umas pessoas estúpidas como essas que tenho pensado muito em abandonar o trabalho aqui no Pará, que faço com tanto amor. Que se virem em sua própria ignorância”. E mais: “Vai lavar a boca Guarani Kaiowa antes de falar meu nome, certo?”. A internauta usava um codinome de protesto indígena, ato que simboliza a resistência das culturas da floresta diante da exploração colonialista – o que parece ter sido ignorado por Miranda. Talvez ele devesse ter tido mais paciência com ela. Mas ao que parece nos resta ser pacientes e obedientes para com os bons samaritanos que se julgam iluminados por reconhecer o talento nativo. Ao que parece, Miranda realmente trabalhou de graça no single de Nanna. Mas ele deveria saber como índio é desconfiado. Como diz o dito popular: quando a esmola é demais, o Santo desconfia. Por outro lado, se Miranda não ganha dinheiro, certamente, ele se mantém na mídia como o “descobridor” de novos talentos regionais. E isso tem um saldo positivo para ele. Tudo é uma troca.

Periferia de mercado Por outro lado, é preciso entender, em primeiro lugar, que qualquer mercado é competitivo, e um mercado periférico, então, que se pretende atingir uma esfera de mainstream, obviamente, vai promover exclusões e ofuscamentos. Essa não é a dimensão nas chamadas cenas musicais, como normalmente são atribuídas as características da cena de Belém. As cenas, segundo o sociólogo canadense Will Straw (estudado pelo jornalista Elielton Amador aqui no Pará), tendem a tornar menores as estrelas de brilho mais intenso e elevar artistas que tem menos potencial de mercado ao mesmo patamar. É como se a cena fosse mais democrática a grosso modo, mas nivela o talento por baixo. Talvez isso explique o fato de uma cantora tão expcional como Nanna 76 www.revistapzz.com.br

precisar desse “apoio” todo. É como se a cena fosse paradoxalmente “mesquinha” com seus artistas mais talentosos. É difícil para tantos artistas vaidosos reconhecer o talento alheio. Os artistas, produtores e outros agentes da cena de Belém têm comportamentos dúbios, ora mais ora menos profissionais. E como todo mundo parece estar no mesmo “nível”, pela falta de reconhecimento de mercado, os artistas com maior potencial tem que se destacar não somente pelo seu talento, mas também por essas alianças. Assim não é preciso apenas ser tolerante com o público é preciso ser tolerante também com os mediadores, para construir uma rede de colaboração que ajude a vencer o mal maior que é a homogeinização global e total. Nanna é o caso mais notório de artista mediada que pode elevar o nível da produção musical do Brasil. Talvez por isso seja uma aposta de Miranda mesmo depois dos reveses com Gaby e outros artistas. Ela é, de longe, e tecnicamente, a melhor cantora das gerações mais próximas da sua. Com uma voz grave e potente, ela necessita apenas controlar vícios de execução (coisa em que Cyz Zamorano, colega de Miranda, se tornou expert) e ganhar mais experiência de palco. Mas, para além disso, ela tem ainda uma beleza nativa e natural que a destaca diante de cantoras que usam cada vez mais seu charme sensual para se fazer notar (vide Luê, Natalia Mattos e Camila Honda, só para citar algumas). Nanna começa a explorar outros talentos que qualquer carreira de sucesso deve considerar. O network, a cooperação e o exercício da sociabilidade nos meios que a devem acolher como talvez a melhor cantora de características nativas desde Fafá de Belém. Seu sucesso será mais do que merecido, e virá com o amadurecimento necessário.

Gravação teve apoio da Funtelpa Com a colaboração de Carlos Eduardo Miranda e apoio da Fundação de Telecomunicações do Pará, Nanna Reis entrou no estúdio da Rádio Cultura FM em abril de 2014 para gravar quatro músicas. No meio do processo, ela

foto: ana flor


O COMEÇO A estreia de Nanna nos palcos, em show solo, ocorreu em maio de 2010, com “Brasilidade”, no Teatro Margarida Schivasappa. Três meses depois ela ganhou prêmio de Melhor Intérprete no II Festival de Música Popular Paraense. Agora ela se prepara para lançar seu primeiro EP, produzido por Marcel Barreto (à esquerda, na foto acima) e dirigido por Carlos Eduardo Miranda (à direita).

descartou duas canções autorais e ficou apenas com “Bom dia”, uma canção autoral, e “Chamegoso”, sucesso dos anos 1980 na voz de Marco Monteiro e de autoria do pai dela, Alfredo Reis. As canções foram produzidas pelo jovem Marcel Barreto e foram pré-mixadas no APCE Music, em Belém, com a presença do próprio Carlos Eduardo Miranda. “Bom dia”, uma canção que ela define como pop amazônico, terá ainda video clipe dirigido pelo paraense Lucas Escócio e pelo cineasta inglês Gareth Jones, que registraram imagens da cantora na casa da família dela em Salvaterra no Marajó. “Esse single vai ser meu cartão de visita”, diz Nanna, que pretende aproveitar a repercussão do lançamento da terceira edição do Terruá Pará em DVD, onde apresenta duas músicas em que ela abriu a voz e fez ecoar os seus graves pelo palco, encantando a todos.

Experiência que vem da infância A cantora e compositora Nanna Reis já pode ser considerada uma profissional experiente. A estreia, em maio de 2010, de seu primeiro show solo, Brasilidade, e sua vitória, três meses depois, como Melhor Intérprete do 2o Festival de Música Popular Paraense são algumas das conquistas de uma trajetória que vem sendo construída em bases sólidas há 11 anos. Foi aos oito, em 1999, que Nanna começou os estudos de musicalização e teoria musical no Conservatório Carlos Gomes e fez suas primeiras apresentações em público, cantando no Encontro da Paz, na Praça Batista Campos, em Belém, e participando do show “Prus Parentes”, do cantor e compositor Alfredo Reis, seu pai. A lista de participações em espetáculos começa bem antes de “Brasilidade”. Alfredo Reis a onvidou para Na Trilha dos Botos (2003) e Místico Solar (outubro de 2008); juntos, pai e filha fizeram o show Reflexo (junho de 2007). Nanna participou ainda de espetáculos do músico Yuri Guedelha - Por Elas (março de 2009) e São João com Gonzagão (junho de 2009 e junho de 2010) – e de vários shows do projeto Cor da Pátria, do músico e poeta Renato Gusmão, tais como Antes e Depois da Chuva (maio de 2008), Mosaico (fevereiro de 2009),

Tirando de Letras (março e dezembro de 2009), Música para Dizer Poesia (setembro de 2009) e Universos das Canções (março de 2010). No show de lançamento do DVD “Billy Blanco, o Compositor” (setembro de 2009), que contou com a presença do homenageado, Nanna foi acompanhada pelo violonista Sebastião Tapajós. Cantando “Iluminada”, de Tynnôko Costa, foi finalista do Festival Nacional de Música de Garanhuns (PE - abril de 2009), 2o lugar no Festival de Música de Castanhal (PA - maio de 2009) e 1o lugar e Melhor Intérprete do 2o Festival de Música Popular Paraense (agosto de 2010). Também no Pará, venceu o Festival de Música da Assembléia Legislativa do Estado do Pará (novembro de 2008) ganhando também os prêmios de Melhor Intérprete e Cantora Revelação. No Festival de Intérpretes da UFPA, ganhou o prêmio de Aclamação Popular na 4a edição, em 2006, e conquistou o 1o lugar na 6a edição, em maio de 2008. No FECANI – Festival da Canção de Itacoatiara (AM), foi finalista em setembro de 2008 e obteve o 2o lugar em agosto de 2009. Em todo este tempo, Nanna seguiu sempre estudando música. Depois de cursar flauta transversal, aos 13 anos se matriculou em Técnica Vocal voltada para o Canto Popular na Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA) onde foi aluna de Dayse Addario. Atualmente, faz o Curso Técnico em Canto Lírico, no Conservatório Carlos Gomes, e está concluindo o curso superior de Licenciatura Plena em Música na UFPA. O maestro Tynnôko Costa a considera “uma das cantoras mais promissoras dessa nova geração”.Ela ainda descobriu-se dentro de uma cena efervescente e ministrou aulas de canto na Associação Pró-Rock e criou o Projeto Charmoso, com o DJ e produtor Proefx, com quem deve lançar o primeiro disco (Onda Sonora) ainda em 2015. Além do mais, ela encerra o ano com mais um prêmio: O de “melhor interprete” e no 7o Festival de Música de Parauapebas. _______________________________ NA REDE: FACEBOOK.COM/REISNANNA

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mĂşsicachoro

Regiane Ribeiro

O cHORO DE ONTEM

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foto: Sergio Malcher

ONTEM, HOJE

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m grupo de choro formado somente por mulheres é algo que surpreende logo de cara. Isso porque durante muito tempo o choro foi considerado um gênero musical predominantemente masculino e, principalmente, pouco ligado aos jovens. Mas O Charme do Choro mostra que essa história pode ser bem diferente e tem conquistado o público em suas apresentações. Originado a partir do projeto Choro do Pará, iniciada no ano de 2006, o sexteto é constituído por Jade Moraes, Bandolim e Violino, Dulci Cunha na Flauta; Juçara Dantas, Violão; Camila Alves no Violão 7 cordas; Carla Cabral no Cavaco e Rafaela Bittencourt no Pandeiro, O Charme do Choro tem nome sugerido pelo violonista

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e um dos idealizadores do projeto, o músico e arquiteto Paulinho Moura. Destaca-se na trajetória do grupo: os espetáculos De Bem Com a Vida, realizado em Abril/2007, com reapresentação no I Festival de Choro da Casa do Gilson, como atração convidada do evento; De tirar o Chapéu (março/2010/2012), show com repertório de composições femininas e interpretações masculinas: Arthur Nogueira; Hélio Rubens; Olivar Barreto; Pedrinho Cavalléro e Renato Torres. Atração convidada do concerto Noites Brasileiras do violonista Salomão Habib em 2010 e do projeto Terruá Pará II (2011) que reuniu mais de 20 atrações e apresentou-se nas cidades de São Paulo, Belém, Marabá e Santarém.

Ao lado das sopranos Carmen Monarcha, Patrícia Oliveira e da pianista Ana Maria Adade, o espetáculo O Choro e a Lírica homenageiam Da Paz e Waldemar, em homenagem ao 134 anos do Theatro da Paz e o 107º aniversário do maestro Waldemar Henrique (Fevereiro/2012). Em março de 2012 o show Especial dia da Mulher com o violonista Sebastião Tapajós. E em, abril de 2012, participação no show Essas Mulheres de Carmem Monarcha. O repertório passeia pela música brasileira, em especial o Choro, claro. Comprometido com a continuidade do gênero, o grupo interpreta compositores como Jacob do Bandolim, Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha, porém, dando ênfase aos


fotos: Sergio Malcher

VIDEOCLIPE O lançamento do primeiro viodeoclipe oficial d´O Charme foi algo inovador se tratando de música instrumental e de Choro, gêneros que pouco lançam esse tipo de mídia de divulgação..

compositores da Região Amazônica, tais como Adamor do Bandolim, Luiz Pardal e Biratan Porto. Deste último, gravou a música Se por Acaso, no CD comemorativo dos 20 anos da Casa do Gilson (2008). Em 2013, O Charme do Choro participou do projeto SESC Amazônia das Artes, e excursionou nos meses de maio e agosto por diversos estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal, mais o Piauí. Em outubro deste mesmo ano, o grupo enfim lançou seu primeiro e tão esperado álbum, no Teatro da Paz, em noite de casa cheia. O cd contou com a direção musical de Luiz Pardal e Emílio Meninéa, produzido a convite da Secretaria de Estado de Cultura – SECULT. Com 14 faixas, o CD contempla compositores paraenses de ge-

rações diversas e mostrará ao público uma importante seleção da produção contemporânea da música da região. No dia 25 de maio, em Belém do Pará, foi palco do lançamento do novo vídeo clipe do grupo O Charme do Choro, atração que homenageou a iconografia das vertentes da arte. A apresentação da micrometragem, realizada pela Macieira Filmes, narrou de maneira simbólica o encontro de cada integrante com o seu instrumento e com o Choro, e apresentou em seu roteiro cenários de grande influência para a inspiração artística, como a Capela do São José Liberto, IAP, Casa da Anne Dias, Mercado de São Brás, Biblioteca do Grêmio Literário Português, Bar do Parque

e Casa do Gilson, que ainda refletem contextos históricos em suas linhas arquitetônicas Firmando o grupo, com 7 anos de existência, em uma trajetória de feitos significativos e de muita importância para a cena da musica instrumental. O lançamento do primeiro viodeoclipe oficial d´O Charme foi algo inovador se tratando de música instrumental e de Choro, gêneros que pouco lançam esse tipo de mídia de divulgação. A realização do evento, apresentado pelo radialista Santino Soares, teve sua primeira apresentação no Cinema Olympia, dia 25 de maio, e contou com um pocket show do grupo que tem como marca o comprometimento com a continuidade do choro.

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ENTREVISTA

desenvolvimento

Mineração E Criatividade A TITULAR da SEICOM, Maria Amélia ENríquez, fala sobre o desafio do desenvolvimento do Pará, a partir de suas potencialidades industriais, criativas e naturais.

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foto: janduari simões

FUTURO Em entrevista exclusiva, Secretária de Indústria, Comércio e Mineração, Maria Amélia Enríquez, fala sobre as diferentes formas do Pará se desenvolver.

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ENTREVISTA

D

outora em desenvolvimento sustentável pela UnB, Maria Amélia Enríquez possuiu um vasto currículo acadêmico, que inclui passagens pela Unicamp e USP, além de pesquisas no Chile e no Canadá. Ela é expert em mineração e desenvolvimento, tema de seu PhD. Trabalhou no Ministério de Minas e Energias, ajudando a formatar o novo marco regulatório da mineração, e há quatro anos foi chamada a ser secretária adjunta da Seicom (Secretaria de Estado

“As dimensões territorial (estamos falando de 14% da extensão do país) e econômica do Pará permitem não apenas um, mas vários modelos de desenvolvimento que podem coexistir. Desde as grandes empresas da extração mineral ou de geração de energia, que têm ‘dinâmica própria’, até micro empreendimentos da Economia Criativa, por exemplo.” de Indústria, Comércio e Mineração), pelo governador Simão Jatene. Maria Amélia assumiu a titularidade da Seicom com o objetivo de formar uma política de “desenvolvimento pela produção”, dando continuidade ao trabalho do ex-secretário David Leal, que hoje ocupa a cadeira da Sedip (Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção), à qual a Seicom é vinculada. Maria Amélia coordenou o Plano Estadual de Mineração 2030, um documento que serve como ferramenta estratégica ao planejamento do Estado nesta área, e fechou o ano com a conclusão do projeto “Territórios Mineradores”, que, realizado em regimento de convênio pela Universidade Federal do Pará (UFPA), promoveu cursos em oito municípios polo de regiões mineradoras. A intenção é dar suporte aos 84 www.revistapzz.com.br

ECONOMIA TRADICIONAL A agricultura tradicional, a pesca artesanal e o extrativismo coexistem com várias atividades inovadoras e criativas, como o design de joias, música, entre todas as outras artes. Juntas, elas compõem as diversas cadeias produtivas d0 mundo da moda.

municípios das área de influência que serão potencializados com as mais recentes jazidas de exploração mineral - como é o caso de Canãa dos Carajás, onde a Vale implanta o megaprojeto S11D; Rondon do Pará, que vai abrigar a mina de bauxita e planta de alumina da Vortorantim, entre outros. Maria Amélia tem demonstrado fôlego para lidar com outros temas, como a atração de novos negócios, arranjos produtivos locais e a Economia Criativa, seara que nos segmentos de comércio e serviços envereda pelas artes, artesanato, cultura, comunicação, inovação e tecnologia - em novembro realizou, juntamente com a Prefeitura de Belém, uma oficina temática, entre 11 encontros, para planejar a economia da cidade, e a de Economia Criativa foi uma das mais prestigiadas. Também tem tido destaque a criação do APL de Moda e Design na Região Metropolitana de Belém em parceria com o Pará Criativo, com o Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama) e o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A PZZ fez 10 perguntas para a secretária, buscando entender qual a visão que ela tem para o desenvolvimento do Estado. PZZ - Qual é o modelo ou o tipo de desenvolvimento que o Pará deve perseguir? M - As dimensões territorial (estamos falando de 14% da extensão do país) e econômica do Pará permitem não apenas um, mas vários modelos de desenvolvimento possam coexistir. Desde as grandes empresas da extração mineral ou de geração de energia,


foto: janduari simões

que tem “dinâmica própria”, até micro empreendimentos da Economia Criativa, como design de joias, as cadeias produtivas da moda ou da música, por exemplo, que se constituem atividades inovadoras emergentes, além das atividades tradicionais da agricultura familiar, da pesca artesanal e do extrativismo, que existem desde os primórdios de nossa formação histórica. Vivemos um tempo em que essas formas de economia tem o seu valor e coexistem no mundo atual. Então, temos que saber lidar com todas elas. No entanto, esses modelos precisam ter um objetivo comum que deve ser o de elevar ao máximo possível o capital humano de nosso Estado, pois, em última instância, são as pessoas que fazem o desenvolvimento e que precisam dele para ter qualidade de vida. E quanto mais instruída, com boa saúde e bem organizada em sociedade, maiores serão suas chances de um desenvolvimento pleno. E isso tudo com o mínimo de externalidade ambiental adversa, pois o capital natural é um ativo de alto valor e que tende a crescer cada vez mais em um “mundo cheio”, com a perspectiva de termos em 2050 nove bilhões de pessoas vivendo no planeta, um planeta com recursos finitos. Então, esse desafio deve ser buscado por meio da inclusão socioprodutiva, pois esse é o antídoto mais eficaz para combater a pobreza e a desigualdade, e elevar o Estado a um patamar mais alto de desenvolvimento. PZZ - A Sra. divide o setor produtivo do Pará hoje em três grandes eixos de atividades. O último deles, o eixo bloco da atividade de inovação, da ciência e tecnologia, da Economia Criativa etc. É o eixo bloco que pode efetivamente mudar a base produtiva atual? Por quê? M - Os grandes empreendimentos que têm dinâmica própria, isto é, vão acontecer por força de interesses nacionais ou internacionais superiores à nossa “vontade”, via de regra, são de capital intensivo, portanto, poupadores de mão de obra, com poucos empregos diretos gerados; os benefícios econômicos ficam restritos ao www.revistapzz.com.br 85


ENTREVISTA primeiro elo da cadeia produtiva, ou seja, provocam poucos “efeitos de encadeamento”, ou relações de compra e venda entre distintas empresas, que são necessárias para desencadear uma dinâmica endógena de desenvolvimento. Além disso, são geralmente destinados ao mercado exportador sob a forma de commodities, não produzindo os efeitos fiscais necessários ao financiamento das obras públicas. Assim, se não houver nenhuma intervenção efetiva da política pública, no sentido de potencializar os benefícios

“Se entendermos Economia Criativa como toda atividade produtiva que usa como matéria-prima a inventividade, o conhecimento e a criatividade, o Pará é a ‘Meca’ desse gênero. Esse tipo de produção se manifesta na nossa música, na dança, nas artes visuais, nas manifestações artísticas em geral, no design de joias, de roupas e de produtos comerciais, da cultura popular e do artesanato.” em prol do Estado, pode-se perder grande parte do potencial de desenvolvimento destes empreendimentos. No entanto, as atividade alicerçadas na inovação, na inventividade, na criatividade e similares, são, via de regra, bem mais enraizadas na economia local e tem maior potencial de gerar efeitos dinâmicos de compra e venda entre empresas, gerando muito mais empregos e, dessa forma, produzindo efeitos multiplicadores benéficos para o desenvolvimento. Porém, essas atividades podem até aparecer espontaneamente, mas para florescerem, de fato, precisam da “mão visível” da política pública. Do Estado atuando 86 www.revistapzz.com.br

foto: janduari simões


INTENSIFICAÇÃO As políticas públicas voltadas para o Arranjo Produtivo Local, sobre a coordenação do Núcleo Estadual de APL’s constitui o pontapé inicial do processo de organização econêmica das atividades tradicionais, tornando possível a visibilidade desta nova economia.

para potencializar seus efeitos. PZZ - Esse segmento é o que exige maior qualificação profissional, maior conhecimento e educação e maior investimento público e privado. Como o governo pode estimular esse setor da economia? M - Isso pode ser feito por vários meios, desde oferta de linhas de créditos especiais, de programas de formação, qualificação e requalificação profissional, concessão de bolsas para empreendedores, criação de ambientes de inovação, a exemplo das incubadoras de empresas e dos condomínios empresariais, concessão de incentivos fiscais a partir de determinados critérios, enfim, da criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento desta categoria de negócios. Nesse caso, defendo que deve haver a mão firme e forte do Estado, e não apenas a “mão invisível” do mercado. A boa notícia é que hoje o Pará conta com instituições sólidas e capazes de avançar nessa política pública. PZZ - Economia Criativa é um conceito novo, mas que vem gerando uma série de ações, derivadas de políticas públicas federais. Como o Estado pensa esse conceito e como pretende estimulá-lo? M - Se entendermos Economia Criativa como toda atividade produtiva que usa como matéria-prima a inventividade, o conhecimento e a criatividade, poderemos constatar que o Pará é a “Meca” desse gênero de economia.

Esse tipo de produção se manifesta na nossa música, na dança, nas artes visuais, nas manifestações artísticas em geral, no design de joias, de roupas e de produtos comerciais, além da cultura popular e do artesanato, afora as tecnologias da informação, entre outras. As políticas federais são fundamentais para evidenciar esta importância ao país como um todo, para delinear um projeto nacional e apresentar os instrumentos para fazer a “roda girar”, mas, em uma sociedade democrática como a nossa, se não houver uma forte “liga” com as regiões – e aqui me refiro aos Estados e municípios – tais políticas serão pouco eficazes. Daí a importância da parceria regional, pois as ações somente acontecem quando se incorpora, desde sua origem, o DNA regional, e só quem vive e trabalha na região é quem pode trazer essa consciência. Acrescento ainda que é indispensável o olhar do Governo Estadual, enquanto ente federativo, já que ele está em uma posição intermediária entre essa visão muito ampla do Governo Federal e a visão bem pontual dos municípios. O Estado tem a visão do conjunto, além de ferramentas que podem potencializar e dar os contornos necessários para o sucesso dessas políticas. Vejamos: o Pará é um dos cinco estados da federação que tem um banco público, ter um parceiro dessa natureza para avançar nas politicas de desenvolvimento regional é um grande privilégio; tem também um programa de crédito para os micro negócios; concede isenção de ICMS para empreendimentos com faturamento de até R$ 120 mil, enquanto que no programa nacional (Supersimples) este teto é de R$ 60 mil; tem vários programas de qualificação de mão de obra, além de uma política de incentivos à produção e coordenação e fóruns importantes para articular atores estratégicos. Além do mais, a Seicom está trabalhando, juntamente com o IAP e parceiros, por meio da Incubadora Pará Criativo, em um diagnóstico da Economia Criativa para que possamos promover políticas públicas estaduais integradas, capazes de criar sinergias e potencializar esse segmento. Exemplo nessa área já se mostra com o APL

de Moda e Design e o Ciclo Criativo. PZZ - Como o APL de Moda e Design, projeto da SEICOM que recentemente concorreu em todo o território nacional e foi aprovado por edital do MDIC, pode contribuir para o desenvolvimento desse setor no Pará? M - A Seicom está intensificando as políticas voltadas para Arranjos Produtivos Locais, tais como retomou a coordenação do o Núcleo Estadual de APL’s (Arranjo Produtivo Local), e o pontapé inicial foi o APL de Moda e Design. Esse processo está possibilitando trazer a tona uma economia que, em sua grande parte, estava pouco visível, com exceção de algumas atividades isoladas. Essa interlocução com o setor produtivo é fundamental para a estruturação de políticas resilientes, pois os empresários são os que permanecem, independentemente dos humores da política, e se encontram na linha de frente, que, portanto, tem o maior interesse no bom êxito de uma proposta dessa natureza. É preciso também contar, desde o início, com o suporte da pesquisa e da tencologia, por intermédio da parceria com entidades científicas, pois as mudanças realmente significativas na competitividade se dão pela via da inovação. O APL uma vez organizado e planejado abre inúmeras possibilidades nessa hora. E nosso papel é criar um ambiente seguro e estimulante para o empreendedor, além de articular essas possibilidades entre as instituições. PZZ - A senhora estudou no doutorado o desenvolvimento regional a partir da mineração. Sua tese é que a mineração pode ajudar a desenvolver os municípios e os estados mineradores. Mas existem fortes segmentos da sociedade que veem a mineração como uma grande vilã, uma atividade predatória que não deixa nada para as populações locais. Como pode a mineração de fato contribuir para o nosso desenvolvimento? M - Não há nenhuma fatalidade inexorável que seja provocada pela miwww.revistapzz.com.br 87


ENTREVISTA MATURIDADE O pacto por uma educação de qualidade e o comprometimento do Estado com esse processo ajuda na construção de uma sociedade esclarecida e capaz cobrar políticas públicas que desenvolvam a cidadania e o progresso na região.

neração. Assim como outros grandes investimentos produtivos, como o agronegócio, uma grande fábrica, por exemplo, a mineração pode ser um trampolim para o desenvolvimento, pois significa o aumento de oportunidades de mercado, de emprego, de melhorias na infraestrutura, de benefícios urbanos, de melhor oferta de serviços educacionais, de saúde etc. Mas, pode também potencializar uma condição de subdesenvolvimento, pois além do uso de recurso naturais, que impacta negativamente os ecossistemas, implica na mobilização de grande contingente populacional e, por conseguinte, de suas demandas por moradia, alimentação, saúde, educação, segurança etc. No entanto, se vai ser uma coisa ou outra, depende de uma série de fatores tais como o cuidado com o meio ambiente, o preparo da economia local para recepcionar grandes projetos em termos de oferta de bens e serviços, da qualificação da mão de obra, da competitividade empresarial local, da gestão pública, entre outros que, em síntese, têm a ver com a gestão territorial. As experiências exitosas ocorrem quando a política pública e o setor produtivo se antecipam no preparo deste território. O que requer planejamento, compromisso, vontade, e coragem e, acima de tudo, atitude para fazer acontecer. Isso tudo quer dizer que, por si só, a mineração não é nem maldição nem dádiva, mas, sim, uma oportunidade que pode ser bem ou mal aproveitada a depender do nível de preparo do território a ser minerado. Quando o capital humano, social e institucional

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foto: janduari simões


do local é limitado, a política pública é condição indispensável para que a atividade seja uma aliada do desenvolvimento. PZZ - Hoje há grandes obras e projetos em execução ou planejadas para a Amazônia: rodovias, hidrovias, ferrovias, hidrelétricas, portos etc. Em quanto tempo sentiremos os impactos dessas obras e qual será esse impacto? M - Já estamos sentindo este impacto. Basta ir em Barcarena, Altamira, Itaituba, Canaã dos Carajás, entre outros municípios que estão recepcionando grande obras. No entanto, esse processo, que já está em curso, vai se intensificar, daí a necessidade da política estadual estar junto aos municípios contribuindo para melhor prepará-los a extrair o máximo de benefícios e neutralizar as externalidades adversas, os impactos negativos. PZZ - A Sra. acredita que essas transformações podem levar o Pará a um papel de liderança política nacional, uma vez que, hoje, a política nacional é ditada por estados como São Paulo e Minas Gerais, que foram, historicamente, os estados que pautaram o desenvolvimento econômico do País e têm maior poder político no Brasil? M - Não é fácil. E aqui vou me permitir usar uma célebre frase de Nelson Rodrigues que diz que “subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. Todavia, temos hoje oportunidades históricas jamais vistas em outras épocas, permitidas, fundamentalmente pelas tecnologias de informação e de comunicação. Hoje com uma antena parabólica e um gerador solar, eólico ou a biocombustível, é possível levar informação aos lugares mais remotos. Essas ferramentas tecnológicas abrem uma enorme avenida de oportunidades para levar educação, treinamento, formação, especialização onde antes era impensável. É preciso saber tirar proveito disso em nosso benefício para erradicar o analfabetismo e elevar o nível do capital humano e tecnológico em nosso in-

terior. Sem esses pré-requisitos não vamos a lugar nenhum. Não há povo desenvolvido que seja pouco letrado. Tudo passa pela educação. Essa melhoria do capital humano será a base para voos mais altos no sentido de criar um entendimento comum do que se deseja para o desenvolvimento do Pará, e aglutinar forças em prol disso. Creio que essa visão ainda está se esboçando. Mas, a despeito de estarmos preparados ou não, a roda do crescimento já está girando, e de forma acelerada. A mudança do fluxo de escoamento dos grãos para a região Norte implicará na redução do custo Brasil, e o Pará é protagonista central

Não há povo desenvolvido que seja pouco letrado. Tudo passa pela educação. Essa melhoria do capital humano será a base para darmos voos mais altos no sentido de criar um entendimento comum do que se deseja para o desenvolvimento do Pará e aglutinar forças em prol disso. nesse processo. Assim como o é na geração de energia nova, a partir do aproveitamento do nosso potencial hídrico, da zona de expansão do agronegócio, de jazidas de porte internacional, além de fonte da produção de serviços ambientais por ter quase 70% de seu território ainda preservado. Precisamos evidenciar esse movimento dinâmico junto à nossa representação política, para que sejam adotadas medidas mais eficientes em firmar esse protagonismo dos estados que representam essa grandeza.

tação – UFPA, Unicamp, USP, Unb, e da realização de pesquisas internacionais, no Canadá e no Chile, tive uma experiência de quatro anos em gestão pública no Governo Federal, entre 2008 e 2011, onde atuei como assessora da Secretaria de Geologia, Mineral e Transformação Mineral (SGM), do Ministério de Minas e Energia (MME), em que coordenei importantes trabalhos, tais como o das mudanças no atual marco regulatório da mineração, no que se refere à Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), participei de grupos interministeriais sobre a política de desenvolvimento produtivo (PDP), no auge da crise internacional, participei da Secretaria Executiva que elaborou o Plano Nacional de Mineração, entre outros. Todas essas experiências me permitiram grande aprendizagem técnica, de gestão, mas também política, pois, em última instância, dizem respeito a pessoas e interesses. Aprendi que não se vai a lugar nenhum com posturas arrogantes e autoritárias, mas, sim, com diálogo e compreensão mútua dos fatos. Que no diálogo, o mais importante é saber ouvir e ter empatia com o interlocutor. Todavia, é indispensável o conhecimento técnico, para executar as ações e fazer as coisas com eficiência, eficácia e efetiva competência. Na sociedade complexa em que vivemos, em que tudo está relacionado com tudo, não há espaço para improvisações, ou para gerenciar apenas com base na intuição ou em cartilhas de marketing para fazer um jogo de cena. Sociedades que vivem essa ilusão estão fadadas ao atraso e ao subdesenvolvimento. Para transcender isso é preciso aglutinar competência técnica com uma estratégia colaborativa entre os distintos segmentos de governo, empresas e sociedade civil. Por fim, para ser eficaz, a gestão pública tem que alicerçar seus programas em cima de uma compreensão ampla dos fatos e da sociedade.

PZZ - E por falar em política, como a Sra., que veio da Academia, lida com essas questões na sua gestão?

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M - Além de minha formação acadêmica em instituições de alta repu-

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INDÚSTRIA

Chocolat Pai d’Egua

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e alimento oferecido aos deuses astecas no século 1500 a.c. a um dos produtos mais consumidos da idade moderna, a produção do chocolate passou por diversos ciclos até ficar do jeitinho como conhecemos hoje. A amêndoa do cacau foi cultuada pelos povos pré-colombianos, levada á Europa pelos espanhóis e então transformada em bebida apreciada nas casas de chocolate criadas na França, Suíça e Inglaterra. A partir do século XVIII, seu consumo se espalhou pelo velho continente e o chocolate foi tomando novos formatos, mas sempre foi na América, especialmente na América Central e do Sul, que a sua produção abasteceu o paladar europeu.Durante o século XVIII, o cacau era o principal produto exportado pela Amazônia portuguesa. Mas essa produção foi sendo substituída por Ilhéus, na Bahia, onde o Brasil se firmou como o maior produtor do mundo até o início do século passado. Hoje, mais de cem anos depois, um novo ciclo para a produção do chocolate parece desafiar os modelos estabelecidos

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pelo continente europeu. E o Estado do Pará tem grandes chances de ser o novo protagonista. Até os próximos oitos anos, o Pará deverá tomar a frente

Até os próximos oitos anos, o Pará deverá tomar a frente da produção de cacau no país – hoje é o segundo, com o cultivo de 100 mil toneladas/ano em cerca de 120 mil hectares, logo atrás da Bahia. Mas o objetivo também é reverter a ordem mundial do chocolate. da produção do cacau do país – hoje é o segundo, com o cultivo de 100 mil toneladas/ano em cerca de 120 mil hecta-

res, logo atrás da Bahia. Mas o objetivo também é reverter a ordem mundial do chocolate. Além de exportar amêndoa do cacau, o Pará quer ser referência na fabricação das linhas de chocolate fino e gourmet e, para isso, está investindo no mercado internacional, privilegiando o Europeu. O caminho é longo, mas os primeiros passos estão sendo dados. A participação da comitiva de produção cacaueira paraense na 20° edição do Salondu Chocolate, no início de novembro, em Paris, deu sinais do que poderá ser a inversão da velha lógica. Produtores e fabricantes da cadeia produtiva do cacau no Estado estiveram no maior evento mundial dedicado ao chocolate apresentando não somente a amêndoa do cacau usada para a produção mundo a fora, mas também o beneficiamento do fruto, com uma mesa da linha de chocolates finos e gourmets produzidos por chocolateiros paraenses. A comitiva paraense formada por trinta pessoas entre representantes da Secretaria de Estado de Agricultura (SA-


CACAU DO PARÁ

José Conrado Santos, presidente da Fiepa, presenciou o interesse internacional pelo cacau paraense que projeta um caminho bem promissor na agregação de valor na cadeia do produto, capaz de criar emprego, renda e valor agregado.

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INDÚSTRIA GRI), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Incentivo a Produção (SEDIP), Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (SECTI), SEBRAE-PA, Federação de Indústrias do Pará (FIEPA), Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA) e Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (CEPLAC) integrou a 3º FICC Amazônia - Festival Internacional do Chocolate e Cacau, que apresentou o potencial da produção regional para os principais chocolateiros europeus. Com uma indústria cacaueira cada vez mais verticalizada, o Pará pretende se tornar o polo exportador de chocolate de padrão internacional. Os produtores

A participação da comitiva cacaueira paraense na 20° edição do Salon du Chocolate, no início de novembro, em Paris, deu sinais do que poderá ser a inversão da velha lógica. Produtores e fabricantes da cadeia produtiva do cacau no Estado estiveram no maior evento mundial dedicado ao chocolate apostam na diversidade da amêndoa e nas especiarias encontradas exclusivamente na Amazônia que agregam valor ao produto final. O município de Medicilândia tem papel fundamental neste intento, sendo o primeiro em produção de amêndoas do fruto; com a exportação de 35 mil toneladas ao ano. Outros municípios que são grandes produtores de cacau são Uruará, Brasil Novo, Altamira, Vitória do Xingu, Placas, Tomé-açu, Tucumã, Pacajá e Novo Repartimento também estão envolvidos na meta. Parte do mercado internacional está sendo fisgado aos poucos. MonsieurPatrick Chapon, um dos mais cultuados chocolateiros de Paris,se surpreendeu com a qualidade da amêndoa que ganhou de 92 www.revistapzz.com.br


COMITIVA A comitiva paraense formada por trinta pessoas entre representantes da Secretaria de Estado de Agricultura (SAGRI), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Incentivo a Produção (SEDIP), Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (SECTI), SEBRAE-PA, Federação de Indústrias do Pará (FIEPA), Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA) e Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (CEPLAC) integrou a 3º FICC Amazônia - Festival Internacional do Chocolate e Cacau, que apresentou o potencial da produção regional para os principais chocolateiros europeus..

presente do presidente da Cooperativa da Agroindustrial da Transamazônica, Ademir Venturini, tanto que confirmou uma visita a Medicilândia no primeiro semestre do próximo ano. “Tive uma primeira boa impressão da amêndoa que traz um bom formato, tem um interior particularmente interessante de cor avermelhada própria para um bom chocolate”, avaliou o francês. Outra cooperativa paraense de destaque no salão, a Central de Produção Orgânica da Transamazônica e Rio Xingu, expandiu as relações internacionais que já possui. Hoje, a cooperativa, com 150 produtores associados e que exporta 800 ton./ano, possui como clientes a austríaca Zootter Chocolate, e as brasileiras Herald e Natura, com o selo de qualidade do chocolate da transamazônica. De acordo com Raimundo Silva, presidente da central, o intuito é tornar o mercado cada vez mais internacional. “Temos um produto de ótima qualidade, tanto no orgânico, como no mercado justo. Além de conseguir novos clientes, também queremos conseguir agregar valor, porque a gente tem compromisso ambiental e social com essas famílias que estão diretamente envolvidas”, acredita. Marco Lessa, empresário e coordenador do projeto Cacau do Brasil,também aposta nos movimentos globais para encaixar a produção brasileira no nicho de chocolates finos. “O mercado está mudando bastante, o mundo passa a consumir um produto com valor agregado, www.revistapzz.com.br 93


INDÚSTRIA com alto teor de cacau. Isso dá chances de reposicionamento do Brasil, saindo da commodity e buscando um cacau fino trabalhando com variedades. Os maiores países consumidores do mundo ainda não descobriram o chocolate. Imagine quando países como a Rússia, a Índia e China passarem a comer chocolate. Nós somos exitosos desde 2009. As parcerias vêm mostrando resultados, a presença no maior salão de chocolate do mundo é uma demonstração de que nossa intenção está sendo bem sucedida. Mas é preciso continuar acreditando”, disse Lessa, que também organiza o Festival Internacional do Cacau e Chocololate da Amazônia, que chega a sua 3° edição no mês de agosto de 2015.

Durante o salão internacional ocorreu a assinatura de um termo de protocolo de intenções envolvendo a SEDIP, SAGRI, SECTI, FAEPA, SEBRAE, FIEPA, CEPLAC, EMATER, ADEPARÁ. Mais indústrias - José Conrado Santos, presidente da Fiepa, presenciou o interesse internacional pelo cacau paraense. “Estamos chamando a atenção do mundo pela produção do cacau que vem crescendo a níveis mundiais, com índices de 10% na sua produção de amêndoas. A gente tem um caminho bem promissor em seguir na agregação de valor na cadeia do cacau. Num esforço bem integrado, a gente observa que outras cadeias também poderão se beneficiar, como a do leite, da produção do açúcar e até gráfica, quando pensamos nas embalagens. Tem um caminho enorme neste sentido capaz de criar emprego e renda a partir da cadeia do cacau” disse. Davi Leal, secretário da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Incentivo a Produção, também acredita que a participação paraense na maior feira de chocolate do mundo demonstra o quanto o mercado está competitivo. “Só estimula o Governo do Estado a incentivar os produtores do cacau por meio de programas que acelerem o processo de 94 www.revistapzz.com.br

agregação do valor ao produto. Já temos sinais disso, com a inauguração de uma fábrica de liquor da Cargill, em Castanhal. Também tivemos uma conversa com o Ministro de Transportes, pedindo melhorias para a Transamazônica principal via de escoamento da nossa produção”, pontuou. François Jeantet, organizador do salão, tem ótimas expetativas em relação ao cacau brasileiro, especialmente o produzido no Pará. “Por toda riqueza natural, do solo e das imensas florestas e a capacidade de desenvolvimento do país propiciam uma produção do cacau de qualidade que atraem chocolateiros do mundo inteiro. E este é o intuito deste salão, fortalecer os links entre os melhores chocolateiros do mundo e os produtores de cacau, incluindo os brasileiros”, elogiou. Estimulados pela participação da comitiva paraense no SalonduChocolat, diplomatas da embaixada do Brasil na França já definiram uma rodada de negócios um dia antes da programação oficial da feira de chocolate em 2015. O evento deverá aproximar ainda mais os produtores paraenses dos chocolateiros internacionais para estreitar os caminhos até possíveis negócios. A iniciativa da embaixada garantiu um importante passo na busca de uma consolidação no mercado estrangeiro. Outra conquista do cacau paraense durante o salão internacional foi a assinatura de um termo de protocolo de intenções envolvendo a SEDIP, SAGRI, SECTI, FAEPA, SEBRAE, FIEPA, CEPLAC, EMATER, ADEPARÁ e o Instituto Biofábrica de Cacau objetivando o desenvolvimento da cadeia produtiva do cacau na região. O documento prevê estimular a industrialização de chocolates de qualidade no Estado, consumo de chocolate com alto teor de cacau, além da utilização do cacau e chocolate em outras áreas como gastronomia, cosméticos e fármacos e atrair investidores e visitantes, ampliando os resultados para setores como indústria, turismo, cultura e tudo relacionado direta ou indiretamente à cadeia produtiva do cacau.

Salão O SalonduChocolat de Paris é o maior evento mundial dedicado ao chocolate,


INTENSIFICAÇÃO Estimulados pela participação da comitiva paraense no SalonduChocolat, diplomatas da embaixada do Brasil na França já definiram uma rodada de negócios um dia antes da programação oficial da feira de chocolate em 2015.

por onde já passaram mais de três milhões de visitantes. O evento internacional procura estabelecer a ligação entre as diferentes partes que compõem a cadeia produtiva do cacau ao chocolate, reunindo os principais países produtores de cacau, fabricantes de chocolates, confeitos e consumidores do mundo todo, com mais de 200 expositores no total, além do público de mais de 150.000 por edição, franceses e de outras partes do mundo. Edições menores são realizada anualmente em diversos países (França, Estados Unidos, Rússia, China, Japão, Egito e Espanha), recebendo, em média, 2 milhões de visitantes por ano. Através de conferências, painéis de discussão, concursos de prestígio e animações temáticas, o evento destaca as novas faces das fábricas de chocolate do futuro, as últimas inovações e tendências, os visionários caminhos utilizados pelos chocolateiros e as tecnologias de ponta que vão revolucionar o futuro deste mercado.

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PARÁCRIATIVO

Juliane Frazão

Incubando ideiasCriativas o reconhecimento do poder público mostra relevância estratégica da cultura como um eixo de desenvolvimento regional e como vetor de desenvolvimento socioeconômico do estado.

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PARÁCRIATIVO

I

naugurada no início de 2014, a Incubadora Pará Criativo é um equipamento estatal de atendimento e suporte técnico a profissionais e empreendedores criativos. O espaço oferta gratuitamente formação, capacitação, consultorias e assessorias técnicas, dentre outros serviços, voltados para a qualificação da gestão de projetos, produtos e negócios que estejam inseridos no contexto da economia criativa. Integrante da Rede Brasil Criativo da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, o Pará Criativo foi

A iniciativa é um reconhecimento importante por parte do poder público da relevância estratégica da cultura como um eixo de desenvolvimento regional e como vetor de desenvolvimento socioeconômico do país. inaugurado em Belém em parceria com o Governo do Estado, através do Instituto de Artes do Pará. A iniciativa é um reconhecimento importante por parte do poder público da relevância estratégica da cultura como um eixo de desenvolvimento regional e como vetor de desenvolvimento socioeconômico do país. Dentre outros, a rede tem como objetivo contribuir para que a cultura se torne um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro. Um dos principais objetivos da incubadora é se aproximar daqueles que efetivamente fazem a “economia criativa” e que, na maioria das vezes, não possuem o entendimento de que, de fato, compõem esta dinâmica. Por isso, neste primeiro momento o Pará Criativo trabalha com pautas que atendam a formação destes artistas, produtores, e empreendedores, ressaltando que a criatividade não está somente na área cultural. A economia criativa no Pará se desenvolve dentro de um cenário basicamente composto por profissionais autônomos, micro e pequenas empresas, muitos ainda em fase de consolidação. Tendo em 98 www.revistapzz.com.br


INCUBADORA A rede tem como objetivo contribuir para que a cultura se torne um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro.

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PARÁCRIATIVO vista esta realidade, a incubadora percebe a necessidade de incentivar a cultura empreendedora. Durante os cinco meses de atendimento ao público, o Pará Criativo elencou e preparou uma relação de ações voltadas aos vários setores que compõem o universo artístico cultural do estado do Pará, em seu viés econômico, com o objetivo de atender as demandas que os municípios apresentam nesta esfera específica e que ainda carecem de subsídios para uma profissionalização condizente com o talento característico da região. Com foco na qualificação, sem perder de vista o empreendedorismo e o estímulo à inovação, para com isso chegar à ampliação de uma comunidade organizada em torno de seu eixo identitário, se buscou parceiros e referências para traçar perfis programáticos para esse atendimento. Assim, as primeiras ações da incubadora estão se dando em parceria com outros órgãos, secretarias e instituições ligadas não apenas à área cultural, mas também às áreas de economia, tecnologia e turismo, por exemplo; dentre as quais são destacadas: a Secretaria de Estado de Indús-

A economia criativa no Pará se desenvolve dentro de um cenário basicamente composto por profissionais autônomos, micro e pequenas empresas, muitos ainda em fase de consolidação. Tendo em vista esta realidade, a incubadora percebe a necessidade de incentivar a cultura empreendedora. tria, Comércio e Mineração – SEICOM, por intermédio da Diretoria de Desenvolvimento do Comércio e Serviços (DICS), dentro das perspectivas do Plano de Desenvolvimento do APL de Moda Criativa da Região Metropolitana; o Instituto de Gemas da Amazônia – IGAMA; a Casa de Cultura Digital Pará; a Secretaria de Turismo – SETUR; a Fundação Cultural de Castanhal - FUNCAST, Secretaria de 100 www.revistapzz.com.br

PRAGMATISMO Com foco na qualificação, sem perder de vista o empreendedorismo e o estímulo à inovação, para com isso chegar à ampliação de uma comunidade organizada em torno de seu eixo identitário, se buscou parceiros e referências para traçar perfis programáticos para esse atendimento.


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PARÁCRIATIVO Cultura e Desportos de Bragança – Seculd; e a Casa do Empreendedor, também em Bragança. Além delas, neste momento, o Pará Criativo está fechando parcerias com a Associação dos Municípios do Marajó - AMAM, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Universidade da Amazônia - UNAMA, Centro Universitário do Estado do Pará - CESUPA e Universidade Federal do Pará – UFPA, Fundo Ver o Sol, Fundação Cultural do Município de Belém – FUMBEL e Fundação Ipiranga. As ações foram construídas transversal-

Abrem-se, portanto, novas perspectivas para a cadeia produtiva local, que situa o artista ou o produtor empreendedor no seu papel de protagonista na construção e consolidação de uma carreira fortalecida economicamente, e culturalmente qualitativa. mente e afinadas com as necessidades apontadas, e o programa quer cumprir um circuito inicial, neste 2014, começando pela Região Metropolitana de Belém, que abrange ainda as cidades de Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara, ampliado a outros municípios que se destacam pelo desempenho e atuação catalisadora em seu entorno. Abrem-se, portanto, novas perspectivas para a cadeia produtiva local, que situa o artista ou o produtor empreendedor no seu papel de protagonista na construção e consolidação de uma carreira fortalecida economicamente, e culturalmente qualitativa. Ainda em seu primeiro semestre de funcionamento, as ações da Incubadora Pará Criativo foram prioritariamente focadas em ações formativas. O maior propósito e desafio é ser, em um futuro próximo, um centro de inovação, empreendedorismo, formação, fomento e promoção. O desejo é que as pessoas possam encontrar ali espaços de convívio e interação multisetorial entre empreendedores criativos e multi-institucional que reúne governos, 102 www.revistapzz.com.br

O CONCEITO A economia criativa origina-se do termo indústrias criativas, inspirado no projeto Creative Nation, da Austrália, de 1994. O plano defendia a importância do trabalho criativo, sua contribuição para a economia do país e o papel das tecnologias como aliada da política cultural.


bancos, universidades, sistema S e sociedade civil, promovendo o compartilhamento de experiências e fortalecimento de redes e coletivos.

Economia Criativa O conceito de economia criativa origina‐se do termo indústrias criativas,
 inspirado no projeto Creative Nation, da Austrália, de 1994. O plano defendia a importância do trabalho criativo, sua contribuição para a economia do país e o papel das tecnologias como aliadas da política cultural.
 Em 1997, o governo do Tony Blair, diante de uma competição econômica global crescentemente acirrada, 2motivou
 a formação de uma força‐tarefa multissetorial encarregada de analisar as contas nacionais do Reino Unido, as tendências de mercado e
as vantagens competitivas nacionais.
 Em 2001, o escritor inglês John Howkins, autor do livro The Creative Economy – How People Can Make Money From Ideas, utilizou o termo economia criativa pela primeira vez. Desde então, o conceito está em constante evolução e cada nação desenvolve o seu entendimento sobre o tema. No Brasil, para o Ministério da Cultura, economia criativa compreende a gestão da criatividade para gerar riquezas culturais, sociais e econômicas. Abrange os ciclos de criação, produção, distribuição/difusão e consumo/fruição de bens e serviços que usam a criatividade, a cultura e o capital intelectual como insumos primários. Responsável por 10% da economia mundial, a economia criativa movimenta US$ 3 trilhões ao ano. O percentual de crescimento é de 8% e até 2020 a área movimentará US$ 6 trilhões no mundo. No Brasil, a economia criativa é responsável por 2,84% do PIB, movimentando US$ 104,43 bilhões. A taxa de crescimento anual é de 6,13%. Patrimônio material, patrimônio imaterial, arquivos, museus, artesanato, cultura popular, cultura indígena, cultura afro-brasileira, cultura alimentar, arte visual, arte digital, teatro, dança, música, circo, cinema e vídeo, publicações, mídias impressas e virtuais, moda, design e arquitetura são os setores que fazem parte desta economia. www.revistapzz.com.br 103


CARTOGRAFIA

Jaqueline Ferreira

Atualização da base cartográfica de Belém auxiliará no planejamento urbano Levantamento privilegia a atualização e digitalização do mapeamento espacial da cidade com enfoque nos recursos municipais existentes para aprimorar os serviços públicos ou criar novas políticas públicas.

A

capital paraense começou a passar por um rigoroso mapeamento de sua estrutura urbana e espacial, depois de 16 anos sem sofrer significativa atualização na sua base cartográfica. Com o auxílio da mais avançada tecnologia de cartografia georecenciada, o trabalho prevê o levantamento de informações como infraestrutura, divisões territoriais, equipamentos urbanos, terrenos, construções, malha viária e elementos naturais. Atualizada, a base cartográfica possibilitará à administração municipal conhecer com maior profundidade os recursos municipais existentes e avaliar a necessidade de aprimoramento dos serviços públicos ou de criação novos projetos urbanísticos e políticas públicas. “Esta será uma ferramenta indispensável para auxiliar no desenvolvimento sustentável 104 www.revistapzz.com.br

do município, possibilitando diversas aplicações de interesse municipal, como planejamento urbano, tributação, defesa civil, projetos e obras, meio ambiente, segurança pública, rede viária, saúde e educação”, salienta o diretor do Depar-

“Esta será uma ferramenta indispensável para auxiliar no desenvolvimento sustentável do município, possibilitando diversas aplicações de interesse municipal...” tamento de Tributos Imobiliários da Secretaria Municipal de Finanças. Segundo Sagica, a atualização da base cartográfica também será indispensável

para adesão ao Programa Municípios Verdes, que visa, principalmente, fortalecer as atividades econômicas sustentáveis e combater o desmatamento, além de ampliar as áreas verdes na cidade. A Prefeitura Municipal iniciou a primeira etapa do trabalho, em julho, com o levantamento aerofotogramétrico. A empresa responsável pelos serviços, vencedora da licitação nº 10/2013, realizou vôos por toda a cidade para capturar imagens, com auxílio de câmeras de última geração e de um sistema de varredura a laser. De acordo com o diretor, os equipamentos possuem o que há de mais moderno no georeferenciamento. “Com essa tecnologia, a escala de precisão será de 1:1000 na zona urbana e de 1:5.000 na zona não urbana. Assim será possível fazer imagens que cheguem o mais perto possível da realidade do mu-


Fotos: Alessandra Serrão (NID Comus

TECNOLOGIA AVANÇADA A cartografia georecenciada fará o levantamento das informações necessárias para aplicação de políticas públicas que auxilie no desenvolvimento urbano da grande cidade de Belém.

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CARTOGRAFIA nicípio”, destaca Sandro. O trabalho é gerenciado pela Sefin em parceria com a Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem), que atuará na fiscalização das etapas. A técnica em agrimensura da Companhia, Elian Martins, que participou da redação do termo de referência dos serviços e acompanhará os resultados do trabalho, destaca a importância da precisão das imagens. “Além da cartografia, o diferencial exigido da empresa foi a utilização da varredura a laser para obtermos o maior número de elementos e o melhor nível de detalhes da cidade. Uma base cartográfica mais precisa servirá de subsídio para a administração municipal em projetos urbanísticos e de regularização fundiária”, salienta a técnica. Na próxima fase do projeto, será realizado o trabalho em campo com visitas técnicas aos imóveis e fotos das fachadas. Cerca de 120 mil imóveis, escolhidos de acordo com critérios técnicos, devem passar por novas medições. “Vamos reunir duas ações em uma: a geração da

“Varredura a laser para obtermos o maior número de elementos e o melhor nível de detalhes da cidade.” nova base cartográfica e a atualização do cadastro multifinalitário. Será possível identificar e localizar ruas, praças, prédios públicos, escolas, monumentos etc”, afirma Sandro Sagica. O passo final será a implantação de um sistema que integre o cadastro e a base cartográfica, servindo aos diversos órgãos da Prefeitura no desenvolvimento de políticas públicas e no planejamento regional. O projeto de atualização da base cartográfica de Belém está entre as ações de aprimoramento da gestão tributária municipal que recebeu recursos do Programa de Modernização da Administração Tributária (PMAT), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investir no aperfeiçoamento da administração, na capacitação de servidores e em tecnologia da informação. 106 www.revistapzz.com.br


Fotos: Alessandra Serrão (NID Comus

BELÉM, EU TE QUERO BEM Com recursos do BNDES a modernização da administração da cidade trará ações para o aperfeiçoamento e capacitação dos servidores em tecnologia da informação e da tributação.

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HUMOR

Biratan Porto

6º Salão Internacional de Humor Da Amazônia

“O Mundo Árabe” O 6 º Salão internacional de Humor da Amazônia contou com a participação de cartunistas, caricaturistas, ilustradores, desenhistas e chargistas de 36 países, reconhecidos por seus trabalhos independentes em jornais, revistas e na internet.

A XVIII Feira Pan-Amazônica do Livro realizada no período de 30 de maio a 08 de junho de 2014 no Hangar mais uma vez abrigou o Salão Internacional de Humor da Amazônia onde foram convidados a compor o júri desta edição do prêmio, Luiz Fernando Carvalho (RJ), Da Costa ( SP), William Medeiros (PB), J. Bosco (PA) e Atorres (PA) que ficaram com a missão de selecionar 100 trabalhos, 40 para o tema da Ecologia, 30 para o tema de Caricatura e 30 para o tema de Cartum com o tema “O Mundo árabe”. Entre os trabalhos selecionados, os dois melhores nas categorias de Tema Livre, Ecologia e Caricatura. A Coordenação Geral do Salão ficou a cargo de Biratan Porto e a Pré-seleção dos trabalhos ficaram responsáveis J. Bosco, Biratan e Roberto Pinto. As esculturas em Papel foram feitas pelo Paulo Emílio Campos de Melo. O patrocínio foi da Secretaria de Estado de Cultura do Pará – Secult e Apoio Cultural do Restaurante Terra do Meio. Os Artistas convidados ministraram dois WorkShops. O cartunista paulista, DaCosta e o ilustrador paraibano, 108 www.revistapzz.com.br

William Medeiros apresentaram algumas da características do humor gráfico. Da Costa ministrou: Desenhos e produção de Sketch books e William Medeiros: Caricatura, a arte da Distorção dentro da programação de workshops e mesas redondas que o salão oferecia dentro da Feira. Quem participou do workshop “Desenho de Humor e Sketchbook” com DaCosta, descobriu a evolução histórica do humor no mundo e no Brasil. Da arte renascentista de Leonardo da Vinci e Michelangelo às charges da época da ditadura civil-militar de Millôr e Ziraldo. Da invenção da prensa de Gutenberg à técnicas de desenho, colagem e pintura, DaCosta apresentou o universo que envolve a cultura gráfica, no Espaço Educação da Seduc. A palestra apresentou a origem de palavras que são frequentes no vocabulário de humor, como a própria palavra “Humor”, que era usada na Grécia Antiga para representar o bem-estar corporal. ‘Grotesco’, termo que denominava objetos antigos encontrados em escavações de grutas e ‘Cartum’, que surgiu do fato

de artistas rabiscarem em pequenos cartões. “A caricatura tem início nesse período porque os pintores ficavam desenhando uns aos outros para presentear”, explicou o ilustrador. DaCosta disse durante a fala que um evento como o Salão é um momento singular para quem trabalha com desenho de humor gráfico. “A gente só vê desenhista em Salão de Humor porque esse tipo de pessoa só vive na prancheta. Cartunista é um bicho que fica enclausurado”, brinca o vencedor de Menção Honrosa no 16º Porto Cartoon World Festival 2014. Já a caricatura, uma das categorias do VI Salão Internacional do Humor da Amazônia, foi o tema do Workshop com o designer e ilustrador William Medeiros, que atua no mercado editorial publicitário. O artista paraibano demonstrou também no Espaço Educação da Seduc, como desenhar pessoas a partir da arte do exagero. “Durante o processo de deformação, você tem que observar qual característica é mais marcante. Além de perceber o que deve ser ressaltado em cada pessoa,


Tema “O Mundo Árabe” 1º Lugar: Anderson. Delfino, Brasil.

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HUMOR

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TemaO Mundo Árabe Página à esquerda, Menção honrosa: Burka. Karry, Perú. Página à direita, à cima, Menção honrosa: Tobogã. Omar, Perú. Tema Ecologia Página à direita, à baixo, 1º Lugar: Cidade. OmerCam, Turquia é preciso trabalhar o corpo também, de forma que tudo se complemente com que ela faz,” destacou o desenhista, que começou a trabalhar profissionalmente aos 17 anos de idade, desenhando caricaturas da página editorial no Diário da Borborema, jornal impresso de Campina Grande. Biratan Porto, organizador do VI Salão Internacional do Humor da Amazônia, afirma que a importância de conversar com desenhistas de humor é a troca de experiências profissionais e pessoais. “O evento tem o objetivo de socializar conhecimento entre estudantes, artistas e pessoas que admiram o trabalho gráfico e os nossos convidados contribuem nesse acúmulo de maneira interessante,” pontua o cartunista paraense. Confira a lista dos Vencedores do 6º Salão Internacional de Humor 2014. 1º Lugar na categoria de Tema: Anderson Delfino/ Brasil. Com a Menção honrosa ficaram – Burka por Karry do Perú e Tobogã por Omar do Perú. Tema Ecologia: 1º Lugar : Cidade por OmerCam da Turquia, Menção honrosa: Selfie por Turcios da Espanha. Menção honrosa: Deserto/Klaus Pitter/ Áustria. No Tema Caricatura em 1º Lugar ficou Gabriel Garcia Márquez por Turcios / Espanha, Menção honrosa - Mujica por Ulisses do Brasil e Marina Silva por Jindelt do Brasil. O critério adotado para julgar os trabalhos fora. Originalidade, técnica e criatividade. No tema Caricatura e Ecologia o nível foi excelente. Já no tema O Mundo Árabe, apesar de muito engraçados os cartuns, abordaram situações e variações bem próximas. Mas foi o tema que mais se identificou com o público. A categoria mais difícil de ecolha foi a da Caricaturas. Um nível altíssimo de trabalho, com técnicas apuradas e diswww.revistapzz.com.br 111


HUMOR

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Tema ecologia Página à esquerda, Menção honrosa: selfie. Turcios, Espanha. Temacaricatura Página à direita, Menção Honrosa: Marina Silva. Jindelt, Brasil

torções bem feitas, além do trabalho pictórico. O júri bateu cabeça, mas achou o vencedor. No mtema ecologia houve consenso. O trablho do turco Omer foi o quer mais agradou ao Júri. Assim também com as menções Honrosas de 2º e 3º lugares dos três temas. O critério adotado para julgar os trabalhos fora. Originalidade, técnica e criatividade. No tema Caricatura e Ecologia o nível foi excelente. Já no tema O Mundo Árabe, apesar de muito engraçados os cartuns, abordaram situações e variações bem próximas. Mas foi o tema que mais se identificou com o público. A categoria mais difícil de ecolha foi a da Caricaturas. Um nível altíssimo de trabalho, com técnicas apuradas e distorções bem feitas, além do trabalho pictórico. O júri bateu cabeça, mas achou o vencedor. No tema ecologia houve consenso. O trablho do turco Omer foi o quer mais agradou ao Júri. assim também com as menções Honrosas de 2º e 3º lugares dos três temas. www.revistapzz.com.br 113




BELÉM RUMO AOS 400 ANOS.

A Prefeitura já está pavimentando o caminho. A Prefeitura de Belém está asfaltando ruas e avenidas em toda a cidade e nos distritos de Icoaraci

Pass. São Raimundo - Icoaraci

Vila Dois Irmãos

e Mosqueiro. Melhorando onde precisava de melhorias. Colocando asfalto onde não havia. E implantando sistema de drenagem onde era necessário. São 150 km

Pass. Manoel Pedro

Pass. Santa Clara - Guamá

de vias com asfalto de boa qualidade e sinalização.

GRIFFO

É mais conforto e vida melhor para todos. Av. Roberto Camelier

Conjunto Jardim Atalaia

RUMO AOS 400 ANOS.

QUEM AMA BELÉM, VEM.


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