Adoração e Louvor

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José Elias Croce


José Elias Croce

Adoração Louvor &

Rio de Janeiro Editora Betel 2016

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© 2016 Editora Betel Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida, em qualquer meio (eletrônico, fotográfico e outros), sem prévia autorização por escrita do editor. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Revisão: Felipe Gomes Cipriano Projeto Gráfico e Capa: Gabriel Joaquim Editoração Eletrônica: Gabriel Joaquim Categoria: Vida Cristã ISBN: 978-85-8244-043-8 1ª Edição: outubro/2016 Editora Betel Rua Carvalho de Souza, 20 - Madureira 21350-180, Rio de Janeiro, RJ Telefone: 21 3575-8900 E-mail: comercial@editorabetel.com.br Site: www.editorabetel.com.br f/EditoraBetel

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Sumário Apresentação ............................................................................................... 7 Prefácio ......................................................................................................... 9 Introdução ...................................................................................................11 1. Breve definição sobre adoração .................................................... 13 2. A adoração que emana das atitudes de nosso corpo ................. 23 3. Adoração: atitude que flui de nossa alma .................................... 27 4. Atitudes adoradoras do espírito humano..................................... 33 5. A centralidade da adoração ............................................................ 37 6. Adorando a Deus com os nossos dízimos .................................. 53 7. A adoração através dos dons e talentos ....................................... 65 8. O culto cristão: um ato sagrado .................................................... 69 9. Adorando a Deus no nosso tempo .............................................. 77 10. A família e a adoração .................................................................. 85 11. O amor que adora a Deus ............................................................ 91 12. A missão adoradora da Igreja ...................................................... 99 13. A obra social como adoração a Deus ..................................... 111 14. Adorando a Deus através da educação e ensino ................... 115 15. Atitudes adoradoras do ministério cristão ............................. 119 16. Marcas de um verdadeiro adorador ......................................... 127 17. A dimensão missionária da adoração ...................................... 133 Conclusão ................................................................................................ 139 Referências Bibliográficas ..................................................................... 141 Adoração e Louvor

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Apresentação “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.23) A resposta que a mulher samaritana ouviu do Mestre Jesus foi bem diferente de qualquer outra coisa que ela pudesse esperar. O tempo em que havia discussão sobre a preferência de Gerizim ou Jerusalém acabara. Uma nova ordem estava sendo iniciada, para a qual não é “onde” as pessoas adoram a Deus, mas “como” O adoram. Jesus revela parte do “como”, falando de adorar o Pai. Ele tinha o hábito de falar de Deus como Seu Pai (Jo 2.16; 11.41; 12.27; 17.1), pois assim Ele é, e dizia aos Seus seguidores para fazerem o mesmo. A ampla circulação da invocação “Aba, Pai” na Igreja Primitiva revela a alegria dos discípulos de agir conforme o Mestre. A adoração espiritual, o culto genuíno, não pode ser limitada a lugares e épocas específicos. O culto é ainda mais apropriado quando consideramos a natureza do Deus a quem ele é oferecido. O culto no qual Deus tem prazer é espiritual, onde há o sacrifício de um coração humilde, contrito e grato do adorador. Por esta razão, é com imensa satisfação que apresento ao público o livro “Adoração e louvor”, do Pr. José Elias Croce, presidente da AD Guacuri (SP) e diretor do IBP (Instituto Bíblico Pentecostes). Com uma linguagem bastante objetiva e esclarecedora, o Pr. José Elias Croce aborda, através de dezessete capítulos, esta importante e maravilhosa temática, mostrando, à luz das Sagradas Escrituras, a excelência e o propósito de uma vida inteiramente dedicada a Deus. .A leitura desta obra reforça a necessidade de aumentarmos o nosso relacionamento com Deus, nosso Pai. Meu mais sincero desejo é que esta obra possa abençoar poderosamente a sua vida espiritual e enriquecer seu conhecimento sobre a adoração e o louvor ao Único e Eterno Deus. Que Deus te abençoe! Pr. Abner Ferreira

Presidente da Convenção Estadual do Ministério de Madureira no Estado do Rio de Janeiro Presidente da Catedral Histórica das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira

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Prefácio O Espírito de Deus nos incitou a nos debruçarmos sobre um tema que envolve a centralidade de nossos afazeres, isto é, a adoração. O objetivo central de tudo o que fazemos deve relacionar-se com a adoração. Aquele que nos criou e, acima de tudo, depois de perdidos e desgarrados, veio ao nosso encontro, resgatando-nos e salvando-nos, outorgou-nos uma salvação eterna. .Não teríamos nada para saldar essa dívida. Estávamos na mesma condição daquele “credor incompassivo” (Mt 18.23-35), que devia “dez mil talentos”, representando a maior soma de dinheiro imaginada na época, e que foi perdoado. Nossa gratidão e vida pertencem a Ele pelo resgate, amor e misericórdia que aplicou em nossa vida. Conforme argumentou o salmista no Salmo 116.16, o que poderíamos dar ao Senhor por todos os benefícios que nos tem feito? Acredito que nossa “adoração sincera” entra nestes quesitos de dádivas ao nosso Deus. .Assim sendo, as atitudes de gratidão devem ser constantes em nossa vida de adoração. Nada melhor do que dar o nosso melhor para Deus no louvor, no amor, na obediência, na dedicação, nas ofertas, nos dízimos, isto é, cumprindo o que prometemos no ato de nossa decisão: ser fiel. O mais importante é ter a consciência de que tudo o que envolve nossa vida deve ser centralizado na adoração a Deus. Tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus. Shalom... Pr. José Elias Croce

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Introdução Partindo da premissa de que o ser humano é composto de corpo, alma e espírito, isto é, um ser tricotômico, conforme referendado pelo texto sagrado, necessitamos analisar cuidadosamente as funções precípuas dessa “triunidade” (1Ts 5.23). O que mantém o homem vivo? A alma, o corpo ou o espírito? Logicamente, cada ciência referente ao corpo terá sua argumentação cabal. A medicina, por exemplo, diria que tudo está relacionado ao bom funcionamento do corpo, mas será que tais definições, até mesmo com provas científicas, esgotariam terminantemente a questão? Obviamente que uma grande maioria de pessoas daria todos os créditos para os especialistas em corpo humano. Todavia, teologicamente falando, o corpo cessa suas funções somente quando lhe sai o espírito que nele está. Quando Deus fez o homem, enquanto não lhe fora soprado o espírito em suas narinas, o mesmo permanecia apenas “corpo sem vida”, em outras palavras, “um boneco de barro”, “és pó, e em pó te tornarás” (Gn 3.19). Logo que Deus lhe deu o sopro de vida, o homem tornou-se “alma vivente” (Gn 2.7). Apesar do corpo humano ser maravilhoso, sem o espírito ele continua morto. O espírito deu vida, capacidade, sabedoria e, acima de tudo, consciência de si mesmo, tornando-o um ser espiritual, peculiaridade essencial do ser humano. Esse espírito, oriundo de Deus e que nos foi dado através do Seu sopro, fez do homem um ser dependente de uma divindade, um ser superior para exercer sua “koinonia” e adoração. Todavia, com a queda humana abriu-se um desvio, uma espécie de cegueira espiritual, deixando o homem perdido em sua busca e adoração. É por essa razão que, depois de um estudo mais apurado, observamos que todo ser humano elege algum ser superior ou divindade para adorar. Isso acontece até mesmo com os ateus. Fatos históricos comprovam essa busca através de milhares de deuses que os homens elegeram no decorrer dos tempos. Se tal argumentação não procedesse, também não haveria mais razão para o homem hodierno ser ainda religioso, nem tampouco para a existência do número crescente de religiosos em pleno século XXI. Tudo isso evidencia a necessidade que o homem tem de adorar, e mesmo na cegueira, procurar até inconscientemente um referencial que possa, supostamente, satisfazê-lo. Essa busca desenfreada e mal direcionada se constitui em agonia, inquietação, insatisfação, revolta, angústia, descontentamento e tantas outras doenças a que os mais doutos jamais acharão as

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causas, pois se trata de uma deformidade espiritual, causada pela cegueira também espiritual. Essa busca, consciente ou inconsciente, continua em estado crescente com o surgimento de inúmeras religiões e deuses em pleno século do incremento do saber. Ocorre que o homem, sendo um ser espiritual, precisa de um relacionamento espiritual, um referencial verdadeiro para alimentar-se espiritualmente. Esse conflito fica bem nítido no diálogo de Jesus com a mulher samaritana. Quando percebera que Jesus era um profeta, deixou as “querelas” de lado e iniciou um diálogo espiritual, demonstrando o conflito concernente à adoração: “Nossos pais adoraram nesse monte” (Jo 4.20). O homem foi feito com a finalidade precípua de adorar a Deus. Você nasceu para ser um adorador! Adore a Deus e seja feliz!

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Capítulo 1

Breve definição sobre adoração

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o Segundo Livro de Reis temos a narrativa do incrível acontecimento de pessoas sendo estraçalhadas por leões pelo fato de não saberem cultuar a Deus (2Rs 17.25, 28). Na época desse relato, o rei da Assíria havia conquistado Samaria, terra que pertencia ao povo de Deus, embora desviado. Os novos dominadores começaram a povoar a terra conquistada com pessoas de diversos lugares, principalmente com babilônios. Entretanto, mesmo estando na terra de Jeová, eles não sabiam tributar louvores a Ele. Um dia, Deus enviou entre eles leões, que mataram alguns deles. O povo ficou alarmado e a solução foi chamar um sacerdote do Deus de Israel para que os ensinasse a adorar ao Senhor. É impressionante notar que a razão da ira divina sobre os novos habitantes de Samaria consistia em que eles estavam na terra de Deus, mas não sabiam adorá-Lo. Porventura não será também esta a realidade da Igreja no século XXI? A diferença é que hoje não existem leões, mas ainda vemos multidões que frequentam a casa de Deus sem saberem cultuá-Lo. Que o Espírito de Deus, através dessa reflexão, nos ensine a adorar melhor ao Senhor da Terra e do Céu! Definindo a adoração Se quisermos alcançar uma visão da adoração neotestamentária, urge examinar os termos usados pelos escritores bíblicos. Adorar significa render-se. O Novo Testamento destaca 58 vezes a palavra “adorar” (proskynéo), bem como suas correspondentes denAdoração e Louvor

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tre cinco mil termos relacionados com o culto. Originalmente significa “beijar”. Entre os gregos era um termo técnico que significava “adorar aos deuses”, dobrando os joelhos ou prostrando-se. Beijar a terra ou a imagem em sinal de adoração acompanhava o ato de prostrar-se no chão. Colocar-se nessa posição comunicava a ideia básica de submissão. O gesto de curvar-se diante de uma pessoa e ir até o ponto de beijar seus pés quer dizer: “reconheço a minha inferioridade e a sua superioridade; coloco-me à sua inteira disposição”. “Adorar” (proskynein) foi utilizada para traduzir a palavra hebraica “shachah” na Septuaginta e também transmitia o mesmo conceito. Com esse termo, Jesus anulou a validade do culto tradicional da mulher de Sicar e seus conterrâneos samaritanos. Tanto o local como a preocupação com o tempo não tinham mais importância alguma. Enquanto a mulher argumentava que era no Monte Gerizim, Jesus declarou que somente “em espírito e verdade” os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai (Jo 4.23). A salvação vem dos judeus, portanto eles adoravam o que conheciam. A revelação do Antigo Testamento foi dada a Israel (Rm 9.4). Mais do que inútil é o culto que desconhece a Deus, a quem devemos submissão e lealdade. Por isso, o grau de beleza de um culto, o número de adeptos ou a sua antiguidade não tem importância se o adorador não estiver em contato vital com o Deus único. O quadro que o profeta João desvendou da adoração celestial no Apocalipse mostra vinte e quatro anciãos caindo prostrados diante d´Aquele que estava sentado no trono (Ap 4.10). Põe em relevo a posição física daquelas personagens misteriosas para frisar a majestade de Deus e manifestar a disposição delas para executar toda ordem de Deus. Satanás quis que Jesus o adorasse no deserto da Judeia (Mt 4.9-10; Lc 4.7-8), porque ser adorado é o supremo desejo do chefe do mal. O diabo de bom grado trocaria todos os reinos do mundo e a glória desses por um simples ato de adoração (proskynésis) oferecido por Jesus. Mas, para o Senhor, um gesto de culto não podia ser desvinculado da própria adoração. Ele não acata a ideia de que um ato externo possa deixar de ser um ato interno, uma atitude de entrega total. Por isso, Sua resposta a Satanás foi: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4.10), e, assim, encerrou a questão para sempre. Adorar o inimigo de nossas almas ou um dos seus representantes significa render-se a ele.  14

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Adorar significa servir. O culto implica em serviço (latreia), termo usado por Jesus para responder ao diabo (Mt 4.1). Esse segundo termo é empregado frequentemente na Septuaginta (90 vezes), especialmente em Êxodo, Deuteronômio, Josué e Juízes, mas apenas uma vez nos profetas. Moisés várias vezes pediu a permissão da parte de Faraó para deixar os israelitas partirem para servir a Deus. Trata-se de cultuar e oferecer atos de adoração que agradem ao Deus da aliança (Êx 4.23; 8.1; 20; 9.1). Com muita naturalidade, Paulo emprega (latreia) “culto”, “serviço religioso” para descrever o corpo entregue como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12.1). Em terceiro lugar, o Novo Testamento utiliza o vocábulo “sebein” (reverenciar). As palavras que derivam desta raiz (seb) são muito frequentes na língua grega fora da Bíblia. Transmitem o quadro característico do grego como homem religioso devotado a seus deuses para evitar as nefastas consequências do azar (At 17). A conotação religiosa grega impediu que esses vocábulos fossem muito usados para designar o culto, na tradução do Antigo Testamento. A adoração requer uma reverente preocupação com o que agrada a Deus. “Os que querem viver piedosamente (eusebós) em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). Consequentemente, devemos reconhecer que a vida de temor a Deus não pode ser isolada duma piedade (eusebeia) prática de seguir a Cristo, como não vale qualquer culto separado do sacrifício do Filho. Em quarto lugar, podemos avaliar o termo “threskeia”, que só aparece quatro vezes no Novo Testamento e pode ser entendido como “religião” (At 26.5). Não há grande diferença entre o sentido desse vocábulo e o de “latreia”, sendo que ambos tratam do culto oferecido a Deus ou a anjos (Cl 2.18), na sua expressão externa. Seria de se esperar que Tiago, com sua preocupação com a integridade da vida religiosa, não admitisse o uso da língua (Tg 1.26). Aquele que afirma saber cultuar a Deus de modo verdadeiro também se preocupará com “órfãos e viúvas nas suas tribulações”. Quem tem um olho desvendado para contemplar a grandeza de Deus terá o outro cheio de lágrimas pelos miseráveis e desesperados. A religião verdadeira não difere da adoração verdadeira. Adorar significa realizar serviço sacerdotal. Em último lugar, analisaremos a palavra “leitourgeo”, composta de duas palavras gregas: Adoração e Louvor

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“povo” (laos) e “trabalho” (ergon). Significava originalmente “fazer um trabalho público, mas pagando sozinho as despesas”. Cidadãos com renda acima de um nível estipulado eram obrigados a gastar seus próprios recursos em serviço religioso. Um ateniense rico podia cumprir tais obrigações voluntariamente por um motivo patriótico e religioso ou também à procura de reconhecimento. Passou de origem secular para o religioso, de modo que os tradutores do Antigo Testamento também usaram frequentemente esse termo para indicar o ministério sagrado dos sacerdotes. O alto privilégio de Zacarias de ministrar no templo foi chamado por Lucas de “leitourgia” (Lc 1.23). Podia ser usada para indicar o serviço de sacerdotes no templo ao aspergir o sangue na tenda e nos utensílios. O autor da epístola aos Hebreus chama esse ato de “liturgia” (traduzido como “serviço” ou “ministério”), conforme está em Hebreus 9.21. Os sacerdotes judeus apresentavam-se diariamente para “exercer o serviço”, no sentido de oferecer os sacrifícios. Mas tudo isso foi superado no “serviço de Deus”, o verdadeiro sumo sacerdote do santuário celestial (Hb 8.2), chamado “leitourgos” (ministro sagrado). Uma vez que Paulo reconheceu que a Igreja era o “Templo de Deus”, era natural que ele se descrevesse como ministro missionário com a palavra “leitourgon” (Rm 15.16). O anúncio do Evangelho e todo o serviço pastoral de Paulo tinha o objetivo de apresentar as igrejas por ele fundadas como oferta aceitável a Deus (Rm 15.16). A palavra “adoração” engloba um conceito vital no que se refere à oração. A ela estão associados termos como “reverência”, “temor ao Senhor” e “veneração”. A adoração é uma demonstração de grande amor, devoção e respeito. Os pré-requisitos da adoração Qualquer pessoa que deseje ter o seu louvor aceito por Deus deve observar determinados princípios, os quais abordaremos neste tópico. A experiência pessoal do novo nascimento é requisito fundamental para os que procuram adorar. Em hipótese alguma a adoração dispensa esse encontro com o Calvário. Não basta adorar, é preciso submeter-se a uma experiência com Jesus Cristo, a quem dirigimos o nosso louvor.  16

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A experiência não se compra, não se vende, não se negocia; experiência se vive. É isso que ocorre na vida do adorador genuíno. Ele teve uma experiência transformadora com Deus, cujo resultado foi uma mudança em toda a sua forma de ser e de agir. Evidentemente, a adoração é o brado de júbilo de alguém que foi liberto e liberto para adorar (Sl 142.7a). Deus não pode apreciar o louvor de uma vida que está presa ao pecado, já que este elimina a base para a legítima adoração. Assim, os lábios não regenerados estão impossibilitados de cultuar ao Senhor. A regeneração é a credencial essencial daquele que adora. Os ímpios poderão elevar suas súplicas a Deus e até poderão obter respostas. Entretanto, não terão os seus louvores aceitos por Deus, exceto se caírem ao pé da cruz. É esse ato que marcará o rompimento com o pecado e, consequentemente, abrirá as cortinas do santuário do Altíssimo. Deus não pode endossar a adoração prestada por alguém que continua distante da cruz; dessa cruz que era nossa e que Cristo tomou para si de tal modo que ela O qualificou para receber toda a honra, glória e domínio. Portanto, antes de nos chegarmos ao trono da adoração, devemos passar pela cruz da remissão. O salmista Davi sabia, por experiências próprias, que somente uma vida perdoada estaria apta para render um culto agradável a Deus: “Tirou-me de um lago horrível, de um charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos; e pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor” (Sl 40.2-3). Eis o porquê de nosso prazer em cultuá-Lo: Ele interferiu na nossa sentença “para louvor da sua glória” (Ef 1.12). Existe um teste que pode avaliar muito bem o nosso culto: ele está projetando Deus ou o homem? Desta resposta dependerá toda a validade de nossa adoração. Esse homem pode ser qualquer personagem que esteja ocupando o lugar devido a Deus, ou talvez um objeto que estamos colocando acima dEle, mas esse homem pode ser ainda você próprio. Infelizmente, não são poucos os que têm caído na egolatria. São pessoas que estão a idolatrar o seu próprio ego. Além dos glutões, dos depravados e dos sensuais, que são homens “cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre; e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3.19), existem aqueles que fazem de sua aparência, do seu Adoração e Louvor

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intelecto e mesmo dos seus dotes naturais o seu próprio deus. Afinal, o que é um ídolo? Tudo que desvia nossa atenção de Deus torna-se um ídolo. Somos propensos, em razão de nossa natureza adâmica, a idolatrar até mesmo os nossos sentimentos mais nobres. Por certo, foi pensando nisto que João, o discípulo amado, exortou: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém” (1Jo 5.21). Um louvor absoluto a Deus exige a quebra dos ídolos. Todavia, pior que cultuar a outro deus é estar cultuando a si próprio. O homem arrogante, cheio de si mesmo, raramente dará lugar para Deus. Ele retém consigo aquilo que pertence ao Senhor e todo espaço fica ocupado por sua presunção. O seu orgulho acaba aprisionando a sua devoção, a vaidade pessoal amordaça-lhe os lábios impedindo-o de bendizer a Deus. A ênfase ao ego é a causa da esterilidade na adoração. Despojemo-nos de toda autossuficiência. Que toda plataforma de egocentrismo seja destruída! Quando o nosso ego se apaga, a adoração se inflama. De fato, a gênese de nosso tributo acontece quando depomos a nós mesmos e permitimos que o Senhor seja o soberano inquestionável de nossas vidas. Deixar de dobrar-se diante do nosso ego para nos dobrarmos única e exclusivamente diante do Senhor significa juntar-se aos genuinamente humildes de espírito. Com efeito, quem almeja subir aos píncaros do louvor deve passar pelo vale da humildade. E o que quer dizer humildade na adoração? É, sem dúvida, aquela sujeição deliberada em reverência à majestade divina. O princípio da submissão governa a vida e as atitudes do adorador, visando a glória de Deus. Deus nunca tolerou a soberba humana. Por isto, se quisermos avançar rumo ao trono do Senhor, teremos de deixar para trás o terreno pedregoso do orgulho. Não importa quem sejamos, se houver em nós qualquer sentimento de prepotência, teremos de ser quebrados para que possamos nos inclinar diante do Senhor Onipotente. Quanto menor for o nosso reconhecimento pessoal, maior será a nossa devoção. Adorar é precisamente despir-se de toda segurança que não esteja em Deus, é exclamar como Asafe: “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti” (Sl 73.25). O adorador que assim se expressa está colocando Deus como o seu valor supremo e dá provas  18

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de que já não vive mais para os seus interesses, mas, sim, que vive para a glória de Deus. Essa dependência de Deus possibilita ao adorador tomar uma decisão radical de não deter nenhuma glória para si. Se faltar essa dependência, o orgulho encontrará uma larga brecha. Foi o que aconteceu com Lúcifer. Alguns comentaristas são de opinião de que ele era o chefe da música nos céus e o profeta Ezequiel, ao comentar sobre a posição que Lúcifer ocupava, descreve-o como sendo “querubim ungido” (Ez 28.14). Ele fora criado para render culto perfeito a Deus e, ao tentar usurpar a glória do Senhor, acabou lançando a sua sentença. Deus não pode, sob condição alguma, aceitar a homenagem de alguém que queira reservar para si parte da glória que só pertence a Ele. O presunçoso Herodes acreditou ter condições para disputar a glória de Deus. Seu fim foi o mesmo de todos os que quiserem roubar a honra que pertence unicamente ao Senhor (At 12.21-23). Herodes poderia ter evitado um final tão desastroso, caso atentasse para a Palavra de Deus: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura” (Is 42.8). Na bagagem do adorador não pode faltar um coração sincero. O louvor é para os retos de coração (Sl 32.11; 119.7). O que não proceder de um coração sincero não encontrará aceitação divina. O louvor deve envolver o coração por ser ele o centro de nossas emoções e uma adoração verdadeira comoverá o coração de Deus mais facilmente. Por outro lado, somente com um coração sincero é que poderemos prestar um culto de forma lógica, equilibrada e racional. Carecemos também de um coração sincero porque a sinceridade “é o cimento no concreto do louvor”. Se não houver sinceridade, nosso louvor simplesmente deixará de ser adoração, por mais belo que seja. O sábio Salomão se deixou levar pela tolice de comprometer o seu culto devotado com um coração sincero, quando o misturou também com as práticas pagãs (1Rs 3.3). Ainda hoje, há cristãos que enveredam por este mesmo caminho, ou seja, adoram ao Senhor, mas não com absoluta sinceridade de coração. São adoradores que se esquecem de que o valor do culto que prestam a Deus está na disposição que existe nos seus corações. Um coração sincero é terreno propício para surgir um manancial Adoração e Louvor

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de cristalino louvor. Por acaso pode haver um melhor lugar para Deus habitar e manifestar a Sua glória do que o coração sincero de um adorador? Ali Deus estabelece o Seu tabernáculo. Sim, o coração que adora com sinceridade torna-se palco da glória divina. Antes de louvar ao Senhor, é bom estar apto para dizer: “Preparado está o meu coração, ó Deus, preparado está o meu coração; cantarei e salmodiarei” (Sl 57.7). A santificação também é um importante requisito em nosso culto ao Senhor, isto porque adoramos a um Deus Santo e nenhuma devoção a Ele é digna de ser prestada se não houver santidade. Como adoradores de um Deus Santo, necessitamos adorar em santidade. O progresso na nossa caminhada de louvor dependerá em muito da pureza existente em nossas vidas, pois o grau de santidade indica perfeitamente a extensão do nosso culto. Inegavelmente, é só quando nos colocamos sob a luz da santidade divina que passamos a emitir um puro louvor. O adorador deve separar-se das coisas profanas. Ele faz parte de um povo escolhido para adorar em santidade e a mistura com o mundo fará dele um adorador de falsos deuses, tal como aconteceu com Israel ao deter-se em Sitim (Nm 25.1-2). Adoração e santidade estão entrelaçadas por todas as páginas sagradas. Enquanto a adoração gera santidade e, consequentemente, nos leva para longe daquilo que pode nos distanciar de Deus, a santidade possibilita ser o nosso louvor perfeito e agradável diante dEle. E, simultaneamente, ao tributarmos ao Senhor uma santa adoração, Ele compartilha conosco da Sua própria santidade. Todo o louvor aos qualificativos divinos termina convergindo para a santidade de Deus. Foi meditando sobre os requisitos da adoração que Davi perguntou: “Quem subirá ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo?”. E ele mesmo responde: “Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Sl 24.3-4). Isto significa que, se desejamos render um culto agradável a Deus, teremos de estar dispostos a entrar no processo de santificação, cujas etapas envolvem o quebrantamento e a limpeza total de nosso homem interior. Só assim Deus será honrado com equidade. É tempo, pois, de saturarmos nossas vidas e nossos templos com uma adoração destituída de qualquer impureza. Sem dúvida, os que se prostram diante do trono de Deus devem andar  20

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com passos santos diante do mundo. Nenhum ato de adoração deve ser concretizado sem a devida companhia de uma entrega sem reservas de todo nosso ser àquele a quem veneramos. Nessa rendição o adorador faz a oferta de sua própria vida; ele se dá a Deus e tudo o que possui volta-se para o Senhor, ou seja: o seu ser passa a estar inteiramente focalizado em Deus, sem impor quaisquer condições. Jacó, o filho de Isaque e neto do patriarca Abraão, havia descoberto que o sucesso dos seus antepassados estava ligado a uma vida de contínua devoção a Deus. Assim, quando ele teve a oportunidade de dialogar com Deus, fez um voto dizendo que seria um fiel adorador desde que o Senhor lhe concedesse algumas bênçãos. Lamentavelmente, Jacó procurou condicionar sua devoção aos favores divinos. Ele colocou no mínimo seis condições para tornar-se um adorador. Permita-me parafrasear a sua proposta registrada em Gênesis 28.20-22: “Sabe, Senhor! Eu estou disposto a te adorar, se tu fores comigo, se me guardares nesta viagem que faço, eu hei de te magnificar. Os meus lábios irão te bendizer para sempre, se me deres o pão para comer. A minha alma se expressará com sacrifícios de gratidão, se não faltarem vestidos para eu vestir. Sim, Senhor! Somente tu serás o meu Deus e o único a quem renderei louvores, se em paz eu tornar para a casa de meu pai. E tenho mais uma proposta, Senhor! Olha, de tudo quanto me deres eu irei te adorar com a décima parte”. Jacó, o enganador, estava muito enganado. Deus não busca adoradores que queiram condicioná-Lo. Ele não pode ser condicionado, mesmo porque Jacó não levou muito a sério este voto; tanto que, após isso, ele ficou vinte anos sem sequer levantar um altar para louvar a Deus. Adoremos ao Senhor, mas não condicionemos o louvor a Ele a coisa alguma. Na verdade, o que Jacó estava querendo era negociar com Deus, porém o Todo-Poderoso não aceita barganhas. Não maquine em seu coração querer persuadir a Deus. A adoração requer uma entrega incondicional de tudo o que temos e somos. Em notável contraste com Jacó, está a história do paciente Jó. Embora humilde, era abastado, dono de um grande patrimônio, temente Adoração e Louvor

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a Deus e reto de coração. Mas, um dia, Jó começou a ver toda a sua riqueza sucumbir rapidamente: seus filhos perecerem, sua saúde o abandonou e até mesmo a sua esposa o desprezou. Entretanto, Jó era um adorador incondicional. As notícias de destruição e perdas continuaram chegando uma após a outra e, quando parecia que Jó não suportaria mais tamanha desventura, a Bíblia registra que “Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou” (Jó 1.20). Que diferença! Enquanto Jacó condicionou o seu louvor a uma lista de benefícios, Jó podia adorar sem reserva alguma. Habacuque também se assemelha a Jó, quando destaca que seu único propósito era adorar a Deus (Hc 3.17-18). Que assim seja conosco! Disse sabiamente um comentarista: “A fé é o culto mais perfeito que se pode oferecer a Deus”. A fé solidifica o louvor de tal forma que o adorador a possui como uma virtude indispensável para o seu culto a Deus. Por certo, toda impotência na adoração está em magnificar ao Senhor sem fé. O caminho do adorador é um caminho de fé. É ela que nos enche da certeza de que o nosso tributo será aceito por Deus. Porventura haverá louvor num coração onde não existe essa confiança? Na vida sem a presença de fé o silêncio tomará o lugar da adoração. Conforme as instruções do apóstolo Paulo aos irmãos de Roma, tudo o que é feito sem fé é abominável ao Senhor (Rm 14.23), e isto não exclui a adoração. A incredulidade nos afasta de Deus, mas a fé nos faz voar alto em direção Àquele que é digno de todo louvor. Possivelmente, foi observando esta grande conexão existente entre a adoração e a fé que alguém escreveu: “Há inúmeras maneiras de louvar a Deus, mas nenhuma delas é válida sem fé”. Afastar o louvor da fé é declarar falência à adoração.

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