Vereda Digital Literatura

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Ensino Médio

LITERATURA brasileira e portuguesa Professor, esta amostra apresenta algumas unidades do Vereda Digital Literatura. Nela, você poderá conhecer a estrutura da obra e o conteúdo programático desenvolvido para proporcionar aulas ainda mais dinâmicas e completas. A proposta pedagógica para Literatura valoriza a contextualização histórica dos movimentos literários. A literatura portuguesa é abordada como raiz da literatura brasileira e, mais adiante, destaca-se como a produção nacional desenvolveu características próprias. A interdisciplinaridade com História da Arte permite um estudo diferenciado, ampliando e enriquecendo o aprendizado do aluno.

LITERATURA brasileira e portuguesa douglas tufano

Cada disciplina da coleção apresenta um DVD com conteúdo complementar e exclusivo, tanto para alunos quanto para professores. Com objetos multimídia, atividades extras, vídeos com a visão de especialistas, biblioteca do estudante e muito mais, o processo de aprendizagem se torna mais dinâmico e interativo.

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Nossos consultores estão à sua disposição para fornecer mais informações sobre esta obra.

confira: • Sumário da obra • Uma seleção de conteúdos didáticos para análise do professor



Vereda Digital

Literatura brasileira e portuguesa Volume único

Douglas Tufano Licenciado em Letras (Português-Francês) e Pedagogia pela Universidade de São Paulo. Professor na rede pública e em escolas particulares do estado de São Paulo por 25 anos.

Livro acompanhado por um DVD.

1a edição

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© Douglas Tufano, 2012

Coordenação editorial: Áurea Regina Kanashiro Edição de texto: José Paulo Brait, Cecília Kinker Assistência editorial: Solange Scattolini Anotações em aula (LP): Fernando Cohen Coordenação de design e projetos visuais: Sandra Botelho de Carvalho Homma Projeto gráfico: Everson de Paula, Rafael Mazzari Capa: Everson de Paula Foto de capa: Murmur study, instalação de Christopher Baker para a Feira de Livros de Frankfurt de 2011, na Alemanha. A instalação consistia de 132 impressoras térmicas conectadas a um computador, com um software que coletava mensagens do Twitter que continham palavras-chave associadas a tópicos como diálogo, ideias, literatura. © Arne Dedert/dpa/Corbis/Latinstock Coordenação de produção gráfica: André Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues Coordenação de arte: Maria Lucia Couto, Tais Nakano Edição de arte: Rodolpho de Souza Ilustrações: Alex Lutkus, Andréa Vilela, Andre Toma, Carlos Caminha, Daniel Bueno, Orlandeli, Walter Vasconcelos, Weberson Santiago Cartografia: Alessandro Passos da Costa, Anderson de Andrade Pimentel, Fernando José Ferreira Editoração eletrônica: APIS design integrado, Edivar Goularth Coordenação de revisão: Elaine Cristina del Nero Revisão: Alexandra Costa, Ana Paula Luccisano, Luís M. Boa Nova, Maiza P. Bernardello, Viviane T. Mendes Pesquisa iconográfica: Mônica de Souza As imagens identificadas com a sigla CID foram fornecidas pelo Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna. Coordenação de bureau: Américo Jesus Tratamento de imagens: Arleth Rodrigues, Bureau São Paulo, Fabio N. Precendo, Rodrigo Fragoso, Rubens M. Rodrigues, Wagner Lima, Marina Mantovanni Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira Silva, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Tufano, Douglas Literatura brasileira e portuguesa, volume único / Douglas Tufano. – 1. ed. – São Paulo: Moderna, 2012. Bibliografia 1. Literatura brasileira (Ensino médio) 2. Literatura portuguesa (Ensino médio) I. Título 11-08970

CDD-869.907 -869.07

Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura brasileira: Ensino médio 869.907 2. Literatura portuguesa: Ensino médio 869.07 978-85-16-07195-0 (LA) 978-85-16-07196-7 (LP) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2012 Impresso na China 1 3 5 7 9 10 8 6 4 2

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Apresentação

O objetivo desta obra é oferecer a professores e alunos um rico e diversificado material de apoio para o curso de literatura brasileira e portuguesa. Para tanto, apresentamos um grande número de textos acompanhados de atividades de leitura e análise, além de propostas de exercícios individuais e em grupo. Os textos foram cuidadosamente selecionados a fim de tornar a utilização desta obra um estímulo ao desenvolvimento do hábito da leitura. Enfatizamos a relação entre o contexto histórico e cultural e os movimentos literários. Estudamos a literatura portuguesa sobretudo em função de sua importância como raiz da literatura brasileira, procurando mostrar como, aos poucos, nossa produção literária foi adquirindo características próprias. Para enriquecer e complementar o estudo da literatura, vários painéis de história da arte possibilitam perceber as relações que a tradição literária mantém com o contexto artístico em que se desenvolve. Sugestões de sites, filmes e livros complementam o estudo dos movimentos literários, e seções especiais de revisão oferecem numerosos exercícios sobre o conteúdo estudado. No DVD de apoio pedagógico, professores e alunos encontrarão várias seções que vão enriquecer o trabalho em sala de aula, como banco de questões de vestibulares e do Enem, trechos de filmes de cinema que se relacionam com os conteúdos estudados, vídeos sobre os movimentos literários e sobre a história da arte, áudios com leitura de textos literários. Além disso, tópicos especiais com trechos de alguns dos mais importantes livros da literatura universal são apresentados em diálogo com os movimentos literários estudados. Especificamente para o professor há seções especiais, como textos de capacitação teórica, mapas conceituais, etc. Esse DVD contém um rico material de apoio pedagógico que permitirá a professores e alunos um trabalho multidisciplinar e diferenciado no estudo da literatura brasileira e portuguesa. Esperamos que este livro ajude a transformar as aulas de literatura em momentos de grande enriquecimento cultural.

O autor

Dedicatória Para a Célia, minha esposa, e para as nossas filhas Fabiana, Renata e Cláudia, com muito amor.

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Organização do livro A obra Literatura brasileira e portuguesa, da coleção Vereda Digital, está organizada em três partes e 35 capítulos. Além de contar com um resumo no final de cada parte, apresenta inúmeras questões de revisão, estrategicamente distribuídas ao longo do livro, e um vocabulário de termos literários.

Leitura Análise de textos representativos de cada estética literária.

Diálogo com a pintura Quadros famosos dialogam com o movimento literário em estudo.

Contextualização histórica O movimento literário contextualizado histórica e culturalmente.

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Intertextualidade Abordagem do texto em sua relação com textos de outras épocas.

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Painel de história da arte comentado Onze painéis temáticos ilustram a história da arte.

Como encontrar um objeto digital indicado na remissão:

Visão do especialista Nome da pasta A remissão para o DVD indica a pasta do objeto digital: Visão do especialista, Biblioteca do estudante, Conteúdo multimídia ou Lista de exercícios.

• O ícone Visão do especialista:

Visão do especialista

Boxes biográficos, informativos e de hiperlink complementam e enriquecem o conteúdo de cada capítulo.

Faz remissão para questões-modelo de vestibulares.

• O ícone Biblioteca do estudante:

Biblioteca do estudante

Faz remissão para o capítulo sobre literatura africana de língua portuguesa, a seção “Encontro com a literatura estrangeira” e sugestões de sites.

• O ícone Conteúdo multimídia: Vale a pena No final de cada capítulo, sugestões de livros, filmes, músicas e sites.

Conteúdo multimídia

Faz remissão para vídeo, leitura de texto literário, painel de história da arte comentado e apresentação do estilo literário.

• O ícone Lista de exercícios:

Lista de exercícios

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Faz remissão para atividades adicionais sobre os conteúdos dos capítulos, com resposta.

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Organização do DVD Ao abrir o DVD, você encontrará o menu com a lista de pastas disponíveis para sua navegação. Cada pasta traz conteúdos específicos relacionados aos trabalhos desenvolvidos no livro-texto. Observe o mapa de navegação de seu DVD:

Literatura brasileira e portuguesa DVD-ROM

Visão do especialista

Biblioteca do estudante

Conteúdo multimídia

Lista de exercícios

Ferramentas digitais: como usar

Vídeo

Questões

Leitura de texto literário

Respostas

Sugestões de sites

Literatura africana de língua portuguesa

Encontro com a literatura estrangeira

Painel de história da arte comentado

Apresentação do estilo literário

Visão do especialista Apresenta os principais tipos de formulação de questões de vestibulares e sugere estratégias para sua resolução.

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Conteúdo multimídia deste DVD: vídeos, leitura de textos literários, painéis de história da arte comentados, apresentação dos estilos literários.

Vídeo.

Biblioteca do estudante Apresenta um capítulo especial sobre literatura africana de língua portuguesa; a seção “Encontro com a literatura estrangeira”; orientações sobre como usar determinadas ferramentas digitais; sugestões de sites.

Painel de história da arte comentado.

Lista de exercícios Apresenta atividades adicionais sobre o conteúdo do livro, com respostas à parte.

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Apresentação do estilo literário.

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Conteúdo do DVD Visão do especialista Biblioteca do estudante Ferramentas digitais: como usar • • • • • • • • • •

Excel 2010 Firefox Google Google Earth 6 Google Maps iGeom Internet Explorer 9 PowerPoint 2010 WinPlot Word 2010

Sugestões de sites • Bibliotecas e acervos virtuais • História, cultura e literaturas dos países de língua portuguesa • Instituições culturais e museus • Literatura brasileira • Literatura portuguesa • Revistas acadêmicas

Literatura africana de língua portuguesa Encontro com a literatura estrangeira

Conteúdo multimídia Vídeo • • • • • • • • • • • • •

1492 – A conquista do paraíso, de Ridley Scott, 1992 A missão, de Roland Joffé, 1986 Amistad, de Steven Spielberg, 1997 A odisseia, de Andrei Konchalovsky, 1997 As mil e uma noites, de Steve Barron, 2000 Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, 1997 Hans Staden, de Luiz Alberto Pereira, 2000 Júlio César, de Joseph Mankiewicz, 1953 Morte e vida severina, de Walter Avancini, 1981 O auto da compadecida, de Guel Arraes, 1999 O Conde de Monte Cristo, de David Greene, 1975 O enfermeiro, de Mauro Farias, 1999 O grande ditador, de Charles Chaplin, 1936

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O nome da rosa, de Jean-Jacques Annaud, 1986 Os miseráveis, de Billie August, 1998 Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli, 1968 Sede de viver, de Vincent Minnelli, 1956 Shakespeare apaixonado, de John Madden, 1998 Tempos modernos, de Charles Chaplin, 1936 Tristão e Isolda, de Kevin Reynolds, 2006 Troia, de Wolfgang Petersen, 2004

Leitura de texto literário • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Adeus, meus sonhos (Álvares de Azevedo) Alma minha gentil que te partiste (Camões) Amor é fogo que arde sem se ver (Camões) A morte de Lindoia (Basílio da Gama) As pombas (Raimundo Correia) Buscando a Cristo (Gregório de Matos) Canção do exílio (Gonçalves Dias) Cântico negro (José Régio) Cantiga alheia (Camões) Choro de vagas (Alberto de Oliveira) Coroai-me de rosas (Fernando Pessoa) Crucifixo de Ouro Preto (Murilo Mendes) Enfim, para que os pregadores saibam (Padre Vieira) Eterna mágoa (Augusto dos Anjos) Inania verba (Olavo Bilac) Ismália (Alphonsus de Guimaraens) Lira XIV – Minha bela Marília (Tomás Antônio Gonzaga) Lisboa revisitada (Fernando Pessoa) Mar português (Fernando Pessoa) Meus oito anos (Casimiro de Abreu) Não vês, Nise (Cláudio Manuel da Costa) Navegava Alexandre... (Padre Vieira) Navio negreiro (trecho) (Castro Alves) O canto do guerreiro (Gonçalves Dias) Ofendido vos tem minha maldade (Gregório de Matos) O guardador de rebanhos (Fernando Pessoa) Olha, Marília (Bocage) O sino da minha aldeia (Fernando Pessoa) Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos) Quem se vê maltratado (Bocage) Só Deus sabe (Werther) Tão cedo passa tudo (Fernando Pessoa) Triste fim de Policarpo Quaresma (trecho 2) (Lima Barreto) Verdes mares (José de Alencar) Versos íntimos (Augusto dos Anjos) Violões que choram (Cruz e Sousa)

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Painel de história da arte comentado 1. O teatro grego 2. Idade Média 3. Renascimento 4. Barroco 5. Neoclassicismo 6. Romantismo 7. Realismo 8. Impressionismo e Pós-Impressionismo. A escultura de Rodin 9. Expressionismo e Fauvismo 10. Cubismo, Futurismo e Abstracionismo 11. Dadaísmo e Surrealismo

Apresentação do estilo literário 1. Trovadorismo 2. Classicismo 3. Literatura informativa e jesuítica 4. Barroco 5. Arcadismo 6. Romantismo 7. Realismo / Naturalismo 8. Parnasianismo / Simbolismo 9. Pré-Modernismo 10. Modernismo em Portugal 11. Modernismo no Brasil 12. Literatura brasileira depois de 1945

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Lista de exercícios Parte I • Trovadorismo • Humanismo e Classicismo • Barroco • Arcadismo • Conteúdo geral da parte 1

Parte 2 • Romantismo • Realismo e Naturalismo • Parnasianismo e Simbolismo • Conteúdo geral da parte 2

Parte 3 • Portugal: Modernismo. • Brasil: Pré-Modernismo e Modernismo (1922-1945) • Conteúdo geral da parte 3

Conteúdo geral Respostas dos exercícios

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Sumário do livro Parte 1 Capítulo 1 Arte, linguagem e literatura

17 18

Arte e linguagem --------------------------------------------------- 19 A palavra literária -------------------------------------------------- 19 Denotação e conotação ------------------------------------------ 19 A conotação nos provérbios --------------------------------- 21

Capítulo 4 Gêneros literários (III) – Dramático 53 Gênero dramático – o espetáculo teatral ------------------ 54 Formas importantes de expressão dramática ----------- 56 Encontro com a literatura estrangeira: Sófocles – Antígona ----------------------------------------------- 56 Vale a pena ----------------------------------------------------------- 57

Painel de história da arte 1 – O teatro grego------------- 58

A expressão literária ---------------------------------------------- 22 A liberdade da linguagem literária --------------------------- 24 Diálogo entre textos ------------------------------------------- 25 Literatura oral e escrita------------------------------------------ 27 As mil e uma noites -------------------------------------------- 27 Vale a pena ----------------------------------------------------------- 30

Capítulo 5 Estilos literários

60

O estilo na arte------------------------------------------------------ 61 O estilo na literatura ---------------------------------------------- 62 Os estilos literários ao longo do tempo--------------------- 64 Classificação dos estilos literários --------------------------- 64

Capítulo 2 Gêneros literários (I) – Épico

31

Gênero épico – as façanhas de um herói------------------- 32 O gênero épico e as formas narrativas em prosa -------------------------------------------------------------- 33 Elementos de uma narrativa literária ----------------------- 34 Narrador ----------------------------------------------------------- 36 Personagens ------------------------------------------------------ 37 Enredo -------------------------------------------------------------- 37 Tempo --------------------------------------------------------------- 37 Espaço -------------------------------------------------------------- 38

Vale a pena ----------------------------------------------------------- 65

Questões para revisão 1 ------------------------------------------ 66

Capítulo 6 A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

69

A produção literária em Portugal ----------------------------- 70 Canções de amor antigas e modernas---------------------- 70 O Trovadorismo galego-português---------------------------- 71

A fábula ---------------------------------------------------------------- 38 As fábulas de Esopo-------------------------------------------- 39

Classificação das cantigas -------------------------------------- 73 Cantigas de amigo ---------------------------------------------- 73 Cantigas de amor ----------------------------------------------- 75

Tipos de discurso --------------------------------------------------- 40 Discurso direto e discurso indireto------------------------ 40 Discurso indireto livre ----------------------------------------- 41

Intertextualidade --------------------------------------------------- 78 As cantigas de escárnio e de maldizer ------------------ 79 Os cancioneiros ----------------------------------------------------- 80

Vale a pena ----------------------------------------------------------- 42

A importância da poesia trovadoresca ---------------------- 81 Trovadorismo e literatura de cordel ---------------------- 82 Vale a pena ----------------------------------------------------------- 85

Capítulo 3 Gêneros literários (II) – Lírico

43

Painel de história da arte 2 – Idade Média---------------- 86

O gênero lírico a expressão plena do “eu” -------------------------------------- 44 Um texto lírico em prosa ---------------------------------------- 44 Recursos poéticos: ritmo, metro e rima ----------------------------------------------- 45

Capítulo 7 A primeira época medieval (II) – Novelas de cavalaria

92

Rimas ricas e rimas pobres ------------------------------------ 49

Um mundo de heróis, donzelas e perigos------------------ 93 Amadis de Gaula: uma história de amor e violência------------------------------------------------- 93

Classificação das estrofes -------------------------------------- 50

Os cavaleiros medievais na vida real ------------------------ 94

A liberdade formal da poesia moderna --------------------- 5 1

Novelas de cavalaria: ciclos e importância literária ---- 96

Vale a pena ----------------------------------------------------------- 52

Encontro com a literatura estrangeira:

Tipos de verso ------------------------------------------------------- 46

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Cervantes – Dom Quixote----------------------------------------- 97 Vale a pena------------------------------------------------------------ 97

Capítulo 8 A segunda época medieval (I) – Humanismo: crônicas e poesia

98

O Humanismo: um novo olhar sobre a vida humana------------------------- 99 Os humanistas--------------------------------------------------- 99 Em Portugal, começa a dinastia de Avis com D. João I------------------------------------------ 100 Fernão Lopes: o melhor cronista português medieval ---- 101 A nova poesia------------------------------------------------------- 103 O Cancioneiro geral----------------------------------------------- 103 Características gerais---------------------------------------- 104 Intertextualidade-------------------------------------------------- 105 Diálogo com a pintura: Jan van Eyck – O casal Arnolfini------------------------------ 106 Encontro com a literatura estrangeira: Chaucer – Os contos de Canterbury------------------------ 108

O desenvolvimento científico---------------------------------- 132 Uma época de violência e crises religiosas--------------- 133 Encontro com a literatura estrangeira: Thomas Morus – A Utopia----------------------------------- 134 Shakespeare – Júlio César---------------------------------- 134 Um novo gênero musical: a ópera--------------------------- 134 Vale a pena---------------------------------------------------------- 135

Painel de história da arte 3 – Renascimento----------- 136

Capítulo 11 O Classicismo

140

O Classicismo em Portugal-------------------------------------- 141 Luís de Camões: poeta e soldado----------------------------- 141 A poesia lírica de Camões----------------------------------- 142 A poesia épica de Camões: Os lusíadas---------------- 145 Intertextualidade-------------------------------------------------- 156 Diálogo com a pintura: Ticiano – Baco e Ariadne-------- 157 Vale a pena---------------------------------------------------------- 158

Questões para revisão 2---------------------------------------- 159

Vale a pena---------------------------------------------------------- 108

Capítulo 9 A segunda época medieval (II) – Humanismo: o teatro de Gil Vicente

Capítulo 12 Brasil: literatura informativa e jesuítica 109

O palco é o mundo------------------------------------------------- 110 O teatro medieval-------------------------------------------------- 112 Tipos de peças--------------------------------------------------- 113 Gil Vicente e o teatro em Portugal---------------------------- 114 A crítica social---------------------------------------------------- 114 Auto da barca do inferno: o julgamento da sociedade portuguesa-------------------------------------------- 114 Diálogo com a pintura: Hieronymus Bosch – A morte do avarento---------------------------------------------- 119 Intertextualidade--------------------------------------------------- 119 A commedia dell’arte e a profissionalização da arte teatral------------------------------------------------------- 127 Vale a pena---------------------------------------------------------- 128

Capítulo 10 O Renascimento – Uma revolução cultural

129

O homem no centro do universo----------------------------- 130 A nova arte----------------------------------------------------------- 131

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A literatura informativa----------------------------------------- 163 A carta de Pero Vaz de Caminha-------------------------- 163 Intertextualidade-------------------------------------------------- 168 O índio e o europeu: duas visões de mundo------------- 169 A literatura jesuítica---------------------------------------------- 172 O papel da arte na catequese------------------------------- 172 A “língua geral”-------------------------------------------------- 172 José de Anchieta------------------------------------------------ 173 Diálogo com a pintura: Dürer e Vasco Fernandes – Adoração dos reis magos--------------------------------------- 176 Encontro com a literatura estrangeira: Hans Staden – Duas viagens ao Brasil---------------------- 177 Vale a pena----------------------------------------------------------- 177

Capítulo 13 O Barroco – Gregório de Matos e Padre Vieira

178

Entre o céu e o inferno------------------------------------------- 179 A palavra barroco---------------------------------------------- 180 Um momento histórico conturbado------------------------- 180 Carpe diem: aproveita o dia presente------------------- 180 A linguagem barroca------------------------------------------- 181

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O Barroco em Portugal------------------------------------------- 181

Vale a pena---------------------------------------------------------- 193

Origens e características gerais da literatura romântica----------------------------------------- 232 Rousseau: um percursor do Romantismo------------- 233 Um novo público para a literatura--------------------------- 234 A literatura e as mulheres---------------------------------- 234 Um mundo em mudança--------------------------------------- 235 As colônias buscam a independência------------------- 235 Diálogo com a pintura: Eugene Delacroix – Liberdade guiando o povo---------- 236 A nova relação entre público e artista--------------------- 237 O preço da liberdade artística----------------------------- 238 A nova linguagem amorosa na vida real--------------- 238 Encontro com a literatura estrangeira: Goethe – Os sofrimentos do jovem Werther------------- 239 Vale a pena---------------------------------------------------------- 239

Painel de história da arte 4 – Barroco--------------------- 194

Painel de história da arte 6 – Romantismo-------------- 240

Diálogo com a pintura: Juan de Valdés Leal – Alegoria da morte------------------ 182 O Barroco no Brasil----------------------------------------------- 183 Gregório de Matos: o “Boca do Inferno”------------------- 184 Poesia satírica-------------------------------------------------- 185 Poesia religiosa------------------------------------------------- 185 Poesia amorosa------------------------------------------------ 186 Intertextualidade--------------------------------------------------- 187 A importância da oratória--------------------------------------- 187 O impacto emocional na escultura barroca----------- 188 Antônio Vieira------------------------------------------------------- 188 Encontro com a literatura estrangeira: Molière – O burguês fidalgo------------------------------------ 193

Capítulo 14 O Arcadismo

198

Um novo estilo poético------------------------------------------ 199 Temas da poesia árcade------------------------------------- 200 O Arcadismo em Portugal-------------------------------------- 200 A poesia de Bocage-------------------------------------------- 200 Uma época de agitação filosófica: o Iluminismo-------- 203 A Enciclopédia--------------------------------------------------- 203 “Ouse saber”---------------------------------------------------- 203 A importância dos jornais e dos cafés------------------ 204 O Iluminismo em Portugal-------------------------------------- 205 O Arcadismo no Brasil------------------------------------------- 206 O perigo de ousar saber------------------------------------- 206 As academias--------------------------------------------------- 207 Tomás Antônio Gonzaga------------------------------------- 207 Cláudio Manuel da Costa------------------------------------- 209 Basílio da Gama------------------------------------------------ 2 1 1 Encontro com a literatura estrangeira: Jonathan Swift – Viagens de Gulliver----------------------- 213 Vale a pena---------------------------------------------------------- 213

Painel de história da arte 5 – Neoclassicismo--------- 214 Questões para revisão 3---------------------------------------- 218 Resumo 1 – Do Trovadorismo ao Arcadismo------------- 222

Parte 2 Capítulo 15 O Romantismo - Introdução

229 230

O triunfo da paixão e do sentimento----------------------- 231

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Capítulo 16 O Romantismo em Portugal

244

Disputas políticas em Portugal------------------------------- 245 A renovação literária: surge o Romantismo-------------- 245 Alexandre Herculano--------------------------------------------- 246 Eurico, o presbítero: o drama do misterioso cavaleiro negro--------------------------------- 246 Almeida Garrett: poeta e prosador-------------------------- 248 Camilo Castelo Branco------------------------------------------- 250 Amor de perdição: uma tragédia romântica---------- 250 Júlio Dinis------------------------------------------------------------ 254 As pupilas do senhor reitor: a felicidade no ambiente campestre-------------------- 254 João de Deus: o melhor poeta romântico----------------- 256 Encontro com a literatura estrangeira: William Shakespeare – Romeu e Julieta------------------- 257 Vale a pena---------------------------------------------------------- 257

Capítulo 17 O Romantismo no Brasil Introdução

258

Leitores do século XIX------------------------------------------- 259 Emoção e sentimentalismo-------------------------------- 260 O Nacionalismo como projeto------------------------------ 260 A carta de Caminha, o Nacionalismo e o Indianismo---- 264 A importância da vinda de D. João VI----------------------- 265 Imprensa, censura e liberdade---------------------------- 265 O nascimento dos folhetins no Brasil------------------- 266 Artistas franceses no Rio de Janeiro-------------------- 267

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Diálogo com a litografia: Debret e a sociedade brasileira -------------------------------- 267

Castro Alves e a terceira geração romântica------------ 312

Encontro com a literatura estrangeira: Alexandre Dumas – O conde de Monte Cristo------------ 268

Diálogo com a pintura: Paul Harro-Harring – Inspeção de negras...-------------- 316

Vale a pena---------------------------------------------------------- 268

Intertextualidade--------------------------------------------------- 317

Sousândrade: um caso à parte---------------------------- 310

O Romantismo e a literatura de horror-------------------- 319

Capítulo 18 O Romantismo no Brasil Prosa (I)

269

Encontro com a literatura estrangeira: Musset –“Chanson”----------------------------------------------- 320 Vale a pena---------------------------------------------------------- 320

A prosa romântica------------------------------------------------ 270 Joaquim Manuel de Macedo------------------------------------ 270 A Moreninha: as travessuras do amor------------------ 270 Manuel Antônio de Almeida------------------------------------ 273 Memórias de um sargento de milícias: a vida de um malandro carioca--------------------------- 273 Diálogo com a litografia: Rugendas – Imagens do Brasil------------------------------- 276 Bernardo Guimarães--------------------------------------------- 277 O seminarista: um romance contra o celibato religioso-------------------------------------------- 277 A escrava Isaura: o amor contra a escravidão------- 279 Maria Firmina dos Reis------------------------------------------ 282 Úrsula: a humanização do escravo---------------------- 283 Visconde de Taunay---------------------------------------------- 284 Inocência: amor e tragédia no sertão------------------- 284

Capítulo 21 O Romantismo no Brasil – Teatro 321 O drama: uma nova ideia em cena---------------------------- 322 O teatro no Brasil------------------------------------------------- 323 João Caetano e a arte dramática brasileira----------- 323 Principais dramaturgos do Romantismo--------------- 324 Martins Pena – O juiz de paz na roça----------------------- 325 Encontro com a literatura estrangeira: Gogol – O inspetor geral---------------------------------------- 340 Vale a pena---------------------------------------------------------- 340

Questões para revisão 4---------------------------------------- 341

A família Agulha: humor e paródia-------------------------- 287

Capítulo 22 O Realismo e o Naturalismo em Portugal

Encontro com a literatura estrangeira: Mark Twain – Humor e sátira---------------------------------- 290

O Realismo: uma nova visão da realidade------------------- 346

345

Vale a pena---------------------------------------------------------- 290

A literatura realista: denúncia e combate ------------------ 347 A vida nas cidades industriais: poluição, miséria e violência -------------------------------- 347

Capítulo 19 O Romantismo no Brasil Prosa (II) - José de Alencar

Diálogo com a pintura: Gustave Courbet – Quebradores de pedras ---------------- 348 Socialismo, darwinismo e positivismo: um caldeirão de novos conceitos -------------------------- 349 O Naturalismo --------------------------------------------------- 350

291

O mais importante prosador do nosso Romantismo----- 292 Iracema: a virgem dos lábios de mel-------------------- 293 Diálogo com a arte indígena: pintura corporal e arte plumária----------------------------- 298 Senhora: o preço do amor---------------------------------- 299 Encontro com a literatura estrangeira: J. F. Cooper – O último dos moicanos ---------------------- 302 Vale a pena---------------------------------------------------------- 302

Capítulo 20 O Romantismo no Brasil - Poesia 303 Gonçalves Dias e a primeira geração romântica------- 304 Álvares de Azevedo e a segunda geração romântica------ 306

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O Realismo português -------------------------------------------- 352 As Conferências Democráticas ----------------------------- 353 Eça de Queirós ----------------------------------------------------- 353 O primo Basílio -------------------------------------------------- 353 O crime do padre Amaro ------------------------------------- 356 A poesia realista---------------------------------------------------- 359 Antero de Quental ---------------------------------------------- 360 Encontro com a literatura estrangeira: Gustave Flaubert – Madame Bovary------------------------ 361 Vale a pena---------------------------------------------------------- 361

Painel de história da arte 7 – Realismo------------------- 362

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Capítulo 23 O Realismo e o Naturalismo no Brasil

Origens e características gerais do Parnasianismo------ 421

364

O Parnasianismo no Brasil--------------------------------------- 422 Olavo Bilac -------------------------------------------------------- 422

Brasil: 1880-1900-------------------------------------------------- 365 Quem lê literatura?--------------------------------------------- 365

Simbolismo: sugestão, mistério e musicalidade---------- 425

Principais autores e obras do Realismo---------------------- 366

O Simbolismo no Brasil ------------------------------------------ 427 Por que o Simbolismo não suplantou o Parnasianismo? ---------------------------------------------- 427 Cruz e Sousa----------------------------------------------------- 428 Alphonsus de Guimaraens ----------------------------------- 428

Aluísio Azevedo----------------------------------------------------- 366 O cortiço: “viveiro de larvas sensuais”-------------------- 366 O mulato: uma feroz crítica social-------------------------- 373 Diálogo com a pintura: Modesto Brocos – A redenção de Cã-------------------------- 377 Raul Pompeia-------------------------------------------------------- 378 O Ateneu: realismo e sátira---------------------------------- 378 Vale a pena---------------------------------------------------------- 381

Origens e características gerais do Simbolismo ---------- 427

Diálogo com a pintura: Maurice Denis – Procissão sob as árvores; Edward Burne-Jones – Noite -------------- 430 Augusto dos Anjos: um poeta original ----------------------- 431 Uma linguagem poética muito diferente------------------ 431 Encontro com a literatura estrangeira: Charles Baudelaire – Os olhos dos pobres ------------------ 433

Capítulo 24 Machado de Assis

382

Vale a pena --------------------------------------------------------- 433

Joaquim Maria Machado de Assis ----------------------------- 383

Painel de história da arte 8 – Impressionismo e Pós-Impressionismo. A escultura de Rodin --------------- 434 Questões para revisão 6------------------------------------------ 438 Resumo 2 – Do Romantismo ao Simbolismo-------------- 444

Romances------------------------------------------------------------ 383 Memórias póstumas de Brás Cubas: uma impiedosa análise do comportamento humano----------------------------------- 384 Dom Casmurro: uma história de amor e traição?------------------------- 387 Quincas Borba: “ao vencedor as batatas!”--------------- 393 Contos----------------------------------------------------------------- 397 O enfermeiro----------------------------------------------------- 397

Parte 3 Capítulo 27 O Modernismo em Portugal

449 450

Questões para revisão 5---------------------------------------- 405

O início do século XX na Europa------------------------------ 451 A ciência transforma o mundo---------------------------- 451 A Primeira Guerra Mundial---------------------------------- 452 O fim de modelos e padrões-------------------------------- 452 Cada artista cria suas próprias concepções de arte-------------------------------------------- 453

Capítulo 25 O teatro no final do século XIX 408

A estética modernista portuguesa-------------------------- 454 A revista Orpheu----------------------------------------------- 454 Fernando Pessoa ---------------------------------------------- 455

A linguagem machadiana---------------------------------------- 402 Encontro com a literatura estrangeira: Edgar Allan Poe – O coração delator-------------------------- 404 Vale a pena---------------------------------------------------------- 404

O panorama teatral------------------------------------------------ 409 As comédias de França Jr. e Artur Azevedo-------------- 409 Como se fazia um deputado: uma sátira aos costumes políticos------------------------ 409 Vale a pena --------------------------------------------------------- 418

Diálogo com a pintura: Luigi Russolo – Dinamismo de um carro ----------------------------------------- 460 A revista Presença--------------------------------------------- 461 A geração neorrealista--------------------------------------- 461 Os vários caminhos da modernidade----------------------- 461 José Saramago------------------------------------------------- 461 Encontro com a literatura estrangeira: Erich Maria Remarque – Nada de novo no front ---------- 463

Capítulo 26 A poesia no final do século XIX Parnasianismo e Simbolismo 419 Parnasianismo: a valorização da forma---------------------- 420

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Vale a pena -------------------------------------------------------- 463

Painel de história da arte 9 – Expressionismo e Fauvismo------------------------------------- 464

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Capítulo 28 O Pré-Modernismo no Brasil

468

A literatura descobre um outro Brasil---------------------- 469 Um país que cresce com muitos problemas---------- 469 Euclides da Cunha------------------------------------------------ 470 Os sertões: a denúncia do crime de Canudos-------- 471 Lima Barreto-------------------------------------------------------- 476 Triste fim de Policarpo Quaresma: as ilusões de um patriota----------------------------------- 476 Monteiro Lobato---------------------------------------------------- 481 Jeca Tatu e Zé Brasil------------------------------------------ 486 Encontro com a literatura estrangeira: Anton Tchekhov – Um mestre do conto --------------------- 488 Vale a pena --------------------------------------------------------- 489

Painel de história da arte 10 – Cubismo, Futurismo e Abstracionismo----------------------- 490

Capítulo 29 O Modernismo no Brasil Primeira fase

494

As duas fases do Modernismo-------------------------------- 495 Ideias modernistas antes de 1922------------------------- 496 O “caso” Anita Malfatti----------------------------------------- 496 Brecheret e o triunfo da modernidade-------------------- 498 A Semana de Arte Moderna de 1922----------------------- 500 A crítica à linguagem parnasiana--------------------------- 504 Grupos e tendências da primeira fase modernista----- 506 Movimento Pau-Brasil----------------------------------------- 506 Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta----------- 506 Movimento Antropofágico----------------------------------- 507 Diálogo com a pintura: A obra nacionalista de Tarsila do Amaral------------------ 507 Mário de Andrade-------------------------------------------------- 509 Macunaíma: “o herói sem nenhum caráter”----------- 509 Oswald de Andrade----------------------------------------------- 512 A poesia de Oswald de Andrade--------------------------- 512 A prosa de Oswald de Andrade: Memórias sentimentais de João Miramar--------------- 513 Manuel Bandeira--------------------------------------------------- 514 Antônio de Alcântara Machado-------------------------------- 516 Brás, Bexiga e Barra Funda--------------------------------- 516

Capítulo 30 O Modernismo no Brasil Segunda fase - Prosa

524

A prosa na segunda fase do Modernismo (1930-1945)---------------------------------- 525 Uma época conturbada-------------------------------------- 526 Rachel de Queiroz------------------------------------------------- 527 O Quinze: a triste realidade da seca--------------------- 527 Jorge Amado-------------------------------------------------------- 531 Terras do sem-fim: paixão e violência no sertão da Bahia------------------- 531 Capitães da areia: uma denúncia social---------------- 533 Graciliano Ramos-------------------------------------------------- 535 Vidas secas: o drama dos retirantes-------------------- 535 São Bernardo: a tragédia de um homem agreste------ 538 José Lins do Rego------------------------------------------------- 540 Fogo morto: um Nordeste em transformação-------------------------- 540 Erico Verissimo---------------------------------------------------- 544 Olhai os lírios do campo: os desencontros do amor----------------------------------- 544 Diálogo com a pintura: Pablo Picasso – Guernica------ 547 Encontro com a literatura estrangeira: George Orwell – 1984-------------------------------------------- 548 Vale a pena --------------------------------------------------------- 548 Questões para revisão 7------------------------------------------ 550

Capítulo 31 O Modernismo no Brasil Segunda fase - Poesia

558

A nova poesia------------------------------------------------------- 559 Cecília Meireles------------------------------------------------- 559 Vinicius de Moraes -------------------------------------------- 560 Carlos Drummond de Andrade----------------------------- 564 Diálogo com a pintura: Vincent van Gogh – Terraço de café à noite------------------------------------------ 566 Mario Quintana-------------------------------------------------- 567 Poesia popular: Patativa do Assaré---------------------- 568 Encontro com a literatura estrangeira: Pablo Neruda – Vinte poemas de amor e uma canção desesperada--------------------------------------------- 569 Vale a pena --------------------------------------------------------- 569

Encontro com a literatura estrangeira: Aldous Huxley – Admirável mundo novo------------------- 519 Vale a pena --------------------------------------------------------- 519

Painel de história da arte 11 – Dadaísmo e Surrealismo------------------------------------------ 520

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Capítulo 32 A prosa brasileira depois de 1945

570

Novos rumos para a prosa-------------------------------------- 571

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A análise psicológica e a tensão social--------------------- 571 Clarice Lispector – Uma amizade sincera--------------- 571 Dalton Trevisan – Uma vela para Dario----------------- 574 Marçal Aquino – A missão----------------------------------- 575 Diálogo com a pintura: Hopper e a solidão do homem moderno ------------------ 577 O regionalismo----------------------------------------------------- 578 Guimarães Rosa------------------------------------------------ 578 A crônica------------------------------------------------------------- 584 Encontro com a literatura estrangeira: Ray Bradbury – O pedestre------------------------------------ 587 Vale a pena ---------------------------------------------------------- 587

Capítulo 33 A poesia brasileira depois de 1945

Capítulo 34 O teatro brasileiro depois de 1945

603

O teatro moderno brasileiro----------------------------------- 604 Nelson Rodrigues – Vestido de noiva-------------------- 605 Ariano Suassuna – Auto da Compadecida------------- 611 Dias Gomes – O Bem-Amado------------------------------- 615 Encontro com a literatura estrangeira: Henrik Ibsen – Casa de bonecas----------------------------- 616 Vale a pena ---------------------------------------------------------- 616

588

Os novos caminhos da poesia-------------------------------- 589 João Cabral de Melo Neto------------------------------------ 589 Diálogo com a pintura: Miró e a liberdade de criação---------------------------------- 594 O Concretismo – Augusto de Campos, José Lino Grünewald------------------------------------------ 595 A poesia social – Ferreira Gullar-------------------------- 596

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Poetas contemporâneos – Cacaso, Adélia Prado, Affonso Romano de Sant’Anna, Manoel de Barros, Paulo Leminski------- 599 Vale a pena ---------------------------------------------------------- 602

Capítulo 35 Literatura africana de língua portuguesa

617

Questões para revisão 8------------------------------------------ 618 Resumo 3 – Brasil: século XX----------------------------------- 629

Pequeno vocabulário de termos literários------------ 634 Bibliografia----------------------------------------------------------- 639

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo

6

A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Conteúdo multimídia Apresentação do estilo literário: Trovadorismo.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

BriTish LiBrary, Londres

Na Idade Média, sempre havia música, tanto nas festas aristocráticas como nas populares. As cantigas trovadorescas surgiram nesses ambientes e constituem as mais antigas expressões poéticas da literatura portuguesa.

Iluminura em página da obra Romance da Rosa, de Guillaume der Lorris e Jean de Meung (c. 1490). Ambiente aristocrático, roupas elegantes e vistosas, música, trovadores, clima de amor e sedução são aspectos da arte poética e musical praticada entre os séculos XII e XV.

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

A produção literária em Portugal Para efeito didático, a literatura medieval portuguesa costuma ser dividida em dois períodos, assim delimitados: • 2a época – de 1418 a 1527 • 1a época – de 1198 a 1418 1198 – Data provável da primeira composição literária conhecida. 1418 – Fernão Lopes é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo. Em 1434, assume a função de cronista-mor do reino, introduzindo uma nova visão da história dos reis de Portugal. 1527 – De volta da Itália, o poeta Sá de Miranda introduz em Portugal as novas ideias do Renascimento, iniciando assim um novo movimento literário: o Classicismo. Literatura medieval – Quadro geral 2a época medieval (1418-1527)

Poesia

Trovadorismo (cantigas)

Poesia palaciana

Prosa

Novelas de cavalaria

Crônicas de Fernão Lopes

Teatro

Peças simples de cunho religioso e satírico

Peças de Gil Vicente

Canções de amor antigas e modernas Na Idade Média, o tema do amor encontrou expressão nas cantigas trovadorescas, que, reunindo música e poesia, podem ser consideradas as fontes mais antigas do lirismo em língua portuguesa. Atualmente, o amor continua a ser tema de muitas canções, mas as relações amorosas nelas expressas ganharam características e valores de nosso tempo. Compare, por exemplo, a letra de uma das canções mais famosas da música popular brasileira e os versos de uma cantiga medieval.

Leitura texto 1

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1a época medieval (1198-1418)

Carinhoso

Meu coração, não sei por quê, Bate feliz, quando te vê E os meus olhos ficam sorrindo E pelas ruas vão te seguindo Mas, mesmo assim, foges de mim. Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso E o muito e muito que eu te quero E como é sincero o meu amor Eu sei que tu não fugirias mais de mim Vem, vem, vem, vem, vem sentir o calor Dos lábios meus à procura dos teus Vem matar esta paixão Que me devora o coração e só assim Serei feliz, bem feliz. PIXINGUINHA & BARRO, João de. Carinhoso. O jovem Pixinguinha. Rio de Janeiro: EMI, 2003. 1 CD.

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

texto 2

[Cantiga medieval] Senhora minha, desde que vos vi, lutei para ocultar esta paixão que me tomou inteiro o coração; mas não o posso mais e decidi que saibam todos o meu grande amor, a tristeza que tenho, a imensa dor que sofro desde o dia em que vos vi.

Já que assim é, eu venho-vos rogar que queirais pelo menos consentir que passe a minha vida a vos servir, e que possa dizer em meu cantar que esta mulher, que em seu poder me tem, sois vós, senhora minha, vós, meu bem; graça maior não ousarei pedir. In: BERARDINELLI, Cleonice (Org.). Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Simões, 1953. p. 17. (Fragmento).

Glossário

Não o posso mais: não suporto mais. Pesa-me: causa-me pesar, dor. Crueza: crueldade. Rogar: implorar.

1. A situação amorosa cantada pelo eu lírico medieval tem pontos em comum com a situação cantada pelo eu lírico da canção “Carinhoso”? Explique.

2. O que o eu lírico da letra da canção de Pixinguinha deseja para ser feliz? 3. As expectativas do eu lírico da cantiga medieval são semelhantes a essas? Por quê? 4. Compare a maneira como o eu lírico de cada um dos textos se relaciona com a pessoa amada.

O Trovadorismo galego português Durante os séculos XII, XIII e XIV, desenvolveu-se o movimento poético conhecido por Trovadorismo. Nessa época, surgiram as cantigas, que eram poesias feitas para serem cantadas ao som de instrumentos musicais como a flauta, a viola, o alaúde e outros. O cantor dessas composições poéticas era comumente chamado de jogral, e o autor delas recebia o nome de trovador – daí a denominação dada a esse período.

A palavra trovador vem do antigo verbo trobar, que, por sua vez, deriva do provençal e significa “achar, encontrar”. O trovador era aquele que “encontrava” as palavras certas, que sabia rimar e compor com arte sua canção. Os trovadores compunham, cantavam e musicavam suas próprias cantigas. Muitos jograis certamente acompanhavam essas multidões. As cantigas trovadorescas eram cantadas em galego-português, língua falada naquela região. Só a partir do século XV, a língua portuguesa passou a se diferenciar do galego, adquirindo, no século XVI, a forma moderna.

The Bridgeman arT LiBrary/KeysTone – BiBLioTeca nacionaL, França

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Quando souberem que por vós sofri tamanha pena, pesa-me, senhora, que diga alguém, vendo-me triste agora, que por vossa crueza padeci, eu, que sempre vos quis mais que ninguém, e nunca me quisestes fazer bem, nem ao menos saber o que eu sofri.

[...]

Ilustração de Jean de Meung, c. 1490, extraída da obra Romance da Rosa. Nessa cena, trovadores tocam, enquanto damas e cavalheiros dançam.

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

O centro irradiador do Trovadorismo na península Ibérica foi a região que compreende o norte de Portugal e a Galiza. Nesta última, havia a catedral de Santiago de Compostela, famoso centro de peregrinação religiosa desde o século XI. Essas peregrinações atraíam muita gente e favoreciam o intercâmbio cultural. Ainda hoje, no dia de São Tiago (25 de julho), multidões de peregrinos comparecem à catedral para festejar.

A língua galega Ainda hoje, a língua galega apresenta muitas semelhanças com a língua portuguesa, como se observa no texto a seguir, que trata da divulgação de um livro. A tiragem desta primeira ediçom nom é mui grande. Por isso che recomendamos que o adquiras no nosso Centro Social ou nas livrarias em que será distribuído o antes possível, para nom ficares sem umha obra referencial para quem quer melhorar o seu galego escrito.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Disponível em: <http://www.agal-gz.org>. Acesso em: 8 jul. 2008.

Catedral de Santiago de Compostela, cuja construção foi iniciada em 1078 por Afonso IV, rei de Leão e Castela. Fotografia de 2006. FRANÇA

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Classificação das cantigas As cantigas trovadorescas costumam ser assim classificadas: Gênero lírico

Gênero satírico

Cantigas de amigo

Cantigas de escárnio

Cantigas de amor

Cantigas de maldizer

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cantigas de amigo Originárias da península Ibérica, as cantigas de amigo constituem a manifestação mais antiga e original do lirismo português. Nelas, o trovador procura traduzir os sentimentos femininos, falando como se fosse uma mulher. A palavra amigo, nessa época, significava namorado ou amante. Dirigindo-se diretamente ao homem ou conversando com a mãe ou as amigas, a mulher fala de seus problemas sentimentais, de suas expectativas amorosas, das saudades do amigo. Às vezes, procura um ambiente solitário e se desabafa com a natureza. É difícil perceber a beleza das cantigas sem a melodia que as acompanha, pois elas foram feitas para serem cantadas. São letras de canções e não textos para serem apenas lidos em silêncio. Ao ler, a seguir, a cantiga de amigo de D. Dinis, tente imaginar alguém cantando os versos e um coro entoando o refrão. Para que se percebam as rimas e o ritmo da cantiga, reproduzimos o texto na língua original (galego-português). Ao lado, apresentamos uma transcrição em português moderno.

Leitura – Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? ai, Deus, e u é?

– Ai, flores, ai flores do verde pinheiro, sabeis notícias do meu amigo? ai, Deus, onde está?

Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? ai, Deus, e u é?

Ai, flores, ai flores do verde ramo, sabeis notícias do meu amado? ai, Deus, onde está?

Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo? ai, Deus, e u é?

Sabeis notícias do meu amigo, aquele que não cumpriu o que combinou comigo? ai, Deus, onde está?

Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi á jurado? ai, Deus, e u é?

Sabeis notícias do meu amado, aquele que não cumpriu o que tinha jurado? ai, Deus, onde está?

– Vós me preguntades polo voss’amigo? E eu ben vos digo que é san’e vivo: ai, Deus, e u é?

– Vós me perguntais pelo vosso amigo? E eu bem vos digo que está são e vivo. ai, Deus, onde está?

Vós me preguntades polo voss’amado? E eu ben vos digo que é viv’e sano ai, Deus, e u é?

Vós me perguntais pelo vosso amado? E eu bem vos digo que está vivo e são. ai, Deus, onde está?

E eu ben vos digo que é san’e vivo, e será vosc’ant’o prazo saído: ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que está são e vivo e estará convosco antes de terminar o prazo. ai, Deus, onde está?

E eu ben vos digo que é viv’e sano, e será vosc’ant’o prazo passado: ai, Deus, e u é?

E eu bem vos digo que está vivo e são e estará convosco antes de passar o prazo. ai, Deus, onde está?

D. DINIS. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. p. 25.

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

1. Qual é a razão dos lamentos do eu lírico? 2. Com quem o eu lírico dialoga? 3. O que indicam os travessões que aparecem no início da primeira e da quinta estrofes? 4. O refrão era um recurso típico da poesia popular. a) Qual é o refrão nessa cantiga? b) Nas quatro primeiras estrofes, o que esse refrão representa? c) Nas quatro últimas estrofes, o refrão não tem o mesmo significado, mas cumpre uma importante função. Que função é essa?

5. Ao longo da cantiga, é possível observar a repetição ou a retomada de alguns versos que não fazem parte do refrão. Como é feita essa retomada?

– Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? – Vós me preguntades polo voss’amigo? E eu ben vos digo que é san’ e vivo. Vós me preguntades polo voss’amado? E eu ben vos digo que é viv’ e sano. D. DINIS. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. p. 25.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A personificação consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais.

Um importante recurso empregado nesse poema é a personificação. A natureza é apresentada como um ser capaz de dialogar com a mulher. Tal recurso é frequentemente usado nesse tipo de cantiga. Note que, em cada par de estrofes, temos praticamente os mesmos versos, ocorrendo apenas uma pequena alteração no final de cada um deles (troca por um sinônimo ou mudança na posição das palavras). Observe estas estrofes:

Esse recurso, marcante nas cantigas de amigo, é o paralelismo. Por isso, cantigas como a que você leu recebem o nome de paralelísticas. Outro aspecto que merece destaque e que você observou ao responder às questões é a retomada dos versos ao longo da cantiga. Esse jogo com os versos recebe o nome de leixa-pren, que quer dizer “deixa-toma”. Como podemos perceber, a cantiga de amigo trata de temas simples, mas que, graças à elaboração formal, ganham amplitude, evidenciando a riqueza de recursos poéticos dos trovadores medievais.

Tipos de cantigas de amigo Os assuntos abordados nas cantigas de amigo variam bastante e, por essa razão, podemos dividi-las em: • pastorelas – quando os personagens estão no campo ou são do meio rural; • romarias – quando é a procissão ou a festa religiosa que motiva a cantiga; • barcarolas ou marinhas – quando o assunto é sugerido pelo mar ou pela paisagem marítima; • bailias – quando o tema é dado pelas danças e pelos bailados.

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Diferentemente das cantigas de amigo, as cantigas de amor não são originárias da península Ibérica, mas da região de Provença, no sul da França atual. No século XI floresceu em Provença um rico movimento poético que se espalhou pelo restante da Europa. Os trovadores provençais eram considerados os melhores da época, e seu estilo passou a ser imitado em toda a parte. O rei-trovador português D. Dinis (1261-1325), por exemplo, expressa nos versos a seguir o desejo de fazer uma cantiga de amor à moda dos provençais. Veja também, logo abaixo, a transcrição dos versos em português moderno.

Provença, França 50°

Paris

FRANÇA

OCEANO ATLÂNTICO N O

L

Provença

S 210 km

MAR MEDITERRÂNEO

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas geográfico escolar. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.

Quer’eu en maneira de proençal fazer agora hun cantar d’amor e querrey muyt’i loar mia senhor, a que prez nem fremusura non fal.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Capítulo 6

Cantigas de amor

D. DINIS. Do cancioneiro de D. Dinis. São Paulo: FTD, 1995. p. 54. (Fragmento).

Nessa época, a palavra senhor era usada tanto para referir-se ao homem como à mulher.

Quero eu à maneira de um provençal fazer agora um cantar d’amor e quererei muito louvar minha senhora, a quem mérito nem formosura não faltam.

Fruto do ambiente aristocrático das cortes palacianas, as cantigas líricas provençais expressam o amor do trovador pela dama, muitas vezes uma mulher casada, que aparece sempre em posição superior, aristocrática e distante. O trovador é alguém que implora sua atenção, não escondendo, por trás das sutilezas da linguagem, todo o erotismo do desejo amoroso. Na península Ibérica, porém, o erotismo dos trovadores provençais não se manifesta tão claramente. O idealismo cristão peninsular, que aproximava a mulher à figura da Virgem Maria, fez com que o aspecto sensual do relacionamento entre o trovador e a dama não fosse tão enfatizado, destacando-se então o sofrimento do homem e sua submissão diante da amada.

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Tradução de Douglas Tufano.

WEYDEN, Rogier van der. Retrato de uma jovem, c. 1435. Óleo sobre madeira de carvalho, 47 x 32 cm.

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O relacionamento entre a dama e o trovador, aliás, tem correspondência no relacionamento entre o senhor e o vassalo da sociedade medieval, no qual imperam a distância e a submissão. Esse comportamento comedido do trovador e a obediência a sua senhora, o desejo de pôr-se a seu serviço, tudo isso representa o ideal do amor cortês, característica típica das cantigas de amor trovadorescas.

REGENSBURGO, Caspar de. O poder das mulheres sobre o coração dos homens. 1479. Museu de Berlim, Alemanha. Nesta xilogravura, há uma curiosa representação visual dos sofrimentos amorosos que as mulheres causam nos corações dos homens apaixonados.

Os riscos de ser um trovador...

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A palavra dama vem do latim domina (= senhora). Dessa mesma palavra latina deriva dona, outra forma de tratamento que se usa até hoje para as mulheres. Tanto em dama como em dona, temos a ideia de alguém a quem se deve respeito.

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Capítulo 6

Literatura brasileira e portuguesa

Diz o historiador Rodrigues Lapa que “o amor trovadoresco é, por via de regra, um fingimento, mais um produto da inteligência e da imaginação do que propriamente da sensibilidade”. É, no fundo, uma convenção poética. E, quando ousava passar desses limites, podia pôr o trovador em maus lençóis diante do marido da senhora. Relata ainda esse autor a história que se contava na Idade Média sobre o trovador Guilhem de Cabestanh, cuja arte e gentileza agradaram à sua dama, Seremonda. O marido, bravo e cioso, soube disso. Matou Guilhem, arrancou-lhe o coração e fê-lo servir assado a Seremonda. Comido o coração do amante, o marido diz à mulher a verdade. Esta, no cúmulo do desespero, atirou-se da janela à rua e faleceu. Conta mais essa história cruel que o rei de Aragão, sabedor do horrível caso, mandou prender para toda a vida o vingativo castelão, e enterrar na igreja de Perpignam os dois corpos dos desventurados amantes. Esta lenda é preciosa, por nos apresentar de forma simbólica o drama de mais de uma vida consagrada ao amor. [...] Quando o trovador ousava elevar-se do mundo da forma, do convencional, para o mundo dos afetos verdadeiros, o caso era mais sério, e arriscava por vezes as suas asas, e a sua vida. LAPA, M. Rodrigues. Lições de literatura portuguesa: época medieval. 10. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1981. p. 15. (Fragmento).

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Leia a seguir uma cantiga de amor de D. Dinis, transcrita em português moderno.

Leitura Se eu pudesse forçar meu coração, obrigá-lo, senhora, a vos dizer quanta amargura me fazeis sofrer, posso jurar – dê-me Deus seu perdão! – que sentiríeis compaixão de mim. Pois, senhora, conquanto apenas dor e nenhuma alegria me causeis, se soubésseis o mal que me fazeis, posso jurar – perdoa-me, Senhor! – que sentiríeis compaixão de mim. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Não me querendo nenhum bem, embora, se soubésseis a pena que me dais, e quanta dor há nos meus tristes ais, posso jurar – de boa-fé, senhora! – que sentiríeis compaixão de mim. E mal seria, se não fosse assim. D. DINIS. In: BERARDINELLI, Cleonice (Org.). Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Simões, 1953. p. 21.

1. Compare

essa cantiga de amor de D. Dinis à cantiga de amigo de Joan Lopes D’Ulhoa que você leu anteriormente. a) Em qual das cantigas o eu lírico é masculino e em qual delas é feminino? b) O tema das duas cantigas é o mesmo? Justifique sua resposta.

2. Em qual das duas cantigas pode-se dizer que há maior proximidade entre o

eu

lírico e a pessoa amada? Por quê?

3. Na cantiga de amor, há paralelismo como na cantiga de amigo? 4. Na cantiga de amigo, há um refrão. É possível identificar um refrão

também na

cantiga de amor? Qual?

Você certamente observou, ao responder às questões, que na cantiga de amor a expressão poética é mais sutil e elaborada do que na de amigo. Na cantiga de amor, não temos a simplicidade da estrutura paralelística, e os sentimentos são analisados com mais profundidade. O tema frequente desse tipo de cantiga é o sofrimento amoroso, chamado de “coita”, que faz do trovador um “coitado” ou sofredor. Apesar dos séculos que nos separam das cantigas de amor, sentimos que esse conteúdo poético nos é familiar. Afinal, todas as poesias e canções de amor se parecem. Pois é exatamente essa a importância das cantigas do Trovadorismo. Sua linguagem poética é tão marcante que está viva até hoje. É claro que o ritmo das melodias mudou, o próprio vocabulário enriqueceu-se, mas, no fundo, toda canção de amor lembra as velhas cantigas medievais. Você deve conhecer muitas canções que falam da dor de um amor não correspondido, da saudade do ser amado, etc. Esses também eram os temas dos trovadores medievais.

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Capítulo 6

Literatura brasileira e portuguesa

Poligamia e celibato na Idade Média O momento em que a poesia trovadoresca se expande é também aquele em que o Concílio de Latrão, reunido em 1215 pelo papa Inocêncio III, elabora a legislação do matrimônio, alçado a sacramento em 1439, em outro Concílio, o de Florença. Desde o século VIII a Igreja bate-se em favor da monogamia. Sim, pois os reis francos eram polígamos e a poligamia era um meio de exibir riqueza, poder e alianças políticas. O rei da França Clotário, por exemplo, teve seis esposas! Um exagero que interferia tanto em questões dinásticas quanto enfraquecia a noção mesma de casamento. A reforma gregoriana no século XI define, portanto, que os casados devem respeitar a monogamia e os clérigos, se manter celibatários.

“Canções do coração”, do Cancioneiro de Jean de Montchenu. Livro de cantigas de amor com formato de coração, de 1475, aproximadamente. Biblioteca Nacional de Paris, França.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uniVersiTÄTsBiBLioTheK saLZBurg

DEL PRIORE, Mary. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005. p. 72. (Fragmento).

Intertextualidade Leia o poema abaixo, escrito pelo poeta paulistano Paulo Bonfim.

Leitura Cantiga do desencontro Ai flores do verde tempo, Cheias de sol e distância... Em que canteiro deixastes O aroma de minha infância?

Ai flores do verde tempo, Perfume que o vento traz... Em que silêncio repousam Os dias do nunca mais?

Ai flores do verde tempo, Alvas luas que semeei... Em que camada de terra Mora o pranto que chorei?

Ai flores do verde tempo, Que refloris na lembrança... Enfeitai o meu sorriso Quando murchar a esperança! BONFIM, Paulo. Poemas escolhidos. São Paulo: Círculo do Livro, s. d. p. 54.

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Para escrever esse poema, o poeta inspirou-se na cantiga de amigo “Ai flores, ai flores do verde pino”, que você leu no começo do capítulo, na página 71. Releia-a e responda às questões a seguir.

1. Do ponto de vista da forma, a cantiga de D. Dinis e esse poema são iguais? Justifique sua resposta.

2. Na cantiga trovadoresca, o eu lírico se dirige às “flores do verde pino” para saber o quê? 3. O que seriam as “flores do verde tempo” a que se dirige o eu lírico na cantiga moderna?

4. Que sentimento expressa o eu lírico na cantiga trovadoresca? 5. Que sentimento expressa o eu lírico na “Cantiga do desencontro”? 6. Quanto ao tema, qual é ponto comum entre os dois textos?

As cantigas de escárnio e de maldizer Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Leitura Ai, dona feia! foste-vos queixar porque nunca vos louvo em meu trovar mas agora quero fazer um cantar em que sempre vos louvarei e vede como vos quero louvar: dona feia, velha e maluca! Ai, dona feia! Que Deus me perdoe! Pois havedes tão bom coração que vos louve eu desta maneira, e assim vos quero sempre louvar, e vede qual será a louvação: dona feia, velha e maluca! Dona feia, eu nunca vos louvei em meu trovar, mas muito já trovei; mas agora um bom cantar farei em que sempre vos louvarei, e direi como vos louvarei: dona feia, velha e maluca! Tradução livre de cantiga de João Garcia de Guilhade, com base em texto publicado em: SPINA, S. Presença da literatura portuguesa: era medieval. 6. ed. São Paulo: Difel, 1969. p. 56.

Glossário

Louvo: elogio.

1. Qual o tema da cantiga de João Garcia de Guilhade? 2. Compare essa cantiga às cantigas de amigo e de amor que você leu neste capítulo. No que se refere ao tema, que diferença há entre elas?

3. Quanto à estrutura e à linguagem, há algo em comum entre as cantigas de amor e de amigo e esta que você leu?

4. A atitude do eu lírico em relação à mulher a quem se dirige é semelhante à do eu lírico das cantigas de amor e de amigo? Por quê?

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

5. Se considerarmos que, nas cantigas de amor, a atitude servil dos trovadores cor-

responde à servidão dos vassalos em relação aos senhores dos castelos, o que a atitude do eu lírico na cantiga que você leu pode significar?

6. Por que essa cantiga poderia ser considerada uma espécie de crítica às cantigas líricas?

Falar mal de alguém, ridicularizar os defeitos humanos, brincar de forma grosseira ou não com as pessoas – isso não acontece apenas em nossa época. Em todas as sociedades, isso sempre ocorreu. Em Portugal, durante a Idade Média, não foi diferente, como mostram as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer. Nas cantigas de escárnio, as referências à pessoa satirizada são indiretas; nas de maldizer, o ataque é explícito, até mesmo com palavras de baixo calão. Usando habilmente trocadilhos e jogos de palavras, nessas cantigas os trovadores ridicularizam os maus jograis e os cavaleiros covardes, falam de mulheres, contam casos amorosos, etc.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os cancioneiros

Ilustração das Cantigas de Santa Maria, do século XIII. No centro da imagem, o rei Afonso X lê um livro (provavelmente sobre a Virgem Maria) e dita as cantigas para dois escribas. No canto à esquerda estão os músicos; no canto à direita, os cantores.

BiBLioTeca monasTério deL escoriaL, madri

O Trovadorismo português teve seu apogeu nos séculos XII e XIII, entrando em declínio no século XIV. Seu último grande incentivador foi o rei D. Dinis, que prestigiou a produção poética em sua corte, tendo sido ele próprio um dos mais fecundos e talentosos trovadores medievais, assim como seu avô, D. Afonso (1221-1284), rei de Leão e Castela. Em razão das próprias condições em que foram compostas e executadas, as cantigas, em sua maior parte, ficaram perdidas, pois nem sempre havia a preocupação de registrá-las por escrito. A composição mais antiga que se conhece é a chamada “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga de guarvaia”, escrita provavelmente em 1189 ou 1198, por Paio Soares de Taveirós, e comumente assinalada como marco inicial da literatura portuguesa. Essa cantiga foi dedicada a uma dama da corte do rei D. Sancho I, dona Maria Pais Ribeiro, chamada de “A Ribeirinha”. A reconstituição exata do texto que chegou até nós e sua interpretação ainda são motivo de controvérsia.

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Os únicos documentos que restaram sobre tal produção literária são os cancioneiros, coletâneas de cantigas com características variadas e escritas por diversos autores. Desses cancioneiros, são importantes para o conhecimento do Trovadorismo galego-português os seguintes:

Outra fonte preciosa para o conhecimento do Trovadorismo na península Ibérica é o cancioneiro Cantigas de Santa Maria, atribuído a Afonso X, o Sábio, rei de Castela entre 1252 e 1284. As 430 cantigas desse cancioneiro têm inspiração religiosa, e sua complexidade melódica sugere a profissionalização dos intérpretes, provavelmente trovadores que colaboraram com o rei na composição delas. Além disso, seu grau sofisticado de elaboração permite afirmar que houve, indiscutivelmente, uma intensa atividade poética anterior, desconhecida até hoje, que preparou esse estágio mais amadurecido. Essa obra revela ainda a importância que o culto a Maria estava atingindo na península Ibérica no século XIII.

A importância da poesia trovadoresca Estimulado pela poesia provençal e encontrando ressonância nas tradições populares da península Ibérica, o lirismo trovadoresco desenvolve-se principalmente durante os séculos XII e XIII. A partir do século seguinte, essa poesia caminha para uma progressiva individualização. Em meados do século XV, entra em declínio. Os jograis vão desaparecendo; os trovadores tornam-se poetas. A música separa-se da poesia, que passa a ser feita para a leitura. Surgem então novos recursos de composição poética. O gosto pela poesia intimista e sentimental que floresceu no Trovadorismo, porém, marcará profundamente toda a poesia portuguesa posterior. E o lirismo brasileiro também se reconhecerá como fruto distante dessa semente plantada na Idade Média. The Bridgeman Art Library/Keystone – Biblioteca do monastério del escorial, madri

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Cancioneiro da Ajuda – compilado provavelmente no século XIII, encontra-se atualmente na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa. • Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa – compilado provavelmente no século XV. • Cancioneiro da Vaticana – encontrado na Biblioteca do Vaticano, foi organizado provavelmente também no século XV.

Ilustração de Cantigas de Santa Maria, século XIII.

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

Trovadorismo e literatura de cordel

Capa de folheto de cordel.

reprodução

Esse tipo de literatura popular foi trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses nos séculos XVI e XVII e tornou-se uma forma de expressão típica do interior do Nordeste, principalmente nos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. No início, os folhetos de cordel eram impressos de forma artesanal e ilustrados com xilogravura. Hoje em dia, a maioria é produzida em gráficas. Veja algumas estrofes de uma antiga peleja de cantadores brasileiros que ficou famosa: Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho. Há indícios de que esse folheto seja de autoria de Firmino Teixeira do Amaral. O texto pode ter sido feito a partir da lembrança da peleja ou inventado, pois, no início do século, não havia como gravar a disputa. No caso dessa peleja, os cantadores são verdadeiros, o autor do folheto também, mas a briga pode não ter sido bem assim...

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

reprodução

Disputas entre trovadores foram comuns na época do Trovadorismo. Elas deram origem às pelejas entre cantadores que ainda ocorrem em algumas regiões do Brasil. Os versos que compõem esses desafios são divulgados por meio de folhetos de cordel, assim chamados porque, nas feiras onde eram vendidos, ficavam geralmente expostos em cordões ou varais.

Capa de folheto de cordel, de Stênio.

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Capítulo 6

A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Cego Aderaldo [...] Quando cheguei na Varzinha, Foi de manhã, bem cedinho Então, o dono da casa Me perguntou sem carinho: Cego, você não tem medo Da fama do Zé Pretinho? Eu lhe disse: não, senhor, Mas da verdade eu não zombo Mande chamar esse Preto, Que eu quero dar-lhe um tombo Ele chegando um de nós Hoje há de arder o lombo. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

[...] Zé Pretinho Eu vou mudar de toada, Pra uma que mete medo Nunca encontrei cantador Que desmanchasse esse enredo: É um dedo, é um dado, é um dia É um dia, é um dado, é um dedo. Cego Aderaldo Zé Preto, este teu enredo Te serve de zombaria! Tu hoje cegas de raiva E o Diabo será teu guia É um dia, é um dedo, é um dado. É um dado, é um dedo, é um dia. Zé Pretinho Cego, respondeste bem, Como quem fosse estudado! Eu também, da minha parte, Canto verso aprumado É um dado, é um dia, é um dedo, É um dedo, é um dia, é um dado! Cego Aderaldo Vamos lá, seu Zé Pretinho, Porque eu já perdi o medo: Sou bravo como um leão, Sou forte como um penedo É um dedo, é um dado, é um dia, É um dia, é um dado, é um dedo!

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 6

Zé Pretinho Cego, agora puxa uma Das tuas belas toadas, Para ver se essas moças Dão algumas gargalhadas Quase todo o povo ri, Só as moças tão caladas! Cego Aderaldo Amigo José Pretinho, Eu nem sei o que será De você depois da luta Você vencido já está! Quem a paca cara compra

Zé Pretinho Cego, eu estou apertado, Que só um pinto no ovo! Estás cantando aprumado E satisfazendo o povo Mas esse tema da paca, Por favor, diga de novo! Cego Aderaldo Disse uma vez, digo dez No cantar não tenho pompa! Presentemente não acho Quem o meu mapa me rompa: Paca cara pagará

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Paca cara pagará!

Quem a paca cara compra! Zé Pretinho Cego, teu peito é de aço Foi bom ferreiro que fez Pensei que cego não tinha No verso tal rapidez! Cego, se não é maçada, Repete a paca outra vez! Cego Aderaldo Arre! Que tanta pergunta Desse preto capivara! Não há quem cuspa pra cima, Que não lhe caia na cara Quem a paca cara compra Pagará a paca cara!

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A primeira época medieval (I) – Trovadorismo

Capítulo 6

Zé Pretinho Agora, cego, me ouça: Cantarei a paca já Tema assim é um borrego No bico de um carcará! Quem a caca cara compra Caca caca cacará! Houve um trovão de risadas

Glossário

Pelo verso do Pretinho

Penedo: grande pedra; rochedo. Maçada: aborrecimento, importunação. Borrego: filhote. Arreda: sai; afasta-te.

Capitão Duda lhe disse: Arreda pra lá, negrinho! Vai descansar o juízo, Que o cego canta sozinho!

Vale a pena ler Invenções da Idade Média: óculos, livros, bancos, botões e outras inovações geniais. Chiara Frugoni. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. Livro fascinante que revela a criatividade do homem medieval e as invenções que ainda hoje tornam a nossa vida mais confortável. O texto acessível e bem-humorado é enriquecido com muitas ilustrações coloridas.

reprodução

Vale a pena

Vale a pena assistir O incrível exército de Brancaleone. Direção de Mario Monicelli. Itália, 1966. O cavaleiro Brancaleone – um “Dom Quixote maltrapilho” – e seu exército de quatro miseráveis famintos partem em direção a um feudo, ao qual ele acredita ter direito. Ambientada na Itália do século XI, esta é uma aventura divertida que satiriza os conceitos de honra e coragem dos heróis medievais.

reprodução

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

In: ABREU, Márcia (Org.). Antologia de folhetos de cordel: amor, história e luta. São Paulo: Moderna, 2005. p. 30-43. (Fragmento).

Música antiga da UFF. Medievo-Nordeste – Cantigas e romances. Rio de Janeiro: Sonhos e Sons, 2006. O Música Antiga da Universidade Federal Fluminense traz a fusão da música que se desenvolveu em toda a Europa nos séculos XII, XIII e XIV – Trovadorismo – com a música de tradição oral brasileira. Os trovadores e jograis de ontem são hoje os cantadores de viola nas feiras populares nordestinas. Suas narrativas acabaram se incorporando à cultura popular presente na literatura de cordel. Vale a pena acessar

reprodução

Vale a pena ouvir

http://www.catedraldesantiago.es/webcatedral.html Site oficial da catedral de Santiago de Compostela. Há muitas fotos e histórias neste site dedicado a uma das joias da arquitetura religiosa da Idade Média e famoso local de peregrinação que inspirou muitas cantigas de amigo.

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Painel de história da arte 2

Conteúdo multimídia Painel de história da arte comentado: Idade Média.

Idade Média

Do ponto de vista cronológico, a Idade Média situa-se entre os séculos V e XV, aproximadamente. Ao longo desse período, no campo da arte, podemos destacar três momentos principais: o bizantino, o românico e o gótico.

Arte bizantina Estende-se pelo Mediterrâneo oriental e tem como centro a cidade de Bizâncio, que no ano 330 foi transformada em capital do Império Romano pelo imperador Constantino e renomeada Constantinopla (atual Istambul). A arte bizantina tem seu ponto final com a tomada dessa cidade pelos turcos muçulmanos em 1453.

GaleRia de aRte, skoPJe, MacedÔnia

state Russian MuseuM

Os ícones são pequenos painéis de madeira com imagens pintadas de santos ou de Cristo, quase sempre contra um fundo dourado. Por serem objetos de grande veneração, sua representação segue um estilo consagrado pela tradição, por isso há pouquíssimas mudanças estilísticas entre os ícones ao longo dos séculos.

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Ícones

ZOGRAPHOS, Makarios. A Virgem de Pelagonitissa. 1421-1422.

Crucificação. Primeira metade do século XVI. Têmpera sobre madeira, 75,2 x 53,4 cm. Autor desconhecido.

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Mosaicos

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Mausoléu de Galla Placidia, Ravena

Os mosaicos bizantinos eram compostos de pequenos pedaços de pedra brilhantes e coloridos e ornamentavam paredes e tetos, principalmente de igrejas, pois seus temas mais frequentes eram religiosos.

Mosaico bizantino de Cefalù. Palermo, Sicília, Itália.

hagia sofia, istambul

Hagia Sofia, Istambul

Luigi nifosi/Shutterstock

Cristo como o Bom Pastor. Mosaico bizantino. s.d.

Cristo Pantocrator entre o imperador Constantino IX Monamachus e a imperatriz Zoe. Mosaico bizantino. Meados do século XI-século XII.

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Literatura brasileira e portuguesa

Arte românica

Abadia Chiaravalle, construída no século XII. Piacenza, Itália. Foto de 2010.

Arte gótica

Jaubert Images/Alamy/Other Images

Wes Wombara/Alamy/OtherImages

Ao longo dos séculos XII e XIII, na arquitetura, o estilo românico foi sendo substituído pelo gótico, que apresenta arcos ogivais, agulhas altíssimas, vitrais e elaboradas fachadas com esculturas. No conjunto, a construção gótica é muito mais leve que a românica e pode ser descrita como uma armação de pedra fechada por imensas janelas. Seu interior recebe muita luz através dos vitrais coloridos decorados com cenas religiosas. Naquela época, cada igreja era uma espécie de bíblia de pedra para ensinamento dos que não sabiam ler, isto é, a grande maioria das pessoas.

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Lugris/Alamy/Other Images

O primeiro estilo marcante da arquitetura religiosa medieval é chamado de românico, que teve seu apogeu no século XI e na primeira metade do século XII. Caracteriza-se pelo uso do arco redondo, de grossas paredes de pedra e janelas pequenas, lembrando o estilo adotado pelos antigos romanos.

Arco românico da igreja de Chassignoles, Auvergne, França. Foto de 2009.

Arco gótico do mosteiro de York, Inglaterra. Foto de 2008.

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Dagnall/Alamy/Other Images

Pyma/Shutterstock

Interior da Sainte Chapelle, Paris, França, construída no século XIII. Foto de 2009.

Catedral de Nossa Senhora de Chartres, França, construída nos séculos XII e XIII.

Vitrais da Catedral de Nossa Senhora de Chartres, França.

As estátuas que ornamentavam as fachadas das catedrais eram ricamente coloridas, como se pode perceber por esta reconstituição por computador da fachada da catedral de Amiens, na França. Didier Zylberyng/Alamy/Other Images

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EmmePi Europe/Alamy/Other Images

Painel de história da arte 2 Painel de história da arte 2

Catedral de Amiens, França, construída no século XIII. Imagem reproduzida em 2010.

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Tapeçaria Os tecelões medievais criaram tapeçarias de lã e seda extremamente refinadas para nobres e aristocratas. Esses tapetes, geralmente grandes, representavam cenas da vida real, motivos mitológicos ou alegorias, e ornamentaram as paredes de pedra de muitos palácios e castelos.

Iluminura

biblioteca nacional da fRanÇa, PaRis

Nesta tapeçaria francesa de cerca de 1400, vemos uma cena de amor cortês: um cavalheiro oferece seu coração à dama, que, representada com um cão e um falcão, passa a ideia de que ela é uma caçadora, não de animais, mas de corações masculinos.

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Outras artes

the bRidGeMan aRt libRaRy/keystone - Musée national du Moyen aGe et des theRMes de cluny, PaRis

Literatura brasileira e portuguesa

Ao longo da Idade Média, houve intensa produção de livros manuscritos em pergaminhos. E muitos deles tinham páginas ricamente ilustradas em cores. Esse tipo de ilustração era chamado de iluminura. Tal arte só foi desaparecendo com a difusão da imprensa, a partir do século XVI.

Exemplo de iluminura medieval, c. 1460.

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Painel de história da arte 2 Painel de história da arte 2

Artes decorativas

A Virgem e o Menino Jesus. Escultura em marfim, século XIII. Autor desconhecido.

Museu do Louvre, Paris – Jean-Gilles Berizzi/RMN/Other Images

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Sainte-Chapelle, Paris – Peter Willi/The Bridgeman Art Library/Keystone

As artes decorativas tiveram grande desenvolvimento na Idade Média. Pequenas esculturas de marfim e trabalhos delicados de ourivesaria, por exemplo, mostram o refinamento atingido pelos artistas medievais.

Relicário da Trindade. c. 1412. Ouro, pérolas, rubis, safiras, 44,5 x 15 cm. Museu do Louvre, Paris.

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Capítulo

24

Machado de Assis

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Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Machado de Assis é o mais importante autor do nosso Realismo e um dos principais nomes da literatura em língua portuguesa. Escreveu poesias, crônicas, peças de teatro e crítica literária, mas destacou-se no romance e no conto, criando enredos que investigam as motivações profundas das ações humanas, num realismo psicológico que dá à sua obra um alcance universal e atemporal.

FERREIRA, Joaquim da Rocha. Capitu. Século XX. Óleo sobre tela. Personagem do romance Dom Casmurro, Capitu é uma das criações mais geniais de Machado de Assis. Seu comportamento ambíguo é um exemplo da arte machadiana na construção de personagens com uma vida interior rica e fascinante.

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Machado de Assis

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

acadeMia Brasileira de letras

Capítulo 24

Joaquim Maria Machado de Assis

BERNARDELLI, Henrique. Machado de Assis. 1905. Óleo sobre tela.

Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1839 , e morreu em 1908, na mesma cidade. De origem humilde, ficou órfão de mãe ainda pequeno e perdeu o pai aos 12 anos. Em 1856, passou a trabalhar na Imprensa Nacional como aprendiz de tipógrafo, onde ficou até 1858. Aí conheceu o escritor Manuel Antônio de Almeida, que passou a ser seu amigo e de quem recebeu estímulo para dedicar-se à literatura. Em 1858, foi trabalhar na tipografia de Francisco Paula Brito, ampliando seu círculo de amizades no ambiente literário. Começou a colaborar na imprensa carioca escrevendo crônicas, crítica literária e contos, mantendo essa atividade, com poucas interrupções, quase até o fim da vida. Em 1867, ingressa no funcionalismo público, que será seu principal ganha-pão daí em diante. Em 1872, publica seu primeiro romance, Ressurreição, a que se seguem em breves intervalos, vários outros, além de coletâneas de contos, firmando-se, assim e cada vez mais, o nome de Machado de Assis como um dos mais destacados da nossa literatura.

Romances Machado de Assis escreveu nove romances. Nos primeiros – Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) –, ainda se apresentam alguns traços românticos na caracterização dos personagens. À medida que o trabalho literário foi amadurecendo, esses traços deram lugar a análises mais profundas do comportamento humano, que revelavam, por trás dos atos aparentemente bons e honestos dos personagens, a vaidade, o egoísmo, a hipocrisia das relações sociais.

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 24

A vida em sociedade passa a ser caracterizada, ainda mais explicitamente, como uma espécie de campo de batalha em que os homens lutam para gozar uns poucos momentos de prazer e satisfazer seus desejos de riqueza e ostentação, enquanto a natureza assiste ao drama humano com indiferença. Entre os romances que apresentam essas características de modo mais acentuado estão Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).

Exposição sobre o centenário da morte de Machado de Assis. Museu da Língua Portuguesa, São Paulo. Foto de ago. 2008.

No dia 15 de dezembro de 1896, fundava-se a Academia Brasileira de Letras, uma iniciativa de um grupo de jovens escritores do Rio de Janeiro. Machado de Assis foi aclamado seu presidente. A Academia Brasileira de Letras seguia de perto o modelo da famosa Academia Francesa, fundada em 1635. Cada membro era titular de uma cadeira, batizada com o nome de um escritor falecido. Na morte de um membro, realizava-se uma eleição para a escolha de seu sucessor. Esse procedimento é adotado até hoje. Na sessão inaugural, tomaram posse os 40 fundadores, tendo cada um escolhido seu patrono. Machado de Assis ocupava a cadeira número 23 e seu patrono era um escritor por quem ele tinha muita admiração – José de Alencar. No início, a Academia Brasileira de Letras não admitia mulheres entre seus membros, o que não acontece mais nos dias de hoje. O discurso de abertura da sessão inaugural da Academia foi feito por seu presidente, Machado de Assis, no dia 20 de julho de 1897.

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Mario rodriGues/editora aBril

Machado de Assis e a Academia Brasileira de Letras

Memórias póstumas de Brás Cubas: uma impiedosa análise do comportamento humano Os leitores acostumados com as histórias tradicionais tiveram uma grande surpresa com esse livro: seu narrador era um defunto! Um defunto que resolveu se distrair um pouco da monotonia da eternidade escrevendo suas memórias com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia”.

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Machado de Assis Capítulo 24

Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para este mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Moderna, 2004. p. 93. (Fragmento).

Observe que o narrador conversa com o leitor, fazendo reflexões sobre a própria obra e sobre o ato de escrever, recurso que Machado de Assis emprega com frequência. Tal expediente, de usar uma linguagem (no caso, a literária) para falar de si mesma, recebe o nome de metalinguagem. As reflexões sarcásticas de Brás Cubas vão impregnando o texto de um pessimismo radical. Nada resiste a essa análise impiedosa, e suas últimas palavras resumem bem tal concepção amarga e negativista da vida: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

Leitura FuNdaÇÃo casa de rui BarBosa

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Livre das convenções sociais, visto que está morto, o narrador Brás Cubas fala não só de sua vida, mas também de todos os que com ele conviveram, revelando a hipocrisia das relações humanas. Ao longo do romance são narrados vários casos: sua paixão juvenil pela bela e interesseira Marcela, que o amou “durante quinze meses e onze contos de réis”; sua amizade com o filósofo maluco Quincas Borba; seus amores clandestinos com uma mulher casada, Virgília. Mas a ordem da narrativa nem sempre é linear – muitos fatos vão se encadeando conforme as lembranças de Brás Cubas e não necessariamente de acordo com a sequência cronológica em que ocorreram.

Recibo de Machado de Assis pelo pagamento da primeira edição de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).

Brás Cubas está regressando ao Brasil, depois de ter se formado em Direito em Portugal. No caminho de casa, sofre um acidente que quase lhe tira a vida.

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Capítulo 24

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Glossário

Corcovos: pinotes. Almocreve: homem que tem por profissão conduzir animais de carga. Inestimável: incalculável. Cogitei: refleti. Reluzir: brilhar. Vexado: envergonhado. Levou em mira: teve como objetivo. Mérito: valor. Desconsolado: triste. Pródigo: esbanjador, gastador. Dissipações: desperdícios.

Vai então, empacou o jumento em que eu vinha montado; fustiguei-o, ele deu dois corcovos, depois mais três, enfim mais um, que me sacudiu fora da sela, com tal desastre que o pé esquerdo me ficou preso no estribo; tento agarrar-me ao ventre do animal, mas já então, espantado, disparou pela estrada fora. Digo mal: tentou disparar, e efetivamente deu dois saltos, mas um almocreve, que ali estava, acudiu a tempo de lhe pegar na rédea e detê-lo, não sem esforço nem perigo. Dominado o bruto, desvencilhei-me do estribo e pus-me de pé. – Olhe do que vosmecê escapou – disse o almocreve. E era verdade; se o jumento corre por ali fora, contundia-me deveras, e não sei se a morte não estaria no fim do desastre; cabeça partida, uma congestão, qualquer transtorno cá dentro, lá se me ia a ciência em flor. O almocreve salvara-me talvez a vida; era positivo; eu sentia-o no sangue que me agitava o coração. Bom almocreve! Enquanto eu tornava à consciência de mim mesmo, ele cuidava de consertar os arreios do jumento, com muito zelo e arte. Resolvi dar-lhe três moedas de ouro das cinco que trazia comigo; não porque tal fosse o preço da minha vida, essa era inestimável; mas porque era uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou. Está dito, dou-lhe as três moedas. – Pronto – disse ele, apresentando-me a rédea da cavalgadura. – Daqui a nada – respondi –, deixa-me, que ainda não estou em mim... – Ora qual! – Pois não é certo que ia morrendo? – Se o jumento corre por aí fora, é possível; mas, com a ajuda do Senhor, viu vosmecê que não aconteceu nada. Fui aos alforjes, tirei um colete velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e durante esse tempo cogitei se não era excessiva a gratificação, se não bastavam duas moedas. Talvez uma. Com efeito, uma moeda era bastante para lhe dar estremeções de alegria. Examinei-lhe a roupa; era um pobre-diabo, que nunca jamais vira uma moeda de ouro. Portanto, uma moeda. Tirei-a, vi-a reluzir à luz do sol; não a viu o almocreve, porque eu tinha-lhe voltado as costas; mas suspeitou-o talvez, entrou a falar ao jumento de um modo significativo; dava-lhe conselhos, dizia-lhe que tomasse juízo, que o “senhor doutor” podia castigá-lo; um monólogo paternal. Valha-me Deus! Até ouvi estalar um beijo: era o almocreve que lhe beijava a testa. – Olé! – exclamei. – Queira vosmecê perdoar, mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta graça... Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, cavalguei o jumento e segui a trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. Mas, a algumas braças de distância, olhei para trás, o almocreve fazia-me grandes cortesias, com evidentes mostras de contentamento. Adverti que devia ser assim mesmo; eu lhe pagara bem, pagara-lhe talvez demais. Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu devera ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento da Providência; e, de um ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com essa reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?) tive remorsos.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Capítulo 21 – O almocreve

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Moderna, 2004. p. 48-49. (Fragmento).

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Capítulo 24

coleÇÃo JoÃo da cruZ ViceNte de aZeVedo, sÃo Paulo

Machado de Assis

1. Assim que é salvo, Brás Cubas pensa em recompensar o almocreve. a) Inicialmente, de quanto seria a recompensa? b) Descreva como essa quantia vai “minguando” aos poucos. c) Que efeito provoca no texto a diminuição gradual da recompensa?

DEBRET, Jean-Baptiste. Entrada de São Paulo pelo caminho do Rio de Janeiro. 1827. Aquarela sobre papel.

2. A

classe social e o comportamento do almocreve influenciaram a mudança de ideia de Brás Cubas? Justifique a sua resposta com passagens do texto.

3. Em certo momento, o narrador-personagem arrepende-se de ter dado até mesmo aquela quantia bem menor. a) Que frase do texto marca esse momento?

b) Que justificativas Brás Cubas apresenta para seu arrependimento?

4. Releia: “Fiquei desconsolado com essa reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?) tive remorsos”. a) Por que o personagem teria ficado “desconsolado”?

b) Observe agora a pergunta que o narrador-personagem coloca entre parênteses: “(por que não direi tudo?)”. Qual é a sua função na frase?

5. O que a passagem lida nos permite deduzir sobre o caráter do narrador-personagem?

Dom Casmurro: uma história de amor e traição? Em Dom Casmurro revela-se todo o talento de Machado de Assis na análise psicológica dos personagens e na criação de um clima de incerteza e ambiguidade. Na velhice, Bentinho (apelidado Dom Casmurro por viver recluso e solitário) resolve contar fatos de sua infância, passada na casa da mãe viúva, D. Glória, ao lado do tio Cosme, da prima Justina e do agregado José Dias. Seus vizinhos são Pádua e D. Fortunata, pais de Capitu, de condição social inferior à da família de Bentinho. A convivência e as brincadeiras vão aproximando Bentinho e Capitu. De simples amigos, passam a namorados durante a adolescência. A família de Capitu, vendo nessa união a possibilidade de ascensão social, favorece o namoro; entretanto, a mãe de Bentinho, fiel a uma promessa antiga, coloca-o no seminário com a intenção de fazê-lo padre.

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O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Moderna, 2008. p. 18. (Fragmento).

Como a história é narrada pelo próprio personagem, que viveu os fatos muito tempo antes, o relato é marcado pela dúvida, uma vez que não se esclarece se o adultério ocorreu realmente ou se tudo não passou de um terrível engano do marido ciumento. É essa ambiguidade que dá grandeza ao romance. Importa observar também que em Dom Casmurro, assim como em outras obras, destaca-se o talento de Machado de Assis para a análise psicológica dos personagens. Em muitas passagens, aliás, numa característica tipicamente machadiana, o leitor é convidado a refletir com o narrador sobre a atitude de determinados personagens. Se a questão da dúvida sobre o adultério prende a atenção do leitor, a importância do romance está também em oferecer, além de agudas reflexões sobre a condição humana, um rico painel da sociedade brasileira da época, revelando-nos as relações de classe, os meios de ascensão social e a influência da Igreja na vida cotidiana.

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Capítulo 24

Capitu procura então impedir que Bentinho chegue a ordenar-se, mas sem magoar a mãe dele, revelando-se uma moça esperta e insinuante. Com a ajuda de Escobar, um colega de seminário, Bentinho encontra um modo de não ter de cumprir a promessa feita pela mãe e, depois de concluir o curso de Direito, casa-se com Capitu. Escobar casa-se com Sancha, amiga de Capitu, e a amizade entre os dois pares cresce ainda mais: moram perto e tornam-se muito unidos. Algum tempo depois, Escobar morre afogado no mar. Ao ver a reação de Capitu no velório, começa a nascer em Bentinho a suspeita de que ela o traiu com o amigo, suspeita que vai se transformando em certeza à medida que o filho, Ezequiel, cresce e adquire feições que lhe parecem semelhantes às de Escobar. Torturado pelo ciúme, Bentinho mal consegue suportar a presença da mulher e do filho. Decide então se separar dos dois, mandando-os à Europa. Mais tarde, Capitu morre sem ter revisto o marido. Ezequiel, já moço, faz uma única visita a Bentinho, no Brasil, e morre pouco tempo depois. A intenção de Bentinho, ao rememorar sua história, é tentar resgatar o tempo passado, talvez compreender o que aconteceu entre ele e Capitu. Para isso, chega a mandar construir uma casa como aquela onde viveu a infância e a adolescência. Diz o narrador:

Leitura texto 1

Capítulo 32 – Olhos de ressaca – [...] Deixe ver os olhos, Capitu. Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a

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isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. [...] ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Moderna, 2008. p. 53-54. (Fragmento).

Capítulo 24

Machado de Assis

Glossário

Entrassem a ficar: começassem a ficar. Retórica: linguagem. Não me acode: não me vem à mente. Cava: cavernosa.

1. Ao se aproximar de Capitu para observar-lhe os olhos, Bentinho começa a desco-

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brir neles algo que não conhecia. O que, para ele, era familiar e o que se revelou surpreendente?

2. José Dias dissera que Capitu tinha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Nos

dicionários, oblíquo pode ser definido como “enviesado”, “tortuoso”, “indireto” e dissimulado, como “calado”, “oculto”, “fingido”. O que, então, José Dias sugere quanto à personalidade de Capitu?

texto 2

Nos dois capítulos transcritos a seguir, Bentinho e Capitu, ainda adolescentes, conversam sobre a entrada dele no seminário para atender a uma promessa feita pela mãe. Capítulo 44 – O primeiro filho – Dê cá, deixe escrever uma coisa. Capitu olhou para mim, mas de um modo que me fez lembrar a definição de José Dias, oblíquo e dissimulado; levantou o olhar, sem levantar os olhos. A voz, um tanto sumida, perguntou-me: – Diga-me uma coisa, mas fale verdade, não quero disfarce; há de responder com o coração na mão. – Que é? Diga. – Se você tivesse de escolher entre mim e sua mãe, a quem é que escolhia? – Eu? Fez-me sinal que sim. – Eu escolhia... mas para que escolher? Mamãe não é capaz de me perguntar isso. – Pois, sim, mas eu pergunto. Suponha você que está no seminário e recebe a notícia de que eu vou morrer... – Não diga isso! – ... Ou que me mato de saudades, se você não vier logo, e sua mãe não quiser que você venha, diga-me, você vem? – Venho. – Contra a ordem de sua mãe? – Contra a ordem de mamãe. – Você deixa seminário, deixa sua mãe, deixa tudo, para me ver morrer? – Não fale em morrer, Capitu!

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Glossário

Descorado e incrédulo: sem graça e descrente. Atinava: entendia. Acudisse: viesse à mente. Injúria: ofensa. Escarninho: zombador. Desforço: vingança. Missa nova: a primeira missa celebrada por um padre novato. Sarcasmo: ironia profunda. Alva: veste branca usada pelos sacerdotes na celebração da missa. Vossa Reverendíssima: tratamento respeitoso dispensado a bispos, arcebispos, monsenhores, cônegos e padres que receberam distinções. Incrédulos: descrentes, pessoas que não acreditam. Deitar fora: jogar fora. Fio: confio.

Capitu teve um risinho descorado e incrédulo, e com a taquara escreveu uma palavra no chão; inclinei-me e li: mentiroso. Era tão estranho tudo aquilo, que não achei resposta. Não atinava com a razão do escrito, como não atinava com a do falado. Se me acudisse ali uma injúria grande ou pequena, é possível que a escrevesse também, com a mesma taquara, mas não me lembrava nada. Tinha a cabeça vazia. Ao mesmo tempo tomei-me de receio de que alguém nos pudesse ouvir ou ler. Quem, se éramos sós? D. Fortunata chegara uma vez à porta da casa, mas entrou logo depois. A solidão era completa. [...] Nada mais, ou somente este fenômeno curioso, que o nome escrito por ela não só me espiava do chão com o gesto escarninho, mas até me pareceu que repercutia no ar. Tive então uma ideia ruim; disse-lhe que, afinal de contas, a vida de padre não era má, e eu podia aceitá-la sem grande pena. Como desforço, era pueril; mas eu sentia a secreta esperança de vê-la atirar-se a mim lavada em lágrimas. Capitu limitou-se a arregalar muito os olhos, e acabou por dizer: – Padre é bom, não há dúvida; melhor que padre só cônego, por causa das meias roxas. O roxo é cor muito bonita. Pensando bem, é melhor cônego. – Mas não se pode ser cônego sem ser primeiramente padre, disse-lhe eu mordendo os beiços. – Bem; comece pelas meias pretas, depois virão as roxas. O que eu não quero perder é a sua missa nova; avise-me a tempo para fazer um vestido à moda, saia-balão e babados grandes... Mas talvez nesse tempo a moda seja outra. A igreja há de ser grande, Carmo ou S. Francisco. – Ou Candelária. – Candelária também. Qualquer serve, contanto que eu ouça a missa nova. Hei de fazer um figurão. Muita gente há de perguntar: “Quem é aquela moça faceira que ali está com um vestido tão bonito?” – “Aquela é D. Capitolina, uma moça que morou na Rua de Mata-cavalos...” – Que morou? Você vai mudar-se? – Quem sabe onde é que há de morar amanhã? disse ela com um tom leve de melancolia; mas tornando logo ao sarcasmo: E você no altar, metido na alva, com a capa de ouro por cima, cantando... Pater noster... Ah! como eu sinto não ser um poeta romântico para dizer que isto era um duelo de ironias! Contaria os meus botes e os dela, a graça de um e a prontidão de outro, e o sangue correndo, e o furor na alma, até ao meu golpe final que foi este: – Pois sim, Capitu, você ouvirá a minha missa nova, mas com uma condição. Ao que ela respondeu: – Vossa Reverendíssima pode falar. – Promete uma coisa? – Que é? – Diga se promete. – Não sabendo o que é, não prometo. – A falar verdade são duas coisas, continuei eu, por haver-me acudido outra ideia. – Duas? Diga quais são. – A primeira é que só se há de confessar comigo, para eu lhe dar a penitência e a absolvição. A segunda é que...

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Machado de Assis

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Museus castro MaYa, rio de JaNeiro

Capítulo 24

– A primeira está prometida, disse ela vendo-me hesitar, e acrescentou que esperava a segunda. Palavra que me custou, e antes não me chegasse a sair da boca; não ouviria o que ouvi, e não escreveria aqui uma coisa que vai talvez achar incrédulos. – A segunda... sim... é que... Promete-me que seja eu o padre que case você? – Que me case? disse ela um tanto comovida. Logo depois fez descair os lábios, e abanou a cabeça. – Não, Bentinho, disse, seria esperar muito tempo; você não vai ser padre já amanhã, leva muitos anos... Olhe, prometo outra coisa; prometo que há de batizar o meu primeiro filho.

BATE, Richard. Aqueduto com a rua Matacavalos. 1820. Água-forte colorida, 21 x 27 cm. Essa rua, hoje denominada Riachuelo (bairro da Lapa, Rio de Janeiro), foi cenário da infância de Bentinho e Capitu, protagonistas de Dom Casmurro.

Capítulo 45 – Abane a cabeça, leitor Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos de incredulidade. Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes; tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só agora, fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página, sem crer por isso na veracidade do autor. Todavia, não há nada mais exato. Foi assim mesmo que Capitu falou, com tais palavras e maneiras. Falou do primeiro filho, como se fosse a primeira boneca. Quanto ao meu espanto, se também foi grande, veio de mistura com uma sensação esquisita. Percorreu-me um fluido. Aquela ameaça de um primeiro filho, o primeiro filho de Capitu, o casamento dela com outro, portanto, a separação absoluta, a perda, a aniquilação, tudo isso produzia um tal efeito, que não achei palavra nem gesto; fiquei estúpido. Capitu sorria; eu via o primeiro filho brincando no chão... ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Moderna, 2008. p. 68-70. (Fragmento).

1. A mãe de Bentinho decidira colocá-lo no seminário. Uma vez que casamento e vida religiosa são incompatíveis, qual teria sido a intenção de Capitu ao perguntar a Bentinho: “Se você tivesse de escolher entre mim e sua mãe, a quem é que escolhia?”.

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Capítulo 24

2. Ao ser chamado de mentiroso por Capitu, Bentinho teve uma “ideia ruim”. a) Que ideia foi essa? b) Por que a ideia se revelou ruim? c) Qual foi a reação de Capitu?

3. Bentinho decide impor uma segunda condição a Capitu para que ela assista à sua “missa nova”. a) Que condição é essa?

b) Na sua opinião, por que Bentinho teria feito essa imposição?

4. “Palavra que me custou, e antes não me chegasse a sair da boca; não ouviria o que ouvi, e não escreveria aqui uma coisa que vai talvez achar incrédulos.” Explique o trecho destacado.

5. Qual foi a resposta de Capitu diante da condição imposta por Bentinho? Por que ele ficou desnorteado?

6.

“Falou do primeiro filho, como se fosse a primeira boneca.” a) Como você entende essa comparação feita pelo narrador? b) No fundo, o que cada um queria provocar no outro com essa conversa? O que esse episódio revela sobre a personalidade de Capitu, comparativamente à de Bentinho?

8. Levando-se em conta que a narração é feita em primeira pessoa, ela é subjetiva, ou

seja, reflete o ponto de vista do narrador – Bentinho. E se a narração fosse feita em terceira pessoa, isto é, se tivéssemos no texto um narrador onisciente? A visão em relação aos personagens seria a mesma?

texto 3

O capítulo abaixo é um dos mais importantes do romance. É o momento do velório de Escobar, que morreu afogado no mar. É durante esse velório que nascem em Bentinho as primeiras suspeitas da traição de Capitu.

Capítulo 123 – Olhos de ressaca

Glossário

Hora da encomendação e da partida: hora em que se faz a última prece pelo morto para, em seguida, fechar o caixão e levá-lo para o túmulo. Lance: momento. Consternou: entristeceu profundamente. A furto: às escondidas, disfarçadamente. Quais: como.

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas... As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

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7.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Moderna, 2008. p. 142-143. (Fragmento).

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Machado de Assis Capítulo 24

1. Qual advérbio o narrador usa para descrever o modo com que Capitu olhou para o cadáver? O que o uso desse advérbio indica em relação ao narrador?

2. Ao

falar do choro de Capitu, o narrador se refere a “algumas lágrimas poucas e caladas...”. a) Que significados pode ter o adjetivo caladas nessa passagem? O que se insinua nessa adjetivação? b) No parágrafo seguinte, certa atitude de Capitu descrita pelo narrador reforça a insinuação já feita com o uso do adjetivo caladas. Que atitude é essa?

3. Em que passagem do texto se justifica o título do capítulo? E o que fica insinuado com ele?

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Quincas Borba: “ao vencedor as batatas!” Nesse romance, o protagonista é Rubião, amigo do filósofo maluco Quincas Borba (personagem já presente em Memórias póstumas de Brás Cubas), que, ao morrer, lhe deixa uma grande herança. Trocando a pacata vida provinciana de Barbacena pela movimentação da Corte, Rubião transfere-se para o Rio de Janeiro. Leva consigo o cão – também chamado Quincas Borba – que pertenceu ao filósofo e do qual ele deve cuidar sob pena de perder a herança. Durante a viagem para o Rio de Janeiro, faz amizade com o casal Cristiano Palha e Sofia, que logo percebem estar diante de um rico e ingênuo provinciano. Atraído pela gentileza dos dois, sobretudo pela beleza da mulher, Rubião passa a frequentar a casa deles, confiando ao novo amigo a administração de seu dinheiro. Sofia, percebendo a atração que exerce sobre Rubião, mantém uma atitude esquiva, encorajando-o e ao mesmo tempo impondo uma certa distância. O marido, por outro lado, vai-se aproveitando do arrebatamento de Rubião para apossar-se de sua fortuna e aplicá-la em proveito próprio. Pouco a pouco, Rubião começa a manifestar os sintomas da loucura que o levará à morte, a mesma loucura que matou o filósofo Quincas Borba, que idealizou a teoria do Humanitismo. Explorado até a miséria, Rubião, com seu destino, exemplifica a tese do Humanitismo de que a vida é um campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem. [...] Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. [...] Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Moderna, 2004. p. 24-25. (Fragmento).

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Literatura brasileira e portuguesa

Capítulo 24

Conforme diz o crítico Antonio Candido: [...] No fim, pobre e louco, ele [Rubião] morre abandonado; mas, em compensação, como queria a filosofia do Humanitismo, Palha e Sofia estão ricos e considerados, dentro da mais perfeita normalidade social. Os fracos e os puros foram sutilmente manipulados como coisas e em seguida são postos de lado pelo próprio mecanismo da narrativa, que os cospe de certo modo e se concentra nos triunfadores, acabando por deixar no leitor uma dúvida sarcástica e cheia de subentendidos: o nome do livro designa o filósofo ou o cachorro, o homem ou o animal, que condicionaram ambos o destino de Rubião? Este começa como simples homem, chega na sua loucura a julgar-se imperador e acaba como um pobre bicho, fustigado pela fome e a chuva, no mesmo nível que o seu cachorro. Glossário

Página do jornal A estação, no qual Machado de Assis publicou, entre 1886 e 1891, o romance Quincas Borba.

Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 1970. p. 28. (Fragmento).

Leitura Os trechos transcritos a seguir revelam algumas características importantes da personalidade de Sofia. A cena se passa no jardim de sua casa, durante uma festa. Ela está passeando sozinha com Rubião. Capítulo 39 [...] Estava no jardim. Sofia enfiara o braço no dele, para irem ver a lua. Convidara dona Tonica, mas a pobre dama respondeu que tinha um pé dormente, que já ia, e não foi. Os dois ficaram calados algum tempo. Pelas janelas abertas viam-se as outras pessoas conversando, e até os homens, que tinham acabado o voltarete. O jardim era pequeno; mas a voz humana tem todas as notas, e os dois podiam dizer poemas sem ser ouvidos. Rubião lembrou-se de uma comparação velha, mui velha, apanhada em não sei que décima de 1850, ou de qualquer outra página em prosa de todos os tempos. Chamou aos olhos de Sofia as estrelas da terra, e às estrelas os olhos do céu! Tudo isso baixinho e trêmulo. Sofia ficou pasmada. De súbito endireitou o corpo, que até ali viera pesando no braço do Rubião. Estava tão acostumada à timidez do homem... Estrelas? Olhos? Quis dizer que não caçoasse com ela, mas não achou como dar forma à resposta, sem rejeitar uma convicção que também era sua, ou então sem animá-lo a ir adiante. Daí um longo silêncio. – Com uma diferença – continuou Rubião. – As estrelas são ainda menos lindas que os seus olhos, e afinal nem sei mesmo o que elas sejam. Deus, que as pôs tão alto, é porque não poderão ser vistas de perto, sem perder muito da formosura... Mas os seus olhos, não; estão aqui, ao pé de mim, grandes, luminosos, mais luminosos que o céu...

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Voltarete: certo tipo de jogo de cartas. Décima: estrofe de dez versos. Pasmada: muito surpresa e impressionada. Ao pé de mim: ao meu lado.

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Machado de Assis Capítulo 24

Glossário

Loquaz: falante. Cerceá-las: limitá-las. Adunco: recurvo em forma de gancho (alusão ao bico e às garras do gavião). Insolúvel: sem solução. Finezas: insinuações. Melindroso: delicado. Advertir: lembrar. Arrufada: irritada. Resignada: conformada.

Capítulo 41 – Vamos para dentro – murmurou Sofia. Quis tirar o braço; mas o dele reteve-lho com força. Não; ir para quê? Estavam ali bem, muito bem... Que melhor? Ou seria que ele a estivesse aborrecendo? Sofia acudiu que não, ao contrário; mas precisava ir fazer sala às visitas... Há quanto tempo estavam ali! – Não há dez minutos – disse o Rubião. – Que são dez minutos? – Mas podem ter dado pela nossa ausência... Rubião estremeceu diante deste possessivo: nossa ausência. Achou-lhe um princípio de cumplicidade. Concordou que podiam dar pela nossa ausência. Tinha razão, deviam separar-se; só lhe pedia uma coisa, duas coisas: a primeira é que não esquecesse aqueles dez minutos sublimes; a segunda é que, todas as noites, às dez horas, fitasse o Cruzeiro, ele o fitaria também, e os pensamentos de ambos iriam achar-se ali juntos, íntimos entre Deus e os homens. O convite era poético, mas só o convite. Rubião ia devorando a moça com olhos de fogo, e segurava-lhe uma das mãos para que ela não fugisse. Nem os olhos nem o gesto tinham poesia nenhuma. Sofia esteve a ponto de dizer alguma palavra áspera, mas engoliu-a logo, ao advertir que Rubião era um bom amigo da casa. Quis rir, mas não pôde; mostrou-se então arrufada, logo depois resignada, afinal suplicante; pediu-lhe pela alma da mãe dele, que devia estar no céu... Rubião não sabia do céu, nem da mãe, nem de nada. Que era mãe? Que era céu? Parecia dizer a cara dele. – Ai, não me quebre os dedos! – suspirou baixinho a moça. Aqui é que ele começou a voltar a si; afrouxou a pressão, sem soltar-lhe os dedos. – Vá – disse ele –, mas primeiro... Inclinava-se para beijar a mão, quando uma voz, a alguns passos, veio acordá-lo inteiramente.

acadeMia Brasileira de letras

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Loquaz, destemido, Rubião parecia totalmente outro. Não parou ali; falou ainda muito, mas não deixou o mesmo círculo de ideias. Tinha poucas; e a situação, apesar da repentina mudança do homem, tendia antes a cerceá-las, que a inspirar-lhe novas. Sofia é que não sabia que fizesse. Trouxera ao colo um pombinho, manso e quieto, e sai-lhe um gavião – um gavião adunco e faminto. Era preciso responder, fazê-lo parar, dizer que ia por onde ela não queria ir, e tudo isso, sem que ele se zangasse, sem que se fosse embora... Sofia procurava alguma coisa; não achava, porque esbarrava na questão, para ela insolúvel: se era melhor mostrar que entendia, ou que não entendia. Aqui lembraram-lhe os próprios gestos dela, as palavrinhas doces, as atenções particulares; concluía que, em tal situação, não podia ignorar o sentido das finezas do homem. Mas confessar que entendia, e não despedi-lo de casa, eis aí o ponto melindroso.

Capa da primeira edição de Quincas Borba, romance publicado em 1891.

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Capítulo 24

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– Olá! Estão apreciando a lua? Realmente, está deliciosa; está uma noite para namorados... Sim, deliciosa... Há muito que não vejo uma noite assim... Olhem só para baixo, os bicos de gás... Deliciosa! Para namorados... Os namorados gostam sempre da lua. No meu tempo, em Icaraí... Era Siqueira, o terrível major. Rubião não sabia que dissesse; Sofia, passados os primeiros instantes, readquiriu a posse de si mesma; respondeu que, em verdade, a noite era linda; depois contou que Rubião teimava em dizer que as noites do Rio não podiam comparar-se às de Barbacena, e, a propósito disso, referia uma anedota de um padre Mendes... Não era Mendes? – Mendes, sim; o padre Mendes – murmurou Rubião. O major mal podia conter o assombro. Tinha visto as duas mãos presas, a cabeça do Rubião meio inclinada, o movimento rápido de ambos, quando ele entrou no jardim; e sai-lhe de tudo isso um padre Mendes... Olhou para Sofia; viu-a risonha, tranquila, impenetrável. Nenhum medo, nenhum acanhamento; falava com tal simplicidade que o major pensou ter visto mal. Mas Rubião estragou tudo. Vexado, calado, não fez mais que tirar o relógio para ver as horas, levá-lo ao ouvido, como se lhe parecesse que não andava, depois limpá-lo com o lenço, devagar, devagar, sem olhar para um nem para outro... – Bem, conversem, vou ver as amigas, que não podem estar sós. Os homens já acabaram o maldito voltarete? – Já – respondeu o major, olhando curiosamente para Sofia. – Já, e até perguntaram por este senhor; por isso é que eu vim ver se o achava no jardim. Mas estavam aqui há muito tempo? – Agora mesmo – disse Sofia. Depois, batendo carinhosamente no ombro do major, passou do jardim à casa; não entrou pela porta da sala de visitas, mas por outra que dava para a de jantar; de maneira que, quando chegou àquela pelo interior, era como se acabasse de dar ordens para o chá.

Glossário

Vexado: envergonhado.

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Capítulo 42

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Moderna, 2004. p. 49-52. (Fragmento).

1. “Trouxera ao colo um pombinho, manso e quieto, e sai-lhe um gavião – um gavião adunco e faminto.” Explique o sentido desse comentário do narrador.

2.

“Mas podem ter dado pela nossa ausência...”. Como Rubião entendeu essa observação de Sofia?

3. Que insinuação se percebe na saudação que o major Siqueira fez a Rubião e Sofia? 4. Ao longo do trecho lido, transparecem diferentes nuances da personalidade de Sofia e do seu comportamento para com Rubião. a) Em qual(is) passagem(ns) percebemos que ela vive um conflito interno? Em que consiste esse conflito? b) No fim do capítulo 41, por que Sofia se mostrou “suplicante”, em vez de afastar Rubião com mais firmeza? c) No capítulo 42, após a chegada do major Siqueira, qual traço da personalidade de Sofia fica evidente?

5. Pelos

fragmentos que você leu de Dom Casmurro e Quincas Borba, pode-se dizer que Capitu e Sofia têm algumas características em comum? Justifique sua resposta.

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Machado de Assis Capítulo 24

Contos

O enfermeiro

NoVaes

No século XIX, o conto brasileiro atingiu seu ponto mais alto com Machado de Assis, que escreveu verdadeiras obras-primas de análise psicológica e social, tais como “O enfermeiro”, “A cartomante”, “A Igreja do Diabo”, “O alienista”, “Pai contra mãe”, “A causa secreta”, “O espelho” e “Missa do galo”, entre outros. Machado deixou publicados os seguintes livros de contos: Contos fluminenses, Histórias da meia-noite, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas e Relíquias da casa velha. Depois de sua morte, muitos outros textos esparsos foram recolhidos e incorporados à sua obra.

Caricatura de Machado de Assis, por Novaes.

Leitura

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Para conhecer um pouco do Machado de Assis contista, leia o texto a seguir. O enfermeiro Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860 pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado. Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui. [...] Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo – quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila. Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dois deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel. Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dois eram até gatunos! – Você é gatuno? – Não, senhor.

Glossário

Desenganado: com doença incurável. Enfarado: entediado, enfastiado. Estúrdio: esquisito, extravagante. Ao faro: atrás. Gatunos: ladrões.

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Capítulo 24

Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor ideia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua de mel de sete dias. No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião. Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei. – Estou na dependura, Procópio – dizia-me ele à noite. – Não posso viver muito tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for – acrescentou rindo – eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo, Procópio? – Qual o quê! – E por que é que não há de crer, seu burro? – redarguiu vivamente, arregalando os olhos. Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d’asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando. Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte. Aos quarenta e dois anos, não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui. Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto.

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Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na parede, onde se fez em pedaços. – Hás de pagá-lo, ladrão! – bradou ele. Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d’Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde, arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, parecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino! Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa, na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. “Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!”, exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens. Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranquila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a uma recapitulação da vida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro, espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação. Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.

Capítulo 24

Machado de Assis

Glossário

Injúrias: ofensas. Fazer corte: agradar. Afecções: doenças. Fomentação: fricção feita com substância medicamentosa sobre a pele. Instou: insistiu. Redarguiu: replicou, respondeu. Coibiu-se das bengaladas: parou de dar bengaladas. Descompondo: ofendendo, tratando mal. Trato: relacionamento. Atropelou-me: empurrou-me. Nome cru: grosseria, ofensa. Estremunhado: meio tonto de sono. Fazendo imagens nem estilo: usando linguagem figurada. Aterrar-me: aterrorizar-me. Urgia: era urgente.

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Glossário

Adverti: constatei, percebi. Amortalhei: vesti o cadáver. Persignando-me: fazendo o sinal da cruz. A miúdo: a todo instante. Espórtula: donativo em dinheiro. Embair: iludir, enganar. Aludia: referia-se. Rompantes: reações. Pasmo: espanto. Probidade: honra, integridade. Esbirro alugado: assassino de aluguel. Sucesso: acontecimento. Balanceava os agravos: punha as ofensas na balança. Legados pios: donativos piedosos (deixados pelo coronel à Igreja). Insidioso: traiçoeiro. Tênia: verme. Matriz: igreja matriz. Paramentos: ornamentos.

A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava impaciência: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade: – Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido. Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos... – Deixa lá o outro que morreu – diziam-me. – Não é caso para tanta melancolia. E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando, convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: “Deus lhe fale n’alma!” E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados... Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia. – Quanto tinha ele – perguntava-me meu irmão. – Não sei, mas era rico. – Realmente, provou que era teu amigo. – Era... Era... Assim por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas. Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...

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Machado de Assis Capítulo 24

Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. E balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isso mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra coisa. Fixei-me também nessa ideia... Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei-me e fui. Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato. – Sem dúvida – dizia eu, olhando para outra parte. Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero... – Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo. E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu, sinceramente, buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços, recompunha-se logo e ia ficando. As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo: distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi morrer, creio eu, no Paraguai. Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade... Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: “Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados”. In: ASSIS, Machado de. A cartomante e outros contos. São Paulo: Moderna, 2004. p. 43-48. (Fragmento).

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Capítulo 24

1. “A verdade é que vivemos uma lua de mel de sete dias.” O que o enfermeiro quis destacar com essa observação?

2. “[...] trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão.” O que o substantivo fermento sugere em relação ao que vai acontecer?

3. Analise o comportamento violento do coronel na noite em que morreu. Na sua opinião, ele estava consciente do que fazia? O que o enfermeiro observa a esse respeito?

4. Relendo a narração que o enfermeiro faz de sua reação à morte do coronel, podemos perceber nele sinais de remorso?

5. “Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso.” O que o enfermeiro quis dizer com esse comentário? Que dilema moral ele terá de enfrentar?

6. O comportamento do enfermeiro no velório provoca que tipo de comentários entre os presentes? No entanto, qual era a causa verdadeira desse comportamento?

versal do coronel. a) Antes de ir para a vila, quais eram os seus planos em relação à fortuna que iria receber? b) Essa ideia tem relação com o drama de consciência que ele enfrentava? c) A caminho da vila, o enfermeiro começa a fazer uma nova interpretação sobre o que ocorrera na noite da morte do coronel. Com que intenção ele faz essa reinterpretação?

8. A frase bíblica a que se refere o texto no final é: “Bem-aventurados os que cho-

ram, porque eles serão consolados”. Ao substituí-la por “Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados”, o narrador tece um outro perfil do ser humano. Que perfil é esse?

9. Releia

o primeiro parágrafo do conto. Explique o significado deste comentário do narrador: “Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte”.

10. “Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui.” Esse documento humano apresentado mostra o exterior ou o interior do ser humano?

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7. Um dia, o enfermeiro recebe a notícia de que tinha sido declarado o herdeiro uni-

A linguagem machadiana Uma das características marcantes do narrador machadiano, como, aliás, você já pôde perceber pelos textos lidos, é o ato de interromper a ação para conversar com o leitor sobre o livro que ele está lendo ou sobre os rumos da narrativa. Com essa atitude metalinguística, o narrador cria uma distância com relação àquilo que está sendo narrado, levando o leitor a perceber o jogo da ficção que se desenvolve diante de seus olhos. Veja um exemplo em Dom Casmurro: A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Moderna, 2008. p. 141. (Fragmento).

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Machado de Assis Capítulo 24

Embora marcada por uma ironia bem particular, essa característica do estilo machadiano não era totalmente original; ela já estava presente em alguns escritores estrangeiros conhecidos de Machado de Assis. Aliás, ele chega a citá-los na apresentação de Memórias póstumas de Brás Cubas: [...] Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Moderna, 2004. p. 18. (Fragmento).

Laurence Sterne (1713-1768) foi um escritor irlandês. Sua obra mais famosa é A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy, um livro satírico que projetou internacionalmente seu nome, mas que só foi traduzido e publicado no Brasil em 1984. Observe, no trecho a seguir, como o narrador tem um procedimento semelhante ao do narrador machadiano, suspendendo a ação para dirigir-se ao leitor – no caso, à leitora, a quem ele chega a impor uma “punição” por não ter prestado atenção à leitura. E mais: enquanto espera a leitora reler o trecho, o narrador passa a conversar com outro leitor! Na verdade, Sterne vai até mais longe que Machado, pois chega a dar a palavra aos leitores...

Glossário

Papista: nome que os protestantes davam aos católicos romanos. Verberar: censurar. Comprazem: satisfazem.

Como pôde a senhora mostrar-se tão desatenta ao ler o último capítulo? Nele eu vos disse que minha mãe não era uma papista. – Papista! O senhor absolutamente não me disse isso. – Senhora, peço-vos licença para repetir outra vez que vos disse tal coisa tão claramente quanto as palavras, por inferência direta, o poderiam dizer. – Então, senhor, devo ter pulado a página. – Não, senhora – não perdestes uma só palavra. – Então devo ter pegado no sono, senhor. – Meu orgulho, senhora, não vos permite semelhante refúgio. – Então declaro que nada sei do assunto. – Essa, senhora, é exatamente a falta de que vos acuso; e, à guisa de punição por ela, insisto em que volteis imediatamente atrás, isto é, tão logo chegueis ao próximo ponto final, leiais o capítulo todo novamente. Impus essa penalidade à dama não por capricho ou crueldade, mas pelo melhor dos motivos; portanto, não lhe pedirei desculpas quando ela estiver de volta. Isso serve para verberar um gosto viciado em que se comprazem milhares de outras pessoas além dela – ler sempre em linha reta, mais à cata de aventuras que da profunda erudição e saber que um livro desta natureza, quando lido como deve, infalivelmente lhes proporcionará. STERNE, Laurence. A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d. p. 94. (Fragmento).

tHe BridGeMaN art liBrarY/KeYstoNe – coleÇÃo Particular

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A referência a Sterne e Xavier de Maistre não é casual: são dois autores com os quais Machado de Assis tem vários pontos em comum, sobretudo a tendência metalinguística. Vamos, então, conhecer um pouco desses escritores.

Gravura de Simon François Ravenet (1759) para o livro de Laurence Sterne, A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy. Publicado em nove pequenos volumes entre 1759 e 1767, o romance foi fonte de inspiração para Machado de Assis.

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Capítulo 24

Xavier de Maistre (1750-1839) foi um escritor francês. Sua obra mais famosa é Viagem em volta do meu quarto. Observe, nesta passagem, as semelhanças com o estilo de Sterne e Machado de Assis. Não sei como isto me acontece; há algum tempo meus capítulos terminam sempre com um tom sinistro. Em vão, quando os inicio, fixo os meus olhares em algum objeto agradável, em vão embarco em calmaria – logo enfrento uma borrasca que me faz derivar. MAISTRE, Xavier de. Viagem em volta do meu quarto. Trad. e org. de Sandra M. Stroparo. São Paulo: Hedra, 2009. p. 51. (Fragmento).

Encontro com a literatura estrangeira

Vale a pena

Almanaque Machado de Assis: vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias. Luiz Antonio Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2008. Biografia resumida de Machado de Assis, com muitas informações sobre o Rio de Janeiro da época, seus amigos, sua vida

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Machado de Assis: um gênio brasileiro. Daniel Piza. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. Excelente biografia de Machado de Assis, ilustrada com muitas fotos de época.

com Carolina. Apresenta também uma boa introdução à obra machadiana, com comentários e resumos escritos numa linguagem bem acessível aos estudantes. É um livro bem ilustrado, que prende a atenção e certamente vai despertar o interesse do leitor em saber mais sobre Machado de Assis. Conteúdo Multimídia - Vídeo: Assista a um trecho do filme.

O enfermeiro. Direção de Mauro Farias. Brasil, 1999. No cinema, o velho coronel foi vivido por Paulo Autran, e o narrador-personagem, por Matheus Nachtergaele.

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Vale a pena assistir

Vale a pena acessar

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O alienista. Gabriel Bá e Fábio Moon. Rio de Janeiro: Agir, 2007. Além do cinema, outra linguagem com a qual os contos de Machado têm se dado bem é a dos quadrinhos. Várias adaptações já foram feitas, entre elas a de “O alienista”, pelos irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon.

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Vale a pena ler

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Biblioteca do estudante. Leia um trecho de O coração delator, de Edgar Allan Poe.

www.academia.org.br Para conhecer toda a história da Academia Brasileira de Letras, visite o site oficial e saiba muitas curiosidades sobre Machado de Assis e outros imortais. www.machadodeassis.org.br Página com informações sobre a vida e a obra de Machado, com destaque para seu papel na criação da Academia Brasileira de Letras. Há ainda extensa lista de trabalhos acadêmicos acerca do escritor, bem como informações sobre adaptações de suas obras para TV, cinema, teatro, etc.

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QUESTÕES PARA REVISÃO 5

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A seguir, apresentamos questões que podem servir para uma revisão do Realismo e do Naturalismo. 1. Considere as afirmações abaixo e escreva certo (C) ou errado (E) em cada uma delas. 1. No Brasil, diferentemente do que ocorreu em Portugal, o Realismo fez a apologia dos valores burgueses, principalmente de uma de suas instituições básicas – o casamento. ( ) 2. Os escritores realistas aprofundaram o romance nacionalista dos românticos, exaltando o modo de vida da nova sociedade brasileira que estava surgindo no final do século XIX. ( ) 3. O romance realista brasileiro aprofundou a crítica social que já vinha sendo esboçada por alguns autores românticos. ( ) 4. Romances como Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, evidenciam o interesse de Machado de Assis pela análise psicológica dos personagens. ( ) Assinale a sequência correta das respostas. a) E-E-C-C b) E-C-C-C c) C-C-E-E d) C-E-C-C e) E-C-E-C 2. O fato histórico que não ocorreu durante a época do Realismo brasileiro foi: a) a proclamação da República. b) o governo do marechal Floriano Peixoto. c) a abolição da escravidão. d) a proclamação da Independência.

5. (PUC-Campinas-SP) As obras da maturidade de Machado de Assis (também conhecidas como “as da segunda fase”) caracterizam-se: a) pela cristalização dos princípios estéticos românticos já perseguidos por José de Alencar. b) pela perfeição com que o autor desenvolveu as teses cientificistas igualmente abraçadas por Aluísio Azevedo. c) pela conquista de uma expressão realista original, a que se aliam o espírito pessimista e a lucidez da análise. d) pela conquista de uma expressão realista original, em que se casam o sentimento nacionalista e um tom profético. e) pela prática de uma poesia e de um teatro originais, que superam as velhas convicções dos escritores clássicos. 6. (UFCE) A ambiguidade do romance Dom Casmurro manifesta-se, principalmente, através da: I. escolha do tema; II. seleção do foco narrativo; III. objetividade do enredo; IV. delimitação do espaço; V. perspectiva temporal. Assinale a opção em que figuram apenas elementos corretos: a) I e II. b) IV e V. c) I e IV. d) II e V. e) I e III. 7. (Ufac) Leia o texto a seguir, do romance Dom Casmurro, da autoria de Machado de Assis. Capítulo CXIX – Não faça isso, querida! A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo.

3. Com relação ao Naturalismo, é válido afirmar que: a) destaca a influência do meio ambiente para mostrar que o ser humano é capaz de superá-la. b) constitui uma oposição ao Realismo, pois julga que a literatura não deve se preocupar com problemas sociais. c) julga decisiva a influência do meio ambiente e da hereditariedade psicofisiológica no comportamento humano. d) demonstra grande preocupação em analisar o ser humano apenas do ponto de vista psicológico, isolando-o do meio social.

A partir da leitura do capítulo, assinale a afirmativa incorreta.

4. Associe corretamente obras e autores. ( a ) O mulato ( ) Machado de Assis ( b ) O missionário ( ) Raul Pompeia ( c ) Quincas Borba ( ) Aluísio Azevedo ( d ) O Ateneu ( ) Inglês de Sousa

a) A possibilidade de “mudar de rumo” demonstra que os fatos da narrativa são por ela criados e existem em função da organização do que se narra. b) As referências ao próprio livro demonstram que, na narrativa em primeira pessoa, autor e narrador constituem uma única voz.

Glossário

Cavatina: composição destinada ao canto; na passagem tem o sentido de espetáculo musical.

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8. Considere estas afirmações: I. Em O cortiço, Aluísio Azevedo destaca a influência do meio ambiente como fator condicionante do comportamento humano. II. Em O Ateneu, a preocupação de Raul Pompeia é fazer uma crítica objetiva e realista das práticas educacionais do final do século XIX. III. Segundo a estética realista, a arte deveria obedecer a certos padrões morais e religiosos. IV. Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha são dois escritores naturalistas do final do século XIX. Assinale a resposta correta. a) Apenas a afirmação I é correta. b) Apenas as afirmações I e IV são corretas. c) Apenas as afirmações I e II são corretas. d) Apenas as afirmações III e IV são corretas. 9. Romance introspectivo em que o narrador-personagem, Sérgio, conta suas experiências infantis num colégio interno. Estamos falando de: a) Ressurreição. b) O mulato. c) O Ateneu. d) A mão e a luva. e) O missionário. 10. Os “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” caracterizam uma famosa personagem machadiana. É ela: a) Sofia, de Quincas Borba. b) Capitu, de A mão e a luva. c) Virgília, de Memórias póstumas de Brás Cubas. d) Capitu, de Dom Casmurro. e) Sofia, de Dom Casmurro. 11. “V. Exª. fez-se chefe desta cruzada tão desgraçada e tão mesquinha. Não posso senão dar-lhe os pêsames por tão triste papel.” Este é um trecho da carta aberta que Antero de Quental, então estudante da Universidade de Coimbra, escreveu a Castilho, poeta romântico português, iniciando uma famosa polêmica intelectual. a) Com que nome ficou conhecida essa polêmica? b) Qual o significado histórico dessa polêmica para a literatura portuguesa? 12. (UFV-MG) Com relação à prosa de ficção realista-naturalista, não se pode afirmar que: a) o romance naturalista aplicou métodos científicos na transfiguração artística do real. b) em oposição à visão romântica de mundo, o narrador realista foi mais impessoal na descrição da realidade.

c) os escritores realistas e naturalistas optaram por uma concepção da realidade “tal como é e não como deve ser”. d) o mundo humano, na ficção naturalista, apresentou-se submetido ao mesmo determinismo que o resto da natureza. e) a prosa realista, com vistas ao entretenimento do leitor, retratou enfaticamente o casamento com suas “verdades” afetivas e morais. 13. (Uepa) Leia o excerto abaixo. Ele nos fala da personagem Piedade, que pertence ao romance O cortiço, de Aluísio Azevedo. Ela ergueu-se finalmente, foi lá fora ao capinzal, pôs-se a andar agitada, falando sozinha, a gesticular forte. E nos seus movimentos de desespero, quando levantava para o céu os punhos fechados, dir-se-ia que não era contra o marido que se revoltava, mas sim contra aquela amaldiçoada luz alucinadora, contra aquele sol crapuloso, que fazia ferver o sangue dos homens e metia-lhes no corpo luxúrias de bode. A característica do naturalismo nele presente é: a) o anticlericalismo. b) a descrição minuciosa do estado psicológico das personagens sem apelar para explicações ditas científicas. c) o uso da noção de determinismo mesológico (meio físico) para explicar certos comportamentos de personagens. d) a idealização dos traços físicos das personagens referidas. e) a descrição crua dos sórdidos ambientes físicos em que vivem as pessoas de baixa renda.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

c) Machado de Assis, através do narrador, ironiza um tipo de leitor ingênuo, educado pelo romance de amor ao gosto do século XIX. d) O narrador machadiano desvela o processo ficcional através da conversa com o leitor e das referências ao objeto livro.

14. (UCSal-BA) Leia o seguinte texto. – Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Raul Pompeia, O Ateneu: crônica de saudades.

Depreende-se do texto que: a) o excesso de proteção materna pode fazer o jovem sofrer mais na primeira lição de vida fora do lar.

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Questões para revisão 5

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15. (UFRGS-RS) “Há, no romance brasileiro do século XIX, um filão que se caracteriza por criar quadros da sociedade carioca, com visão crítica dessa sociedade, e ‘perfis femininos’, que foram inicialmente esboços de análise psicológica.” Nele podemos incluir autores de momentos diferentes, tais como: a) Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis. b) Joaquim Manuel de Macedo, Martins Pena e Manuel A. de Almeida. c) José de Alencar, Machado de Assis e Álvares de Azevedo. d) Martins Pena, Machado de Assis e Álvares de Azevedo. e) Manuel A. de Almeida, Martins Pena e José de Alencar.

16. Observe bem a pintura reproduzida abaixo e explique em que aspectos podemos relacioná-la com os princípios do Realismo. White Images/ Scala, Florença/ Glowimages – Museu D’Orsay, Paris

b) o carinho excessivo na educação familiar torna o homem invulnerável aos reveses da vida. c) a educação que o narrador recebeu no lar ficou além do que lhe cobrou o mundo do Ateneu. d) a educação dada no internato complementa aquela recebida dos pais. e) a vantagem da educação familiar é que ela anestesia os que se ferem com as agressões do mundo.

BASTIEN-LEPAGE, Jules. Camponeses. 1877. Óleo sobre tela, 160 × 195 cm.

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