Reestruturação do Ensino Médio

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avaliação: paradigmas e paradoxos no âmbito do ensino médio

Ao longo da história moderna a avaliação escolar “ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa escolar passou a ser direcionada por uma ‘pedagogia do exame’” (Luckesi, 2002, p. 17). Embora tenha ocorrido um “desvirtuamento” da essência da avaliação por ocasião da institucionalização no sistema escolar, a avaliação diagnóstica permanece sendo realizada no cotidiano da sala de aula, pois é inegável que o processo de ensino-aprendizagem carece da observação e da utilização de instrumentos de aferição – testes, provas, entre outros. O que se quer chamar atenção é que foi a concepção classificatória que se impôs na avaliação formal da aprendizagem. Os instrumentos de aferição só contribuem para a aprendizagem, quando adotam a feição diagnóstica, formativa, emancipatória, e não como recurso estático de veredito, pois o ato avaliativo é mais amplo, precisa pensar o aluno com um todo, em uma perspectiva dialética e interdisciplinar. Li certa vez um artigo sobre avaliação no qual o autor3 questionava o leitor se ele viajaria em um avião se soubesse que, para obtenção do brevê – carteira expedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para pilotar avião ou helicóptero –, o piloto recebeu média 7,0, sendo 10,0 nas provas iniciais e 4,0 nas finais. Esse comentário ajuda nessa reflexão, pois expõe a nota/média a uma situação extrema e ridícula. Se a nota ou média for o elemento determinante na “avaliação” do conhecimento – o que geralmente acontece – podemos nos deparar com situações esdrúxulas desse tipo em que ela não espelha, efetivamente, se o saber foi ou não construído. Sem contar que em muitas situações há professores que reprovam por que o aluno não atingiu “décimos” e que muitos alunos utilizam-se do expediente da “cola” para escapar da reprovação. O ato avaliativo em essência não cabe em um número/nota. Segundo Luckesi (2002), a pedagogia do exame trouxe consequências pedagógicas e psicológicas desastrosas. Do ponto de vista pedagógico, a atenção nos exames e/ou provas não auxilia a aprendizagem, pois a polarização nos exames secundariza o significado

3. Luckesi (2002, p. 79) também usa esse exemplo como crítica à avaliação classificatória.

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