interdisciplinaridade: possibilidades na prática curricular
res. Desse modo, Vygotsky mostra que, no desenvolvimento de cada sujeito, duas dimensões podem ser distinguidas: a dimensão do desenvolvimento natural, ou seja, os processos de crescimento e maturação; e a dimensão do desenvolvimento cultural ou a utilização consciente de vários instrumentos culturais. Na prática, porém, é muito difícil distinguir ambas, embora estejam lá indissociavelmente coexistindo, como expressa Leontiev (1978, p. 171): Desde as primeiras etapas do desenvolvimento do indivíduo que a realidade concreta se lhe manifesta através da relação que ele tem com o meio; razão por que ele a percebe não apenas sob o ângulo das suas propriedades materiais e do seu sentido biológico, mas igualmente como um mundo de objetos que se descobrem progressivamente a ele na sua significação social, por intermédio da atividade humana.
Esse movimento, representado por Vygotsky e colaboradores, entendia a escola como ativa e encarnada, por não fazer distinção entre elaborações de vida e elaborações escolares. Não podemos esquecer que, no período em que eles viveram, a então União Soviética passava por uma condição de sociedade pós-revolução, o que fez que os intelectuais e cientistas assumissem uma postura no sentido de conceber a ciência como instrumento de “aliviar a miséria humana”. A ciência tinha de produzir melhores condições de vida para se superar o caos produzido no contexto histórico vivido: uma grande quantidade de órfãos, de analfabetos, concentração da informação e miséria estrutural pelo modelo econômico imposto pelos czares e pelo então recente processo revolucionário. Colocada dessa forma, a prática interdisciplinar passa também pela inter-relação entre os desenvolvimentos social e biológico, sendo assim, as vivências na escola e fora dela são constituídas por ações e inter-relações que configuram, todas elas, o desenvolvimento do aluno. Isso torna a escola um espaço onde o conhecimento da prática cultural da comunidade deve ser organizado em diálogo com os conhecimentos disciplinares, já que essas práticas são fundamentais no processo de desenvolvimento do sujeito e, 151