Renault FT-17 - O Primeiro Carro de Combate do Exército Brasileiro

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Renault FT-17 com torre octogonal Renault e metralhadora Hotchkiss de 7mm Companhia de Carros de Assalto 1921-1925

Renault FT-17 com torre fundida Berliet e canh達o Puteaux de 37mm Companhia de Carros de Assalto 1921-1925



À memória do meu tio-avô, Walter Gassenferth Júnior (23/04/1906 - 27/01/1978), tanquista entre 1925 e 1929.


PREFÁCIO

O INGRESSO DO BRASIL NA ERA DOS BLINDADOS

Como comandante do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), sintome honrado ao prefaciar esta obra, tão importante para o resgate de uma parcela da história dos carros de combate no Brasil, particularmente neste momento em que comemoramos os 90 anos de sua introdução em nosso país e os 15 anos de existência deste estabelecimento de ensino. Quando se fala de blindados no Brasil, o Professor Expedito emerge como autoridade, fruto de mais de 30 anos de estudos, ao longo dos quais ministrou inúmeras palestras em organizações militares, particularmente neste Centro, onde foi agraciado, em 2002, com o Diploma de Integrante Honorário do Corpo Docente. É um pesquisador incansável na busca do conhecimento e na divulgação das suas descobertas, como pode ser notado no primeiro volume do livro Blindados no Brasil - Um longo e Árduo Aprendizado. A viatura Renault FT-17 tem uma profunda ligação com o CIBld. Sua introdução no Brasil serviu de base para a evolução dos blindados e foi a “mola propulsora” para a criação, alguns anos mais tarde, de um centro de instrução específico, para ser um dos vetores de modernização e um fator de profissionalização de oficiais e sargentos da tropa blindada do Exército Brasileiro e de nações amigas. Além disso, o modelo está em destaque no brevê deste estabelecimento de ensino, ostentado com muito orgulho no peito dos concluintes dos nossos cursos e estágios.

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RENAULT FT-17

Nas páginas a seguir, o leitor tomará conhecimento de importantes fatos históricos, esquecidos por uns, desconhecidos por muitos. Será possível acompanhar o FT-17 desde a sua origem, passando pela chegada ao Rio de Janeiro, seu emprego, as diferentes versões, até chegar aos exemplares atualmente preservados. Esta viagem no tempo, conduzida pelo autor de uma forma muito agradável, traz-nos interessantes observações sobre episódios que envolveram o então jovem Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que foi o responsável maior pelo ingresso do Brasil na era dos blindados, no papel de precursor do emprego dessa máquina de guerra em nosso continente. Em um dos episódios, por exemplo, é narrado um incidente ocorrido durante uma inspeção para o recebimento dos veículos na França, realizada pelo General Leite de Castro, acompanhado do Major Eduardo Lima e do Capitão José Pessoa. Tal incidente possibilitou o envio de blindados recémfabricados, em substituição às viaturas usadas pelos franceses em combate. Em outro momento, o Professor Expedito transcreve uma das afirmações do Capitão José Pessoa: “Ao deixar essa escola, após ver o valor dos carros de assalto (nome primitivo dado aos carros de combate pelos franceses), a minha fé no futuro desses engenhos e a convicção de sua eficiência crescente na guerra moderna tornaram-se inabaláveis”. A leitura das obras e artigos do autor, bem como a consulta ao portal eletrônico UFJF/Defesa, tem sido uma constante na vida dos instrutores e monitores do Centro de Instrução de Blindados. Certamente este novo livro, pelos motivos anteriormente mencionados, também será de grande valia. Em nossa biblioteca, ocupará um lugar de destaque e constará do programa de leitura do nosso estabelecimento de ensino. Por fim, acredito que registrar a trajetória do Renault FT-17 no Exército Brasileiro contribuirá em muito para a continuidade do processo de transformação do espírito do blindado. Conhecer o passado é fundamental para se interpretar o presente e, assim, planejar o futuro, em face de novos desafios. Santa Maria, 17 de agosto de 2011. Coronel Giovany Carrião de Freitas Comandante do CIBld “General Walter Pires”

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Homenagens prestadas ao pioneiro Renault FT-17 pelo Centro de Instrução de Blindados (CIBld), onde é preservado como o símbolo da instituição.

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ORIGEM

UM PROJETO REVOLUCIONÁRIO E VITORIOSO

Os carros de combate foram desenvolvidos durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O primeiro modelo funcional foi criado na Inglaterra pelo Tenente-Coronel Ernest Dunlop Swinton, sendo utilizado em massa a partir de novembro de 1917. Além dos ingleses, alemães e franceses também se dedicaram à produção de blindados durante o conflito. Na França, um projeto de grande sucesso foi levado adiante por Louis Renault em colaboração com o General Jean-Baptiste Eugène Estiene. Leve e muito avançado para a época, o pequeno FT-17 era uma máquina extraordinária. Foi projetado, fabricado em série e colocado em serviço num prazo recorde. Os testes com os protótipos começaram em abril de 1917, apenas cinco meses após os seus desenhos ficarem prontos. Além das versões de combate, o chassis contemplava uma família ampla, formada pelo carro projetor, unidade de telegrafia sem fio, tracionador de balão para observação, transportador de ponte, fumígeno e lança-chamas. Seu batismo de fogo ocorreu em 31 de maio de 1918 e o primeiro emprego em massa foi realizado em 18 de julho, quando o General Charles Mangin lançou uma grande ofensiva em Villers-Cotterêts. No confronto, 300 Renault FT-17 (apoiados por uma esquadrilha de 600 aviões) realizaram a primeira de uma série de campanhas vitoriosas, as quais foram decisivas para a rendição alemã em 11 de novembro.

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RENAULT FT-17

COLEÇÃO DO AUTOR

ACIMA, BLINDADOS RENAULT COM AS FORÇAS FRANCESAS DURANTE A PRIMEIRA GUERRA.

AO LADO, UMA COLUNA DE MODELOS FT-17 NA FESTA DA VITÓRIA, OCORRIDA EM PARIS.

ABAIXO, ESSA COMEMORAÇÃO FRANCESA FOI REALIZADA EM 14 DE JULHO DE 1919.

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ORIGEM

Antecipando a importância que os carros de combate teriam no futuro, um comandante alemão chegou a afirmar na época que a derrota das suas tropas na frente ocidental foi mérito do “General Tanque”. O FT-17 foi um modelo revolucionário por uma série de razões: - Possuía uma torre com giro de 360º e duas opções de armamento em sua versão original: um canhão Puteaux de 37mm ou uma metralhadora Hotchkiss de 8mm; - Sua arquitetura de construção se tornou uma referência entre os blindados: motor na traseira, torre no centro e sistema de direção à frente; - Ao utilizar uma estrutura monobloco, ao invés de longarinas, antecipou não apenas o futuro dos veículos militares como o padrão dos automóveis civis; - Foi fabricado segundo as técnicas de produção em massa, com a mesma rapidez e qualidade de um modelo de carro ou caminhão; - O projeto contemplou, desde o início, a criação de uma diversificada família de modelos sobre o mesmo chassis.

S. P . UFJF / DEFESA

ALGUNS DESENHOS DE SISTEMAS MECÂNICOS E ARMAMENTOS QUE INTEGRAM O PROJETO DO FT-17.

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RENAULT FT-17

S. P . UFJF / DEFESA

O CANHÃO PUTEAUX (À ESQUERDA) ERA OPERADO MANUALMENTE DE DENTRO DO CARRO, APOIADO NO OMBRO DO ATIRADOR. A MIRA ERA FEITA GIRANDO-O PARA ENQUADRAR O ALVO, A EXEMPLO DE UMA ARMA COMUM. A METRALHADORA HOTCHKISS (À DIREITA) ERA UTILIZADA DA MESMA FORMA.

RENAULT FT-17 EM CORTE

1 - Chefe do carro e operador dos armamentos

10 - Manivela de partida do motor

2 - Metralhadora ou canhão

11 - Transmissão

3 - Condutor do veículo

12 - Reservatório de combustível

4 - Escotilha de acesso do motorista

13 - Ventilador

5 - Alavanca de direção

14 - Radiador

6 - Alavanca da caixa de marchas

15 - Motor

7 - Pedal do freio

16 - Reservatório de óleo

8 - Pedal do acelerador

17 - Barra de sustentação para transposição

9 - Escotilha de acesso do chefe do carro

18 - Torre giratória

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