18 Chaves para o sucesso ministerial

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18 Chaves para o Sucesso do MinistĂŠrio Pastoral

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18 Chaves para o Sucesso do Ministério Pastoral Editora Mensagem Para Todos Coordenação Editorial Rousemary Maia Projeto/Produção Gráfica Douglas Maia Revisão J. G. Silva Capa Souto Design

Copyright (c) 2005 by João A. Souza Todos os direitos reservados a Editora Mensagem Para Todos Caixa Postal 91- CEP 12.914-970 Bragança Paulista - SP Fone/Fax: (11) 4033-6636/ 4035-7575 www.josuegoncalves.com.br

Editoração Cristiano Araújo Preparação Ada Rodrigues Impressão e Acabamento Imprensa da Fé

Falar com o autor: email: pastor.escritor@terra.com.br Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio sem a autorização por escrito do autor.

João A. de Souza (2008) 18 Chaves para o Sucesso do Ministério Pastoral Teologia/João A. de Souza Editora Mensagem Para Todos, 2008

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Agradecimentos

Feliz o obreiro que tem uma esposa fiel e ajudadora ao seu lado. Um velho ditado judeu diz que um homem solteiro é meio-homem; casado é homem completo. Esta verdade se aplica também ao ministério pastoral. Minha esposa Vanda Zalewski me acompanha no ministério pastoral desde nosso casamento em 1971. Sofreu comigo as agruras ministeriais em tempos de dissenso; permaneceu ao meu lado fielmente nas perseguições; chorou e riu comigo; intercedeu e clamou ao meu lado quando o mundo se apresentava sombrio, e depois de cumprir seu dever de mãe, esposa e avó, firme, continua ao meu lado. Agradeço também ao meu editor, Josué Gonçalves que apostou na reedição de uma obra tão necessária a pastores e líderes. Ele, que poderia utilizar sua editora para publicações exclusivas de seus livros, excelente autor que é, abre espaço para que outros autores tenham seus produtos publicados por ele.

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Sobre o Autor João A. de Souza Filho é graduado do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus de Pindamonhangaba, São Paulo. Pregador loquaz desde os 17 anos e autor de duas dezenas de livros publicados por diversas editoras brasileiras. Nas últimas três décadas vem ministrando profeticamente em denominações históricas, pentecostais e neopentecostais em todo território nacional, Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina. Casado com Vanda Zalewski tem dois filhos e três netos e atualmente reside no Estado de São Paulo. Entre seus livros mais conhecidos estão o Ministério de Louvor da Igreja, Formando Verdadeiros Adoradores, Estratégias Para a Guerra Espiritual e Ratos de Igreja. 8


Apresentação Vivemos em um tempo em que exercer o ministério pastoral é um grande desafio. Por isso a nova geração de pastores busca um referencial que não é fácil de ser encontrado em um tempo de crise de integridade. A verdade é que o cenário do tempo presente exige de cada um dos chamados para o santo ministério uma resposta que revele compromisso sério com as prioridades do reino de Deus. Atendendo a necessidade urgente de uma orientação objetiva, honesta e profunda para aqueles que estão sempre buscando servir ao Senhor com excelência, o autor João A. de Souza F ­ ilho com muito discernimento e autoridade bíblica apresenta “18 Chaves Para o Sucesso do Ministério Pastoral”. Há pessoas que pensam que o sucesso de um pastor ­depende apenas do seu talento, eis a razão porque muitos não conseguem

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cumprir cabalmente o seu ministério, fracassam antes de completar sua carreira. Ao estudar estas chaves, o leitor descobrirá novas possibilidades, novos horizontes e novos desafios que o levarão a uma nova dimensão de vida no exercício do ministério pastoral. Leia este manual como um pastor que está faminto por aquilo que pode enriquecer a alma e tornar a sua missão mais prazerosa e frutífera. Boa leitura!

Josué Gonçalves Diretor Executivo da Editora Mensagem Para Todos

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Índice

Introdução......................................................................................11 Entenda a Nobreza e Grandeza do Ministério................................15 Conheça a Diferença entre um Ministério Falso e o Verdadeiro...29 Fundamente seu Ministério............................................................49 Princípios Bíblicos Para o Sustento do Obreiro.............................61 Desenvolva um Ministério Masculino...........................................83 Aprenda a Cultivar um ambiente saudável no lar..........................97 Cuidado com o Púlpito.................................................................119 Desenvolva um Ministério Eficaz................................................133 Como Pregar Novas Mensagens Todos os Dias...........................145 Aprendendo a Conviver Com a Fama..........................................155 Buscando o Equilíbrio Entre a Fama e a Honra...........................169 Aprendendo a Lidar Com a Traição.............................................179

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Cuidado Com a Ambição.............................................................191 Aprenda a Lidar Com a inveja....................................................203 Aprendendo a Lidar Com as Tentações sexuais...........................211 Aprenda a Conviver com a decepção...........................................225 Lidando com o Desgaste Ministerial............................................231 O Conflito do Pastor.....................................................................247 Conclusão.....................................................................................263

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Introdução

Existem livros excelentes dirigidos especialmente ao obreiro de Cristo, muitos dos quais li e pesquisei, e que ocupam as prateleiras de minha biblioteca; alguns deles usei como literatura de apoio, citando frases e experiências, fato percebido no endereçamento bibliográfico do livro; outros, apenas me deram a certeza de que o que estava escrevendo, era algo novo, e jamais publicado. E que diversidade de autores, alguns católicos, outros protestantes, e outros evangélicos e pentecostais, verdadeiras autoridades no assunto! ­Livros escritos por homens e mulheres, pessoas que deixaram exemplo marcante de vida cristã e de operosidade na igreja de Jesus Cristo. A maioria dos autores, no entanto, aborda a questão ministerial do ponto de vista teológico, com definições, textos, citações, exegeses, mostrando como deve viver e proceder o obreiro cristão. Para que a obra fosse inédita, detive-me, ao escrever este livro, num aspecto quase sempre ignorado por todos eles: as situações práticas que enfrentamos no dia a dia do ministério, raramente abordadas em livros para obreiros. 13


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Um jovem pastor entra no ministério com todo o fogo. Ele tem o fogo de Deus que arde em seu coração. Tem também o fogo da alma, do conhecimento e da autoconfiança em tudo o que irá empreender. Quando termina o curso bíblico, seja no seminário teológico ou no Instituto Bíblico, ou mesmo como jovem na igreja, imagina-se ali, na liderança, levando a igreja nos rumos que ele gostaria de ver. Sente que pode mudar o mundo; e pode! Algumas das maiores revoluções sociais e espirituais que tiveram lugar no mundo, as revoluções da política e da igreja, partiram de idéias que começaram a arder cedo no coração de gente idealista, jovem, que ansiava por um mundo diferente. Mas o jovem, e todo obreiro vê-se tomado também pelo fogo do vigor sexual, que diferentemente da sensualidade é uma reação física normal em qualquer homem, e se é solteiro antevê a glória de um casamento feliz, com uma família alegre ao seu lado. Seja solteiro ou casado, no entanto, vê-se envolvido num turbilhão de pensamentos, imagens e desejos com os quais luta continuamente. Seu cérebro fervilha com novas idéias, planeja ter um ministério bem sucedido, lê biografias de homens de Deus e muito do que pensa realizar vem espelhado na vida de ilustres homens de Deus que estão impactando sua geração, mas também é acometido pelos desejos do poder, de estar em posição de autoridade e de exercer liderança internacional. Seja ele obreiro, fruto de um seminário teológico, ou formado no discipulado intensivo de uma congregação local, ele tem visões e sonhos. Quer ser conferencista de destaque, escrever livros, formar uma sólida igreja, galgar postos em sua denominação, e se vê dando a última palavra nos debates convencionais ou em reuniões mundiais. No entanto, no primeiro ano de pastoreio descobre que o caminho é bem mais espinhento, pedregoso e inóspito, além do que esperava. A primeira pergunta que lhe vem à mente é: será que os líderes que estão em evidência enfrentaram os mesmos problemas e passaram pelos mesmos atropelos que vêm enfrentando agora?

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Introdução

Nesse livro, como pastor mais antigo, quero compartilhar com você algumas verdades a esse respeito. Comecei cedo no ministério. Aos dezessete anos estava internado num Instituto Bíblico. Aos vinte era responsável pelo pastoreio de uma igreja, e vi muitos de meus sonhos serem sepultados na atividade denominacional. Mas não sucumbi. Venci! No decorrer dos anos tive que enfrentar ciúmes, invejas e cobiças, seja em mim mesmo ou naqueles que comigo trabalhavam. Tive que enfrentar a tentação de locupletar-me, de fazer do ministério a plataforma para a aquisição de bens pessoais, no que foi necessário recorrer diariamente a palavra de Deus para nela espelhar-me e conduzir a vida ministerial, mais próxima possível do padrão estabelecido pelos apóstolos para os obreiros. Vivemos diariamente a luta entre continuar no ministério como está ou em dar uma guinada a fim de superar a crise ministerial; viver sem ceder às tentações convidativas da fama, permanecendo na vocação a que fomos chamados, ou aceder à ambição balaônica. A vida ministerial não é fácil, mas pode ser vivida cheia de alegria, prazer, humor, contentamento e fé! Você irá encontrar temas palpitantes da vida ministerial, a começar pelo primeiro capítulo em que abordo a necessidade de se manter aceso o vigor profético de nosso chamamento. Irá também encontrar sugestões para a preparação de novas mensagens e aprenderá a lidar com a traição, a fama o orgulho e a honra. Descobrirá que terá que aprender, como Paulo, a viver com a decepção, a lidar com o desgaste ministerial e a desenvolver uma personalidade masculina, tema que abordo num capítulo bastante controverso, tem aparência de machismo, mas é a pura verdade ensinada pelo apóstolo Paulo. Tenho um capítulo em que apresento dicas de como criar um ambiente saudável no lar, e as várias alternativas às pressões da congregação, pressões da família, e apresento dicas de como se obter soluções a esses e outros problemas. Também dedico um capítulo sobre o púlpito, como pedestal de vida e de morte, a arma da verdade 15


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ou o instrumento dos covardes. Você vai gostar de ler sobre como fundamentar um ministério que não seja fogo de palha; aprenderá a olhar a questão financeira sob a ótica bíblica e não da denominação ou dos conceitos criados pelo eclesialismo de nossas igrejas. Boa leitura! João A. de Souza Filho

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1 Entenda a Nobreza e Grandeza do Ministério O Dom que Deus lhe deu é inegociável “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus” (Paulo de Tarso). O jovem obreiro aguarda com expectativa o dia em que será ordenado ao santo ministério da Palavra. Ter um lugar especial no púlpito, ser chamado de pastor por todos os irmãos, o privilégio de se destacar entre aqueles que com ele cresceram na igreja, a possibilidade de votar, de ser eleito para diversos cargos na convenção, concílio ou direção de sua denominação, tudo isso é como uma auréola invisível ao redor de sua cabeça, um colar de glória em seu pescoço. Em sua denominação não há o uso do colarinho clerical, mas para quê? Ele existe, invisível, sempre reluzente pelo brilho do título que ora passou a envergar. Levará ainda algum tempo, quem sabe anos, 17


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algumas frustrações, decepções, e uma iluminação especial de Deus para perceber que o título ministerial, por si mesmo, nada é, se o jovem obreiro perder, por causa de seu caráter, a nobreza do ministério que lhe foi conferida. Ele descobrirá, então, que o título não tem sentido algum se a graça, a unção e a virtude profética de seu ministério forem perdidos. Não é o título ministerial que dá nobreza ao ministério. Os títulos, por vezes, se vulgarizam e nos põem em pé de igualdade com os profissionais de qualquer ramo. Em alguns países, o pastor vive em pé de igualdade com o funcionário público assalariado pelo governo. Noutros, pastor é profissão e algumas denominações chegam a solicitar seus serviços pelos classificados dos jornais, como nos Estados Unidos e Canadá. Aqui no Brasil, pastor é título vulgarizado nos meandros da maquiavélica política, e deturpou-se em escândalos de envergadura internacional. Alguns optaram por outros nomes mais pomposos, apóstolos e bispos, nomes realmente bíblicos, se ao menos bíblica fosse a envergadura do cargo que exercem, seguindo o exemplo daqueles que no Novo Testamento e nos três primeiros séculos da Igreja Cristã detinham tal nomenclatura. Você já pesquisou para ver quantas vezes aparece a palavra pastor no Novo Testamento como título ministerial? No entanto, apesar de aparecer uma única vez em Efésios 4.11 tem-se por ele maior apreciação do que pelos demais títulos, como os de presbíteros, bispos e apóstolos. Os títulos ministeriais deixam as pessoas orgulhosas, no entanto, perdeu-se com o tempo o verdadeiro sentido que os apóstolos queriam expressar quando a eles se referiam. Não quero, todavia, expor o sentido de apóstolo, bispo e pastor conforme os obreiros do Novo Testamento entendiam, o que me levaria a uma longa dissertação do léxico grego. Veríamos neste caso, que ministro, ora se referindo a um enviado, ora a um ajudante de remador, e, por vezes, a um escravo, não era um título tão pomposo a ponto de merecer credencial com foto colorida, endereço com E-mail e página na WEB. Apóstolo, no entendimento de Paulo, era o primeiro na lista de 18


Entenda a Nobreza e a Grandeza do Ministério

i­mportância na edificação da igreja, a escória desprezada pelo poder público, e o último a ser reconhecido na igreja local. A nobreza do ministério reside no chamamento divino, na possibilidade de se fazer parte do conselho de Deus na terra, na representação da misericórdia, do amor, da graça e da justiça divina. Os títulos não têm valor algum para Deus; a obediência ao chamamento, a fidelidade aos propósitos divinos e a representatividade de tudo o que é celestial nesse mundo terrenal é que têm valor diante de nosso Senhor. Contudo, a prática pastoral perdeu seu verdadeiro sentido em alguns luA Nobreza do gares do Brasil, tanto que, apresentar-se como pastor é menosprezar a si mesmo, vulgarizar- ministério reside no se diante dos homens; em alguns lugares esse chamamentodivino, título não dá crédito no comércio e, cientes na possibilidade de disso, muitos se apresentam com nomes de se fazer parte do quaisquer profissões.

conselho de Deus...

Mas nem sempre foi assim. Alguns anos atrás, ministrando na cidade de Varginha, em Minas, meu hospedeiro levou-me ao bairro Bom Pastor, expressando com orgulho o sentido do bairro ter esse nome. “Aqui”, disse, “morava o Pastor Bernhard Johnson, pai do conhecido Bernhard Johnson Jr. O bairro tem esse nome por causa dele, um Bom P ­ astor nessa vizinhança”. São raros exemplos assim. A nobreza daquele homem deixou um bom testemunho de Cristo na cidade, e o Evangelho esteve ali bem representado.

A nobreza do ministério não está na posição que se galga dentro de uma denominação, nem nos cargos que se exerce numa grande igreja local, muitas vezes conseguidos por meios nada gentis; a nobreza reside na verticalidade da comunhão com Deus e na execução dos propósitos divinos na terra. E é a vida interior do obreiro que determinará seu ministério na terra. Aqueles que ensinam a verdade, que demonstram o conhecimento de Deus na terra, e que lidam 19


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com as almas de pessoas humanas, deveriam encarar as questões da vida interior como tema transcendental, e a saúde da vida interior deveria ocupar seu pensamento e seu tempo mais do que qualquer outra pessoa na igreja. Falando desse tema a um grupo de obreiros no início do século vinte, Evelyn Underhill disse: “É requisito básico que um ministro de Deus mantenha sua vida interior em perfeito estado de saúde. Sua comunhão diária com Deus deve ser sólida e verdadeira. (...) Creio que o ministro deve ter em mente, de forma clara, plena de riqueza e profundidade a Majestade e Esplendor de Deus; depois contrastar seu interior, sua alma, com esse Magnífico Esplendor. Logo, possuir clareza quanto ao tipo de vida interior que seu chamamento requer. Deus - a alma - a eleição divina - três realidades fundamentais da vida do ministro.”1 A autora, é certo, se referia à experiência de Isaias que O ministro, pois, no viu contrastada na glória de Deus o negrume sentido da própria de seu pecado e de sua vida interior.

palavra é um servo que trabalha sob ordens de um superior - não de seu bispo ou superintendente, antes, de Cristo.

Paulo disse: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1). A palavra grega traduzida aqui como ministro é huperetes, um remador inferior, um ajudante de remador. Ao utilizarse desse termo, Paulo está se referindo aos remadores que ficavam na parte mais inferior do navio; remadores submissos a outros remadores... Não é servo (diácono) nem escravo (doulos), mas alguém que trabalha por obrigatoriedade, uma pessoa contratada, que vive sob ordens de um superior, que espera ordens para agir, no caso de Paulo, de Cristo. O que Paulo pretendia dizer com isso? Que as ­pessoas deveriam entender que o ministro não age por conta própria, que trabalha sob ordens, obedece a um líder e que tudo o que faz é apenas trabalhar e trabalhar... obedecendo!

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O ministro, pois, no sentido da própria palavra é um servo que trabalha sob ordens de um superior – não de seu bispo ou superintendente, antes, de Cristo. Mathew Henry diz: “Neste caso, o apóstolo requer respeito ao tipo de ofício que O obreiro deve ter tem, especialmente porque muitos fracas- em mente que seu saram na missão apostólica, ainda que outros, ministério não é possivelmente, colocavam o apostolado como uma profissão, que a algo muito sublime, elevado, como se Paulo igreja que pastoreia fosse o líder de um partido e, por isso, diziam serem seus discípulos. É nossa opinião de não lhe pertence, e sim a Cristo... ministros, que deveríamos evitar os extremos. Os apóstolos não devem ser super valorizados, pois são ministros, não mestres; despenseiros, não senhores. Eram apenas servos de Cristo e nada mais, ainda que servos do mais alto escalão, pessoas que cuidavam da despensa, provendo alimento e designando tarefas aos demais. Veja, é um grande abuso querer ser ­senhor dos servos, quando se é também servo, e exigir que se obedeça à sua autoridade. Pois os apóstolos não passavam de servos de Cristo, empregados dele, por ele enviados para serem despenseiros dos mistérios de Deus; mistérios que estavam guardados por gerações. Não arrogavam ter autoridade querendo dominar sobre os demais, apenas proclamavam a mensagem de Cristo.” 2 O obreiro deve ter em mente que seu ministério não é uma profissão, que a igreja que pastoreia não lhe pertence, e sim a Cristo (e os demais líderes da igreja devem reavaliar seus critérios quando pensam que a igreja lhes pertence), que ele é assalariado de Deus e que recebe ordens do céu e não do conselho da igreja. E o povo deveria entender claramente desse assunto, para não pensar que seu pastor é o empregado da igreja. O obreiro é apenas um servo entre os servos, designado em liderar os demais na distribuição das riquezas da despensa de Deus aos homens. Nem profissão é, pois que um 21


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profissional se limita a trabalhar algumas horas por dia; o obreiro não tem hora para trabalhar; a cada momento se vê envolvido na tarefa que Deus lhe designa. A qualquer hora do dia ou da noite lá está o obreiro, orando, lendo, estudando, visitando, chorando e rindo com os que estão sob seu cuidado. Quantos de nós maculamos o bom nome de Cristo? Ou será que Deus não irá cobrar de nós o comportamento e a péssima reputação que damos ao nome de Cristo na terra? Será que nosso comportamento redunda “em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”? (1 Pe 1.7). Mantemos procedimento exemplar na cidade em que vivemos? (1 Pe 2.12). Precisamos entender que nossa função pastoral foi-nos concedida por Deus, e o nome do Senhor deve ser guardado na mais alta honra. Mas não é exatamente o contrário que acontece? Queremos manSomente podemos ter o nosso nome honrado, velamos por nossa servir a Deus com reputação, zelamos por nosso ministério, quando na realidade deveríamos pensar em honrar o aquilo que é de Nome daquele que nos chamou e nos capacitou Deus. Nada, a não para a obra de Deus.

ser o que nos é dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor.

O processo da vida interior purificada, imaculada e santa, não é para nosso próprio louvor, e sim para honra e glória do nome de Deus. Precisamos aprender a levar a culpa, a carregar o opróbrio, e não buscarmos apenas a honra e a glória ministerial. Consagramos nossas vidas com o objetivo de sermos capacitados com poder e graça, quando na realidade a consagração deveria ter como objetivo a glória do nome de Jesus. Essa inversão de ­valores é egoísta, pois aproximamo-nos de Deus buscando nossos próprios interesses. Todo meu ser é consagrado para glorificar o nome do Pai, honrar o nome do Filho e expressar a vontade do ­Espírito Santo. Quantos jejuam dias e noites com motivações erradas? Buscam poder, querem os dons para curar, expelir demônios, operar milagres e para isso jejuam; essas coisas, 22


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no entanto vêm como fruto da consagração a Deus. Tudo pertence a Deus e ele de boa vontade concede-nos de seus dons. “Somente podemos servir a Deus com aquilo que é de Deus. Nada, a não ser o que nos é dado por Deus pode ser usado no serviço do Senhor”, diz W. Nee num de seus livros.3 Watchman Nee, - influenciado pelas obras de Madame Guyon e de Jessie Penn Lewis - aprendeu a valorizar a pessoa pelo que ela é, e não por aquilo que realiza. De forma clara e ampla é o que trata João da Cruz fala em seu livro, O Carmelo, quando disserta sobre a noite escura da alma em que se perde tudo para ganhar a Deus.

Hoje, no crepúsculo do século vinte, o mundo diz à igreja que enfrente seus pecados,arrependase e comece a ser verdadeira igreja desse evangelho...

Na jornada da vida ministerial, em alguma curva ou encruzilhada da estrada os obreiros foram perdendo o verdadeiro sentido do ministério. Hoje, a capacitação teológica tem mais valor que a espiritual; o conhecimento da filosofia, mais que a vida cristã profunda. O humanismo conseguiu penetrar nas salas de aulas dos seminários e, como me disse uma teologanda de um famoso seminário: “quase não estudamos a Bíblia. Estudamos e lemos tudo sobre ela, mas não estudamos para que a Palavra penetre em nós.” O verdadeiro ministério precisa urgentemente ser restabelecido no seio da igreja, e para que isso aconteça é necessário que os pastores voltem ao começo de tudo, repensem seu chamamento, reflitam sobre seus ministérios e deixem o ministério pastoral de cunho profissional para o de cunho vocacional. São homens de Deus, não empregados de denominações. São vocacionados por Deus, e não podem macular o nome de Deus nos meandros da política e da corrida eleitoral. “Durante dezenove séculos a igreja vem dizendo ao mundo que reconheça os seus pecados, arrependa-se e creia no evangelho. Hoje, no crepúsculo do século vinte, o mundo diz à igreja 23


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que enfrente seus pecados, arrependa-se e comece a ser a verdadeira igreja desse evangelho.” 4

Preservando o vigor profético do ministério O ministério, qualquer que seja, não pode perder o espírito profético no qual está inserido. Seja o de apóstolo, bispo, pastor, evangelista ou mestre, o ministério do homem de Deus deve ser exercido dentro do espírito profético e de profecia; deve respirar, exalar e manifestar o caráter profético que é o de confortar, edificar, consolar, fortalecer e orientar a vida das pessoas. O ministro de Deus deve servir ao Senhor com pureza e sensibilidade ao Espírito Santo, ouvidos atentos à sua voz, como aqueles que serviam ao Senhor, jejuavam, e ouviram a voz do Espírito Santo que comissionava a dois deles para a obra missionária. É Alguns que se dizem a isso que me refiro como caráter profético do apóstolos e bispos ministério. Paulo e Barnabé, a quem o Espírito hoje têm mais visão Santo separa em Atos 13, foram dois apóstolos que revolucionaram o mundo de seus dias; disócio-política que ferentemente dos que se dizem apóstolos nos espiritual... dias de hoje. Alguns que se dizem apóstolos e bispos hoje têm mais visão sócio-política que espiritual. Anelam mais o poder temporal que a proposta de Jesus de um reino eterno. Um ­­ministro de Deus que se engaja num partido político, apesar de pretender defender energicamente em plenário sua fé cristã, de empunhar a Bíblia como sua regra de fé, de querer influenciar os destinos de sua cidade, estado ou nação aos princípios bíblicos, logo se verá infectado pelo vírus da complacência, dos acordos políticos e da possibilidade de um ganho maior. Se foi vocacionado por Deus e se faz parte 24


Entenda a Nobreza e a Grandeza do Ministério

do conselho de Deus na terra, o homem de Deus não deve jamais se contaminar pelo sistema de governo do mundo. Alguns dos grandes escândalos que mancham a vida pastoral têm suas raízes em pastores que abraçaram a política, enganando-se, pensando que, pela política poderiam mudar o sistema e, com isso, trazer o governo de Deus à terra. Não é dessa forma que o governo de Deus virá à terra. Outros podem habilitar-se à vida política, o ministro não; se quiser entrar na política, deve renunciar ao chamamento divino, que provavelmente nunca teve. O ministério, dádiva de Deus aos O obreiro deveria ­homens, não pode perder o seu ardor profético, se manter puro, a qualidade de vida que lhe permite confrontar as pessoas com a verdade. O ministro do imaculado, livre das coisas do mundo, evangelho que se deixa levar por esse camido contrário terá nho, perde a sublimidade de seu chamado, vive num nível inferior, pois o governo do mundo sua voz profética somente será mudado quando Cristo governar calada. plenamente a terra em sua Segunda vinda. Ou, deveria pelo menos abandonar totalmente o ministério, entregar suas credenciais a quem de direito, e trabalhar como se faz em qualquer profissão, sem arvorar-se como ministro do evangelho. Essa é uma posição santa, dignificada pelo chamamento divino. Por outro lado, um obreiro que não consegue encarar de frente um político repreendendo-o por seu comportamento está amarrado pelas mesmas cordas e perdeu há muito tempo seu vigor profético. Mas não é somente entrando pela senda política que se perde a fragrância profética; qualquer pastor que publicamente simpatiza, defende, e expressa seu ponto de vista em favor desse ou daquele sistema de governo; que abre sua igreja e cede o púlpito para discursos de concorrentes a cargos eleitorais, esvazia a igreja de seu caráter profético. O obreiro deveria se manter puro, imaculado, livre das coisas do mundo, do contrário terá sua voz profética calada. A Igreja 25


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que deve ser a voz profética de Deus na terra vem sendo sistematicamente amordaçada pelos conluios políticos, porque se casou com o mundo e se deixou moldar pelo sistema que ela deveria transformar. Aqueles que defendem suas idéias citando Daniel como homem de Deus no meio de um povo corrupto, devem lembrar que esse homem de Deus passou incólume por vários governos, por sua fidelidade a Deus, e não por fidelidade partidária aos reis. Quando Nabucodonosor contou a Daniel o sonho que tivera da grande árvore, este ao interpretá-lo, exorta o rei, dizendo: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe termo em teus pecados pela justiça, e às tuas iniquidades usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue a tua tranqüilidade” (Dn 4.27). Daniel enfrentou muitas perseguições e, já velho, foi lançado na cova dos leões por fidelidade a Deus, nunca por perseguição política. Diferente de alguns homens, pastores, que são levados à prisão, não por sua fidelidade a Deus, por sua fé no Evangelho, e sim pelo mau testemunho cristão. A Igreja brasileira tem se comportado como o camaleão, vestindo a cor da política e dos sistemas de governo para não ser incomoPerdemos a voz dada. Ao invés de se destacar, ela se camufla. Ao profética quando perdemos de vista invés de aparecer, se esconde. Venho acompanhando a jornada da igreja brasileira por vários a dignidade do regimes políticos e, em todos, ou ela esteve ao chamado. lado do governo, ou se escondeu, jamais sendo a voz profética que denuncia a injustiça e a exploração social. Ainda nos dias de hoje, raros são os ministros que ousam confrontar os políticos com a verdade. Dietrich Bonhoeffer calou sua voz profética a favor dos oprimidos e dos perseguidos pelo regime nazista e, quando se deu conta era tarde; mas, ainda resgatou a dignidade pastoral confrontando as atrocidades que contra os judeus eram cometidas e, foi castigado pelo regime. Por que perdemos a voz profética? Porque quando os pastores perdem a dignidade do chamado, entrando em alianças políticas com 26


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os governos do mundo, acabam perdendo também a voz profética. Qualquer que seja o nosso chamamento ministerial, apóstolo, mestre, pastor, evangelista ou profeta, cada um desses dons ministeriais vêm envolto numa atmosfera profética que desafia, ­confronta e denuncia as obras das trevas. Um obreiro comprometido politicamente perde sua voz profética, compromete-se com o sistema partidário, entra em aliança com o sistema do mundo, e se desqualifica para o santo ministério a que foi chamado. Induzir a congregação a votar em tal pessoa porque forneceu o telhado para o templo, ou Viver em gabinetes, porque beneficiou essa ou aquela obra assistencial, é depender do mundo e não de Deus. nos torna alienados da vida pública. É Em todo o Novo Testamento não vemos os apóstolos entrando em aliança com o sistema na vida pública que de governo de suas cidades. João, o apóstoque sentimos os lo, é claro: “O mundo jaz no maligno” (1 Jo dramas e aflições 5.19). “Não ameis o mundo nem as cousas que das ovelhas... há no mundo”, diz, pois quem ama o mundo “o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15). O ministro do evangelho que ama os palcos e os holofotes, que gosta de ser elogiado, que acalenta o sonho de ser conhecido pela mídia, que se deleita em festas mundanas, perdeu, há muito, o amor do Pai! Nós, ministros do evangelho, vivemos no meio do povo, sentimos seus dramas e aflições; partilhamos dos problemas do irmão que, desempregado precisa ser socorrido, velando para que nada falte à sua família; somos os que ficamos ao lado do enfermo, ministrando-lhe nas dores; que confortamos os membros de uma família enlutada diante da perda de um ente querido; na hora do socorro financeiro é a igreja quem socorre, e não aqueles que foram eleitos pelo voto do povo. Vivemos ao lado de pais cujos filhos embrenharam-se pelo caminho do vício, do crime, ao lado de casais que lutam para preservar sua família. Comemos o que o povo come, 27


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e no fim do dia cheiramos a gente, nossa alma desprende um odor de ovelhas, porque vivemos no meio do rebanho. Só os que vivem em gabinetes estão alienados da vida “pública” que é o ministério pastoral, e são esses os mais propensos a compactuar com o sistema político e econômico do mundo. Nós, os pastores, sentimos os dramas do povo, e como Ezequiel, de mochila nas costas, enfiamo-nos pelo buraco na parede, pelos becos das favelas, nos alagadiços, atravessamos valas imundas, comemos a comida simples do povo. Como pactuar com um sistema governamental que oprime e que é moralmente decadente? Como fazer parte de uma economia que aumenta o desemprego, que alarga a pobreza na periferia de nossas cidades com gente vivendo em sub-moradias? Como compactuar com um sistema que empurra o homem Sofremos com do campo para a cidade, inchando a periferia das os que sofrem, metrópoles porque foi privado de ter um pedaço vivemos no meio de terra? Sofremos com os que sofrem, chorado povo, e sentimos mos com os que choram; vivemos no meio do o drama de Deus, povo, e sentimos o drama de Deus, partilhamos partilhamos do do amor que ele sente pelas pessoas.

amor que Ele sente pelas pessoas...

“Não são os ricos que vos oprimem, e não são eles que vos arrastam para os tribunais? Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado? (...) Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 2.6,7 e 4.4). E assim, pastores que deveriam andar lado a lado com Deus, defendendo os pobres e injustiçados entram em aliança com os que se regalam no poder e são inimigos de Deus. Desde as eleições de 1988 quando foi aberta a corrida para cargos democráticos, nada mudou a favor do povo de Deus; ao 28


Entenda a Nobreza e a Grandeza do Ministério

c­ ontrário, houve um aumento acentuado da pobreza, da violência e da maldade; poucas foram as situações em que os líderes “evangélicos” mudaram o rumo político da nação. Desde então, o ministério pastoral vem sendo mal representado por aqueles que se dizem ministros de Deus nas esferas municipais, estaduais e nacional. Em nada o povo foi aliviado dos pesados impostos, da falta de segurança, de atendimento médico-hospitalar; nenhuma voz profética se arvora em benefício do povo, e quando o faz, é quase sempre em benefício eleitoral. Sempre que um colega pastor decide por cargos eleitorais, recomendo-lhe a leitura de “O Príncipe”, de Maquiavel. Quem sabe, lendo e entendendo o que este escreveu, poderia aquele mudar de idéia, permanecendo na vocação divina, no conselho de Deus na terra. Nesse seu tratado, Maquiavel aconselha que, para ter êxito, o regente deve “aprender a não ser bom”, recorrendo a falsas aparências, violências e métodos imorais, quando necessário. Foi essa postura que inspirou o termo maquiavélico em que o político recorre à trapaça, à manipulação e à corrupção para alcançar fins vantajosos. Entrar na política sem ler Maquiavel ou Montesquieu, é ignorar o destino que o aguarda, é desconhecer que, nos corredores do poder, Nota Autor o povo é desprezado pelos próprios políticos que elegeu. O bom nome de Cristo vem sendo sistematicamente manchado por pastores e líderes denominacionais que se envolvem na política. Que Deus tenha misericórdia de tais pessoas. Entenda que os que são tidos como grandes humanistas da história, como Thomas More, autor de Utopia foram os que ajudaram a mandar para a fogueira aqueles que defendiam a verdadeira Nota Autor - Nicolau Maquiavel, diplomata, historiador e escritor italiano. Entre 1512 e 1513, em seu exílio forçado pela família Médici, escreveu O Príncipe, obra que continua sendo publicada até hoje. Também Montesquieu que criticava a idéia do equilíbrio dos poderes, argumentando que tal política provoca a corrida armamentista e guerras inevitáveis, concorrem sugerindo táticas de como os políticos devem se comportar.

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18 Chaves para o Sucesso do Ministério Pastoral

fé e o bom nome de Jesus Cristo. Assim, procure preservar em seu ­ministério o vigor profético, o cheiro do povo, a unção de Deus, sem jamais se deixar corromper pelo sistema mundano.

“Servir é o transbordar de uma devoção superabundante.” (Oswald Chambers)

“Desde que meu coração foi tocado, aos dezessete anos, creio que nunca me despertei do sono, na doença ou na saúde, de dia ou de noite, sem que meu primeiro pensamento não tenha sido como eu posso servir melhor ao meu Senhor.” (Elizabeth Fry)

“Não há serviço como o daquele que serve porque ama.” (Philip Sidney)

“Todos os mandamentos de Cristo são atos da graça; é um privilégio estar ocupado com eles.” (William Gurnall)

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18 Chaves para o Sucesso do MinistĂŠrio Pastoral

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