A recepção de esquetes do canal de humor Porta dos Fundos entre jovens de 15 a 20 anos

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A recepção de esquetes do canal de humor Porta dos Fundos entre jovens de 15 a 20 anos Brunna HOFFMAISTER (hoffmaister94@hotmail.com) Martin MAYER (mayer.mmartin@gmail.com) Pâmela MANFROI (pa_manfroi@hotmail.com) Renata ALANO (renatawiltgen@hotmail.com) Adriana da Rosa AMARAL² Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo, RS

RESUMO: Neste artigo abordaremos como jovens na faixa etária entre 15 e 20 anos recebem as esquetes do Porta dos Fundos, o canal brasileiro com maior número de inscritos no YouTube Brasil ³. Permeando conceitos de Internet, YouTube, humor e produções audiovisuais, desenvolvemos uma breve análise sobre a relação dos jovens com o canal. Por meio de questionários disponibilizados na rede, observamos que a maioria dos entrevistados não considera ofensiva e/ou agressiva a linguagem utilizada, bem como as temáticas escolhidas pela produtora dos vídeos. PALAVRAS-CHAVE: Internet, YouTube, Humor, Jovens, Produção Audiovisual.

INTRODUÇÃO 1) Internet: o início de um dos maiores fenômenos midiáticos do Séc. XXI “Uma guerra sempre avança a tecnologia, mesmo sendo guerra santa, quente, morna ou fria.” Renato Manfredini Junior (Renato Russo, 1960-1996)


Trecho da música “A canção do Senhor da Guerra”. Álbum Música para acampamentos I (1992).

Os primeiros esboços da Internet nasceram em uma corrida armamentista no período da Guerra Fria. Temendo um ataque ao Pentágono e a destruição de todas as informações, os Estados Unidos criaram uma agência de pesquisa militar denominada ARPA (Advanced Research Projects Agency), que após anos de pesquisa e experiências malogradas, desenvolveu a ARPANET; uma rede mundial de computadores onde todas as informações eram distribuídas por blocos fragmentados (Lima, 2000). Todavia, a Internet como nós conhecemos hoje, só foi criada em 1992, pelo cientista Tim Berners-Lee. O lançamento do WWW (World Wide Web) democratizou a rede e expandiu consideravelmente o número de servidores conectados ao sistema, conquistando milhares de usuários ao redor do mundo e tornando possível a busca de novas informações, antes inacessíveis, através de pesquisas online no ciberespaço (Merkle e Richardson, 2000). 1.1) Tudo conectado: A Internet enquanto ponte entre o indivíduo e a informação; e a Web 2.0 A Internet tem assumido uma importância cada vez maior nas ações cotidianas da população em geral e estende-se a todos os domínios da sociedade. Com a disseminação das mais diversas tecnologias, serviços, ferramentas e comunidades online, torna-se cada vez mais fácil, simples e rápido acessar a informação e adquirir conhecimentos, comunicar e produzir conteúdos (Viana, 2009). Ainda recente, a “socialização em massa” fundamentada em ações coletivas de usuários e não de indivíduos (Selwyn, 2011: 35), tem alterado inquestionavelmente o caráter de utilização da Internet. Os serviços online, baseados em conteúdos digitais, partilhados abertamente e cuja autoria, reconfiguração e críticas pertencem a uma massa de utilizadores integram-se na noção de Web 2.0. Notamos o rompimento de fronteiras entre o aprendizado formal e o informal, entre a vida particular e a pública, entre sermos estudantes e sermos indivíduos que aprendem, sempre, ao longo da vida. O conceito de estudo foi alterado para em qualquer lugar, em qualquer altura, com a possibilidade de optar por vários dispositivos para levar a cabo uma aprendizagem: computadores, celulares, tablet’s, entre outros (Bartolomé, 2008). 1.2 Youtube – Uma plataforma poderosa de distribuição O YouTube é um site mundial de hospedagem e compartilhamento de vídeos em formato


digital; fundado em fevereiro de 2005, por Chad Hurley, Jawed Karim e Steve Chen. No site, qualquer pessoa pode criar um perfil de usuário, compartilhar vídeos profissionais ou amadores e interagir com o material disponível, o que democratizou a distribuição de conteúdos e o tornou referência na área. Em 2006, foi eleito pela agência Reuters, como o mais popular site de vídeos do mundo e pela revista norte-americana Time como a melhor invenção do ano por, entre outros motivos, "criar uma nova forma para milhões de pessoas se entreterem, se educarem e se chocarem de uma maneira como nunca foi vista". Em 9 de outubro do mesmo ano, foi comprado pela Google por US$ 1,65 bilhões em ações.

2. Produções audiovisuais Produção audiovisual é o processo de fazer um filme, de uma ideia inicial de história ou escrita do roteiro, filmagem, edição e, finalmente, distribuição para um público. Uma produção audiovisual pode ocorrer em qualquer lugar do mundo, com grandes diferenças de contexto econômico, social e político, usando uma variedade de tecnologias e técnicas. No meio audiovisual, para um modelo de negócio tornar-se viável, precisa contemplar o público consumidor e o mercado, porque afinal, um não sobrevive sem o outro. Além disso, consumir produtos audiovisuais de forma passiva, através de uma grade de programação linear, com pouca ou nenhuma opção de interatividade sempre foi uma característica da televisão brasileira. No início da década de 1990, com a popularização da internet, esse panorama sofre, gradualmente, mudanças significativas. No início, tínhamos como opção a internet discada, lenta e instável e os serviços oferecidos (portais de comunicação, troca e compartilhamento de documentos, etc.) eram baseados em layouts gráficos nada sofisticados e a produção e consumo audiovisuais eram inexpressivos. A banda larga possibilitou a modificação deste cenário. E é a partir daí que as pessoas têm a possibilidade de experimentar novas formas de entretenimento, tendo outras opções com novos formatos, que se adéquam aos novos perfis de recepção, e que se contrapõem ao antigo modelo proposto

pelas

mídias

hegemônicas.

O modelo proposto por Chris Anderson (2006), chamado de cauda longa parece fazer bastante sentido aqui. O mercado de nicho ganha importância, levando-se em consideração os custos de produção, armazenamento, divulgação e tantos outros que podem ser minimizados se os esforços concentrarem-se para atingir o seu público alvo.


YouTube, recepção e linguagem de produções audiovisuais A produção de conteúdos audiovisuais na web nasceu da necessidade de se testar novas

linguagens, narrativas e interações com a audiência, justamente por entender que a produção de conteúdo seriado para internet ainda não tem uma linguagem padrão e diversos formatos aparecem diariamente nas plataformas de compartilhamento de vídeos. A partir das formas de recepção, podemos traçar diversas características que diferem dos formatos apresentados pela televisão analógica. Primeiro que, como na televisão, e diferente do cinema, o espectador não está em uma sala escura, ponto fundamental do estabelecimento da transparência, da ação ilusória que o cinema exerce nos espectadores. Ele está em qualquer ambiente, muitas vezes iluminados e com o concurso de outras informações e atrativos que o ambiente caseiro proporciona (MACHADO, 2007). Na internet, esse concurso também está dentro da tela, ao lado da informação principal. A tela do produto audiovisual, opaca, é um recorte de uma parte da tela do computador, não apresentada em tela cheia como primeira opção. Portanto, agora temos dois pontos que podem redirecionar a atenção do espectador, dentro e fora da tela. Ademais, na televisão o espectador está de passagem e, portanto, a programação é circular e reiterativa. Na internet, com as possibilidades de pausar, ir para frente e para trás ou até mesmo abrir novas janelas de pesquisa para compreender melhor o conteúdo principal – quem interage tem a possibilidade de editar, de navegar no que está visualizando - a forma circular e reiterativa apresentada na televisão parece ser desnecessária, além de que agora é necessário escolher o que se quer assistir e então clicar o ‘play’. O conteúdo não é mais ‘despejado’ efemeramente em um fluxo contínuo de imagens (MARTIN BARBERO E REY, 1999), as informações permanecem na rede e é necessário que se escolha o que se quer consumir. 3) Porta dos Fundos: O Início A produtora cria vídeos de comédia próprios para a Internet. Em seu canal no Youtube, lança dois esquetes por semana, segundas e quintas-feiras às 11h. Em parceria com o site de humor Kibe Loco e a produtora Fondo Filmes, responsável pelos vídeos do canal Anões em Chamas, nasceu a Porta dos Fundos. O coletivo criativo começou as atividades em março de 2012, mas o primeiro programa só foi lançado em agosto do mesmo ano. Em apenas 6 meses de existência o canal atingiu a marca de 30 milhões de visualizações. O humor, que trata de temas universais, desde situações corriqueiras a superheróis e até religião, chamou a atenção de todos. É o canal brasileiro com mais inscritos, inclusive foi premiado pela APCA (Associação Paulista de


Críticos de Artes) como Melhor Programa de Humor de 2012. O prêmio é um dos mais tradicionais de São Paulo e homenageia produções nas áreas de artes plásticas, arquitetura, teatro, televisão, música e cinema. A surpresa veio porque o Porta dos Fundos foi o primeiro programa totalmente online a ser premiado. Até então, somente programas da televisão haviam recebido esta honra. Os fundadores do canal costumam declarar em suas entrevistas que criaram o Porta dos Fundos como alternativa para a vontade de criar com total liberdade autoral, sem amarras e pudores. Ainda que a produção das esquetes seja tão cuidadosa quanto uma produção televisiva, os roteiristas podem falar de temas que certamente seriam proibidos em emissoras da TV, como religião, homossexualidade e racismo. 3.1) Os porteiros da Porta dos Fundos A produtora conta com cerca de trinta colaboradores, entre atores, editores, roteiristas, diretores, figurinista, etc. Dentre eles, destacam-se os cinco fundadores: Antonio Pedro Tabet, publicitário, roteirista, blogueiro, humorista e também fundador do site de humor Kibe Loco; Fábio Porchat que é ator, humorista e roteirista, lançou-se na mídia através do Programa do Jô, quanto tinha apenas 18 anos; Gregorio Duvivier, também ator, comediante e poeta, é autor do livro “A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora”, lançado em 2007; Ian SBF que é diretor do canal e fundador do canal embrião do Porta dos Fundos, Anões em Chamas; e João Vicente de Castro, publicitário carioca, que vivia da propaganda até o surgimento do Porta dos Fundos. 3.2) Rir é a saída: O Humor e o Porta dos Fundos O que é o humor? Segundo Sigmund Freud, o humor seria uma forma de enganar a censura e, portanto, provocar alívio e, por conseguinte, o riso. Ainda segundo o filósofo, todos os atos cômicos ou humorísticos têm uma intencionalidade inconsciente, ou seja, o sujeito efetivamente não tem nenhum domínio sobre aquilo que diz (Humour, pag. 9-16, 1928). Quando se fala sobre humor, piadas, recepção de humor etc., pode-se perceber que grande parte do discurso que cerca o humor está repleta de crenças que envolvem em seu principio o riso, apenas. Porém não seria justo ignorar o lado crítico do humor. Ele, de fato existe quando utilizado em piadas que criticam o Estado, o governo e outras instituições. Com o intuito de criar algo novo, um grupo de amigos e colegas de trabalho, sentiu a necessidade de fazer algo próprio sem as “amarras” da televisão brasileira; como resultado da ânsia de fazer um humor


inteligente, surgiu o Porta dos Fundos. Que utiliza uma linguagem, talvez, imprópria, para produzir um humor crítico e irreverente que cerca as esquetes produzidas pelo grupo. Sabendo utilizar este humor ácido e, sobretudo inovador, as esquetes do Porta dos Fundos resumem-se a uma fala de Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, publicada em uma matéria sobre jovens comediantes brasileiros: "O humor é a linguagem por excelência da internet. Grande parte das formas de comunicação efetivamente originais da rede acontece por meio do humor. É interessante porque se trata de uma força poderosa, que motiva as pessoas a formar comunidades, a criar e até se engajar politicamente".

PESQUISA 1) Objetivo A presente pesquisa não visa apontar uma resposta definitiva ao tema, mas sim, ajudar a esclarecer como os jovens de 15 a 20 anos recebem as esquetes, por vezes ácidas, do canal humorístico Porta dos Fundos. Entre as temáticas abordadas neste artigo, destacam-se os conceitos de Internet e YouTube, a recepção de determinadas mídias, o desenvolvimento de produções audiovisuais e o canal em si. A pesquisa foi aplicada via Internet com jovens dos mais variados locais, com o intuito de ampliar ao máximo os resultados. 2) Metodologia O método de abordagem utilizado foi o de recepção da mensagem. Como o público jovem recebe o conteúdo passado pelos esquetes e a opinião deles sobre o humor do canal. A técnica de pesquisa utilizada foi a de questionários quantitativos, tendo como base o conhecimento dos entrevistados sobre os vídeos do canal Porta dos Fundos. A nossa pesquisa foi abrigada no site Google Docs, onde as perguntas eram objetivas. O questionário foi aberto e permitia que qualquer um, entre 15 e 20 anos, respondesse as perguntas. Com as perguntas objetivas, obtivemos números mais exatos sobre a opinião dos jovens. O questionário possuía 6 questões, como já falado, todas eram objetivas para resultados mais exatos. 11.2 RESULTADO DA PESQUISA


A pesquisa realizada com os jovens sobre o conteúdo dos esquetes de humor do canal Porta dos Fundos ocorreu do dia 14/06 ao dia 16/06. A partir do questionário, que continha 6 perguntas objetivas pôde-se concluir que: • 80% dos jovens entre 15 e 20 anos conhecem o Porta dos Fundos, a maior parte deles sendo entre 19 e 20 anos. •

95% dos jovens não consideram os temas tratados nos esquetes ofensivos ou abusivos.

85% não considera a linguagem utilizada nos vídeos agressiva.

69% dos entrevistados compartilham os vídeos com os amigos.

Partindo desses resultados, vemos que o sucesso do canal é absoluto, além de ter capacidade de autodivulgação com seus vídeos. Outro ponto interessante é a indiferença dos jovens com os temas ou a linguagem mostrando que, para os jovens, dar risada é o mais importante.


CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos que a maior parte dos entrevistados assiste os vídeos com o intuito de divertirse, sem levar os assuntos tratados para o lado político ou ofensivo. Assim provando que o humor feito pelo canal é quase universal, por isso todo o sucesso. É importante ressaltar que a maioria dos jovens compartilham os videos. Isso de certo modo caracteriza em uma manifestação de humor e faz com que o PORTA DOS FUNDOS torne-se cada vez mais um fenômeno na internet.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho.Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. BARBOSA, Fernando da Silva. PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA INTERNET (WEBSÉRIES) E TELEVISÃO: POTENCIAIS TRANSMIDIÁTICOS E NOVAS FORMAS DE CONSUMO. http://migre.me/f2YyT - Acessado em 16 de Junho de 2013, às 15:00.

BARTOLOMÉ, A. (2008). A Web 2.0 e os novos paradigmas da aprendizagem. In eLearning Papers, nº. 8. BULHÕES, Marcelo. A ficção nas mídias: Um curso sobre a narrativa nos meios audiovisuais. São Paulo: Ática, 2009.


CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informação: economia,sociedade e cultura; v.1). São Paulo: Paz e Terra, 1999.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009. MACHADO,

Arlindo.

Pré-cinemas

e

pós

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Campinas,

SP,

Papirus,

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