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Uma Hist贸ria Haras Veneza - 20 anos

Jos茅 Luiz C么rtes Gama Telefone: (33) 9902-6854 3271-6854 Haras Veneza Abril 2012.


Capítulo 1 - O Começo

Honda do Aruguá – Aos 14 anos Nov 2011

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eu primeiro contato com Campolina aconteceu quando morávamos no Pará, cidade de Tucuruí. Hoje conhecida em função da grande hidroelétrica construída no rio Tocantins. Em 1972, meu avô, Luiz Côrtes, fazendeiro estabelecido em Governador Valadares desde 1949, andou pelo norte do país buscando oportunidades para adquirir novas terras com intuito de ampliar a exploração pecuária. Era a fase da abertura de fronteiras agrícolas. Por lá comprou fazenda e meus tios se mudaram. Tudo era difícil e escasso, mas a Mata Amazônica esplendorosa.

Em 1977 meu pai segue para Tucuruí levando a família. Acompanhei todo processo de formação da fazenda, desde as picadas na mata fechada para delimitar a propriedade, o primeiro barraco coberto de palha e cercado de troncos de Açaí, a derrubada da mata para formação de pastos e depois a chegada do gado nelore para cria. “Êita” vacada brava. Foram compradas numa fazenda vizinha. Levamos o gado caminhando, em comitiva. Um dia de marcha atravessando estrada no meio da mata fechada. Minha primeira grande aventura a cavalo cravada na memória. Foi nesta fazenda vizinha que conheci o Sr. Silvinho e sua matilha de Filas Brasileiros, pelos quais me apaixonei e que também eram imprescindíveis na lida com este gado nelore muito bravo. Ganhei um filhote de presente, Tigre, e desde então me dedico criá-los, o que é outra história. Foi nesta fazenda vizinha que conheci o Sr. Silvinho e sua matilha de Filas Brasileiros, pelos quais me apaixonei e que também eram imprescindíveis na lida com este gado nelore muito bravo. Ganhei um filhote de presente, Tigre, e desde então me dedico criá-los, o que é outra história.

Para manejo do gado nas fazendas, era necessário produzir tropa de serviço, que por aquelas bandas era difícil encontrar pronta. Levar daqui de Minas ficava caro. Um amigo do meu pai, Sr. Renato Lima, pecuarista da região de Campos dos Goytacazes – RJ, também aventureiro pelo Pará afora, possuía eguada originária de sua terra natal e os reprodutores eram um cavalo Mangalarga Marchador castanho, muito altivo e bonito e um jumento de bom porte muito marchador, um Pêga com certeza. Compramos 15 destas éguas entre elas uma se destacava, uma baia fechada, de grande porte, grossa, a qual chamava Baiona. Lembro que era registrada, pois tinha os números e o carimbo da ABCCC na pá esquerda. Não dávamos importância a este detalhe àquela época.


Capítulo 2 - Umbigo Enterrado

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vida caminhou. Fui terminar o segundo grau em Brasília e faculdade de veterinária em Goiânia. Formado, a vontade de voltar para a terra onde o umbigo estava enterrado era grande.

Odilon Fernandes, de uma família grande de criadores, sempre parceiro de primeira ordem. Entre estes, conheci Dr. Múcio, técnico da Associação. Tornou-se amigo e comecei acompanhá-lo em algumas exposições.

Em 1990 retorno para Governador Valadares indo trabalhar na Cooperativa Agropecuária com gado de leite. Estreitei contato com criadores de Campolina, que na sua maioria também produziam leite, pois uma característica dos criadores da raça na região do Rio Doce era o fato de terem como atividade econômica principal a produção rural.

Resolvi participar da seleção para o quadro de árbitros da ABCCC no qual fui admitido. Anos depois, entendi que a atividade de árbitro era incompatível com a tarefa de criar. Resolvi ser só criador e também enterrei um umbigo no Campolina.

Conheci melhor a raça. No auge, éguas como Monalisa, Ousada e Qualidade do Porto Alegre, todas por Desacato da Maravilha x Granfina do Porto Alegre. O João Ferreira tinha Oindaiba do Catulé (Historieta do Catulé x Acauã do Graipú) que era uma “máquina” de marchar, também pudera, pois Historieta era filha da Gávea de Passa Tempo (Xerife). Elysio Ferreira tinha um “tropão”, em quantidade e qualidade, adquirida do Sergio Cantídio (Graipú). (Júpiter de Passa Tempo x Felicidade do Campo Novo) quando ele apareceu com um quadro de babesia concomitante com tétano.

Monalisa do Porto Alegre Desacato x Granfina do Porto Alegre

Dr. Múcio Botelho Salomão


Capítulo 3 - Desafios

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riei coragem e em 1992, aos 24 anos de idade, exatamente no dia 29 de abril, levei Dr. Múcio na Fazenda Veneza, onde selecionamos quatro éguas para registrarmos no Livro Aberto (LA). Eram filhas de um campolina com éguas mangalarga marchador. Nesta época meu avô tinha um cavalo campolina sem registro, alazão sobre baio, que chamávamos de Gaúcho, produção da Fazenda Maravilha, um presente do Luiz Eduardo Côrtes (Deado), afilhado e sobrinho do meu avô.

Quando associei a ABCCC, já existia um criador com este sufixo, na cidade de Jequitinhonha - MG. Não satisfeito com o sufixo “do Côrtes”, mudei para “Biopec”, mas continuava querendo Veneza. Consultando o Regulamento do Registro Genealógico, o Artigo 20 em seu parágrafo 3º., deixava claro que deveria esperar 20 anos de inatividade deste criador detentor do sufixo, para requerê-lo. Não desisti, em ofício a ABCCC datado de 28/01/1999, solicitei que meu pleito fosse encaminhado para análise no CDT, que a época resolveu acatar meus argumentos e por portaria, autorizou o uso do sufixo Veneza. Vivíamos a supremacia do Desacato nas pistas. Alguns de seus principais produtos nasceram na Fazenda Porto Alegre, uma referência próxima de qualidade. Atuando como árbitro, pude exercer autocrítica acerca dos animais que produzia com base nas éguas LA. Esta somatória de informações possibilitava concluir que o resultado não era bom. Além do mais já contava com rebanho de 15 fêmeas, com dificuldades para ficar correndo atrás de coberturas. Em março de 1998 quando terminou a estação de monta, veio necessidade de avaliar o trabalho realizado e junto, o dilema do que fazer. Seis anos de investimentos e sofrimentos.

Meu primeiro sufixo foi “do Côrtes” quando registrei as éguas Catarina, Dama de Ouro, Agenda e Andorinha. Nesta época grande parceiro era João Ferreira que sempre disponibilizou o uso de seus garanhões Acauã do Graipú (Garboso de Passa Tempo x Gas Fusca) e Profeta de Sans Souci (Herdeiro de Sans Souci x Gaba do Angelim). Uma luta carregando égua pra cima e pra baixo pra enxertar. Comecei a fazer inseminação artificial a fresco, ainda meio rudimentar, sem bons resultados. Sempre quis meu sufixo como Veneza, pois é o nome da fazenda onde venho vivendo bons momentos desde a mais tenra idade. Nesta propriedade sempre passávamos as férias em família, com minha avó Cinira nos enchendo de mimos e cuidando daquela quantidade de netos.

Primeira logo Veneza Jul 2000

Tudo contabilizado na ponta do lápis. Até então o investimento havia sido relativamente pequeno, mas agregado ao custeio, impactava em meu salário de Veterinário. Para seguir em frente era necessário uma guinada. Vivíamos uma economia ainda fragilizada, embora o Plano Real já começasse ganhar trilhos. Cavalo era comercializado preferencialmente em dólar e a vista. Eram raros os parcelamentos de leilões como hoje.


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m abril sabia o que fazer. Tomando cerveja com Múcio, pedi sua ajuda para encontrar um cavalo, futuro reprodutor da Veneza. O desafio era encontrar um que valorizasse o andamento marchado que consegui produzir, que estivesse em idade reprodutiva, se possível testado, bom de raça, e mais importante: “barato”, que coubesse no orçamento. Partimos a procura. Não sei por que todos aqueles, que mais gostava, estavam sempre acima de minhas posses. Rodamos e investiguei muito. Liga o Múcio bem animado me chamando para irmos a Divinópolis ver um cavalo, do qual não recordo o nome, lembro que era filho do Diplomata do JB.

Engraçado como o mundo dá voltas. Cheguei a BH e fui me encontrar com Múcio no escritório do Serginho Robini Aguiar, do Haras Fantasia. Ansioso para partir e a conversa rendendo. Foi quando Serginho me perguntou por que tanta pressa. Falei que estávamos indo ver um cavalo e contei toda a história da dificuldade de achar um dentro do orçamento. Nessa hora disse-nos que teríamos então, que ir a Pedro Leopoldo e não a Divinópolis. Mostrou-nos documento de um cavalo novo, filho do O.P. de Santa Rita x NAT de Santa Rita (Licor do Angelim x Governanta de Santa Rita) e que não estava sendo usado na reprodução. Havia dado ainda potro, de presente a seu tio, que não animou criar.

Capítulo 4 - Três letras um destino Despencamos para a fazenda do Sr. Geraldo. Nunca havia visto tanta vaca holandesa junta sendo ordenhada mecanicamente. Os funcionários todos envolvidos com a labuta do leite. Não teve um filho de Deus que nos acompanhasse. O encarregado apontou o piquete onde o cavalo estava e nos disse para ficarmos a vontade. Capítulo 4 - Três letras um destino Nesta época já criava Fila a um bom tempo. Sempre achei impressionante o vínculo que estes cães criam conosco. Para eles a noção do que é ser um “parceiro inseparável” e a fidelidade, são comportamentos difíceis de serem descritos, colocados em palavras, só mesmo vivendo. Foi com eles que aprendi o significado do que é estabelecer um “vínculo com o olhar”.

Quando chegamos ao piquete, lá no fundo, na sombra de uma matinha, um cavalo pastando tifton. De pelagem baia ouro, meio sem brilho pela exposição ao letras sol, médio calçaCapítulo 4 - Três um destino do do bípede lateral esquerdo e baixo calçado do posterior direito, com seus 4 para 5 anos, mediolíneo e bem aprumado para os padrões do Campolina. Estava meio magro. Mesmo com a cabeça abaixada pastando, percebemos uma boa borda superior do pescoço, apesar da crina tosada. Quando percebeu nossa chegada, levantou a cabeça e nos olhou, com as orelhas em atenção. Incrivelmente bem implantadas e bem direcionadas. Paralelas. Em sua fronte não havia nenhuma estrela, nenhum sinal. Uma cabeça trapezoidal, de linhas mais retilíneas com um chanfro destacado. Logo se colocou em movimento e veio até onde estávamos na cerca. Observei seu andamento marchado natural, marcha batida cômoda e equilibrada, um pouco curta, agradável. Enquanto observava-o marchando, pude perceber sua proporcionalidade corpórea e uma conformação de garupa superior a média da raça. Grande, sem exageros, satisfatório aos olhos, sem ter o que sobrar e sem o que faltar. Foi chegando perto da cerca que percebi seus olhos fixos aos meus. Nosso primeiro vínculo. Capítulo 4 - Três letras um destino


Capítulo 4 - Três letras um destino Fitamo-nos por alguns instantes, segundos talvez, como se quiséssemos enxergar um a “alma” do outro, ou algo mais, lá no fundo, onde poucos acessam: o caminho que leva ao coração. A uns dez metros parou, levantou a cabeça, nobre e altivo, retesou as orelhas, impávido, encheu seus pulmões buscando cada gotícula de nosso odor e deu uma “bufada” como quem diz: “estou atento!”. Passei a cerca, percebi meu ritmo cardíaco alterado. Ansioso, caminhei em sua direção, estendi a mão, até que cheirasse. Relaxamos. Ao primeiro toque em sua face ouvi a voz do Múcio dizendo: “Então este é o TTZ de Santa Rita!”. Nesta hora soube que aquele era o cavalo que procurava. O que viria ser responsável pela formação da base do Haras Veneza.

Sempre ouvira meu avô dizer que “agosto era o mês do desgosto”, pois em nossa região é o pico da seca e quem tem boi ou égua no pasto nesta hora, sabe quanto sofremos com a pouca comida. Mas naquele dia de agosto, sai daquele lugar com um grande gosto. Resumindo, seu preço estava acima das posses, mas com a compreensão e boa vontade do Serginho, entabulamos uma proposta. O TTZ iria para Valadares, e em sua primeira estação de monta por aquelas terras, 98/99, suas coberturas seriam comercializadas para auxiliarem quitar seu valor. Decorrido um ano, então tomaria a decisão se o compraria ou não. Foi como passar mel na boca. Procurei vários criadores, corri atrás, necessário fazer justiça, três estenderam as mãos: Dr. Délcio (Cambucy), Antônio Carlos (Rios) e mais uma vez o João Ferreira (Catulé). O Dr. Délcio logo de início colocou o TTZ em suas melhores éguas: Gaivota do Cambucy, grande campeã de marcha em várias exposições e filha de Kadu do Porto Alegre (Gringo de Santarém x Donzela do Porto Alegre) e Oxalá do Campo Novo, filha do Fantasma do Campo Novo (Gas Baluarte x Oferta do Campo Novo).

Destes cruzamentos nasceram respectivamente Qualidade e Química do Cambucy, primeiras filhas de destaque. Da produção do TTZ com o João Ferreira, ficaram para meu plantel duas potras: Bateia do Catulé (Querência que vai a Profeta de Sans Souci x Ibotirama do Catulé) e Bianca do Catulé (Valquíria que vai a Desacato da Maravilha x Betina do Catulé, outra filha da Gávea de Passa Tempo).


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