Abuso e exploracao sexual

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abusiva por causa de sua imaturidade sexual e esta permanece como um traço de memória ao qual não é possível atribuir um sentido e integrar na cadeia de representações (Faleiros, 2000; Furniss, 1993; Sanderson, 2005). Além disso, ser vítima de uma violação do corpo, do desejo, da dignidade e da condição de dependência anula o paradigma central do desenvolvimento – a existência de limites para a realização de desejos (Faleiros, 2000).

Considerações finais A violência, então, entendida como fatos e ações ligados ao poder e à dominação e como o uso da força que desrespeita regras e passa da medida (Michaud, 1989) para obtenção de interesses se constitui como elemento presente nas relações sociais e está relacionada às representações sociais ou aos critérios utilizados em um determinado viver social. Portanto, sua compreensão não pode prescindir de uma análise que considere os espaços e as relações sociais e seus conteúdos significativos. Com base na exposição dos autores utilizados como referência para a elaboração deste texto, podemos dizer que da mesma maneira a violência sexual contra crianças e adolescentes necessita assim ser compreendida: não como uma expressão de pulsões e afetos, não como a expressão de uma agressividade primordial, nem tão pouco como fruto da dessocialização e da liberação de restrições próprias a toda a vida coletiva, mas como o resultado de processos em que o sentido é construído socialmente, ainda que de forma negativa ou deformada. A interação sexualizada entre um adulto e uma criança, na forma como se apresenta em sua dinâmica relacional, não se configura como uma organização em torno dos interesses desta última, mas dos interesses individualistas tão somente do primeiro. Acima de tudo, orienta-se pela subjugação do outro pela força, pela coerção ou pela sedução, eliminando sua vontade e expressão e anulando suas necessidades específicas e características de cada fase do desenvolvimento humano. Ao considerarmos que o ser humano se realiza por meio de suas relações com o outro e que estas relações se orientam pelos sentidos e valores construídos socialmente, nos perguntamos: em que medida classificar a violência sexual somente a partir de uma patologia do indivíduo não nos isenta, como sociedade, da nossa parcela de responsabilidade na manutenção de relações sociais violentas e baseadas no poder – seja ele hierárquico, econômico, de gênero ou no uso da força física? Em que medida as relações desiguais com que construímos a sociedade têm influência sobre a ocorrência da violência sexual contra crianças e adolescentes em suas mais variadas formas? Ainda que correndo o risco de sermos interpretados de forma moralista, não podemos deixar de nos perguntar quais os efeitos e impactos de uma cultura midiática, artística, musical, plástica ou fotográfica que representam o corpo da mulher, em especial da mulher


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