O Estado de SP em PDF - Sexta 30072010

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O ESTADO DE S. PAULO

SEXTA-FEIRA, 30 DE JULHO DE 2010

Caderno2 D5

Cinema. Estreias

MIYAZAKI

PONYO – UMA AMIZADE QUE VEIO DO MAR Nome original: Gake no ue no Ponyo. Direção: Hayao Miyazaki. Gênero: Animação (Japão/2008, 101 minutos). Censura: Livre.

E AS CHAVES DO MUNDO MÁGICO ✽ Crítica: Luiz Carlos Merten ✪✪✪✪ ÓTIMO

Pergunte a John Lasseter e a seus colaboradores na Pixar. Quem é o maior animador do mundo? Não sem modéstia, pois a Pixar tem revolucionado a chamada ‘oitava arte’, eles responderão – Hayao Miyazaki. O autor japonês possui um imaginário muito rico e, em plena era da computação gráfica, ainda gosta de empregar técnicas tradicionais para contar suas histórias mágicas. A de Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar é das mais belas. Há tempos que a distribuidora PlayArte vinha prometendo a estreia de Ponyo. Ela ocorre justamente nesta semana em que São Paulo abriga o Anima Mundi, festival de animação que traz

ao País, e à cidade, pérolas produzidas por animadores de todo o mundo. São muitos filmes premiados – com o Oscar e importantes prêmios dos maiores festivais do mundo. Por outra feliz coincidência, Ponyo estreia no momento em que o circuito está aquecido por outros grandes lançamentos de animação(leia, aolado, texto sobre Toy Story 3, Shrek para Sempre e Mary e Max). Você poderá comparar técnicas, histórias ou simplesmenteviajar nas diferenças entre filmes que têm em comum a qualidade. Até o novo Shrek, tão maltratado pela críti-

estadão.com.br Vídeo. Veja trailer do filme em estadão.com.br/e/d5

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Em tempos de Anima Mundi, autor japonês encanta com o belo Ponyo

Técnica. Em época de animações computadorizadas, Ponyo mantém a técnica tradicional, com coloridos exuberantes ca – seria o menos interessante da série –, precisa ser resgatado, porque é bom, e certamente melhor que o 2. Por falar em diferenças, Ponyo se relaciona com Procurando Nemo, um dos mais belos filmes da Pixar. Relaciona-se, mas não tem muito a ver. Quando Nemo estreou, o próprio Lasseter contou ao Estado como a Pixar havia desenvolvido programas especiais de computação para recriar na tela o mundo submarino. Não apenas as cores, mas as distorções que a água produz na perspectiva precisaram ser levadas em conta. A técnica de Ponyo parece mais simples – e neste sentido o filme é mais ‘infantil’ –, mas o co-

lorido é deslumbrante e enche os olhos. Nemo contava a história de um peixinho que atravessava o oceano em busca do filho. Ponyo conta a história dessa peixinha que um garoto encontra encerrada numa garrafa. Ele a liberta e ela vira menina, mas, ao fazêlo, ameaça o equilíbrio do mundo. Seu pai, um feiticeiro que controla o oceano, vai tentar resgatar a filha, em seu formato humano. Ponyo fala de família, afeto. É complexo. A crítica norteamericana Lisa Shwarzbaum acertou ao dizer – não contem ao pessoal da Disney, que distribui Miyazaki nos EUA, mas ele encontrou as chaves do mundo mágico.

ANIMAÇÃO DE AUTOR & MAINSTREAM ● Marcos Magalhães, um dos

diretores do Anima Mundi, gosta de dizer que as imagens em animação retratam além da realidade. É essa consciência que move os animadores modernos. Mesmo quando filmam para crianças, eles querem retratar a realidade, falando para adultos. O próprio Walt Disney começou como um artista de vanguarda antes de criar seu império por

meio de filmes para a família. O que filmes como Toy Story 3, Shrek para Sempre e Ponyo fazem é incorporar a vanguarda – e concepções autorais – ao mainstream. Mary e Max – Uma Amizade Diferente é mais alternativo, mas não é menos bom. Essa discussão sobre se a animação é um gênero adulto é muito interessante. Anima uma das melhores partes de Jogo de Cena, quando a entrevistada provoca o diretor Eduardo Coutinho justamente porque ela ama Procurando Nemo e ele é reticente ao encanto do filme ‘para crianças’. / L.C.M.

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PHILLIP NOYCE, FELIZ DA VIDA COM SUA HEROÍNA Para o diretor, Angelina Jolie faz toda a diferença em Salt ✽ Crítica: Luiz Carlos Merten ✪✪ REGULAR

PhillipNoycevirouumbomamigo da Mostra. Anos atrás, ele aqui esteve para apresentar Geração Roubada, sobre crianças aborígines separadas dos pais, na Austrália dos anos 1930. Depois, dirigiu um dos episódios de Bem-Vindo a São Paulo. Noyce fez sua autocrítica na entrevista que deu ao Estado. Disse que havia sido um bom soldado em Hollywood, na guerra do cinemão pelos corações e mentes do público de todo o mundo. Em Geração Roubada, usou as mesmas armas para fazer um thriller político.

Noyce voltou a ser um bom soldado de Hollywood. Estreia hoje Salt, seu thriller estrelado por Angelina Jolie. Em Cancún, no México, onde a Sony exibiu o filme para jornalistas de todo o mundo, Noyce achou graça quando o repórter fez a observação. Retrucou: “O filme foi formatadopara Angelina,mas comporta observações interessantes sobre a identidade das pessoas. Acho que nunca chegamos a conhecer completamente quem quer que seja. E quando aplicamos rótulos, em geral somos reducionistas”. O rótulo de ‘soldado’? Ele ri, porqueorepórtercaptoua‘mensagem’. O que havia de tão atraente em Salt? “Angelina. É uma das mulheres mais belas do

mundo. E já era atriz premiada (com o Oscar, por Garota, Interrompida) quando virou heroína de ação. Com ela, você tem a segurança de criar personagens densas, que fujam ao unidimensional.” Salt era um projeto de Tom Cruise, que o astro trocou por Encontro Explosivo. Veio da cúpula da Sony a proposta – por que não transformar o herói de Tom numa heroína de Angelina? “Se fosse Tom, o espectador com certeza já teria visto essas cenas de ação”, diz Noyce. “Angelina faz toda a diferença.” A perseguição inicial é eletrizante. Angelina minimizou os dublês, salta de carros em alta velocidade, voa numa moto, bate e arrebenta, tudo muito bem filmado (e montado). Foi difícil?

SALT Direção: Phillip Noyce. Gênero: Ação (EUA/2010, 100 minutos). Censura: 14 anos.

ATRIZ ACABA DE GANHAR UMA BIOGRAFIA ● Angelina Jolie conseguiu ser

Ação. Atriz minimizou dublês e filmou saltando de carros

estadão.com.br Vídeo. Veja trailer do filme em estadão.com.br/e/d5

“São cenas que exigem planejamento. Depois, coordeno as equipes, mas, no final, tudo volta para mim. É puro animatronics.” Salt é um típico thriller de paranoia, mais próprio da era

George W. Bush do que de Barack Obama. Envolve um plano russo para invadir os EUA. Absurdo? Na mesma semana em que Noyce e Angelina exibiam Salt no México, uma espiã russa era desmascarada nos EUA. Noyce defende-se. “O fato de seremrussos não significanada paramim. Meu paitrabalhou na espionagemdoExército. É umuniverso que me fascina desde criança. O que me interessa é a máscara que o espião usa.”

tema de uma biografia, não-autorizada, a cargo de Andrew Morton. Ele não costuma escrever sobre celebridades comuns. Escolhe famosos que encontraram modos de sacudir o mundo – Lady Di, Madonna, Monica Lewinsky. O que qualifica Angelina a fazer parte desse grupo? A linhagem hollywoodiana, a extrema beleza, a fase gótica, as tatuagens, Billy Bob, heroína, sadomasoquismo, bissexualidade, beijos incestuosos no irmão, a mágica transformação, seis filhos, um gênio no controle da imagem. E uma destruidora de lares. No livro, uma ex-babá da estrela diz que seu pai, Jon Voight, era um homem com uma intensa sexualidade e que a filha herdou isso dele, não da mãe. / JANET MASLIN / NEW YORK TIMES (TRAD. TEREZINHA MARTINO)


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