Degustação Vampiros da Alma

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Alcir Luiz Tonoli


Vampiros da Alma


Vampiros da Alma Alcir Luiz Tonoli

E D I T O R A

Alcir Luiz Tonoli


Copyright © 2011 by Alcir Luiz Tonoli 2ª edição - Setembro de 2011 Capa Paulo Moran Revisão Mary Ferrarini Projeto Editorial e Gráfico Maria Luiza Torres Teixeira Impresso no Brasil

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Rua Iporanga, 573 - B. Jardim Pérola Contagem - MG - Brasil CEP - 32110-060 Fone: (31) 3357-6550 E-mail: itapuaeditora@itapuaeditora. com.br Site: www.itapuaeditora.com.br

Tonoli, Alcir Luiz Vampiros da Alma / Alcir Luiz Tonoli. ¾ Contagem, MG: Editora Itapuã, 2011. 280 p. 1. Espiritismo. I. Tonoli, Alcir Luiz. II. Título. ISBN 978-85-98080-67-3

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É proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização da Editora Itapuã.

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Prefácio Vivemos dias de turbulência em que o ser humano se agita angustiado sem se dar conta que estamos vivendo um solene momento de transição planetária. Envolto em suas preocupações, o corre-corre do dia a dia faz com que a maioria das criaturas passe a viver em frenético ritmo, esquecendo-se dos valores da alma, dos valores morais, esquecendo a importância da família e de si mesmo. Nunca as clínicas de psiquiatria estiveram tão lotadas. São as neuroses, as depressões e as síndromes que assolam as almas humanas distantes dos valores morais, distantes do Evangelho e distantes de Deus. Não é difícil identificar que o ser humano de um modo geral está perdido, sem rumo, enquanto os noticiários nos surpreendem a cada dia com crimes bárbaros, violência e brutalidade sem medidas, corrupção de valores e desmandos de toda ordem. À semelhança de uma hipnose coletiva, o ser humano segue como que tangido por forças que não tem consciência e cede às tentações da modernidade, assistindo programas de cultura inútil, novelas que apregoam falsos valores e devassidão moral. Livros de conteúdo duvidoso tornam-se Best SelAlcir Luiz Tonoli


lers, vendendo a falsa imagem de algo extremamente perigoso. Jovens lotam as sessões dos cinemas e as garotas suspiram apaixonadas por vampiros e lobisomens, na pele de astros de Hollywood, todos lindos e de olhos esverdeados ou azuis. Os verdadeiros vampiros estão à solta. Um olhar mais atento e percebemos que tanto no plano invisível quanto no plano material, forças poderosas tangem com certa facilidade aqueles que adentram este campo mental de energias que o vulgo desconhece. Por esta razão, o livro de Alcir Luiz Tonoli, intitulado VAMPIROS DA ALMA vem à luz em um momento oportuno. Se o título é grave, não é sem razão. VAMPIROS DA ALMA, entretanto surpreende, pois o autor desenvolve uma trama convincente e esclarecedora a respeito de um tema tão preocupante. Surpreende porque, se temos no início uma visão aterradora do umbral, no terrível embate das forças trevosas na arte do vampirismo de energias, que atuam sobre encarnados e desencarnados, a trama se desenvolve de forma gradativa e emocionante demonstrando o resgate e o sofrimento, juntamente com a gradativa transformação do espírito de Velásquez e outros companheiros em várias e sucessivas encarnações. A obra esclarece e emociona demonstrando, que mesmo nas profundezas das trevas, onde espíritos revoltados e eclipsados pelo ódio se transformam em vampiros terríveis, bem diferentes das imagens do cinema, o mal é transitório, mas o bem é eterno. Assim, obsessores terríveis, vampiros tenebrosos, inimigos do passado finalmente se reconciliam diante da

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luz que afasta as trevas, diante do amor verdadeiro que resgata o ser humano em seus valores mais profundos e nobres que ficaram esquecidos às vezes por séculos nos escaninhos da mente eclipsada pelo ódio. Antes de tudo poderíamos dizer com toda segurança que VAMPIROS DA ALMA, é uma obra, que irá trazer à literatura de um modo geral, importantes esclarecimentos que o ser humano tanto necessita. O livro traz em sua essência um alerta que nos convida à profunda reflexão e sua mensagem é acima de tudo, uma grave advertência a todos nós. Nossos sinceros cumprimentos ao amigo e companheiro de ideal, ALCIR LUIZ TONOLI para que prossiga nesta missão de tanta responsabilidade, na tarefa do esclarecimento levando ao ser humano uma réstia de luz na escuridão, indicando o porto seguro do Evangelho do Cristo. São Paulo, fevereiro de 2011 Antonio Demarchi

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Sumário 1 No reino das trevas 2 A Armadilha das Trevas 3 Princípio das Tempestades 4 Duelo de Almas 5 Retorno e Confronto 6 Oportunidades 7 Premonição 8 Vampirismo 9 Doença e Espírito 10 Vampiros da Alma 11 O Encontro 12 Ramon

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13 Reflexões 14 Resgate 15 Compromisso 16 Dramática Revelação 17 A Epidemia 18 Reconciliação 19 Tratamentos da Alma 20 Investida Desesperada 21 O Duelo 22 O Conflito 23 Frente a Frente com a Verdade 24 Medicina Espiritual 25 Vida Bibliografia

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No Reino das Trevas 10

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Velásquez

Trevas densas, lúgubre silêncio, sensação de perigo constante. Ventanias gélidas que se tornavam inesperadas tempestades terríveis com duração variada. Atmosfera pesada, sufocante, venenosa. Amontoados de corpos apodrecidos se movimentavam como cobras pelo chão, que não eram percebidos por causa da vegetação rasteira e ressecada. Nesse meio, vagava perdido o espírito de Velásquez. Acusações e maldições gritadas repetidas vezes, vozes sarcásticas umas, irônicas outras, recordando cada ato desumano, os crimes e as oportunidades perdidas, clamando pelo antigo general. Aturdido, lutava para se recuperar do torpor que o dominava. Acreditando estar enlouquecendo, gritava por socorro sem entender o que acontecia. Recordou-se de que Ramon o atingira, mas sobrevivera. Onde estaria? Fugira? Estaria cego? Não. Onde estaria, pois não reconhecia o desolado lugar. Onde estavam seus soldados? Por horas intermináveis julgou caminhar pelos campos próximos de sua propriedade, atribuía os gritos e as risadas aos camponeses da vila e a soldados inimigos. Tropeçava em charcos e rolava por abismos que desconhecia. Sentindo suas mãos úmidas, empalideceu ao vêlas sujas de sangue. Tentou limpá-las, mas ressurgiam ensanguentadas. Subitamente, sentiu que o agarravam com violência, ignorando seus rogos. Seres indefiníveis, de aspecto monstruoso, o agrediam. E urros de desespero e ódio atormentavam-lhe o cérebro. Longo tempo se passou até Alcir Luiz Tonoli

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descobrir que não morrera. Seu corpo sim, porém seu espírito imortal ali estava, à mercê de suas vítimas e acusadores dispostos a torturá-lo em constante vingança por suas atrocidades. A princípio, respondeu com ameaças e desafios inúteis, esbravejou mesmo sem saber muito bem quem o perseguia. Procurou reaver sua antiga autoridade, clamou pelos soldados que lhe obedeceriam, propôs parceria com os mais fortes para, juntos, dominarem. Em vão. As respostas eram gargalhadas debochadas e afirmações de que ali ele nada representava, senão uma vítima. Estava em poder de inimigos que há muito o esperavam para se vingar. Os espíritos associados de seus crimes e abusos o abandonaram, pois não tinham mais interesse nele, não queriam desperdiçar tempo e forças para libertá-lo, e havia outros para se unirem na exploração dos encarnados. Os que o perseguiam eram em tão grande número que resolveram abandoná-lo. Com o tempo, Velásquez enfraqueceu. As dores que não o abandonavam e o levavam quase à loucura e as constantes derrotas e torturas fizeram-no perceber que estava em outro ambiente, completamente à mercê de seus algozes. Então, alquebrado, humilhado, vencido e sentindo-se fraco implorou por piedade, tendo risos como resposta. Lutou para se libertar, mas estava preso em sua própria consciência. Quando conseguiu ver seus algozes, o pavor tomou conta de sua mente desequilibrada. A seu redor estavam inúmeras vítimas de seu egoísmo e das maldades praticadas, rostos patibulares exigiam justiça, vultos obscuros e 12

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terríveis prometiam penas cruéis, enquanto cenas de seus crimes surgiam alternadamente. As cenas intermináveis não abandonavam seus pensamentos atormentados. De nada lhe valeu implorar ou fazer promessas impossíveis de serem cumpridas, inúteis às tentativas de acordo ou pedidos de perdão, que eram recebidos com gargalhadas e novas agressões. Perguntavam onde o poder do general, onde seus soldados e a influência que exercia despoticamente. Zombavam de suas tentativas de justificar-se, contavam várias vezes, e com detalhes, o destino de suas posses saqueadas, cruéis nas torturas que lhe infligiam. Enlouquecido e desesperado, tentava fugir, escapar por qualquer meio, mas era inútil. A malta louca por sua destruição e por castigá-lo duramente o tomou, levando-o consigo. Gemidos, gargalhadas que o aterrorizavam, sensações de frio intenso e de calor que o sufocava se alternavam. O pântano onde foi jogado o engolia e o expulsava. Em meio a detritos e estranhos insetos, arrastava-se sem conseguir se erguer. Sentia-se mordido por animais invisíveis, invadido por micróbios que pareciam devorá-lo por dentro. Faltava-lhe ar, respirava com desespero a fétida e venenosa atmosfera do local, que a tudo envolvia. Dores, torturas infindáveis e o medo quase incontrolável que o invadia o levavam à loucura. O pior dos infernos chegara para o ex-general, de maneira tão terrível que os anos pareciam séculos. Em um desses momentos, surgiu perante ele um vulto de grande altura e muito forte. Velasquez demorou a percebê-lo. Exausto e cadavérico, aos poucos ergueu os Alcir Luiz Tonoli

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olhos para aquele ser que, parado a sua frente, aguardava. Com dificuldade, Velasquez notou a estranha roupa que ele vestia, que lembrava bela armadura antiga, toda prateada, com uma grande capa vermelha presa às costas e caindo até os pés. Quando seu olhar alcançou o rosto, empalideceu ainda mais, e o que viu o assustou. Não seria, na verdade, um rosto, mas uma máscara demoníaca com expressão cruel. Os olhos avermelhados pareciam brilhar na escuridão. Recuou com esforço, sentindo mais que medo, uma sensação de terror. A criatura riu, e sua risada ressoava como uma navalha gélida a cortar-lhe o corpo. Ao ouvi-lo, sua voz rouca o fez estremecer ainda mais. – Então nos reencontramos. Em meus dominios você nada é, Velasquez. Estás em meu poder e no de meus escravos. – Quem... quem é...você? – conseguiu balbuciar o velho general. – Eu!? Sou sua maldição! Seu destino! Seu dono, ser abjeto. Tanto você como Ramon me pertencem, e de vocês farei o que desejar. Você me serviu bem na crosta, mas por ora não terá utilidade. Mas voltarei, e você saberá como pode ser perigoso me desobedecer. Sinistra gargalha acompanhava essas palavras. Sem mais nada dizer, afastou-se acompanhado por inúmeros soldados. Tomado por súbito desespero, Velasquez caiu em pranto convulsivo. Ficou, então, abandonado e acorrentado a uma 14

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espécie de tronco, num ambiente onde a escuridão parecia tão espessa que se tinha a impressão de poder cortá-la. Encontrava-se num local que lembrava interminável cemitério abandonado, com túmulos revolvidos, corpos em adiantado processo de decomposição que se arrastavam lentamente, esqueletos imundos e mutilados caminhavam sinistramente em meio a répteis estranhos e ameaçadores, cheiro insuportável o asfixiava. Rugidos que infundiam terror, sibilos e gritos macabros o assustavam a cada passo. Ali era sempre noite, uma noite eterna, noite sem nenhuma luz, gélida, amedrontadora e povoada por pesadelos. Gritos terríveis de dor, desespero e angústia cortavam os ares. Gemidos e ruídos estranhos e assustadores pareciam vir de todos os lados. Por vezes, via vultos fantasmagóricos caminhar aos tropeções, seres que lembravam os vampiros e lobisomens, porém mais horríveis e ameaçadores. Vultos indefiníveis e macabros sugavam de criaturas caídas as poucas energias que lhes restavam. Aos poucos, sua ligação, quando encarnado, com esses seres inferiores tornava-se cada vez mais patente. A simbiose prosseguia além-túmulo. Libertara-se, com a morte, dos que o incentivavam aos crimes e desmandos como general para tornar-se prisioneiro das inúmeras vítimas, tanto de sua maldade como de sua autoridade irresponsável. O que seria pior? Tornar-se, sem saber, cúmplice das trevas em sintonia com suas ações ou ver-se vítima, agora, daqueles a quem desviou e de tantos que destruiu? Nos raros instantes de alguma tranquilidade, recuperava a lucidez. Nesses momentos, a compreensão de tudo o que causara se apresentava perante sua alma, anAlcir Luiz Tonoli

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gustiando-o ainda mais. Passaram-se muitos anos. Velásquez era apenas sombra do que fora. Já sentia o remorso se insinuando em seu íntimo. Sabia que perdão era algo que não deveria esperar, pois o negara a muitos, e seus crimes e as consequências eram inúmeras. Como esperar ser perdoado um dia? Deus, será que Ele o perdoaria? Jesus o acolheria em seus braços algum dia, dando fim aos terríveis e angustiosos sofrimentos que pareciam eternos? Numa noite, deixaram Velásquez preso numa das cavernas úmidas, partindo em busca de outras vítimas. Sem mais forças para suportar as dores e ante a sensação de total abandono e desamparo, chorou as primeiras lágrimas sinceras desde muito, o pranto aflito desafogou seu coração, aliviando sua alma atormentada. Compreendeu que não teria nenhuma chance naquele local esquecido por Deus, que apenas se mudasse de atitude e de rumo haveria alguma oportunidade para salvar sua alma. Mas precisava se arrepender sinceramente, o que reconhecia ser difícil para quem estava habituado a mandar e impor sua vontade. Jamais orara, nem sequer se aproximara de uma igreja ou de qualquer templo que não fosse para saqueá-lo e matar os que ali estavam. Então recordou-se de sua infância e de uma velha cigana que sempre procurou orientá-lo a buscar a Deus. Não o Deus cristão-judaico misterioso e distante dos homens, severo e cruel, humano demais, parcial e que castigava. O Deus do qual Lenora falava era diferente. Bom, compreensivo sem ser conivente com o mal, justo e sem16

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pre pronto a ouvir e atender seus filhos. Jamais, garantia Lenora, o abandonaria ou permitiria que se afastasse demais. Sempre estaria próximo, bastava chamá-lo. Recordou-se do último diálogo que mantiveram. – Vais partir, então, Pablo? – perguntou a velha matrona, os olhos castanho-escuros falavam da sabedoria adquirida pelos anos, das experiências que acumulara e que lhe proporcionavam grande compreensão da vida, das pessoas e do mundo. O rosto queimado por tantos anos de sol ainda guardava a beleza gitana. O nariz pequeno e levemente arrebitado e o queixo bem desenhado lhe conferiam um ar de romana. Pablo beijou-lhe as velhas e queridas mãos e falou, procurando conter a emoção, pois guardava a certeza de que aquela mulher o amava mais que sua mãe: – Sim, minha conselheira e mãe. Devo, preciso. Aqui não há mais lugar para mim. Talvez em outro caminho consiga mais, me encontre e seja feliz. Lenora tocou seus cabelos num gesto de extremo carinho e beijou-lhe a fronte quente. – Santa Sara o abençoe e oriente, meu querido. Mas lembre-se que nenhuma orientação do Deus ou da Deusa bastará se não a seguir. Se um dia estiver se sentindo no inferno, na vida ou depois dela, lembre-se de mim, de Deus e da Deusa. Jamais estará desamparado. Pablo abraçou-a demoradamente e, sem mais nada dizer, partiu a galope em seu belo cavalo, não olhou para trás. Velásquez ensaiou um sorriso pela primeira vez desde que ali chegara, recordava-se da velha amiga com carinho. Sempre o acolhera e lhe contava lindas histórias. Alcir Luiz Tonoli

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Estranha emoção assomou de seu coração, suavizando as dores e angústias da alma. Sentiu como que uma brisa suave e acolhedora o envolvesse. Chorou um pranto menos atormentado, de saudade e ternura. Num esforço, chamou por sua amiga, repetiu seu nome diversas vezes, e a cada vez tinha a sensação de alívio. Ao redor a escuridão diminuiu e com o coração descompassado pressentiu a presença de Lenora. Suave e distante voz que reconheceu se fez ouvir a pedir que orasse. Balbuciou uma prece entrecortada de soluços, palavras vindas do mais profundo de sua alma. Logo adormeceu num sono agitado. Numa dessas noites intermináveis, um grupo socorrista da espiritualidade maior se aproximou em mais uma tarefa de tentativa de resgate daquelas pobres almas. Se houvesse entre elas alguma cujo íntimo tivesse sido tocado pelo arrependimento sincero, seria acolhida. Acompanhando o grupo estava Lenora, que, condoída, pedira por Velásquez. Seus pedidos foram ouvidos e, após longo tempo, Velásquez estava pronto para ser socorrido. Era urgente levá-lo, ocultando-o do perigoso vampiro que o perseguia e de tantos inimigos, até que tivesse condições de refazer seu caminho. Urgia, assim que possível, encaminhá-lo à reencarnação. Velásquez, inconsciente, era arrastado pela turba que, pressentindo a aproximação dos espíritos de luz, fugia. Suave voz se fazia ouvir, chamando por Velásquez, e ele recuperou, por momentos, a lucidez ao ouvir a voz. Em desesperado esforço, respondeu entre gemidos, im18

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plorou auxílio. Do fundo de seu coração subiram lágrimas de remorso, escaparam balbuciadas as palavras de súplica ao Deus que renegara e esquecera. Na mente febril e confusa reuniu todos os pensamentos em torno da prece espontânea, do anseio real de redimirse. Não demorou para que suas antigas vítimas tentassem reagir, levando-o para longe, porém desconhecida força os impediu e afastou. Sozinho, Velásquez deixou-se ir ao chão sem mais forças. Nesse momento, sentiu a proximidade de alguém que, aconchegando-o, falou em tom calmo, mas enérgico. – Irmão de minha alma, seu próprio poder se volta contra você, sua mente cria cada instante de martírio, mas pode provocar sua salvação. Velásquez, ante o bem-estar que o dominava, deixou que as lágrimas fluíssem. Ao reconhecer Lenora, abraçou-a com desespero e, com voz amargurada, respondeu: – Ser de luz, por misericórdia, ajude-me. Lenora, minha amiga, sei que fui maldito e apenas ódio e rancor deixei em meu caminho. Reconheço meus crimes e erros, mas, por Deus, não sabia que errara tanto. Sua voz era cortada por soluços e, sem conseguir falar mais, entregou-se a agitado sono. O grupo o acolheu, bem como os outros que estavam prontos para ser socorridos.

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Ramon

O enorme pântano parecia povoado por desconhecidas e temíveis criaturas; gritos dramáticos ecoavam pelo ar fétido e pesado. Próximo, um vulto caído mexeu-se com esforço, procurando erguer-se, porém sentia-se pesado, com movimentos lentos. Enfraquecido, fez um esforço maior, cambaleou, mas conseguiu manter-se em pé, então ergueu os olhos opacos e observou ao redor. Apenas a paisagem deserta e morta, gritos ao longe e gemidos dolorosos se faziam ouvir. Ramon balançou a cabeça com violência para afastar a confusão que toldava seus pensamentos, parecia ter a mente enevoada. Onde estaria? Que lugar terrível seria aquele? Recordou-se da luta com Velásquez. Estava certo de que conseguira matá-lo. E ele, estaria morto? Deveria, pois os ferimentos que recebera haviam sido mortais. Subitamente, um grupo de seres indefiníveis e de aspecto aterrador surgiu, atacando-o sem aviso. Entre ameaças e acusações de assassinato o esbofetearam e, agarrado violentamente, foi levado, apesar de seus gritos e tentativas inúteis de reagir. Risadas e gracejos impiedosos eram a resposta a seus protestos e pedidos de explicação. Longo tempo permaneceu aprisionado por aquelas criaturas disformes e trágicas, seres que pareciam nada mais esperar de suas vidas além da situação em que viviam, esquecidas de Deus ou distantes da luz, que vez ou outra os buscava. Em algum momento, impossível dizer se dia ou noite, pois naquele lugar era sempre escuridão, Ramon foi Alcir Luiz Tonoli

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recolhido por certo espírito. – Ramon, bem-vindo ao meu reino! Sou o líder da grande falange de vampiros dessa região. Ofereço-lhe auxílio e oportunidade de vingar-se de Velásquez, cumprindo seu juramento de persegui-lo até os infernos. Sei do mal que ele causou aos seus e da injustiça que sofreu. Para isso bastará seguir minhas instruções e realizar alguns serviços que lhe indicarei. Será um acordo em que nós dois ganharemos. Ramon observou, aturdido, o estranho ser, a armadura reluzente e a expressão não lhe era de todo estranha. Mas gostara da ideia, especialmente de um líder, apesar de ainda não compreender bem o que seriam vampiros. – Aceito. Mas onde fica este reino de que jamais ouvi falar? E qual é seu nome? – Naor é meu nome. Este reino fica numa região que chamam de umbral, distante de sua terra, mas depois compreenderá melhor. Acompanhe-me. Ramon o seguiu, iniciando, sem saber, um terrível conúbio com um dos mais poderosos seres das trevas. Ele usaria Ramon para pôr em andamento sua vingança pessoal. Temível vampiro que chefiava um grupo de vampiros energéticos e outro que utilizava como escravos para angariar vítimas. Juntamente com seus asseclas, manipulava encarnados e desencarnados inconscientes, fanáticos e iludidos, a fim de alcançar seus objetivos. Ramon iniciou um curso intensivo de obsessão e vampirismo (...)

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