O Poder do Mito

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JOSEPH CAMPBELL _____________________________________

MOYERS: Isso não conduziria a uma espécie de anarquia, a uma guerra contínua entre principais? CAMPBELL: Sim, como acontece na própria vida. Mesmo em nossas mentes, quando se precisa tomar uma decisão, há uma guerra. Agindo em relação a outras pessoas, por exemplo, pode haver quatro ou cinco possibilidades. A influência da divindade dominante em minha mente determinará minha decisão. Se minha divindade norteadora for brutal, minha decisão será também brutal. MOYERS: O que isso tem a ver com a fé? Você é um homem que tem fé, desejo de saber, e... CAMPBELL: Não, não preciso ter fé, eu tenho experiência. MOYERS: Que espécie de experiência? CAMPBELL: Tenho experiência do desejo de viver. Tenho experiência do amor, do ódio, da malícia e da vontade de esmurrar a mim mesmo no queixo. Do ponto de vista da imaginação simbólica, trata se de diferentes forças operando em minha mente. Pode se pensar nelas – desejo, amor, ódio – como inspiradas por diferentes divindades. Quando eu era garoto, tendo sido educado como todo católico romano, disseram me que eu tinha um anjo da guarda, do meu lado direito, e um diabo tentador, do esquerdo, e que as decisões que tomasse na vida dependeriam da influência maior que ou o diabo ou o anjo exercesse sobre mim. Naquela época, esses pensamentos, para mim, eram fatos concretos, e penso que para meus professores também. Pensávamos que realmente havia um anjo ali, que ele era um fato e que o diabo também era um fato. Mas em vez de encará-los como fatos, posso agora pensar neles como metáforas dos impulsos que me movem e me guiam. MOYERS: De onde vêm essas energias? CAMPBELL: Da própria vida, das energias do próprio corpo. Os diferentes órgãos do corpo, incluindo a cabeça, estão em conflito uns com os o utros. MOYERS: E de onde vem a sua vida?

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