Nuno Ramos - Fala

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De 27 de maio à 20 de julho –

terça a domingo das

9h às 21h

Patrocínio Banco do Brasil Realização Centro Cultural Banco do Brasil

Banco do Brasil apresenta e patrocina

Curadoria Paulo Venâncio Filho

FALA

Coordenaçnao Geral Mauro Saraiva

Esculturas e instalações que entrelaçam palavra e imagem, trabalhos que representam um momento singular de ousadia e experimentação – dos mais intensos da arte brasileira das últimas décadas. Assim se pode definir algumas das obras de Nuno Ramos que o Banco do Brasil traz para Brasília na exposição Fala. Como um dos mais inventivos e importantes artistas plásticos brasileiros da atualidade, Nuno Ramos caracteriza-se pela diversidade de caminhos, linguagens, materiais e gêneros contidos em cada um de seus trabalhos. Suas mostras ambiciosas possibilitam expor diversos deles simultaneamente, nos quais pairam certa modorra e uma ânsia obscura. E se pode observar uma renovação surpreendente, sem que, no entanto, eles percam a visão poética coerente que os atravessa por inteiro. Com Fala, o Centro Cultural Banco do Brasil pretende apresentar um pouco do espírito inquieto e metamórfico de Nuno Ramos, que vem criando, ao longo dos anos, uma enorme sucessão de obras com fortes variações estilísticas, caracterizadas pelo risco e pela aventura, capazes de despertar envolvimento e confiança na arte, raros nos dias atuais.

Centro Cultural Banco do Brasil

Produção Tisara Arte Produções Ltda Heloisa Vallone Assistente do Artista Romulo Fróes Projeto Técnico Viga Arquitetos Iluminação Dalton Camargos Programação Visual Sandra Antunes Ramos

Nuno Ramos

Assessoria de Imprensa Rodrigo Machado Administração Loane Malheiros Informações 61 3310 7087 bb.com.br/cultura Centro Cultural Banco do Brasil SCES Trecho 2 Conjunto 22 Brasília DF 70200-002 Apoio

Galeria 2 e Pavilhão de vidro LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS

Realização

Galeria 1 NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS

Exposição de 27/05 a 20/07/08


O texto que não se lê na instalação Monólogo para um cachorro morto é também o fim da possibilidade de diálogo? Creio que no Monólogo eu enterro o texto em vez de enterrar o cachorro – é uma espécie de ‘Monumento ao Cachorro Desconhecido’, que tomou o lugar do Soldado. A idéia de anonimato, de morte anônima, transborda ali da margem dos homens para a dos bichos – um pouco como em “O crime do professor e matemática”, aquele conto lindo da Clarice Lispector. Mas o texto se lê pelas bordas, e pode também ser ouvido na gravação encravada no mármore, e nisso há, claro, um diálogo com o outro lado, o espectador, que circunda a obra procurando acessá-la. Há aqui uma troca entre matéria e palavra, entre coisa física e signo, como se um tentasse tomar o lugar do outro, característica de quase tudo o que eu faço.

Daniela Name entrevista Nuno Ramos Não é a primeira vez que você usa a voz em seu trabalho. A fala é escultura? A fala é uma forma de ativar a escultura. Acho que ela entrou no lugar de outras operações ativas – calor, congelamento, derretimento, tombo –, mas que antes eram unicamente físicas. Pensei nessas falas porque me sinto próximo do ato de escrever, mas também pelo fato de acionarem as toneladas de matéria de que são feitas as esculturas. Além disso, a idéia de coisas falarem (há um título de um livro de crônicas do Drummond que eu adoro: Fala, amendoeira), por mais ingênua, sempre me pegou. Há algo de conto infantil nisso – animais falarem, pedras responderem (“Abre-te, Sésamo!”), objetos terem voz. Quando vejo aqueles sofás abandonados nas ruas, fico imaginando que voz teriam – o que diriam, mas, principalmente, que tom de voz teriam. Você também é letrista de músicas e o cão é uma referência em suas letras e poemas. Qual é o papel desta imagem na sua obra plástica e como esta se relaciona com sua literatura e sua música? Acho que penso nos cachorros um pouco como uma humanidade que tivesse evoluído diferente, herdeiros mais livres de alguma Lucy de que ninguém se lembra. Não consigo deixar de olhar com espanto para alguns vira-latas, como se fossem filósofos pré-socráticos, figuras meio beckettianas espalhando sua vagabundagem por aí – Dom Quixote, Quincas Borba, Diógenes em seu barril, à procura de um homem, pertencem, para mim, a essa família de nobres vira-latas. Deixarem-se atropelar com tanta facilidade multiplica ainda mais sua indiferença quase piedosa por nós, como se não conseguíssemos atingi-los de fato.

Sobre Bandeira branca – por que urubus? Há uma relação deste trabalho especificamente com a obra de Goeldi? O urubu é uma espécie de vira-lata de asas, carregando, no entanto, uma carga alegórica muito maior. É, definitivamente, um signo da morte. Com certeza este trabalho tem muito do Goeldi, não apenas pelos urubus, mas pelas formas de areia queimada, que lembram vagamente aqueles casarios angulados de tantos de seus desenhos e xilos, e também pelos postes. Não utilizei diretamente nenhuma de suas xilos, mas acho que elas estão aqui. De todo modo, ainda uma vez, as três canções que ficarão ecoando pela sala (Carcará, cantada pela Mariana Aydar; Boi da cara preta, cantada pela Dona Inah; e Bandeira branca, cantada pelo Arnaldo Antunes) são também matéria física, atravessando o espaço da exposição como o vôo das aves – ao menos foi assim que imaginei. Qual é a relação do diálogo existente entre os megafones de sabão de Soap opera e o texto que você lê alto no Monólogo? Conforme fui desenvolvendo estes dois trabalhos, acabei percebendo que são

Intérpretes: Sala Bandeira Branca: Mariana Aydar Arnaldo Antunes Dona Inah Sala Soap Opera: Madalena Bernardes José Maria Cardoso

absolutamente complementares – por isso achei importante expô-los juntos, numa mesma mostra. Acho que, se o Monólogo é uma voz sóbria, algo trágica, tentando acessar um corpo morto, o Soap opera é uma comédia – minha primeira comédia, na verdade – em que este corpo volta para julgar os homens. Nunca tinha trabalhado um texto nesta tecla quase caricata – os cantores riram enquanto gravavam, eu ri, o técnico de som riu e espero que o público também ria. Há um despropósito expressivo ali que eu nunca tinha encarado. A forma da escultura, como paredes que se transformam em grandes alto-falantes, o material utilizado (sabão) e o próprio trocadilho que deu origem à peça (soap opera, literalmente “opera de sabão”, quer dizer “novela”, em inglês), também apontam para esta tecla. A idéia da morte é um tema recorrente em suas obras. E vem com ela a oposição da vida, a noção de ciclo... Esta exposição trata disto de modo mais explícito – por isso ela é tão importante pra mim. Foi por isso também que organizei uma das salas com dois trabalhos em homenagem ao Nelson Cavaquinho (paraNelson1 – Luz Negra e paraNelson2 – Caldas Aulete), que representa uma das mais profundas intuições trágicas da cultura brasileira. De todo modo, acho que o tema da morte, para mim, mais do que um ciclo no sentido religioso, representa uma possibilidade de fusão entre coisas estruturalmente separadas. Há um momento nas gravuras do Goeldi que eu adoro e que exemplifica isto – aquele depois da tempestade ou da catástrofe. As coisas estão espalhadas pela rua, iluminadas pelo clarão de um raio, prontas para serem unidas de outro modo – tenho vontade de entrar na cena e começar a trabalhar, arrastando os móveis para lá e para cá, espalhando os guarda-chuvas, chamando os cachorros e os urubus. Acho que meu trabalho é um pouco isto: a tentativa de criar um momento de desagregação suficientemente forte para oferecer aquilo que foi desagregado a uma nova configuração. Bela, quem sabe.


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