3ª Edição - Jornal Descubra Minas

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Minas

DESCUBRA

EC N O I A M O

ESPECIAL

UEMG Divinópolis – Curso de Jornalismo - Jornal produzido pelo 3º período - Ano 2 – nº 3 - Maio de 2017


Minas

DESCUBRA

Editorial

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conomia é o tema desta edição especial, desenvolvida de forma interdisciplinar entre os conteúdos de Princípios de Economia, Pesquisa de Opinião e Núcleo de Jornalismo. Os conhecimentos específicos de cada área fundamentaram as discussões e envolveram tanto a pauta, a apuração das informações e a interpretação dos dados, quanto a redação das reportagens e a edição. A elaboração de um conteúdo específico da editoria de Economia trouxe para as páginas deste jornal fatos relacionados à economia no cenário nacional, regional e local, mas com uma história humanizada e uma linguagem clara, bem diferente do “economês” que se vê por aí. O tom das reportagens, mais interpretativo e analítico, junto à intertextualidade que se faz presente nas narrativas por meio da interação dos textos jornalísticos com obras literárias e músicas, tece histórias que representam situações socioeconômicas diversificadas e bastante atuais, mas de uma maneira mais próxima do cotidiano. O resultado são textos em que a situação econômica abordada é escrita de forma didática e crítica. Assim, a prática do jornalismo especializado, prevista nas ações do Núcleo, permite aos estudantes a interação com temáticas singulares e, ao mesmo, a integração das atividades com outras disciplinas do período em curso, o que é importante para o aprimoramento de uma visão, ao mesmo tempo, detalhada e integrada, sobre o tema abordado. A aprendizagem se enriquece e o fazer jornalístico, também. Daniela Couto, professora da disciplina de Núcleo de Jornalismo e Oficina de Jornalismo Impresso.

Expediente Jornal Descubra Minas – ano 2 – nº 3 – Maio de 2017 – Realização: 3º período de Jornalismo da UEMG - unidade Divinópolis – Disciplinas: Núcleo de Jornalismo (Daniela Couto), Princípios de Economia (Pierre E. Vasconcelos) e Pesquisa de Opinião (Tiago H. P. Marques França) – Cabeçalho: Thaís Simão – Projeto Gráfico, arte-finalista e jornalista responsável: Daniela Couto (MG9.994JP).

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Opinião

O poder do líder nas empresas ...Cássia Xavier O bom líder é aquele que tem a capacidade de influenciar o comportamento de pessoas de forma positiva e a relação do líder com o grupo é essencial para o desenvolvimento de uma empresa, pois contribui com o incentivo dos colaboradores e isso conta no produto final. A má liderança pode provocar sérios problemas na empresa, incluindo queda na produtividade e nos ganhos financeiros. Ao invés de impulsionar o trabalhador a atuar em conjunto e

em prol do melhor para todos, a liderança mal exercida leva o funcionário a estar ali somente pra cumprir suas obrigações. Exemplo disso está no livro O monge e o executivo: o personagem John Daily, devido a sua má liderança, gerou falta de comunicação e não trabalhou os conceitos de união do grupo e, com isso, gerou em sua empresa um problema interno que ocasionou uma rebelião. O administrador Flaviano Vasconcelos relatou que a importância

do líder está em estabelecer metas e garantir que sejam alcançadas, montando uma equipe de colaboradores e parceiros motivados que irão contribuir para o desenvolvimento e crescimento da empresa. Segundo ele, o bom líder deve manter sua equipe de parceiros motivados para que as metas estabelecidas sejam cumpridas e manter um ambiente de trabalho agradável. “ Uma equipe motivada rende mais frutos e com melhor qualidade”, finalizou.

A novidade ...Giovanna Azevedo Cabral A música “A Novidade” com- consegue perceber a vida através posta por Gilberto Gil e Herbert de uma ótica desvalida. Viana em 1994 ainda traz a tona, em Segundo Frei Betto em seu livro 2017, um dos temas mais debatidos Mística e Espiritualidade , “o sonho e criticados no Brasil: a desigual- oxigena nossa vida espiritual. Sem dade social, riqueza versus misé- ele não podemos alimentar esperia. Gil, cantor ranças e utoe compositor “Mundo tão desigual, tudo é pias”. Segundo da música, deele, esse fetão desigual clarou em denômeno é um de um lado, esse carnaval, dos principais poimento, disponível em motivos pelo de outro, a fome total...” (Gilberto Gil e Herbert Viana) h t t p : / / w w w. qual o sociagilbertogil. lismo não funcom.br/, que o cionou como tema desigualdade sempre fez par- forma de sistema econômico. Todo te do modo de inserção de sua ge- ser humano possui sonhos e possui ração na discussão dos problemas desejos. São esses desejos que alisociais. mentam toda a lógica capitalista na Nos anos 2000, as políticas so- qual vive a maior parte dos países ciais dos presidentes em gestão atualmente, pois o sonho alimenta desses anos conseguiram diminuir o consumo e o consumo leva ao lua taxa de miséria do país. O Bra- cro, a posses e a riquezas. sil se tornou uma das principais Mas o consumo excessivo tameconomias mundiais e o índice de bém aumenta ainda mais a desigualconsumo das famílias vem subindo dade social. Como já dito, todos gradativamente nós últimos anos. possuem desenhos e necessidades, Entretanto, o país aparece entre porém a grande questão é: todas os dez mais desiguais do mundo as pessoas possuem os recursos segundo ranking da ONU, junto a para conseguir atingir essas necespaíses da África e Oriente Médio. sidades? Se a miséria ainda existe a Além da desigualdade entre classes, resposta é não. É preciso que saibapossui ainda uma das mais relevan- mos que mérito e aquisição de bens tes taxas de desigualdade econômi- é sempre consequência positiva em ca entre gêneros. um país com controle de sua igualA música trazida para análise dade. “Continuo acreditando, com tem em si uma série de alegorias e metáforas que simbolizam toda essa questão da desigualdade. E uma delas é trazer a tona o olhar de um sujeito rico e um sujeito pobre sobre um determinado objeto de desejo, ou necessidade. A novidade que a canção aborda fala de uma guerra traçada entre a fantasia do rico contra a fome do pobre. E o que era para ser um sonho se torna um pesadelo. A convivência entre eles gera um caos, uma vez que o rico não quer abrir mão de sua vida luxuosa, causando revolta e indignação por parte do pobre que só

muita convicção, e nação por motivos ideológicos, mas aritméticos, que o socialismo é sonho de futuro, pois este Planeta tem mais de seis bilhões de habitantes. Se nós, ritmeticamente, considerarmos os recursos disponíveis, se levarmos em conta que quase metade da população passa fome, veremos que, ou socializamos esses recursos, ou a humanidade não tem futuro” (Trecho do livro Mística e Espiritualidade, de Frei Betto). O socialismo defendido pelo autor não é o implantando na União Soviética no século XX, mas, sim, o da divisão e da igualdade para que todas as pessoas tenham acesso aos bens de necessidades primárias para, assim, poderem buscar por consumo consciente e agradável a seus desejos. A grande questão, portanto, leva a imaginar uma sociedade mais igualitária para suprir as necessidades de todos os seres humanos e, assim, abrir espaço para que todos possam buscar suprir seus desejos por si próprios. Talvez, seja comum em conversas quando as pessoas defendem o mérito pessoal e particular, ouvir “não adianta dar o peixe e não ensinar a pescar”, mas em um país como o Brasil pode haver o problema de ensinar a pescar em um local onde não tenha água.

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Transposição do Rio Piumhi: um dique que entrou para a história Transtornos para os moradores na década de 1950; polo turístico no início dos anos 2000. A implantação de uma obra de engenharia que modificou o turismo de duas cidades da região Panoramio Pictures)

Do lado direito, as águas do Rio Piumhi, à esquerda, o Rio Grande.

...Diego Terloni “Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar. Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse. Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha. Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida. Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas”. Assim, Rachel de Queiroz retrata em O Quinze a maior seca da história, que afetou o semiárido brasileiro em 1915. Uma alternativa para levar água a regiões distantes é a transposição de rios. No Brasil, o deslocamento do eixo do Rio São Francisco foi iniciado em 2005, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As águas começaram a chegar em regiões afastadas da Paraíba em março de 2017, doze anos após o início da obra. Nem sempre as transposições são realizadas para deslocar o abastecimento de água. No Centro-Oeste de Minas, no final da década de 1950, em paralelo à construção da

Hidrelétrica de Furnas, no Sul do Estado, o Rio Piumhi foi totalmente deslocado de bacia hidrográfica. Deixou de pertencer a do Alto Paraná, para integrar a do São Francisco. Um grande projeto de engenharia foi realizado pelo governo brasileiro. Quando as comportas de Furnas fossem fechadas, a vazão de água seria tão grande que alagaria o município de Capitólio e se encontraria com o leito do Rio Piumhi, o que provocaria um escoamento de toda a água, prejudicando severamente a geração de energia. A solução mais simples foi a construção de um dique no perímetro urbano de Capitólio, que separa dois rios e duas bacias hidrográficas. O deslocamento do Rio Piumhi para a bacia do São Francisco afetou diversas regiões rurais da cidade homônima. Joana Ribeiro da Silva, 68, tinha apenas nove anos na época em que sua família precisou deixar a residência para dar lugar ao leito de água. “Era muito difícil deixar aquele lugar, mesmo indo para outro relativamente perto. Questão de um quilômetro. Fica uma história fixada ali. É difícil recomeçar. Meus pais receberam pela desapropriação, mas

foi tão pouco para a época, que não deu para quase nada”, comentou, com a voz embargada ao relembrar a história. Sem a transposição, o município de Capitólio não seria hoje, uma potência turística. Mário Sérgio, 45, gerente e herdeiro de um hotel às margens do Rio Grande garante que a mudança foi necessária. “Soube de pouco sobre o assunto, pelas palavras do meu pai, que decidiu abrir este hotel logo após a mudança das águas. Com o represamento, o nível da água subiu e passou a ser a principal fonte de renda de muita gente. Estou a frente deste negócio há cinco anos, meu pai deu a vida por isso”. Ele ainda comenta que o local chega a receber até 500 pessoas em um final de semana na alta temporada. O dique de Capitólio também foi alvo de uma disputa capitaneada pelo ex-governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Em 1999, em meio à ideia de privatização de Furnas pelo Governo Federal, o mineiro decidiu realizar um acampamento de militares há 300 metros do dique e mobilizou ações de homens em nove cidades da região, sendo elas Passos, Piumhi, Carmo do Rio

Claro, Alpinópolis, Capitólio, São João Batista do Glória, Itaú de Minas, Guapé e São José da Barra. Na oportunidade, Itamar sugeriu por diversas vezes que se a hidrelétrica fosse entregada para companhias privadas, em retaliação, o dique seria aberto e a capacidade de geração elétrica, reduzida a um nível crítico. Especulava-se até um confronto humano entre tropas. Com as medidas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso retirou a empresa do Plano Nacional de Desestatização, em 2000. Cercada de histórias, conspirações e dinheiro, a transposição do Rio Piumhi fica presente na memória dos moradores e nos estudos de universidades. Duas instituições de ensino superior, as federais de São Carlos (UfScar) e Rio de Janeiro (UFRJ) já iniciaram estudos na região para avaliar os impactos ambientais para a fauna e flora do local, duramente atingida e modificada. Estes levantamentos ainda não foram concluídos. Assim, a vida segue no Centro-Oeste de Minas e no pensamento das pessoas afetadas pela maior obra de transposição do país no Século XX.

Transposições realizadas no Brasil - Rio Pinheiros: para a represa Billings – em estudo.

- Rio Guandu: região metropolitana do Rio de Janeiro – década de 60 para construir hidrelétrica.

- Rio São Francisco: parcialmente concluída – iniciada em 2005 para abastecer o sertão brasileiro.

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No mundo, a maior transposição foi a do Rio Yang Tsé, em Pequim.

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DO CAMPO À MESA O agronegócio movimenta a economia no Brasil, mas também passa por altos e baixos ...Lucas Rodrigues

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agropecuária brasileira é um bem de grande valia, um campo vasto de oportunidades de investimentos e desenvolvimento. Seria possível imaginar os brasileiros sem a abundância de recursos encontradas nos campos agrícolas? Com toda certeza, existiria uma diminuição massiva de empregos. De acordo com portal EcoAgro, o agronegócio é responsável por cerca de 37% dos postos de trabalho no país. Ocorreria também uma menor diversificação de alimentos e preços mais elevados para os consumidores. O agronegócio no Brasil tem uma expressiva participação na economia

Características e diversidades O Brasil é um país com um “dom” natural para o agronegócio devido as suas especificidades e diversidades, com maior foco encontrado no clima favorável, no solo, na abundância de água doce, no relevo e na luminosidade. Com seus 8,5 milhões de Km², o território brasileiro é o país mais extenso da América do Sul e o quinto do mundo, com potencial de expansão de sua capacidade agrícola, sem a necessidade de agredir o meio ambiente. A importância Brasil

do agronegócio no

do país. Em 2012, representava aproximadamente 22,15% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2015, este número saltou para 23% e estima-se um aumento de 2% já em 2017. Esse aumento é importante não somente para o desenvolvimento do país, mas também para os consumidores que aqui vivem. De acordo com a última pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as famílias do país gastavam 33,9% de seu orçamento com alimentação em meados da década de 1970, percentual que caiu para 19% em 2009.

– Grande participação no produto interno bruto (PIB). – Responsável por aproximadamente 37% de todos os empregos no Brasil. – Responde por cerca de 49,9% das exportações. – Saldo comercial de 45 bilhões de dólares somente no primeiro semestre de 2016. – Atualmente 30% das terras brasileiras são utilizadas para a agropecuária. – Aproximadamente 61% do território ainda é coberto por matas originais. – Nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos cresceu 37% e a produção mais de 176%.

Fonte dos gráficos: http://www.cnabrasil.org.br/sites/default/files/sites/default/files/uploads/05_balancacomercialagro.pdf

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Produtor e consumidor e, sozinha, detinha 14% do mercado Em primeiro lugar como exporta- mundial de aves, exportando para 120 dor mundial de carne bovina e aves, países. Considerada como o maior os produtores brasileiros estabelecem frigorífico do mundo, a JBS exporta uma relação não somente financeira carnes para 150 países. com seus consumidores, mas também As duas maiores empresas do Brasil uma relação de confiança. Vender envolvidas no escândalo apareciam com uma carne de qualidade e de proce- recordes de faturamento nos anos de dência confiável é algo essencial, já 2015 e 2016: foram, respectivamente, que é de extrema importância saber R$2,03 bilhões e R$4,64 bilhões de fao que está sendo consumido em sua turamente líquido. De acordo com um mesa todos os dias. levantamento feito pela Economatica, a A dona de casa Maria Rosa Andra- JBS, em 2015, foi a sétima melhor emde, de 52 anos, conta que sempre que presa ao que se refere em faturamentos vai ao mercado questiona os açou- no país. Já em 2016, a BRF aparece gueiros sobre a qualidade da carne que como a 9º empresa mais valiosa do munestá comprando, de acordo “E assim nos tornamos brasi- com a Forbes: do, e ainda leiros [...] Transformam o país são R$10,9 birelatou uma e x pe r i ê nc i a inteiro num puteiro, pois assim lhões de valor que presende mercado. ganham mais dinheiro” ciou com um Como im(Trecho da música O tempo não para, de Cazuza) c o n h e c i d o. pacto imedia“Vou ao merto, os preços cado todos os dias. Sempre pergunto das ações das duas empresas lideraque dia a carne chegou, observo bem ram as perdas na Ibovespa no dia da se está com aparência velha ou se está operação. A BRF obteve uma perda ok. Um dia desses, um vizinho meu de 7,25% e a JBS 10,59%. comprou uma carne no supermercaA Operação Carne Fraca foi dido e quando chegou em casa viu que vulgada pela Polícia Federal como a havia insetos na carne. Ele foi imedia- maior na história da corporação. Mais tamente devolvê-la”, relatou. Infeliz- de 1.100 policiais federais foram às mente, casos com esse não costumam ruas para cumprir 309 mandatos juser raros aqui no Brasil. diciais em seis estados do Brasil e no Distrito Federal. Os mandatos expeA operação didos pela justiça abrangeram 27 priNo dia 17 de março de 2017, a sões preventivas, 11 prisões temporáPolícia Federal deflagrou uma das rias, 77 conduções coercitivas e 194 maiores operações já realizadas no buscas e apreensões. país, e que chocou a todos. A OperaSegundo as investigações, mais ção Carne Fraca apontou as maiores de 30 empresas e fiscais do Minisempresas no ramo de produção de tério da Agricultura se beneficiaram carne como responsáveis por adulte- do esquema fraudulento que envolrar os alimentos que vendiam no mer- via liberar a venda da carne imprócado interno e externo. Ao todo, fo- pria para consumo. A Polícia Federal ram mais de 30 empresas alimentícias afirmou que parte da propina libeenvolvidas no escândalo. Empresas rada no esquema ia para o PMDB, como JBS – controladora das marcas partido do presidente da República, Seara, Swift, Friboi e Vigor – e a BRF Michel Temer, e PP, da base aliada. – dona das marcas Sadia e Perdigão Dentro do Ministério da Agri–, foram acusadas de comercializar cultura, funcionários envolvidos carnes estregadas, mudar a data de com o esquema removiam fiscais vencimento, maquiar o aspecto e usar para garantir a continuidade do esagentes supostamente cancerígenos quema. A recusa de um fiscal em ser em seus produtos. removido foi o que deu origem às A BRF possui no país 47 fábricas investigações.

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DO CAMPO À MESA Para alguns comércios, não houve mudança, mas, para outros, a Operação “Carne Fraca” modificou o comportamento do consumidor Repercussão popular Diante de toda a repercussão causada pela Operação Carne Fraca, os consumidores se sentiram inseguros em adquirir os produtos vendidos nas gôndolas dos supermercados, mas, em alguns lugares, o consumo não se alterou. Valdenor Tavares Gomes, 63, diz que há 19 anos trabalha como gerente de supermercados, é engenheiro de alimentos e dá treinamentos em várias capitais do Brasil e até no exterior. Ele relatou que o supermercado onde trabalha não foi afetado com a operação. “Aqui não houve acontecimento deste tipo de coisa”, afirmou. Valdenor ainda aproveitou para contar como é o processo de recebimento das carnes vindas de frigoríficos que chegam ao supermercado. “Primeiro, temos recebimento das mercadorias na temperatura certa: produtos resfriados, de 0 a 4 graus; produtos congelados, a menos de 18 graus negativos. Então, não temos problemas nesse aspecto. A carne é de boa procedência”, garantiu. O gerente ainda disse que esta não é a primeira vez que algo assim aconteceu no mercado de carnes e afirmou que esperava um pouco mais de cobrança por parte dos consumidores. “Independente de ser gerente, eu sou engenheiro de alimentos, eu trabalho com carne há 40 anos. Há 15 anos, houve um caso assim, mas não desta forma como foi ventilado. O problema, desta vez, foi de higiene, não de doença da carne, problema de falta de higiene dos frigoríficos. Por incrível que parece, não houve tantas reclamações ou questionamentos por parte dos clientes. Eu esperava mais, nem tampouco a quebra de vendas. A venda continua a mesma, só caiu

agora com a chegada da Semana Santa”, afirmou. O que mais chama atenção no relato de Valdenor é o quão pacífico os consumidores brasileiros se tornaram ao longo dos anos. Saber que um caso como este que repercutiu no mundo não fez com que a maioria esmagadora dos brasileiros tomassem uma atitude, é algo preocupante. Como toda moeda possui dois lados, a reportagem ouviu também a opinião dos consumidores em relação a essa polêmica. O cabelereiro Jarbas Teixeira de Carvalho, 52, relata que tomou uma atitude com toda essa situação. “Simplesmente, parei de comprar, se bem que eu já não era muito de comprar carne desse tipo em supermercado. Não compro carne para guardar congelada; só compro carnes frescas. Supermerca-

do eu já odeio, depois disso então...”, observou. Depois do escândalo, as empresas envolvidas adotaram uma estratégia de reduzir os preços de seus produtos, visando compensar ou atrair novamente seus consumidores. Para Jarbas, esta atitude não fará com que ele novamente volte a consumir as carnes. “Prefiro pagar mais caro, mas comprar uma coisa de qualidade”, afirmou. Uma semana após o ocorrido, o comércio de açougues começou a sentir o reflexo da operação: aumento de mais de 30% na demanda desse comércio. Muitos consumidores optaram pela relação face-a-face com os próprios vendedores, já que em muitos produtos embalados isto não era possível. Expedito Henrique Fonseca de

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Oliveira, 17, é açougueiro há três anos. Ele conta que onde trabalha pode presenciar um aumento demasiado devido à operação. “Teve um aumento, sim. O povo está largando os supermercados e vindo para os açougues”. Ele ainda contou que recebeu questionamentos sobre a qualidade das carnes que vende. “Teve muita gente que perguntou de onde vinha a carne, de onde nós a trazíamos”, observou. Essa confiança entre o açougueiro e o consumidor se intensificou mais ainda durante este período. “A facilidade que o cliente possui em avaliar o estado da carne e a própria confiança em quem vende são motivos que tem atraído cada vez mais clientes”, afirma Expedito. “O pessoal chega e vê a carne na frente do balcão, sabe a mercadoria que está levando”, finaliza. (LR).

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A solução é alugar o Brasil? ...Ana Laura da Silva Corrêa O apito é ensurdecedor e acompanha a história de Divinópolis desde 1890, quando a Estrada de Ferro Oeste de Minas chegou à cidade. Desde 1997, quando o barulho soa e a locomotiva para na antiga Estação, apenas um maquinista desce. Antes disso, dois funcionários trabalhavam na condução da locomotiva. A mudança é apenas uma das que foram geradas pela privatização acontecida há 20 anos, que transformou a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em FCA (Ferrovia Centro Atlântica) e, posteriormente, em Vale do Rio Doce. “É perigoso. Se der algum problema num trecho à noite, o maquinista tem que parar para revistar o trem sozinho. É bem mais difícil hoje”. A fala é de um funcionário que está na empresa desde os anos 1980, ou seja, trabalhou quando ainda ela era ainda uma propriedade do estado, e depois que foi vendida para a iniciativa privada. Já o aposentado José Fernando Corrêa entrou na RFFSA em 1983, como manobrador de trens. Em 1989, assumiu a função de maquinista, na qual ficou até 2012. De acordo com ele, com a desestatização da empresa, os trabalhadores tiveram perdas em seus salários, horas extras e equiparação salarial. Ainda hoje, os antigos funcionários permanecem buscando seus direitos. “Recorremos ao sindicato e, após

várias lutas, ainda tentamos recuperar todas as perdas na justiça”, explica. De acordo com Renato Luiz, que também acompanhou o período de desestatização da empresa na função de maquinista e hoje dirige o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Belo Horizonte, a privatização trouxe maiores investimentos na estrutura, mas também a desvalorização da mão-de-obra. “Hoje, funcionário de ferrovia é peça de reposição. Não tem garantia de emprego, não tem valor, não é reconhecido. Antes, a gente tinha mais valor como matéria humana”, afirma. “Nós não vamos pagar nada” A precarização das relações de trabalho, de acordo com o economista e professor da UFSJ, Talles Girardi, é uma das consequências esperadas dos processos de desestatização. Outros efeitos da mudança, mas para os consumidores, são sentidos no bolso. “Certamente ocorre elevação nos preços, pois, nesses setores privatizados são adotadas regras de reajustes de preços que normalmente permitem reajustes acima da inflação”, explica.

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o dólar deles

paga o nosso mingau”

À época de sua privatização, a RFFSA foi arrematada por US$ 3,3 bilhões. O valor é considerado muito baixo por alguns economistas, que apontam que a empresa valeria U$S 100 bilhões. A venda, em 1997, fez parte de uma série de outras desestatizações promovidas pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Sete anos antes, durante o mandato de Fernando Collor de Mello, foi criado no país o primeiro programa de privatizações, com a constituição do Programa Nacional de Desestatização (PND). “Negócio bom assim ninguém nunca viu” Os processos de desestatização são controversos. As justificativas para que ocorram, envolvem a suposta superioridade do setor privado diante da administração pública em relação à eficiência. Além disso, os defensores da privatização apontam que o dinheiro da venda poderia ser usado para abater a dívida pública. No entanto, de acordo com Talles, essas motivações não são com-

provadas. “Mesmo com a venda das estatais, a dívida pública continuou aumentando de forma dramática, sobretudo na segunda metade dos anos 90, auge do período de privatizações. A melhora dos serviços prestados nos setores privatizados pode ser questionada. Veja, por exemplo, o setor de telefonia”, aponta. “Tá tudo pronto aqui, é só vir pegar” Desde a criação do PND até o ano de 2002, 68 empresas foram desestatizadas. A partir daí, durante os mandatos de Lula e Dilma Rousseff, segundo Talles, “houve mais um processo de concessões de obras públicas. Pode-se destacar, inclusive, o fortalecimento de algumas empresas públicas como foi o caso da atuação dos bancos públicos”. Já o atual governo de Michel Temer dá continuidade às ações de desestatização no país. Em setembro do ano passado, o presidente anunciou um amplo conjunto de privatizações de portos, aeroportos, recursos naturais e, também, de parte do setor energético. Em 1975, Raul Seixas criticava o entreguismo do Brasil ao capital estrangeiro na música “Aluga-se”. Mesmo depois de tantos anos, a letra, irônica, permanece atual. Vale questionar, especialmente para os funcionários, se, como sugeriu Raul, “a solução é alugar o Brasil”.

A reforma da exploração do trabalho As canções falam muito de uma sociedade, em seu tempo. A produção musical tem sido uma ferramenta importante para a crítica social em variadas épocas. Zé Ramalho se é um desses músicos que prezam por composições ácidas denunciando o desequilíbrio da sociedade. Em sua música “Admirável Gado Novo”, ele chama a atenção para as mazelas de uma sociedade em constante mudança. Suas canções ficaram populares ao destacar as injustiças contra a sociedade e o trabalhador. Em sua canção “Admirável Gado Novo” fica clara a insatisfação - “é duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber”, o autor joga luz a uma discussão que se arrasta na história do país: a exploração do trabalho no sistema produtivista. Nos dias atuais que tanto se discute sobre as reformas trabalhistas, é razoável refletir que esse debate é importante para a reflexão sobre as condições de trabalho do cidadão brasileiro. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) tem atuado mundialmente para a erradicação da exploração do trabalho. No Bra-

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Google Imagens

...Paulo Vitor de Souza

sil, a realidade perdura, e pior, o país não consegue cumprir com suas metas no que diz respeito ao trabalho em situações impróprias. A exploração do trabalho. Não é difícil encontrar relatos de pessoas que sofrem com condições de trabalho análogas ao serviço escravo. Nos meios urbanos isso acontece frequentemente em fábricas e em outros tipos de setores, como na prestação de serviços. Nos meios rurais, o trabalho é marcado por uma relação, muitas vezes, inadequada entre empregador e o empregado – e essa é uma questão

bastante relevante na discussão da reforma trabalhista. Um Projeto de Lei protocolado na Câmara deve alterar a jornada e a remuneração do trabalho no campo. O PL que foi parte da reforma, mas que trata especificamente do trabalho rural prevê a possibilidade de o trabalhador do campo ser remunerado na forma de moradia e alimentação, além de jornada de 12 horas e serviço de 18 dias seguidos. O projeto protocolado pelo deputado do PSDB, Nilson Leitão, foi retirado da reforma para diminuir a resistência contra o projeto. Embora a discussão desse Pro-

jeto de Lei seja atual, muitos trabalhadores já viveram a experiência de trabalhar no campo e ser pago com comida e moradia. Francisco Souza, trabalhador rural de 54 anos que mora no interior de Minas Gerais relata que já passou por essa situação. “Já morei com minha família numa fazenda. Em troca, eu tinha a casa e a comida, o pagamento era só quando eu precisava ir ao médico ou levar algum dos meus filhos”. Perguntado sobre as condições de trabalho, Francisco que é pais de três crianças afirma que nunca tinha descanso e nunca recebeu férias. “Eu não podia deixar de cuidar da plantação (cana-de-açucar), porque só tinha eu e mais um empregado”. Dessa maneira, a letra de Zé Ramalho ilustra a realidade do trabalho no Brasil. O “dar muito mais do que receber” é parte integrante das reformas que afrontam o direito do trabalho. É uma violência silenciosa que pode abrir espaço para mais exploração do “gado novo” que ainda não participa do jogo, que não é considerado no debate e que, muitas vezes, tem sua luta inferiorizada. É a vida do “povo marcado”.

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A migração no Brasil: novos rumos, novas formas ...Luciano Vidal O Brasil viveu o processo de migração na década de 1960 devido às secas que assolaram o Nordeste brasileiro e fizeram com que milhares de pessoas abandonassem suas casas no sertão por falta de alternativa agrícola e políticas sociais na região. Este processo de migração ocorre quando há o deslocamento de pessoas dentro do mesmo país pelos mais diversos motivos, mas que se destaca, principalmente, pela busca por melhores condições de vida. Autor renomado da literatura nacional, Graciliano Ramos reflete sobre esse processo de êxodo no país. No caso, escreveu o livro Vidas Secas e questionou o ciclo vicioso e sem saída que viveu o nordestino. Na sua obra, Graciliano vai destacar o esquecimento do governo e, até , a falta de verba para mudar o cenário caótico que vários nordestinos enfrentavam, como, secas intensas, falta de comida, entre outros aspectos que deixam a sociedade local à procura de expectativas melhores de vida. Representando diversas famílias do cenário nordestino, a família do personagem Fabiano – um homem rústico, que cuida e dá um jeito de conseguir alimento e casa para sua família –, vislumbra tentar a vida em outros ares, como única maneira de obter condições boas de vida para seus filhos e sua esposa. Logo, o êxodo rural é representado quando eles abandonam sua casa e vão em busca de um sonho: ter uma vida melhor. A desilusão é uma marca, muitas vezes, presente até os dias de hoje em quem ainda faz esse processo, pois os grandes mercados e centros já estão saturados ou precisam de mão de obra especializada, de modo que o trabalhador deve chegar oferecendo maestria no cargo que a

empresa precisa. Muitas vezes, por não saber fazer o serviço, esses migrantes ficam à margem no processo de seleção, desiludindo-se com os grandes centros urbanos. O polo mais procurado para o êxodo é a região Sudeste, pois é a mais industrializada desde a década de 1970. Mas, atualmente, esse processo ocorre de uma forma diferente na maioria dos casos. Não só os grandes centros passaram a receber migrantes, mas também as cidades do interior que apresentam um mercado vasto em determinado produto. Um exemplo de cidade que recebe diariamente um fluxo enorme de migrantes é Nova Serrana, localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais. É hoje um dos mais desenvolvidos polos de calçados do país, empregando nada menos que 20 mil trabalhadores diretos e 22 mil indiretos, totalizando cerca de 42 mil trabalhadores. A BR-262, que é a principal rodovia de ligação entre Nova Serrana e Belo Horizonte, é bastante frequentada por volta das 17 horas, quando os trabalhadores saem do serviço e voltam para suas cidades durante o trajeto. Nicolas Benício, motorista de um ônibus que leva todos os dias trabalhadores da cidade Bom Despacho até Nova Serrana diz que o tráfego nesse horário é muito intenso e de difícil circulação. Um trajeto que, em condições normais, faz com 35 minutos, ele demora 1 hora e meia, mostrando o caos que é o trânsito depois dos trabalhadores saírem do expediente. Nas indústrias de calçados de Nova Serrana são produzidos cerca de 105 milhões de pares ao ano. O polo transformou-se em referência nacional em estudos acadêmicos , quando se trata de verificar o crescimento da indústria calçadista. Todos

os tipos de calçados são produzidos lá: masculinos, femininos, infantis, tênis joging, calçados ortopédicos, chuteiras, chinelos, sandálias, rasteiras e botas . Hoje a cidade de Nova Serrana

ostenta o titulo de Capital Nacional do Calçado Esportivo. Acompanhando o crescimento da cidade, sua população quadruplicou em 19 anos, como mostra o gráfico do IBGE.

Fonte: IBGE

A migração Essa migração não ocorrendo só para os grandes centros nos dias atuais está cada vez mais comum, principalmente pelo fato de os grandes setores industriais urbanos estarem saturados e não conseguirem suportar a demanda de empregados. Helena, 42, é uma das pessoas migrantes que trabalham no mercado calçadista de Nova Serrana. Natural do Vale do Jequitinhonha, ela é uma de várias que foram tentar mudar de vida e conseguiu. Trabalhando há seis anos com carteira assinada, Helena diz que sua vida melhorou de uma forma muito positiva. “Em Jequitinhonha eu já cheguei a passar fome e sede devido a cidade ser muito seca. Aqui eu trabalho dignamente, ganho meu dinheiro e consigo seguir minha vida de uma maneira que sempre sonhei. Sou feliz com o que eu faço e pretendo aposentar nessa cidade maravilhosa”, destaca. Mas, a realidade e a felicidade de Helena não se reflete em muitos casos que acontecem costumeiramente no Brasil. A desilusão do êxodo ainda é uma marca desse processo e acarreta uma superlotação dos grandes centros , assim

como aumento da criminalidade e a aglomeração nas periferias dessas cidades. Bruno, 35, é um dos frustados pós-tentativa de mudar de ares para uma vida melhor. Ele é natural de Gravatá, em Pernambuco, e foi para João Monlevade, Minas Gerais, tentar trabalhar na empresa multinacional que produz aço, a Arcelor Mittal. Não conseguiu se estabilizar no serviço por não ter especialização na área e foi demitido com um mês de trabalho. Bruno classificou sua ida com uma palavra – arrependimento –, por ter se iludido de que, naquele momento e com sua qualificação profissional, estaria apto para a profissão. A migração no Brasil não é só um processo de saída da zona rural para os grandes centros como evidenciado no livro Vidas Secas, mas também passa por uma transformação e as cidades do interior do Brasil que apresentam campos de trabalho chamativos são cada vez mais procurados para migrar. Uma mudança necessária para quem almeja uma mudança de vida e novas oportunidades de emprego, a abertura das cidades do interior é, cada dia mais, preenchida por pessoas de outras cidades do país.

Helena(esquerda) produzindo sandálias em Nova Serrana.

U EM G D ivi n ó p o l i s – C u r s o d e J o r n a l i s m o - J o r n a l p rod u zi d o p elo 3 º p erí od o - An o 2 – n º 3 - Mai o d e 2 0 1 7

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Minas

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Que país é esse? ...Luísa Henriques

Google Imagens

Quando Renato Russo juntamente com a Legião Urbana lançou a música “Que país é esse”, em 1987, o país estava passando por um processo de redemocratização em que os militares se afastavam do poder e o Brasil lutava pela liberdade. Trinta anos mais tarde, o Brasil luta para se livrar da corrupção que desola a sociedade. A Operação Lava-Jato revelou um esquema que envolve licitações ilegais, propina, caixa 2. E esses são apenas alguns crimes na operação realizada pela Polícia Federal. No entanto, a corrupção não está somente em Brasília, mas também no dia a dia do brasileiro com seu jeitinho de lidar com as coisas, como o suborno a policiais quando parados em blitze, o “gato” na luz elétrica, entre outros exemplos que mostram o oportunismo. Enquanto todos queriam juntos o futuro da nação, um esquema sem fronteiras era formado no processo de redemocratização do país. Lava-jato No dia 17 de março de 2014, agentes da Polícia Federal foram investigar um posto de gasolina da Torre em Brasília com suspeita de que o centro comercial continha, além de 16 bombas de combustível, um minimercado, um café, uma lavanderia e uma casa de câmbio onde, suspeitava-se, ocorrer lavagem de dinheiro. A operação foi batizada de Lava-Jato. A partir daí, os agentes federais descobriram um dos maiores esquemas de corrupção envolvendo mais de 200 políticos, a Petrobrás e grandes empresários poderosos. A primeira fase da Lava-Jato, iniciada no posto de gasolina em Brasília, resultou em 81 mandados de busca e 28 de prisão preventiva em

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várias cidades do país. E foram apreendidos carros esportivos, joias, obras de arte e relógios de luxo. Quando a investigação chegou no ex-presidente da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, o vínculo da petroleira estatal com a rede ilegal de lavagem de dinheiro e subornos acabou sendo exposto para os investigadores. Mas eles só conseguiram resolver toda a ligação do esquema meses mais tarde. Os investigadores começaram a ter certeza de que havia um esquema oculto de desvio e lavagem de dinheiro provenientes da Petrobrás, mas faltava descobrir como ele funcionava e quão grade era esse esquema. Foi quando Paulo Roberto Costa chegou com uma proposta de delação para reduzir sua pena. Em troca, teria que devolver o dinheiro desviado, relatar todos os crimes e indicar todos os envolvidos. Foi quando a operação Lava-Jato começou a se tornar a maior operação contra a corrupção do país. Com a delação, foi descoberto que as principais construtoras do país, como a Odebrecht e a Camargo Corrêa, haviam formado um esquema para repartir entre si contratos multimilionários com a petroleira. Para obtê-los, pagavam suborno a diretores da empresa e a centena de políticos de diferentes partidos para aprovarem emendas que as beneficiavam. Três anos após o começo da operação Lava-Jato, a mesma não parece ter fim. O esquema de corrupção que já perpetua no país por três décadas, envolvendo os maiores partidos brasileiros como o PMDB, PT, PSDB entre outros, traz uma sensação de indignação e tristeza pela nação. Os resultados dessa corrupção sem fim chegaram agora: o país vive uma de suas piores crises financeiras

e políticas, tendo a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sofrido impeachment em 31 de agosto de 2016. O presidente que assumiu, Michel Temer, reage aos problemas econômicos com emendas e reformas impopulares sem, sequer, apresentar uma reforma política e diminuir os gastos do governo com o próprio governo, gerando ainda mais revolta e insatisfação pelo país. Economia Uma economia fragilizada, um Estado quebrado e um sistema político lastimável resumem a situação do Brasil atualmente. Em um estudo realizado pela Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), em 2016, foi calculado que a corrupção rouba, todos os anos, entre 1,38 a 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, ou seja, bilhões sendo desviados todos os anos dos cofres públicos. Isso significa que enquanto o Brasil é o 125º no ranking de saúde é o 70º no de corrupção. A economia foi bastante afetada pela corrupção, mas como o país estava vivendo um momento de mercado promissor (motivo para o aumento da máquina pública), era imperceptível para a sociedade. Quando a economia começou a mostrar sinais de instabilidades, o governo tapou o buraco, pois era ano de eleições. Com as revelações da Lava-Jato, que interferiu na economia, o buraco se transformou em uma abertura e agora o brasileiro paga pelo dinheiro que lhe foi roubado. A corrupção rompe com os víeis da economia, tira o que era de direito do cidadão. O que foi desviado do Petrolão, por exemplo, daria para construir 5.121 escolas, 81novos hospitais e 4.565 novas

creches. São números que mostram o quanto a corrupção afeta a sociedade. Segundo economistas, depois do PIB recuar novamente em 3,6% em 2016, a economia brasileira chegou ao fundo do poço. Ela teve um recuo de 0,9% e o efeito disso é o desemprego e a inflação alta. E por mais que neste ano a inflação tenha diminuído e os juros abaixados, a instabilidade política e as revelações da Lava-Jato tiram o otimismo de uma melhora. Com tanta corrupção política no país, há um levantamento do historiador Leandro Karnal sobre os políticos serem o reflexo da sociedade que representam. O “jeitinho brasileiro” de lidar com situações do dia a dia, tirar proveito de algo, mesmo que não tenha a intenção de prejudicar outra pessoa, achar dinheiro perdido e não devolver, pegar uma mercadoria a mais do que pagou, enfim, qualquer prática de suborno é uma prática de corrupção e sempre afeta alguém, seja em pequena, média ou grande escala. Observa-se, também, que as intenções políticas são individualistas. Há um raciocínio geral de que o político pode “me ajudar” e não ajudar a sociedade. Este tipo de pensamento acaba levando governantes ao poder que não estão aptos a desenvolver o país, estado, cidade, mas, sim, governar em troca de favores, como foi mostrado na Lava-Jato. Para que a política mude, não é só necessária a troca de governantes, mas também a forma de ver e fazer política do brasileiro, de pensar mais no coletivo, principalmente, nas eleições e pensar em cada meio e jeito que se utiliza nas escolhas do dia. A corrupção brasileira só vai acabar quando TODOS lutarem e acreditarem no futuro da nação.

UE MG Di vi n óp oli s – Cu rso d e J orn ali sm o - J orn al p rod u zi d o pel o 3º perío do - Ano 2 – nº 3 - M aio de 2017


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