POW! design

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Revista POW! Edição n°0 ano 2002

EDITORIAL

No intuito de reunir arte, moda e design em uma só revista, a escolha das matérias para a revista POW! buscou investigar um conteúdo múltiplo a fim de oferecer ao leitor uma boa opção de assuntos variados e interessantes acerca destas temáticas. Acredita-se que o público consumidor de moda tenha interesse em áreas próximas do conhecimento, a exemplo da arte e do design, tendo em vista que em muitos momentos estes campos se entrelaçam, ficando às vezes, impossível delimitar as fronteiras entre um e outro Capa: campo. Em POW! são apresentadas algumas Código de reportagens selecionadas a partir de pesquisas barras pela internet nos principais sites de moda. Dentre realizado com a estas matérias de moda, destaco "Radical fashion", data de anivérsário da pela exclusividade, uma vez que esta matéria é autora do totalmente original e exclusiva, tendo sido obtida ensaio. através de contatos por e-mail com Cristiane Mesquita, editora do London Link que demonstrou grande interesse e receptividade no convite de participar da edição experimental da revista POW!. Por entre as matéras da revista, foram colocadas algumas propagandas e algumas imagens "soltas", Contatos para ou seja, dissociadas de qualquer texto informativo. publicações, As propagandas apresentadas nesta revista sugestões e afins: referem-se a estilistas de renome no cenário 3216-7774 ou pelo e-mail nacional, a exemplo de Alexandre Herchcovitch e Daob@bol.com.br Ronaldo Fraga. Além das propagandas direcionada ao interresse desse leitor, em POW! há também algumas "imagens soltas", que referem-se (e homenageiam) alguns artistas. Outras imagens que permeiam a revista são histórias em quadrinhos fazendo parte do ensaio Daniela Brito .


No projeto editorial, procurou-se trabalhar de um modo diferenciado, através da inserção de fragmentos de ensaios, fragmentos artísticos e/ou poéticos, dando à imagem o mesmo peso que a informação textual. Em POW!, a mensagem escrita não atua como elemento primordial, e sim com um elemento a mais para a informação final e concepção da idéia de uma nova expressão. A conjugação entre os conceitos de arte, moda e design integrados entre si foi trabalhada desde a concepção do projeto até a apresentação visual e conceitual da revista. POW! pretende apresentar em cada edição um portifólio de algum artista, designer ou estilista com projetos significativos. A edição nº 1 desta revista traz o ensaio "SSP-DB" de minha autoria, como modo de apresentar a minha produção pessoal . Espero que vocês gostem e se interessem em participar do próximo número de POW! Até a próxima! Daniela Brito


Em um sentido geral, todas as revistas tem um aspecto muito similar; tem se desenvolvido um conjunto de regras "ad-hoc" para que se cumpram com as obrigações comerciais. O logotipo sempre se coloca ao longo da parte superior da página, e consideram-se essencial os rostos em tamanho real, que incitem o contato visual para atrair o leitor. Estas regras não são estabelecidas por ninguém as outorgam a sabedoria de como fazer uma revista com êxito são as responsáveis pelo grande número de semelhanças entre as revistas convencionais. Existem, entretanto, outras mais específicas, mais locais, estabelecidas por cada editor.

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As capas devem vender a revista ao leitor, sendo que sua função pode dividir-se em duas partes um tanto conflitivas; por um lado deve vender a idéia da revista como um todo, paralelamente deve expressar a novidade como número independente dessa mesma revista. A capa deve gritar ao leirtor que a revista trata do tema X explicando o conteúdo desse número em particular tanto ao leitor exporádico como o habitual. Independente dos conteúdos variáveis que a capa pode apresentar, a peça chave é o cabeçalho, o nome e como se apresenta. Com o tempo o cabeçalho de uma revista pode chegar a ter identidade por si mesmo. Nomes como Vogue, Esquire, tem sobrepassado seus significados e tipografias originais e tem se convertido em marcas, incorporando etiquetas de copyright.


Radicals foi instalada num terreno afastado do centro e com vista para uma das bahias do rio. A mostra de fotografia ao ar livre foi composta por 20 painéis trifásicos, destes usados para publicidade. Cada um deles exibia três imagens de criadores contemporâneos. Montados em círculo, convidavam o espectador a ver do centro, algumas criações de Hussein Chalayan, Jessica Odgen, Junya Watanabe, Marjan Pejoski, Rei Kawakubo, além dos próprios belgas. Em comum, os 20 nomes escolhidos têm originalidade, inovação, subversão e o constante desafio ao lugar comum da imagem de moda.


Uma das vertentes da Mode 2001 foi o lançamento de uma revista que pretende mostrar moda de um jeito não convencional, de um jeito "belga"… Baseada em parâmetros como paixão, emoção, autenticidade, espontaneidade e contra a globalização e a homogenização da moda, seus editores pediram aos anunciantes que respeitassem a direção artística da revista e mudassem suas estratégias de marketing. Isto resultou em anúncios na mesma linha do design da revista, quase imperceptíveis. Programada para sair duas vezes por ano, cada edição vai contar com um diretor de criação diferente, que é livre até mesmo para nomear a publicação. O designer Belga Dirk Van Saene foi o responsável pela primeira edição que chamou de A. Para a próxima (Fevereiro/2002), Bernard Willhelm já definiu o nome B. Os títulos não necessariamente percorrerão o alfabeto mas, quem sabe?


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STEPHEN WILLATS. “VUE DE LA SERIE MULTIPLE CLOTHING, 1992 - EXPOSIÇÃO SUS DE MANTEAU, GALERIA THADDAEUS ROPAC, 1997. A VESTIMENTA COMO UM INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO PELO JOGO DE MENSAGENS QUE PORTA


FRAGA


COLECIONADOR DE EMOÇÕES

Por Carol Garcia*

Ronaldo Fraga, uma vez mais, desatou os nós da garganta da platéia com uma coleção onde o lúdico deu lugar à memória afetiva. Para começar, todo mundo trocando Congas estampadas pelos óculos que viraram marca registrada do estilista. Os brindes, distribuídos nas cadeiras, eram de diversos tamanhos e o jeito para descolar o seu era barganhar com o vizinho ao lado - uma boa oportunidade de fazer amigos. Até que balões coloridos abriram o desfile sucedendo-se num carrossel no qual vagavam recheados de ausência. Cadê as modelos? A resposta veio rapidinho: foram engolidas pelas roupas. Ronaldo Fraga é dos poucos que pode. Tirou as modelos de cena e deu lugar ao verdadeiro corpo brasileiro, mesclando "caras de pau" entre os bonecos de madeira que envergavam suas criações a pessoas de seu staff, gente comum como eu e você, que entraram em cena quando o carrossel quebrou e tudo, aparentemente, dadofuncionou errado. mesmo. Foi a Mas foi aí que tinha a coisa primeira vez em que assisti a 100% do mundo fashion torcer para que houvesse uma saída. Parecia uma união de torcidas rivais em dia de jogo do Brasil (acho que só mesmo o Maracanã lotado já assistiu a tamanha galera com o coração na mão). Deu certo. Ronaldo ativou o plano B, levou sua equipe de jeans e camiseta com o nome da coleção para a passarela e o público pôde ver - e sentir - as roupas. Aquela energia positiva que abraçou toda a platéia fez com que a emoção explodisse em aplausos: o paradigma do perfeito imposto em tom ditatorial pela moda fora quebrado. Que bom!


Mas, e as roupas? São divinas. Saias com a barra simulando o gancho de uma calça (no estilo do francês Gilles Rosier) dividem o mérito com outras de estampas de cabides ou tranças grossas, que se repetem também em vestidos longos, de fundo negro. Outros, com cortes enviesados como os da coleção "A Roupa" (Ronaldo já advertira que usaria suas modelagens preferidas), deixavam entrever um forro vermelho, como a carne que compõe as demais estampas da atual coleção, sabiamente denominada "Corpo Cru". São lindas as peças em verde água, que recebem reforços remendados como joelheiras por pespontos vermelhos. Nos pés de manequins tridimensionais carregados pelo carrossel estão Congas, Botas Sete Léguas e um sapato desenvolvido pela Zem que se chama "Pisando no Tomate, na Laranja e no Limão". E no coração dos que assistiram ao desfile estará para sempre a imagem de que a moda é para todos, desde que tenhamos responsabilidade: com a tecnologia que criamos, com o meio ambiente em que vivemos, com o corpo que vestimos.



Rudi gernreich Ele é inegavelmente, com Charless James o mais original dos costureiros americanos. UM dos raros que deixam atrás de si perfume de vanguarda e de escândalo que culminará com o lançamento, na metade da década de 60 do primeiríssimo monoquini, suposto símbolo de uma liberação sexual que é antes de tudo a dos corpos e do movimento.


Sensível, conceitual, densa, intelectual, introvertida e visionária. Tais adjetivos na descrição de um estilo de moda têm nacionalidade certa: belga. Mais especificamente, a cidade de Antuérpia que fica ao norte da capital Bruxelas, a beira do Rio Schelde e abriga a Académie Royale des Beaux-Arts d'Anvers. Nos anos 80, Ann Demeulemeester, Walter Van Beirendonck, Dries Van Noten, Dirk Van Saene, Dirk Bikkembergs e Marina Yee - todos formados ali - se lançaram como o "Grupo dos 6" - fato que colocou a Antuérpia no mapa de moda internacional com muito estilo. Outros nomes como Martin Margiela, Raf Simons, Bernard Willhelm, Veronique Branquinho, Olivier Theyskens, An e Filip Vandevorst, entre outros, continuam (des)construindo para a Bélgica uma imagem de moda singular e inteligente. Made in Antwerp, roupa, acessório ou gente, foi se tornando símbolo de mão forte em design de vanguarda. A Mode2001 Landed/Geland - evento que ocupou quatro espaços da cidade entre 26 de maio e 07 de outubro de 2001 - veio para reforçar esta imagem. O investimento do governo local e dos patrocinadores foi de tamanho suficiente para criar uma infraestrutura de grandes proporções. Incluiu a divulgação em inúmeras publicações fashion internacionais e em toda a rede turística do país, um website, dois catálogos, o lançamento de uma revista, acessórios com design exclusivo e até carros Chrysler para transporte dos visitantes entre as locações. A exposição foi, além de uma grande homenagem à Antuérpia, também uma poderosa ação no sentido de demarcar este


Croqui de Christian Lacroix, julho de1987 Story board do 1º desfile de alta costura para a coleção outono-inverno 1987-1988.



Por Cristiane Mesquita* Giovanni Messori Istituto di Comunicazione e Spettacolo UniversitĂ di Urbino

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Giovanni Messori Istituto di Comunicazione e Spettacolo Università di Urbino A apresentação do antropólogo Ted Polhemus* fechou o último dia do Segundo Convênio de Disciplinas de Moda. Depois de enfatizar a distinção entre moda, estilo e tradição aponta algumas das implicações éticas envolvidas nas apropriações feitas pela indústria da moda e expõe brevemente alguns exemplos das diferenças de sentido entre as versões originais e aquelas produzidas ou relidas pela indústria - na trilha de seu livro Street Style**. No caso de idéias genuínas de estilo, originadas em subculturas específicas, ao serem apropriadas pela High Fashion, o que acontece é uma destruição dos sentidos pessoais e (sub)culturais. "Roupas e acessórios que significavam alguma coisa para aqueles que primeiramente usaram num contexto subcultural, ao serem fashionalizados, se tornam simplesmente parte da essência de uma engrenagem faminta por novidades." As invasões da moda nas tradições de outras etnias também demonstram apropriações que poderiam, a princípio ser consideradas como honrosas referências àqueles elementos estéticos tão preciosos. Porém, as mesmas perdem o sentido ao saírem de seus originais contextos, sem as fronteiras de seus particulares sistemas sócioculturais. "A fome pelo novo faz a moda converter símbolos naturais

Pautando-se em algumas teorias da pós-modernidade - que pregam o colapso da era moderna a partir da década de 1950 - o antropólogo aponta o movimento punk como um dos último arroubos de autenticidade. Afirma também que este foi responsável por mudanças radicais no senso de coordenação em moda, pela idéia de "misturar de tudo um pouco de uma forma individual." Com postura bastante crítica aos mecanismos que passam a reger as engrenagens da moda a partir dali - o marketing, a perda do sentido de autenticidade e uma certa "falta de criatividade" da maioria dos designers considera que, enquanto tais "roubos fashion" acontecerem, são completamente hipócritas aqueles que reclamam que seus trabalhos são copiados". *Ted Polhemus é autor de **Street Style - from Sidewalk to Catwalk. (Thames and Hudson, 1994) e Style Surfing what to wear in the 3rd milenium. (Thames and Hudson, 1996), entre outros. Seu website é



Penteado de Carita Maria e Rosy Carita propõe coques à espanhola, perucas extravagantes para jantares festivos, franjas lisas à moda de capacetes enfiados até os olhos



Auto-Retrato Daniela Brito Propþe algo glamoroso e romântico datado de 2000, mas com referências de 1.........!!!!!!!!



Rad ica is d es af iam f r o n t eir as en t r e mo da e ar t e Atualmente, o que seria habitar fronteiras, desafiar o óbvio, subverter convenções? O que é ser radical? Em tempos em que tanto já foi feito, isto não é tarefa simples, especialmente em se tratando do famoso mundo fashion, onde alguns mecanismos de funcionamento vêm dominando a criatividade de forma avassaladora. E se a Arte é "inventar mundos" * que desafiem o mundo existente, criar e materializar novas sensibilidades, escutar o tempo, resistir aos mecanismos dominantes - e portanto causar sensações e reflexões "moda radical" é esta que se planta em seus terrenos, que se faz em seus (não) parâmetros. Moda radical tem sido aquela que faz esquinas em planas e glamourosas passarelas, que questiona perfeitos corpos, que produz

imagens tóxicas. Aquela que incomoda, mais do que acomoda em combinações perfeitas. E nem sempre incomodar significa chocar, assim como muito se tem dito sobre alguns rebeldes de cortes e costuras e visões. Mas quase sempre tem a ver com beleza. Não aquela que enche olhos menos abertos ao estranhamento, mas aquela que fala ao mundo sensível de todos nós. Radical Fashion, a exposição que ocupa uma das galerias do Victoria and Albert Museum desde 18 de Outubro e vai até 06 de janeiro de 2002, trata de alguns destes "mundos inventados". Universos estilísticos de 11 designersartistas que escolheram a roupa para seus modos de expressão. Mas, como


Rad ica is d es af iam f r o n t eir as en t r e mo da e ar t e bem disse Hussein Chalayan - que também vem fazendo vídeos "sou uma pessoa de idéias e estaria realizando estas idéias em qualquer meio" ou como prova a história pessoal de Rei Kawakubo que se formou em Filosofia e é autodidata em moda tudo indica que estes 11 seriam geniais de qualquer maneira. Todos são criadores inseridos no mercado. Possuem suas griffes, vendem seus produtos, alimentam o funcionamento da moda, máquina das mais capitalísticas. Porém, ousam questioná-la, ousam dizer de si, ousam dialogar com instâncias sensíveis, ousam criar incômoda moda. Em muitos momentos chacoalham suas diretrizes, confundem mídia e espectadores que esperam fórmulas fáceis. Não se deixam aprisionar. Se permitem estranhar o próprio mundo que os cerca. Escutam e esculpem os corpos e criam mais que roupas: inventam paisagens.

A curadora Claire Wilcox é clara em sua proposta: "estou particularmente interessada naqueles designers que, em algum sentido, quebram barreiras". Assim, os nomes escolhidos são de diferentes gerações e nacionalidades, motivados pelos mais diversos impulsos, mas têm em comum a atitude provocativa, além de exercerem imensa influência na moda "convencional". Em muitos momentos, têm sido responsáveis por grandes fenômenos de venda, com a irradiação de suas idéias de passarela que atingem as high streets e grandes magazines, mesmo que à primeira vista sejam tidos excêntricos ou "não usáveis". Eventualmente, seus conceitos, contribuíram para alterações nos contornos da subjetividade contemporânea e na busca por novas formas de compreensão da beleza.


Rad ica is d es af iam f r o n t eir as en t r e mo da e ar t e Outro poeta da imperfeição, Martin Margiela, mostra peças da coleção Primavera/Verão 01, na qual brincou com as proporções - e levou a sério a questão das padronização dos corpos. Margiela sempre desconstruiu convenções. Honra sua formação em Antuérpia, sua origem belga é, sem dúvida alguma, um dos radicais "mais radicais". A começar por sua atitude diante da mídia: enquanto estilistas se tornaram pop stars e celebridades, Martin acredita que sua reclusão garante a manutenção de sua liberdade criativa e que seu trabalho independe completamente de sua aparência. Nunca foi fotografado, dá poucas entrevistas, insiste em assinar Maison Martin Margiela, em crédito a toda a sua equipe e apresenta suas coleções em estações de metrô, esquinas ou simples cafés de Paris. Desde que começou, vem trabalhando a linha Artesano, feita a mão e exclusiva, a partir da transformação de peças usadas, compradas em brechós, mercados das pulgas e instituições de caridade. No V&A, as próprias caixas de madeira para o transporte das peças são o recurso de sua montagem.


Dentro delas, o visitante se depara com um dos trabalhos de moda mais polêmicos dos últimos tempos, que questiona o "tamanho 38", as dimensões "corretas", as estruturas sociais, o consumismo, a massificação, e a moda em si. 50%, 148%, 157%, são algumas das proporções oversize ou minisize propostas pelo designer. Entre outras peças, estão em Radical um vestido dos anos 70, aumentado 200% através de emendas de tecido; a saia que é resultado de duas outras usadas, frente poliéster, verso lã e comprimidas para a metade do tamanho original; a calça jeans gigante que veste P, M ou G, ajustada por botões e colchetes; o colete, ampliado 157%, com estrutura tal que, mesmo vestindo uma mulher menor não assenta no corpo e mantém sua grande forma. Como se não bastasse, também estão ali o sapato estileto sem salto, a blusa feita com velhas luvas de couro costuradas umas nas outras e o próprio manequim de alfaiate da década de 1950, usado para a desenvolver as ampliações. O busto é personalizado, o que remete aos resquícios de um tempo em que a moda só começava a traçar seus caminhos rumo à extrema massificação. Por falar em desafio de proporções, a sala da japonesa visionária Rei Kawakubo tem projeção de formas geométricas em branco, vermelho e preto, completamente popoptical-art.

As peças em tecidos com os mesmos motivos são sensivelmente pontuadas com detalhes em estampa de camuflagem de guerra. Mais que contemporânea, a mistura entre a perfeição geométrica de círculos e quadrados e a organicidade da camuflagem, entre cores puras e tantos tons de verde, expõem conflitos mais que reais, especialmente em tempos atuais. Sempre modelando sua filosofia, Kawakubo conta que a primeira loja da marca Comme des Garçons não tinha espelhos porque ela "queria que as pessoas escolhessem as roupas pela sensação e não pela aparência." Em vídeo, apresenta assim como fez na Mode 2001, - sua última coleção (Primavera/Verão 2002) que é debochadamente sexy, decadente e feminina. "Minhas inspirações vêm de imagens obscuras e abstratas". Para onde Rei estará nos levando agora? Feminilidade, fragilidade e poder são também algumas das questões de Hussein Chalayan. Para dizer a que veio em Radical, transportou para o V&A o mesmo conceito - e emoção da coleção Ventriloquy, apresentada na London Fashion Week de Setembro de 2000. Algumas das peças e mais o vídeo em computação gráfica 3D onde bonecas digitais se vestem, se despem e se destroem, num angustiante slow


motion - habitam sua sala branca e geométrica. Já naquela temporada, enxergando muito além das releituras 80's do power dressing que então imperavam na moda, apresentou performance que terminou com algumas modelos reais estilhaçando os vestidos de outras, esculpidos em resina e vidro.



Marylin Maison


Vestido com capuz C.1927 As pastilhas de plástico, coloridas ou transparentes, são uma constante na obra do costureiro Paco Rabane (Rompendo com os materiais tradicionalmente usados no vestido, ele lança mão do alumínio, do robóide, de elementos de reprocessamento dos quais os vestidos tiram um partido que faz sucesso durante os desfiles-manifestos encenados ao som de música concretas em ambiente decididamente futurista) desde 1967. Lançava a preços muito baixos, o vestido efêmero de papel misturado com fios de nylon. Em seguida, ao término de longas pesquisas, foi a vez das roupas sem costuras obtidas por meio da vaporização do cloreto de vinila sobre um molde.



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Roy Lischenstein Girl whith ball, 1961 Ă“leo sobre tela Nova York Colestion, The Museum of Modern Art





Pesquisas na área têxtil e desenvolvimento de matéria prima são dos maiores desafios da moda contemporânea. Formas já não mudam com a imponência da primeira metade do século XX, cores vêm e vão, enquanto texturas e tratamentos diferenciados de tecidos têm tido lugar privilegiado no mundo fashion. Por isso, ganha quem experimenta e inventa. Não é por acaso que designers de A a Z vêem tentando ter seus "momentos Issey Miyake", desafiando fronteiras entre criar sobre tecidos e criar o próprio tecido. Por outro lado, tudo aquilo que é 'feito à mão' redimensiona sua importância para a moda dos últimos tempos, em justa contraposição à massificação das tendências e banalização do prêt-a-porter. Coleções pequenas, com um quê de alta-costura e um perfume das costureiras, bordadeiras e tricoteiras de antigamente, tanto provocam quanto inspiram a grande indústria têxtil. Duas ótimas razões para Fabric of fashion (www.fabricoffashion.co.uk) acontecer. E melhor: a dupla intenção da exposição, realizada pelo British Council, (www.britishcouncil.org/arts) em cartaz na Crafts Council Gallery, (www.craftscouncil.org.uk) une estas importantes características da moda contemporânea, através da curadoria de Marie O'Mahony e Sarah Braddock. O mix de alta tecnologia e artesanato, experimentalismo e técnica é marca registrada do trabalho de jovens e talentosos criadores. Através de propostas ímpares a galeria expõe trabalhos assinados por 15 nomes que vêm fazendo história na moda inglesa atual.







Os tipos visuais da Era Digital mundo está acelerado, o consumismo derrubou fronteiras, o minuto se transformou em segundo e a informação está nas entrelinhas e não é para todos. Com a falta de tempo para o lazer e a "cultura", e os anseios pelo século XXI (a era da informação digital e do futuro), além dos novos mecanismos para facilitar a vida da humanidade, que são criadas a todo momento, o homem passa a viver mais isolado e a absorver mais informação visual e animada do que estática, enquanto antes se parava para ler um livro ou o jornal por horas, agora só há tempo para "olhar". Além das alterações no corpo, espaçamento, entrelinhas e cor, as ferramentas de edição dos types nos possibilita experimentar novas opções antes muito difíceis e demoradas para se obter, como desfoques, sobreposições, distorções e texturas. As diversas possibilidades que fazem com que a existam estilos onde a fonte está se formando num ponto e se transforma em retas (código de barra) e recomeça a aparecer novamente em letras. É o desejo de se criar imagens e, ao mesmo tempo, letras que possam ser ou não decodificadas.
















POW! DIREÇÃO: Daniela Brito COORDENAÇÃO: Valéria Faria ARTE Daniela Brito COLABORADORES: Valéria Faria Editora UFJF Cristiane Mesquita

Professores Artes UFJF Pais e amigos.

Contatos: daob@bol.com.br 32-3421-2329 32-3216-7774 9982-7029


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