Revista Dança em Pauta 02

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Ano1 nยบ2 janeiro de 2011

Rafael Martins e Giulianna Davoli A nova cara do Tango

Em Pauta O mercado de eventos de danรงa a dois Cultura e Danรงa Maria Antonietta Uma vida dedicada a danรงa


Uma palavra ao Leitor É com grande satisfação que lançamos a segunda edição da revista digital Dança em Pauta. O projeto, lançado em julho de 2010, rapidamente tomou grande proporção, superando nossas expectativas. O retorno diário dos profissionais, alunos e apreciadores da dança de salão tem pautado os assuntos a serem abordados e nos revelado um universo artístico e cultural da dança de salão ainda pouco divulgado no país. Em consequência disso, os investimentos no meio são conquistados com dificuldade. É o que abordamos na matéria sobre o mercado da dança de salão no Brasil, com base na opinião de organizadores dos maiores eventos do país. E se a intenção é uma maior e melhor divulgação da dança de salão, como diz o ditado “uma imagem pode dizer mais que mil palavras” e, neste sentido, a colaboração do fotógrafo Daniel Tortora foi uma grande conquista nesta edição. Além da cobertura fotográfica de eventos, fizemos uma sessão de fotos no Museu Oscar Niemeyer com o casal Rafael Martins e Giulianna Davoli, nossa capa e perfil desta edição.


EXPEDIENTE Revista digital Dança em Pauta Ano1 nº2 janeiro de 2011

Editora Keyla Barros – Mtb 3769 Por último, mas com certeza não menos importante, não poderíamos deixar de registrar aqui nosso agradecimento ao casal Gracinha Araújo e Airton Kraismann, que, desde nosso primeiro contato, no início do projeto, tem nos apoiado incondicionalmente. Assim como alguns profissionais nos disseram considerar Gracinha Araújo sua madrinha na dança, ousamos dizer que a Dança em Pauta também foi “apadrinhada” pelo casal. Isto nos dá muito orgulho, pois sabemos que eles estão sempre em busca do melhor para dança e não dariam crédito a algo que não tivesse qualidade. Então é isso, esperamos que gostem deste trabalho que foi feito com grande prazer e até a próxima edição!

Diretora de arte Déborah G. Mendonça Colaboraram nesta edição Daniel B. Tortora Gracinha Araújo Airton Kraisman Leandro Bonfim Cybelle Godoy CAPA Foto: Daniel B. Tortora Dançarinos: Rafael Martins e Giulianna Davoli * É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem citar a fonte.

www.dancaempauta.com.br


Sumário

20 REPORTAGEM DE CAPA

06. ESPAÇO DO INTERNAUTA 08. EM PAUTA | O mercado de eventos 20. PERFIL | Rafael Martins e Giulianna Davoli 48. A DANÇA NO CINEMA | Mad Hot Ballroom Dance 50. ELES CANTAM, NÓS DANÇAMOS | Narcotango


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66. GIRO | Música, DVD, Moda e Games 76. CULTURA & DANÇA | Maria Antonietta: uma vida dedicada a dança 84. IMAGEM EM DESTAQUE | Imagem de Eduardo Fuica 86. ESPECIAL MUNDIAL DE TANGO - BRASIL | Por Daniel Tortora 130. ESPECIAL SEMANA DA CULTURA LATINA | Por Daniel Tortora


Espaço do internauta Estou maravilhada com o conteúdo que publicam no site! Considero este trabalho um avanço enorme no conteúdo online neste seguimento. Parabéns! Diário Salseiro, via Twitter Parabéns pelo site de vocês, de primeira qualidade, estava mesmo faltando uma iniciativa deste naipe para a dança. Sucesso! Daniel Pozzobon, via email Adorei a reportagem sobre dança em geral (Vem dançar! Conquiste prazer, boa forma e saúde/Ed.1), as pessoas precisam realmente conhecer os benefícios de dançar ao invés de só bitolarem em aparelhos. Jaqueline Kozan, via email Ola Meninas. Realmente, espero que sua revista tenha sucesso. Conte comigo! Charles Fernandes, via Facebook Seu site é sem duvida um dos melhores sobre dança no Brasil. Sucesso e mantenham a qualidade. Alexandre Cardoso de Souza, via Facebook 6 | DANÇA EM PAUTA


Fale com nossos colunistas Tenho uma dúvida. Existe sapato que possa deixar o parceiro mais alto uns 10 cm? Meu parceiro tem 1,70 e eu 1,75 (sem salto). Simone, via email Olá, Simone: Infelizmente não há um sapato que possa deixar seu parceiro tão mais alto e que seja adequado para dançar. Os sapatos com plataforma corretiva, que são ainda usados com finalidades ortopédicas, são rígidos e não permitem a articulação necessária dos artelhos para dançar. Não seria um bom negócio. O cavalheiro pode usar, sem problemas, um salto de até 2 a 3 cm no calçado normal de dança de salão. E você não precisa usar um salto muito alto, pode usar um de até 5 a 6 cm se desejar, por motivos estéticos, “emparelhar-se” com seu par. Penso que o mais importante, no seu caso, seria não prender-se a estes padrões, pois há inúmeros pares de alturas e biotipos diferentes que dançam muito bem e divertem-se muito. As milongas de Buenos Aires são bons exemplos, onde vemos pares “improváveis” mergulhados na atmosfera do tango, dançando lindamente. Há alguns detalhes técnicos no abraço e na postura do casal para que as diferenças de altura sejam compensadas e não prejudiquem a desenvoltura da dança. Em um próximo artigo abordaremos este tema, ok? Obrigada por seu contato e continue conosco! Izabela L. Gavioli, médica e bailarina, colunista da seção Dança e Saúde


em pauta

Bem-vindos ao mercado da Quem presencia um evento de dança de salão, se delicia com o prazer de assistir belas apresentações e curtir um baile com boa música, gente bonita e uma pista que é um convite a dançar, não imagina as dificuldades enfrentadas por aqueles que se propõe a organizar eventos de qualidade no Brasil. De acordo com os profissionais e empresários do meio, apesar do grande aumento de 8 | DANÇA EM PAUTA


dança a dois!

Texto: Keyla Barros / Fotos: Daniel Tortora / Divulgação

público na última década, como em outros eventos ligados à arte e à cultura no Brasil, a dificuldade de patrocínio é uma constante. A Dança em Pauta entrevistou organizadores e

idealizadores de alguns dos eventos de maior destaque voltados à dança de salão no País para saber como se encontra o mercado e quais as previsões para o futuro.


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Sucesso de público Primeiro evento com o formato de um congresso de dança a dois no País, o Congresso Mundial de Salsa do Brasil, em São Paulo, que começou tímido como nacional em 2000, atrai atualmente uma média de 1400 pessoas participando das aulas e 4 mil pessoas por noite nos bailes. No ano passado, comemorando 10 anos de sucesso, ofereceu 5 noites de bailes, 171 workshops, 9 palestras, 2 debates, campeonatos de salsa, tango e zouk, e um curso de especialização profissional. Exemplo de um evento de dança de salão que é garantia de público, mas não de patrocínio. “Quando lançamos o evento, era uma grande incógnita se daria certo. É muito difícil realizar evento de dança de salão no Brasil, tanto que até hoje não temos patrocínio. Mas, nos últimos três anos, começamos a ter mais projeção na mídia e isso atraiu o interesse de grandes 10 | DANÇA EM PAUTA

empresas, facilitando um pouco mais”, relata Ricardo Garcia, um dos organizadores do Congresso. Para tornar o evento mais atrativo aos patrocinadores, em 2010, ele e o parceiro Douglas Mohmari, ampliaram a idéia do congresso e criaram a Semana da Cultura Latina, que incluiu mais ritmos e várias atividades culturais e artísticas em paralelo. A estratégia é apresentar um evento de cultura, ao invés de exclusivamente de dança. “Na Europa, só começam um evento de dança com 50% de patrocínio. Precisamos estruturar o mercado no Brasil e fazer com que todos tenham um foco. Com eventos de qualidade os empresários verão que dá pra ter muito retorno com a dança”, afirma Douglas. Assim como Ricardo, ele acredita que um dos segredos do sucesso são eventos com propostas inovadoras e personalidade própria.


“O que é legal é que as pessoas estão criando novos eventos, propostas novas, e é disso que a dança precisa”, Ricardo Garcia.


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Um dos eventos que nasceu com esta proposta diferenciada e deu certo é o Baila Costão, realizado no resort Costão do Santinho, em Florianópolis, e organizado pelo empresário Roger Berriel. Após participar de um evento de dança de salão em um cruzeiro marítimo, ele decidiu trazer o glamour do navio para terra firme. “Levei minha experiência corporativa para a dança de salão, dando o respeito que ela merece através do cuidado com a coordenação, programação e pontualidade”, comenta Roger que dirige uma produtora de eventos.

“Quando você investe no público a dança cresce e mais gente vai querer dançar. Acredito que este é o segredo do Baila Costão”, Roger Berriel.

O conhecimento da área com certeza faz toda a diferença, já que Roger é um dos poucos organizadores de eventos voltados a dança de salão sem queixas quanto a patrocínios.


Aula de Jaime Arôxa no Baila Costão

“É preciso ter os pés no chão para fazer um evento deste gênero, grande, bonito e que dê algum lucro. Minha experiência ajuda na parte operacional e na captação de verba, mas realmente é difícil buscar patrocinadores nesta área”, afirma Roger. Ele acredita que a criação de circuitos de dança de salão, passando por várias cidades, ajudaria

na realização de eventos, pois, desta forma, a divulgação seria pulverizada com a ajuda mútua entre os organizadores. A dica de Roger para aqueles que pretendem realizar um evento é avaliar o perfil do público na região escolhida para saber se sua proposta terá aceitação. DANÇA EM PAUTA |13


A atenção com o público é a chave do sucesso também na opinião de outro produtor de eventos, João Marcelo Alves, idealizador do Ritmos a Dois, realizado paralelamente ao Festival de Dança de Joinville, o qual dirigiu por alguns anos. Ele explica que existe um ciclo fundamental: qualidade, que atrai público, que atrai patrocinadores, que trazem recursos, que propiciam boas premiações, que atraem os melhores profissionais, que atraem o público. “É preciso se preocupar com a qualidade técnica, porque o evento só terá sucesso se for

importante para o público, que por sua vez não vai querer assistir algo medíocre”, alerta João. Apesar de também endossar a lista dos que relatam a dificuldade de investimento nos eventos do gênero, ele ressalta que existe uma resposta muito positiva do público com a dança de salão, por ser algo de que as pessoas podem participar diretamente. Foi este fator que o fez apresentar o projeto do Ritmos a Dois à direção do Festival de Joinville, como uma oportunidade às pessoas que queriam dançar.


“O retorno para quem investe em cultura é de longo prazo, em ganhos de imagem, por isso é difícil convencer um empresário a colocar dinheiro”, João Marcelo Alves.


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“A política cultural no Brasil é muito complicada. Quem organiza eventos tem que ser muito profissional e ter um produto bom para atrair o patrocinador, oferecendo um diferencial sempre, algo que atraia para o seu evento”, Fabiano Silveira

Futuro Para Fabiano Silveira, organizador do Congresso Mundial de Tango, realizado em Florianópolis, e que este ano terá sua sexta edição, o aumento do número de eventos de dança a dois realizados em todo o Brasil acabou dividindo o público e reduzindo o número de participantes, mas, ainda assim, é algo a ser comemorado, uma vez que atesta o crescimento do meio.


“Quando as pessoas da área empresarial perceberem que trabalhamos com seriedade e temos resultados brilhantes que podem ser constatados, com certeza, será mais fácil conseguirmos recursos financeiros”, Alexandre Melo.

O idealizador do Baila Floripa, Alexandre Melo, também observa uma grande evolução na qualidade dos eventos de dança de salão na última década, mas acredita que ainda há muito trabalho pela frente para atrair investimentos no meio. “A dança de salão ainda não é vista como um bom negócio para os patrocinadores. Atingimos a primeira fase, que é a produção de

vários eventos. A próxima etapa é dividirmos também um pouco desta fatia do mercado na área de produção cultural, porque há um público gigante e muito a ser feito. Creio que, nos próximos três anos, teremos nossa fatia destes recursos financeiros, que nem sempre são fáceis, e, em uns cinco anos, atingiremos nosso ápice”, preconiza Alexandre.




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Rafael Martins e Giulianna Davoli 20 | DANÇA EM PAUTA


A dança em constante evolução Texto: Keyla Barros Fotos: Daniel Tortora e arquivo pessoal Agradecimento: Museu Oscar Niemeyer Tango, Tango Novo, Tango Eletrônico, para os dançarinos Rafael Martins, 24 anos, e Giulianna Davoli, 20 anos, os rótulos não são tão importantes quanto às infinitas possibilidades corporais que a dança pode proporcionar. Este talentoso casal representa com maestria a nova cara do tango, ou, como eles preferem dizer, “a evolução da dança”, que já dominou a Europa e é responsável por atrair a juventude para o ritmo, que vinha perdendo espaço entre as novas gerações. Com pouco mais de três anos de parceria, a dupla já tem em seu currículo um feito inédito para os dançarinos brasileiros: integrar o grupo de profissionais de uma Cia de dança de Buenos Aires. O convite foi feito no início de 2009 por Dana Frígoli e Pablo Villarraza, proprietários da DNI, uma das Cias de tango de maior destaque no mundo. E eles não param por aí.


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Neste ano, têm apresentações agendadas na Espanha, Itália, EUA e Rússia, estão desenvolvendo um espetáculo em parceria com profissionais de São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Buenos Aires, além de um projeto para o tango no Brasil. De alunos de dança de salão na capital paulista para profissionais de tango na capital portenha, tudo aconteceu muito rápido na trajetória do casal. Por isso mesmo, eles contam que só agora estão tendo oportunidade de conhecer mais profissionais brasileiros e a realidade da dança em outras regiões. No ano passado, participaram de alguns dos maiores eventos brasileiros se apresentando e dando aulas e até gravaram participação em um curta-metragem. No sul, entre outros, marcaram presença na Etapa

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Brasileira do Campeonato Mundial de Tango 2010, realizada em Curitiba, onde receberam homenagem especial da organização do evento, que os destacou como uma revelação na dança. Entre uma viagem e outra, Rafael e Giulianna passaram uma tarde com a equipe da Dança em Pauta, em Curitiba. Eles posaram para sessão de fotos no Museu Oscar Niemeyer e contaram um pouco da sua história e suas opiniões sobre a arte de dançar numa entrevista que foi mais um bate-papo, com direito a muitas gargalhadas e chocolate quente para espantar o frio que, aliás, Giulianna enfrentou com bravura, posando para as fotos ao ar livre. O resultado você confere agora.



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Rafael: do chorinho a milonga Antes da dança, a música já fazia parte da vida de Rafael. Aos 11 anos ele iniciou aulas de cavaquinho e passou a tocar em rodas de samba, onde tinha a oportunidade de apreciar os dançarinos de gafieira e samba rock. “Tinha muita vontade de dançar, mas tinha vergonha”, lembra. Aos 14 anos, quando acompanhava o pai em uma aula de dança de salão, arriscou alguns passos de samba no fundo da sala e foi o suficiente para que o professor lhe oferecese uma bolsa de estudos. Três meses depois, ele já fazia parte do grupo de dançarinos da escola, participando de festivais regionais e dançando vários ritmos, “menos tango”, ressalta. “Eu fugia do tango, achava chato, coisa de velho. E tinha a rincha no futebol, então era demais me render a uma coisa dos argentinos”, lembra achando graça. Em pouco tempo, Rafael mudou para uma escola maior, arranjou sua primeira parceira (com quem ganhou um festival de dança de salão, em São Paulo, aos 15 anos) e passou a participar de festivais maiores. A opinião sobre o tango só mudaria após ver uma apresentação de seus padrinhos no ritmo: Vitor Costa e Margareth Kardosh. “Eu fiquei maravilhado, de queixo caído, e resolvi fazer aula com eles”, conta.

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Giulianna: diversão que virou paixão Ela já tinha a dança em casa. Sua avó, Maria Helena Davoli, e o marido, Walter Manna, faziam apresentações de tango em São Paulo. Aos 13 anos, assistindo o ensaio deles ela achou “divertido” e pediu que Walter a ensinasse. “Ele disse: vou te ensinar um passo, se você conseguir fazer ensino mais, senão paramos aqui. Eu acertei e ficamos umas 4h ou 5h ensaiando algumas sequências”, conta. No mesmo dia, Valter a levou para se apresentar com ele no Avenida Club, na capital paulista. Ela se saiu muito bem e logo começou a fazer aulas com Vitor Costa e Margareth Kardosh. “No início, não gostava muito de tango, achava meio chato, mas minha avó queria que eu fizesse pra trabalhar minha timidez. Depois de um tempo de aula, eles começaram a colocar o tango eletrônico e foi aí que me apaixonei”, relata. 26 | DANÇA EM PAUTA



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fessores, no mesmo período e, pro os sm me os com as aul o end faz m ava est o fato é que os dois esentá-los com a intenção de que fossem apr am idir dec h ret rga Ma e or Vit , ois dep cerca de um ano parceiros de dança. não apareceu. No segundo na lian Giu , ais sso pe s ma ble pro r po , ado nd No primeiro encontro age es que não funcionou muito bem. oçõ em de o açã bin com a um os, ios ans e os ambos estavam nervos ntecer, pisar no pé, aco via de o nã e qu o tud eu tec on Ac . tre “Nossa primeira dança foi um desas o de mim”, conta Rafael. sm me o u nso pe ela e o iad od me ha tin desequilibrar. Achei que ela ta do talento e do amor que con r po u fico to res o e to cer deu ia cer par a Mas como nós já sabemos, surgiu entre o casal.


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De São Paulo a Buenos Aires Em 2007, eles começaram a treinar e fizeram sua primeira apresentação na Virada Cultural de São Paulo. Na sequência, participaram do Congresso Internacional de Tango, em Florianópolis, onde conheceram Dana e Pablo, da Cia DNI Tango, expoentes do Tango Novo. “Quando vi a apresentação deles, senti como se fosse meu primeiro contato com o tango. Deu vontade de chorar, porque me tocou muito. A técnica que eles desenvolveram possibilita se encontrar com seu corpo e se conectar com o parceiro”, relata Rafael. No mesmo ano, eles foram a Buenos Aires fazer aulas com o casal argentino e prosseguiram com viagens cada vez mais freqüentes ao DNI onde faziam uma imersão no estudo do tango. Paralelo a isso, com o avanço técnico, aumentavam o número de shows em São Paulo. Em fevereiro de 2009, Dana convidou o casal brasileiro para se apresentar na festa de inauguração do novo estúdio do DNI, em Buenos Aires. Eles não sabiam, mas a apresentação, de improviso e com orquestra ao vivo, era um teste para escolher novos integrantes para a Cia. O resultado foi o convite para serem professores e bailarinos do DNI. “Eu comecei a chorar um monte e a Giulianna dava gargalhadas. Na verdade foi uma grande surpresa, como tudo o que acontece com a gente desde o início da carreira. A gente vai sempre se divertindo, vivenciando, aprendendo e dançando, e as coisas vão acontecendo naturalmente”, diz Rafael.

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“Eu comecei a chorar um monte e a Giulianna dava gargalhadas. Na verdade foi uma grande surpresa, como tudo o que acontece com a gente desde o início da carreira. A gente vai sempre se divertindo, vivenciando, aprendendo e dançando, e as coisas vão acontecendo naturalmente”, diz Rafael. Festa de inauguração do DNI 2 - BULNES


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Tango Novo, uma evolução natural

O sucesso do Tango Novo, tanto na dança quanto na música, é inegável, assim como o preconceito que muitos milongueiros têm com o estilo. Rafael e Giulianna acreditam que o Brasil ainda é mais resistente ao Tango Novo do que a Argentina, mas contam que já presenciaram ocasiões em Buenos Aires em que milongueiros vão embora de casas noturnas quando começa a tocar Tango Novo para pressionar os proprietários a boicotar o estilo. Polêmica a parte, como muitos outros jovens, Rafael, que começou a carreira dançando samba, afirma que foi esta renovação que o trouxe para o ritmo. “O que me conquistou foi a liberdade de expressão do Tango Novo, porque ele não se impõe, não limita o aluno. Cada um tem um corpo, uma maneira de se expressar, de escutar a música, então não dá pra dançar da mesma forma”, diz ele. Giulianna reforça o ponto de vista do parceiro: “A gente trabalha com o corpo, então quanto mais você conhece e estuda ele, mais coisas novas descobre e pode desenvolver conceitos e técnicas. A tendência é esta evolução, que vai acontecer também com a forma que dançamos hoje”. DANÇA EM PAUTA |39


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“A gente estudou mais de uma técnica e conceitos de mais de uma dança e adaptamos pro nosso corpo. Desta forma criamos um estilo próprio e não apenas uma cópia”, Giulianna.

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Apesar do receio dos milongueiros tradicionais de que o tango novo leve a perda das origens da dança, na prática a realidade parece ser inversa. “Quanto mais você estuda o tango novo, mais se interessa pela raiz, para saber como foi o processo de evolução”, relata Rafael. Com os alunos no DNI, o casal trabalha com a técnica TTC (Tango Tecnologia Conceitual) desenvolvida por Pablo e Dana. Na aula que ministram, “Tango Alternativo”, utilizam passos de tango em diferentes estilos de música como: instrumental, rock, samba, zouk, pop e black. Eles explicam que o tango novo utiliza todos os elementos primários do tango tradicional somados a novos elementos, podendo ser caracterizado como um estilo de movimentos mais livres, mais elásticos, de expansão, posturas distintas e técnicas novas. “O que tentamos passar como mensagem nas aulas é que o aluno tente construir seu próprio baile, através de elementos que a gente ensina com a técnica, pra não ficar na dependência dos passos ensinados”, ressalta Giulianna.



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CURIOSIDADES

CURIOSIDADE Na Copa do Mundo deste ano, Rafael estrelou, ao lado de Dana, um comercial da Topper, feito exclusivamente para Argentina, em que dançam tango e jogam bola ao mesmo tempo. A peça publicitária tinha como slogan a frase: “Futebol, tão nacional como nosso Tango”. Os “hermanos” que assistiram nem imaginavam que era um legítimo brasileiro que dançava e brincava com a bola. Confira o vídeo e mais detalhes sobre o comercial em nosso site. DANÇA EM PAUTA |47


a dança no cinema

Mad Hot Ballroom Dance Qualquer um pode fazer se aprender a remexer Junte crianças e dança de salão e os frutos positivos são incalculáveis. O premiado documentário “Mad Hot Ballroom Dance” (no Brasil “Vamos todos dançar”), mostra um pouco disso ao relatar dez semanas, na vida de crianças de três escolas públicas de Nova York, que aprendem a dançar para participar de um campeonato anual que reúne 6 mil crianças de 60 escolas.


Assista ao trailer do documentário na seção “Ver e Ouvir – Dança no Cinema” em nosso site.

O documentário é baseado em um projeto de uma cia de dança de salão de Nova York voltado para arte como forma de educar. Em 1994, a American Ballroom Theater Company, deu início ao Dancing Classroom, um programa que objetiva desenvolver nas crianças a consciência social, a confiança e a auto-estima através da prática da dança de salão nas escolas. O filme relata que, alunos que incluíram a dança de salão em sua grade curricular, acabaram melhorando seu desempenho nas

demais disciplinas escolares. É a dança a dois entrando na vida destas crianças e transformando-as.

CURIOSIDADE Além do documentário, o sucesso do Dance Classroom também resultou em idéia para o roteiro do filme “Take the Lead”. Lançado no Brasil com o título “Vem dançar”, o filme foi estrelado por Antonio Banderas, cujo papel foi inspirado no trabalho do dançarino Pierre Dulaine, um dos fundadores da Cia. DANÇA EM PAUTA |49


eles cantam nós dançamos

NARCOTANGO

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Uma nova expressão da cultura portenha Texto: Keyla Barros I Fotos: Daniel Tortora

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eja na música ou na dança o Tango é uma expressão artística estreitamente ligada a história cultural e social da Argentina que ganhou o mundo, fazendo grande sucesso principalmente na Europa. Contudo, a aceitação dos jovens ao ritmo começou a surgir apenas na última década, quando alguns músicos e bandas lhe deram uma nova roupagem, através da incorporação de elementos contemporâneos, principalmente da música eletrônica.


Um destes grupos é o Narcotango, criado em 2000 pelo músico Carlos Libedinsky. Carlos dançava nas milongas portenhas e observando que as renovações na música e na forma de dançar atraiam o público jovem se sentiu impulsionado a fazer uma ponte entre a tradição do tango e o século XXI. “Vivemos hoje imersos em um mundo tecnológico, embora os puristas ainda não tenham se dado conta disso. O tango é conservador por natureza, então é claro que existem resistências ao nosso trabalho, mas encaramos as críticas de forma natural. Nossa proposta é fazer com que as novas gerações se interessem pelo tango, e o vejam como algo do presente e não do tempo de seus avós”, explica Libedinsky.

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eles cantam nós dançamos Em decorrência desta resistência natural dos argentinos, citada por ele, o primeiro show do Narcotango foi realizado na Holanda. Desde então, eles já somam 14 turnês mundiais pelos principais países da Europa e Américas e quatro CD’s, entre eles Narcotango ao Vivo, indicado ao Grammy Latino 2009 na categoria Melhor Álbum de Tango e, o mais recente trabalho, Limanueva, ganhador do Grammy Latino 2010 na mesma categoria. O álbum foi lançado em show no Canecão, no Rio de Janeiro, em maio de 2010, antes do lançamento na Argentina. “Sentimos uma conexão forte com o Brasil. Sempre ouvi Caetano, Gil, Egberto Gismonti, e percebo que há semelhanças entre a música brasileira e a argentina. A bossa nova, por exemplo, se assemelha ao tango, na pegada rítmica forte, mesclada com um tom de melancolia”, comenta Libedinsky.


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Para o pianista do grupo, Mariano Castro, a indicação ao Grammy em 2009 já era algo a ser comemorado. Em entrevista à Dança em Pauta, em julho de 2010, ele ressaltou: “Foi a primeira vez que se indicou um grupo de tango novo na categoria, um avanço

para nós e para a música”. Mariano, cuja avó também era pianista e envolvida com o ritmo portenho, é um estudioso da história e das raízes do tango, tocando o estilo tradicional por muitos anos. Ele descreve sua entrada no Narcotango como uma nova aposta, a chance de desenvolver uma linguagem nova que une elementos do tango a outros criados por eles, resultando em um discurso distinto. “Tango eletrônico é mais uma etiqueta, prefiro dizer tango novo, pois tratase de uma música desta época, que reflete a atualidade, de sentir que o tango não é somente o que aconteceu há 50 anos, mas que ele segue revolucionando”, disse o pianista à Dança em Pauta.

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Carlos Libedinsky bandoneon e direção musical


INTEGRANTES

Marcelo Toth guitarras, baixo e samplers

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Fernando dell Castillo bateria, percussรฃo e samplers


INTEGRANTES

Mariano Castro piano, teclado, baixo e samplers

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Narcotango Limanueva (2010) Vencedor do Grammy Latino 2010 na categoria Melhor Álbum de Tango

Narcotango ao Vivo (2008) Indicado ao Grammy Latino 2009 na categoria Melhor Álbum de Tango

NARCOTANGO – Ver e Ouvir Confira em nosso site, na seção “Cantores e bandas”, vídeo do quadro “Minha Dança em Pauta” e clipe da música “Solo Por Hoy”, do CD Narcotango 2


DISCOGRAFIA

Narcotango 2 (2006)

Narcotango (2003) DANÇA EM PAUTA |63




giro

Música Trilha sonora do filme Chega de Saudade “A trilha chegou antes dos atores e das equipes de arte e fotografia”, disse Luiz Bolognesi, roteirista do filme, na época do lançamento do CD. A declaração tinha a ver com o fato da trilha sonora de Chega de Saudade ter sido lançada antes mesmo de o filme estar em cartaz. “Achamos a trilha tão alto astral e surpreendente que acreditamos que, saindo na frente, vai ajudar muito a criar um clima de ansiedade para ver o filme”, afirmou Luiz. Para escolher o repertório, o produtor musical BiD frequentou bailes do gênero e conversou com os DJs dos mesmos. Como resultado, o álbum traz Elza Soares e Marku Ribas, que representam a dupla de crooners no filme, interpretando canções freqüentes no repertório dos bailes de salão com os arranjos da banda Luar de Prata. O roteirista diz ter ficado satisfeito com o resultado final, que fez da música um elemento narrativo do filme.

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seção DVD

O Baile Dança de Salão Gravadora: LGK Music

Um show-aula de dança de salão para ninguém ficar parado! Projeto das irmãs Karina Sabah, proprietária da Cia de Dança A2, em SP, e Karla, diretora, produtora e cantora, que se transformou em um espetáculo gravado no Canecão. Samba, forró, rock e bolero. A diversidade de estilos selecionados para o repertório musical e coreográfico deste trabalho dá uma idéia da criatividade da dança de salão. Beth Carvalho, Luiz Melodia, Tânia Alves, Léo Maia e Trio Virgulino foram os convidados especiais da apresentação comandada pela Banda Signus e com direção musical de Marcello Furtado. Em todos os números, dando um charme especial à gravação estão os bailarinos Alex de Carvalho, Anna Luiza Maciel, Fred Cordeiro, Jorge Peres, Laryssa Vidal, Leonardo Batista, Ligia Mariz, Renata Peçanha, Marcelo Cunha e Karina Sabah que, por sua vez, assina o roteiro e concepção das aulas de dança nos extras. DANÇA EM PAUTA |67


cultura e danรงa giro


Moda

Poesia latina estampada no peito Este é o slogan da Callejero, uma grife de roupas que nasceu do amor pela salsa, como explica seu criador, o empresário Rodrigo Reis. A cultura e a dança latina são a referência das estampas exclusivas para os diferentes modelos de camisetas masculinas e femininas. DANÇA EM PAUTA |69


giro

Dança inspirando a moda “Dancing with myself”, este é o tema que inspirou a coleção primavera-verão 2011 da marca de roupas Lanthana, de Curitiba. A linha sugere roupas para mulheres seguras de si que estão tão à vontade com a própria vida que poderiam dançar consigo mesmas.


Moda

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giro

Passos virtuais A onda dos jogos eletrônicos não deixa de fora a dança. Além de jogos multiplayers online como o Audition, em que você compete com internautas do mundo todo dançando através do teclado, também é possível executar movimentos reais com jogos de sucesso como o Just Dance, do Nintendo Wii, que já está em sua segunda versão e utiliza um controle sem fios que detecta os movimentos em três dimensões.


Games >> Confira em nosso site, na seção Em pauta, vídeos demonstrativos e mais informações sobre os jogos

Mas a grande novidade do momento no universo dos jogos eletrônicos, o Kinect - sistema de controle sensível aos movimentos do corpo que utiliza apenas uma câmera especial sem a necessidade de um controle

físico nas mãos - também apresenta quatro games de dança: Central Dance, Dance Masters, Dance Paradise e Zumba Fitness, este último com a proposta de queimar calorias dançando. DANÇA EM PAUTA |73


Venha curtir o praze Sábado Samba com o grupo Serenô Abertura da casa 23h Ingresso R$ 15,00 R. Desembargador Clotário Portugal, 274 - Centro


er da dan莽a a dois! Domingo Forr贸 com o grupo Areia Branca Abertura da casa 20h30 Ingresso: at茅 22h fem R$ 8,00 / masc R$ 10,00 ap贸s fem R$ 10,00 / masc R$ 13,00 Curitiba PR Fone: (41) 9938-9510 / 9198-6607 / 8415-3619


cultura e danรงa

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Enquanto houver dança a eterna dama da gafieira Texto: Keyla Barros I Fotos: divulgação e www.dancadesalao.com/antonietta

“O ser humano começa a dançar antes de nascer, chutando na barriga da mãe”, disse Maria Antonietta em documentário produzido por Rodolfo Ancona, para a Costa Cruzeiros. A frase com certeza é uma boa introdução para se falar da trajetória desta pequena grande mulher, mãe e dançarina, cuja história se confundiu com a própria história da dança de salão no Brasil. São gerações de profissionais que se tornaram seus discípulos e que continuam a carregar sua marca, mesmo após sua morte, aos 82 anos, em 7 abril de 2009.



Foto: M arco Pe rna


cultura e dança

Enquanto Houver Dança Autora: Teresa Drummond Uma leitura agradável e que traz informações importantes para registro da dança de salão, assim como do cenário cultural brasileiro. A história de Antonietta é retratada detalhadamente, desde seu nascimento, com a preocupação em contextualizar os acontecimentos da vida da mestra de acordo com a época. A autora usa como pano de fundo a realidade política, econômica, social e cultural de cada período, com destaque também para a música.

No site, na seção “Em Pauta”, link para o livro “A dama da gafieira” e vídeo com Antonietta.


Maria Antonietta A dama da gafieira Autor: Milton Saldanha Uma proposta totalmente diferente da biografia. Enquanto Teresa mostra vida e dança do ponto de vista de Maria, Milton explora os mesmos tópicos do ponto de vista de familiares e amigos, como era a Maria Antonietta de cada um, aquela que ficará para sempre na memória dos que a conheceram. Entre as personalidades que falam da mestra estão Carlinhos de Jesus, Jaime Arôxa e Rachel Mesquita. Lançado em 2010, o livro foi patrocinado pela Costa Cruzeiros e teve distribuição gratuita e direcionada aos passageiros dos cruzeiros dançantes, porém, está disponível para leitura na internet no site Gente que Dança.

Sem dúvida as publicações se complementam e cumprem com o papel de deixar um registro histórico desta que foi e sempre será a grande dama da gafieira, enquanto houver dança. “Vou dormir dançando e acordo dançando”, disse ela no documentário da Costa Cruzeiros. E assim deve permanecer a mestra. DANÇA EM PAUTA |81




imagem destaque

Fotógrafo: Eduardo Fuica Dançarinos: Alini Lima e Roberto Motta A foto é de um espetáculo realizado em janeiro de 2010, no Teatro de Dança, que fica no Edifício Itália, em São Paulo. A proposta do fotógrafo foi captar o clima do ambiente usando as cores quentes da iluminação e aproveitando o ar intimista e a granulação na foto para dar mais vida ao movimento. A imagem captura o momento único de cumplicidade, cuidado e carinho durante a dança a dois, que remete a um salão vazio e, ao mesmo tempo, repleto de emoções pela sintonia entre o casal.



especial

MUNDIAL D


DE TANGO ETAPA BRASIL 2010 POR DANIEL TORTORA









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especial

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MANA DA CULTURA LATINA POR DANIEL TORTORA






































www.dancaempauta.com.br


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