Ou Isto Ou Aquilo - Grupo 5

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18 Nem Tudo é Fácil & Vida


Nota do Editor É com satisfação que apresentamos a revista “Ou isto ou aquilo”, criada em maio de 2012 pelos alunos do curso de Língua Portuguesa do 9º ano da Escola Graduada de São Paulo. O projeto partiu do estudo da obra de dois conhecidos escritores brasileiros, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles, com foco nos temas recorrentes na poesia de ambos. Cada aluno escolheu um poema de um dos autores e, a partir do tema central nele presente, criou seu próprio texto (assinado, na maioria dos casos, com um pseudônimo), usando também imagens que remetessem a tal tema. A ideia da divulgação deste trabalho no meio digital vai ao encontro da busca por aliar tecnologia e educação. A modernização dos meios digitais permite que os alunos demonstrem suas mais diversas habilidades num mesmo espaço (no caso, o da revista eletrônica), uma vez que podem integrar escrita e imagem, por exemplo, buscando entre eles uma relação de sentido– o que por si só já inclui o olhar analítico. Além disso, divulgar ideias em larga escala tornou-se possível por causa da internet. Bom é ver que essas ideias (boas ideias!), comunicadas em forma de poesia, ganham agora o mundo. Agradecemos a todos os que nos apoiaram neste projeto, em especial a Blair Peterson, diretor de High School, a Angelina Fregonesi, diretora do departamento de Estudos Brasileiros, e a Eloisa Galesso, coordenadora do mesmo departamento. Aguardamos os comentários dos leitores!

Adriana Silveira – professora de Língua Portuguesa do High School Silvana Scarso Meneghini – coordenadora deTecnologia


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Amor Perfeito & Sem Correspondência

Infância & A Transição

12 Não Se Mate & Avião

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Quadrilha & Tá Complicado

Linha Reta & Eu, Ninguém

14 Saudade & Caindo

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20

A Um Ausente & A Dor da Saudades

Nem Tudo é Fácil & Vida


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O Relógio & Tempo

Ninguém Me Venha Dar Vida & Veneno

28 José & Para Quebrar o Ciclo da Solidão

24 Meu Sonho & Em direção à Porta

30 Confidência do Itabirano & Memórias de uma Fazenda

26 Cortar o Tempo & Preso no Tempo


Amor Perfeito Cecília Meireles Nenhum igual àquele.

Naquela nuvem, naquela Mando-te meu pensamentoL Que Deus se ocupe do vento Os sonhos foram sonhados E o padecimento aceito E onde estás. Amor-Perfeito? Imensos jardin da insomnia, De um olhar de despedida Deram flor por toda a vida. Ai de mim que sobrevivo Sem o curacao no peito. E onde estás. Amor-Perfeito? Longe, longe… atrás do oceano Que nos meus olhos se aleita, Entre pálpebrar de areia… Longe, longe… Deus te guarde Sobre o seu lado direito, Como eu te guardava no outro, Noite e dia, Amor-Perfeito


Sem Correspondência Isaolada no mundo amoroso

Nenhum igual àquele.

Sinto o sofrimento pela falta de atenção que recebo de você A cada minuto que passa me torno mais... Mais apaixonada. O que posso fazer se jamais recebo correspondência? Correspondência do seu amor... Sinto que a cada dia me afasto mais de você. Se o meu destino não foi feito para estarmos juntos, Para que me matar pelo meu amor não correspondido? Sinto o sofrimento.


Quadrilha Carlos Drummond de Andrade João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.


Estou triste. Descobri que a menina que amo, Josephine, ama outro, o João. Mas João ama a Alice, que ama Pedro. Estou ainda mais triste. Cinco anos se passaram, e agora eu amo Pedro, mas ele ama Alice que ama João. E João acabou gostando de Josephine.

Tá Complicado… Valbahaino


A UM AUSENTE Carlos Drummond de Andrade

Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora.Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousarporque depois dele não há nada?

(...)


A Dor da Saudades Carlota Pacheco

A saudade é intolerável. jamais conseguirei me recuperar, da dor e da saudade que sinto. Levando um momento para refletir, nas nossas memórias juntos... e a cada dia que passa sinto a dor se acentuando mais... Dentro de mim sinto que não tenho saída pelo amor e saudade que sinto de você sabendo que jamais terá o amor correspondido por você... A saudade se torna mais intolerável.


Não se Mate Carlos Drummond de Andrade

Nenhum igual àquele. Não se mate Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se. Não se mate, oh não se mate, Reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe quando virão, se é que virão. O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você, e os recalques se sublimando, lá dentro um barulho inefável, rezas, vitrolas, santos que se persignam, anúncios do melhor sabão, barulho que ninguém sabe de quê, praquê. Entretanto você caminha melancólico e vertical. Você é a palmeira, você é o grito que ninguém ouviu no teatro e as luzes todas se apagam. O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste, meu filho, Carlos, mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá. Não se mate


Nenhum igual àquele. A turbulência começa quando menos esperamos.

Avião

O medo vem,

Sarah Keller

mesmo que disfarçado, e é de repente que tudo começa a cair. Os gritos, as inseguranças, tudo se despedaçando. As máscaras caem; é aí que descobrimos qual será nosso futuro. Depois vem o egoísmo. A partir desse momento, nossas opiniões e pensamentos são os únicos que importam. E não importa o que aconteça, no final, mesmo se sobrevivermos, nunca mais seremos os mesmos. Após perder um amor, perdemos uma parte dentro de nós.


Saudade Carlos Drummond de Andrade

Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já... Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida... Saudade é sentir que existe o que não existe mais... Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam... Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Em minha mente eu o gravo. Eu fecho os meus dois olhos que veem tudo e tenho o desejo de voltar no tempo. Os dias bons e até os dias dolorosos, quando você olha para trás, não foi por favor, diga que não vai terminar assim se apenas meu coração ferido, meu coração em branco sentisse novamente... No alto do céu eu me vejo caindo... Mesmo se eu cair no chão, mesmo que eu não pare de cair, estarei caindo por você, eu estarei caindo para te ver novamente.

Caindo Chewie


Infância Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


Lembre-se dos dias Em que tudo era calmo, Diversão era garantida E tédio não existia. Esse tempo já se foi. Não somos mais crianças. Agora estudar é o mais importante E tudo o que fazemos é simplesmente Nossa obrigação. Lembre-se dos dias quentes de verão, Em que podíamos pular na piscina, Encontrar nossos amigos... Ah, como era bom estar de férias! Esse tempo já se foi. Não somos mais crianças. As férias não são como eram antes E tudo o que fazemos é simplesmente Por dinheiro.

A Transição Pensador Azul


Linha Reta Cecília Meirelles

Não tenteis interromper o pássaro que voa em linha reta de leste a oeste. Alto e só. Não lhe pergunteis se avisa cidades, mares, pessoas ou se tudo é um liso deserto. Vasto e só. Ele não passa para contemplar essas coisas do mundo. Ele vem do leste, ele vai para oeste. Alto e só. Ele vai com sua música dentro dos olhos fechados. Quando chegar ao fim, abrirá os olhos e cantará sua música. Vasta e só


Os músicos, os dançarinos e o maestro,

Eu, Ninguém

Todos já se foram Apenas Ninguém ficou.

Marjorie Baxter

Os risos foram interrompidos pelo silêncio. Este a encara com olhos arregalados, Ela não ousa desafiá-lo. Uma lágrima corta seu rosto, cintilando contra a luz, E é seguida de outra E mais outra... Ninguém se senta ao seu lado E acaricia seus cabelos ‘Vamos, há muito para ver’ - Ninguém diz. Ninguém a toma pela mão. Ela salta, voa, sonha E sorri O Sorriso aparece largo Branco

O Sorriso a apanha nos braços

Alegre

Ela, o Sorriso e as lágrimas,

E a leva para longe,

Todos já se foram:

Sem sequer olhar para trás.

Apenas Ninguém ficou.


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.

Nem tudo é fácil Cecília Meireles

É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre. É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia. É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo. É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar. É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo. Se você errou, peça desculpas... É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado? Se alguém errou com você, perdoa-o... É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender? Se você sente algo, diga... É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar? Se alguém reclama de você, ouça... É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?Se alguém te ama, ame-o... É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz? Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos, realidade!!!


Sentado nos degraus, olhando para o lago, Querendo saber por que, a vida, às vezes, pode parecer grande. Mas naquele segundo, que me levou a pensar apenas, Minha vida pode mudar, mais rápido que um piscar de olhos. É este um motivo pelo qual devemos sempre valorizar algo? Não sabendo quando amados, podemos desaparecer de repente. Viver todos os dias, como se fosse nosso último, pois nossos dias podem ser muito longos ou passar muito rápido. Então, eu vou valorizar e tomar nada como garantido, não diga coisas que não devem ser ditas. Se este é o último dia que tenho nesta terra, Não me arrependo, eu vivi a minha vida. Amanhã não é prometido para o jovem ou velho, Hoje pode ser o último dia para estar com quem você ama, para fazer as coisas que fazem você sorrir. Não espere pelo amanhã, faça tudo hoje, Se o amanhã nunca chega, você nunca vai se arrepender um dia. Porque no final tudo o que temos são as nossas memórias desses momentos de nosso passado.

Vida Anonymi


O Relógio Carlos Drummond de Andrade

Nenhum igual àquele. A hora no bolso do colete é furtiva, a hora na parede da sala é calma, a hora na incidência da luz é silenciosa. Mas a hora no relógio da Matriz é grave como a consciência. E repete. Repete. Impossível dormir, se não a escuto. Ficar acordado, sem sua batida. Existir, se ela emudece.

Cada hora é fixada no ar, na alma, continua soando na surdez. Onde não há mais ninguém, ela chega e avisa varando o pedregal da noite. Som para ser ouvido no longilonge do tempo da vida. Imenso no pulso este relógio vai comigo.


Fico escutando o barulho do relógio, Tão simples, mas tão intrigante. Me perco nos sons repetidos Tic, tac, tic, tac E quando vejo, O tempo passou. Os dias, as semanas, os anos se passaram Num piscar dos olhos Tic, tac, tic, tac. O vento assoprou o que restou de minhas memórias, A chuva levou os meus pensamentos finais, O sol está brilhando na infância já partida, A neve congelou as minhas lembranças Tic, tac, tic, tac E o que restou? Fotografias, histórias, vagas lembranças Tic, tac, tic, tac...

Tempo Luna


Parei as águas do meu sonho para teu rosto se mirar. Mas só a sombra dos meus olhos ficou por cima, a procurar... Os pássaros da madrugada não têm coragem de cantar, vendo o meu sonho interminável e a esperança do meu olhar. Procurei-te em vão pela terra, perto do céu, por sobre o mar. Se não chegas nem pelo sonho, por que insisto em te imaginar? Quando vierem fechar meus olhos, talvez não se deixem fechar. Talvez pensem que o tempo volta, e que vens, se o tempo voltar.

Meu Sonho Cecília Meireles


Em direção à porta Suzanne

Em direção à porta te vi caminhar, Afastando-se de mim. Sem perceber que era a última vez Que te dizia adeus. Ficarei esperando por ti Detrás daquela porta, Dias, semanas, meses. Não importa quanto demores. Até que voltes, esperarei. Sei que voltarás Por aquela porta entrarás Quando perceberes que me amas.


Cortar o Tempo Carlos Drummond de Andrade

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


Nenhum igual àquele.

O tempo fez minha história, uma história de conquista, de quando eu estava sem tempo. Muito tempo nos atrasa, pois muito tempo também acaba. Triste é realmente quando descobrimos que não sabemos quanto tempo temos. Portanto, o tempo é agora, de fazer a minha história. Pois não saber é o mesmo que não ter, então não tenho tempo. Conquistar o que sempre sonhei, para não ser esquecido no tempo.

Preso no Tempo Shakegiospeare


José

E agora, José? sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio, - e agora?

Carlos Drummond de Andrade E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?


Para Quebrar o Ciclo da Solidão Mogli Ontem, Hoje e Amanhã, Sem você estou sozinho na solidão De meus arrependimentos, Deixá-la ir é o melhor. Distante de todos, Mesmo com muitos perto de mim. Na solidão a raiva é incontrolável, Ira corre solta, Dor, faz sangrar a felicidade. Mas a esperança é a última que morre. Todos os cortes cicatrizarão, Pararão de sangrar. Vou superar a solidão e o medo, Medo que se alimenta na solidão e a solidão no medo. Mas esse ciclo se quebra facilmente, com coragem, amor, e determinação.


Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa…

Confidência do Itabirano Carlos Drummond de Andrade

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!


Memórias de uma Fazenda O Escritor do Sertão Eu nasci numa fazenda lá do lado de Minas Gerais. Lá eu tinha minha plantação, meu cavalo garanhão e minha mulher do coração. Eu nunca tinha tristeza, pescava a semana inteira e vivia sempre cantando. Porém, por questão de dinheiro, não pude viver meu sonho e fui viver meu pesadelo. A fazenda eu vendi, nunca mais a vi, mas nunca a esqueci. Estou vivendo na tristeza da cidade, sem alegria, só saudade. Aqui tem muita maldade, também, aqui só existe luxo e vaidade. Não ando um metro sem ser assaltado, não existe amizade. Se relaxar o bicho pega e se ficar esperto o bicho mata. Voltar para minha fazenda sei que agora não dá mais, estou totalmente sem dinheiro. Só me resta a saudade da minha casa de madeira e do meu cavalo garanhão. Estou vivendo uma vida sem felicidade, ai! como dói meu coração!


Nenhum igual àquele. Ninguém me venha dar vida, que estou morrendo de amor, que estou feliz de morrer, que não tenho mal nem dor, que estou de sonho ferida, que não me quero curar, que estou deixando de ser e não me quero encontrar, que estou dentro de um navio que sei que vai naufragar, já não falo e ainda sorrio, porque está perto de mim o dono verde do mar que busquei desde o começo, e estava apenas no fim.

Ninguém Me venha Dar Vida Cecília Meireles

Corações,

por que chorais? Preparai meu arremesso para as algas e os corais. Fim ditoso, hora feliz: guardai meu amor sem preço, que só quis a quem não quis.


Veneno Luiza Julieta

Donde hay amor hay dolor, Diziam. Tenham cautela, Incompreensíveis conselhos.

Era apenas uma menina, Meu coração indomado... Deixei correr solto E acabei presa em algemas, Refém da ilusão. Estúpida! Ah! Que estúpida!

O Veneno que bebi Me enfraqueceu. Seu amor Me arruinou. Agora, não existe consolo, Mas existe a morte. Imagino que irá rir de mim... Mas sempre te amarei. O Amor mais puro que não foi.


Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.


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