Manual do Cuidador da Pessoa Idosa

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as rotinas cotidianas. Adaptar-se a isso exige da pessoa dementada mais esforço de compreensão do que ela é capaz. As reações a estas mudanças são geralmente medo, agitação e comportamento de pânico. De certa forma, as pessoas dementadas percebem, mesmo de forma inconsciente, que o mundo delas se desfaz cada vez mais, pela perda sucessiva da memória. O que sobra é um mundo desmoronando. Para se defender desta ameaça e para repelir o pânico causado por isso, pessoas dementadas buscam alguma segurança. Muitas vezes, organizam qualquer coisa, empilham, contam roupas, arrumam gavetas, colecionam comida. Todas estas pequenas atividades de organização são atos para se proteger da ameaça do caos interno e externo. Por isso, estruturas conhecidas e um ambiente claro e nítido ajudam a pessoa doente, deixam-na mais tranqüila e, com isso, aumentam a sua qualidade de vida. Quando a demência avança, as pessoas doentes dispõem cada vez menos da possibilidade de se expressar através da fala. Elas não respondem mais a perguntas do seu ambiente e, muitas vezes, os cuidadores ou familiares acham, que o doente não entende mais nada e não percebe mais seu ambiente. Mas mesmo quando a memória e as capacidades cognitivas já estão bastante comprometidas, ainda é possível perceber emoções. As pessoas expressam seus sentimentos e emoções através da fala, mas também através de gestos e através da expressão do rosto. As pesquisas mostraram, que mesmo pessoas com demência avançada e que praticamente não falavam mais, possuiam ainda uma sensibilidade emocional diferenciada e expressam seus sentimentos e suas emoções, principalmente através da expressão facial. Por exemplo, uma senhora dementada, com 96 anos, que vivia em uma instituição de longa permanência e não conseguia mais falar, gostava de passear. Normalmente, ela ficava sentada na sala sem sinais de atenção ou de expressão facial. Mas sempre que alguém a buscava para passear, ela demonstrava sinais de alegria, movimentava-se mais e olhava para o visitante. Por outro lado, quando o irmão dela, que morava na mesma instituição, falava demais com ela, ela demonstrava sinais de descontentamento, mexendo com a cabeça e olhando para o irmão. Os resultados das pesquisas trazem para o cuidador e o familiar duas informações importantes. A primeira é que a comunicação com o doente continua possível, mesmo quando este não consegue mais falar. Através da mímica, da expressão facial, as pessoas dementadas ainda conseguem expressar alegria, tristeza, descontentamento ou raiva. Obviamente, é

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