Revista Mineira de Engenharia 32ª Edição

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ISSN 2447‑813X

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

ANO 7

NOVAS TECNOLOGIAS Construtoras investem em novos canais de comunicação e relacionamento

ENTREVISTA Leonardo Dias de Oliveira

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EDIÇÃO 32 | ABR - JUN - 2016

MEIO AMBIENTE Licenciamento ambiental em xeque

EVENTO Vem aí a 73ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia

MINAS GERAIS: POLO NACIONAL DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO


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Engenharia e Inovação Engenharia de Custos e Orçamentos Engenharia Logística Engenharia de Manutenção Engenharia de Processos Industriais Engenharia de Vendas Engenharia de Planejamento Engenharia de Empreendedorismo

Gestão de Negócios Gestão de Negócios Administração de Compras e Suprimentos

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EDITORIAL | PALAVRA DO PRESIDENTE

Um pouco de Otimismo Um velho sonho acalentado por inúmeros associados da Sociedade Mineira de Engenheiros está prestes a se transformar em realidade. Em 2016, após 11 anos, a SME estará, finalmente, de volta à sua tradicional sede, localizada na Rua Timbiras, nº 1514, no Bairro de Lourdes, em Belo Horizonte. Mesmo sendo limitadíssimos os recursos financeiros disponíveis, comparados ao montante estimado para a recuperação integral do prédio, demos início, neste primeiro semestre, a uma reforma parcial com vários propósitos a serem alcançados, a curto prazo. Além de prover espaço para o funcionamento administrativo da SME, vamos dispor de áreas para a realização de eventos organizados pela Diretoria e pelas Comissões Técnicas da SME e, inclusive, para a cessão remunerada a profissionais e empresas, na perspectiva de que a entidade alcance o imprescindível equilíbrio econômico-financeiro de sua gestão. Estão em reforma o 1º andar (hall de entrada), local de eventos realizados em passado recente, como o SME 12:30 e o Projeto Ponto x Contraponto, e de cessão remunerada para casamentos, festas, etc.; o 2º andar, coração da Sociedade, com a implantação de um novo auditório para 38 pessoas e o 3º andar, com a recuperação do auditório para 44 pessoas. Colocamos o foco nesses objetivos já que ampliar a reforma para o restante do 3º andar e para os 4º, 5º e 6º andares exigiriam recursos financeiros inexistentes na entidade, e que só seriam viabilizados por meio de parcerias. A SME deseja realizar essas parcerias e tem feito diversas tratativas, infelizmente, sem sucesso, até o momento.

Fazem parte do nosso projeto, a médio prazo, a instalação de um café gourmet como ponto de encontro dos engenheiros e, ainda, a utilização do espaço do hall para a instalação de uma galeria de arte. O que pretendemos, futuramente, é que esse espaço seja integrado ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Se por um lado, temos muitos planos pela frente, por outro, já superamos diversas dificuldade que surgem naturalmente, quando se pretende reformar um prédio de mais de 30 anos de idade: promovemos a substituição integral do telhado da edificação; fizemos a impermeabilização de todas as áreas externas, a exemplo de varandas e do primeiro piso; substituímos por tubos de PVC os canos de ferro fundido instalados quando da construção do prédio; estamos recuperando as esquadrias enferrujadas e com vazamento; retiramos camadas de contrapiso, visando instalar pisos de granito e porcelanato, sem gambiarras. Trata-se de uma reforma parcial, mas que está sendo feita com todo zelo para que as áreas reformadas possam ser usadas com total segurança e operacionalidade. E, por certo, estamos, sim, à disposição de todos aqueles que julguem que possam colaborar nesta difícil, mas imprescindível jornada de retorno à sede da SME. Mudanças e Oportunidades O primeiro semestre deste ano, ficará marcado, também, pelas mudanças ocorridas na esfera política no plano nacional. Sob o ponto de vista dos interesses da engenharia, destacamos as medidas recém-anunciadas (e que

Augusto Drummond Presidente da SME carecem de aprovação do Congresso Nacional) pela equipe econômica do Presidente Interino. A retomada de investimentos e do desenvolvimento econômico são cruciais para fortalecimento da Engenharia. Se estamos ainda distantes disso (se não é possível dizer se chegamos ao fundo do poço ou não), pelo menos a sinalização é positiva no sentido da redução da deterioração da economia, ou seja, no ritmo de se cavar um poço que poderia ser ainda maior. Nesta edição, abordamos algumas iniciativas que estão gerando novas oportunidades para a engenharia e para os engenheiros. Recomendamos a leitura de artigo que trata do desenvolvimento regional, na Região do Médio Sapucaí, por meio de cooperação intermunicipal, com o apoio de centros de ensino e empresas privadas, e dos que tratam da explosão das startups mineiras, cuja capacitação alcançou o reconhecimento nacional e internacional, com grande poder de agregação de profissionais de engenharia. As oportunidades, sob diversos aspectos, voltam a existir, muito embora, em intensidade aquém do que gostaríamos. É preciso estar aberto às mudanças e se movimentar, pois, afinal, disposição e otimismo não fazem mal a ninguém!

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VENHA PARA A SME COMPROMISSO COM VOCÊ! A Sociedade Mineira de Engenheiros, por meio de sua equipe, tem desenvolvido uma série de traba‑ lhos para atender cada vez mais e melhor a cada um dos associados.

Por meio de nosso site, da Revista Mineira de Engenha‑ ria e da produção de eventos, a SME tem se tornado, cada vez mais, um canal aberto para ouvir suas suges‑ tões e para representar seu interesse no setor.

Em seus 85 anos de existência, a SME trabalha para in‑ tegrar, desenvolver e valorizar a Engenharia, a Arqui‑ tetura, a Agronomia e seus profissionais, contribuindo para o aprimoramento tecnológico, científico, socio‑ cultural e econômico. COMPROMISSO COM O FUTURO Aprimoramento profissional e a inovação tecnológica também têm sido uma das grandes bandeiras da SME para oferecer os melhores serviços para você.

Mais informações: www. sme.org.br ‑ (31) 3292 3962 ou sme@sme.org.br

Augusto Celso Franco Drummond Presidente

Janaína Maria França dos Anjos Diretora

Alexandre Francisco Maia Bueno Vice-Presidente

José Andrade Neiva Diretor

José Ciro Mota Vice-Presidente

Krisdany Vinicius Santos de Magalhães Cavalcante Diretor

Luiz Henrique de Castro Carvalho Vice-Presidente Marita Arêas de Souza Tavares Vice-Presidente Virgínia Campos de Oliveira Vice-Presidente Alexandre Rocha Resende Diretor Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz Diretora Fabiano Soares Panissi Diretor Humberto Rodrigues Falcão Diretor

Publicação

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Marcelo Monachesi Gaio Diretor

Fernando Henrique Schuffner Neto Flavio Marques Lisbôa Campos Francisco Maia Neto Jorge Pereira Raggi José Raimundo Dias Fonseca Levindo Eduardo Coelho Neto Luiz Celso Oliveira Andrade Paulo Henrique Pinheiro de Vasconcelos Rodrigo Octávio Coutinho Filho Wilson Chaves Júnior CONSELHO FISCAL

Túlio Marcus Machado Alves Diretor

Carlos Gutemberg Junqueira Alvim Presidente

Túlio Tamietti Prado Galhano Diretor

Conselheiros Alexandre Heringer Lisboa João José Figueiredo de Oliveira José Eduardo Starling Soares Marcelo Aguiar de Campos

CONSELHO DELIBERATIVO Ailton Ricaldoni Lobo Presidente Conselheiros Alberto Enrique Dávila Bravo Carlos Eustáquio Marteleto Eduardo Paoliello

Coordenador Editorial José Ciro Mota Jornalista Responsável Luciana Maria Sampaio Moreira MG 05203 JP

Revisão Editorial Jalmelice Luz ‑ MG 3365 JP jornalismo@sme.org.br Projeto Gráfico / Desgin Blog Comunicação Marcelo Távora tavora007@hotmail.com (31) 3309 1036 | (31) 9133 8590 Depto. Comercial Blog Comunicação & Marketing revista@blogconsult.com.br (31) 3309 1036 | (31) 99133 8590 Tiragem: 10 mil | trimestral Distribuição Regional (MG) Gratuita Publicação | SME Sociedade Mineira de Engenheiros Av. Álvares Cabral, 1600 | 3º andar Santo Agostinho | Belo Horizonte Minas Gerais | CEP ‑ 30170‑917 Tel. (31) 3292 3962 sme@sme.org.br www.sme.org.br

Apoio Compromisso, Inovação e Avanço


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P&D Drones para monitorar áreas de erosões e cobertura vegetal

INOVAÇÃO Movimento de startups se consolida em Belo Horizonte

ENTREVISTA Leonardo Dias de Oliveira

ARTIGO Poluição sonora nas cidades grandes

EVENTO Foz do Iguaçu sediará a 73ª edição da SOEA

ECONOMIA Prudência e planejamento para vencer a crise

DESENVOLVIMENTO Responsabilidade social e cooperação estratégica para combater a corrupção

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START UPS Comunidade de San Pedro Valley, uma experiência promissora

ARTIGO | CDS/SME Comitê de Desenvolvimento Sustentável da SME

JOVEM ENGENHEIRO Pedro Henrique Moura Costa

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MARKETING Construtoras apostam em novas tecnologias para atrair e fidelizar clientes

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METRES DE ENGENHARIA 60 anos de graduação, seis integrantes da classe de 24 estudantes

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MEIO AMBIENTE Mudanças na Política Nacional de Meio Ambiente estão em curso


NOTAS DO SETOR MEDALHA CHRISTIANO OTTONI

Ao lado da filha Maria Flávia Máximo, a engenheira Consuelo Bethonico

Na tribuna, à direita, o diretor da Escola de Engenharia, Alessandro Moreira.

recebeu o diploma e a medalha Christiano Ottoni do secretário de

À mesa, a partir da esquerda: estudante Vítor Vaz, servidora Rejani Apare‑

Transportes, Murilo Valadares

cida Andrade, vereador Tarcísio Caixeta, secretário de Transportes e Obras

A engenheira Consuelo Bethonico Máximo foi homenageada com Públicas, Murilo Valadares, vice‑diretor Cícero Starling, professor Pedro Viana, engenheiro e presidente da SME, Augusto Drummond e professor a Medalha Christiano Ottoni, em 21 de maio/16, quando das coBernardo Lopes. memorações dos 105 anos de fundação da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segunda mulher a receber a comenda, instituída pelo Governo de Minas Gerais em 1961, Consuelo Bethonico contou que foi incentivada a escolher esse curso pela engenheira Beatriz Alvarenga, que se tornaria professora da UFMG e, em 1996, primeira mulher agraciada com a Medalha. Na solenidade, também foram homenageados os engenheiros da Escola graduados nas turmas de 1956, 1966 e 1991, que comemoram neste ano, respectivamente, jubileu de diamante, ouro e prata. Foi lembrado ainda o centenário de formatura da primeira turma de alunos, em 1916. O diretor da Escola, professor Alessandro Fernandes Moreira, fez pronunciamento em nome dos 310 formandos das turmas de 1991. A Escola de Engenharia formou, ao longo dos anos, mais de 24 mil engenheiros e cerca de quatro mil mestres e doutores. Hoje a Escola tem 13 departamentos, 11 cursos de graduação, dez programas de pós-graduação, cerca de 5.500 alunos de graduação, 1.250 de mestrado e doutorado e 600 de especialização. MUDANÇA DE CURRÍCULO Novidades à vista na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A maior instituição de ensino superior do Estado planeja para breve mudar os currículos da graduação. Se aprovadas as alterações, a meta é fazer com que os calouros de 2018 tenham grades mais flexíveis, que “conversarão” entre si e com uma abrangência maior de aprendizado. Pela proposta da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), cursos e áreas afins terão entrada única e trajetos comuns até determinado momento da formação, para só depois deixar o caminho livre para a especialização do estudante, que poderá optar ainda por uma linha

genérica de formação. Esses moldes dão possibilidade até mesmo de obtenção de um segundo diploma e de cursar disciplinas na pós-graduação. A expectativa é conseguir reduzir, com o novo modelo, o número de vagas ociosas. As mudanças serão discutidas com a comunidade acadêmica e ficará a cargo de cada colegiado aderir ou não. Elas serão feitas gradativamente, em um processo sem prazo para terminar. Estima-se que, até meados de 2017, de quatro a cinco áreas consigam se reorganizar para implantar as novas configurações já em 2018. Fonte: Jornal Estado de Minas

SEGURANÇA DO TRABALHO Estão abertas as inscrições para o 18º Prêmio de Segurança do Trabalho, destinado a empresas associadas ao Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (SINDUSCONMG) e ao Serviço Social da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (SECONCI-MG). A iniciativa reconhece empresas e funcionários que busquem aumentar a segurança nos canteiros. As categorias voltadas a empresas são: Empresa Prevencionista e Certificado de Empresa Prevencionista, em que são avaliadas as adequações do canteiro à NR 18, do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), por meio do soft-

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ware SEGCON. O programa também é utilizado para eleger a vencedora na categoria Empresa Destaque na Área de Vivência. O SEGCON é um sistema desenvolvido pelo SECONCI-MG que relaciona elementos da obra a itens da norma regu-

lamentadora, além de indicar normas complementares. Ele pode ser acessado em qualquer computador, tablet ou smartphone.As obras devem estar em execução nas cidades de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Lagoa Santa e Nova Lima, além de inscritas no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Os interessados têm até o dia 17 de junho para inscrever-se. As inspeções nos canteiros de obras serão realizadas pelo Departamento de Segurança do trabalho do SECONCI-MG, entre 1º de julho e 30 de setembro de 2016.Mais informações no site http://www.sinduscon-mg.org.br.


ATIVIDADES/SME Reunião da diretoria da SME, em 21 de março de 2016, para para discutir a formação de engenheiros. Houve a participação de convidados, a exemplo dos engenheiros Aécio Lira, Gerônimo Bastos, Carlos César Lima, Vitor Percival Andrade, Antônio Carlos Cabral e Lázaro Pôrto. Reunião dos integrantes do Comitê de Desenvolvimento Sustentável da SME, dirigida pela vice‑presidente e engenheira Virgínia Campos.

A vice-presidente da SME, Engª Marita Tavares, coordenadora do Prêmio SME de Ciência,Tecnologia e Inovação, recebeu na sede da entidade, o estudante do 5º período de Engenharia de Controle e Automação (UFMG), Lucas Fiuza. Ele é presidente da Consultoria e Projetos Elétricos (CPEJr.) e quis conhecer um pouco mais da entidade e do Prêmio CT&I. Participou da reunião o diretor da SME, Engº Fabiano Panissi.

VALE DA ELETRÔNICA A indústria do polo eletroeletrônico do Sul de Minas terá acesso a até R$ 50 milhões em crédito por meio do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). O Fundo de Investimento em Direitos Creditórios funcionará por meio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). Os aportes de até R$ 50 milhões serão parcelados em 36 meses, para o setor eletroeletrônico, no polo de Santa Rita do Sapucaí – que engloba também os municípios de Pouso Alegre, Varginha e Itajubá e é integrado por mais de 150 empresas. O FIDC em Santa Rita do Sapucaí terá como gestor o Bancoob Sicoob, vencedor de processo licitatório, que será o responsável por atrair, cadastrar e realizar as operações

financeiras junto às empresas. A ideia é proporcionar às empresas abrangidas pelo Arranjo Produtivo Local (APL) a possibilidade de obtenção de crédito de forma mais vantajosa e econômica. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) será parceira no projeto. O Vale da Eletrônica de Santa Rita do Sapucaí é formado por três instituições de ensino e 153 empresas de setores, que vão da informática à telecomunicação, e geram 14 mil empregos diretos e indiretos. Não por acaso, o lugar é comparado ao Vale do Silício, polo tecnológico na Califórnia, nos Estados Unidos, criado na mesma época, nos anos 1950.

MINERAÇÃO NO SÉCULO XXI

SEMINÁRIO DE ARBITRAGEM

O Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI), o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) realizaram, no dia 15 de junho, o Fórum de Desenvolvimento e Tecnologia para a Sustentabilidade Econômica e Ambiental do setor de Mineração em Minas Gerais. Mais informações no site www.indi.mg.org.br.

No dia 20 de junho de 2016, a Câmara de Mediação e Arbitragem (CMA) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (CREA-MINAS) realiza o IV Seminário Nacional de Arbitragem, Construção & Infraestrutura, trazendo como tema o Comitê de Resolução de Disputas (CRD). Em sua 4ª edição, o Seminário apresenta novas técnicas para solucionar pleitos nos contratos. Previsto o lançamento, durante o evento, do Livro: CRD - COMITÊ DE RESOLUÇÃO DE DISPUTAS nos Contratos de Construção e Infraestrutura (Uma abordagem prática sobre a aplicação de Dispute Boards no Brasil).

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P&D

UFLA USA DRONES PARA MONITORAR ÁREAS DE EROSÕES E COBERTURA VEGETAL

Luciana Sampaio Moreira

esquisa desenvolvida no Departamento de Ciência do Solo (DCS/UFLA), mais precisamente com os alunos do Programa de Pós-Graduação tem usado Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) – popularmente conhecidos como drones – para fazer o monitoramento de áreas de erosão e de cobertura vegetal, no próprio campus e em localidades próximas.

P

O coordenador do projeto é o engenheiro agrônomo, Marx Leandro Neves Silva, doutor em Ciência do Solo, especialista na área de Conservação do Solo e da Água e professor de diversos cursos (Engenharia Ambiental, Engenharia Agrícola e Agronomia. Bolsista do CNPq por produtividade científica, desde 1997, ele afirma que é um criador de oportunidades e que os estudantes da instituição devem aproveitar a experiência nessa pesquisa, durante o processo de formação profissional. Marx Leandro Naves Silva,

“O talento desse projeto está nos alunos. Em nossos experimentos, temos constatado que o equipamento é uma opção interessante para o monitoramento de erosões por deslocamento de massa, de forma preventiva, ou para realizar 8

professor de Engenharia Ambiental, Engenharia Agrícola e Agronomia.


Paulo IScold

levantamento de risco de áreas onde já ocorreram deslizamentos”, afirma. Em casos como o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, se essa tecnologia tivesse sido usada, seria possível prever a evolução das fendas e rachaduras, afirma. O desmoronamento que destruiu a região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011, também poderia ter sido evitado porque há como monitorar a evolução de sinais de uma ocorrência do gênero, segundo Marx Silva.

Regulamentação do uso O uso de drones no mercado, principalmente para a confecção de imagens e levantamento topográfico, tem crescido no Brasil. No entanto,

a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) está em processo de legalização do equipamento, que está dividido em três classes, com base no peso da máquina. De acordo com o professor, o drone usado na UFLA é da classe 3 e tem peso inferior a 25 quilos. “Voamos em ambientes restritos e o uso é absolutamente controlado dentro do campus”, afirma. O equipamento foi adquirido com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e tem um sistema que interrompe o funcionamento nas proximidades de grandes aeroportos. A segurança do projeto deve-se também à capacitação dos alunos para diferentes funções, como a pilotagem.

Inspiração O estudo feito na UFLA é uma extensão de uma pesquisa similar realizada na Universidade de Lancaster, na Inglaterra, no programa de dupla-titulação do doutorado, firmado entre as duas instituições. Lá, os equipamentos foram usados para monitorar e coletar materiais em vulcões, para prevenir ocorrências de terremotos e erupções. Em países europeus, onde há avalanches, o monitoramento das áreas segue a mesma lógica. Quando são detectados sinais de um fenômeno de grandes proporções, equipes especializadas vão até o local para fazer pequenos deslizamentos e reduzir a gravidade da ocorrência. 9


P&D

O drone da UFLA tam‑ bém tem sido usado para um projeto desen‑ volvido em Extrema, no Sul de Minas, para a conservação do solo, água e vegetação da sub‑bacia dos rios Ja‑ guari/Camanducaia

“É possível observar essas áreas porque o deslocamento da neve começa sutilmente”, exemplifica. “Estive lá e conheci a iniciativa do professor Mike James e trouxe para o Brasil para fazer o manejo e conservação de solo e água, para dar respostas para a população que mora no entorno dessas áreas”, ressalta. Os resultados têm sido positivos. Esses equipamentos possuem um grande campo de aplicação em ciências agrárias, como parte do monitoramento e estudo de pastagens, áreas agrícolas, florestas e regiões de interesse ambiental. Essa aplicação permite detectar pragas, acompanhar o desenvolvimento da plantação e, até mesmo, contar as unidades plantadas na propriedade. Outra aplicação é a medição da composição do ar e de níveis de poluição e sua dispersão em áreas rurais, urbanas e industriais. Além disso, serve para a inspeção de grandes estruturas, monumentos, levantamento de ocupação urbana e prospecção topográfica, mineral e arqueológica.

Versatilidade O drone da UFLA também tem sido usado para um projeto desenvolvido em Extrema, no Sul de Minas, para a conservação do solo, água e vegetação da sub-bacia dos rios 10

Jaguari/Camanducaia, que abastecem o Sistema Cantareira. “Temos conscientizado os produtores agrícolas locais para a importância de preservar a água em suas propriedades, para que as fontes naturais continuem em atividade. A medida pode evitar ocorrências de problemas no abastecimento do recurso, como aconteceu nos últimos anos”, destaca. Em Itumirim, município vizinho a Lavras, a equipe monitora a erosão nas margens do Reservatório do Funil. A equipe é composta por quatro estudantes de pósgraduação (Bernardo Moreira Cândido, Adnane Beniaich,Pedro Velloso Batista, Fabio Arnaldo Avalos e Paulo Siqueira Junior); quatro estudantes de graduação (Wellington de Lima, Andre Alexandre Botega, Daniel Acosta Tovio e Lorena Silva Pereira), além de um estudante do Ensino Médio, Leandro Boari Naves Silva, orientado na modalidade Iniciação Científica Junior/voluntário - piloto do VANT. Eles estão aliando o conhecimento teórico sobre práticas conservacionistas do solo e as tecnologias de sensoriamento remoto, por meio de imagens 3D utilizadas em softwares modernos. “Essa é a nova geração de profissionais que serão responsáveis pela conservação dos solos, em especial, em áreas cultivadas no País”, projeta Marx Silva.



INOVAÇÃO

Movimento de startups se consolida em Belo Horizonte Luciana Sampaio Moreira esafio ou oportunidade? Os dois. Falar sobre startups, no atual cenário de crise, é apontar para diversos caminhos que, trilhados de forma correta, disciplinada e profissional, podem resultar em projetos de sucesso. Com um modelo de gestão baseado em empreendedorismo e dinamismo, onde as possibilidades de erro e risco são partes integrantes do negócio, essas empresas que nascem encubadas ganham “corpo” para conquistar o mundo, com propostas de produtos e serviços inovadores.

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Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (ABS), existem 4.172 empresas do gênero cadastradas pela instituição criada, em 2011, para fortalecer o ambiente de negó12

cios do setor. Delas, 359 estão em Minas Gerais, o segundo maior Estado no ranking nacional, atrás de São Paulo, que tem 1.294. Esse mercado movimenta aproximadamente R$ 2 bilhões ao ano.A meta do setor é chegar, em 2.035, com participação de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O trabalho de divulgação desse modelo de negócios que, na verdade, é uma tendência mundial, passa por uma quebra de paradigma do mercado de trabalho. Esse novo modelo aponta para o empreendedorismo como uma possibilidade de carreira sustentável para profissionais de várias áreas, sobretudo aquelas ligadas a tecnologia. Além do trabalho desenvolvido para dar suporte às micro e pequenas

empresas, o SEBRAE Minas também é um dos parceiros das startups no Estado, com um programa especial para atender às demandas de gestão desse novo perfil de empresário. Segundo o gerente de Inovação e Sustentabilidade do SEBRAE Minas, Anízio Dutra Vianna, o projeto Identidade Startups foi desenvolvido para estimular a cultura desse tipo de negócios para o ambiente corporativo. Por meio da oferta de consultoria em diversas áreas do Mercado, Finanças e de RH, a entidade possibilita aos empreendedores de primeira viagem e, também, àqueles que têm organizações consolidadas, a oportunidade de fazer o modelo de negócios de suas empresas sob uma nova ótica”, adianta. Além de Belo Horizonte, outras oito regionais do Estado recebem esse tipo de consultoria.


4.172 STARTUPS NO BRASIL 1.294 SÓ NO ESTADO DE SÃO PAULO MINAS TEM 359 STARTUPS, SENDO O 2º MERCADO NACIONAL STARTUPS FATURAM R$ 2 BILHÕES AO ANO EM 2035, STARTUPS VÃO REPRESENTAR 5% DO PIB

Anízio Dutra Vianna, gerente de Inovação e Sustentabilidade do SEBRAE Minas

delagem de um negócio podem ser úteis para qualquer empresa, de qualquer setor”, destaca Dutra. A segunda fase é a Ideia-Ação voltada para os empreendedores que têm um projeto considerado viável, mas não sabem como transformá-lo em negócio. O SEBRAE Minas oferece cursos variados para auxiliar esse momento, onde as decisões devem ser tomadas.A terceira etapa é a operação, quando a empresa passa a ter seu modelo de negócio, clientes, faturamento e CNPJ.

Etapas da criação O processo de criação de uma startup tem quatro fases. A primeira é a curiosidade do empreendedor que se dispõe a quebrar paradigmas, e criar algo novo para o mercado. Além dos jovens recém-saídos da universidade, empresários experientes que pretendem reformular a modelagem dos seus negócios para ganhar produtividade e competitividade, podem fazer parte desse grupo. “Criou-se o conceito de que startup é apenas para jovens. Mas a cultura de startup e a remo-

A quarta e última fase é o aprimoramento dos conhecimentos de gestão, vendas, qualidade e, ainda, busca de parceiros para incrementar o negócio. “Ao auxiliar o processo de transformação de inovações em negócios, o SEBRAE Minas contribui para a diversificação da matriz econômica de Minas Gerais e, também, para a atração de novos investimentos”, aponta o gestor. Para fomentar o ambiente de negócios, a instituição promove encontros de negócios, agendas de relacionamento com fundos de capital de risco. 13


INOVAÇÃO

Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), em 2014, revelou que a mor‑ talidade das startups brasileiras alcança média de 75%, em três anos de atividades.

Sobrevivência

estruturado é outro desafio para a sobrevivência desses pequenos negócios.

Mas nem tudo são flores. O gargalo do sistema é que não há, no Brasil, um sistema de capital empreendedor

Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral

(leia-se capital de risco) maduro. Em fase inicial, há li-

(FDC), em 2014, revelou que a mortalidade das star-

nhas de crédito do Banco de Desenvolvimento de

tups brasileiras alcança média de 75%, em três anos

Minas Gerais (BDMG), como o Pro-Inovação e Propi-

de atividades. Comparando a realidade do País com a

tec, que têm taxas de juros mais competitivas. Há, tam-

dos EUA, que é considerado um dos melhores ecos-

bém, o Criatec, do Banco Nacional de Desenvolvimento

sistemas de startups do mundo, segundo o The Startup

Econômico e Social (BNDES), mas os investidores ainda

Ecossystem Report, os números são próximos de 70%

têm certo receio de investir em startups. Na Europa,

de fracasso, em 20 meses, após o primeiro investi-

Ásia e, também, nos Estados Unidos da América (EUA),

mento.

esse já é um projeto consolidado.

14

Ainda conforme o estudo, existe uma grande dificul-

“O primeiro investimento é o capital anjo ou semente,

dade em mensurar a morte de uma startup, devido a

para começar a startup. A dificuldade está no segundo

dinâmica desse tipo de negócio. Há que se considerar,

ou terceiro aportes para que a empresa consiga solu-

também, a necessidade de mostrar apenas resultados

cionar problemas de mercado e gerar uma nova eco-

positivos, o que interfere no grau de sucesso desses

nomia”, explica. Para Vianna, políticas de metas e

empreendimentos, e ao desconsiderar o potencial de

incentivos fiscais podem auxiliar os projetos de star-

aprendizado que se tem com as falhas de empreende-

tups. Da mesma forma, um programa de mentoria bem

dores que não evoluíram.


Evaldo Vilela, presidente da Funda‑ ção de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)

Ambiente de crescimento O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Evaldo Vilela, ressalta que a instituição apoia diretamente os ambientes que abrigam as startups, ou seja, incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos, programas do SEED e outros, que fazem a seleção dos projetos que serão abrigados até alcançar condições favoráveis para ingressar no mercado formal.

novo tem atrasado o País e, também, a vida das pessoas”, alega Evaldo Vilela. Para ele, as empresas mais tradicionais e consolidadas ainda têm a “cabeça” analógica e, portanto, não compreendem esse novo mundo de possibilidades. Em muitos casos, compram essas organizações como oportunidades de negócios para, depois, “sufocá-las” em uma engrenagem, onde inovação não existe na prática.

Nesse ponto, a inovação cabe em qualquer setor de atuação e motiva, ainda, que as universidades e institutos tecnológicos incentivem pesquisas de mestrado e doutorado, que possam se transformar em melhorias para o setor produtivo ou para a sociedade. O custo é mais baixo porque não é preciso licitar ou comprar patente. Atualmente, um percentual das vendas é direcionado para o inventor.

Segundo o dirigente, nesse movimento, o erro é parte da estratégia corporativa. Essa é uma hipótese aceita em todo o mundo. Nos EUA, por exemplo, há ambientes que só aceitam projetos que já foram malsucedidos. Dessa forma, os projetos inscritos estão mais amadurecidos e com uma rota mais calculada. “Hoje, o profissional é chamado a correr riscos, errar, cair, fracassar, mas tomar isso como lição, não o fim da linha”, explica.

No cenário mundial, o Brasil está atrasado. A falta de capital de risco para investimentos tem feito com que muitas startups e cérebros com ativos migrem para outros países. “A nova indústria brasileira está sendo perdida por não nos organizarmos e não entendermos a real profundidade do movimento das startups. A dificuldade em aceitar o

Com isso, além de um novo conceito de empresa com produtos e/ou serviços inovadores, o movimento de startups também visa criar cidadãos e profissionais melhores para a sociedade, por meio do empreendedorismo. “O empreendedor é mais preparado para a sociedade e entende melhor o mundo”, completa. 15


INOVAÇÃO

Fábio Veras, assessor da presidência da FIEMG, responsável pelo desenvolvimento de ecossistemas de startups com indústrias mineiras.

FIEMG quer levar a cultura de startups para a indústria A Federação das Indústrias do Estado de Minas

O FIEMG LAB Novos Negócios é um projeto

Gerais (FIEMG) lançou, em junho, o seu projeto

pioneiro no Brasil. “É a primeira vez que uma

FIEMG LAB Novos Negócios. A necessidade de

Federação das Indústrias desenvolve um projeto

ganhar competitividade é o que motiva a entidade

que visa transformar tecnologia em negócios,

a participar ativamente do movimento startups e,

para encurtar o tempo de chegada das inova-

mais que isso, a divulgar esse novo modelo de ne-

ções ao mercado. Por outro lado, permitir a ace-

gócios para setores econômicos já consolidados.

leração de startups mais maduras para receber

O assessor da Presidência da FIEMG responsável pelo desenvolvimento de ecossistemas de startups com indústrias mineiras, Fábio Veras, explica que é

da FIEMG metodologias e benefícios; para a geração de conexões com grandes empresas do Brasil e do mundo", explica.

preciso inspirar o segmento industrial a perceber

Com esse projeto, a instituição pretende criar

que essas pequenas empresas estão literalmente

um ambiente de negócios colaborativo, onde

quebrando setores consolidados, pela eficiência.

todos os atores atuarão para o bem comum.

“Essa é uma nova cultura que abraça novos com-

Para Veras, empresas já consolidadas devem ser

portamentos, modelos de negócios e tecnologias”,

capazes de observar, conviver, aprender e ajudar,

define.

para alcançar melhores resultados.


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ENTREVISTA | LEONARDO DIAS DE OLIVEIRA

Um grande projeto de desenvolvimento para Minas Gerais Luciana Sampaio Moreira

A

necessidade de diversificar a matriz econômica do Estado tem unido muitas forças. A vocação da capital mineira para as áreas de Tecnologia da Informação (TI) e inovação ganhou incentivo extra do governo do Estado, que, por meio de parcerias com órgãos públicos e entidades da iniciativa privada, tem procurado fomentar um novo ambiente de negócios e empreendedorismo na capital. Com isso, as startups têm ganho espaço de destaque, não apenas nos sonhos de muitos jovens egressos do ensino superior ou técnico, mas como modelo de gestão que baseia-se em inovação, flexibilidade e criatividade, para gerar melhores resultados. À frente desse projeto, que desponta como um dos mais importantes programas de desenvolvimento de Minas Gerais, está o engenheiro eletricista graduado pela Universidade

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Federal de Minas Gerais (UFMG) e subsecretário de Tecnologia e Inovação do Estado, Leonardo Dias de Oliveira. Com experiência em empreendedorismo, ele foi fundador da DM Promoções e gestor da MOV Promotoras de Ideias. Ele também foi vice-presidente de Negócios do BH Convencions & Visitors Bureau e presidente nacional da Associação Brasileira dos Produtores de Evento (ABRAPE). Além de ter atuado com marketing esportivo, é tutor do portal folia.com.br. Por que o governo do Estado decidiu investir nas áreas de Tecnologia e Inovação? A economia de Minas Gerais e do Brasil, de forma geral, ainda é baseada em setores tradicionais. Diante da variabilidade dos mercados mundiais e do surgimento de novas atividades, o governo de Minas entende como essencial a busca de alternativas de desenvolvimento, e a inovação figura como um

caminho de grandes perspectivas. Investir em inovação e tecnologia é incentivar o movimento da economia, por meio de iniciativas de pessoas e empresas dispostas a colocar em ação uma ideia diferenciada, que consiga alterar o dia a dia dos cidadãos. O ecossistema formado por elas pode significar uma alternativa para setores tradicionais, levando Minas Gerais a resultados que vão além da mineração e da agricultura, seguindo exemplos de sucesso de todo o mundo e impulsionando o desenvolvimento do Estado. Isso é parte do projeto ‑ que já existia ‑ de transformar BH em um centro de referência nas áreas tecnológicas (Biotec, TI, inovação)? Belo Horizonte vem se destacando no cenário de inovação, com projetos como o San Pedro Valley, que reúne diversas startups em um ambiente de cooperação e troca de experiências. O objetivo do governo é


Leonardo Dias de Oliveira, engenheiro eletricista graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e subsecretário de Tecnologia e Inovação do Estado de Minas Gerais

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ENTREVISTA | LEONARDO DIAS DE OLIVEIRA

atuar efetivamente como agente de inovação, empoderando ideias pioneiras e fortalecendo o universo da tecnologia. Com o apoio de investidores, empresários, pesquisadores e instituições, pretendemos levar o incentivo à ciência para todo o Estado, transformando Minas Gerais em um espaço ideal para projetos inovadores. A visão final é à geração de empregos e renda para toda a população, a partir do desenvolvimento de novos setores e da movimentação da economia. O projeto em curso antecipa o futuro ou é uma resposta ao setor produtivo estadual? As ações do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES), buscam inserir o estado em uma das maiores tendências econômicas da atualidade. São diversos os exemplos de sucesso de países que investiram em inovação e alcançaram resultados que vão muito além da economia, fortalecendo a educação e todo o âmbito social das regiões envolvidas. Quando pensamos em estados como a Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo, vemos a experiência de uma economia antes baseada em agricultura e indústrias de defesa, e que agora tem empresas como Google e Facebook, bases importantes para a geração de empregos, conhecimento e lucro. Referências no mercado de tecnologia, esses dois 20

exemplos começaram como pequenas empresas, com ideias que ninguém havia pensado, e hoje são dois dos maiores cases de empreendedorismo do mundo. Diversificar a economia significa buscar alternativas para a população, gerando novos empregos e ampliando as perspectivas para o futuro. Investir em inovação é seguir o exemplo de regiões que estão entrando no futuro mais cedo, alcançando resultados que impactam diretamente na área socioeconômica. Além do governo do Estado, quais as entidades e instituições que participam desse projeto? Como ele é gerido? O setor de inovação tecnológica é movido pelo governo, empresários e instituições de ensino que, juntos, compõem a chamada Tríplice Hélice. Para desenvolver projetos efetivos é necessário incluir todos os agentes, sendo que cada um deles deve cumprir determinada função no desenvolvimento do setor. A inovação, em si, é o processo de interação entre ciência, pesquisa, tecnologia e ensino, envolvendo instituições diversas. Sendo assim, a ação do governo é essencial para integrar todos os envolvidos, incentivando e possibilitando a atuação de investidores, empresários, universidades, pesquisadores, fundações, aceleradoras, etc. Além dos órgãos vinculados à SECTES, nossos projetos são planejados e executados com a parceria de di-

versas entidades e instituições. Hoje, contamos com a parceria da Fapemig, do IGTEC, do IPEM, da UEMG, da Fundação Helena Antipoff, da UNIMONTES e de diversas outras instituições, que atuam em programas específicos. Qual é o conceito de startup adotado pelo projeto? Entendemos as startups como empresas iniciais de base inovadora, envolvendo um pequeno grupo de empreendedores focados em produzir um produto ou solução repetível e escalável, ou seja, são iniciativas de negócios que pretendem desenvolver um projeto com potencial de crescimento, em um ambiente de extrema incerteza. Os projetos da SECTES buscam chegar a startups de todos os níveis e perfis. O SEED, por exemplo, é um programa de aceleração de startups que abre possibilidades para qualquer ideia, fornecendo incentivos financeiros, estrutura e mentorias para empreendedores em fase inicial. Outros projetos englobados pelo Minas Digital atuam na formação de futuros empreendedores, com ações voltadas para educação e capacitação. Empresas já mais desenvolvidas, também, são atingidas pelo programa, que conta com incubadoras e parques tecnológicos, ambientes em que ideias consolidadas conseguem embasamento para conseguir investimentos e crescer ainda mais.


Diversificar a economia significa buscar alternativas para a po‑ pulação, gerando novos empregos e ampliando as perspecti‑ vas para o futuro. Investir em inovação é seguir o exemplo de regiões que estão entrando no futuro mais cedo, alcançando resultados que impactam diretamente a área socioeconômica.

Atualmente, há quantas star‑ tups no projeto? Há uma previ‑ são de crescimento? Qual o número que se pretende atingir? Criado pelo Governo de Minas Gerais, o SEED é um programa de aceleração de ideias que busca fortalecer a cultura empreendedora, acelerar o desenvolvimento do ecossistema e incentivar ideias e negócios inovadores no Estado. Considerado pela Bloomberg Foundation um dos grandes projetos de inovação do setor público no mundo, o programa tem como diferencial a não exigência de CNPJ ou participação no negócio criado pelas startups. Em 2016, acontece a terceira rodada do SEED, que vai acelerar 40 startups e disponibilizar cerca de R$ 6 milhões em recursos. As inscrições começaram, em janeiro de 2016, e superaram os números das duas edições anteriores. Foram cadastradas 1453 startups de 48 países, somando

mais de 4 mil empreendedores, de 23 estados brasileiros e 52 nacionalidades diferentes. Nas primeiras edições, o SEED já acelerou 73 startups, sendo 53 brasileiras e 20 estrangeiras. Qual a parcela de colaboração do governo de Estado para in‑ centivar as startups? Há linhas de crédito disponíveis para esses projetos? Há planos para expan‑ dir esse projeto para o Estado? Como isso será feito? O SEED é apenas um dos projetos participantes do Minas Digital, um programa criado pelo Governo de Minas Gerais, em 2015. Com o objetivo de investir R$ 1 bilhão até 2025, o programa busca gerar desenvolvimento econômico e social a partir da inovação, economia digital e criativa. Além do SEED, que é o único programa público de aceleração de startups do Brasil, o Minas Digital também promove ações

como os Hubs de Inovação, ambientes inspiradores de inovação e excelência corporativa, que serão distribuídos por 17 territórios estratégicos ao redor do Estado. Os ambientes contam com espaços de coworking, cursos na área de tecnologia e empreendedorismo, e estrutura de mentoria e aceleração para startups. A SECTES também está potencializando as UAITECs, que disponibiliza infraestrutura e cursos de empreendedorismo e tecnologia para os mineiros, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da cultura empreendedora no Estado. Fora isso, Minas também conta com 25 incubadoras e três parques tecnológicos, ambientes que integram os agentes de inovação e proporcionam estrutura física e gerencial para empresas em estágio inicial, aproximando empreendedores, universidades e investidores. 21


ENTREVISTA | LEONARDO DIAS DE OLIVEIRA

Entendemos as startups como empresas iniciais de base inovadora, envolvendo um pequeno grupo de empreen‑ dedores focados em produzir um produto ou solução repetível e escalável, ou seja, são iniciativas de negócios que pretendem desenvolver um projeto com potencial

de crescimento, em um ambiente de extrema incerteza.

O Programa de Incentivo à Inovação (PII) e os Polos de Inovação são outros dos projetos englobados pelo Minas Digital. Além deles, a Secretaria também promove o SIMI – Sistema Mineiro de Inovação, que busca, desde 2006, promover a convergência de ações governamentais, empresariais, acadêmicas e tecnológicas para desenvolver a inovação no Estado. O Minas Digital também está promovendo diversos eventos ao longo do ano, com o objetivo de integrar os agentes de inovação e gerar sinergia com o público. Entre eles está o Pint of Science, um festival internacional de divulgação científica, que leva cientistas para bares e restaurantes. O festival aconteceu em Belo Horizonte, entre os dias 23 e 25 de maio, como parte das comemorações dos 30 anos da FAPEMIG. 22

A área de tecnologia e inovação está diretamente ligada à com‑ petitividade das empresas. O projeto do governo aproxima as empresas do setor produtivo mineiro? Há cases de sucesso para citar? São diversas as experiências de outros países no ambiente de inovação, tornando visível o potencial da tecnologia na micro e na macroeconomia. Buscando diversificar as atividades desenvolvidas em todos os setores, a inovação tecnológica é berço de soluções que direcionam ações positivas e de alto impacto. A busca por soluções pioneiras gera não só movimentação econômica, mas cria empregos e gera renda. Além disso, um ambiente de inovação atrai empresas e investimentos, destacando a região enquanto potencial de desenvolvimento.

Hoje, startups mineiras estão levando suas soluções para todo o País, destacando o nome do Estado no universo do empreendedorismo. Minas está em segundo lugar em número de startups no Brasil e originou cases como EasyTaxi, Meliuz, Sympla, Hotmart e Rock Content. Também nasceu em Minas a primeira empresa comprada pelo Google fora dos EUA, a Akwan Information Technologies, startup criada por professores da UFMG e vendida por US$ 225 milhões. A inovação interfere em todos os setores. Produtos e soluções diferenciados geram como resultado alternativas para empresas, governos e pessoas. Exemplo disso são as grandes empresas de base tecnológica que, hoje, interferem diretamente na economia e na identidade de seus países. Da mesma forma, queremos transformar Minas Gerais em um estado de cultura empreendedora e inovadora.



ARTIGO | KRISDANY CAVALCANTE

Poluição sonora, saúde pública e engenharia

Krisdany Vinícius S. M. Cavalcante

poluição sonora é um importante problema ambiental e de saúde pública em áreas urbanas. A Organização Mundial de Saúde – OMS[1] classifica, na Europa, a poluição sonora como a segunda maior causa de doenças, que levam a redução da expectativa de vida das pessoas que vivem nas grandes cidades. Em primeiro lugar, está a poluição do ar.

A

Inúmeros estudos científicos evidenciam que a exposição ao ruído ambiental resulta em comprometimento cognitivo, distúrbios de sono, zumbido, irritabilidade e mau humor. Estudos epidemiológicos também correlacionam doenças cardiovasculares à exposição ao ruído ambiental. A OMS defini saúde como sendo "um estado de completo bem-estar físico, mental e social" e reconhece que a exposição ao ruído pode levar a morte prematura. Apensar de todo esse sólido conhecimento científico mundial e de a OMS apontar sua relevância, muitos países sequer assumem este tema em suas políticas de saúde pública. Para definição de estratégias de gestão e elaboração de planos de ação para o controle do ruído, alguns gover-

nos como o da Alemanha e de outros países europeus, bem como algumas organizações não governamentais, desenvolveram avaliações de risco para identificar a extensão dos potenciais efeitos sobre a saúde de suas populações, sobretudo, estimando a carga de doenças devidas à exposição da população ao ruído ambiental. A OMS[2] estima que pelo menos um milhão de anos de vida saudável são perdidos, a cada ano, devido à exposição aos atuais níveis de pressão sonora, devidos ao ruído ambiental. Estima-se que 61 mil anos de vida são perdidos pelo desenvolvimento de doenças cardiovasculares, 22 mil por zumbido, 903 mil decorrentes de distúrbios no sono, 45 mil por comprometimento cognitivo das crianças e 654 mil decorrentes de incômodo, irritabilidade e mudança de humor, provocados pela exposição ao ruído ambiental. Estes números contemplam apenas a população dos estados-membros da União Europeia e da Europa Ocidental, e foram calculados através de uma metodologia preparada por especialistas do escritório regional da OMS para a Europa. Dentre as diferentes fontes sonoras contribuintes ao ruído ambiental, o ruído de tráfego urbano é considerado a principal. Mas são preocupantes também os ruídos industriais, de atividades de laser e os ruídos de


tráfego aeroviário, ferroviário, metroviário e rodoviário, principalmente quando registrados em áreas residenciais, escolares e hospitalares. No Brasil, a primeira Lei a abordar a questão da poluição sonora é datada de 1941, quando o art. 42 do decreto-lei 3688/41, instituiu a Lei das Contravenções Penais e considerou, em seu art. 42 que ”perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheio: I – com gritaria ou algazarra; II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais; III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem guarda. Pena: prisão simples, de 15 dias a 3 meses, ou multa”. Atualmente, no âmbito federal, o tema é tratado em resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. A Resolução CONAMA nº 01 de 1990 especifica que “a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerão, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução”. Define também que “são prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior aos ruídos com

níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10151”. Assim, os estudos de licenciamento ambiental e os relatórios de monitoramento ambiental sonoro passaram a aplicar compulsoriamente a ABNT NBR 10151, uma vez que esta Resolução especifica que “as medições deverão ser efetuadas de acordo” com esta norma. No mesmo ano, a Resolução CONAMA nº 02 instituiu o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora – programa “SILÊNCIO”. No que se refere a emissão de ruído veicular, a Resolução CONAMA nº 01 de 1993 fixou “limites máximos de ruídos” a serem emitidos por veículos automotores nacionais e importados, novos e no período de garantia, excetuando-se motos e similares. Já as Resoluções CONAMA nº 03 de 1993 e nº 418 de 2009, dentre outras, estabeleceram “padrões de emissão para veículos em circulação” e “critérios para a elaboração de Planos de Controle de Poluição Veicular – PCPV e para a implantação de Programas de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso – I/M”, a serem adotados pelos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente em programas de Inspeção e Manutenção para Veículos Automotores em Uso.


ARTIGO | KRISDANY CAVALCANTE

O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, também, publicou a Resolução nº 204 de 2006, onde “regulamenta o volume e a frequência dos sons produzidos por equipamentos utilizados em veículos e estabelece metodologia para medição a ser adotada pelas autoridades de trânsito ou seus agentes”.

Apesar de Minas Gerais ser um dos poucos estados da federação a tratar em lei, desde 1978, das permissões, proibições, limites e penalidades no que tange a emissão de ruído ambiental, nenhum governo implantou qualquer estrutura de pessoal e instrumental para fins de fiscalização e garantia à aplicação desta lei.

Em Minas Gerais, a poluição sonora é abordada na Lei Estadual 7302 de 1978, que teve seu art. 2º, foi alterado, em 1990 pela Lei 10100. Essa lei é aplicada a estudos de impacto ambiental e no atendimento às condicionantes ambientais de monitoramento pelo executivo estadual.

Já o Estado de São Paulo, apesar de não possuir lei específica sobre ruído ambiental, através da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB, implantou uma política fiscalizatória a fim de assegurar o atendimento à Resolução CONAMA 01/90. Esta estrutura conta com profissionais instrumentalizados e distribuídos nas diferentes regiões do estado.

Apesar de revisada no mesmo ano de publicação da Resolução CONAMA 01 de 1990, a lei estadual adota princípio diferente no estabelecimento de critérios de avaliação. Conforme seu art. 2º, é admissível a um empreendimento produzir até 10 dB acima do “ruído de fundo, sem tráfego”, desde que este resultado não ultrapasse a 70 dB e 60 dB, respectivamente nos períodos diurno e noturno. Este princípio traz prejuízo à saúde e bem-estar da população residencial e também prejuízo financeiro e ao desenvolvimento do setor industrial. Ao adotar o limite baseado apenas no “ruído de fundo”, desconsiderando a condição de uso e ocupação do solo no local avaliado, a Lei 7302 impõe às indústrias localizadas em áreas de baixa densidade, enormes investimentos no controle do ruído ambiental. O prejuízo à saúde da população também é evidente, uma vez que 10 dB, em escala logarítmica, equivale a uma exposição 3 vezes maior em termos de pressão sonora. Ou seja, a lei estadual admite o ruído ambiental de um empreendimento mascare o “ruído de fundo” existente. Além dos problemas apontados, a Lei Estadual também determina o intervalo do período noturno entre 1h e 3h menor que o estabelecido pelo CONAMA, contrariando o preceito da hierarquia das normas. 26

Na esfera municipal, o que se nota é o estabelecimento de políticas reativas. Em muitas secretarias municipais de Meio Ambiente as queixas e reclamações de poluição sonora representam 70 % das denúncias ambientais. Reativamente as prefeituras optam por implantar programas específicas para atendimento às reclamações, a exemplo do PSIU em São Paulo, Disque Silêncio em Fortaleza e Disque Sossego em Belo Horizonte. Nestes programas as prefeituras disponibilizam um número telefônico para recebimento de denúncias. Uma vez registrada, a equipe de fiscalização procede a fiscalização medindo os níveis de pressão sonora junto ao reclamante. Caracterizada a poluição sonora, o empreendimento poluidor é então autuado. Como são inúmeras as queixas, principalmente aos finais de semana, quando não atendido pelo executivo, o reclamante recorre ao Ministério Público Estadual, através das Promotorias de Meio Ambiente e também à Polícia Ambiental. Nos casos de regulação federal, a exemplo do ruído de pousos e decolagens em aeroportos, tais demandas cabem ao Ministério Público Federal.


Considerando que a Constituição Federal estabelece como competência municipal a regulamentação do uso e parcelamento do solo, é possível aos municípios a adoção de políticas públicas preventivas, assegurando os preceitos estabelecidos pelo CONAMA e pela OMS. Neste sentido a prevenção de conflitos decorrentes de poluição sonora é possibilitada pela compatibilização dos Planos Diretores e das leis de uso e ocupação do solo com os critérios recomendados pela ABNT NBR 10151, referenciada pela Resolução CONAMA 01/90. A ABNT NBR 10151, em sua versão vigente desde 2000, estabelece metodologia para medição dos níveis de pressão sonora bem como “fixa as condições exigíveis para avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, independente da existência de reclamações”. Os níveis de critério de avaliação são fixados, à cada período-horário, de acordo com os tipos de áreas, ou seja, de acordo com a predominância observada na ocupação do solo. Esta norma, especifica que os períodos diurno e noturno “podem ser definidos pelas autoridades de acordo com os hábitos da população. Porém, o período noturno não deve começar depois das 22 h e não deve terminar antes das 7 h do dia seguinte. Se o dia seguinte for domingo ou feriado o término do período noturno não deve ser antes das 9 h”. Os limites são especificados em nível de pressão sonora contínuo equivalente ponderada em A – LAeq, em dB, para cada tipo de área a cada período, conforme tabela 1:

Alguns municípios seguem diretamente esse preceito, a exemplo da lei nº 2007 de 2007 de Nova Lima, MG. Outros referenciam a aplicação da Resolução CONAMA 01/90, como em Contagem, MG, onde esta matéria é abordada na lei nº 3789/2003 e na lei complementar nº 082/2010. Outros municípios ignoram seu papel constitucional e afrontam a regra da hierarquia das normas, abrandando o estabelecido em regulamento federal, como o faz a lei nº 9505/2008 de Belo Horizonte, que estabelece critério comum a todo o território municipal, independentemente da área e do uso dado ao solo. Situações como a de Belo Horizonte são indutoras de conflitos, uma vez que trazem prejuízo e insegurança jurídica aos seus munícipes, sejam eles empresários dos setores de bares, restaurantes, culturais e industriais, sejam residentes de áreas afetadas pelo ruído ambiental. Todas as questões relativas à caracterização do ruído, ao planejamento sonoro urbano, às medidas e projetos de controle do ruído e eliminação da poluição sonora requerem a atuação de profissionais técnicos especializados em acústica ambiental, industrial e urbana. O conhecimento em acústica é inerente à formação dos físicos. No entanto, sua aplicação requer a atuação de profissionais especializados em diferentes campos interdisciplinares. No que tange a acústica ambiental, industrial e urbana, os profissionais da engenharia, geografia, biologia, urbanismo e da arquitetura raramente recebem adequada

TABELA 1

Níveis de critério de avaliação, em dB, para ambientes externos. DIURNO

NOTURNO

Áreas de sítios e fazendas

TIPOS DE ÁREAS

40

35

Área estritamente residencial urbana, de hospitais ou de escolas

50

45

Área mista, predominantemente residencial

55

50

Área mista, com vocação comercial e administrativa

60

55

Área mista, com vocação recreacional

65

55

Área predominantemente industrial

70

60

Fonte: ABNT NBR 10151:2000

27


ARTIGO | KRISDANY CAVALCANTE

A poluição sonora é considerada como a segunda maior causa de doenças que levam a redução da expectativa de vida das pessoas que vivem nas gran‑ des cidades. Em primeiro lugar, está a poluição do ar.

formação durante a graduação. Até mesmo cursos de Engenharia Ambiental raramente incorporam a disciplina de acústica ambiental. Esta deficiência na formação acadêmica tem reflexo nas políticas públicas e nas ações, nem sempre assertivas, por parte do poder executivo e dos empreendedores, comprometendo o sucesso no controle da emissão de ruído ambiental e no combate à poluição sonora. Quanto as ferramentas de engenharia aplicáveis a acústica ambiental, o estado da arte em instrumentação e software permite monitorar em tempo real as emissões e as imissões sonoras, possibilitando o registro contínuo e a atuação preventiva, evitando queixas e reclamações de comunidades afetadas pelo ruído urbano e industrial. Tais monitoramentos envolvem técnicas de medição, processamento e análise de sinais nos domínios do tempo e da frequência e em alguns casos análise por FFT. Outro importante instrumento de planejamento urbano e de análise de impacto ambiental sonoro, comumente adotado pelos países-membros da União Europeia, são os mapas acústicos. Elaborados com base em informações do relevo, do clima, da ocupação e cobertura do solo, bem como nas características acústicas das fontes e dos receptores sonoros, os mapas acústicos ilustram, em escala de cores, as curvas de mesma faixa de níveis de pressão sonora, normalmente 28

representadas de 5 dB em 5 dB.Tais mapas são excelentes instrumentos técnicos aplicáveis em estudos de novos empreendimentos ou de ampliação de empreendimentos existentes. Além de bons instrumentos e ferramentas tecnológicas, uma boa engenharia requer também a consolidação e harmonização do conhecimento em normas técnicas. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT é oficialmente reconhecida como único foro nacional de normalização, por meio da Resolução nº 07 de 1992 do Conselho Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial – CONMETRO. Dada as características interdisciplinares da acústica, diferentes Comitês Brasileiros publicaram normas que direta ou indiretamente referenciam questões de acústica e ruído ambiental. Como exemplo a norma ABNT NBR 15575, elaborada no âmbito do Comitê Brasileiro da Construção Civil – ABNT/CB-02. Em 2013, com o apoio da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC, a ABNT instalou a Comissão de Estudo Especial de Acústica – ABNT/CEE 196, cujo escopo contempla a normalização no domínio da acústica, incluindo os métodos de medição de fenômenos acústicos, geração, transmissão e recepção e todos os aspectos de seus efeitos sobre o homem e ao ambiente.


Diretamente relacionadas ao tema ruído ambien‑ tal, tem‑se as seguintes normas e projetos: ABNT NBR 10151:2000,Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento. Esta norma encontra-se em revisão. Seu projeto está previsto para submissão à Consulta Nacional em 2016.

[1] European Parliament – Directorate General for Internal Policies, Policy Department A: Economic and Scientific Policy, Towards A Comprehensive Noise Strategy – Study, November 2012. [2] Word Health Organization – WHO, Regional Office for Europe and JRC European Commission. Burden of disease from environmental noise – Quantification of healthy life years lost in Europe. 2011.

ABNT NBR 10152:1987, Níveis de ruído para conforto acústico – Procedimento. Esta norma encontra-se em revisão e seu projeto foi submetido à Consulta Nacional em 2016. O resultado da CN encontra-se em análise da ABNT/CE-02:135.01. ABNT NBR 16313:2014, Acústica – Terminologia. Esta norma foi elaborada pela ABNT/CEE-196 e publicada em dezembro de 2014. ABNT NBR 16425-1:2016, Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora provenientes de sistemas de transportes – Parte 1 – Aspectos gerais. Esta norma foi elaborada pela ABNT/CEE-196 e publicada em 07/04/2016. ABNT NBR 16425-2:2016,Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora provenientes de sistemas de transportes – Parte 2 – Sistema aeroviário. Este projeto encontra-se em Consulta Nacional, até 10/07/2016. ABNT NBR 16425-4:2016,Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora provenientes de sistemas de transportes – Parte 4 – Sistema ferroviário. O projeto desta norma foi submetido à Consulta Nacional em 2016 e o resultado da CN está em análise pela ABNT/CEE-196. A participação de profissionais de diferentes formações e de representantes de diferentes setores é condição necessária ao sucesso no processo de normalização. É fundamental que esta participação se dê na etapa de elaboração dos projetos. Porém, é possível participar também na etapa de Consulta Nacional. Uma vez aprovada pela Comissão de Estudos, a norma é publicada pela ABNT e passa a ter valor em todo o território nacional, impactando na vida de todos, sobretudo, na atuação dos profissionais da engenharia.

Krisdany Vinícius S. M. Cavalcante

Krisdany Vinícius S. M. Cavalcante é Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG, Especialista pelo CEFET-MG e Engenheiro Eletricista pela PUC Minas. É Diretor da Sociedade Mineira de Engenheiros – SME e Diretor Técnico do dB Laboratório de Engenharia Acústica, acreditado pela Cgcre do Inmetro para ensaios conforme a ABNT NBR 10151. É membro do Conselho Deliberativo da ABNT e Coordenador das Comissões de Estudo Especial de Acústica – ABNT/CEE-196 e de Desempenho Acústico de Edificações – ABNT/CE-02:135.01. É consultor especialista em Acústica Ambiental e Industrial e ex-diretor da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC.

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Aberta inscrição para o 24º Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação

INSCRIÇÃO

PÚBLICO ALVO

LINHA DE PESQ

A inscrição é gratuita e deverá ser feita por meio de formulário oficial do Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação, até o dia 2 de setembro de 2016. Podem ser inscritos um ou mais trabalhos individualmente ou em grupo de no máximo seis integrantes.

O Prêmio SME CT&I é dirigido aos estudantes de Engenharias, Arquitetura e Agronomia, regularmente matriculados em Instituições de Ensino Superior (IES), de Minas Gerais.

Os temas aborda ferencialmente n trial. As soluções a sustentabilidad como a comprov ção custo/benef os pontos de vist nômico/financei tal, ou ainda, q aumento de prod

APOIO


A Sociedade Mineira de Enge‑ nheiros (SME) realiza a 24ª Edi‑ ção do Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

QUISA

PREMIAÇÃO

INSCRIÇÃO E INFORMAÇÕES

ados são livres, preno segmento induss devem assegurar de do projeto, bem vação de uma relafício adequada sob ta estratégico, ecoro, ético e ambienque resultem em dutividade.

Os cinco primeiros colocados receberão certificados e prêmios. Além disso, se tornarão associados aspirante(s) da SME, e receberão a anuidade de 1 ano gratuitamente. A solenidade de entrega dos prêmios será no dia 28 de novembro de 2016.

O formulário pode ser encontrado

REALIZAÇÃO

no site www.sme.org.br ou solicitado pelo e‑mail: fabiola@sme.org.br. Outras informações pelo telefone: (31) 3292 3810.

SME | Sociedade Mineira de Engenheiros Tel.: (31)3292 3810

www.sme.org.br


ENGENHARIA BRASILEIRA

Foz do Iguaçu sediará a 73ª edição da SOEA ntre os dias 29 de agosto e 1º de setembro, a cidade de Foz do Iguaçu (PR) recebe, pela sexta vez, a programação da 73ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (SOEA), que terá como tema “A Engenharia a favor do Brasil – Mudanças e Oportunidades”. Paralelamente, será realizado o 3º Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia (CONTECC), que divulga trabalhos técnicos e científicos desenvolvidos por diversas instituições brasileiras.

E

O evento é uma promoção conjunta do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) e da Caixa de Assistência dos Profissionais do CREA (MÚTUA). Uma das marcas registradas da SOEA é reunir diversas gerações de profissionais, para valorizar o passado, reconhecer os avanços da atualidade e enriquecer o futuro. Segundo os organizadores, neste ano, o projeto homenageado será a grandiosa obra de construção da Itaipu Binacional, a partir de 1974, com a chegada das primeiras máquinas ao futuro canteiro de obras, o que transformou a pequena Foz do Iguaçu. Em 10 anos, a população de 34 mil habitantes passou para 136 mil moradores. Nesse grande projeto da Engenharia brasileira, as profissões do Sistema CONFEA/CREA estiveram presentes em todas as fases da execução, desde os canteiros de obras, passando pela alteração do curso do Rio Paraná e, também, na edificação da barragem propriamente dita. A programação deste ano tem destaques importantes. Um deles é a exposição com os CREAs de todo o Brasil e a primeira etapa do 9º Congresso Nacional de Profissionais, que terá como tema “O Sistema CONFEA/CREA e MÚTUA em Defesa da Engenharia e da Agronomia”. 32

José Ciro Mota, vice‑ presidente da SME e José Tadeu da Silva, engenheiro civil e presidente do CONFEA

O Engenheiro civil e presidente do CONFEA, José Tadeu da Silva, ressalta que a SOEA é o principal evento do Sistema, por promover o debate sobre legislação, habilitação e fiscalização do exercício e das atividades profissionais de engenheiros e agrônomos brasileiros. A expectativa do dirigente é reunir 4 mil inscritos “Esperamos que a 73ª edição da SOEA siga a tradição e fique eternizada por significantes contribuições sobre os rumos da Engenharia Brasileira”, afirma.

Joel Krüger, engenheiro civil e presidente do CREA‑PR

O engenheiro civil e presidente do CREA-PR, Joel Krüger, acredita que a 73ª SOEA vai privilegiar a formação de parcerias e promover a integração dos profissionais, que irão a Foz do Iguaçu, para debater sobre o papel dos engenheiros no processo de desenvolvimento nacional.


Tenho a convicção de que teremos uma oportunidade ímpar para discutirmos ações em prol do Sistema CONFEA/CREA e MÚTUA, principalmente por realizarmos em conjunto o 9º Contecc, que reunirá trabalhos acadêmicos de todo o País”, aponta. O engenheiro civil e presidente da MÚTUA, Paulo Guimarães, reafirma que mudanças, inovação e oportunidades são temas que têm pautado discussões nos vários níveis da sociedade. Na 73ª SOEA, os organizadores vão colocar esses temas em pauta, para a análise dos profissionais brasileiros que são parte imprescindível desse processo. “

O Sistema CONFEA/CREA em parceria com a MÚTUA, que tem como missão primordial ser o braço assistencial da área tecnológica, ao capacitar os profissionais propicia um cenário de mudanças e oportunidades, por meio de soluções que passam pela inovação e criatividade em favor da sociedade”, projeta. O vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), José Ciro Mota, participou do evento como representante da SME. O período de inscrições termina em 22 de agosto. Para saber mais, visite o site da 73ª SOEA, www.soea.org.br.


ECONOMIA

Prudência e planejamento para vencer a crise

O

Brasil está em crise política e econô-

mica, há mais de dois anos. A expectativa por mudanças é grande mas, o governo interino de Michel Temer tem muitos problemas a resolver. Entre eles

o desemprego em 10,9%, taxa de juros de 14,15% e inflação acima da meta. No entanto, empresas e profissionais devem ficar atentos porque as medidas anunciadas não devem ser transformar em realidade em poucos dias.

Haroldo Mota de Almeida, diretor da Arcal Soluções Empresariais

Segundo o diretor da Arcal Soluções Empresariais, Haroldo Mota de Almeida, ainda não há um cenário econômico definido para nortear as decisões. “O que existe é uma perspectiva de mudança e de diretrizes para um novo foco econômico, o que é muito insipiente porque não há definição sobre o julgamento final do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff”, explica. Em suma, a movimentação política continua direcionada para essa questão. 34

Assim, todo cuidado é pouco. Embora o mercado projete crescimento para 2018, o consultor é mais comedido na sua análise. “A retomada não deve acontecer antes de 2020. A exemplo do que aconteceu em 1980, vamos ter, novamente, uma década perdida”, lamenta. Se preparar para este período é essencial para manter os negócios. Na área de Engenharia, por exemplo, um planejamento estratégico é a ferramenta mais indicada para as


Haroldo Santos Araújo, analista de Gestão do SEBRAE‑MG

empresas, com uma visão de, no mínimo, oito anos para frente. “O desafio das empresas é atravessar o “deserto”. Muitas construtoras estão com estoque alto e pouco capital de giro. A indústria da construção pesada está parada porque não há investimentos públicos em grandes projetos”, afirma. Quem vai sobreviver é aquele que conseguir vislumbrar oportunidades nesse cenário adverso. Segundo Haroldo de Almeida, a região Nordeste tem experimentado os efeitos da crise com menos força que Sudeste e Sul. Mas nenhuma decisão pode ser tomada com base em “olhadinhas” no mercado e confiança na ação governamental. “Nada acontecerá nos próximos 60 dias. As empresas devem ter uma estratégia muito bem ajustada para retomar uma condição de equilíbrio financeiro. Ao contrário do que se pensa, esse processo dura entre três e quatro anos, para ser construído com bases sólidas”, alerta. O analista de Gestão do SEBRAE-MG, Haroldo Santos Araújo, afirma que, neste momento, é preciso agir com prudência e com base em informações consistentes para encontrar oportunidades. “Muitos hábitos de consumo estão mudando em função da crise. Então, se não há grandes projetos de Engenharia, a empresa deve se adaptar para pegar empreitadas menores que, bem geridas, podem se transformar em ganhos”, aponta.

Pequenos projetos de reforma residenciais ou de empresas podem alavancar o caixa da empresa. “As oportunidades são pontuais e, nesse momento, a avaliação do cenário deve ser mais rigorosa porque todo investimento em construção, no período atual, é de extrema necessidade. Dependendo do porte do serviço, é possível compatibilizar dois ou três serviços e negociar prazo de entrega”, avalia. Para sobreviver em um cenário de crise, os profissionais também têm que aprender a “dançar conforme a música”. Seja como empregados ou como pessoa jurídica, a capacidade de adaptação é um diferencial competitivo importante, para entrar ou manter-se em atividade. Para garantir a execução, é importante manter uma equipe de fornecedores executar os projetos no nicho de atuação definido. Nunca é demais lembrar que o mercado tem grupos de consumidores que precisam de um serviço diferenciado. Criar valor e soluções é parte da estratégia para manter uma empresa competitiva. “A capacidade de vislumbrar oportunidades é algo a ser exercitado neste momento. A observação do comportamento do mercado deve ser constante para uma análise consistente do cenário econômico”, reafirma. Para o analista, os gestores também precisam tomar decisões com segurança. “Quem é empreendedor sabe que o fator risco existe em qualquer momento, mesmo naqueles de grande crescimento. Seja em menor ou maior escala, esse é um aspecto que costuma ter peso maior quando não há foco ou avaliações bem construídas”, conclui Haroldo Araújo. 35


DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Responsabilidade social e cooperação estratégica para combater a corrupção Luciana Sampaio Moreira

O fracasso ou simplesmente a não implantação de políticas públicas, de âmbitos federal e estadual, é um dos problemas enfrentados pela maioria dos municípios brasileiros. Da mesma forma, embora exista diversas linhas de crédito, muitas cidades perdem prazos e possibilidades de incrementar a oferta dos serviços para a população, devido à não apresentação de projetos consistentes para o recebimento dos recursos. O que gera esses problemas? O engenheiro argentino radicado em Minas Gerais, há 40 anos, Edgardo Cáceres, tem a resposta. “A falta de engenheiros é um empecilho para o desenvolvimento regional, principalmente nos municípios com até 20 mil habitantes”, sentencia. No currículo, ele tem uma grande experiência em desenvolvimento sustentável e trabalhos como a implantação do Sistema de Qualidade Assegurada da Fiat Allis Latino América e do Plano de Qualidade Total que levou a empresa a ser eleita a melhor do Brasil, em 1993. Ele também foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP) e atualmente é secretário da iniciativa. 36

Edgardo Cáceres, engenheiro argentino radicado em Minas Gerais, há 40 anos.

Uma iniciativa interessante que aponta para essa direção é o Escritório de Projetos Regionais (EPR), braço de responsabilidade social da Alta Engenharia. O processo de incubação dessa startup especializada em tecnologia de gestão pública, começou em fevereiro de 2015, após ser selecionado como empreendimento de interesse social pelo Conselho do Programa Municipal de Incubação Avançada de Empresas de Base Tecnológica do município de Santa Rita do Sapucaí (PROINTEC), considerada uma das melhores entre as 400 que operam no Brasil.


“A escolha de Santa Rita do Sapucaí deve-se ao ambiente de inovação e empreendedorismo que caracteriza a cidade, a receptividade das lideranças locais e a importância que foi atribuída ao sistema de educação como fator de desenvolvimento, desde os anos de 1950”, destaca ele, que é membro do Conselho do EPR.

gerente de projetos da empresa e pelo biólogo e especialista em pesquisas georreferenciadas, Márcio Farah. Cáceres conheceu a proposta em 2013, quando visitou a Alta Engenharia. Naquele ano, a empresa recebeu o Prêmio Mineiro da Qualidade, faixa Ouro da União Brasileira pela Qualidade (UBQ).

Atualmente, o grupo gestor é liderado pelos engenheiros Camilo Léllis Nogueira, atual presidente da Alta Engenharia, Alexandre Matos,

Para fazer a transformação social da região, a EPR pretende gerar desenvolvimento sustentável, em regime de cooperação estratégica

com a Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Sapucaí (AMESP), que abrange um território com trinta prefeituras. Por meio de convênio de cooperação técnica, que incluiu o Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (SINDVEL) e a Faculdade de Administração e Informática de Santa Rita do Sapucaí (FAI), o EPR passou a receber demandas encaminhadas pela AMESP. 37


DESENVOLVIMENTO REGIONAL

A inovação deve vir primeiro, independente das

consequências. Não pode ser barrada ou limitada por leis.

Edgardo Cáceres

Em 2015, o EPR prospectou as necessidades da região e, paralelamente, estudou formas para inserir a solução no contexto de cooperação que caracteriza a cultura do Médio Sapucaí. Outro trabalho executado foi uma análise das diretrizes definidas pelo atual governo do Estado e as políticas públicas consideradas prioritárias nos cenários nacional e internacional. “Entre os trabalhos em curso estão solicitações de cooperação para a formulação de projetos de saneamento básico, o que implica desde coleta seletiva de resíduos urbanos e rurais, e gestão de resíduos sólidos, até sistemas de esgoto e captação de águas pluviais e prevenção de possíveis enchentes”, exemplifica. Segundo o engenheiro, priorizar esse tipo de projeto demonstra a profunda inovação do atendimento de uma das principais demandas de infraestrutura dos municípios, de forma integrada e sinérgica. Entre os 38

ganhos está a redução dos custos, qualidade superior dos projetos, planejamento cooperativo que envolve gestores de todos os municípios e, ainda, desenvolvimento de competências e trabalho em equipe, entre os profissionais envolvidos.

Financiamento O próximo passo é captar recursos nacionais e internacionais para implantar projetos que correspondam ao modelo de gestão preconizado, com ênfase em áreas como saneamento básico, observatórios sociais, melhoria dos serviços públicos e de seus custos, a exemplo da educação, saúde, de tecnologias socio ambientais, e busca de Parcerias Público Privadas (PPP). O engenheiro explica que os municípios e os consórcios intermunicipais precisam cumprir com a legislação específica, que exige transparência nas contas públicas. “Isso é um pré-requisito para que uma região seja contemplada com repasse de recursos”, lembra.

Isto criou para o EPR a necessidade de escolher, como uma das principais frentes de atuação, colaborar no processo de divulgar e compartilhar os conhecimentos aplicáveis para evitar erros que levem ao desvio de recursos públicos. Para tanto, a empresa é uma das parceiras para a implantação do Observatório Social do Sapucaí. Na prática, além de fazer os controles internos, deve atender às normas ISO 9001:2015, e colaborar para que cada projeto, implantado na região do Sapucaí, possa respeitar as legislações de Responsabilidade Fiscal, Controle Social e Transparência. Dessa forma, o EPR pretende se firmar como um exemplo para outras regiões de Minas Gerais. “Todo projeto de desenvolvimento regional requer engenheiros de diversas áreas. Da mesma forma, as prefeituras têm múltiplas possibilidades de reduzir custos e melhorar resultados incorporando engenheiros nos seus quadros”, recomenda.


Alfredo Diniz, engenheiro eletricista e diretor Administrativo da Regional do SENGE‑MG

A Engenharia pode promover a inovação na gestão pública e nas práticas e processos, para gerar melhores resultados para

a sociedade e reduzir os casos de corrupção.

Nova perspectiva para a Engenharia Mundial No final de 2015, em Kyoto, no Japão, a Conferência de Engenharia Mundial discutiu como os profissionais da área podem contribuir para o desenvolvimento de soluções de problemas variados, enfrentados pela população mundial, e que compõem a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Entre eles, o combate à corrupção. O engenheiro eletricista e diretor Administrativo da Regional Metropolitana do Sindicato dos Engenheiros de Minas Gerais (SENGE), Alfredo Diniz, participou do evento como representante do Sistema CONFEA. “O interesse da ONU, por meio da Unesco, em envolver os engenheiros nesse plano de desenvolvimento representa muitas oportunidades de melhoria para o mundo”, enfatiza. Entre os temas debatidos, a globalização do conhecimento, a mobilidade dos engenheiros e a necessidade

de vencer desafios como o déficit de saneamento básico, devem ser priorizados nos projetos de Engenharia, no mundo. Segundo Diniz, a participação dos profissionais no processo de desenvolvimento das nações é essencial. “Da mesma forma, os engenheiros brasileiros têm que se engajar nesse movimento mundial que, entre outros ganhos, quer quebrar paradigmas e impulsionar ainda mais a nossa atividade. Não somos o “Deus Sol”, mas estamos no centro de tudo e temos que compreender que temos trabalhos importantes a fazer para o bem da sociedade”, enfatiza. Entre eles está o desenvolvimento regional dos países. “A Engenharia pode promover a inovação na gestão pública e nas práticas e processos, para gerar melhores resultados para a sociedade e reduzir os casos de corrupção”, conclui.


START UPS

Comunidade de San Pedro Valley, uma experiência promissora

Luciana Sampaio Moreira

partir de 2011, as empresas de tecnologia de Belo Horizonte começaram a se instalar no tradicional bairro de São Pedro, região Centro-Sul da capital mineira. A aglomeração de startups ganhou o nome de San Pedro Valley, uma referência bem-humorada ao Vale do Silício (Silicon Valley, em inglês), onde estão as sedes de empresas como Google, Facebook e Apple.

A

O projeto mineiro deu certo, e atualmente, abriga mais de 200 startups de diversos setores, além de espaços de trabalho em grupo, aceleradoras, investidores e interessados no setor de desenvolvimento tecnológico. Para este ano, os aportes financeiros para abertura de novas empresas deve superar a marca dos R$ 1 milhão, com aumento de 14% em relação ao exercício anterior. 40

E essa não é a única boa notícia. Enquanto o mercado está recessivo e o desemprego aumenta no País, as startups da San Pedro Valley contratam, com salários acima da média do mercado. A meta é gerar mais 220 vagas de trabalho até dezembro, para abastecer um segmento econômico que tem registrado 30% de crescimento ao ano. Samba Tech no mundo Entre os cases de sucesso está a Samba Tech, maior distribuidora independente de vídeos online da América Latina. Em pouco mais de 11 anos de existência, a empresa acaba de receber o seu terceiro investimento externo. Desta vez, o recurso será usado para o projeto de internacionalização, a partir da abertura de um escritório em Seattle, nos Estados Unidos. O montante de R$ 10 milhões veio do mais novo parceiro de negócios da companhia: José Augusto


Pedro Filizola, diretor de marketing da Samba Tech

Schincariol. Segundo a Forbes Brasil, o herdeiro tem usado

guinhos para celular, a Samba Tech já conquistou oito países

parte do dinheiro, que recebeu com a venda da companhia

da América Latina e se prepara para ganhar o mundo, com

de bebidas da família para a japonesa Kirin, para investir em

a sua plataforma profissional de vídeos. “Quanto mais clien-

projetos de desenvolvimento tecnológico.

tes, mais barato fica o custo da nossa tecnologia”, explica Filizzola.

O diretor de marketing da Samba Tech, Pedro Filizola, explica que o desafio de sobrevivência de toda startup brasileira é

O sonho de dois empreendedores cresceu, e hoje, movi-

conquistar a confiança do mercado para atrair novos inves-

menta a criatividade de 80 profissionais que atuam em di-

timentos. No caso da empresa, a estratégia usada tem dado

versas áreas de negócio. “Podemos dizer que o projeto

certo. “A questão é vender a ideia da Samba Tech com base

Samba Tech está dando certo. Estamos vivendo novas expe-

em informações consistentes e transparência de propósitos

riências e mercados, para crescer cada vez mais. Nossa meta,

em relação ao uso do recurso”, ressalta.

para 2016, é dobrar a empresa”, afirma o executivo. Além da sede, em Belo Horizonte, a empresa tem escritórios em

Depois do chamado “investimento anjo”, para a abertura do

São Paulo, Colômbia e nos Estados Unidos. Na lista de clien-

negócio, da parte do empresário catarinense Almir Gentil, a

tes estão Grupo Kroton, Rede Globo, SBT, Grupo Abril, Bo-

companhia também recebeu, em 2009, um aporte da FIR

ticário, Unimed e outros, que usam a plataforma que

Capital, para a mudança de foco. Criada para desenvolver jo-

também é acessada por pequenas e médias empresas. 41


START UPS

Encontramos na capital mineira um cenário fértil para o desenvolvi‑ mento de empresas inovadoras. Além disso, a existência da San Pedro Valley agrega muito valor ao dia a dia, pela troca de experiências e

ajuda mútua que nos auxilia a enfrentar os desafios de forma conjunta.

Roberto Costa de Oliveira

Empreendedorismo recompensado O engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Inovação e Empreendedorismo pela Universidade de Stanford, Roberto Costa de Oliveira, 43 anos, seguiu o exemplo da família e empreendeu para criar a Take.net. Em 1999, ele já sonhava em atuar no mercado latino-americano de tecnologia móvel. “A internet móvel era apenas uma tendência promissora. Acreditamos que poderíamos levar esse serviço para o dia a dia das pessoas. Por isso, apoiamos empresas a desenvolver, para seus consumidores, canais interativos multimídia via mensagens, que são conhecidos como contatos inteligentes ou chatbots (com automatização)”, analisa. A empresa tem 100 funcionários. A empresa foi pioneira e líder de mercado na distribuição de ringtones nos anos 2000, desenvolveu uma plataforma integrada para operadoras e gerenciou serviços de comunicação e conteúdo via SMS. Entre eles, o Tim Music Store, o Vivo Chat e o Vivo Dieta. A Take.Net também lançou o SMS a cobrar em todo o País e ingressou no ramo de SMS Marketing. Os resultados vieram. Desde 2013, a Take.net é reconhecida pela Great Place to Work como uma empresa boa para se trabalhar e figura entre as 100 melhores do setor de TI e Telecom. No ranking da Deloitte, desde 2012, 42

é apontada como uma das organizações que mais cresce no Brasil. Um ponto a favor é o ambiente de negócios de Belo Horizonte. “Encontramos na capital mineira um cenário fértil para o desenvolvimento de empresas inovadoras. Além disso, a existência da San Pedro Valley agrega muito valor ao dia a dia, pela troca de experiências e ajuda mútua que nos auxilia a enfrentar os desafios de forma conjunta”, destaca. Serviços como messaging e chatbots têm sido apresentados como a grande tendência tecnológica para os próximos anos. “Vamos usar a experiência acumulada, em 16 anos, para auxiliar empresas a construir canais ricos, práticos e efetivos para se comunicar com os clientes. Em período de crise, o relacionamento com o consumidor torna-se mais crítico e acreditamos que as empresas estão atentas às novidades que podem potencializar o contato”, avalia. A inovação não acontece por si só. No caso da Take.net, o uso de tendências muito novas, como os canais inteligentes de mensagens, ainda, não está consolidado pelo mercado. Segundo o engenheiro, é preciso fazer um trabalho forte para educar os clientes e mostrar as vantagens em adotar esses canais. Internamente, o modelo de gestão que recebe o nome de Take.OS que é baseado


Roberto Costa de Oliveira, engenheiro e especialista em Inovação e Empreendedo‑ rismo pela Universidade de Stanford

em cinco pilares: visão estratégica baseada na plataforma e aplicações de mensageria da empresa, valores que permeiam todas as atividades, design organizacional para alcançar os objetivos, metodologia OKR, para estabelecer foco a curto prazo. Projetos de desenvolvimento para longo prazo e, ainda, Feedbech 360º, momento de apoio aos colaboradores (Take.Seres) para desenvolver habi-

de Ciência e Tecnologia do Estado. Para ele, o governo tem um papel importante no processo de construção de políticas de estímulos ao setor, para beneficiar a todos os empresários. Em poucas palavras, quanto mais forte for a comunidade de startups, melhor será o futuro. Netbee e a Internet das Coisas

lidades técnicas e comportamentais. De acordo com Roberto de Oliveira, essa proposta de gestão é outra inovação da Take.net. “Englobamos pontos indispensáveis para o crescimento da empresa, como desenvolvimento humano, foco no mais importante, clareza nas responsabilidades de cada um e promissora visão de futuro”, detalha. Para fomentar o ambiente de negócios para as startups, o engenheiro mantém um estreito relacionamento com a Secretaria

Outra empresa que está construindo uma história de sucesso é a Netbee. À frente do negócio está o engenheiro eletrônico e eletricista Gibram Raul Campos de Oliveira, 35 anos. “Tudo começou em novembro de 2010, quando criamos a empresa chamada TCBH Engenharia. Na época, seguimos uma abordagem tradicional e desenvolvemos tecnologias de sistemas eletrônicos para as áreas de transporte, indústria e comércio”, comenta. Porém, a empresa não tinha um foco definido.


Divulgação

START UPS

A mudança de rumos aconteceu a partir de 2013, para atender as demandas do segmento de transporte. “Conheci o conceito de startup e criamos a Netbee. Colocamos o nosso potencial a nosso favor”, disse. A equipe de engenheiros com experiência em empreendedorismo, inovação e desenvolvimento de tecnologia, passou a trabalhar em sistemas inovadores, produtos e serviços para a "Internet das Coisas", como a solução para resolver o problema de roubo de veículos, por meio de uma abordagem completamente diferente da tradicional. A Netbee participou do Programa SEED, passou pelo Startup Brasil, foi incubada na INOVA-UFMG e acele44

rada pelo Techmall-MG. Os gestores conquistaram bolsas Rhae CNPq para mestres e doutores. Em 2014, a empresa foi finalista nacional do Desafio Brasil e ficou entre as 30 startups brasileiras mais inovadoras do País. Em 2015, a Netbee ficou entre as 10 startups mais disruptivas e inovadoras do Brasil, segundo o Inovativa. Em 2016, ficou com a 8ª posição entre as startups mais promissoras, segundo o movimento 100 OpenStartups, entre 1.500 concorrentes. No mesmo ano, foi considerada uma das 10 startups do mundo selecionadas para um programa de aceleração de nosso negócio pela maior seguradora do mundo.Apenas duas startups brasileiras foram selecionadas.

"Retornamos, agora, ao Brasil, depois de 40 dias em Madri, e fomos premiados lá como a startup com maior potencial de impacto na indústria mundial de seguros. Esta premiação foi dada pela maior seguradora do mundo. Possuímos visão antecipada de resolução de problemas da área em que atuamos e focamos em ser referência mundial em nosso negócio”, afirma Gibram de Oliveira. O próximo passo é implantar a tecnologia que permite recuperar veículos roubados, de forma gratuita para toda a população, e dez vezes mais barata para as seguradoras se comparada a qualquer solução existente no mundo. A patente está em processo de registro internacional,


Divulgação : foto Guilherme Dardanhan

Campos de Oliveira, presidente da Netbee

A inovação deve vir primeiro, independente das consequências. Não pode ser barrada ou limitada por leis.

Gibram Raul

para 147 países. “Tudo começou quando entendemos e conhecemos o modelo atual de inovação de alto impacto”, enfatiza.

Com o tempo, a startup “correu atrás” de incentivos, por meio da participação de editais e programas de aceleração.

ses, para a implantação da tecnologia desenvolvida pela Netbee. “Somos uma excelente opção para tempos de crise’”, brinca.

Para o empresário, Belo Horizonte é a melhor capital do País para se desenvolver startups, já que possui um ecossistema que se fortalece a cada dia. A cooperação entre as empresas também é uma ferramenta para atingir crescimento e ganho em escala.

Com exceção do SEED e do Sebraetec, eles não receberam recursos financeiros nas outras experiências. Por outro lado, tiveram acesso à capacitação, infraestrutura e condições para o desenvolvimento do negócio. “No Startup Brasil, apesar de termos sido aprovados na edição de 2013, nenhuma aceleradora compreendeu o potencial da Internet das Coisas. Por isso, não fomos aceitos. Essas são barreiras que devemos estar preparados para enfrentar”, alega.

Para tanto, a empresa tem um modelo de gestão baseado no que funciona ou é suficientemente necessário. A metodologia Aqil é usada para a comunicação interna e gestão de projetos. Com o início da implantação do sistema no Brasil, a startup começou a criar um modelo de métricas para as áreas de marketing e vendas.

Gibram de Oliveira abriu a empresa com recursos próprios. Ele pediu demissão de uma das maiores empresas de Engenharia do Brasil, sacou o dinheiro na caderneta de poupança para comprar matéria-prima de um produto que não existia ainda, mas que ele tinha acabado de vender. Chamou um amigo e foram trabalhar. Depois de 30 dias, a mercadoria já estava pronta e entregue ao cliente. “Até hoje recebemos encomendas do dispositivo”, destaca.

Embora o cenário seja de crise, as perspectivas são de crescimento. O retorno da Europa, onde tiveram a oportunidade de estruturar um modelo de negócios global, ampliou as conversas com quatro paí-

Além da iniciativa privada, a Netbee também tem interesse em fazer parceria com o sistema de segurança pública do Estado, para a implantação estruturada do seu negócio. Mas a gestão da startup não depende da chancela pública. “A inovação deve vir primeiro, independente das consequências. Não pode ser barrada ou limitada por leis”, analisa. 45


CDS | SME

COMITÊ DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Projeto de Lei que pretende criar a Política Estadual dos Atingidos por Barragens e outros Empreendimentos: Avanço ou Contradição? *Flávia Frederico Goulart de Oliveira e Laura Castro Othero O Projeto de Lei (PL) nº 3.312 de 2016, que pretende

A proposição estabelece ainda que as ações e medi-

instituir a Política Estadual dos Atingidos por Barragens

das da PEABE constituirão um Plano de Recuperação

e outros Empreendimentos (PEABE), pode incluir mais

e de Desenvolvimento Econômico e Social (PRDES),

uma etapa para a viabilização de empreendimentos no Es-

com caráter suplementar e subsidiário ao disposto

tado de Minas Gerais, cujo procedimento é um dos mais

na legislação ambiental, a ser desenvolvido de forma

complexos do país.

articulada com procedimentos de autorização dos órgãos competentes.

O PL foi proposto pelo governador Fernando Pimentel como resultado dos esforços de um Grupo de Trabalho

A gestão do PEABE competirá ao Comitê Gestor, que terá

instituído pelo Poder Executivo, para apresentação de

a função de coordenar, monitorar e avaliar a execução da

proposta da Política Estadual para Atingidos por Obras

política. Referido comitê, com composição paritária entre

de Infraestrutura e Urbanização. De acordo com o governador, “a instituição da PEABE reflete um avanço social do Estado e um aprofundamento do processo democrático, já que privilegia a construção de soluções que têm por escopo garantir a interlocução entre os órgãos de governo competentes, os empreendedores e os atingidos

o poder público e a sociedade civil, será integrado por 22 membros com direito a voto. Foi proposto que os membros da sociedade civil organizada sejam escolhidos por meio de seleção pública coordenada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC) e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

pela construção, instalação, ampliação e a operação de barragem e outros empreendimentos”

Entretanto, o projeto por si só não garante a interlocução entre os órgãos do governo, empreendedores ou atingidos.

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Em linhas gerais, os principais objetivos são coordenar

A composição do Comitê Gestor do PEABE, ao contrário

e implementar ações mitigadoras de conflitos decorren-

das organizações paritárias que compõem os órgãos do

tes do processo de remanejamento dos atingidos por

Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, não asse-

quaisquer empreendimentos e garantir a interlocução

gura a participação diversificada e equilibrada da sociedade

entre os órgãos de governo competentes, empreende-

civil, por meio de associações, entidades de classes, orga-

dores e atingidos pelo empreendimento.

nizações não governamentais e movimentos sociais.


Laura Castro Othero e Flávia Frederico Goulart de Oliveira

No mesmo sentido, também não se encontra assegurada a participação dos empreendedores, cujo segmento é diretamente afetado pelas mudanças pretendidas pelo PL. Portanto, alerta-se para o respeito a um dos mais caros princípios que regem o Estado: princípio democrático. Por outro lado, em um momento de discussão na sociedade sobre a racionalização das exigências do licenciamento ambiental, referido Projeto de Lei vincula o seu prosseguimento perante o órgão ambiental à prévia homologação do PRDES pelo Comitê Gestor. Assim, merece atenção tal exigência, que vai de encontro ao contido na Política Nacional do Meio Ambiente e na Lei Complementar 140/2011, que determina que a construção, instalação e operação de empreendimentos utilizadores de recursos ambientais dependerão de prévio processo de licenciamento ambiental, que dará origem a uma licença concedida por ente federativo competente, por órgãos executores do Sisnama. Identifica-se aí um conflito interno no próprio texto do projeto de lei, em que se pretende suscitar a característica de subsidiariedade da norma.

natureza industrial, extrativista, minerária e agrossilvopastoril, potencialmente causadoras de degradação socioambiental”. Ora, esse dispositivo amplia a abrangência da proposição para todas as atividades que possam causar degradação socioambiental, independentemente do impacto, constituindo-se não em plano de atingidos por barragens, mas sim em um plano de atingidos por qualquer empreendimento que visa ao desenvolvimento econômico sustentável. A abrangência é tão ampla que se corre o risco de desviar o foco dos atingidos por barragens. Por fim, conclui-se pela necessidade de discussão mais ampla da PEABE com a sociedade, visando amadurecimento de suas disposições, de forma a alcançar realmente seus objetivos, quais sejam: mitigação dos conflitos decorrentes do remanejamento dos atingidos e a interlocução entre órgãos competentes do governo, empreendedores e atingidos. Flávia Frederico Goulart de Oliveira, graduada em direito pela UFMG, advogada inscrita na OAB/MG sob o nº 65.657, consultora jurídica da FEAM de 2002 a 2006 e assessora jurídica ambiental

Deve-se atentar-se ainda, com fins de evitar sobreposição de disposições em planos distintos, para a interface da proposta com a legislação vigente, em especial a Lei Estadual 12.812/98, que regulamenta o parágrafo único do art. 194 da Constituição do Estado, que dispõe sobre o plano de assistência social às populações de áreas inundadas por reservatórios. Outro aspecto relevante é a inclusão de outros empreendimentos no texto do PL. O inciso III do art. 2º descreve empreendimentos como sendo “a construção, a instalação, a ampliação e a operação de atividades ou obras de

da Limiar Consultoria e Projetos Ltda. desde 2006. Laura Castro Othero, jornalista pela PUC Minas, atuou nas áreas de Educação, mídias e governo digitais. É estagiária de Direito na assessoria jurídica ambiental da Limiar Consultoria e Projetos Ltda.

Envie seu comentário sobre o tema desta coluna para o e‑mail jornalismo@sme.org.br para ampliar nossa interlocução, com a publicação das considerações no site e página no Facebook da SME.

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JOVEM ENGENHEIRO | PEDRO HENRIQUE MOURA COSTA

Curiosidade para encontrar soluções para problemas Luciana Sampaio Moreira

ngenheiro de automação graduado pelo Centro Universitário UNA, no final de 2012, Pedro Henrique Moura Costa, 28 anos, sempre teve facilidade com as matérias da área de Exatas. Desde criança, era curioso em saber como as coisas funcionam. Depois de muitas perguntas feitas, ele descobriu que as respostas estão na Engenharia.

E

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bótica me chamaram muito a atenção. A primeira interfere diretamente nos resultados da indústria. A segunda tem relação estreita com as áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica”, relata.

Movido a inovação, ele percebeu que o que, realmente, o motivaria seria trabalhar com algo em que pudesse aproveitar seus pontos fortes para propor soluções para problemas, com criatividade e dinamismo. A Engenharia de Controle e Automação chegou às universidades brasileiras, na década de 1990, com a proposta de unir as áreas de Elétrica, Eletrônica, Mecânica e Computação.

A necessidade de enfrentar esses desafios e a carência de mão de obra qualificada também foram motivos para a escolha do engenheiro. Ele compreende que a Engenharia é, ao mesmo tempo, simples, subjetiva e ampla para materializar métodos e conhecimentos científicos, na forma de soluções que objetivam melhorar a vida das pessoas. “Para isso o engenheiro estuda o problema, planeja uma solução que seja viável técnica e economicamente, para, então, executá-la ou coordenar o projeto”, ressalta.

“Descobri o curso no pré-vestibular, depois de uma pesquisa. Naquele momento, as áreas de Controle e otimização de processos e, ainda, ro-

Os estágios, durante a graduação, contribuíram para o amadurecimento de Pedro Henrique Costa. A primeira experiência, quando ele

estava no terceiro período do curso, foi na multinacional Dalkia, que atua nos segmentos de manutenção e facilities. “Naquele momento, eu fui trabalhar com engenheiros formados. Além dos conhecimentos que adquiri, pude entender na prática como atua um engenheiro e é assim que eu atuo no meu trabalho diário”, afirma. Pelo bom trabalho, o então estudante recebeu uma promoção, mas a vontade de aprender foi maior. Por conta própria, decidiu mudar de ramo. O segundo estágio foi na empresa de projetos de automação industrial TSA, onde ele atuou nos setores de Planejamento e TI Industrial. Com a experiência adquirida ao longo do curso, dentro e fora da sala de aula, Costa não teve dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. O primeiro contrato foi na TSA, onde obteve duas promoções, como engenheiro.


Para ele, as oportunidades e a disponibilidade que são oferecidas pela empresa, quando se trata de investimento no conhecimento, têm sido um fator motivacional. “Temos total apoio por parte dos gestores para realização de cursos externos, sendo que, em grande parte, são custeados pela própria empresa. Além disso, temos a oportunidade de participar de congressos, onde podemos publicar artigos técnicos”, comenta. Atualmente, ele trabalha com projetos direcionados para a indústria, na Linx Process, uma empresa do grupo TSA. Além da operação, Costa também atua como cliente e/ou gestor. Por isso, a escolha de um curso de pós-graduação tem de ser “sob medida”. O plano do engenheiro é um programa de Gestão de Projetos, seguido de mestrado em Controle de Processos, para aperfeiçoar as habi-

Pedro Henrique Moura Costa compreende que a Engenharia é, ao mesmo tempo, simples, subjetiva e ampla para materializar métodos e conhecimentos científicos, na forma de so‑ luções que objetivam me‑ lhorar a vida das pessoas.

lidades já adquiridas e ampliar o leque de oportunidades para a carreira. No momento, ele está concluindo o curso de inglês e já planeja iniciar espanhol, uma vez que a empresa está buscando novos negócios na América Latina.

tempo com a minha família. Sempre que posso, reúno os amigos “, conta. Mas, se um assunto tecnológico aparecer, ele não deixa para depois. Para quem trabalha com prazer, não há hora certa para investir no futuro profissional.

“Apesar da crise e da retração da área de Engenharia, é possível enxergar uma luz no fim do túnel, pois sabemos que sempre existirão períodos difíceis e de retomada de crescimento, que vêm acompanhados da abertura de novas vagas de trabalho para engenheiros”, enfatiza.

Mas não basta apenas os conhecimentos técnicos. O jovem engenheiro sabe que parte importante do trabalho que ele faz tem como base a capacidade de liderar equipe e a segurança necessária para tomar decisões. Esses são atributos que os profissionais da área também devem exercitar. “A vida profissional e a vida social acabam se confundindo um pouco. Há coisas do trabalho que trouxe para minha vida cotidiana, e coisas do meu aprendizado familiar que, também, fazem parte da minha atividade profissional”, conclui.

Solteiro, o engenheiro pretende se casar e ter filhos. Mas, no momento, ele aposta na carreira, que tem sido motivo de grande alegria. “Nas horas de lazer, faço o que gosto, pratico esportes e passo

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MARKETING

Construtoras mineiras apostam em novas tecnologias para atrair e fidelizar clientes

pesar da retração de 9% do número de aparelhos de telefonia celular, em março de 2016, no comparativo com o mesmo mês do ano anterior, o Brasil tem 125,42 equipamentos para cada grupo de 100 habitantes, segundo dados da Anatel. Não há como negar que a ideia de “carregar o mundo na palma das mãos” veio para ficar.

A

A indústria da construção civil já percebeu a força dessa tendência. Muitas construtoras mineiras incluíram as chamadas novas tecnologias de comunicação com o consumidor no seu portfólio de diferenciais competitivos, para auxiliar a tomada de decisões do cliente ou mesmo a sua fidelização, ao longo do tempo. Fundada há 41 anos, a Katz Construções, empresa do Grupo Katz, tem apostado em novas tecnologias para oferecer ao cliente uma experiência diferente da tradicional na compra do imóvel. Dessa forma, todos os imóveis em construção na capital podem ser vistos por meio da realidade virtual. “A pessoa anda pelo apartamento e também nas áreas comuns”, explica o presidente, Daniel Katz. 50

Daniel Katz, presidente da Katz Construções

A plataforma de realidade virtual ainda é uma novidade no Brasil, assim como a experiência de interação com o cliente. “Essas ferramentas ajudam muito na decisão de compra do imóvel”, afirma. Outra tecnologia bastante usada, são os drones. Eles captam imagens que são transformadas em vídeos, com exibição em canal do Youtube, site da empresa ou pelas redes sociais da construtora. “No nosso lançamento, na região das Seis Pistas, em Nova Lima, não temos apartamento decorado tradicional, mas o imóvel no


Ação de marketing feita no estande do empreen‑ dimento, onde a ambientação foi criada para utilização de óculos de realidade virtual, (Rift), simula um voo de balão, permitindo a sensação de presença no local e vivenciar o espaço.

ambiente virtual. O cliente consegue ver o produto pronto e o nosso custo cai pela metade com o uso dessa ferramenta. Tem sido muito bom para os negócios”, explica o empresário. A Direcional Engenharia, também, tem investido muito em novas tecnologias. Segundo a gerente de Comunicação e Marketing da empresa, Renata Mattos, essas ferramentas mudaram a forma como as empresas se relacionam com seus clientes ou potenciais consumidores e vice-versa. “Hoje, grande parte da nossa vida acontece no ambiente online. Fazemos compras, pesquisas sobre produtos e empresas, lemos notícias e essa nova realidade nos traz clientes mais informados e conscientes do processo de compra de um imóvel. Temos que estar prontos para nos relacionar com esse novo consumidor”, enfatiza. 51


MARKETING

Assim, todas as campanhas de mídia são pensadas para interagir também no ambiente virtual. Anúncios no Google, Facebook e portais de imóveis têm conteúdo específico, para chamar a atenção do consumidor para os empreendimentos da construtora. “Também monitoramos e cuidamos da reputação da empresa nas redes sociais. Buscamos uma relação de transparência com todos os públicos com os quais nos relacionamos”, ressalta. É no estande de vendas que a Direcional procura conquistar o seu cliente. Em dois lançamentos, foi usada a tecnologia do tour virtual na área de lazer, por meio dos óculos Rift. Dessa forma, as pessoas puderam vivenciar aquele espaço e vislumbrar as mudanças propostas para a região. “Todas as nossas estratégias são pensadas de acordo com o público dos nossos produtos e suas peculiaridades. Desta forma, conteúdos e campanhas digitais são direcionados, pois para conseguir estabelecer um bom relacionamento, é preciso que gerem identificação”, analisa. Um bom exemplo dessa iniciativa foi a webserie “Como Comprar seu Imóvel”, que foi especialmente criada para consumidores interessados em apartamentos de porte médio. Como o projeto deu certo, a empresa já está criando uma nova série, focada no público econômico. Segundo Renata Mattos, o conteúdo visa despertar o interesse deste segmento para compra, passar as informações do processo de forma 52

Robson Fontenelle, diretor da Fábrica Comunicação e professor de cursos de pós‑graduação

simplificada e orientá-lo a manter a saúde financeira para quitar as parcelas.

panham cada detalhe e podem, inclusive, apontar problemas ou falhas”, alerta.

Neste ano, a empresa também promoveu uma campanha de marketing educativa – “Boa Hora” – para despertar o cliente para as oportunidades de compra. Segundo a gestora, foram produzidos vídeos nas redes sociais e peças de mídia direcionadas para esse tema.

Por outro lado, em um cenário de instabilidade econômica, os consumidores se sentem mais seguros porque podem ver, passo a passo, a construção. Segundo Fontenelle, os excelentes resultados alcançados têm feito com que o mercado seja mais receptivo às novidades tecnológicas.

Novas tecnologias realmente chamam a atenção do consumidor. E não poderia ser diferente. O diretor da Fábrica Comunicação e professor de cursos de pós-graduação, Robson Fontenelle, explica que o consumidor de hoje deseja uma experiência diferente no momento da compra e um acompanhamento estreito, no pósvenda, principalmente, quando se trata de produtos de alto valor agregado, como é o caso de um imóvel. “O uso da tecnologia, nesse caso, representa maior comodidade para o cliente que pode acompanhar a execução do projeto, sem ter que se deslocar. Nessa lógica, o canteiro de obras ganha novos olhos, que acom-

No caso da indústria da construção, o processo de compra é lento. O cliente fidelizado volta com algum espaço de tempo, se for para morar. No caso de investidores, a frequência é maior. No entanto, a possibilidade de ter um contato mais direto com a empresa representa uma segurança a mais. Novos clientes também gostam de uma experiência diferenciada. “Vivemos em uma sociedade imagética ao extremo e isso deve ser lembrado pelas empresas. Deixar a imagem disponível para o acesso do consumidor pode, inclusive, viralizar na rede”, aponta o jornalista.


MESTRES DA ENGENHARIA

Colegas de profissão, amigos para sempre Luciana Sampaio Moreira

L

ogo depois da formatura, os alunos da 77ª turma de engenheiros de minas, metalurgia e civis da Escola de Minas decidiram que, a cada cinco anos, fariam um encontro em Ouro Preto. E assim foi feito. Em 2015, por ocasião dos 60 anos de graduação, seis integrantes da classe de 24 estudantes – a maior até 1955 – voltaram à cidade onde moraram, estudaram e se prepararam, muitas vezes longe da família, para a vida profissional. Acompanhados pelos familiares, receberam homenagens da instituição e também das repúblicas. Paschoal Paione Netto, 85 anos, saiu de Varginha para fazer o segundo grau em Uberlândia e preparar-se para o vestibular na tradicional Escola de Minas. Depois de formado, fez carreira na área de Engenharia Civil e teve uma trajetória profissional de grandes experiências. Construiu de tudo um pouco e afirma que tudo o

que fez tem como base o aprendizado na Escola de Minas. “Naquele tempo, as universidades não tinham a pretensão de encher as salas de aula. Queriam os melhores. Se a gente não passasse, tinha que voltar no ano seguinte. Se perdesse uma matéria, repetia o ano. A turma era unida e o contato com os professores era mais próximo. Sabíamos que estávamos ali para estudar – e muito - porque o nível de exigência era alto. Nossa recompensa era imediata porque já saíamos da universidade com boas vagas de emprego”, relata. Em Ouro Preto, a sua casa foi a República Pif-Paf, da qual nunca se afastou. “Sempre me escrevem pedindo alguma contribuição para as festas. Eu dou. No começo, eu sempre ia na “Festa do Doze”, mas depois vi que não dava conta de tanta agitação. Mas não deixo de privilegiar os encontros da turma, sempre no Grande Hotel de Ouro Preto, onde fazíamos os nos-

sos eventos desde a escola”, comenta. A vida social dos alunos acontecia nas festas promovidas no Centro Acadêmico.Ali, eles conheciam outros colegas e, no caso de Paschoal Paione Netto, a futura esposa. Como muitos estudantes de Ouro Preto, ele saiu da cidade muito bem casado com Terezinha. Natural de Sacramento, no Triângulo Mineiro, o engenheiro Paulo Mendes, 86 anos, construiu uma carreira de sucesso na área de mineração.A cada cinco anos, ele faz questão de retornar a Ouro Preto e, além do encontro com os ex-colegas e amigos de toda uma vida, ele também visita a república Pif-Paf, onde morou. “Eles nos recebem muito bem e preparam as homenagens com direito a muita cerveja e bate papo. Neste ano, os atuais alunos me surpreenderam. Primeiro me passaram a palavra e depois ajoelharam e pediram a minha benção”, conta sem esconder a emoção. 53


MESTRES DA ENGENHARIA

Em pé, da esquerda para a direita, José Ignácio Fonseca, João Vilar Etrusco, Alberto Carlos Almeida e Paschoal Paione Netto. Sentados, José Francisco Barreto Sobral e Paulo Mendes.

O ambiente das repúblicas mudou, mas os antigos alunos não se esquecem da rotina das aulas e da convivência com os colegas. “Tínhamos cozinheira e todos almoçavam em casa. Isso mantinha a união do grupo. Depois da formatura, mantivemos um vínculo muito forte com os colegas”, disse Mendes. Ativo, o engenheiro sai todos os dias de casa, rumo ao escritório que mantém em sociedade com o colega de turma, Luiz de Oliveira Castro. Mesmo aposentado, gosta da rotina de sair para trabalhar. A Escola de Minas homenageia os exalunos que completam 25, 50 e 60 anos de formados na instituição.“Dão medalha, inclusive”, destaca o engenheiro João Villar Etrusco, 85 anos. 54

Além de encontrar com os outros cinco amigos de sala, ele aproveitou para visitar a República Esparta, onde também foi recebido com festa. “Nós temos uma estima muito grande. Consideramos Ouro Preto como nossa segunda cidade. A população nos recebeu muito bem, quando fomos estudar, e a convivência dos alunos era muito boa”, afirma o engenheiro que, ao todo, morou por 11 anos na cidade. Natural de Ponte Nova, ele teve a sorte de estudar “perto de casa”, embora a viagem de trem para rever a família fosse bastante demorada. O que ficou de toda essa experiência, foi a confiança na qualidade do ensino

que ele recebeu e, também, as amizades que alcançaram sete décadas. Uma vez graduado, retornou para Ponte Nova, onde iniciou sua carreira e casou-se. Neste ano, a Escola de Minas de Ouro Preto comemora 140 anos de fundação. Nos primórdios, o imponente prédio que fica na Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto, recebia uma média diária de 120 estudantes. Hoje, a Universidade Federal de Ouro Preto, fruto da fusão da Escola de Farmácia (1893) e a Escola de Minas (1876), ocorrida em 1969, tem 37 cursos e 17 mil estudantes de graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e EAD (educação a distância).


REPÚBLICA PIF-PAF COMEMORA 70 ANOS DE ATIVIDADES Fundada, em 14 de abril de 1946, por quatro alunos da Escola Nacional de Minas e Metalurgia – Geraldo de Almeida Fonseca, Caio Vierno Leão, Fernando Homem da Costa e João Batista Sabino – a República Pif-Paf acaba de completar 70 anos de atividades. Por lá, passaram mais de 120 ex-alunos dos cursos de Engenharia. No sétimo período do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o estudante Dione Carlos Soares da Silva, 22 anos, divide a casa do bairro Pilar com mais 16 futuros engenheiros. A famosa “Festa do Doze” é o evento mais tradicional da UFOP que, em parceria com a Associação dos Antigos Alunos da Escola de Minas e Fundação Gorceix, engloba uma série de homenagens e atividades que possibilitam a confraternização dos exalunos, que retornam a Ouro Preto especialmente para a data. Paralelamente às atividades e solenidades realizadas pela Escola de Minas, a República Pif-Paf promove a sua festa interna. A comemoração é marcada pela presença de um grande número de ex-alunos que retornam a

Ouro Preto a fim de reencontrar os amigos de sua época, os atuais moradores da República, visitar a Escola de Minas, fazer contatos e confraternizar com as gerações de alunos que passaram pela república e pela cidade. “As contribuições que recebemos dos ex-alunos para esses eventos são para o pagamento dos custos”, explica. Segundo Dione Carlos da Silva, a oportunidade de contactar os exalunos é sempre interessante para os estudantes. “São momentos de crescimento e desenvolvimento intelectual, acadêmico e social. O encontro com nossos ex-alunos propicia a integração, o respeito e amizade das diferentes gerações que por aqui passaram e passarão, através dos bons debates sobre a República, conselhos e compartilhamento de experiências, tanto profissionais quanto pessoais, e das diversas histórias hilárias e fantásticas vividas por cada um em sua época”, relata. Não há como não reconhecer que os tempos mudaram. Mas a vida estudantil em uma República marca a vida dos alunos, para sempre. Em nome

dos Pif-Pafianos, o estudante resume a experiência.“Quando nós deixamos nossas casas e nossas famílias em busca de um "lugar para morar" em Ouro Preto, não temos nem ideia da dimensão do que realmente é viver em uma República como a Pif-Paf. Desde nossos primeiros dias como calouros, até o momento da inauguração do quadrinho, finalizando a graduação, aprendemos a conviver com outros estudantes de diferentes origens e culturas, a administrar e gerir nossa casa, trabalhar em equipe, inclusive em relação aos estudos. Além de estimular a interação social, a vida na República faz que nós desenvolvamos qualidades fundamentais para um bom profissional como dinamismo, organização e pro-atividade”, afirma. Para manter viva a tradição da República, há o projeto Eterno Pif-Pafiano, no qual os ex-alunos fazem contribuições para a manutenção da infraestrutura da casa. “Estamos em um imóvel histórico que requer cuidados específicos’, ressalta. Com os fundos arrecadados, entre 2014 e 2015, conseguimos fazer a reforma estrutural externa e pintura da casa. 55


LEGISLAÇÃO | MEIO AMBIENTE

Mudanças na Política Nacional de Meio Ambiente estão em curso Luciana Sampaio onsiderado o maior legado da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6938/1981), o processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de Engenharia parece estar com os dias contados.

C

No final de abril, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) aprovou o projeto de Lei do senador Romero Jucá (PMDB/RR), (PLS nº 654/2015), que prevê criação de regras distintas para o licenciamento ambiental de obras de infraestrutura como rodovias, hidrovias, portos, ferrovias, aeroportos e empreendimentos de telecomunicação e energia. Mas a mudança não para por aí. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC nº 65/2012), de autoria do senador Acir Gurgacz (PDT/RO), também, teve redação apresentada e aprovada pela mesma comissão. Com base no artigo 7º, a nova regra vai alterar completamente a sistemática do licenciamento e separar a atividade econômica da proteção ambiental. Da forma como está, estabelece que basta apresentar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) pelo empreendedor para que o em56

preendimento seja aprovado e possa ser levado a diante. Além de leis específicas, há duas resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) – 001/86 e 237/97 – que tratam do EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e do Licenciamento Ambiental em geral) que dão suporte ao tema. Elas,também, devem ser impactadas pela mudança.

Ronaldo Vasconcellos Novais, Engenheiro eletricista e de segurança e ex‑secretário municipal de Meio Ambiente

Engenheiro eletricista e de segurança graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), ambientalista, sete mandatos eletivos como vereador, deputado estadual e federal, ex-vice prefeito de Belo Horizonte, ex-secretário muni-

cipal de Meio Ambiente, ex-presidente da Copasa, Ronaldo Vasconcellos Novais afirma que, apesar da importância dos temas relacionados à proteção ao meio ambiente e da visão alarmante de cientistas de todo o mundo, essa não é uma causa que


O processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de Engenharia parece estar com os dias contados.

caiu, de forma decisiva, na lista de reivindicações consideradas essenciais pela sociedade. “As pessoas cobram saúde, segurança e educação, mas quase não falam sobre a proteção ao meio ambiente”, afirma. Em relação às mudanças propostas no cenário nacional ele é categórico. “Depois de 35 anos, a legislação precisa ser modernizada. Mas isso não quer dizer que as regras do processo de licenciamento ambiental sejam simplificadas ou flexibilizadas para atender aos interesses econômicos apenas. “Mas isso não quer dizer que as regras devem ser facilitadas. Isso não pode acontecer”, adianta. No cenário estadual, o clima também é de mudança. Entre erros e acertos,

o governo de Minas Gerais também apresentou um projeto para flexibilizar o licenciamento ambiental, para atender a uma antiga reivindicação dos empreendedores e investidores imobiliários. Em contrapartida, também, enviou uma proposta que “endurece” as regras para a construção de barragens no Estado. Essa última é uma resposta atrasada ao rompimento da Barragem do Fundão, no Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), em novembro de 2015. Na gestão municipal de Belo Horizonte, a situação não é muito diferente. Na Secretaria de Meio Ambiente o gestor da pasta é adjunto. Segundo Vasconcellos, a questão do licenciamento ambiental também tem contornos duvidosos.

“Na prática, basta “passar lá que está resolvido. Não há respeito às regras do licenciamento ambiental”, reafirma. De herói a vilão, o licenciamento ambiental tem sido apontado como o grande culpado pelos atrasos dos empreendimentos, e pela perda de competitividade da indústria da construção civil. De acordo com Ronaldo Vasconcellos, as falhas e morosidades do processo podem ser corrigidas, sem que a legislação seja flexibilizada ou simplificada. Para o engenheiro, falta mão de obra qualificada, principalmente, na área de projetos. Prova disso é que o mercado do setor tem promovido a sistemática separação “do joio e do trigo”, onde permanecem as empresas realmente qualificadas para a prestação desse serviço. 57


LEGISLAÇÃO | MEIO AMBIENTE

O Brasil é um País biodiverso, cada região tem as suas próprias características, logo precisamos atentar para a legislação ambiental aplicada em cada situação ou indústria de produção.

CAPACITAÇÃO É aí que a competência técnica dos engenheiros pode fazer toda a diferença.Apesar de buscarem novos materiais, processos e fontes de energia, os profissionais da área ainda precisam incluir, de fato, a proteção ao meio ambiente aos aspectos considerados essenciais para um empreendimento realmente sustentável. Segundo a bióloga e mestre em Ciências Biológicas pela UFMG e professora de Gestão Ambiental e Responsabilidade Social para os cursos de Engenharia Civil, Mecânica e de Produção do IBMEC/MG, Bernadete de Souza Santos, o momento é de grande perplexidade em relação à aprovação da PEC 65/2012. “Confesso que fiquei profundamente surpresa e vi cair por terra a legislação ambiental brasileira e considero que esse é um flagrante desrespeito à Constituição, que torna letra morta tudo o que diz respeito ao meio ambiente. O desenvolvimento sustentável aplicado aos projetos de Engenharia é o maior desafio dos profissionais da área. Da mesma forma, a responsabilidade socioambiental compactuada com o bem-estar das comunidades, também, é um fator a ser considerado, no dia a dia de trabalho. “Os engenheiros precisam entender o desenvolvimento econômico minimizando os impactos ambientais, mas percebe-se ainda uma certa carência de informações e um conhecimento ainda insípido sobre meio ambiente e da legislação ambiental. O Brasil é um País biodiverso, 58

Bernadete de Souza Santos, bióloga e mestre em Ciências Biológicas pela UFMG, professora de Gestão Ambiental e Res‑ ponsabilidade Social para os cursos de Engenharia Civil.

cada região tem as suas próprias características, logo precisamos atentar para a legislação ambiental aplicada em cada situação ou indústria de produção”, pondera. Projetos de saneamento básico são parte do trabalho a ser feito, segundo a professora. Da mesma forma, os investimentos na matriz energética, com incentivo ao desenvolvimento das fontes alternativas, também, podem gerar desenvolvimento e melhor qualidade de vida para a população.


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