Entrevista Tião Rocha - Revista: Sorria #44 | jul/ago.2015

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valores essenciais

tudo que vivemos tem uma face positiva e outra negativa, mas nosso cérebro tende sempre a ver o copo meio vazio. cabe a cada um escolher se prefere encarar a realidade com pessimismo ou otimismo texto rafaela carvalho lettering guilherme menga

Tião Rocha, 66 anos, educador, deixou a carreira na universidade para inventar novas formas de ensinar Qual é a diferença entre professor e educador? “Educar é promover espaços de participação, solidariedade e respeito em que todos aprendem juntos. Mais do que dar aulas, é importante gerar ambientes e processos favoráveis ao aprendizado.”

O CLARÃO DA ENSINAGEM

O que te motiva a ser

O educador Tião Rocha sabe bem disso e conhece o Vale do Jequitinhonha como poucos. Depois de passar 32 anos lecionando história em escolas privadas e faculdades em grandes cidades mineiras, em 1984 ele teve um “clarão” – é assim que Tião gosta de se referir ao que os americanos chamam de insight e os mais místicos descrevem como “despertar interior”. Deu-se conta de que suas aulas precisavam de menos conceitos e mais vida. “Percebia que dava muita atenção à história da humanidade e

otimista mesmo em situações difíceis? “Ao decidir ser otimista, consigo enxergar © Foto: Danilo Verpa/Folhapress

magine o seguinte cenário: região de clima semiárido, terra rachada, vegetação pobre. Entre arbustos secos, é comum ver casas feitas de barro, com uma rocinha modesta e condições de higiene precárias. Os indicadores sociais são preocupantes. De acordo com os dados mais recentes do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, na cidade que leva o nome dessa região, a renda mensal por habitante não chega a R$ 400, 56% da população está em situação vulnerável à pobreza, apenas 16,3% dos indivíduos entre 18 a 20 anos estudaram até o fim do ensino médio e quase 70% dos adultos sequer concluíram o ensino fundamental. Agora apague a imagem da sua cabeça e pense em outro cenário. Região com paisagem natural variada, inclusive com belos trechos de Mata Atlântica original, entrecortada por diversos rios, solo com boa textura, subsolo rico e com indicadores sociais em franco crescimento. Na cidade que dá nome à região, a taxa de mortalidade infantil caiu pela metade e a expectativa de vida cresceu oito anos nas últimas duas décadas, a quantidade de jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo aumentou 900% desde 1991, a população é jovem e apenas 6% dos maiores de idade não estão trabalhando. Essa é uma região com histórico de grande mistura de raças, com importante influência das culturas indígena e negra nos seus hábitos e enorme riqueza artística. E se disséssemos que os dois cenários que você acabou de imaginar são da mesma região? Sim, todas as características descritas dos dois parágrafos anteriores fazem parte da realidade do Vale do Jequitinhonha, região localizada no nordeste do estado de Minas Gerais. Há quem associe o Jequitinhonha às precariedades que o assemelham ao sertão nordestino e há quem prefira exaltar seus potenciais e recentes boas notícias. É um bom exemplo de que a forma como enxergamos a realidade depende um tanto das intenções do nosso olhar.

potenciais escondidos até em situações aparentemente negativas e, assim, levar dignidade para quem não sabe buscá-la.” 24 revista Sorria

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RICARDO SHIMOSAKAI, 47 anos, turismólogo, criou uma agência focada em turismo adaptado após tornar-se paraplégico O que te motivou a buscar o lado positivo da vida depois de encarar uma tragédia? Acreditar que as coisas vão dar certo é a

MELHOR OU MENOS ruim?

única escolha possível.

Aplicando a perspectiva otimista que Tião escolheu para encarar a realidade, é interessante observar como, de repente, o mundo pode parecer bem diferente. Dá até para fazer um diagnóstico e continuar vendo o copo meio cheio. Fiando-se apenas no lado positivo das estatísticas, poderíamos garantir que, nos últimos cinquenta anos, as condições de vida no mundo vêm melhorando aceleradamente. Logo explicaremos por que isso acontece, mas, antes, para não duvidar da afirmação da frase anterior, veja só estes dados:

Ser otimista é o que garante que vou me levantar todos os dias para viver minha vida. Como você transmite esse espírito positivo para os seus clientes? Quando adaptamos o turismo para pessoas com deficiência, não permitimos só que © Foto: Lucas Mauá/ Editora MOL

ensiná-las a cozinhar; já que iam fazer biscoitos, por que não desafiá-las a escrever seu nome com a massa de polvilho? “Quando os alunos perceberam que os assuntos que eles colocavam em pauta eram levados a sério, entenderam que sua voz importava e passaram a trazer temas cada vez mais refinados.” E assim Tião seguiu em frente, sempre “paulofreirando” – um verbo criado por ele mesmo, em homenagem ao pedagogo Paulo Freire, o papa da educação popular no Brasil e, portanto, um dos seus heróis. Ensinando desde o bê-á-bá até técnicas de armazenamento de água da chuva, sempre com muita criatividade, Tião criou oficialmente o CPCD e foi influenciando a educação de crianças e adolescentes não só em Curvelo, mas também em cidades no Vale do Jequitinhonha – como Araçuaí, atualmente a principal vitrine do projeto – e, depois, em São Paulo e no Maranhão. Até hoje, mesmo contando com o apoio de grandes empresas e órgãos de fomento, uma regra do educador é nunca começar a atuar em uma comunidade com base em um diagnóstico. “Diagnosticar é olhar o copo meio vazio, buscando enxergar o que está faltando, e não o potencial que cada pessoa pode me oferecer. Esse é o lado meio cheio do copo, e é nele que sempre vou investir”, conclui Tião Rocha, ajeitando o chapéu de palha na cabeça e abrindo um simpático sorriso.

elas conheçam pontos turísticos: damos autonomia a elas. Tendo controle sobre sua vida, sentem-se mais felizes."

* Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa de vida média no mundo em 1900 era de 31 anos – mais ou menos, a mesma da Idade Média. Hoje é de 68 para homens e 73 para mulheres.

a reda ad

o çã

pouca atenção às histórias dos meus alunos”, conta. Foi quando entendeu que não queria mais ser professor, mas, sim, educador. “São coisas diferentes”, explica. “Ser educador significa se tornar um constante aprendiz, inclusive enquanto se ensina.” Pediu demissão da Universidade Federal de Ouro Preto e resolveu cair na estrada, buscando a humanidade que faltava às suas aulas. Mas onde a encontraria? Decidiu que sua primeira parada só podia ser uma: a cidade de Curvelo, outrora descrita pelo escritor Guimarães Rosa como a capital da sua literatura. Fã de carteirinha do escritor, confiou na sua indicação e partiu em direção ao Jequitinhonha – Curvelo fica um passo antes do Vale, na sua fronteira ao sul. Chegando lá, não deu muita importância a dados estatísticos, afinal queria mesmo era conhecer as pessoas e, para isso, precisava “prosear” com elas. Reuniu curiosos e os provocou com uma pergunta: “Será que é possível fazer educação sem escola?”. Os que encararam a questão como um desafio viraram os primeiros voluntários de uma experiência que daria origem ao Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), uma ONG que hoje beneficia cerca de 8 mil pessoas, em dez municípios brasileiros e eventualmente até em outros países, como Equador, Peru e Moçambique, que já adotaram metodologias criadas por Tião e sua turma. Mas, antes de atingir tanta gente – e até ser entendido de fato como uma ONG –, o embrião do CPCD foi uma escola diferente, ou melhor, um local de “ensinagem”. Debaixo de um pé de manga, sem ter sequer cadeiras, cadernos, livros, lápis e borracha, Tião reuniu sua primeira turma. “Notamos que a escola é só um dos caminhos para a educação”, explica o educador. O conteúdo das aulas era escolhido a cada dia pelos próprios alunos: das suas inquietações e curiosidades até as questões específicas da comunidade, tudo era posto em discussão. Aos poucos, Tião enxergou os potenciais daquele grupo e foi ensinando conforme os interesses, as necessidades e os próprios conhecimentos dos alunos. Como a escola não possuía cadeiras, eles tinham de confeccionar tapetes para não se sujar; se as crianças chegavam na aula com fome, Tião chamava uma cozinheira da comunidade e aproveitava para

Dic

valores essenciais

MILK, A VOZ DA IGUALDADE

A cinebiografia do ativista gay Harvey Milk ensina a não abandonar o sorriso nem quando as batalhas parecem fadadas à derrota. Milk é um exemplo de persistência.

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espertos do que ele. Mas, já que estamos falando de otimismo, aqui vai uma boa notícia: dá para burlar nosso cérebro e trocar a escuridão das cavernas pelo brilho do sol.

* Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de mortalidade infantil caiu em todos os países, passando, na média mundial, da casa de 150 mortes a cada mil nascimentos nos anos 1950 para a casa dos 40 hoje.

28 de fevereiro de 2001. O empresário Ricardo Shimosakai nunca se esquecerá do dia em que sua vida mudou para sempre. Foi questão de minutos. Ele caminhava pela calçada do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando foi abordado por um grupo armado e colocado à força dentro de um carro. Talvez quisessem "só" levá-lo para sacar dinheiro em um caixa eletrônico. Na dúvida, contudo, aproveitou o primeiro semáforo e tentou fugir. Quando ouviu o barulho do tiro e caiu no asfalto, notou que tinha feito a escolha errada. No hospital, salvaram-lhe a vida, mas não o movimento das pernas. Ricardo ficou paraplégico. A vida mudou. O paulistano precisou desacelerar a rotina agitada de trabalho e viagens para enfrentar três meses de tratamento e reabilitação, mas, em nenhum momento, viu sua nova condição como uma derrota. “Queria descobrir formas de retomar minha vida, considerando minha nova condição. Tomei a decisão de ser feliz mesmo em uma cadeira de rodas”, conta. A primeira descoberta foi o tênis de mesa para cadeirantes. Ricardo aprendeu não só um novo esporte, como fez um novo grupo de amigos, com quem começou a viajar para disputar campeonatos. “Nesse período, aprendi duas lições valiosas: eu precisaria ser forte e, com essa força, venceria quaisquer dificuldades que viriam.” Já que teria forças para encarar qualquer desafio, decidiu tentar realizar um sonho. Louco por viagens, resolveu fazer do Turismo sua profissão e, na sua nova condição, acabou descobrindo uma oportunidade. Em 2004, prestou vestibular, ingressou na faculdade de Turismo e passou a investigar o universo do turismo adaptado. Viu que havia muito mais possibilidades do que imaginava, mas pouca gente explorando-as no Brasil. Foi então que criou sua própria agência e passou a atender pessoas com deficiências físicas ou mentais que queriam viajar. Gente como

VIDA NOVA

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Enfim, são tantos dados positivos que o engenheiro Peter Diamandis, fundador da tão nova quanto prestigiada Singularity University, na Califórnia (EUA), resolveu escrever um livro no qual decreta que nunca vivemos em uma época de tantas oportunidades no nosso planeta. Em Abundância: O Futuro é Melhor do que Você Pensa, ele colore o quadro com ainda mais dados e explica a questão que deve estar apitando na sua cabeça neste exato momento: mas, se tudo está mudando para melhor, por que então só há más notícias nos jornais e sinto que estamos afundando na areia movediça? Nós respondemos: a culpa é do seu cérebro! Quer dizer, do seu, do meu, o do editor do noticiário e o de todo mundo que tem um. Graças a um mecanismo de defesa comandado por uma parte do cérebro, chamada amígdala cerebral, somos direcionados a dar mais atenção a tudo aquilo que representa uma ameaça à nossa sobrevivência. É assim desde que éramos peludos feito macacos, e más notícias – tais como “Vem chuva por aí”, “Tá ruim de caça hoje” ou “Tem um leão ali na porta da caverna” – realmente podiam soar como uma sentença de morte. Aí nosso cérebro se acostumou a esse mecanismo alarmista e nos orienta até hoje a preferir sempre ver o copo mais vazio do que cheio. Para burlar esse sistema, temos de ser mais

Dic

* Nunca ingerimos tantas calorias; nunca tivemos tanto acesso a água tratada, eletricidade, vacinas e medicamentos; nunca os meios de comunicação foram tão acessíveis; nunca vivemos uma época tão pacífica...

ROCKY, UM LUTADOR

Vale pelo lema do protagonista: “Não importa quanto você bate, mas, sim, quanto você aguenta apanhar e seguir em frente”.

AUTOANÁLISE em 6 perguntas

AFASTE O PESSIMISMO E SEJA POSITIVO!

nossa TENDÊNCIA natural é ver o lado ruim das coisas. mas podemos escolher: FICAR com a má notícia ou procurar saídas

Você se sente pessimista ou apenas não despreza as más notícias?

Será que seu pessimismo não é um otimismo com excesso de prudência?

Se o negativismo te imobiliza, pense: será preguiça ou autossabotagem?

Ser pessimista é deixar que o medo

Existe uma espécie de pessimismo

Temer riscos é normal, mas, muitas

do pior bloqueie a busca de soluções.

positivo, que é quando projetamos

vezes, buscamos uma informação ruim só para deixar de encarar um desafio.

Isso não pode ser confundido com

o pior cenário a fim de evitá-lo. Tem

o ato de analisar os pontos negativos

gente que funciona muito bem assim

Analise-se. Se sentir que você está

e riscos da situação. Informar-se

e até poderia chamar seu estilo de

se sabotando, procure informações

é sempre bom, mesmo que a análise

otimismo pragmático. Nesse caso,

positivas para equilibrar a balança.

só gere dados ruins.

você é um falso pessimista.

Senão, é só preguiça.

Preguiça não é doença, mas estado de espírito. Que tal dar um drible na sua?

Agora que você está motivado e pensando positivo, é hora de agir. Como?

Você encara os desafios da vida com otimismo, mas está cercado por pessimistas? Não conte com o otimismo coletivo

Se olhar para o futuro e ver uma luz

Trace um plano e ponha-o

no fim do túnel não está funcionando

em prática. Talvez não dê certo.

para começar a agir. As pessoas

para reverter sua falta de estímulo,

Aí você terá de traçar outro plano

são diferentes e vivem diferentes

tente olhar para o mesmo túnel e

e tentar de novo. Há conserto para

contextos. Portanto, não deixe o

imaginá-lo em completa escuridão.

quase tudo na vida. Para o que não

pessimismo alheio te influenciar.

O futuro virá de qualquer jeito.

tem jeito, o foco tem de ser, pelo

Saiba o que esperar de cada parceiro,

Melhor com luz, não?!

menos, melhorar a situação.

independentemente do astral deles.

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© Ilustração: Leandro Robles / Pingado

* De 1820 a 2010, de acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a renda per capita média no mundo passou de 605 dólares para 7 890 (por ano, em valores corrigidos).


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FABRICANDO FELICIDADE

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Cícero Batista, 34 anos, médico em Brasília (DF), descobriu a medicina folheando livros no lixão e tornou-se dr. Cícero Como você resume sua trajetória? “Eu era um menino magro, sujo e pobre que não tinha o que comer. Sabia que havia apenas dois caminhos: os estudos ou a fome pelo resto da vida. Hoje sou médico e ajudo a vida dos outros." Onde você encontrou forças para sair da miséria e chegar à universidade? “Nunca fui o aluno mais inteligente, mas certamente fui o © Foto: Cristiano Mariz

A história do Ricardo faz lembrar uma pesquisa interessante, realizada em 1978, que investigou a variação do nível de felicidade de ganhadores da loteria ao longo do tempo. A conclusão foi que, um ano após ficarem milionários, eles voltavam a ser tão felizes quanto eram antes do prêmio. A mesma coisa foi constatada com pessoas que ficaram paraplégicas: um ano depois do baque, elas estavam tão bem (ou mal) quanto antes de perder os movimentos. Ou seja, passada a variação inicial da grande mudança (positiva ou negativa), a felicidade tende naturalmente a voltar ao mesmo nível anterior – a não ser que, como o Ricardo, tenhamos consciência de que podemos produzi-la. Isso mesmo: felicidade se cria, em qualquer circunstância. Quem garante isso é o psicólogo Daniel Gilbert, professor da Universidade de Harvard e autor do livro O que nos faz Felizes. “Nós sintetizamos felicidade! Mas a maioria acha que ela tem quer ser encontrada”. E mais: segundo ele, por incrível que pareça, os melhores momentos para fabricar felicidade são aqueles em que as coisas que fogem do nosso controle. “Temos um sistema imunológico emocional que funciona muito melhor quando estamos presos em alguma circunstância. Nessas situações, somos obrigados a procurar novos caminhos para sermos felizes”. Difícil de acreditar? Então conheça melhor os estudos de Daniel Gilbert assistindo à sua palestra no evento TED Talks: bit.ly/felicidadefabricada

passo a passo

DOUTOR PERSISTÊNCIA

ele, o que o ajudou a entender a situação do cliente e buscar as melhores soluções. “Meu trabalho é pegar a história de cada pessoa, ver o que ela busca e montar um quebra-cabeça com as peças que tenho. É um serviço constante de empatia”, explica. Graças à atuação pioneira da agência Turismo Adaptado, diversos hotéis e atrações turísticas no Brasil estão abrindo os olhos para o potencial do público e investindo em acessibilidade: rampas, elevadores, estrutura adequada para cães-guia, audiodescrição para deficientes visuais etc. Ricardo comemora cada pequena vitória, sempre com muito otimismo. “Se eu não acreditasse no melhor, desistiria amanhã mesmo.”

mais persistente. Não parava de pensar no futuro que eu poderia ter se adquirisse conhecimento."

Que ótimo! Então é só pensar positivo e nosso corpo trata de fabricar felicidade? Nada disso. Otimismo é o que nos faz acreditar que há luz no fim do túnel, mas o caminho até lá só se faz com muito trabalho. Que o diga o brasiliense Cícero Batista, um jovem batalhador, que prova que, com otimismo e muito esforço, dá para realizar até os feitos mais improváveis. Durante toda sua infância, adolescência e início da vida adulta, a única abundância que Cícero conheceu foi a de carências. Faltava tudo. Na sua casa, em Taguatinga, uma cidade-satélite do Distrito Federal, a comida que surgia para alimentar ele, oito irmãos e a mãe vinha do lixão da cidade. Era lá que, digamos, eles iam caçar diariamente. Mas, além de restos de comida, Cícero eventualmente caçava outras coisas, que não enchiam a barriga, mas aguçavam sua curiosidade. Assim foi, a seu modo, devorando livros, revistas e discos. Até que um dia surgiu no lixão um livro chamado Manual Médico. Ali, Cícero começou a desbravar o complexo universo da saúde. Lembra até hoje do dia em que descobriu o que eram piolhos, investigando com a ajuda de uma lente fotográfica – também encontrada no lixo – os bichinhos que viviam na sua própria cabeça. “Virei o curandeiro da casa”, diverte-se. E pegou gosto pela coisa. Com um objetivo em mente, resolveu pegar firme nos estudos – primeiro na escola, depois para o vestibular de Medicina e, então, por toda a faculdade. E eis que, anos depois, encontramos Cícero em março de 2015 vestido de jaleco branco, apressado para terminar as obrigações no hospital e correr para uma palestra. O tema: como alguém que cresce fuçando o lixo para não morrer de fome consegue se tornar um médico? O palestrante: Dr. Cícero Batista, que, logo de cara, já adverte os pessimistas: “Não existe determinismo social. Existe persistência e resiliência. Nenhum destino está traçado. Encontrei minha missão no mundo porque persisti.” Cícero, Ricardo e Tião provam que ver o mundo de forma positiva é uma escolha, mas transformar otimismo em realidade é uma conquista. Até os mais otimistas são constantemente desafiados por decepções e fracassos. Mas, quando se quer ver o copo meio cheio, até as lágrimas colaboram para fazê-lo transbordar.

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Questione seu pessimismo. Às vezes caímos no piloto automático e deixamos uma derrota desestimular os desafios futuros. Portanto, quando o pensamento negativo vier, questione-o e tome as rédeas da sua vida.

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Seja realista. Agir com otimismo e fechar os olhos para os dados negativos são duas coisas bem diferentes. O ideal é colher o máximo de informações para desenhar um cenário completo e depois explorar o potencial positivo do que se tem. Anteveja as dificuldades e supere-as. Como dizia o cantor (otimista) Geraldo Vandré: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Encare a realidade com coragem e reverta as pequenas dificuldades antes que virem um problemão.

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Não deixe que outros te desanimem. Sempre haverá alguém dizendo que não vale a pena nutrir esperanças em situações difíceis. Ouça, pondere as informações, mas não permita que elas te desanimem.

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Seu mantra será: não existe derrota para quem não desiste da luta. Nem tudo vai sair conforme o esperado, pode ter certeza. Mas, em vez de desanimarse com as derrotas, você tem de aprender a usá-las como combustível para seguir lutando. Uma dica de ouro: passe a comemorar não só as vitórias, mas a coragem do próprio ato de lutar.

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