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‘Mondego’ em “treino” não saiu do cais após revolta

PROCESSOS u O ‘Mondego’ mantinha-se ontem há 10 dias sem sair do cais do Funchal após a revolta a bordo ocorrida no dia 11.

Segundo garantiu ao CM fonte da Marinha, o patrulha continua no dispositivo naval, em prontidão para busca e salvamento, e só não saiu porque “não houve necessidade”. Continua, sob olhar atento de avaliadores, em “reparações” às avarias e em “treino” dos 13 sargentos e praças da guarnição que substituíram o igual

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Ramalho Eanes

número de revoltosos que se recusaram a sair (alegando risco de morte no patrulha) no acompanhamento de um navio-espião russo, que passou 30 km ao largo da Madeira. A Marinha, que entendeu que o ‘Mondego’ poderia fazer a missão “em segurança”, abriu processos disciplinares por quebra de deveres e participou os 13 à PJ Militar por crime de insubordinação (arriscam 5 anos de cadeia). Ontem, a Armada refutou “cabalmente” as afirmações da Defesa dos milita-

EANES “DESGOSTOSO”

“Tudo isto me desgostou profundamente enquanto militar e cidadão. Mas não vou substituir-me a quem, no Estado, tem a responsabilidade de comentar esta questão e esclarecer os portugueses”, disse ao CM o general Ramalho Eanes, antigo Presidente da República (1976-1986) e chefe militar (1975-1981).

1 dos 2 motores e um dos 3 geradores inoperacionais, alertaram os 13 militares res, de que tinha “apagado provas” com as reparações em curso. “Algumas das avarias foram, inclusive, reparadas com a participação dos militares” revoltosos, disse. Os 13 militares comparece-

Resolver o caso

“A instituição militar, o ministro da Defesa e o Presidente da República saberão resolver de maneira capaz [o caso]”, afirmou Ramalho Eanes.

ram ontem na PJ Militar, em Lisboa, mas a procuradora do Ministério Público optou por ainda não os constituir arguidos nem interrogar. “É inteiramente normal que a procuradora, como magistrada independente que é, queira ver este processo, para determinar o que entender determinar”, disse Paulo Graça, advogados dos militares, que vão “trabalhar normalmente”. A Defesa acusou os processos na Armada de estarem “feridos de morte” e serem “verdadeiras farsas”.

“INTOLERÁVEIS”

A ministra da Defesa, Helena Carreiras, afirmou ontem que atos de indisciplina nas Forças Armadas são “intoleráveis” e “põem em causa o País” e disse “aguardar tranquilamente” pelas investigações “com todo o rigor e toda a firmeza”.

Acompetência do almirante Gouveia e Melo na distribuição das vacinas deu-lhe uma legião de seguidores. Compreende-se facilmente. O rasto de incompetência que o antecedeu foi uma tragédia e o trabalho realizado pelo almirante e pelas Forças Armadas foi notável. No fim, como Salgueiro Maia, o almirante regressou ao quartel. Mas ao contrário do grande militar de Abril, Gouveia e Melo não apre-

Gouveia e Melo criou um tribunal mediático para os 13 militares cia o valor do silêncio. Embevecido pela popularidade que a autoridade e a farda lhe conferiram, está apostado em construir a narrativa do patriota que não se verga. Do chefe militar implacável, que interpreta os valores pátrios como ninguém. Está no seu direito, mas convinha que, neste caso da desobediência dos 13 militares, não se produzisse uma manipulação grosseira das regras básicas de um Estado de direito. Que não se subvertesse o inquérito, transformando-o num comício, como fez na Madeira. Que o direito dos militares a um processo justo e equitativo seja intocável. Que o tribunal mediático que inventou não seja a expressão de um caso com conclusões já tiradas. Seria um desastre para todos se aceitássemos a ‘justiça’ do almirante. Em que o próprio investiga, acusa, julga e condena. Seria mau para a democracia e para o próprio almirante. Ficaria com o rótulo de populista estampado na farda e na cara.

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