COPAS

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Promessas baianas para uma seleção de futuro págs. 24 a 26

Comidas típicas: time de dar água na bola págs. 14 e 15

TORCIDAS PARA TODOS OS BOLSOS Salvador tem opções para quem quer torcer pelo Brasil no lounge com champanhe ou no boteco com cerveja gelada págs. 4, 5, 6 e 7

Gandulas brasileiras vão ver Mundial de perto págs. 10 e 11

Quando a paixão pela bola vira coleção págs. 27 a 29


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

Vai ter Copa(s)

A

gente poderia falar sobre as obras inacabadas, a situação da saúde pública do país ou até mesmo sobre desvio de verbas, mas se correr o bicho pega e se ficar a Copa come. É tempo de COPAS. Assim mesmo, no plural. Entendemos que este não é um evento apenas esportivo; o Mundial também é política, música, contradição, cultura, economia e paixão. O futebol sempre foi uma desculpa para esquecer os problemas, um suspiro no meio do caos. Agora, torcer é o mesmo que lembrar deles. Constrangidos, mal levantamos as bandeiras. Mas de que adianta torcer para a Copa ser um fiasco? Será que só a Copa é capaz de expor para o mundo os problemas brasileiros e denunciar as mazelas do nosso país? O evento alerta, mas um possível começo de solução só veremos em outubro, nas eleições. Ainda que seja enfiada guela abaixo de boa parte da população, ainda é uma Copa do Mundo. Aquele evento que reúne torcedores de todos os cantos em um mesmo estádio e faz o coração bater a mil em cada gol. O caderno COPAS reflete a transversalidade do evento. As 32 nações vão ver as belezas e as tristezas da nossa realidade e, em meio a isto, milhões de vivências expressarão o que sentimos. Serão 199 milhões de

Copas. Dentro ou fora, não importa se o orgulho é da Seleção ou dos manifestantes: se privar dessa experiência é bobagem. O COPAS foi o jeito de contar a nossa experiência. Nosso desafio foi encontrar novas histórias e enfoques da vigésima edição deste campeonato.O especial contém reportagens que vão desde o comparativo entre os Mundiais realizados no Brasil, em 1950 e em 2014, ao processo de preparação dos gandulas que atuarão nos jogos. Nos acréscimos, ainda deu tempo de fazer uma aposta dos jogadores baianos que podem estar nas próximas Copas. Sotaques, temperos e costumes não faltam nas próximas páginas. Desvendamos até os materiais e de onde vem tudo que está nos gramados. Gente que coleciona, gente que torce e gente que sabe tudo de Copa. Até gente que inventa moda no cabelo se inspirando em craques como Ronaldo Fenômeno, Neymar, Cristiano Ronaldo e David Beckham. Na página ao lado, confira a nossa escalação. No gol, Alexandre. Na zaga Damiana,Emile, Alane e Helen. No meio de campo, Giulia, Anne e Naiana; e no ataque, Iago, Paula e você, leitor.Boa leitura!

Confira a versão digital do COPAS com vídeo, áudio e mais fotos no www.correio24horas.com.br

Para formar novos craques Desde seu primeiro time, formado no segundo semestre de 2011, o programa Correio de Futuro tem como objetivo fortalecer a formação de estudantes, promover o treinamento da prática jornalística, servir como um laboratório de inovação na busca de linguagens para plataformas multimídia e descobrir novos talentos. Mais de 60 alunos de Jornalismo passaram pelo programa até agora. Muitos continuam atuando nas divisões de base da Rede Bahia como estagiários. Outros, já formados, estão na equipe principal, contratados por veículos do grupo. E há até promessas formadas no programa que

foram contratadas por times rivais. Patrocinado por Odebrecht e Petrobras, o Correio de Futuro busca familiarizar alunos de faculdades públicas e privadas com as rotinas do Jornalismo, enquanto permite que eles treinem fundamentos da profissão, acompanhando a produção de reportagens e o trabalho de edição. Professoras da Faculdade Social da Bahia (FSBA) e jornalistas do CORREIO servem como técnicos desse time jovem que, no final, elabora um produto o COPAS. E torcemos que o tema do trabalho dessa 6ª turma coincida com o hexa da Seleção Brasileira.

EXPEDIENTE Concepção e reportagem Alane Reis, Alexandre Galvão, Anne Ravele, Ana Paula Lima, Damiana Cerqueira, Emile Conceição, Giulia Marquezini, Helen Carvalho, Iago Ribeiro, Naiana Ribeiro Fotografia Alane Reis, Angeluce Figueiredo, Anne Ravele, Betto Jr., Giulia Marquezini, Mauro Akin Nassor, Naiana Ribeiro e Robson Mendes Ilustrações Ian Thommas, Morgana Miranda, Wilton Santos Coordenação Sérgio Costa e Oscar Valporto Consultoria Bárbara Souza (FSBA) e Maria Ísis Edição Divo Araújo, Eduardo Rocha, Gabriela Cruz, Herbem Gramacho, Jairo Costa Júnior, João Gabriel Galdea, Juan Torres, Linda Berreza, Maria Ísis, Márcio Costa e Silva, Sora Maia, Oscar Valporto, Sérgio Costa, Telma Alvarenga, Wladmir Pinheiro Edição de Fotografia Márcio Costa e Silva e Sora Maia Projeto Gráfico Morgana Miranda Tratamento de Imagens Erlanney Rocha e Raniere Borja Gerente Industrial Jerônimo Souza


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Alane Reis

Alexandre Galvão

Ana Paula Lima

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Anne Ravele

Sumário

Damiana Cerqueira

Giulia Marquezini

Quer pagar quanto?

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Do campo para o campo

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Seleção de Gandulas

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Entrevista/José Ataíde

12

Seleção de Sabores

14

Um país, duas Copas

16

De cabeça no campo

20

No ritmo da torcida

22

Seleção de Futuro

24

Gente que coleciona

27

Extremos das torcidas

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Helen Carvalho

Iago Ribeiro

Emile Conceição

Naiana Ribeiro


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

MAURO AKIN NASSOR

TORCIDAS: SÉRIE A X SÉRIE C

Quer pagar Por Damiana Cerqueira e Emile Conceição

Sala de estar da luxuosa suíte presidencial do Sheraton da Bahia Hotel MAURO AKIN NASSOR

O quarto da suíte mais cara do Sheraton da Bahia: diária de R$ 7.117,50

Copa do Mundo combina com amigos no boteco lotado, enfeitado com bandeirinhas do Brasil, cervejinha gelada, churrasquinho, calor, suor... Opa, nem sempre! Combina também com um lounge muito bem decorado, ar-condicionado, telão, champanhe, canapés... Não importa. Salvador está preparada para oferecer diversão e hospedagem para todos os gostos e bolsos. Os torcedores chegam de todas as partes do país e do mundo. Desde os mochileiros, que vêm com o dinheiro contadinho, até aqueles dispostos a gastar milhares para vibrar com os jogos. Posicionando-se no ataque, a rede hoteleira preparou o que há de mais luxuoso para os hóspedes. Para os viajantes série A, as diárias podem variar entre R$ 1.310, para apartamentos no Tivoli Ecoresort Praia do Forte, e R$ 7.117,50, para desfrutar do luxo e conforto da suíte presidencial do Sheraton da Bahia Hotel. Pensando na comodidade dos hóspedes que não vão para o estádio, o hotel vai instalar telões no Café Teatro Rubi, que terá um cardápio especial, com petiscos inspirados na culinária dos países cujas seleções vão jogar na Bahia. Em função da sua localização, no Campo Grande, perto da Arena Fonte Nova, o Sheraton da Bahia chegou a ser procurado pela seleção alemã. “Infelizmente, não foi possível atendê-la, pois não tínhamos a quantidade de quartos solicitados disponível”, diz Jan Von Bahr, gerente-geral. Ainda segundo Bahr, o hotel estará com 100% de ocupação nos dias de jogos em Salvador. Todas as reservas estão confirmadas. Já os torcedores croatas vão invadir a Praia do Forte. É lá, no Tivoli, que está hospedada a seleção da Croácia. Entre um jogo e outro, eles poderão desfrutar das piscinas, quadras de tênis, campo de futebol, spa, sala de fitness, entre outras mordomias. Mas não são só as regalias oferecidas pelos hotéis de luxo que fazem com que os turistas saiam daqui querendo voltar. “A Bahia se destacanocenáriohoteleiroemfunçãodasuaforma particular de receber”, diz Renata Proserpio, diretora-geral da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-BA). “Atraídos pela receptividade e requinte, os turistas sempre voltam".


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quanto? Mas não pense que só quem tem a conta bancária recheada pode curtir a Copa em Salvador. Longe dos hotéis de luxo, muita gente vai aproveitar o Mundial gastando pouco dinheiro. No Hostel Patuá, no Pelourinho, por exemplo, a diária, nos quartos coletivos, sai por R$ 79,90. Pouco mais de 1% do preço da suíte presidencial do Sheraton da Bahia Hotel. O hóspede só não pode se importar em ter que dividir o quarto com outras seis ou dez pessoas. A diária dá direito a café da manhã, wifi, e até usar um notebook, disponível para quem não possui o seu. O hostel tem 42 vagas. Ou seja, com R$ 3.355,80, por dia - menos da metade do dinheiro de uma diária na suíte presidencial do Sheraton - daria para pagar as contas de todos os hóspedes. Mas quem quiser aproveitar esse preço precisa correr, porque em alguns dias de jogos, como 16 de junho, quando a Alemanha enfrenta Portugal, a lotação está esgotada. Segundo Thamila Aragon, uma das proprietárias do Patuá, os alemães estarão em maioria no hostel. “Mas também reservamos para suíços, iranianos, colombianos, brasileiros e até um bósnio”, afirma. No Hostel Che Lagarto, na orla da Barra, a vaga no quarto coletivo - para oito pessoas - sai por R$ 99. Com café da manhã incluso. Cerca de 80% dos quartos estão reservados para o período da Copa do Mundo. “As reservas foram feitas basicamente por estrangeiros”, diz Ana Rúbia, recepcionista do hostel. As vantagens não ficam só nos preços. Os anfitriões ainda prepararam atividades para divertir os hóspedes durante a estadia. “Ofereceremos caipirinha free, faremos sorteios de brindes para a Copa. E estamos planejando, também, fazer oficinas de percussão e culinária, quando os hóspedes poderão preparar pratos de seus países”, conta Marcelo Correia, proprietário do Hostel Patuá, no Pelô. No bar do Che Lagarto, na orla da Barra, será instalado um telão, para que que visitantes possam assistir aos jogos. Não só eles. Nesses dias, o estabelecimento será aberto também para o público externo. “Faremos sorteios de brindes para os hóspedes”, diz Ana Rúbia. “E o DJ Sankofa tocará aqui nos dias de jogos das seleções africanas”.

Recepção do Hostel Patuá, no Pelourinho: toda enfeitada para a Copa MAURO AKIN NASSOR

Cozinha colorida do hostel, no Pelô: oficinas de culinária durante o Mundial


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Diversão vip

DIVULGAÇÃO

Além de hospedagem, também tem festa para todos os bolsos. Salvador será uma das cinco cidades do país que abrigarão a Bud Mansion, point da Budweiser, patrocinadora oficial da Copa do Mundo. Vão ser cinco dias de festa - nos dias 12, 13, 16, 17 e 20 de junho -, no elegante Solar Cunha Guedes, no Corredor da Vitória. O torcedor paga entre R$ 180 (mulheres) e R$ 220 (homens), pelo serviço all inclusive. Ele vai poder assistir aos jogos em telões, se divertir ao som de DJs e curtir shows de artistas, como Ju Moraes. Além de saborear comidinhas, regadas a cerveja, uísque e vodca. A lista VIP está a cargo da promoter Rafaela Meccia. Uma turma elegante também vai rumar para o Clube Espanhol, que reabrirá seu espaço de festas, hoje. “Vou ver o primeiro jogo da Seleção Brasileira lá”, conta a empresária e blogueira de moda e beleza Juliana Feroldi. O agito será animado pelo DJ

Projeto de um dos salões da Bud Mansion, no Solar Cunha Guedes: telão, DJs e shows

inglês Fatboy Slim, acompanhado da Timbalada. No cardápio, prosecco e canapés. Os preços variam entre R$ 150 (no espaço Prime) e R$ 250 (na área VIP). Amanhã, são os espanhóis que vão se divertir por lá. Cerca de três mil torcedores se reunirão para um esquenta no clube, antes de rumar para assistir à partida entre Espanha e Holanda, na Arena Fonte Nova.

ONDE FESTEJAR @ BUD MANSION Solar Cunha Guedes (Corredor da Vitória)/Preços: R$ 180 (ingresso feminino) R$ 220 (ingresso masculino). @ CLUBE ESPANHOL Orla de Ondina/ Preços: entre R$ 150 (espaço Prime) e R$ 250 (área VIP).

Copa do povão

ANGELUCI FIGUEIREDO

Largo do Plano Inclinado: Copa e São João

Dá para se divertir de graça. No Farol da Barra, serão 15 dias de Fan Fest nos dias dos jogos que Salvador sediará, e nas partidas da Seleção Brasileira. Na festa, promovida pela prefeitura, ambulantes cadastrados venderão comidas e bebidas a preços populares. Entre as atrações, Ju Moraes, Ilê Aiyê, Amanda Santiago e o grupo Alavontê. A previsão é de que 15 mil pessoas curtam a festa no Farol, onde será instalado um telão. Outros espaços da cidade estão prontos para a festança. As bandeirolas tremulam nas ruas da Liberdade, além de uma enorme bandeira do Brasil, customizada com as cores da Bahia. Na falta de um telão, uma TV de 50 polegadas será instalada no largo do Plano Inclinado, para que o público possa assistir aos jogos do Brasil. Depois das partidas, começa a dança, ao som do forró pé de serra. Na noite de São João, 23 de junho, aliás, vai ter arrasta-pé por lá. “Além do forró,

teremos barracas com canjica, milho cozido, amendoim, licor”, conta Vivaldo Cavalcante, um dos organizadores. O ingresso para a festa é uma camiseta, que custa R$ 15. “E a pessoa ainda tem direito a três piriguetes”, conta Osmário Silva Filho, outro organizador. A cerveja custará R$ 5, mas o licor sairá de graça. “Como todo mundo aqui é amigo, a gente faz esse agrado”, diz o comerciante Daniel Silva. “O churrasquinho no espeto custará R$ 3”, informa Railda Matos, encarregada das comidas.

NA RUA @ FAN FEST Farol da Barra. Nos dias de partidas realizadas em Salvador; e nos dias de jogos da Seleção Brasileira. De graça. @ LIBERDADE Largo do Plano Inclinado. Nos dias de jogos da Seleção Brasileira e na noite de São João, dia 23. R$ 15, a camisa-convite.


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Para todos os bolsos e estilos SÉRIE A X SÉRIE C Chuteira de campo R$ 47,99

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Chuteira Magista R$ 1.299,90

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Onde comprar Nike Salvador Shopping

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Onde comprar Borges Calçados/ Salvador Shopping

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Camiseta do Brasil R$ 59,99

Camiseta do Brasil R$ 25

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@ Onde comprar Malwee/ Salvador Shopping

Onde comprar Camelô da Avenida Sete

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Chapéu Olelê R$ 36

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Saia Jeans com Strass R$ 239,99

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@ Onde comprar Planet Girls/Salvador Shopping

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Onde comprar Mundo do Iphone/ Shopping Barra @

FOTOS DE DAMIANA CERQUEIRA E EMILE CONCEIÇÃO

@ Capa VX Case do Brasil (Iphone 5) R$ 105

Onde comprar Anima Fest/ Av. Padre Domingos de Brito, 56, Garcia

Corneta R$ 6

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Onde comprar JNE Bijuterias/Rua Nova de São Bento, 136/ Transversal à Avenida Sete de Setembro

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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

INDÚSTRIA

DO CAMPO PARA O CAMPO Uma grande partida começa muito antes do apito inicial do juiz. Para que a bola role, é preciso desenhar, construir e aprimorar cada material, equipamento e artigo esportivo envolvidos nos 90 minutos da partida: desde a tinta da marca do pênalti para o craque bater e tentar o gol, até o banco onde sentam os reservas. Se antigamente os materiais vinham quase todos do meio rural, hoje a maioria deles é sintetizada industrialmente. Por Giulia Marquezini BANCO DE RESERVAS

Com materiais do campo

Adeus, madeira. O acento agora é de couro e o encosto é de espuma injetada. Cada ano que passa os bancos de reservas vão ganhando mais regalias. Os padrões da Fifa pedem bancos confortáveis e feitos com um tipo de acrílico transparente, duro e deformável sob calor, normalmente empregado como vidro de segurança para indústria.

100% industrializado

GRAMADO

Na Arena Fonte Nova, a espécie de grama é a Bermuda Celebration, indicada para climas tropicais. Ao longo dos nove mil m², o campo da Arena Fonte Nova tem irrigação com 35 pontos, feita através de aspersores – borrifadores de água. As mudas vieram da cidade de Lavras, no sul de Minas Gerais e foram plantadas manualmente. Os cuidados incluem além da irrigação, o corte e tratamento periódico.

TRAVE

BOLA

A partir de 1994, as bolas deixaram o couro curtido, também conhecido como capotão, pra trás, e ficaram mais leves. Na fabricação de algumas delas, são usados materiais derivados do óleo de mamona e fibras de sisal e coco. A Brazuca – bola oficial do mundial 2014 -, no entanto, é constituída 100% de poliuretano, material sintético usado no revestimento para deixar o produto mais leve e resistente.

Antes feitas de madeira e nem sempre obedecendo as medidas regulamentares, as traves, por uma exigência da Fifa, hoje devem ser feitas de aço ou alumínio. A fabricação começa no corte dos tubos que passam pela solda e pintura automotiva. O alumínio não é encontrado puro na natureza, feito de um minério chamado bauxita.


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REDE DA TRAVE

Quando um jogador estufa a rede, nem imagina os materiais que estão envolvidos no momento mais importante de um jogo. A rede da trave é feita com nylon, material resistente, sintético, ao mesmo tempo elástico, que não sofre muitas alterações pela temperatura do ambiente.

TINTA DO CAMPO

O cal virgem é o mais utilizado produto para delimitar as linhas de um campo. O produto resultante da queima de rochas calcárias, composto dos óxidos de cálcio e magnésio. Tinta em aerossol e em galão também são utilizadas. As tintas de galão são compostas de látex, vindo das seringueiras – a árvore da borracha.

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CAMISA

A camisa é a parte do uniforme dos jogadores que mais sofre modificações ao longo das Copas, e apenas 4% dos materiais presentes na fabricação vem do campo. Para cada camisa produzida são recicladas 18 garrafas plásticas. A camisa tem o mínimo de 96% de poliéster reciclado e 4% de algodão orgânico. Isso garante que sequem com facilidade, amassem pouco, além de ser mais baratas.

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LUVA DO GOLEIRO

“Vai que é tua Taffarel” não existiria sem as luvas, principal equipamento para um goleiro realizar defesas. Fabricadas industrialmente a partir de materiais como látex, velcro, poliéster e EVA (espuma vinílica acetinada), as luvas costumam ser bastante flexíveis.

CALÇÃO

Normalmente fabricado com poliéster, este ano o uniforme da seleção brasileira segue a inovação e a preocupação ambiental. De acordo com a Nike, os calções são produzidos utilizando 100% de material sintético reciclado, o poliéster.

MEIÃO

Acusado de não seguir Thierry Henry, autor do gol que tirou o Brasil da Copa de 2006, ao ajeitar sua meia, o lateral Roberto Carlos poderia ter evitado tanta exposição. Para o mundial 2014, as meias oficiais também são feitas com material reciclado, algodão e elastano, garantindo um maior ajuste à perna do jogador.

CHUTEIRA

Até couro de canguru vale na hora de deixar a chuteira mais equipada e tecnológica. Por ser mais fino e se ajustar melhor ao formato do pé, ganhou destaque nos processos de fabricação do equipamento. Normalmente, as chuteiras são feitas com couro de origem bovina ou sintético, que oferecem durabilidade e conforto, mas não chega a ser tão maleável e fino. As travas da chuteira são feitas de alumínio, pela aderência superior à borracha. EDITORIA DE ARTE/CORREIO


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BETTO JR.

Time do Centro de Formação de Futebol da Bahia (CFFB): conquista valeu lugar à beira do gramado da Fonte Nova, perto dos ídolos

COMPORTAMENTO

Seleção de gandulas Por Ana Paula Lima e Emile Conceição

O sonho de 18 jogadoras baianas está prestes a se concretizar. Apaixonadas pela bola, as jovens, de 13 a 16 anos, vão entrar em campo na Arena Fonte Nova sob o olhar de mais de 50 mil torcedores durante a Copa. Ainda não como jogadoras, mas como gandulas. Elas ganharam a oportunidade depois de vencerem, no ano passado, a etapa regional da Copa Cola-Cola, disputando com outros três times. Em 2012, a mesma equipe já havia conquistado o torneio, por isso, 11 delas também estiveram em campo na Copa das Confederações, ainda que de fora das quatro linhas. Além de comprovarem o talento com a bola nos pés, para participar da Copa do Mundo, as

meninas precisaram passar por um curso de formação que incluiu palestras sobre o Mundial e orientações sobre como se comportar durante as partidas. Disciplinadas, elas têm na ponta da língua o que pode e o que não deve ser feito durante um jogo. “Nós não podemos comemorar o gol, por exemplo, mesmo se for da seleção que estamos torcendo. Temos que ficar sérias e concentradas”, relembra a atacante Érica Oliveira Bispo, 16, que está ansiosa para o início do campeonato mundial. As instruções são reforçadas pelo treinador Francisco Cardoso dos Santos, conhecido como Quinho, 50, fundador do Centro de Formação de

Futebol da Bahia (CFFB), local onde as meninas treinam. O técnico enfatiza que as gandulas têm que manter a postura, não vale ficar procurando conversa com os jogadores e a bola deve ser devolvida sempre nas mãos dos atletas. DE CARA COM O ÍDOLO Os gandulas não são remunerados. Voluntários, ficam hospedados em um hotel nos dias de jogos e ganham apenas alimentação e uniforme. Mas, para a meio-campista Andressa Silva, 13, a maior recompensa é poder ficar bem perto dos ídolos. “Vou estar no mesmo campo que alguns dos maiores craques do futebol mundial”, relata a fã de


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Neymar que lamenta ter pouca chance de ver o jogador na Copa. Esta também será a primeira vez que Dara Maria Diniz, 16: a melhor lateral esquerda do time vai assistir, do campo, a partida de um campeonato mundial. Dara diz que quem quiser tomar a vaga dela, terá que pagar caro - “só por um milhão de reais”, brinca. Os meninos, que também treinam no Centro de Futebol, acompanham a preparação das colegas com uma pontinha de inveja. “Eu queria ter esta oportunidade de poder ficar no campo durante a copa. Mas as meninas merecem. Muitas delas jogam melhor que a gente”, admite Arlei de Jesus Santos, 18. Quando o assunto é Copa, ansiedade é a palavra que melhor define o estado de espírito das gandulas. A maioria delas quer ver de perto o melhor jogador do mundo, o português Cristiano Ronaldo. Para conseguir uma lembrança do ídolo, Amanda Souza pretende, discretamente, burlar as regras. “Vou tentar falar com ele no final da partida, se conseguir, vou pedir a camisa. Tenho certeza que ele me dará”, planeja, convicta de que vai ganhar o presente. LEMBRANÇAS Ficar frente a frente com os astros do futebol foi uma emoção já vivida por Vanessa Bispo, 16. Ela TAYSE ARGÔLO/ARQUIVO CORREIO

Amanda: treino para a Copa do Mundo

Gandulas baianas prontas para o Mundial: boas com a bola no pé e com as mãos

atuou como gandula durante os três jogos que aconteceram em Salvador, no ano passado, pela Copa das Confederações. Cada partida conta com 14 gandulas. São três em cada lateral e mais quatro em cada um dos fundos dos gols. Vanessa ficou atrás das redes e lembra que por causa dos chutes do atacante Mário Balotelli, ela teve que trabalhar muito na partida entre Brasil e Itália. As lembranças da meia-esquerda não terminam aí. Ela ainda recorda do pequeno diálogo que teve com o atacante Lucas, que estava na seleção ano passado. Na hora do intervalo, o jogador se aproximou e a cumprimentou. Ciente das regras, Vanessa respondeu discretamente, mas foi questionada pelo atacante da Seleção. “O Lucas perguntou porquê eu não queria falar com ele. Eu expliquei que não podia fazer isso, mas ele continuou conversando”. Vanessa relembra que o jogador brincou dizendo que no campo quem ditava as regras era ele, diante da insistência a jovem não perdeu tempo e aproveitou para dar um recado da amiga, também fã do jogador. “Aí ele mandou um beijo na bochecha para ela”, explica. Não satisfeito, na hora de comemorar o gol marcado contra a equipe ita-

liana, Lucas correu até a lateral, abraçou a gandula e a jogou para cima. Vanessa conseguiu se controlar e permaneceu séria, mas os torcedores vibraram por ela. “A gandula ganhou o dia”, todos começaram a cantar. Outro jogador também brincou com a repositora. “O goleiro da Itália (Buffon) ficava piscando para mim (risos)”. HERANÇA ARGENTINA No Brasil, a função de repositor de bolas surgiu em 1939 quando o time carioca Vasco da Gama contratou o atacante argentino Bernardo Gandulla. Por causa do seu pouco talento com a bola no pé, o atleta demorou a conseguir uma vaga no time titular. Com o objetivo de mostrar serviço, toda vez que a bola saia pela lateral, Gandulla corria para pegá-la e devolvê-la ao campo. Aos poucos, o jogador foi ganhando a simpatia dos vascaínos e sua atitude fez os outros clubes perceberem a importância de ter alguém responsável por devolver as bolas ao jogo. Quando uma pessoa era colocada para desempenhar esta função, os torcedores encontravam um bom jeito de apelidá-la: gandula. Foi assim que a expressão ganhou força no futebol e até os dias atuais o sobrenome do atacante batiza a profissão.


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ENTREVISTA/JOSÉ ATAÍDE COSTA

‘ Espanha é favorita’ Por Giulia Marquezini e Iago Ribeiro

FOTOS DE GIULIA MARQUEZINI

Quando se pensa em jornalismo esportivo baiano, alguns nomes surgem como referência. É o caso do jornalista e radialista José Ataíde Costa. Aos 80 anos de vida, Zé dedicou 65 anos da história ao rádio e ao futebol, suas grandes paixões. Nascido em 1934, no município de Santa Inês, no Centro-Sul baiano, a 215 km de Salvador, o cronista esportivo é filho do farmacêutico Péricles de Andrade Costa e da professora Maria Amélia de Ataíde Costa. Predestinado a seguir o caminho do rádio, Zé imitava alguns narradores no chuveiro. Anos depois, foi escondido para Salvador, ainda jovem, por volta dos 14 anos, na busca por uma vaga como narrador na Rádio Excelsior 840 AM. No teste, o garoto impressionou. “Nunca ouvi coisa igual”, repetia o então diretor da emissora, Alfredo Gomes. Atualmente, Zé Ataíde comanda o Bom Dia Bola, na Rádio Metrópole 101.3 FM, das 6h às 7h, misturando humor com notícia. Nesta Copa, Zé dedicará seu programa para discutir os jogos. Com mais de dez coberturas de mundiais na carreira, passando por mais de 30 países, entrevistando ícones do futebol nacional como Pelé e Garrincha, o COPAS bateu um papo com o mito do radiojornalismo baiano e testemunha ocular da história.

Não é novidade pra ninguém que o Brasil perdeu a Copa (de 50) pelo ‘oba-oba’ que os políticos fizeram


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Brasil tem uma boa defesa, meio de campo regular e um jogador que pode desequilibrar

A Espanha é favorita. Porém, jogando dentro de casa, é possível que a gente ganhe

Quando você escuta tocar o Hino Nacional, tem que ter muita bagagem pra não chorar

Como foi sua primeira Copa do Mundo no papel de jornalista e profissional de comunicação? Naquela época, em 1950, eu estava dando os primeiros passos. Foi criado um clima de comoção social no Brasil, antes que a Copa começasse, todos ficavam na expectativa do Maracanã ficar pronto. A Copa foi disputada antes que o estádio ficasse totalmente pronto, aliás, um costume das obras deste país. Quantos estádios estão aí sem ser terminados?

cara dos nossos jogadores. Ninguém reagia. Jogávamos pelo empate. Ao final do jogo, Ghiggia, o ponta direita, passou pelo então temido Bigode e chutou rasteiro. A bola resvalou e entrou. Uruguai fez 2x1. O Brasil perdeu a Copa do Mundo.

gentina, Holanda, Itália, Alemanha. A Copa do Mundo é um momento: se aquele time está num momento bom, ele vai lá e ganha. As chances iniciais são nos primeiros jogos e depois é mata- mata. Com o mata-mata, pode acontecer o que houve com Dida na Copa de 58, quando o Brasil enfrentava a Inglaterra. No intervalo do jogo, ele sentiu uma dor de barriga ficou lá 30 minutos, sem voltar. Medo, talvez.

E o Brasil perdeu a Copa de 50... Não é novidade pra ninguém que o Brasil perdeu a Copa pelo “oba-oba” que os políticos fizeram. Flávio Costa, o nosso Felipão da época, era um homem duro que não admitia esse tipo de coisa que se faz até hoje - o “já ganhou”. Porém, diante da superioridade técnica, ele cedeu e abriu a concentração e todos que já gritavam campeão. Fomos pra final com o Uruguai enfraquecido, mas de sapato alto. E a final? Nos esquecemos da garra que o Uruguai tinha e, principalmente, de um quarto zagueiro chamado Obdulio Varela. Ele amedrontou os nossos jogadores e passava a mão na cabeça deles, depois ameaçava passar a mesma mão nas partes genitais e então esfregar na

Qual expectativa pra Copa de 2014? O Brasil não está preparado para a Copa do Mundo 2014. Ao invés de se gastar milhões e de se desviar tanto dinheiro, deveríamos ter investido em educação, segurança, transporte e saneamento básico. Favorita aSseleção Brasileira não é. A Espanha é favorita; ainda temos Alemanha e Argentina. Mas jogaremos dentro de casa e aos acordes do Hino Nacional, e com Felipão dando cascudo, é bem provável que iremos “fazer uma careta”. O Brasil tem time para ser campeão? O Brasil tem uma boa defesa, aproveitou a base que Mano Menezes deixou. Tem um meio de campo regular e no ataque um jogador que pode desequilibrar, o Neymar. Aquela Era de Zizinho, Pelé, Garrincha, Gilmar, Bauer, Ademir, sinceramente, não existe mais. Porém, jogando dentro de casa, é possível que a gente ganhe. Quem que tira o nosso título? A Espanha, como eu já disse. Ou a Ar-

E o maior jogador de todas as Copas? Eu não escolheria só um. Escolheria Garrincha e Pelé. Embora tenhamos outros jogadores de grande porte como Puskás, da Hungria, Beckenbauer, da Alemanha, Tomasevic, da Iugoslávia, ao longo destes anos. Como é para José Ataíde colocar o nome na História ao cobrir um mundial? Rapaz, é indescritível. Coisa que até hoje me arrepia, é quando você escuta tocar o Hino Nacional. Tem que ter muita bagagem pra não chorar. Os primeiros movimentos de uma partida final mexem muito (com a emoção). Depois você se acalma. Se um Ba-Vi já é um acontecimento, a Taça Libertadores também é, imagine a Copa do Mundo. Eu sofro deste mal do século, a ansiedade. Quando acaba você quer que continue, por tanto prazeremsuavidaprofissional.Mesinto imensamente realizado.


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GASTRONOMIA

Seleção de sabores

Por Ana Paula Lima e Emile Conceição Kümmel no gol, Ajvar, Endro, Cerefólio, Cardamomo e Pimentón na defesa. Uma seleção de dar água na boca. Completam esse time Manjericão, Louro e Cebola no meio-campo e, no ataque, Açafrão e Orégano. Esta é a escalação dos temperos famosos nos países de origem das equipes que jogarão na Arena Fonte Nova. Aqui, o que decide o jogo não são os chutes potentes, nem os carrinhos por trás. Vence quem agrada o paladar. E para isso vale abusar do sabor, da coloração e do perfume. O goleiro Kümmel, sensação na Holanda, confunde o adversário com seus grãos parecidos com a erva-doce e seu sabor semelhante ao do cominho. Já o bósnio Ajvar, feito à base de berinjela e pimentão, torna-se um ótimo acompanhamento para o Rostilj, um equivalente ao nosso churrasco. Oriundo da seleção tricampeã Alemanha, o defensor Cardamomo é encontrado nas confeitarias alemãs. Já o seu companheiro de posição e de país, o Endro, dá sabor aos peixes. O espanhol Pimentón, ou Páprica como é mais co-

nhecido, é o destaque apimentado da equipe. O último jogador da defesa, o Cerefólio, ganhou os franceses com seu sabor que lembra um pouco o anis e é usado em molhos, peixes e saladas. Também muito consumidos no Brasil, o Louro e o Cebola são os craques portugueses da Seleção de Temperos. Outro velho conhecido dos brasileiros que caiu no gosto do povo no Irã foi o Açafrão. Para completar o time, a Suíça traz o atacante Orégano e o defensor Manjericão. Os condimentos são muito famosos por darem aquele sabor e cheiro característicos às pizzas italianas. Como se diz em bom baianês, esses craques são ‘vira folha’. Jogam no time italiano, mas também batem um bolão nas cozinhas suíças. Reservamos para o final, a Noz Moscada, considerada a Maria Chuteira da culinária internacional. A especiaria é usada na maioria dos países mencionados. Ficou com água na boca? Então confira as sugestões abaixo.

ANGELUCI FIGUEIREDO

LA TAPERIA Prato Tortilhas @

Preço R$ 30,00 (porção individual)

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@ Endereço Rua da Paciência, 149- Rio Vermelho @ Temperos Sal

TUDO AZUL Prato Batata Rösti @

Preço R$ 25,00 (porção individual)

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CASA LISBOA Prato Bacalhau à Lagareiro com Batatas ao Muro

@ Endereço Rua Manoel Dias Morais, 35 – Jardim Apipema

Preço R$ 139,90 (porção para 2 pessoas)

@ Temperos Cebola e o alho frito

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Endereço Av. Sete de Setembro, 3701 – Porto da Barra @

Temperos Noz moscada

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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

Louro (Portugal) No Brasil se usa para incrementar a feijoada. Kümmel (Holanda) Ajuda a condimentar alguns tipos do queijo Tilsik.

Endro (Alemanha) Conhecido como Dill, ótimo tempero para batatas.

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Pimentón (Espanha) Conhecido por nós como páprica, possui sabor apimentado.

Orégano (Suiça) Famoso na Itália, também é utilizado na suiça. Cebola (Portugal) Tempera o prato favorito de Cristiano Ronaldo, o Bacalhau à Brás.

Onde encontrar: Especiaria Salvador - Rua Jaracatiá, 1048, Centro Comercial Caminho das Árvores - Pituba

RESTAURANTE OUI Prato Suflê de camarão

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Preço R$ 48,00 (porção individual)

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@ Endereço Av. Contorno, s/nº- – Bahia Marina @ Tempero Sal

BOX DO ALEMÃO @ Prato Salsicha Frankfurt com chucrute

Preço R$ 27,50 (Porção para dois) @

Endereço Av. Juracy Magalhães Jr, 1624 - Box 50, Ceasinha

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@ Temperos Folhas de louro e pimenta do reino

No banco de reservas Infelizmente, alguns dos condimentos foram parar no banco de reservas. Salvador não possui restaurantes especializados nas culinárias bósnia, iraniana e holandesa. Mas os nossos olheiros conseguiram selecionar alguns exemplos para matar a curiosidade dos boleiros de plantão. Os temperos utilizados no Irã não são tão exóticos como esperado: além do já mencionado açafrão (utilizado até mesmo nas sobremesas), os iranianos também consomem bastante nossa velha conhecida salsa e o estragão, uma erva de sabor picante e

levemente adocicado, semelhante ao da erva-doce. No contraponto, temos o ajvar, popular na Bósnia, que, apesar de ter um nome estranho, é feito à base de berinjela assada, pimentão vermelho, cebola, alho e azeite. Ingredientes que qualquer dona de casa tem na geladeira. Já o kümmel tem suas sementes utilizadas pelos holandeses para aromatizar bolos e pães e condimentar legumes, cogumelos, carnes e queijos. O condimento é ainda fundamental na preparação do licor holandês de mesmo nome.


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

JEFFERSON BERNARDES/PREVIEW.COM

Neymar: candidato a mocinho de 2014

1950 - 2014 - O BRASIL E SEUS MUNDIAIS

Um país, duas Copas, Por Ana Paula Lima, Damiana Cerqueira e Iago Ribeiro

Às vésperas das eleições presidenciais, o Brasil se preparava para sediar o maior evento esportivo do futebol: a Copa do Mundo. O verbo no passado indica que não se trata da Copa de 2014. O ano era 1950, primeira vez que nós brasileiros fomos os anfitriões do Mundial. Mas as semelhanças entre passado e presente são muitas. Em 1946, o país foi escolhido pela Fifa para ser a sede da Copa, inicialmente marcada para 1949, mas adiada para que as seleções europeias tivessem tempo de se recuperar dos estragos causados pela II Guerra Mundial, que além de destruir o Velho Continente, impediu a realização dos torneios de 1942 e 1946. De 24 de junho a 15 de julho de 1950,

13 seleções disputaram o campeonato em seis sedes: Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. A capital pernambucana foi o único município das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste a sediar um jogo da Copa. Naquela época, quando portos, aeroportos e toda a infraestrutura para viagens não era tão avançada, as dimensões continentais do Brasil assustavam os times estrangeiros. A França, por exemplo, desistiu de participar do Mundial porque teria uma partida em Porto Alegre e outra em Recife, percorrendo 3.779 km. NÃO ERA SÓ POR TRINTA CENTAVOS Essencialmente rural, em meados do século XX viviam aqui pouco mais de

51 milhões de brasileiros. Os que puderam acompanhar os jogos da Copa do Mundo fizeram isso através do rádio, principal meio de comunicação na época. Além do Mundial, outro evento importante mobilizava o país: as eleições presidenciais que iriam definir o substituto do então presidente Eurico Gaspar Dutra. A situação política do Brasil também era efervescente e apresentava semelhanças com os dias atuais. Em 1947, uma onda de protestos tomou conta das ruas de São Paulo. A recém-criada Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC) elevou de 20 para 50 centavos de cruzeiro a tarifa do bonde. O aumento de 150% foi a gota d’água para os trabalhadores, já indignados


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

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Ghiggia: uruguaio foi o vilão de 1950

muitas semelhanças com a escalada do custo de vida na capital paulista. Resultado: o povo foi às ruas. Sobre os protestos, a historiadora Monique Félix Borin, da Universidade de São Paulo (USP), relata em seu artigo intitulado “Distúrbio urbano de 1947 - a imprensa paulistana e os responsáveis do levante” que “a população concentrou-se em praças e largos de grande circulação e depredou uma grande quantidade de veículos da CMTC, destruindo completamente 15 ônibus, 15 bondes e tornando sem condição de reparo imediato 30 ônibus e 150 bondes”. A revolta ficou conhecida como “Custa mais trinta centavos”. Qualquer semelhança com os protestos de 2013 pode ser mais que mera coincidência. Mas vale ressaltar que as manifestações de 1947 não tiveram liga-

ção direta com os preparativos realização da Copa no Brasil.

2014: COPA, PROTESTOS E ELEIÇÕES Para o historiador Gerson Guimarães, a Copa de 50 não causou desdobramentos significativos na política brasileira. Os atrasos das obras e a derrota do Brasil para o Uruguai não impactaram nas eleições presidenciais que recolocaram Getúlio Vargas no poder. Guimarães, porém, afirmou ao COPAS que o governo atual pode não ter a mesma sorte no contexto de um país com 199 milhões de habitantes (IBGE – 2012), urbano e inserido na era da tecnologia. Os deslizes na organização do Mundial podem influenciar na escolha dos novos gestores. “Hoje tudo é filmado e é óbvio que as oposições vão se preparar para provocar os maiores incômodos. Inclusive reunir provas de

problemas nos setores de infraestrutura, por exemplo, e de possíveis irregularidades para utilizá-las como bandeiras eleitoreiras”, explica o historiador. Se internamente as autoridades temem o impacto que a Copa pode causar nas eleições, externamente a preocupação é como uma nova onda de protestos pode afetar a imagem do Brasil para a comunidade internacional. “As manifestações mostraram e vão revelar a dimensão dos problemas sociais presentes no Brasil, e este cenário vai impactar diretamente na visão que a comunidade estrangeira tem do povo brasileiro”, afirma o cientista político Joviniano Neto. De fato, em 2013, o mundo conheceu um pouco mais as desigualdades de um país continental, principalmente por causa dos protestos que


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GERMAN LORCA

JADSON MARQUES/ESTADÃO CONTEÚDO

Protestos marcaram a Copa das Confederações em 2013

ocorreram durante a Copa das Confederações. O estopim foi o aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus em São Paulo (de R$ 3,00 para R$ 3,20), que culminou em uma série de manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), mas acabou levando às ruas pessoas com reivindicações que iam muito além da redução do preço da passagem. E logo o movimento ficou conhecido como “Não é só pelos 20 centavos”. Desde o ano passado o fantasma das manifestações ronda o Mundial e preocupa os governos federal, estadual e municipal. Segundo Guimarães, a realização da Copa no Brasil acabou se tornando um tiro no pé do próprio governo. “Ele (o governo) não esperava as manifestações nas proporções que ocorreram no ano passado e que acabaram desencadeando um intenso processo de queda nas pesquisas de avaliação do governo Dilma”, afirma ao explicar que, nos meses seguintes à Copa das Confederações, a presidente Dilma Rousseff teve uma grande redução em sua popularidade diagnosticada em pesquisas de opinião. Resta esperar para saber como a população vai se comportar durante os próximos dias.

Hoje tudo é filmado e é óbvio que as oposições vão provocar maiores incômodos Gerson Guimarães, historiador

Em 1947, população protestou contra aumento da passagem

ATRASOS Em 1950, a Copa ainda não era considerada um megaevento e por isso a Fifa não solicitou melhorias significativas na infraestrutura do país. Apenas exigia que os estádios tivessem capacidade para no mínimo 20 mil torcedores, alambrados, cabines para a imprensa e autoridades e túneis interligando os vestiários ao gramado. Ainda assim a maioria das obras não ficou pronta a tempo. A entrega do maior estádio do mundo na época, o Maracanã, estava marcada para abril de 1950, mas a partida de inauguração só ocorreu em 17 de junho, uma semana antes da abertura da Copa. E com andaimes ainda nas arquibancadas. Já em Belo Horizonte, o estádio Raimundo Sampaio, o Independência, só foi aberto um dia depois do início do Mundial. No dia 22 de maio, data da realização do sorteio dos grupos da Copa, a Fonte Nova ainda não estava pronta, e Salvador ficou fora do torneio. O estádio baiano só seria inaugurado em janeiro do ano seguinte. CORRERIA Em alguns casos, repetimos os mesmos erros. Correria para cumprir prazos, não execução de alguns projetos, falta de investimento em áreas prioritárias como transportes. Foi assim em 50, é assim em 2014. Os atrasos no cronograma de obras da Arena da Baixada, por exemplo, quase impossibilitaram que o Mundial fosse realizado em Curitiba. Mas para garantir que o essencial estivesse pronto a tempo, o Brasil pagou caro. No total, segundo dados do Portal Transparência, atualmente os gastos com a Copa giram em torno de R$ 25,9 bilhões.

Somente na capital baiana foram investidos cerca de R$ 740 milhões, mas a previsão do governo federal é que este valor chegue a aproximadamente R$ 918 milhões. Para a reconstrução da Arena Fonte Nova, por exemplo, foram gastos 92,9% do valor total investido em Salvador para a Copa até o momento. A reforma do estádio foi a obra mais cara voltada para a Copa do Mundo executada na Bahia. De acordo com o site Copa 2014 - Transparência em 1º Lugar, do governo federal, o pacote de melhorias previa também para Salvador obras de mobilidade no entorno da Arena, algo que custaria cerca de R$ 19 milhões, mas nada foi gasto para execução do projeto necessário para dar fluidez ao trânsito da cidade. O estádio foi a única obra baiana a ficar totalmente pronta para o Mundial. A reforma do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães (ampliação do pátio de aeronaves, construção de torre de controle e adequação do terminal de passageiros) não será concluída a tempo. Obras de mobilidade também não foram executadas. A única novidade no setor de transportes é o funcionamento do metrô, que após 15 anos em construção, está previsto para levar à Fonte

Este cenário vai impactar na visão que a comunidade estrangeira tem do povo brasileiro

Joviniano Neto, cientista política


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| 19 YASUYOSHI CHIBA/AFP

Nova torcedores que vão assistir à partida entre Espanha e Holanda amanhã. Em fase de testes, o transporte só vai funcionar duas horas antes e depois dos jogos, com acesso gratuito. Apesar dos altos gastos e dos poucos investimentos em setores fundamentais, a Copa vai deixar frutos. Imaterialmente vale destacar a qualificação dos profissionais do setor hoteleiro, por exemplo. Também é por causa do Mundial que o metrô de Salvador finalmente vai entrar nos trilhos. Para o titular da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa, Ney Campello, o Mundial também deixa um legado positivo para as cidades do interior. “Nós temos três seleções hospedadas em cidades que não são a capital. Uma no Litoral Norte, a Croácia, e duas na Costa do Descobrimento, a Suíça e a Alemanha”, destaca. DERROTA DE 50 Barbosa, Augusto, Bauer, Juvenal, Danilo Alvim, Friaça, Chico, Bigode, Zizinho, Jair Rosa Pinto e Ademir Menezes, esta era a escalação. Liderados pelo técnico Flávio Costa, a Seleção Brasileira chegou à final contra o Uruguai como favorita ao título. Só não contava com a garra de Obdulio Varella e os chutes certeiros de Schiaffino e Ghiggia. Diante de quase 200 mil torcedores, os jogadores brasileiros viram o sonho de se tornarem campeões mundiais ir por água abaixo no dia 16 de julho de 1950. O Brasil, que jogava por um empate, chegou a abrir o placar aos dois minutos do segundo tempo com o atacante Friaça, mas a alegria durou pouco. Aos 21, Schiaffino empatou e aos 34 Ghiggia marcou o gol que deu o bicampeonato para os uruguaios. Mesmo diante de um dos maiores vexames do futebol brasileiro, que ficou conhecido como Maracanazo, a torcida não abandonou o time. Sobre o fim da partida, Willy Meisl escreveu: “E a multidão permaneceu e aplaudiu os vencedores. Eu acabava de presenciar um daqueles raros momentos na vida de um homem, quando um povo encontra a sua própria alma, quando o bem triunfou sobre o mal; quando o desporto provou uma revelação e uma educação. Porque o Brasil foi maior na derrota do que jamais poderia ter sido na vitória”.

Brasileiros esperançosos para levantar a sexta taça: nada de Maracanazo dessa vez

Para apagar a lembrança do Maracanazo Assim como aconteceu na Copa de 50, a Seleção Brasileira chega ao Mundial 2014 como uma das equipes favoritas. Com um time base que contava com Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar, Hulk, Neymar e Fred, o Brasil treinado por Luiz Felipe Scolari faturou, em cima dos espanhóis, a Copa das Confederações

em 2013. Neste Mundial, o Brasil enfrenta pelo Grupo A da competição a Croácia no dia 12 de junho, em São Paulo; Camarões, no dia 17 de junho, em Fortaleza; e fecha a primeira fase contra o México, em Brasília, no dia 23. Caso chegue à final, no dia 13 de julho, o palco será o Maracanã, mesmo estádio da decisão de 50. A torcida é para que o desfecho seja diferente.


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

1940-1956

TENDÊNCIA

Jair Rosa Pinto Primeiro jogador a inovar no corte, Jair usava o cabelo repartido ao meio. Para dar sustentação ao visual, o atleta contava com a ajuda de gel fixadores. 1952-1971

Pelé Pelé sempre teve o mesmo corte de cabelo: militar. O estilo é representado por um design convencional. O cabelo é mais curto nas laterais e tem um pequeno topete.

1979-1992

De cabeça Por Alexandre Galvão e Naiana Ribeiro

O campo de futebol tem servido há muito tempo como palco para o lançamento de tendências, principalmente de cortes de cabelo. Desde o primeiro Mundial, em 1930, os jogadores inovam nas madeixas. Se houve um tempo em que os fios eram grandes e desajeitados ou bem curtinhos, nas últimas duas décadas os cortes ganharam sofisticação. Basta olhar para a história das Copas do Mundo e perceber: Os cabelos são protagonistas. Quem não se lembra do ‘black loiro’ de Valderrama? E do moicanodoinglêsDavidBeckham?Sejapela personalidade, vaidade ou por brincadeira - como foi com Ronaldo Fenômeno e seu “estilo Cascão”, em 2002 - os jogadores entram para história não só pela habilidade no futebol. Será que Ronaldo imaginou que seu cabelo faria tanto sucesso naquela final? TiagoDias,23anos,fezpartedamultidão defãsquerepetiuovisualdoatleta.Oestudante de produção cultural da Universidade Federal da Bahia (Ufba) lembra que, aos 15 anos, foi cortar o cabelo com os amigos. “Nós queríamos estar mais 1987-1995

Júnior Ostentava um black power grande e cheio. O visual até lhe redeu um apelido: Júnior Capacete. O atleta se inspirou no penteado de Jairzinho, que jogou na Seleção entre 1964 e 1682.

próximos do nosso ídolo, queríamos parecer com ele”, conta. Além do sentimento de aproximação com o jogador, a influência dos amigos de sua rua foi decisiva. “Quem não fazia era julgado”, pontua o universitário. Se à época, estilizar o cabelo parecia uma boa saída para encurtaradistânciaentreeleoídolo,hoje, o recurso não agrada mais ao rapaz. “Quando você cresce, percebe que para admirar alguém não é preciso fazer o que a pessoa faz”, reflete. CABEÇA FEITA Dono de uma barbearia na Ribeira há 12 anos, Carlos Alberto também nota a influência dos ídolos do futebol na cabeça dos seus clientes. “Os mais conhecidos são mais procurados. Eles adoram copiar as personalidades”, contaseuCacau.Segundooproprietário, no bairro popular os holofotes são para os jogadores brasileiros e baianos. “Neymar é o mais pedido. Depois vêm os daqui, como Talisca e William Henrique – com seu cabelo Pica-Pau”, revela. Com o moicano personalizado igual ao doídoloNeymar,ojogadordabasedoVi1987-1998

Ricardo Rocha Inspirado no estilo sertanejo, o zagueiro tinha um cabelo armado e longo. Aposentado em 1998, hoje Rocha é comentarista esportivo.

Dunga

Dunga foi o primeiro a aderir ao estilo espetadinho. Vaidoso, o jogador fugiu do ‘sertanejo’ da época e adotou o penteado usando muito gel fixador.


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1996-2010

no campo tória Luciano Fernandez, 16, faz parte do fã clube de carteirinha do atacante, que jáprometeuumnovocorteparaestaCopa. Fernandez está entre os jovens da nova geração que acompanha a moda dos gramados. Segundo o jogador, a maioria dos amigos copia o craque do Barcelona. “Ele tem a mesma história que todos nós. A gente se vê igual a ele”, conta. Para Luciano, o cabelo é sua marca principal e não será motivo de vergonha no futuro, garante. Ele revela que corte hoje o deixa mais estiloso e ajuda a fazer sucesso com as garotas: “Vou continuar assim, mesmo se o Brasil perder a Copa”. Cabeleireiro há mais de 25 anos, Edu Domingos é testemunha da vontade de copiar os atletas nos salões de bairros considerados nobres. Trabalhando atualmente na Pituba, o profissional diz que o desfile de cabelos é protagonizado por inspirações vindas de fora: o português Cristiano Ronaldo, o argentino Lionel Messi e o inglês David Beckhamfiguramentreosmaispedidos. “Os jovens chegam e pedem o corte 1994-2011

David Beckham O inglês já teve longas madeixas, topete e raspou a cabeça. Beckham simboliza a transição masculina para o Século XXI. É um homem que se preocupa muito com a aparência.

daqueles jogadores que estão em alta na mídia”, conta. GAROTO-PROPAGANDA De acordo com o publicitário Jorge Martins, esses atletas tornam-se modelos para tanta gente por trazerem consigo uma receita que conquista o consumidor. Todos têm corpos sarados, são viris e eficientes em suas atividades. “Eles são os heróis da história moderna”, descreve Martins. Vender-se como um alguém preocupado com a aparência é outra boa jogada para o bolso do atleta, segundo Jorge. “Basta olhar o caso de Messi e Cristiano Ronaldo. Eles são bons em suas atividades, mas Cristiano faz mais publicidade porque se mostra mais vaidoso”, avalia. Por contrato ou apenas diversão, os jogadores de futebol já incorporaram o estilo do cabelo ao uniforme que vestem em campo. Descabelado, bem curto, arrepiado, black, moicano, trançado... Com a chegada do Mundial, os holofotes são maiores e a pergunta que fica é: Qual será o próximo corte da moda? 2010 -

2005-

Messi O jogador argentino já teve cabelo comprido, cortou arredondado e, em 2013, apareceu com um penteado espetado, deixando os fios mais lisos do que antes.

2003-

Ronaldo Fenômeno

Neymar

Cristiano Ronaldo

O cabelo ‘Cascão’, feito na final da Copa, virou uma febre. O visual consistia basicamente em uma ‘meia cuia’ na frente da cabeça. Atrás, o cabelo era raspado com máquina zero.

O atual atacante do Barcelona já teve diferentes penteados. Desde cabeleira totalmente descolorida até moicano. Que venha o próximo.

O português destaca-se por deixar os penteados ousados. Seus últimos cortes tinham as laterais e nuca mais curtas. A parte da frente fica mais longa e toma uma forma despontada e desigual.


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

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1996-2010

no campo tória Luciano Fernandez, 16, faz parte do fã clube de carteirinha do atacante, que jáprometeuumnovocorteparaestaCopa. Fernandez está entre os jovens da nova geração que acompanha a moda dos gramados. Segundo o jogador, a maioria dos amigos copia o craque do Barcelona. “Ele tem a mesma história que todos nós. A gente se vê igual a ele”, conta. Para Luciano, o cabelo é sua marca principal e não será motivo de vergonha no futuro, garante. Ele revela que corte hoje o deixa mais estiloso e ajuda a fazer sucesso com as garotas: “Vou continuar assim, mesmo se o Brasil perder a Copa”. Cabeleireiro há mais de 25 anos, Edu Domingos é testemunha da vontade de copiar os atletas nos salões de bairros considerados nobres. Trabalhando atualmente na Pituba, o profissional diz que o desfile de cabelos é protagonizado por inspirações vindas de fora: o português Cristiano Ronaldo, o argentino Lionel Messi e o inglês David Beckhamfiguramentreosmaispedidos. “Os jovens chegam e pedem o corte 1994-2011

David Beckham O inglês já teve longas madeixas, topete e raspou a cabeça. Beckham simboliza a transição masculina para o Século XXI. É um homem que se preocupa muito com a aparência.

daqueles jogadores que estão em alta na mídia”, conta. GAROTO-PROPAGANDA De acordo com o publicitário Jorge Martins, esses atletas tornam-se modelos para tanta gente por trazerem consigo uma receita que conquista o consumidor. Todos têm corpos sarados, são viris e eficientes em suas atividades. “Eles são os heróis da história moderna”, descreve Martins. Vender-se como um alguém preocupado com a aparência é outra boa jogada para o bolso do atleta, segundo Jorge. “Basta olhar o caso de Messi e Cristiano Ronaldo. Eles são bons em suas atividades, mas Cristiano faz mais publicidade porque se mostra mais vaidoso”, avalia. Por contrato ou apenas diversão, os jogadores de futebol já incorporaram o estilo do cabelo ao uniforme que vestem em campo. Descabelado, bem curto, arrepiado, black, moicano, trançado... Com a chegada do Mundial, os holofotes são maiores e a pergunta que fica é: Qual será o próximo corte da moda? 2010 -

2005-

Messi O jogador argentino já teve cabelo comprido, cortou arredondado e, em 2013, apareceu com um penteado espetado, deixando os fios mais lisos do que antes.

2003-

Ronaldo Fenômeno

Neymar

Cristiano Ronaldo

O cabelo ‘Cascão’, feito na final da Copa, virou uma febre. O visual consistia basicamente em uma ‘meia cuia’ na frente da cabeça. Atrás, o cabelo era raspado com máquina zero.

O atual atacante do Barcelona já teve diferentes penteados. Desde cabeleira totalmente descolorida até moicano. Que venha o próximo.

O português destaca-se por deixar os penteados ousados. Seus últimos cortes tinham as laterais e nuca mais curtas. A parte da frente fica mais longa e toma uma forma despontada e desigual.


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

A taça do mundo é nossa/ Com brasileiro, não há quem possa/ Eh, eta, esquadrão de ouro/

A Taça do Mundo é nossa - 1958 Composta pouco antes da final

90 milhões em ação/ Pra frente Brasil/ no meu coração/ Todos juntos, vamos/pra frente Brasil/ Salve a Seleção Pra frente, Brasil - 1970, composição de Miguel Gustavo

MÚSICA NA COPA

No ritmo da torcida Por Alane Reis

“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil. Salve a seleção”: os versos embalavam as famílias brasileiras durante a Copa do Mundo do México (1970). A música “Pra frente Brasil”, do jornalista Miguel Gustavo, foi tema da seleção no Mundial e virou a música de Copa mais gravada no imaginário nacional. Com o título, o Brasil tornou-se o primeiro país tricampeão. Foi também a primeira vez que os jogos da seleção na Copa foram transmitidos ao vivo pela TV. A conquista foi fortemente usada como instrumento de propaganda do regime militar, que passava por sua fase mais truculenta. A Seleção virou ícone de patriotismo e o hit nunca mais foi esquecido. Em toda Copa, uma trilha sonora é eleita pela torcida. Estas músicas perpetuam a memória de vitórias - e derrotas - da seleção. A tradição é antiga.

Na Copa de 1938, na França, a cantora Carmen Miranda emplacou nas rádios o sucesso “Paris”, dos compositores Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho. A música exaltou o patriotismo ao valorizar a orla do Rio de Janeiro diante da capital francesa. “Paris! Paris! "Je t'aime" / Mas eu gosto muito mais do Leme”, defendia a letra. É claro que as canções ganham mais força diante de uma vitória, como na goleada de 6x1 do Brasil sobre a Espanha, na Copa de 1950. Durante a semifinal, no Maracanã lotado, a torcida cantava enlouquecida a marchinha “Touradas em Madri”, de Alberto Ribeiro e Braguinha. A letra não falava de futebol, mas fazia menção à Espanha, o bastante para ser eleita o hino da “trolagem” aos espanhóis. Em 1958, na Suécia, a torcida brasileira ajudou a eleger o primeiro hit

Tu és a Cidade Luz.../ Paris! Paris!/ Je t'aime/ Mas eu gosto muito mais do Leme Paris - 1938 Gravada por Carmen Miranda

relacionado a um mundial. O fantasma de 1950 assustava os torcedores. A Seleção começou o campeonato desacreditada, mas o Brasil chegou à final. Às pressas, os publicitários Wagner Maugeri, Lauro Müller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô, compuseram “A taça do mundo é nossa”, lançada nas rádios em 29 de junho, dia da decisão. A Seleção derrotou a Suécia por 5x2 e ganhou sua primeira Copa do Mundo. A canção, gravada pelo grupo Titulares do Ritmo, entrou para história do futebol brasileiro e serviu para embalar a torcida também no bicampeonato mundial em 1962. “O primeiro título foi uma emoção muito grande, ninguém esperava que levássemos. Pelé não era nem titular, mas assim que o técnico Vicente (Feola) colocou ele pra jogar, o Brasil mostrou a que veio”, recorda a costureira

Mexe, mexe, mexe, coração/ Vamos que vamos/que essa bola vai rolar Mexe, coração - 1986 Música de Sullivan e Massadas


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

CONVOCAÇÃO

Seleção de Futuro

E se a próxima Copa do Mundo fosse formada por jogadores de clubes baianos? O Correio de Futuro foi conhecer as novas promessas das divisões de base soteropolitanos e montou uma seleção; confira

Por Alexandre Galvão e Naiana Ribeiro O Copas* convocou a seleção que irá jogar no frio da Rússia em 2018. Felipão ficou para trás. Sem Neymar, Lucas, David Luiz ou Hulk, a missão agora é composta por 11 baianos convocados pelos repórteres Alexandre Galvão e Naiana Ribeiro. O objetivo? O mesmo desde 1930: Trazer a taça para as terras quentes do Brasil.

VOLANTES

ZAGUEIROS

ATACANTES

Os meninos da Seleção do Futuro não trilharam um caminho fácil para chegar à Rússia. A convocação aconteceu sob os olhares atentos da nossa equipe, através de entrevistas com os familiares, técnicos, preparadores físico e jogadores. A responsábilidade é grande, mas eles estão preparados: Que venha o Heptacampeonato!

9

Eronildo Rocha

10 Yan Matheus Souza

Sobradinho (BA)

Alagoinhas (BA)

Pontos fortes: Força, velocidade e enxerga às oportunidades

Pontos fortes: Técnica, raciocínio rápido e velocidade

“É preciso ter cabeça. É difícil viver longe da família, mas o sonho fala mais alto”

3

8

Igor Araújo

“Penso muito para tomar decisões assertivas, por isso faço e não me arrependo”

“É preciso muito trabalho para conquistar as coisas. Se deixarmos de trabalhar, perdemos tudo”

4

Caio Sena

“Procuro sempre fazer a minha parte - fazer 'o meu' - dentro de campo, o resto é consequência”

Mongeiro (PB)

Lauro de Freitas (BA)

Pontos fortes: : Velocidade, tática e técnica

Pontos fortes: Força, técnica e tranquilidade

Wesley Castro

“O que me motiva a jogar é o meu futuro”

5

1

Igor Rodrigues

Ítalo Bastos

“Treino muito para me destacar e mostrar pra que vim”

Salvador (BA)

Salvador (BA)

Pontos fortes: : Velocidade, marcação, chega bem na área

Pontos fortes: : Rápido, habilidoso e é canhoto

Goleiro 18 anos Bahia


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

| 25

6

4

Pablo Gomes

Caio Sena Zagueiro 17 anos Leônico

Lateral 16 anos Leônico

5

3 Igor Araújo Zagueiro 14 anos Vitória

Ítalo Bastos Volante 16 anos Leônico

2 Júlio César Júnior Lateral 16 anos Galícia

11

Meia 16 anos Galícia

8

Wesley Castro

Volante 17 anos Bahia

9

7

Otávio Fonsceca

Eronildo Rocha

Meia 14 anos Vitória

1

GOLEIRO LATERAIS

Atacante 16 anos Vitória

Igor Rodrigues “O futebol me transformou em uma pessoa digna” Vitória da Conquista (BA) Pontos fortes: explosivo na saída para a defesa, personalidade forte e liderança.

2

7

MEIAS

10 Yan Souza Atacante 15 anos Vitória

Gabriel Borges

Júlio César Júnior

6

“Tento dar as coordenadas e ser o maestro do jogo”

Pablo Gomes

“Meu sonho é ser jogador profissional. Sempre treinei para isso, nunca vou desistir”

Salvador (BA)

Salvador (BA)

Pontos fortes: : Explosão, bate bem na bola e visão de jogo

Pontos fortes: : Velocidade, força, técnica e fôlego

Otávio Fonsceca

“Recebo muitas críticas no dia a dia, mas essas não me abalam”

11

Gabriel Borges

“É preciso muito trabalho para conquistar as coisas. Se deixarmos de trabalhar, perdemos tudo”

Ilha de Itaparica (BA)

Salvador (BA)

Pontos fortes: Visão de jogo, cabeceia e conduz bem

Pontos fortes: Técnica, bloqueia bem o meio campo


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

Das peneiras aos campos: Seleção de Futuro sonha com 2018 ex-jogador da base do Vitória, Joílton Alves, vê o filho Ítalo Bastos ter a possibilidade de concretizar o sonho que uma grave lesão o impediu de realizar. Joílton, que abandonou os campos de vez e trabalha como vigilante, é o apoio familiar que tanto faz falta aos meninos que não jogam em suas cidades. “Quando ele era pequeno, eu o treinava usando as coisas que aprendi”, conta Joílton, que acompanha o filho em todos os jogos. FAMÍLIA A Copa do Mundo é sinônimo de felicidade dupla para os garotos. Com a pausa dos treinamentos, eles vão ficar com suas famílias e prestigiar seus ídolos. O campeonato também dará a oportunidade dos meninos verem as suas inspirações jogarem. Os nomes são muitos, mas a maioria cita Neymar como exemplo. “Ele é o craque do time, o ídolo brasileiro. Ele tem uma história parecida com a nossa”, diz Yan, que mora na mesma sede que David Luiz e Hulk já moraram. O futebol arte também encanta e é pré-requisito quando a questão é imi-

tar algum astro. “Tento ser o maestro do jogo. Dar as coordenadas, tomar a bola e fazer com ela o que eu quiser”, diz Júlio César Júnior, que se inspira em Ronaldinho Gaúcho. As lembranças das Copas anteriores são poucas. Em 2010, quando tinha 10 anos, o volante Otávio viu a seleção voltar da África do Sul de mãos vazias. Chance de avaliar o próprio futebol. “Eu faria melhor do que muitos ali”, confia. Já Eronildo lembra que, no mesmo ano, durante as quartas de final, a derrota sofrida pela seleção de Robinho e Kaká por 2x1 contra a Holanda trouxe prejuízo para a família. “Todo mundo chorou. A gente comprou um monte de comida e depois não tinha o que fazer com tudo”, afirma o jogador, que foi convocado para a seleção de base sub-17 do Brasil. Este ano, dois baianos estão na pequena área e terão a oportunidade de marcar o gol e, quem sabe, levar o título: Dante e Daniel Alves. Mas, se os planos falharem, tudo bem. Em 2018, vai ter Copa e vamos torcer para que a Seleção de Futuro esteja lá.

NAIANA RIBEIRO

A cada peneira anunciada, passam pelos campos dos clubes de Salvador milhares de crianças. Levadas pelo dinheiro, pela paixão ou apenas pelo incentivo dos pais, todas querem dar o chute inicial na carreira e entrar em uma equipe com estrutura para se tornar profissionais. No entanto, são poucos os que chegam à pequena área e marcam o gol. Os 11 meninos da Seleção de Futuro, que mal sabiam andar na última vez que o Brasil levantou a taça da Copa, ficam mudos por instantes quando são confrontados com a pergunta: “O que você sentiria se fosse convocado?”. O silêncio antecipa um sorriso largo em todos os rostos e a resposta simples é quase sempre a mesma: “Não sei descrever tamanha felicidade. Seria um sonho realizado”. Muitas barreiras precisam ser vencidas pelos jogadores das divisões de base se eles quiserem se juntar à lista de campeões mundiais baianos composta por Junior, Edilson, Dida, Vampeta, Bebeto, Aldair e Zózimo. A saudade talvez seja a maior delas. Aos 46 anos, o

Joílton é pai de Ítalo Bastos, do Leônico. Ele vê no filho a chance de realizar o sonho abandonado aos 16 anos, após sofrer uma lesão


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

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COMPORTAMENTO

Gente que coleciona

Por Helen Carvalho

Um calendário de 1972 com a foto de Pelé fazendo propaganda de pilhas, flâmulas e broches das federações de futebol, uma camisa da Seleção Brasileira da Copa de 74 usada pelo ponta esquerda Dirceu, um livro sobre Garrincha autografado pelo autor e jornalista Ruy Costa, são alguns dos itens da seleção de colecionadores do Copas. Basta se aproximar da época da Copa do Mundo que alguns torcedores fanáticos, e outros novos empolgados pelo início da competição, compram itens relacionados ao Mundial, como álbuns de figurinhas, bandeiras e camisas das seleções. Muitas coleções começam como tentativa de ter uma recordação de momentos especiais. Segundo o psicólogo Diego Sant’ana, existem pessoas que, ao terem vivenciado uma experiência marcante, decidem levar certos objetos consigo. “São objetos ou símbolos em que depositaram alguma emoção”, afirma. Para quem é aficcionado pela mania, pouco interessa o valor, o que importa é o prazer e alegria proporcionados. Essas pessoas consideram suas coleções “invendáveis, inegociáveis e imprestáveis”, como afirma a jornalista Clara Albuquerque, que tem uma biblioteca de mais de 400 livros sobre futebol. Acumular estes objetos está ligado ao valor

sentimental e histórico das peças. “Eu posso até vender a coleção, mas não seria capaz de vender a história de cada item”, conta o produtor de rádio Fred Flávio, que desde pequeno junta figurinhas, broches, botões, e outra infinidade de objetos das seleções de futebol em uma coleção que já chega aos mil itens. É preciso investimento financeiro para fazer crescer a coleção. Um álbum de figurinhas oficial da Copa do Mundo 2014, por exemplo, exige um investimento de, no mínimo, R$ 133,90 para que seja preenchido pelas 640 figurinhas, isso se considerar a improvável possibilidade de não repetir os cromos dentro dos pacotes. Apesar disso, há estratégias adotadas por alguns torcedores que não querem pôr a mão no bolso para conseguir itens exclusivos. “Às vezes, basta uma rede de contatos bem-feita”, diz Fred Flávio. Apesar de todo esse amor, o psicólogo Diego Sant’ana sugere que, em alguns casos, o ato de colecionar pode virar um transtorno. Segundo ele, existe uma ligação entre quem ama colecionar e o comprador compulsivo, quando a vontade de acumular objetos vira doença. “Em muitos casos, a pessoa não tem consciência da forte emoção que foi causada (pelo item) e não sabem por que gostam”.

COLECIONADORES DO COPAS ROBSON MENDES

Nunca é tarde para começar O médico ortopedista Eduardo Sampaio, 42 anos, apaixonou-se pelo futebol antes de desenvolver a vocação para colecionar camisas de times e seleções. Ainda menino, encantou-se pelo esporte quando foi pela primeira vez à Fonte Nova, em 1973. Nessa época, morava no mesmo prédio de Walter, zagueiro do Vitória e campeão baiano no ano anterior, e via fascinado o entra e sai de jogadores no apartamento do ídolo. Depois de formado, Eduardo foi trabalhar como ortopedista no Esporte Clube Bahia. Atualmente, ele trabalha no Ypiranga. Duda, como é conhecido, só começou sua coleção em 2008 e hoje possui aproximadamente 500 camisas de seleções, sendo 300 originais e 200 réplicas. Ele prefere não revelar o quanto investiu, mas garante que foram todas compradas ou trocadas. “A coleção começou com peças soltas, mas aos poucos fui criando coleções específicas, com peças segmentadas, por gosto pessoal, interesse pelo esporte e pela evolução das camisas”, explica. Do seu grande acervo, Duda revela um maior apego por uma camisa azul do Brasil, usada pelos jogadores entre as Copas de 1970 e 1974. “Essa é a minha favorita por sua raridade e beleza”, revela. Para quem tiver interesse em começar ou complementar uma coleção de uniformes, Duda indica grupos em sites de redes sociais. “Uma boa dica para quem quer começar é procurar pelos grupos de Facebook ‘Loucos por Camisas de Futebol’ [fb.com/groups/kamizasdefutebol] e ‘Colecionadores de Camisas de Futebol’ [fb.com/ColecionadorFC], que permitem trocas, compras e anúncios.” @

Médico, Eduardo Sampaio, 42, mostra sua coleção de camisas


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

400 títulos de futebol A jornalista Clara Albuquerque, 30 anos, sempre gostou de futebol. Com apenas 14 anos, percebeu que tinha mais livros sobre o tema do que brinquedos. “A coisa ficou mais séria, comecei a colecionar e olhar com mais cuidado para os lançamentos e prateleiras sobre o esporte nas livrarias”, lembra. Sua coleção possui aproximadamente 200 obras, dentre biografias, livros jornalísticos, analíticos, de fotografia, além de cerca de 200 exemplares da revista Placar, especializada em futebol. A maioria dos itens foi comprada e ela atribui tudo isso a um só motivo: a paixão. Ela afirma ser impossível escolher um único livro favorito, mas cita três com os quais tem maior apego: os livros Garrincha Estrela Solitária, de Ruy Castro, Nunca Houve um Homem como Heleno, de Marcos Eduardo Neves sobre o jogador Heleno de Freitas, considerado o primeiro "craque problema" do futebol brasileiro, além de Pelé - Minha Vida em Imagens. Clara também já escreveu livros sobre futebol, o primeiro deles ainda enquanto estava na faculdade. Durante a pesquisa para escolher o tema, ela percebeu que nenhum dos livros de sua coleção era voltado às mulheres e pensou: “Por que não ensinar a todas as mulheres

que queiram aprender sobre futebol escrevendo um livro?”. Assim nasceu A Linha da Bola - Tudo o que as Mulheres Precisam Saber sobre Futebol e os Homens Nunca Souberam Explicar. O amor pelo esporte rendeu um segundo livro, Os Sem-Copa, que fala dos craques que nunca foram selecionados para disputar um Mundial. Como trabalha como apresentadora e comentarista esportiva, Clara é uma verdadeira privilegiada, pois já teve itens de sua coleção autografados pelos próprios autores, alguns referências no assunto, como os jornalistas Paulo Vinicius Coelho e Mauro Beting. Mas uma das assinaturas é especial. “Na época do lançamento do meu primeiro livro, fui convidada a participar de um programa de televisão no qual Sócrates participava. Cheguei mais cedo no local e era dia de jogo do Corinthians. Assisti à partida ao lado de Sócrates. Ele comentou o jogo comigo e, no fim, assinou um dos meus livros sobre o Corinthians”. Clara é enfática ao dizer que nunca venderia sua coleção. De forma irreverente revela se tem ideia de quanto vale todo o seu acervo: “Para mim não tem preço. Como disse certa vez Vicente Matheus (ex-diretor de futebol do Timão), sobre Sócrates: - Ela é invendável, inegociável e imprestável!”. CLARA ALBUQUERQUE/ARQUIVO PESSOAL

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Cercada pelos mais de 400 títulos sobre futebol, a jornalista Clara Albuquerque, 30 anos, fez da paixão um ofício: escritora de livros


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

| 29 BETTO JR.

A coleção do produtor da CBN Salvador Fred Flávio, 48, é formada por quase mil peças, entre broches, bandeiras, álbuns e pôsteres @ O prodígio que ganhou um corte de cabelo gratuito Fred Flávio, ou como prefere ser chamado, Fred do Chame-Chame, 48 anos, é produtor da equipe esportiva da rádio CBN Salvador e coleciona itens relacionados às Copas do Mundo desde quando tinha apenas 4 anos. A paixão surgiu com a coleção de álbuns e figurinhas da Copa do México, em 1970, quando começou a se familiarizar e aprender os nomes de jogadores e seleções, ainda antes de aprender a ler: o Brasil ganhou o tri. Em 1972, aos 6 anos, ganhou da sua mãe um calendário de Pelé como garoto-propaganda de uma marca de pilhas. “O calendário é o item mais antigo da minha coleção, já que com o tempo, acabei perdendo o álbum de figurinhas da Copa de 70“, lamenta Fred. No Mundial de 1974, na Alemanha, aos 8 anos, ele voltou a colecionar figurinhas em um álbum e, dessa vez, já sabia ler os nomes dos jogadores de todas as seleções. Na véspera da final entre Alemanha e Holanda, foi com o pai cortar o cabelo. Enquanto aguardavam, a decisão do torneio virou o tema da conversa. Orgulhoso, o pai contou ao barbeiro que Fred era capaz de falar os nomes dos 22 jogadores em campo, alemães e holandeses. O bar-

beiro disse, que se isso acontecesse, cortaria os cabelos dos dois de graça. Pai e filho voltaram para casa de cabelos cortados, com o dinheiro no bolso e ainda assistiram a Alemanha ser campeã. A coleção de Fred é vasta e tem aproximadamente mil itens. Entre eles, podem ser encontrados oito álbuns, mais de 300 figurinhas, 100 cards, cartões-postais, mais de 50 broches, flâmulas, além de livros, revistas, jornais e DVDs que somam mais de 300 itens. Apesar de tantas peças, ele nunca se preocupou em contabilizar quanto a coleção custaria em dinheiro. “Essa coleção não tem preço”, afirma o produtor da CBN Salvador. Mas Fred garante que não gastou tanto dinheiro para ter sua coleção, já que a maioria dos itens, ele ganhou das próprias seleções e confederações: algumas vieram da própria Fifa. Fred do Chame-Chame entrega o seu diferencial: ele adquire os brindes através de amigos que viajam e trazem como lembrança e, principalmente, através de contatos feitos pelos sites de redes sociais por pedidos feitos à Fifa e às entidades de futebol pelo mundo, como a Federação Dinamarquesa de Futebol, que mandam tudo pelos Correios.


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Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

ANNE RAVELE

A cegueira não impede Iracema de torcer

COMPORTAMENTO

Extremos das torcidas Por Anne Ravele

A maioria dos brasileiros que acompanha futebol – gostando ou não – apresenta sentimentos distintos, de entusiasmo ou insatisfação, em relação à realização da Copa do Mundo no país, que começa hoje (12), com a partida entre Brasil e Croácia, em São Paulo. Em um extremo, o do entusiasmo, parte da população cultiva a alegria de receber o mundo em casa, de sediar o evento mais importante do esporte vestindo com orgulho a camisa verde e amarela. Na outra ponta, onde mora a insatisfação, uma parte veste preto para demonstrar a decepção com os alegados desmandos da Fifa e com o governo, diante dos gastos vistos como exagerados na construção de estádios. Cada lado enxerga o Mundial e o

mundo de um jeito. E há quem não veja de uma forma literal, como a professora Iracema Vilaronga, 32 anos. Apaixonada pela Seleção Brasileira, ela é deficiente visual desde os 5 anos de idade. Entre uma conversa e outra, já descobriu detalhes de como é o Camisa 10 da Seleção, Neymar. “Me descreveram ele. Tem um tipo físico nem atlético, nem franzino, média estatura e sempre chama atenção pelo corte de cabelo. Muda o penteado com tanta frequência que nem dá tempo de copiar”, analisa. Ela vê na Copa do Mundo uma oportunidade de tornar essa paixão mais acessível para a percepção dos cegos. Iracema, que trabalha como professora na Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e no Instituto dos Cegos da Bahia, luta pela implantação do Recurso

de Autodescrição durante os jogos na Arena Fonte Nova. Este recurso possibilita a descrição de tudo que está acontecendo no estádio, não apenas a narração, mas o comportamento da torcida, dos juízes, dos atletas... “Para quem tem deficiência visual, a implantação deste recurso, ainda nesta Copa, representa independência. (Vamos) poder curtir os jogos sem esperar que alguém nos conte o que está acontecendo, principalmente em lances decisivos, como pênalti”, exemplifica. No entanto, o mecanismo de acessibilidade só foi aprovado, até o momento, em apenas quatro das 12 cidades sedes da Copa: Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. NÃO VAI TER COPA Ver o craque que costuma cavar faltas em ação, a partir


Salvador, quinta-feira, 12 de junho 2014

REPRODUÇÃO/FACEBOOK

| 31 ANNE RAVELE

Helieth se acidentou na torcida. A paixão pela Seleção não diminuiu

Black bloc, Carlos* não quer saber de Copa

de hoje, não é visto com bons olhos pelo operador de retroescavadeira Carlos (nome fictício). Aos 33 anos, ele prefere não se identificar, temendo represália da polícia ou do governo. Anti-Copa convicto, Carlos se classifica como um black bloc – grupo descentralizado que apresenta táticas de luta contra repressão policial nas ruas – e irá compor a torcida do contra nesse Mundial. “Gosto de futebol, sou palmeirense, mas a Seleção Brasileira não me representa. Digo isso pelos gastos absurdos para a realização do campeonato. Foi um desperdício investir o dinheiro do povo em estádios, enquanto escolas e hospitais se encontram com estrutu-

Me recomendaram não assistir aos jogos para evitar uma nova lesão. Mas eu assisto Helieth, que se machucou torcendo pelo Brasil

ras precárias”, comenta, indignado. E essa insatisfação será levada às ruas nos próximos dias. “Planejo ir em todas as manifestações que irão acontecer em Salvador durante a Copa. Vamos incomodar e lutar, desobedecendo ao sistema que tanto tem nos afetado”, avisa. VAI TER COPA Talvez, se o anti-Copa Carlos pudesse ter contato com a alegria de Helieth Diniz, 68 anos, avó de 22 netos e um bisneto, tivesse menos rancor pela Seleção. A vovó fanática pelo time canarinho narra um acontecimento marcante e extremo de sua vida como torcedora do time canarinho. Na semifinal da Copa de 2002, Helieth havia convocado todos os amigos e familiares para assistirem ao jogo entre Brasil e Turquia em sua casa, no bairro do Tororó. A sala estava decorada, a bandeira do Brasil estendida na janela e todos ansiosos para comemorar a vitória. A cada lance, a sala tremia. Quando o goleiro Rüstü aceitou o chute de bico de Ronaldo, no estádio de Saitama, no Japão, outra coisa improvável aconte-

ceu no outro lado da Terra. “Lembro exatamente do momento. Eu estava pulando, comemorando o gol e, quando coloquei o pé no chão, já não conseguia me segurar em pé”, conta. Helieth sofreu uma ruptura total do tendão da perna direita e foi levada com urgência ao hospital. Passou por cirurgia, depois fisioterapia, ficou com sequelas, mas isso não a fez perder a paixão pela Seleção. “Os médicos me recomendaram não assistir mais aos jogos para evitar uma nova lesão. Mas eu assisto. Não tenho o costume de assistir jogos de futebol. Mas, se for jogo da Seleção, eu não perco um”, conta a simpática e animada vovó do Penta.

Vamos incomodar e lutar, desobedecendo ao sistema que tanto tem nos afetado Carlos*, que planeja protestar em Salvador


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