25 anos de Cultura

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25 anos de Cultura Organização Centro de Pesquisa Histórica/CMeC

Porto Alegre, 2016


© 2016, Prefeitura de Porto Alegre/Coordenação da Memória

Prefeitura de Porto Alegre Prefeito José Fortunati Secretário Municipal da Cultura Roque Jacoby Secretário-Adjunto Municipal da Cultura Vinícius Gentil dos Santos Cáurio Coordenação da Memória Cultural Luiz Antônio Bolcato Custódio

Endereço Avenida Independência, 383/202 CEP 90035-074 Porto Alegre/RS Brasil

G963p

Porto Alegre (RS). Secretaria Municipal da Cultura Porto Alegre: 25 anos de cultura / Rafael Guimaraens, Coordenação da Memória Cultural ; organização: Centro de Pesquisa Histórica; ilustração: Ricardo Machado. – Porto Alegre : Editora da Cidade, 2016. 136 p.: il.; 23 cm

Publicação em homenagem aos 25 anos da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

ISBN 978-85-69814-05-4 Porto Alegre: 25 anos de Cultura INTERNET

1. Porto Alegre - Cultura e instituições. I. Coordenação da Memória Cultural. II. Centro de Pesquisa Histórica. III. Machado, Ricardo. IV. Título. CDD 306.0981651

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Organização Centro de Pesquisa Histórica/CMeC Edição Rafael Guimaraens Texto: Coordenação da Memória Cultural Equipe de Pesquisa: Simone Graciela Derosso Fátima Ávila Leandro Isoton Eleonora Coelho Rafael Tabares Design Gráfico Clô Barcellos Ilustração Ricado Machado Fotografia Acervo da Prefeitura Muncipal de Porto Alegre Editoração Libretos Revisão Simone Graciela Derosso Fátima Ávila Flavia Boni Licht Baiard Brocker da Rosa Lucia Maria Jahn

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CULTURA e

Desenvolvimento Em fevereiro de 1988, um grupo de funcionários da Divisão

de Cultura da Secretaria de Educação de Porto Alegre, liderados pelo professor Joaquim José Felizardo, comemorou a criação da Secretaria Municipal da Cultura. Naqueles dias, por certo, se falava na necessidade de um órgão, de um instrumento, de uma

instância que reunisse todos e tudo em prol do desenvolvimen-

to da Cultura. Nessa época, desenvolvimento era sinônimo de chaminés fumegantes; as tecnologias de ponta eram miragens

num horizonte de ficção; a internet engatinhava, e as redes sociais nem tinham nascido.

E nem faz tanto tempo assim, apenas 25 anos. Um tempo que

é quase um piscar de olhos, mas que mudou a paisagem cultu-

ral da cidade. A Secretaria da Cultura aglutinou homens e mulheres que respiram dança, música, teatro, artes plásticas, literatura, e quando não pode realizar, aponta os caminhos. Se hoje

nos orgulhamos de realizações como o Porto Alegre em Cena,

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o Festival Internacional de Teatro de Rua, o Festival do Circo,

a Feira do Livro, o Carnaval, a Bienal do Mercosul, o Acampamento Farroupilha e as 24 Horas de Cultura é porque aqueles que vieram antes sonharam e, mais que isso, trabalharam.

Não é por acaso que, ao longo desses 25 anos soubemos iden-

tificar que o fazer cultural, além de ser uma manifestação ar-

tística, é também parte de uma engrenagem que exige investimento, profissionalismo e responsabilidade. De nossa parte,

nos orgulhamos da criação do Fumproarte, que não é um sim-

ples mecanismo de distribuição de verbas, mas um instrumento de parceria entre o poder público e os agentes culturais de todas as artes.

Nesses últimos 25 anos, quase tudo mudou: mudou a cul-

tura, a forma de ver e sentir o mundo, o próprio mundo se encarregou de mudar as pessoas e ser mudado por elas. Se há 25

anos, uma Secretaria era necessária para o desenvolvimento da

Cultura, hoje podemos afirmar que é impossível pensar o desenvolvimento sem a Cultura.

Nosso agradecimento e nossos cumprimentos a todos os se-

cretários que nos antecederam nesta pasta e às várias equipes

de colaboradores, coordenadores e servidores, que marcaram a trajetória da Cultura em Porto Alegre. A eles, nossos mais efusivos aplausos.

ROQUE JACOBY Secretário da Cultura de Porto Alegre

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da

CULTURA

Esta obra é um fantástico trabalho de pesquisa realizado

por um qualificado grupo de servidores municipais que resgatam a trajetória dos 25 anos da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. Conhecer a história cultural da ci-

dade é o primeiro passo para que possamos entender melhor

o nosso tempo e transformar de forma democrática e participativa o nosso presente.

Pensar a cultura não é só pensar no artístico, mas é, funda-

mentalmente, dar sentido às nossas relações cotidianas. Desde

a fundação de Porto Alegre, em 1772, pelas mãos dos casais portugueses originários dos Açores e, ao longo dos anos, com os imigrantes de todas as origens, em particular os italianos, alemães, espanhóis, africanos, poloneses, japoneses, judeus e libaneses, a cidade acolhe e respeita os diferentes costumes, hábitos e crenças.

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Vem de longe a vocação cultural porto-alegrense. Com o de-

senvolvimento econômico e social do município, a Cultura começa a conquistar, depois de muitos anos de luta, um espaço

de destaque na articulação de uma cidade mais cidadã. Aliás,

cabe aqui reafirmar que a cultura é um forte instrumento de desenvolvimento, não só de emprego e renda, mas, também,

de fortalecimento da identidade cultural, comprometida com a qualidade de vida e a cidadania.

A Prefeitura investe em políticas públicas que permitam va-

lorizar os artistas e criadores locais. A descentralização leva a cultura para todas as regiões da cidade, estimulando a partici-

pação popular e fortalecendo o permanente diálogo intercultu-

ral. Essa iniciativa, além de inclusiva, permite a visibilidade e o protagonismo da cultura dentro das comunidades. Hoje, para

nosso orgulho, Porto Alegre é um importante polo produtor e

difusor de teatro, música, literatura, artes plásticas e cinema, sendo destino de grandes eventos nacionais e internacionais.

Porto Alegre é uma cidade conhecida pelo seu clima multi-

cultural. A Feira do Livro, o Porto Alegre em Cena, a Bienal do

Mercosul, o Acampamento Farroupilha e o desfile de Carnaval nasceram da inquietação criativa mais autêntica das comunidades e contribuem para a democratização dos espaços culturais da nossa cidade.

JOSÉ FORTUNATI Prefeito de Porto Alegre

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AÇÕESe

Políticas

Públicas

“No que diz respeito à política cultural, crescem as responsabilidades do Estado. Mas essas responsabilidades crescentes não devem ser confundidas com qualquer espécie de dirigismo.O Estado deve investir de maneira massiva na política cultural sem excluir a iniciativa privada, mas de forma a criar uma infraestrutura no qual possam manifestar as mais diversas tendências e formas de expressão.” Luiz Paulo de Pilla Vares

Nossa pesquisa busca proporcionar uma leitura sobre a

história da Secretaria Municipal da Cultura em seus 25 anos, considerando ações e políticas públicas implementadas ao

longo desse tempo na cidade, já a partir da Divisão de Cultura, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SMEC, e de onde se originou a SMC.

Nossas homenagens a Joaquim Felizardo, figura chave

para a criação da Secretaria ao conceber uma instituição de perfil enxuto e moderno atrelando a criação dos Fundos, Fun-

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cultura e FUMPHAC, o que garantiu agilidade na movimen-

tação cultural da cidade e um processo de expansão a curto

e médio prazos, tornando-se importantes recursos no fazer cultural na cidade e intensificando as ações culturais. Não poderíamos deixar de mencionar o intelectual Luiz Paulo de Pilla Vares, segundo Secretário da Cultura no município, que

soube implantar uma política cultural com conceitos claros de atuação, privilegiando espaços democráticos de criação cultural coletiva. Quem viveu esse período, não esquecerá as famosas reuniões de Coordenação na época do Pilla.

Na linha das políticas culturais exitosas, em 1993 criou-se o

FUMPROARTE, uma referência como política cultural para a cidade, possibilitando o desenvolvimento profissional de artis-

tas e grupos locais e proporcionando, até os dias de hoje, uma intensificação na produção cultural nas mais diferentes áreas.

Das atividades que permaneceram ao longo desses anos,

temos a Coordenação de Descentralização, que foi pensada

não no sentido de levar a arte àqueles bairros distantes periféricos da cidade, mas na perspectiva de seus moradores

agirem como atuadores do fazer cultural. Além dessa política cultural, os mais de 20 anos do Porto Alegre em Cena nos

afirmam seu sucesso, que traz todos os anos uma programação de qualidade muito aguardada pelos portoalegrenses.

Na caminhada mais recente de nossa secretaria, o Pro-

grama de Alfabetização Audiovisual vem realizando, desde

2008, várias ações de formação docente e cursos de extensão

universitária a professores da Rede Pública de Ensino, além de promover oficinas de introdução à realização audiovisual

e o acesso a esta linguagem aos alunos da Rede Municipal de Educação de Porto Alegre. Trata-se de uma parceria entre as Secretarias Municipais de Cultura e de Educação, o Mi-

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nistério da Educação/SEB e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Faculdade de Educação.

Buscando tornar-se um centro de referência para a promo-

ção da cultura e das artes como fatores de desenvolvimento

social e econômico, através da informação,temos o Observatório da Cultura, criado em 2010. E, finalmente, a Escola de

Espectadores de Porto Alegre (EEPA), lançada em 2013 com o

objetivo da formação de público, concilia aulas sobre fundamentos de artes cênicas e debates com diretores, atores, produtores e técnicos, tendo como tema produções que estejam em cartaz na capital.

Trabalhar com cultura significa conviver com a diversifica-

ção da arte e com todos os seus matizes. Por esses caminhos vem trilhando a Secretaria Municipal da Cultura ao longo de seus mais de 25 anos.

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Sumรกrio

PRIMEIRA parte

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SEGUNDA parte

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TERCEIRA parte

52

QUARTA parte

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QUINTA parte

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ANEXOS

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Biblioteca Pública Moacyr Scliar, Luciana de Abreu (do Partenon Literário), Rua dos Andradas e programa de estreia da Banda Municipal

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PRIMEIRA parte


PORTO

Alegre:

séc. XX A chegada do século XX consolida uma vigorosa vocação

cultural porto-alegrense que já se esboçava no perío­do anterior, especialmente a partir de 1858, com a inauguração do

Theatro São Pedro, imediatamente incluído no circuito das grandes companhias artísticas internacionais. Em 1868 nascia o Partenon Literário, criado por jovens escritores com o obje-

tivo de divulgar a literatura e qualificar a formação intelectual

do povo com ideais republicanos. O grupo organizaria fundos para a libertação de escravos.

Em 21 de janeiro de 1871, começa a funcionar a Bibliote-

ca Pública, primeiro na esquina das ruas Duque de Caxias e Marechal Floriano e, a partir de 1922, no atual prédio na Rua

Riachuelo, com verbas orçamentárias consideráveis para a aquisição dos grandes clássicos da literatura universal. Ainda

durante o século XIX, houve duas tentativas de implantar o Instituto Histórico e Geográfico, o que só viria a ocorrer, de forma definitiva, em 1920.

Na promoção de concertos na cidade, houve espaços, como

o Instituto Musical Porto-Alegrense (1896-1897), cuja maioria

de seus membros era de instrumentistas amadores. Em1897, é transformado no Club Haydn, mantendo seus objetivos princi-

pais até 1968: realização de concertos regulares e divulgação da música erudita.

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Com a virada do século, Porto Alegre ingressa em um novo

ciclo cultural. Os estúdios fotográficos de Virgilio Calegari e dos

irmãos Ferrari documentam o rápido desenvolvimento da cidade. Os cafés com música ao vivo são ponto de encontro dos debates contemporâneos, as livrarias abastecem leitores ávidos com os últimos lançamentos da literatura contemporânea, os cinemas estimulam a fantasia visual, e a paisagem ganha ares europeus

com a chegada do arquiteto alemão Theo Wiederspahn, entre vários outros engenheiros, arquitetos e escultores europeus, como

Rudolph Ahrons, Fernando Corona, Carrara Colfosco, Affonso Hebert, Maurice Gras e Armando Boni.

Um grupo de intelectuais e artistas, liderado por Olintho de

Oliveira, cria o Instituto de Bellas Artes, que seria o embrião

do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1913, os irmãos Leonetti fundam a “Casa

A Eléctrica”, uma das primeiras gravadoras da América Lati-

na, abrindo espaço para dezenas de artistas gaúchos. Os Teatros Guarany e Apolo são erguidos nos anos de 1913 e 1914, respectivamente.

Todo esse cenário de grandes novidades abastece espíritos in-

quietos, como destaca o escritor Dyonélio Machado no livro de memórias O Cheiro da Coisa Viva:

Éramos um grupo, a perambular errante pela Praça da Harmonia... éramos praticamente contemporâneos do Naturalismo, do Simbolismo. Os canhões troavam na maior guerra que a humanidade até então se empenhara – a Primeira Guerra Mundial. Já surgira o cinema, o automóvel. Nossos olhos, porém, estavam voltados para as grandes construções que, no terreno da literatura e da arte, haviam erguido obreiros como Flaubert, Zola, Anatole France, Dickens,

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Atelier de Virgilio Calegari e dois prédios de Theo Wiederspahn


Baudelaire, Verlaine, D’Annunzio e, em língua portuguesa, Eça de Queirós, Gonzaga Duque, Cruz e Sousa, Paulo Barreto.

Da reconhecida geração mencionada por Dyonélio, fazem

parte Alceu Wamosy, Alcides Maya, Álvaro Moreyra, De Sou-

za Junior, Eduardo Guimaraens, Felipe de Oliveira, Marcelo

Gama e vários outros, incluindo Mansueto Bernardi, o grande

animador cultural da cidade. Os jornais – Correio do Povo, A Federação, O Diário – mais tarde, Diário de Notícias – abrem espaço para a fértil produção dos jovens escritores. A partir dos

encontros de intelectuais em suas dependências, a Livraria do Globo torna-se uma grande editora, que passa a publicar obras

dos autores gaúchos, ao lado de traduções dos grandes escritores norte-americanos e europeus.

No início do ano de 1920, mais precisamente no dia 31 de

janeiro, um grupo de músicos porto-alegrenses se reúne e cria

uma sociedade musical com o objetivo de “desenvolver o gosto artístico do nosso povo e o engrandecimento moral da classe”,

conforme consta de sua ata de fundação1, que passa a tomar o nome de Centro Musical Porto-Alegrense. Atuante por mais

de uma década, trata-se do embrião do Sindicato dos Músicos Profissionais de Porto Alegre.

O “Clube Jocotó”, criado por Mário Totta para eventos fes-

tivos como carnaval, sai do balneário Tristeza e alcança os salões do Clube Caixeral, em 1924, acrescentando em seu perfil

a “Hora da Arte”, que consistia em saraus artísticos: leituras, palestras e execuções musicais para, após, dar início às danças. Finalizou suas atividades em 1934.

No ano de 1918 foi inaugurado o Petit Casino, em esti-

lo art nouveau e com 450 lugares, utilizado como cinema

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Primeira formação da Banda Municipal e o Araújo Vianna original

e como teatro. Mais tarde, em 1931, o espaço é reinau-

gurado como Casa Beethoven, com comércio de instrumentos musicais e com uma sala destinada a recitais, conferências e festas de arte.

Toda essa efervescência criativa será impulsionada pelo

lançamento da Revista do Globo, em 1929, que atrai dois jo-

vens talentos vindos do interior do Estado: Erico Verissimo e Mario Quintana.

Com exceção da Biblioteca Pública Moacyr Scliar, man-

tida pelo Governo do Estado, todas as iniciativas culturais partiam da sociedade. Em 1926, a Prefeitura cria a Banda Municipal, na gestão do intendente Otávio Rocha. É a pri-

meira incursão da municipalidade na área cultural. O projeto trouxe a Porto Alegre dezenas de músicos estrangeiros

– especialmente italianos e argentinos –, contratados mediante concurso público. A receptividade popular da Banda é tal que no ano seguinte ela ganha um espaço próprio, com

a inauguração do Auditório Araújo Vianna, primeiro equipamento cultural da Prefeitura de Porto Alegre.

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A CULTURA

da cidade começa a ganhar

ESPAÇO

A efetivação de uma política cultural pública e abrangente

ainda demandaria algumas décadas. Em 1957, durante a admi-

nistração de Leonel Brizola, é instituído o Setor Cultural do Serviço de Recreação Pública, um órgão da Secretaria Municipal

de Educação e Assistência. Em 1960, no governo de José Lou-

reiro da Silva, o Setor transforma-se em Serviço de Expansão Cultural e Artística, ainda vinculado ao Serviço de Recreação

Pública. Em 1961, pelo decreto nº 22752, dentro da estrutura da

Secretaria Municipal de Educação e Assistência é criada a Seção de Cultura, que contava com o Setor de Atividades Artísticas. Praticamente, o trabalho do órgão consistia em destinar subsí-

dios para os grupos amadores de teatro que proliferaram pela cidade, sem que houvesse uma política cultural definida.

O artista plástico Iberê Camargo, então radicado no Rio de

Janeiro, foi convidado pelo Serviço de Recreação Pública para

uma série de encontros com a comunidade artística e, ao chegar

à cidade, criticou o que chamou de “marasmo cultural” de Porto Alegre. A crítica feriu os brios da classe artística e Iberê foi “desafiado” a um debate, em novembro de 1960, no Teatro de Equipe3, o primeiro que se tem notícia reunindo a área cultural

da cidade de forma ampla. Ali, o escultor Carlos Scarinci afir-

mou que a Seção de Cultura vinha sendo conduzida de forma arbitrária, no que foi apoiado pela totalidade dos presentes. O

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teatro superlotado mostrou que, ao contrário do que pensava

Iberê, havia uma efervescência cultural na cidade, que se desdobraria em vários projetos. Um deles foi a edição do livro Os Nove do Sul, com a participação de novos escritores como Moa-

cyr Scliar, Ruy Carlos Ostermann, Tânia Jamardo Faillace, Josué Guimarães e Sérgio Jockymann.

Objetivamente, os Encontros com Iberê originaram uma expo-

sição de pinturas, desenhos e xilogravuras, e uma reivindica-

ção: a de que a Prefeitura acolhesse os jovens artistas em um atelier sem as preocupações didáticas. Com base no sucesso do curso que promoveu na cidade, Iberê defendeu que Porto Ale-

gre necessitava de um atelier que fosse livre, aberto à comunidade, que se tornasse uma alternativa à linha acadêmica do

Instituto de Belas Artes, da Universidade Federal. A ideia foi logo encampada por Carlos Scarinci e Francisco Stockinger. Em

abril de 1961, o Atelier Livre começou a funcionar em uma sala

de formato circular, nos altos do abrigo de bondes da Praça XV, onde já estava sediada a Galeria de Artes de Porto Alegre.

Em 1963, a SMEA recebe a denominação de Secretaria Mu-

nicipal de Educação e Cultura e, em março de 1964, o prefeito

Sereno Chaise toma posse e ensaia uma primeira tentativa de constituir um órgão cultural de conteúdo popular. Depois de

inaugurar o novo Auditório Araújo Vianna, no Parque Farroupilha, quando Istelitta da Silva Krewitz era Diretora da Divisão de Cultura, ele institui por decreto a Divisão de Cultura Popu-

lar 4, a partir da Seção de Cultura da SMEC, com a intenção de

imprimir uma nova dinâmica nas políticas públicas relacionadas à Cultura, aproximando-a das comunidades.

A nova estrutura é dividida em cinco setores: administração,

elevação cultural, atividades cinematográficas, atividades artísticas, e a administração do Auditório Araújo Vianna.

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Iberê Camargo e Xico Stockinger debatem no Teatro de Equipe


Prefeito Sereno Chaise e a pianista Olyntha Braga, na inauguração do novo Araújo Vianna

A ênfase ao cinema, ao teatro e à alfabetização de adultos revela

uma nítida influência dos chamados Centros Populares de Cul-

tura (CPCs) da União Nacional dos Estudantes (UNE) que, nos primeiros anos da década, percorria o país com a UNE Volante.

Eram mostrados filmes, peças teatrais e espetáculos de música às camadas populares, buscando constituir um pensamento crítico sobre a realidade brasileira, além de estimular a alfabetização de adultos pelo método revolucionário do pedagogo Paulo Freire.

Outro decreto, assinado no mesmo dia, cria o Conselho Mu-

nicipal de Cultura de Porto Alegre, uma primeira tentativa de chamar a participação das comunidades na definição das polí-

ticas culturais do Município. No entanto, a intenção foi atropelada pela deflagração do golpe civil-militar de 31 de março de 1964, que implanta um regime de força no país. Sereno Chaise

é cassado, instalando-se, assim, o período em que a sociedade

brasileira passou por rigoroso controle através de mecanismos oficiais ou clandestinos de repressão, censura, perseguições,

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exílio, torturas, proibições, atos institucionais e leis de exceção. Enquanto vigorou o Ato Institucional nº5 entre 1968 a 1978, por

exemplo, foram censurados mais de seiscentos filmes, quinhen-

tas peças teatrais, bem como a edição de centenas de livros e músicas. No entanto, a cultura brasileira produz nessa época uma obra consistente de resistência, questionamento do regime e discussão da realidade brasileira.

Em Porto Alegre, por conta da ditadura, é nomeado Célio

Marques Fernandes para prefeito, que teria, ainda, mais três indicados: Telmo Thompson Flores (1969/1975), Guilherme Socias Villela (1975/1983) João Antonio Dib (1983/1986).

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A BRIGA

por espaços A Divisão de Cultura manteve-se em atividade, mesmo com

o país vivendo em clima político de censura e restrições às atividades culturais. No entanto, houve uma alteração de nome

para Divisão de Educação Social e Recreação: durante a ditadura, o termo “popular” foi esquecido nos materiais de divulga-

ção e mesmo nos documentos. Em 1975, foi oficializado o nome do órgão para Divisão de Cultura.

Porto Alegre carecia de espaços públicos para as atividades

artísticas, principalmente do teatro. Em 1965, por iniciativa do então diretor Paulo Amorim, o Município assumiu o espaço do

Teatro de Equipe, fechado desde 1962, quando o grupo encerrou as atividades sem alcançar o sonho de fazer teatro profissional. A sala ganhou o nome de Teatro Experimental Álvaro Mo-

reyra, sendo reinaugurado com uma dramatização do livro de Ao alto, fachada do Teatro de Equipe e, ao lado, o Teatro de Câmara, primeiro teatro municipal

memórias do homenageado, As Amargas Não..., a cargo de Olga

Reverbel. A pequena sala exibiu trabalhos importantes, como

a montagem Toda a Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues, com direção de Jofre Miguel, e Berenice, dirigida por Ana Maria

Taborda, mas seria definitivamente fechada três anos depois. Assim, persistia o problema crônico da falta de um teatro municipal, principal demanda da comunidade cultural.

O surgimento do Teatro de Câmara nasce dessa necessi-

dade e de uma casualidade. Na Rua da República, existiam

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dois galpões de uma pequena fábrica, situados nos fundos do pavilhão da Empresa Porto-Alegrense de Turismo (Epatur), que haviam sido desapropriados pela Prefeitura para a construção de uma futura avenida, prevista no Plano Diretor da cidade. No entanto, a concretização da avenida demoraria um bom tempo, já que as obras demandariam uma série de

providências, como novas desapropriações e recursos para

a sua construção. O então secretário de Educação e Cultura, Frederico Lamachia5 procurou o prefeito Telmo Thompson

Flores e propôs que o local fosse adaptado para ser um tea-

tro provisório, até que as obras da avenida fossem iniciadas. Mas o pequeno teatro, construído para durar não mais de cinco anos, foi imediatamente apropriado pela comunidade

cultural, como lembra o professor Luiz Osvaldo Leite6, então diretor da Divisão de Cultura:

A grande alegria do professor Lamachia e dos que trabalhavam com ele é o depoimento do Paulo Autran. O Paulo Autran chega... eu não lembro se ele estava em temporada em Porto Alegre, mas faz uma visita ao Teatro de Câmara, onde, inclusive deu um recital, daqueles recitais que ele fazia com poesia. E é dele a frase: ‘esse é o melhor menor teatro do Brasil’.

A política cultural da Prefeitura voltava-se a proporcionar

atividades públicas abertas nos bairros, buscando criar nas comunidades o hábito de assistir espetáculos. Essa preocupação está explicitada nos projetos Tenda de Cultura, uma lona de aspecto circense que era instalada nos bairros por três semanas,

com oficinas de arte e programações de música e teatro, e o Car-

rossel da Cultura, uma estrutura móvel levada em um caminhão para abrigar espetáculos noturnos.

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Mercado Público, tombado para evitar a demolição


A política cultural vinculava atividades artísticas às de re-

creação, lazer, esporte e até de formação profissional, seguindo

ideias propostas pelo sociólogo francês Joffre Dumazedier, que,

inclusive, esteve em Porto Alegre ministrando cursos. Com esse objetivo, foram criados os Centros Municipais de Lazer e Recreação (Celar) em quatro bairros populosos da cidade: Parque Madepinho (no Bairro Cavalhada) e Restinga, na Zona Sul; e Vila Ipiranga e Vila Floresta (atual Jardim Floresta), na Zona

Norte da cidade. Essas estruturas existem ainda hoje, com o nome de Centros Comunitários. Além de piscinas e parque de

esportes, em suas instalações havia salas para oficinas e atividades culturais programadas pela Divisão de Cultura.

A partir da metade da década de 1970, ganha força a luta pela

redemocratização do país, trazendo com ela uma série de movi-

mentos paralelos, como a defesa ambiental e a mobilização contra a demolição de prédios históricos. Alguns não resistiram, como a chamada “Abelheira” e o prédio do Cine Rex, na Rua

da Praia. Outros, como o Hotel Majestic e o próprio Mercado Público, estavam condenados.

A luta pela proteção do patrimônio edificado provoca a cria-

ção, em 1976, do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural – COMPAHC – quando somente cinco municípios brasileiros possuíam órgãos semelhantes. Sua primeira decisão

é declarar 47 bens imóveis como de “valor histórico e cultu-

ral e de expressiva tradição para Porto Alegre, para fins de futuro tombamento e declaração de utilidade pública”. No ano

seguinte, é criado o Fundo Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural – FUMPAHC – com o propósito de “prestar apoio fi-

nanceiro aos projetos, serviços ou obras atinentes à recuperação

ou preservação do patrimônio histórico e cultural da Cidade”. Finalmente, em 1979, é promulgada a primeira lei brasileira de

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tombamento municipal7, um avanço na luta pela integridade dos prédios históricos. Naquele momento, Porto Alegre destacava-se nesse aspecto, visto que, conforme dados do IBGE, pouco mais de uma dezena de municípios dispunha de alguma legislação de proteção ao patrimônio.

Solar Lopo Gonçalves, à época do tombamento, planejamento do novo centro cultural (prefeito Guilherme Socias Villela, ao centro) e a área escolhida

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FINALMENTE

um centro cultural

O impulso para dinamizar a atividade cultural do Município

nasceu, por ironia, não de uma política oficial da área, mas de um projeto de saneamento básico. Em 1973, o Banco Nacional da

Habitação anunciou o Programa Cura – Comunidades Urbanas para Recuperação Acelerada – voltado a recuperar a infraestrutura de espaços de vazio urbano. Era a época de ouro do cha-

mado milagre econômico quando, graças à conjuntura internacio-

nal favorável, sobrava dinheiro para financiar obras públicas a fundo perdido8. Porto Alegre, em particular, beneficiou-se desse período, que permitiu a construção das avenidas perimetrais, do Parque Marinha do Brasil e do Túnel da Conceição.

Para fazer jus a esses recursos da União, a Prefeitura apre-

sentou em contrapartida o Projeto Renascença, que incluía uma

série de intervenções de recuperação urbana nas áreas em torno do que veio a ser a Avenida Erico Verissimo. Uma das ideias ini-

ciais era construir uma Escola de Criatividade, um equipamento cultural constituído por teatro, hall de exposições, biblioteca e sala de atividades múltiplas, além de um bar. Em 9 de novem-

bro de 1978, é inaugurado o Centro Municipal de Cultura, com

a presença do então presidente da República, general Ernesto Geisel.

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Obras do Centro Municipal de Cultura e a inauguração, com o presidente Ernesto Geisel (ao centro)

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A BUSCA

de uma política A Prefeitura já percebia um crescimento da demanda cultural

no Município, que criava pelo menos duas exigências: adminis-

trar os equipamentos culturais – Centro Municipal de Cultura, Teatro de Câmara e Auditório Araújo Vianna – e buscar uma filosofia que correspondesse à nova realidade cultural.

Um documento de 1982 com o título “Divisão de Cultura –

histórico” estabelece a seguinte definição:

À Prefeitura, através desta Secretaria (de Educação e Cultura), cabe a responsabilidade de ampliar os horizontes culturais de seus munícipes, instrumentalizando-os para um pensamento crítico e um aprimoramento estético. As manifestações artísticas proporcionadas aos porto-alegrenses revestem-se de um caráter permanentemente pedagógico. É uma ação continuada que visa não apenas ao evento em si, mas aos componentes que a geraram e as consequências dele decorrentes.

Mantém-se, portanto, a política propagadora na qual o poder

público assume a tarefa de “levar” cultura à população para ampliar horizontes. Especificamente sobre a atuação da Divisão de Cultura, o documento refere:

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Entendendo que um setor cultural deva ser, antes de mais nada, um agente propulsor e delineador de uma política global do Município, a Divisão de Cultura viu-se na contingência de criar unidades culturais onde as diversas manifestações da arte e da cultura pudessem encontrar local propício a seu desenvolvimento. Isto se deveu ao fato de que Porto Alegre não possuía sólidas instituições particulares que pudessem abrigar a crescente demanda de espaços físicos que a vida cultural de uma metrópole continuamente está a exigir. Certo é que, com isso, passou-se a administrar prédios e a gerir escolas e bibliotecas, mas trata-se de um ônus a que o poder público não pode furtar-se. O fato é que a vivência cultural de Porto Alegre seria reduzida em muito, se não existissem esses locais, essas salas, essas escolas, a ponto de ver-se esvaziada em quase sua totalidade. Algumas instituições privadas, devido à sua ausência de maior suporte financeiro, estão continuamente requerendo novos auxílios e subvenções, no que a Prefeitura sempre deu seu apoio.

Assim, o documento esboça uma visão de Cultura na qual

o Estado assume o “ônus” de atuar na área para suprir falta de iniciativas particulares. Ainda assim, se dispõe a distribuir auxílios e subvenções às instituições privadas.

Como exemplo, um relatório da Divisão de Cultura para o 2º

Encontro de Conselheiros Municipais de Cultura apresentou a relação dos projetos desenvolvidos em 1982:

• Violinos de Outono – concertos de música erudita na Praça da Alfândega às sextas-feiras, ao meio-dia, com duração de 45 minutos. • Teatro na Praça – apresentações de grupos teatrais nos par-

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ques Marinha do Brasil, Moinhos de Vento e Farroupilha, e em instituições como asilos, hospitais e presídios. • 1ª Mostra de Canto Vocal – recitais de canto, abrangendo quatro temas: música sul-rio-grandense, brasileira, de câmara e ópera, no Teatro Renascença. • Projeto Teatro nos Bairros (Proteba) – apresentações de grupos teatrais em bairros, visando “proporcionar lazer e recreação às populações da periferia urbana da cidade de Porto Alegre, oportunizando-lhes gradualmente condições de crescimento cultural”.

Lazer com Arte no Centro Municipal de Cultura

Além destes, o relatório trata de outros três projetos desen-

volvidos no âmbito do Atelier Livre:

• Lazer com Arte – voltado a desenvolver a criatividade, beneficiando oito instituições de idosos. • Rumos da Arte – seminários abertos ao público, com a participação de artistas plásticos convidados. • Convivendo com as Artes Plásticas – destinado a alunos do 2º grau.

31


NASCE

um

novo Brasil A eleição de Tancredo Neves para a Presidência da Repúbli-

ca – de forma indireta, via colégio eleitoral – encerra oficial-

mente um ciclo de 21 anos de ditadura no Brasil: resquícios do

autoritarismo só seriam enterrados anos mais tarde, durante a Assembleia Nacional Constituinte9 e alguns ainda sobrevi-

veriam por mais tempo –, mas o advento da chamada Nova República10 abriu um horizonte de otimismo no país. Nesse

contexto, uma das primeiras ações do presidente José Sarney

– o vice que tomou posse em decorrência da morte de Tancredo Neves – é a criação do Ministério da Cultura11, sendo

empossado como ministro José Aparecido de Oliveira, que foi Embaixador do Brasil em Portugal e um dos fundadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A nova estru-

tura nasce do desmembramento do Ministério da Educação e Cultura. Diz a Exposição de Motivos12:

Considerando que o crescimento econômico e demográfico do país, a expansão da rede escolar e universitária, a complexidade cada vez maior dos problemas ligados à política educacional, nas suas diferentes funções no desenvolvimento nacional, bem como o enriquecimento da cultura nacional, decorrente da integração crescente entre as diversas regiões brasileiras e da multiplicação das iniciativas de valor cultural, tornaram a estrutura orgânica

32

Cultura de resistência: Os Fuzis da Senhora Carrar e Carlinhos Hartlieb, nas Rodas de Som do Teatro de Arena


do Ministério da Educação e Cultura incapaz de cumprir, simultaneamente, as exigências dos dois campos de sua competência na atualidade brasileira.

Mais do que uma medida administrativa, como sugere a Ex-

posição de Motivos, o novo Ministério nasce da reivindicação de amplos setores da comunidade cultural, um dos mais atingidos pela ditadura.

A redemocratização do país e a criação do novo Ministério

provocaram uma forte excitação nos meios culturais, que pas-

saram a buscar formas de ampliar os espaços também nas realidades locais, através de sua influência junto à antiga oposição à ditadura, que começava a conquistar instâncias de poder.

Na Porto Alegre dos anos de 1970 e 1980, havia espaços sig-

nificativos que fomentavam a cultura local, como o Teatro de Arena13, localizado nos Altos do Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros. Fundado pelo Grupo de Teatro In-

dependente, tratava-se de um núcleo de resistência cultural no período da ditadura militar. Em 1974, um grupo de jornalistas

criou o Museu de Comunicação Social José Hipólito da Costa,

cujo objeto era a preservação da memória documental do RS. Aos moldes da famosa Feira de San Telmo, em Buenos Aires, e

Tristan Narvaja, em Montevidéu, o Brique da Redenção iniciou suas atividades em março de 1978.

Na área da música, em 1971 surge no bairro IAPI a banda

Bixo da Seda, de Fughetti Luz. Carlinhos Hartlieb produzia as “Rodas de Som” no Teatro de Arena e, em 1975, forma-se o

grupo Almôndegas. Outra banda de importância surgiria ainda 1978: Musical Saracura.

O rock gaúcho ganha maior fôlego na década de 1980, com

as bandas Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós, Garotos

33


da Rua, Taranatiriça, Bandaliera, Os Cascavelletes, Graforréia Xilamôrnica, De Falla, TNT, Os Eles, Os Replicantes e A Rosa

Tattoada. Inclua-se ainda Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Antonio Villeroy e Gelson Oliveira como repre-

sentantes da chamada música urbana. Vitor Ramil foi o mais novo representante dessa geração.

Para as telas, “Deu pra ti anos 70” rodado em Super 8, em

1981, com direção de Giba Assis Brasil, inaugura uma fecun-

da produção cinematográfica gaúcha, tanto na área de longas

como de curtas-metragens. Além de Giba, mais nomes da geração de cineastas dos anos 70 projetaram-se nacionalmente: Nelson Nadotti, Carlos Gerbase e Werner Schünemann, Antonio Carlos Textor, Odilon Lopez e Sérgio Silva, todos abertamente contrários às tendências de retratar as temáticas históricas ou os espaços rurais.

No contexto político, em 1985 foram realizadas as primei-

ras eleições para prefeito nas capitais dos estados, desde o

golpe militar. Em Porto Alegre, é eleito Alceu Collares. Entre

seus compromissos, figurava o fortalecimento da cultura. O Poder Público começava a resgatar um compromisso histórico com a cidade.

O processo de redemocratização do país refletiu-se direta-

mente na cultura. Censurada ao longo de quase duas décadas, a necessidade de expressão multiplicava-se em todas as áreas.

34


Cartaz do filme Deu Pra Ti e um show do Bixo da Seda

35


portoAlegre

SEGUNDa parte

25 anos de Cultura

Alberto André, Guilherme Villela, Barbosa Lessa e diretor da DC, Carlos Rafael dos Santos na inauguração do Arquivo Histórico

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rumo

à

Secretaria Em Porto Alegre, no começo dos anos de 1980, surgiam no-

vos grupos teatrais, criavam-se coletivos de escritores, jovens cineastas experimentavam com a bitola super-8, festivais de música mostravam novos talentos, e toda essa demanda viva estava a cobrar uma nova postura do poder público.

A essa altura, a Divisão de Cultura já dispunha de um comple-

xo bem significativo de equipamentos: Auditório Araújo Vianna,

Museu de Porto Alegre, Arquivo Histórico e Teatro de Câmara, além do Centro Municipal de Cultura, com teatro, auditório, biblioteca, hall para exposições, livraria e o Atelier Livre.

O conjunto desses espaços, desses movimentos, dessas ações todas

era tão forte que ela (a cultura) estava do tamanho do ensino, lembra Andrea Bonow14. O diretor da Divisão de Cultura já tinha status de Secretário. Quando a imprensa queria saber alguma coisa da área da

cultura, já não procurava mais o secretário de Educação, ia procurar o diretor da Divisão de Cultura.

Segundo o diretor da época, Luiz Osvaldo Leite, a criação de

uma secretaria Municipal de Cultura já estava madura, pois teria mais

autonomia, não tão dependente da parte de educação. Fui propor isso ao Secretário. O Secretário achou que era um absurdo, uma loucura.

Andrea Bonow complementa: claro que o secretário já se sentia

desconfortável nessa situação. Então, esse corpo que foi se formando

e veio a ser a Secretaria, era uma coisa que estava latente, era um tra-

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balho de muitos anos. Não foi uma secretaria criada no papel, mas um

papel que foi a certidão de nascimento para uma secretaria que já tinha nascido há muitos anos.

Com a vitória de Alceu Collares nas eleições de 1985, a ideia

de separar a cultura da educação ganhou corpo. Eu recebi um

convite para assumir a Divisão de Cultura do Município, relataria o professor de história Joaquim Felizardo. Quando do convite,

me foi informado que o projeto prioritário seria estudar, elaborar todo

um trabalho, no sentido de criar a Secretaria da Cultura. Isso porque, quando na campanha eleitoral, o então prefeito Alceu Collares, assumira compromisso de criar uma Secretaria.

No entanto, haveria ainda um bom caminho a ser trilhado. O

Plano de Governo apresentado durante a campanha incluía a criação de uma secretaria específica para a área cultural. Antes da chegada de Felizardo, a Divisão de Cultura teve três titulares em dois anos.

De início, dois candidatos se apresentaram para dirigir a Di-

visão de Cultura: o poeta Luiz de Miranda e o carnavalesco e

militante do movimento negro Edvaldo Lima, o Pernambuco. Collares opta por um terceiro nome, no caso, a marchand Marisa Soibelmann, proprietária de uma importante galeria de arte. Ela teve tempo de organizar o primeiro grande seminário da área

cultural, em março de 1986, que, na prática, começava a traçar

diretrizes para a nova estrutura municipal na área da cultura. Mas sua gestão seria interrompida, em maio de 1986.

Cada vez mais inserido no contexto cultural da cidade, o

Centro Municipal de Cultura passa por um inusitado processo de ocupação a partir do episódio ocorrido na Câmara Municipal, que funcionava no 12º e 13º andares da chamada Prefeitu-

ra Nova (Edifício Intendente José Montaury). Um princípio de incêndio durante uma palestra do ex-governador Leonel Bri-

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zola, evidenciou a precariedade das instalações elétricas, e era necessário transferir o Legislativo para outro local, enquanto

não ficasse pronto o novo prédio da Câmara, cujas obras eram

sucessivamente interrompidas e retomadas. A saída emergencial negociada entre Collares e o presidente da Câmara, André Forster, foi instalar a Câmara no Centro Municipal de Cultura, ocupando boa parte de suas instalações.

O Teatro Renascença e o Auditório Álvaro Moreyra tiveram

suas atividades suspensas, assim como a Biblioteca Josué Guimarães, cujos livros foram empacotados e levados para uma

escola próxima. As atividades do Atelier Livre igualmente fica-

ram prejudicadas. Houve protestos da comunidade cultural, especialmente por parte dos artistas plásticos a quem Marisa era

vinculada. A ela só restou pedir demissão. A Câmara permaneceria quase um ano acampada no Centro Municipal de Cultura,

até 1º de maio de 1986, quando foi inaugurado o Palácio Aloísio Filho, mesmo sem estar completamente concluído. O prefeito Alceu Collares discursa. À direita, Luiz de Miranda

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A missão

de

Felizardo O lugar de Marisa foi ocupado pelo poeta Luiz de Miranda,

em julho de 1986, mais tarde substituído pelo professor de geo-

grafia Igor Moreira, em dezembro de 1986, quadro histórico do PDT, ex-preso político e autor de dezenas de livros didáticos.

No entanto, ele ficaria pouco tempo. Uma greve dos servi-

dores da Prefeitura, no início de 1987, na qual os funcionários da Divisão de Cultura tiveram grande participação, coincidiu

com a paralisação da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), onde Igor Moreira era professor. Ele ficou, então, na posição dúbia de grevista e dirigente municipal numa situação de greve. Co-

brado por seus colegas e alunos grevistas, Igor Moreira pediu demissão em plena assembleia dos servidores municipais, no Auditório Araújo Vianna.

Essa rotatividade na direção da DC é assinalada em um do-

cumento elaborado pelo servidor José Luís Real15:

A história da Divisão de Cultura tem demonstrado ser uma área muito suscetível de conjunções e injunções da política, o que ocasiona frequentes trocas de titulares e, por consequência, descontinuidades administrativas graves que, combinadas com a falta de estrutura, comprometem a própria memória do órgão encarregado da preservação da memória da cidade.

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Durante a mesma greve, na qual Igor Moreira pediu demis-

são, o novo diretor da DC apresentou-se de forma inusitada. Ao final de uma reunião do comando de greve, o servidor José Luís Real, representante da área cultural, foi chamado por um

colega: olha, tem um senhor ali que quer falar contigo, mas cuidado, acho que esse cara é do Collares.

Real foi até ele. Era o historiador Joaquim José Felizardo: Só

quero ver contigo se nós podemos conversar depois sobre a Cultura.

Os dois foram ao apartamento de Felizardo, na Rua Duque

de Caxias, onde ele comunicou a Real que estava assumindo a

Divisão de Cultura, com a tarefa urgente de criar a nova estrutura, e pediu apoio.

Historiador de formação marxista, Felizardo formou-se em

História pela UFRGS e foi professor na mesma universidade. Em 1968, foi cassado pelo AI-5. Na ditadura militar, por sua militân-

cia de esquerda, esteve preso em várias ocasiões. Foi professor em escolas secundárias e em pré-vestibulares. Atuava na coor-

denação da bancada nacional do PDT, na Câmara Federal, cuja liderança era exercida pelo deputado gaúcho Matheus Schmidt.

Ele foi empossado no dia 4 de junho de 1987. Em seu discurso

inicial, Felizardo fez questão de desenhar um painel cultural

da cidade naquele momento: Sou tentado a dizer que o que dife-

rencia nossa cidade de outras tantas cidades do mundo é o fato de ela possuir algo aparentemente imaterial, misterioso, inefável, mas que Joaquim Felizardo, na época do IPV

se consubstancia em manifestações artísticas, culturais e de modo de vida. Estou me referindo ao fato de Porto Alegre ter alma, uma alma muito especial que permeia becos, ruas e avenidas, praças parques e o próprio rio.

Foi citando, a seguir, nomes que se destacavam na cena cul-

tural da cidade, evidenciando uma ampla e diversificada ati-

vidade em todos os segmentos. Os artistas mencionados por

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Felizardo: na música, Lupicínio Rodrigues, Túlio Piva, Plauto

Cruz, Jerônimo Jardim, Hermes Aquino, Raul Elwanger, Nico

Nicolaiewsky, Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira, GibaGiba, Adriana Calcanhoto, Berê, Glória Oliveira, Muni, Vitor Hugo, Rubens Santos; na literatura, Erico Verissimo, Moacyr

Scliar, Josué Guimarães, Arnaldo Campos, Laury Maciel, Luiz Antonio de Assis Brasil, Tabajara Ruas e João Gilberto Noll; no

teatro, Ivo Bender, Luciano Alabarse, Maria Helena Lopes, Julio Conte, Irene Brietzke, Luiz Paulo Vasconcellos, Ronald Radde e Nestor Monastério; no cinema, Jesus Pfeil, Antônio Carlos Senna, Norberto Lubisco, Nelson Nadotti, Jorge Furtado, José Pe-

dro Goulart, Giba Assis Brasil, Henrique de Freitas Lima, Sergio

Amon e Werner Schünemann. Por fim, cita os críticos Carlos Scarinci, Juarez Fonseca, PF Gastal, Goida, Helio Nascimento, Luiz Carlos Merten, Enéas de Souza, Paulo Hecker Filho, Flavio

Loureiro Chaves, Donaldo Schüler e Sergius Gonzaga. Tudo isto constitui um processo cultural que eu chamo de ‘alma’. E esta tradição

que se formou na cidade e que ninguém, nenhum administrador poderá deter ou desatar.

42


Fundação

ou Secretaria? O próximo passo era pensar a nova estrutura. O mesmo de-

bate ocorria no âmbito estadual, após a vitória de Pedro Simon, igualmente comprometido com a valorização da cultura. Para

isso, chamou Carlos Jorge Appel, professor de literatura e crítico

literário, diretor da Editora Movimento e escritor; posteriormen-

te, um dos responsáveis pela criação da Casa de Cultura Mário Quintana. Dentro do contexto histórico da cultura, vale ressaltar que somente em 1990 foi criada a Secretaria de Cultura do Estado/RS que, até aquela data, tratava-se de uma subsecretaria

vinculada à SEC. No primeiro momento, antes da posse de Felizardo, Collares enviou à Câmara Municipal projeto de lei que

criava uma Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo, que tirava da SMEC tudo o que não fosse Educação e englobava

ainda a Empresa Porto-Alegrense de Turismo (Epatur) e o Centro

de Recreação Pública. Seguia a ideia que começava a ser esbo-

çada no governo do Estado, cuja primeira proposta era de uma Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Em Porto Alegre, esse

projeto nem chegou a tramitar. Imediatamente, houve rejeição Posse de Felizardo na Secretaria da Cultura, com Collares e o presidente da Câmara Valdir Fraga

tão eloquente da comunidade cultural, que foi retirado logo após seu envio à Câmara Municipal.

Felizardo assumiu a Divisão de Cultura convencido de que

o formato de fundação garantiria mais autonomia financeira e agilidade, tirando da nova estrutura o peso representado pelo

cotidiano burocrático da Prefeitura – empenhos, rubricas, re-

alocações, tramitações, liberações de recursos. Em outros es-

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tados, várias instituições ligadas à cultura seguiam essa forma,

a começar pela Fundação Cultural de Curitiba (PR), criada em 1973, que se tornara referência no país.

Os servidores da DC, no entanto, tinham outra ideia, como lem-

bra Andrea Bonow: Ele chegou aqui e nos reuniu, a Susana (Gastal), o (José Luís) Real, a Zoleva (Felizardo)16 e a mim, e disse: ‘Eu vim com a mis-

são de criar uma fundação cultural’. Eu tinha uma experiência de oito anos

de fundação (no Estado), e disse para ele: ‘Se tu queres criar uma fundação eu estou fora, mas se queres criar uma secretaria de cultura, conta comigo’.

Felizardo ouviu, então, que desde 1983, existia projeto elaborado

pelos servidores da DC prevendo a criação do Fundo Municipal de Cultura (Funcultura), que garantiria a agilidade pretendida. O projeto teve trajetória curiosa. Foi elaborado pelo administrador José Luís Real, a pedido do diretor da DC, Luiz Osvaldo Leite. O fundo seria constituído por percentuais de repasses, que garantiriam re-

cursos para financiar projetos culturais não previstos no orçamento. A proposta foi enviada à Secretaria da Educação e Cultura em

agosto de 1983, mas só chegou à mesa do então prefeito João Dib

quase um ano mais tarde. No meio do caminho, contudo, a ideia

chegou ao conhecimento dos responsáveis pela área da Saúde, que solicitaram uma cópia.

Eles adaptaram a redação do nosso projeto e o Secretário de Saúde levou

ao prefeito João Dib, que, em pouco tempo, mandou para a Câmara, e os vereadores aprovaram rapidamente o Fundo Municipal da Saúde, dois ou três anos antes da aprovação do nosso fundo da cultura, conta Real.

A proposta do Fundo seduziu Felizardo. Criamos uma comissão e

começamos a discutir a futura secretaria, relataria Felizardo. De outra parte, na época, eu entrevistei meia centena de produtores de Cultura

da cidade, pessoas referenciais em cada área, dentro de manifestações

culturais, entrevistas muito demoradas – eu me lembro de uma hora de duração – para ganhar essas pessoas para a ideia da necessidade da criação de uma secretaria.

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Atividades iniciais: exposição de arte e entrega de premiação


a importância

do Funcultura

A essa altura, Felizardo fora convencido de que uma secreta-

ria, fortalecida pelo instrumento do Funcultura, teria mais força

política do que uma fundação: O exemplo que eu tomava na época era o fato de que ninguém era capaz de me responder quem eram os titulares das grandes fundações do estado e todo mundo sabia o nome de um secretário de estado, disse Felizardo.

Enquanto o futuro secretário debatia com a comunidade cultu-

ral, paralelamente era realizado um trabalho de bastidores no in-

terior da Divisão de Cultura, para garantir adesão dos servidores à proposta, que enfrentava resistência da área da educação. Entre

o funcionalismo, circulavam ameaças de que os que optassem por permanecer na Cultura poderiam perder direitos funcionais: O que sempre se assegurou é que todos permaneceriam na secretaria, principalmente os professores tinham medo de ter que retornar pra Educação, recorda Andréa Bonow. Nós colocamos na lei um artigo que asse-

gurava a permanência de todos os funcionários que estavam em atuação na Divisão de Cultura, até a criação dos cargos da secretaria.

Enquanto Felizardo, Andréa Bonow e outros funcionários da

Divisão de Cultura formatavam a futura secretaria, eu cumpria meu papel de arregimentador de forças e de dar visibilidade a esse

esforço, relata o jornalista Juarez Fonseca, convidado por Feli-

zardo para ocupar a Coordenação de Artes Cênicas e Música, antes mesmo da aprovação do projeto. Para começar, criamos

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dois projetos de música, ‘Ivaldo Roque’ e ‘Coompor’, para ocupar espaços às 18h30 no Teatro Renascença. Depois, como o teatro ti-

nha ‘por direito’ todas as temporadas de quartas a domingos, contestamos esse ‘direito’, que levava muitas peças a ter espetáculos

cancelados por falta de público às quartas e quintas. Foi estabe-

lecido que as temporadas de teatro manteriam seus privilégios de

longas temporadas, mas de sextas a domingos, usando-se as quarta e quintas para a música e outros espetáculos.

O caminho entre a elaboração do projeto e sua aprovação

na Câmara Municipal surpreendeu pela rapidez, como lembra José Luís Real: Sessenta dias após a posse de Felizardo, ele fazia uma brincadeira com o dia 4. Eu não lembro bem, mas eu sei que ele tomou

posse aqui em 4. Depois, dia 4 de agosto, ele encaminhou o projeto já da secretaria. Aí, no dia 4 de novembro, o prefeito o chamou e anun-

ciou que finalmente tinha decidido encaminhar o projeto pra Câmara. Enviou em 11 de dezembro e a votação foi 21 de dezembro. A sanção foi no dia 3, aliás, foi no dia 3 de fevereiro.

A sessão legislativa durou seis horas. Ao final, a criação da Se-

cretaria Municipal da Cultura foi aprovada por unanimidade pe-

los 28 vereadores presentes no horário da votação – de um total de 33 parlamentares, que integravam a Câmara na época. Uma

única emenda parlamentar foi agregada ao projeto, prevendo a criação do Museu da Imagem e do Som, o que nunca aconteceu. Na exposição de motivos, o texto destaca:

O projeto de lei oferece com parcimônia, face às demais secretarias municipais, condições boas para que a Administração de Porto Alegre resgate parte da dívida para com o setor cultural que, desde 13 de março de 1964, quando da criação e estruturação da então Divisão de Cultura Popular, não recebeu qualquer contribuição substancial em termos de estrutura formal que, completamente defasada, esgotou-se.

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As atribuições da nova Secretaria estão assim definidas: • Intensificar o desenvolvimento da cultura de modo a possibilitar o acesso de todas as camadas da população do Município aos bens culturais. • Promover a educação para a cultura através de ações formativas e informativas, com vistas à participação de indivíduos e grupos no processo cultural • Preservar a herança cultural de Porto Alegre por meio da pesquisa, proteção e restauração de seu patrimônio histórico artístico e arquitetônico paisagístico e do resgate permanente e acervamento da memória da cidade; • Estimular e apoiar a criatividade de todas as formas de livre expressão voltadas à dinamização da vida cultural de Porto Alegre; • Promover a difusão dos aspectos culturais de Porto Alegre; • Estimular o fazer cultural em todas as suas manifestações com vistas a valorizar a identidade cultural do Município; • Manter e administrar os equipamentos e os espaços culturais do Município; • Promover a realização de convênios, termos de cooperação ou contratos com organismos públicos e privados atuantes da área do desenvolvimento cultural.

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Início

do trabalho O projeto previa uma estrutura enxuta, com base em áreas. A

Coordenação de Artes Cênicas e Música teria responsabilidade

pela administração do Araújo Vianna, Teatro Renascença, Sala

Álvaro Moreyra e Teatro de Câmara, pelas atividades da Banda Municipal, do Centro de Canto e Dança e da Oficina Teatral Carlos Carvalho. A Coordenação de Artes Plásticas ficaria en-

carregada do Atelier Livre, do Acervo Artístico – pinacotecas Ruben Berta e Aldo Locatelli –, e do Setor de Mostras e Exposições. A Coordenação do Livro e Literatura seria responsável

pela Biblioteca Josué Guimarães e seus acervos, e pelo setor de Difusão do Livro. A Coordenação de Memória Cultural teria

sob sua responsabilidade o Museu de Porto Alegre, o Arquivo Histórico, a Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural, Setor de

Restauração de Documentos e pelo Centro de Imagem e Som.

E, como coordenação meio, no sentido de viabilizar os processos administrativos da SMC, havia a CATA – Coordenação de Apoio Técnico-Administrativo.

Embutido no projeto, foi instituído o Fundo Pró-Cultura do

Município de Porto Alegre (Funcultura), com a finalidade de

prestar apoio financeiro, em caráter suplementar, aos projetos, obras e serviços necessários à criação, à recuperação e à conservação de

equipamentos culturais, conforme consta no projeto. Os recursos sairiam de várias fontes: dotação orçamentária própria, equiva-

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lente a 3% do Fundo de Participação dos Municípios; contribuições, transferências, subvenções, auxílios ou doações públicas

e privadas; recolhimentos de tarifas de utilização dos espaços culturais, e resultados operacionais próprios.

A nova secretaria começa a trabalhar sob o conceito central

de cidadania cultural definido pelo próprio secretário: Cultura é

vida com qualidade. Nossa intenção foi criar esse tipo de inquietação, da cidadania cultural de Porto Alegre.

Dessa forma, buscava superar a visão restritiva tradicional de

que seu acesso é de usufruto exclusivo de alguns. Para dirigir

as quatro coordenações, Felizardo escolheu pessoas represen-

tativas de cada uma das áreas, mesmo não vinculadas necessariamente ao PDT, ou ao trabalhismo. Assim, buscava sinali-

zar à comunidade cultural o compromisso com a pluralidade política. Além de Juarez Fonseca, para a Coordenação de Artes Cênicas e Música, foram convidados o jornalista e ilustrador Joaquim da Fonseca, para as Artes Plásticas; o escritor e livreiro Arnaldo Campos, para o Livro e Literatura, e o historiador Sérgio da Costa Franco para a Memória Cultural.

Era um perfil enxuto, e tenho a honra de ter sido o primeiro coor-

denador de música e artes cênicas da SMC, conta Juarez Fonseca. A Banda Municipal foi valorizada e reaparelhada, criou-se um prêmio nacional (Carlos Carvalho) para textos inéditos de teatro. E já que

havia prêmios para teatro, deixou-se fechadinho o decreto de criação do Açorianos de Música, a partir do qual viria o de Literatura.

Em um curto espaço de tempo da administração de Felizardo

– pouco menos de um ano – um dos grandes eventos realizados foi a palestra do escritor uruguaio Eduardo Galeano. A proposta partiu do professor Sergius Gonzaga, professor de Literatura

Brasileira na UFRGS, um dos fundadores do curso Unificado e

do colégio Leonardo da Vinci, escritor, que dirigiu a editora da

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UFRGS e o Instituto Estadual do Livro. Anos mais tarde, ocu-

paria o cargo de secretário. Ele tinha o contato de Galeano e a ideia de promover uma série de conferências com o autor do

célebre livro As Veias Abertas da América Latina. Mas a questão dos recursos esbarrava na burocracia da Universidade Federal

do RS. Gonzaga, então, ligou para Felizardo que imediatamente abraçou a ideia de patrocinar o evento, viabilizado justamente pela existência do Funcultura.

Ora, tu não podes pedir para um Galeano vir a Porto Alegre e, no

final da palestra, dizer para ele que, daqui a uns seis meses, deve pas-

sar no quarto andar da Prefeitura, porque tem um tesoureiro amigo, que talvez concorde em pagá-lo, recordaria Felizardo. Aquilo só foi

possível porque nós dispúnhamos do Fundo. O Fundo passou a dar a mobilidade, ainda que na minha administração, o Fundo só vai decolar no ano seguinte por questões orçamentárias.

Ao final de 1988, as eleições municipais apontaram vitória de

Olívio Dutra, liderando uma frente de esquerda com 34% dos votos, já que na época, não havia segundo turno. Começava o

ciclo da Administração Popular na Prefeitura de Porto Alegre, que duraria 16 anos.

O acervo de documentos do “dna” do município na área cultural está resguardado na Coordenação da Memória

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51


portoAlegre

TERCEIRa parte

25 anos de Cultura

Iberê Camargo e Pilla Vares, mostra de dança, Conferência de Cultura e Olívio Dutra, com Vera D’Ávila e Margarete Moraes

52


secretaria

ganha

corpo

Para suceder Felizardo, foi escolhido o jornalista Luiz Paulo

Pilla Vares, conhecido intelectual e militante político, que dei-

xava o PSB para se filiar ao PT. Na empolgação pela vitória iné-

dita da esquerda, Pilla Vares pediu que, na sua posse, a Banda Municipal de Porto Alegre executasse o Hino da Internacional

Socialista. A solicitação do novo secretário foi encomendada ao Maestro Macedinho. Para surpresa geral, ele disse que o núme-

ro fazia parte do repertório. Às vésperas da posse, um assessor decidiu comparecer aos ensaios para ver se estava tudo certo. Quando esperava ouvir o Hino da Internacional Socialista, no

entanto, a Banda apresentou o Hino do Sport Club Internacional, aliás, clube do coração de Pilla Vares. Foi necessário um mutirão de ensaios para que a Banda Municipal atendesse o desejo do novo secretário.

Durante a campanha eleitoral, Olívio Dutra focou seu projeto

de governo na viabilização de investimentos públicos para po-

pulação dos bairros periféricos, onde as demandas sociais se acumulavam: saneamento básico, habitação, necessidade de mais escolas, transporte coletivo, etc. Para isso, sua opção foi o chamado Orçamento Participativo17, pelo qual o governo municipal definiria um percentual do orçamento geral da Prefeitura e tal

percentual seria dividido em valores para cada uma das assem-

bleias regionais das 16 regiões da cidade. A partir da participação aberta, seriam definidas as obras e ações a serem realizadas.

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Nos primeiros anos, o Orçamento Participativo elegeu e fo-

ram aprovadas várias demandas da população na área cultural,

como a construção do Centro Cultural do Bairro Restinga e a

restauração da casa onde viveu o escritor Appelles Porto Alegre, no Bairro Partenon, que passou a abrigar o Arquivo Histórico Moysés Vellinho.

Pilla Vares assumiu a Secretaria valorizando o conceito de ci-

dadania esboçado por seu antecessor. Em texto intitulado Por uma Política Cultural Democrática, ele sintetizou em oito pontos o programa de sua gestão:

• Responsabilidade do Estado: Nunca, como nos dias de hoje, o Estado tem responsabilidades para com a cultura. Vivemos numa época trágica, de sistemática destruição não apenas dos aparelhos e equipamentos culturais, mas da própria cultura (...) Procura-se, num país atrasado como o Brasil, deixar a cultura sujeita às leis do mercado, o que, em nosso caso, significa simplesmente negá-la. • Financiamento da Cultura: O Estado tem o dever de se portar como um Mecenas Moderno: Temos necessidade de um pleno renascimento cultural e os órgãos estatais responsáveis devem criar o clima para isso em todas as áreas, das ciências humanas às artes plásticas. • A cultura não é lazer: Ela é muito mais do que isso: refere-se à condição humana e capacidade do ser humano de pensar sobre ela, isto é, pensar sobre si mesmo. A indústria cultural faz um movimento contrário. Move-se no sentido de neutralizar o pensamento. • Cultura e cidadania: cultura é um elemento essencial da cidadania. Chega de considerar a cultura como elemento secundário! (...)

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Tarso Genro e Pilla Vares, na inauguração das novas instalações do Arquivo Histórico


O desenvolvimento cultural traz consigo conteúdos críticos e reflexivos. Rompe o senso comum e tem incidência na própria política. Desenvolve a imaginação ativa em detrimento da imaginação passiva. • Cultura e política: Os órgãos do Estado não podem interferir na criação, concepção e posição dos sujeitos em qualquer nível. Pelo contrário, sua função é precisamente a de garantir a livre manifestação em sentido absoluto. • Diálogo com a comunidade: Nosso objetivo é criar uma política cultural permanente com a intromissão ousada e aberta da própria comunidade, de tal forma que as retrógradas tentativas de desmonte encontrem uma resistência eficaz na sociedade civil. • Cultura erudita e cultura popular: Existe apenas uma cultura na qual os elementos populares intervêm e proporcionam conteúdo (...) Uma política de descentralização cultural, como a que estamos começando a pôr em prática, pode derrubar o muro abstrato que foi erguido, inclusive com a ajuda de alguns setores da esquerda. • Modernidade: A cultura contemporânea é incompreensível sem o cinema, o vídeo, a televisão, o rádio, as ciências humanas (entre elas, a psicanálise), a poesia concreta, a fotografia, o teatro de rua, o rock and roll, as histórias em quadrinhos, que se conjugam às grandes criações várias vezes milenares da história da humanidade.

55


Outdoors do Porto Alegre Alerta

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resistência

cultural

O tom de resistência que perpassa o texto de Pilla Vares tem

uma razão objetiva. Em 1989, Fernando Collor de Mello venceu

Luís Inácio Lula na Silva, nas primeiras eleições presidenciais desde 1964. Collor assumiu a Presidência, disposto a pôr em prática as ideias neoliberais embutidas na chamada Nova Or-

dem Mundial, o processo de globalização que sucedeu a queda dos regimes socialistas do Leste Europeu.

Tratava-se de reduzir o tamanho do Estado às ditas áreas es-

senciais, deixando que todas as demais atribuições passassem a ser reguladas pelo mercado. Na lógica do Estado Mínimo, a cultura não era considerada área essencial, embora a Constituição de 1988 assim estabelecesse:

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.18

Ainda assim, foi uma das primeiras vítimas do governo

Collor. Em março de 1990, antes de completar cinco anos, o MinC foi extinto – na verdade, transformado em uma Secre-

taria da Cultura inexpressiva, sem estrutura ou recursos para desenvolver qualquer forma de política. Collor também revo-

gou a Lei Sarney, criada por seu antecessor, através da qual o

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governo estimulava a iniciativa privada a investir na cultura via

renúncia fiscal. Embora criticada, a Lei Sarney era praticamente a única fonte de recursos para a área da cultura.

Como parte do Plano Nacional de Desestatização (PND), fo-

ram extintos órgãos atuantes na área cultural, como a Funda-

ção Nacional de Artes (Funarte), a Empresa Brasileira de Filmes

(Embrafilme) a Fundação Nacional de Artes Cênicas (Funda-

cen), a Fundação Pró-Leitura e o próprio Conselho Nacional de Leitura. O efeito dessa política foi devastador. Durante os quase

dois anos em que Collor ocupou a Presidência da República, um único filme foi produzido no Brasil: A Grande Arte, de Walter Salles Junior – ironicamente, falado em inglês.19

Especificamente sobre esse período, Pilla Vares escreveu: A cultura realmente esteve e está passando por mais um estranho julgamento, por uma suspeição, por uma sujeição, por um sítio e um cerco tenebroso. (...) Nós sobrevivemos a Collor e aprendemos a fazer cultura também nesses momentos terríveis, nos quais se criou uma fórmula de priorizar obras fundamentais e de interesse popular, não a favor de uma interação do povo com a sua cultura, mas de forma a contradizer a realização de um lado e a cultura de outro, como se o fazer cultural estivesse tirando recursos de atividades essenciais, numa falsa polarização e disputa entre cultura e desenvolvimento social.

O desmonte das estruturas federais aumentou a importância

das secretarias estaduais e municipais de cultura. A arquiteta

Ana Lúcia Meira20 viveu as duas situações: Quando eu vim traba-

lhar na secretaria, vinda do governo federal, numa situação bastante

complicada pós-Collor, quando nós nos sentíamos muito alijados das políticas públicas federais. Aí eu entro num espaço em ebulição, as

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Apresentação do Salão de Desenho de Imprensa


pessoas conversando, os temas vindo à tona com essa particularidade

que tem a administração municipal de ser muito próxima da cidade. O

nosso interlocutor está transitando na rua, nos lugares onde a gente mesmo frequenta.

Pilla Vares cercou-se de uma equipe jovem. Para as coordena-

ções foram empossados Fernando Schüller, Livro e Literatura; Carlos Branco, Música; Hamilton Braga, Artes Cênicas; Mar-

garete Moraes, Artes Plásticas; e Maturino Luz, na Memória. Branco recorda: Tinha essa questão de estar saindo de uma ditadura

militar, ter toda essa coisa reprimida, querendo sair pra fora. O Pilla acabou escolhendo um monte de guris, assim, todos com 24, 25 anos,

com uma disposição, com uma vontade de fazer enorme. Naquela época era a primeira gestão do PT que era o principal partido de esquerda do

país. Era um partido que estava ainda crescendo e viria a crescer muito

mais depois, e era a primeira gestão aqui em Porto Alegre. Então, acho que a partir disso, de todos esses fatores nós conseguimos empreender

uma gestão na cidade nesses primeiros quatro anos de governo, que foi muito interessante e que até hoje é marcante.

Ao longo do tempo, novas coordenações foram criadas. Sur-

giu a de Música, separada da de Artes Cênicas, e criaram-se as

de Cinema e Vídeo, Descentralização Cultural e Manifestações Populares. Segundo Margarete Moraes21, havia todo um conceito

de cultura baseado apenas no beletrismo e no pensamento homogêneo. Daí, nessa nova gestão se optou por mudanças de conceitos. Os mais

conservadores queriam que a política cultural devesse trabalhar ape-

nas com as artes e as letras e eu acho que houve desde aquele momento uma ideia de que não, se deveria trabalhar com todas as expressões

culturais, não importa se fossem as letras, ou as artes, ou apenas a questão antropológica.

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projeto

coletivo

Se a gestão de Joaquim Felizardo deu vida à SMC, era pre-

ciso dar corpo à nova secretaria. Desde o primeiro momento, houve a preocupação de integrar as coordenações e promover a permanente reflexão dos gestores sobre a política cultural e os projetos em andamento, em reuniões semanais. O Pilla estimulava essas conversas, lembra Luciano Alabarse: Eu acho que

isso qualificou muito o quadro da secretaria. Aquelas reuniões de ter-

ça-feira de manhã, que a gente chamava ‘reuniões de coordenação’,

aquilo era uma aula de filosofia, de política. Eu lembro muito, eu ouvia tudo aquilo um pouco assustado, surpreso, fascinado também porque se discutiam os projetos artísticos sobre um viés político. Os

vieses políticos sobre a conveniência artística. Era uma manhã bem estimulante aquela, de ideias, de tudo.

Do ponto de vista da cultura, a consolidação do Orçamen-

to Participativo estimulou um efetivo processo de ampliação e descentralização cultural da cidade, já esboçadas em anos ante-

riores, com uma série de experiências bem sucedidas, mas pontuais e sem continuidade.

Para garantir a participação popular da discussão e formula-

ção das políticas culturais, foi instituído o Conselho Municipal de Cultura, a partir de conselhos regionais implantados nas regiões do Orçamento Participativo.

60


O texto A Descentralização da Cultura em Porto Alegre explica

que o projeto fundamenta-se na soberania popular, na pluralidade, no diálogo e no rigor estético. Ao propor e realizar oficinas de múltiplas linguagens nas diversas regiões de Porto Alegre, prestigia a autoexpressão e auto-organização das pessoas, sendo elementos indissolúReunião do Conselho Municipal de Cultura

veis, a investigação, o confronto e o prazer criadores.

De seis oficinas implantadas em 1993, ano de sua criação, a

Descentralização atingiu o número de 60, ao final de três anos.

Em 2004, já existiam oficinas de artes plásticas, dança, capoei-

ras, fotografia, de inclusão cultural, literatura, música, percussão, produção artística, teatro e vídeo.

Segundo Adroaldo Correa22, primeiro coordenador da Des-

centralização, a primeira grande decisão da Descentralização

foi afirmá-la como projeto. A segunda foi estruturá-la com ações

possíveis, vinculadas aos orçamentos das demais coordenações – música, livro, artes plásticas e artes cênicas. Cada uma das coordenações – essa decisão foi tomada pela Secretaria como

um todo – deveria aplicar 30% dos seus recursos em ações de descentralização.

Em seu processo de funcionamento, a Descentralização da

Cultura integrou-se à dinâmica das reuniões do Orçamento

Participativo, do Conselho Municipal de Cultura, do Sistema

Municipal de Cultura, da Conferência Municipal de Cultura e das reuniões do Conselho Regional de Cultura dos bairros.

Além de reativar o Conselho Municipal de Cultura já existen-

te, a Prefeitura cria o Fórum em Defesa da Cultura em 199323.

Na busca pela mobilização contra o esvaziamento representado

pela Era Collor, o debate abriu uma série de possibilidades de intervenções do Município.

O tema seria tratado na primeira edição da revista Porto &

Vírgula criada em 1990, como um veículo de reflexão da comu-

61


nidade cultural, a partir de uma pauta diversificada que aborda

desde o resgate da memória de Porto Alegre até os grandes debates do momento. Em seu primeiro número, a P&V traz uma ampla reportagem sobre a crise na cena cultural do país sob o Governo Collor.

Pilla Vares costumava usar um termo que eu nunca esqueci, re-

corda Baiard Brocker24. A gente tem que trabalhar na política da

‘capilaridade’, ou seja, ir lá no ponto. Se for bem feito,vai gerar fru-

tos. Não adianta a gente ter um projeto mega que acontece uma vez na vida e outra na morte, que isso não deixa nada. Houve certamente

aquela efervescência cultural, a Secretaria teve um papel de protagonismo na cidade, em termos de propostas, de projetos e de ser o

grande mote da atividade cultural, do desenvolvimento da atividade

cultural na cidade. A cultura passou a ser alguma coisa, assim, mais visível, que as pessoas passaram a ver com outros olhos.

Segundo Helton Estivalet25, (...) tem um divisor de águas im-

portante que coincide com a chegada de Pilla Vares como secretário, que é justamente o conceito de cultura que muda na constituição de

1988. Porque essa visão antropológica da cultura que se começa a

ter, delegada aos âmbitos municipais, é de ampliar esse conceito de cultura na prática cotidiana de cada governo. Então essa atuação, essa ampliação, essa abrangência que tomou a cultura a partir da

gestão Pilla Vares reflete a diretriz nacional que se tinha. A própria

revolução que houve dentro da minha área de patrimônio foi muito

grande, patrimônio material e imaterial. Então, eu acho que mudou o rumo, o conceito onde se começou a trabalhar enxergando, muito mais longe, tendo um alcance muito maior.

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José Saramago, entre Marcos Fuhr, do Sinpro, e Fernando Schuller, da SMC


a revolução

do Fumproarte A realização, em 1991, do Seminário Criação Histórica com a

participação do filósofo grego Cornelius Castoriadis, abriu uma nova faceta de atuação da SMC, a realização de grandes jor-

nadas culturais com a participação de grandes personalidades internacionais. No ano seguinte, a Secretaria promoveu o simpósio Polis e Cultura, trazendo a Porto Alegre o historiador in-

glês Eric Hobsbawn. Em 1996, seria realizado o 1º Seminário de Cinema, com a presença do diretor Ettore Scola.

O mais comentado de todos seria o simpósio A Experiência

do Século, pela presença do filósofo norte-americano Francis Fukuyama, principal assessor do presidente Ronald Reagan, que estava em evidência por defender a tese do “Fim da História”. Além dele, o simpósio teve conferências do escritor por-

tuguês José Saramago, o historiador francês Pierre Broué e o

cineasta Arnaldo Jabor. O convite de um governo de esquerda

a um dos teóricos do neoliberalismo causou surpresa e chamou atenção para uma característica marcante da política cultural desenvolvida em Porto Alegre, qual seja, a pluralidade.

As eleições do vice-prefeito Tarso Genro para substituir Olí-

vio Dutra, em 1992, e de Raul Pont, em 1996 – ambos do PT –, garantiram a continuidade dos projetos, mas, na verdade, a po-

lítica cultural da Prefeitura era reconhecida e elogiada inclusive por adversários políticos. Durante as eleições, o candidato do

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PMDB Cézar Schirmer solicitou ao professor Sergius Gonzaga26

um projeto alternativo para a área da cultura: Eu respondi que o que nós temos, nessa gestão na Cultura, é muito inovador, é muito

criativo, muito cheia de élan, de garra, muito cheia de vitalidade, de criatividade, recorda Sergius.

Para o financiamento da cultura, a Prefeitura dispunha de

dois fundos, o Funcultura, instituído no momento da criação da SMC, e o FUMPAHC27, específico para a preservação do

patrimônio histórico. Os dois, no entanto, vinculavam-se exclusivamente a financiar projetos do próprio Município. Era necessário, no entanto, implementar um novo mecanismo que

pudesse cumprir o papel de “mecenas” da cultura, previsto no programa inicial de Pilla Vares.

O que existia no país para carrear recursos para projetos cul-

turais limitava-se às leis de incentivo com renúncia fiscal, como previa a antiga Lei Sarney, retomada após a queda de Fernando

Collor com o nome de Lei Rouanet – referente ao nome do novo

ministro da cultura, o embaixador Sérgio Paulo Rouanet. As empresas podiam abater percentuais do Imposto de Renda de-

vido e investir esses recursos na Cultura. Vários estados copia-

vam a lei federal, utilizando a renúncia do pagamento de ICMS. Ou seja, empresas utilizavam dinheiro público para realizar seu

marketing cultural, escolhendo os projetos a serem financiados, o que produzia uma série de distorções, como a excessiva concentração de recursos em artistas conhecidos e a centralização em projetos no sudeste do país.

Era necessário constituir uma alternativa a este modelo. Foi

no primeiro semestre de 1992, lembra o cineasta Giba Assis Bra-

sil. A gente já tinha aprendido que, dali para frente, a forma moderna de relação entre o Estado e os produtores culturais passava pelas leis

de incentivo. Mas, em Porto Alegre haveria de ser diferente. Numa

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de suas reuniões periódicas com a comunidade cultural, o então vice-prefeito Tarso Genro surpreendeu a todos com uma tese contrária:

leis de incentivo não interessam à Administração Popular, porque administrar a cultura através da renúncia fiscal é abrir mão de qualquer política cultural, abdicar da possibilidade de a comunidade cultural interferir no processo em nome de uma cultura que obedeça exclusivamente às leis de mercado.

A partir do debate com os sujeitos da arte e da cultura, nas-

ceu o Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Fumproarte), um mecanismo através de

edital público de financiamento direto de até 80% dos custos de projetos nas áreas de artes cênicas, artes visuais, literatura, cinema e vídeo, música, memória cultural, artesanato, fotografia e folclore.

Em sua proposta inicial, o Fumproarte exigia como con-

trapartida o retorno de interesse público, através de doações

de cotas de cada projeto, como exemplares, no caso de livros; exibições para escolas, no caso de filmes, shows ou peças teatrais; oficinas, workshops e outras formas peculiares a cada for-

ma de expressão. Os proponentes apresentavam seus projetos

que eram examinados pela Comissão de Avaliação e Seleção (CAS), formada por nove integrantes, sendo três da SMC e seis representantes das entidades culturais, encarregada de

analisar o mérito dos projetos. Cada projeto era avaliado por três conselheiros. Na proposta original, os pareceres eram lidos em reuniões abertas, e os próprios proponentes tinham

oportunidade de manifestação, defendendo seus projetos ou

esclarecendo dúvidas. Muitas vezes, a defesa oral poderia mu-

dar o parecer. Concluído esse processo, a comissão realizava a seleção final dos projetos a serem financiados naquele edital, dentro do limite do orçamento previamente estabelecido.

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A partir do final dos anos 2000, por decisão do Gabinete do Secretário e da própria CAS via regimento interno, ocorreram

diversas mudanças nos procedimentos de avaliação dos projetos, bem como foram criados mecanismos virtuais de acesso aos projetos, buscando facilitar o processo.

Ao retirar do mercado a decisão sobre os projetos culturais

a serem financiados com o dinheiro público e transferi-la para

a representação da sociedade, o Fumproarte transformou profundamente a relação entre o poder público e os agentes cul-

turais. As propostas seriam julgadas pelo mérito e não pelo

retorno comercial como ocorre nas leis de incentivo com renúncia fiscal. Assim, ao longo dos anos, o Fumproarte propor-

cionou tanto o surgimento de novos nomes como viabilizou a produção de artistas com trabalhos originais e inovadores, sem apelo comercial.

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ênfase

no intercâmbio Do debate no interior do Governo nasceria um dos principais

projetos culturais da SMC. Havia a ideia de trazer o tenor italiano Luciano Pavarotti para um grande show em Porto Alegre.

A proposta foi levada às coordenações da Cultura e gerou um

profundo descontentamento. O Secretario de Assuntos Internacionais, José Eduardo Utzig, retrucou:

– Então nos desafiem. O que vocês querem?

O Porto Alegre em Cena nasceu lá em casa, lembra o diretor de

teatro Luiz Paulo Vasconcellos. O Luciano Alabarse, um diploma-

ta acima de tudo, pediu que eu organizasse um fim de tarde regado a bom uísque. Precisava ser persuasivo e sedutor no convencimento

de uma proposta que estava em pauta. A de criação de um festival de teatro patrocinado pela Prefeitura. Na opinião dele, assuntos sérios se tratam com gente agradável, em ocasiões agradáveis e ambientes

agradáveis. Irretocável. Propus então: eu entraria com a casa o queijo e o vinho e ele com o uísque. Aceita a sugestão, pusemos mãos à obra.

Os convidados não eram muitos. Pilla Vares, secretário da Cultura, Porto Alegre Em Cena

José Eduardo Utzig, então assessor do prefeito, Luiz Augusto Fischer,

coordenador do Livro e Literatura, Edélcio Mostaço, um intelectual respeitado no centro do país, Luciano, Sandra (Dani) e eu. Foi um fim de tarde agradabilíssimo, a conversa correu solta. Aliás, intelectuais

e artistas quando se reúnem a conversa sempre rola solta. Falamos, comemos, bebemos, falamos mais ainda, até que o tal assunto veio à

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baila. Luciano expôs suas ideias, Pilla Vares ouvia e pedia nossa opinião, Fischer, Sandra e eu demos. Até que cedeu a palavra a Edélcio

Mostaço, que começou provocando. Não entendia. Por que um festival

de teatro no Rio Grande do Sul? Aí o Pilla depositou o copo, fez uma pausa de tensão e sentenciou. – Simples. Porque o Rio Grande do Sul tem teatro. Naquele momento, surgiu o Porto Alegre em Cena.

A alternativa oferecida pela SMC foi um grande festival inter-

nacional de teatro, sob a coordenação de Luciano Alabarse. Os re-

cursos para realizar o evento seriam captados através das leis de incentivo à cultura. Assim, como alternativa a uma atividade pontual, nascia o evento de maior visibilidade internacional da SMC.

A primeira edição foi lançada em 1994 e, desde então, o PoA

em Cena promove a cada ano cerca de 50 espetáculos, realiza-

dos nos teatros da cidade, mas também em praças públicas e espaços alternativos, atraindo uma média de 100 mil espectadores a cada edição. Esses eventos já trouxeram para a Porto Ale-

gre artistas como Peter Brook, Philip Glass, Hanna Schygula, grupos como La Fura Del Baus, Berliner Ensemble e Theatre de

Soleil, além dos brasileiros Paulo Autran, Tônia Carrero, Denise Stoklos e Tom Zé, entre muitos outros.

Ao mesmo tempo, a SMC começava a desenvolver uma po-

lítica de intercâmbio com os países vizinhos, a partir do evento Porto Alegre em Buenos Aires, em parceria com a Intendência da

capital argentina. Cerca de duas dezenas de músicos, artistas

plásticos, grupos teatrais e de dança apresentaram-se ou mostraram seus trabalhos no Centro Cultural La Ricoleta, na capital argentina, em 1996. A partir daí, estabeleceram-se parcerias, le-

vando mais de uma dezena de artistas gaúchos a se tornarem

conhecidos, formarem parcerias, contatarem produtores e conquistarem novos mercados para sua produção.

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Porto Alegre Em Cena: teatro e música, com Tom Zé


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MEMÓRIA

popular é patrimônio Carnaval é cultura Desde que passou a ser organizado pelo Município, ainda na

década de 1970, o carnaval de Porto Alegre se mantinha no âmbito da Empresa Porto-Alegrense de Turismo (Epatur), o que

representava uma visão histórica do poder público sobre o conteúdo do evento. A criação da SMC, no entanto, passou a gerar

uma ampla discussão no interior da Associação das Entidades Carnavalescas: afinal, carnaval é atração turística ou cultura?

Por demanda dos próprios carnavalescos que acompanhavam o tra-

Passarela do samba no Porto Seco

balho da SMC no que diz respeito à inclusão social a partir da Descen-

tralização da Cultura, eles reivindicaram, e o Pilla resolveu assumir o Carnaval, recorda Margarete Moraes. No primeiro Carnaval que

eles realizaram junto com a Secretaria Municipal da Cultura, o Pilla convidou os coordenadores para a assistirem. Eu mesmo não conhecia

o Carnaval, fui pela primeira vez como coordenadora de Artes Plásticas. Eles gravaram nas camisetas: Carnaval também é Cultura.

Faltava, no entanto, destinar um local específico para os

desfiles. Ao longo do tempo, o carnaval oficial ocorria em grandes avenidas da cidade, exigindo do Município, vulto-

sos investimentos para a montagem e desmontagem de ar-

quibancadas, banheiros e outros equipamentos necessários a

sua realização. Era preciso constituir um espaço que contri-

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buísse para qualificar e potencializar o carnaval como manifestação cultural legítima.

Da reivindicação popular até a construção da Pista de Even-

tos, seguiu-se um longo caminho, que perpassou três admi-

nistrações. Vários locais foram pensados. A primeira ideia era

instalar a passarela no interior do Parque da Harmonia, ao lado da Câmara Municipal, a partir de uma negociação com o

Movimento Tradicionalista que ocupava o espaço, mas foi vetada, pois, na área, seria construído o novo prédio do Tribunal Regional Eleitoral.

Quando Raul Pont, também do PT, sucedeu Tarso Genro, sur-

giu a proposta de instalar a passarela no Parque Marinha do Brasil, ao lado do estádio Gigante da Beira-Rio, como equipamento do parque, utilizando a legislação que possibilitou a construção do Auditório Araújo Vianna dentro do Parque Farroupilha.

Dessa vez, houve uma reação dos moradores que recorreram

à Justiça e conseguiram embargar a obra, que já tinha ordem de início. O mesmo aconteceu no bairro Humaitá, terceiro local proposto. Nesse momento, o Carnaval de Porto Alegre readqui-

rira um conteúdo comunitário, com a realização das chamadas muambas nas 16 regiões do Orçamento Participativo. Portanto, havia numa grande mobilização na cidade em torno do carnaval, mas a definição do local persistia indefinida.

Nós determinamos que essa pista de eventos só poderia acontecer

onde os moradores concordassem, relata Margarete. Fui numa muamba no Porto Seco, eu estava me despedindo da Secretaria, quando

eles desfilaram com uma faixa : ‘Nós queremos a pista de eventos’. Foi

outro momento de emoção, porque finalmente uma comunidade queria a pista de eventos. E a Restinga também quis, deu uma confusão, mas

o Conselho do Plano Diretor determinou que fosse no atual local. Te-

nho que fazer uma homenagem ao prefeito João Verle que, em um ano,

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conseguiu construir aquela pista com toda a infraestrutura, elétrica,

hidráulica e o início de algumas oficinas de arte, que depois foram concluídas no atual governo.

Novos projetos começaram a dar vida à SMC. O Prêmio Aço-

rianos de Música, esboçado ainda na gestão de Joaquim Felizar-

do, foi transformado em realidade e deu origem a outras duas premiações, nas áreas de Literatura e de Teatro.

A memória passou a ser tratada como elemento estraté-

gico na política cultural de Porto Alegre. E eu me lembro que

o Pilla uma vez comentou numa reunião que a cultura, uma das origens da palavra, que talvez possa se ver até no dicionário, é ideia de cultivo conta Ana Meira. E o cultivo não prescinde da

memória, porque da memória tu tens que saber qual a época do plantio, a época da colheita, como armazenar, enfim. Tudo isso é um acúmulo, e a memória perpassa todos esses assuntos. Sem

falar que, para os gregos, a mãe das sete artes era Mnemósine, a memória que estava na raiz de todas as ações culturais. Então, a primeira coisa que me surpreendeu: o fato de que uma discussão mais geral fosse levada até o prefeito na época. Foi considerada relevante pelo município que todas as secretarias discutissem a questão do seu patrimônio e da sua memória.

Na linha da preservação patrimonial na cidade, em 2001

foi implantado o Monumenta, um programa do Ministério da Cultura voltado à re-qualificação de centros históricos urbanos no território nacional. Na capital gaúcha, a responPrêmio Açorianos de música, artes cênicas e literatura

sabilidade é da SMC. A área de abrangência do Programa em Porto Alegre compreende 24,5 hectares, que incorpora a Praça da Matriz, a Rua General Câmara (Rua da Ladeira), a

Praça da Alfândega e o Pórtico do Cais do Porto; além da Rua

dos Andradas (Rua da Praia), do Largo dos Medeiros à Igreja Nossa Senhora das Dores. O referido perímetro foi definido

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em razão de ser essa área tombada como patrimônio nacional desde 2001, fazendo com que Porto Alegre tenha um centro

histórico reconhecido pelo IPHAN como importante para a memória do país.

Algumas de suas obras concluídas:Pórtico do Cais do Porto,

Palácio Piratini, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli/MARGS (antiga sede da Delegacia Fiscal), Memorial do

Estado do Rio Grande do Sul (antiga sede dos Correios e Telégrafos) e Biblioteca Pública do RS.

Além da valorização dos acervos, já no primeiro ano da Ad-

ministração Popular foi criado o Centro de Pesquisa Histórica,

com a função de organizar e preservar a história social de Porto Alegre, através de estudos, publicações e seminários.

O projeto Memória dos Bairros, demandado pelo Orçamento

Participativo, utilizava a metodologia da história oral, dando vozes aos moradores das regiões para falar dos processos de

transformação da cidade. Foram editados 16 livros sobre a história de bairros da cidade. O último Memória publicado foi o do

Bairro Cristal: a partir de 2005, por decisão do gabinete da SMC, a linha editorial deixou de existir. Memória Na área da Memória Cultural, vem sendo desenvolvidas

atividades de educação patrimonial junto ao Arquivo Históri-

co Moyses Vellinho e Museu Joaquim Felizardo. Além disso, os

dois equipamentos realizam atendimento a pesquisadores, por deterem precioso acervo sobre a cidade. Com relação ao patri-

mônio, foram tombados 40 prédios e espaços na cidade, além da realização de constantes ações que visam à conservação, fiscalização e licenciamento de obras.

A CMeC organizou processos de Registro como Patrimônio

Imaterial do Município: Procissão Nossa Senhora dos Navegan-

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tes, Feira do Livro, OSPA 60 Anos e Bará do Mercado, os quais

foram encaminhados à Câmara de Vereadores para que ocorressem os devidos tombamentos.

Um das pesquisas inéditas realizadas pela Coordenação da

Memória Cultural, via CPH, diz respeito ao Censo das Religiões

Afro-Brasileiras em Porto Alegre, realizado ao longo de 2 anos e que abrangeu toda cidade, chegando a uma listagem de mais de 1.200 estabelecimentos.

O projeto Memória dos Bairros, demandado pelo Orçamento Participativo, deu vozes aos moradores das regiões para falar dos processos de transformação da cidade.

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portoAlegre

25 anos de Cultura

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QUARTa parte


continuidade

do

projeto A eleição do professor e ex-senador José Fogaça nas elei-

ções de 2004 encerrou um período de 16 anos de Administração Popular. Fogaça venceu com o slogan o que é bom fica; o que tá ruim, muda. A cultura, no caso, ficou. Eu gostaria de

ver reconhecido que, malgrado as diferenças, houve ideia de contiSergius Gonzaga, José Fogaça e atividades do 24 horas de Cultura

nuidade e de respeito pelo que vinha antes, ressalta o professor

Sergius Gonzaga, convidado para assumir a SMC. A cultura, que é nossa área, pôde ter uma linha de continuidade com algumas

divergências, com modificações, mas mantendo-se os programas chaves, mantendo-se uma ideia geral abrangente de cultura múlti-

pla, não dogmática e não partidária. Eu acho que isso tem sido uma coisa fundamental para Porto Alegre.

Foi mantida a mesma divisão de coordenações e preserva-

dos os principais programas desenvolvidos do período an-

terior, incluindo os grandes como Fumproarte, Porto Alegre

Em Cena e os prêmios Açorianos de Teatro, Música e Litera-

tura, acrescidos da premiação para a dança. Além deles, se mantiveram:

• Salão Internacional de Desenho para a Imprensa, que se realiza anualmente em Porto Alegre, com a participação de Artistas Gráficos do Brasil e do exterior. Atualmente está em sua 21ª edição.

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• Festival Internacional de Teatro de Rua, que traz a Porto Alegre grupos especializados em espetáculos populares. Em 2013, foi realizada sua 5ª edição. • Curtas nas Telas, fruto de Convênio entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o Sindicato das Empresas Exibidoras do Rio Grande do Sul e a Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul e Brasileira de Documentaristas (APTC – ABD/RS), a promoção busca divulgar a produção nacional de curtas-metragens, através da exibição dos filmes selecionados no circuito de cinemas de Porto Alegre. Em 39 Edições, foram exibidos 277 curtas de todo o Brasil. • Histórias do Trabalho – concurso voltado a autores não profissionais, nas categorias Histórias Verdadeiras, Histórias Inventadas, Poesia, Ensaio e Histórias em Quadrinhos, Cartum e Fotografia. Está em sua 20ª edição. • Poema nos Ônibus – programa nascido em 1992 é um concurso de poesias para serem expostas por adesivagem nas janelas dos veículos do transporte coletivo de Porto Alegre.

Em termos de estrutura, nasceu a Coordenação de Dança,

desmembrada da de Artes Cênicas. A SMC ganhou o Obser-

vatório da Cultura, criado em 2010, com a missão de se tornar

um centro de referência para a promoção da cultura e das artes como fatores de desenvolvimento social e econômico, através

da informação. O Observatório passou a ser responsável pela

produção e difusão de dados e indicadores sobre a cultura lo-

cal; o monitoramento dos resultados das políticas públicas de

cultura; apoio à formação de empreendedores e gestores cul-

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turais: oferece uma seleção de conteúdos de interesse de nosso público

alvo - profissionais, estudantes e demais agentes culturais – incluindo oportunidades de apoio a projetos, cursos e seminários e a repercussão

sobre fatos ou temas relevantes em política cultural. Entre janeiro e

dezembro de 2012, registrou aumento de 75% no número de visitas, com média mensal superior a 3 mil acessos.28

Novos programas somaram-se aos que estavam em anda-

mento, como a maratona 24 Horas de Cultura, que se realiza anu-

almente em março, no período correspondente ao aniversário de Porto Alegre, em uma série diversificada de atividades artísticas de música, teatro, dança, leituras compartilhadas.

O projeto Usina das Artes apoia 16 grupos de teatro e de dan-

ça, com espaços para ensaios e oficinas de luz, cenografia, figurino e produção, nos espaços da Usina do Gasômetro.

A partir de 2007, é realizado anualmente o Festival de Inver-

no de Porto Alegre, com uma programação de shows de nomes

conhecidos e de artistas das comunidades, cursos e palestras. A 7ª edição, em 2013, teve apresentações de Ney Matogrosso, Cauby Peixoto, Papas da Língua, Hique Gomez e Bebeto Alves;

cursos sobre a crise do euro, a Primavera Árabe, Nelson Rodrigues e Carlos Drummond de Andrade; palestras sobre Getúlio

Vargas, Literatura Argentina e as obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de oficinas e espetáculos de dança.

Criada em 1993 como Unidade Editorial e renomeada como

Editora da Cidade em 2005, tem por objetivo a produção literária

relacionada à capital, buscando o relançamento de livros relevantes – tanto raros como os fora de catálogo – de autores locais

ou com a temática sobre Porto Alegre. É responsável pela edição de trabalhos vencedores do Prêmio Açorianos de Criação Literária e os selecionados pelos concursos Histórias de Trabalho e Poemas no Ônibus e no Trem.

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A partir de 2007, a Prefeitura instituiu o Prêmio Joaquim Feli-

zardo para destacar artistas das áreas de música, cinema, teatro, dança, fotografia, artes plásticas, memória, literatura, folclore, além de apoiadores da área cultural da imprensa.

Uma das prioridades da gestão foi a reativação do Conse-

lho Municipal de Cultura, cuja atuação sofria um esvaziamento

desde 2003. Em 2007, o secretário Sergius Gonzaga determinou que fosse encontrada uma alternativa para que o Conselho Municipal de Cultura voltasse à ativa.

Embora seja uma instância da sociedade e não do poder pú-

blico, a SMC, através da Assessoria Comunitária, iniciou um

trabalho de mobilização junto às comunidades e as áreas da Cultura, ressaltando a importância do funcionamento do Conselho para a democratização das políticas culturais.

Finalmente, em 2009, o Conselho foi reinstalado, com a tarefa

primordial de realizar a 4ª Conferência Municipal de Cultura, ocorrida em outubro daquele ano.

Ao finalizar seu segundo mandato à frente da SMC, Sergius

Gonzaga destacou a recuperação dos espaços públicos, incluindo a reabertura do Auditório Araújo Vianna, a partir de uma parceria com a produtora Opus.

No plano material, as reformas já realizadas em vários espaços (in-

cluindo-se aí a climatização do Paço Municipal que possibilitou a pre-

servação das obras de nossas pinacotecas); as obras (em andamento) da Pinacoteca Rubem Berta, na Duque de Caxias; a construção de dez

barracões no Porto Seco; a informatização da Biblioteca Josué Guimarães; o início da montagem do teatro Elis Regina, na Usina; a conclu-

são da Cinemateca Capitólio, que depende apenas de verbas já prometidas pelo BNDES. Temos ainda três projetos em fase de captação de recursos: o das Casas de Leitura na periferia (projeto arquitetônico de

Cesar Dorfman); o do Centro Social de Dança, na rua dos Andradas

80

Prêmio Açorianos de Dança e Artes Plásticas e a posse de Roque Jacoby com o prefeito José Fortunati e o vice Sebastião Melo


(projeto arquitetônico de Joel Gorski); e o de construção de um ousado

bar-café na Tremonha, junto à Usina (projeto arquitetônico de Silvia Moreira e Rufino Becker). Além disso, estamos em contato com o in-

ternacionalmente conhecido arquiteto Paulo Mendes da Rocha para

que projete o Complexo Cultural do Porto Seco (Sambódromo), mas este último depende de um acerto financeiro ainda não estabelecido.

No campo de eventos, entre outros programas, foram criados o Festival de Inverno, as 24 Horas de Cultura, o República do Rock, o Cinema nos Bairros, o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, etc.29

Em 2012, com a vitória eleitoral de José Fortunati (PDT) – na

verdade, ele já ocupava a Prefeitura desde 2010, quando Fogaça renunciou para concorrer ao Governo do Estado - o editor Roque Jacoby sucedeu Sergius Gonzaga à frente da SMC. Com

formação em Ciências Econômicas e uma larga experiência no

mercado editorial, Jacoby já havia ocupado a Secretaria da Cultura do Estado do RS, entre 2003 e 2006.

Assim como seu antecessor, ele assumiu o compromisso de

conservar a política cultural em vigor.

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portoAlegre

QUinTa parte

25 anos de Cultura Solar Paraíso, Pinacoteca Rubem Berta, Casa Torelly e palco do Teatro Renascença

82


os

equipamentos

culturais

BANDA MUNICIPAL

1926

A Banda Municipal nasce em um momento de euforia cultural

de Porto Alegre. Uma geração brilhante de escritores começava

a publicar seus livros, tendo como ponto de encontro e difusão a Livraria do Globo. As salas de cinema se multiplicavam pela

cidade, e as primeiras transmissões radiofônicas eram acompanhadas com excitação. Eleito logo após o fim da Revolução Fe-

deralista, que pacificou chimangos e maragatos, o prefeito Otávio

Rocha entendeu que a cidade comportava uma grande banda

musical para o entretenimento da população. Foram encarregados os professores José Accorsi e José de Almeida Neves para

organizarem a banda, em moldes europeus. Eles usaram como modelo a Banda de Roma, criada pelo célebre maestro Alessan-

do Vessella. Como faltavam na cidade músicos qualificados em

número suficiente, foi necessário recrutar integrantes da nova Banda em outros países, especialmente Argentina e Itália, in-

cluindo o próprio regente titular Giuseppe Leonardi, formado pelo Real Conservatório de Palermo.

A Banda Municipal estreou no dia 13 de junho de 1926, no

Theatro São Pedro, com um concerto em homenagem à presen-

ça do presidente Washington Luís. Os 60 músicos, utilizando todos os instrumentos das grandes bandas internacionais, in-

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terpretaram um programa que reunia composições de Mozart, Wagner, Schubert e Carlos Gomes.

A Banda logo caiu na simpatia do público. Seus concertos no

auditório ou em praças públicas atraíam multidões. Já em 1927,

passou a ter um espaço próprio para ensaios e apresentações,

com a construção do Auditório Araújo Vianna, ao lado da Praça

da Matriz, tendo como vizinhos o Theatro São Pedro, o Tribunal de Justiça, o Palácio Piratini, a antiga Assembleia Legislativa e a Catedral Metropolitana.

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No entanto, com o falecimento precoce de Otávio Rocha, co-

meçaram os problemas. Seu sucessor julgou que a manutenção do conjunto era muito onerosa para os cofres públicos. Os mú-

sicos se dispersaram, e o próprio Leonardi, desgostoso com a falta de apoio, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Por exigência da comunidade, a Banda ressuscitou. Leonardi

voltou a Porto Alegre para reorganizar a Banda Municipal, um

pouco mais enxuta, com 42 figurantes. Ela manteve-se ativa até o início dos anos 1950, quando vários de seus integrantes incorporaram-se à Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) e ou-

tros se aposentaram. Na prática, isto significou o encerramento

de suas atividades, o que foi sacramentado por um decreto de 1957 que declarou excedentes os cargos da Banda Municipal.

Ela só seria retomada quase 20 anos depois, primeiro em ca-

ráter experimental e, em 1979, de forma definitiva, através do

decreto 7.065. Passa a ter como diretor o regente Alcides Ma-

cedo, o Maestro Macedinho, como era conhecido, sendo seus

músicos selecionados por concurso público. Em 1988, a Banda Municipal foi incorporada à Secretaria Municipal da Cultura,

e remontou sua atividade com vigor, a partir do programa Pra ver a Banda passar..., com apresentações nos bairros da cidade e a gravação de seu primeiro disco.

A Banda realizava seus ensaios na Sala Radamés Gnattali, no

Auditório Araújo Vianna, desde sua retomada de 1979. A partir

de janeiro de 2009, com o total fechamento do Auditório para obras, os ensaios passaram a ser realizados em sala cedida pela Câmara de Vereadores, o que ocorreu até o final de 2010. A partir de 2011, o Teatro de Câmara Túlio Piva foi indicado para os ensaios.

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AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA O primeiro Auditório Araújo Vianna foi inaugurado pelo en-

tão prefeito Otávio Rocha em 1927 para abrigar as apresentações da Banda Municipal de Porto Alegre. O projeto do arquiteto José

Wiedersphan e do engenheiro Armando Boni exigiu um sofisti-

cado cálculo estrutural à época: um espaço a céu aberto composto de uma concha acústica de concreto e bancos de argamassa armada suficientes para acomodar 1.200 pessoas. Situava-se junto à Praça da Matriz, tendo como vizinhos ilustres o Theatro São Pedro, o Palácio Piratini e a Catedral Metropolitana.

Seu nome homenageava o compositor gaúcho Araújo Vianna

(1871-1916) que, além de produzir obras clássicas como Carmela e Rei Galaor, foi um importante agitador cultural da cidade, ao criar, no início do século 20, um conservatório musical que seria a base para a implantação do Instituto Belas Artes, hoje integrado à Universidade Federal do RS.

Por quase 30 anos, o auditório foi palco de apresentações mu-

sicais, especialmente da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

Além da Banda Municipal, o antigo auditório recebia cantores populares, corais, grupos folclóricos e era o local de ensaios das óperas que seriam apresentados no Theatro São Pedro. Ele foi

demolido em 1959, a partir de um acordo entre o Governo do

Estado e a Prefeitura, frente à necessidade de uma nova sede para a Assembleia Legislativa, próxima ao Palácio. Os antigos

bancos foram espalhados em logradouros da cidade, especialmente a Praça da Alfândega e o Parque Farroupilha.

86


A partir de 1964

O novo auditório, projetado pelos arquitetos Moacyr Moojen

Marques e Carlos Maximiliano Fayet, foi construído no Parque

Farroupilha, em três anos. O conjunto em forma de ferradura

reúne uma concha acústica com seis metros de altura no ponto

mais elevado do pórtico principal e 12 metros de profundidade. À frente, um poço para 60 músicos e platéia para 4.500 pessoas.

A inauguração, dia 12 de março de 1964, contou com a pre-

sença da noiva de Araújo Vianna, a pianista Olyntha Braga. A programação teve sessão solene, concerto da Ospa, do Coral da

PUC e apresentação do Balé de Beatriz Consuelo. Até o final

dos anos 1960, o Auditório foi palco da apresentação de óperas, entre elas Aída, Tosca, Madame Buterfly, Fígaro. Cada uma delas

se apresentava por três vezes, com financiamento advindo de parceria da Prefeitura com a OSPA.

Na década de 1970, o Araújo Vianna serviu de palco para os

novos artistas e bandas de rock e MPB, além de receber nomes

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consagrados, como Gilberto Gil, Os Mutantes, Maria Bethânia, Elis

Regina e Caetano Veloso. Além disso, também serviu de espaço para comemorações do Dia do Trabalhador e assembleias sindicais. Em uma delas, o então presidente do Sindicato dos Bancários,

Olívio Dutra – que, mais tarde, seria prefeito de Porto Alegre –, foi preso pela Polícia Federal durante greve da categoria.

Exposto às intempéries, o Araújo Vianna foi fechado em vá-

rios períodos devido à deterioração de sua estrutura. Em 1985, houve grande campanha junto à comunidade visando arrecadar fundos para sua manutenção. Já se discutia abertamente a possibilidade de instalar cobertura sobre o auditório, o que só ocorreu

em 1996, por decisão do Orçamento Participativo. A inauguração da cobertura de lona tensionada teve um show histórico de João Gilberto. Naquele período, já funcionava no interior do Araújo

Vianna o Espaço Radamés Gnatalli, que servia para os ensaios da Banda Municipal e de grupos artísticos da cidade.

Seis anos após a instalação da cobertura, laudo da Secreta-

ria Municipal de Obras e Viação (Smov) apontou que a mesma

oferecia riscos aos espectadores, em caso de chuvas mais fortes. O auditório foi interditado em 2005. Em 2007, a Secretaria Mu-

nicipal da Cultura publicou edital convidando empresas pri-

vadas para recuperação do auditório, seguindo o modelo das parcerias público-privadas, com co-gestão por um período de

dez anos. A empresa Opus Promoções foi vencedora da licitação. Restaurado, o Araújo Vianna possui 3.024 lugares, com cobertura fixa e climatização, novo palco, camarins, cafeteria e

completa recuperação de sua infraestrutura e dependências. Os

custos da reforma dão direito à Opus de ocupar 75% das datas anuais do auditório por um período de 10 anos.

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BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL JOSUÉ GUIMARÃES Criada em 1952, a Biblioteca Pública Municipal percorreu

curiosa trajetória de itinerância até se instalar definitivamente

no Centro Municipal de Cultura. Nos seus primeiros dez anos,

vinculada ao Serviço de Recreação Pública da Secretaria Municipal de Educação e Assistência, funcionou no 6º andar do

Edifício José Montaury. Em 1962, passou a integrar a Secção de Cultura, transferindo-se para uma área mais espaçosa no 9º andar do mesmo prédio.

Quando a Secretaria Municipal de Educação e Cultura mu-

dou-se para o edifício do Ipase, na travessa Mario Cinco Paus, a biblioteca foi acomodada no 9º andar do prédio. Em novembro

de 1978, foi transferida para uma área de 636 metros quadrados

no novo Centro Municipal de Cultura, com ambientes distintos, mais adequada à crescente demanda.

Em 1986, passou a se chamar Biblioteca Pública Municipal

Josué Guimarães, em homenagem ao escritor gaúcho, autor de livros como Camilo Mortágua, Tambores Silenciosos, Dona Anja e da trilogia inacabada A Ferro e Fogo. Atualmente, a

Biblioteca possui um acervo de mais de 35 mil exemplares,

entre livros, periódicos, CD`s e DVDs. Todos os materiais, excetuando-se as obras de referência, estão disponíveis para empréstimo a seus sócios. Fora do horário de atendimento, a

Biblioteca cede seu espaço para cursos e oficinas, como produção textual e de fotografia, além de sediar conferências de

interesse cultural. Além de sua sede, a Biblioteca Josué Guimarães possui uma unidade ramal no Bairro Restinga, que

disponibiliza um acervo de mais de 7 mil livros aos moradores da região.

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ATELIER LIVRE XICO STOCKINGER Depois de funcionar precariamente por cerca de dez anos no

Mercado, que se encontrava em adiantado grau de degradação,

o Atelier foi transferido para uma casa alugada na rua Lobo da Costa, onde foi possível ampliar suas atividades. Passou a oferecer cursos de desenho, pintura, xilogravura, gravura em metal, cerâmica, entalhe em madeira e escultura, para uma média

de 600 alunos por ano. Antes de seguir cada especialização, os alunos iniciantes frequentavam o Curso de Criatividade.

A partir de 1978, o Atelier Livre passou a ocupar uma das

alas do novo Centro Municipal de Cultura. Em 2012, recebeu a denominação oficial de Atelier Livre Xico Stockinger, em homenagem ao seu primeiro diretor, falecido em 2009.

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TEATRO DE CÂMARA TULIO PIVA O Teatro de Câmara nasce num momento de dinamização da

vida cultural em Porto Alegre. Construído em apenas 45 dias, foi uma solução inicialmente provisória para suprir a carência

de casas de espetáculos em Porto Alegre. Na verdade, ele sur-

giu da adaptação pelo arquiteto Elvan Silva de dois galpões da

Prefeitura para um teatro de bolso com palco italiano de 7,7 metros de largura por 6 de profundidade, e uma plateia composta

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por 210 cadeiras plásticas, com um total de 750 metros quadrados de área construída.

O Teatro de Câmara nasceu com prazo de validade. Teria

uma duração máxima de cinco anos, já que o Plano Diretor pre-

via inicialmente a construção de uma avenida sobre a sua área. Inaugurado em 10 de novembro de 1970, durante a gestão do

prefeito Telmo Thompson Flores, tornou-se um importante espaço cultural, palco de um movimento emergente de grupos teatrais e uma nova geração de músicos gaúchos.

Mesmo com os dias contados, o teatro resistiu, embora so-

fresse diversas paralisações em função de problemas de manutenção. Finalmente, foi reformado e reinaugurado em 1999, com

a denominação de Teatro de Câmara Túlio Piva, em homena-

gem a um dos maiores compositores de MPB, autor de mais de 300 canções. Além do nome, o teatro ganhou mais um camarim,

totalizando três, e sua cabine de operação técnica teve ampliada sua capacidade de iluminação.

A última reforma data de 2006, com adaptação de banheiros e

rampas de acesso para pessoas com deficiência, junto ao acesso

principal. Também foram trocados o assoalho do palco e todo o carpete que reveste o piso da plateia. O forro, tanto do Foyer

quanto da plateia, foi recuperado, e a fachada, repintada. Além de abrigar shows, peças de teatro, palestras e seminários, o tea-

tro mantém uma exposição com instrumentos e objetos pessoais de Túlio Piva para visitação pública.

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PINACOTECAS - ACERVO ARTÍSTICO DA PREFEITURA DE PORTO ALEGRE

Ruben Berta

A Pinacoteca Ruben Berta veio para as dependências dos Di-

ários e Emissoras Associados, em Porto Alegre, em 1967, como parte do projeto de Assis Chateaubriand de criar museus regio-

nais com alto valor artístico, em vários pontos do país. Formada por obras de reconhecidos artistas nacionais e estrangeiros, foi

doada à Prefeitura de Porto Alegre em 1971. Sua composição

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original permanece inalterada, sendo um acervo fechado. A relação completa das 125 obras que a integram consta na Lei

3.558 de 10 de novembro de 1971, assinada pelo Prefeito Telmo Thompson Flores.

A coleção permaneceu por uma década aberta ao público no

Paço Municipal, juntamente com a Pinacoteca Aldo Locatelli, sendo ambas transferidas provisoriamente para o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS), através de

convênio firmado pela Prefeitura com o Governo do Estado. Passados quarenta anos da criação da Pinacoteca Ruben Berta,

foi lançado em 18 de setembro de 2008 o catálogo com a reprodução de todas as obras que a integram, apresentando também a listagem completa da coleção.

No ano do centenário de nascimento de Ruben Berta, come-

morado em 2007, a Prefeitura de Porto Alegre e o Ministério da Cultura, através do Programa Monumenta, iniciaram o restauro da casa localizada na Rua Duque de Caxias, 973, para insta-

lação da Pinacoteca. Sua inauguração aconteceu em dezembro de 2013.

Aldo Locatelli

As origens da Pinacoteca Aldo Locatelli remontam à institucio-

nalização administrativa da própria cidade. Já nos fins do século

XVIII e ao longo do XIX, a Câmara de Vereadores encomendava quadros, em especial retratos, para adornar suas paredes. Com

o advento da República e a instituição da Intendência – denomi-

nada Prefeitura a partir de 1934 – prosseguiram as aquisições de

quadros e bustos em bronze, formando um respeitável painel da produção artística local dos inícios do século XX.

Em 7 de novembro de 1974, a antiga Pinacoteca Municipal

recebeu a denominação Aldo Locatelli, em memória ao mestre

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italiano que se dedicou ao ensino e à produção artística em Porto Alegre e em várias cidades do RS.

Atualmente, a maior parte do acervo se encontra num ex-

celente estado de conservação, e artistas contemporâneos foram estimulados a realizar exposições em diálogo com obras do acervo.

Com a progressiva incorporação de novas obras de arte -

através da premiação em salões promovidos pela Secretaria

Municipal da Cultura, bem como por doações de artistas e de

particulares - a Pinacoteca Aldo Locatelli precisava ocupar um espaço maior: a partir da restauração do Paço (2000/2003), as

salas da antiga sede da municipalidade voltaram a ser destina-

das à Pinacoteca. Em conformidade com as disposições museológicas contemporâneas, também foi constituída uma reserva técnica devidamente equipada no local.

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ARQUIVO HISTÓRICO MOYSES VELLINHO A origem do Arquivo Histórico de Porto Alegre é a mesma do

Museu Joaquim Felizardo: nasce do desmembramento do Setor de Divulgação Histórica e do Serviço de Documentação da Secretaria Municipal de Administração. Em 1975, após a cata-

logação dos documentos existentes, o Arquivo Histórico ganha autonomia e, quatro anos mais tarde, passa a ocupar o primeiro

andar de um prédio da Rua Lopo da Costa. Em maio de 1980, é transferido para uma casa alugada pelo Município na Rua Jerô-

nimo de Ornellas. Em 1989, por indicação da Câmara Municipal, passa a se chamar Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, em homenagem ao escritor e historiador gaúcho.

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Aos poucos, no entanto, o espaço se torna restrito para a

quantidade de documentos que a instituição passa a abrigar.

Em 1994, começa a transferência do Arquivo para um conjunto de residências construídas no final do século XIX, no bairro Partenon, restauradas e recicladas pela Prefeitura. Em períodos

anteriores, as casas abrigaram escolas, como a Escola Estadual

Inácio Montanha - Ensino Médio, na década de 1930, e a Escola Estadual de 1º Grau Apelles Porto Alegre, que permaneceu no local até meados da década de 1970. Em 2002, é concluída a restauração da segunda casa, transformada em centro cultural, com sala de exposições e auditório.

O Arquivo Histórico reúne, preserva e disponibiliza para

pesquisadores e comunidade em geral cerca de um milhão de documentos. Alguns deles, datados de 1764, registram a forma-

ção de Porto Alegre, preservados em condições adequadas de climatização. Também se desenvolvem atividades educativas com o objetivo de construir o conhecimento sobre a cidade e

despertar a consciência para a necessidade de preservação do patrimônio documental. Periodicamente, são editados os anais

do Arquivo Histórico, com relação dos documentos acervados para auxiliar o trabalho dos pesquisadores.

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CENTRO MUNICIPAL DE CULTURA, ARTE E LAZER LUPICÍNIO RODRIGUES Desenvolvido pelo extinto Banco Nacional de Habitação

(BNH), o Plano Comunidade Urbana de Recuperação Acelera-

da (Cura) tinha como objetivo a recuperação de vazios urbanos do ponto de vista socioambiental para uso público. Em Porto

Alegre, para integrar-se ao plano federal e fazer jus aos recursos financeiros da União, a Prefeitura elaborou o Projeto Renascença, no local antigamente conhecido como Ilhota.

Além das obras de saneamento básico e recuperação social

de uma área degradada, o Projeto Renascença previa a construção de uma Escola de Criatividade, que, a princípio, ficaria

situada na Rua Gonçalves Dias, junto à Saldanha Marinho, no

bairro Menino Deus. A mobilização da comunidade local para preservação de uma árvore centenária no local, determinou a transferência da Escola para a esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo.

Da Escola de Criatividade, o projeto derivou para um centro

multiuso, que se transformaria no principal equipamento cultural de Porto Alegre. O Centro Municipal de Cultura foi inaugu-

rado em 3 de novembro de 1978, com a presença do presidente da República Ernesto Geisel, e oficializado no dia 16 de mesmo mês, por decreto do prefeito Guilherme Socias Villela. Mais tar-

de, em 1986, passou a se chamar Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, em homenagem ao grande compositor porto-alegrense.

Projetado pelos arquitetos Edgar do Valle e Sérgio Matte, o

Centro tem, como principal espaço o Teatro Renascença, com palco italiano e uma plateia com 300 lugares. No Renascença,

são realizados eventos de entrega dos prêmios Açorianos de Música, Literatura, Teatro e Dança, mais o Prêmio Tibucuera

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de Teatro Infantil. Além do Renascença, abriga a sala Álvaro Moreyra, um espaço para atividades múltiplas, no qual se realizam conferências, seminários, palestras, cursos, apresentações

de dança, audiovisuais e exibições teatrais, com 110 cadeiras. A ocupação tanto do Renascença quanto da Sala Álvaro Moreyra

é definida através de editais públicos abertos a todos os grupos artísticos da cidade.

Fazem parte do Centro Municipal de Cultura, ainda, um hall

para exposições com quase 400 metros quadrados, o Atelier Livre Xico Stockinger e a Biblioteca Pública Municipal Josué Gui-

marães. Estão instaladas ainda as coordenações de Artes Cênicas, de Dança e do Livro e Literatura.

Na época da inauguração, era diretor da Divisão Cultural

da Secretaria Municipal da Educação o professor Luiz Osvaldo Leite. O novo equipamento, sob a chefia do professor Luiz An-

tônio de Assis Brasil, passou a reunir em um só lugar o Atelier

Livre, com Danúbio Gonçalves na coordenação de Artes Plásti-

cas, a Biblioteca Municipal (posteriormente batizada em homenagem ao escritor Josué Guimarães), acrescentando aos espaços de espetáculo da cidade o Teatro Renascença e a Sala Álvaro Moreyra, com o dramaturgo Ivo Bender na coordenação de Artes Cênicas.

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ACAMPAMENTO FARROUPILHA O Acampamento Farroupilha nasce a partir da criação do

Parque da Harmonia em 1981. Nos primeiros anos, funcionava pela iniciativa de grupos de amigos ou piquetes que ficavam na

área da chamada “fazendinha”. No ano seguinte, formalizouse a “Fazendinha do Harmonia”, passando a ser administrada

pela antiga Epatur (empresa pública municipal, responsável pelo turismo da Capital). Em 1987, o Harmonia passa a se chamar Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Nesse mesmo ano, foi

formalmente realizado o 1º Acampamento Farroupilha, reunin-

do diversos centros de tradições gaúchas (CTG’s) e piquetes, que participam do evento até os dias de hoje.

Em 2005, a Prefeitura institui a obrigatoriedade de apresen-

tação de projetos culturais por parte das entidades acampadas e contrapartida financeira de todas as organizações comerciais. O número de participantes cres-

ceu até 2008, quando atingiu 400 entidades culturais, mais patrocinadores e entidades organizadoras. No ano seguinte, o número

de entidades foi obrigatoriamente diminuído, em razão de a Prefei-

tura ter cedido uma área do par-

que para a construção da futura

sede da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), restringin-

do a área útil do evento: em 2010 foram 370 entidades acampadas.

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MUSEU DE PORTO ALEGRE JOAQUIM FELIZARDO Construído na metade do século XIX, o antigo Solar da famí-

lia Lopo Gonçalves abriga o Museu de Porto Alegre Joaquim

Felizardo desde 1982. O casarão em estilo colonial pertencia à família do comerciante Lopo Gonçalves Bastos. Em sua arquitetura colonial luso-brasileira, destaca-se o acesso principal, através de uma escada lateral, o porão alto utilizado para

abrigar os escravos e o torreão sobre os cômodos principais, de onde o comerciante podia acompanhar o movimento dos navios que chegavam a Porto Alegre, já que o solar situavase praticamente junto à margem do Guaíba. Adquirido pela

Prefeitura em 1979 e, em seguida, tombado pelo Conselho do Patrimônio Cultural, o Solar foi alvo de um cuidadoso projeto de restauração de sua arquitetura original, sob a supervisão da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural.

O Museu de Porto Alegre, que tem sua história vinculada

aos diversos organismos de preservação cultural da cidade. O primeiro deles foi o Setor de Divulgação Histórica e Serviço de Documentação, ligados à Secretaria Municipal da Administração (SMA), constituído a partir de 1939, na gestão do prefeito

José Loureiro da Silva. Dirigido pelo historiador Walter Spalding, o Setor funcionou até 1960 em um casarão na Rua Duque de Caxias, transferindo-se mais tarde para a Rua Avaí.

Em 1968, suas funções foram desmembradas. A documen-

tação permaneceu no âmbito da SMA, enquanto a Divulgação Histórica tornou-se um setor da Secretaria Municipal de Educa-

ção e Cultura, passando a funcionar em uma sala do Mercado Público e, mais tarde, no edifício Ipase, localizado atrás da Prefeitura Nova.

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O formato de museu é definido por um grupo de trabalho

e transformado em lei, no ano de 1979, com finalidades definidas, o que lhe proporciona uma característica de investigação e reconstituição de elementos culturais e não de exibição

de peças históricas. Mesmo assim, reúne acervo arqueológico com mais de 100 mil peças, entre fragmentos e objetos inteiros, referentes a sítios de ocupação pré-histórica e histórica do

município de Porto Alegre, peças cerâmicas, líticas, peças em louça, em vidro, em metal, em couro e em osso.

Em 3 de novembro de 1982, o Museu instalou-se no antigo

Solar e, a partir de 1993, passou a chamar-se Museu de Porto

Alegre Joaquim Felizardo, em homenagem ao primeiro secretário municipal da cultura de Porto Alegre. O setor de memó-

ria fotográfica ganha o nome de Fototeca Sioma Breitman, em homenagem ao fotógrafo ucraniano radicado em Porto Alegre, que documentou a evolução da cidade no século XX.

A fototeca abriga mais de 40 mil fotografias, estando cer-

ca de 5 mil disponíveis em arquivos digitais. O acervo inclui as coleções de fotógrafos de destaque, como Virgílio Calegari, Barbeitos & Irmãos, irmãos Ferrari e o próprio Sioma, além

de coleções de fotografias sobre o carnaval, a coleção Eva Schmid, a coleção da condessa Gisela Bastian Pinto Ribeiro, entre outras.

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USINA DO GASÔMETRO Inaugurada em 15 de novembro de 1928, para fornecer ener-

gia elétrica à base de carvão mineral para a população de Porto Alegre, a Usina Termoelétrica funcionou durante quase 50

anos, acompanhando o desenvolvimento industrial da cidade. O nome inapropriado surgiu da proximidade com a antiga Usina de Gás, que funcionava na Rua Washington Luis. Graças a

ela, o local passou a ser chamado de “Volta do Gasômetro”, que acabou fornecendo o apelido à nova usina.

A clássica chaminé seria construída em 1937, em resposta às

reclamações dos moradores das redondezas pela nuvem de fu-

ligem provocada com a queima do carvão. Desativada em 1974, a Usina esteve ameaçada de demolição, o que só não ocorreu graças à mobilização da comunidade. Tombada como patrimô-

nio histórico e cultural pelo Município em 1982 e, no ano seguinte, pelo Estado, sua restauração teve início em 1989 duran-

te a gestão do prefeito Alceu Collares, que planejava instalar ali

um Centro Integrado de Educação Popular (CIEP). Inaugurada oficialmente em 1991, em 1994 ganhou o nome de Centro Cultural Usina do Gasômetro.

O térreo conta com recepção, saguão utilizado para eventos,

exposições e feiras, loja, Usina do Papel (espaço utilizado para

reciclar papel e realizar oficinas). A primeira sala de cinema municipal, a Sala P. F. Gastal, situa-se no terceiro andar. Com

capacidade de 118 lugares em 292m², homenageia o jornalista e crítico de cinema gaúcho Paulo Fontoura Gastal. Com palco

para eventos, seminários e conferências, a Sala Julieta Battistioli, em homenagem à primeira vereadora de Porto Alegre, pos-

sui capacidade para 250 pessoas. No terceiro andar está a TV Usina-Vídeo Wall, com nove monitores e programação mensal

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de vídeo, além das coordenações de Cinema, Vídeo e Fotogra-

fia, Nativismo e Tradicionalismo. O quarto andar tem uma área de 403m² para exposições e terraço com vista para o Guaíba e para o Centro da cidade.

O quinto andar possui sala para ensaios e duas salas mul-

tiuso com capacidade para 40 lugares. Lá está ainda a Galeria Lunara, inaugurada em 26 de junho de 2001 e que homenageia

um dos pioneiros da fotografia local, Luís Nascimento Ramos,

o Lunara. Em suas fotos, ele fez registros memoráveis da cida-

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de, nas primeiras décadas do século XX. A área do sexto andar

é utilizada pela Direção da Usina, Núcleo de Serviços Gerais e

pelas coordenações das Manifestações Populares, da Descentralização, das Manifestações Populares, Setor de Mostras, equipe

do Acervo Artístico e Conselho Municipal de Cultura. A Usina apresenta ainda um espaço externo privilegiado, com amplo estacionamento, local para shows.

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CASA TORELLY Construída em 1899 pelo coronel Salustiano Fernandes dos

Reis, a edificação situada na Avenida Independência, 453, seria conhecida pelo nome de seu segundo proprietário, o engenhei-

ro e político federalista Firmino Torelly, que a adquiriu em 1902.

Por quase 80 anos, a Casa Torelly serviu como residência de seus sucessores, até ser tombada, adquirida e restaurada pela Prefeitura, no final da década de 1980.

O palacete foi edificado em estilo eclético com influência po-

sitivista, visível da estátua de Hefesto, deus do fogo na mitolo-

gia grega, sobre o vértice de frontão principal, e uma carranca de leão, símbolo da sabedoria, sobre a porta central. Em torno

dela, cinco janelas são protegidas por guarda-corpos e balaústres em relevo, o mesmo ocorrendo com a porta janela da camarinha localizada no nível superior.

Após ser restaurada, sob su-

pervisão da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural (Ephac),

a Casa Torelly passou a abrigar o

gabinete do Secretário da Cultura e algumas estruturas da SMC,

como o Funcultura, o Fumproarte, Assepla, Cata, Assessoria

Jurídica, Assessoria de Comunicação.

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CASA GODOY Além de sua importância arquitetônica, como uma das re-

manescentes da art nouveau em Porto Alegre, a Casa Godoy foi ponto de encontro de políticos e intelectuais da cidade. Situada

na Avenida Independência, em frente à Casa Torelly, a residên-

cia do médico Jacintho Godoy, figura influente na primeira metade do século XX.

Construída em 1907 pelo escritório do engenheiro alemão

Rudolph Ahrons, seguindo projeto de seu compatriota Her-

mann Menschen, a casa tem três pavimentos distribuídos em

719,39 m² de área construída. Sua fachada possui relevos florais

e um gradeamento em ferro trabalhado nas janelas do térreo. A única abertura do sótão é coroada por um frontão de desenho

ousado que domina o conjunto. Internamente, vale o destaque para pinturas murais decorativas nos espaços nobres, os vitrais e o mobiliário remanescente.

Tombada em 26 de novembro de 1996, a Casa Godoy foi ad-

quirida pela Prefeitura e serviu de sede para a Coordenação da Memória até 2004.

108


SOLAR DA TRAVESSA PARAÍSO Construído por volta do ano de 1820, o Solar da Travessa Pa-

raíso é um exemplar original da arquitetura característica daquele período. Situado na subida do Morro de Santa Tereza, no

final do bairro Menino Deus, o prédio resistiu ao crescimento

da região. A partir de 1930, foi dividido para abrigar diversas famílias, até ser abandonado na década de 1970.

Reconhecido como sítio arqueológico em 1994, o Solar foi

restaurado pela Prefeitura e inaugurado em 2000. Desde então,

abriga o escritório do festival internacional de Teatro Porto Alegre Em Cena. – POA em Cena.

109


CINE CAPITÓLIO Projetado e construído pelo engenheiro Domingos Rocco, o

Cine Theatro Capitólio foi inaugurado em 12/10/1928. O proprietário era José Luiz Faillace. O prédio eclético, com facha-

das e espaços internos ornamentados, possuía uma grande sala

de projeção com capacidade para 1295 lugares e equipamentos avançados para a época. Além de filmes, o Cine Theatro Capitólio apresentava peças de teatro, bailes e até concursos de misses. O Capitólio foi afetado pela crise dos cinemas de rua, a partir

da década de 1960. Depois de várias tentativas de reativação, a casa foi fechada definitivamente em 1994, quando a Prefei-

110


tura adquire o prédio. Já bastante deteriorado, depois de ha-

ver passado por um incêndio e por vários anos de abandono,

o antigo cinema passou a ser restaurado em 2004, através de um convênio entre a FUNDACINE e a Prefeitura Municipal de

Porto Alegre, com apoio da AAMICA (Associação dos Amigos do Cinema Capitólio). O projeto é patrocinado pela Petrobras, através da Lei Rouanet, do Governo Federal.

No prédio deverão funcionar as instalações da Cinemateca

Capitólio, cuja gestão será compartilhada entre a Fundacine e a

Secretaria Municipal de Cultura. Haverá arquivos climatizados e salas para a conservação e restauração de filmes. Irá contar com uma sala de cinema de 188 lugares, salas de projeção multimídia, área de acervo, biblioteca, café e espaço de exposição.

111


COMPLEXO CULTURAL DO PORTO SECO Projetado para garantir estrutura permanente para o car-

naval de Porto Alegre, o Complexo Cultural do Porto Seco é resultado de um amplo debate em torno de sua localiza-

ção. Finalmente, foi decidida a sua implantação no bairro

Rubem Berta, na Zona Norte da cidade. A pista de desfiles, que leva o nome do carnavalesco Carlos Alberto Barcelos, o Roxo, possui 341 metros de comprimento por 16 de largu-

ra. O recuo da bateria recebeu o nome de Neri Caveira, em homenagem ao grande instrumentista do carnaval porto-alegrense.

As arquibancadas, com 12 degraus têm capacidade para

13 mil pessoas, sendo 2.400 nos camarotes. A iluminação é assegurada por 26 torres de 15 metros de altura, cada uma

com potência de 2 mil Watts. O Complexo Cultural conta ainda com dependências para a realização de oficinas e atividades culturais.

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PORTOAlegre

25 anos de Cultura

114

ANEXOS

BREVE

cronologia da cultura

1925 •

Criação da Banda Municipal

1926 •

Início as atividades da Banda Municipal de Porto Alegre

1927 •

Inauguração do Auditório Araújo Vianna junto à Praça da Matriz

1928 •

Criação da Biblioteca e reorganização do Arquivo Municipal

1939 •

Serviço de Documentação e a Divulgação Histórica ocupam casarão na Rua Duque de Caxias

1942 •

Criação do Departamento de Educação Física a função de organizar e orientar os serviços dos parques infantis e praças de educação física


1949 • Banda Municipal passa por reestruturação, por determinação do Prefeito Ildo Meneghetti 1950 • •

Criação do Serviço de Expansão Cultural e Artística do Serviço de Recreação Pública Banda Municipal é incorporada à OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre

1951 • Criação do Serviço de Recreação Pública, contendo o Serviço de Expansão Cultural e Artística 1952

Criação da Biblioteca Pública Municipal

1955 • •

Criação do Departamento de Assistência e Instrução (DAI) para atender a saúde da população, orientar e promover atividades recreativas e artístico-culturais Criação da Secretaria Municipal de Instrução e Assistência (SMIA)

1956 •

Secretaria Municipal de Instrução e Assistência (SMIA) começou a funcionar efetivamente, tendo seu nome alterado para Secretaria Municipal de Educação e Assistência (SMEA) 115


1957 • Serviço de Recreação Pública - com seu Setor Cultural - passa a integrar a Secretaria Municipal de Educação e Assistência 1959 • Doação do terreno na Rua Duque de Caxias onde era o Auditório Araújo Viana para a construção da Assembleia Legislativa 1960 •

Setor Cultural assume a direção da Galeria com sede em sala do Abrigo da Praça XV Início da construção do Auditório Araújo Vianna, no Parque Farroupilha, como contrapartida à doação do terreno na Rua Duque de Caxias para Assembleia Legislativa/RS

1961 • Serviço de Documentação e a Divulgação Histórica passa a ocupar prédio na Rua Avaí • Criação da Seção de Cultura, com um Setor de Atividades Artísticas • Criação do Atelier Livre, junto ao Abrigo da Praça XV 1962 • •

Biblioteca Pública Municipal passa a fazer parte da Seção de Cultura Atelier Livre passa funcionar nos altos do Mercado Público Central

1963 • SMEA - Secretaria Municipal de Educação e Assistência - passa a denominar-se Secretaria Municipal de Educação e Cultura 116


Última apresentação da Banda Municipal, tendo em vista sua desativação

1964 • •

Seção de Cultura transforma-se em Divisão de Cultura Popular Inauguração do novo Auditório Araújo Vianna no Parque Farroupilha

1968 •

Setor de Divulgação Histórica passa a fazer parte da SMEC

1970 •

Inauguração do Teatro de Câmara, na Rua da República, 575

1971 • •

Doação à Prefeitura Municipal do acervo de Ruben Berta Serviço de Documentação e o Setor de Divulgação Histórica transferem-se para o prédio do IPASE, na Travessa Mário Cinco Paus

1972 •

Atelier Livre muda-se para prédio na Rua Lobo da Costa, 291

1974 • •

Inaugurada a Pinacoteca Aldo Locatelli no Paço Municipal Atividades culturais passam a ser gerenciadas pela Divisão de Educação, Social, Lazer e Recreação/SMEC

117


1975

• •

Criação da Divisão de Cultura Arquivo Histórico de Porto Alegre separa-se do Setor de Divulgação Histórica a partir da catalogação dos Fundos do Arquivo Histórico e da restauração de documentos e classificação por assuntos

1976 • Banda Municipal é instituída em caráter experimental • Criação do COMPAHC - Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural 1977 • •

Criação do concurso anual Prêmio Açorianos de Teatro Criação do FUMPAHC - Fundo Municipal de Patrimônio Artístico e Cultural

1978 • Inauguração do Centro Municipal de Cultura 1979

118

• • • • •

Criação do Museu de Porto Alegre Arquivo Histórico passa a ocupar o primeiro andar do prédio nº 291 na rua Lobo da Costa Banda Municipal é instituída oficialmente Criação do Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil Instituídos os Anais do Arquivo Histórico de Porto Alegre Instituída a Lei Municipal que dispõe sobre a Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural em Porto Alegre


1980 •

Arquivo Histórico de Porto Alegre transfere-se para Avenida Jerônimo de Ornellas, 155

1981 • •

Criação da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural – EPAHC Realizado o 1º Encontro de Conselhos Municipais de Cultura

1982 • •

Transferência do Museu de Porto Alegre para o Solar da família Lopo Gonçalves, na Rua João Alfredo, 852 Transferência das Obras das Pinacotecas Municipais Aldo Locatelli e Rubem Berta para o Museu de Arte do RS - MARGS

1986 • • •

Biblioteca Pública Municipal passa a denominar-se Josué Guimarães Instituído o Festival de Arte de Porto Alegre Centro Municipal de Cultura passa a denominar-se Lupicínio Rodrigues

1987 • • •

Realização do 1º Acampamento Farroupilha junto ao Parque da Harmonia Inauguração da Fototeca Sioma Breitman Criação do Funmercado (Fundo Municipal do Mercado Público)

1988

• • •

Criação da Secretaria Municipal da Cultura Joaquim José Felizardo assume como Secretário da SMC Implantação do FUNCULTURA - Fundo Pró-Cultura do Município Inicia o projeto “Hora do Conto”

119


1989

• •

Instituído o Concurso Nacional de Dramaturgia - Prêmio Carlos Carvalho Realização do I Prêmio Açorianos de Música

• • •

Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia inicia seus trabalhos, ainda que não oficializada Inicia o Circuito Popular de Cinema – projeto integrado à Descentralização Cultural Realização 1º Baile da Cidade, inserido nas comemorações da Semana de Porto Alegre

1990 • Lançamento do primeiro exemplar da revista Porto & Vírgula • Coordenação de Artes Cênicas e Música tornam-se idependentes • Início da restauração da Casa Torelly e Usina Termoelétrica da Volta do Gasômetro • Início da restauração do Mercado Público 1991 • SMC assume o Carnaval de Rua de Porto Alegre, até então gerenciado pela antiga EPATUR • Realizado o I Congresso Latino Americano sobre a Cultura Arquitetônica e Urbanismo/Perspectivas para a sua preservação • Realizado Seminário A Criação Histórica • Lançamento do Projeto Espaço Urbano Espaço Arte • Editado o Catálogo Geral das Pinacotecas Municipais • Lançado o Catálogo Atelier Livre 30 Anos

120


1992 • • • • • • • • • •

Usina do Gasômetro passa oficialmente a fazer parte da estrutura da Secretaria Realização do Simpósio A Experiência do Século Realização do Simpósio Polis e Cultura Realização do I Salão Internacional de Desenho para Imprensa Realização da I Semana da Fotografia Instituído o Projeto Usina do Papel Instituído o Projeto Brincando Com as Palavras Abertura da Sala Radamés Gnattali, no Auditório Araújo Vianna Lançado o projeto Poemas nos Ônibus Realização do II Congresso Latino Americano sobre Cultura Arquitetônica e Urbanística – Patrimônio Ambiental e qualidade de Vida

1993

• • • • •

Inauguração da Casa Torelly Instituído legalmente o Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural - FUMPROARTE Museu de Porto Alegre passa a denominar-se Joaquim Felizardo Criação da Unidade Editorial - Coordenação do Livro e Literatura Lançado o primeiro Cadernos Porto & Virgula

1994

• • •

Realização do I Porto Alegre em Cena Inauguração da nova sede do Arquivo Histórico, na Avenida Bento Gonçalves, 1129 – Casa de Apelles Porto Alegre Lançado o concurso Histórias do Trabalho

121


• • • •

Início da série A Música de Porto Alegre, sendo o primeiro sobre Rock Instituído o Prêmio Açorianos de Literatura Realizado o Curso de Museologia Social Instituído o Concurso Poemas no Ônibus

1995 • Início do circuito interno de TV denominado TV Usina • Início da restauração do Solar da Travessa Paraíso • Realizada a I Conferência Municipal de Cultura • Inicia o Programa do Corredor Cultural • Início do projeto Persona Grata • Realizado o I Seminário de Cinema • Oficializado o Porto Alegre em Cena 1996 • Realização do I Porto Alegre em Buenos Aires • Realização do I Porto Alegre em Montevidéu • Realização do I Porto Alegre em Canto • Inauguração da cobertura do Auditório Araújo Vianna • Realizado do Ciclo de Debates Internacionais com Agnes Heller, François Furet e Perry Anderson • Lançamento do primeiro volume da série Cadernos de Cinema • I Simpósio Arte Pública e Espaço Urbano • Lançamento do projeto Chorinho na Godoy • Implantado o projeto Curta nas Telas • Realizado o II Seminário de Cinema, denominado Tempos de Violência

122


1997 • Reinauguração do Mercado Público Central • Fechamento do Teatro da Câmara • Tombamento e aquisição da Casa Godoy • Inicia a publicação denominada Anuário das Artes Cênicas • Inaugurada Galeria dos Arcos – Usina do Gasômetro • Realizada a II Conferência Municipal de Cultura • Implantado o Conselho Municipal de Cultura • Lançado Cadernos de Cinema, da Série Escritos de Cinema • Lançado o livro A Tela Branca da Série Escritos de Cinema • Inicia o projeto Chorinho na Godoy 1998 • • • • •

Realização do I Festival de Música de Porto Alegre Realização do Seminário Eternas Utopias – 30 anos de Maio de 1968 Realização do Projeto Cultura Pura Aqui Realização do II Simpósio de Arte Pública – A Cidade como Suporte Lançado o livro Nas Primeiras Fileiras, do crítico Goida (Hiron Goidanich), da Série Escritos de Cinema

1999 • • • •

Teatro de Câmara passa por reforma e é reinaugurado com nova denominação – Teatro de Câmara Túlio Piva Inauguração da Sala de Cinema P. F. Gastal Inauguração do Memorial do Mercado Público Lançamento do Concurso Espaço Urbano / Espaço Arte 123


• •

Inaugurado espaço climatizado para documentos no Arquivo Público Municipal Porto Alegre recebe o título de Capital Cultural do Mercosul

2000 • Realizado Seminário Cidade e Memória na Globalização

124

2001 • • • • • •

Instituído o Programa Monumenta em Porto Alegre Inauguração da Galeria Lunara – Usina do Gasômetro Realização do I Encontro Regional de Música Independente Inicia o projeto Jogando Conversa na História Instituído o Prêmio Santander Cultural/ PMPA/APTC-RS Lançado o projeto 3 Cadeiras Vazias, 3 Ases de Ouro, na Sala Radamés Gnattalli, Auditório Araújo Vianna

2005 • •

Criação do projeto Usina das Artes - Centro Cultural Usina do Gasômetro Acervo Municipal das Pinacotecas Aldo Locatelli e Ruben Berta retornam ao Paço Municipal

2006 • • • •

Reinauguração do Teatro de Câmara Túlio Piva após reformas Instituído Concurso Nacional de Monografias - Prêmio Gerd Bornheim Realização do I Premio Açorianos de Artes Plásticas Realização do I Festival de Inverno de Porto Alegre


2007

• •

2008 • • 2010

Criado do Prêmio Joaquim Felizardo Criado o Grupo Experimental de Dança Criação do Prêmio Décio Freitas, para estímulo à pesquisa Lançado do Catálogo das Pinacotecas Aldo Locatelli e Ruben Berta Criado o Observatório da Cultura

2011 •

Instituído o Prêmio Ivo Bender, em parceria com Goethe-Institut Porto Alegre, para novos autores

2013 • •

A Pinacoteca Rubem Berta é instalada em prédio restaurado na Rua Duque de Caxias. Criado o Estúdio Geraldo Flech, juntoao Teatro de Câmara.

125


CRONOLOGIA

Prefeitos e Secretários

PERÍODO PREFEITO SECRETÁRIO Jul/1948 a Jul/1951 Ildo Meneghetti • Serviço de Recreação Pública (SRP): Frederico Guilherme Gaelzer Fev a Nov/1951

Elyseu Paglioli

Nov/1951 a Dez/1951

José Antonio Aranha

Jan/1952 a Jul/1954

Ildo Meneghetti

Jul/1954 a Set/1954

Ludolfo Behl

Set/1954 a Jan/1955

Manoel Osório da Rosa

Jan a Out/1955 Manoel Sarmanho Vargas • Departamento de Assistência e Instrução (DAI) Out/1955 a Jan/1956

Martim Aranha • Secretaria Municipal de Instrução e Assistência (SMIA) Jan/1956 a Dez/1958 Leonel Brizola • SMIA: Tristão Sucupira Viana – 1956 • Criada a Secretaria Municipal de Educação e Assistência – SMEA: 1957 • Serviço de Recreação Pública/Setor Cultural passa para SMEA: 1957 Jan/1958 a Jan1960 Tristão Sucupira Viana • Secretária da SMEA: Amnerys Fortini Albano (todo período) • Secção de Cultura: Maria Moritz

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Jan/1960 a Jan/1964 José Loureiro da Silva • SMEA: Nair Marques Pereira de Almeida – 1961 • Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC): Carlos de Britto Velho – 1963 • Seção de Cultura: Istellita da Cunha Knewitz – 1961 Sereno Chaise • SMEC: Hamilton Chaves/Afonso José Jan/1964 a Mai/1964 de Revoredo Ribeiro • Divisão de Cultura Popular: Istellita da Cunha Knewitz – junho/1964 Mai/1964 a Abr/1965 Renato Souza • SMEC: Francisco Machado Carrion –1964 Ernani Ignácio de Oliveira –1965 • Divisão de Cultura Popular: Lauro Hagemann – jun/1964 a ago/1964 Eny Camargo – set/1964 a set/1970 Jun/1965 a Mar/1969

Célio Marques Fernandes

• SMEC: Ernani Ignácio de Oliveira

Telmo Thompson Flores Mar/1969 a Abr/1975

• SMEC: Frederico Lamachia Filho • SMEC: Attila Sá d’Oliveira • Divisão de Cultura: João Barea – de abr/1970 a jul/1970 Jairo Peres de Figueiredo – ago/1970 a mar/1972 Rosa Maria Malheiros – mar/1972 a jul/1975 Guilherme Socias Villela • SMEC: Attila Sá d’Oliveira Carlos Rafael dos Santos Ester Von Zucalmaglio • Divisão de Cultura: Luiz Osvaldo Leite – jul/1975 a abr/1979 Nelson Mansur – jun/1979 a março/1980 Luiz Antonio de Assis Brasil – março/1980 a dez/1982 Abr/1975 a Abr/1983

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Abr/1983 a Dez/1985 João Antonio Dib • SMEC: João Mano José/Frederico Barbosa • Divisão de Cultura: Luiz Osvaldo Leite – jan/1983 a set/1984 Alceu Collares • SMEC: Terezinha Yrigaray/ Neuza Jan/1986 a Dez/1988 Canabarro • Divisão de Cultura: Marisa Soibelmann – jan/86 a jun/86 Luiz de Miranda – jul a nov/1986 Igor Moreira – dez/1986 a maio/1987 Joaquim Felizardo – jun/1987 a jan/1988 • SMC: Joaquim Felizardo – 1988 Olívio Dutra • SMC: Luiz Paulo de Pilla Vares – Jan/1989 a Dez/1992 jan/1989 a dez/1992 Tarso Genro • SMC: Luiz Paulo de Pilla Vares – Jan/1993 a Dez/1996 jan/1993 a jun/1996 Margarete Moraes – jul/1996 a dez/1996 Raul Pont • SMC: Margarete Moraes – Jan/1997 a Dez/2000 jan/1997 a abril/2000 • SMC: Charles Kiefer – maio a dez/2000 Tarso Genro • SMC: Margarete Moraes – Jan/2001 a Abr/2002 jan/2001 a mar/2003

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Abr/2002 a Dez/2004

João Verle

• SMC: Vitor Ortiz – abr/2003 a dez/2004

Jan/2005 a Dez/2008

José Fogaça

• SMC: Sergius Gonzaga

Jan/2009 a Mar/2010

José Fortunati

• SMC: Sergius Gonzaga

Abr/2010 a Dez/2012

José Fortunati

• SMC: Sergius Gonzaga

A partir de Jan/2013

José Fortunati

• SMC: Roque Jaboby


Secretários

SMC

PERÍODO SECRETÁRIO

1988 • Joaquim Felizardo

Janeiro de 1989 a junho de 1996 • Luiz Paulo de Pilla Vares

Julho de 1996 a abril de 2000 • Margarete Costa Moraes

Maio a dezembro de 2000 • Charles Kiefer

Janeiro de 2001 a março de 2003 • Margarete Costa Moraes

Abril de 2003 a dezembro de 2004 • Vitor Ortiz

Janeiro de 2005 a dezembro de 2012 • Sergius Gonzaga

A partir de janeiro de 2013 • Roque Jacoby

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NOTAS Explicativas 1 Livro de Atas do Centro Musical Porto-Alegrense (1920-1933). (ASMPERGS). 2 Decreto 2275, de 30.12.1961 – Dispõe sobre as atribuições da SMEA 3 O Teatro de Equipe, fundado em 1958 por Mario de Almeida, Paulo José, Milton Mattos e Paulo César Pereio, funcionava como um centro cultural não oficial. Seus integrantes transformaram uma casa antiga na Rua General Vitorino em um teatro com 120 lugares. O grupo teria papel de destaque, durante a Campanha da Legalidade, a mobilização popular desencadeada a partir de Porto Alegre para garantir a posse do vice João Goulart, vetada pelos ministros militares após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Nele, funcionaria o Comitê de Artistas e Intelectuais Pela Legalidade, do qual faziam parte atores, músicos, escritores e intelectuais da cidade. Ali, foi composto o hino do movimento pela parceria entre a poetisa Lara de Lemos e o ator Paulo César Pereio. O grupo foi extinto em setembro de 1962. 4 Além de fixar as tarefas burocráticas e de administração dos espaços, o decreto estabelece as atribuições da nova Divisão: promover a projeção gratuita de cinema educativo, técnicocientífico, cultural e recreativo junto à comunidade; propugnar pela apresentação gratuita de peças teatrais, procurando tanto quanto possível utilizar-se de amadores, cujas vocações incentivará; promover exposições de arte popular, estabelecendo pequenos recantos de modelagem, desenho, pintura, cerâmica, propagando música erudita a popular e descobrindo e incentivando vocações artísticas; promover a alfabetização de adultos em entrosamento com a Superintendência do Ensino Municipal; promover a integração cívico-social da comunidade; administrar o Auditório Araújo Vianna. 5 Secretário da Municipal da Educação e Cultura de 1969 a 1974, no Governo Thompson Flores. Foi um dos fundadores do Instituto Educacional João XXIII e Presidente da Fundação Roquete Pinto de Rádio e Televisão Educativa, da Fundação Gaúcha do Lazer e Recreação e Assessor do Ministério do Trabalho.

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6 Bacharel e licenciado em Filosofia. Foi professor da UFRGS, e também integrou o corpo docente da PUCRS, Unisinos, Furg, Feevale e Fapa. Foi presidente da Ospa, diretor da Editora e diretor do Instituto de Psicologia da UFRGS. É conselheiro Conselho Municipal do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural (Compahc) e membro do Conselho Estadual da Cultura. Escritor. 7 A Lei 4.317/77 define os cinco bens tombados: Mercado Público, Paço Municipal, Ponte de Pedra, Solar Lopo Gonçalves, Capela Nosso Senhor do Bom Fim. 8 A expressão “fundo perdido” refere-se à disponibilização de recursos sem perspectivas de reembolso. Empréstimos federais para estados e municípios ocorreram com frequência durante o chamado “milagre econômico” pela facilidade de ingresso de capitais no país, devido à baixa taxa de juros. 9 A Assembléia Nacional Constituinte foi implantada em fevereiro de 1987 para elaborar a nova Constituição do país. O texto da nova Carta Constitucional foi votado e aprovado em setembro de 1988. 10 Nova República é como foi chamado o período da história brasileira que sucedeu os 21 anos do regime militar. 11 Foi criado em 15 de março de 1985 pelo decreto n° 91.144. 12 Exposição de Motivos do decreto nº 91.144. 13 Inaugurado em 17 de outubro de 1967. 14 Servidora aposentada da PMPA, integrou o quadro da SMC em dois períodos: 1988/2003 e 2005/2007. 15 Administrador aposentado da PMPA 16 Servidores aposentados da Prefeitura de Porto Alegre. 17 Nas 16 regiões, eram realizadas reuniões preparatórias e uma grande plenária em cada uma delas para relacionar as demandas das comunidades; ali, também eram eleitos seus representantes no Conselho do OP. Ao final, os conselheiros elegeriam as obras e ações a serem

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incluídas na proposta orçamentária do ano seguinte, com base em pontuações que levavam em conta diversos critérios, como valor, necessidade, urgência, população atendida e a própria mobilização da comunidade solicitante. 18 Artigo 215 da Constituição Federal 19 O Ministério da Cultura seria recriado em novembro de 1992, já na gestão de Itamar Franco, após a saída de Fernando Collor, acusado de corrupção e alvo de um pedido de impeachment. 20 Coordenadora da Memória Cultura no período de ago/1994 a dez/1999 21 Ex-secretária da SMC e ex-vereadora, Margarete Moraes, é formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Assessorou o Instituto Brasileiro de Museus, do MINC. Atualmente, é chefe da Representação Regional Sul do Ministério da Cultura 22 Jornalista aposentado da Prefeitura de Porto Alegre 23 Participantes: APTC – Associação dos Profissionais de Técnicos Cinematográficos; SATED/RS - Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversões do RS; APETERGS - Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais/RS – COOMPOR Cooperativa Mista dos Músicos de Porto Alegre; Associação Chico Lisboa; Secretaria Municipal da Cultura. 24 Servidor da SMC 25 Servidor da SMC 26 Ex-Secretário da SMC 27 O FUMPAHC, criado pela lei 4349, de 30/11/1977, viabiliza os projetos, serviços e obras de recuperação e preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade. 28 Observatório da Cultura – Relatório 2010-2012 29 Entrevista a Günter Axt, publicada no portal www.clicrbs.com.br em 15 de outubro de 2009.

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Livro Comemorativo dos 25 anos da Cultura do municĂ­pio de Porto Alegre/RS completados em 2013. Composto em Palatino e Arial Black, impresso em papel couchĂŞ 115 g/m2, em dezembro de 2014.

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Ao completar 25 anos, a Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre exibe uma trajetória marcante e intensa, profundamente vinculada aos processos criativos desenvolvidos na cidade. É uma história de múltiplos protagonistas que começou bem antes de sua formalização oficial, já que na sua origem estão presentes todos os elementos peculiares da vida cultural de Porto Alegre. Esta obra resgata a história da SMC e reconstitui o processo de criação, formulação e execução das políticas culturais do Município de Porto Alegre, tendo como princípios a cidadania e a qualidade de vida da cidade.


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