#02 - Maio de 2010

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Ano I - No 2- Maio/ 2010

Pet Saúde

Exames de mama devem ser rotina

Felinos em Foco

FeLV e FIV qual o significado destas siglas???

Pet Debate

Cão adestrado oferece perigo?

Trabalho Pet

Olhos de Quatro Patas

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis


Editorial Caros leitores, Gostaria de agradecer ao apoio e carinho de todos com nosso trabalho. Fico muito feliz que apreciem a revista, pois ela é pensada com muito cuidado para atender aos desejos e necessidades de vocês. Nesta edição, trataremos de um assunto muito delicado, mas também de suma importância para assegurar a dignidade de nossos amigos de quatro patas: Por que os animais são tão maltratados? Nesta matéria especial, discutimos como os animais e seus direitos são tratados em países do Primeiro Mundo, o comportamento por trás de quem abusa dos animais e como a falta de políticas públicas contribui para que estes crimes de perpetuem. Falamos também dos adoráveis cães-guia que ajudam pessoas com deficiência visual a ter mais liberdade, de celebridades que amam animais, entrevistamos John Polis, relações-públicas da Best Friends Animals Society, uma entidade que deveria servir de modelo em todo o mundo e muito mais. Espero que desfrutem de mais essa edição. Grande abraço, Vivian Lemos Editora vivian@conexaopet.com.br

Sumário

Expediente Múltipla Edições Ltda. Rua Conselheiro Laurindo, 600 cj.1101 CEP: 81020-230 Curitiba/PR Tel.: (41)3016-4843

Direção e Edição:

Vivian Lemos – MTB: 26122/RJ vivian@conexaopet.com.br

Criação e Design:

Daniele Knofel daniknofel@gmail.com

4

Pet Notas

Comercial:

8

Felinos em Foco

10

Pet Debate

12

Pet Saúde

16

Pet Comportamento

18

Por que os animais são tão maltratados?

28

Celebridades do Bem

30

Trabalho Pet

34

Vitrine Pet

36

Pet Homenagem

Thaisa Costa comercial@conexaopet.com.br

Sugestões, críticas e dúvidas: faleconosco@conexaopet.com.br

A revista virtual Conexão Pet em revista é uma publicação da Múltipla Edições. Todos os direitos reservados. Cópia de matérias são autorizadas desde que citada a devida fonte.

Agradecimentos: George Thomaz Harrison John Polis Marúcia Andrade Rosana Gnipper Thays Martinez.


Editorial Caros leitores, Gostaria de agradecer ao apoio e carinho de todos com nosso trabalho. Fico muito feliz que apreciem a revista, pois ela é pensada com muito cuidado para atender aos desejos e necessidades de vocês. Nesta edição, trataremos de um assunto muito delicado, mas também de suma importância para assegurar a dignidade de nossos amigos de quatro patas: Por que os animais são tão maltratados? Nesta matéria especial, discutimos como os animais e seus direitos são tratados em países do Primeiro Mundo, o comportamento por trás de quem abusa dos animais e como a falta de políticas públicas contribui para que estes crimes de perpetuem. Falamos também dos adoráveis cães-guia que ajudam pessoas com deficiência visual a ter mais liberdade, de celebridades que amam animais, entrevistamos John Polis, relações-públicas da Best Friends Animals Society, uma entidade que deveria servir de modelo em todo o mundo e muito mais. Espero que desfrutem de mais essa edição. Grande abraço, Vivian Lemos Editora vivian@conexaopet.com.br

Sumário

Expediente Múltipla Edições Ltda. Rua Conselheiro Laurindo, 600 cj.1101 CEP: 81020-230 Curitiba/PR Tel.: (41)3016-4843

Direção e Edição:

Vivian Lemos – MTB: 26122/RJ vivian@conexaopet.com.br

Criação e Design:

Daniele Knofel daniknofel@gmail.com

4

Pet Notas

Comercial:

8

Felinos em Foco

10

Pet Debate

12

Pet Saúde

16

Pet Comportamento

18

Por que os animais são tão maltratados?

28

Celebridades do Bem

30

Trabalho Pet

34

Vitrine Pet

36

Pet Homenagem

38

Entrevista - John Polis

Thaisa Costa comercial@conexaopet.com.br

Sugestões, críticas e dúvidas: faleconosco@conexaopet.com.br

A revista virtual Conexão Pet em revista é uma publicação da Múltipla Edições. Todos os direitos reservados. Cópia de matérias são autorizadas desde que citada a devida fonte.

Agradecimentos: George Thomaz Harrison John Polis Marúcia Andrade Rosana Gnipper Thays Martinez.


Pet Notas

Os pets também têm coração A Editora Rocco acaba de lançar O Bemestar dos Animais, de Temple Grandin e Catherine Johnson, que tenta responder a uma pergunta simples: os bichos são capazes de sentir emoções? Segundo as autoras do livro, sim. E para comprovar a tese analisam o comportamento de cães, gatos, vacas, porcos, cavalos e galinhas, entre outros animais, e dão dicas para melhorar a relação das pessoas com os bichos e fazer com que esse contato seja o mais proveitoso possível. O livro tem 336 páginas e preço sugerido de R$ 47.

Charme na hora de catar caca Catar as fezes do seu cãozinho nas ruas não precisa ser algo constrangedor. Além de ser um sinal de respeito aos outros, a ação pode ser cercada de glamour. No Espaço Santa Helena, loja especializada em homewear, de São Paulo, alguns produtos levam um charme especial às atividades mais simples. O porta rolo azul (R$ 29,90), com 30 sacos plásticos, é a pedida ideal de educação e sofisticação. Já para servir um banquete dos deuses, o comedouro prateado (R$ 71,90), de 20 cm x 15 cm, é o presente ideal para tratar o seu pet como rei. Informações pelo telefone (11) 3087-5800 e no site www.espacosantahelena.com.br

Site centraliza animais para adoção O site Adote Bicho entrou no ar há apenas quatro meses, mas já contabiliza 205 finais felizes, ou seja, essa quantidade de animais foi adotada, quase metade dos 422 anunciados. Organizado por protetores independentes de Curitiba, o site surgiu da necessidade de haver um local para divulgação dos animais resgatados, com anúncios postados e atualizados pelos próprios protetores, o que gera um grande dinamismo ao projeto. Por enquanto são 78 protetores cadastrados. Entre no site www.adotebicho.com.br, cadastre-se ou adote!

Cardápio variado A Premier Pet colocou no mercado o Golden Duo, que permite algo até então considerado difícil no mundo dos cães: variar o cardápio no dia-a-dia. O produto possibilita ao animal desfrutar de uma experiência diferente a cada refeição, já que traz a variação de menu sem a necessidade de adaptação, com dois sabores exclusivos, em balados individualmente e que podem ser alternados pelo proprietário conforme desejado, incrementando a refeição dos pets: frango à moda cai pi ra e seleção de carnes ao mo lho. O Golden Duo 15 kg tem preço sugerido de R$ 94,90.

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Bichos para todos os lados O médico veterinário norte-americano Jeff Wells conta em Entre coices, garras e mordidas (R$ 43), lançado pela editora Landscape, os primeiros casos do início de sua carreira, logo depois de se formar na faculdade. Entre os episódios o leitor acompanha um ataque BBC de perus, um gato macho grávido, terriers cobertos de cerdas de porco-espinho, um jumento anão genioso, um porco gigante e uma vaca com prisão de ventre. Cada um desses casos revela a sabedoria e o senso de humor do autor.

Guias iluminadas Os cães ganham um item fashion de primeira: as guias iluminadas com led para os fãs de baladas eletrônicas ou para quem quer dar um toque nos passeios noturnos. Além de charmosas, elas ajudam na segurança ajudando na visibilidade na hora de atravessar a rua. As guias são encontradas a preço médio de R$ 90 e podem ser adquiridas pelo e-mail contato@ledmania.com.br. Informações pelo site www.ledmania.com.br

Produto faz xixi virar pó Em clima quente, os animais tomam mais água e, por conse quência, fazem mais xixi e muitas vezes em lugares nada apropriados. Para minimizar este transtorno, a Petmais lançou o Seca Xixi (em média R$ 16 a embalagem com 250 g). Ao ser aplicado sobre a urina, transforma a substância líquida em sólida em apenas alguns segundos, facilitando o recolhimento, que pode ser feito com uma pá de limpeza ou aspirador de pó. O produto elimina o odor e higieniza o local, pois tem ação bactericida. In for mações pelo site www.petmais.net

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Paulo Toledo Piza/G1


Pet Notas

Os pets também têm coração A Editora Rocco acaba de lançar O Bemestar dos Animais, de Temple Grandin e Catherine Johnson, que tenta responder a uma pergunta simples: os bichos são capazes de sentir emoções? Segundo as autoras do livro, sim. E para comprovar a tese analisam o comportamento de cães, gatos, vacas, porcos, cavalos e galinhas, entre outros animais, e dão dicas para melhorar a relação das pessoas com os bichos e fazer com que esse contato seja o mais proveitoso possível. O livro tem 336 páginas e preço sugerido de R$ 47.

Charme na hora de catar caca Catar as fezes do seu cãozinho nas ruas não precisa ser algo constrangedor. Além de ser um sinal de respeito aos outros, a ação pode ser cercada de glamour. No Espaço Santa Helena, loja especializada em homewear, de São Paulo, alguns produtos levam um charme especial às atividades mais simples. O porta rolo azul (R$ 29,90), com 30 sacos plásticos, é a pedida ideal de educação e sofisticação. Já para servir um banquete dos deuses, o comedouro prateado (R$ 71,90), de 20 cm x 15 cm, é o presente ideal para tratar o seu pet como rei. Informações pelo telefone (11) 3087-5800 e no site www.espacosantahelena.com.br

Site centraliza animais para adoção O site Adote Bicho entrou no ar há apenas quatro meses, mas já contabiliza 205 finais felizes, ou seja, essa quantidade de animais foi adotada, quase metade dos 422 anunciados. Organizado por protetores independentes de Curitiba, o site surgiu da necessidade de haver um local para divulgação dos animais resgatados, com anúncios postados e atualizados pelos próprios protetores, o que gera um grande dinamismo ao projeto. Por enquanto são 78 protetores cadastrados. Entre no site www.adotebicho.com.br, cadastre-se ou adote!

Cardápio variado A Premier Pet colocou no mercado o Golden Duo, que permite algo até então considerado difícil no mundo dos cães: variar o cardápio no dia-a-dia. O produto possibilita ao animal desfrutar de uma experiência diferente a cada refeição, já que traz a variação de menu sem a necessidade de adaptação, com dois sabores exclusivos, em balados individualmente e que podem ser alternados pelo proprietário conforme desejado, incrementando a refeição dos pets: frango à moda cai pi ra e seleção de carnes ao mo lho. O Golden Duo 15 kg tem preço sugerido de R$ 94,90.

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Bichos para todos os lados O médico veterinário norte-americano Jeff Wells conta em Entre coices, garras e mordidas (R$ 43), lançado pela editora Landscape, os primeiros casos do início de sua carreira, logo depois de se formar na faculdade. Entre os episódios o leitor acompanha um ataque BBC de perus, um gato macho grávido, terriers cobertos de cerdas de porco-espinho, um jumento anão genioso, um porco gigante e uma vaca com prisão de ventre. Cada um desses casos revela a sabedoria e o senso de humor do autor.

Guias iluminadas Os cães ganham um item fashion de primeira: as guias iluminadas com led para os fãs de baladas eletrônicas ou para quem quer dar um toque nos passeios noturnos. Além de charmosas, elas ajudam na segurança ajudando na visibilidade na hora de atravessar a rua. As guias são encontradas a preço médio de R$ 90 e podem ser adquiridas pelo e-mail contato@ledmania.com.br. Informações pelo site www.ledmania.com.br

Produto faz xixi virar pó Em clima quente, os animais tomam mais água e, por conse quência, fazem mais xixi e muitas vezes em lugares nada apropriados. Para minimizar este transtorno, a Petmais lançou o Seca Xixi (em média R$ 16 a embalagem com 250 g). Ao ser aplicado sobre a urina, transforma a substância líquida em sólida em apenas alguns segundos, facilitando o recolhimento, que pode ser feito com uma pá de limpeza ou aspirador de pó. O produto elimina o odor e higieniza o local, pois tem ação bactericida. In for mações pelo site www.petmais.net

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Paulo Toledo Piza/G1


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Os pets também têm coração A Editora Rocco acaba de lançar O Bemestar dos Animais, de Temple Grandin e Catherine Johnson, que tenta responder a uma pergunta simples: os bichos são capazes de sentir emoções? Segundo as autoras do livro, sim. E para comprovar a tese analisam o comportamento de cães, gatos, vacas, porcos, cavalos e galinhas, entre outros animais, e dão dicas para melhorar a relação das pessoas com os bichos e fazer com que esse contato seja o mais proveitoso possível. O livro tem 336 páginas e preço sugerido de R$ 47.

Charme na hora de catar caca Catar as fezes do seu cãozinho nas ruas não precisa ser algo constrangedor. Além de ser um sinal de respeito aos outros, a ação pode ser cercada de glamour. No Espaço Santa Helena, loja especializada em homewear, de São Paulo, alguns produtos levam um charme especial às atividades mais simples. O porta rolo azul (R$ 29,90), com 30 sacos plásticos, é a pedida ideal de educação e sofisticação. Já para servir um banquete dos deuses, o comedouro prateado (R$ 71,90), de 20 cm x 15 cm, é o presente ideal para tratar o seu pet como rei. Informações pelo telefone (11) 3087-5800 e no site www.espacosantahelena.com.br

Site centraliza animais para adoção O site Adote Bicho entrou no ar há apenas quatro meses, mas já contabiliza 205 finais felizes, ou seja, essa quantidade de animais foi adotada, quase metade dos 422 anunciados. Organizado por protetores independentes de Curitiba, o site surgiu da necessidade de haver um local para divulgação dos animais resgatados, com anúncios postados e atualizados pelos próprios protetores, o que gera um grande dinamismo ao projeto. Por enquanto são 78 protetores cadastrados. Entre no site www.adotebicho.com.br, cadastre-se ou adote!

Cardápio variado A Premier Pet colocou no mercado o Golden Duo, que permite algo até então considerado difícil no mundo dos cães: variar o cardápio no dia-a-dia. O produto possibilita ao animal desfrutar de uma experiência diferente a cada refeição, já que traz a variação de menu sem a necessidade de adaptação, com dois sabores exclusivos, em balados individualmente e que podem ser alternados pelo proprietário conforme desejado, incrementando a refeição dos pets: frango à moda cai pi ra e seleção de carnes ao mo lho. O Golden Duo 15 kg tem preço sugerido de R$ 94,90.

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Bichos para todos os lados O médico veterinário norte-americano Jeff Wells conta em Entre coices, garras e mordidas (R$ 43), lançado pela editora Landscape, os primeiros casos do início de sua carreira, logo depois de se formar na faculdade. Entre os episódios o leitor acompanha um ataque BBC de perus, um gato macho grávido, terriers cobertos de cerdas de porco-espinho, um jumento anão genioso, um porco gigante e uma vaca com prisão de ventre. Cada um desses casos revela a sabedoria e o senso de humor do autor.

Guias iluminadas Os cães ganham um item fashion de primeira: as guias iluminadas com led para os fãs de baladas eletrônicas ou para quem quer dar um toque nos passeios noturnos. Além de charmosas, elas ajudam na segurança ajudando na visibilidade na hora de atravessar a rua. As guias são encontradas a preço médio de R$ 90 e podem ser adquiridas pelo e-mail contato@ledmania.com.br. Informações pelo site www.ledmania.com.br

Produto faz xixi virar pó Em clima quente, os animais tomam mais água e, por conse quência, fazem mais xixi e muitas vezes em lugares nada apropriados. Para minimizar este transtorno, a Petmais lançou o Seca Xixi (em média R$ 16 a embalagem com 250 g). Ao ser aplicado sobre a urina, transforma a substância líquida em sólida em apenas alguns segundos, facilitando o recolhimento, que pode ser feito com uma pá de limpeza ou aspirador de pó. O produto elimina o odor e higieniza o local, pois tem ação bactericida. In for mações pelo site www.petmais.net

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Paulo Toledo Piza/G1


Pet Notas

Os pets também têm coração A Editora Rocco acaba de lançar O Bemestar dos Animais, de Temple Grandin e Catherine Johnson, que tenta responder a uma pergunta simples: os bichos são capazes de sentir emoções? Segundo as autoras do livro, sim. E para comprovar a tese analisam o comportamento de cães, gatos, vacas, porcos, cavalos e galinhas, entre outros animais, e dão dicas para melhorar a relação das pessoas com os bichos e fazer com que esse contato seja o mais proveitoso possível. O livro tem 336 páginas e preço sugerido de R$ 47.

Charme na hora de catar caca Catar as fezes do seu cãozinho nas ruas não precisa ser algo constrangedor. Além de ser um sinal de respeito aos outros, a ação pode ser cercada de glamour. No Espaço Santa Helena, loja especializada em homewear, de São Paulo, alguns produtos levam um charme especial às atividades mais simples. O porta rolo azul (R$ 29,90), com 30 sacos plásticos, é a pedida ideal de educação e sofisticação. Já para servir um banquete dos deuses, o comedouro prateado (R$ 71,90), de 20 cm x 15 cm, é o presente ideal para tratar o seu pet como rei. Informações pelo telefone (11) 3087-5800 e no site www.espacosantahelena.com.br

Site centraliza animais para adoção O site Adote Bicho entrou no ar há apenas quatro meses, mas já contabiliza 205 finais felizes, ou seja, essa quantidade de animais foi adotada, quase metade dos 422 anunciados. Organizado por protetores independentes de Curitiba, o site surgiu da necessidade de haver um local para divulgação dos animais resgatados, com anúncios postados e atualizados pelos próprios protetores, o que gera um grande dinamismo ao projeto. Por enquanto são 78 protetores cadastrados. Entre no site www.adotebicho.com.br, cadastre-se ou adote!

Cardápio variado A Premier Pet colocou no mercado o Golden Duo, que permite algo até então considerado difícil no mundo dos cães: variar o cardápio no dia-a-dia. O produto possibilita ao animal desfrutar de uma experiência diferente a cada refeição, já que traz a variação de menu sem a necessidade de adaptação, com dois sabores exclusivos, em balados individualmente e que podem ser alternados pelo proprietário conforme desejado, incrementando a refeição dos pets: frango à moda cai pi ra e seleção de carnes ao mo lho. O Golden Duo 15 kg tem preço sugerido de R$ 94,90.

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Bichos para todos os lados O médico veterinário norte-americano Jeff Wells conta em Entre coices, garras e mordidas (R$ 43), lançado pela editora Landscape, os primeiros casos do início de sua carreira, logo depois de se formar na faculdade. Entre os episódios o leitor acompanha um ataque BBC de perus, um gato macho grávido, terriers cobertos de cerdas de porco-espinho, um jumento anão genioso, um porco gigante e uma vaca com prisão de ventre. Cada um desses casos revela a sabedoria e o senso de humor do autor.

Guias iluminadas Os cães ganham um item fashion de primeira: as guias iluminadas com led para os fãs de baladas eletrônicas ou para quem quer dar um toque nos passeios noturnos. Além de charmosas, elas ajudam na segurança ajudando na visibilidade na hora de atravessar a rua. As guias são encontradas a preço médio de R$ 90 e podem ser adquiridas pelo e-mail contato@ledmania.com.br. Informações pelo site www.ledmania.com.br

Produto faz xixi virar pó Em clima quente, os animais tomam mais água e, por conse quência, fazem mais xixi e muitas vezes em lugares nada apropriados. Para minimizar este transtorno, a Petmais lançou o Seca Xixi (em média R$ 16 a embalagem com 250 g). Ao ser aplicado sobre a urina, transforma a substância líquida em sólida em apenas alguns segundos, facilitando o recolhimento, que pode ser feito com uma pá de limpeza ou aspirador de pó. O produto elimina o odor e higieniza o local, pois tem ação bactericida. In for mações pelo site www.petmais.net

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Paulo Toledo Piza/G1


Felinos em Foco

FeLV e FIV qual o significado destas siglas???

Por Marúcia de Andrade Cruz* Vamos começar desvendando as siglas: FeLV (Feline Leukaemia Virus) – Vírus da Leucemia Felina FIV (Feline Immunodeficiency Virus) – Vírus da Imunodeficiência Felina. Como os próprios nomes de ambos os vírus já identificam a espécie felina, podemos já entender que apenas os felinos domésticos ou selvagens são acometidos por estes agentes. O FeLV é um agente patogênico potencial aos gatos domésticos causando muitas desordens degenerativas e até neoplásicas, mas a severidade da enfermidade depende de características genéticas do vírus infectante. Os gatos infectam-se com o FeLV a partir de secreções (saliva) ou excreções (urina e fezes) contendo partículas virais, isto é, através da higiene mútua (lambedura entre os pares), utilização de mesmos comedouros, bebedouros e liteiras (caixas de areia) e através de mordidas. E também pode ser transmitido através da placenta, 8

leite, lágrima e instrumentos contaminados com sangue, como por exemplo, agulhas. O FIV é parecido com o HIV, mas é altamente específico para felinos, então este vírus só se replica nas células felinas. A infecção com o FIV ocorre principalmente por mordeduras, estando o vírus presente na saliva, sangue e também leite e sêmen, podendo acontecer transmissão através da placenta Os gatos infectados podem ou não desenvolver a doença clínica, e os sinais clínicos podem ser variados e não específicos. Por isso, somente um médico veterinário é capaz de avaliar e indicar exames confirmativos para ambos os contatos. Quando a infecção (FeLV e/ou FIV) é detectada o paciente deve receber cuidados especiais como alimentação balanceada, viver em ambiente limpo e com mínimo de estresse para evitar infecções secundárias, e ser mantido dentro de casa. As vacinações e desverminações devem ser regulares seguindo os protocolos para cada caso. Para evitar estas infecções mantê-los domiciliados e sob controle de contato com gatos não testados é sempre a melhor opção!! Castrá-los precocemente também ajuda a evitar saídas inoportunas e brigas!! E, nos dias atuais, já podemos contar com a vacinação contra o FeLV, mas é sempre importante testar o gatinho antes da vacinação!!!

A GUARDA-RESPONSÁVEL É UM ATO DE AMOR!!! SEJA COMPROMETIDO COM O BEM-ESTAR E A SAÚDE DE SEU COMPANHEIRO!!! * MV, MsC, Marúcia de Andrade Cruz (CRMV 4357/PR) Médica Veterinária, Clínica Veterinária Mania de Gato Professora Clínica de Gatos, UTP

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Felinos em Foco

FeLV e FIV qual o significado destas siglas???

Por Marúcia de Andrade Cruz* Vamos começar desvendando as siglas: FeLV (Feline Leukaemia Virus) – Vírus da Leucemia Felina FIV (Feline Immunodeficiency Virus) – Vírus da Imunodeficiência Felina. Como os próprios nomes de ambos os vírus já identificam a espécie felina, podemos já entender que apenas os felinos domésticos ou selvagens são acometidos por estes agentes. O FeLV é um agente patogênico potencial aos gatos domésticos causando muitas desordens degenerativas e até neoplásicas, mas a severidade da enfermidade depende de características genéticas do vírus infectante. Os gatos infectam-se com o FeLV a partir de secreções (saliva) ou excreções (urina e fezes) contendo partículas virais, isto é, através da higiene mútua (lambedura entre os pares), utilização de mesmos comedouros, bebedouros e liteiras (caixas de areia) e através de mordidas. E também pode ser transmitido através da placenta, 8

leite, lágrima e instrumentos contaminados com sangue, como por exemplo, agulhas. O FIV é parecido com o HIV, mas é altamente específico para felinos, então este vírus só se replica nas células felinas. A infecção com o FIV ocorre principalmente por mordeduras, estando o vírus presente na saliva, sangue e também leite e sêmen, podendo acontecer transmissão através da placenta Os gatos infectados podem ou não desenvolver a doença clínica, e os sinais clínicos podem ser variados e não específicos. Por isso, somente um médico veterinário é capaz de avaliar e indicar exames confirmativos para ambos os contatos. Quando a infecção (FeLV e/ou FIV) é detectada o paciente deve receber cuidados especiais como alimentação balanceada, viver em ambiente limpo e com mínimo de estresse para evitar infecções secundárias, e ser mantido dentro de casa. As vacinações e desverminações devem ser regulares seguindo os protocolos para cada caso. Para evitar estas infecções mantê-los domiciliados e sob controle de contato com gatos não testados é sempre a melhor opção!! Castrá-los precocemente também ajuda a evitar saídas inoportunas e brigas!! E, nos dias atuais, já podemos contar com a vacinação contra o FeLV, mas é sempre importante testar o gatinho antes da vacinação!!!

A GUARDA-RESPONSÁVEL É UM ATO DE AMOR!!! SEJA COMPROMETIDO COM O BEM-ESTAR E A SAÚDE DE SEU COMPANHEIRO!!! * MV, MsC, Marúcia de Andrade Cruz (CRMV 4357/PR) Médica Veterinária, Clínica Veterinária Mania de Gato Professora Clínica de Gatos, UTP

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Pet Debate

Violência inerente à raça

Cão adestrado oferece perigo?

“O pit bull foi criado para a luta, mas isso não quer dizer que todos os animais dessa raça têm predisposição à violência”, diz a médica veterinária Rúbia. Ela fala que é importante ser prudente com a raça desde o momento da escolha dos espécimes para o cruzamento. “Pais agressivos tendem a ter filhotes violentos”, diz ela.

Não há segurança plena Rúbia considera o adestramento importante, mas alerta que ele não evita possíveis ataques ao longo da vida do animal. “Não há como garantir a segurança. Assim como os humanos, animais que sofrem pressões internas, frustrações, são vítimas de violência física e recebem pouca atenção e podem reagir de maneira agressiva”, explica. Ela faz questão de assinalar que cães não são como animais selvagens, pois são domesticáveis e podem conviver com humanos.

Adestrar resolve? Projeto de esterilização de pit bulls traz à tona dúvidas sobre a segurança do adestramento. Especialistas dizem que mesmo bichos treinados podem, em algum momento da vida, agir violentamente Além de mandar a solidão embora, quem tem um animal de estimação tem uma rotina mais saudável. Imagine o quanto é preciso se movimentar para cuidar de um bichinho: colocar comida, limpar a casa ou gaiola, brincar. “São estímulos para as atividades físicas. Isso pressupõe um ganho em mobilidade”,

Instinto ou má-criação? Esses são os dois argumentos principais utilizados para defender ou condenar animais com comportamentos agressivos. O projeto de lei do senador Valter Pereira (PMDB-MS) que prevê a extinção dos cães da raça pit bull e restringe a liberdade na circulação pública de outras 17 raças consideradas “perigosas” retomou esta polêmica. A médica veterinária e terapeuta comportamental de animais Rúbia Burnier acredita que todos os bichos – mesmo os bem adestrados – apresentam vulnerabilidades e podem ter reações violentas. Confira as principais questões sobre o assunto:

O comandante do Canil Central da Polícia Militar do Paraná, tenente Willians Taurino Moreira diz que o adestramento não neutraliza o instinto das raças violentas, mas o direciona para que os cães ajam apenas no momento certo. “A criação influencia na personalidade do animal, assim como ter uma alimentação adequada e espaço para gastar energia”, diz ele.

E você, o que acha? É a favor da extinção dos pit bulls?

Contexto e treinamento Rúbia condena o adestramento irresponsável ou mal feito. “O cão vive de contextos. É preciso criar a imagem correta do carteiro e do ladrão, por exemplo, para que ele não reaja da mesma forma em situações diferentes”, explica. O tenente Taurino considera que apenas o treinamento exaustivo pode evitar os ataques. “Ele deve ser adestrado para o bem. No treino é importante colocar o cão no lugar dele e não permitir que se veja como líder”, diz.

Castração é a solução? A especialista Rúbia Burnier considera correta a restrição aos cruzamentos do pit bull, mas não acredita que o banimento da raça evitará problemas. “A sociedade é responsável por tudo o que cria e o homem criou o pit bull. Também não é correto abandoná-lo agora”, diz. O tenente acha que proibir uma raça não vai evitar que ela continue existindo na clandestinidade.

Envie sua opinião para faleconosco@conexaopet.com.br. Sua opinião é importante para nós e pode ser publicada na próxima edição. *Esta matéria foi originalmente publicada na Gazeta do Povo Online

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www.conexaopet.com.br/ comercial@conexaopet.com.br/ telefone (41)3016-4843


Pet Debate

Violência inerente à raça

Cão adestrado oferece perigo?

“O pit bull foi criado para a luta, mas isso não quer dizer que todos os animais dessa raça têm predisposição à violência”, diz a médica veterinária Rúbia. Ela fala que é importante ser prudente com a raça desde o momento da escolha dos espécimes para o cruzamento. “Pais agressivos tendem a ter filhotes violentos”, diz ela.

Não há segurança plena Rúbia considera o adestramento importante, mas alerta que ele não evita possíveis ataques ao longo da vida do animal. “Não há como garantir a segurança. Assim como os humanos, animais que sofrem pressões internas, frustrações, são vítimas de violência física e recebem pouca atenção e podem reagir de maneira agressiva”, explica. Ela faz questão de assinalar que cães não são como animais selvagens, pois são domesticáveis e podem conviver com humanos.

Adestrar resolve? Projeto de esterilização de pit bulls traz à tona dúvidas sobre a segurança do adestramento. Especialistas dizem que mesmo bichos treinados podem, em algum momento da vida, agir violentamente Além de mandar a solidão embora, quem tem um animal de estimação tem uma rotina mais saudável. Imagine o quanto é preciso se movimentar para cuidar de um bichinho: colocar comida, limpar a casa ou gaiola, brincar. “São estímulos para as atividades físicas. Isso pressupõe um ganho em mobilidade”,

Instinto ou má-criação? Esses são os dois argumentos principais utilizados para defender ou condenar animais com comportamentos agressivos. O projeto de lei do senador Valter Pereira (PMDB-MS) que prevê a extinção dos cães da raça pit bull e restringe a liberdade na circulação pública de outras 17 raças consideradas “perigosas” retomou esta polêmica. A médica veterinária e terapeuta comportamental de animais Rúbia Burnier acredita que todos os bichos – mesmo os bem adestrados – apresentam vulnerabilidades e podem ter reações violentas. Confira as principais questões sobre o assunto:

O comandante do Canil Central da Polícia Militar do Paraná, tenente Willians Taurino Moreira diz que o adestramento não neutraliza o instinto das raças violentas, mas o direciona para que os cães ajam apenas no momento certo. “A criação influencia na personalidade do animal, assim como ter uma alimentação adequada e espaço para gastar energia”, diz ele.

E você, o que acha? É a favor da extinção dos pit bulls?

Contexto e treinamento Rúbia condena o adestramento irresponsável ou mal feito. “O cão vive de contextos. É preciso criar a imagem correta do carteiro e do ladrão, por exemplo, para que ele não reaja da mesma forma em situações diferentes”, explica. O tenente Taurino considera que apenas o treinamento exaustivo pode evitar os ataques. “Ele deve ser adestrado para o bem. No treino é importante colocar o cão no lugar dele e não permitir que se veja como líder”, diz.

Castração é a solução? A especialista Rúbia Burnier considera correta a restrição aos cruzamentos do pit bull, mas não acredita que o banimento da raça evitará problemas. “A sociedade é responsável por tudo o que cria e o homem criou o pit bull. Também não é correto abandoná-lo agora”, diz. O tenente acha que proibir uma raça não vai evitar que ela continue existindo na clandestinidade.

Envie sua opinião para faleconosco@conexaopet.com.br. Sua opinião é importante para nós e pode ser publicada na próxima edição. *Esta matéria foi originalmente publicada na Gazeta do Povo Online

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Pet Saúde Exames de mama devem ser rotina Cachorrinhas e gatas também devem passar por exames para detectar doenças e tratá-las antecipadamente :Aniele Nascimento/Gazeta do Povo Hannah com o cirurgião oncologista Thiago Sillas: mama inchada foi o primeiro indício do tumor, retirado posteriormente

Foi durante uma brincadeira que Lucas Tomaselli, dono de Hannah, uma akita de 11 anos e um histórico clínico livre de qualquer preocupação, percebeu que uma das mamas da cachorra estava inchada. No consultório do cirurgião oncologista Thiago Sillas, do Hospital Veterinário Clinivet, em Curitiba, foi detectado um tumor de mama, com indícios de metástase no gânglio axilar. Devido à idade, Hannah passou por exames préoperatórios para que houvesse a certeza de que ela suportaria uma intervenção cirúrgica para a remoção dos nódulos. Dias depois a mastectomia foi realizada: o gânglio e cinco mamas do lado esquerdo foram retirados. Como sempre apresentou boa saúde, a cachorra nunca passou por um check-up ou qualquer outro exame preventivo. Se tivesse feito uma ultrassonagrafia abdominal (que detecta alterações nas mamas também), muito provavelmente, segundo Sillas, a neoplasia poderia ter sido descoberta em um estágio inicial. Este exame pode ser feito em diversas clínicas veterinárias da cidade e custa R$ 100 em média. Cada vez mais parecidos com os feitos pelos seres humanos, os exames ajudam a antecipar diagnósticos e a detecção de doenças.

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O câncer de mama é o tipo mais comum de neoplasia em animais de estimação e, apesar de atingir também os machos, 97% dos casos ocorrem entre as fêmeas. Assim como eles, elas também sofrem com variações da doença que atacam diferentes órgãos e tecidos do corpo, como pele, ossos, boca e garganta. Na fase inicial, a maioria das gatas e cachorras apresenta manifestações clínicas leves e isso pode ser percebido por sintomas como: vômito, diarreia, tosse, sangramentos, dificuldade respiratória, dor em membros (tórax ou abdome) ou falta de apetite. Em estágios mais evoluídos podem surgir indícios de massa visível ou um aumento de volume do abdome, seguido ou não de dor. “A longevidade dos animais de companhia aumentou e, por isso, há um número maior de casos de câncer. O proprietário precisa respeitar uma rotina de exames e ficar atento aos sintomas”, avalia João Alfredo Kleiner, médico do Hospital Veterinário São Bernardo, em Curitiba.

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Pet Saúde Exames de mama devem ser rotina Cachorrinhas e gatas também devem passar por exames para detectar doenças e tratá-las antecipadamente :Aniele Nascimento/Gazeta do Povo Hannah com o cirurgião oncologista Thiago Sillas: mama inchada foi o primeiro indício do tumor, retirado posteriormente

Foi durante uma brincadeira que Lucas Tomaselli, dono de Hannah, uma akita de 11 anos e um histórico clínico livre de qualquer preocupação, percebeu que uma das mamas da cachorra estava inchada. No consultório do cirurgião oncologista Thiago Sillas, do Hospital Veterinário Clinivet, em Curitiba, foi detectado um tumor de mama, com indícios de metástase no gânglio axilar. Devido à idade, Hannah passou por exames préoperatórios para que houvesse a certeza de que ela suportaria uma intervenção cirúrgica para a remoção dos nódulos. Dias depois a mastectomia foi realizada: o gânglio e cinco mamas do lado esquerdo foram retirados. Como sempre apresentou boa saúde, a cachorra nunca passou por um check-up ou qualquer outro exame preventivo. Se tivesse feito uma ultrassonagrafia abdominal (que detecta alterações nas mamas também), muito provavelmente, segundo Sillas, a neoplasia poderia ter sido descoberta em um estágio inicial. Este exame pode ser feito em diversas clínicas veterinárias da cidade e custa R$ 100 em média. Cada vez mais parecidos com os feitos pelos seres humanos, os exames ajudam a antecipar diagnósticos e a detecção de doenças.

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O câncer de mama é o tipo mais comum de neoplasia em animais de estimação e, apesar de atingir também os machos, 97% dos casos ocorrem entre as fêmeas. Assim como eles, elas também sofrem com variações da doença que atacam diferentes órgãos e tecidos do corpo, como pele, ossos, boca e garganta. Na fase inicial, a maioria das gatas e cachorras apresenta manifestações clínicas leves e isso pode ser percebido por sintomas como: vômito, diarreia, tosse, sangramentos, dificuldade respiratória, dor em membros (tórax ou abdome) ou falta de apetite. Em estágios mais evoluídos podem surgir indícios de massa visível ou um aumento de volume do abdome, seguido ou não de dor. “A longevidade dos animais de companhia aumentou e, por isso, há um número maior de casos de câncer. O proprietário precisa respeitar uma rotina de exames e ficar atento aos sintomas”, avalia João Alfredo Kleiner, médico do Hospital Veterinário São Bernardo, em Curitiba.

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Pet Saúde Exames de mama devem ser rotina Cachorrinhas e gatas também devem passar por exames para detectar doenças e tratá-las antecipadamente :Aniele Nascimento/Gazeta do Povo Hannah com o cirurgião oncologista Thiago Sillas: mama inchada foi o primeiro indício do tumor, retirado posteriormente

Foi durante uma brincadeira que Lucas Tomaselli, dono de Hannah, uma akita de 11 anos e um histórico clínico livre de qualquer preocupação, percebeu que uma das mamas da cachorra estava inchada. No consultório do cirurgião oncologista Thiago Sillas, do Hospital Veterinário Clinivet, em Curitiba, foi detectado um tumor de mama, com indícios de metástase no gânglio axilar. Devido à idade, Hannah passou por exames préoperatórios para que houvesse a certeza de que ela suportaria uma intervenção cirúrgica para a remoção dos nódulos. Dias depois a mastectomia foi realizada: o gânglio e cinco mamas do lado esquerdo foram retirados. Como sempre apresentou boa saúde, a cachorra nunca passou por um check-up ou qualquer outro exame preventivo. Se tivesse feito uma ultrassonagrafia abdominal (que detecta alterações nas mamas também), muito provavelmente, segundo Sillas, a neoplasia poderia ter sido descoberta em um estágio inicial. Este exame pode ser feito em diversas clínicas veterinárias da cidade e custa R$ 100 em média. Cada vez mais parecidos com os feitos pelos seres humanos, os exames ajudam a antecipar diagnósticos e a detecção de doenças.

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O câncer de mama é o tipo mais comum de neoplasia em animais de estimação e, apesar de atingir também os machos, 97% dos casos ocorrem entre as fêmeas. Assim como eles, elas também sofrem com variações da doença que atacam diferentes órgãos e tecidos do corpo, como pele, ossos, boca e garganta. Na fase inicial, a maioria das gatas e cachorras apresenta manifestações clínicas leves e isso pode ser percebido por sintomas como: vômito, diarreia, tosse, sangramentos, dificuldade respiratória, dor em membros (tórax ou abdome) ou falta de apetite. Em estágios mais evoluídos podem surgir indícios de massa visível ou um aumento de volume do abdome, seguido ou não de dor. “A longevidade dos animais de companhia aumentou e, por isso, há um número maior de casos de câncer. O proprietário precisa respeitar uma rotina de exames e ficar atento aos sintomas”, avalia João Alfredo Kleiner, médico do Hospital Veterinário São Bernardo, em Curitiba.

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Procedimento Depois de um exame físico completo na paciente com suspeitas de ter tumores na mama, o médico veterinário apura o histórico de saúde e das alterações verificadas. A partir disso são solicitados exames, como hemograma, função renal, hepática, urinálise, exame radiográfico, eletrocardiográfico, ultrassonográfico e ecocardiográfico, conforme a necessidade. “Eventualmente pode haver também a necessidade da realização de uma tomografia ou ressonância magnética, mas somente o médico poderá determinar, em cada caso, quais destes exames são realmente necessários”, destaca Patricia Addeo, médica veterinária especialista em Clínica Médica e Cardiologia Veterinária do Hospital Veterinário Batel, na capital paranaense.

Preços Confira o valor médio dos exames mais solicitados pelos médicos veterinários Hemograma Função Renal (ureia+creatinina) Função hepática Urinálise Eletrocardiografia Ultrassonografia abdominal Ecocardiografia Histopatológico Consulta com o médico veterinário

R$ 35 R$ 45 R$ 43 R$ 40 R$ 94 R$ 99 R$ 130 R$ 143 R$ 70

* Os preços foram consultados em março, nas clínicas Clinivet e São Bernardo, ambos em Curitiba.

Como acontece Acompanhe os procedimentos para detecção e tratamento das neoplasias: 1.Constatação:Exames físicos detectam a presença de nódulos, dependendo da região em que o tumor estiver instalado. 2.Avaliação: O médico veterinário pode solicitar uma biópsia para depois realizar o exame histopatológico. 3.Análise: Avalia-se o material removido para constatar se o tumor é benigno ou maligno e apurar a gravidade. 4. Exames: São realizados exames précirúrgicos para que se chegue a um diagnóstico mais preciso. Podem ser feitos raio X digital do tórax, tomografia, ultrassom abdominal, entre outros. 5) Remoção: Os nódulos são removidos cirurgicamente.

*Matéria Originalmente Publicada na Gazeta do Povo Online

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Pet Saúde Exames de mama devem ser rotina Cachorrinhas e gatas também devem passar por exames para detectar doenças e tratá-las antecipadamente :Aniele Nascimento/Gazeta do Povo Hannah com o cirurgião oncologista Thiago Sillas: mama inchada foi o primeiro indício do tumor, retirado posteriormente

Foi durante uma brincadeira que Lucas Tomaselli, dono de Hannah, uma akita de 11 anos e um histórico clínico livre de qualquer preocupação, percebeu que uma das mamas da cachorra estava inchada. No consultório do cirurgião oncologista Thiago Sillas, do Hospital Veterinário Clinivet, em Curitiba, foi detectado um tumor de mama, com indícios de metástase no gânglio axilar. Devido à idade, Hannah passou por exames préoperatórios para que houvesse a certeza de que ela suportaria uma intervenção cirúrgica para a remoção dos nódulos. Dias depois a mastectomia foi realizada: o gânglio e cinco mamas do lado esquerdo foram retirados. Como sempre apresentou boa saúde, a cachorra nunca passou por um check-up ou qualquer outro exame preventivo. Se tivesse feito uma ultrassonagrafia abdominal (que detecta alterações nas mamas também), muito provavelmente, segundo Sillas, a neoplasia poderia ter sido descoberta em um estágio inicial. Este exame pode ser feito em diversas clínicas veterinárias da cidade e custa R$ 100 em média. Cada vez mais parecidos com os feitos pelos seres humanos, os exames ajudam a antecipar diagnósticos e a detecção de doenças.

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O câncer de mama é o tipo mais comum de neoplasia em animais de estimação e, apesar de atingir também os machos, 97% dos casos ocorrem entre as fêmeas. Assim como eles, elas também sofrem com variações da doença que atacam diferentes órgãos e tecidos do corpo, como pele, ossos, boca e garganta. Na fase inicial, a maioria das gatas e cachorras apresenta manifestações clínicas leves e isso pode ser percebido por sintomas como: vômito, diarreia, tosse, sangramentos, dificuldade respiratória, dor em membros (tórax ou abdome) ou falta de apetite. Em estágios mais evoluídos podem surgir indícios de massa visível ou um aumento de volume do abdome, seguido ou não de dor. “A longevidade dos animais de companhia aumentou e, por isso, há um número maior de casos de câncer. O proprietário precisa respeitar uma rotina de exames e ficar atento aos sintomas”, avalia João Alfredo Kleiner, médico do Hospital Veterinário São Bernardo, em Curitiba.

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Procedimento Depois de um exame físico completo na paciente com suspeitas de ter tumores na mama, o médico veterinário apura o histórico de saúde e das alterações verificadas. A partir disso são solicitados exames, como hemograma, função renal, hepática, urinálise, exame radiográfico, eletrocardiográfico, ultrassonográfico e ecocardiográfico, conforme a necessidade. “Eventualmente pode haver também a necessidade da realização de uma tomografia ou ressonância magnética, mas somente o médico poderá determinar, em cada caso, quais destes exames são realmente necessários”, destaca Patricia Addeo, médica veterinária especialista em Clínica Médica e Cardiologia Veterinária do Hospital Veterinário Batel, na capital paranaense.

Preços Confira o valor médio dos exames mais solicitados pelos médicos veterinários Hemograma Função Renal (ureia+creatinina) Função hepática Urinálise Eletrocardiografia Ultrassonografia abdominal Ecocardiografia Histopatológico Consulta com o médico veterinário

R$ 35 R$ 45 R$ 43 R$ 40 R$ 94 R$ 99 R$ 130 R$ 143 R$ 70

* Os preços foram consultados em março, nas clínicas Clinivet e São Bernardo, ambos em Curitiba.

Como acontece Acompanhe os procedimentos para detecção e tratamento das neoplasias: 1.Constatação:Exames físicos detectam a presença de nódulos, dependendo da região em que o tumor estiver instalado. 2.Avaliação: O médico veterinário pode solicitar uma biópsia para depois realizar o exame histopatológico. 3.Análise: Avalia-se o material removido para constatar se o tumor é benigno ou maligno e apurar a gravidade. 4. Exames: São realizados exames précirúrgicos para que se chegue a um diagnóstico mais preciso. Podem ser feitos raio X digital do tórax, tomografia, ultrassom abdominal, entre outros. 5) Remoção: Os nódulos são removidos cirurgicamente.

*Matéria Originalmente Publicada na Gazeta do Povo Online

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Pet Comportamento No casamento, do bolo às alianças Na união de Ana Beatriz e Roberto, quem roubou a cena foram os dois cães do casal, que desempenharam com estilo o papel de pajem e dama de honra Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Os noivos Ana e Beto com o rottweiller 113 e a whippet Tanange: casamento à moda animal

Fraque feito sob medida para ele e vestido bordado à mão para ela. Nas roupas, um lugar especial para as alianças, cravejado de cristais. Tanta elegância para o momento mais importante da cerimônia, planejado secretamente pelos noivos, Ana Beatriz Soder e Roberto Gonschorovski, donos de Tanange, uma whippet de cinco anos e 113, rottweiler de nove meses. Os dois mascotes do casal foram dama de honra e pajem do casamento que aconteceu na semana retrasada, em Curitiba.

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Conduzidos por dois amigos dos noivos, os cachorrinhos entraram cada um de uma vez e emocionaram os convidados. “Achei a coisa mais linda”, lembra Nancy Sávio, amiga da noiva. “Quem a conhece sabe que os cachorros são sua vida”, diz. Ana é veterinária, dona do petshop e de seis cachorros, três whippets, um dálmata e dois pointers. As whippets sempre foram seu xodó, tanto que a acompanham o dia todo, até no trabalho.

“Ela anda com as whippets e eu com o 113. Quase sempre que nos encontrávamos estávamos com os cachorros”, conta Roberto, mais conhecido como Beto. Exmilitar, o empresário, apesar de gostar de cachorro, não tinha um animal de estimação até conhecer Ana e rapidamente ser contagiado. Com dois meses de namoro comprou o rottweiler e batizou de 113, número pelo qual era conhecido no exército. Tudo foi rápido na história de Beto e Ana. Se conheceram no começo do ano passado e logo de cara viraram amigos. Em dois meses, começaram a namorar. Um mês depois já estavam planejando o casamento. Apesar de os cachorros estarem sempre por perto, a ideia de eles participarem do casamento surgiu só três semanas antes da cerimônia. Foi uma correria para encontrar uma costureira que pudesse fazer o fraque e o vestido de noiva a tempo. “Adaptei um vestido mais simples. Comprei as pedras e eu mesma bordei a cauda e o véu”, afirma Ana. O fraque foi provado algumas vezes antes dos arremates finais. Os modelitos foram um sucesso e Tanange e 113 se comportaram como manda a etiqueta (com direito a desfile e pausa para foto). Antes da cerimônia, os dois foram ensaiados para evitar imprevistos. “Confio no 113, eu o adestrei e ele é bem compor-

tado. Assim mesmo, levamos os dois para conhecer o local da festa uma semana antes”, diz Beto. Reprodução/ Gazeta do Povo

Nenhum dos sete mascotes do casal ficou de fora do bolo do casamento

Depois da celebração, os convidados da festa e os clientes do petshop de Ana não falam em outra coisa. “Vimos homens e mulheres se emocionando. É incrível como as pessoas veem os cachorros como membro da família”, afirma Beto. * Matéria publicada originalmente na Gazeta do Povo Online

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Pet Comportamento No casamento, do bolo às alianças Na união de Ana Beatriz e Roberto, quem roubou a cena foram os dois cães do casal, que desempenharam com estilo o papel de pajem e dama de honra Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Os noivos Ana e Beto com o rottweiller 113 e a whippet Tanange: casamento à moda animal

Fraque feito sob medida para ele e vestido bordado à mão para ela. Nas roupas, um lugar especial para as alianças, cravejado de cristais. Tanta elegância para o momento mais importante da cerimônia, planejado secretamente pelos noivos, Ana Beatriz Soder e Roberto Gonschorovski, donos de Tanange, uma whippet de cinco anos e 113, rottweiler de nove meses. Os dois mascotes do casal foram dama de honra e pajem do casamento que aconteceu na semana retrasada, em Curitiba.

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Conduzidos por dois amigos dos noivos, os cachorrinhos entraram cada um de uma vez e emocionaram os convidados. “Achei a coisa mais linda”, lembra Nancy Sávio, amiga da noiva. “Quem a conhece sabe que os cachorros são sua vida”, diz. Ana é veterinária, dona do petshop e de seis cachorros, três whippets, um dálmata e dois pointers. As whippets sempre foram seu xodó, tanto que a acompanham o dia todo, até no trabalho.

“Ela anda com as whippets e eu com o 113. Quase sempre que nos encontrávamos estávamos com os cachorros”, conta Roberto, mais conhecido como Beto. Exmilitar, o empresário, apesar de gostar de cachorro, não tinha um animal de estimação até conhecer Ana e rapidamente ser contagiado. Com dois meses de namoro comprou o rottweiler e batizou de 113, número pelo qual era conhecido no exército. Tudo foi rápido na história de Beto e Ana. Se conheceram no começo do ano passado e logo de cara viraram amigos. Em dois meses, começaram a namorar. Um mês depois já estavam planejando o casamento. Apesar de os cachorros estarem sempre por perto, a ideia de eles participarem do casamento surgiu só três semanas antes da cerimônia. Foi uma correria para encontrar uma costureira que pudesse fazer o fraque e o vestido de noiva a tempo. “Adaptei um vestido mais simples. Comprei as pedras e eu mesma bordei a cauda e o véu”, afirma Ana. O fraque foi provado algumas vezes antes dos arremates finais. Os modelitos foram um sucesso e Tanange e 113 se comportaram como manda a etiqueta (com direito a desfile e pausa para foto). Antes da cerimônia, os dois foram ensaiados para evitar imprevistos. “Confio no 113, eu o adestrei e ele é bem compor-

tado. Assim mesmo, levamos os dois para conhecer o local da festa uma semana antes”, diz Beto. Reprodução/ Gazeta do Povo

Nenhum dos sete mascotes do casal ficou de fora do bolo do casamento

Depois da celebração, os convidados da festa e os clientes do petshop de Ana não falam em outra coisa. “Vimos homens e mulheres se emocionando. É incrível como as pessoas veem os cachorros como membro da família”, afirma Beto. * Matéria publicada originalmente na Gazeta do Povo Online

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Por que os animais são tão maltratados?

Aspectos Culturais Reprodução

Em meio a tantos avanços morais os animais ainda sofrem abusos injustificáveis Por Vivian Lemos

Apesar de todos os avanços morais e tecnológicos da sociedade, ainda nos deparamos com cenas chocantes de primitivismo comportamental em relação aos animais. Muitos seres humanos, ditos “racionais” maltratam e subjugam nossos amigos de quatro patas das mais variadas formas possíveis. Quando pessoas esclarecidas deparam-se com cenas injustificáveis de violência contra animais, o mais comum é perguntar-se: “Por que?”. É importante tentarmos sondar a mente desses criminosos para que possamos combater a violência contra animais, e consequentemente, contra todos os seres vivos. Reprodução

Elefante Acorrentado

Talvez a causa mais comum desses abusos seja cometida em nome do especismo. O termo foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, em um panfleto em 1970. Desde então, a expressão tem sido largamente utilizada em obras de defensores dos direitos animais. Afinal, o que é especismo? “Eu uso a palavra 'especismo' para descrever a discriminação habitual que é praticada pelo homem contra outras espécies (…). Especismo e racismo ignoram ou subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados.", explicou Ryder. O homem quando maltrata um animal não enxerga nele um ser sensciente, ou seja, capaz de sentir dor física, prazer, felicidade ou tristeza. Comumente seres humanos enxergam animais como propriedades, desta forma sujeitos a crises de fúria, abandono e indiferença. Para todos que estão lendo esta matéria e importam-se com os animais, vamos discutir alguns tipos de maus tratos a animais, suas conseqüências e o que nós podemos fazer para mudar este cenário.

Cada cultura possui suas especificidades e alguns rituais ou costumes são estranhos a quem não pertence a determinado nicho cultural. Mas será que podemos incluir nas práticas culturais atos que incluam sofrimento de seres vivos? Em algumas tribos da Nigéria e outros países africanos, o hímen de jovens locais é rompido à força, prática que mutila o órgão genital feminino e pode até mesmo causar a morte. O ato tem sido condenado por inúmeros ativistas dos direitos humanos, por eles acreditarem que o sofrimento de uma pessoa sobrepõe-se à liberdade cultural. O que dizer então das touradas, farra do boi, rodeios, vaquejada, matança de golfinhos e sacrifício de animais em rituais religiosos? Não deveria também o sofrimento dos animais sobrepor-se à prática cultural? No Brasil, a Farra do Boi está proibida desde 1997 em Santa Catarina, onde é ainda é comumente praticada apesar da proibição. A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na sexta-feira santa. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, donos de restaurantes, donos de hotéis e políticos, são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento, o boi é confinado sem alimento disponível por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num Reprodução

Elefante explorado durante apresentação circense

local onde o boi possa ver, mas não possa alcançar. A farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas", que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras - homens, mulheres e crianças - e perseguem o boi que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar e acaba se afogando. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, onde o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e torturando o Diabo, as pessoas estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa. Para as pessoas que moram na área litorânea, onde a barbárie acontece, a Farra do Boi é apenas uma oportunidade pra se fazer uma festa e de se ganhar algum dinheiro extra, pois alguns moradores aproveitam para vender bebidas e petiscos para os participantes. Outra prática abominável, que vem sendo alvo de críticas em todo o mundo são as touradas. É incerta a origem das touradas. Uns afirmam que ela surgiu na pré-história, outros remontam suas raízes ao século III a.C, na Espanha, onde a caça aos touros selvagens era um esporte popular. O fato é que, com a chegada da primavera da fé, no medievo, a tradição das touradas (com a morte do animal) já havia se consagrado na península ibérica, como uma prova de coragem, destreza e valor, sendo algumas festas populares devotadas a Reprodução

Leão confinado em uma jaula no circo

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esse costume, como a de os touros serem perseguidos por um turbilhão de pessoas nas ruas, até a exaustão dos animais, sendo ainda repetido esses divertimentos em festas de casamentos, nascimentos e batizados, por famílias inteiras. Algo semelhante ainda ocorre hoje em dia como na Festa de São Firmino, em Pamplona onde, todo ano, mais de duas mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola. Surpreendentemente, essa barbárie continua a acontecer em pleno século XXI! Apesar do decréscimo de público nos últimos anos, esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas em benefício a crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis etc., são outras tentativas de tentar dar a este espetáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Nos países onde a tourada é mais comum – Espanha e Portugal, a maioria da população é católica e a Igreja não condena a prática, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo. E o que dizer dos rodeios? Como muitos sabem, o lixo “cultural” foi exportado pelos Estados Unidos. Em meados de 1800, os colonos norteamericanos, depois de vencerem a guerra contra o México, adotaram os costumes de origem espanhola, entre eles as festas mexicanas e a doma de animais. A união destas duas atividades resultaria no rodeio. A primeira prova oficial aconteceu em 1869, na cidade de Colorado, no Texas. Reprodução/ UOL Esportes

No Brasil, o rodeio surgiu em 1956 na cidade paulista de Barretos. Em abril de 2001, a atividade passou a ser reconhecida oficialmente como esporte. Fico imaginando que daqui a pouco teremos a volta dos gladiadores porque se o rodeio é considerado esporte... Apesar da tentativa de várias pessoas ligadas ao rodeio de negar o sofrimento dos animais durante sua prática, os fatos as desmentem. No rodeio o objetivo é que o “valente” cowboy permaneça no lombo do animal por pelo menos até oito segundos. Neste período o animal corcoveia desesperadamente dentro da arena. Dentre os instrumentos mais utilizados para que os animais corcoveiem, há alguns que são visíveis por todos os presentes como o sedém, as esporas, a peiteira e o polaco. O sedém é uma espécie de cinta, de crina e pêlo, que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. Momentos antes de o curral ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio, onde se aloja o pênis. Há, inclusive, diversos laudos comprovando os maus-tratos aos animais submetidos à utilização do sedém, desmistificando o dito por aqueles que são favoráveis aos rodeios, de que o sedém provoca apenas cócegas. Aliás, mesmo que considerássemos que o sedém cause apenas cócegas, devemos ressaltar a definição de cócegas como sendo "uma sensação particular, irritante, que provoca movimentos espasmódicos". As esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixoventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Sem fundamento o argumento de que as esporas rombas (não pontiagudas) e não causam danos físicos nos animais, pois ocorre a má utilização destes instrumentos, e

Reprodução

Animais são explorados em nome da diversão das pessoas em rodeio

como citado anteriormente, visa-se golpear o animal e, portanto, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular. A peiteira consiste em outra corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. O polaco (sinos) é colocado na peiteira para produzir barulho altamente irritante ao animal, o qual fica ainda mais intenso a cada pulo seu. Aliás, ressaltemos que a irritação que o polaco causa aos touros é inclusive reconhecida pelos próprios apreciadores e praticantes de rodeios, já que é definido em sites do gênero como: "sinos de metal colocados no touro para irritá-lo". Além de todos esses apetrechos de tortura, nos bastidores muitos utilizam choques elétricos, marretadas, pimentas e outras substâncias abrasivas para perturbar o animal. No “aprendizado” de seus números circenses, os animais são frequentemente torturados. São também alimentados inadequadamente, não recebem os devidos cuidados de saúde, são mantidos confinados em minúsculos espaços e acorrentados. Outra forma de abuso, visando um suposto patrimônio cultural é a utilização de animais em circos. Felizmente, a maioria dos estados brasileiros proibiu a apresentação de circos que utilizem animais como parte integrante de seu “espetáculo”. O tráfico de animais é reforçado também, e prin-

Leão sendo explorado por domador

cipalmente, pelo aspecto econômico. O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros. Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contrabandistas para serem vendidos como mercadoria. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal. O tráfico interno é praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas. Os animais são traficados para pet shops, colecionadores particulares e para fins científicos. Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site www.renctas.org.br da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, o MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Como vimos, em nome da cultura e do ganho de dinheiro, muitas pessoas submetem os animais a sofrimentos desnecessários e injustificáveis. O pior é que muitos deles recebem apoio governamental, já que atraem turistas até os locais onde são realizados. Reprodução

O cruel e sádico "espetáculo" das touradas

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Abandono de animais domésticos

Falta de políticas públicas Reprodução

Quem nunca passou por uma vitrine de pet shop e encantou-se com um lindo filhotinho de cão ou gato? O problema é que muitas pessoas fazem esta compra por impulso, deixando de considerar que o animal vai crescer, necessitará de cuidados especiais como passeios, alimentação, vacinas e consultas ao veterinário. O resultado destas compras por impulso frequentemente é o abandono de animais nas ruas, gerando superpopulação, já que a maioria dos animais não é castrada. Também por causa do especismo, já citado acima, muitas pessoas vêem o animal como uma inconveniência quando este começa a ficar idoso e apresentar doenças. A tutoria responsável é o melhor caminho para evitar o sofrimento dos animais. Antes de comprar ou adotar um animal, considere se você está pronto para ser um tutor verdadeiramente responsável:

Os Dez Mandamentos da Tutoria Responsável de Cães e Gatos 1.Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados; 2.Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso; 3.Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico; 4.Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo; 5.Cuide da saúde física do animal. Forneça abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove-o e exercite-o regularmente;

6.Zele pela saúde psicológica do animal. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele; 7.Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas NUNCA com violência. Respeite suas características; 8.Recolha e jogue os dejetos (coco) em local apropriado; 9.Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem); 10.Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações. Fonte: UOL Bichos

O Brasil é conhecido, dentre outras inúmeras características, por ser o país da impunidade. Quando a sociedade não é punida por seus crimes, é mais provável que eles continuem ocorrendo, temos visto isso na prática. Temos uma legislação animal que até seria efetiva, caso fosse posta em prática. Mas as punições também deveriam ser mais severas para aqueles que matam, torturam e maltratam animais. Recentemente, funcionários de uma Secretaria Regional em Joinville (SC) foram acusados de enterrar cães vivos. O inquérito será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. A decisão foi assinada nesta semana pelo juiz da 4ª Vara Criminal, Paulo Marcos de Farias. O crime foi caracterizado como de menor potencial ofensivo, ou seja, a pena máxima para uma possível condenação da dupla não pode ultrapassar dois anos. Se forem condenados, terão o direito de cumprir uma pena alternativa – como prestação de serviços à comunidade – e vão continuar com a ficha limpa na Justiça. Casos como este demonstram que em nosso País, as pessoas têm praticamente passe-livre para cometer crimes contra animais. No máximo, tem uma pequena dor de cabeça, mas logo recebem uma ficha limpa para cometer outro abuso. Nos Estados Unidos, cada estado apresenta uma legislação específica, mas em geral as penas são mais duras contra aqueles que maltratam animais. A ASPCA (The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em português- Sociedade Americana de Prevenção à Crueldade aos Animais) foi criada em 1866 em Nova York. A organização humanitária tem autoridade legal para investigar e fazer prisões em casos de abusos contra animais. A entidade possui também um abrigo e um hospital veterinário. Eles promovem a doação dos animais que abrigam. A ASPCA é uma entidade sem fins lucrativos e depende da doação para manter suas atividades, e tem sido bem sucedida nos últimos 140 anos. Alguns dos casos podem ser acompanhados no

canal Animal Planet, no programa “Distrito Animal”, que mostra os dedicados policiais atuando em seus casos. Grande parte do sucesso da ASPCA é manter uma força policial especializada e que leva a sério os direitos dos animais. Esse é um grande problema que enfrentamos no Brasil. Quando há uma Delegacia do Meio Ambiente muitas vezes ela é mal equipada e dispõe de um efetivo muito pequeno para investigar os casos. Além disso, a legislação muitas vezes não oferece a punição proporcional que estes casos exigem. Os animais, de acordo com a legislação brasileira, são tutelados pelo Estado. Assim sendo, no caso dos animais que estão nas ruas, abandonados, sem tutor de quem seria a responsabilidade pelo seu bem-estar? Do Estado, certo? Mas na prática não é o que acontece. ONGs e cidadãos Divulgação

A policial Anmarie Lucas, da ASPCA de Nova York Reprodução

O tráfico de animais é o terceiro mercado ilegal do mundo

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Divulgação/Bem Estar Animal de Florianópolis

Cães são retirados da rua, castrados e colocados para adoção em Florianópolis

fazem o papel que deveria ser do poder público abrigando, alimentando, castrando e cuidando da saúde desses animais. A castração gratuita seria uma grande solução para a redução da população de animais abandonados, mas infelizmente ainda não possuímos nas grandes cidades programas de esterilização de animais oferecidos pelas prefeituras. A cidade de Florianópolis virou um modelo para todo o Brasil no que diz respeito à castração de animais. A capital catarinense realiza cerca de 25 cirurgias por dia e outros 1,5 mil animais estão na fila. O sucesso da ação levou a coordenadora do projeto Bem Estar Animal, Maria das Graças Dutra, a receber representantes de outras cidades do país para conhecer de perto o programa. "As pessoas não sabem como resolver o problema da superpopulação de cães em suas cidades. A nossa forma de controlar a população canina virou modelo para outras administrações municipais. Já estive em Santa Maria (RS), Canoas (RS), Porto Alegre, Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Juiz de Fora (MG) apresentando o projeto", afirma a coordenadora. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, 20 mil procedimentos foram realizados como estratégia de controle da superpopulação

de cães desde 2005, quando o programa de esterilização canina começou na cidade. O secretário de Saúde de Florianópolis, João Candido da Silva, afirmou que a cidade optou por não exterminar os animais vivos. "O foco passou a ser o controle da população de cães por meio de cirurgias gratuitas de castração, além da realização de campanha de educação de jovens sobre o assunto, nas escolas." Maria das Graças disse que um casal fértil de cães é capaz de gerar 67 mil descentes em seis anos (período médio considerado como produtivo) e 60 filhotes diretos. Ela citou dados da World Society for the Protection of Animals(WSPA), segundo a qual são registrados 15 nascimentos de cães e 30 de gatos para cada humano no mundo. "O programa catarinense atende donos de cães de baixa renda e o animal é retirado de casa e levado de volta, sem custo. Até mesmo o número de acidentes com cães, seja atropelamentos ou até mesmo ataques contra as pessoas, foi reduzido após o trabalho de castração", disse ela. "Quebramos o tabu de que castração é ruim para o cachorro. O que fazemos em Florianópolis agrega a sociedade. Fazemos controle de zoonose com esterilização e o segredo do nosso sucesso é que isso é feito em ritmo constante", afirmou Maria das Graças. Reprodução/ SPAC

Reprodução

Cão abandonado em estado de inanição

Segundo ela, a média de 25 cirurgias por dia é o número de procedimentos indicado para uma população de 400 mil de habitantes. "Pretendemos aplicar microchip em todos os cães da cidade em até três anos e meio. Para isso, contamos com cerca de 400 voluntários, que cadastram os animais da cidade." Maria das Graças disse que não exagera quando diz que vai esterilizar todos os cães da cidade. "Temos uma fila de espera de 1,5 mil cães para a esterilização. E essa fila nunca diminui. Antes, nós que procurávamos os donos de cães para esse tipo de trabalho. Hoje, são eles que nos procuram." Ela afirmou que a população está consciente da importância do controle de zoonoses. "Os cães que circulam na cidade têm donos e são identificados."

Rosana Gnipper - Penso que muito mais do que origem psicológica para a violência contra os animais, o problema é mais de ordem moral e social, do que exatamente de patologias. A visão de mundo das pessoas determina muito mais seu comportamento do que uma questão de personalidade. Quando se tem o ser humano como centro (visão antropocêntrica) e tudo o que está à sua volta tido como recurso a ser utilizado a seu favor, então os valores que os outros seres têm para as pessoas é muito diferente do valor que se tem quando a vida é colocada como centro, independente da forma que assume. Quando as pessoas têm a visão de mundo antropocêntrica um dos maiores preconceitos que as acompanha é o especismo, ou seja, uma espécie é mais privilegiada em termos de direitos do que a outra. Preconceito que faz com que aquele que não é tido como sujeito de direitos, seja visto como ‘com aquele pode ser feito qualquer coisa, inclusive ser violentado, maltratado, subjugado’. Conexão Pet - Por que as pessoas tendem a classificar o sofrimento dos animais como menor ou menos importante que o humano? Rosana Gnipper - Pela visão de mundo antropocêntrica. Quem são os animais para a maioria das pessoas, inclusive para pessoas ligadas à defesa dos animais? São seres com os quais comArquivo Pessoal

Violência é de ordem moral ou psicológica? Para tentar entender um pouco mais sobre as causas dessa covardia contra os animais, Conexão Pet conversou com Rosana Gnipper, psicóloga e vice-presidente estadual da ONG Ecoforça no Paraná.

Cadela pitchulla resgata em Curitiba após muitos maus tratos

Conexão Pet - Pode-se dizer que há alguma origem psicológica para a violência contra os animais?

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partilhamos a existência, mas estão aí para tirarmos algum proveito, quer seja para nos alimentarmos de seus cadáveres, para nos vestirmos com parte de seus corpos, para nos divertirmos, para nosso prazer em tê-los como companhia, para termos segurança no uso de produtos que previamente foram testados em animais para nossa garantia e conforto etc. A grande maioria dos protetores de animais têm compaixão para com a espécie que lhe é mais próxima, ou seja, os domésticos, particularmente cães e gatos. E não pensam duas vezes antes de atacar retalhos de corpos de outros animais que tiveram uma vida miserável, além de uma morte cruel e violenta. Isso porque acreditam que aquelas espécies de animais estão aí para servirem de alimento. Ignoram o fato deles também terem uma vida própria, portanto têm interesse em manter sua vida e dignidade preservadas. Em primeiro lugar o ser humano... depois os outros seres. Essas pessoas não acham que estes animais sofrem? Sim, acredito que sim. Mas o não sofrimento dos humanos pesa mais na balança. E o prazer humano está acima de muitas questões que o bom senso nos aponta e que não queremos obedecê-lo. Conexão Pet - Há alguma forma eficaz de conscientizar as pessoas sobre as necessidades dos animais? Rosana Gnipper - Não se conscientiza ninguém... a tomada de consciência é algo que vem de dentro para fora e não o contrário...não se enfia consciência dentro das pessoas. O que se pode fazer é sensibilizar as pessoas para determinados assuntos, temas ou necessidades. Daí o processo de conscientização é dela, da própria pessoa. Vejo que cada um de nós, que pretende sensibilizar uma pessoa sobre as necessidades e direitos dos animais, contraponto a idéia comum de que somente os humanos têm direitos, deve dar o exemplo em si mesmo. Como sensibilizar uma pessoa sobre a necessidade de se preservar a vida e liberdade de um animal quando nos alimentamos deles, por exemplo? A frase atribuída a Mahatma Gandhi “seja em você mesmo a

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mudança que pretende ver no mundo” acho que vem bem a calhar para essa resposta. Porém, tentando responder de forma mais prática, uma das maneiras com que se pode sensibilizar as pessoas é divulgando informações. Por exemplo, mostrar que um animal que nasceu com asas deve voar e não viver preso em gaiolas, não importando o tamanho desta gaiola, já que ele livre teria o céu todo como sua morada e poderia escolher onde pousar, onde dormir, onde e como encontrar seu alimento. Mostrar que, não importa o quão bem um animal pode estar sendo tratado uma vez que sua morte será certa, porque o trato melhor é somente um ingrediente que agrega mais valor ao animal, já tido como um produto de mercado, bastante cobiçado. Penso também que uma forma importante de valorizarmos um animal é não lhe colocar nenhum atributo humano, não humanizar os animais, mesmo os mais próximos. Fantasiar um animal é ridicularizá-lo, mesmo que todos achem bonitinho. Não há nada de lindo numa subjugação. A intenção pode não ser essa, mas tornar os animais uma extensão humana é subjugá-lo em seus direitos de ser apenas o que é... um animal, com suas peculiaridades, com suas necessidades, com seus instintos e, principalmente com seus direito a ser tratado com respeito. Conexão Pet - Há algum estudo que indique que quem comete violência contra animais é mais suscetível a fazê-lo também com seres humanos? Rosana Gnipper - Sim, há. A Humane Society of the United States (HSUS) realizou um estudo em 2.000, nos Estados Unidos, a partir de 1.624 casos de crueldade contra animais, cujas fontes foram casos divulgados pela mídia e também de associações protetoras de animais. Destes, 922 envolviam violência intencional e 504 eram casos de extrema negligência. A pesquisa mostrou que um quarto de todos os casos de violência intencional envolvia, de alguma forma, também a violência familiar, sendo que a violência doméstica foi a mais reportada, seguida por abusos contra crianças e idosos. Em 1995 pesquisadores entrevistaram uma pequena amostra de vítimas de

violência doméstica que procuravam abrigo em Utah e descobriram que 71 % das que tinham animais de estimação receberam ameaças de seus agressores maltratarem ou matarem os animais da família. Estudos mais completos em 1997 e 2000, nos EUA e Canadá, corroboraram essas descobertas e examinaram o efeito que essas ameaças têm no sentido de evitar que a vítima saia dessa relação familiar abusiva. Pesquisas relacionadas a esses estudos revelam que mais de 20% das vítimas de violência doméstica afirmam terem adiado sair de uma relação afetiva abusiva, temendo a segurança dos animais de estimação. Similar aos casos de violência doméstica, os que abusam de crianças frequentemente o fazem com animais para exercitar seu poder de controle sobre a criança. Em alguns casos forçam crianças a atos sexuais com animais ou exigem que elas matem o bicho de estimação favorito, a fim de chantageá-las para que mantenham os abusos como um segredo de família. Geralmente apenas a ameaça de machucar um animal da criança é suficiente para fazer com que ela se cale em relação às agressões que sofre. Um estudo realizado em 1983 referente ao New Jersey Division of Youth and Family Services for Child Abuse descobriu que 88% das famílias que têm animais de estimação com histórico de abuso físico, pelo menos uma pessoa cometeu crueldade contra animais. Em 2/3 dos casos o agressor é um dos pais. Entretanto em 1/3 as próprias crianças se transformam em agressores, muitas vezes imitando a violência que viram ou experimentaram, usando o animal como a vítima. Esses dados foram extraídos do site da Humane Society of the United States (HSUS).

Qual é a nossa parte nisso tudo? Quando observarmos alguma situação abusiva contra os animais, não devemos nos calar. Violência contra animais é crime! Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e

Reprodução/ IBAMA Recife

Macaquinha triste atrás das grades

lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 "Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos", da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la. Se houver demora ou omissão, entre em contato com o Ministério Publico ESTADUAL - Procuradoria de Meio Ambiente e Minorias. Envie uma carta registrada descrevendo a situação do animal, o Distrito Policial e o nome do delegado que o atendeu. Você também pode enviar fax ou ir pessoalmente ao MP. Não é necessário advogado. Caso o agressor seja indiciado ele perderá a condição de réu primário, isto é, terá sua "ficha suja". O atestado de antecedentes criminais também é usado como documento para ingresso em cargo público e empresas que exigem saber do passado do interessado na vaga, poderão recusar o candidato à vaga, na evidência de um ato criminoso. É importante também evidenciar suas posições e fazer o possível para que as pessoas tomem conhecimento do sofrimento causado aos animais pelos seres humanos. Muitas vezes as pessoas não se posicionam por falta de conhecimento. Lembre-se que somos os porta-vozes daqueles que não podem falar em causa própria.

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Celebridades do bem Famosos a favor da causa animal Nesta edição, damos início a uma nova coluna na revista Conexão Pet: Celebridades do Bem. Vamos descobrir que famosos amam animais e se empenham na luta para protegêlos. Não basta ser celebridade, tem que participar!

Alicia Silverstone A atriz norte-americana, famosa por seu papel no filme “As Patricinhas de Beverly Hills” é uma vegana convicta e já fez até campanha para a PETA (People for Ethical Treatment of Animals). Alicia lançou um livro intitulado “The Kind Diet” (“A Dieta Gentil”) e afirmou que desde ter se tornado vegana asmas, acne e insônia são problemas que ela não conhece. Sobre a sua dieta, ela diz: “Tomei essa decisão por razões políticas e morais, achando que iria fazer um grande sacrifício, mas que era absolutamente necessário. Não vou mais contribuir para a violência neste mundo”.

A apresentadora Luisa Mell é conhecida por seu amor aos animais, tanto que apresentou um programa chamado “Late Show”, na Rede TV, onde havia muitas denúncias contra maus tratos a animais. Luísa é vegetariana e engajada em várias causas em prol dos animais. Ela chegou a lançar um CD intitulado “Festa na Floresta”, com a participação de vários artistas, cuja renda é revertida para a castração de cães e gatos abandonados.

Rita Lee

Kellan Lutz Kellan Lutz tornou-se conhecido internacionalmente por seu papel de Emmet, na série de filmes “Crepúsculo”, e mostra que só tira sangue dos animais na ficção. Na vida real, Lutz é um apaixonado por cães, tendo adotado dois cães Kevin e Kola e se declara um apaixonado por vira-latas: “Eu adoro Vira-Latas. Acho que são mais saudáveis. Há surpreendemente muitos animais em abrigos. É triste sabendo que eles sofrem eutanásia… e há muito que ser pode fazer. Castre seus animais para isso nunca acontecer.” O ator leva tão a sério a adoção que estrelou uma campanha para a PETA. 28

Luísa Mell

A roqueira Rita Lee é conhecida por suas músicas de grande sucesso, mas também por seu amor aos animais. Sempre que há uma oportunidade, Rita pronuncia-se publicamente contra o rodeio: “Rodeio é um vergonhoso lixo cultural norte-americano onde os animais são submetidos às mais cruéis torturas”, afirma a cantora. Além disso, ela mora no meio do mato – como a própria afirma – cercada de muitos animais.

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Celebridades do bem Famosos a favor da causa animal Nesta edição, damos início a uma nova coluna na revista Conexão Pet: Celebridades do Bem. Vamos descobrir que famosos amam animais e se empenham na luta para protegêlos. Não basta ser celebridade, tem que participar!

Alicia Silverstone A atriz norte-americana, famosa por seu papel no filme “As Patricinhas de Beverly Hills” é uma vegana convicta e já fez até campanha para a PETA (People for Ethical Treatment of Animals). Alicia lançou um livro intitulado “The Kind Diet” (“A Dieta Gentil”) e afirmou que desde ter se tornado vegana asmas, acne e insônia são problemas que ela não conhece. Sobre a sua dieta, ela diz: “Tomei essa decisão por razões políticas e morais, achando que iria fazer um grande sacrifício, mas que era absolutamente necessário. Não vou mais contribuir para a violência neste mundo”.

A apresentadora Luisa Mell é conhecida por seu amor aos animais, tanto que apresentou um programa chamado “Late Show”, na Rede TV, onde havia muitas denúncias contra maus tratos a animais. Luísa é vegetariana e engajada em várias causas em prol dos animais. Ela chegou a lançar um CD intitulado “Festa na Floresta”, com a participação de vários artistas, cuja renda é revertida para a castração de cães e gatos abandonados.

Rita Lee

Kellan Lutz Kellan Lutz tornou-se conhecido internacionalmente por seu papel de Emmet, na série de filmes “Crepúsculo”, e mostra que só tira sangue dos animais na ficção. Na vida real, Lutz é um apaixonado por cães, tendo adotado dois cães Kevin e Kola e se declara um apaixonado por vira-latas: “Eu adoro Vira-Latas. Acho que são mais saudáveis. Há surpreendemente muitos animais em abrigos. É triste sabendo que eles sofrem eutanásia… e há muito que ser pode fazer. Castre seus animais para isso nunca acontecer.” O ator leva tão a sério a adoção que estrelou uma campanha para a PETA. 28

Luísa Mell

A roqueira Rita Lee é conhecida por suas músicas de grande sucesso, mas também por seu amor aos animais. Sempre que há uma oportunidade, Rita pronuncia-se publicamente contra o rodeio: “Rodeio é um vergonhoso lixo cultural norte-americano onde os animais são submetidos às mais cruéis torturas”, afirma a cantora. Além disso, ela mora no meio do mato – como a própria afirma – cercada de muitos animais.

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Trabalho Pet

Olhos de Quatro Patas

Deficientes visuais têm a vida facilitada com os cães-guia. Mas sua formação ainda é escassa no Brasil

Quem nunca ouviu falar de cães-guia? O assunto certamente não é novidade, mas o que poucas pessoas sabem é que o “serviço” torna-se pouco acessível à maioria dos deficientes visuais pelo fato de que os cães são treinados no exterior. No Brasil, duas organizações não governamentais lutam para que mais pessoas tenham acesso à companhia de um cão-guia: Em São Paulo, o Íris, e no Rio de Janeiro, o Cão Guia Brasil. Os dois projetos recebem ajuda da iniciativa privada e de pessoas físicas, que podem ser voluntárias ou fazer doações em dinheiro. O Íris conta com as empresas TAM e Purina Pro Plan como patrocinadoras. Um fato importante a ser destacado é que os cães-guia são doados aos deficientes visuais, é uma regra da federação internacional das escolas de cães-guia. Mas o treinamento gera um custo muito alto com alimentação, treinadores e cuidados veterinários. “Diria que o maior obstáculo para

a formação de cães-guia no Brasil é o investimento financeiro. Além disso, precisamos de voluntários que se disponham a ficar com eles no primeiro ano de vida, levando-os para passear, tendo contato com pessoas e outros cães e ensinando-os o comportamento correto dentro de casa”, explica Thays Martinez, presidente do Íris. Geralmente vemos goldens retrievers e labradores na função de guias, mas os treinadores destacam que existem mais de 20 raças aptas ao trabalho, inclusive os SRD (sem raça definida) desde que possuam o temperamento e altura adequados. O treinamento para um cão-guia vai até o totó ter um ano e meio a dois. Quando está pronto para ser entregue ao deficiente visual, é preciso ser feita uma adaptação: “Uma das fases mais importantes é essa, da junção do time. A adaptação dura entre três e cinco semanas, e é importante ressaltar que cão e deficiente visual devem ter

temperamento, aspectos físicos e uma rotina que se encaixem. É feita uma análise meticulosa para que tudo dê certo”, ressalta Thays. Depois que todo o trabalho já foi feito e o “par ideal” foi formado tudo são flores, certo? Nem sempre. Isso porque frequentemente encontramos no caminho pessoas eufóricas com a presença de um cãozinho bonito e prestativo. É sempre bom dar carinho aos pets, mas no caso dos cães-guia, algumas regras devem ser respeitadas: “Em geral não devemos interromper o caminhar do cão, porém quando o animal estiver parado devemos sempre perguntar à pessoa cega que estiver com ele se podemos mexer nele naquele momento. Sempre temos que respeitar a orientação recebida”, afirma George Thomaz Harrison, Diretor da ONG Cão Guia Brasil. Além do respeito à mobilidade e independência do deficiente visual, Thays Martinez ainda destaca outro risco de distrair os cães-guia em sua função: “O animal fica bastante concentrado em seu trabalho, então se ele estiver conduzindo a pessoa, é preciso não desviar o cão de seu foco, pois isso pode até mesmo provocar acidentes”.

Assim como nós, os cães trabalhadores também têm seu período de serviço: de nove a onze anos. Depois da suada contribuição à sociedade, tornam-se animais de estimação dos próprios “companheiros de trabalho” ou de pessoas próximas. Caso nenhuma das alternativas seja possível, Thays destaca que a ONG Íris fica com o animal até encaminhá-lo para um lar definitivo. Além de guiar os deficientes visuais por ruas, estabelecimentos comerciais e transporte público, os cães dão amor e oferecem uma espécie de ligação com o mundo ao redor: “O cão é um ótimo meio de socializar até mesmo as pessoas, que podem se aproximar para fazer perguntas sobre o cão ou acariciá-lo, desde que observados os cuidados já citados”, diz Thays. O Brasil começa a caminhar na direção da formação de cães-guia, mas é preciso mais investimento e pessoas dispostas a dar um lar temporário no primeiro ano de vida dos cães. Só no Instituto Íris a lista de espera chega a duas mil pessoas. Para auxiliar o trabalho das ONGs, basta acessar www.iris.org.br e www.caoguiabrasil.com.br.

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MANUAL DE ETIQUETA Encontrando um Cão-Guia É tentador acariciar um cão-guia, mas lembre-se que este cão é responsável por conduzir alguém que não pode ver. O cão nunca deve ser distraído desse dever. A segurança de uma pessoa pode depender do alerta e da concentração do cão. Não tem problema em perguntar se você pode acariciar seu guia. Muitos usuários gostam de socializar seus cães quando têm tempo. A responsabilidade principal do cão é o seu sócio cego, e é importante que o cão não seja solicitado enquanto trabalha. Nunca deve ser fornecido alimento ou outras coisas que distraiam um cão-guia. Os cães são alimentados em uma programação e seguem uma dieta específica a fim de mantêlos em condições melhores. Mesmo os insignificantes desvios de sua rotina podem interromper sua alimentação regular, substituir rotinas e incomodar seus alimentadores. Os cães-guia são treinados para resistir ofertas de alimentos, e assim visitar restaurantes sem ficar implorando por comida. Alimentar desejos a um cão-guia enfraquece este treinamento. Embora os cães-guia não possam ler sinais de tráfego, são responsáveis em ajudar seus condutores a cruzarem a rua com segurança. Chamar um cão-guia ou intencional-

mente obstruir seu trajeto pode ser perigoso para a dupla, porque poderia quebrar a concentração do cão em seu trabalho. Escutar o fluxo de tráfego tornou-se mais difícil para os treinadores de cão-guia devido a motores mais quietos e ao número crescente dos carros na rua. Por favor, não buzine nem o chame de seu carro para sinalizar quando é seguro cruzar, pois pode ser que o distraia e desconcentre. Seja especialmente cuidadoso com os pedestres nos cruzamentos e quando o farol ficar vermelho. A vida do cão-guia não é somente trabalho. Quando não estão com a coleira, são tratados da mesma maneira que animais de estimação. Entretanto, para a própria segurança deles, são permitidos brincar com brinquedos específicos. Por favor, não lhes ofereça brinquedos sem primeiramente pedir a permissão do seu dono ou treinador. De tempos em tempos, um cão-guia comete erros e deve ser corrigido a fim de manter seu treinamento. Esta correção geralmente envolve uma punição verbal juntamente com uma correção de correia. Os treinadores utilizam métodos apropriados de correção para serem usados com seus cães, por isso não estranhe estas pequenas punições. Fonte: Íris

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Deficientes visuais têm a vida facilitada com os cães-guia. Mas sua formação ainda é escassa no Brasil

Quem nunca ouviu falar de cães-guia? O assunto certamente não é novidade, mas o que poucas pessoas sabem é que o “serviço” torna-se pouco acessível à maioria dos deficientes visuais pelo fato de que os cães são treinados no exterior. No Brasil, duas organizações não governamentais lutam para que mais pessoas tenham acesso à companhia de um cão-guia: Em São Paulo, o Íris, e no Rio de Janeiro, o Cão Guia Brasil. Os dois projetos recebem ajuda da iniciativa privada e de pessoas físicas, que podem ser voluntárias ou fazer doações em dinheiro. O Íris conta com as empresas TAM e Purina Pro Plan como patrocinadoras. Um fato importante a ser destacado é que os cães-guia são doados aos deficientes visuais, é uma regra da federação internacional das escolas de cães-guia. Mas o treinamento gera um custo muito alto com alimentação, treinadores e cuidados veterinários. “Diria que o maior obstáculo para

a formação de cães-guia no Brasil é o investimento financeiro. Além disso, precisamos de voluntários que se disponham a ficar com eles no primeiro ano de vida, levando-os para passear, tendo contato com pessoas e outros cães e ensinando-os o comportamento correto dentro de casa”, explica Thays Martinez, presidente do Íris. Geralmente vemos goldens retrievers e labradores na função de guias, mas os treinadores destacam que existem mais de 20 raças aptas ao trabalho, inclusive os SRD (sem raça definida) desde que possuam o temperamento e altura adequados. O treinamento para um cão-guia vai até o totó ter um ano e meio a dois. Quando está pronto para ser entregue ao deficiente visual, é preciso ser feita uma adaptação: “Uma das fases mais importantes é essa, da junção do time. A adaptação dura entre três e cinco semanas, e é importante ressaltar que cão e deficiente visual devem ter

temperamento, aspectos físicos e uma rotina que se encaixem. É feita uma análise meticulosa para que tudo dê certo”, ressalta Thays. Depois que todo o trabalho já foi feito e o “par ideal” foi formado tudo são flores, certo? Nem sempre. Isso porque frequentemente encontramos no caminho pessoas eufóricas com a presença de um cãozinho bonito e prestativo. É sempre bom dar carinho aos pets, mas no caso dos cães-guia, algumas regras devem ser respeitadas: “Em geral não devemos interromper o caminhar do cão, porém quando o animal estiver parado devemos sempre perguntar à pessoa cega que estiver com ele se podemos mexer nele naquele momento. Sempre temos que respeitar a orientação recebida”, afirma George Thomaz Harrison, Diretor da ONG Cão Guia Brasil. Além do respeito à mobilidade e independência do deficiente visual, Thays Martinez ainda destaca outro risco de distrair os cães-guia em sua função: “O animal fica bastante concentrado em seu trabalho, então se ele estiver conduzindo a pessoa, é preciso não desviar o cão de seu foco, pois isso pode até mesmo provocar acidentes”.

Assim como nós, os cães trabalhadores também têm seu período de serviço: de nove a onze anos. Depois da suada contribuição à sociedade, tornam-se animais de estimação dos próprios “companheiros de trabalho” ou de pessoas próximas. Caso nenhuma das alternativas seja possível, Thays destaca que a ONG Íris fica com o animal até encaminhá-lo para um lar definitivo. Além de guiar os deficientes visuais por ruas, estabelecimentos comerciais e transporte público, os cães dão amor e oferecem uma espécie de ligação com o mundo ao redor: “O cão é um ótimo meio de socializar até mesmo as pessoas, que podem se aproximar para fazer perguntas sobre o cão ou acariciá-lo, desde que observados os cuidados já citados”, diz Thays. O Brasil começa a caminhar na direção da formação de cães-guia, mas é preciso mais investimento e pessoas dispostas a dar um lar temporário no primeiro ano de vida dos cães. Só no Instituto Íris a lista de espera chega a duas mil pessoas. Para auxiliar o trabalho das ONGs, basta acessar www.iris.org.br e www.caoguiabrasil.com.br.

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MANUAL DE ETIQUETA Encontrando um Cão-Guia É tentador acariciar um cão-guia, mas lembre-se que este cão é responsável por conduzir alguém que não pode ver. O cão nunca deve ser distraído desse dever. A segurança de uma pessoa pode depender do alerta e da concentração do cão. Não tem problema em perguntar se você pode acariciar seu guia. Muitos usuários gostam de socializar seus cães quando têm tempo. A responsabilidade principal do cão é o seu sócio cego, e é importante que o cão não seja solicitado enquanto trabalha. Nunca deve ser fornecido alimento ou outras coisas que distraiam um cão-guia. Os cães são alimentados em uma programação e seguem uma dieta específica a fim de mantêlos em condições melhores. Mesmo os insignificantes desvios de sua rotina podem interromper sua alimentação regular, substituir rotinas e incomodar seus alimentadores. Os cães-guia são treinados para resistir ofertas de alimentos, e assim visitar restaurantes sem ficar implorando por comida. Alimentar desejos a um cão-guia enfraquece este treinamento. Embora os cães-guia não possam ler sinais de tráfego, são responsáveis em ajudar seus condutores a cruzarem a rua com segurança. Chamar um cão-guia ou intencional-

mente obstruir seu trajeto pode ser perigoso para a dupla, porque poderia quebrar a concentração do cão em seu trabalho. Escutar o fluxo de tráfego tornou-se mais difícil para os treinadores de cão-guia devido a motores mais quietos e ao número crescente dos carros na rua. Por favor, não buzine nem o chame de seu carro para sinalizar quando é seguro cruzar, pois pode ser que o distraia e desconcentre. Seja especialmente cuidadoso com os pedestres nos cruzamentos e quando o farol ficar vermelho. A vida do cão-guia não é somente trabalho. Quando não estão com a coleira, são tratados da mesma maneira que animais de estimação. Entretanto, para a própria segurança deles, são permitidos brincar com brinquedos específicos. Por favor, não lhes ofereça brinquedos sem primeiramente pedir a permissão do seu dono ou treinador. De tempos em tempos, um cão-guia comete erros e deve ser corrigido a fim de manter seu treinamento. Esta correção geralmente envolve uma punição verbal juntamente com uma correção de correia. Os treinadores utilizam métodos apropriados de correção para serem usados com seus cães, por isso não estranhe estas pequenas punições. Fonte: Íris

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Olhos de Quatro Patas

Deficientes visuais têm a vida facilitada com os cães-guia. Mas sua formação ainda é escassa no Brasil

Quem nunca ouviu falar de cães-guia? O assunto certamente não é novidade, mas o que poucas pessoas sabem é que o “serviço” torna-se pouco acessível à maioria dos deficientes visuais pelo fato de que os cães são treinados no exterior. No Brasil, duas organizações não governamentais lutam para que mais pessoas tenham acesso à companhia de um cão-guia: Em São Paulo, o Íris, e no Rio de Janeiro, o Cão Guia Brasil. Os dois projetos recebem ajuda da iniciativa privada e de pessoas físicas, que podem ser voluntárias ou fazer doações em dinheiro. O Íris conta com as empresas TAM e Purina Pro Plan como patrocinadoras. Um fato importante a ser destacado é que os cães-guia são doados aos deficientes visuais, é uma regra da federação internacional das escolas de cães-guia. Mas o treinamento gera um custo muito alto com alimentação, treinadores e cuidados veterinários. “Diria que o maior obstáculo para

a formação de cães-guia no Brasil é o investimento financeiro. Além disso, precisamos de voluntários que se disponham a ficar com eles no primeiro ano de vida, levando-os para passear, tendo contato com pessoas e outros cães e ensinando-os o comportamento correto dentro de casa”, explica Thays Martinez, presidente do Íris. Geralmente vemos goldens retrievers e labradores na função de guias, mas os treinadores destacam que existem mais de 20 raças aptas ao trabalho, inclusive os SRD (sem raça definida) desde que possuam o temperamento e altura adequados. O treinamento para um cão-guia vai até o totó ter um ano e meio a dois. Quando está pronto para ser entregue ao deficiente visual, é preciso ser feita uma adaptação: “Uma das fases mais importantes é essa, da junção do time. A adaptação dura entre três e cinco semanas, e é importante ressaltar que cão e deficiente visual devem ter

temperamento, aspectos físicos e uma rotina que se encaixem. É feita uma análise meticulosa para que tudo dê certo”, ressalta Thays. Depois que todo o trabalho já foi feito e o “par ideal” foi formado tudo são flores, certo? Nem sempre. Isso porque frequentemente encontramos no caminho pessoas eufóricas com a presença de um cãozinho bonito e prestativo. É sempre bom dar carinho aos pets, mas no caso dos cães-guia, algumas regras devem ser respeitadas: “Em geral não devemos interromper o caminhar do cão, porém quando o animal estiver parado devemos sempre perguntar à pessoa cega que estiver com ele se podemos mexer nele naquele momento. Sempre temos que respeitar a orientação recebida”, afirma George Thomaz Harrison, Diretor da ONG Cão Guia Brasil. Além do respeito à mobilidade e independência do deficiente visual, Thays Martinez ainda destaca outro risco de distrair os cães-guia em sua função: “O animal fica bastante concentrado em seu trabalho, então se ele estiver conduzindo a pessoa, é preciso não desviar o cão de seu foco, pois isso pode até mesmo provocar acidentes”.

Assim como nós, os cães trabalhadores também têm seu período de serviço: de nove a onze anos. Depois da suada contribuição à sociedade, tornam-se animais de estimação dos próprios “companheiros de trabalho” ou de pessoas próximas. Caso nenhuma das alternativas seja possível, Thays destaca que a ONG Íris fica com o animal até encaminhá-lo para um lar definitivo. Além de guiar os deficientes visuais por ruas, estabelecimentos comerciais e transporte público, os cães dão amor e oferecem uma espécie de ligação com o mundo ao redor: “O cão é um ótimo meio de socializar até mesmo as pessoas, que podem se aproximar para fazer perguntas sobre o cão ou acariciá-lo, desde que observados os cuidados já citados”, diz Thays. O Brasil começa a caminhar na direção da formação de cães-guia, mas é preciso mais investimento e pessoas dispostas a dar um lar temporário no primeiro ano de vida dos cães. Só no Instituto Íris a lista de espera chega a duas mil pessoas. Para auxiliar o trabalho das ONGs, basta acessar www.iris.org.br e www.caoguiabrasil.com.br.

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MANUAL DE ETIQUETA Encontrando um Cão-Guia É tentador acariciar um cão-guia, mas lembre-se que este cão é responsável por conduzir alguém que não pode ver. O cão nunca deve ser distraído desse dever. A segurança de uma pessoa pode depender do alerta e da concentração do cão. Não tem problema em perguntar se você pode acariciar seu guia. Muitos usuários gostam de socializar seus cães quando têm tempo. A responsabilidade principal do cão é o seu sócio cego, e é importante que o cão não seja solicitado enquanto trabalha. Nunca deve ser fornecido alimento ou outras coisas que distraiam um cão-guia. Os cães são alimentados em uma programação e seguem uma dieta específica a fim de mantêlos em condições melhores. Mesmo os insignificantes desvios de sua rotina podem interromper sua alimentação regular, substituir rotinas e incomodar seus alimentadores. Os cães-guia são treinados para resistir ofertas de alimentos, e assim visitar restaurantes sem ficar implorando por comida. Alimentar desejos a um cão-guia enfraquece este treinamento. Embora os cães-guia não possam ler sinais de tráfego, são responsáveis em ajudar seus condutores a cruzarem a rua com segurança. Chamar um cão-guia ou intencional-

mente obstruir seu trajeto pode ser perigoso para a dupla, porque poderia quebrar a concentração do cão em seu trabalho. Escutar o fluxo de tráfego tornou-se mais difícil para os treinadores de cão-guia devido a motores mais quietos e ao número crescente dos carros na rua. Por favor, não buzine nem o chame de seu carro para sinalizar quando é seguro cruzar, pois pode ser que o distraia e desconcentre. Seja especialmente cuidadoso com os pedestres nos cruzamentos e quando o farol ficar vermelho. A vida do cão-guia não é somente trabalho. Quando não estão com a coleira, são tratados da mesma maneira que animais de estimação. Entretanto, para a própria segurança deles, são permitidos brincar com brinquedos específicos. Por favor, não lhes ofereça brinquedos sem primeiramente pedir a permissão do seu dono ou treinador. De tempos em tempos, um cão-guia comete erros e deve ser corrigido a fim de manter seu treinamento. Esta correção geralmente envolve uma punição verbal juntamente com uma correção de correia. Os treinadores utilizam métodos apropriados de correção para serem usados com seus cães, por isso não estranhe estas pequenas punições. Fonte: Íris

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Trabalho Pet

Olhos de Quatro Patas

Deficientes visuais têm a vida facilitada com os cães-guia. Mas sua formação ainda é escassa no Brasil

Quem nunca ouviu falar de cães-guia? O assunto certamente não é novidade, mas o que poucas pessoas sabem é que o “serviço” torna-se pouco acessível à maioria dos deficientes visuais pelo fato de que os cães são treinados no exterior. No Brasil, duas organizações não governamentais lutam para que mais pessoas tenham acesso à companhia de um cão-guia: Em São Paulo, o Íris, e no Rio de Janeiro, o Cão Guia Brasil. Os dois projetos recebem ajuda da iniciativa privada e de pessoas físicas, que podem ser voluntárias ou fazer doações em dinheiro. O Íris conta com as empresas TAM e Purina Pro Plan como patrocinadoras. Um fato importante a ser destacado é que os cães-guia são doados aos deficientes visuais, é uma regra da federação internacional das escolas de cães-guia. Mas o treinamento gera um custo muito alto com alimentação, treinadores e cuidados veterinários. “Diria que o maior obstáculo para

a formação de cães-guia no Brasil é o investimento financeiro. Além disso, precisamos de voluntários que se disponham a ficar com eles no primeiro ano de vida, levando-os para passear, tendo contato com pessoas e outros cães e ensinando-os o comportamento correto dentro de casa”, explica Thays Martinez, presidente do Íris. Geralmente vemos goldens retrievers e labradores na função de guias, mas os treinadores destacam que existem mais de 20 raças aptas ao trabalho, inclusive os SRD (sem raça definida) desde que possuam o temperamento e altura adequados. O treinamento para um cão-guia vai até o totó ter um ano e meio a dois. Quando está pronto para ser entregue ao deficiente visual, é preciso ser feita uma adaptação: “Uma das fases mais importantes é essa, da junção do time. A adaptação dura entre três e cinco semanas, e é importante ressaltar que cão e deficiente visual devem ter

temperamento, aspectos físicos e uma rotina que se encaixem. É feita uma análise meticulosa para que tudo dê certo”, ressalta Thays. Depois que todo o trabalho já foi feito e o “par ideal” foi formado tudo são flores, certo? Nem sempre. Isso porque frequentemente encontramos no caminho pessoas eufóricas com a presença de um cãozinho bonito e prestativo. É sempre bom dar carinho aos pets, mas no caso dos cães-guia, algumas regras devem ser respeitadas: “Em geral não devemos interromper o caminhar do cão, porém quando o animal estiver parado devemos sempre perguntar à pessoa cega que estiver com ele se podemos mexer nele naquele momento. Sempre temos que respeitar a orientação recebida”, afirma George Thomaz Harrison, Diretor da ONG Cão Guia Brasil. Além do respeito à mobilidade e independência do deficiente visual, Thays Martinez ainda destaca outro risco de distrair os cães-guia em sua função: “O animal fica bastante concentrado em seu trabalho, então se ele estiver conduzindo a pessoa, é preciso não desviar o cão de seu foco, pois isso pode até mesmo provocar acidentes”.

Assim como nós, os cães trabalhadores também têm seu período de serviço: de nove a onze anos. Depois da suada contribuição à sociedade, tornam-se animais de estimação dos próprios “companheiros de trabalho” ou de pessoas próximas. Caso nenhuma das alternativas seja possível, Thays destaca que a ONG Íris fica com o animal até encaminhá-lo para um lar definitivo. Além de guiar os deficientes visuais por ruas, estabelecimentos comerciais e transporte público, os cães dão amor e oferecem uma espécie de ligação com o mundo ao redor: “O cão é um ótimo meio de socializar até mesmo as pessoas, que podem se aproximar para fazer perguntas sobre o cão ou acariciá-lo, desde que observados os cuidados já citados”, diz Thays. O Brasil começa a caminhar na direção da formação de cães-guia, mas é preciso mais investimento e pessoas dispostas a dar um lar temporário no primeiro ano de vida dos cães. Só no Instituto Íris a lista de espera chega a duas mil pessoas. Para auxiliar o trabalho das ONGs, basta acessar www.iris.org.br e www.caoguiabrasil.com.br.

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MANUAL DE ETIQUETA Encontrando um Cão-Guia É tentador acariciar um cão-guia, mas lembre-se que este cão é responsável por conduzir alguém que não pode ver. O cão nunca deve ser distraído desse dever. A segurança de uma pessoa pode depender do alerta e da concentração do cão. Não tem problema em perguntar se você pode acariciar seu guia. Muitos usuários gostam de socializar seus cães quando têm tempo. A responsabilidade principal do cão é o seu sócio cego, e é importante que o cão não seja solicitado enquanto trabalha. Nunca deve ser fornecido alimento ou outras coisas que distraiam um cão-guia. Os cães são alimentados em uma programação e seguem uma dieta específica a fim de mantêlos em condições melhores. Mesmo os insignificantes desvios de sua rotina podem interromper sua alimentação regular, substituir rotinas e incomodar seus alimentadores. Os cães-guia são treinados para resistir ofertas de alimentos, e assim visitar restaurantes sem ficar implorando por comida. Alimentar desejos a um cão-guia enfraquece este treinamento. Embora os cães-guia não possam ler sinais de tráfego, são responsáveis em ajudar seus condutores a cruzarem a rua com segurança. Chamar um cão-guia ou intencional-

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Vitrine Pet Assento para cães TransPet

Destinado ao transporte em carros de cães pequenos e médios até 10Kg. Adaptável a maioria dos assentos de automóveis. Para ser utilizado em coleiras de modelo peitoral. A trava para a coleira é regulável. Proporciona ao cão um passeio agradável e aos donos um transporte mais seguro. Altura regulável, se adapta a maioria dos cães até 10 Kg. R$ 96,00

Cata - Caca

O ato de coletar as fezes de seu pet é sim uma questão de educação e higiene, e também um conceito social e ecologicamente correto. O produto vem em uma embalagem contendo 1 porta Bobina e 2 Bobinas Plásticas com 15 sacos de coleta em cada Bobina. R$ 18,00

Cat Ball Brinquedo para Gatos

Em material plástico consiste em um circulo com uma bolinha dentro. Seu gatinho poderá ver a bolinha, tocar a bolinha, escutar a bolinha correr, mas não conseguirá tira-la de dentro do círculo, em virtude disso ele ficará horas distraído e brincando com o Cat Ball. R$ 30,00

*Os produtos foram pesquisados na Pet E-Shop Virtual - www.pet-eshop.com.br e fazem parte de uma seleção jornalística, sem fins comerciais. Para formas de pagamento, frete e prazos de entrega, entrem em contato com o site, no endereço citado anteriormente.

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Sanitário Canino Postinho

Acompanha Refil Absorvente 60cm x 90cm. Cone de borracha com 50cm de altura. Indicado para cães do sexo masculino de portes pequeno ou médio. R$ 52,00

Cama MyPet tamanho P

Cama para pets acolchoada, bastante prática e confortável. Evita que os animais fiquem em contato com o solo. Cores modernas e design diferenciado. Dimensões: 59cm (comp) x 42cm (larg) x 30cm (alt). R$ 80,00

Bom Hálito para Cães e Gatos Menta ou Canela

Higieniza a Boca do Animal e Controla o Mau Hálito! Indicado para controlar o mau hálito decorrente do processo digestivo e higienizar a boca do animal, prolongando a vida dos dentes. Bom Hálito está à disposição do seu mascote nos sabores Menta ou Canela, é atóxico e tem sabor suave e agradável. R$ 17,00

Fluido Desembaraçador de Pêlos / Loção Higienizante Pet Society

O Fluido Desembaraçador de Pêlos Pet Society auxilia no desembaraço de pêlos e remoção de nós, proporcionando melhor deslizamento das rasqueadeiras, pentes e escovas, facilitando o trabalho de escovação. Serve também como Banho a Seco, pois higieniza e confere à pelagem um odor agradável. R$ 26,00 35


Vitrine Pet Assento para cães TransPet

Destinado ao transporte em carros de cães pequenos e médios até 10Kg. Adaptável a maioria dos assentos de automóveis. Para ser utilizado em coleiras de modelo peitoral. A trava para a coleira é regulável. Proporciona ao cão um passeio agradável e aos donos um transporte mais seguro. Altura regulável, se adapta a maioria dos cães até 10 Kg. R$ 96,00

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O ato de coletar as fezes de seu pet é sim uma questão de educação e higiene, e também um conceito social e ecologicamente correto. O produto vem em uma embalagem contendo 1 porta Bobina e 2 Bobinas Plásticas com 15 sacos de coleta em cada Bobina. R$ 18,00

Cat Ball Brinquedo para Gatos

Em material plástico consiste em um circulo com uma bolinha dentro. Seu gatinho poderá ver a bolinha, tocar a bolinha, escutar a bolinha correr, mas não conseguirá tira-la de dentro do círculo, em virtude disso ele ficará horas distraído e brincando com o Cat Ball. R$ 30,00

*Os produtos foram pesquisados na Pet E-Shop Virtual - www.pet-eshop.com.br e fazem parte de uma seleção jornalística, sem fins comerciais. Para formas de pagamento, frete e prazos de entrega, entrem em contato com o site, no endereço citado anteriormente.

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Sanitário Canino Postinho

Acompanha Refil Absorvente 60cm x 90cm. Cone de borracha com 50cm de altura. Indicado para cães do sexo masculino de portes pequeno ou médio. R$ 52,00

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Higieniza a Boca do Animal e Controla o Mau Hálito! Indicado para controlar o mau hálito decorrente do processo digestivo e higienizar a boca do animal, prolongando a vida dos dentes. Bom Hálito está à disposição do seu mascote nos sabores Menta ou Canela, é atóxico e tem sabor suave e agradável. R$ 17,00

Fluido Desembaraçador de Pêlos / Loção Higienizante Pet Society

O Fluido Desembaraçador de Pêlos Pet Society auxilia no desembaraço de pêlos e remoção de nós, proporcionando melhor deslizamento das rasqueadeiras, pentes e escovas, facilitando o trabalho de escovação. Serve também como Banho a Seco, pois higieniza e confere à pelagem um odor agradável. R$ 26,00 35


Feliz Dia

das Mães!

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Seja no mundo animal, ou no humano, o amor de mães e filhos sempre rende cenas bonitas e emocionantes. Para homenagear aquelas que dedicam suas vidas e amor aos filhos, Conexão Pet selecionou algumas imagens para homenagear as mães em seu mês. Às vezes, o amor materno acontece entre espécies diferentes, provando que esse sentimento não tem barreiras.

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Feliz Dia

das Mães!

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Seja no mundo animal, ou no humano, o amor de mães e filhos sempre rende cenas bonitas e emocionantes. Para homenagear aquelas que dedicam suas vidas e amor aos filhos, Conexão Pet selecionou algumas imagens para homenagear as mães em seu mês. Às vezes, o amor materno acontece entre espécies diferentes, provando que esse sentimento não tem barreiras.

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Entrevista Os melhores amigos dos animais

Conheça o trabalho da Best Friends, ONG norte-americana que deu origem a uma série de TV Por Vivian Lemos Talvez você nunca tenha ouvido falar na Best Friends Animal Society, uma ONG norteamericana, mas muitos brasileiros conhecem a série de TV “Vida de Cão - Dogtown” exibida pelo canal a cabo National Geographic. A série mostra o dia-a-dia dos treinadores para ressocializar cães com problemas comportamentais em um dos abrigos da associação. A Best Friends foi fundada em 1984 e tornou-se conhecida nos Estados Unidos durante o desastre provocado pelo furacão Katrina, em 2005, quando não poupou esforços para resgatar os animais vítimas da catástrofe. A organização atua com abrigos, grupos de resgate e tem membros em todo o território norte-americano que promovem a adoção de animais sem-teto, além de fornecer castração e educação aos seres humanos sobre a questão animal. O abrigo, mais conhecido como Santuário, fica no estado de Utah e é reconhecido por sua atuação não eutanásica. O local tem 3.700 acres e é famoso por ter sido palco de filmes western na década de 40. No paradisíaco cenário, abrigam cerca de 1700 animais, a maioria cães e gatos, mas cavalos, burros, coelhos, cabras e outros também se hospedam por lá. 38

A cada ano, eles recebem mais de 27 mil visitantes que fazem turismo e até mesmo participam do trabalho como voluntários. Atualmente, além de outras campanhas, estão engajados em não deixar mais nenhum animal sem teto nos Estados Unidos, com o slogan “No More Homeless Pets” (Chega de Animais sem Teto, em tradução livre). Para falar sobre todo o trabalho desenvolvido, Conexão Pet em revista ouviu John Polis, relaçõespúblicas da Best Friends: Conexão Pet – Gostaria de saber como funciona a campanha “Chega de Animais sem teto” e quais são seus objetivos? John Polis- A campanha é um tema constante em tudo que fazemos na Best Friends. Estamos trabalhando em alguns programas ao redor dos Estados Unidos que são destinados a melhorar a forma como nos relacionamos com os animais, com a esperança de que um dia não haja mais animais sem lar.

tuário é uma organização não governamental fundada em 1984. Somos apoiados por doações privadas de todo o mundo. Nosso orçamento anual é de aproximadamente 38 milhões de dólares. A área do santuário que hospeda os cães foi, por muitos anos, chamada de “Dog Town” (Cidade dos Cães). Assim, quando o National Geographic Channel nos procurou a respeito de um programa de TV sobre nosso trabalho com cães, o nome “Dog Town” foi escolhido. Conexão Pet - Vocês recebem algum tipo de apoio governamental? John Polis - Não. Conexão Pet- Como e quando foi criado o Santuário? John Polis – Nosso santuário foi fundado em 1984 por um grupo de 22 pessoas. Eles começaram resgatando cães que estavam “marcados para morrer”. Depois, fundaram um pedaço de terra com 3.700 acres onde o santuário é localizado. Nós também incorporamos 30.000 acres adicionais do U.S. Bureau of Land Management como uma espécie de área de reserva para nosso santuário.

Conexão Pet – Se um cão não é Conexão Pet – Como vocês adotado vocês o mantêm no mantêm seu abrigo e como abrigo? se tornou um programa de “A Best Friends, através de proJohn Polis – Todos os animais TV (“Dog Town”)? gramas nacionais, está determinada que vem para o Santuário da John Polis – Nosso sana recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz”.

Best Friends têm garantia de cuidado por toda a sua vida se não forem adotados. Conexão Pet Você acredita que a legislação animal é efetiva nos EUA? John Polis – Algumas leis sim, outras não. Por exemplo, a legislação que bane certos tipos de cães por sua raça. Achamos que é errada e não atinge aquilo que propõe. Encorajamos que mais e mais grupos de trabalho com animais acreditem que todo animal é merecedor de uma avaliação antes de determinar se são perigosos ou não. Em anos anteriores, cães eram mortos por causa de sua raça. A Best Friends, através de programas nacionais, está determinada a recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz. Conexão Pet - Vocês têm muitos abrigos para diferentes tipos de animais. Como lidam com uma estrutura tão grande? John Polis – Temos, aproximadamente, 400 empregados que trabalham juntos para o bem dos animais. Trabalhamos para ser bons gerentes do dinheiro que nos é dado, e estamos sempre cientes de que nossa primeira

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Fique Ligado

obrigação é com os animais. Nossos funcionários agem sob um guia de princípios que é “a bondade com os animais faz o mundo melhor para todos nós”. Temos um staff dedicado que trabalha, frequentemente, longas horas para o bem-estar dos animais – e o tratamento que os animais recebem aqui é de primeira classe.

O programa “Vida de Cão Dog Town” vai ao ar às terças e sextas, às 10:00, no National Geographic Channel.

Conexão Pet – Vocês têm algum plano fora dos Estados Unidos? Têm contato com outras organizações não governamentais? John Polis- Não temos planos concretos fora dos EUA e ocasionalmente damos um retorno rápido a pessoas de outros países para ajudar em resgates em caso de desastres naturais. Mantemos uma comunicação regular com muitos grupos nos Estados Unidos, incluindo a Humane Society dos Estados Unidos, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals e muitas outras.

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Entrevista Os melhores amigos dos animais

Conheça o trabalho da Best Friends, ONG norte-americana que deu origem a uma série de TV Por Vivian Lemos Talvez você nunca tenha ouvido falar na Best Friends Animal Society, uma ONG norteamericana, mas muitos brasileiros conhecem a série de TV “Vida de Cão - Dogtown” exibida pelo canal a cabo National Geographic. A série mostra o dia-a-dia dos treinadores para ressocializar cães com problemas comportamentais em um dos abrigos da associação. A Best Friends foi fundada em 1984 e tornou-se conhecida nos Estados Unidos durante o desastre provocado pelo furacão Katrina, em 2005, quando não poupou esforços para resgatar os animais vítimas da catástrofe. A organização atua com abrigos, grupos de resgate e tem membros em todo o território norte-americano que promovem a adoção de animais sem-teto, além de fornecer castração e educação aos seres humanos sobre a questão animal. O abrigo, mais conhecido como Santuário, fica no estado de Utah e é reconhecido por sua atuação não eutanásica. O local tem 3.700 acres e é famoso por ter sido palco de filmes western na década de 40. No paradisíaco cenário, abrigam cerca de 1700 animais, a maioria cães e gatos, mas cavalos, burros, coelhos, cabras e outros também se hospedam por lá. 38

A cada ano, eles recebem mais de 27 mil visitantes que fazem turismo e até mesmo participam do trabalho como voluntários. Atualmente, além de outras campanhas, estão engajados em não deixar mais nenhum animal sem teto nos Estados Unidos, com o slogan “No More Homeless Pets” (Chega de Animais sem Teto, em tradução livre). Para falar sobre todo o trabalho desenvolvido, Conexão Pet em revista ouviu John Polis, relaçõespúblicas da Best Friends: Conexão Pet – Gostaria de saber como funciona a campanha “Chega de Animais sem teto” e quais são seus objetivos? John Polis- A campanha é um tema constante em tudo que fazemos na Best Friends. Estamos trabalhando em alguns programas ao redor dos Estados Unidos que são destinados a melhorar a forma como nos relacionamos com os animais, com a esperança de que um dia não haja mais animais sem lar.

tuário é uma organização não governamental fundada em 1984. Somos apoiados por doações privadas de todo o mundo. Nosso orçamento anual é de aproximadamente 38 milhões de dólares. A área do santuário que hospeda os cães foi, por muitos anos, chamada de “Dog Town” (Cidade dos Cães). Assim, quando o National Geographic Channel nos procurou a respeito de um programa de TV sobre nosso trabalho com cães, o nome “Dog Town” foi escolhido. Conexão Pet - Vocês recebem algum tipo de apoio governamental? John Polis - Não. Conexão Pet- Como e quando foi criado o Santuário? John Polis – Nosso santuário foi fundado em 1984 por um grupo de 22 pessoas. Eles começaram resgatando cães que estavam “marcados para morrer”. Depois, fundaram um pedaço de terra com 3.700 acres onde o santuário é localizado. Nós também incorporamos 30.000 acres adicionais do U.S. Bureau of Land Management como uma espécie de área de reserva para nosso santuário.

Conexão Pet – Se um cão não é Conexão Pet – Como vocês adotado vocês o mantêm no mantêm seu abrigo e como abrigo? se tornou um programa de “A Best Friends, através de proJohn Polis – Todos os animais TV (“Dog Town”)? gramas nacionais, está determinada que vem para o Santuário da John Polis – Nosso sana recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz”.

Best Friends têm garantia de cuidado por toda a sua vida se não forem adotados. Conexão Pet Você acredita que a legislação animal é efetiva nos EUA? John Polis – Algumas leis sim, outras não. Por exemplo, a legislação que bane certos tipos de cães por sua raça. Achamos que é errada e não atinge aquilo que propõe. Encorajamos que mais e mais grupos de trabalho com animais acreditem que todo animal é merecedor de uma avaliação antes de determinar se são perigosos ou não. Em anos anteriores, cães eram mortos por causa de sua raça. A Best Friends, através de programas nacionais, está determinada a recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz. Conexão Pet - Vocês têm muitos abrigos para diferentes tipos de animais. Como lidam com uma estrutura tão grande? John Polis – Temos, aproximadamente, 400 empregados que trabalham juntos para o bem dos animais. Trabalhamos para ser bons gerentes do dinheiro que nos é dado, e estamos sempre cientes de que nossa primeira

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Fique Ligado

obrigação é com os animais. Nossos funcionários agem sob um guia de princípios que é “a bondade com os animais faz o mundo melhor para todos nós”. Temos um staff dedicado que trabalha, frequentemente, longas horas para o bem-estar dos animais – e o tratamento que os animais recebem aqui é de primeira classe.

O programa “Vida de Cão Dog Town” vai ao ar às terças e sextas, às 10:00, no National Geographic Channel.

Conexão Pet – Vocês têm algum plano fora dos Estados Unidos? Têm contato com outras organizações não governamentais? John Polis- Não temos planos concretos fora dos EUA e ocasionalmente damos um retorno rápido a pessoas de outros países para ajudar em resgates em caso de desastres naturais. Mantemos uma comunicação regular com muitos grupos nos Estados Unidos, incluindo a Humane Society dos Estados Unidos, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals e muitas outras.

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Entrevista Os melhores amigos dos animais

Conheça o trabalho da Best Friends, ONG norte-americana que deu origem a uma série de TV Por Vivian Lemos Talvez você nunca tenha ouvido falar na Best Friends Animal Society, uma ONG norteamericana, mas muitos brasileiros conhecem a série de TV “Vida de Cão - Dogtown” exibida pelo canal a cabo National Geographic. A série mostra o dia-a-dia dos treinadores para ressocializar cães com problemas comportamentais em um dos abrigos da associação. A Best Friends foi fundada em 1984 e tornou-se conhecida nos Estados Unidos durante o desastre provocado pelo furacão Katrina, em 2005, quando não poupou esforços para resgatar os animais vítimas da catástrofe. A organização atua com abrigos, grupos de resgate e tem membros em todo o território norte-americano que promovem a adoção de animais sem-teto, além de fornecer castração e educação aos seres humanos sobre a questão animal. O abrigo, mais conhecido como Santuário, fica no estado de Utah e é reconhecido por sua atuação não eutanásica. O local tem 3.700 acres e é famoso por ter sido palco de filmes western na década de 40. No paradisíaco cenário, abrigam cerca de 1700 animais, a maioria cães e gatos, mas cavalos, burros, coelhos, cabras e outros também se hospedam por lá. 38

A cada ano, eles recebem mais de 27 mil visitantes que fazem turismo e até mesmo participam do trabalho como voluntários. Atualmente, além de outras campanhas, estão engajados em não deixar mais nenhum animal sem teto nos Estados Unidos, com o slogan “No More Homeless Pets” (Chega de Animais sem Teto, em tradução livre). Para falar sobre todo o trabalho desenvolvido, Conexão Pet em revista ouviu John Polis, relaçõespúblicas da Best Friends: Conexão Pet – Gostaria de saber como funciona a campanha “Chega de Animais sem teto” e quais são seus objetivos? John Polis- A campanha é um tema constante em tudo que fazemos na Best Friends. Estamos trabalhando em alguns programas ao redor dos Estados Unidos que são destinados a melhorar a forma como nos relacionamos com os animais, com a esperança de que um dia não haja mais animais sem lar.

tuário é uma organização não governamental fundada em 1984. Somos apoiados por doações privadas de todo o mundo. Nosso orçamento anual é de aproximadamente 38 milhões de dólares. A área do santuário que hospeda os cães foi, por muitos anos, chamada de “Dog Town” (Cidade dos Cães). Assim, quando o National Geographic Channel nos procurou a respeito de um programa de TV sobre nosso trabalho com cães, o nome “Dog Town” foi escolhido. Conexão Pet - Vocês recebem algum tipo de apoio governamental? John Polis - Não. Conexão Pet- Como e quando foi criado o Santuário? John Polis – Nosso santuário foi fundado em 1984 por um grupo de 22 pessoas. Eles começaram resgatando cães que estavam “marcados para morrer”. Depois, fundaram um pedaço de terra com 3.700 acres onde o santuário é localizado. Nós também incorporamos 30.000 acres adicionais do U.S. Bureau of Land Management como uma espécie de área de reserva para nosso santuário.

Conexão Pet – Se um cão não é Conexão Pet – Como vocês adotado vocês o mantêm no mantêm seu abrigo e como abrigo? se tornou um programa de “A Best Friends, através de proJohn Polis – Todos os animais TV (“Dog Town”)? gramas nacionais, está determinada que vem para o Santuário da John Polis – Nosso sana recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz”.

Best Friends têm garantia de cuidado por toda a sua vida se não forem adotados. Conexão Pet Você acredita que a legislação animal é efetiva nos EUA? John Polis – Algumas leis sim, outras não. Por exemplo, a legislação que bane certos tipos de cães por sua raça. Achamos que é errada e não atinge aquilo que propõe. Encorajamos que mais e mais grupos de trabalho com animais acreditem que todo animal é merecedor de uma avaliação antes de determinar se são perigosos ou não. Em anos anteriores, cães eram mortos por causa de sua raça. A Best Friends, através de programas nacionais, está determinada a recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz. Conexão Pet - Vocês têm muitos abrigos para diferentes tipos de animais. Como lidam com uma estrutura tão grande? John Polis – Temos, aproximadamente, 400 empregados que trabalham juntos para o bem dos animais. Trabalhamos para ser bons gerentes do dinheiro que nos é dado, e estamos sempre cientes de que nossa primeira

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Fique Ligado

obrigação é com os animais. Nossos funcionários agem sob um guia de princípios que é “a bondade com os animais faz o mundo melhor para todos nós”. Temos um staff dedicado que trabalha, frequentemente, longas horas para o bem-estar dos animais – e o tratamento que os animais recebem aqui é de primeira classe.

O programa “Vida de Cão Dog Town” vai ao ar às terças e sextas, às 10:00, no National Geographic Channel.

Conexão Pet – Vocês têm algum plano fora dos Estados Unidos? Têm contato com outras organizações não governamentais? John Polis- Não temos planos concretos fora dos EUA e ocasionalmente damos um retorno rápido a pessoas de outros países para ajudar em resgates em caso de desastres naturais. Mantemos uma comunicação regular com muitos grupos nos Estados Unidos, incluindo a Humane Society dos Estados Unidos, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals e muitas outras.

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Entrevista Os melhores amigos dos animais

Conheça o trabalho da Best Friends, ONG norte-americana que deu origem a uma série de TV Por Vivian Lemos Talvez você nunca tenha ouvido falar na Best Friends Animal Society, uma ONG norteamericana, mas muitos brasileiros conhecem a série de TV “Vida de Cão - Dogtown” exibida pelo canal a cabo National Geographic. A série mostra o dia-a-dia dos treinadores para ressocializar cães com problemas comportamentais em um dos abrigos da associação. A Best Friends foi fundada em 1984 e tornou-se conhecida nos Estados Unidos durante o desastre provocado pelo furacão Katrina, em 2005, quando não poupou esforços para resgatar os animais vítimas da catástrofe. A organização atua com abrigos, grupos de resgate e tem membros em todo o território norte-americano que promovem a adoção de animais sem-teto, além de fornecer castração e educação aos seres humanos sobre a questão animal. O abrigo, mais conhecido como Santuário, fica no estado de Utah e é reconhecido por sua atuação não eutanásica. O local tem 3.700 acres e é famoso por ter sido palco de filmes western na década de 40. No paradisíaco cenário, abrigam cerca de 1700 animais, a maioria cães e gatos, mas cavalos, burros, coelhos, cabras e outros também se hospedam por lá. 38

A cada ano, eles recebem mais de 27 mil visitantes que fazem turismo e até mesmo participam do trabalho como voluntários. Atualmente, além de outras campanhas, estão engajados em não deixar mais nenhum animal sem teto nos Estados Unidos, com o slogan “No More Homeless Pets” (Chega de Animais sem Teto, em tradução livre). Para falar sobre todo o trabalho desenvolvido, Conexão Pet em revista ouviu John Polis, relaçõespúblicas da Best Friends: Conexão Pet – Gostaria de saber como funciona a campanha “Chega de Animais sem teto” e quais são seus objetivos? John Polis- A campanha é um tema constante em tudo que fazemos na Best Friends. Estamos trabalhando em alguns programas ao redor dos Estados Unidos que são destinados a melhorar a forma como nos relacionamos com os animais, com a esperança de que um dia não haja mais animais sem lar.

tuário é uma organização não governamental fundada em 1984. Somos apoiados por doações privadas de todo o mundo. Nosso orçamento anual é de aproximadamente 38 milhões de dólares. A área do santuário que hospeda os cães foi, por muitos anos, chamada de “Dog Town” (Cidade dos Cães). Assim, quando o National Geographic Channel nos procurou a respeito de um programa de TV sobre nosso trabalho com cães, o nome “Dog Town” foi escolhido. Conexão Pet - Vocês recebem algum tipo de apoio governamental? John Polis - Não. Conexão Pet- Como e quando foi criado o Santuário? John Polis – Nosso santuário foi fundado em 1984 por um grupo de 22 pessoas. Eles começaram resgatando cães que estavam “marcados para morrer”. Depois, fundaram um pedaço de terra com 3.700 acres onde o santuário é localizado. Nós também incorporamos 30.000 acres adicionais do U.S. Bureau of Land Management como uma espécie de área de reserva para nosso santuário.

Conexão Pet – Se um cão não é Conexão Pet – Como vocês adotado vocês o mantêm no mantêm seu abrigo e como abrigo? se tornou um programa de “A Best Friends, através de proJohn Polis – Todos os animais TV (“Dog Town”)? gramas nacionais, está determinada que vem para o Santuário da John Polis – Nosso sana recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz”.

Best Friends têm garantia de cuidado por toda a sua vida se não forem adotados. Conexão Pet Você acredita que a legislação animal é efetiva nos EUA? John Polis – Algumas leis sim, outras não. Por exemplo, a legislação que bane certos tipos de cães por sua raça. Achamos que é errada e não atinge aquilo que propõe. Encorajamos que mais e mais grupos de trabalho com animais acreditem que todo animal é merecedor de uma avaliação antes de determinar se são perigosos ou não. Em anos anteriores, cães eram mortos por causa de sua raça. A Best Friends, através de programas nacionais, está determinada a recusar a discriminação legal por raças, assim todo animal, não importa sua raça ou aparência terá uma boa chance de uma vida feliz. Conexão Pet - Vocês têm muitos abrigos para diferentes tipos de animais. Como lidam com uma estrutura tão grande? John Polis – Temos, aproximadamente, 400 empregados que trabalham juntos para o bem dos animais. Trabalhamos para ser bons gerentes do dinheiro que nos é dado, e estamos sempre cientes de que nossa primeira

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Fique Ligado

obrigação é com os animais. Nossos funcionários agem sob um guia de princípios que é “a bondade com os animais faz o mundo melhor para todos nós”. Temos um staff dedicado que trabalha, frequentemente, longas horas para o bem-estar dos animais – e o tratamento que os animais recebem aqui é de primeira classe.

O programa “Vida de Cão Dog Town” vai ao ar às terças e sextas, às 10:00, no National Geographic Channel.

Conexão Pet – Vocês têm algum plano fora dos Estados Unidos? Têm contato com outras organizações não governamentais? John Polis- Não temos planos concretos fora dos EUA e ocasionalmente damos um retorno rápido a pessoas de outros países para ajudar em resgates em caso de desastres naturais. Mantemos uma comunicação regular com muitos grupos nos Estados Unidos, incluindo a Humane Society dos Estados Unidos, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals e muitas outras.

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Doutores da alegria e da amizade Dizer que eles são fiéis é pouco para descrever o que um animal de estimação significa na vida de pessoas mais velhas. A companhia de um bichinho melhora a autoestima, traz alegria e estimula a prática de exercícios “Os animais de estimação funcionam como um suporte emocional. Com o tempo, acumulamos perdas afetivas, físicas e até de papel na sociedade. A companhia de um mascote dá estabilidade e faz com que a pessoa recupere funções”, explica Ceres Berger Faraco, médica veterinária, doutora em psicologia e autora de trabalhos sobre terapia assistida por animais.

Cuidados

A saúde do idoso é frágil e precisa de algumas medidas para evitar acidentes

Quedas

Cachorros muito pequenos podem fazer com que o idoso tropece em casa. É preciso educar o animal e deixar os cômodos sem obstáculos.

Unhas bem cortadas

A pele da pessoa mais velha é frágil e pode machucar facilmente. As unhas dos animais devem estar sempre aparadas para evitar acidentes.

Sol

É sempre bom lembrar: passeios devem ser feitos em horários em que o sol é mais fraco, no início da manhã ou no fim da tarde. Isso vale para o idoso e para o cão. Também é preciso usar protetor solar.

Mordidas

Alguns cães têm o hábito de morder. O costume é mais comum nos de pequeno porte. A única solução é o adestramento. Fontes: Cristina Coelho Neto, médica veterinária do Consultório Veterinário Vetclin; Roberto Luiz Lange, médico veterinário da Clínica Santa Mônica.

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Na alegria e na tristeza Um animal de estimação trata da mesma forma as crianças, os jovens ou idosos. Ele ouve todas as histórias sem criticar e, se preciso, não liga de passear todo dia no mesmo lugar. “É uma amizade incondicional, eles aceitam o dono indiscriminadamente e demonstram afeto sempre. O resultado é a promoção da autoestima”, afirma a médica veterinária Ceres. A alegria que os pequineses Nuno, Nina e Bebel trazem para a vida de Norma Amaral, de 70 e poucos anos (como ela gosta de dizer), pode ser percebida em dois minutos de conversa. É só ouvi-la contar sobre quando Nina, de 3 anos, brinca de esconde-esconde ou quando os três resolvem sentar no sofá na hora do noticiário da tevê. “Eles assistem comigo. Cada um tem seu lugar no sofá. Às vezes, Bebel, de 1 ano, quer pegar o lugar de outro e dá briga”, conta. Norma mora sozinha e não consegue mais imaginar sua vida sem os cachorrinhos. “Só quem tem sabe a alegria que eles podem dar. É só chegar em casa e ver que estão me esperando e o dia fica mais bonito. Não vou dizer que eles não me dão trabalho, porque dão sim, mas é compensador.” Vivian Hauer, de 77 anos, também não consegue imaginar como seriam suas manhãs sem a cantoria animada do seu canarinho de 4 anos. O nome dele? Roberto Carlos. “Quando ganhei o Roberto logo vi que ia ser um ótimo cantor, então dei o nome. Ele anima a casa. Já tive outros passarinhos, mas eles não viveram muito tempo. Espero que o Roberto viva muito ainda.”

Amigo ideal Não importa se é um cachorro de raça ou um vira-latas, um gato ou mesmo um passarinho. A preferência por um ou outro depende dos hábitos da pessoa. Saiba como escolher o companheiro perfeito:

Tamanho:

O porte é definitivo na hora de adotar o animal. Cães de raça grande são muito fortes e podem arrastar o idoso em uma caminhada. O ideal são as raças médias, de mais ou menos oito quilos.

Idade:

Filhotes, não! Além de ter de educar o animalzinho, vai ser difícil acompanhar o ritmo dele. Cães adultos são mais indicados. Que tal adotar um vira-latas mais velho? A vantagem de ter cães adultos, de 5 ou 6 anos, é que tanto o dono quanto o animal estarão no mesmo ritmo.

Raças:

Alguns cães de médio porte são muito agitados, como o beagle e o cocker spaniel. Essas raças precisam ser educadas. Lhasa apso, poodle ou mesmo os cães de focinho curto – pug e buldogue inglês – são mais tranquilos.

Bichano:

Gatos também demonstram carinho, mas não gostam de passear e são menos sociáveis. Por isso são os amigos ideais de idosos que têm menos mobilidade e não podem andar muito.

Pequeninos:

Os pássaros podem ser ótimos companheiros, principalmente as espécies que têm o costume de cantar, como canário ou pintassilgo. A calopsita também é uma boa opção, pela interação com o dono. Fontes: Cristina Coelho Neto, médica veterinária do Consultório Veterinário Vetclin; Roberto Luiz Lange, médico veterinário da Clínica Santa Mônica.

Além de mandar a solidão embora, quem tem um animal de estimação tem uma rotina mais saudável. Imagine o quanto é preciso se movimentar para cuidar de um bichinho: colocar comida, limpar a casa ou gaiola, brincar. “São estímulos para as atividades físicas. Isso pressupõe um ganho em mobilidade”, afirma Ceres. Recuperar funções pode significar um recomeço. “É um novo sentido para a vida do idoso, que geralmente fica bastante tempo sozinho. Faz com que ele sinta menos a ausência de familiares e também se considere útil para alguém”, diz Fernanda Cidral, psicóloga clínica e terapeuta. Não é à toa que existem vários estudos científicos que comprovam os benefícios que um animal de companhia pode trazer à saúde do idoso, entre eles a melhoria de quadros de doenças crônicas, como diabete ou hipertensão. A médica veterinária Leticia Séra Castanho, fundadora e coordenadora do Projeto Amigo Bicho, de Curitiba, promove encontros entre animais e idosos em tratamento de mal de Alzheimer ou Parkinson. “Há uma melhor resposta a terapias de um modo geral, porque aumenta a resposta imunológica e a sensação de bem-estar. Ao contar as histórias de seus animais e falar sobre o passado, os idosos estimulam a memória. Quando eles escovam os pelos dos cachorrinhos ou fazem carinho, treinam a coordenação motora.” 27

O vínculo entre o idoso e o animal de estimação pode ser muito mais forte do que em outras fases da vida. “O animal torna-se a própria família da pessoa”, diz a psicóloga e terapeuta Fernanda. O medo de perder o amigo animal pode ser maior, mas deve ser enfrentado da mesma forma, como em qualquer outra fase. “É preciso lidar com o luto. É bom sempre olhar pelo lado positivo, para o que o idoso ganhou com a convivência.” Há também o outro lado: o risco de o bichinho perder o dono. “As pessoas precisam pensar por outra perspectiva, no lado do animal, que também sofre. Há o risco das duas coisas acontecerem e a família deve estar preparada para adotar esse animal ou dar suporte caso o idoso perca seu amigo”, afirma Ceres. u

Parceiro de vida saudável O companheiro de caminhada de Luiz Fernando Ribeiro de Campos, 65 anos, é Pudim, um yorkshire terrier de 8 anos e meio. Os dois andam, em média, uma hora por dia. Antes de o yorkshire ser adotado pela família, há três anos, Luiz não tinha o hábito de caminhar. “Ele precisa caminhar e eu também. É um incentivo. Passei a ir com ele e criei o hábito.” A médica veterinária Cristina Coelho Neto, do Consultório Veterinário Vetclin, considera a caminhada uma das melhores formas de o cachorro e o dono compartilharem momentos de lazer e se exercitarem. “O idoso se anima e se cuida mais porque precisa estar bem para acompanhar o cachorro. Ele sabe que o bichinho depende dele.” O médico de Luiz Fernando ficou feliz com a rotina trazida pelo yorkshire. Depois de dez anos, a diabete e a hipertensão estão controladas. “A atividade física foi fundamental. Quando Pudim desanima, pego ele no colo e continuo caminhando, mas normalmente nós dois seguimos o mesmo ritmo, ele é ligeirinho.”

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Mais sociáveis Não falta assunto para quem tem animais de estimação. É por isso que os especialistas dizem que eles são como facilitadores sociais. “É diferente passear sozinho e com um cachorro, por exemplo. Sempre vai ter alguém para perguntar alguma coisa ou trocar experiências. Assim essas pessoas acabam aumentando o círculo de amigos”, diz a médica vererinária Ceres Faraco. Quando Lilian Nogueira resolveu comprar um gatinho persa para a sua mãe, Marlene Gon çal ves Dias, de 73 anos, a ideia era que ela se sentisse menos sozinha. “Eu viajava muito e ficava preocupada. No começo, ela não gostou, mas foi só eu levar Joy para casa e vi que se dariam bem. Ela briga, brinca com o gato, educa. Antes minha mãe era mais quietinha e fechada, hoje está bem mais ativa.” Marlene concorda: “Fico mais alegre com Joy”. Agora Lilian não viaja tanto, mesmo assim, quem cuida de tudo, inclusive dos mimos, é sua mãe. “Refogo almeirão e escarola para misturar na ração, ele gosta muito.” A psicóloga Fernanda Cidral alerta para o fato de que a pessoa mais velha não deve se restringir somente à relação com o animal e evitar o contato com outras pessoas. “Um cachorro não vai substituir a família ou os filhos. O contato humano é indispensável. A pessoa pode dosar isso e não se fechar muito, mas aproveitar o contato para treinar habilidades sociais, como se comunicar ou demonstrar afeto.” * Esta matéria foi originalmente publicada no site do jornal Gazeta do Povo.

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