ESTÓRIAS DO MÊS - RURALIDADE

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ESTÓRIAS DO MÊS

RURALIDADE Design: António Manso / fotos e desenhos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vid e e colaboração de Patrícia Martins. Azenha da Ribeira da Vide Data: Finais do sec. XIX. I Autor: desconhecido I Registo/Inventário: 335 SACMCV Arquivo: Secção Arqueologia Câmara Municipal de Castelo de Vide.

Lenho velho carcomido e abandonado resistindo ao processo natural de degradação e transformação; pedras - muitas – desiguais, em que o âmago da sua estrutura todos os dias é posta à prova; terras fortes e fracas que sempre sustentam árvores e plantas e abrigam animais; ribeiras e regatos como vias de comunicação e fonte de vida para colónias e um sem número de variedades de espécies animais e vegetais; lameiros e pó; cheiros e sons inerentes à vida no campo; dias de gelo que se estilhaça como vidro, de chuva persistente ou inconstante, de nevoeiro, de canícula… são pois, estes, alguns dos “atributos” da vida rural aos quais todas as pessoas que trabalham em arqueologia vivenciam.

Evidentemente, a acção do Homem faz-se sentir resultando em evidências arquitectónicas mais ou menos interessantes mas todas elas úteis e proveitosas. Direi, sem grande margem de erro que é (foi!!?) a perfeita simbiose entre o património vernacular e a natureza. Percebe-se que em todas as épocas e lugares as populações encontravam soluções para os seus abrigos e o seu sustento tinha suporte naquilo que a natureza oferecia: em base do clima, da geologia, da fauna, da flora. Não se julgue que estamos a falar do Período Neolítico. Tal sucedeu até há cerca de três décadas quando ainda uma grande franja da população residia e permanecia em espaços rurais.

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Ponte do Ribeiro de Carvalho (Barragem de Póvoa e Meadas). Freguesia Santiago Maior 1990. Carlos Grande (SA CMCV). Monte da Meada Freguesia Santa Maria da Devesa I 2017. João Magusto (SA CMCV). Ponte do Casão do Leandro Caminho da Marambalha Freguesia Nossa Senhora Graça Póvoa e Meadas 2007. Nuno Félix (SA CMCV). Fonte do Vale Serrão Freguesia S. João Baptista 1994. António Pita (SA CMCV). Cortelhos do Forninho Freguesia Nossa Senhora Graça Póvoa e Meadas 2003. Bica Penhasco (SA CMCV). Cruz de ferro cravada em afloramento granítico Charás - União de Freguesias do Espirito Santo, Nossa Senhora da Graça e S. Simão (Nisa) I 2020. Mário Monteiro.

Este singelo artigo pretende chamar a atenção para um tipo de construções que à primeira vista nos parecem comuns e banais mas que, todavia, são elementos arquitectónicos (mais ou menos evoluídos tecnicamente) que remetem para o suprir de obstáculos e colmatar necessidades no quotidiano das pessoas que habitam, trabalham e percorrem os campos. A dificuldade foi selecionar as imagens a partir de um acervo documental que, sem ser muito rico, é relativamente abrangente. Ao longo dos anos e, sobretudo, aquando das prospecções arqueológicas de superfície na área do actual concelho de Castelo de Vide, este Serviço Municipal dedicou algum tempo aos registos sumários em forma de texto, fotografias e esboços/desenhos de estruturas que outrora foram – parte ainda o são - determinantes para a vida das gentes que habitavam esses locais. Assim, dando

necessariamente primazia e ocupando grande parte do tempo dedicados aos registos de imóveis de interesse arqueológico, nunca foi descurada a realização de pequenos apontamentos sobre estruturas mais recentes e de diversa arquitectura: falamos de eiras, poços, noras, passadiços, pontes, represas, casas… Verificamos, com naturalidade, a importância de estruturas ligadas à água. Pelo estado de abandono e ruina que grande parte dessas estruturas apresentam, assim como a preocupação pela modernidade – felizmente, nem toda a gente pensa dessa maneira – sempre entendemos que tudo o que se fizesse poderia ser válido para as gerações futuras no sentido de que essa informação iria, de alguma forma, indicar seguramente algum tipo de património construído que existiu num dado tempo e lugar. Reconhecidamente, sabemos que será muito difícil garantir vontades e financiamentos para o seu estudo, recuperação e valorização no sentido de conhecer e obstar aos desaparecimentos totais ou parciais.

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Nora da Tapada da Ameixoeira Freguesia Santa Maria da Devesa I 2009. Bica Penhasco (SA CMCV). Fonte térrea do Curral do Major Freguesia Santiago Maior I 2019. João Magusto (SA CMCV). Represa da Ribeira de Cogulo Freguesia S. João Baptista 1994. Fotografia de António Pita e desenho de João Magusto (SA CMCV). Poço e pias/bebedouros do Couto dos Grilos Freguesia S. João Baptista I 1994. Desenhos e fotografia de João Magusto (SA CMCV).

A utilidade da informação coligida poder-se-á estender por vários objectivos. Veja-se o caso de furtos de que é bom exemplo a Fonte do Vale Serrão agora no domínio público, valorizada e reconstruída junto à Estrada de S. Vicente.

Sem ter o intuito de dar mais importância a umas estruturas do que a outras apresentamos um conjunto de imagens que vêm corroborar o acima descrito, algumas das quais são, com certeza, conhecidas dos leitores.

Castelo de Vide, 12 de Abril de 2023.

João F. A. Magusto

de Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo de Vide).

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Monte da Devesa Freguesia Santa Maria da Devesa I 2010. Bica Penhasco (SA CMCV). Eira do Monte dos Pegos Dobrados (planta) Freguesia S. João Baptista I 1995. João Magusto (SA CMCV). Fonte da Tapada do Isidro Freguesia S. João Baptista I 1990. Nuno Félix (SA CMCV). Lagar 2 do Vale Serrão Freguesia S. João Baptista I 1994. (SA CMCV). Eira do Monte do Cerejeiro (planta) Freguesia Santa Maria da Devesa I 2009. João Magusto (SA CMCV). Forno do Monte da Coutada. Freguesia de S. João Baptista. I 1994. António Pita (SA CMCV). (Secção
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