Boletim Especial Revista Sustentabilidade

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Revista Sustentabilidade ano IV • edição impressa no 1

novas tecnologias para um mundo melhor

mar 2011 • R$ 14,50

BOLETIM ESPECIAL: ÁGUA/CONSTRUÇÃO VERDE

Construção verde dá retorno? Gerenciamento de recursos hídricos ganha impulso Fibra de coco no tratamento de esgoto

água: inovar para manter

dia mundial da água

www.revistasustentabilidade.com.br

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editorial }

Boletim Especial Revista Sustentabilidade: a inovação em debate É com orgulho que apresento o Boletim Especial Revista Sustentabilidade, uma nova publicação que busca discutir a inovação focada em reduzir o impacto ambiental das atividades humanas. Juntamente com o portal Revista Sustentabilidade (www.revistasustentabilidade.com.br), pretendemos aprofundar o debate em busca da necessária mudança de paradigma para enfrentar as crises ambientais, sociais e, por que não, econômicas, provocadas pelo atual modelo de desenvolvimento mundial. Nossa missão é clara: mostrar onde, quando e como se dão as inovações tecnológicas, de processos e de políticas públicas que abrirão a trilha para uma economia de baixo carbono. Desde julho de 2007, o portal Revista Sustentabilidade tem tomado esse caminho, mostrando para empresários e investidores as alternativas por meio da inovação; para pesquisadores, como o mercado funciona e quais suas principais demandas; e, para os leitores em geral, as tendências de políticas públicas que estimulam ou não o desenvolvimento e a inovação rumo à sustentabilidade. A partir de agora, o Boletim Especial será publicado periodicamente, com foco em alguns temas críticos que demandam inovação. Este primeiro boletim é dedicado à discussão do uso racional da água – para comemorar o Dia Nacional da Água – e às tendências de construções verdes. Ao folhear estas páginas, você perceberá que, para cumprir nossa missão, não discutimos apenas os problemas e as mudanças comportamentais dos indivíduos, já tão debatidos e disseminados por outros setores da mídia. Queremos mostrar os caminhos para chegar a soluções, identificar entraves, apresentar oportunidades e desafios, oferecendo informação para que empresários, pesquisadores e administradores públicos possam discutir novos rumos e tomar decisões. Este ano, o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, e a Semana Mundial da Água, que será celebrada em Estocolmo entre os dias 21 e 27 de agosto, terão como foco o supri-

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mento de água nas regiões urbanas, onde se concentram 60% dos habitantes do planeta. Nesta edição, mostramos que um modelo sustentável para o uso eficiente da água não pode prescindir da inovação e da implementação das tecnologias já existentes voltadas ao setores agrícola e industrial. Juntos, eles são responsáveis por 90% do consumo de água potável. Além dos investimentos crescentes em tecnologias como geoprocessamento de dados, para monitorar e administrar os recursos hídricos, hoje registram-se investimentos crescentes, de mais de US$100 milhões anuais, numa corrida tecnológica para melhor gerenciar a retirada de água dos rios, purificar ou dessalinizar água e tratar esgoto, inclusive com o objetivo de transformar o lodo retirado do esgoto em outros produtos como plástico e energia. Quanto à construção civil sustentável, mostramos que este é um assunto da moda, mas cujo debate no Brasil ainda não logrou demonstrar a viabilidade econômica da aposta pelo sustentável. O setor da construção civil é responsável por entre 15% e 50% da demanda de recursos naturais – madeiras, areia, água etc –, e o consumo de eletricidade dos edifícios representa 40% da demanda mundial. São percentuais suficientemente importantes para merecer nossa preocupação sobre a eficiência do uso desses insumos, que por sua vez geraria ganhos econômicos. No entanto, o empresário e o comprador de imóveis brasileiros ainda precisam ver para crer. Além de discutir como obter retorno de investimentos em tecnologias verdes, mostramos que nos próximos anos milhares de pessoas que passarão a morar e trabalhar em edifícios ambientalmente eficientes poderão se transformar em grandes apoiadoras desse conceito. Ao mesmo tempo, os pesquisadores poderão levantar dados concretos sobre o desempenho energético e ambiental desses empreendimentos, aperfeiçoando os modelos desenvolvidos no Brasil. É assim que a Revista Sustentabilidade promove o debate online, e é assim que vamos fazer, em mais profundidade, no Boletim Especial Revista Sustentabilidade. Boa leitura, Alexandre Spatuzza Editor


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{ sumário

Água no mundo

Construção Verde

6 capa

22 análise

10 debates

25 edifícios verdes

12 artigo

28 payback

14 em foco

31 notas

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16 ponto de vista

Aliança estratégica e comercialização InvestVida Brasil

Projeto gráfico e montagem Lu Cury

Diretor Executivo Ailton Oliveira

Impressão Ipsis Gráfica e Editora

O boletim especial Água/Construção verde é uma publicação do portal Revista Sustentabilidade

Gerente de Negócios Rodrigo Carvalho

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Projeto editorial e reportagem Vespa Serviços de Comunicação

Assistente administrativo Camila Santana

Diretor de conteúdo e editor executivo Alexandre Spatuzza (MtB 42261/SP)

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6 artigo } água no mundo

Crescer

sem pegadas Para reduzir a pressão sobre os recursos de água e melhorar a qualidade de vida da população, setores industrial e agrícola já pesquisam meios de reutilizar a água, tratar esgoto e até produzir plástico do lodo

ntes do final do primeiro semestre de 2011, o Brasil saberá a pegada hídrica de cada um de seus principais setores produtivos. É um trabalho que está sendo conduzido na Universidade Federal de Viçosa, com financiamento da Fundação de Apoio dessa instituição. Será uma das principais iniciativas do país para planejar a redução do consumo de água per capita, estimado atualmente em 1.381 metros cúbicos ao ano. Para se ter uma ideia, a média mundial está em 1.241 metros cúbicos, segundo o Instituto de Estudos da Água da ONU. Na comparação, o Brasil não está tão mal. Países como Estados Unidos e França têm pegadas bem acima com, respectivamente, 2.483 e 1.875 metros cúbicos por pessoa/ano. “Existem setores que investiram bastante para melhorar seu uso da água e estão bem posicionados, mas outros ainda precisam se aperfeiçoar”, diz Marco Neves, ex-diretor de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. Com a conclusão do estudo da pegada hídrica brasileira, o país vai se inserir em um movimento global de monitoramento da intensidade do consumo de água das populações e dos setores produtivos, buscando desvincular aumento do consumo e crescimento econômico. O desafio, portanto, é garantir uma melhor distribuição e um gasto mais eficiente da água potável, que representa apenas 2% de todo o estoque hídrico mundial, e promover um acesso igualitário entre os 6 bilhões de seres

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humanos que vivem no planeta, dos quais 4 bilhões hoje não têm acesso adequado. Esse dilema tende a se intensificar no futuro: em 2050, seremos 9 bilhões e, se nada for feito, vamos competir pela água com os setores industrial, agrícola e até energético, cujas demandas vão crescer no ritmo do consumo da população. Para complicar ainda mais esse quadro, a maioria dos habitantes do planeta estará morando em grandes centros urbanos e terá que buscar água cada vez mais longe, desafiando a logística e o estoque do recurso. Por isso, o Dia Internacional da Água, promovido pela ONU, e a Semana Mundial da Água, promovida em conjunto com o Instituto Internacional da Água, o Siwi, em Estocolmo, estimulará esse debate e a busca de soluções conjuntas para o suprimento hídrico urbano. “A água é muito importante para não haver um acordo e é, em muitos casos, uma fonte de cooperação, e não de conflito. Acredito que o principal papel dos governos, dos indivíduos, das corporações e do setor agropecuário é cooperar respeitosamente na gestão dos recursos hídricos”, afirmou Jens Berggren, diretor geral da Semana Mundial da Água. “A principal função do evento é ser uma plataforma para tal diálogo entre tomadores de decisão, cientistas e profissionais de todos os setores da sociedade.


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Aliviar a pressão As mudanças climáticas também se somam ao risco de desabastecimento, com alterações no regime de chuvas. “É preciso ter estudos que façam a relação entre esses dois fatores”, diz Neves. O foco para resolver esta equação está em fechar as torneiras de água potável das indústrias e da irrigação rural, responsáveis por, respectivamente 20% e 70% da água consumida no mundo. Enquanto as ferramentas de gerenciamento dos recursos hídricos, como cobrança pelo uso da água pelos comitês de bacias hidrográficas, devem começar a ser implementadas nos próximos anos, a grande mudança se dará por meio da inovação. Novas tecnologias serão buscadas, tanto pelas empresas de saneamento básico, que necessitam reduzir perdas de cerca de 50% em suas redes, quanto pelas indústrias e pelo setor agropecuário. O objetivo será, sempre, aliviar a pressão sobre as reservas naturais. Das 12 regiões hidrográficas existentes no Brasil – um dos países com maior abundância de água do mundo –, cinco estão em situação crítica ou preocupante. Duas encontram-se em estado confortável, e apenas cinco registram situação boa ou excelente. Frente a esse quadro, Berggren considera a inovação bemvinda, mas também aponta a necessidade de busca de autonomia – ou seja, reduzir a dependência dos grandes centros de

ditribuição – através do reuso da água. “Aplicando o conhecimento que temos, podemos reduzir em um quinto as mortes infantis, ou seja, salvar a vida de 2,2 milhões de crianças por ano”, disse Breggren, citando estimativas de investimentos cerca de US$30 bilhões anuais até 2030 para atingir esta meta. No caso da inovação, esta transita pela busca de água potável por meio de dessalinização, osmose, filtros e processamento bioquímico dos efluentes orgânicos e não orgânicos. Grandes empresas como a GE, a Siemens e a IBM estão envolvidas na busca por novas tecnologias. A ONG WWF, em recente relatório sobre recursos hídricos, também considera essencial a inovação nos setores industrial e agrícolas. A Siemens, por exemplo, investe parte de seu orçamento anual, de 1,8 bilhão de euros, no desenvolvimento de novos sistemas de tratamento de efluentes e na melhoria da eficiência dos existentes, além de sistemas de tratamento de esgotos. “O nosso foco é reduzir o consumo energético e a produção de lodo nos sistemas tratamento de efluentes”, diz Alfredo Lorenzo, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Siemens Brasil. “Nossa verdadeira busca é pela green machine: um sistema de tratamento de água que não necessite abastecimento de energia.” A Siemens já desenvolveu, em seus centros de pesquisa na Europa, Estados Unidos e Sudeste Asiático, um sistema que re-

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duziu entre 25% a 30% o consumo energético e o lodo através do uso de bactérias. O sistema levou três anos para ser desenvolvido e já está em teste em Cingapura, com estimativa de comercialização a partir de 2012. Do outro lado, as empresas de saneamento básico estão focando no desenvolvimento de novas tecnologias de monitoramento de redes para reduzir perdas e melhorar a distribuição. Um exemplo: recentemente, a Sabesp, empresa de saneamento básico do estado de São Paulo, firmou uma parceria de R$ 50 milhões com a Fapesp para pesquisar esta área. Há também espaço para inovação de ponta. Fora do Brasil, esta já atrai investimentos de fundos de capital risco. É uma busca crescente por tecnologias que purifiquem a água, tratem o esgoto, mas que também gerem subprodutos.“Há uma visão cradle-tocradle [berço a berço] neste desenvolvimento tecnológico”, explicou Christopher Gasson, especialista do setor e publisher do portal Global Water Intelligence. “A ideia é desenvolver outros produtos e gerar energia dos efluentes hídricos de todos os tipos." Segundo um estudo da Ernest & Young, em 2010, os investimentos dos fundos de capital de risco em empresas nascentes no setor de tratamento de água e tratamento de esgoto atingiram US$ 97 milhões; em sistemas de monitoramento de recur-

sos hídricos, os investimentos chegaram a cerca de US$ 11 milhões. Segundo Lia Javier, analista na área de água do Cleantech Group, empresa que monitora os movimentos de fundos de capital risco em inovações tecnologias limpas, este é um investimento constante nos últimos seis anos, devido à falta de definição regulamentar e à necessidade dos setores produtivos terem novas soluções. Relatório publicado em 2010 indica um interesse crescente de investidores por tecnologias em estágio inicial, recémsaídas dos laboratórios, o que demonstra uma acirrada disputa pelo seu controle. Historicamente, segundo o estudo do Cleantech Group, os investimentos em tratamento de água e gerenciamento de recursos têm superado investimentos em tratamento de esgoto. Desde 2009, entretanto, houve um nivelamento dos montantes nas três áreas, o que, segundo o relatório de Javier, reflete que as inovações atuais em tratamento de esgoto geram energia do lodo ou reduzem consumo no processo. “Produzir energia, produzir ração animal e separar os metais do lodo resultante do tratamento dos efluentes são todos projetos que estão atraindo atenção”, diz Gasson, citando a existência, inclusive, de um projeto para produção de bioplástico a partir do lodo. k

Comparação da pegada hídrica de alguns produtos* no Brasil e nos EUA Brasil

EUA

Média mundial

Arroz

3.082

1.275

2.291

Soja

1.076

1.869

1.789

Café (Verde)

13.972

4.864

20.682

Carne bovina

16.961

13.193

15.497

Cana de açúcar

155

103

175

* em metros cúbicos por tonelada - m3/ton Fonte: A. K. Chapgain e A. Y. Hoekstra/Unesco - IHE

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Sustentabilidade é inovação. Sustentabilidade é inteligência.

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A próxima edição do Boletim Especial será publicada em comemoração ao dia do Meio-Ambiente.

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10 debates } água no mundo

O desafio de

regular Em entrevista exclusiva à Revista Sustentabilidade, o Secretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio-Ambiente disse que em breve toda a água retirada dos rios nacionais será cobrada a partir da revisão do PNRH Marcello Medronho Sigwalt, de Brasília

ara quem vê as imagens do grande emaranhado de rios que corta o Brasil e lê nos jornais sobre o imenso potencial hídrico que o país possui para gerar energia, é fácil cair na tentação de pensar na água como um recurso infinito sobre o qual não é necessário se preocupar. Tal equívoco, entretanto, vem sendo gradualmente corrigido com ações como o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos em janeiro de 2006, que institucionaliza a cobrança pelo uso da água. A iminente revisão desse plano representa um desafio aos comitês de bacias hidrográficas para aperfeiçoar esse instrumento de gestão dos recursos hídricos, seja na aplicação ou aperfeiçoamento de técnicas de reuso da água.. A principal característica do PNRH é seu caráter descentralizador, resultante de efetiva participação de ONGs, governos estaduais e empresas em sua elaboração durante encontros ao longo de 2010 e que continuarão este ano por solicitação dos executivos dos estados. Para reforçar essa tendência, é realizada uma revisão do plano a cada quatro anos, e a previsão é de que até dezembro seja divulgado o documento final. Júlio Thadeu, secretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), prevê que a maior participação da sociedade civil nos comitês de bacia hidrográfica deverá ocorrer “de maneira lenta e gradual”, conforme o avanço das negociações entre os segmentos envolvidos (poder público, usuários e consumidores). Entre os usuários destacam-se a indústria, a agricultura de irrigação, o tripé pesca-turismo-lazer, hidrelétrica, hidrovia e saneamento.

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Quanto ao prazo de negociações, o diretor do MMA explica que este varia conforme a bacia hidrográfica. “A revisão do plano deverá contemplar não somente a cobrança pelo uso da água, como um instrumento de gestão mais eficaz para induzir as empresas a fazer melhor uso desse recurso”, diz Thadeu. Como não cabe ao Estado exercer papel coercitivo, mas indutor de nova mentalidade de uso (e reuso) dos recursos hídricos, o diretor do MMA ressalta a importância de reforçar o conceito de valor econômico da água (seguindo a declaração de Dublin de 1992), assim como de disseminar a educação ambiental às futuras gerações. Como exemplos bem-sucedidos dessa prática, Thadeu aponta o sistema de cobrança estabelecido pelos comitês federais das bacias do Rio Paraíba do Sul e Piracicaba-Capivari-Jundiaí. Em ambos os casos, as negociações levaram, pelo menos, um ano para serem concluídas, após apreciação e aprovação prévia pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). No entanto, desde 2005 quando a cobrança começou, a o Comitê da Bacia Piracicaba-Capivari-Jundiaí já arrecadou mais de R$75 milhões dos grandes usuários da água destes cursos de água, a taxas iniciais de 1 centavo por metro cúbico. O Comitê aprovou a utilização destes recursos em projetos de elaboração planos dirtores de recursos hírdicos das cidades dentro da bacia, em projetos de melhorias e extensão de redes de água e de coleta de esgoto, mas também provou pesquisas em universidades para desenvolver inovações em tratamento de esgoto, monitora-


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mento de água e até geoprocessamento de dados. Para Thadeu, o monitoramento a distância do usos dos recursos hídricos é um instrumento fundamental para o melhorar seu uso racional, como também para muitas outras atividades produtivas. Ele explica que essa tecnologia permite localizar com precisão a área na qual está sendo retirado. Os dados coletados pelo geoprocessamento auxiliam, ainda, na formação do valor cobrado pelo uso da água naquela região. Apesar destes recursos serem importantes para os estados estruturarem seus comitês, a necessidade de recursos para outros projetos, principalmente para o tratamento de esgoto, virá de Recursos do Orçamento da União. No entanto, os outros comitês ainda demoram para serem implementados, como exemplifica Thadeu com o caso da negociação para formação do comitê da Bacia do Rio São Francisco, que por causa das obras de transposição, a se arrasta por quase três anos e ainda não tem previsão de término. Mas segundo o secretário, “a descentralização na gestão de recursos hídricos do país, antes que um ato benevolente do Estado é uma necessidade, uma vez que cada estado apresenta uma situação diferenciada, demandando uma norma específica”. “Considero fundamental para a otimização dos recursos hídricos a maior presença das forças sociais nos comitês de bacia, sobretudo por meio do uso da Internet e das redes sociais”, reforçou, acrescentando que as empresas constituem um dos stakeholders desse processo, como maiores usuários da água e que podem desenvolver e aplicar inovações para melhorar o uso racional no seus processos produtivos. Este processo se acelerá à medida que as empresas buscarão evitar pagar para água. Existem sistemas que chegam a reutilizar até 70% do recursos em seu processo produtivo, segundo apuração da Revista Sustentabilidade. O pioneiro Referência na elaboração da Lei das Águas (Lei 9.433/97) – marco institucional do setor – o comitê da Bacia do Rio Paraíba do Sul foi o primeiro do país a instituir a cobrança pelo uso da água. Cada comitê federal ou estadual – são 163 no país – tem autonomia para cobrar dos usuários dos recursos hídricos uma taxa, calculada conforme o volume de metros cúbicos (m³) utilizado. As regiões Sudeste e Sul concentram o maior número de comitês de bacia. Do total de comitês existentes, apenas 10 são federais e os restantes são estaduais. “O comitê de bacia é que decide se haverá ou não cobrança, onde e como ela vai ser aplicada”, explica Thadeu, ao acrescentar

que o valor não é aplicado linearmente a todos os usuários. Segundo o diretor do MMA, alguns fatores podem influenciar na formação desse valor, como problemas ambientais de determinada bacia. “A demanda por uma indústria vai contar com uma taxa maior do que para outras finalidades. Já a agricultura, cuja demanda maior vem de projetos de irrigação, vem sendo taxada com valores menores, em comparação com outros setores”, revelou. Projetos de irrigação respondem pela maior parte do consumo de água no Brasil (71%). Os recursos decorrentes da cobrança são divididos na proporção de 45% para o estado, 45% para os municípios e 10% para a União. Os 45% arrecadados pelo governo paulista vão para o Fundo de Recursos Hídricos (FEHIDRO) a fim de viabilizar projetos prioritários aprovados pelo comitê de bacia. “Eles (recursos) são centralizados na agência de bacia, o ente executivo do comitê de bacia, que fica responsável pelos trâmites das reuniões e negociações necessárias para definir onde esses recursos serão aplicados. Thadeu não considera subsídio a cobrança de um valor menor pelo uso da água para o setor de irrigação, acrescentando que os valores cobrados podem variar conforme a localização. “Se o usuário retirar o recurso hídrico na nascente do rio, certamente o valor cobrado será maior”, ilustrou. Esses valores específicos serão determinados pelos comitês de bacias. Emaranhado jurídico Entre os exemplos de inovação na gestão de recursos hídricos, São Paulo é o estado precursor do emprego de tecnologia relacionada à compensação financeira das áreas inundadas por reservatórios hidrelétricos. Para Júlio Thadeu, um dos complicadores para uma gestão descentralizada dos recursos hídricos é o emaranhado institucional que envolve as bacias hidrográficas. Isso porque, no Brasil, o modelo adotado é de gestão compartilhada entre União e estados. Inspirado na experiência pioneira da França na década de 60, a gestão de comitês de bacia hidrográfica apresenta variações de acordo com o país na América do Sul. No caso da Argentina, todos os rios e lagos são de domínio das províncias (estados). Já o Uruguai adotou um modelo em que todos os corpos d’água são de propriedade da União, o mesmo no Paraguai. Como os Estados Unidos, o Brasil utiliza a “dupla dominialidade”, isto é, há divisão das águas entre a União e os estados. Águas que começam e terminam no estado e as subterrâneas pertencem a ele. O lagos, por sua vez, é de domínio da União, o mesmo ocorrendo com rios que cortam estados e os fronteiriços a outros países. k

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12 artigo Ricardo Dutra } água no mundo

Dia Internacional da Água ou Dia Municipal da Água? ia 22 de março comemora-se o Dia Internacional da Água, criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da água para a vida em nosso planeta. Nesta época, todos aproveitam para relembrar que o planeta Terra é formado de aproximadamente 70% de água e que a maior parte dela é salgada, por isso, imprópria para o consumo. A água doce, apenas 2,5% do total, está em lençóis subterrâneos ou congelada nos pólos, e apenas 0,007% está em rios e lagos, disponível para nosso consumo. Dessa quantidade de água doce disponível, 70% vão para a agricultura, 22% para a indústria e 8% para o consumo individual, conforme pesquisa do World Resources Insitute, da ONU. Convenhamos que, ainda assim, é muita água! Digo isso porque, morando no Brasil, podemos ver como somos bemservidos deste recurso natural. Além disso, com a temporada de chuvas em várias cidades do mundo, podemos ter uma idéia errônea de abundância de água disponível para consumo, ou seja, água tratada. Então, pergunto: por que, afinal de contas, cada um de nós deve se conscientizar sobre a importância da água (entenda-se água tratada)? Em primeiro lugar, devemos considerar que, antes de habitarmos o Planeta Terra, somos habitantes da nossa residência e do nosso município, e frequentadores do nosso trabalho, escola e bairro. É nesse ‘universo’ que as nossas atitudes podem fazer diferença de forma direta. Muito mais do que uma ação ecológica, estamos falando de uma iniciativa social, que contribui definitivamente para o bom saneamento básico do município, o que é fator de saúde e qualidade de vida para os habitantes. Hoje, quando falamos de sustentabilidade – sustentar, viabilizar a vida em um município –, estamos falando em disponibilizar aos habitantes água tratada e entregue nos locais de

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consumo, bem como de esgoto coletado e tratado. Portanto, se ‘economizamos’, ou seja, utilizamos racionalmente a água, estamos obtendo os seguintes benefícios: - Maior oferta de água, para atender a um número maior de usuários; - Redução dos investimentos na captação de água em mananciais cada vez mais distantes das concentrações urbanas; - Diminuição dos investimentos para atender às demandas em dias e horários de pico; - Maior oferta de água para áreas deficientes de abastecimento; - Redução do volume de água a ser captada e tratada; - Diminuição do volume de esgotos a serem coletados e tratados e, consequentemente, redução dos custos do tratamento de esgoto; - Postergação de investimentos necessários à ampliação do Sistema Produtor de Água, bem como do Sistema de Esgotamento Sanitário do Município; - Diminuição do consumo de energia elétrica (poucos se dão conta da demanda de energia para distribuição da água que se dá através de bombeamento contínuo) e, - Garantia do fornecimento ininterrupto de água ao usuário. Considerando tudo isso, arrisco-me a dizer que talvez a ONU deveria ter chamado este dia de Dia Municipal da Água. Logo, se “nada se perde, tudo se transforma” (Lavoisier), a importância deste dia é sabermos da real possibilidade de transformarmos os gastos desnecessários em benefícios diretos, sem perda de conforto e com ganhos reais para nossos orçamentos, sem falar que estaremos garantindo a água de cada dia. Afinal de contas, ‘nem só de pão vive o homem’... k * Ricardo Dutra é engenheiro e diretor da Draco Soluções E-mail: ricardo@dracoeletronica.com.br


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Resíduo fértil Unicamp busca comprovar a viabilidade do uso de fibras naturais no tratamento de esgoto, gerando efluentes que fertilizam plantas

os últimos 10 anos, pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp têm realizado testes com resíduos de casca de coco verde, bambu e areia como meios filtrantes para tratar esgoto doméstico. O resultado, até agora, tem sido animador: a remoção de até 70% do material orgânico, e o uso da água resultante do processo na fertilização de plantas. “Tudo é bem simples: cortamos as cascas de coco em quatro e colocamos num reator”, explica Luana Mattos, que em 2009 defendeu a tese de mestrado “Tratamento de esgoto sanitário em reator anaeróbio preenchido por casca de coco verde (Cocos nucifera) combinado com filtro de areia”, sob a orientação do professor Ronaldo Stefanutti. Além da eliminação de boa parte do material orgânico, o filtro de areia tirou toda a turbidez da água. No processo, o efluente ganhou em sua composição 82% de nitrato, entre outros nutrientes, ganhando atratividade para aplicação na agricultura. Uma segunda equipe de pesquisa usou essa água para irrigar rosas e comparou o resultado com o uso da mistura de água e fertilizantes industriais. Segundo Luccas Narinho e Giuliano Gabrielli, que ainda desenvolvem os testes nas plantas, o efluente do tratamento de esgoto é competitivo. “A produtividade é equivalente à conquistada irrigando-se com água da rede de abastecimento e adubação convencional”, diz Marinho. Além das rosas, os mestrandos já fizeram testes em plantação de milho, que é um cultivo alimentar, onde comprovaram que não há possibilidade de contaminação solo-planta. Agora eles desenvolvem os testes em plantações de eucalipto. “A ideia é testar resíduos facilmente encontrados para montar sistemas de tratamento de esgoto em pequenas comunidades

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e produzir um efluente que possa ser usado na agricultura”, diz Luana. Ela defende a continuação dos testes com o coco para conhecer sua resistência e desenvolver projetos para pesquisar a remoção de nitrato, fósforo e coliformes e adequar o efluente final a padrões de lançamento em corpos hídricos, além de buscar a possibilidade de usar o efluente como água de reuso. Os testes até agora realizados também colaboram para o cálculo da viabilidade econômica desse uso. Sob o ponto de vista agrícola, Gabrielli e Marinho apontam que as vantagens não se concentram apenas na redução de 100% no uso de adubos nitrogenados e de 40% em adubos potássicos. Para eles, se o reator anaeróbico estiver localizado perto das plantações, há a possibilidade de aumentar a escala e montar projetos comercialmente viáveis. Essa possibilidade fará parte da continuação da pesquisa, e, se aprovada, os mestrandos pretendem disponibilizar os processos como tecnologia aberta. “Eu imagino que possam ser usados em pequenas comunidades no Nordeste, onde o coco tem relevância econômica”, afirma Luana. O Brasil é o sexto maior produtor de coco do mundo, e o maior na América Latina. Hoje, 45% da massa do fruto são descartados. Estudos mostraram, por exemplo, que 80% do lixo recolhido na orla marítima do Rio de Janeiro são compostos de coco, que vai direto para os aterros e lixões. Além de usar a casca do coco como filtro de esgoto, também foram desenvolvidos processos para usar suas fibras em revestimentos, inclusive automotivos, substrato para a agricultura, e até como energético. A Índia, terceiro maior produtor de coco no mundo, gera anualmente cerca de US$ 70 milhões com exportações das fibras, num mercado estimado em mais de US$ 200 milhões. O Brasil teria 1% desse mercado. k


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Ao lado: Casca de coco verde representa 80% do lixo recolhido nas praias Abaixo: Ă gua nitrogenada resultado de filtragem de esgoto com coco substitui adubo em canteiro teste da Unicamp

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Água É o suar da terra esse mar intenso É o reinveitar da seiva esse labutar É o matar da sede essa mão em concha É a tempestade tremendo ondas É de se ter água em todo lugar

Fotos Roberto Cattani

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Caminhão percorre a Transamazônica durante a seca de 2010, a maior já registrada na região

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Não é da água o risco, mas do homem que, sufocando-a, faz escoar o seu destino.

Garimpeiro em Eldorado do Rio Juma (AM), o primeiro grande garimpo que tenta preservar o ambiente

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Mulher e filha de comunidade ribeirinha lavando roupa no Rio Xingu, na รกrea que seria submergida pela barragem de Belo Monte

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As chuvas de fevereiro alagam as ruas de SĂŁo Paulo

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Se de água somos feitos, como dela abdicar?

Distribuição de água em comunidade de índios do Chaco paraguaio

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22 análise } construção verde

Prédios verdes fazem lição de casa em 2011 Milhares de pessoas vivendo e trabalhando em edifícios com tecnologias verdes e o acompanhamento técnico do desempenho poderão dar um impulso ao setor, mas faltam políticas públicas e financiamento

Alexandre Spatuzza, de São Paulo

uando João Bassaral Neto decidiu que sua futura residência seria uma construção verde, projetou uma casa inteligente que reconhecesse os moradores e seus hábitos para melhor gerenciar o uso dos recursos, principalmente os energéticos e hídricos. Para isso, ele desenvolveu, junto com seu sócio na empresa EcoHHouse, um programa de computador para medir e gerenciar o reuso de água, o uso da energia solar, a iluminação, o aquecimento e até a segurança. Localizada na cidade de São Paulo, a casa está em processo de certificação Leed do Green Building Council Brasil (GBCBrasil) e deverá estar pronta ainda este ano. Ela será totalmente cabeada e conectada a um computador mainframe que fará os cálculos. O objetivo do projeto é dar maior conforto e garantir cerca de 30% de economia no consumo de água e energia. Com isso, a EcoHHouse também pretende preencher a lacuna de dados empíricos que existe no mercado comercial de empreendimentos verdes. Com a experiência adquirida com a nova casa, a EcoHHouse pretende vender consultoria e projetos na área.

Q

Expansão à vista Desde 2007 fala-se de edifícios verdes no Brasil. O setor está em franca expansão e conta com pelo menos quatro tipos de certi-

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ficação ou selo: o Leed, do GBC Brasil; o Aqua, da Fundação Vanzolini; o Selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal; e o Procel Edifica. Todos começaram a ser oferecidos ao mercado brasileiro entre 2008 e 2010. Hoje, no país, há cem edificações que contam com a certificação, e outras cem já deram entrada nos processos, considerados complexos, burocráticos e custosos. Isso, sem contar com outros empreendimentos comerciais e residenciais que adotam critérios “verdes” sem, entretanto, optar por uma certificação. Os novos prédios verdes incorporam tecnologias e técnicas pouco usadas no setor. Apesar de importantes, iniciativas acadêmicas como a Casa Eficiente – resultado da parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a Eletrosul – não conseguem alcançar projeção suficiente para demonstrar a um público mais amplo as benesses contidas em sua proposta. Além disso, correm o risco de apenas reforçar a barreira cultural existente de que projetos verdes implicam tecnologia de ponta voltada apenas para a população rica que pode esperar um retorno no longo prazo, diluído em contas mensais não muito altas. Nos Estados Unidos, onde o apoio governamental aos prédios verdes é grande, e já existem 8.860 edifícios comerciais com certificação Leed, o retorno do investimento em eficiência energética pode levar cerca de seis anos. Ou seja, uma eternidade


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2011 poderá ser um novo marco na luta pela redução da pegada de carbono do setor da construção: espera-se para os próximos meses a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. para o mutuário de uma casa ou condomínio – e, no caso dos EUA, é preciso levar em conta de que o consumo de eletricidade é, em média, dez vezes maior do que no Brasil. Em 2011, porém, isso promete mudar. Além dos prédios verdes para classe média, o programa Minha Casa Minha Vida e companhias de habitação como a estaduais iniciam a entrega de unidades com equipamentos de aquecimentos solar. Só em São Paulo e Minas Gerais, são projetadas cerca de 65 mil unidades com esta tecnologia. Além disso, os condomínios verticais contarão com medição individual de energia e eletricidade, tendência que também cresce no setor privado, facilitando a decisão de cada família sobre seu próprio consumo. As distribuidoras de energia, que têm como obrigação investir 0,5% de seu faturamento líquido em programas de eficiência energética, firmam convênios com o setor público para melhorar o consumo elétrico. Um exemplo é a AES Eletropaulo, que instalou equipamentos e promoveu melhorias em 822 escolas, colégios técnicos e faculdades públicas em São Paulo nos últimos anos, registrando uma redução total de 20 GMW/h no consumo de eletricidade, com investimentos de R$16 milhões. Círculo virtuoso Esses milhares de alunos, moradores e trabalhadores que passarão a conferir no dia a dia o resultado da aplicação desses conceitos poderão ser os principais disseminadores do apoio às construções verdes. “Aí começará o boca a boca”, diz Manuel Martins, coordenador da certificação Aqua, da Fundação Vanzolini. Isso poderá arrefecer a resistência do consumidor. Hoje, pesquisas de opinião quantitativas e qualitativas indicam que, apesar de reconhecer a necessidade de implementar medidas para reduzir o impacto ao meio ambiente, boa parte da popu-

lação ainda não está disposta a pagar mais por este benefício. O mesmo círculo virtuoso é esperado no setor empresarial. A Even, a única construtora brasileira listada no índice de sustentabilidade da Bovespa, o ISE, já adotou a certificação socioambiental em um empreendimento em São Paulo. Em 2009, iniciativas como essa, segundo reportagem no portal da Revista Sustentabilidade, sofriam resistências dada sua complexidade e os altos custos envolvidos no processo, como fazia a própria Even na época. A redução do uso de recursos naturais e energia durante os mais de 50 anos de vida útil de um imóvel agora começa a entrar nos cálculos das empresas, já que a maior parte de CO2 é emitida nessa fase. Estudos apontam que os edifícios consomem cerca de 40% de toda a energia no mundo e são responsáveis por 8% de todo o CO2 emitido. E o interesse por reduzir a pegada de carbono dos edifícios agora já chega à etapa em que estes sequer estão concluídos, com a geração de entulho e resíduos de construção. Em 2011, começaram a disseminar-se novos produtos e técnicas que levam em conta o ciclo de vida dos materiais. Conexões, concreto, cimento, argamassa e reuso de entulho têm sido a solução encontrada pelas construtoras. Ao longo de 2010, surgiram inovações do setor de cerâmica, plásticos e propostas de reutilizar o próprio entulho para fazer blocos e argamassas. Este ano também poderá marcar um novo marco nesse trabalho, pois se espera para os próximos meses a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que dá ênfase à logística reversa e força os municípios a prepararem planos de gerenciamento de resíduos. Os grupos industriais precisam agora pensar no descarte pós-consumo de seus produtos, criando um estímulo a inovação, incluindo o setor da construção civil. Essa vitória, entretanto, não mascara outras barreiras extramercado que ainda sobrevivem: a falta de políticas públicas consistentes e linhas de financiamento específicas. Há diretrizes de compras governamentais focando produtos menos daninhos ao meio ambiente, e em alguns estados como São Paulo e Rio de Janeiro, para a inclusão destes conceitos na reforma e construção de novos prédios públicos. Mas o avanço ainda é pequeno, principalmente porque a lei de licitação 9.666/93 ainda prevê compras pelo menor preço. Há também outros entraves políticos, como demonstra o caso da cidade de São Carlos, no interior de São Paulo. Em 2009, o município tinha aprovado uma lei que estimula a permeabilização do solo por meio de descontos no IPTU, além da proposta de outro desconto para quem instalasse tecnologias como aquecedor solar

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e sistemas de retenção e reuso da água da chuva. Até março de 2011, este projeto ainda não tinha sido aprovado na Câmara Municipal. O setor financeiro também caminha mais lentamente, apesar de frequentes campanhas institucionais focadas na sustentabilidade. Bancos como Itaú, Santander, Bradesco e a própria Caixa Econômica Federal dão apoio, suporte técnico e até selos, mas ainda não reduzem taxas de juros e encargos, nem oferecem prazos mais longos para cobrir os custos extras entre 2% e 10% que implica construir seguindo a cartilha verde. Órgãos multilaterais como IFC e Banco Mundial já trabalham com taxas diferenciadas para proje-

tos menos impactantes ao meio ambiente, enquanto nos Estados Unidos há não só financiamento governamental mais barato para edifícios com maior grau de eficiência energética, como alguns bancos comerciais têm linhas específicas para prédios verdes. De qualquer forma, 2011 desponta como um ano importante para os edifícios verdes. Será quando muitos moradores e trabalhadores poderão provar, em sua própria vida, o retorno de se investir no meio ambiente – e quem sabe, a partir daí, somar suas próprias reivindicações para popularizar esse novo conceito de viver. k

Veja abaixo a velocidade do que deve avançar em 2011 na área de edifícios verdes: Item

Velocidade

Razão

Nova certificação de edifícios

O número de requerimentos aumentou; empresas começam a valorizar essa iniciativa e há maior número de especialistas treinados

Novos materiais

Demanda do setor de construção, mas ainda proporcionalmente pequena em relação ao mercado total

Prédios Inteligentes

Conceito está incorporado pelas grandes construtoras e existe tecnologia testada, além disso, há demanda por dados e medições

Aquecimento solar

Indústria ganhou escala, preços começam a cair e existem linhas de financiamento específicas

Geração de energia de pequeno porte

Falta regulamentação, implementação Smart Grid e produtos com preços e financiamentos acessíveis

Reuso de água

Maior conscientização e exemplos vão ajudar, porém, falta de regulação e custo baixo da água inibem

Resíduos

Novas tecnologias de reciclagem estão mais disponíveis; regulamentação de Política de Resíduos Sólidos prevista para final do ano

Financiamento

Bancos ainda não incorporaram totalmente metodologias com critérios socioambientais para avaliação de risco e crédito

Incentivos fiscais

Governos federal, estadual e municipal não incorporaram critérios socioambientais em sistemas de orçamento público Legenda:

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alta

média

baixa


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{ certificação 25 construção verde

Capacitação é essencial Empresas e entidades certificadoras precisam treinar seu pessoal técnico para traduzir a sustentabilidade em critérios objetivos omprovar a redução de impacto ambiental de um empreendimento não é coisa simples. No mínimo, é preciso uma boa consultoria e treinamento dos profissionais dentro das construtoras. É um processo que requer a incorporação de muitos conceitos pois, como qualquer coisa na área de sustentabilidade, demanda uma transversalidade que engloba de fatores ambientais e de segurança do trabalho a aspectos sociais. O nível ouro do Selo Casa Azul, mais alta qualificação concedida pela Caixa Econômica Federal, por exemplo, exige três itens sociais obrigatórios: educação para a gestão dos resíduos de construção e demolição, educação ambiental dos funcionários e orientação dos novos moradores. São fatores que podem passar despercebidos frente a itens de mais fácil identificação, como o uso de aquecedores solares e o reuso de água da chuva. Parece simples mas, na hora de traduzir a sustentabilidade para conceitos técnicos, começa-se a enfrentar barreiras culturais próprias de cada perfil profissional. Isso talvez ajude a explicar o ritmo lento da adoção de certificações: no início de 2011, o Brasil somava cem edifícios entre certificados e em processo de certificação. A Caixa, por exemplo, concedeu o primeiro selo em março de 2011. À época do lançamento do selo, em junho de 2010, a Revista Sustentabilidade noticiou que o banco previa conceder selo para 30 empreendimentos. Isto não aconteceu, segundo a assessoria do banco, devido sobretudo à necessidade de capacitar os engenheiros da Caixa e do setor privado. O exemplo do Residencial Bonelli, citado a seguir, demonstra que o processo envolveu seis meses de consultas constantes, incluindo viagens entre Brasília e Joinville, para encontro entre funcionários da construtora e do banco.

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O Leed, que veio adaptado dos Estados Unidos, onde mais de 8 mil edifícios já foram certificados, é o que mais avançou no Brasil. No começo de 2011, somava 23 empreendimentos certificados, e outros 211 que solicitaram a certificação. O Aqua, da Fundação Vanzolini, tem cerca de 29 empreendimentos certificados. Apesar de não divulgar informações sobre as consultas, a entidade afirma que a demanda pelo selo é crescente, e que também começa a surgir interesse em reformar edifícios dentro dos critérios da sustentabilidade, para acelerar o processo de economia de energia do setor imobiliário. O treinamento técnico também começa a permear o trabalho de universidades, como a Unicid e o Senac, que incluem o tema sustentabilidade nas grades curriculares de gradução de engenharia e arquitetura. No caso dos demais profissionais da área, a tendência é recorrer a cursos de especialização nas universidades ou ingressar na área de pesquisa, que já tem uma forte tradição em algumas universidades públicas, como demonstra o Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis (Elecs). A outra opção é bater na porta das próprias entidades para capacitar-se. k Veja abaixo os sites das entidades que oferecem capacitação: • Green Building Council Brasil (certificação LEED) www.gbcbrasil.org.br • Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica www.anabbrasil.org • Fundação Vanzolini (certificação Aqua) - www.vanzolini.org.br • ELECS 2011 (congresso acadêmico) - www.antac.org.br • Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) www.cbcs.org.br

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Na frente O True Chácara Klabin, residencial da construtora e incorporadora Even localizado na zona sul da cidade de São Paulo, foi o primeiro a obter a certificação Aqua (Alta Qualidade Ambiental), operada pela Fundação Vanzolini. A certificação foi outorgada para a fase denominada Programa, onde são analisados o planejamento funcional e ambiental da construção e o compromisso da construtora em trabalhar sob um perfil de alta qualidade ambiental. Silvio Gava, diretor Técnico e de Sustentabilidade da Even, afirma que esse pioneirismo é positivo não apenas para a incorporadora, demonstrando o diferencial de seus produtos, como também para os investidores do empreendimento, “que apresenta melhores condições de conforto e estética e maior valor patrimonial ao longo do tempo” diz. Para conceder o certificado, a Fundação Vanzolini avalia 14 categorias de um projeto, que incluem desde a relação do prédio com o seu entorno a um canteiro de baixo impacto e a gestão e manutenção do desempenho da energia, da água e dos resíduos de uso. Características térmicas, acústicas, visuais e olfativas também são observadas, visando a um sistema integrado que privilegie o bem estar. Os especialistas envolvidos no projeto estão otimistas e trabalham na conquista das próximas certificações do Aqua: a Concepção e a Realização, atendendo às auditorias presenciais que garantem a rigorosidade do processo.

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Exemplo do Sul Caixa concede primeiro Selo Casa Azul para projeto catarinense Tudo começou com uma pesquisa para detectar as preferências de consumidores da classe média de Joinville quanto a moradia, há cerca de cinco anos. Entre as prioridades levantadas pelos entrevistados, a segunda mais importante foi um condomínio baixo; a oitava, uma piscina. O quesito áreas verdes também foi citado. Com esses dados nas mãos e uma ideia verde na cabeça, a construtora catarinense Rôgga S.A. começou a projetar o condomínio Bonelli. “Daí para obter o Selo Casa Azul da Caixa foi um passo simples, pois já atendíamos mais de 20 dos 32 critérios obrigatórios”, conta Vilson Buss, diretor geral da Rôgga. O condomínio Bonelli será o primeiro a receber o Selo Casa Azul categoria Ouro, da Caixa Econômica Federal, desde que a certificação foi lançada, em meados de 2010. Por ser pioneiro, tanto os técnicos da empresa quanto os da Caixa precisaram aprender juntos. Foram cerca de seis meses de reuniões e estudos para entender como aplicar os conceitos. “Tudo começa com uma política da empresa de não comprar terrenos em áreas de possível contencioso ambiental”, explicou Buss. Apesar de não conter dispositivos para aquecimento solar ou fontes alternativas de energia, itens não obrigatórios para o selo, o projeto, desde seu início, conta com gerenciamento dos resíduos, e terá pelo menos 20% de área permeável. Além disso, o condomínio está orientado geograficamente, conterá aberturas para melhorar a ventilação natural e terá dispositivos de economia da água e energia em áreas comuns e internas. “O resultado será uma redução de cerca de 20% no valor do condomínio comparado com edifícios do mesmo padrão”, afirma Buss. O grande desafio para a Rôgga, segundo o executivo, foi atender às exigências sociais do certificado, como o treinamento e a educação ambiental dos trabalhadores, a contratação de mão de obra local e o planejamento para a educação ambiental dos futuros moradores. “Coisas como separar totalmente os resíduos, monitorar as caçambas e, por exemplo, transportar o resíduo de gesso 300 km para depositar em local autorizado, já estávamos fazendo em outras obras,” disse. Segundo Buss, os custos do projeto foram cerca de 3% mais altos do que nos projetos tradicionais, valor que ele afirma que será facilmente absorvido dentro da faixa de preço de cada apartamento, entre R$ 150 mil e R$ 250 mil.

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28 payback } construção verde

Vale a pena

morar verde? Brasil entra em 2011 com 50 projetos de imóveis de baixo impacto ambiental que servirão de teste para esse novo mercado

Marcello Medronho Sigwalt, de Brasília

ue a construção verde está na moda, todos sabem. Que é bom para o meio ambiente, a maioria entende. Que gera uma boa imagem para a empresa, ninguém questiona. Mas, afinal: os imóveis verdes são um bom investimento? É possível obter retorno palpável e financeiro compatível com os planos das empresas? A construção verde implica não apenas o uso de materiais cujo ciclo de vida é menos prejudicial ao meio ambiente, mas também um projeto que prevê eficiência na manutenção, no uso da água e da eletricidade durante toda a vida útil do imóvel. Em 2010, o número de empreendimentos certificados pelos dois principais sistemas referência socioambiental em uso no país – o Leed, do Green Building Brasil, e o Aqua, da Fundação Vanzolini –, cresceu 37% e 240%, respectivamente, comparado a 2009. Esses gordos percentuais, entretanto, ainda representam uma gota no oceano: um total de 50 projetos aprovados, frente a 30 mil unidades residenciais lançadas somente na capital paulista em 2010, segundo o Secovi-SP. Mesmo que seja apenas o começo de um longo caminho, o que impede o desenvolvimento de mais projetos de edifícios ambientalmente eficientes? Sob a ótica tradicional, as dúvidas de muitos empreendedores se justificam. A lógica atual do setor visa a uma taxa de retorno cal-

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culada meramente com base no investimento e no custo de capital contra o VGV (valor global de venda). Portanto, já que custo de capital e o preço final de venda são fatores externos, o melhor jeito de garantir uma boa taxa de retorno e continuar com caixa para acompanhar o boom imobiliário que o País vive é reduzir custos no projeto, nos materiais, na mão de obra, enfim, onde for possível. O fator econômico, entretanto, é apenas um dos tripés da sustentabilidade. Os outros dois – o social e o ambiental – necessitam da adoção de outra ótica para compensar os custos que a construção verde implica, independentemente de esta ter certificação ou não, e que em média são 11% maiores do que em uma construção convencional. Sem perfumaria “Um prédio verde não é apenas plantar uma árvore na frente”, diz Manuel Martins, coordenador da Certificação Aqua. “É preciso gastar mais tempo no projeto e considerar o retorno do edifício ao longo dos 50 ou mais anos de vida útil.” A certificação da Fundação Vanzolini toma como base a análise de 14 aspectos em todas etapas do empreendimento, incluindo consumo de energia e água, nível e isolamento acústico, materiais usados e seus ciclos de vida – ou seja, como são usados


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Segundo Martins, da Fundação Vanzolini, a rede de materiais de construção Leroy Merlin, que está construindo suas novas lojas buscando melhor eficiência ambiental, registrou um aumento de custo de 8% na construção de uma delas. No entanto, espera-se o retorno desse investimento extra em apenas dois anos, resultante de economia de energia e uso de água. “A partir daí é lucro,” diz Martins. “Além disso, na Merlin, avaliam que o custo extra foi, em grande parte, resultado de adequação do projeto; agora que já sabem planejar sob o modelo do selo Aqua, estimam que esses custos extras não existirão nos novos projetos.” Para Hamilton Leite Júnior, diretor da incorporadora Casoi Desenvolvimento Imobiliário, que está desenvolvendo um condomínio residencial com a certificação Aqua, o custo “depende do tipo do edifício, e depende do nível que você quer obter”. Apesar de não revelar o tempo de retorno do investimento extra, por este depender do uso e gerenciamento do imóvel, Leite explicou que conseguiu incorporá-lo e venceu a barreira do preço, o que resultou em atrativos claros e mais objetivos, entre eles, a valorização patrimonial. “O valor do condomínio é menor e isso abre a possibilidade de alugar por um valor maior”, diz. “E decidimos que, no lançamento, o imóvel não teria um preço maior, o que fez acelerar as vendas.”

na obra, destinação do entulho – e até a orientação solar do edifício, que ajuda no isolamento térmico e melhora a iluminação. Desde que foi lançado, em 2008, o selo Aqua já está em 23 projetos no Brasil. A expectativa da Fundação Vanzolini é de que a demanda pela certificação dobre – ou até triplique – em 2011. Além de atrair o consumidor que percebe o status de ser “ambientalmente correto”, outros fatores mais objetivos também justificam essa aposta, como a redução do custo do condomínio ou de manutenção, benefícios financeiros que são incorporados pelo usuário e não apenas pelo construtor, como no caso de um projeto convencional. Marko Brajovic, arquiteto associado ao Green Building Council, percebe esse interesse entre os clientes que batem à porta de seu escritório em São Paulo. “Construção verde se traduz em uma opção ética pelo cliente”, diz.

Na ponta do lápis A visão de Leite é comprovada por estudos nos Estados Unidos, feitos pelo programa de eficiência energético do governo, Home Energy Saver. Esses estudos indicam que a aplicação de dez medidas de eficiência energética pode resultar em uma economia de US$ 600 por ano, ou um retorno do investimento de cerca de 16% ao ano. Conhecer este retorno é a questão mais difícil, mas também a mais premente para incentivar o setor. Por isso, os construtores verdes já arregaçaram as mangas. “Sabemos que a adoção do Leed aumentou o custo em cerca 30%, mas ainda não sabemos o retorno e o tempo de payback exatos, por isso vamos monitorar tudo durante o uso da casa,” disse João Barassal Neto, coordenador geral do EcoHHouse, projeto residencial de 200 m2 que está sendo desenvolvido no Bairro de Santana, em São Paulo. O EcoHHouse é um projeto experimental que inclui a parte residencial, onde seis pessoas morarão, mais um showroom.

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Hoje, quando se trata de redução do impacto ambiental, a tendência observada no Brasil é de introduzir a obrigatoriedade, e não o incentivo. Fazem arte do projeto iluminação natural, sensores de movimento e luz, reuso de água, tratamento de esgoto, painéis fotovoltaicos, aquecedores solares e telhas brancas, todos monitorados por um mainframe. O projeto ainda inclui parcerias com 15 fornecedores para manter e trocar equipamentos e substituir materiais, caso surjam novas tecnologias. Barassal reconhece que sua escolha implicou um investimento maior, e lamenta não haver contado com nenhuma facilidade de crédito ou apoio governamental para concretizá-la. “Essa é uma importante barreira para o setor de construção sustentável”, diz. Bancos privados, em geral, têm produtos que visam à melhoria do desempenho ambiental. Exemplos disso são o projeto construção sustentável do Banco Santander – que assumiu o projeto do Banco Real – e a linha específica do Banco Itaú para aquecedores solares. Há ainda o Selo Azul da Caixa Econômica Federal, lançado em 2010, que permite a obtenção de crédito caso o empreendimento garanta qualidade urbana, eficiência energética, conservação de recursos materiais, gestão da água e práticas sociais. Entretanto, nenhum destes oferecem benefícios além de um checklist ou serviço de consultoria, e tampouco oferecem uma taxa de juros diferenciada, redução de encargos financeiros ou prolongamento de prazos. De qualquer forma, é um segmento com grande potencial para ser explorado pelo setor financeiro. “Existe um mercado cheio de novas oportunidades de negócios”, diz Cássio Trunkl, sócio-diretor da Consultoria Finanças Sustentáveis. “Alguns bancos já utilizam critérios sociais e ambientais na análise e decisão de crédito.”

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“Nos países nórdicos e na Alemanha, tudo o que é feito de maneira a economizar recursos ganha benefícios do governo no pagamento de impostos. No Brasil, isso está engatinhando”, diz Henrique Cury, da Ecoquest, diretor da franquia brasileira da empresa norte-americana que fornece máquinas para limpeza de ar condicionados, e buscam a certificação Leed do Green Building Council. Apesar de municípios como São Carlos e Porto Alegre terem considerado uma redução de IPTU para itens como reuso de água ou aquecimento solar, a tendência observada é de regulamentação. Ou seja, de introduzir a obrigatoriedade, e não o incentivo. Desde 2007, por exemplo, Belo Horizonte, cidade que poderia ser conhecida como a capital do aquecimento solar no Brasil, tem uma lei que obriga utilização de tubulação para sistema de aquecimento solar em edifícios residenciais e do uso misto. Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionados, Ventilação e Aquecimento (Abrava), outros 26 municípios têm leis parecidas. “Existem dois tipos de leis sobre o uso de aquecimento solar: as de incentivo e as de obrigação”, diz Ronaldo Toraiwa, engenheiro da Abrava. “Um exemplo é a lei da cidade de São Paulo, que é de obrigatoriedade. Outro exemplo é a lei criada recentemente em Guarulhos que oferece desconto no IPTU para quem possui aquecimento solar de água.” Seja como for, essas alterações fazem com que muitas empresas do setor imobiliário passem a observar a legislação com mais cuidado, para evitar surpresas futuras. “A questão de sustentabilidade é um caminho sem volta”, diz Fabiana Perez, gerente de Incorporação e Sustentabilidade da construtora paulista JHFS, que ajudou a projetar o empreendimento Cidade Jardim Comercial Center, em São Paulo, dentro dos critérios do Aqua. Com lançamento previsto no início do segundo semestre, ele será mais um no portfólio brasileiro de experiências na área de construção verde que poderá virar referência não só ambiental quanto econômica. Segundo Perez, apesar do custo extra de 2% a 4%, já se calculam economias significativas no futuro: de 40% a 50% nos gastos com água e de 30% a 40% de energia elétrica, o que resultará em uma economia de cerca de 20% no valor do condomínio. k


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_GRUPO PAULISTA REFORÇA PORTFÓLIO

Tradicional na área de tanques e equipamentos para estocagem de combustíveis em postos, o Grupo Zeppini reforçou seu portfólio verde lançando na Feicon Batimat produtos para reaproveitamento de água da chuva, tratamento de efluentes e esgotos. Em 2009, a empresa de São Bernardo do Campo lançou uma moto elétrica e já falava em painéis fotovoltaicos. Três novos produtos – sistema de aproveitamento de águas pluviais para residências, para indústrias e um biorreator foram lançados no evento deste ano que aconteceu em São Paulo, em março.

SUSTENTÁVEL

_ ECONOMIA LIMPA Mais do que abrigar a Cidade Maravilhosa, o Rio de Janeiro dá mostras de que também quer ganhar o título de Estado Sustentável. Em março, tornou-se o primeiro do Brasil a ganhar uma Subsecretaria da Economia Verde. Em suas primeiras declarações, a nova secretária, Suzana Kahn, demonstrou-se otimista com a possibilidade de que o Rio adote medidas de descarbonização similares às que estão sendo adotadas na China. Para isso, será preciso estimular o crescimento da economia, reduzindo gradualmente a participação das indústrias mais contaminantes. Uma desafio e tanto, frente aos projetos siderúrgicos que o estado tem previsto para os próximos anos.

_RECONHECIMENTO VERDE O Green Building Council Brasil, líder em certificação de empreendimentos com menos impacto ambiental, reconheceu os esforços das companhias que mais avançaram nesta categoria por meio do prêmio Greening 2011 durante a Feicon Batimat, que ocorreu em São Paulo em março. Os vencedores deste ano foram: Categoria incorporadora – Bracor, com projetos como a Universidade da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro,

e o Ecopatio Imigrantes; Categoria construtora - Método Engenharia, com o Rochaverá, em São Paulo; e Ventura Corporate Tower,

no Rio de Janeiro. Categoria projeto - Coca-Cola, com o programa de implantação de técnicas de eficiência e construção

sustentável, assumindo o compromisso de certificar ambientalmente todas suas novas plantas industriais no Brasil, além de todas as 25 plantas já existentes. Já conta com duas plantas industriais em processo de conclusão da certificação LEED, em Curitiba e Maceió. Categoria arquiteto - Ruy Rezende, seus projetos reconhecidos incluem o edifício da Petrobras em Santos, o Cidade Nova e o prédio da NOS, estes últimos no Rio de Janeiro. Categoria fornecedor de material - Remaster, com os pisos elevados feitos de material 100% reciclado e cujo processo de produção busca eficiência no consumo de água e energia. dia mundial da água


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_ APRENDER BRINCANDO Quem nunca se viciou em um jogo de videogame, que atire a primeira pedra. Ou faça melhor: vista-se de cientista do futuro e embarque na “Missão Triplo R”. Desenvolvido pela empresa de projetos multimídia Sambão Produções Inventivas, o game busca estimular que os jogadores desenvolvam bons hábitos no mundo virtual, para que estes logo sejam incorporados ao mundo real. O projeto recebeu apoio de R$ 120 mil nãoreembolsáveis da Finep, que também auxiliou no processo de produção da empresa. O game é dividido em cinco módulos – juvenil, mídia, privado, público e corporativo –, voltados a diferentes públicos. Agora, a Sambão busca parcerias para desenvolver novos módulos, que podem ser customizados dependendo das necessidades de cada instituição ou empresa.

_ EVENTO CAPIXABA De 7 a 9 de setembro de 2011, a Universidade Federal do Espírito Santo sediará o VI Encontro Nacional e o IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis (Enecs e Elecs 2011). Este ano, o tema central do evento será “O que, de fato, é sustentável?”, analisando a complexidade de avaliar a sustentabilidade. Além de especialistas brasileiros, espera-se a participação sobretudo de representantes do Chile, Colômbia e Argentina. Mais informações: www.elecs2011.com.br

_ GELADA E SUSTENTÁVEL A maior preocupação do impacto da atividade industrial no meio ambiente se reflete no Brasil através das multinacionais instaladas no país. Exemplo disso é a Heineken, que adota em suas fábricas brasileiras um modelo similar de controle de uso de água aplicado na Alemanha. Além de participar dos Comitês de Bacias Hidrográficas nas regiões em que atua, suas plantas possuem estações de tratamento de efluentes com eficiência média de 94%, o que significa, segundo a empresa, um índice de pureza maior do que quando esta foi retirada. A água é reaproveitada, e há monitoramento de pontos de desperdício. Essas medidas, de acordo a Heineken, resultam em uma economia anual equivalente a 38 piscinas olímpicas por ano. Com os progamas de redução de consumo, a empresa opera no Brasil com um consumo médio de 4,9 litros de água para cada litro de cerveja fabricado, enquanto a referência internacional é de 6 litros de água para fabricar cada litro da loira gelada. dia mundial da água


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_ CASA VIVA Modificar o comportamento da sociedade, levando a teoria à prática.

Esse é o desafio que se propõe a Casa Viva, uma proposta de casa modelo ecologicamente correta que, de 7 a 11 de abril, servirá como ponto de encontro para os interessados em conhecer produtos, tecnologias e opiniões técnicas relacionadas à responsabilidade socioambiental. O evento será no Centro de Convenções Sulamérica, no Rio de Janeiro, num espaço de 5 mil metros quadrados. A programação, que inclui não apenas o espaço de exposição como palestras e debates, tem como foco questionar os hábitos de consumo da sociedade visando a uma educação ambiental que também seja observada pelo prisma da competitividade nos negócios. Mais informações: www.casavivaconceito.com.br

_ LONDRES CONHECE BRASIL Um auditório lotado de interessados em saber sobre como o Brasil desenvolverá os projetos de infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas foi um dos destaques da feira Ecobuild, maior do mundo no segmento de construção sustentável, promovida no começo de março em Londres. Na ocasião, o presidente do SindusCon-SP, Sergio Watanabe, e o presidente do Sinaenco São Paulo (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), José Roberto Bernasconi, puderam apresentar iniciativas brasileiras como o Programa Madeira Legal, que incentiva o uso de madeira certificada, de origem não-predatória, desenvolvido em parceria com a WWF-Brasil. Os executivos destacaram a importância da sustentabilidade como foco estratégico da construção e salientaram que, mais além dos grandes eventos esportivos, o Brasil demandará fortes investimentos em infraestrutura pelos próximos 40 anos. No Reino Unido, sede do evento, a preocupação com a redução do impacto ambiental no setor de construção é marcante. Tanto que, até 2016, o país tem como meta que todos os edifícios novos operem com emissão zero de carbono.

_POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ESTIMULAR USO RACIONAL DE ÁGUA Em geral, o setor privado se diz contra excesso de regulamentação. Há setores, entretanto, que defendem o oposto. Em entrevista à Revista Sustentabilidade, o gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios da Siemens Brasil, Alfredo Lorenzo, defendeu que o mercado de tratamento de efluentes residuais no Brasil deveria contar com uma regulamentação mais forte. Para ele, se o Brasil melhorasse seus padrões técnicos para relançamento de efluentes nos corpos de água, as empresas inibiriam o impulso de lançá-los de forma descriteriada. “O governo e os políticos conhecem o assunto e sabem o que deve ser feito”, comentou. O lançamento de efluentes é regulamentado por uma resolução do Conama de 2005.

dia mundial da água


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ANUNCIO ECOPOLO sexta-feira, 18 de mar

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