Diálogos • Revista da CIP

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OUT • NOV 2016 ELUL 5776 | TISHRÊ • CHESHVÁN 5777

REVISTA DA CIP


Educação e igualitarismo Começamos o ano de 2016 com um importante direcionamento estratégico da CIP em direção ao igualitarismo. O Conselho Deliberativo da entidade votou por abrir a CIP à participação integral da mulher e dar a elas a opção de realizar todas as mitsvót religiosas. Na CIP, o processo de igualitarismo vem evoluindo há algumas décadas e começou pelos jovens, que não fazem distinção de gênero nas colônias e machanót. Agora, a partir da Amidá dessa nova abertura, os rabinos da Congregação irão gradualmente integrar as trecho mulheres ao espaço da sinagoga e das rezas. A CIP segue uma tendência judaica mundial: o movimento conservador é majoritariamente igualitário, e o reformista, totalmente. Já é possível, inclusive, encontrar comunidades ortodoxas que trabalham com a igualdade de gênero. É importante dizer que a Congregação está sendo coerente com as mitsvót que já são praticadas em seu dia a dia: a entidade não diferencia homens e mulheres nos direitos individuais, no tratamento ou na educação, e precisa manter-se coerente em seu rito. O Ticun de Shavuót da Congregação, que será realizado no dia 11 de junho, terá como um dos principais temas o igualitarismo e a coerência comunitária. Participe, discuta e entenda melhor o caminho que a CIP está tomando. Aproveito para informar que os serviços religiosos das Grandes Festas continuam com o mesmo formato. Entendemos que os frequentadores da Antônio Carlos gostam do formato atual, assim, as principais mudanças ocorrerão nos serviços do São Luiz. Em breve terá início o processo de reserva de lugares para Rosh Hashaná e Iom Kipur, e reforço aqui a importância de seguirmos as normas de segurança no que diz respeito à lotação dos espaços – o que nos obriga a solicitar os convites para o acesso às rezas. Este ano, por voltar a vender as cessões plurianuais (sete anos), a CIP está reorganizando os lugares das famílias que assim o quiserem. Entre em contato o quanto antes. A renda destas cessões será investida em reformas patrimoniais muito necessárias e no endowment de nossa instituição. Finalizo contando que no último mês de março a Congregação concluiu o processo de transferência da casa onde funcionava o antigo setor ortodoxo da kehilá (na Ministro Rocha Azevedo) para o Ten Iad. A instituição, que já vinha ocupando a casa em forma de comodato provisório há 15 anos, agora o faz de forma permanente. É importante que a nossa comunidade mantenha sempre uma visão maior, buscando a racionalização de esforços e patrimônio em busca da causa maior.

‫שים שלום טובה וברכה‬ Sim shalom tová uvrahá

A CIP deseja que 5777

seja um ano repleto de

paz, bondade e bênção.

‫לשנה טובה תכתבו‬ LeShaná tová ticatêvu

SÉRGIO KULIKOVSKY • PRESIDENTE

Fique por dentro da programação: | cipsp ou www.cip.org.br


PRESIDÊNCIA

Shaná Tová Terminamos nosso ano de 5776 otimistas com o futuro da CIP. Neste ano em que comemoramos nosso 80º aniversário temos a oportunidade de, novamente, pensar em nossa história e no que queremos para os próximos anos. Em agosto, o rabino Michel levou um grupo da CIP à Alemanha para conhecer parte importante da história que trazemos hoje. Vimos que, no início do século passado, já existia um ambiente comunitário muito desenvolvido e com esforços e desafios grandes de integração à sociedade maior. Um ambiente extremamente diversificado e organizado, e de onde o conceito de Einheitsgemeinde, comunidade unificada, foi trazido e depois implantado por aqui. Hoje vemos uma comunidade em forte crescimento, com sinagogas ativas e até mesmo um exitoso seminário rabínico. As lições de reinvenção comunitária devem nos servir de inspiração para renovação e fortalecimento de nossa comunidade. Neste último ano trabalhamos no aumento do envolvimento e da participação de nossa comunidade. Atuamos em duas frentes especiais: o papel da mulher na CIP e a música na sinagoga. No final do primeiro semestre o Conselho Deliberativo da Congregação aprovou o igualitarismo completo de gêneros na instituição. Estamos presenciando um aumento vigoroso da atuação feminina, seja em grupo de estudos, cursos e também nos serviços religiosos. O maior envolvimento das mulheres é fundamental para trazer as famílias e para vivermos mais em comunidade. A música também vem mudando neste ano, sob liderança do Lúcio, nosso diretor musical, e do chazan Ale Edelstein, que coordena sua evolução em direção a uma maior participação de nossos congregantes. Se antes tínhamos a música atraindo os frequentadores como em um “show”, onde as pessoas vinham assistir ao serviço religioso, agora temos a música como ferramenta de integração, resultando em uma maior participação do público. Queremos um ambiente onde as pessoas se sintam cada vez mais à vontade para rezar e cantar, e, com isso, sentirem melhor este momento. Nas Grandes Festas estaremos com um coral maior, contando com a participação intensiva dos voluntários de nossos corais, que são coordenados pelo maestro Felipe Grytz, o Pipo. Brevemente devemos estar convocando novas eleições para o Conselho da CIP, que é formado por 24 membros eleitos, três membros natos e três representantes da Juventude. Nestas próximas eleições renovaremos metade do conselho eleito, ou seja, 12 membros. Sua participação será extremamente importante, já que o Conselho definirá a próxima Diretoria. SÉRGIO KULIKOVSKY • PRESIDENTE

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PERGUNTAS Isidor Isaac Rabi, físico americano judeu e ganhador do prêmio Nobel em 1944, costumava atribuir seu sucesso à sua mãe. Especialmente porque, ao voltar da escola, quando era criança, sua mãe não costumava lhe perguntar o que tinha aprendido aquele dia, mas sim o que tinha perguntado. Segundo ele, foi isso o que o tornou um cientista. Fazer boas perguntas. O judaísmo sempre viu na formulação de boas perguntas a virtude da verdadeira inteligência. Os sábios do Talmud se distinguiam pelas perguntas que faziam mais do que por suas repostas. No sêder de Pêssach, o último dos filhos é aquele que não sabe perguntar. Neste período do ano, sugiro analisarmos as seguintes perguntas. Quais são as perguntas das festas do mês de Tishrê e como podem elas contribuir para que ganhemos significado? O que me proponho mudar neste novo ano? Por que mereço mais um ano? Qual diferença farei? A quem? O que vou conservar este ano? O que acertei, errei e não fiz no ano passado? O que não poderei mudar e deverei aceitar do jeito que é? Como farei para aceitar? O que falei? O que calei? O que aprendi? O que não compreendi? O que me trouxe satisfação? Pelo quê lamento? Quem pediu meu perdão? A quem perdoei realmente? A quem pedi perdão com sinceridade e a quem não me atrevi a pedi-lo? Quem me perdoou? De quem não aceitei o perdão que me foi pedido? Por quais coisas não me perdoo? Do que gostaria de lembrar de meus entes queridos falecidos? Do que gostaria de esquecer? Quais pendências essas pessoas me deixaram? Como acolho as pessoas que visitam minha casa, meus costumes, minhas ideias, meus valores, minha vida? Como sou como hóspede na casa dos outros, nas suas ideias, valores e costumes? Consigo cumprir com o mandamento de ser feliz ao menos no Shabat e nas festas? Como? Me abstraindo da realidade? Buscando o bem em tudo? Sobre quais outras emoções e atitudes consigo ter algum controle? Amor? Amizade? Fé? Paciência? Tolerância? Interesse? Entusiasmo? Empatia? Qual o meu grau de responsabilidade diante das emoções? Sou livre e responsável a respeito de minha personalidade e caráter? Que possamos nos encontrar na reflexão comunitária e individual destas e outras questões que nos permitam crescer e viver com mais sentido e profundidade. Rabino Ruben Sternschein

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PRESIDENTE Sérgio Kulikovsky RABINATO Ruben Sternschein Michel Schlesinger VICE-PRESIDENTE INSTITUCIONAL Tatiana Heilbut Kulikovsky

A Congregação Israelita Paulista dá as boas-vindas a seus novos associados. • Bela Mere Pildusas Krasilchik • Claudia Colen Rosenthal e Henrique Rosenthal • Cristty Anny Sé Hayon e Elie Henry Hayon • Cyntia Venetaner Abramczyk e Marcelo Luiz Abramczyk

DIRETORA DE MKT E COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL Laura Feldman

• Diana Csillag Finger e Marcelo Finger

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aide Firer Andrea Kulikovsky Andréia Hotz Carmen S. Carvalho Fernanda Tomchinsky Galanternik Juliana Somekh Marcos Lederman Michel Schlesinger Ruben Sternschein Sergio Kulikovsky Theo Hotz

• Eliane Libera Febrot Kovesi e Marcelo André Kovesi

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL Andréia Hotz (MTB 61.981) MARKETING Simone Rosenthal PROJETO GRÁFICO Juliana Abram Mermelstein FOTOS Arquivo CIP e Shutterstock

• Doris Kertsman e Victor Rogério Sbrighi Pimentel • Juliana Bortali e Bruno Knobel Ulrych • Juliana Pimentel e Edgard Pimentel • Larissa Korff e Felipe Schucman • Lucia Mandel e Julio Mandel • Marina Oehling Gelman e René Gelman • Miriam Rinaldi Goldbaum e Mauro Goldbaum • Nathalia De Fiore Tessler e Mateus Tessler Rocha • Renata Paparelli e Luis Antonio Gomes de Lima • Sandra Serson Rohr e Edgar Rohr • Valdecir Felix BRUCHIM HABAIM

Esta é uma publicação da Congregação Israelita Paulista. É proibida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião da CIP. FALE COM A CIP PABX: 2808.6299 cip@cip.org.br www.cip.org.br Ação Social: 2808.6211 Administrativo/Financeiro: 2808.6244 Comunicação: 2808.6228 Diretoria: 2808.6257 Escola Lafer: 2808.6219 Juventude: 2808.6214 Lar das Crianças: 5522.0438 Marketing: 2808.6247 Rabinato: 2808.6230 Relacionamento com o Associado: 2808.6256

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LAR DAS CRIANÇAS Voluntariado e gratidão POR Aide Firer Aide Firer e Carmen S. Carvalho

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AÇÃO SOCIAL Um convite para cuidarmos de nosso futuro POR Marcos Lederman e Michel Schlesinger

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RABINATO Refugiados: um novo olhar para um desafio antigo POR Michel Schlesinger


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RABINATO Reza, música e outras expressões da espiritualidade POR Ruben Sternschein

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JUDAÍSMO Agora é hora de alegria POR Theo Hotz

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ENSINO O Bat-mitsvá e a CIP POR Andrea Kulikovsky

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JUDAÍSMO Aprender do novo a partir do mesmo POR Fernanda Tomchinsky Galanternik

e mais...

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CULTO MUSICAL CULTO ACONTECE JUVENTUDE


Foto: Eliana Assumpção

CULTO • ESPECIAL

MÚSICA, JUDAÍSMO E COMUnIDADE POR Andréia Hotz, editora da revista Diálogos Reforçar o papel da música como ferramenta de religiosidade e conexão espiritual, e aproximar ainda mais a comunidade da religião têm sido os grandes objetivos do departamento musical da Congregação. Na entrevista a seguir, o chazan Ale Edelstein, coordenador da área, fala sobre a importância da música na CIP e os desafios e novidades do trabalho junto à comunidade. Por que a tradição musical da CIP vem passando por algumas mudanças nos últimos anos? Todas as mudanças na área musical tiveram o mesmo motivo: a busca da CIP por aproximar ainda mais seus frequentadores da religião e fazer com que eles participem mais dos serviços religiosos, sentindo-se parte da comunidade. A ideia é transformar a experiência em algo mais ativo, inclusivo. Não queremos que a pessoas venham apenas para “assistir” a reza, queremos fazê-las sentirem-se parte. Por isso o modelo de tradição musical foi alterado há alguns anos e por isso foi criada uma diretoria de música. Mas esse novo cenário não foi inventado. É reflexo da modernização do judaísmo como um todo. Afinal, o judaísmo do século XXI tem que ter elementos do século XXI, como as

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famílias sentando-se juntos para participar das rezas, e a participação mais ativa das mulheres, por exemplo. E toda essa busca por sentir-se parte ativa se refletiu na música, que é 80% dos serviços religiosos judaicos. Houve uma mudança de paradigma, quase. Foi se construindo, se criando, um novo modelo no qual as pessoas cantam mais, participam mais. É uma mudança da vivência religiosa através da música. E A CIP tem espaço para vários tipos de conexão espiritual: para os que se emocionam ouvindo uma composição de Lewandowski cantada por um chazan lírico acompanhado de um coro com arranjo a quatro vozes, e também para quem prefere algo mais acústico, com violão e instrumentos de percussão. E, nesse sentido, o que a CIP oferece hoje para a comunidade judaica? Hoje a CIP oferece seu tradicional serviço de Shabat, que pode ser conduzido por mim ou pelo Avi Bursztein; tem os serviços conduzidos pelos alunos do Ensino; tem os shabatot especiais da Juventude, conduzido pelos jovens dos movimentos juvenis da Congregação; tem o Cabalat Shabat no Lar das Crianças, que acontece quinzenalmente e atende aos associados que moram na região Sul da cidade; tem o Shacharít


Haverá alguma novidade para os serviços de Grandes Festas deste ano? Sim. E tem sido um desafio fazer mudanças em um período tão solene, com tanto significado. A liturgia de Rosh haShaná e Iom Kipur é muito especial por se tratar de um período único e que difere em vários aspectos do restante do ano. E seu conteúdo acaba levando para algo mais tradicional, mais imponente. Então, para que essa mudança ideológica, de aproximação, dê certo e seja bem aceita pela comunidade é preciso que todos deem o passo juntos. E é o que estamos fazendo. Decidimos, diretoria e coordenação de música, convidar o coro litúrgico voluntário da CIP, regido pelo maestro Felipe Grytz, o Pipo, para participar dos serviços de Grandes Festas. O Kavaná é um grupo maravilhoso, e o significado de seu nome – intenção verdadeira, do coração – diz muito sobre ele. A CIP costuma ter duas equipes de música para as Grandes Festas – compostas basicamente por um chazan, um pianista e um coral de oito vozes – que se revezam entre os serviços realizados na sinagoga Etz Chaim e no Centro de Eventos São Luís. O coro que vai me acompanhar será composto por 18 pessoas: os músicos que há anos vem trabalhando com a gente e também os cantores voluntários do Kavaná. E por conta do perfil mais leve, mais suave, do coro

voluntário, estamos fazendo também algumas mudanças melódicas: chamamos o arranjador Alexandre Travassos para fazer novos arranjos, mais simples, orgânicos, para as músicas que serão cantadas pelo grupo. E uma outra novidade é que teremos também no grupo dois instrumentistas: uma violoncelista e um flautista, que também toca clarinete. A preparação, que para o coral Kavaná começou em abril, tem sido maravilhosa, desafiadora e super comunitária. A ideia é dar outras cores, outros temperos, para essa música. Então esse é o grupo que vai me acompanhar nas Grandes Festas. Por outro lado, teremos o lindo serviço conduzido pelo Avi, que é certamente um dos maiores chazanim que já ouvi cantar, acompanhado de um coro litúrgico regido pela maestrina Tania Travassos, e com a participação mais do que especial do clarinetista Alexandre Travassos. Para marcar seus 80 anos, a CIP está produzindo um CD comemorativo. Como está o projeto? A CIP sempre teve esse histórico musical forte, com discos gravados e musicais de sucesso, como o José e Seu manto Technicolor e o Violinista no Telhado – que foi, por sinal, minha primeira participação musical na CIP. Então, quando pensamos nas atividades para celebrar o aniversário veio a ideia de produzir um CD comunitário. Como um registro de tudo o que acontece na CIP hoje. O CD Guevurá 80 vai ter faixas com os chazanim, com os jovens, com os alunos do Ensino, com ex-madrichim, os chamados Jovens Adultos, e também com todo mundo junto. Todas a áreas da CIP têm uma participação. A ideia é mostrar os departamentos através da música e, ao mesmo tempo, a música em todos os departamentos. Para o lançamento faremos um show com todos que participaram das gravações. Será, sem dúvida, um passo importante na aproximação e fortalecimento da nossa kehilá.

Foto: Eliana Assumpção

Neshamá, serviço igualitário que já existe há mais de dez anos; e também o Shabat al Hagag, que é conduzido pela Juventude e acontece quinzenalmente na “laje”, no 6º andar da CIP. Ou seja, tem espaço para todo mundo, para todo tipo de conexão espiritual. E tudo isso sem perder qualidade, ao contrário, sempre investindo em melhorar. No início do ano, por exemplo, a Ana Karlik juntou-se ao time, e agora temos também uma linda voz feminina nas cerimônias como parte das inovações.

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CULTO

SERVIÇOS RELIGIOSOS DA CIP MANHÃ de segunda a sexta-feira às 8h aos sábados às 9h30 aos domingos e feriados às 8h30 NOITE de domingo a sexta-feira às 18h45 sábados: 17h30 nos dias 01, 08 e 15/out; 18h45 nos dias 22 e 29/out e 05/nov; e 19h nos dias 12, 19 e 26/nov SHABAT ÀS SEXTAS: Cabalat Shabat e Arvít com prédica às 18h45 na sinagoga Etz Chaim Shabat Ieladim às 18h45 para crianças Cabalat Shabat com prédica às 18h45 na sede do Lar das Crianças da CIP nos dias 07 e 21 de outubro e 11 e 25 de novembro AOS SÁBADOS: Shacharít às 9h30 com leitura da Torá e prédica na sinagoga Etz Chaim Shacharít Neshamá às 9h30 participativo e igualitário na Sinagoga Pequena com leitura e estudo da Torá

OUTUBRO

LEITURA DA TORÁ

01 Nitsavím 08 Vaiêlech (Shabat Shúva) 15 Haazínu 22 Leitura de Sucót (Chol haMôed IV) 29 Bereshít (Shabat Mevarchím)

NOVEMBRO

05 Nôach 12 Lech Lechá 19 Vaierá 26 Chaiê Sara (Shabat Mevarchím)

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Chevra Kadisha A CIP está pronta para ajudar as famílias neste momento tão doloroso da perda de um ente querido, cuidando de todas as providências e detalhes burocráticos e religiosos. Plantão permanente: entre em contato com Sérgio Cernea pelo tel/fax 3083.0005, cel. 99204.2668, ou email: chevra@cip.org.br.

FALECIMENTOS Marcos Henrique Firer em 05/mai aos 85 anos Guitel Bursztein Szafir em 06/mai aos 80 anos Vivian Schindler Behar em 12/mai aos 60 anos Hanni Rauchwerger Nudel em 13/mai aos 83 anos André Leichtmann em 14/mai aos 96 anos Avigad Alyanak em 03/jun aos 63 anos Heinz Cohen em 06/jun aos 88 anos Leon Oscar Levis em 08/jun aos 71 anos Claude Levy em 12/jun aos 88 anos Julie Strebinger em 20/jun aos 23 anos Albert Moreno em 4/jul aos 84 anos Cecilia Simis Schwarz em 30/jul aos 87 anos Josefina Leicand em 06/ago aos 95 anos Lauro de Bela Vista Wakrat em 10/ago aos 55 anos Daniela Leschziner em 12/ago aos 41 anos Bernardo José Wolk em 20/ago aos 74 anos Rogério Kirschbaum em 23/ago aos 46 anos


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Você sabia

POR Theo Hotz coordenador do Depto. de Culto e baal corê

Você sabia que o judaísmo vê na estética um meio de expressão da espiritualidade? É bastante comum ver pessoas afirmando que a música erudita sinagogal com arranjos para corais somente surgiu com o movimento reformista na Alemanha do século XIX. De fato, há grandes expoentes do período, como Louis Lewandowski, Salomon Sulzer, Samuel Naumbourg e Julius Mombach, responsáveis por composições e arranjos que transformaram o cenário musical religioso judaico. Contudo, o chazán londrino Myer Lyon já havia desenvolvido arranjos no século XVIII, os quais chegaram até mesmo a influenciar compositores litúrgicos cristãos metodistas. Voltando ainda mais no tempo, encontramos o compositor italiano Salamone de Rossi (1570-1630) compondo

obras litúrgicas judaicas altamente influenciadas pelo período de transição entre o Renascimento e o Barroco. A verdade é que a música sempre foi parte intrínseca da liturgia judaica, acompanhada ou não por instrumentos, como alguns salmos nos indicam. O conceito estético de hidúr mitsvá indica que, ao realizar um preceito ritual, devemos fazê-lo da forma mais bonita possível, de modo a exaltar a sacralidade e realeza de cada ato. Por isso usamos belos castiçais para velas de Shabat e Iom Tov, cálices de prata para kidush, além de kearót e chanukiót ricamente adornadas. Por isso também a tefilá e a leitura da Torá são conduzidos com música e canto.

MAZAL TOV SIMCHÁT BAT Laila Korn Luisa Ciocler Schlesinger Isabela Ferreira Brudniewski Maya Storch Hana Luiza Rabe Savalli Nina Koraicho Flechtman Anne Frenkiel Chloé Vaie de A. Campos BAT-MITSVÁ Bárbara Jacobovitz Rebeca Swain Brawerman

BAR-MITSVÁ Rony Katarivas Vívolo Eduardo Zaclis Rabinovitz Rodrigo Lerner Sereno Fernando Heumann Bernstein Bernardo Caldeira Bassani Felipe Mantelmacher David Hakak Marçal Bernardo Quintas Rosenthal Michel Kulikovsky Victor Blecher Tebcharani Ricardo Zalcberg Ângulo ANIVERSÁRIO DE BAT-MITSVÁ Luiza Gotlieb

ANIVERSÁRIO DE BAR-MITSVÁ Mauro Lerner Sereno Bruno Steinman AUF RIF Corey Jordan Albert e Jennifer Kar Yan Lau Michel Rapaport e Juliana Chwartzmann Daniel Hofman Golcman e Estela Gallucci Lopes CASAMENTO Juliana Zanelli Reis e Vitor Vinicius Sayeg Raiza Ainhorn M. Fernandes e Carlos Eduardo R. Heilberg Bárbara Dundes Monte e Marcelo Gelschyn Tati Goberstein Lerner e Samy Wakrat

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ACONTECE 1

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Fotos: Divulgação WUPJ-LA

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1. a 4. A CIP apoiou e sediou parte das atividades do 5º Encontro WUPJ América Latina. Mais de 150 pessoas participaram das atividades do evento, que teve como tema “A continuidade democrática como valor judaico” e cuja abertura - realizada na sinagoga Etz Chaim da CIP contou com a presença do rabino Sergio Bergman, ministro argentino de Meio Ambiente e Sustentabilidade.


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5. a 8. As atividades de férias da Juventude da CIP foram um sucesso. Participaram do acampamento da Avanhandava e da machané choref da Chazit Hanoar 211 crianças e jovens. A Colônia da CIP, realizada na sede da Congregação em Campos do Jordão, reuniu por sua vez 218 chanichim e madrichim nas atividades de Alonim, Nitzanim e Sharsheret. E a colônia Teshug, que é parte do curso Manhigut de formação de madrichim, contou com a participação de 35 jovens. 13


ACONTECE 9

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Fotos: Eliana Assumpção

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9. a 16. Em comemoração a seu 80º aniversário, a CIP realizou o musical Broadwish - do Shtetl à Broadway, uma inspiradora viagem por mais de 50 anos de história dos grandes clássicos da Broadway. Cerca de 800 convidados prestigiaram a apresentação única no Teatro Sérgio Cardoso que teve roteiro e direção assinados por Claudio Erlichman e Rubens Ewald Filho, que também foi o apresentador da noite.


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Fotos: Alex Sandro da Silva

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13. e 16. A primeira edição do Rikuday, o festival de dança e arte da CIP, levou 850 pessoas à Praça Victor Civita, no bairro de Pinheiros. Promovido pelos grupos de dança da Congregação, o evento ofereceu um dia repleto de atividades e atrações para todas as idades. Cerca de 300 dançarinos das principais lehacót da cidade se apresentaram nos shows de abertura e encerramento do evento. 15


Foto: Luciano Finotti

LAR DAS CRIANÇAS

Voluntariado e gratidão POR Aide Firer, coordenadora geral do Lar das Crianças da CIP e Carmen S. Carvalho, coordenadora pedagógica do Lar Quem conhece a história do Lar das Crianças da CIP sabe que trata-se da gratidão da colônia judaica paulistana pelo Brasil tê-la acolhido. É este mesmo sentimento de vínculo e gratidão que perpassa nossos voluntários. Gratos pelo que a vida lhes deu, pelas oportunidades que tiveram, partilham seu tempo, seu conhecimento, seu carinho com nossas crianças e jovens. E ao dar tanto, sentem-se recebendo. Poucas entidades têm o privilégio de contar com tantos voluntários. Visíveis ou invisíveis aos olhos das crianças, formam um corpo de pessoas especiais que garantem a existência do Lar. Sem eles a entidade não existiria como é. Captadores de recursos a partir da promoção de eventos (pré-estreias, palestras, jantares, bazares, projeto de Nota Fiscal Paulista). Doadores de conhecimento que ensinam às crianças inglês, moda e culinária entre outros assuntos. Doadores de sonhos que cuidam da biblioteca, levam as crianças para conhecer a arte (doando ingressos para apresentações na Sala São Paulo), contam histórias, preparam bolos e mesas temáticas de aniversário, doam presentes e divertem as crianças. Doadores de afeto, que as escutam e ajudam a encontrar a si mesmas (ações promovidas pela Juventude da

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CIP) ou o conhecimento, seja pela terapia (parceria com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo), pela psicopedagogia ou pela mediação de conflitos (parceria com o Instituto Mediativa). Doadores de saúde, que atendem nossas crianças em seus consultórios (parceria com o Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis). Doadores de seu próprio sonho, que é transformar a vida de nossas crianças e jovens, como o presidente da CIP e sua diretoria e conselho deliberativo. Para Fernanda Kalim, voluntária do Lar há quatro anos, o voluntariado representa sua parcela de esforço, como cidadã, para garantir um futuro melhor para as crianças e jovens da entidade. “Sou muito grata por ter a oportunidade de ajudar a reescrever o futuro de 370 pessoas. Adoro meu trabalho. No Lar sou a responsável pela campanha de arrecadação de notas fiscais e também ajudo na idealização e organização de eventos e campanhas relacionadas à captação de recursos”, explicou. O Lar das Crianças agradece a seus voluntários. O conhecimento, tempo, carinho, dedicação e amor de cada um faz realmente a diferença na vida das 370 crianças e famílias que têm a felicidade de partilhar tudo isso com eles.


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AÇÃO SOCIAL

Um convite para cuidarmos de

nosso futuro POR Marcos Lederman, vice-presidente de Ação Social, e Michel Schlesinger, rabino da CIP Al tashlichenu leet zikná. – Não nos abandone na velhice. (trecho do Shemá Colênu, da liturgia de Iom Kipur)

Tendemos a despertar para nosso próprio envelhecimento por meio das experiências que vivemos ao lado de nossos pais que, de alguma forma, passam a depender de cuidados que até então não estavam presentes em nosso cotidiano. Ao nos depararmos com a fragilidade daqueles que sempre primaram pela sua independência e agora recebem nossa ajuda cotidiana, nos deparamos com o envelhecimento à nossa porta. Por algumas vezes, sinais mais precoces chegam até nós por outros canais, como um parente ou amigo que perdeu seu trabalho e, de uma forma ou outra, não se preparou nem economicamente nem tampouco psicologicamente para lidar com a ausência do trabalho em seu cotidiano.

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Se por um lado estamos todos felizes com os benefícios da longevidade, também nos defrontamos com a complexidade que este beneficio nos traz. Com esta curiosidade em mente, verificamos o perfil etário dos associados da CIP e, para nossa surpresa, constatamos que mais de 40% dos titulares pertencem à faixa de idade dos 60+. Nada para se preocupar, afinal os sessenta de hoje são os “novos quarenta” e todos viveremos muitos anos mais. Sim e não. Se por um lado conquistamos esta longevidade física, por outro lado o mercado de trabalho e a poupança ficaram no mesmo lugar em que estavam no passado, fazendo com que esta equação, para a grande maioria de nós, não feche. Dito isto, o que fazer? É preciso lembrar que temos em nossa comunidade algumas vantagens, mas é preciso saber explorá-las a nosso favor.


Educação Estudos recentes mostram que o fator mais determinante para a manutenção da renda na vida adulta é o grau de educação desta população. Uma população educada tem muito mais chances de se manter ativa profissionalmente através de relações de trabalho alternativas, tais como consultorias, empreendedorismo e até mesmo pela melhor gestão de seu patrimônio. Pertencimento comunitário Esta é uma vantagem gigantesca que precisamos aprender como explorá-la melhor. O capital humano dos mais velhos pode ser amplamente utilizado em benefício da comunidade por meio da união de fatores como conhecimento, experiência e confiabilidade presentes neste seleto grupo. Escala ideal Os aproximadamente 900 associados da CIP nesta faixa etária têm características pessoais que permitiriam a autogestão de diversas necessidades comuns com extrema eficiência, pois o fato desta população ser numerosa nos permitiria coletivamente conquistas que individualmente seriam muito difíceis. Temos à nossa frente a grande oportunidade de tomarmos o controle do destino de nossa comunidade 60+, com amplo espaço de protagonismo de todos os envolvidos na direção de colhermos os frutos deste nosso trabalho coletivo. Neste espírito, a diretoria da CIP promoveu, junto a especialistas convidados, uma série de encontros com membros de nossa comunidade 60+ para discutir estas questões. Nas

Voluntárias do grupo Costura da Boa Vontade, que confeccionam roupas e mantas para serem doadas a entidades assistenciais e comunidades carentes.

ocasiões ficou claro que temos um grupo de pessoas inteligentes, bem formadas e com uma ampla capacidade de levar à frente novos desafios. Ainda durante o processo, nos deparamos com várias instituições muito bem organizadas. Destacamos aqui duas em especial, ambas com o apoio de grandes seguradoras, obviamente interessadas neste segmento. A primeira é o Instituto de Longevidade, que dispõem de um programa chamado Real.Idade (institutomongeralaegon.org), e a segunda é o Lab60+ (www.lab60mais.com.br). Convidamos a todos para, comunitariamente, nos organizarmos em torno de um grupo único já criado no Facebook e chamado PartiCIP. O espaço nos possibilitará trocar ideias sobre o tema e brevemente definir áreas especificas de interesse nas quais lideranças voluntárias poderiam promover a solução de questões como trabalho, moradia, saúde, cultura, entre outras. “Não nos abandone na velhice” não deve ser compreendido apenas como um pedido para Deus, mas também como um alerta para a sociedade. Nossa reza será ouvida na medida em que formos capazes de assumir nossa responsabilidade no desafio que a longevidade traz. Se tomarmos as rédeas deste processo em nossas mãos, temos grande convicção que não só seremos os grandes beneficiários desta ação coletiva como também nos tornaremos um modelo para outras comunidades, fato que muito honraria uma comunidade como a CIP, que sempre esteve na vanguarda de seus tempos.

Curso de arqueologia e memória realizado pelo Núcleo de Maturidade da CIP em parceria com o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

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RABINATO

REFUGIADOS:

um novo olhar para um

desafio antigo POR Michel Schlesinger rabino da Congregação

Refugiados são conduzidos pela polícia eslovena para um campo no município de Brežice.

HaIashan Itchadêsh VeHaChadásh Itcadêsh, o antigo deve se renovar e o novo se santificar, ensinou o rabino Avraham Itzchák HaCohen Kook, que foi o primeiro rabino chefe ashkenazi da Terra de Israel no início do século 20, conhecido como Rav Kook. Por meio desta frase, o rabino recorda que a inovação é um valor judaico. Existe uma tendência do ser humano de fazer as atividades sempre da mesma maneira. Essa inércia se expressa nas rotinas mais simples do dia a dia. Percebam como costumamos escovar os dentes na mesma sequência, cortamos um vegetal do mesmo jeito, sentamos na mesma cadeira em uma sala de reuniões. O mesmo acontece em questões mais complexas. Falamos do mesmo modo com nossos pais, agimos da mesma maneira com nossos filhos, administramos nossos negócios do mesmo jeito, conduzimos nossa comunidade na mesma maneira, gerenciamos o país e o mundo de um modo similar ao que fizemos no passado.

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Isso não é necessariamente ruim. Fazer as coisas da mesma forma traz segurança, conforto. A sensação de que já vivemos aquilo no passado, do mesmo jeito, nos tranquiliza mesmo que não prestemos muita atenção. Além disso, a repetição sistematiza traz método. Se tomássemos banho lavando o corpo de uma maneira distinta a cada vez, seria muito mais difícil se lembrar o que já estava esfregado e o que ainda estaria por limpar. Portanto, ter padrões de conduta não é necessariamente ruim. No entanto, o problema surge quando nos apegamos demais ao sistema. O desafio aparece quando passamos a confundir nossa conduta com os valores que a sustentam. A dificuldade nasce justamente quando nos esquecemos da capacidade que possuímos para questionar, avaliar, confrontar, repensar e, eventualmente, mudar. O judaísmo é uma tradição em questionamento constante. Graças a este sistema de auto-avaliação conseguimos sobreviver à prova da História. Enquanto gregos e etruscos, romanos e assí-


rios, deixaram de existir, a tradição judaica prevaleceu em função, acredito eu, de sua possibilidade de inovar. Passamos por eventos grandes o suficiente que justificariam nossa despedida da roda da História. E, no entanto, fomos capazes de reinventarmos a nós mesmos e seguirmos em frente. A destruição dos Templos de Jerusalém foi uma crise da maior importância, mas conseguimos trocar Templo por sinagogas, cohanim por rabinos, e oferendas por orações. A passagem pelo Iluminismo trouxe uma assimilação sem precedentes na história judaica. Também lá, soubemos desenvolver as correntes judaicas modernas, o sionismo e o judaísmo secular, que permitiram um amplo cardápio de opções para a sobrevivência da nação judaica em tempos de integração. Quando Moisés se deparou, pela primeira vez, com o desafio da sede dos Filhos de Israel no deserto, fez o que era preciso: golpeou uma pedra e esta verteu água potável para o povo. No entanto, a situação de sede se repetiu e, naquela segunda ocasião, Deus ordenou que ele falasse com a pedra. Porém, ele não conseguiu. Moshé estava tão preso na metodologia que havia empregado no passado que não foi capaz de inovar. Exatamente como aquele que fica perdido porque seu assento de sempre foi tomado por outro. O líder não conseguiu inverter a sequência da escovação dos dentes. Foi incapaz de cortar o vegetal de outra maneira. Considero essa possibilidade interpretativa, que escutei de um colega rabino, fascinante. Segundo essa leitura do erro

de Moisés diante da pedra, a Torá estaria nos ensinando o valor da flexibilidade, da criatividade, da capacidade de inovar, da possibilidade (e talvez do mandamento, da mitsvá) de renovar o antigo para que seja santificado. Gerações e mais gerações de intérpretes debateram sobre qual teria sido a transgressão de Moshé que lhe custou, nada mais e nada menos, do que o visto de entrada para a Terra Prometida. Segundo esta exegese, o pecado de Moisés foi sua incapacidade de compreender que novos desafios, mesmo quando muito parecidos com os antigos, exigem novas atitudes. Enxergar e acolher A situação dos refugiados é uma crise de proporções gigantescas.Todos os dias milhares de pessoas abandonam seus países de origem em busca de segurança física e psicológica, além de dignidade material. Esse assunto nos mobiliza de maneira ainda mais forte porque estivemos neste lugar diversas vezes. Somente no século 20 enfrentamos a fuga dos pogroms, o desafio de deixar uma Europa nazifascista durante os anos da Segunda Grande Guerra, e o êxodo dos países árabes quando a vida por lá ficou insustentável depois da criação do Estado de Israel. A Torá nos conscientiza, uma vez depois da outra, sobre a responsabilidade de cuidar do estrangeiro “porque fomos estrangeiros na Terra do Egito”. O fato de termos a escravidão em nosso currículo étnico faz com que seja ampliada nossa responsabilidade em relação ao refugiado, ao guer.

Campo de refugiados em Mogadishu, na Somália.

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Há muitos exemplos de auxílio a refugiados no Tanach. Abraão e Sara recepcionam desconhecidos como se fossem príncipes. Eles nem precisavam saber que se tratavam de enviados de Deus porque tratavam como anjos todo ser em busca de ajuda. Itró, o sogro de Moshé, ficou desapontado por não poder recebê-lo em sua tenda. Na haftará de Iom Kipur, o profeta Isaias (58:7) diz:“Abriga em tua casa os pobres errantes”. E no Livro de Jó (31:32), este declara: “Eu abri minhas portas para o viajante”. Na literatura rabínica esse mandamento assumiu um papel de destaque. Rav Huna (Taanit 20b) convidava as pessoas para comerem em sua casa da seguinte maneira: Kol Dichfin Ietei Veiechol (Que todos os famintos entrem e comam). Essas palavras tornaram-se parte do nosso Sêder de Pêssach. Em Jerusalém, nos ensina o Talmud, era costume hastear uma bandeira do lado de fora das casas para avisar que uma refeição estava sendo oferecida (BB 93b). A lei judaica determina uma altura máxima para a sucá, mas não estabelece um limite de largura. Ela pode ser tão larga quanto necessário, para que possamos colocar dentro dela o maior número possível de pessoas. A solução do problema dos refugiados passa pela possibilidade de enxergar esse desafio antigo de uma nova maneira. O antigo terá que ser renovado para que o novo seja santificado. Estamos, obviamente, ensandecidos por critérios que impusemos a nós mesmos e nos tornamos reféns dessas referências. Parece que nos esquecemos de que foram os homens que desenharam as fronteiras. As bandeiras e os hinos nacionais foram formatados por nós mesmos. Os idiomas e as lealdades ufanistas são criações humanas. No momento em que este sistema deixa de atender às necessidades mais básicas do próprio ser que o engendrou, fica patente a necessidade de reinventar. Não poderá mais haver quem feche os olhos para este sofrimento de tamanha magnitude. Não é possível que homens e mulheres, idosos e crianças continuem a morrer todos os dias em transportes clandestinos que aviltam a mais remota centelha de dignidade que ainda resta nessa gente. É preciso que o antigo se renove para que a água da decência humana jorre da pedra. A CIP está celebrando seus 80 anos de existência. Esta comunidade nasceu justamente para enfrentar o desafio dos refugiados que saíram de uma Europa hostil. Se existe uma contribuição que o judaísmo em geral e o judaísmo da CIP em particular possuem para entregar para a sociedade é nossa capacidade de nos reinventar. A

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sinagoga que começou com uma missão de ajudar refugiados europeus a se estabelecerem em São Paulo se transformou em uma referência para o judaísmo latinoamericano. De um grupo no porto de Santos que acolhia pessoas que não falavam o português, não sabiam onde iriam morar, com o que trabalhariam, e traziam poucos pertences ou nenhum, passamos a ser um centro comunitário, religioso e assistencial do qual muito nos orgulhamos. Tudo isso foi possível graças a nossa capacidade de nos recriar inúmeras vezes e superar cada desafio com uma nova proposta. No Livro dos Salmos, Tehilim, (119:126), está escrito: Et Laassot LaAdnai, Efero Toratecha, que pode ser interpretado da seguinte maneira: em momentos de grande necessidade, as antigas práticas precisam ser repensadas com coragem. Este foi o versículo citado pelos sábios quando decidiram escrever a Torá Oral, o Talmud, por medo que ela fosse esquecida. Desafios grandes exigem atitudes igualmente vigorosas. O shofar nos chama Estamos perto das Grandes Festas, momento em que somos desafiados pela tradição a repensar nossas ações. O shofar deve funcionar como um despertador, para que busquemos novas maneiras de enfrentar antigos desafios. O desafio dos refugiados exigirá a possibilidade de pensar e agir de maneira inédita. Nas palavras de Kook, “o antigo terá de ser renovado para que o novo seja santificado”. A água terá de ser retirada da pedra de uma nova maneira. Que sejamos inscritos e confirmados no livro da criatividade, da inovação, do pensamento inventivo, da ação engenhosa, da ousadia. Não aceitemos a mediocridade e a mera repetição de padrões. Que sejamos, em 5777, a versão renovada de nós.

Juventude da CIP em atividade com refugiados recém-chegados ao Brasil.


CAMPANHA ÁRVORE DA VIDA

No ano de comemoração do 80º aniversário da CIP, homenageie sua família e amigos gravando seus nomes nas folhas da escultura Etz Chaim que fica no hall da Congregação.

Saiba como: www.cip.org.br/arvoredavida


RABINATO

REZA, MÚSICA E OUTRAS EXPRESSÕES DA ESPIRITUALIDADE

POR Ruben Sternschein rabino da Congregação

O que é espiritualidade? É possível atingi-la no judaísmo? Onde? Quando? E quando não é possível alcançá-la? A sinagoga em geral, e a CIP, em particular, contribuem com a elevação espiritual? O que é espiritualidade? Identificada geralmente com a religião, o culto, a reza e, algumas vezes, com a emoção, a espiritualidade não pode ser definida a partir desses parâmetros. Existem emoções que nada tem a ver com espiritualidade, como por exemplo o riso provocado por uma comédia, um filme ou uma piada. Existem cultos religiosos que caem no automatismo e não mexem com a espiritualidade, e, por outro lado, existem experiências e sensações no silêncio, diante de uma paisagem fascinante, ao ouvir uma música especial, que levam e elevam o espírito. Pesquisando definições formais do conceito de espiritualidade, o achamos sempre vinculado à busca de sentido, à tentativa

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de transcendência, à sensação de além do próprio, à qualidade da inspiração, da reverência, do sentido, do propósito maior. Com a conexão com o ser mais íntimo e profundo, e com o tudo. Uma forma de olhar para si e para tudo. Uma forma de perceber, ser e viver. Assim sendo, a espiritualidade pode estar na prática do culto em uma sinagoga, mas pode não se encontrar lá. De igual modo, pode, sim, aparecer fora do culto religioso. Um amanhecer, um pôr do sol, um céu repleto de estrelas, a imensidão do oceano, a altura de uma montanha ou a imensidão de um deserto podem trazer consciência espiritual. Mas também uma melodia tradicional, as palavras de uma reza, uma mensagem rabínica, ou o silêncio entre todas elas. No Tanach (Bíblia) Na Torá, os primeiros cinco livros da nossa Bíblia, aparecem muitas conversas com Deus. Nem sempre o leitor sente que se trata de espiritualidade, como por exemplo quando Abraão negocia com Deus a possível salvação das cidades de Sodoma e Gomorra, ou quando Iaacov negocia a entrega do dízimo de tudo que receber se for cuidado e “financiado” por Deus. No entanto, o mesmo Abraão, ao negociar, reconhece a si próprio como pó e cinzas e, ao mesmo tempo, como capaz de desafiar Deus e controlar sua justiça. O próprio Iaacov, após o sonho no qual propôs a troca acima mencionada, acorda com o temor reverente da espiritualidade e com uma nova consciência: “Há divindade neste local e eu não sabia”. (Genesis 28:16). Sobre Isaac nos é dito expressamente que ele reza junto a sua esposa, enquanto que o Livro dos Profetas nos conta sobre Jonas rezando nas profundezas do mar, e sobre Ana, a mãe do profeta Samuel, rezando pelo filho enquanto o marido se limita ao ritual das oferendas. No livro dos Salmos encontramos muitas referências à espiritualidade em geral e à reza em particular. Vários salmos nada

mais são do que uma reza em si, seja de gratidão, de reclamação, de pedido, de dúvida, de fé, de louvor. Um salmo diz ser a reza do próprio Moises. Vários deles se definem como cânticos e, inclusive, mencionam seus instrumentos musicais e até sua própria dança. Sugerem que os seres vivos, as pessoas, tudo que respira e as próprias paisagens rezam. Um salmo afirma ainda que o silêncio é uma reza. Na literatura rabínica (Talmud, Midrásh) Durante o período que conhecemos como rabínico, entre os séculos I a.e.C e VI d.e.C, foi escrita a maioria de nossas rezas. A forma atual das benções (“Baruch ata...”), a ordem, o tempo, a grande oração e a maioria das expressões litúrgicas foram criadas pelos rabinos desse longo período. Todavia, eles simbolicamente atribuíram grande parte delas a momentos/ personagens-ícones – ao madrugar de Abraão e seu olhar ao longe, à conversa introspectiva de Isaac no entardecer, e ao enfrentamento de Iaacov ao anoitecer – e atribuem o espírito da forma da Grande Oração à reza de Ana. Substitutas das oferendas animais após a destruição do Templo, as rezas não se limitaram ao rito comunitário. Os autores escreveram também rezas individuais para ocasiões diversas. Algumas poucas entraram nos serviços convencionais, mas todas estão nos sidurim liberais. Os sábios talmúdicos também enfatizaram o paralelo entre louvar e cantar (ki lecha tov lehodot uleshimcha nae lezamer) extraído do salmo 92 e colocado no serviço de Halêl como conclusão. Esses rabinos debateram bastante sobre a tensão entre criar experiências espirituais comunitárias e, ao mesmo tempo, deixar espaço para os sentimentos, os ritmos e as consciências pessoais. Preocupados com a intenção, a sinceridade e a verdadeira entrega do espírito na hora da reza, os rabinos denunciaram expressamente o perigo do automatismo na oração. Estabeleceram inclusive que era muito recomendável a prática de se preparar para a reza e não engatilhá-la diretamente após acordar ou ao chegar na sinagoga, no meio de nossas correrias cotidianas. A importância da reza e da espiritualidade como transcendência chega neste período ao seu auge, quando é atribuída ao próprio Deus. Segundo o Talmud, Deus reza para ser mais bondoso que correto, mais compassivo que justo, e pede de si e pede que os humanos peçam dele. Em resumo, na época rabínica as rezas substituíam os sacrifícios e se propunham a expressar a espiritualidade, no âmbito comunitário e no individual, na tradição e no improviso, na fala e na canção. Busca-se a transcendência do ser humano e também a transcendência do próprio Deus.

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Filosofia e Cabala (Idade Média) Na filosofia racionalista, a espiritualidade e a transcendência se confundem com o pensamento puro em si. Embora os filósofos medievais judeus tivessem sido todos rabinos que rezavam três vezes por dia os textos convencionais, Maimônides, o mais representativo, disse que, assim como as rezas faladas e cantadas representam um avanço espiritual no que diz respeito aos sacrifícios, depois delas viria uma época mais elevada ainda, que será apenas o silêncio do pensamento. Os místicos em geral e os cabalistas, em particular, acreditaram sempre em uma divindade imersa em todos e em tudo. Tanto as ações no mundo como as rezas, e também as intenções, as emoções e os pensamentos, todos juntos põem em funcionamento a divindade-motor de tudo. A transcendência vibra também, sempre, embora não tenhamos consciência dela em todas as ocasiões. A espiritualidade pode ser acionada o tempo todo em todas as situações. Depende da disposição dos protagonistas. A cabala desenvolveu também formas de meditação extática, visualizações e mantras judaicos com frases da Bíblia, do Talmud e da liturgia. Chassidismo e Mussar (séculos XVIII e XIX) O movimento chassídico surgiu transferindo a ênfase que tinham os estudos para a espiritualidade e a ação social. Essa espiritualidade se apoiava em ideias cabalísticas ampliadas e simplificadas. O divino encontra-se em tudo e, por isso, uma pessoa pode falar com Deus tanto na sinagoga quanto na hora de cortar lenha para ajudar uma velhinha durante o gelado inverno russo. A repetição de uma música simples, insistentemente, por muitas pessoas juntas e com uma determinada dança cria uma experiência extática, mística e espiritual, inclusive ao redor de uma mesa de Shabat. As pessoas se elevam espiritualmente nessa canção conjunta tanto quanto na prédica dita antes pelo rabino ou na reza formal dita antes ainda

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pela comunidade toda. Assim são atribuídas a grandes rabinos chassídicos frases como “Deus está onde o deixarmos entrar” (rabino Menachem Mendel de Kotzk), ou a ideia de que após e acima da reza falada está a reza cantada, e acima ainda a música sem letra, o nigun (rabino Nachman de Breslav). O movimento Mussar propôs práticas extáticas semelhantes para trabalhos individuais com a personalidade. Ética, autopsicanálise e espiritualidade passam a se fundir em uma mesma prática. Ao longo de todos esses séculos, assim como os sábios do Talmud escreviam suas próprias rezas para momentos individuais, muitos de nossos antepassados não tão distantes, como tataravós, as escreviam a partir de seus sidurim convencionais, tornando-os como diários espirituais pessoais. Alguns poemas litúrgicos incorporados na Idade Media à liturgia são produto destas criações particulares em momentos de introspecção inspiradora. Nossos dias e nossa CIP Preocupados e ocupados com o espírito da verdadeira espiritualidade na reza judaica, os movimentos liberais dos quais a CIP faz parte são os que mais deram espaço para estas sensibilidades: os sidurim liberais de todo o mundo contam com a ampla maioria das rezas individuais conhecidas, tanto da Bíblia quanto do Talmud, e até os nossos dias. É nessas comunidades que proliferam cursos sobre interpretação das rezas e leituras subjetivas que permitem um envolvimento maior e mais profundo de nossa contemporaneidade e personalidade. Abundam também workshops de produção de rezas pessoais e atuais sobre assuntos contemporâneos, como ecologia, política, refugiados, consumismo, tecnologia, materialismo, superficialidade, imediatismo, rotina, mediocridade e automatismo, entre outros. Também a CIP, agora em seus 80 anos de vida, se propõe a continuar sua tradição e fortalecer a vocação dos fundadores de aprofundar, estudar e criar. A Juventude da casa já está indo nessa direção de ressignificação da espiritualidade. Os testes de layout da sinagoga Etz Chaim, bem como os nigunim que estão sendo introduzidos no começo e durante a reza, são algumas das amostras. As novas edições dos sidurim terão mais reflexão e mais rezas pessoais conhecidas. Serão abertos espaços de estudo, reflexão, interpretação e criação, bem como de música e meditação. A CIP, assim, espera conseguir ser uma comunidade que contribui com a espiritualidade de seus membros de um modo tradicional e contemporâneo, e comunitário e pessoal ao mesmo tempo.


JUVENTUDE

OS TAMBORINS DA JUVENTUDE POR Juliana Somekh, coordenadora da Juventude da CIP “E tomou Miriam, a profetisa, irmã de Aarão, um tamborim na sua mão e saíram todas as mulheres atrás dela, com tamborins e dançando; e respondeu-lhes Miriam: Cantemos ao Eterno porque gloriosamente Se enaltece, o cavalo e seu cavaleiro que Ele lançou ao mar” (Êxodo, 15:20). A travessia do Mar Vermelho é um momento de exaltação para todo o povo de Israel. Para Miriam é uma hora de profunda exaltação e de agradecimento, pois sua profecia finalmente se realizara: Moisés libertara os hebreus da escravidão do Egito. Através da música, a profetisa expressou seu agradecimento e fé, além de conseguir inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, juntos. Assim como no momento da travessia do Mar Vermelho, muitas vezes ainda expressamos nossa fé pela música. A tefilá (reza), provavelmente, é a primeira forma que nos lembramos da expressão da fé pela música. No entanto, se buscarmos refletir de forma mais abstrata, acredito que além da tefilá, a Juventude de nossa kehilá também expressa constantemente sua fé pela música. Como assim? A música, segundo definição trazida em nosso dicionário, é a arte de expressar ideias por meio de sons, de forma melodiosa e conforme certas regras; uma composição harmoniosa e envolvente de sons. A fé, por sua vez, é descrita como uma crença ou convicção intensa e persistente em algo abstrato que, para a pessoa que acredita, se torna verdade. A Juventude da CIP conta atualmente com três tnuót: Avanhandava, Colônia Fritz Pinkuss e Chazit Hanoar; com o curso Manhigut de pré-hadrachá; com os grupos de dança israelense; e com projeto voltado para Jovens Adultos e ação social. Apesar de cada uma dessas áreas terem seus enfoques específicos, todas fazem parte do mesmo departamento, uma vez que se fundamentam no Ticun Olam, ou seja: em um ativismo social e comunitário que busca transformar o mundo em um lugar melhor para as pessoas viverem, se valendo, para tanto, de processos educativos. Se buscarmos olhar de outra forma, a Juventude da CIP tem fé, ou uma convicção intensa e persistente, de que o mundo pode se tornar um lugar melhor se todos nos envolvermos ativamente em nossa comunidade e sociedade. Para tanto, cada área da Juventude expressa esta fé através de sua própria música: cada grupo expressa sua ideia de ativismo social e comunitário por meio de um processo educativo próprio, de forma melodiosa, harmoniosa e conforme certas regras e limites. Assim como Miriam, a Juventude da CIP acredita e trabalha para que sua profecia (Ticun Olam) se realize. Continuaremos expressando nossa fé por meio de nossa música e esperamos que você, sua família e seus filhos possam escutar nosso tamborim e nos seguir dançando.

Ex-madrichim da CIP em atividade do projeto em parceria com a Missão Paz

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JUDAÍSMO

Agora é hora de alegria POR Theo Hotz coordenador do Depto. de Culto Sucót, a festa das cabanas. Chamada pelo Talmud de HeChag (A Festa), era a maior das Festas de Peregrinação na época do Templo – fosse pelos numerosos sacrifícios, fosse por comemorar o fim das colheitas e a ceifa dos cereais. Nesta época do ano, segundo nossos sábios, não somente o ser humano era julgado nas grandes solenidades de Rosh haShaná e Iom Kipur, mas também a natureza enfrentava O Juiz, que decidiria o destino da Terra com relação às chuvas que cairiam, ou não, durante o novo ano. Nós entoamos as Hoshanót pedindo que Deus nos salve. A salvação esperada é a chuva, a maior das bênçãos para aquele povo agrícola residente em uma terra predominantemente desértica. Daí a liturgia de Sheminí Atséret (o 8º dia de Sucót) ser marcada até hoje pelo belo serviço de Tefilát haGuéshem, a Reza pela Chuva. Com o lulav nas mãos, nossos antepassados rogavam “Hosha, ná – salva-nos, por favor”, não de forma triste e pesarosa, mas entre cantos e danças, afinal é hora de alegria – zemán simchatêinu, diz nossa liturgia.

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Vamos sorrir e cantar Simchát Bêit haShoevá (algo como “Regozijo no Local de Coleta da Água”) acontecia nos dias intermediários da Festa. Dezenas de milhares iam a Jerusalém para participar da cerimônia de derramamento das águas, que eram trazidas do grande reservatório de Shilôach em uma jarra de ouro. A água era derramada junto ao altar, e simbolicamente representava a bênção das chuvas que cairiam no novo ano, se Deus quisesse. Era tamanha a felicidade, que a Mishná relata: “Aquele que nunca viu Simchát Bêit haShoevá, nunca viu a verdadeira alegria na vida” (Sucá, 5:1). Do mundo não se leva nada Sobre o motivo da Festa, a Torá explica: “habitarão em cabanas por sete dias (...), para que seus descendentes saibam que Eu os fiz habitar em cabanas quando lhes tirei do Egito” (Lv 23:42-43). Essa moradia temporária nos recorda que a peregrinação desde o Egito até a terra de Israel, apesar de longa, foi passageira. Nossa tradição afirma que a sucá simboliza a proteção divina nos momentos de incerteza. A mística judaica enfatiza que a sucá nos lembra de que a vida é efêmera e frágil, e que nada levamos dela quando partimos. Contudo, muito deixamos: nossos valores e ideais, nossas ações e omissões, nossas lágrimas e sorrisos, constituem nossa verdadeira herança e legado para aqueles que aqui ficam. Justamente por ser passageira é que devemos viver a vida da forma mais significativa, de modo que nossa estadia por aqui não passe despercebida por aqueles que cruzam nosso caminho. Vamos sorrir e cantar O apelido litúrgico de Sucót (zemán simchatêinu – época de nossa alegria) vem da Torá: “Você se alegrará nesta festa (...) e estará somente alegre” (Dt 16:14-15). Que Sucót nos ensine a sorrir mais, a cantar mais, a nos alegrar mais e transmitir esta alegria. Que não seja uma felicidade vã, de quem não se importa com coisa alguma, mas sim uma alegria sincera e positiva, que revitaliza e energiza a nós mesmos e aqueles que estão a nossa volta.

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Foto: Foto Azul

ENSINO

O Bat-mitsvá e a CiP POR Andrea Kulikovsky diretora de Ensino Judith Kaplan Eisenstein fez história ao celebrar seu Bat-mitsvá em 1922: o primeiro de que se tem registro. Seu pai, o rabino Mordechai Kaplan, acreditava no direito da mulher de participar do ritual judaico. O Bat-mitsvá dela constituiu-se na leitura do Chumash (livro com a transcrição da Torá), na porção referente àquela semana, em inglês e hebraico, e precedida e finalizada com as brachot da leitura da Torá. Na CIP, o primeiro Bat-mitsvá celebrado foi em Chanucá de 1957, a convite do rabino Pinkuss. A pioneira foi Miriam Kastenstein, nossa querida morá Miriam Markus. Era a primeira celebração de Chanucá da CIP e o rabino queria celebrar de maneira diferente. Convidou a então pequena Miriam para acender as velas de Chanucá e de Shabat, ler os salmos referentes a Chanucá, e participar do serviço religioso de Shabat. “Naquela época, todos frequentavam o serviço de Shabat, então minhas amigas, que ficaram com muita vontade de fazer igual, procuraram o rabino Pinkuss para fazer Bat também”, conta com orgulho. No ano seguinte iniciou-se o primeiro curso de Bat-mitsvá da CIP, sendo feita a primeira cerimônia conjunta em

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Sucót de 1958. A notícia se espalhou pela comunidade e meninas que frequentavam sinagogas onde não havia este tipo de cerimônia passaram a procurar a Congregação. De lá para cá muita coisa mudou e as mulheres conquistaram seu lugar no ritual judaico, como acreditava o rabino Kaplan. As cerimônias de Bat tomaram várias formas, de acordo com as comunidades e os ideais das meninas Bnót-Mitsvá; e nos Estados Unidos várias mulheres foram ordenadas rabinas (a partir de 1972 no movimento reformista, e de 1985 no movimento conservador) – o que vem acontecendo também nos seminários rabínicos de todo o mundo. Mas, e na CIP? Hoje na Congregação as meninas fazem a cerimônia coletiva de Bat-mitsvá – introduzida pelo rabino Pinkuss – com o limite máximo de 10 meninas por cerimônia. Neste modelo elas são responsáveis por liderar um serviço de Shacharít (matinal) sem leitura da Torá. Porém, caso seja a vontade delas, as meninas também têm a possibilidade de fazer uma cerimônia com leitura da Torá. Em 2008 e 2009 aconteceram as primeiras cerimônias de Bat com leitura da Torá em shabatot na Sinagoga Peque-


na. Em dezembro de 2013 foi realizada, em um serviço de Rosh Chódesh, o primeiro Bat-mitsvá com leitura da Torá na sinagoga Etz Chaim. Em 2015 uma das alunas fez Bat em Jerusalém, no Kotel, junto com sua mãe. O número de meninas que se matriculam na Lafer para a preparação de dois anos para o Bat-mitsvá e, no meio do processo, se encantam com a possibilidade de aprofundamento nos estudos é crescente. Assim como a procura por este tipo de cerimônia por meninas de escolas judaicas, cuja preparação dura um ano. Mulheres adultas também estão aprendendo a ler a Torá e participando dos serviços religiosos da CIP. Atualmente, a partir de um projeto da Congregação com a World Union for Progressive Judaism, um grupo de mulheres está se preparando para uma cerimônia de Bat-mitsvá no Brasil e no Kotel, em Jerusalém. Devagar e organicamente nas meninas tem se tornado mulheres que se apropriam da religião, cada uma à sua maneira, mas sempre com muita segurança e identidade. Com muito respeito, a comunidade vem recebendo estas meninas e entendendo a necessidade que elas têm de se colocar em um papel ativo e moderno diante do judaísmo, sem perder sua ligação com a tradição e história da Congregação. Com um olhar no passado, a Escola Lafer acredita estar, assim, ajudando a semear o futuro da nossa CIP.

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JUDAÍSMO

APRENDER DO NOVO A PARTIR DO MESMO POR Fernanda Tomchinsky Galanternik, coordenadora do Depto. de Ensino

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Inúmeras vezes nos deparamos com situações nas quais dizemos “se eu pudesse voltar atrás...”. Pode ser porque nos arrependemos do que fizemos, ou talvez por termos vontade de reviver uma situação. Imaginemos que fosse possível escolher algumas situações para reviver.Talvez fizéssemos algo diferente, talvez fôssemos inundados por uma sensação totalmente distinta do que a da primeira vez. Não importa o que, mas com certeza seria diferente. É como ver um filme ou ler um livro mais de uma vez: sempre descobrimos detalhes novos que, na oportunidade anterior, não tínhamos percebido. A fantasia de viver de novo alguma coisa do passado seria algo parecido com isso. E se essa fantasia não fosse só uma fantasia? Não estamos aqui falando do “efeito borboleta”, de voltar para trás e, nessa volta, cancelar o que aconteceu na primeira vez. Seria sim somar em nossas vidas a mesma experiência com resultados diferentes.


Foto: Jeane Vogel Photography

O judaísmo, muito inteligentemente, nos presenteia com essa possibilidade. O ciclo de festas pelos quais atravessamos anualmente nos remete a isso: todos os anos é tudo igual, mas, ao mesmo tempo, é tudo diferente. Não poderíamos ter um exemplo mais palpável do que ler o mesmo livro, todo o ano, do começo ao fim. Um livro antigo, mas que fala sobre nós; um livro que às vezes parece sem lógica, com capítulos sem conexão, mas que nos toca fundo na alma. Esse livro é a Torá, um livro que fala sobre outras épocas, outras gerações. Que apresenta regras, leis e conta histórias épicas e de milagres. Mas ao mesmo tempo fala sobre você e sobre mim. Sobre seu dia de hoje, de ontem e de amanhã. É por isso que a cada ano marcamos o final da leitura da Torá com a festa de Simchát Torá. De fato, não poderia haver alegria maior do que terminar de ler, do começo ao fim, esse livro tão importante para nós. Poderíamos pensar que essa festa é a celebração pelo término desse ciclo. Por um lado é isso, mas também é muito mais. A alegria que nos invade nessa festa não é só por terminar, mas também por recomeçar. A alegria por ter o privilégio de ler, de novo, do começo ao fim; de nos renovarmos através do texto e renovar o texto através de nós. Imediatamente depois de ler o último trecho da Torá lemos o primeiro, no mesmo momento. A área da Educação utiliza o conceito de “planejamento educativo em espiral”: uma espiral ascendente que passa uma e outra vez pelo mesmo conteúdo, mas sempre com uma ótica diferente, considerando os diferentes momentos de amadurecimento do indivíduo. Por isso falamos em espiral e não circular. Um círculo passaria uma e outra vez pelo mesmo ponto, uma e outra vez retomando o mesmo conteúdo ignorando que as pessoas mudam. Essa “novidade” pedagógica é o que a tradição judaica vem fazendo há milhares de anos. A Torá não está dividida em porções para serem lidas uma parte quando somos crianças e outra na vida adulta. O texto é sempre o mesmo. Sempre. O que muda são nossos olhos, nosso corpo, nosso espírito. A mesma história nos ensina, a cada vez, valores diferentes, traz à tona problemáticas diferentes que nos fazem crescer a partir delas e com elas. Cresçamos mais um ano com e através da Torá.

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JUDAÍSMO

Produtos

judaicos

Visite a CIP e confira as ótimas sugestões de presente para as mais variadas ocasiões: Brit Milá, Simchát Bat, Bar e Bat-mitsvá, casamento, feriados judaicos e muito mais. Para informações sobre os horários de atendimento e os produtos oferecidos, entre em contato: produtosjudaicos@cip.org.br.

Atividades

regulares da CIP

TERCEIRA IDADE

INFORMÁTICA PARA TERCEIRA IDADE segundas, terças e quartas-feiras às 8h30 COSTURA DA BOA VONTADE terças-feiras às 13h CLUBE DAS VOVÓS LOTTE PINKUSS terças-feiras às 14h (encontros quinzenais)

CULTO

COSTURA DA CHEVRA KADISHA quartas-feiras às 13h GRUPO DE ESTUDOS DA PARASHÁ segundas-feiras às 19h30 PENSAMENTO JUDAICO quintas-feiras às 19h10 REFLEXÕES DE SHABAT sábados às 12h30 (após o kidush)

MÚSICA Porta-mel para Rosh haShaná

A sinagoga Etz Chaim agradece à lojinha

JUVENTUDE MANHIGUT

sextas-feiras às 16h AVANHANDAVA E CHAZIT HANOAR sábados às 14h

DANÇA

HARCADÁ terças-feiras às 20h LEHACÁ ERETZ segundas-feiras às 20h LEHACÁ NEFESH quintas-feiras às 19h

ENSINO

HEBRAICO segundas-feiras às 19h30 ESCOLA LAFER segundas, terças e quartas-feiras às 16h30 sextas-feiras às 8h30 KTANIM segundas-feiras às 17h30 e sextas-feiras às 10h (Ktanim Babait todos os dias)

CORAL KAVANÁ terças-feiras às 20h30

SHABAT IELADIM sextas-feiras às 18h45

CORAL ABANIBI quartas-feiras às 20h30

SHAAT SIPUR sábados às 14h30

pela doação de quatro pares de tefilin, que contribuirão para a intensificação de nossa experiência religiosa. 34

Informações: 2808.6299 ou secretaria@cip.org.br


Casa de Campos do Jordão da CIP O espaço ideal para seu evento e lazer • Festas • Reuniões familiares • Bar e Bat-mitzvá • Encontro de amigos • Shabatot especiais • Acampamentos • Passeios ecológicos • Atividades para terceira idade • Eventos corporativos • Confraternizações • Convenções • Workshops • Palestras

• 17 mil m² de área verde • Quadra poliesportiva coberta • Campo de futebol gramado • Pensão completa casher • Refeitório para até 100 pessoas • 12 quartos com 6 ou 8 lugares • Sala de TV e lareira Programe seu evento, reserve a data e aproveite

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Culanu BaSucá Juntos na Sucá 5777 • 2016

‫ זמן שמחתנו‬- ‫סוכות‬ Sucót - Zmán Simchatênu • Sucót - Tempo de Alegria

PROGRAMAÇÃO 16 out (domingo) A partir das 17h • A CIP convida a comunidade para mitsvá de construção e decoração da sucá. 18h45 • Arvit da 1ª noite de Sucót, seguido do Shirá Betsibur de Nigunim: canto comunitário e espiritual

21 out (sexta-feira)

18 out (terça-feira) 14h00 • Café na sucá para os voluntários do Núcleo da Maturidade 19h30 • Alegria na Sucá : para jovens da Chazit Hanoar

14h00 • Avanhandava, Chazit Hanoar e Shaat Sipur com atividades de Sucót 19h30 • Vivência jovem na sucá : encontro da Juventude da CIP

19 out (quarta-feira) 19h30 • Shirat Miriam convida para um happy hour com degustação de vinho com os especialistas István Wessel e Fernando Lottenberg. Faça sua reserva 20 out (quinta-feira) 19h30 • Estudo e debate com os rabinos: A alegria e o acolhimento nas fontes judaicas

16h00 • Manhigut 18h45 • Shabat Ieladim 18h45 • Cabalat Shabat com kidush comunitário na sucá 22 out (sábado)

24 out (segunda-feira) 18h45 • Festa de Simchát Torá • Premiação do Concurso de Maquetes Informações e convites: sucot@cip.org.br ou 2808.6299

HORÁRIO DAS REZAS 16 a 21 out • Arvit 18h45 17 a 21 out • Shacharit às 8h 22 out (sábado) 09h30 • Shacharit 18h45 • Minchá de Shabate Arvit de Hoshaná Rabá 23 out (domingo) 08h30 • Shacharit de Hoshaná Rabá 18h45 • Arvit de Sheminí Atséret com Izcór noturno

Fique por dentro da programação: | cipsp ou www.cip.org.br

24 out (segunda-feira) 08h00 • Shacharit de Sheminí Atséret com Izcór 18h45 • Arvit e Festa de Simchat Torá 25 out (terça-feira) 08h00 • Shacharit de Simchát Torá 18h45 • Arvít e Havdalá (fim do chag ) Todas as rezas da semana serão realizadas na sucá

Campanha social de Sucót e Simchát Torá Em prol dos projetos sociais da CIP Entrada para cada atividade: Kit de higiene • sabonetes, pastas e escovas de dentes. É tempo de alegria • concurso de maquetes Inscrições até 14/out Regulamento: www.cip.org.br/sucot Informações: 2808.6219 ou sucot@cip.org.br


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