Ciência para Todos - Outubro / 2015 N.12, ANO 7

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2015 12, ano 7 (distribuição gratuita)

outubro de n

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conheça nosso catálogo completo http://editora.inpa.gov.br

Reserva Ducke - A Biodiversidade Amazônica Através de Uma Grade Márcio L. Oliveira, Frabício B. Baccaro, Ricardo Braga-Neto, Willian E. Magnusson Editora INPA, 2011. ISBN: 978-85211-0076-8. Páginas: 166

R$ 35,00

Observando borboletas uma experiencia para o monitoramento de fauna em unidades de conservação Rosemary S. Vieira, Catarina Motta, Daniela Brito Agra Editora INPA, 2011. ISBN 978-85211-0058-4. Formato 12x22cm Páginas 40. Ilustrado colorido.

R$ 10,00

Frutos Nativos da Amazônia: comercializados nas feiras de Manaus Afonso Rabelo Editora INPA, 2011. ISBN 978-85211-0073-7. Formato 16x23cm Páginas 390. Ilustrado colorido.

R$ 50,00

Manual de Criação de Matrinxã (Brycon amazonicus) em Canais de Igarapés Jorge Daniel Indrusiak Fim, Sérgio Fonseca Guimarães, Atílio Storti Filho, Avemar Gonçalves Bobote, Gabriel da Rocha Nobre Filho INPA, 2009. ISBN: 978-85-2110055-3. Formato: 24x17 Páginas: 48

R$ 15,00

Manual de árvores de várzea da Amazônia Central: taxonomia, ecologia e uso Manual of trees from Central Amazonian varzea floodplains: taxonomy, ecology and use Florian Wittmann, Jochen Schöngart, Joneide M. De Brito, Astrid de Oliveira Wittmann, Maria Teresa Fernandez Piedade, Pia Parolin, Wolfgang J. Junk & Jean-Louis Guillaumet (Organizadores) Editora Inpa, 2010. ISBN: 978-85-

Guia de Samambaias e Licófitas da REBIO Uatumã Amazônia Central Gabriela Zuquim, Flávia R. C. Costa, Jefferson Prado, Hanna Tuomisto Editora INPA, 2012. Páginas: 316

R$ 60,00

211-0067-6. Formato: 21x29,7cm.

Noções Básicas de Nutrição e Higiene Lucia K. O Yuyama, Lílian Pantoja Editora INPA, 2011. ISBN 978-85211-0071-3. Formato 20x20cm Páginas 48. Ilustrado colorido.

R$ 10,00

Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos

Peixes comerciais de Manaus

Adalberto Luis Val, Geraldo M. dos Santos Editora INPA, Formato: 16x23cm.

Geraldo Santos, Efrem Ferreira, Jansen Zuanon Editora INPA, 2006. ISBN 857300-211-5. Formato 27x21cm Páginas 144. Ilustrado colorido.

R$: 20,00 un.

R$ 60,00

Av. André Araújo - 2936 - Petrópolis - CEP 69067-375. Manaus-AM, Brasil. Cx. Postal 2223 - CEP 69080-971 Fone 92 3643 3223, Fax 92 3642 3438. site http://acta.inpa.gov.br. E-mail editora@inpa.gov.br 2

Páginas:286

R$:125,00


EDITORIAL

Vivemos num momento onde as mudanças climáticas cada vez mais afetam o cotidiano da sociedade, a exemplo da seca do Estado de São Paulo que deixou milhares de pessoas sem água, e também a enchente na região norte que deixou centenas de famílias desabrigadas. Várias ações da humanidade contribuem de forma significativa para que a degradação aos recursos naturais aumente, como queimadas e desmatamento, ações corriqueiras aqui na região amazônica. Para que os efeitos negativos dessas ações sejam mitigados, as pesquisas voltadas para o entendimento da interação da biosfera com a atmosfera se fazem necessárias. Vendo isto, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI) juntamente com Institutos de Química e de Biogeoquímica do Max Planck da Alemanha, fizeram uma cooperação entre os dois governos federais para criar a maior torre de monitoramento climático do mundo, a Torre ATTO. Os benefícios das pesquisas para a compreensão do clima trarão melhorias para todos os aspectos que envolvem a Amazônia, tanto para as florestas como os rios, que carregam uma diversidade enorme de peixes e demais seres da biota aquática. Muitos desses rios são poluídos por metais, seja de forma natural ou pela ação do homem, que acabam contaminando algumas espécies de peixes, dessa forma podendo causar malefícios também para seus consumidores. As pesquisas dos laboratórios precisam levar desenvolvimentos e conhecimentos reais para a população, assim como a sustentabilidade para as comunidades ribeirinhas da região amazônica. A exemplo do “Flutuante Amigos do boto-vermelho”, que agrega o desenvolvimento da pesquisada ao turismo, sustentabilidade e educação ambiental. Todas essas realizações nos mostram que é de suma importância, não apenas a realização das pesquisas, mas também a sua divulgação para a sociedade, para que de fato a Ciência seja para Todos.

Ciência para todos Tecnologia e Inovação -

Produto à base de resíduos de pirarucu enriquece alimentos com baixo teor de proteína

Sociedade -

Corante à base de fungos e prometem benefícios com menos impacto ambiental

EXPEDIENTE Luiz Renato de França Diretor do Inpa

Luis Antonio de Oliveira

Diretor Substituto do Inpa

Coordenador de Ações Estratégicas – COAE

Sérgio Fonseca Guimarães Chefe de Gabinete

Beatriz Ronchi Teles

Coordenadora de Capacitação – COCP Hilândia Brandão da Cunha

Coordenadora de Pesquisas e

Acompanhamento das Atividades Finalísticas – CPAF Cristhiane Okawa

Coordenadora de Administração – COAD

Carlos Roberto Bueno

Coordenador de Extensão – COEX Fernanda Farias

Assessora de Comunicação Editora- chefe

Caroline Rocha Cimone Barros

Luciete Pedrosa Redação

Aline Cardoso

Josiane Santos Juan Matheus Raiza Lucena

Colaboradores Acervo Pesquisadores Ascom/Inpa

Fotografias

Josiane Santos Revisão

Paulo Cesar

NOSSA CAPA

Projeto Gráfico Diagramação

TORRE ATTO Gigante da Amazônia: Torre de pesquisa mais alta do mundo

Felipe Cumaru Juliana Lima

Denys Serrão Paulo Cesar

Artes e Ilustrações Gigante da Amazônia: Torre de pesquisa mais alta do mundo trará benefícios globais

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Sociedade Aspectos socioambientais das Unidades de Conservação

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Biodiversidade Metais em rios da Amazônia contaminam traíras.

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Artigo Física, ciência, poesia e a busca da verdade

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Sociedade -

Corante à base de fungos

prometem benefícios com menos impacto ambiental

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Dinâmica Ambiental Gigante da Ama

de pesquisa ma

trará benefício


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Tecnologia e Inovação -

Produto à base de resíduo de

pirarucu com alto teor proteico

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Entrevista Conceitos , desafios e

aplicabilidade da economia solidaria no

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azônia: Torre

biental

ais alta do mundo

os globais

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Biodiversidade Sustentabilidade, turismo e qualidade de vida num só lugar

Brasil

Fique Ciente Curiosidades Sobre tudo no mundo da ciencia

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Curumim e Cunhatã Bate Papo com a Boo

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Foto: acervo pesquisador

Aspectos socioambientais das Unidades de Conservação A parceria entre o Laboratório de Manejo Florestal e o Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental resultou em uma publicação inovadora e relevante para formulação dos planos de manejos nas Unidades de Conservação. O livro une conhecimentos técnicos e sociais de cinco UCs do estado do Amazonas Por Raiza Lucena

O livro “Morar e Viver em Unidades no Amazonas de modo técnico e socioambiental, com o intuito de Conservação no Amazonas: Considerações Socioambientais de que a vida de moradores seja levada em consideração na para os Planos de Manejo” formulação de um plano de manejo para essas áreas.

editado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Maria Inês Gasparetto Higuchi e Niro Higuchi, e a pesquisadora-bolsista, Camila Carla de Freitas, aborda pesquisas que descrevem as

“Acredito que o livro apresenta um universo não só voltado para o uso de recursos, mas traz a riqueza do que existe na vida além de morar nas unidades de conservação, Unidades de Conservação (UC) mostra quais as relações históricas 6


e culturais entre eles. Muitas vezes essas questões não são levadas em consideração na gestão desse tipo de território” explica Freitas, uma das editoras do livro. Para entendermos a relevância que esta publicação pode acarretar aos moradores tradicionais das Unidades de Conservação, vamos à alguns conceitos. As Unidades de Conservação foram alternativas criadas pelo governo brasileiro como estratégia para enfrentar questões ambientais. Essas questões podem ser a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, a conservação de recursos naturais e a manutenção de serviços ambientais. O marco legal para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação brasileiras é estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Este Sistema classifica as UCs em dois grupos: o de uso sustentável e o de proteção integral, sendo o primeiro a conciliação humana com os recursos naturais (consumo, coleta, pesca, etc) e o segundo uma área restrita de preservação, permitindo apenas a intervenção para pesquisa científica entre outras atividades de baixo impacto.

Reserva de Fauna (RF), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). As mais abordadas no livro foram as Resex e a Flona, todas localizadas no estado do Amazonas. A gestão é feita por um conselho gestor que tem a representação de órgãos públicos e da sociedade civil. Os Conselhos Gestores podem ser consultivos ou deliberativos. Cabe aos conselhos abrirem espaços para discussões de questões em que problemas são levantados e propostas discutidas. Dentre a manutenção e gestão das UCs, deve se reconhecer o papel das populações tradicionais na proteção ambiental. São estas que têm o conhecimento das áreas, sabem suas necessidades, expectativas e modos de viver; e, por isso, as decisões tomadas para pelas UCs devem sempre compatibilizar com modo vida dos moradores e a proteção da natureza.

O SNUC também estabeleceu mecanismos que regularizam a participação da sociedade na gestão das UCs social da população tradicional, Unidades de Conservação de uso sustentável podem ser dividas em Área de Proteção Ambiental (APP), Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie), Floresta Nacional (Flona), Reserva Extrativista (Resex), 7


Essa compatibilização deve ser CARACTERÍSTICAS DO feita através do plano de manejo, LIVRO um documento em que asatividades da unidade sejam direcionadas A publicação mostra todos os ao manejo dos ecossistemas ou a aspectos sociais das seguintes UCs: Resex do Baixo Juruá (Juruá atividades de proteção. e Uarini), Resex Auati-Paraná É elaborado através de vários (Fonte Boa, Japurá e Marãa), estudos que inclui diagnósticos Resex do Lago Capanã Grande do meio físico, biológico e social. (Manicoré), a Flona do Pau-Rosa “Dificilmente você faz um plano de (Maués) e a Resex do Rio Jutaí manejo sem a cumplicidade dos (Jutaí), todas geridas pelo Instituto ribeirinhos. Só que esta abordagem Chico Mendes de Conservação você só consegue se souber da Biodiversidade (ICMBio),desde lidar com as questões sociais estrutura das casas, móveis, entendendo, ao mesmo tempo, o localização, até a composição modo de vida dos comunitários. familiar, educação e saúde que as Este livro é o resultado da populações tradicionais recebem. ação conjunta dos grupos de “As pesquisas ocorreram em vários pesquisas em manejo florestal e anos: a primeira em 2004 e outras educação ambiental em torno de 2013. Esse livro sintetiza uma propostas para planos de manejo série de trabalhos de pesquisas em unidades de conservação.”, científicas feita da parceria entre explana o pesquisador Higuchi. o Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental (Lapsea) e o Laboratório de Manejo Florestal (LMF). O objetivo é mostrar que […] qualquer plano de qualquer plano de manejo deve manejo deve ter essa ter essa dimensão social, ou seja, dimensão social, ou a visão dos povos que habitam seja, a visão dos povos essa realidade em torno da UC, uma vez que tanto a preservação que habitam essa quanto o uso dos recursos naturais dependem dessas realidade em torno da pessoas. A importância dada por UC, uma vez que tanto eles, o tipo de necessidade, a vida social, todos esses fatores a preservação quanto são condições que, de alguma o uso dos recursos forma, determinam um melhor naturais dependem aproveitamento dos recursos naturais” afirma Gasparetto. dessas pessoas.

(Maria Inês Gasparetto Niguchi)

Dividido em 11 capítulos, o livro apresenta informações técnicas, como aparatos legais que regulamentam o sistema de unidades de conservação brasileiro e as categorias existentes, passando por informações sociais

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como conceitos, estruturas, cultura, percepções das UCs e capítulos individuais e específicos que tratam de cada UC pesquisada, incluindo informações atuais para o acompanhamento das modificações ocorridas ao longo do tempo. A transição de status territorial das terras ocupadas para o domínio das unidades de conservação requer uma mudança na dinâmica dos moradores que devem se adaptar às novas normas regidas pelo órgão gestor. A publicação traz aspectos sociais que explicam essa dinâmica e estrutura estabelecidas culturalmente por suas populações. Foram 28 pesquisadores que contribuíram com as pesquisas de ‘Morar e Viver em Unidades de Conservação no Amazonas: considerações Socioambientais para os Planos de Manejo’. O público-alvo é definido por gestores de UC e aos interessados no assunto.

PERCEPÇÕES

Destaque para o capítulo 8: ‘Significado de morar e viver numa Unidade de Conservação’ que mostra as percepções dos moradores em relação aos significados, pertencimento e apego aos seus lugares de moradia. No capítulo há relatos dos moradores e gráficos que quantificam suas opiniões nas UCs pesquisadas, reforçando assim, o propósito do livro de lembrar que aspectos sociais importam e que modificá-los de forma brusca pode ser prejudicial ao modo de viver e a cultura dessas famílias

A transformação do status territorial de terras tradicionalmente ocupadas (Almeida 2008) para Unidades de Conservação (UCs) traz um novo movimento, uma nova dinâmica que se instala na vida das comunidades residentes, substituindo aquela pré-existente. A instauração dessa nova ordem legal requer dos gestores um entendimento da história vivida pelas comunidades, para que a meta de conservação dos recursos naturais seja efetivamente consolidada. Isso garantiria também a real possibilidade dessas pessoas se sentirem incluídas num processo de melhoria social mais efetivo.” (Página 189) “Para acessarmos a percepção ambiental de um indivíduo ou grupo de pessoa, podemos começar com a denominação dada ao lugar. A identificação dos elementos que compõem um ambiente não é uma mera formalidade léxica, isto é, o nome ou termo em si, mas, sobretudo um conhecimento que, inevitavelmente, está subjacente a tudo que se faz referência a este ambiente. Qualquer denominação relacionada a um lugar tem sempre significados e valores atrelados a ele, seja a partir das imagens mentais ou das vivências ocorridas nesse espaço. A percepção ambiental é um caminho para acessar esse conjunto de cognições e afetividades relacionado à relação pessoa-ambiente, portanto um meio para compreender o comportamento humano nesse ou para aquele lugar. (Página 214)

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Foto: acervo pesquisador

METAIS EM RIOS DA AMAZÔNIA CONTAMINAM TRAÍRAS Função da pesquisa foi determinar a concentração dos metais cobre, cobalto, cromo, chumbo, ferro, manganês, mercúrio, níquel e zinco nas partes comestíveis do pescado Por Juan Matheus

Os rios da Amazônia, além de conter uma variedade extensa de animais, carregam consigo outro tipo de componentes: os metais. Seja por meios naturais ou por ação do homem, é fato que a biodiversidade que interage com as águas dos rios sofre as consequências do o acúmulo desses elementos, os quais, ao alcançarem determinadas concentrações nos organismos animais, podem se tornar

verdadeiros “venenos” para a vida. Procurando entender melhor como ocorre a contaminação da biota, isto é, dos animais aquáticos presente nos afluentes da bacia do Rio Negro e do Rio Solimões, um estudo de mestrado do pesquisador formado em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), Mailson Rafael Ferreira , orientado e coorientado pelas

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pesquisadoras, Maria Cláudia Gross e Fabíola Valdez Domingos, teve como foco o estudo da concentração de metais e seus efeitos genotóxicos em peixes carnívoros da espécie Hoplias malabaricus, popularmente conhecida como traíra. A traíra é encontrada com muita facilidade em quase todos os igarapés, açudes, lagos, lagoas e rios da Amazônia. A pesquisa se concentrou estudar essa espécie nos afluentes dos rios Negro e Solimões. Com esse estudo, foi possível determinar se a composição físico-química desses ambientes interferia na bioacumulação, ou seja, na ingestão desses metais no organismo desses peixes. De acordo com Ferreira, mediante essas diferenças que existem entre a água preta e branca, por exemplo, o rio Negro tem muita concentração de carbono orgânico dissolvido e pH ácido. Já os afluentes do Rio Solimões têm muito material em suspensão, como argila, restos de materiais que vem da erosão, muita quantidade de sais cálcio e bicarbonato e suas águas possuem o pH neutro. “Na região amazônica esses rios são intensamente contaminados de duas maneiras: natural ou pela ação do homem. No primeiro caso, desde o processo de cheia e seca,lavagem do solo – que levam vários compostos químicos do solo pra própria água. No segundo caso, pelas grandes cidades com deposição de poluentes nos rios. Uma vez que esses poluentes chegam às águas eles podem ser ingeridos pela biota aquática”, explica o pesquisador.

Foto: acervo pesquisador

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Metais nos rios

necessário pelo organismo. Já os metais que não possuem função nos organismos são tóxicos mesmo se ingeridos em pequenas concentrações.

Os rios da Amazônia são ricos em metais que são intensamente absorvidos pelos organismos aquáticos, e pelos seres humanos. A função da pesquisa foi determinar a concentração dos metais: cobre, cobalto, cromo, chumbo, ferro, manganês, mercúrio, níquel, zinco, nos tecidos comestíveis da traíra.

Biomonitoramento

Para realizar o biomonitoramento das traíras da bacia amazônica, foram utilizados alguns biomarcadores, tais quais, concentração de metais no tecido branco dos peixes, que é o tecido consumível pela população, e biomarcadores de genotoxicidade, a partir dos quais foram avaliadas a ocorrência de anormalidades na estrutura nuclear e do material genético dos peixes.

Ainda de acordo com Ferreira, uma vez absorvidos, os metais podem sofrer bioacumulação, que consiste no aumento dos níveis de substâncias químicas nos tecidos dos peixes. Quando absorvidos em grande quantidade, o organismo desses peixes não consegue eliminar 100% desses metais e eles acabam acumulando em seu tecido branco, ou seja, na parte comestível.

Como na região amazônica e nas regiões ribeirinhas os peixes são intensamente consumidos como fonte de alimentos, a utilização de traíras como bioindicadores se tornou mais viável. “A população que se alimenta desses peixes pode acumular esses metais. O risco é: se eles forem genotóxicos para os peixes , também tenderão a ser tóxicos para a população humana. As consequências da ingestão desses peixes contaminados com metais vão desde defeitos genéticos e neurológicos à máformação de bebês”, exemplificou o pesquisador.

“A medida que se aumenta essa absorção pela cadeia alimentar, ocorre um processo chamado de biomagnificação que, basicamente, é quando há o aumento dos níveis de acumulação de alguns metais ao longo da cadeia alimentar afetando as espécies de níveis superiores em maior intensidade. O peixe que é predador absorve ,além dos metais presentes na água, também os metais que sua presa tinha em seus tecidos”, esclarece o pesquisador.

As coletas dos peixes foram realizadas em oito pontos no rio negro: três pontos durante a cheia e cinco pontos durante a seca, que iam da capital Manaus ao município de Santa Isabel do Rio Negro, percorrendo mais de 700 quilômetros ao longo do rio. Já no Rio Solimões foram coletados traíras em seis pontos durante a seca, que iam das regiões do Rio Madeira até o município de Fonte

Apesar de contaminantes, alguns metais são essenciais para o organismo, como o zinco e o ferro, e outros não possuem função, como o cromo e o mercúrio. Os metais que possuem função se tornam tóxicos quando ingeridos em concentrações acima do 12


Foto: acervo pesquisador

Boa, no alto rio Solimões, com mais de 900 km percorridos. “Coletamos para análise um total de 180 peixes. As coletas eram realizadas com o auxilio de pescadores locais e só pegávamos peixes acima de 15 centímetros de comprimento, por que sabemos que a partir de 12 cm de tamanho as traíras são estritamente carnívoras, então estavam acumulando os metais dos peixes que ingeriam. Todas as coletas foram feitas com a autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e com a aprovação do Comissão de Ética no Uso de Animais do Inpa”, frisou Mailson.

Maior concentração e danos genotóxicos

Segundo os resultados obtidos por Ferreira, de todos os tipos de metais estudados, foi observados que o zinco e o ferro são os metais mais presentes nas carnes das traíras, entretanto, levando em consideração que esses metais apresentam função dentro dos organismos, então o resultado pode ser considerado normal. Já o Cobalto somente foi encontrado nos peixes da bacia do Solimões( aonde também se verificou maior concentração de Cobre e Cromo em tecido de traíras em relação aos peixes da bacia do rio Negro). Nos Rios

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Japurá e Juruá o nível de cromo está maior que o permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, quem consome os peixes dessa região está consumindo o metal além do que permite a legislação brasileira

Teia, no alto rio Negro.

A principal crítica à pesquisa foi que a legislação vigente precisa ser revisada, rediscutida e reformulada, com especial atenção para a região amazônica, na qual a população consome O cromo apresentou toxicidade muito mais peixe diariamente do para as células, provocando que o restante do país. danos bioquímicos, e genéticos e O projeto durou dois anos, e atrapalhando o desenvolvimento envolveu pesquisadores do embrionário, caso ingerido por uma Laboratório de Biologia Ambiental mulher grávida. Os demais metais da Universidade Federal do Oeste apresentaram concentrações do Pará (UFOPA), com a análise dos dentro dos limites da Anvisa. Os peixes com mercúrio, Laboratório peixes da bacia do rio Negro por sua de Ecossistemas Aquáticos do vez apresentaram mais mercúrio e inpa, com a análise da água e zinco do que os peixes de água Laboratório de Biogeoquímica da branca, estando o mercúrio acima Universidade Federal de Rondônia dos limites recomendados pela anvisa nos peixes coletados no rio (UNIR).

A população que se alimenta desses peixes pode acumular esses metais. O risco é: se eles forem genotóxicos para os peixes, também tendem a serem tóxicos para a população humana. As consequências da ingestão desses peixes contaminados com metais vão desde defeitos genéticos e neurológicos a má-formação de bebês

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ASCOM

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Assessoria de comunicação/inpa

Anselmo D’Affonseca

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Foto: acervo pesquisador

Produto à base de resíduo de pirarucu com alto teor proteico enriquece alimentos Por Luciete Pedrosa

O produto gerado está protegido pelo Inpi e espera o interesse do empresariado para a produção e comercialização no mercado

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As Carcaças de pirarucu (Arapaima gigas) são matérias-primas utilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) para a elaboração de uma substância líquida capaz de enriquecer alimentos com baixo teor proteico, como pães e biscoitos, além de ajudar na produção de outros alimentos especiais para pessoas alérgicas a proteínas do leite. De quebra, a tecnologia ajuda a minimizar a poluição ambiental deixada pelo resíduo gerado no processamento industrial do pirarucu. A substância é o hidrolisado proteico de pirarucu desenvolvido no Laboratório de Química e Fisioquímica do Inpa em parceria com o Laboratório de Micologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Segundo o pesquisador do Inpa, o doutor em Ciência de Alimentos e líder da área de tecnologia de alimentos, Rogerio Souza de Jesus, os hidrolisados proteicos são resultados da hidrólise (quebra) das proteínas que podem apresentar propriedades funcionais úteis para a indústria alimentícia. O pedido de patente do hidrolisado de proteína de peixe já foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e está à disposição dos empreendedores para a produção e comercialização no mercado. Para o pesquisador, a produção de hidrolisado proteico de pescado destaca-se como alternativa de aproveitamento dos resíduos sólidos provenientes da indústria pesqueira. “Esses resíduos são uma matéria-prima de alta qualidade biológica, gerando produtos que podem atingir um conteúdo proteico de até 90% com propriedades funcionais das proteínas do

pescado intensificadas”, diz. O pescado é um importante alimento na nutrição humana como fonte de proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e componentes bioativos, capaz de reduzir o risco de doenças crônicas pela presença de ácidos graxos poliinsaturados do tipo ômega-3. Em comparação com alimentos de origem animal, os peixes contêm grandes quantidades de vitaminas, principalmente das lipossolúveis, em especial as vitaminas A e D, além de ser fonte de vitaminas do complexo B. O pescado também é considerado uma excelente fonte de minerais, incluindo cálcio, fósforo, ferro, cobre e selênio. A carcaça é um resíduo pouco aproveitado da espécie após a retirada das mantas (filés). Ela contém uma quantidade de carne que não serve para ser filetada, mas que pode ser utilizada na produção de carne mecanicamente separada de pescado e servir de matériaprima para elaboração de produtos de pescado. Para a produção do hidrolisado de pirarucu, a matéria-prima utilizada foi a carne mecanicamente separada de carcaças do peixe. Dela, foram desenvolvidos dois produtos: um hidrolisado proteico de pirarucu produzido com extrato enzimático comercial (pancreatina) e, outro, com enzima microbiana bruta do fungo Aspergillus flavo-furcatis. “Os resultados mostraram que, no hidrolisado proteico com enzima comercial, o teor proteico foi de 73,47%, enquanto o hidrolisado feito com a enzima microbiana foi de 58,03%”, disse Flavia de Carvalho Paiva,

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Aplicações Hidrolisado

Os hidrolisados proteicos de pirarucu possuem diversas aplicações na indústria farmacêutica e na alimentação humana e animal. Segundo o pesquisador Rogério de Jesus, os produtos podem ser empregados em suplementos de cereais, produtos de panificação, sopas e alimentos para crianças. De acordo com o pesquisador, também são utilizados na fabricação de alimentos especiais para pessoas com alergia a proteínas do leite, na suplementação dietética de idosos, na nutrição de espor-

tistas e crianças prematuras, na alimentação de pessoas com gastroenterite, má absorção e fenilcetonúria (doença que faz com que os alimentos que tenham uma substância chamada fenilalanina intoxique o cérbro causando retardo mental). O pirarucu é comercializado na forma de manta fresca, conge- lada, secosalgada e defumada. Por ser um peixe grande e pela sua crescente comercialização, o beneficiamento do pirarucu gera muitos resíduos como, por exemplo, cabeça, vísceras, nadadeiras, escamas e couro, os quais podem ser

Foto: acervo pesquisador

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Foto: acervo pesquisador

O estudo desenvolvido no Inpa foi a dissertação para obtenção do título de mestre em Ciência de Alimentos da Ufam de Flavia de Carvalho Paiva, orientada pelo pesquisador do Inpa, Rogerio Souza de Jesus. Flávia foi co-orientada pela doutora em Biotecnologia e Professora Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Larissa de Souza Kirsch. O trabalho foi publicado recentemente na revista Pesquisa Agropecuária Tropical, em parceria com outros autores.

um hidrolisado proteico de pirarucu produzido com extrato enzimático comercial (pancreatina) e, outro, com enzima microbiana bruta do fungo Aspergillus flavo-furcatis. “Os resultados mostraram que no hidrolisado proteico com enzima comercial o teor proteico foi de 73,47%

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reaproveitados como subprodutos afim de agre gar valor à produção e proporcio- nar novos produtos provenientes de pescado. O pirarucu chega a medir 3,5 metros e pesar 350Kg


de

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XII Semana Nacional Ciência e T ecnologia Luz, Ciência e Vida

19 a 25 de outubr o

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INP A 2015


Foto: Caroline Rocha

Por Caroline Rocha

Corantes naturais a partir de fungos trazem benefĂ­cios para a saĂşde Os fungos foram capazes de produzir corantes de interesse industrial e apresentam importantes atividades biolĂłgicas

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Fungos retirados do solo da Amazônia são bons produtores de corantes naturais. É o que mostra pesquisa realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e publicada na revista inglesa Process Biochemistry, com o título Bioprospecting of Amazon soil fungi with the potential for pigment production.

Souza explica que foram isolados 50 microrganismos das amostras de terra para investigação. Des -ses, apenas cinco fungos produziram cores interessantes com potencial para serem usados como corantes.

“Quando comparado aos corantes sintéticos, os corantes naturais são menos tóxicos, menos nocivos ao ambiente e podem ser utilizados muitas vezes como antibióticos e antioxidantes”, afirma o biotecnologista, João Vicente Braga de Souza, responsável pelo Laboratório de Micologia do Inpa e coordenador da pesquisa. Além do tecnologista, a pesquisa foi desenvolvida pelos alunos de mestrado e doutorado do Inpa, Jessyca dos Reis Celestino, Loretta Ennes de Carvalho e Alita Moura Lima. A pesquisa também teve como autores os pesquisadores do Inpa, Maurício Ogusku, responsável pela identificação por DNA do fungo, e Maria da Paz Lima, responsável pela identificação química dos corantes. Depois de coletar pequenas amostras de solos das localidades do Instituto, o biotecnologista usou os métodos de estudos de bioprospecção (método utilizado para explorar recursos genéticos e bioquímicos em seres vivos)

para encontrar fungos capazes de produzir as cores: amarelo, laranja claro, laranja escuro e vermelho.

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Vantagens e desvantagens Os corantes fúngicos, além de possuírem a função de colorir, podem também apresentar importantes atividades biológicas, como ações anticancerígenas, antivirais, imunossupressora, antioxidantes, e antimicrobianas. Alguns podem ainda, ajudar na redução do colesterol. Segundo Souza, tratando-se de sustentabilidade, os produtos à base de corantes naturais são facilmente reconhecidos pelo meio ambiente, e por isso causam menos impactos ambientais. “Um fator importante é que os corantes naturais, de modo geral, são menos tóxicos em comparação aos de origem sintética”, afirmou Souza. Por outro lado, a degradação rápida pode ser uma desvantagem para a indústria. A mudança de cor e pouca durabilidade é uma barreira grande para as empresas que pretendem adotar corantes naturais.


Quando comparado aos corantes sintéticos, os corantes naturais são menos tóxicos, menos nocivos ao ambiente e podem ser utilizados muitas vezes como antibióticos e antioxidantes

Foto: Caroline Rocha

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Foto: Caroline Rocha

No mercado

(substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos) reduzem o valor comercial e impedem a sua aplicação como corantes nos Estados Unidos ou em países da União Europeia e parte da Ásia.

A procura por corantes naturais é cada vez maior por parte das indústrias alimentícias e farmacêuticas, que utilizam o produto por ter maior valor medicinal e possuir baixas propriedades tóxicas para o “O Brasil já tem algumas homem e para o meio ambiente. restrições de uso de corante Segundo o biotecnologista, durante muito tempo corantes sintético na indústria farmacêutica foram produzidos de forma e alimentícia”, afirmou. Já em sintética, ou seja, criados em países desenvolvidos, o uso de laboratórios e derivados de corantes naturais é amplamente petróleo ou de reações químicas, disseminado. o que aumentava a toxicidade e prejudicava a saúde do homem. Novas pesquisas estão sendo Souza conta que os fungos feitas com o fungo Penicillium da classe Monascus são mais sclerotiorum 2AV2 para aumentar utilizados pelas indústrias a quantidade de corantes para na fabricação de corantes e pigmentos pela produção em escala industrial e explorar as suas larga escala, mas as micotoxinas potencialidades biológicas. 25


FIQUE CIENTE

Fronteiras O Programa ProAmazônia, criado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) propõe combater tráficos de minerais nas fronteiras da Amazônia Ocidental e desenvolver estudos científicos em lugares mais remotos da região. Outros objetivos do ProAmazônia são oferecer infraestrutura e suporte logístico para os pesquisadores e alunos. A previsão é que até 2022, o ProAmazônia apresente resultados eficazes na defesa da fronteira e da floresta e reduza exponencialmente o tráfico. O Programa foi apresentado oficialmente durante a 67º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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Mais investimentos

O Programa de Grande E Atmosfera na Amazônia Nacional de Pesquisas da Am consegue alavancar para ca pelo Ministério da Ciência, Te (MCTI) quase 19 reais de inv seus projetos, que são conve para entender o clima e as mudanças climáticas na reg o programa divulga o LBA informativo apresenta os dado transparência sobre o program desenvolvidos pelo LBA, est Torre ATTO (Amazon Tall Tow todo são 843 pesquisadores e em 33 projetos.


Escala da Biosfera(LBA) do Instituto mazônia (Inpa/MCTI) ada 1 real investido ecnologia e Inovação vestimentos para os ertidos em pesquisas consequências das gião. Todo semestre, A em Números. O os quantitativos e de ma. Entre os projetos tá o Go Amazon e a wer Observatory). Ao e bolsistas envolvidos

Nova Lei da Biodiversidade Agora conhecida como Marco Legal da Biodiversidade, a Lei 13.123/2015, vai incentivar e facilitar as pesquisas sobre espécies da flora e fauna brasileira e proteger os conhecimentos dos povos tradicionais brasileiros, e permitir que o país avance na área de biotecnologia. O benefício da Lei também se estende aos serviços agrícolas e mais fomento para as produções de novos produtos biocosméticos. Comparado ao texto anterior, a Medida Provisória 2.186-16 de 2001, vai reduzir a burocracia no acesso ao patrimônio genético. A Lei foi sancionada pela Presidente da República, Dilma Rousseff, no primeiro semestre de 2015.

Raridade amazônica Considerado “vulnerável” de acordo com a lista de espécies ameaçadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) foi registrado nas florestas de Igapó na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no município de Maraã, interior do Amazonas. Em três anos de amostragem, apenas três registros da espécie foram feitos. Os estudos foram realizados pelo pesquisador associado do Instituto Mamirauá, o biólogo Daniel Gomes da Rocha. O registro inédito só foi possível com a instalação de armadilhas fotográficas em diversos pontos da reserva. 27


Conirostrum “figuinha-d

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05/10 Dia Nacional

Das Aves

m bicolor do-mangue� Por: Josiane Santos foto:

Anselmo D’Affonseca 29


Entrevista Myrian Nydes Monteiro da Rocha

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Conceito, desafios e aplicabilidade da economia solidรกria no Brasil Por Josiane Santos

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Ciência para todos: Qual o conceito de economia solidária (E.S)? Myrian Nydes Monteiro da Rocha: O conceito mais amplamente aceito e divulgado é o do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) que trata a economia solidária como sendo o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores (as) sob a forma coletiva e autogestionária. Este conceito traz em si os elementos caracterizadores sem os quais não é possível falar em economia solidária e são eles: a atividade econômica viável, ou seja, um conjunto de atividades de uma coletividade humana relativas à produção e consumo de riquezas; a solidariedade, entendida como partilha de mesmos interesses, opiniões e sentimentos numa relação de auxílio mútuo; a forma coletiva, entendida como um conjunto de pessoas numa relação de cooperação e; por fim, a forma autogestionária em que a prática do gerenciamento é feito por todos numa relação sem hierarquias. CT: Quando a economia solidária criou força no Brasil? MR: A economia capitalista em sua dinâmica opressiva, deixou como marcas a exploração do homem e de sua força de trabalho, a degradação do ambiente e a exclusão dos menos favorecidos. No caminho da mudança e da transformação dessa realidade cruel que alija gerações e gerações de todos os bens produzidos pela humanidade, surge a economia solidária, que, por sua vez, cria uma nova lógica onde o homem, a preservação e a sustentabilidade estão na centralidade e não na periferia das questões. O tecido socioeconômico que serviu de pano de fundo para o surgimento da economia solidária foi a crise econômica dos anos 80/90. A partir do final do século XX, tem início a expansão de instituições e entidades de apoio às iniciativas comunitárias e articulações populares, são constituídas as cooperativas populares, as feiras de cooperativismo e as redes de produção e comercialização. É neste momento que a economia solidária cria força no Brasil. A criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e da SENAES em 2003, por iniciativa do Governo Federal, oportunizou a criação de fóruns locais e regionais para debater e promover a economia solidária, abrindo campo para a sua consolidação. É fato que há muito o que se fazer numa estrada quase sem

fim de desafios e dificuldades para que possamos viver uma economia cuja base seja a solidariedade, o que por sua vez, pressupõe que as relações estejam baseadas no auxílio mútuo. CT: Quais são os exemplos de empreendimentos de economia solidária? MR: Os empreendimentos solidários não estão adstritos a um ou outro segmento da economia, ou seja, podem ser encontrados em todos os setores da economia. Veja que economia solidária é uma forma de se organizar que pressupõe a viabilidade econômica, a solidariedade, a cooperação e a autogestão. Estes pressupostos são também características e não fatores impeditivos ou limitadores. Querem dizer que na economia solidária inexiste a exploração da força de trabalho, porque todos são, ao mesmo tempo, “donos” e “trabalhadores”, e porque todos são “donos” serão todos eles que farão a gestão do empreendimento. Desse modo é possível encontrar empreendimentos solidários com a natureza jurídica de simples associações formais e informais ou grupos de produção e clubes de trocas, até grandes cooperativas centrais compostas por cooperativas e associações menores. É possível encontrar ainda, empreendimentos solidários que realizam atividades de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito como as cooperativas de crédito e os fundos rotativos e ainda comercialização e consumo solidário, cooperativa de catadores, comunidades que usam moeda social em seus clubes de troca e ainda empresas falidas e recuperadas.Existem empreendimentos solidários produtivos nas mais diversas áreas econômicas como associações ou cooperativas agropecuárias, agroindustriais, industriais, de transporte, de artesanato, de reciclagem de resíduos sólidos e até mesmo ecovilas. CT: No sistema capitalista, que é o caso do Brasil, quais principais desafios para aplicação da E.S? MR: Inicialmente, é preciso considerar que uma economia solidária precisa de consumidores solidários. Uma nova economia precisa de novos consumidores. Ideias novas ou práticas novas precisam de formação e informação. Com isto quero dizer que um dos desafios é a implementação de um amplo processo de educação e informação e, neste particular, entrevistas como esta são importantíssimas. Outro desafio é a ressignificação

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do mundo do trabalho que historicamente esteve vinculado a uma economia capitalista altamente competitiva e excludente, evidenciando, inclusive, que economia solidária não se trata apenas de geração de trabalho e renda, nem mesmo é uma proposta para os excluídos do mundo do trabalho, mas para todos sem distinção alguma. Vale destacar, contudo, que de forma dicotômica, dados evidenciam que o principal motivo para a criação de empreendimentos solidários ainda é a busca de alternativas para fazer frente ao desemprego. No que se refere aos empreendimentos solidários propriamente ditos os desafios são de outra ordem e são basicamente três, segundo o Mapeamento Nacional de Economia Solidária: dificuldade de comercialização, dificuldade de acesso ao crédito e falta de assistência ou apoio técnico. Neste contexto o grande desafio é a comercialização. Algo em torno de 70% dos empreendimentos solidários informam que este é o seu maior problema. Mas eu quero chamar a atenção para outro desafio que não aprece no mapeamento nacional, mas que emerge de forma muito significativa no Mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários feito no Rio de Janeiro e que a nossa experiência corrobora, que é a fragilidade em relação ao gerenciamento econômico dos empreendimentos. Para que se faça uma ideia, cerca de 30% dos empreendimentos solidários existentes hoje realizaram, no ano de 2013, estudo de viabilidade econômica, estudo de mercado ou mesmo realizaram seu plano de negócio. Fica claro assim que há inúmeros desafios colocados à frente da economia solidária, mas em momento algum estes desafios imobilizaram ou imobilizam aqueles que nela acreditam. CT: Qual o papel das instituições e centros de pesquisas na formação de uma E.S no país? MR: Para melhor tratarmos do papel das instituições e centros de pesquisa precisamos, inicialmente, falar de tecnologia social e sua importância. Há um relativo consenso em torno de um conceito de tecnologia social que afirma ser ela um conjunto de atividades relacionadas a estudos, planejamento, ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento de produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, que representem soluções para o desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população. Partindo deste conceito, percebemos claramente que tais tecnologias são de suma importância, pois podem vitalizar, dinamizar, preencher lacunas, trazer respostas aos muitos desafios colocados para a

economia solidária. Desse modo, fica igualmente claro a importância das instituições de ensino (universidades) e centros de pesquisas como produtores dessa nova matriz tecnológica. Eu diria mesmo que desempenham um papel vital ao desenvolverem ações nas várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, tais como capacitação, assessoria, incubação, pesquisa acompanhamento, fomento a crédito, assistência técnica e organizativa. Um exemplo do que estou falando é a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Rede de ITCPs), criada em 1998 por seis incubadoras (UFRJ, UFC, USP, UFPR, UNEB, UFRPE) e que hoje conta com 41 incubadoras com o objetivo de apoiar a formação e consolidação de empreendimentos solidários e ainda prestar assessoria e formação aos empreendimentos e grupos já existentes. Nada menos que cerca de 200 docentes e pesquisadores e 750 estudantes estão vinculados às incubadoras, desenvolvendo tecnologia social e fazendo a diferença que permite aos empreendimentos solidários permanecerem vivos. Vale ressaltar que a Coordenação Regional Norte, da Rede de ITCPs, está representada pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). CT: A quem deseja implantar economia solidária na sua comunidade ou região quais são pontos a considerar e estudar antes da implantação? MR: Dificilmente alguém abraça uma ideia sem um mínimo de informação ou esclarecimento. Aderir a uma nova economia prescinde de conhecimento. Economia solidária é uma nova forma de fazer economia e por isso mesmo é um fenômeno social novo, com características particulares, inerentes ao contexto histórico em que nasceu. Como é muito jovem é ainda pouco conhecida e sua lógica é diametralmente oposta à lógica do capitalismo que todo mundo conhece, então antes de implantar economia solidária numa comunidade ou região é preciso estratégias focadas na informação e na formação em economia solidária. É preciso alargar horizontes, formar mentalidade solidária e construir uma cultura de cooperação e autonomia. É fato, contudo, que tudo isto exige tempo, muito tempo, até porque o que se deseja com a economia e o desenvolvimento solidário é a melhoria da comunidade como um todo e não de alguns. Quanto aos empreendimentos solidários em si é preciso considerar que todo e qualquer empreendimento econômico, quer seja solidário ou não, exige

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planejamento. Não é possível imaginar que se possa chegar a um lugar seguro sem que se saiba de onde partir, por onde passar, com que meios contar, quais as possíveis opções e por fim, aonde chegar. A viabilidade econômica é uma das características essências de um negócio solidário. Desse modo, o plano de negócio, o estudo de viabilidade econômica, o estudo de mercado e até mesmo o estudo para a formação de preço são tão importantes para um empreendimento solidário, como para qualquer outro negócio numa economia capitalista. CT: Quais são os desafios para aplicação da E.S aqui na região amazônica? MR: A globalização e a consolidação de doutrinas neoliberais trouxeram como consequência o desemprego, que por sua vez tornou-se um grande problema da atualidade. O que se pode verificar foi uma significativa massa de desempregados, bem como a deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores pela perda de conquistas sociais históricas. Esta consequência, o desemprego, foi sentida e percebida sem maiores dificuldades na chamada Zona Franca de Manaus e seus reflexos puderam ser vistos e sentidos na produção e reprodução do espaço urbano fragmentado por bolsões de pobreza que foram se formando na periferia de Manaus (AM). Em que pese as políticas públicas compensatórias o que se tem é uma exclusão crescente de uma parcela cada vez maior da população, especialmente a urbana, e isto por si só é desafiador e traz contornos de complexidade à efetiva aplicação da economia solidária na região amazônica. Outro aspecto são as distâncias continentais característica da região amazônica. Tudo e todos estão gigantescamente distantes e por vezes num quase completo isolamento. Neste contexto, é desafiador pensar em formar uma cultura baseada no consumo ético e na mudança de paradigmas, fundada no novo e destinada a promover pessoas e coletividades sociais. Mas vale ressaltar que importantes experiências solidárias no Amazonas tiveram início nas décadas de 1950/60 com iniciativas cooperativadas, mas somente nos anos 1980/90 é que surgiram as cooperativas de crédito e de trabalho. Com isto, quero dizer que, se de um lado há desafios a serem superados, por outro há uma disposição e abertura para o novo, para soluções solidárias e autogestionárias.

MR: São vários os exemplos de empreendimentos solidários bem sucedidos. Podemos citar alguns como a Cooperativa Artemãos criada por mulheres do bairro de Águas Claras em Salvador (BA), que produzem bonecas e vários produtos de tecido e a Associação Ciranda Cirandinha, na Paraíba, que existe desde 1972, produzindo artesanato e com loja no Mercado Municipal de João Pessoa. Um exemplo importantíssimo é o Banco Palmas, situado na periferia de Fortaleza (CE), tem como missão implantar programas e projetos de trabalho e geração de renda, utilizando sistemas econômicos solidários, na perspectiva de superação da pobreza urbana. Este Banco é um caso exemplar por oferecer crédito tanto para o consumo como para a produção, por meio de uma moeda social e desta forma gerar renda localmente e assim mudar para melhor a realidade das pessoas que moram ali. Inúmeros empreendimentos solidários surgiram a partir do apoio do Banco Palmas.

Outro exemplo é a Rede Justa Trama, criada em 2005 e formalizada em 2008. Ela é uma cooperativa central, composta por sete cooperativas ou associação singulares e reúne cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras, de empreendimentos autogeridos situados em Rondônia onde a Cooperativa Açaí produz botões e acessórios, no Ceará onde o algodão nas cores cru, mesclado e marrom são cultivados e no Mato Grosso do Sul onde o algodão nas cores verde e rubi são plantados, todos de maneira ecologicamente correta, em Minas Gerais onde os fios e os tecidos são produzidos, em Santa Catarina e Rio grande do Sul onde as tecelãs e costureiras das cooperativas Fio Forte, Inovarte e UNIVENS produzem as roupas para serem vendidas em lojas situadas principalmente nos aeroportos brasileiros. Como exemplo CT: Quais exemplos bem sucedidos que de empresas recuperadas, temos o caso a sra. pode citar no Brasil? da recuperação da Usina Catende, em 34


Pernambuco, por seus trabalhadores e trabalhadoras, considerado por muitos, como a maior experiência brasileira em economia solidária. CT: Ainda há preconceito em relação ao que se produz na economia solidária? Como romper ou amenizar essa barreira? MR: Por um lado o que se percebe é que há hoje um nível de exigência muito grande quanto à qualidade de produtos ou serviços e dessa forma não é qualquer coisa que serve para o consumidor. Busca-se qualidade, além de um bom preço, acesso a crédito, diversidade e criatividade, independentemente de ser um produto ou serviço originário de uma relação capitalista ou solidária e os empreendedores solidários não estão alheios a esta realidade.

de comercialização, razão pelas quais inúmeros empreendimentos solidários têm vida curta. O processo de reversão deste quadro é longo e difícil exigindo tempo e esforço, além de ações voltadas a atender tanto às demandas dos empreendimentos solidários, quanto de formação do novo consumidor comprometido com a solidariedade, com a sustentabilidade e com o respeito ao outro

Por outro lado é sabido que os empreendimentos solidários recebem apoio, porém de forma pulverizada, não representando políticas ou programas específicos para a economia solidária e o que se tem é a reduzida oferta de acesso a apoio, assessoria e capacitação. Quando se analisa os dados referentes às necessidades apontadas pelos empreendimentos solidários, disponíveis por meio de mapeamentos, percebe-se que não há, nem mesmo citação de designer, criação de linhas e produtos para atender demandas do consumidor. Ora, desse modo, é claro que os seus produtos e serviços terão enorme dificuldade em ocupar lugar nas prateleiras de supermercados, ou vitrine de lojas em shopping, por exemplo, ficando, na maioria das vezes adstrita a espaços solidários 35


Física, ciência, a busca

Luiz renato de frança Diretor do INPA

As fases da evolução, tendo o cosmos e o ser humano como referência, perpassam em sequência pela física, química, biologia e cognição e, embora não tenhamos ainda ciência plena, outras fases certamente virão. Em sua bela obra O Universo Numa Casca de Noz, o grande físico teórico Stephen William Hawking, numa alusão “Shakespeareana” da peça Hamlet, menciona que, “Poderia viver encerrado numa casca de noz e julgar-me o rei do espaço infinito”, ou “Embora nós, seres humanos, sejamos muito limitados fisicamente, nossas mentes estão livres para explorar todo o universo, e irmos intrepidamente até onde mesmo a jornada nas estrelas teme avançar – se os sonhos atormentados permitirem”. Aos quinze anos de idade e num momento de reflexão escrevi que “A vida é a eterna busca do equilíbrio”. Posteriormente, quando estava cursando pós-graduação, acrescentei que “Nessa busca percebemos que sempre podemos ser melhores do que nós mesmos”. Talvez esta grande busca tenha mesmo iniciado cerca de 15 bilhões de anos atrás com o Big Bang e, como somos parte da mesma energia, desde o Big Bang até o momento atual, e pelo mundo e tempo afora,w tudo seja mais do mesmo, e sempre será. Assim, provavelmente, não é por acaso que um dos luminares da ciência moderna, Carl Edward Sagan, que foi um dos primeiros cientistas a estudar o efeito estufa em escala planetária, tenha definido o termo cosmos como sendo “Tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será”. Ainda, certamente toda a energia do cosmos, incluindo-se aquela dos seres vivos e pensantes, deve estar homeostática e filogeneticamente conectada, como sugere a física quântica e o nosso livre pensar. Pois, a energia nunca é criada nem destruída e sim, poeticamente, “vagueia por aí” em diferentes roupagens e quânticas embalagens. Ademais, a partir do senso lógico e de muita imaginação do grande filósofo Anaxágoras (500 a 428 a.c.), considerado o precursor do desenvolvimento da teoria atômica, talvez possa ser intuído que no processo evolutivo a consciência seja o universo em nossa mente. Da mesma fascinante

escola filosófica e “atomicista”, Demócrito e Leucipo consideravam de forma instigante que, a existência de nosso mundo (cosmos) e da humanidade não é especial e sim inexorável. E como tudo está interconectado, o que acontece em algum lugar afeta o que acontece em toda parte. Ideia essa aventada no entrelaçamento quântico, que incrivelmente oferece uma maneira de transmitir informação mais rápido do que a velocidade da luz, a qual é até o presente momento nosso ponto máximo de referência quanto a rapidez. Continuando neste diapasão, o belíssimo, complexo e infindável cosmos é bem retratado na agradável obra de Marcelo Gleiser Criação Imperfeita, na qual o autor menciona que, “A beleza está na assimetria e se não fosse por ela não existiríamos, pois haveria somente radiação no universo”. Esta assimetria talvez possa ser vislumbrada como a diversidade tão bem representada pela região Amazônica, que tem o imprint” do universo (nossa galáxia), o DNA de nosso planeta, o fenótipo do Brasil e características epigenéticas próprias que simbolicamente se apresentam como diferentes cores, texturas, aromas e sabores, que se encontram presentes nos mais variados e exuberantes ecossistemas de nossa Casa Mater, a Terra. No entanto, apesar de toda a sua exuberância e imensidão em áreas inundadas e alagáveis a Amazônia tem sede. Sede de desenvolvimento, que necessita da criação de uma matriz (momentum) adequada à sua realidade, pois a saga pelo desenvolvimento (movimento) é na realidade uma batalha natural contra a inércia e/ou atraso. Num paralelo, ao formular a lei da gravidade, Newton demonstrou que todo o universo é governado pelas mesmas leis, as quais podem ser modeladas, obviamente se tivermos a intuição, o conhecimento e as ações adequadas para tal, sem egos ou vaidades desnecessárias. Com esse nobre espírito o recém-criado Programa ProAmazônia, idealizado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) na pessoa de seu ilustre Comandante, o General Guilherme Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, veio para desenvolver esta nova matriz adequada e

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poesia e da verdade necessária a tão negligenciada região Amazônica. O INPA tem o privilégio de ser um importante parceiro desta grandiosa iniciativa. Os processos químicos são a essência da vida. A título de exercício e reflexão, gostaria de citar a publicação recente de Nick Lane - A questão vital: energia, evolução e as origens da vida complexa (2015) - na qual o autor especula de maneira muito interessante o que teria tornado possível o grande florescer da biodiversidade. Nesta instigante obra, a partir de ideias evolucionistas, Nick Lane considera que a origem da vida teria ocorrido num acaso fortuito há bilhões de anos, quando um microrganismo passou a viver dentro de outro. Esse evento não foi uma divisão da árvore evolucionária, mas uma fusão com consequências profundas. O novo inquilino (mitocôndria) forneceu energia para o hospedeiro, pagando aluguel químico em troca de habitação segura. Com a renda extra, a célula hospedeira pôde se dar ao luxo de fazer investimentos em comodidades biológicas mais complexas. A união prosperou, replicou e evoluiu. Em função da mitocôndria, células complexas têm quase 200 mil vezes mais energia por gene, abrindo espaço para genomas maiores e evolução irrestrita. Portanto, na minha opinião, está aí representado o resultado de um grande desafio e de empreendedorismo bem sucedido. Citando o médico, psicanalista e tricampeão mundial de futebol, Eduardo Gonçalves “Tostão”, de certa forma os grandes desafios estão em evitar o provincianismo, a visão estreita e viciada, a falta de conhecimento e de reconhecimento do que existe de melhor pelo mundo e, tentar enxergar o que não é espelho. Ademais, no que concordo plenamente, os empreendimentos bem sucedidos são a vitória da poesia e da prosa, da forma e do conteúdo, da invenção e da razão. Tudo tem a sua lógica, porém as lógicas são muitas. Mas as ideias grandiosas não surgem do nada. E, não arriscar, é arriscar tudo (Al Gore). Nosso planeta, aí se incluindo obviamente a região Amazônica, é uma entidade muito dinâmica e,

como tal, por ações naturais e/ou antropogênicas, encontra-se em constante modificação. De acordo com dados recentes, pela primeira vez na história humana a concentração do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera passou a marca das 400 ppm (partes por milhão). A última vez que tanto gás-estufa estava presente na atmosfera foi há muitos milhões de anos, quando o Ártico não era coberto de gelo, o Saara era coberto por savana e o nível do mar era até 40 metros mais elevado do que hoje. Neste cenário, os corais sofreram um processo grande de extinção, enquanto as florestas cresceram perto do Ártico, onde hoje existe tundra. De acordo com Bob Ward, diretor do Instituto Grantham de Pesquisa de Mudança Climática, da Escola de Economia de Londres, “É como fazer 50 anos: é um alerta para tudo o que está acontecendo na sua frente o tempo todo. Estamos criando um clima pré-histórico em que sociedades humanas enfrentarão riscos enormes e potencialmente catastróficos”. Sem adentrar aqui nos efeitos nefastos das poluições e da ganância humana, temos que integrar expertises científicas vigentes comprometidas com o melhor para a raça humana e tentar compreender o que irá ocorrer e desenvolver modelos adequados à mitigação ou mesmo prevenção do que há por vir. Pois, a exuberante diversidade amazônica como um todo corre grande risco. Localmente e em grande escala, o INPA já desenvolve grandes projetos neste sentido. Mas, certamente, esforços maiores e em escala global serão necessários e há que se integrar os olhares de dentro para fora com aqueles que perscrutam e descortinam de fora para dentro, propiciando, através de ações mais ousadas, atrair entusiasmados pesquisadores nacionais e internacionais que queiram contribuir de forma ímpar com o desenvolvimento da região amazônica. Isto permitirá que o Brasil siga adiante e desempenhe o real papel de liderança e de referência que se espera de um País de intrínseca grandeza natural como o nosso. No entanto, desnecessário seria dizer que o homem e a natureza deverão ser o foco principal das ações e dos benefícios dos desenvolvimentos científico-tecnológicos gerados.

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Numa outra vertente, talvez mais psicanalítica e humanística, tanto na vida quanto na natureza o acaso também desempenha importante papel e, embora exista uma lógica maior, existem muitas maneiras de ser e poucas maneiras ainda para se definir os fenômenos e as complexidades que permeiam a alma humana e o cosmos. Neste contexto, não se deve perder a capacidade de se observar e de se perceber as subjetividades e o que não está claro ou patente. Pois, muito do que existe se passa nas entrelinhas não sendo, portanto, fácil de se mensurar e de se perscrutar os encantos e a complexidade da natureza. Neste sentido, o conhecimento de forma abrangente amplia a nossa capacidade de perceber, refletir e de se propor soluções. Principalmente pelo fato de que, neste contínuo, desde o grande início ou despertar dos mundos, tudo é mais do mesmo e a percepção do olhar é que faz a diferença. E, este contínuo integrador de identidades foi bem expressado pela grande poetisa brasileira Cora Coralina ao mencionar “Venho do século passado e trago comigo todas as idades”. Ainda neste amplo contexto, o médico e psicanalista Eduardo Gonçalves “Tostão” escreveu recentemente que “Freud, antes de criar a psicanálise, foi biólogo, médico, neurologista. Após longa carreira, disse que os grandes poetas e escritores já tinham imaginado muitas das coisas que ele aprendera e descobrira, e que ele só aprofundou e organizou cientificamente os conhecimentos”. Portanto, uma de nossas nobres missões como pesquisadores e gestores é a de ampliarmos cada vez mais a nossa percepção e conhecimentos e, humildemente, vislumbrarmos o que é melhor para a Amazônia, o Brasil e o nosso

frágil e ainda resiliente planeta Terra. Não devemos, no entanto, perder o foco no desenvolvimento e nas ações que preservam a dignidade humana. Pois, se é possível ousar e sonhar, o futuro é agora, e o melhor está sempre por vir. E, tanto na vida quanto na ciência, procuramos a verdade (conhecimento). No entanto, não existe uma verdade única e universal e sim verdades. E quando encontramos uma verdade isto nos dá a possibilidade de procurarmos outras verdades, sucessiva e indefinidamente. Pois, a verdade é incognoscível (o que não se pode conhecer). Ademais, de acordo com o escritor e jornalista Millôr Fernandes, existem muitas meias verdades e “O perigo de uma meia verdade é que se diga exatamente a metade que é mentira”. Por fim, em sua imensidão, o Brasil e particularmente a Amazônia são ainda muito carentes. Portanto, em grande parte, neste importante momento da evolução humana a nossa busca pela verdade e pelo conhecimento é, na realidade, a busca pela liberdade de pensamento, justiça, honra, dignidade e amor próprio e, por consequência, de desenvolvimento pleno. A natureza que aí está levou milhões e milhões de anos para se adaptar às condições nas quais ela se encontra e viceja, pronta para que a decifremos e usufruamos do aprendizado por ela árdua e sabiamente conquistado. Assim, em nossos sonhos migratórios e peremptórios, talvez estejamos procurando muito longe o que provavelmente esteja tão perto e ao “nosso alcance”, se os sonhos atormentados permitirem.

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Anselmo D’Affonseca


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Por Fernanda Farias

Amazônia tem maior torre de pesquisa do mundo

A maior torre de monitoramento climático do mundo fica no meio da floresta amazônica e trará benefícios para todo o planeta, por meio de pesquisas que ajudarão a compreender os efeitos das mudanças climáticas na região amazônica e ainda a influência da Amazônia para o mundo

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Maior que a torre Eiffel em Paris, a torre ATTO (Amazon Tall Tower Observatory), com 325 metros, servirá para que os pesquisadores compreendam ainda mais sobre a interação entre o clima e a floresta. O projeto também será responsável pelo monitoramento dos efeitos das mudanças climáticas globais na floresta amazônica. Conhecido também como observatório de Torre Alta da Amazônia, o projeto ATTO está localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no município de São Sebastião do Uatumã (150 quilômetros de Manaus), Amazonas. A ATTO é uma parceria entre Brasil e Alemanha, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e os Institutos Max Planck de Química e Biogeoquímica.

Expectativas O coordenador pela parte brasileira, o pesquisador do Inpa Antonio Manzi, conta que a ideia inicial de construir a torre veio do Instituto Max Planck da Alemanha, que já construiu uma torre de monitoramento na Sibéria, com 300 metros. Mas segundo ele, o Brasil propôs ampliação das áreas de pesquisas de ponta, como na área de química da atmosfera (para medir trocas gasosas, arressóis e reações químicas), na área de física de nuvens (formação de chuvas), e na área 42


de processos de transporte de energia e matéria (entre a floresta e a atmosfera). “Outra linha de pesquisa que conseguimos inserir, com a utilização da torre ATTO, foi a de observação direta da dinâmica dos ecossistemas de floresta de terra firme. Também pretendemos, em longo prazo, medir os efeitos das mudanças climáticas globais na região amazônica, por meio das medições das interações entre a atmosfera e a biosfera. Com isso, a torre se tornará referência mundial em pesquisas sobre florestas tropicais úmidas”, comentou.

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Ainda

de

acordo

com

o

coordenador, quatro torres de 80 metros cada uma, ao redor da torre ATTO, serão construídas com o intuito de auxiliar a medição dos dados da torre principal. “Estamos contando que a torre funcione sem parar durante uns 20, 30 anos, 24h por dia”, informou Manzi.

O investimento da cooperação científica entre Brasil e Alemanha foi de R$ 26 milhões, rateados em 50% para cada governo, para a construção da Torre ATTO, que faz parte do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) do Inpa. Do lado brasileiro, o projeto está sendo financiado pelo Ministério Federal da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)

e

pelo

Governo

do

Amazonas, e do lado alemão, pelo Ministério Federal de Educação e Pesquisa (BMBF). Cerca de vinte

instituições

brasileiras

e

instituições de outros países estão envolvidas no projeto.

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45


Inauguração da Torre No dia 22 de agosto aconteceu a cerimônia de inauguração do projeto ATTO, na reserva do Uatumã, onde esteve presente o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Aldo Rebelo, várias autoridades das instituições parceiras, e a mídia nacional e internacional.

foto:

Fernanda Farias

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O b j e t i v o s da torre de monitoramento climรกtico

47


- Medir a emissão e a absorção de gases do efeito estufa na floresta. 48


- Compreender melhor a influência da região amazônica para clima global 49


- Estudar partículas em suspensão que promovem a formação de nuvens, os aerossóis. 50


- Investigar o transporte de massas de ar por quil么metros. 51


foto:

Fernanda Farias

Sustentabilidade, turismo e qualidade de vida num só lugar O Flutuante Amigo do Boto-vermelho servirá como uma base para pesquisas dos botos aliando turismo e educação ambiental. A plataforma ainda reabilita crianças com necessidades especiais e promove a conservação da espécie. Por Caroline Rocha

Ameaçados de extinção, os botos vermelhos (Inia geoffrensis) ganharam um lugar especial na Amazônia. Localizada a mais de 80 quilômetros de Manaus, no município de Iranduba, a plataforma “Flutuante Amigo do Boto-vermelho” aproxima o homem da natureza, unindo sustentabilidade, lazer e qualidade

de

vida

para

turistas e para as crianças com deficiências físicas e mentais. A educação ambiental e a valorização dessas espécies também são um dos objetivos do projeto.

O local vai servir de base para pesquisas e conservação dos botos vermelhos. O projeto, Ecoturismo Amigo do Botoos vermelho da Amazônia, também 52


leva capacitação no ramo de Ecoturismo Amigo do Botovermelho da Amazônia, também leva capacitação no ramo de turismo, promovendo a melhora do serviço na região e também a educação ambiental para as 15 famílias de São Thomé. Mais de 100 pessoas da comunidade serão beneficiadas. A plataforma também oferece atividades específicas para ajudar na reabilitação de crianças com necessidades especiais. No amazonas já existem outros quatro flutuantes que realizam atividades de interação com botos amazônicos, mas nenhum possui regulamentação de horários ou informações sobre a espécie. Um diferencial do flutuante (uma espécie de casa sobre as água) será a implementação de horários de funcionamento e informações contidas em banners e folders sobre a conservação da espécie. O flutuante é uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e a Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa).

Para o diretor executivo da Ampa, Jone Silva, o flutuante irá despertar interesse nos turistas e chamar atenção para a conservação e valorização dos botos, por meio de placas didáticas e informações bilíngues (português e inglês) que explicam mais sobre o animal, hábitat e ameaças. “O turista não vai apenas interagir com os botos, ele também passará a ter mais conhecimento sobre a espécie”, afirmou Silva, ao revelar que novos cursos são preparados para a comunidade. Construído com madeira de manejo florestal, retiradas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) da região do baixo Rio Negro, o flutuante possui um sistema de tratamento de efluentes, que purifica os resíduos gerados no banheiro para depois despejar no rio com aspectos semelhantes às águas do rio. O empreendimento é uma realização da Ampa, com apoio do Inpa e financiamento da Oi Futuro.

De acordo com a pesquisadora do Inpa, Vera Silva, a ideia da plataforma é regulamentar os horários de visitação nos flutuantes e estabelecer normas de interação com os botos que resultem em baixo impacto ambiental para a espécie. “Queremos mostrar que é possível fazer um turismo bem estruturado e organizado, onde os visitantes tenham consciência da importância deles para o meio ambiente”, explicou a pesquisadora. 53

Alerta Vermelho Dócil e curioso, o boto vermelho (Inia geoffrensis) é um mamífero aquático e símbolo da Amazônia. Nas últimas duas décadas a espécie tem sido ameaçada de extinção, pois sua carne é utilizada como isca para a pesca do peixe piracatinga (Calophysus macropterus), popularmente conhecido como “douradinha”. Atualmente o número de botos mortos por ano varia entre 2.500 a 4.000 na Amazônia.


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Boo é a Trichechus inunguis mais antiga do Parque Aquático Robin C. West, dentro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Você já viu um Trichechus inunguis? Talvez você conheça pelo nome popular de peixe-boi e Boo. A entrevistada desta edição é uma fêmea de peixe-boi da Amazônia, espécie exclusiva dos rios Amazônicos. Boo ainda era filhote quanto sua mãe foi morta. Antes de ser resgatada e levada ao Inpa/MCTI ela estava sendo criada como animal de estimação pelo filho de um pescador, no interior do Amazonas, na década de 70. Nessa época a biologia desse mamífero aquático ainda era pouco conhecida e a chegada de Boo ajudou os pesquisadores a entender melhor sua espécie. Para que você conheça e aprenda mais sobre esse animal magnífico, confira nossa reportagem. Você pode contar para as crianças que ainda não conhecem um peixe-boi quais as características gerais da sua espécie? Claro! Eu, um peixe-boi da Amazônia, sou um mamífero que vive na água. Nós podemos pesar mais de 400 quilos e medir até 3 metros. Nosso couro, muito espesso, é cinza escuro e temos uma mancha branca ou rosada na barriga. Estudos estimam que nossa expectativa de vida possa chegar aos 40 anos, em cativeiro. Na natureza esse número pode variar devido à ameaça humana, alimentação escassa ou doenças. Vivendo aqui no Inpa/MCTI eu consegui chegar aos 41 anos de idade.

O que você faz o dia inteiro?

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Aqui no parque aquático, onde moro, eu e meus amigos somos cuidados com muito carinho pela Associação Amigos do Peixe-boi da Amazônia (AMPA) e pelo laboratório dos Mamíferos Aquáticos (LMA/Inpa). Nossa água é trocada duas vezes por semana e passamos por exames a cada três meses para verificar nossa saúde. Os filhotes, por sua vez, possuem uma rotina mais agitada que a nossa. Todos os dias a água de seus tanques é trocada. Como estão em fase de crescimento, são amamentados até seis vezes por dia! Semanalmente passam pela biometria para acompanhar seu desenvolvimento.


Como é a sua casa no Inpa? rop E .etnapucoerp é ossI ?soãfrÓ Moro num grande ?ecetntanque oca osazul si eucom q

ratagser ed sioped ecetnoca euq O Como é a sua alimentação? ?siamina sesse Alguma comida preferida?

outros da minha espécie. Aqui somos ,sodaçac otium e sodaçiboc somoS muito bem tratados. Veterinários, serodaçac sO .odibiorp odnes omsem pesquisadores e cuidadores nos rarutpac arap siaicepse seder mairc alimentam, limpam a água e confereuq uo sadivárg saemêF .siob-sexiep em a nossa saúde periodicamente, rop sadasiv oãs zul à rad ed marabaca além de conversarem muito com a a moc otnuj euq ,arudrog siam meret gente. É assim que sabemos das oãçazilaicremoc ed sneti oãs enrac novidades, quando tem um novato sadacéd satium áH .sovitarcul siam chegando, por exemplo. .odnecetnoca mev açnatam asse somartne ,0002 ed ona on ,euq otnaT A convivência aqui é bastante me algis( NCUI ad ahlemrev atsil arap pacífica. Apesar de sermos grandes, arap lanoicanretnI oãinU ad sêlgni somos animais dóceis. É óbvio que há ossI .)azerutaN ad oãçavresnoC um cuidado parental no qual a mãe me ,sievárenluv somatse euq acfiingis protege a cria e a defende, mas no eicépse amu somoS .ogirep omertxe geral é bem raro apresentarmos um tatibah ues met euq uo adaçac otium comportamento agressivo. A .recerapased edop odíurtsed Você tem amigos .airéfora s é oãdo çauInpa? tis são a raOlha, tnem ua54 sono metotal. ssátAlguns net es moram E eS ?aqui siobhá -setanto xieptempo ed oãque çalupassaram pop da?sidade etohpara lfi siavoltar m meàsnatureza. secsan Outros mais jovens estão se prepaassonrando aivadopara T !aieadsoltura. i amitó Conosco amu É há 11 arroco osfilhotes, si euq etvários imrep são oãnórfãos aigoloiresgatados b olcic osdos son srios iopamazônicos. ,zedipar atnaPara t moque c eles ós saem ê f s A . o g n o l é o v i t u d o r p e sobrevivam sem o cuidadorde suas sies soa lamães, uxes eo daLaboratório dirutam a mde egMamíferos nita arud oãAquáticos çatseg adaaqui C .eddo adiInpa ed sdesenvolve ona .êbeb mu uma sanepalimentação a moc orietnespecial i ona munutricionaessE lmente .sorar oãsemelhante s soemêg ed saC materno, aosoleite sona sno iodentanto rop ocsoeles noctambém acfi etohcomem lfi -atnemamverduras a res e ode dutvez redem nerquando. pa arap somet ós ,odut odnatnuJ .od uo sêrt adac a raircorp ed seõçidnoc .sona ortauq asse erbos ogla ratlasser oveD odnerroco mev euq asogirep oãçautis amu odnauq :ainôzamA ad soir son euq levávorp meb é ,adaçac é aemêf -erbos A .ale a otnuj etohlfi mu ajah ad sodadiuc so mes eled aicnêviv oãn airoiam a – atrecni é eãm oãs ,etros oãd odnauQ .eugesnoc amu mêt e opmet a sodatagser .reviverbos ed ecnahc

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Órfãos? Órfãos? Isso preocupante. é preocupante. EEpor Órfãos? IssoééIsso preocupante. porE por que queacontece? isso acontece? queisso isso acontece?

OOque Oacontece que acontece depois depois de de resgatar que acontece depois deresgatar resgatar esses animais? animais? essesesses animais?

Somos Somos cobiçados cobiçados eemuito e muito caçados, caçados, Somos cobiçados muito caçados, mesmo mesmo sendo proibido. proibido. Os Os caçadores mesmo sendosendo proibido. Oscaçadores caçadores criam criam redes especiais para para capturar criamredes redesespeciais especiais paracapturar capturar peixes-bois. peixes-bois. Fêmeas Fêmeas grávidas grávidas ou ou que peixes-bois. Fêmeas grávidas ouque que acabaram acabaram de ààluz dar à luz visadas são visadas por acabaram dedar darde luzsão são visadas por por terem mais mais gordura, que quecom junto teremterem maisgordura, gordura, quejunto junto comaacom a carne carne sãode itens de comercialização carnesão sãoitens itens decomercialização comercialização mais mais lucrativos. Há Há muitas décadas décadas maislucrativos. lucrativos. Hámuitas muitas décadas essa essa matança vem vem acontecendo. essamatança matança vemacontecendo. acontecendo. Tanto Tanto que, ano no de ano 2000, deentramos 2000, entramos Tantoque, que,no no ano de 2000, entramos para para vermelha lista vermelha da da(sigla IUCN (sigla paralista lista vermelha daIUCN IUCN (siglaem em em inglês da da União Internacional Internacional para inglêsinglês daUnião União Internacional para para Conservação Conservação da da Natureza). Isso Conservação daNatureza). Natureza). Isso Isso significa significa que que estamos vulneráveis, vulneráveis, em significa queestamos estamos vulneráveis, em em extremo extremo perigo. perigo. Somos Somos uma uma espécie extremo perigo. Somos umaespécie espécie muito caçada caçada ou ou tem que seu tem habitat seu habitat muitomuito caçada ouque que tem seu habitat destruído destruído pode pode desaparecer. AA A destruído podedesaparecer. desaparecer. situação situação ééséria. é séria. situação séria.

OOfilhote O filhote recém-chegado recém-chegado éémantido é mantido filhote recém-chegado mantido em em quarentena para acompanhamo acompanhamemquarentena quarentena paraoopara acompanhamento ento veterinário. Depois Depois desse entoveterinário. veterinário. Depois dessedesse período, período, ele ele apassa a compartilhar um período, elepassa passa acompartilhar compartilhar um um tanque tanque com com outros filhotes. filhotes. OO O tanque comoutros outros filhotes. convívio convívio permite permite que que interajam eles interajam convívio permite queeles eles interajam e,e,aapartir e, a disso, partir disso, se acostumem àà à partir disso,se seacostumem acostumem mamadeira, mamadeira, pois comum é comum mamadeira, poiséépois comum observá-los observá-los imitando imitando uns uns outros. aos outros. observá-los imitando unsaos aos outros. Os Os 15de anos de existência da da AMPA Os15 15anos anos deexistência existência daAMPA AMPA somam somam mais mais 200 de filhotes 200 filhotes órfãos de somam maisde de 200 filhotes órfãosórfãos de de peixe-boi peixe-boi da da Amazônia resgatados resgatados ee e peixe-boi daAmazônia Amazônia resgatados trazidos trazidos ao ao Inpa/MCTI para para os trazidos aoInpa/MCTI Inpa/MCTI paraosos cuidados cuidados necessários. necessários. Podemos Podemos dizer cuidados necessários. Podemos dizer dizer que que a reabilitação aqui um égrande um grande queaareabilitação reabilitação aquiééaqui umgrande sucesso. sucesso. Para Parater você um ter exemplo, um exemplo, sucesso. Paravocê você ter um exemplo, recentemente recentemente um um desses filhotes, filhotes, jájá já recentemente umdesses desses filhotes, adulto, adulto, virou virou embaixador da adulto, virouembaixador embaixador da da Amazônia Amazônia no no Aquário de de Paulo. São Paulo. Amazônia noAquário Aquário deSão São Paulo. Outros Outros quatro quatro foram transferidos transferidos Outros quatro foramforam transferidos para para semi-cativeiro, um semi-cativeiro, em em Manacaparaum um semi-cativeiro, emManacaManacapuru puru (AM), aguardando aareintroa reintropuru(AM), (AM),aguardando aguardando reintrodução àànatureza, à natureza, por pordo meio duçãodução natureza, pormeio meio do do Programa Programa de de Soltura de de Peixes-bois Programa deSoltura Soltura dePeixes-bois Peixes-bois da da Amazônia, patrocinado patrocinado pela daAmazônia, Amazônia, patrocinado pela pela Petrobras. Petrobras. Petrobras.

EEse E se tentássemos aumentar aumentar aa a setentássemos tentássemos aumentar população população de de peixes-bois? Se população depeixes-bois? peixes-bois? Se Se nascessem nascessem mais mais filhotes? nascessem maisfilhotes? filhotes? ÉÉuma uma ideia! ótima ideia! Todavia nossa umaÉótima ótima ideia!Todavia Todavia nossanossa biologia biologia não não permite que que ocorra isso ocorra biologia nãopermite permite queisso isso ocorra com comrapidez, tanta rapidez, pois pois ciclo nosso comtanta tanta rapidez, poisnosso nosso ciclo ciclo reprodutivo reprodutivo éélongo. é longo. As As fêmeas sósó só reprodutivo longo. Asfêmeas fêmeas atingem atingem aamaturidade a maturidade sexual aos aos seis atingem maturidade sexualsexual aosseis seis anos anos de idade. Cada Cada gestação dura anosde deidade. idade. Cadagestação gestação dura dura um um inteiro ano inteiro com com apenas um um bebê. umano ano inteiro comapenas apenas umbebê. bebê. Casos Casos de gêmeos são sãoEsse raros. Casosde degêmeos gêmeos sãoraros. raros. Esse Esse filhote filhote fica fica conosco por por anos dois anos filhote ficaconosco conosco pordois dois anos para para aprender tudo e ser amamentaparaaprender aprender tudoetudo eser seramamentaamamentado. do. Juntando tudo, tudo, só temos do.Juntando Juntando tudo,só sótemos temos condições condições de de procriar aacada cada três ou condições deprocriar procriar cadaatrês trêsou ou quatro quatro anos. quatro anos.anos. Devo Devo ressaltar algo algo essa sobre Devoressaltar ressaltar algosobre sobre essa essa situação situação perigosa perigosa que queocorrendo vem ocorrendo situação perigosa quevem vem ocorrendo nos nos da rios Amazônia: da Amazônia: quando quando uma nosrios rios da Amazônia: quando uma uma fêmea éécaçada, é caçada, éébem bem provável que fêmeafêmea caçada, beméprovável provável que que haja haja filhote um filhote junto ela. A sobrehajaum um filhote juntoajunto aela. ela.AaAsobresobrevivência vivência dele dele osos sem cuidados os cuidados da vivência delesem sem cuidados da da mãe incerta é incerta ––aamaioria – a maioria não mãeéémãe incerta maioria não não consegue. consegue. Quando Quando dão dão são sorte, consegue. Quando dãosorte, sorte, são são resgatados resgatados aatempo a tempo eetêm euma têm uma resgatados tempo têmuma chance chance de de sobreviver. chance desobreviver. sobreviver.

Em Em opinião, sua opinião, como podemos podemos Emsua sua opinião, comocomo podemos contribuir contribuir para para fazer do mundo um contribuir parafazer fazerdo domundo mundo um um lugar mais mais seguro eesaudável e saudável para lugarlugar maisseguro seguro saudável parapara os os peixes-bois? ospeixes-bois? peixes-bois? AApresença A presença humana humana precisa precisa ser ser uma presença humana precisa seruma uma aliada eenão einimiga não inimiga da da existênnossa existênaliadaaliada nãoinimiga danossa nossa existência. cia. É necessário que que aprenda se aprenda aa a cia.ÉÉnecessário necessário quesese aprenda admirar admirar aanatureza a natureza em em esplendor seu esplendor admirar natureza emseu seu esplendor em em de vez destruí-la de destruí-la para para satisfazer emvez vez de destruí-la parasatisfazer satisfazer uma uma necessidade pessoal. pessoal. Isso Isso vale umanecessidade necessidade pessoal. Issovale vale para paraaatoda fauna a efauna eOflora. O mundo sósó só paratoda toda fauna eflora. flora. Omundo mundo pode pode ser completo sesesuas secriaturas suas criaturas podeser sercompleto completo suas criaturas viverem viverem em em harmonia, respeitando respeitando viverem emharmonia, harmonia, respeitando ao ao próximo, mesmo mesmo que que seja este um seja um aopróximo, próximo, mesmo queeste este seja um animal animal ou ou planta. animal ouplanta. planta. Rios Rios e florestas devem devem ser ser mantidos Rioseeflorestas florestas devem sermantidos mantidos livres livres de poluição. Seja Seja defensor um defensor livresde depoluição. poluição. Sejaum um defensor da da natureza! Encoraje Encoraje esse esse sentimendanatureza! natureza! Encoraje essesentimensentimentotoem tosua em família sua família eeentre eseus entre emsua família entre seus seus amigos! amigos! São pequenas as pequenas boas, boas, amigos! SãoasasSão pequenas boas,ações açõesações tomadas tomadas diariamente, diariamente, que que vão tomadas diariamente, quevão vão transformando transformando aanossa a realidade. nossa realidade. transformando nossa realidade. Deixe Deixe que próximas as próximas gerações gerações Deixeque queasas próximas gerações tenham tenham ooprivilégio o privilégio de de conhecer osos os tenham privilégio deconhecer conhecer animais animais ainda ainda eapenas não apenas por animais aindavivos vivosevivos enão nãoapenas por por fotos fotos em Se livros. Setestemunhar você testemunhar fotosem emlivros. livros. Sevocê você testemunhar maus maus caça caça apreensão ilegal, apreensão de maustratos, tratos,tratos, caçailegal, ilegal, apreensão de de animais animais silvestres, silvestres, denuncie! denuncie! animais silvestres, denuncie!

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PEIXEBOI FILHOTE AMAZÔNIA ABÓBORA INTEGRAÇÃO NATUREZA

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