Filosofias produção magra, seis sigma, sigma magra e a importância da manutenção industrial

Page 1

Artigo Técnico

C. Pereira Cabrita Professor Catedrático Departamento de Engenharia Electromecânica (UBI) Presidente do Conselho Científico e Tecnológico (Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã – Parkurbis) cabrita@ubi.pt Universidade da Beira Interior Departamento de Engenharia Electromecânica Edifício 1 das Engenharias 6201 – 001 Covilhã

Filosofias Produção Magra, Seis Sigma, Sigma Magra e a Importância da Manutenção Industrial RESUMO Apresentam-se, de uma forma sintética mas objectiva, as características fundamentais das filosofias de gestão “Produção Magra” e “Seis Sigma”, que têm vindo a ser adoptadas por um número cada vez mais alargado de empresas industriais e de serviços, com vista a optimizarem a eficiência global dos activos, conseguindo-se uma maior produtividade e competitividade, um incremento da qualidade, e uma redução significativa dos custos directos e indirectos, associados à Função Produção e à Função Manutenção. Relativamente ao “Seis Sigma”, descrevem-se igualmente os seus princípios matemáticos, que se prendem com a lei normal ou de Gauss de distribuição contínua de probabilidades. Por outro lado, uma vez que as actividades de manutenção são fundamentais para o bom desempenho daquelas filosofias, faz-se uma análise relativa às estruturas possíveis que a Função Manutenção deverá possuir, de modo a que se insira numa verdadeira estrutura de “Manutenção Magra”.

1. PRODUÇÃO MAGRA Esta filosofia, designada na literatura técnica de língua inglesa como Lean Production ou Lean Manufacturing , apresenta como objectivos fundamentais a eliminação de desperdícios, através de uma cultura de aperfeiçoamento constante e de melhoria contínua, com vista a atingirem-se as metas de “zero defeitos” nos produtos confeccionados e de “zero stocks” dos mesmos produtos, com a finalidade de só existirem actividades com valor acrescentado [1]. Entenda-se como desperdícios os equipamentos, materiais, componentes, espaços e tempo, em excesso relativamente às quantidades mínimas necessárias para gerar valor acrescentado. Por conseguinte, o grande objectivo consiste na eliminação das sete grandes perdas associadas aos processos produtivos, e que são as seguintes [1,2]: 1. produção em excesso, que é desnecessária quando ultrapassa o volume de encomendas a satisfazer, 2. tempos de espera, entre as várias células de produção, 3. transporte desnecessário de produtos fabricados e de matériasprimas e ferramentas, entre os vários locais de fabricação, 4. processamento defeituoso, que origina a fabricação de produtos com falhas, contribuindo para um reprocessamento e para a quebra de confiança dos clientes, 5. existência de stocks em excesso, no que respeita tanto aos produtos fabricados como aos materiais de manutenção, obrigando a perdas de tempo no armazenamento e no processamento administrativo e logístico, e à existência de armazéns sobredimensionados face às necessidades, 6. movimentações desnecessárias por parte dos recursos humanos, dentro da sua célula de trabalho, por exemplo para substituição de ferramentas, 7. fabricação de produtos sem qualidade, na maioria das situações

‘14 · MANUTENÇÃO

devida à fraca formação dos operadores dos equipamentos, e à ausência de especificações técnicas. Esta filosofia é derivada do Sistema de Produção Toyota ( TPS – Toyota Production System), e baseia-se nas seguintes metodologias [1]: - Kaizen (Melhoria Contínua). Note-se que este termo japonês significa kai (mudar) e zen (melhor), ou seja, mudar para melhor. Esta prática representa o grande suporte e visa o bem não só da empresa mas também dos seus recursos humanos, que se sentirão motivados, contribuindo assim para uma maior produtividade, na medida em que são incentivados a colaborarem directamente no processo produtivo. - Kanban (Cartão). Este vocábulo, de origem japonesa, é utilizado para descrever um sistema de sinalização muito simples, que autoriza a produção em cada célula de trabalho, a partir das operações a realizar a jusante, sendo assim o material “puxado” ( pull) ao longo da unidade fabril. Os cartões kanban permitem assim estabelecer um controlo directo entre células de fabrico, limitando o volume de produção em curso. Saliente-se que, nos sistemas tradicionais do tipo push (empurrar), os materiais utilizados na fabricação de produtos e bens são empurrados para as fases a jusante do processo produtivo, independentemente de ser o momento adequado ou de se dispor dos recursos humanos e materiais necessários para se efectuar o seu processamento subsequente, correndo-se um risco elevado de “entupimento” e de “anarquia” da cadeia de produção. Contrariamente, nos sistemas bastante mais racionais e eficientes do tipo pull (puxar), os materiais são puxados para as células de trabalho a jusante, apenas quando são necessários, ou seja, nos momentos mais apropriados. - Just in Time (em Tempo Real). Representa uma filosofia de gestão que procura continuamente eliminar qualquer tipo de desperdício. Todos os


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.