mundo académico
estudo de viabilidade de autoconsumo industrial com cogeração André Couto, FEUP e Capwatt
Resumo Neste artigo são apresentadas as principais ilações resultantes da dissertação de mestrado (MIEEC – FEUP) onde foi estudada e comparada a viabilidade de um sistema industrial com cogeração aquando do seu enquadramento numa situação de autoconsumo,
Cláudio Monteiro,
bem como numa “situação tradicional” onde a totalidade da produção elétrica era entregue à rede para posterior comercialização.
FEUP
A cogeração (CHP) apresenta-se como uma tecnologia de produção descentralizada que, aquando do devido aproveitamento da Energia Térmica (ET) e Elétrica (EE) capazes de serem produzidas permite colher proveitos que se concentram essencialmente ao nível económico, social e ambiental. Tendo em consideração a recente publicação do Decreto-Lei (DL) n.º 68-A/2015, que introduziu o conceito de autoconsumo com cogeração em solo nacional, o objetivo deste artigo consiste em explicitar adequadamente de que forma este novo paradigma se pode revelar interessante bem como quais são as principais discrepâncias face a uma “situação tradicional”. Para tal utilizar-se-á um indicador económico conhecido como custo nivelado de energia simples (sLCOE) que, em função do número de horas de funcionamento, permite conhecer qual o custo de produção real e que toma em consideração os custos de investimento, combustível, operação e manutenção. Acerca das conclusões a serem retiradas deve ser realçado que, aquando da escrita deste artigo, eram desconhecidas as portarias que se encontravam previstas à data da publicação do Decreto-Lei n.º 68-A/2015 e que visavam tornar o referido Decreto-Lei completamente aplicável. Assim sendo, as conclusões terão por base o cenário mais aproximado daquilo que se espera vir a ser a nova legislação.
I. Cogeração A cogeração consiste num processo onde, tendo por base a combustão de um determinado combustível, se consegue suprir necessidades de EE e ET. Tradicionalmente, ainda que incorretamente, estes dois tipos de energia eram produzidos de forma completamente dissociada originando-se assim um paradigma de acentuada ineficiência. Sendo assim, apesar dos primórdios da cogeração remontarem ao final do século XIX, apenas em meados da década de 80 do século passado, em virtude quer da escassez de combustível quer do crescimento da consciencialização ambiental das sociedades, a cogeração se começou a desenvolver com uma maior preponderância. Portugal não foi exceção e, no nosso país, a cogeração desenvolveu-se tendo atingido no ano de 2013 uma potência instalada em torno dos 1300 MW. Desta forma, tendo em consideração a acentuada evolução tecnológica verificada, produzindo EE e ET em CHP conseguem-se atualmente alcançar eficiências que podem atingir a marca dos 90%. 42
A. Vantagens A cogeração apresenta diversos tipos de vantagens, podendo as mesmas simplesmente ser classificadas em: Económicas: sendo a CHP uma referência ao nível da eficiência, esta necessita de uma menor quantidade de combustível para a obtenção do mesmo nível de produção. Desta forma, além de serem reduzidos os encargos com combustível, é ainda reduzida a dependência existente ao nível da importação de combustíveis fósseis. Adicionalmente, tendo em consideração a maior proximidade deste tipo de sistemas aos centros de consumo, está-se a contribuir para o fomento da descentralização da produção bem como para a redução ao nível das perdas nas redes de transporte e distribuição. Ambientais: tendo em consideração a elevada eficiência capaz de ser proporcionada pela cogeração, a mesma contribui de forma decisiva para a mitigação da emissão de gases com efeito de estufa, nomeadamente o CO2 e o NOX.
Sociais: apresentando benefícios económicos e ambientais, a CHP colabora no incremento do bem comum da sociedade. Adicionalmente, contribui ainda para a criação de emprego e de mão-de-obra qualificada. B. Possíveis problemas Tendo em consideração a menor dimensão da cogeração face às grandes centrais convencionais de produção elétrica, a mesma é afetada a diversos níveis pelo efeito de escala. Desta forma, advêm efeitos nefastos para a proliferação desta tecnologia e que são sentidos essencialmente ao nível do custo específico por unidade instalada, do custo de manutenção e do custo de aquisição de combustível.
II. Casos de estudo Com o intuito de dar resposta ao objetivo fulcral deste trabalho revelou-se crucial a construção de um caso de estudo, sendo o mesmo composto por dados referentes ao ano de 2014 de uma central de CHP e de um cliente industrial (CI) exemplo.