O estado do desenvolvimento da Energia Eólica em Portugal: situação atual e perspetivas de futuro

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o estado do desenvolvimento da Energia EĂłlica em Portugal: situação atual e perspetivas de futuro O tĂ­tulo deste texto, que Ă partida se afigura monĂłtono e relativamente pouco inspirado, tem uma razĂŁo de ser: hĂĄ 20 anos o LNEG, Ă data denominado INETI, publicou um artigo numa revista de divulgação tĂŠcnico-cientĂ­fica exatamente com este tĂ­tulo [1]. Corria o ano de 1996 e estĂĄvamos, ainda sem o saber, no inĂ­cio do desenvolvimento do setor eĂłlico em Portugal. A legislação tinha recentemente sido alterada passando a assegurar tarifas que colocavam a geração eĂłlica acima da “linha de ĂĄguaâ€?, no que respeita ao desempenho econĂłmico – o que, atĂŠ aĂ­, sĂł era assegurado por tecnologias de produção em regime especial como a cogeração ou as centrais mini-hĂ­dricas. No que Ă energia eĂłlica dizia respeito, a tecnologia tinha amadurecido muito na Ăşltima dĂŠcada, havia interesse por parte de investidores privados, mas estava (quase) tudo por fazer para assegurar o desenvolvimento do setor! Estes 20 anos alteraram o panorama eĂłlico nacional caminhando no sentido da eletrificação. O que neles se passou nĂŁo ocorreria aos investigadores do LNEG/INETI, nal das turbinas crescer de valores na ordem de 100 a 200 kW para valores de 8 MW – que nessa altura corresponderiam a um parque de 30 a 40 turbinas? Completamente inimaginĂĄvel. Que os parques eĂłlicos tivessem uma capacidade superior a muitas centrais hĂ­dricas e aproximada de algumas centrais tĂŠrmicas? Se alguĂŠm o afirmasse como possĂ­vel em meados dos anos noventa, o autor seria rotulado como louco. E foi isso que fomos, todos nĂłs, os investigadores, tĂŠcnicos e investidores entusiastas da energia eĂłlica hĂĄ 20 anos atrĂĄs – uns loucos visionĂĄrios! Dotados daquela loucura saudĂĄvel e desejĂĄvel que faz o mundo avançar para algo melhor. Que permitiu que, em 20 anos, a penetração eĂłlica no consumo elĂŠtrico passasse de um valor inferior a 0,1% no final de 1995 para prĂłximo de 25% em dezembro de 2015, contribuindo para uma participação renovĂĄvel em Portugal

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na ordem de 50% nos anos mais recentes. Que nos colocou entre os paĂ­ses dados como exemplo, a nĂ­vel mundial, nos apoios Ă s Energias RenovĂĄveis e no modo como tecnicamente gerimos a produção renovĂĄvel. Decididamente, “loucosâ€?. EstĂŁo de parabĂŠns as entidades cientĂ­ficas e acadĂŠmicas que contribuĂ­ram para aqui chegar e foram pioneiras no setor: o LNEG/INETI, o INEGI, o LNEC, o INESC-Porto/TEC, a FEUP e outras entidades de que nos esta REN S.A enquanto operador dos sistemas elĂŠtricos, que ousou inovar tecnicamente e manter os padrĂľes de qualidade de operação do sistema que sempre assegurou. Mas estĂŁo sobretudo de parabĂŠns as empresas que investiram nesta forma de energia e colocaram Portugal na linha da frente dos paĂ­ses equipados com um sistema eletroprodutor energeticamente sustentĂĄvel, e preparado para encarar, de cabeça bem erguida, o sĂŠculo XXI. A situação atual ĂŠ (o tĂ­tulo de hĂĄ 20 anos obriga-nos a falar disso ) em Portugal, tecnicamente excelente, no que Ă produção eĂłlica diz respeito. Contudo, os desafios para o futuro sĂŁo muitos e traduzem uma realidade econĂłmica muito diferente da que o paĂ­s encarava no final do sĂŠculo XX. O mundo atual foi atingido pela segunda maior crise econĂłmica alguma vez ocorrida, e cujo impacto nas economias sĂł foi ultrapassada pela crise da bolsa americana em 1929. A contextualização econĂłmica e de apoio pĂşblico Ă s energias renovĂĄveis nĂŁo podem, atualmente, ser os mesmos dessa ĂŠpoca e, possivelmente, nĂŁo o voltarĂŁo a ser. Atrevemo-nos a dizer que, se nĂŁo tivessem existido os apoios Ă s energias renovĂĄveis na mudança de sĂŠculo, tecnologias como a eĂłlica e fotovoltaica nunca se teriam desenvolvido, disseminado e reduzido os custos, para alcançarem a realidade a que hoje assistimos. A crise atual deixou marcas. A população portuguesa que era, praticamente, 100% apoiante das energias renovĂĄveis, diz agora que sĂŁo demasiado caras e hesita em apoiĂĄ-las abertamente, pese embora o faça algo timidamente, pois sabe, no fundo, ser esse o caminho certo a

apoiam a continuação do desenvolvimento das renovĂĄveis, mas sem sobrecustos para o setor elĂŠtrico‌ serĂĄ que tal ĂŠ possĂ­vel? Essa ĂŠ a grande questĂŁo? Podemos continuar a desenvolver o setor renovĂĄvel e, ao mesmo tempo, reduzir os custos de operação do sistema elĂŠtrico, como se impĂľe para apoiar a economia portuguesa? Muitos dizem que nĂŁo – “as renovĂĄveis serĂŁo sempre mais caras, exigem reservas adicionais, nĂŁo sĂŁo despachĂĄveis, e por aĂ­ foraâ€?. NĂłs, na equipa do LNEG, achamos que sim com a mesma imaginação, criatividade que nos colocou na charneira do desenvolvimento eĂłlico hĂĄ 20 anos atrĂĄs, leva-nos a dizer: nĂłs somos capazes! NĂŁo sozinhos, mas


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