Vampiros - Fim dos Tempos

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por Cristiane G. Sant´Ana

Copyright © 2012 por Cristiane G. Sant´Ana http://cristianegsantana.blogspot.com.br/

ESTE LIVRO É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LOCAIS E ACONTECIMENTOS SÃO IGUALMENTE PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DO AUTOR OU USADOS DE FORMA FICCIONAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS, LOCAIS OU PESSOAS VIVAS OU MORTAS, É MERA COINCIDÊNCIA.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio sem a autorização por escrito da escritora.

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Vampiros

Fim dos tempos

Cristiane G. Sant´Ana [2]


Sumário Capítulo 1

Doença Capítulo 2

Resistência Capítulo 3

Parabéns Capítulo 4

Mortes

Capítulo 5

A decisão Capítulo 6

Revolta Capítulo 7

Miriam

Capítulo 8

Adam

Capítulo 9

A equipe Capítulo 10

Valores

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Capítulo 11

Salt Like Capítulo 12

Casa Branca Capítulo 13

Revelações Capítulo 14

Miriam

Capítulo 15

Horror

Capítulo 16

Cláudio

Capítulo 16

Noite Sombria Capítulo 17

Luta Final


Dedicatória

Esse ano foi muito difícil para mim. Se pudesse arrancaria o mês de dezembro de 2012 do calendário. Perdi a luz no fim de todos os tuneis de minha vida. Sou filha adotiva e fui criada por uma mulher muito guerreira, cheia de amor e fé.

Maria Nildete Valle Lacerda, você ensinou-me a andar, falar, amar, perdoar, correr atrás dos meus objetivos, só não me ensinou a viver sem você.

Apesar de ter partido, ainda resta muito dela dentro do meu coração, nas fotografias, nas plantas que tanto gostava... A propósito, a plantinha que ela me deu, poucos meses antes de falecer estava muito feia. Agora, a plantinha está cheia de vida e nascendo vários lindos brotinhos. Gosto de pensar que é um sinal de Deus, dizendome que ela está bem...

Mãezinha, descanse em paz!

Cristiane G. Sant´Ana


Fim dos Tempos Capítulo 1

Doença Elizete acordou com os gritos de sua filha. Correu até o quarto da menina e a encontrou tremendo de frio. Aquele era o segundo dia, em que Eva acordava no meio da noite aos berros. - Mãe – gritou a garotinha. – Estou sentindo muitas dores – queixou-se. – Estou morrendo de frio! - exclamou tremendo embaixo dos cobertores. Elizete ficou paralisada ao notar, que a íris dos olhos da menina estava vermelha. Decidiu acender a luz, para ter certeza do que estava vendo. Os olhos da menina estavam cor de sangue. Não havia mais dúvida, a menina havia pegado a famosa epidemia, que rapidamente se alastrava pelo mundo. Elizete sentou-se ao lado da pequena e frágil menininha de seis anos. Sentiu uma pontada no coração, ao deparar-se com aqueles pequenos olhos vermelhos irradiando muita tristeza e sofrimento. Elizete abraçou a filha com carinho e acariciou seus lindos cabelos dourados. Sentia-se angustiada e impotente diante daquela situação. Não havia nada que pudesse fazer para amenizar o sofrimento da filha, pois milhares de pessoas estavam morrendo e as que sobreviviam eram internadas em hospícios ou aprisionadas em presídios de segurança máxima. Aquela maldita doença afetava diretamente o cérebro,

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tornando suas vítimas, seres irracionais e extremamente perigosos, ou seja, não conseguiam diferenciar o certo do errado, o bem e do mal, tornando-se assassinos cruéis e sanguinários. Infelizmente a ciência ainda não havia descoberto nada que pudesse impedir o avanço daquela doença. A pessoa contaminada costumava levar de três a cinco dias, para tornarse extremamente selvagem. Eva já estava sofrendo há dois dias. Precisava levá-la novamente ao hospital. - Mamãe, não estou aguentando sentir tanta dor, por favor, me ajude! – suplicou a menina chorando compulsivamente. Elizete encostou a cabeça da filha em seu peito e acariciou levemente suas costas. Sentiu as lágrimas de Eva encharcar a blusa de seu pijama. Apertou-a junto a seu corpo e notou que as cobertas não a estavam aquecendo, pois o corpo da menina continuava gelado. Levantou-se e seguiu até o guarda roupa. Abriu a porta do mesmo com cuidado para que a porta não despencasse, pois há muito tempo, o bendito guarda-roupa dava sinais de que precisava ser trocado. Elizete olhou para o interior do guarda-roupa a procura de mais cobertores. Notou com alegria a existência de um edredom pesado, nunca antes usado, pois ainda estava com a embalagem lacrada. Pegou-o e seguiu até a cama da filha. Colocou o edredom sobre o corpo pequeno e gelado da menina. - Agora não sentirá mais frio. Irei até a cozinha para

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pegar um remédio, a fim de aliviar sua dor. Fique quietinha. A mamãe já volta – pediu carinhosa, afastando-se em direção a cozinha. Ao retornar notou que a menina parecia mais pálida. Colocou a mão em sua testa e percebeu que a temperatura de seu corpo havia caído bruscamente. - Mamãe, está doendo muito – choramingou a menina com os olhinhos assustados e atormentados pela dor. Abriu o frasco e deu-lhe dois comprimidos analgésicos, mas sabia que o medicamento aliviaria sua dor momentaneamente. Elizete deitou-se ao lado da menina, abraçando-a com força para que com o calor de seu corpo, pudesse esquentá-la. Ouviu o barulho de chuva. Sentiu que algumas gotas estavam molhando seu rosto. Levantou-se correndo para fechar a janela que ficava ao lado da cama. Voltou-se a deitar com a filha, tentando aquecê-la sem nenhum sucesso. De repente um raio clareou o céu seguido de um forte barulho de trovão. Nesse instante sentiu as pequenas mãozinhas de Eva, apertá-la com força. - É apenas um trovão, filhinha – informou Elizete. – Não se preocupe, a mamãe está com você – abraçou-a com força tentando acalmá-la. Elizete já não conseguia dormir duas noites seguidas. Seu corpo pedia cama. Tudo o que mais desejava era fechar os olhos e dormir. Mas não poderia se dar ao luxo de dormir, pois o esposo chegaria do trabalho em questão de minutos. Evanílson trabalhava no período noturno. Gostava de tomar café logo que chegava a casa. Só depois se dirigia ao quarto

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para descansar. Observou com satisfação a filha que finalmente conseguira dormir. Levantou-se a contragosto, pois precisava preparar o desjejum de Evanílson. Ele chegaria a poucos instantes. Seus olhos estavam pesados, insistiam em fechar-se. Lutou contra o sono e foi para a cozinha. Ouviu o barulho da porta da sala sendo aberta, mas continuou preparando o café da manhã. - Bom dia, querida – cumprimentou Evanílson, entrando na cozinha abruptamente. – Esse café está cheirando lá fora – aproximou-se da esposa, depositando-lhe um leve beijo em seus lábios. - Estou cansadíssima – confessou Elizete, colocando o café na xícara do marido. – Essa é a segunda noite, que Eva não consegue dormir por causa das dores. Estou exausta! – desabafou. - Precisamos encontrar um bom médico, que acabe de vez com isso – disse levantando-se da mesa preocupado. – Vá trocar de roupa, enquanto eu troco nossa filha – disse Evanílson seguindo em direção ao quarto da menina. Precisamos levá-la ao Hospital. Não aguento mais, ver nossa menininha sentindo tantas dores. - Você sabe que essa epidemia, ainda não tem cura – alertou Elizete. - Mas precisamos fazer alguma coisa; Não posso mais vê-la cansada e a menina sofrendo dessa maneira – desabafou Evanílson. Pegou Eva com carinho nos braços e seguiu em direção ao carro. Sentiu o corpinho gelado da menina. Colocou-a no

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banco traseiro. Voltou novamente a casa, a fim de pegar o grosso edredom que estava no quarto da menina. - Evanílson? Já estou quase pronta. Falta somente colocar os sapatos – gritou a esposa de seu quarto. - Vou pegar o edredom que está no quarto de Eva, pois ela está gelada – informou seguindo até o quarto da menina. Pegou o edredom e abriu o guarda-roupa em busca de uma blusa de frio. Logo avistou o que procurava. Pegou o casaco e seguiu até o carro. Abriu a porta e vestiu a blusa de frio em Eva, que dormia pesadamente. Depois cobriu com o edredom seu corpinho gelado. Fechou a porta e sentou-se no banco da frente esperando pela esposa, que não demorou a sentar-se a seu lado. Seguiram em direção ao Hospital. Em menos de quinze minutos estavam diante de um dos melhores hospitais público de São Paulo. Pegou a menina e seguiu com pressa até a recepção. - É um caso de emergência! – exclamou segurando a filha nos braços. – Nossa filha está com os sintomas da epidemia anunciada na televisão. A moça olhou para eles com indiferença. - Sua filha não é a única – disse mostrando um corredor, repleto de pessoas se contorcendo de dores. – Estamos com falta de médico no Hospital. Veja! – disse apontando para a sala superlotada de gente gemendo de dor. – Sua filha não é a única! Todos estão passando pelo mesmo sofrimento. Todos estão com a maldita epidemia. - Não tem médicos nesse hospital? – indagou aos

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berros. Não pode nos negar atendimento. Pago meus impostos e quando preciso, tenho o direito de ser atendido – bradou furiosamente. - Temos apenas um médico. Infelizmente, não é um pediatra. Ele está atendendo somente adultos e a fila está enorme. Não sei se conseguirá atender a todos – informou com sinceridade a moça da recepção. Nesse momento, o pediatra de Eva abriu a porta da recepção. Estava abatido e parecia bastante cansado. Os olhos de Evanílson se iluminaram ao notar a presença daquele rosto familiar. - Doutor Sandro? – indagou a moça surpresa. – O senhor não dormiu nada! – exclamou admirada. – Faz exatamente quatro horas que saiu desse hospital. - Vanessa, não dá para dormir com tantas pessoas doentes – disse assinando o livro de presença. - Doutor Alessandro, como vai? – cumprimentou Elizete. - Atordoado diante de tantos casos de morte, por causa dessa epidemia – disse o médico. - Eva está apresentando os sintomas dessa maldita epidemia – disse Evanílson. – Por favor, nos ajude! – suplicou de joelhos no chão. O Médico olhou para o homem a sua frente. Pegou-o pelo braço constrangido diante da situação. - Levante-se! – disse constrangido. – Vamos até o meu consultório. Seguiram o médico até uma pequena sala. Elizete colocou a menina na cama para ser examinada. O médico aproximou-se e examinou os olhinhos vermelhos cor

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de sangue. O sorriso foi se desfazendo lentamente, ao colocar a mão na testa da menina para verificar a temperatura. - Quantos dias Eva está com a temperatura baixa? – indagou o médico. - Há dois dias, doutor – informou o pai da menina. - A temperatura de Eva está extremamente baixa. Só pessoas mortas tem a temperatura tão baixa – disse tão baixo, como se estivesse falando consigo mesmo. - O que disse doutor? – indagou Elizete, preocupada. O médico pegou o estetoscópio para ouvir as batidas do coração da menina. Encostou o aparelho sobre o peito de Eva. A menina não se afligiu, com o contato do aparelho frio em seu corpo. As feições do médico se contraíram. Parecia muito preocupado. - O que está acontecendo doutor? – indagou a mãe, preocupada. - Acho que meu aparelho deve estar quebrado – disse com raiva. – Aguardem um minutinho que irei à procura de outro aparelho – informou saindo do consultório. Retornou minutos depois, com um novo aparelho. Ele colocou o estetoscópio nas costas da menina. Seu rosto parecia ainda mais preocupado. - Por favor, Elizete, venha até aqui para que possa ouvir seu coração. Assim saberei se o estetoscópio está quebrado. Elizete aproximou-se do médico. Ele colocou o aparelho frio em seu coração. - Como desconfiei, o aparelho está funcionando perfeitamente. Mas quando coloco o aparelho no corpo de Eva,

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seus batimentos cardíacos estão sumindo, mal consigo ouvi-los. - Dr. Alessandro o que está acontecendo com a minha filha? – indagou Elisete preocupada, olhando atentamente para o médico. - O que está acontecendo? – indagou o pai. – Todos nós gostaríamos de saber. Estamos sofrendo uma epidemia, infelizmente ainda não conseguimos descobrir a cura para esse tipo de vírus – disse o médico pensativo. - O que vai acontecer com Eva? - Seu coração está parando, mas continuará viva como os outros pacientes portadores desse vírus. - O que quer dizer com isso? - Quando o coração deixa de bater, o normal seria que a pessoa entrasse em óbito. Mas com esse vírus, a pessoa continua viva. Infelizmente, tornam-se extremamente perigosos, como se fossem pessoas loucas. Não conseguem discernir o certo do errado. Temos que afastá-los do convívio familiar. Essas pessoas contaminadas pelo tal vírus, necessitam viver isolados da sociedade, pois são extremamente perigosos e letais. - Isso é loucura! – gritou o pai da menina. – Acredita mesmo que deixaremos nossa filha ser levada para um lugar cheio de pessoas loucas? - Acredite, é o melhor a ser feito – preveniu o doutor. O médico olhou assustado para a menina que tremia violentamente, como se estivesse morrendo de frio. - Aaaiii! – gemeu a menina – Estou com muita dor, mamãe. Faça alguma coisa, por favor! - Doutor, acabe com a dor de Eva – disse a mãe,

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nervosa. – Se quiser podemos pagar para que dê a menina um remédio bem forte. - Nenhum remédio conseguirá diminuir essa dor. Mas acredite, já está chegando ao fim. Em poucas horas não sentirá mais dores. - Por favor, acabe com a dor da minha filha, nem que seja por alguns segundos – disse o pai, olhando a menina que se contorcia de dor na maca do consultório. - Não adiantará dar-lhe remédios. A dor voltará em segundos – disse o médico impaciente – Sua filha se transformará num monstro em menos de meia hora. O pai da menina agarrou o médico pelo avental e deulhe vários murros no estômago, parecendo totalmente descontrolado. - Pare com isso, Evanílson – gritou a esposa, segurandoo pela camisa com força. - Isso não vai diminuir a dor, que nossa filha está sentindo. - Esse maldito doutorzinho, está dizendo que nossa filha se transformará num monstro – disse com raiva, acertando o rosto do médico e arrancando-lhe sangue dos lábios. Nesse momento, os olhos da menina tornam-se ainda mais vermelhos. Eva que observava tudo deitada na maca levantou-se com agilidade sobrenatural e atacou o médico, com enormes garras e seus dentes ficaram afiados e pontudos. Em poucos minutos, o rosto do médico ficou totalmente desfigurado e coberto de sangue. A menina bebia daquele líquido com ferocidade. Sugava cada gota de sangue, como se estivesse sentindo um prazer indescritível. De repente aquela estranha criatura, para de sorver o

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sangue de sua vítima e olha na direção de sua mãe... Em frações de segundos, avança de forma tão eficaz, que não deixou margem para qualquer tentativa de fuga a sua mãe. Era um novo ser... Um ser hediondo, cruel e sanguinário. Era a própria figura do demônio... Um demônio que se fazia presente no mundo atual... Com enormes garras, arrancou-lhe um enorme pedaço da pele do braço da pobre mulher. O sangue jorrou na parede branca, tingindo-a de vermelho. Não demorou para que a menininha, devorasse parte do braço daquela mulher. Era uma criança ou era um demônio? Aquilo não se parecia com Eva. Aquela criatura devorava a mãe como se estivesse diante de um banquete. A menina não demonstrava o menor sinal de culpa, pelo contrário, parecia que estava fazendo a coisa mais natural do mundo. O pai assistia aquela cena macabra, totalmente incrédulo e paralisado. Não tinha forças para sair do lugar. Não conseguia acreditar no que via... Tinha apenas uma certeza: não sairia vivo dali.

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Fim dos Tempos Capítulo 2

Resistência Tudo ao meu redor me remetia ao apocalipse. Parecia que o fim dos tempos havia chegado. A raça humana estava à beira da extinção. Os vampiros haviam tomado conta do mundo. Felizmente, ainda havia resistência humana em poucos países. Mas seria uma questão de tempo, para que aqueles seres cruéis e sanguinários acabassem com tudo. Mihnea governava o mundo com o apoio de seu poderoso exército de vampiros. Esse exército era implacável, com todos aqueles que não se submetiam as ordens de Mihnea. Os humanos viviam escondidos e aterrorizados, diante dessa nova realidade. Saíam de seus esconderijos subterrâneos durante o dia, contando com a sorte de não serem descobertos e aniquilados. Alguns humanos haviam se tornado espiões dos vampiros, revelando o esconderijo de famílias inteiras. No início, em troca de proteção. Mas para que não fossem confundidos com os demais humanos, ganhavam um sinal nas mãos. Assim não eram atacados por nenhum vampiro. Os humanos, desconfiados daquele sinal, acabaram descobrindo que aquela marca, servia para que os vampiros pudessem identificar seus espiões. Depois dessa descoberta, os traidores já não conseguiam trabalho com os humanos, nem mesmo comprar

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alimentos lhes era permitido. Diante desse dilema, os vampiros, com raiva saqueavam, roubavam e quebravam os comércios, deixando milhares de pessoas desesperadas com os enormes prejuízos. Todos os dias deixavam uma grande quantidade de alimentos para seus delatores. A noite nenhum humano era visto perambulando pelas ruas, pois a morte era certa. Ficavam trancafiados em seus esconderijos, temendo serem descobertos e atacados. Os vampiros cresciam em número e crueldade. Estávamos vivendo o fim dos tempos, pois não havia regras ou limites para nada. Tudo estava fora de controle. Mihnea conseguiu aumentar seu poder sobre a terra, mas não pensou no equilíbrio da natureza. Havia um grande número de vampiros, mas não havia sangue suficiente para todos eles. Com isso, muitos animais já estavam em extinção. Nos hospitais não havia uma única gota de sangue. Diante daquele caos, Catharina recordou-se das palavras de Vlad IV, pois quando era o rei dos vampiros, temia que Mihnea se tornasse rei algum dia. Com Vlad IV as coisas transcorriam em seu estado habitual. Mas ele alertara a todos sobre seu irmão, Mihnea. Infelizmente ninguém poderia acreditar que as coisas chegariam a esse ponto. Vlad IV previra o que estava acontecendo. Sempre acreditou que se Mihnea tomasse o poder, o mundo estaria em risco. Recordou-se das palavras de seu grande amor, antes dele falecer: “Precisa viver para criar o rei dos vampiros. Ele é a salvação da raça humana. Não deixe que Mihnea se aproxime

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dele – alertou cuspindo sangue pela boca. – Ele tentará matá-lo para tomar o poder. Crie nosso filho de modo que governe nossa espécie com sabedoria. Ensine-o a respeitar a raça humana. Sem eles, a vida na Terra chegará ao fim”. Mihnea tomou o poder, assim que Vlad IV morreu. Catharina foi obrigada a viver escondida durante todos esses anos, para que Mihnea não encontrasse Adam e o matasse. Agora, seu filho completara dezoito anos de idade. Mas Catharina sentia que Adam, ainda não estava preparado para enfrentar aquele demônio. Após a morte de Vlad, os anos se passaram muito depressa. Catharina sentiu o desejo de chorar, ao recordar-se de todas as dificuldades que passou, durante todos aqueles anos, para criar o filho. Como dois irmãos podiam ser tão diferentes? Vlad IV era um homem bom, mas Mihnea era a figura ativa de seu pai, Vlad III, o impalador. Catharina sempre tomou muito cuidado com a criação de Adam, pois temia que se tornasse maldoso e cruel, como o avô. Aquele ficara conhecido mundialmente por sua crueldade, cujo maior prazer era empalar seus inimigos. Matava-os de forma lenta e dolorosa. Mihnea também costumava empalar seus inimigos. Matava-os com requintes de crueldade. Fazia isso lentamente e saboreava cada momento. Os humanos não tinha muito que fazer. A arma mais poderosa contra todos eles era o sol. Durante o dia podiam viver “normalmente” no mundo, como se nada houvesse acontecido. Mas a noite era uma tortura constante. Ninguém

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conseguia dormir em paz. O medo fazia parte da vida de cada um deles. Ninguém se atrevia a manifestar-se contra as forças de Mihnea, pois os que haviam feito isso acabaram morrendo de maneira impiedosa. Isso serviu para aterrorizar os que tinham desejo de lutar contra o poder de Mihnea. Ele costumava arrancar todas as partes dos corpos de seus inimigos e jogá-los na rua. Fazia isso, para que todos soubessem o que acontecia com quem não o obedecia ou era seu inimigo.

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Fim dos Tempos Capítulo 3

Parabéns Catharina estava orgulhosa do filho. Ele era um bom rapaz. Fazia faculdade durante o dia e a tarde trabalhava no supermercado. Havia se tornado gerente do estabelecimento. Sabia da importância de nunca revelar sua condição vampírica, ou melhor, Adam sabia que era metade humano, metade vampiro. Mas escondia sua árvore genealógica abaixo de sete chaves. Bastava saber, que seu pai foi um escritor famoso de Literatura fantástica e que muitos de seus livros, foram parar nas telas do cinema. Com o tempo, revelou que seu pai era um vampiro. Ele somente a transformou quando sua vida estava por um fio. Então, ele pertencia as duas espécies. Era metade vampiro, metade humano, pois a transformação dela ocorreu após ter ficado grávida. Quanto sua descendência, isso esconderia até o fim. Bastava saber do que havia lhe revelado. Adam lutaria com seu tio, quando chegasse o momento certo. Será que existe o momento certo para colocar a vida de um filho em risco? Não. Ninguém poderia julgá-la, pois não era justo colocar a vida de seu único filho em risco para salvar quem quer que fosse. Naquela noite, havia preparado um jantar especial. Finalmente, fizera dezoito anos! Mihnea nunca conseguiu encontrá-lo durante todos aqueles anos. Passaram por sérias limitações financeiras, apesar de todo o dinheiro deixado pelo pai de Adam. Mas, não podia se

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queixar, pois todos viviam dessa maneira, desde que aquele demônio tomou conta do mundo. Os vampiros reinavam, enquanto os humanos viviam parecendo criminosos, ou seja, viviam escondidos como se houvessem feito algo errado. À noite os humanos se recolhiam. Enquanto os vampiros saíam para destruir, tudo o que haviam construído horas antes. A revolta fazia parte do sentimento humano. Mas ninguém se atrevia a fazer absolutamente nada, pois temiam serem empalados lentamente pelo homem que governava a maior parte do globo terrestre. Catharina estava sentindo-se muito fraca naquela manhã. O sangue que alguns amigos haviam doado, já estava chegando ao fim. Quando Adam abriu o Alçapão, sentiu alegria ao notar que estava acompanhado por Miriam. Era uma boa moça. Adam era apaixonado por ela, mas Miriam nunca havia percebido absolutamente nada. Ela se apaixonara por um amigo deles. Vivia sofrendo pela apatia do rapaz. Isso deixava Adam muito triste. Seu filho era parecido com o pai. Alto, magro, cabelos lisos e negros, pele clara e olhos azuis. Era um homem muito bonito e inteligente. Mas como nem tudo é perfeito, Adam era muito tímido e às vezes isso o atrapalhava. Catharina olhou para Miriam e sorriu. Era uma moça encantadora e gostou dela desde o início. Era uma mulher simples e boa. Não era uma bonequinha, muito pelo contrário, tinha traços exóticos e marcantes, sua simpatia e bondade, cativavam a todos os que a rodeavam.

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Miriam não enxergava maldade nas pessoas. Era uma pessoa tão inocente, que durante cinco anos, nunca enxergou o amor, que Adam nutria por ela. - Tia Cathy! - disse piscando Miriam – Adam me convidou para jantar com vocês – disse aproximando-se de Catharina e beijando-a no rosto. – Ele sabe que adoro sua comida. Espero que não se importe. - Fico feliz em tê-la conosco essa noite. Hoje é um dia muito especial – disse olhando para o filho, que aparentemente parecia chateado. - Estamos comemorando o aniversário de Adam – disse olhando para ela, pois sabia que havia esquecido a data. - Meu Deus, que vergonha! – disse Miriam colocando a mão nos lábios. – Esqueci o seu aniversário! Parabéns, meu amigo querido – disse aproximando-se e beijando-o com carinho no rosto. Adam parecia meio decepcionado. Mas ao ter os braços de Miriam ao redor de seu corpo, sorriu. Ela o abraçou e deulhe vários beijinhos no rosto. - Me perdoa? – piscou sorrindo. – Eu não consigo lembrar nem mesmo do meu próprio aniversário! - Não esquenta. – disse afastando-se dela e olhando-a nos olhos. – O que importa é estarmos sempre juntos e podermos contar um com o outro. - Sim. Você sabe que sempre poderá contar comigo. E quando sentir vontade de chorar, sabe que encontrará um ombro amigo – disse sentando-se na cadeira. – Apesar de nunca tê-lo visto chorar – concluiu sorrindo. - Ele nunca foi de chorar – disse Catharina servindo o

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jantar. – Espero que gostem. Catharina serviu uma lasanha a bolonhesa. Era feita com carne de soja, pois ninguém conseguia encontrar carne em lugar algum. - Parece delicioso – disse Miriam esfregando as mãos. - Você não parece feliz. – afirmou Catharina olhando para o filho. - Aconteceu alguma coisa, Adam? - Como posso estar feliz, vivendo num mundo doente como esse? – Adam estava tenso. - Hoje não é dia para tristeza – disse Miriam levantandose e abraçando Adam. – Sei que o mundo está difícil de entender. Ninguém tem certeza de absolutamente nada. Mas isso é tudo o que temos. Precisamos aprender a conviver com essa realidade. - Não posso ficar sentado, enquanto o mundo está desmoronando a minha frente. Não me conformo, com as coisas que estão acontecendo. Não consigo esquecer o que ocorreu com a família de Leonardo – desabafou, batendo a mão na mesa. Leonardo era um dos poucos amigos de Adam. Eles eram vizinhos desde pequenos e na noite anterior, o esconderijo de sua família foi revelado. No dia seguinte, encontraram a família inteira morta. Havia partes dos corpos, espalhados por todos os cantos do quarteirão. - Sei que não está sendo fácil. Mas ninguém pode fazer nada – disse Catharina, olhando com tristeza para Adam. - Será? – indagou. – Será que ninguém pode impedir o massacre que acontece todas as noites? Isso tem que acabar! – Adam levantou-se e seguiu até a geladeira, pegando uma jarra

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com água. - As pessoas são felizes durante o dia, mas quando chega a noite, começa o pânico. Vem à pergunta, quem será atacado hoje? Que família amanhecerá morta? Pergunto a vocês, isso é vida? Alguém precisa acabar com tudo isso. Chega de tantas mortes. - Depois falaremos sobre esse assunto. Vamos jantar ou a comida esfriará – disse Catharina, consternada. Adam mal tocou na comida. Estava apreensivo e bastante revoltado pelo que aconteceu a família de seu amigo. Miriam tentou fazê-lo sorrir, mas ele parecia estar longe dali. Foram dormir cedo. Quanto menos barulho fizessem, mais seguro estaria o esconderijo, visto que, os vampiros tinham os ouvidos aguçadíssimos. Miriam não conseguiu dormir naquela noite. Levantou-se várias vezes, ficou sentada pensando em tudo o que Adam havia dito. Estava com um sentimento estranho aquela noite. Sentia que alguma coisa estava errada, seu coração estava pesado e tentou segurar as lágrimas. Adam estava certo. Alguém precisava fazer alguma coisa, antes que fosse tarde demais. Mas quem enfrentaria aqueles malditos demônios? Miriam seguiu em direção a cama de Adam. Ele estava acordado. - Não consigo dormir – sussurrou Miriam, deitando-se ao seu lado. – Estava pensando nas coisas que você falou durante o jantar. - Esqueça – disse baixinho. – Só falei besteiras. Ninguém enfrentaria os vampiros, pelo menos, não as pessoas normais – disse colocando a mão na boca, para abafar a risada. - Mas você tem razão. Alguém precisa acabar com o

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terrorismo que vivemos. Não podemos viver assim por muito tempo. O sangue está acabando. Eles estão cada vez mais perigosos e famintos. - Conversaremos amanhã. Precisamos fazer silêncio ou acabarão nos descobrindo. Miriam abraçou Adam e acabou adormecendo ao seu lado. Mas Adam, não dormiu aquela noite. Precisava fazer alguma coisa para acabar com tudo aquilo. Catharina acordou bastante fraca naquela manhã. Mas precisava disfarçar, para que Adam não percebesse o quanto estava debilitada. Estava bastante pálida e sentia muita tontura. Voltou a deitar-se ou cairia no chão a qualquer momento. Era uma vampira e precisava de sangue. Pessoas de confiança sabiam disso. Mas estava cansada de viver incomodando a todos com seu problema. - Bom dia, mamãe – disse Adam dando-lhe um beijo no rosto. - Estou um pouco indisposta essa manhã. Esquente o café e o pão está no armário. Vou ficar um pouco mais na cama. Não consegui dormir direito essa noite. - Não se preocupe, eu cuidarei de tudo. Adam olhou para a mãe e notou que estava enfraquecida. Foi até a geladeira e notou que não havia uma única gota de sangue. Miriam levantou-se e notou que Adam parecia preocupado. - Ainda está pensando nas coisas que disse ontem? – disse Miriam aproximando-se dele.

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- Não. Nesse exato momento, estou preocupado com algo mais urgente do que isso. - O que é? - Minha mãe não está bem. Parece que está fraca demais essa manhã. Não consegue levantar-se da cama. Miriam não sabia do segredo que escondiam. Adam achou melhor poupá-la de mais uma preocupação. Pensou que o melhor a fazer, seria levá-la ao hospital, pois o médico de sua mãe sabia de tudo. Sempre mantinha uma bolsa de sangue guardada para ela. - Mãe? – disse puxando sua blusa. – Vou levá-la ao hospital. Ela estava muito pálida e fraca. Apenas sorriu e tentou levantar-se da cama sem sucesso. - O que ela tem Adam? – indagou Miriam preocupada. - Ela tem anemia. Vou levá-la ao hospital e nos encontramos na faculdade – piscou, pegando a mãe nos braços. - Vou com vocês – informou pegando sua bolsa. - Não! – gritou Adam, irritado. – Isso pode demorar. É melhor ir para a faculdade, nos encontramos lá. Catharina ficou preocupada ao ver lágrimas escorrerem pelos olhos de Miriam. Parecia ter ficado magoada, pelo modo rude com que Adam recusou sua ajuda. - Não fique triste, minha filha. Ele apenas está preocupado comigo. - Desculpe, Miriam, pois não tive a intensão de ser grosseiro. Ela apenas sorriu e foi embora.

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Adam pegou um táxi. Não poderia levar sua mãe ao hospital. Ele costumava vir ao esconderijo deles, para fazer a transfusão. Mas agora era caso de emergência. Cada segundo era vital para vida de sua mãe. Ao chegar, notou que aquele lugar parecia o verdadeiro inferno. Havia muitas pessoas doentes. Algumas haviam sido atacadas por vampiros à noite. Agora sabia que o veneno era o causador do frio e da baixa temperatura. Pois sua mãe costumava contar os sintomas que havia sentido. Também não conseguia esquecer-se de quando Eduardo foi atacado. Sentiu muito frio e apagou durante horas. Eduardo foi a pessoa mais próxima que perdeu para aqueles malditos vampiros. Sentia falta dele. Sua mãe nunca viveu com ele, como marido e mulher. Mas era como um pai para Adam. Infelizmente foi atacado e virou um vampiro sanguinário. Ele a mãe foram obrigados a mudar de casa, pois ele se tornava mais cruel dia a dia. Adam seguiu até a sala do doutor Fernando. Era um homem negro, magro e muito alto. Era uma das melhores pessoas que havia passado por suas vidas. Sabia do problema de sua mãe e sempre mantinha uma bolsa de sangue, caso ela precisasse. O doutor estava em sua sala. Tinha os olhos tristes e perdidos, olhando para um pedaço de papel a sua frente. Adam aproximou-se e bateu na porta de sua sala. Ela estava aberta. Ele parecia distante daquele lugar, não ouviu. Somente quando ele chamou por seu nome, olhou.

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- Como vai Adam? – levantou-se e pediu que entrasse. - Eu estou bem, mas minha mãe precisa de sua ajuda. Ele olhou para Adam, com um sorriso triste no rosto. - Ela precisa de sangue! Sinto muito, mas dessa vez não poderei ajudá-lo. Minha esposa foi atacada. Dei o sangue que havia guardado para sua mãe – disse num tom amargurado. Ângela está cada dia mais violenta, por que isso está acontecendo com ela? - Depende de quem a transformou. - Deve ter sido um demônio. Ela parece endemoniada. Não conseguirei viver a seu lado por muito tempo! – desabafou com lágrimas nos olhos e sentou-se na cadeira. Ficou paralisado novamente, olhando para aquela folha em branco. Adam sentiu pena daquele homem. Sabia que teria de matá-la ou afastar-se dela. Infelizmente, o médico não teria outra opção. Foi assim com tio Eduardo. Despediu-se do doutor e saiu. Já não poderiam contar com sua ajuda. Cada vez mais, as portas estavam se fechando. Sentia que precisava fazer alguma coisa. Mas o quê? Voltou desorientado para casa. Disse à mãe que a noite voltaria com sangue. Pediria a alguém que fizesse a doação. Enquanto isso, Miriam estava a caminho de sua casa. Ela ficava a poucas quadras da faculdade. Teria que passar em seu esconderijo, a fim de pegar o livro da biblioteca. Quando chegou a quadra onde morava, notou que havia muitas pessoas nas ruas. A primeira coisa que chamou sua atenção foi à mão jogada no chão. Naquela mão havia um anel, semelhante ao que havia dado a sua mãe. Seu coração bateu

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mais depressa ao ver outra parte do corpo, era um braço onde havia uma tatuagem escrita seu nome. - Mãeeee – gritou caindo no chão desesperada. Logo em seguida, levantou-se do chão e seguiu completamente desnorteada em direção à faculdade.

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Fim dos Tempos Capítulo 4

Mortes Estava exausto ao chegar à faculdade. Ao abrir a porta, notou que havia muitas pessoas em volta da mesa de Miriam e algumas estavam ao redor de Victor. Ao entrar, Miriam correu em sua direção. Seus olhos estavam vermelhos, parecia ter chorado muito. - Adam, ainda bem que chegou! – exclamou soluçando de tanto chorar. - O que aconteceu, Miriam? - Aqueles demônios atacaram o meu esconderijo – disse em prantos. – Matou toda minha família. O que vou fazer da minha vida? – agarrou-se a ele desesperada. - Tem certeza? Como soube disso? – indagou confuso, abraçando-a. - Fui até minha casa hoje pela manhã, pois havia esquecido um livro, que precisava devolver na biblioteca da faculdade – respirou fundo e continuou. – Quando cheguei ao quarteirão de casa, havia pedaços de corpos espalhados por toda a rua. Reconheci as roupas de minha mãe – disse chorando com desespero. – Ao chegar próximo do esconderijo, vi a cabeça de minha mãe jogada em frente ao portão – desabou a chorar. - Calma! – disse passando as mãos por seus cabelos. – Vamos sair da faculdade e providenciar o enterro. O celular de Miriam tocou. Era uma vizinha que a conhecia desde pequena. Ligou para tranquilizá-la quanto ao

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enterro. Os vizinhos da rua em que morava, fizeram um rateio para providenciar tudo. Ela e Adam saíram da faculdade e seguiram para o velório. Adam ligou para o proprietário do supermercado, dizendo que não poderia comparecer naquele dia. Chegaram quando já estavam fechando o caixão. Abriram novamente, para que Miriam se despedisse. Ela chorou ainda mais, quando olhou para as pessoas presentes, sentia gratidão por terem providenciado tudo. As pessoas pareciam comovidas ao ver a expressão de dor no rosto de Miriam. Ela seguiu o caixão de seus pais, com uma expressão de muito sofrimento e dor. Nunca havia visto Miriam tão triste, nem mesmo, quando Cláudio havia terminado o namoro. Ninguém disse uma palavra durante todo o percurso. Ao chegarem ao local em que seriam enterrados, Miriam aproximou-se dos caixões. - Eu juro que me vingarei dessa maldita espécie até os últimos dias de minha vida. Acabarei com eles ou eles acabarão comigo – afastou-se e saiu daquele lugar, não esperando para ver os caixões sumirem debaixo da terra. Adam ficou preocupado e saiu com ela. - Você está bem? – indagou Adam. - Não – disse com voz baixa. – Mas preciso ficar, pois a partir de hoje, não posso mais viver com a cabeça enterrada em esconderijos, enquanto eles acabam com a raça humana. - O que vai fazer? - Ainda não sei. Mas preciso fazer alguma coisa. Adam ficou preocupado com Miriam. Precisava ficar de olho nela naquela noite, pois poderia se meter em confusão.

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- Fique comigo. Venha morar em minha casa. Eu e minha mãe adoraríamos tê-la conosco. - Você sempre foi o meu melhor amigo, mas não poderei aceitar seu convite. - Por quê? - Porque vou para o interior de São Paulo. Lá existe um grupo de pessoas que, se organizaram para atacar os vampiros durante o dia. Eles conseguiram matar alguns clãs – disse entusiasmada, entregando-lhe um recorte de jornal. – Olhe e veja! Alguém já começou a fazer alguma coisa. - Onde encontrou essa reportagem? - Cláudio me entregou, assim que soube da morte de meus pais. - Não seja ridícula! – disse enraivecido. – Isso é suicídio! Ele é um inconsequente! Imagino que não a acompanhará nessa luta insana! – disse com desdém. - Não. Eu não preciso que ninguém me acompanhe nas coisas “insanas” que pretendo fazer – disse com raiva. Ele a abraçou com força, a ponto de sentir o coração de Miriam batendo sobre seu peito. Ele precisava fazer alguma coisa, a fim de impedi-la de ir ao encontro da morte. Estava com a cabeça quente, mas precisava acalmá-la e tentar convencê-la a desistir da loucura que estava prestes a fazer. Afastou-se dela um pouco e olhou em seus olhos. - Fique em casa essa noite, por favor – disse em tom de súplica. – Amanhã, se ainda pensar dessa maneira, terá o meu apoio. - Está bem. Ficarei com vocês essa noite. Mas não mudarei de ideia – seus olhos tinham um brilho estranho. -

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Preciso fazer alguma coisa, senão morreria me sentindo uma covarde. Miriam e Adam caminharam até o esconderijo. Ela estava visivelmente abalada, cansada e confusa. Ao chegarem, Catharina que não fora avisada do que havia acontecido, logo notou que alguma coisa estava errada. - Vocês chegaram muito cedo. Não foi trabalhar Adam? Miriam está com os olhos vermelhos, andou chorando? Pelo amor de Deus me digam o que está acontecendo – disse sentando-se na cadeira aflita. - Tia, aqueles malditos atacaram minha família ontem à noite! – disse chorando novamente. - Meu Deus! Vocês providenciaram o enterro? Precisamos correr e providenciar as coisas – disse levantandose da cadeira e caindo no chão. Miriam ajudou Catharina a se levantar. Adam sentiu-se mal, pois acabou esquecendo-se completamente do problema de sua mãe. Pior que já estava na hora de todos se recolherem. - Preciso sair e buscar sangue com um vizinho. Minha mãe tem anemia e está precisando fazer uma transfusão. Miriam olhou para ele atônita. Correu e pôs-se a sua frente, impedindo que saísse do esconderijo. - Meu sangue é O positivo, posso doar a qualquer pessoa com o fator Rh positivo. - Eu vou buscar as agulhas. Minha mãe tem o mesmo fator sanguíneo que o seu. Obrigada, por nos ajudar. Ele foi buscar todas as coisas necessárias para fazer a transfusão. Miriam notou que Catharina ao receber o sangue,

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sua aparência melhorava consideravelmente. Após receber a última gota de sangue, a cor de suas faces voltou ao normal. Toda a fraqueza havia desaparecido como por encanto. Ela levantou-se e foi preparar o jantar. - Sinto muito pelo que aconteceu a seus pais, Miriam. – disse Catharina com lágrimas nos olhos, pois a mãe de Miriam era uma de suas poucas amigas. - Obrigada, tia. A partir de amanhã, irei para o interior de São Paulo. Em Jundiaí existe um grupo de pessoas que estão aniquilando os vampiros durante o dia. Eles conseguiram eliminar um pequeno grupo. Preciso me juntar a eles. - Jundiaí? – indagou recordando-se do lugar com saudade. - Sabe que isso é muito perigoso e arriscado – disse cortando os legumes. – Fique mais uns dias aqui e pense melhor no que irá fazer. - Não posso ficar de braços cruzados – disse chorando. – Senão a morte de meus pais terá sido em vão. Não quero mais acordar e ver famílias sendo destruídas todos os dias. Não posso ficar esperando ser a próxima vítima. Se eu tiver que morrer, que morra lutando. Miriam parecia decidida. Catharina recordou-se com tristeza de tudo o que ocorrera em sua vida. Se fosse como Miriam, mais decidida, talvez tivesse conseguido salvar seu esposo. Mas as coisas no mundo sombrio eram muito perigosas. - Acalme-se, minha filha – disse soltando a faca e aproximando-se de Miriam. – Não faça as coisas sem pensar. Você está muito cansada e com os nervos a flor da pele. Vá tomar um banho e descansar. Um bom banho e alguns minutos

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de descanso irão ajudá-la a se acalmar um pouco – disse dando-lhe um beijo na testa. – Agora vá fazer o que eu lhe pedi - disse sorrindo afetuosamente. Miriam foi ao pequeno banheiro. Abriu a torneira do chuveiro e deixou que a cascata de água morna caísse sobre sua pele. Ficou mais ou menos uns quinze minutos no chuveiro. Tia Catharina tinha razão, pensou Miriam. Estava mais calma. Mas ainda pensava em partir. Ninguém a conseguiria convencer-lhe do contrário. Ouviu que alguém entrou no quarto. - Miriam – chamou Catharina. – Deixei uma toalha em cima da cama e roupas para você vestir. Temos o mesmo corpo, acredito que ficarão bem em você. - Obrigada, tia Cathy - respondeu do banheiro. - Não sei o que seria da minha vida sem vocês – disse com sinceridade. Catharina voltou à cozinha, a fim de terminar o jantar. Adam estava sentado na cozinha com a cabeça baixa. Parecia ainda mais triste do que ontem. - Filho, não pode ficar assim! – disse Catharina afagando seus cabelos. – Miriam precisa de um ombro amigo, para chorar suas dores. Então, você precisa tentar ficar inteiro. - Mãe, ela falou que irá se juntar a um bando de malucos que atacam vampiros – disse preocupado. – Sabemos que isso é suicídio! Me ajude a impedi-la de fazer essa loucura – disse chorando – Eu não saberia viver sem ela – desabafou. - Precisa respeitar sua dor. Podemos apenas tentar convencê-la de que isso é loucura, mas não podemos impedila. Ela tem o direito de fazer alguma coisa pela morte de seus pais.

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Miriam entrou na cozinha. Ela estava visivelmente um pouco mais calma. - Tia, precisa de ajuda para terminar o jantar? - Não. Quero que vá descansar um pouco. Pedirei que Adam a chame quando estiver pronto. Vá dormir um pouco para repor as energias. Miriam saiu chorando da cozinha. Adam a seguiu até o quarto onde dormiam. - Posso fazer alguma coisa por você? – disse Adam preocupado ao vê-la tão triste. - Sim. Fique aqui comigo. Esse é o último dia, que me permitirei ter um sentimento como esse. Ela deitou-se na cama. Adam permaneceu ao seu lado. Miriam havia adormecido. Adam aproveitou para observá-la melhor. Passou as mãos, por seus lindos cabelos negros e encaracolados. Eles ainda estavam úmidos e cheiravam a chocolate. Miriam era louca por chocolate, sempre fora uma chocólatra assumida, pensou sorrindo. Ele se aproximou de seu corpo e sentiu a leve fragrância de morango. Ela havia passado o hidratante de sua mãe... Olhou para aquele lindo rosto, seus lábios eram carnudos e sensuais. Tinha uma pequena pinta ao lado direito da boca. Ele sentiu o desejo de beijá-la, mas como sempre não teve coragem. Miriam parecia um anjo. Ela era toda iluminada. Sua bondade e simpatia encantavam a todas as pessoas. Nunca pôde entender como Cláudio a trocara por Milena. Se conseguisse conquistar o coração daquela mulher, jamais pensaria em outra... Viveria para fazê-la feliz. Ela

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parecia um lindo anjo, dormindo naquele lugar horrível... Às vezes tinha a impressão que Miriam era um anjo, que Deus enviou a terra, para que aprendêssemos através de sua bondade. Ele não poderia deixá-la partir. Morreria se ela fosse embora. Miriam era sua melhor amiga, seu primeiro amor. Como poderia viver sem ela? Seus olhos se encheram de lágrimas, segurou para não cair no choro. Seu coração estava apertado, não sabia o que fazer, a fim de impedi-la de ir embora. Catharina apareceu no quarto e observou o quanto Adam amava aquela mulher. Seus olhos refletiam todo o amor e admiração que sentia por Miriam. Não podia entender como ela, nunca havia notado o quanto Adam a queria. - Filho o jantar está na mesa. Acorde Miriam, pois ela precisa se alimentar. Catharina saiu do quarto enxugando as mãos no pequeno avental. Lembrou-se com saudade de seus pais. Catharina os havia perdido da mesma maneira. Michel e Mihnea acabaram com sua família. Sentiu o desejo de vingança, assim como Miriam. Mas nunca obteve sucesso em sua empreitada. Muito pelo contrário, houve um empate. Mihnea acabou com Andrew Vlad, enquanto ela acabou com a Condessa Bathory. Ninguém saiu ganhando naquela história.

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Fim dos Tempos Capítulo 5

A decisão Ao acordar, Catharina olhou em direção ao sofá, aonde Miriam havia dormido, mas já havia se levantado. Correu até a cozinha para ver se ainda estava em casa. Encontrou-a coando o café da manhã, ainda não havia partido. - Bom dia, tia Cathy! – disse animada. – Estava preparando o café para vocês. - Não havia necessidade de fazer isso, minha menina. Você é quem precisa de cuidados. - Estou bem, tia. Queria fazer alguma coisa para agradecer-lhes, pois vou embora hoje. - Não vá embora. Fique aqui conosco. Já estava feliz por ter ganhado uma filha. Sempre desejei ter uma menininha para cuidar – disse com carinho. - Adoraria ter sido sua filha. Mas não posso ficar, o mundo precisa de mim – disse sorrindo. – Eu vou embora, mas quando precisar de uma mãe, sei onde posso encontrar – disse dando-lhe um beijo no rosto. Adam aproximou-se da cozinha. - Meu Deus! Vocês mulheres falam alto pra caramba – disse sorrindo ao ver que Miriam, parecia menos triste aquela manhã. - Acordei cedo e já preparei o café para vocês. Preciso ir até a faculdade para me despedir do pessoal. - Ainda não esqueceu aquelas maluquices, Miriam – disse Adam, nervoso. – Não vá embora, fique! – implorou. –

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Fim dos Tempos

Sabe que está preste a cometer suicídio? – disse olhando-a com insistência. - Nós te amamos e precisamos de você aqui. Não posso permitir que vá ao encontro da morte. - Não vou mudar de ideia Adam – disse aproximando-se dele – Sei que você se preocupa comigo, mas preciso ir embora. Preciso fazer alguma coisa ou morrerei. - Eu morrerei se você partir – disse Adam num sussurro. Catharina saiu da cozinha. Será que teria coragem de confessar o amor que sentia por Miriam? - O que você disse? – indagou Miriam. - Que se você partir, eu morrerei – disse vermelho. - Não morrerá. Sentirá minha falta porque somos amigos. Mas irá me esquecer, assim que encontrar uma nova amiga. Ele aproximou-se de Miriam e segurou seu rosto, fazendo-a olhar em seus olhos. - Eu não quero que vá. Fique aqui comigo. Eu preciso de você, mas do que você precisa de mim. Ela ficou paralisada diante do que havia ouvido. Ele a soltou. Parecia arrependido do que havia dito. - Se não o conhecesse, poderia jurar que iria se declarar para mim, somente para me convencer a ficar – disse sorrindo. – Meu amigo, eu preciso ir embora. Você mora no meu coração. Sempre estará comigo. Catharina ouviu a conversa. Ficou com pena do filho, mais uma vez, Adam havia perdido a oportunidade de dizer a Miriam o quanto a amava. Tomou o desjejum em absoluto silêncio. Quando Miriam terminou, levantou-se da mesa e levou sua xícara até a pia.

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Fim dos Tempos

- Não se atreva a fazer mais nada – disse Catharina. – Apenas sente-se ao nosso lado, pois queremos aproveitar cada segundo que nos resta com você. Miriam olhou para Catharina com os olhos cheios de lágrimas e sentou-se ao seu lado. Ela estava bastante emocionada ao pegar a mão de Catharina. - Tia Cathy, muito obrigado. – disse com voz embargada. – Vou sentir falta de vocês. São as únicas pessoas que tenho agora. Eu amo vocês e quando tudo isso chegar ao fim, voltarei – disse abraçando Catharina. - Não vá embora minha filha. Sei que está entrando numa causa justa, mas extremamente perigosa – disse Catharina preocupada, tentando convencê-la a ficar. – Você faz parte dessa família. Fique conosco! Miriam ficou comovida com a demonstração de carinho e preocupação de Catharina. - Eu sei que posso contar com vocês, tia. Mas preciso fazer alguma coisa, mesmo que cometa um grande erro e me arrependa. Estou feliz por saber, que tenho alguém que se preocupa comigo. Mas preciso vingar a morte de minha mãe, isso tem que acabar. Não posso ver a raça humana ser exterminada e ficar de braços cruzados. - Eu e Adam nos preocupamos com você. Não faz ideia como a amamos! Quando sentir falta de nós ou de um lar, nossa porta sempre estará escancarada para recebê-la – disse Catharina sorrindo com ternura. Elas ficaram abraçadas por um longo tempo. Miriam tinha os olhos cheios de lágrimas e lutava ferozmente para não cair no choro. Saiu daquele esconderijo com a sensação de que

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não seria fácil, viver sem o carinho daquela família. Miriam e Adam seguiram para a faculdade. Não conversaram durante o caminho. Miriam estava com o coração apertado e com uma louca vontade de chorar. Mas a partir daquele dia, teria que aprender a lutar contra sua própria fraqueza. Medo, fome, frio, saudade ou derrota eram palavras que deixaria de pronunciar. A partir daquele dia, elas seriam eliminadas de seu vocabulário. Para vencer essa luta precisaria de muito otimismo e determinação. Agora palavras otimistas fariam parte de seu dia a dia. Determinação, coragem, vitória, persistência e amor fariam parte de sua vida. Não poderia entrar numa guerra como aquela se pensasse de forma negativa. Lembrou-se de uma frase que sua mãe sempre costumava dizer: “Tudo posso, naquele que me fortalece”. Essa frase levaria como um estandarte naquela nova empreitada. Se Deus estiver ao meu lado, nenhum inimigo será mais poderoso do que eu. Adam sentiu que Miriam realmente deixaria aquela cidade. Não havia mais nada que pudesse falar ou fazer, a fim de fazê-la desistir daquela loucura. O caminho da faculdade pareceu infinitamente mais longo, naquela manhã. As ruas pareciam mais compridas e as horas, pareciam passar com velocidade assustadora. Quando chegaram à faculdade, as coisas pareciam agitadas. Havia um grande tumulto nos corredores. Os vampiros haviam descoberto mais esconderijos. Ouviu que alguém gritava e chorava de maneira escandalosa. Ao entrar em sua sala, notou que ali também estava um

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completo caos. Havia muitas pessoas ao redor da mesa de Cláudio, que parecia em estado de transe, ou seja, totalmente paralisado e perdido. - O que houve? – indagou Miriam a uma amiga. - A família do Cacau foi atacada – disse um amigo. – Ele e a namorada estavam na casa de Henrique. A família dela, também foi atacada. Ele parecia em estado de choque, não disse uma única palavra desde que chegou. Adam não se aproximou de Cláudio, pois já havia muitas pessoas ao seu redor. Sentiu ódio daqueles malditos vampiros. Se soubessem que ele era metade vampiro, sua vida correria perigo, naquele momento. A revolta dentro daquela sala era imensa. Começou a se amaldiçoar por ter em suas veias sangue assassino. Miriam sentou-se ao lado de Cláudio, pegou em sua mão e apertou-a com força. - Cláudio, sei como está se sentindo – disse olhando para ele com amor. – Eu tomei uma decisão importante essa manhã, decidi me juntar a um grupo de exterminadores, que lutam bravamente na cidade de Jundiaí. Lembra-se do recorte de jornal que me entregou ontem? Se quiser vir comigo, partirei quando terminar as aulas - disse acariciando seus cabelos. Cláudio olhou para ela e levantou-se para abraçá-la. Nesse momento, Adam decidiu sair daquela sala. Não aguentaria ver mais nada. Cláudio havia trocado Miriam pela garota mais rica da universidade, Milena. Era uma boa moça, apesar de ser rica e mimada, não era arrogante ou exibida, muito pelo contrário, era simples e se importava com as

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pessoas e gostava de ajudá-las. Muitas vezes as pessoas aproveitavam-se disso, pedindo dinheiro emprestado ou livros e nunca devolviam. Corria o burburinho de que Cláudio estava com ela, apenas por ser uma garota milionária. Adam estava sentando no chão do corredor, aguardando que o sinal tocasse para o início da aula. Assim que observou o professor se aproximando, decidiu entrar. Naquele dia, ninguém conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Todos estavam preocupados com os assassinatos ocorridos com familiares dos alunos daquela sala. Houve alguém que cogitou a possibilidade de haver algum espião entre eles. Seria possível haver um espião naquela sala? Mas ninguém tinha o famoso sinal dos espiões na mão. No intervalo, as pessoas disseram que a família de Cláudio, foi encontrada mutilada, assim como a família de Miriam. Que havia parte de seus corpos até na rua vizinha. Cláudio não esboçava nenhuma reação. Não conseguia chorar. Ficou sentado na cadeira, com o olhar perdido e desorientado durante todas as aulas. Após o término das aulas, muitas pessoas se dirigiram ao cemitério, a fim de acompanhar o enterro dos pais de Cláudio e Milena. Miriam aproximou-se de Adam que parecia muito chateado e aborrecido. - Você irá ao cemitério, Adam? – indagou Miriam. - Infelizmente, não poderei comparecer. Faltei ontem ao meu emprego e não seria aconselhável faltar hoje também. - Entendo – disse num tom desaprovador. - E você irá ao enterro?

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- Sim. Gostava muito dos pais de Cláudio. - Claro. Você era como uma filha para eles – disse num tom sarcástico, ao recordar-se do pouco caso que faziam dela. - Não entendi a ironia – disse Miriam com raiva. Adam não disse mais nada, apenas se afastou descendo as escadas rapidamente. - Espere! – gritou Miriam. - Não me deixe falando sozinha. Está chateado porque vou ao enterro? - Não. - Está mentindo – disse com um sorriso encantador no rosto. - Eles esnobaram você a vida inteira. Não entendo porque deveria ir ao enterro daqueles esnobes. - Porque vivi uma linda história de amor com o filho deles. Não é por eles, mas por Cláudio. Ele precisa de apoio. Quero que saiba que ele pode contar comigo, pois sei que está precisando de um ombro amigo. - Você não consegue esquecê-lo, não é? Mesmo depois do que ele fez. Eu admiro a facilidade com que consegue perdoar as pessoas. - Essa não é hora para mágoas. Sei muito bem, como é difícil perder os pais de maneira tão estúpida. - Está encontrando motivos para estar junto dele. Será que nunca vai conseguir esquecer esse cretino? Miriam balançou a cabeça e sorriu. - Está com ciúmes? – provocou. - Ciúmes? – repetiu. – De quem? Daquele ser desprezível? Deve ter perdido o juízo. – disse descendo os últimos degraus da escada.

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Ele voltou-se para Miriam e sorriu. - A única coisa boa de toda essa história, é que você não poderá partir. Estarei esperando por você em casa. Ele saiu da faculdade com o coração feliz. Ela não poderia partir, pois o enterro tomaria grande parte de seu tempo. Não conseguiria chegar ao interior antes do anoitecer. Esperou o ônibus que o levaria até seu emprego. Ele não demorou a aparecer. Cumprimentou o motorista e sentouse ao lado do cobrador. - Como vai, Adam? – cumprimentou Alemão, o cobrador de ônibus. - Ninguém vive bem no meio desse caos, Alemão. Mataram mais pessoas essa noite, essa vida está um inferno! – explodiu revoltado. - Você conhecia as vítimas? - Sim. Sempre morre alguém que conhecemos. - Não sei quando tudo isso irá acabar – disse Alemão. – Eles mataram minha namorada, pois o esconderijo dela também foi descoberto. - Sinto muito, cara – disse Adam pesaroso. - Estou cansado de acordar todos os dias e me deparar com a morte. Todos os dias morre alguém que conheço. Fico pensando, quando chegará a minha vez? – desabafou com tristeza. – Estou cansado, meu amigo. Gostaria de ser o próximo, estou extremamente farto de viver com medo de morrer. - As coisas irão melhorar, precisa acreditar – disse levantando-se do banco, pois desceria no próximo ponto. - Acreditar? O mundo está virado de cabeça para baixo.

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Meses atrás as pessoas viravam vampiras. Com a falta de sangue, estão matando de maneira bárbara as pessoas que encontram. Não quero estar vivo, quando as coisas ficarem ainda pior. - Não desanime. Para tudo há uma saída, acredite – disse saindo do ônibus. Ao chegar ao supermercado, encontrou a figura bonachona de seu patrão. Era um turco com enormes bigodes. Ele vivia sorrindo e tinha um sotaque de turco muito arrastado e difícil de entender. - Hoje Adam está bom pra trabalho? – indagou com o sorriso de sempre. - Sim. Hoje trabalharei em dobro, a fim de recuperar a falta de ontem. - No necessário trabalhar tão duro. Faisal entende que Adam estava muito triste, pais de amigo morrendo. Agora vá trabalhar, menino – disse segurando e enrolando com os dedos, um dos bigodes. Adam foi até as prateleiras verificar se havia necessidade de repor as mercadorias. Ao chegar ao depósito, notou que os vampiros haviam levado grande parte dos alimentos. Precisava encontrar uma forma de acabar com aquela bagunça. Seu Faisal estava tendo muito prejuízo. O pior de tudo é que repassava o prejuízo para os clientes, fazia isso aumentando o preço das mercadorias. Se continuassem dessa maneira, os alimentos ficariam tão caros, que ninguém teria dinheiro suficiente para comer todos os dias. Havia pensado muito em como diminuir os prejuízos e

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encontrou uma solução. Decidiu procurar o turco. - Senhor Faisal – chamou. – Pensei numa maneira de acabarmos de uma vez por todas, com os prejuízos. - Fala filho, Faisal está ouvindo – disse colocando algumas mercadorias no lugar. - Pensei em construir um grande cofre de prata. Colocaríamos as mercadorias todas as noites nesse cofre. Ele parou o que estava fazendo e sorriu. - Faisal não entende o que Cláudio dizer. - Disse que se colocássemos as mercadorias, num grande cofre de prata, evitaríamos a falência. - Quanto custa cofre desses, menino? – perguntou o turco interessado. - Não faço a menor ideia. Mas posso verificar para o senhor. - Cláudio é menino inteligente – disse enrolando um dos bigodes com os dedos. – Eu ficar satisfeito com o que disse. Procura saber quanto custa, Faisal manda fazer um desse pra mercado. A tarde sentou-se no escritório e ligou para várias pessoas que faziam cofres. Mas ninguém trabalhava com prata. Um dos comerciantes se interessou e disse que faria o tal cofre e não cobraria caro. Em troca faríamos propaganda de seu produto. O turco aceitou a proposta e o comerciante entregaria na semana seguinte. Adam saiu do supermercado e foi direto para casa. Ao chegar, Miriam já havia retornado do enterro, mas parecia ainda mais triste.

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- Filho? Olha quem está aqui – disse apontando para Miriam. – Teremos a companhia dela por mais essa noite. - Como foi o enterro, Miriam? – indagou Adam. - Triste como qualquer outro. O enterro dos pais de Milena foi junto. Ela desmaiou e foi difícil conseguir acalmá-la. Adam notou que Miriam escondia alguma coisa. - Sinto que tem algo a me dizer – disse sem rodeios. - Não adianta querer esconder nada de você! – exclamou sorrindo. – Falei com Cláudio e Milena sobre o grupo de exterminador de vampiros. Eles irão junto comigo. Todos desejam acabar com essa maldita espécie assassina – disse com raiva. - Eles irão com você? Irão se unir ao grupo, tem certeza? - Sim. Combinamos de partir pela manhã. - Eu poderia dizer milhares de coisas para impedi-la, mas sinto que seria inútil. A única coisa que posso fazer, é torcer para que não morra. Ela sorriu e segurou a mão de Adam. Ele estava com as mãos frias como sempre. Puxou-a para junto de si e abraçou-o com carinho. Logo em seguida, Catharina os chamou para jantar. Eles se afastaram, mas Adam a puxou novamente para perto dele. - Não vá, por favor – disse com lágrimas nos olhos. - Você sabe que faria qualquer coisa por você, mas isso está fora de questão – disse seguindo em direção à cozinha. Durante o jantar ninguém disse uma única palavra. Catharina tentou iniciar uma conversa, mas eles respondiam com monossílabas. Acabou desistindo e permaneceu calada

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também. Foram dormir mais cedo naquela noite. Quando Catharina ouviu o galo cantar, observou que Miriam já havia partido. Deixara apenas um bilhete, agradecendo por tudo e dizendo que jamais se esqueceria do amor recebido naquela casa. Adam não fez nenhum comentário. Apenas tomou o café e partiu para a faculdade. Horas depois, Catharina sentiu que pessoas pisavam em cima de seu esconderijo. Ficou quieta, com receio que fosse algum espião dos vampiros. Logo depois, percebeu que haviam desistido e foram embora. Após o almoço, recebeu o telefonema de Adam. Disse que chegaria mais tarde, iria com o dono do supermercado buscar o cofre de prata, pois o comerciante havia passado a noite inteira fazendo o bendito cofre. Catharina preparou o jantar. Lembrou-se com saudade da época em que os pais eram vivos. Sua vida era tranquila e confortável. Seu coração disparou ao recordar-se de Eduardo. Ele sempre cuidou dela e de Adam após a morte de Vlad. Infelizmente, fora atacado pelos vampiros de Mihnea e o veneno que tomou conta de seu corpo, era ruim. Ele se transformara num assassino cruel e impiedoso. Agora, Edu fazia parte da cúpula de vampiros que serviam a Mihnea. Sentia muita saudade da época em que eram amigos, pensou com tristeza. As horas passaram tão rápido, que ao olhar para o relógio, seu coração disparou. Começou a andar de um lado para o outro, pois estava chegando o horário de recolhida.

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Adam ainda não havia chegado. Decidiu ligar para saber onde estava. O celular de Catharina começou a vibrar em cima da mesa. Ela atendeu o telefone correndo, pois sabia que era Adam. - Adam, é você meu filho? – indagou preocupada. - Sim. Mãe, estava tentando ligar para a senhora nesse momento, pois não conseguirei chegar em casa a tempo. Terei que dormir no esconderijo do Sr. Faisal. - Está bem, mas tome cuidado com o horário. - Estou a uma quadra do esconderijo do Sr. Faisal, não fique preocupada. A senhora ficará bem? - Sim. Não se preocupe. - Boa noite, mãe. Amanhã nos veremos. - Eu te amo, meu filho – disse mais tranquila. – Tome muito cuidado, pois não saberia viver sem você – disse desligando o celular. Catharina foi dormir mais cedo naquela noite. Horas mais tarde, notou que os vampiros andavam em cima de seu esconderijo. Sentiu o coração bater mais forte, quando ouviu o alçapão ser aberto. Correu e escondeu-se embaixo da cama. - O Dr. Mihnea ficará feliz, quando souber que encontramos a entrada do esconderijo do filho de Vlad – disse um dos vampiros, sorrindo de maneira exagerada. - Cuidado – alertou um deles. – A mãe dele é uma de nós. Ela protegerá Adam como uma fera. Ouviu que desciam as escadas. Olharam ao redor da cozinha, não encontrando ninguém. Um deles dirigiu-se ao cômodo que servia como quarto, mas também não encontrou

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nada. O banheiro estava completamente vazio. - Será que alguém os informou a respeito dos planos de Mihnea? Quem os alertou dizendo que os atacaríamos essa noite? - Não faço a menor ideia – disse um deles, esfregando as mãos. – Mihnea ficará furioso quando souber que eles deixaram o esconderijo. Catharina ouvia tudo quieta. Até notar que um rato preto, seguia em sua direção. Não aguentou e soltou um grito. - Você ouviu? – disse o vampiro mais alto. – Teremos que vasculhar esse maldito cubículo. Tem alguém aqui. Eles começaram a quebrar tudo o que encontravam pela frente. Catharina sentiu que a qualquer momento, seria descoberta. Agradeceu a Deus, por Adam estar longe naquela noite. Viu os pés de um deles se aproximar. Notou que suas garras, seguravam por um dos lados da cama e a arremessou contra a parede com violência. Aquele maldito ser a olhava com olhos cor de brasas. Havia satisfação e orgulho, por vê-la encolhida naquele chão. - Ora, ora, ora – disse passando as garras no rosto dela com suavidade. – É a esposa de Vlad IV! É um prazer conhecêla, majestade – disse com ironia. Tem alguém que adoraria revê-la. Veja o que encontrei, Sandro! – gritou com orgulho exagerado. O outro se aproximou olhando para Catharina com satisfação. - Ela continua tão bonita, quanto na época em que foi tirada essa foto – disse olhando para a fotografia que tinha nas

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mãos. - Essa é a vantagem de ser uma vampira. Não envelhecemos como todo mundo. Não é verdade minha senhora? - Sabe que seu cunhado a quer morta? – disse mostrando as mandíbulas. - Como deseja morrer, ilustre rainha? – indagou gargalhando de forma demoníaca. Catharina estava cansada de viver escondida. Não podia sair durante o dia, pois o sol era um inimigo. Quando chegava a noite, havia inimigos ainda mais vorazes e furiosos, caçandoa como se fosse um animal. Estava cansada dessa vida. De certa forma, estava aliviada por saber que seu fim havia chegado. - Não respondeu minha pergunta – informou um deles, lançando suas garras sobre ela. Catharina tentou correr, mas eles eram mais ágeis e velozes do que ela. Um deles pegou sua cabeça e com enormes garras cortou sua pele. - Vamos deixá-la um pouquinho desfigurada – sorriu segurando seus cabelos – Seria muito difícil matá-la com essa carinha linda. Diga-me, nunca desconfiaram que era muito nova, para ter um filho adulto? – indagou curioso. – Dá até para se apaixonar por ela, não é Sandro? - É mesmo, a senhora é muito esperta. Pintou algumas mechas de cabelo na cor branca, para envelhecer essa carinha de menininha – disse Sandro, o vampiro, que ria de maneira exagerada. Catharina recordou-se de que pintou os cabelos, para tornar-se mais velha, assim as pessoas não desconfiariam que também fosse uma vampira.

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- Infelizmente, temos que matá-la. A ordem é para levarmos sua cabeça até Mihnea – disse Sandro puxando seus cabelos com força. O outro foi até a pia e abriu uma das gavetas, tirando de lá um facão, olhou para Catharina e cuspiu no chão. - Irá se juntar a seu esposo, Vlad IV – disse olhando-a com arrogância. - Ah! Ia me esquecendo, se for para o inferno encontrará com a Condessa Bathory – empunhou o facão na altura do pescoço de Catharina. - Boa sorte, rainha dos derrotados! – finalizou passando o facão pelo pescoço dela. Seu corpo caiu no chão sem vida. Sandro olhava sorrindo, para a cabeça que segurava em suas mãos. - Missão cumprida! – declarou Sandro subindo as escadas, a fim de sair daquele esconderijo subterrâneo. - Não levaremos a outra parte do corpo? - Não. A cabeça dessa vadia é o suficiente. Afinal, Adam precisa saber o que aconteceu a sua mãe – sorria com satisfação, olhando a cabeça que tinha nas mãos. Precisavam correr a fim de chegarem antes do pôr-dosol. Mihnea tinha urgência em saber, se aquela ordem fora cumprida. Chegando ao palácio dos governadores, pediram para falar com Mihnea. A autorização para que entrassem, não demorou. Eles andaram por um longo corredor, parecia que nunca chegariam. Sandro suava frio, pois tinha horror a lugares fechados e sem janela. Ao chegarem ao fim do corredor, havia uma enorme sala, aberta cheia de janelas, onde os vampiros bebiam um

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verdadeiro coquetel de sangue. - Fizeram o que mandei? – indagou Mihnea num tom nada amistoso. – Espero que tenham concluído a missão – disse num tom ainda mais rude. - Sim. Nós concluímos a missão – disse Sandro, orgulhoso. Mihnea tinha os olhos cor de brasas. Notou um sorriso sombrio em seu rosto. Sandro pensou que um único sorriso no rosto de Mihnea, deveria ser algo muito raro, pois um sorriso naquele rosto, definitivamente não combinava. Ele tinha o rosto com feições dura como pedra. Era um ser rude e cruel. Aquele sorriso foi tão feio, que chegou a dar medo. - Mataram Catharina e o filho? – indagou desconfiado. - Catharina está aqui – disse tirando da sacola a cabeça de Catharina. – Mas o filho dela não estava no esconderijo. O sorriso se desfez com rapidez. Suas feições voltaram ao normal, eram duras e frias como sempre. Sandro concluiu que Mihnea era bipolar, pois ele conseguia ir da felicidade a fúria em questão de segundos. Seu rosto mostrava uma fúria incontrolável. Sandro teve certeza, que Mihena poderia matar alguém de pavor com apenas aquele olhar sombrio, perverso e furioso. Notou que suas pernas fraquejavam, mas tentou controlar-se. Não poderia demonstrar sua fraqueza, diante do todo poderoso rei dos vampiros, pois não desejava voltar às ruas e passar fome novamente. - Por hora, estou satisfeito. – disse abrandando a fúria em seu olhar. – Pelo menos mataram essa cadela maldita – disse olhando para a cabeça de Catharina.

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Ele aproximou-se de Sandro e arrancou-lhe das mãos, a cabeça de Catharina. Pegou com extremo cuidado, era como se estivesse pegando algo muito valioso. Ergueu a cabeça dela para que todos olhassem. - Esse é o fim de pessoas que me tem como inimigo. Demorou em encontrá-la, mas aqui estamos nós dois – disse baixando a cabeça e olhando-a nos olhos. - Junte-se aos derrotados, cadela maldita! - Olhe, essa é Catharina! Esposa de Vlad IV, o antigo rei dos vampiros. Ela tornou meu irmão um homem fraco. Disse que a mataria – sorriu. – Finalmente a vadia está morta. Seu filho, em breve, também estará em minhas mãos – sorria diabolicamente. Ele jogou a cabeça dela no chão, pisando em cima dela com seus lindos e lustrosos sapatos de couro. - Esse é o fim de quem me enfrenta! – exclamou olhando com arrogância, para todas as pessoas presentes naquela sala. Ninguém se atreveu dizer uma única palavra. De repente, um dos vampiros começou a bater palmas, sendo seguido pelas demais pessoas presentes. Mihnea sorria satisfeito, estava sendo ovacionado por todos os vampiros. Seus planos estavam começando a dar certo. Era admirado e temido por todos. Mihnea olhou em direção a Eduardo e sorriu. - Olhe Edu, Catharina já não faz parte de nossos inimigos. Acabamos com mais um deles, meu amigo. Eduardo sentiu uma pontada no coração ao ver a cabeça de Catharina no chão. Recordou-se do tempo em que eram

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humanos. Desde que se tornara um vampiro, não conseguia mais sentir pena, amor, saudades, enfim, aquele veneno mudara tudo dentro dele. Mas observar seu grande e único amor, sendo pisada por Mihnea, sentiu ódio daquele homem cruel e arrogante. - Eduardo, pise na cabeça dessa maldita vadia. Ela sempre o rejeitou. Acreditava que era superior a qualquer pessoa. Julgava-se a última bolachinha do pacote – concluiu sorrindo - Venha, pise nessa maldita cretina. Eduardo sentiu raiva de Mihnea. Não entendia porque estava sentindo-se assim... Ele se tornara seu amigo, desde que deixara de ser apenas um ser humano estúpido e fraco. Mas estava sentindo uma forte dor, ao pisar na cabeça de Catharina. Aquilo doeu mais, do que quando soube que Catharina estava grávida de Vlad. Mihnea sorria com satisfação. Aquele sorriso debochado trouxe grande revolta dentro de Eduardo. Aquele maldito cretino, jamais deveria ter matado Catharina, pensou. Ele percebeu que ainda amava Catharina, aliás sempre soube que a amava, pois muitas vezes foi obrigado a mentir, quando dizia não saber onde estava escondida. - Agora a meta é encontrar o meu sobrinho. Se ele ficar do nosso lado, então não precisará juntar-se ao pai e a mãe – disse Mihnea, observando a reação de Eduardo e de todos os presentes.

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Fim dos Tempos Capítulo 6

Revolta No dia seguinte, Adam acordou e ligou para a mãe, mas ela não atendeu a nenhuma de suas ligações. Isso o deixou bastante preocupado durante todo o dia. Mas só não voltou imediatamente para casa, porque ela tinha o costume de esquecer-se de carregar o celular. Foi para a faculdade. Ao entrar na sala de aula, olhou para a carteira onde Miriam costumava sentar-se, estava vazia. Na hora do intervalo, decidiu ficar sentado na sala de aula, afinal não queria conversar com ninguém. Queria ficar sozinho em silêncio, aproveitaria para estudar para a prova que seria aplicada, após o intervalo. Mas não conseguiu se concentrar na apostila a sua frente. Olhava novamente para a carteira em que Miriam costumava sentar-se. Pensou o quanto era feliz e não sabia. Lembrou-se de todos os momentos que passaram juntos e sentiu uma saudade tão forte, que chegava a doer à alma. Havia um enorme vazio naquela sala. Miriam conseguia preencher qualquer vazio, com sua alegria contagiante. Era muito otimista e decidida em tudo o que fazia. Miriam era o grande amor de sua vida, mas infelizmente nunca tivera coragem de revelar seus sentimentos. Sempre teve medo de que se afastasse dele, quando soubesse que era apaixonado por ela. Já não era paixão o que sentia por aquela mulher, sorriu. Como pude deixá-la partir? Por que não revelei meus

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sentimentos? Por que permiti que fosse embora com aquele cretino? Adam sabia que aquelas perguntas, poderiam ser respondidas com apenas uma palavra, medo de ser rejeitado. Definitivamente não merecia seu amor. Ela estava arriscando sua vida, para acabar com um problema que não era só dela, pois acabar com os vampiros, era um problema de todos. Estava muito envergonhado por tentar dissuadi-la de uma causa tão nobre. Precisava fazer alguma coisa, a fim de ajudá-la. Não poderia se acovardar diante de um problema como aquele. Havia acabado de tomar uma decisão. Quando chegasse em casa, informaria a sua mãe que partiriam para Jundiaí. Ele iria se juntar ao grupo de exterminadores, que Miriam tanto falara. No supermercado, havia uma grande multidão de pessoas fazendo compras. Foi até o armário e vestiu o uniforme. No refeitório, pegou o cartão de ponto e introduziu-o na máquina. Notou que havia um aviso grampeado ao cartão. O Sr. Faisal, pedia-lhe que fosse até sua sala. Meu Deus! Fizera algo errado? Seguiu até o escritório do turco. Bateu na porta. Ela abriu-se no mesmo instante. Notou que o Sr. Faisal, andava de um lado para o outro falando ao telefone, animadamente. Sentei-me na cadeira e aguardei a triste notícia de minha demissão. Aquele homem costumava colocar bilhetes no cartão de ponto, quando decidia demitir funcionários. Ele mesmo costumava grampear esse tipo de recado. Demorou uma eternidade, até que desligasse aquele maldito telefone. Olhou para mim, com uma expressão

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indecifrável no rosto. Enrolou os bigodões, com uma de suas mãos e sorriu. - Você precisa ver depósito de Faisal – disse abrindo a porta. – Venha, olhos de Adam precisa ver o que aconteceu. Seguiu aquele homem com medo. Teve vontade de sair correndo dali. Não tinha a menor vontade de ver o que havia acontecido. Mas precisava ficar e ver com seus próprios olhos, a besteira que havia feito. Chegando ao depósito, notou que estava tudo limpo e organizado. Isso nunca aconteceu desde que havia entrado naquele supermercado. Sempre havia uma grande sujeira, pois os vampiros costumavam quebrar e rasgar todos os produtos que encontravam pela frente. Isso acontecia todas as noites. Andando mais adiante, próximo aonde havia instalado o cofre de prata, notou que havia um vampiro caído frente ao cofre. Tinha as mãos completamente derretidas. Seu rosto estava desfigurado e parecia morto. - Nunca mais Faisal ter prejuízo! Eu compro mais desses cofres e põe mercadorias mais baratas pra venda – disse com seu português indecifrável. - Baixar valor de mercadorias! Faisal não ter prejuízo. Hoje Adam vai ser minha sócio. Mal posso esperar para falar a funcionários de mercado, que não mandar mais pessoas embora. Você faz milagre no mercado. Merece recompensa, por ajudar Faisal no fechar mercado. Adam sempre esperou que o turco reconhecesse seu desempenho. Estava satisfeito por poder ajudá-lo a livrar-se dos grandes prejuízos que tinha todos os dias. Mas precisava fazer muito mais, do que se tornar sócio de um dos maiores supermercados da região.

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- Me sinto lisonjeado por oferecer-me sociedade. Mas estou partindo para o interior. Esse será o meu último dia de trabalho, Sr. Faisal. - Menino não falando sério! – exclamou sem acreditar. – Pensa melhor no oferta de Faisal. Não necessário dinheiro pra ser minha sócio. Adam tem oferta muito boa, não pode perder. - Me sinto grato, Sr. Faisal. Mas preciso fazer algo pelo mundo em que vivo. Vou morar no interior. Lá existe um grupo de exterminadores de vampiros. Quero me juntar a eles. - Faisal sentir orgulho conhecer Adam – disse abraçando-o – Vou levar ideia de Adam para pessoas tem lojas. Falar que Adam inventor do cofre. Mas pensa fazer coisa perigosa, vampiros matar você! - Alguém precisa detê-los, Sr. Faisal. Eles estão aniquilando a raça humana. - Ninguém tem coragem enfrentar vampiros, pois são fortes. Mata pessoas rapidamente. Não faz isso menino, porque é perigoso. Isso vai matar mãe de Adam. - Preciso fazer isso. Alguém precisa começar a fazer alguma coisa ou seremos obrigados a viver em esconderijos a vida inteira. Obrigado por tudo, meu amigo – disse estendendo a mão para Faisal. Faisal apertou a mão de Adam com força e se despediu dele com lágrimas nos olhos. - Faisal sentir falta de você. Adam é como filho para Faisal. Faisal pagou há ele muito mais do que devia. Adam saiu do supermercado feliz. Agora, teria que convencer sua mãe a deixar o esconderijo, para viverem em Jundiaí. Sabia que

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aquela cidade, trazia muitas recordações tristes para ela. Mas tinha certeza que entenderia e o acompanharia nessa louca aventura. Ao chegar próximo de sua casa, notou que os vizinhos estavam na rua. Uma criança correu em sua direção. - Adam, sua mãe foi atacada ontem à noite – disse o menino triste. – Sinto muito! Vovó queria entrar em contato com você, mas não tinha o número do seu celular. - Onde está sua avó? Não deu tempo de o menino responder, pois a avó já estava a sua frente. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados, provavelmente por ter chorado a perda da amiga. - Adam, sua mãe foi atacada. Tentei entrar em contato com você, mas anotei errado o número de seu celular. Fizemos o enterro dela, espero que não se importe. - Gostaria de ter participado – disse chorando. - Mas entendo que não podiam esperar, tia Beth – disse olhando nos olhos da velha vizinha. - Não encontramos a cabeça dela. Vasculhamos cada centímetro do esconderijo de vocês, as ruas vizinhas e nada. Adam não conseguiu dizer uma única palavra. Os vampiros haviam acabado com a única pessoa que tinha na vida. Sentou-se na guia da calçada e chorou muito, tentando aliviar a dor que dilacerava seu coração. Nunca havia chorado tanto em sua vida. - Fique conosco, não é seguro ficar no esconderijo de vocês. Eles podem voltar, Adam. Ele não queria ficar naquela rua nem por mais um

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segundo. Queria ir embora daquele lugar. Agradeceu, mas rejeitou o convite. Disse que dormiria na casa de seu patrão. Voltou cabisbaixo para o supermercado. Não poderia partir naquela noite, pois não daria tempo de chegar antes do pôr-do-sol. No mercado, o turco, observava satisfeito a enorme clientela de seu estabelecimento. Viu que Adam acabara de entrar. Correu em sua direção, bastante animado com esperança de que houvesse mudado de ideia. - Adam, mudar de ideia? - Posso passar a noite em seu esconderijo? – indagou ignorando sua pergunta. - Claro. Acontecer alguma coisa em casa de Adam? – indagou o turco preocupado. - Minha mãe foi atacada ontem à noite – disse com dificuldade. – Amanhã irei para o interior, hoje não será mais possível. Não conseguirei chegar antes do pôr-do-sol. - Faisal sente muito o que acontecer a mãe de Adam. Foi culpa de Faisal – disse amargurado. – Se não fosse com Faisal comprar cofre, mãe de Adam estar viva agora – disse com seu português estranho. O turco sentou-se no chão, colocou as duas mãos na cabeça em sinal de desespero. - Ninguém tem culpa pelo que aconteceu – disse estendendo a mão para ajudá-lo a levantar-se. – Se pensar por esse lado, acabou salvando minha vida. - Faisal pode fazer alguma coisa por Adam? – perguntou preocupado. – Fala o que precisar e Faisal ajuda. Faz enterro de sua mãe.

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- Tudo já foi providenciado. Meus vizinhos se incumbiram dos preparativos. Só preciso de um lugar para passar a noite. - Fica o tempo que precisa no esconderijo de Faisal. Será um prazer ter companhia de amigo – disse abraçando Adam. – Sabe que pode contar com Faisal sempre que precisar. Adam estava arrasado. O turco deu-lhe as chaves de seu esconderijo e mandou-o embora. Percebeu que precisava ficar sozinho. Adam passou o resto da tarde chorando. Por que sua mãe? Era uma pessoa muito boa, não fazia mal a ninguém. Miriam estava certa, alguém precisava fazer alguma coisa. As coisas não podiam continuar desse jeito. Se houvesse partido com Miriam, agora sua mãe estaria viva.

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Fim dos Tempos Capítulo 7

Miriam Miriam havia passado apenas uma semana em Jundiaí. A luta dos exterminadores era constante. De manhã lutavam para acabar com os espiões, à noite exterminavam os vampiros que tentavam invadir a cidade. Não foi fácil chegar até o grupo de exterminadores. Ninguém dizia onde se escondiam, pois tinham receio que fosse uma espiã de vampiros. Decidiu entrar numa escola de artes marciais. Precisa aprender a lutar, a fim de defender-se com maior facilidade dos vampiros. Decidiu sair à caça daqueles malditos seres, sem a companhia de ninguém. Pegou um enorme facão e um machado que comprou na loja da cidade e saiu pelas ruas escuras de Jundiaí. No início sentiu medo de aproximar-se dos vampiros. Mas no terceiro dia, sentia-se mais confiante. Sentia que podia vencer aquela luta. Em menos de uma semana, todos a cumprimentavam na rua com admiração. Havia matado sete vampiros nos três dias que estava na cidade. Descobrira também um espião deles infiltrado na cidade. O delegado o colocou atrás das grades. Assim, conquistou a confiança dos moradores daquele lugar e uma senhora a levou até Israel. Israel era o líder dos exterminadores. Miriam ficou surpresa ao conhecê-lo, pois esperava que fosse um homem forte, alto e musculoso. Mas ele era justamente o contrário

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disso tudo, era baixinho, magro e parecia não possuir força alguma. Mas era inteligente, corajoso e sabia artes marciais como ninguém. Costumava dizer que os vampiros só poderiam vencêlos, se notassem que tinha medo de enfrentá-los. Por isso medo era um luxo, que não poderia fazer parte da vida de um exterminador. Naquela noite, as coisas tomaram um rumo inesperado em sua vida. Sempre sonhara em casar-se, ter seus filhos e viver tranquilamente. Mas seus planos agora eram diferentes, viveria para matar. Sabia que não teria um único dia de tranquilidade em sua vida, enquanto não conseguisse matar todos os vampiros e derrubá-los do poder. O grupo de exterminadores dormia durante o dia e só trabalhava a noite. Rodava toda a cidade, procurando por vampiros, assim a cidade impedia que eles tomassem conta de Jundiaí, como já haviam feito com outras cidades. Miriam havia conquistado a admiração dos habitantes e também havia se destacado no grupo. Todos queriam fazer a ronda a seu lado. Estava correndo o boato de que ela não temia nada. Isso a deixou feliz, pois batalhava consigo mesma todas as noites para vencer o medo. Naquela noite, estava no posto de gasolina, abastecendo um dos carros da ronda, quando decidiu descer e comprar um refrigerante. Ao voltar novamente para o carro, ouviu uma grande gritaria. Notou que havia uma grande quantidade de adolescente. Usavam roupas rasgadas e falavam muito alto. Um deles tinha nas mãos uma garrafa de vinho e empurravam

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com grosseria uma mocinha. De repente, o grupo inteiro avançou em direção da moça. Começaram a arrancar-lhe os membros de seu corpo. Cada um pegou sua parte. Bebiam todo o sangue que escorria do corpo daquela pobre criatura. Logo, apareceram mais grupos. Só então, percebeu que, estavam sendo atacados por um grande número de vampiros. Um deles apontou para o posto e começaram a correr com velocidade assustadora naquela direção. Miriam ficou petrificada. Não conseguia se mexer. Entrou em pânico. - Meu Deus, me ajude – disse olhando para o grupo, que estava cada vez mais próximo ao posto. – Não posso ficar parada aqui, senão morrerei. Miriam tentou colocar a chave na ignição, mas estava tão nervosa, que não obteve sucesso. Suas mãos tremiam demais. - Preciso me acalmar – disse consigo mesma. – Um, dois, três – contou respirando fundo. - Vamos Miriam, coloque a chave com calma no contato – disse tentando controlar o nervosismo. Finalmente conseguiu dar a partida e saiu cantando pneus. Precisava chegar ao casarão e avisar a todos. Chegando lá, percebeu que não havia ninguém por ali. Decidiu falar no rádio amador, mas não sabia como mexer naquilo. Ouviu o barulho de alguém entrando na casa. Correu e se escondeu embaixo de uma mesa. Reconheceu os sapatos de Israel, só então saiu. - Israel, um enorme grupo de vampiros está atacando o

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posto de gasolina. Precisamos avisar aos exterminadores – disse quase sem fôlego. - Eu fui até o posto, para abastecer o meu carro. Vi que atacavam os trabalhadores. Saí daquele lugar, pois não havia mais nada a fazer – Seu rosto tinha uma expressão de dor. - A maioria já estava morta – disse perplexo sentando-se pesadamente numa cadeira a sua frente. - Corri para casa, a fim de avisar a todas as pessoas da cidade e principalmente aos exterminadores. Ele levantou-se e correu em direção ao radioamador. Ligou o aparelho e alertou todas as pessoas da cidade que estavam sendo atacados, por um grande clã de vampiros. Pediu que se trancassem em suas casas. Que usassem facas ou qualquer material pontiagudo para se defenderem. Por sorte a prefeitura, havia comprado radioamador, para as pessoas de baixa renda e agora todos possuíam o aparelho. Resolveram sair da casa, pois seria um alvo fácil para o ataque. Muniram-se com revolveres, e facões pontiagudos. Miriam correu e pegou seu machado e subiu numa árvore muito alta. Logo em seguida, Israel também se juntou a ela. Ficaram perplexos observando o massacre que ocorria na cidade. Miriam olhava para tudo com pavor. Aquilo parecia um filme de terror, digno dos grandes vencedores de bilheteria em Hollywood. Havia muitos grupos e eram infinitamente em maior número e força, do que as pessoas que viviam na cidade. A barbárie se deu por longas horas. As ruas estavam tingidas de vermelho. Havia partes de corpos por toda a rua.

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Eles eram infinitamente fortes, abriam as portas como se estivessem puxando a gaveta de um armário. Ficamos encobertos pelas folhas das árvores. Era um esconderijo perfeito. Não podiam nos ver daquele lugar. Israel tentou descer da árvore várias vezes, mas Catharina o impediu. Se descessem daquela árvore, morreriam como os outros. Estavam cada vez mais violentos. Pareciam estar famintos e descontrolados. Ninguém poderia acreditar que aqueles seres, já foram humanos e civilizados algum dia. Nesse momento, viram a filhinha do vizinho. Mirna deveria ter mais ou menos dois anos de idade. Parecia ter acordado naquele momento. Saiu em busca dos pais, pois gritava por “mamãe”, chorando o tempo todo. Parecia estar apavorada. Aonde teriam ido os pais daquela pobre criança. Com certeza deveriam estar mortos. Israel não se conteve. Correu para tentar salvar aquela pobre garotinha. Catharina tentou impedi-lo novamente, mas ele não ouviu. Israel desceu a árvore rapidamente e seguiu em direção da criança. Nesse instante, um vampiro saiu da casa ao lado. Tinha as roupas completamente sujas de sangue. Ao ver Israel pulou o muro, atacando-o com a criança no colo. Miriam não pensou em mais nada, desceu daquela árvore e com o machado em punho, arrancou-lhe a cabeça. Ele caiu desfalecido no chão. O sol começava a despontar no céu. Nesse momento a rua ficou completamente vazia. Eles estavam abrigados nas casas, para fugir dos raios solares. Aproximou-se de Israel e da garotinha. Notou a abertura de dois orifícios no pescoço de Israel. Ele estava contaminado

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pelo maldito veneno. Em breve se tornaria um deles. Israel era valente e amava as pessoas daquela cidade. Amava seu país, o Brasil. Era o homem mais patriota que já havia conhecido. Era um homem simples, tanto no jeito de falar como no modo que se vestia. Era um verdadeiro democrata. Sempre ouvia a todos. Acatava o que a maioria decidia nas reuniões. Jamais deixou que sua liderança, fosse tomada pelo autoritarismo. Não era um homem feio, mas também estava longe de ser bonito. Era um homem comum. Não gostava de chamar atenção. Tinha dificuldade em lidar com elogios. Não tinha namorada ou esposa, apesar de ter trinta e cinco anos. Miriam sentou-se no chão ao lado de Israel. Ele tinha o olhar pedido, parecia desejar ficar em silêncio. Apenas observando o cenário horripilante a sua frente. Notou lágrimas escorrerem por suas faces. De repente, Israel começou a tremer e bater o queixo, como se estivesse com muito frio. Miriam tirou seu casaco e ofereceu a ele. Mas não adiantou, pois o veneno era o causador desse sintoma. O veneno corria por suas veias, envenenando cada parte de seu corpo. Ambos sabiam que em breve se tornaria um deles. - Os vampiros dominaram essa cidade Miriam – disse batendo o queixo - Lute para que grupo de exterminadores não desista de nossos ideais – disse olhando para ela. - Vamos, prometa-me que fará o que estou lhe pedindo – ordenou nervosamente. Miriam balançou a cabeça afirmativamente. - Eu prometo que continuaremos lutando para acabar

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com todos eles – prometeu segurando suas mãos, que já começavam a ficar frias. - Obrigado, confio em você. Soube desde o primeiro dia, que seria uma aliada fiel – disse segurando seu rosto. – Tenho mais um pedido a fazer. - Pode falar Israel. Farei qualquer coisa para ajudá-lo. - Está vendo aquele machado jogado no chão? – disse apontando para a ferramenta. – Corte a minha cabeça com ele. Prefiro morrer a viver como um deles. Antes, leve a garotinha para trás da árvore. Não deixe que veja essa cena. Procure levá-la pelo caminho oposto a que estão os pais dela. Eles estão atrás da cerca. Infelizmente estão mortos. Miriam levantou-se para pegar a ferramenta. Levou a garotinha para trás da árvore. - Mirna, preste atenção no que vou lhe dizer – disse segurando suas mãos. – Preciso que fique olhando para a rua. Não vire para trás, a não ser que chame pelo seu nome. Se fizer o que estou pedindo, lhe darei essa bala. – disse tirando uma bala que estava no bolso de sua calça. - Está bem, farei o que me pediu. Sabe quando chegarão os meus pais, tia? - indagou a menina mais calma. - Não irão demorar. Depois falaremos sobre isso. Miriam deixou a menina atrás da árvore e seguiu até o machado. Tinha as mãos trêmulas ao pegá-lo. Olhou para Israel. Ele parecia sereno e tranquilo diante da morte. - Adeus, Miriam! Obrigado por atender meu pedido. Miriam levou o machado ao alto e decepou a cabeça daquele corajoso homem. Pela primeira vez, sentiu-se mal por

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matar um vampiro. Prometeu a si mesma, que falaria da coragem e determinação desse maravilhoso homem, quando tudo chegasse ao fim. Todos os que viveram sob sua liderança, jamais o esqueceria. Pegou Mirna e saiu com ela em seu colo. Não fazia a menor ideia, do que iria fazer a partir daquele momento. A única certeza que tinha, era que precisava procurar um lugar para passar mais uma noite. Agora teria a menininha para cuidar. Sorriu ao olhar a garotinha loira de olhos azuis, era tão inocente... Parecia tão tranquila a seu lado... Saiu vagando pelas ruas sem destino. Acreditando que a sorte a levaria a algum lugar. Pediu a Deus, que guiasse seus passos. Por onde passava, havia o sinal da devastação deixada pelos vampiros. As ruas estavam cobertas pela cor vermelha e corpos estavam por todas as ruas por onde passavam. Próximo à pracinha da cidade, avistou alguns sobreviventes do famoso grupo de exterminadores. Agora, mais pareciam pobres coitados. Não havia nada que lembrasse o poderoso grupo, que matava todos os vampiros que encontravam. Não havia o menor sinal dos caçadores impiedosos, corajosos e destemidos. Tudo o que via, eram pessoas amedrontadas e perdidas. Haviam restado pouquíssimas pessoas do grupo. O astro rei, já clareava totalmente a cidade. A noite fora uma luta inglória. Eles atacaram a cidade em grande número. Estavam ferozes e famintos. A falta de sangue nas cidades dominadas os deixou ainda mais ferozes e animalescos.

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Alguns sobreviventes da grande chacina choravam nervosamente. Uns por perderem parentes e amigos, outros por sentirem-se impotentes diante daquele massacre. Era uma cena triste de se ver. No meio da turma, avistou Milena e Cláudio. Ambos estavam sentados no chão, pareciam tristes e desanimados. Aproximou-se deles e assim que Cláudio a avistou, mostrou seus lindos dentes brancos, num sorriso que iluminou tudo a sua volta. Aquilo foi suficiente para que percebesse, o quanto seria difícil arrancá-lo de seu coração. - Estou feliz por vê-la – disse Cláudio levantando-se do chão. – Acho que não aguentaria perder mais ninguém conhecido. - Também estou muito feliz por encontrá-los vivos – disse Miriam, sorrindo. - Venham, precisamos falar com os sobreviventes do grupo - ordenou Miriam. - Agora podemos atacá-los. O sol está reluzente nesse momento. Vamos atacar as casas em que estão escondidos e aniquilar com todos eles de uma só vez. - Você não consegue enxergar que essa é uma luta perdida? – perguntou Cláudio com raiva. – Não consegue enxergar que quase morremos, bancando heróis? Está maluca se pensa que irei continuar com essa maluquice. Milena não falava nada. Estava quieta e cabisbaixa. Parecia ter se assustado de verdade com tudo aquilo. Mas seus olhos se iluminaram ao notar a presença de Mirna. - Quem é essa garotinha linda? – disse aproximando-se e pegando-a no colo. - É a filha do nosso vizinho – respondeu Miriam, olhando

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para a garotinha que parecia não entender nada do que estava acontecendo. - Os pais dela estão mortos? – indagou Cláudio. Miriam apenas balançou a cabeça afirmando. - O que faremos agora? – disse Cláudio limpando a calça com as mãos. - A primeira coisa a ser feita, é procurarmos um lugar para nos escondermos. A noite logo chegará e precisamos encontrar um lugar seguro para passarmos essa noite. Notou que o grupo se aproximava deles. Pareciam interessados no que estava dizendo. - O que vocês acham de procurarmos algum lugar para passarmos a noite? Depois, podemos pensar com calma o que faremos. O que acham? – indagou Miriam, lembrando-se de Israel. - Alguém sabe o que aconteceu com Isa? – perguntou um deles. - Eu sei o que aconteceu. Ele estava junto comigo. Miriam relatou tudo o que havia acontecido. Revelou o desejo de Israel, quanto ao grupo. Nesse momento, viu a chama de extreminador acender dentro de cada um deles. Saíram em busca de algum lugar seguro para passarem a noite. Não havia mais armamento pesado. Apenas facas e facões. Então decidiram que naquela noite, apenas se esconderiam e não os atacariam como das outras vezes. O mais importante no momento, era encontrarem um lugar para se esconderem. Miriam, Cláudio e Milena, já estavam acostumados a fazerem esconderijos. Decidiram cavar um buraco bem fundo.

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Usaram madeiras para cobrirem o buraco, pegaram grama sintética e cobriram o esconderijo. Fizeram uma pequena abertura, numa das madeiras para conseguirem sair. Pegaram grande quantidade de alimentos e se dirigiram para o esconderijo. Pegaram também, cobertores e colchões das lojas. Fizeram um grande buraco no chão, para que usassem como banheiro. Era mais ou menos, quatro horas da tarde e estava tudo pronto. Mirna havia perguntado pelos pais muitas vezes. Agora parecia mais calma. Milena tinha jeito com crianças. Deu leite para a menina e colocou-a para dormir. Passaram a tarde inteira combinando o que fariam se o esconderijo fosse descoberto. Mas na realidade, todos sabiam que se fossem descobertos, morreriam. A noite chegou. Estava chovendo muito. Os trovões faziam grandes estrondos. Mirna havia dormido agarrada ao pescoço de Miriam. Havia algumas goteiras, mas não chegava a incomodar ninguém. Parecia que os vampiros, também não saíram de suas casas naquela noite. Todos pareciam tranquilos. A maioria dormia e quando alguém roncava era acordado imediatamente, não podiam fazer nenhum barulho, pois os vampiros podiam escutar um espirro a quilômetros de distância. O sol apareceu timidamente no céu. Miriam saiu do esconderijo e preparou-se para sair daquela cidade. A maioria dos sobreviventes, optou por fazer parte do grupo, mas alguns decidiram ficar na cidade. Esses infelizmente, acabariam morrendo. Esse era um novo mundo, onde bens materiais não valiam absolutamente

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nada. Mas alguns ainda tinham dificuldade em se adaptar a ele. Muitos morriam por não conseguir largar os bens que haviam juntado a vida inteira. Miriam estava confusa. Nunca pensou em se tornar líder de coisa alguma. Mas era preciso que alguém tomasse a liderança, a fim de evitar a dispersão do grupo. Era necessário também, alguém que orientasse a todos, ou ficariam correndo de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Miriam decidiu comprar alguns jornais. Mostrou ao grupo, uma notícia de primeira página. Havia uma cidade nos Estados Unidos, que ainda não fora atacada pelos vampiros. O grupo decidiu que partiriam para os Estados Unidos. Juntar-se-iam aquele grupo, a fim de ajudar a exterminar os vampiros que tentassem atacar aquela cidade. A cidade em questão era Salt Lake City. Cidade mais populosa do estado de Utah. Os vampiros não conseguiam entrar naquela cidade, ou talvez não tivessem interesse por aquele lugar. A taxa de mortes por ataques vampíricos era praticamente zero. Decidiram partir. Deixariam o Brasil para se unir a um novo grupo de exterminadores. Depois voltariam para o Brasil, com técnicas mais eficazes. Lá aprenderiam como se livrar dos vampiros de maneira mais eficiente. Infelizmente no Brasil, as pessoas haviam se acostumado a viver em esconderijos subterrâneos. Acostumaram-se a ideia de viver com o medo. Estavam se acostumando as mortes. Ninguém tinha coragem de enfrentá-los. Os vampiros estavam cada vez mais violentos. Estavam mais difícil de serem exterminados. Precisavam tomar novos

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ares, se continuassem por aqui, com certeza, acabariam como todos eles, conformados com essa nova realidade. Precisava fugir daqui, não queria se conformar com aquela situação. Precisava salvar o que restou do grupo de exterminadores...

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Fim dos Tempos Capítulo 8

Adam Adam procurou nos jornais notícias do poderoso grupo de exterminadores da cidade de Jundiaí. Seus olhos ficaram paralisados diante das fotos tiradas daquela cidade. Eram fotos sobre o ataque vampírico que fizeram milhares de vítimas. Adam sentou-se na guia da calçada, com mãos trêmulas, segurava o jornal que mostrava as ruas de Jundiaí, tingidas de sangue. Havia corpos espalhados por todas as ruas daquele lugar. O massacre foi grande. Parecia não haver sobrevivido ninguém para contar a história. Aquilo não podia ter acontecido, pensou desesperado. Além de perder sua mãe, havia perdido o grande e único amor de sua vida, Miriam. Precisava fazer alguma coisa. Não podia continuar de braços cruzados, vendo a raça humana ser devastada. Adam ouvira alguém falar sobre a cidade de Peruíbe, litoral Paulista. Muitas pessoas estavam se mudando para lá. Parece que o litoral sul do estado de São Paulo, estava resistindo aos ataques. Ainda havia vida noturna por aqueles lados. As pessoas podiam sair à noite. Esta era sua chance de montar um grupo de exterminadores. As pessoas daquele lugar, ainda não haviam sido contaminadas pelo medo. Adam foi até a rodoviária e comprou uma passagem para Peruíbe. Havia uma grande procura de passagens por aquele lugar. Ficou na fila por horas, mas conseguiu. Não daria tempo para despedir-se do turco pessoalmente. Decidiu pegar

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o celular para despedir-se do amigo. - Consegui comprar minha passagem, Faizal – disse Adam. – Estou a caminho de Peruíbe. Parece que aquele lugar, ainda não foi dominado pelos vampiros. Deveria vir comigo. Você corre perigo vivendo entre eles. - Não pode sair daqui. Minha vida está aqui Adam. Por que não ficar no São Paulo? Aqui poderia ser sócia de Faisal – disse na esperança de fazê-lo desistir. - Não posso, preciso fazer minha parte. As coisas não podem continuar desse jeito. - No jornal, Faisal ver que pessoas lutar contra vampiro, morrer! Isso é perigoso! Não vai, Adam. Fica no São Paulo. – disse o turco preocupado. - Preciso ir meu amigo. As coisas em Peruíbe estão mais calmas. Lá as pessoas ainda não foram contaminadas pelo terror. Então, será mais fácil conseguir pessoas para se juntar ao grupo de matadores. - Sabe que tem um lugar no mercado de Faisal. Quando querer, volta. Boa sorte, amiga. - Obrigado. Nunca me esquecerei do quanto me ajudou. - Eu nunca esqueci que menino, ajudar Faisal não perder o mercado. - Adeus amigo - disse desligando o celular. A viagem foi agitada. Todos estavam preocupados com o horário. Na verdade, ninguém acreditava que em Peruíbe havia vida noturna. Mas todos decidiram arriscar. Ninguém tinha nada a perder, pois na cidade de São Paulo tudo já estava perdido. Ao chegar a Peruíbe, Adam ficou entusiasmado com as

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lindas praias. Parecia estar em outro mundo. O povo daquela cidade não parecia tão assustado, como as pessoas que viviam na capital. Muitos estavam nas praias. O sol brilhava com força, naquele céu azul e límpido, apesar de ser tarde. Não havia sinal de poluição naquele lugar. Estava no paraíso. Se soubesse disso antes, talvez houvesse conseguido salvar sua mãe. Agora era tarde, não havia mais nada a ser feito. Lembrou-se que ela odiava ouvir lamentos. A noite estava se aproximando. Precisava procurar um lugar para ficar. Olhou sem esperança para um rapaz que varria a calçada em frente à padaria. - Boa tarde. Meu nome é Adam – estendeu-lhe a mão apresentando-se. O rapaz apertou-a com um largo sorriso no rosto. – Acabo de chegar de São Paulo. As coisas por lá estão totalmente fora de controle. Como as coisas estão por aqui? - Sou Edgar, muito prazer. – disse cumprimentando-o. Em Peruíbe as coisas são menos perigosas. Encontrará algumas pousadas e hotéis no centro. Precisa ver se ainda possuem vagas. - Por aqui há muitos ataques e saques vampíricos? - Não. Ainda podemos nos dar ao luxo de sair à noite. Mas por prevenção, trancamos as portas e janelas. Há sempre grupos que fazem ronda a noite, afinal ninguém está seguro nesse mundo. - Já houve ataques por aqui? – perguntou Adam - Claro. Existe um lugar no mundo onde aqueles malditos não ataquem? - Conhece algum lugar onde posso ficar?

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- Não tem onde ficar? – indagou desconfiado. - Não. Perdi tudo quando meu esconderijo foi atacado por vampiros. Minha mãe morreu e eu não tenho mais ninguém. Um senhor que parecia ouvir a história se aproximou. - Estava dizendo que não tem onde ficar? – perguntou um senhor idoso, com mais ou menos sessenta anos de idade. - Sim. Preciso de um lugar para ficar. - Tem trabalho, rapaz? - Não. Mas amanhã irei procurar emprego. - O que sabe fazer? – indagou o homem. - Era gerente de um hipermercado em São Paulo. - Tem como comprovar o que está dizendo? - Sim – disse tirando a carteira profissional da mochila. – Olhe minha carteira profissional. Ele pegou a carteira da mão de Adam e conferiu. Depois olhou para ele e pediu que o acompanhasse até sua sala. Adam seguiu aquele homem meio desconfiado. Entrou numa belíssima sala. - Sou o proprietário dessa padaria. Estou precisando de um gerente, pois estou ficando velho e cansado – informou com um sorriso franco no rosto. - Mas não posso pagar a mesma quantia que ganhava – disse desanimado. - Mas posso compensar-lhe, oferecendo um quarto para morar. Venha, vou lhe mostrar o quarto. Adam seguiu o simpático senhor. Ele parou em frente a uma velha porta e abriu-a. Era um quarto pequeno. Tudo muito limpo e organizado. Possuía uma confortável cama e um bom guarda-roupa. Havia também um antigo aparelho de televisão.

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Notou contrariado que não havia uma única janela naquele cubículo. Mas ficou animado com o lugar e a simpatia do velho. Além do mais, aquilo parecia uma mansão visto o esconderijo onde viveu com sua mãe. - Então, irá ficar ou não? – indagou o senhor curioso. - Sim. Combinaram o valor do salário. Não era a mesma quantia que ganhava com o turco, mas dava para viver tranquilamente com a quantia, mesmo porque não teria despesas. Até mesmo a comida era por conta do Sr. Artêmis. O outro rapaz trabalhava como ajudante geral. Também morava na padaria. Seu quarto era tão bom quanto o dele, apenas um pouco menor. O Sr. Artêmis deu-lhe o resto do dia livre, para que arrumasse suas coisas no quarto e descansasse da viagem. Começaria somente amanhã. O pouco tempo que ficou na padaria, permitiu que percebesse que o clima entre os funcionários era muito amistoso. Diferente do hipermercado do Sr. Faizal. Lá cada um fazia seu trabalho. Não havia espírito de cooperação, espírito de equipe. Recordou-se que tentou mudar e propor que trabalhassem em equipe, mas não obteve sucesso. Quando hábitos ruins são arraigados, fica difícil de mudá-los em pouco tempo. Sr. Faizal havia providenciado uma excelente infraestrutura, a fim de facilitar o trabalho de todos. Mas seus funcionários não sabiam aproveitar todos os recursos que tinham em mãos. Cada um fazia apenas sua parte, não se importando com o todo. Com isso, geraram uma enorme

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burocracia em todo o processo, fazendo com que um processo extremamente simples, se tornasse algo complexo. Adam notou que na padaria, não havia nenhuma infraestrutura para facilitar absolutamente nada. Mas o trabalho em equipe se incumbia de tornar as coisas simples e práticas. Sendo assim, o resultado era plenamente satisfatório. Havia uma cooperação natural entre cada setor. Percebeu que todos, ajudavam no setor que mais havia necessidade. O padeiro ajudou a cozinheira na hora do almoço, o rapaz da limpeza, ajudou o garçom a servir os pratos até as mesas e etc. Notou que a clientela, saía da padaria, satisfeitos por serem atendidos prontamente. Não havia espera em nenhum dos setores, apesar de haver poucos funcionários e uma vasta clientela. Todos saíam ganhando no final. Os clientes não esperavam e os funcionários não ficavam sobrecarregados de serviço. Soube que o Sr. Artêmis pagava o melhor salário da região. Reconhecia e vangloriava-se que o sucesso de sua padaria, era devido ao excelente atendimento e a qualidade com que tudo era feito. Reconhecia que o sucesso de sua padaria era devido ao esforço de seus funcionários. Todos vestiam a camisa da empresa e faziam o que era preciso para que tudo fosse feito, com excelência e praticidade. Estava feliz por ter a oportunidade de fazer parte daquela equipe. Mas como nem tudo é perfeito, o Sr. Artêmis tinha problemas seríssimos em sua vida pessoal. Havia perdido a esposa há três meses. Ela foi uma das poucas vítimas dos vampiros naquela cidade.

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Seu único filho era um problema constante. Tinha mais de trinta anos, usava drogas e não havia se casado. Ainda morava na casa do pai e como não trabalhava, era sustentado pelo Sr. Artêmis. Sua esposa fora atacada por que estava procurando pelo filho. Saíra de madrugada, escondida do Sr. Artêmis. Ele havia prevenido que não seria seguro sair em busca de Júlio. Mas ela estava muito preocupada e decidiu não lhe dar atenção. Acabou morrendo vítima de um ataque vampírico. Desse dia em diante, as pessoas da padaria verificaram o grande esforço que Júlio fazia para mudar de vida. Todos notaram que se sentia culpado pelo que aconteceu a sua mãe. Decidira mudar de vida, mas o pai havia perdido a confiança nele, culpava-o pelo que havia acontecido a esposa. Naquela tarde, Júlio apareceu na padaria. Estava ajudando no balcão, quando o pai chegou. O Sr. Artêmis o colocou para fora, acusando-o de querer roubar seu caixa, pois isso já havia acontecido algumas vezes. Fazia três semanas que havia chegado a Peruíbe. Estava se adaptando a sua nova vida. Às vezes chorava muito ao recordar-se da mãe e de Miriam. Mas sabia que não poderia viver se lamentando. Hoje era seu dia de folga. Estava deitado na cama assistindo televisão. As notícias não eram boas. A cidade de São Paulo estava totalmente dominada pelos vampiros. Já não havia necessidade de espiões, esses estavam sendo devorados por eles, pois a maioria das pessoas havia abandonado a cidade. Então, começaram a atacar as cidades litorâneas. Adam

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ouviu bater em sua porta. Levantou-se para atender. Levou um susto ao se deparar com Júlio. - Desculpe incomodá-lo em seu dia de folga, Adam – desculpou-se Júlio. - Não há problema algum. Aconteceu alguma coisa? - Não. Só precisava de um amigo para desabafar – Disse entrando no quarto. - Depois que abandonei as drogas, não tenho mais amigos – sorriu com tristeza. - Em que posso ajudá-lo? - Meu pai tem grande admiração por você. Percebo que gostaria de tê-lo como filho. Mas infelizmente, sou o único filho que ele tem nessa vida – sentou-se na cama. – Poderia me ajudar a conquistar a confiança de meu pai novamente? O que posso fazer? - Gostaria de poder ajudá-lo, Júlio – disse em pé ao lado da porta. – Mas infelizmente não sei como fazer isso – disse pensativamente. – Você abusou da confiança que ele tinha em você. Não é com conversa que conseguirá convencê-lo, mas através de suas atitudes. - Não posso trabalhar aqui, porque ele cismou que desejo somente roubar o caixa da padaria. Não sei o que fazer. Desde a morte de minha mãe, me arrependo todos os dias pelas coisas que fiz. Não posso trazê-la de volta, mas preciso fazer alguma coisa para conquistar o perdão de meu pai. - Fico feliz ao ouvir que pretende mudar. Mas precisa saber que sua mudança, não deve ser por causa de seu pai ou qualquer outra pessoa. Precisa mudar, porque isso fará bem a você mesmo.

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- Tem razão. - Estava ouvindo o noticiário. Ouvi dizer que os vampiros estão se voltando para atacar as cidades litorâneas. Parece que a cidade de São Paulo foi totalmente devastada, não há mais pessoas naquele lugar. - Verdade. - Eu vim para Peruíbe, a fim de montar uma equipe de exterminadores de vampiros. Perdi minha mãe e uma amiga por causa desses malditos infames. - Nem me fala... Perdi minha mãe por causa deles também. - Sabe onde posso encontrar pessoas com o desejo de atacá-los? Agora que estão a caminho do litoral, precisamos nos unir, a fim de impedi-los. - Gostaria de fazer parte desse grupo. - Poderia me ajudar a formar uma equipe? Afinal, você conhece muitas pessoas na cidade. - Sim. Se quiser podemos sair agora. Adam e Júlio saíram da padaria. O sr. Artêmis sorriu satisfeito ao ver o filho em companhia de Adam. Talvez agora, ele estivesse realmente desejando mudar sua vida, sorriu satisfeito. Júlio soube que houvera ataques na noite anterior. Procurou por alguns amigos, mas a maioria não atendia a porta ou mandava dizer que não estava. - Eu sei que eles estão em casa. Mas não os culpo por não me receberem, talvez pensem que vim pedir dinheiro. Já fiz isso outras vezes. - Pelo jeito nossa missão não será fácil – disse batendo

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nos ombros de Júlio. – Mas não podemos desistir. Os vampiros já começaram sua onda de ataques pela cidade. Quanto mais cedo montarmos a equipe de exterminadores, maiores as chances de evitar o caos que aconteceu em São Paulo. Um rapaz se aproximou deles, parecendo constrangido. - Desculpe, mas não pude deixar de ouvir o que diziam – disse timidamente. – Meu nome é Rogério – disse estendendo a mão. - Vocês estavam dizendo que pretendem montar uma equipe para combater os vampiros? - Sim. Estamos à procura de pessoas para acabar com os vampiros. Infelizmente, não há lugar para as duas espécies. Eles deixaram isso bem claro ao atacar e devastar a cidade de São Paulo. Precisamos evitar que também acabem com a cidade de Peruíbe. Vim de São Paulo, perdi minha mãe e uma amiga maravilhosa – disse Adam emocionado. – Vim para cá para montar uma equipe de exterminadores. Não posso vê-los acabando com mundo, sem fazer nada. - Gostaria de me juntar a vocês nessa missão. O pai de meu amigo foi uma das pessoas atacados por esse bando miserável, ontem à noite. Tenho certeza, que podemos juntar um grupo de pessoas em pouco tempo. - Então, o que estamos esperando para falar com seu amigo? – disse Adam animadamente. Adam estava animado. Rogério conhecia muitas pessoas. Ele parecia ser um excelente rapaz. Conseguiram um grande número de pessoas rapidamente para se juntar aquela causa. Mas as pessoas pareciam desconfiadas da mudança repentina de Júlio. A reunião começaria amanhã. Adam teria que pesquisar

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durante a noite como agiriam, mesmo porque, não fazia a menor ideia de como destruí-los. Precisava tomar muito cuidado, pois não sabia o que fazia mal a ele, já que fazia parte das duas espécies. Júlio e Adam caminhavam animadamente em direção à padaria. Todo o comércio fecharia às dezoito horas. Pois todos estavam apavorados com a onda de ataques da noite anterior. - Eu estou feliz por tê-lo conhecido, Adam – disse caminhando. – Você percebeu que ninguém presta atenção no que digo? – disse desanimado. – Pelo jeito não tenho que provar só ao meu pai minha mudança. A missão que tenho é muito maior, terei que provar a cidade inteira. - Júlio, não tem que provar nada a ninguém – disse fitando-o seriamente. – Precisa provar somente a você mesmo, que realmente mudou. Júlio sorriu, balançou a cabeça concordando. - Gostaria que as pessoas pensassem como você. No fundo, elas esperam que eu prove alguma coisa. Ao chegarem, a padaria estava lotada de clientes. Todos haviam deixado para comprar as coisas na última hora. Adam correu para ajudar no Balcão. Júlio olhou para o pai e perguntou timidamente se poderia ajudar. - Júlio, eu prefiro que fique longe da padaria. Já me deu prejuízos demais! - gritou nervoso. Júlio deixou a padaria ressentido. Os funcionários ficaram comovidos, com a tristeza com que o rapaz deixou a padaria. Mas ninguém falou absolutamente nada. Perceberam também que o Sr. Artêmis, parecia muito triste depois do ocorrido.

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Todos haviam saído. Adam estava fechando as portas do estabelecimento, quando o Sr. Artêmis, apareceu ao seu lado. - Adam, preciso dizer que Júlio não é um homem de confiança. Não empreste dinheiro a ele. - Eu sei que ele já errou muito. Ele próprio me confessou. Mas desde a morte de sua esposa, disse que tem se esforçado muito para mudar – informou Adam. – Parece sincero. - Ele sempre diz isso, quando apronta – piscou. - Eu não sei como foi das outras vezes, mas prefiro acreditar nele. Sinto que tem o desejo de mudar. Passamos a tarde juntos, me pareceu honesto. - Não acredito mais em suas histórias. - Sei que não deve ser fácil acreditar no que ele diz, mesmo porque, já aprontou diversas vezes. Mas acredito que será mais fácil para ele mudar, se encontrar um pouco de apoio. Se virarmos as costas para ele, será ainda mais difícil que ocorra alguma mudança. - Você diz isso, porque não sabe das coisas que já fez – acrescentou balançando a cabeça. - Em todo caso, prefiro acreditar que está falando a verdade. Estamos montando um grupo para atacar os vampiros. Ele irá participar desse grupo. - Está falando sério? – indagou incrédulo. - Sim. Ele parece determinado em vingar-se da morte da mãe. - Gostaria de poder acreditar nele, tanto como você – disse o velho partindo tristemente. Adam pegou seu notebook e fez uma pesquisa

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minuciosa sobre vampiros. Precisava saber como atacá-los, quais seus poderes e fraquezas. Decidiu que ensinaria artes marciais e como manejar um facão com agilidade. Infelizmente o sol não poderia ajudá-los, pois os ataques de vampiros costumavam ser no período da noite. Atacá-los a noite era perigoso demais, visto que eram muito mais ágeis e fortes que os humanos, mas não havia outra opção. Soube que um cientista brasileiro, tentava reproduzir um líquido semelhante ao sangue, mas até o presente momento, não havia conseguido nenhum avanço significativo. Muitos outros países lutavam para conseguir tal façanha, mas até agora, ninguém conseguiu produzir nada que pudesse substituir o sangue. Enquanto isso, a raça humana ia se extinguindo dia a dia.

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Fim dos Tempos Capítulo 9

A equipe No dia seguinte, a notícia de grandes ataques vampíricos corria por toda a cidade. Haviam feito um grande número de vítimas. As pessoas estavam preocupadas e começavam a pensar em deixar a cidade. Júlio entrou na padaria procurando por Adam. Parecia não ter dormido durante a noite, pois tinha enormes olheiras ao redor dos olhos. - Adam, houve muitos ataques de vampiros durante essa noite. Precisamos tentar descobrir o esconderijo desses malditos. Eles saquearam alguns comércios. Você não faz ideia, dos prejuízos que os comerciantes tiveram. Por sorte, não invadiram a padoca do meu pai. - Infelizmente não poderei sair agora, pois tenho que cumprir meu horário de trabalho. Só poderemos nos reunir quando for almoçar. Podemos nos reunir no meu quarto ou em qualquer outro lugar. O Sr. Artêmis olhava para Júlio o tempo todo. Ouviu a conversa e se aproximou de Adam. - Adam, vá se juntar ao grupo. Reúna todos os exterminadores e comecem a montar uma estratégia. Ficarei em seu lugar. Esse serviço é mais importante do que qualquer outra coisa – disse Artêmis pegando o papel das mãos de Adam. – Eu posso fazer isso. Vá antes que mude de ideia – disse sorrindo. Saíram da padaria e seguiram para reunir o grupo. Em

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poucos minutos, estavam todos na Igreja. O padre havia permitido que usassem a paróquia para se organizarem. A notícia sobre um grande número de exterminadores, havia se espalhado rapidamente por toda a cidade. Havia muitas pessoas curiosas, a fim de saber quem estava à frente daquele grupo. Adam, Júlio e Rogério estavam no púlpito da Igreja. Havia mais ou menos trinta pessoas, aguardando o início da reunião. Todos pareciam admirados, com a presença de Júlio a frente daquele grupo. Algumas senhoras se juntaram e trouxeram alguns petiscos e sucos para contribuir de algum modo, com o corajoso grupo de jovens. - Quero que saibam que essa luta não será fácil – constatou Adam. - Correremos risco de vida. Mas para mim, é melhor morrer lutando, do que ficar sentado esperando a morte chegar. Não haverá individualismo nessa batalha. Tudo o que for feito, será de acordo com a aprovação da maioria. Assim não existirão culpados ou heróis individuais. Precisamos salvar essa cidade. Precisamos impedir que dominem Peruíbe, como fizeram com a cidade de São Paulo. - Precisamos começar o mais rápido possível – acrescentou Júlio. – Não podemos esperar que continuem matando as famílias de nossa cidade. - Então, quem está dentro dessa loucura? – indagou Rogerio. Todos sem exceção levantaram as mãos. Júlio parecia empolgado por fazer parte da equipe. Pela primeira vez em sua vida, notou que algumas pessoas pareciam admirar sua atitude.

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Júlio também havia feito pesquisas, sobre os pontos fracos dos vampiros. Havia conseguido alguns revólveres e balas de prata, com uma fábrica de armamentos bélicos. Rogério providenciou alguns facões e machados. Mas ainda não era suficiente para todos. Precisariam de mais armamentos. Adam propôs que fossem a cidade e tentassem arrecadar dinheiro ou armamentos com os comerciantes locais. A maioria aceitou a ideia e partiram para a difícil empreitada de conseguir algum dinheiro. Para a surpresa da maioria do grupo, todos já sabiam o que pretendiam fazer, não foi difícil arrecadar dinheiro e armamentos para aquela missão. Decidiram que começariam aquela noite. Dividir-se-iam em quatro grupos. Depois foi proposta uma votação, para a escolha dos líderes de cada grupo. Ao fazerem a contagem dos votos, Júlio não conseguiu segurar a emoção, por ter sido um dos escolhidos. - Obrigado por acreditarem em mim – disse limpando as lágrimas com a palma da mão. - Prometo não decepcioná-los. A partir daquele momento, as pessoas que ainda tinham algum tipo de desconfiança em relação à mudança de Júlio, decidiram apoiá-lo. Adam notou com satisfação, que ele estava conseguindo recuperar a confiança das pessoas. O primeiro grupo era liderado por Adam, o segundo por Júlio, o terceiro por Rogério e o quarto integrante dos líderes era uma mulher, Maebi. Era admirada e quase idolatrada por todos naquela cidade. Era uma mulher muito bonita. Era do tipo mignon, olhos e cabelos castanhos e feições muito delicadas. As pessoas da cidade confiavam nela, pois havia entregado o próprio pai,

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quando esse matou o irmão recém-nascido. As pessoas sabiam que o pai de Maebi, era um homem muito rude e violento. Todos tinham medo do Sr. Inácio. A maioria sabia o que ele havia feito. Mas ninguém tivera a coragem de entregá-lo a polícia. Maebi estava cansada de ver a crueldade de seu pai. Ele costumava espancar a esposa e os filhos com frequência. Era um homem grosseiro e impiedoso. Certo dia, decidira que aquele bebê não era seu filho. Bateu em sua esposa, quase matando-a. Até que um dia, chegou muito bêbado e jogou a criança contra a parede com violência. Disse que não aguentava aquela criança bastarda berrando em seu ouvido. O bebê foi internado no hospital. Ficou meses na U.T.I. (Unidade de Terapia Intensiva). Havia fraturas por todo o corpo, inclusive no crâneo. A mãe havia alegado que a criança havia caído da cama. Uma vizinha que presenciara o ocorrido comentou com algumas pessoas. Em pouco tempo a cidade inteira sabia o que havia acontecido, mas ninguém fez absolutamente nada. A cidade ficou comovida quando o bebê entrou em óbito. Ninguém tinha coragem de denunciá-lo, tinham medo de sua fúria, caso não fosse preso. Até mesmo os policiais, sabiam do que havia acontecido, mas fingiam que não sabiam de nada. Maebi decidiu que faria o exame de DNA, mesmo com a criança estando morta. Precisava passar na cara dele, que havia matado o próprio filho. Quando o exame saiu. Voltou correndo para casa e contou a sua mãe o que pretendia fazer. - Filha seu pai é muito perigoso. Não faça isso, pelo amor de Deus – suplicou a mãe.

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Ele chegou naquele exato momento. Seus olhos pareciam soltar faíscas. - O que deseja me dizer, Maebi? – indagou com raiva. - Que você é um assassino maldito, pois matou seu próprio filho – disse entre os dentes. - Como sabe que o filho era meu? – indagou com sarcasmo. - Olhe com seus próprios olhos – disse entregando o exame de DNA da criança. Ele pegou o papel e passou os olhos rapidamente, demonstrando desinteresse. - Não gostava daquela criança. Mesmo que fosse meu filho, não vou morrer de trabalhar para sustentar mais um inútil dentro dessa casa. Ela não podia acreditar no que havia acabado de ouvir. Saiu de sua casa e foi direto a delegacia. Denunciou o pai por assassinato. Ele foi preso. Alguns meses depois, a cidade inteira comentava que ele havia se arrependido. Maebi foi fazer-lhe uma visita na cadeia. - O que faz aqui? – disse com grosseria. - Vim vê-lo apodrecer atrás dessas grades – disse Maebi. - Eu me arrependo do que fiz. - Você se arrepende de ter matado seu filho? – indagou incrédula. – Ou apenas se arrependeu do que fez, porque está preso? - Das duas coisas. - Deve estar satisfeito. Nunca deu valor a sua família. Sempre odiou cada um de seus filhos. Consegue se lembrar de

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pegar um filho no colo? De dizer palavras que não fossem ofensivas? De abraçar algum de nós? – Aguardou por uns instantes para ver se dizia alguma coisa. - Não. - Então, agora que está longe de nós, deveria estar feliz. Agora não tem mais família. É um homem só. Destruiu o amor que todos tínhamos por você, quando matou meu irmão. Agora, a vida lhe reservou a solidão, pois bichos como você nasceu para viver só. Saiu da delegacia com a cabeça erguida. Já não sentia ódio de seu pai, apenas sentia pena daquele pobre homem. Nunca mais ninguém o visitou. Ele morreu sete meses depois, com uma depressão avassaladora. Os policiais costumavam dizer, que ele chorava todas as noites. Maebi era uma guerreira. A vida lhe ensinara a enfrentar as diversidades muito cedo. Vivendo sob a tirania de seu pai, aprendeu a viver sem medo. Costumava dizer que era filha do Sr. Inácio e ter um pai como aquele, era preciso viver enfrentando o medo constantemente. Então, o que para os outros era uma situação difícil, para ela era uma situação corriqueira. Foram comprar mais armamentos. Depois decidiram dividir, tudo o que haviam conseguido entre os quatro grupos. Marcaram a zona em que cada grupo atuaria. Se reuniriam novamente às seis horas da tarde em frente a catedral. Precisariam se alimentar para iniciar a caça aos vampiros. Adam e Júlio seguiram para a padaria. Os funcionários pareciam orgulhosos ao verem Júlio entrar. Seu pai estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. As pessoas da cidade

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vieram cumprimentá-lo, pela atitude de coragem de Júlio. Júlio esperou que o pai viesse lhe dizer alguma coisa, mas apenas o olhou de forma desconfiada. E depois pediu que servissem o jantar para Adam e Júlio. Quando haviam terminado de jantar, o Sr. Artêmis, pediu a Adam que o seguisse até sua sala. Ao chegarem na sala, pediu que sentasse. - Adam, desejo sorte a todos vocês. Estou feliz por Júlio tê-lo como amigo, talvez assim ele consiga se libertar de seus erros e vícios – disse sentando-se na cadeira. – Gostaria que soubesse que estou orgulhoso de Júlio, mas não quero que ele perceba, talvez assim consiga ter raiva suficiente para me provar, que estou errado por não acreditar em sua mudança, e talvez assim, consiga mudar de verdade. - Fique tranquilo que jamais revelarei o que o senhor acabou de confessar. - Obrigado. Vá, pois terão uma longa noite pela frente. Adam voltou a mesa e notou que Júlio parecia chateado. - Meu pai estava dizendo a você que não sou boa companhia. Não é? - Claro que não. Apenas desejou boa sorte ao grupo. Depois recomendou que tivéssemos muito cuidado. Ele balançou a cabeça e sorriu. - O velho é barra! – disse chateado. – Nunca irá me perdoar. Ele acha que sou culpado pela morte de minha mãe – disse levantando-se da cadeira. – Acho que ele tem razão. Se não houvesse saído aquela noite, ela estaria conosco nesse momento. - Não pode viver se lamentando. Minha mãe dizia, que

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as pessoas perdem tempo demais se lamentando. Precisamos fazer coisas, que nos faça feliz, lamentar não trás felicidade a ninguém. Ele sorriu escancaradamente. - Sua mãe está certa, cara! – disse seguindo em direção ao balcão. – José me serve um guaraná bem gelado. Adam aguardou que Júlio terminasse seu refrigerante. Seguiram em direção a catedral. Já havia um grande número de pessoas aguardando. Fizeram um sorteio para ver quem ficaria na zona mais perigosa. Júlio foi o sorteado. Os grupos seguiram para a área demarcada pelo sorteio. Júlio estava ansioso para começar aquela aventura. Entraram num carro e começaram a rodar por toda a cidade. Andaram todos os luagres e nem sinal dos vampiros. Decidiu parar um pouco e desceram do carro para esticar as pernas.. O Celular de Júlio tocou. Ele atendeu prontamente. - Alô! Quem está falando? – indagou curioso. - É o Edgar que trabalha na padaria do seu pai. Estão tentando entrar na padaria, Júlio. Estão fazendo uma barulheira danada na porta – Ouve um minuto de silêncio. - Estão tentando arrombar a padaria. Eles estão quase conseguindo abrir a porta de ferro – gritou desesperado. - Fique escondido. Chegaremos em poucos minutos – disse desligando o celular. Olhou para seu grupo e sorriu. - Vamos, estão tentando entrar na padaria de meu pai. Um funcionário que dorme por lá, acabou deligar. Estão tentando saqueá-la.

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Todos pareciam petrificados com a notícia. Júlio sorriu diante de tal reação. Tentou chamá-los de volta ao planeta terra, mas pareciam estátuas tomadas pelo terror. Apenas sorriu e seguiu sozinho até o carro. Quando estava para dar a partida, notou que um rapaz batia no vidro. - Júlio, abra a porta – ordenou Lucas. – Fiquei um pouco assustado com a notícia, mas não posso deixá-lo partir sozinho. Júlio sorriu abrindo a porta. Saiu cantando os pneus. Ao chegar em frente à padaria, ficou apreensivo ao notar que já haviam arrombado a porta. Pedia a Deus que não tivessem encontrado o Edgar. Saiu do carro correndo. Pegou o revólver e conferiu para ver se estava carregado. Entrou na padaria e não viu nenhum deles. Correu em direção aos quartos, que havia no fundo daquele estabelecimento. Não havia nenhum deles por lá. Abriu a porta de Edgar, mas a luz estava apagada. - Edgar? gritou. - Estou aqui, Júlio – disse com voz rouca, uma voz muito diferente da voz de Edgar. Não era seu amigo, estava certo disso, pois de Edgar era seu amigo desde a infância. Olhou devagar para cima. Lá estava um homem grudado ao teto, parecendo um lagarto. Seus olhos eram vermelhos, pareciam soltar faíscas. A besta pulou ferozmente sobre ele. Não pensou duas vezes, atirou três vezes mirando no coração do vampiro. A fera caiu morta no chão. Nesse momento, ouviu um barulho atrás dele. Virou-se e atirou prontamente. Por sorte, errou o alvo, senão teria matado Lucas.

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- Júlio, está louco? - indagou colocando a mão no coração. - Precisa tomar cuidado, Lucas! – exclamou colocando munição na arma. Fez sinal de silêncio para Lucas – Abriu bruscamente a porta do quarto de Adam. - Nós estávamos esperando por você – disse dois vampiros, segurando Edgar pelo pescoço. – Hoje você não escapará, filho do poderoso Vlad IV. - Desculpe, deve estar me confundindo – disse atirando na cabeça do vampiro. A bala de prata começou a corroer aquele corpo, como se fosse algum tipo de solda. O outro correu e pegou Edgar pelos cabelos. Mas Júlio mirou em sua testa e apertou o gatilho. Acertou a fera. Espirrou sangue preto por todos os lados daquele quarto. A prata corroeu a cabeça daquele ser maldito. Sua cabeça derretia como se fosse um sorvete. O cheiro era insuportável. Prendeu o nariz com os dedos, a fim de amenizar o cheiro podre, que exalava daquele corpo. No final, havia somente as roupas usadas por aquele ser sombrio. - Do que ele estava falando? Indagou Júlio confuso. – Quem é esse tal de Vlad IV? Quem é o filho do tal poderoso Vlad? - Sei lá, deve ser doido! – disse Edgar visivelmente abalado. – A única coisa que sei nesse momento, é que não ficarei mais nesse lugar nem por um minuto. Júlio tentou acalmá-lo sem sucesso. Já havia decidido pedir demissão pela manhã. Saiu do quarto de Adam em companhia de Edgar. Lucas parecia ter virado estátua. Não conseguia se mexer. Havia

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pavor em seus olhos. - Lucas – disse sorrindo. – Está vivo ou decidiu fazer companhia aos vampiros? – brincou. Ele parecia tão assustado, que não conseguiu responder sua pergunta. Parecia uma estátua. Júlio foi até a cozinha da padaria, pegou um copo com água, colocou um pouco de açúcar e entregou para Lucas. - Beba – ordenou. – É água com açúcar, dizem que ajuda a acalmar. - Você é muito maluco, Júlio. Não ficou com medo? - Fiquei morrendo de medo – mentiu. – Mas se ficasse parado, ele nos mataria. - Me perdoe, acho que não consigo matar ninguém, nem mesmo os vampiros – disse envergonhado. - Não precisa se desculpar. Dá próxima vez será mais fácil – disse saindo em direção à porta. Ouviram gritos que vinha do final da rua. Era a casa de um viúvo. Havia uma grande quantidade de vampiros em frente a casa do pobre homem. Notou que havia mais ou menos, sete ou oito deles. - Malditos! - Falou entre os dentes. – Vamos, Lucas. Agora não dá pra ficar paralisado. Se isso acontecer, morreremos. - Fica tranquilo, Júlio. – garantiu Lucas. – Agora as coisas ficarão boas. Se você conseguiu matar dois deles, juntos poderemos acabar com muito mais – disse correndo em direção ao final da rua. Júlio sorriu e acompanhou Lucas em sua corrida destemida.

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- Uhuuu! Vamos matar esses malditos – disse atirando na direção dos vampiros. – Se preparem para morrer, seus malditos. Lucas acertou um deles com sua arma. Viu que o maldito caiu no chão. Júlio pegou seu machado e acertou na cabeça de um deles. O outro pulou sobre o muro com velocidade assustadora. - Se não soubesse que é um vampiro, pensaria que estava possuído pelo capeta, maldito – disse Júlio, olhando para o vampiro que estava andando sobre o muro. Adam o acertou derrubando-o do muro. Nesse momento Lucas virou em sua direção e mirou o revólver. - O que está fazendo, Lucas? – disse Adam , assustado. Ele apenas apertou o gatilho e a bala passou de raspão sobre sua cabeça, acertando o vampiro que estava atrás dele. Adam olhou aliviado ao notar que a fera, caiu inerte no chão. Era maravilhosa a sensação de vê-los sofrer. Eles derretiam como vela, quando a bendita prata entrava em contato com seu corpo. - Cuidado, Lucas – gritou Edgar atirando no vampiro que se jogara sobre Lucas. Adam decepou a cabeça do último deles, com seu precioso machado. Quando todos os vampiros foram aniquilados, o viúvo e suas filhas pareciam aliviados. Batiam palmas, freneticamente. Uma cena muito engraçada de ser vista. - Você é muito doido, Júlio – disse uma delas. – Parece que não tem medo da morte!

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- Aliás, todos vocês parecem malucos – disse o pai das meninas. – Estão de parabéns. Muito obrigado, por salvar minha família. Júlio saiu caminhando lentamente. Parecia andar sobre nuvens. Havia sido elogiado por pessoas que a vida inteira, havia falado coisas ruins a seu respeito. Ouviu o celular tocar. Olhou no visor. Era Adam. Atendeu. - Corre com seu grupo para cá, Júlio. Meu grupo correu ao ver o primeiro grupo de vampiros. Estou completamente só. Tem um grupo grande de vampiros, atacando casas de Itariri. Preciso de ajuda, pois são mais de vinte vampiros. - Estaremos aí em quinze minutos. Ligue para Rogério e Maebi também. - Já fiz isso, mas só consegui falar com você e Maebi. Infelizmente, Rogério não atende o telefone. Júlio desligou o telefone e seguiu em direção a Itariri. Levou consigo somente Lucas. Edgar decidiu que não iria mais fazer parte daquela loucura. Confessou que não era tão louco, pois tinha medo da morte. Então agradeceram por sua ajuda e partiram. Ao chegarem, avistaram Adam e Maebi aguardando sua chegada. - Demorou muito, Júlio! – disse Adam nervoso – Onde está o seu grupo? - Grupo – disse sorrindo. – Que grupo? – Sobrou apenas Lucas. Vamos parar de conversar e entrar logo naquela casa, antes que devorem todos por lá – disse correndo pela rua. Adam, Maebi e Lucas se olharam e sorriram. Saíram e

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correram atrás de Lucas. Ao chegarem ao portão, se abraçaram. Então, entraram bruscamente na casa. Tudo estava revirado naquele lugar. Haviam jogado os móveis, eletrodomésticos, rasgado almofadas... O caos estava por todos os lados. Era um clã destrutivo. Parecia um bando de loucos. O silêncio era irritante. Não conseguiam saber, em que parte da casa eles se encontravam. Adam ficou assustado, quando Maebi levantou a arma em sua direção. Ela mirou e atirou rapidamente. Apenas sentiu que garras enormes bateram em suas costas. Virou-se e observou que um vampiro muito velho estava atrás dele. Por pouco não arrancou sua cabeça com aquelas enormes garras afiadas. Maebi atirava sem parar, havia muito deles grudados no teto. Aquele barulho alertou os demais. Rapidamente a sala estava tomada por aqueles seres sombrios e furiosos. - Estão procurando por nós? – indagou um deles. – Estamos aqui, por que não vem nos pegar. Maebi disparou sua arma em cima deles, mas eram rápidos demais e não estavam conseguindo acertá-los. Isso parecia diverti-los. Nesse momento, Lucas puxou seu machado, correu em direção deles. Conseguiu decepar a cabeça de um deles e não parou mais de decepar cabeças. Não havendo tempo para carregar a munição dos revólveres, Adam e Maebi pegaram seus machados e facões cortando cabeças e membros de vários deles. Sobrara apenas dois, que fugiram com extrema rapidez, em direção ao andar superior da casa.

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Subiram para exterminar com os dois vampiros que haviam escapado. Abriram diversas portas e não encontrou ninguém. Na última porta daquele corredor, ao abrirem, ouviram um grito aterrorizado. Notaram que a voz vinha debaixo da cama. Adam abaixou-se e viu que toda a família se escondia ali. A família parecia aliviada ao vê-los. Saíram do esconderijo e desceram até a sala. Ficaram surpresos com a grande quantidade daqueles malditos seres estirados no chão. O cheiro daquela casa virava o estômago. Decidiram sair dali. Ao saírem, o homem apontou para cima do telhado de sua casa. Lá estavam os dois vampiros fugitivos. Eles andavam sem dificuldade em cima do telhado. Maebi pegou sua arma e atirou contra eles. Mas com rapidez desceram as paredes como se fossem aranhas. Em poucos minutos, estavam embaixo. Lucas pegou seu machado e acertou a cabeça de um deles. Júlio arrancou a cabeça do último vampiro. O pai da família, caiu de joelhos e agradeceu ao grupo. - Não sei como agradecer por salvar minha família. Digam-me, como posso ajudá-los? - Apenas reze por nós! – disse Maebi, sorrindo. - Peça a Deus que nos dê sabedoria e forças para continuar essa batalha. - Mas pelo que ficamos sabendo, havia mais pessoas fazendo parte desse grupo. Não me digam que os vampiros mataram todos eles? – indagou uma garotinha. - Felizmente, não estão mortos. Mas ficaram muito assustados e deixaram o grupo – disse Lucas com o rosto

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coberto de sangue. – Onde posso lavar meu rosto? - Venha, vou levá-lo ao banheiro para que lave seu rosto – disse uma das filhas do homem. - Mais alguém gostaria de limpar-se? – disse uma senhora, olhando para o grupo que estava com rosto, mãos e roupas imundas. Havia sangue por todos os lados. Era um sangue preto, fétido e de espessura muito grossa. - Agradecemos, mas precisamos voltar para nossa casa – disse Adam, olhando para o céu que começava a aparecer os primeiros raios solares. Eles entraram nos automóveis e partiram em direção ao centro. Lucas convidara-os para tomar café. Ele era muito rico. Herdaria um verdadeiro império de restaurantes no litoral. - Eu pagarei pelo café – disse Lucas sorrindo, pois sabia que alguns deles, não tinham onde cair morto. - Vamos para a padoca do Sr. Artêmis. Sei que o pão daquele lugar é o melhor da cidade. Além do mais, impedimos que fizessem um verdadeiro arrastão por lá. Então, deve estar tudo em ordem e poderemos nos deliciar com aquele pão maravilhoso. Ao chegarem à cidade, as pessoas já os aguardavam. Haviam preparado uma verdadeira festa. Foram recebidos como heróis. Estavam sendo chamados de “Quarteto fantástico”. O pai de Júlio estava visivelmente orgulhoso do filho. O pessoal do final da rua, havia narrado como Júlio partiu para cima dos vampiros. Os desistentes confessaram que não teriam condições de acompanhá-los. - Eles são muito loucos. Não tem medo de morrer, ainda não alcançamos esse estágio. Acovardamo-nos diante da morte

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– disse Edgar, sorrindo. - Mas você lutou ferozmente junto a eles – disse Adriana. – Por que não se junta a eles? - É mesmo, porque não se junta a nós? – indagou Júlio, ao chegar. - Como disse os desertores, não sou tão louco como vocês. Ainda pretendo viver por longos e longos anos – disse sorrindo. Daquele dia em diante, ficaram conhecidos como o Quarteto Fantástico. Todas as noites Adam, Júlio, Lucas e Maebi saíam para atacar os vampiros. Mas aquelas pestes pareciam pragas, quanto mais matavam, mais apareciam. Adam decidiu comprar um lançador de chamas, isso facilitou muito o trabalho de todos eles. A prefeitura e os moradores da cidade resolveram contribuir com um bom salário. Assim, poderiam dedicar-se somente em exterminar vampiros. A cidade de Peruíbe ganhou notoriedade no mundo. Todos conheciam o famoso “Quarteto Fantástico”. Todos os jornais do Brasil, falava do famoso e destemido grupo de exterminadores de Peruíbe. Mas ninguém tinha coragem de juntar-se a eles. Grande parte das pessoas achava que eram verdadeiros suicidas. O povo já não tinha coragem de lutar por seus ideais, pois haviam perdido a esperança e a fé.

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Fim dos Tempos Capítulo 10

Valores Eles estavam cansados. Aquela noite fora a mais difícil. Os vampiros estavam com ódio do famoso quarteto fantástico. Estavam cada vez mais furiosos e sanguinários. A luta contra eles havia sido muito cansativa. Mas nenhum deles temia aqueles malditos seres. Todos os dias, havia notícia daqueles jovens corajosos e destemidos, que gostavam de brincar com a morte diariamente. Isso acabou por torná-los conhecidos entre vários clãs de vampiros. Quando abriam os jornais e avistavam a fotografia deles, rosnavam com ódio, pois estavam atrapalhando os planos de Mihnea. Adam estava estranho naquela manhã. Chegou determinado a procurar por esconderijos de vampiros. Todos estavam esgotados. Queriam apenas tomar banho e dormir. A ladainha de Adam acabou deixando os demais componentes do grupo irritados. - Cara, você está louco? – disse Lucas com raiva. – Se não formos descansar, não conseguiremos ficar de pé à noite. - Se não forem comigo, irei sozinho. - Pare com essa frescura, Adam – disse Maebi irritada e com sono. – Sabe que ninguém tem condições, de travar batalha nenhuma nessas condições. A não ser que deseja morrer. Para tudo tem limite. O meu chegou aqui. Não vou procurar nada agora. Só quero dormir. Amanhã se as coisas forem mais tranquilas à noite, até podemos procurar por

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esconderijos durante o dia. Júlio estava tão cansado que não quis discutir. Permaneceu em silêncio. Estava travando uma terrível batalha contra o sono naquele momento. Seus olhos insistiam em fechar-se a todo instante. Adam notou o cansaço do amigo e percebeu que estava sendo arrogante. Precisava pensar no bem estar de seus amigos. Abaixou a cabeça, envergonhado. - Me desculpem. Disse olhando para Júlio. Vejo que não consegue manter os olhos aberto – disse olhando para Júlio. - Pois é meu amigo. Se não for embora nesse exato momento, dormirei aqui mesmo – disse com um sorriso cansado no rosto. - Peço desculpa. Não tenho o direito de colocar a vida de ninguém em perigo. Eles se entreolharam e abraçaram-se. Depois cada um foi para sua casa. Adam seguiu para o quarto que o Sr. Artêmis havia cedido gentilmente, pois já não trabalhava mais na padaria. Todos os dias seu lençol era trocado e tudo estava milimétricamente limpo. Era uma maneira de o velho agradecer, por ter salvado seu filho das drogas. Júlio era outra pessoa, nunca mais havia usado entorpecentes, não fazia uso de bebidas alcoólicas e ajudava o pai quando acordava. Sempre dava um jeito de ajudar o velho na padaria. Dizia que precisava fazer alguma coisa por seu pai, pois o velho era tudo o que ele tinha. Aos poucos, o Sr. Artêmis foi confiando na mudança do filho. Ficava para morrer de alegria, quando seus clientes

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Fim dos Tempos

elogiavam Júlio. A relação entre os dois havia melhorado consideravelmente. Mas nunca tocaram no assunto da morte da mãe do rapaz. Isso o deixava muito triste, pois tinha certeza que seu pai, ainda o culpava pela morte da mãe. Maebi se tornou a melhor amiga de Júlio. Ambos eram inseparáveis. Passavam a maior parte do tempo juntos. Combinavam em todas as coisas. Havia uma cumplicidade natural entre os dois. Todos achavam que formavam um lindo casal. Já Lucas e Adam viviam desconectados desse mundo. Pensavam o tempo inteiro em vampiros, como encontrariam seus esconderijos, planejavam novas armas para atacá-los, enfim, viviam para proteger as pessoas e o planeta. Estavam tão mergulhados nessa histeria, que acabaram esquecendo-se de suas próprias vidas. Adam estava cada dia mais fechado. Nunca permitiu que nenhuma garota se aproximasse dele. Sempre respeitou às moças que se aproximavam, mas fazia questão, de mantê-las a distância de sua vida pessoal. Naquela manhã Adam acordou saudosista. Sentia falta de ouvir a voz de Miriam. Por que não conseguia esquecê-la? – pensou. Ainda podia sentir seu aroma de flores. Sentiu vontade de chorar. Recordou-se da mãe e de Eduardo, enfim, recordou-se das pessoas que fizeram parte de sua vida. Agora estava completamente sozinho no mundo. Patrícia, prima de sua mãe, havia mudado para os Estados Unidos, nunca mais tivera contato com ela. Ela se apaixonou por Eduardo. Mas ele nunca correspondeu a esse amor. Então,

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ela decidiu partir em busca de alguém que a amasse de verdade. A amizade entre sua mãe e Patrícia, havia ficado estremecida por causa de Edu. Patrícia costumava dizer que minha mãe era egoísta, pois deveria dizer a Eduardo que jamais se casaria com ele. Minha mãe nunca teve coragem de dizer isso a ele. Soube pouco tempo antes de sua mãe falecer, que Patrícia havia se casado com um milionário do ramo petrolífero. Essa foi à última notícia que tiveram dela. Levou um susto, ao notar que Maebi chegara sorrateiramente na igreja. - Tenho algo para lhe mostrar – disse entregando-lhe um jornal. – Olhe o grupo de exterminadores de Salt Lake. A líder é uma brasileira. Adam não desejava conversar com ninguém naquele dia. Queria ficar quieto com seus pensamentos. Queria sentir saudade das pessoas que havia perdido. Mas sabia que magoaria Maebi, se não olhasse para aquele jornal. Passou os olhos rapidamente, através daquele monte de letras e sorriu. Notou que ela parecia chateada, por não demonstrar interesse naquela notícia. Pegou novamente o jornal das mãos de Maebi, somente para não ser indelicado olhou para as fotografias que estavam estampadas. Seus olhos ficaram petrificados ao ver a figura de uma mulher jovem e muito magra. Ela era parecida com Miriam. Mas era apenas coincidência, pois o massacre em Jundiaí, não deixara sobreviventes.

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- Você leu toda essa matéria? – indagou Adam. - Sim. - Sabe o nome dessa mulher? - Não. Eles não fazem comentários, sobre o nome das pessoas que fazem parte do grupo. - Ela é muito parecida com uma amiga – disse sorrindo. - Júlio deseja falar com você. Recebemos uma proposta do tal grupo de exterminadores de Salt Lake. Desejam unir forças para acabarmos com os vampiros. Adam ficou sentado intrigado com aquela mulher. Ela se parecia com Miriam, mas sabia que aquilo era somente uma coincidência. - Desculpe, Maebi. Não ouvi o que acabou de dizer. - Está muito pensativo. Aconteceu alguma coisa, Adam? Parece preocupado! - Não estou preocupado, Maebi. Apenas um pouco nostálgico. Essa mulher me fez lembrar de uma amiga muito querida, foi somente isso. - O grupo de exterminadores de Salt Lake entrou em contato conosco. Deseja marcar uma reunião para unirmos forças e iniciarmos uma guerra contra os vampiros. - Eu concordo em iniciarmos a tal guerra, mas precisaremos de mais pessoas. Não temos gente suficiente, para iniciarmos absolutamente nada. - A reunião será em Salt Lake. Eles mandarão o avião. - Se todos estiverem de acordo, quando partiremos? - Será amanhã à tarde. Só estou preocupada com uma viagem tão longa. Acho muito perigoso arriscarmos viajarmos durante a noite.

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- É um risco que precisaremos correr. Naquela noite, a ronda não foi feita como de costume. Comunicaram ao prefeito da cidade, sobre o convite que haviam recebido. Ele ficou preocupado por não ter ninguém fazendo a ronda na cidade. Isso poderia trazer risco de vida aos moradores. Então decidiram deixar Lucas, Maebi e Edgar no comando da cidade. Mas não contavam, com a recusa de Edgar em participar do grupo. Edgar foi categórico ao recusar-se a participar da ronda. Disse que admirava a coragem deles, mas que ainda não conseguia se livrar do pavor de morrer. - Prefeito, me sinto lisonjeado ao ser chamado para participar desse trabalho. Mas nunca serei como eles. Morro de medo da morte. Eles foram predestinados para fazer o que fazem. Adam observava tudo em silêncio. - Olhe para Adam – disse Edgar apontando para o rapaz. – Ele nasceu para ser um caçador de vampiros. Eu sou tão corajoso como vocês – disse apontando para as pessoas que trabalhavam na prefeitura. - Jamais serei um herói. Não consigo me tornar nem mesmo herói de minha própria vida. Adam aproximou-se de Edgar e sorriu. Lembrou-se que há um ano, também tivera o mesmo pensamento. Achava-se incapaz de mudar alguma coisa nesse mundo. Nessa época, procurava encontrar dificuldades, para não fazer o que era preciso. Somente quando mudou sua forma de pensar, deixando de lado as dificuldades que encontraria, e pensando somente em dar o primeiro passo, foi que as coisas se concretizaram.

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Fim dos Tempos

Hoje aprendeu que para vencer é preciso “começar”. A diferença entre as pessoas comuns e as bem sucedidas, é que as pessoas que têm sucesso na vida, não ficam perdendo tempo discutindo suas limitações. São pessoas que vão atrás do sucesso, não ficam paradas esperando que a sorte bata em sua porta. - Edgar, era muito parecido com você. Sentia-me incapaz e impotente diante dos meus problemas – disse Adam. - Não existe essa história de ser predestinado para fazer algo. Não pense que sou acariciado pelo destino em realizar as coisas com sucesso – disse com um sorriso cansado no rosto. – Eu apenas realizei as coisas que precisava fazer. Como saberá se terá sucesso ou não, se não fizer? - Pensando dessa maneira acho que tem razão. Mas é um preço muito alto que pagarei, se descobrir que não terei sucesso realizando essa tarefa suicida. - As pessoas que alcançam sucesso em seus feitos, são aquelas que não ficam enumerando suas limitações, ao contrário, enumeram as possibilidades das coisas darem certo. Edgar tinha os olhos cheios de lágrimas. Aquelas palavras tocaram seu coração profundamente. - Você tem razão meu amigo – disse olhando em seus olhos. – Vá ao encontro desse grupo. Sei que você deseja salvar esse mundo, mais do que qualquer outra pessoa. Obrigado, por mostrar-me a importância de acreditar em mim mesmo. - Edgar, ninguém foi criado para ser um derrotado. Às vezes as pessoas nos comparam com outras pessoas e nos mostram o quanto somos limitados e incapazes... O pior é que

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muitas vezes, acreditamos. Não permita que as pessoas destruam seus valores, comparando-o com outras pessoas, pois cada um tem seu valor individual. Agora, vá e conquiste suas vitórias. Lute por algo em que acredita, pois você tem um grande potencial! Eu acredito em você, pois sei que é capaz de proteger essa cidade.

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Fim dos Tempos Capítulo 11

Salt Lake Não havia sido fácil deixar a cidade de Peruíbe. Sabia que podia confiar em Edgar, pois era um bom homem. Seus medos e incertezas ainda estavam arraigados dentro dele, pois para acabar com a autoestima de uma pessoa, é muito fácil e rápido. Mas para reconstruí-la é um processo difícil e demorado. A gratidão daquelas pessoas, fez com que quase desistisse daquela ideia. Mas estava partindo por uma causa maior. Alguém precisava fazer alguma coisa, a fim de exterminar de uma vez por todas, com os vampiros da terra. Era metade vampiro e metade humano. Não conseguia sentir-se mal por desejar acabar com sua espécie. Eles eram ruins, impiedosos e cruéis. Adam não conseguia sentir-se culpado, pois jamais poderia juntar-se a uma causa sangrenta e suicida. Eles estavam acabando com a raça humana. Não havia sangue para todos. Os animais estavam praticamente extintos. Onde tudo isso iria parar? Por que o rei dessa espécie, não conseguia enxergar o fim eminente de todos? – pensou Adam. Ao chegar a Salt Lake, Adam e Júlio notaram que aquele lugar parecia tranquilo. Tudo por ali era diferente, parecia que estávamos num outro mundo. Tudo era calmo, organizado e limpo. Adam observou atentamente as pessoas que estavam no aeroporto. As pessoas pareciam felizes. Não pareciam

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Fim dos Tempos

desconfiadas diante de uma pessoa desconhecida. A nuvem negra que assolava o mundo, ainda não havia chegado naquele lugar. Júlio notou que um senhor os aguardava. Ele estava segurando uma placa na mão com o nome dele e de Adam. - Olhe, Adam – disse apontando para o senhor com a placa na mão. Ele está nos aguardando. Adam aproximou-se do senhor e sorriu com simpatia. - Sou Adam e esse é Júlio. Somos os exterminadores de Peruíbe, no Brasil. É muita gentileza, mandarem vir nos buscar – disse estendendo a mão para cumprimentá-lo. - Qual é o seu nome, senhor? - Me chamo Michael. É um grande prazer conhecê-los. Nosso líder não poderá atendê-los, agora. Mas pediu que os levassem ao hotel. Ficarei a disposição durante todo o dia. E amanhã irei ao hotel, buscá-los para a reunião com nossos líderes. - É um prazer também conhecê-lo, Sr. Michael – disse Adam com sinceridade. - Já que a reunião foi adiada, poderia nos deixar no hotel? Precisamos descansar da viajem, pois foi muito longa e cansativa. Retorne somente amanhã, para nos levar até a reunião. Não sairemos do hotel hoje, sendo assim não haverá necessidade de ficar a nossa disposição. Eu e Júlio precisamos descansar, pois essa viagem nos deixou exaustos – disse Adam sorrindo. O Sr. Michel os deixou no hotel. Ao entrar naquele lugar, Adam ficou maravilhado com o requinte ostensivo existente ali. Jamais vira um lugar como aquele. Desde que nasceu, viveu somente em esconderijos subterrâneos.

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O quarto era muito confortável. Os lençóis eram brancos e limpos. Havia televisão, rádio, computador, e um lindo banheiro, com uma enorme banheira de hidromassagem. Decidiram através do par ou ímpar, a fim de saber quem teria o privilégio de usá-la primeiro. Estavam exaustos! Caíram num sono profundo, assim que seus corpos se recostaram naquela cama limpa, macia e cheirosa. Adam acordou, com uma pessoa batendo insistentemente na porta de seu quarto. Júlio levantou-se para abri-la. Era um homem de um metro e noventa, branco com cabelos loiros e olhos castanhos. Parecia bastante assustado e confuso. - A cidade está sendo atacada por vampiros – disse o homem visivelmente apavorado. – Soube que fazem parte do famoso grupo de exterminadores do Brasil – fez uma pausa para recuperar o fôlego. – Por favor, nos ajude – suplicou o pobre homem. - Peça às pessoas que usem a prata, a fim de afastá-los, pois quando um vampiro entra em contato com esse tipo de metal, dissolvem como se fosse sorvete. - Preciso de um lança chama. Serve o que os cozinheiros usam na cozinha para flambar ou dourar alimentos. Isso nos ajudará a mantê-los à distância. O homem desapareceu correndo pelo corredor, a fim de cumprir suas ordens. Adam foi até a janela. Verificou que havia um grande pânico nas ruas. Eles ainda não haviam chegado até aquele local, pois tudo estava em ordem, tirando as pessoas, que corriam de um

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lado para o outro, totalmente desgovernadas. - Maldição! – gritou Júlio. - Não trouxemos os machados e o lança chama. Será uma luta cansativa e perigosa. - Vamos procurar na cozinha e ver o encontramos – Adam saiu do quarto, seguido por Júlio. Ao entrarem no elevador deram de cara com o gerente do hotel. Trazia em suas mãos quatro lança chamas, dois machados e alguns facões. - Espere que isso ajude! – disse entregando os instrumentos. – Em que posso ajudá-los? Nunca tivemos um ataque desses por aqui, não sabemos o que fazer – disse colocando as mãos na cabeça, em sinal de desespero. – O pior é que a nossa líder não se encontra aqui. Acho que prepararam uma armadilha. - Não temos tempo para discutir – disse Júlio pegando as armas. – Apenas use o lança-chamas, para mantê-los afastados do hotel. Desceram pelo elevador. Não optaram pelas escadas, para evitar a fadiga. Seria uma luta difícil. Se todos se juntassem a eles, as coisas seriam mais fáceis. Mas sabiam que as pessoas, acabavam fugindo com medo daqueles demônios. - Então, vamos destruí-los! – disse Adam com o sorriso de sempre. – Não tenha medo, Sr... – coçou a cabeça tentando lembrar o nome daquele homem. - Me chamo Justin – disse o gerente. - Se tiver medo, eles se alimentarão de seu medo – disse Adam convicto. – Coragem meu novo amigo. Essa guerra é nossa! Saíram correndo em direção à porta que os levaria a

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rua. Muitas pessoas se aglomeravam na entrada do Hotel. Não havia mais tempo, para pedir que saíssem daquele lugar. Todo o tempo, seria para a grande matança que se daria. Ao abrirem a porta, notou que estavam por todas as partes. Por que não haviam entrado no hotel? – pensou Adam. A porta era cor de prata! - Essa porta é de prata, Justin? – indagou Adam. - Sim. - Vamos voltar para dentro do hotel – disse Adam observando que se continuassem lá fora morreriam, pois havia muitos vampiros, para apenas três homens acabar com eles. Ao entrarem as pessoas gritaram apavoradas. - Há algum lugar, nesse hotel onde não existem janelas? - Sim. Peguem toda a prata que tiverem e tragam-na para o saguão – ordenou Júlio. – Alguém sabe como entrar em contato com os exterminadores? - Infelizmente, os telefones do hotel não estão funcionando. Tente no meu celular – disse Justin entregandolhe o aparelho. Procure pelo nome de Cacau, ele está no lugar de nossa líder. Adam pegou o aparelho e logo encontrou o nome. Cacau já estava a caminho da cidade, pois uma pessoa já o havia informado do ataque. Disse que estariam no hotel em menos de quinze minutos. Notou pela voz de Cacau que estava apavorado diante de todo aquele caos. - Fique tranquilo, podemos vencê-los. Já acabamos com um Clã maior do que esse - mentiu Adam. Adam jamais atacara um número tão grande de

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vampiros. Eles viviam em Clãs. Mas esse com certeza, não pertenciam a um único Clã. Com certeza, havia vários Clãs. Aprendera que os vampiros não eram unidos. Todos desejavam uma fatia do poder, por isso a existência de vários Clãs, pois assim poderia haver vários líderes entre eles. Mas somente um deles, reinava com poder absoluto entre a espécie. Havia somente um único rei. Seu poder era absoluto. Os líderes dos clãs lhe obedeciam. O rei dessa espécie era o filho do poderoso e temido, Vlad Tepes III. Ele iniciou essa nova espécie, através de um pacto satânico. Poder e juventude fizeram parte desse contrato. Em troca, a necessidade de sangue os faria matar, destruir e corromper a grande e maravilhosa criação divina de Deus, o homem. Os poderes desses Clãs variavam muito. Quanto maior o parentesco, com a Linhagem direta de Vlad III, maior o poder. Se houvesse linhagem direta, apenas uma mordida conferida por um descendente direto de Tepes III, lhes conferiam poderes inimagináveis. Por esse motivo, Mihnea, era invencível e respeitado por todos os vampiros. Era o próprio filho do poderoso Vlad III. Após a morte de Vlad III, seu filho mais novo e o primeiro a transformar-se num vampiro pelo próprio pai, assumiu o poder. Chamava-se Vlad IV, sempre foi o filho preferido, pois era fruto do amor da única mulher que seu pai realmente amou. Mas Vlad IV foi assassinado pelo próprio irmão, Mihnea.

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Esse alegou que Vlad IV, rei dos vampiros, havia se juntado a causa humana. Com a morte de Vlad IV, Mihnea, assumiria o poder, até que o filho de Vlad IV atingisse a maioridade. Mas Mihnea enganou a todos os vampiros, dizendo que o filho de Vlad IV havia nascido morto. Apenas alguns vampiros de sua confiança, sabiam que aquilo não era verdade. A noite estava fria e sombria. O cheiro de morte estava impregnando a cidade. Cacau fechou o carro e correu em direção à porta de entrada do hotel. Justin ouviu o amigo pedir para abrir. Ficou aliviado, ao ver a figura assustada de Cláudio. - Nunca vi tantos vampiros! – exclamou Cacau admirado. – Onde estão os exterminadores? Justin apontou para Júlio e Adam, que estavam na sala. O olhar de Cacau iluminou-se, quando chegou perto de Adam. - Ora, ora, ora! – disse sorrindo – Não se recorda de mim, Adam? – indagou Cacau. Adam o observou melhor, mas não conseguia se recordar. - Desculpe, não me recordo de você. Afinal, todos os dias, conhecemos pessoas diferentes – disse esforçando-se para se recordar. – De onde nos conhecemos? - Da faculdade, meu caro Adam – disse sorrindo. – Sou Cláudio amigo de Miriam. Estudávamos na mesma sala. Adam olhou para a figura a sua frente, não poderia imaginar, que o garoto mais popular da faculdade, se transformara num homem obeso e barrigudo. Como ele conseguiu escapar do massacre ocorrido em Jundiaí? – pensou Adam curioso.

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- Nossa que surpresa agradável! – disse Adam. - Você está bem diferente... Não o reconheci. Você estava com Miriam e Milena na época do massacre em Jundiaí? - Sim. Mas escapamos e viemos para Salt Lake. Soubemos que havia resistência nessa cidade e resolvemos nos juntar a eles. O líder desse grupo foi exterminado, quando viajava para Ohio, a fim de visitar seus filhos. Então elegeram Miriam, como Líder dos exterminadores. - Miriam está viva? – indagou Adam, surpreso. - Na verdade, ainda não recebemos notícias, desde que ela e Milena partiram. Resolveram se infiltrarem no meio deles, para ver se conseguiam descobrir o que o rei deles estava fazendo aqui. - Mas soube que Mihnea estaria se dirigindo ao Brasil, para comandar o exército de vampiros brasileiros – indagou Adam. – Meu Deus, isso tudo só pode ser uma armadilha. - Será? – indagou surpreso. - De quem foi à ideia de nos trazer até os Estados Unidos? – indagou Adam, desconfiado. - A ideia foi de todos. A decisão tomou força, quando soubemos dos planos de Mihnea, em organizar exércitos vampíricos, a fim de exterminar de vez com a raça humana. Desde então, estamos entrando em contato com exterminadores de todos os países. Queremos unir forças, para exterminarmos de vez, com esse maldito exército. - Agora, precisamos nos preocupar em conter o ataque de vampiros, que está ocorrendo nesse exato momento. Depois pensaremos no resto – rebateu Adam. Mais exterminadores chegavam a cada minuto. A sala

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em que estavam já não cabia mais gente. Estava animado com a possibilidade de ter tantas pessoas para lutar. - Ataque é a palavra de nosso plano de ação – disse Adam olhando para todos. – Não podem ter medo. Se eles notarem medo em seus olhos, sinto informar que estarão mortos. - Esses malditos só morrem com a prata atravessando o coração, ou melhor, quando a prata entra em contato com seu corpo, é fatal – disse Júlio. - Não pensem em nada quando estiverem diante deles, apenas que estão diante de um poderoso caçador. Se bobearem se tornarão sua caça. Ataquem, não pense em mais nada. Se for alguém conhecido, ataquem. Pois a pessoa que conheceram, já não existe mais – Adam andava de um lado para o outro. – Revólver com balas comuns de nada servem. Se não tiverem balas de prata, não usem nada. Se houver machados, arranque-lhes a cabeça. Alguma dúvida? – perguntou Júlio ansioso. Ninguém se pronunciou. Júlio e Adam caminharam até a porta de saída, acompanhados por mais ou menos duzentos e vinte homens. Frente a porta, os vampiros apareceram diante deles sem demora. Estavam extremamente famintos e selvagens. Esses eram os vampiros mais perigosos, não havia sobrado vestígios da inteligência humana em nenhum deles. Adam pegou seu lança chamas e mirou no primeiro deles, que ficou sendo consumido pelo fogo rapidamente. Isso chamou a atenção dos demais. Para surpresa de Adam, ao invés de se afastarem com

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medo, fizeram justamente o contrário, aproximaram-se com grande velocidade para atacá-los. Com o machado nas costas, começou o duelo de Titãs. Adam com destreza usou seu machado, decepando diversas cabeças. Júlio atirava neles sem errar um único tiro, afinal com a experiência vivida em Jundiaí, tornaram-se extremamente ágeis e certeiros em cada investida. Torceu para que aquele exército não debandasse diante do perigo, como aconteceu em Peruíbe. Mas ao virar-se para trás, havia menos de quinze homens lutando ferozmente. Os demais haviam desaparecido. A luta foi muito difícil e bastante cansativa. Com o despontar do sol, os vampiros corriam rua abaixo, a fim de encontrarem abrigo. Precisavam se proteger dos raios solares, que começavam a clarear o céu impiedosamente. - Excelente trabalho! – disse Cacau. – Miriam ficará feliz ao saber da ideia desse lança chamas. - O trabalho ainda não terminou. Precisamos atacá-los, enquanto está cedo. Precisamos levar o sol até seus esconderijos – informou Adam. Adam olhou com tristeza ao seu redor, havia corpos incendiados e cabeças por todos os lados. Havia muitos humanos, com veneno no corpo. Muitos já estavam em fase de transformação. - Precisamos matá-los – afirmou Adam, olhando para Cacau. - Está louco? Nós cuidaremos de todos deles – insistiu Cacau.

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- Não serão mais eles, quando ocorrer à transformação. O sangue desse Clã é hostil e sanguinário. Acreditem, temos que matá-los ou teremos mais inimigos para conter depois. Cacau tinha dificuldade em exterminar seus conhecidos. Havia perdido muitos exterminadores, que antes de fugirem, foram mortos em sua grande maioria. Dos quinze homens que ficaram para a luta, sobraram apenas dez. A morte cercava todos os lugares, por onde passava os olhos. A vida boa havia acabado. Agora a guerra dera início e só Deus sabia quando isso iria acabar, e quem seriam os vencedores. Sentia falta de Miriam e Milena – pensou Cacau. - Precisamos descobrir o que aconteceu a Miriam e Milena – disse Cacau com voz embargada. - Não podemos permitir que fiquem escondidos dentro da cidade. À noite voltarão a nos atacar e farão mais vítimas – disse Júlio ignorando o que Cacau, havia acabado de dizer. – Vamos atacar seus esconderijos. - Voltaremos ao Hotel e pediremos ajuda de mais pessoas, pois com o sol se tornarão mais vulneráveis – disse Adam batendo na enorme porta de prata. Cacau sentou-se nas escadas em frente ao hotel e olhou o triste cenário a sua frente. Havia corpos por toda parte. A luta foi grande e exaustiva. As lâmpadas haviam sido todas quebradas, pois os vampiros enxergavam melhor no escuro. A rua estava completamente vermelha. Era um verdadeiro mar de sangue. O cheiro era insuportável, chegava a dar ânsia. - Vamos entrar Cacau! –Júlio ficou preocupado com o rapaz, que ficou totalmente desorientado diante daquele triste cenário.

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Cláudio levantou-se e entrou juntamente com eles. Como podiam pedir a ajuda daquelas pessoas? Ninguém teria coragem de enfrentar os vampiros, principalmente quando se deparassem, com o mar de sangue que os aguardava lá fora. - Matamos um grande número deles, mas com o nascer do sol, muitos correram e se esconderam para fugir da luz do sol. Precisamos encontrá-los e matá-los. À noite, já não serão tão vulneráveis e já não teremos a ajuda do sol – Adam olhava para o rosto de todos. Estavam apavorados. O medo havia tomado conta de todos por ali. - Quem virá conosco? – indagou Júlio com esperança. Ninguém se mexeu, ficaram mudos e estáticos. - Então, desejem-nos sorte – disse Júlio, abrindo a porta e saindo ao lado de Adam. Cacau foi seguido por mais sete homens. - Eu notei que a maioria entrou no restaurante. Lá com certeza deve haver algum frízer cheio de carne – informou Adam, descendo as escadarias da frente do hotel. - O sangue os ajudará a repor as energias. Precisamos ser rápidos, quanto mais vulneráveis estiverem, mais fácil acabaremos com eles. Dirigiram-se ao restaurante e ao entrarem no cômodo, onde ficava o frízer, notou que eles brigavam como animais por pedaços de carne crua. Adam foi surpreendido por uma besta, que com força sobrenatural, segurou seu pescoço. O grito que soltou, alertou as outras feras em sua direção. Apenas conseguiu levantar o braço e puxou a cortina que impedia a entrada do sol. De repente, um grande feixe de luz penetrou aquela sala.

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Olhou os corpos a sua frente, estavam incendiando-se de maneira rápida e definitiva. Havia uma grande quantidade de vampiros pegando fogo, naquele lugar. À medida que o feixe de luz aumentava mais vampiros eram devorados por aqueles raios solares. O cheiro não era bom. Era um cheiro de coisa podre misturado ao cheiro horripilante da morte. Os demais exterminadores correram e abriram todas as cortinas, em pouco tempo, tudo estava pegando fogo. Saíram correndo dali, pois em poucos minutos o fogo atingiria a cozinha e havia botijões de gás por todos os lados. Ficaram a alguns metros e a explosão clareou todo o quarteirão. Ficaram olhando alguns deles, tentarem se livrar do fogo, mas não conseguiram e morreram carbonizados. Os olhos de Adam teimavam em fechar-se. A maioria extava completamente sem forças, para continuar aquela interminável caçada. Estavam exaustos e com muito sono. Mas algumas pessoas, que observavam de suas casas o que havia ocorrido, decidiu ajudá-los. Em pouco tempo, havia uma grande quantidade de vampiros pegando fogo, correndo pelas ruas de Salt Lake. Adam, Júlio, Cacau e os demais exterminadores, mal conseguiam manter os olhos abertos. Decidiram descansar e recomeçar a noite. Comeram alguma coisa no hotel. Subiram para o quarto, a fim de dormir um pouco. À noite precisariam de forças, para impedir novos ataques. As pessoas haviam encontrado coragem para lutar contra a morte. Por sorte, não sucumbiram ao comodismo de viverem em esconderijos e permitir que

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aqueles seres tomassem conta de sua cidade. Era um povo bom e unido. A maioria era de uma religião conhecida como “Mórmons”. Naquela manhã resolveram fazer jejum, para que Deus os abençoasse com a vitória. Todos decidiram dormir para encontrarem forças para mais uma noite de luta. Adam não conseguia parar de pensar em Miriam. Deitado em sua cama, apesar do cansaço, pensou nela durante o tempo que conseguiu manter-se acordado. O que teria acontecido? Por que ela e Milena não haviam entrado em contato? Precisava parar de ficar pensando... A noite seria mais longa e tenebrosa que a primeira, pois os que conseguiram fugir levaria a notícia de como haviam resistido. Viriam com mais ira, mais fome e ódio. Precisavam estar preparados!

O Livro completo estará no Blog da autora a partir do dia 23/12/12.

http://cristianegsantana.blogspot.com.br/

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