Chamada da Meia-Noite - Setembro de 2018

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SETEMBRO DE 2018 ANO 49 | Nº 09 | RS 4,90

Você é

IMPORTANTE Judas Iscariotes e o Cristianismo Moderno | PÁG 12 Mudança de rota na Arábia Saudita | PÁG 28


13,5 x 20,5 cm - 104 p.

DisponĂ­vel em

livraria.chamada.com.br a partir de agosto.


SUMÁRIO

04 05 17 18

CARTA AO LEITOR PREZADOS AMIGOS

Você é Importante

FRASES CAMPO VISUAL • Evolução do culto em perspectiva

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ARTIGO 2

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Judas Iscariotes e o Cristianismo Moderno OLÁ DE JERUSALÉM NOTÍCIAS DE ISRAEL • Selo comemorativo dos 70 anos de Israel

38 38 39

CAPA

ACONSELHAMENTO ENTREVISTA CHAMADA INTERNACIONAL

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HISTÓRIA

A Origem da Obra Missionária na Argentina MEDICINA

www.Chamada.com.br

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Mudança de rota na Arábia Saudita? SÉRIE

» devocionais » meditações » artigos

» livraria » conteúdos grátis » e muito mais

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Israel - um povo muito especial (Parte 26)

CIÊNCIA

A coloração especial da tarântula azul SÉRIE

A Carta aos Filipenses (Parte 26)

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JUDAÍSMO

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Uso do quipá: mandamento ou costume?

O que uma pessoa com morte cerebral que despertou revela sobre a doação de órgãos ORIENTE MÉDIO

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ISRAEL

ARTIGO 3

70 Anos de Israel HISTÓRIA

Hedy Lamarr: atriz e inventora

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Ato por Israel

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PERSPECTIVA

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Quem Está Detendo o Anticristo?


C A R TA A O L E I T O R Obra Missionária Chamada da Meia-Noite A Obra Missionária Chamada da Meia-Noite é uma organização independente de igrejas ou denominações religiosas com o objetivo de levar pessoas a Jesus Cristo, à Sua Palavra e alertar sobre o Seu retorno a esta Terra. Fundador (Internacional) Wim Malgo (1922-1992) Fundador (Brasil) Dieter Steiger Diretoria Conrad Schomerus, Ingo Haake, Markus Steiger e Sebastian Steiger Editores Ellen Steiger e Sebastian Steiger Layout Stefan Yuri Wondracek INPI nº 040614 Registro nº 50 do Cartório Especial Administração e Impressão Rua Erechim, 978 | Bairro Nonoai | 90830-000 Porto Alegre/RS | Brasil Fone: (51) 3241-5050 www.chamada.com.br | mail@chamada.com.br Informações Bancárias Banco do Brasil – Ag. 2821-5 – Cc. 4988-3 Bradesco – Ag. 0324-7 – Cc. 38.686-3 CNPJ 92.898.188/0001-55 Preços (em R$) Assinatura anual ...............................................................54,00 Exemplar avulso ................................................................4,90 Edições Internacionais A revista “Chamada da Meia-Noite” é publicada também em alemão, espanhol, francês, holandês, húngaro, inglês, italiano, romeno e tcheco. Tendo em mente que todo conhecimento humano é fragmentado (1Co 13.9), os autores colocam, de forma autônoma, suas visões pessoais. Salvo indicação em contrário, todas as passagens da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional (NVI). “À meia-noite, ouviu-se um grito: O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!” (Mt 25.6)

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No artigo de capa desta edição, Ernesto Kraft nos apresenta quatro áreas onde os cristãos possuem uma importância fundamental (leia na pág. 6). É interessante observar quem é afetado por cada área: no caso do testemunho, aqueles que ainda não tomaram uma decisão por Cristo; na oração, todas as pessoas, mas em especial o próprio autor; na conduta, todas as pessoas novamente; na família, por fim, aqueles que estão mais próximos, podendo ser incluído aqui aquele “amigo mais apegado que um irmão” (Pv 18.24) – não cristãos, a própria pessoa, todas as pessoas e os seus familiares e amigos. Não importa a esfera e a abrangência do contato, as ações que nós, cristãos, tomamos são essenciais para que cumpramos a ordem deixada pelo Senhor: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19; cf. At 1.8). Quando olhamos para a igreja brasileira, vemos uma discordância e uma desarmonia que nos entristece, e que não é diferente no cenário mundial. Quanta confusão acabamos trazendo à mente do incrédulo, da pessoa que está buscando e se interessando pelo Deus verdadeiro, quando tocamos em questões que não formam a base da fé cristã e nos digladiamos teologicamente em público. Afinal, até mesmo para os cristãos existem fases de crescimento e maturidade onde a mente está mais ou menos preparada para determinadas informações e conversas (1Co 3.1-3; 1Jo 2.12-14; Hb 5.11–6.4 etc.), quanto mais para o incrédulo! Ainda na questão do testemunho e da conduta públicas dos cristãos perante os incrédulos, C. S. Lewis está correto quando escreve, em seu livro Cristianismo puro e simples, que “o melhor favor que possa fazer aos incrédulos que me cercam é explicar e defender a crença que tem sido comum a quase todos os cristãos de todos os tempos” (p. 10-11). Mais adiante, quando a pessoa já aceitou a Jesus Cristo como o seu Senhor e Salvador pessoal, ele dá o seguinte recado: “Quando você tiver alcançado seu próprio cômodo [denominação, uma teologia mais profunda], seja gentil com aqueles que escolheram portas diferentes da sua e também com aqueles que ainda estão no saguão [base do cristianismo]” (p. 20). Quando termina de comentar sobre a quarta área, Kraft passa a escrever em seu artigo sobre a importância de Jesus em nós. Ele diz: “Somos importantes na proporção em que damos espaço para Jesus em nossa vida”. Esse é o segredo para termos uma vida de acordo com a Palavra de Deus. O apóstolo João diz que “Deus é amor” (1Jo 4.8), e Paulo é claro quando afirma: “Ainda que eu tenha o dom de profecia, saiba todos os mistérios e todo o conhecimento e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá” (1Co 13.2-3). Como o dr. Werner Gitt aconselha a todos que duvidam sobre a veracidade da Palavra de Deus (leia na pág. 38), é preciso (1) conhecer o conteúdo, isto é, a Bíblia, (2) colocar em prática as instruções nela contidas e (3) então experimentar a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). Que vivamos com esta mentalidade e atitude nestes últimos dias, sabendo das palavras finais do Senhor no evangelho de Mateus: “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (28.20). Boa leitura!

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DIETER STEIGER

A carta aos Hebreus fala de Moisés: “Moisés foi fiel em toda a casa de Deus” (Hb 3.2). Por meio dele, Deus libertou as doze tribos de Israel do cativeiro egípcio ao mandar dez pragas sobre o Faraó e sua terra; entregou os dez mandamentos no monte Sinai, juntamente com todas as ordens necessárias para poderem viver como o seu povo; sustentou o povo e seus rebanhos no deserto com tudo o que era necessário; deu água de uma rocha e maná vindo do céu! Deus falava face a face com Moisés. Na Bíblia há 5 livros e um salmo escritos por Moisés; ele foi formado intelectualmente em toda a sabedoria dos egípcios. Durante 40 anos ele liderou o povo judeu, preparou Josué como seu sucessor e o efetivou no cargo. Ele era muito respeitado, um verdadeiro servo de Deus, humilde e gentil. Moisés ocupa um lugar de absoluto destaque em Israel. Ele era o representante de Deus perante o povo e do povo perante Deus! Mesmo assim, sua imagem desvanece diante de Jesus: “Jesus foi considerado digno de maior glória do que Moisés, da mesma forma que o construtor de uma casa tem mais honra do que a própria casa. Pois toda casa é construída por alguém, mas Deus é o edificador de tudo” (Hb 3.3-4). João acerta plenamente na comparação entre Jesus e Moisés: “Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça. Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1.16-17). A lei não tem o poder de transformar pessoas pecadoras em renovadas; ela consegue apenas identificar o seu pecado, mas não livrar elas dele! A lei exige obedi-

PREZADOS AMIGOS

ência que não somos capazes de cumprir, porque o pecado está em nossa carne. O Senhor Jesus, pelo contrário, nos proporciona tudo o que necessitamos para termos uma vida que agrada a Deus, e assim a graça de Deus subjuga o poder do pecado em nós. Com isso podemos novamente renovar nossa fé e confiança. Moisés irradiava a glória de Deus quando ele saía da sua presença, no tabernáculo, uma experiência passageira cujo final os israelitas não deveriam assistir (2Co 4.7). Por outro lado, o Senhor Jesus falou a Filipe: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9). Moisés não podia falar isso de si mesmo, pois ele era apenas uma pessoa. Mas o autor da carta aos Hebreus confirma: “O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser...” (Hb 1.3). O apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Roma: “Porque o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê” (Rm 10.4). Moisés havia dado a lei a Israel para que eles se preparassem para a vinda do Messias e Salvador do mundo. Infelizmente, porém, os escribas e fariseus, a partir dos dez mandamentos, estabeleceram mais de 600 mandamentos e assim formaram a sua própria justiça a partir da lei (Rm 10.3). Cada pessoa está diante da opção: ou seguir a sua própria justiça, a religião a partir da lei, ou confiar no Senhor Jesus Cristo, na justiça que vale perante Deus! Com cordiais saudações,

Moisés havia dado a lei a Israel para que eles se preparassem para a vinda do Messias e Salvador do mundo. Infelizmente, porém, formaram a sua própria justiça a partir da lei.

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Você é

Importante Ernesto Kraft

Você é importante (1) no testemunho, (2) na oração, (3) na conduta e (4) na família. Contudo, o mais importante é Jesus em você. Certo cristão egípcio explicou de forma bem ilustrativa que todo cristão nascido de novo é importante para Deus. Ele perguntou: se você comparar, em uma balança, meio quilo de açúcar granulado e meio quilo de açúcar em cubo, qual dos cubos será o mais importante no final: o primeiro, um do meio ou o último? A resposta é: todos são igualmente importantes para completar meio quilo. Se você tirar um cubo do prato da balança, esta já se inclinará para o lado. Com a igreja é a mesma coisa. Você é tão importante quanto todos os outros. É claro que não me refiro aos orgulhosos, que dirão: “É verdade, eu sou importante, sem mim isso aqui nem funciona”. Nós sabemos que há várias pessoas ao nosso redor que farão as coisas melhor do que nós, então às vezes nem somos tão importantes. Isso também é verdade. E

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quem for mais a fundo pode dizer como Moisés em Êxodo 3.11: “Quem sou eu para apresentar-me ao Faraó e tirar os israelitas do Egito?”. E no capítulo 4.13: “Peço-te que envies outra pessoa”. Moisés, no início de sua vida com Deus, estava convicto de que era muito importante, pois “ele pensava que seus irmãos compreenderiam que Deus o estava usando para salvá-los” (At 7.25). Mas somente depois de muito tempo com Deus no deserto ele chegou a esta conclusão: “Quem sou eu?”. Vendo dessa forma, talvez pensemos que não somos importantes, ainda mais quando lemos em Mateus 21.3 que “o Senhor precisa deles” – e este termo “precisar” só aparece neste ponto e ainda por cima com relação a um jumento, e não a uma pessoa. Neste caso, fica fácil pensarmos que não temos importância. Quero, porém, mostrar neste artigo que você tem

importância, apesar do fato de que Deus poderia fazer missões mundiais mais facilmente com anjos do que com homens. No entanto, ele decidiu fazer esta obra através de nós, e por isso cada um de nós é importante. 1Coríntios 3.9 diz: “Pois nós somos cooperadores de Deus”. Paulo chega ao ponto de, em 2Coríntios 5.20, dizer: “Portanto, somos embaixadores de Cristo”. Pensemos em uma corrente, por exemplo. Se um elo for tirado dela, e que seja o mais fraco, a corrente perde a sua utilidade. Se usarmos o exemplo de um livro, vemos que quem o escreve é importante, quem o traduz é importante, quem o imprime é importante, quem o embala e põe a etiqueta do endereço é importante. Para que o destinatário o receba, ninguém pode faltar. O trabalho do escritor ou do tradutor perde o sentido se o último da corrente não executar o serviço. Retire uma peça de um quebra-cabeça e faltará algo que não pode ser substituído. Como se vê, você é importante, e quero destacar aqui quatro áreas onde você é importante.


C A PA 1. Você é importante no testemunho

Muitos não querem saber do cristianismo porque a conduta dos cristãos não lhes dá motivo para querer. Nossa vida sempre será determinante – seja para atrair pessoas para Deus ou para repeli-las. Lemos em 2Reis 5.2-3 sobre uma menina que nem ao menos é citada pelo nome. E ela é uma pessoa importante, através da qual um grande general obtém cura para a sua doença. Talvez você não seja conhecido, e nem ao menos conhecem o seu nome, mas é de valor inestimável para Deus. A história é a seguinte: os soldados sírios prenderam esta menina israelita e a levaram cativa para a Síria. Ali ela se tornou escrava da esposa do grande general Naamã. Ele era rico e respeitado. Por causa de sua posição, certamente tinha acesso aos melhores médicos da época, mas era leproso e ninguém tinha a cura para ele. Nem dinheiro, nem experiência, nem inteligência foram capazes de ajudá-lo. Sabe por que você é importante, mesmo se for desprezado pela sociedade? Você pode ser o único que tem a resposta para o problema central da humanidade. A lepra é aqui um símbolo para o pecado. Todos têm essa doença. Ninguém tem poder para curá-la, e quem não ficar livre dela nesta vida sofrerá a morte eterna. Suponhamos que você seja uma pessoa de sucesso, com uma boa carreira, um casamento bem estruturado, mas está “leproso”. Você ainda não resolveu o problema do pecado na sua vida e também não pode fazê-lo sozinho. Sabe quem pode ajudá-lo? Nenhum médico, por melhor que seja a sua formação e o seu conhecimento. Mas quem conhece Jesus pode dizer a você quem é capaz de ajudá-lo nessa situação, como fez aquela pequena menina. Em 2Reis. 5.3 consta: “Um dia ela disse à sua senhora: ‘Se o meu senhor

procurasse o profeta que está em Samaria, ele o curaria da lepra’”. Você sabe que Jesus pode libertar da doença do pecado – por isso você é importante. Atos 11.13-14 relata um fato que confirma isso: “Mande buscar, em Jope, Simão, chamado Pedro. Ele trará uma mensagem por meio da qual serão salvos você e todos os da sua casa”. A Bíblia diz que somos sal e luz do mundo. Mesmo se a nossa luz for pequena e fraquinha, ela é a única que pode iluminar a escuridão do pecado. Você é importante porque é você que precisa levar ao mundo o que aprendeu de Jesus. Suponhamos que a menina que foi levada cativa para a Síria não fosse alguém que acreditava em Deus. Ela teria varrido o pó e limpado o chão da mesma forma, mas provavelmente estaria com o coração cheio de ódio pelo seu senhor. Poderia estar torcendo para que ele morresse logo. Afinal, ele era o inimigo, o culpado por ela estar sozinha ali, longe de sua família e de seus amigos. Ela teria sido importante? Não. Ela teria feito o seu trabalho, mas não teria feito diferença naquela casa. Nós precisamos lembrar o que a Bíblia diz em Provérbios 17.15: “Absolver o ímpio e condenar o justo são coisas que o SENHOR odeia”. Que diferença faz uma pessoa ser cristã ou não! O que torna você importante é que você sabe a solução para os problemas das pessoas ao seu redor. Mesmo se for pouco, é isso que dá valor à sua vida. Talvez você ache que agora, depois de velho, não poderá mais fazer diferença para ninguém. Quero dar um exem-

plo que mostra a importância que você tem mesmo se for velho. Conta-se de uma senhora cega, de setenta anos, que amava muito a sua Bíblia em francês. Ela pediu a um missionário que marcasse com caneta vermelha o texto de João 3.16, que diz: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. O missionário espantou-se com o pedido da senhora cega, mas o fez mesmo assim. Ela conseguiu chegar até um banco diante de uma escola, onde sentou. Quando os alunos saíram da aula, ela perguntou se haviam prestado bastante atenção na aula de francês. Todos disseram que sim. Então ela pediu às crianças que lessem, uma a uma, o texto marcado, perguntando se elas entendiam o que haviam lido. Elas responderam que não. Então, partindo deste texto, ela anunciou o evangelho a estas crianças. Sabe-se que, por causa do serviço desta mulher, vinte e quatro homens tornaram-se pregadores da Palavra. Todos afirmaram que o ministério dessa mulher, realizado com grande fraqueza física, foi decisivo para a sua tomada de rumo no futuro. Essa senhora cega não ficou lamentando o seu destino, mas pediu a Deus que a usasse, pois ela tinha muito amor pelos não salvos. Deus lhe deu essa ideia do verso sublinhado de vermelho e ela a colocou em prática. Ela foi fiel com o pouco que lhe foi dado. Quantas vezes não damos valor ao pouco que recebemos. Lembre-se do menino que trouxe os cinco pães e os dois peixes

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para Jesus. Ele se tornou um personagem importante para a multiplicação dos pães. O importante é que nós transmitamos aquilo que recebemos. Uma menina sem

nome e sem formação teológica passou adiante o pouco que sabia sobre Deus e, através disso, ajudou o desesperado Naamã. Você é importante porque você sabe

quem é o único que pode ajudar. Passe isso adiante. A sua vida tem um valor imenso neste mundo, pois só você sabe esta mensagem.

porque tinha a impressão de que seria atacada por um animal selvagem. Olhou para todos os lados, mas não encontrou nada. Mas a sensação de que algo estava errado não a deixava em paz. Chamou seu marido e explicou-lhe a situação ligeiramente. Ao olharem ao redor, viram uma cobra venenosa, pronta para dar o bote. O missionário conseguiu matá-la com um tiro e tudo estava resolvido. Mas a história não termina por aqui. Uma irmã em Cristo no Canadá, ao pensar no casal, teve a forte sensação de que eles estavam passando por um enorme perigo. Ela orou intensamente pelos dois. Quando os missionários tiraram férias no Canadá e contaram essa história à irmã, constataram que, no mesmo momento em que ela se sentia impulsionada a orar por eles aconteceu o episódio da cobra. Uma pessoa que ora – você é importante na oração. Você tem importância e poder incríveis através da oração. Para explicar essa importância, quero contar de uma pintura que mostrava a figura de uma balança. No prato esquerdo encontravam-se cinco diabos. Na outra, um menino orando. O prato do menino orando era mais pesado que os cinco diabos. Isso ilustra a importância que você tem ao orar. O diabo ri quando vê os nossos talentos e capacidades, mas treme quando vê alguém de joelhos.

É claro que aqui vale o mesmo princípio da história da menina. Ela também não teria sido importante se não tivesse trazido Deus para dentro da situação. Isso também vale para a oração. As orações que não encontram resposta também não têm poder nem importância. Porém, se levamos a nossa vida de forma que Deus possa responder nossas orações, então podemos mover o braço de Deus e operar maravilhas. Qual era a importância das orações dos profetas de Baal? 1Reis 18.25-26 diz que eles oraram o dia inteiro, mas não adiantou nada. Elias, porém, orou apenas poucas palavras. O fogo desceu do céu e o povo de Israel adorou a Deus (1Rs 18.3639). A sua oração é muito importante – desde que ela possa ser respondida. Na oração, o importante também é que Deus possa fazer algo através de nós. Por exemplo, se a nossa vida conjugal não está em ordem, 1Pedro 3.7 diz que nossa oração não será atendida. Ela é interrompida: “Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações”. O mesmo vale para a mulher. Se ela não souber controlar a sua língua e não tratar o marido como cabeça do lar, não terá poder na oração.

2. Você é importante na oração

O diabo ri quando vê os nossos talentos e capacidades, mas treme quando vê alguém de joelhos.

Em Ezequiel 22.30-31 está escrito: “Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra, para que eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum. Por isso derramarei a minha ira sobre eles e os consumirei com o meu grande furor”. Deus fala aqui de um homem que se torna importante por causa da oração. Frequentemente nós não temos consciência do que podemos alcançar sozinhos com a oração. Temos um poder enorme quando a nossa vida corre de forma que Deus pode ouvir as nossas orações. A oração é um poder incrível que Deus colocou em nossas mãos. O que teria acontecido com Jonas se ele não tivesse orado na barriga do peixe? O que teria acontecido com Pedro se a igreja não tivesse orado? O que teria acontecido com Bartimeu se não tivesse gritado por socorro? O que teria acontecido se Josué não tivesse buscado refúgio na oração durante a guerra? O que teria acontecido se Moisés não tivesse erguido as mãos em oração enquanto o povo de Israel lutava contra os amalequitas? A oração foi importante – a Bíblia diz que, quando Moisés baixava as mãos, os amalequitas venciam. Você é importante. Quero enfatizar isso com um exemplo: certa noite, uma missionária na África não conseguia dormir

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Em Gênesis 21.14-17 lemos a história de Hagar, que foi mandada embora pela sua senhora, Sara, junto com seu filho, Ismael. Quando acabou a água que tinha trazido, ela deitou seu filho debaixo de um arbusto, afastou-se um pouco e começou a chorar, porque não podia ver seu filho morrendo. E então lemos algo muito interessante no versículo 17: “Deus ouviu o choro do menino, e o anjo de Deus, do céu, chamou Hagar e lhe disse: ‘O que a aflige, Hagar? Não tenha medo; Deus ouviu o menino chorar, lá onde você o deixou’”. Era apenas um menino, mas a ele Deus podia responder, e assim veio a salvação: Deus abriu os olhos de Hagar para que visse um poço, e essa difícil situação foi resolvida.

Muitas vezes utilizamos a oração como um assento ejetor de um jatinho – estamos felizes porque o temos, e felizes porque não precisamos dele. É assim que muitas vezes utilizamos o poder da oração. E dessa forma não vamos muito longe. Quantos milagres não deixaram de acontecer porque nós não oramos! A nossa oração é importante. Deus está à procura de alguém que ora. Você é importante, mas também é importante que a sua conexão com Jesus esteja em ordem. Isaías 59.2 diz: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os ouvirá”. Se Deus puder ouvir a nossa oração,

elas serão atendidas e situações serão transformadas onde nada mais pode transformá-las. Como você será importante quando suas orações puderem ser atendidas! Lemos em João 15.7: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e será concedido”. Medite sobre esta verdade: receberemos o que quisermos. Mas é importante permanecermos nele. O nosso fator de importância é Jesus em nós. Jesus está em você? Então sua vida será importante e uma bênção para os que convivem com você.

3. Você é importante na conduta

Deus pode fazer mais através de um cristão comprometido que através de cem cristãos mornos.

Em 1Coríntios 13.1-3 diz como nós somos se não temos o amor verdadeiro, apesar de falarmos, agirmos e ofertarmos. Você só será importante se for um recipiente cheio de amor. É disso que o seu ambiente precisa. Quero enfatizar isso com uma ilustração: Havia uma mulher cujo marido não era cristão. Ela seguidamente o convidava para ir às reuniões na igreja, mas ele sempre recusava. Ele era completamente indiferente a isso. Certo dia, ele chegou do trabalho mal-humorado, e aconteceu que, bem nesse dia, a mulher resolveu convidá-lo novamente para ir com ela à reunião. Como ele já estava contrariado, o convite o irritou ainda mais, e ele fez algo que nunca havia feito: bateu no rosto dela, de forma que a boca e o nariz começa-

ram a sangrar. A mulher simplesmente disse: “Perdoe-me, querido, por ter irritado você”. O marido pensou: “O quê? Eu bato nela sem motivo, e ela pede perdão?”. Ele ficou pálido e segurou-se com as duas mãos para não cair, e então perguntou: “Como você consegue dar uma resposta dessas para mim?”. “Foi Jesus quem me ensinou isso”, respondeu ela. “É isso que aprendo nas reuniões.” Naquela noite o marido a acompanhou, e não demorou muito para que ele também se convertesse. A sua esposa conquistou o coração dele para Jesus pela mansidão e conduta exemplar. Muitos não querem saber do cristianismo porque a conduta dos cristãos não lhes dá motivo para querer. Por isso você é muito importante. Nossa vida sempre

será determinante – seja para atrair pessoas para Deus ou para repeli-las. Se Jesus está na nossa vida, ela sempre será uma influência – a Bíblia diz que somos um aroma suave, um perfume gostoso. 2Reis 2.14 diz: “Então bateu nas águas do rio com o manto e perguntou: ‘Onde está agora o SENHOR, o Deus de Elias?’ Tendo batido nas águas, elas se dividiram e ele atravessou”. Quem fala muito, mas não age, permanece sem vida, como um metal que ressoa. Só podemos convencer as pessoas de que o cristianismo é algo muito bom se o mostrarmos na prática. 1Pedro 3.1-2 diz: “Do mesmo modo, mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, a fim de que, se ele não obedece à palavra, seja ganho sem palavras, pelo procedimento de sua muCHAMADA DA MEIA-NOITE | SETEMBRO DE 2018 |

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lher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês”. Sua vida é importante e se tornará mais importante na medida em que você deixar Jesus brilhar através de você. Sem amor nossa vida será inútil. Mas, quando ela é cheia do amor de Deus, ela passa a

ter um valor inestimável. 1João 3.17-18 diz: “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”. Com essa conduta

podemos transformar pessoas. Por isso a sua vida é tão importante quando você transmite o amor de Deus. Você percebe o que é determinante? Você percebe a importância da sua vida? Deixe Jesus agir.

ma colocando uma gota de óleo na dobradiça. Nós devemos ser pessoas com esse recipiente de óleo na mão. Devemos servir de consolo para abrir caminho ao Espírito Santo. As mudanças não acontecerão com brigas e discussões, mas através do fruto do Espírito vivido por nós. A prontidão do perdão, do novo começo, de não retribuir, trará soluções para as brigas, e as outras pessoas verão que vivemos com Jesus. Romanos 12.21 diz: “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem”. E o versículo 17 diz: “Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos”. É disso que o nosso mundo, e talvez a sua família, está precisando: que você vença o mal com o bem. 1Pedro 3.9 diz: “Não retribuam mal com mal, nem insulto com insulto; ao contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados, para receberem bênção por herança”. Trata-se de não retribuirmos como recebemos, como a nossa natureza humana nos impele. Você será de grande importância se agir assim em sua família. A maioria das pessoas escolhe o caminho “assim como recebi, assim eu devolvo”.

A Bíblia, contudo, diz para agirmos com bênção, amor e auxílio. Você é importante na sua família. Veja o exemplo de José em Gênesis 39.5: “Desde que o deixou cuidando de sua casa e de todos os seus bens, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por causa de José. A bênção do SENHOR estava sobre tudo o que Potifar possuía, tanto em casa como no campo”. Repare que era apenas um homem que procurava viver na presença de Deus. Isso moveu a bênção de Deus para todo o ambiente ao seu redor. É essa a importância que você também tem. Faça a sua parte. Sabemos que muitas vezes nossa colaboração é alimentar mais ainda o maligno. Precisamos dar meia-volta, sujeitar-nos debaixo da mão de Deus e fazer a diferença na nossa igreja e na nossa família, transmitindo aquilo que Deus pode abençoar.

4. Você é importante na família

É disso que o nosso mundo, e talvez a sua família, está precisando: que você vença o mal com o bem

Lucas 12.52-53 nos mostra uma grande verdade: “De agora em diante haverá cinco numa família divididos uns contra os outros: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos pai contra filho e filho contra pai, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra”. Sabemos que também existem muitos problemas nas famílias cristãs: há brigas demais. E é nesse ambiente que você, cristão, é muito importante. Você pode trazer a solução dessas brigas. Por exemplo, o Salmo 106.30 diz: “Mas Fineias se interpôs para executar o juízo, e a praga foi interrompida”. As famílias, as comunidades e as igrejas precisam de pessoas dispostas a perdoar. Que não querem ficar com a última palavra, que não querem ter sempre razão, que não se ressentem, mas que resolvem a situação. Provérbios 15.1 diz: “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira”. O que acontece quando você é acusado com palavras duras e devolve na mesma moeda? A briga é perfeita, mas nós precisamos de pessoas que parem ela. Felizes são os pacificadores (Mt 5.9). Se uma porta range, não adianta bater ou gritar com ela. Resolve-se esse proble-

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C A PA O importante é Jesus em você

Se você refletir Jesus e deixá-lo viver em você, então sua vida será importante.

O que faz a diferença em nós não é o que temos de nós mesmos, mas o que Jesus opera em nós. Somos importantes na proporção em que damos espaço para Jesus em nossa vida. Filemom 11 diz sobre Onésimo: “Ele antes era inútil para você, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim”. Onésimo era um escravo que havia roubado de seu senhor, mas que, depois de se converter, procurou consertar seu erro. Paulo, então, escreve a Filemom, o senhor, para que recebesse Onésimo novamente, pois agora ele seria útil. É essa presença de Jesus que também torna você importante. Se o deixarmos agir em nós, poderemos ser úteis em situações onde a ajuda é necessária. O apóstolo Paulo estava preocupado com os cristãos da Galácia que estavam excluindo Deus de suas vidas. Lemos em Gálatas 5.4: “Vocês, que procuram ser justificados pela Lei, separaram-se de Cristo”. Onde Jesus é excluído, nós não temos importância nenhuma. Não temos nada a oferecer. E Paulo ainda diz em Gálatas 4.19: “Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês”. O importante é que Cristo possa ganhar forma em nós. Isso enriquece a nossa vida e nos torna bênçãos para outros. Paulo também diz em Filipenses 3.8: “Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo”. Paulo foi uma pessoa impor-

tante porque Jesus era uma realidade em sua vida. Nós precisamos nos tornar ricos nele – esse é o caminho para a nossa felicidade, e permite que sejamos uma bênção para outros neste mundo. Contudo, para ficarmos ricos, precisamos primeiro ficar pobres. Apocalipse 3.17 diz: “Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada’”. Sabemos que a igreja de Laodiceia deixou Jesus de fora. Com toda a sua riqueza, não fazia diferença nenhuma para o mundo. Mas onde nós abrimos as portas para Jesus, para recomeçar a vida com ele, vamos enriquecer com ele e transmitir a sua bênção ao mundo. Dê novamente lugar para Jesus. A cada encontro com ele você será alegrado e transformado, e sua vida será novamente um norteador para os outros. Veja o exemplo em Lucas 24: os discípulos estavam reunidos, tristes, até que chegaram dois companheiros que haviam encontrado Jesus e agora levavam esta mensagem com alegria: Jesus vive! Isso transformou a vida dos outros também. Se tivermos novamente Jesus em nossas vidas, teremos uma mensagem para os outros e seremos bênção. Pedro pôde amar os gentios, que ele odiava por natureza, porque vivia em comunhão com Deus. O alvo importante é que outros vejam Jesus em nós. Vemos em João 12.2 o exemplo de Lázaro: “Ali prepararam um jantar para Jesus. Marta servia, enquanto Lázaro estava à mesa com ele”. Marta servia e Maria ofereceu seu perfume, mas de Lázaro só se diz que estava com Jesus à mesa. E, mesmo assim, vemos no versículo

9 que muitas pessoas vieram ver não somente Jesus, mas também Lázaro. Lázaro é aqui um exemplo dos milagres de Deus. Isso foi suficiente para tocar as outras pessoas. Se você refletir Jesus e deixá-lo viver em você, então sua vida será importante. Pessoas cheias de Jesus, cheias do Espírito Santo, sempre são bênçãos. E, a cada vez que ajudarem, se tornarão ainda mais ricas em Jesus. A Bíblia diz: eu preciso diminuir, mas ele deve crescer. Você está disposto a diminuir para que Jesus possa crescer em você? É só por esse caminho que nossa vida se tornará uma vida de bênçãos. Deus pode fazer mais através de um cristão comprometido que através de cem cristãos mornos. Dê espaço para Jesus. A vida de Jonas não foi nada importante enquanto ele dormia no fundo do navio. Mas, quando se arrependeu e decidiu obedecer a Deus, ele foi a peça-chave para que cento e vinte mil pessoas em Nínive chegassem ao arrependimento. Dê espaço para Jesus. Elimine tudo aquilo que impede a sua ação e experimente o que Jesus pode fazer por você. “O Mestre está aqui e está chamando você” (Jo 11.28). Faça como Maria fez nessa ocasião: Levante-se e vá ao encontro de Jesus. Mesmo se você tomar essa decisão sozinho, no seu quarto, verá que grande bênção se tornará para você mesmo e para os outros ao seu redor. O importante é Jesus na sua vida. Entregue-se por inteiro agora a ele.

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A RT I G O 2

E O CRISTIANISMO MODERNO Norbert Lieth

O TRAIDOR DO NOSSO SENHOR CONSTITUI TAMBÉM UMA IMAGEM DO ISRAEL ANTICRISTÃO DO FIM DOS TEMPOS E DE UM CRISTIANISMO CADA VEZ MAIS ANTICRISTÃO 12

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A RT I G O 2

Pais cristãos gostam de dar nomes bíblicos aos seus filhos, mas provavelmente nunca alguém desejará chamar seu filho de Judas. Embora existisse ainda um outro discípulo e também um irmão do Senhor com o nome Judas (este último o autor da carta de mesmo nome), geralmente associamos o nome ao traidor Judas Iscariotes, que traiu o seu Senhor em troca de 30 moedas de prata e com um beijo. Judas é a forma grega do prenome hebraico Jehuda (Judá) e era um nome bastante apreciado nos tempos do Novo Testamento. O cognome Iscariotes talvez se refira à cidade de Queriote, de onde Judas provinha (Js 15.25). Se assim for, Judas era o único originário da Judeia no grupo dos doze apóstolos, porque todos os outros provinham da Galileia. Judas levava uma vida pseudopiedosa. Desde o início ele já não cria (Jo 6.64). Ele não estava convicto da missão de amor de Jesus, mas era ladrão e agia gananciosamente (Jo 12.6). É verdade que pertencia ao círculo central dos discípulos, mas tinha ambições falsas. O mundo, o Diabo e suas próprias ideias influenciavam-no mais que o próprio Senhor Jesus (Jo 13.2). A impressão que se tem é que Judas queria subjugar os romanos por sua própria iniciativa e fundar um reino. Não concordava com a via e a vontade de Deus para a salvação. Assim, ele se aliou aos judeus que queriam matar Jesus e manobrou-o para as mãos deles. No entanto, ele é chamado de apóstolo. – Será que todo aquele que é chamado de cristão é de fato cristão? Em um certo sentido, Judas Iscariotes, também chamado de “filho da perdição” (Jo 17.12), representa tanto o Israel da época, que rejeitou o Senhor, como também o Israel do fim dos tempos, de onde provirá o Anticristo, igualmente chamado de “filho da perdição” (cf. 2Ts 2.3 com Jo 5.43). Sempre se enfatiza que foram os judeus que quiseram matar Jesus (Jo 17.1,13). Judas é algo como seu representante. Ao mesmo tempo, ele representa uma cristandade nominal de tendência anticristã. “Então Jesus respondeu: ‘Não fui eu que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!’” (Jo 6.70; cf. 13.2,27; 17.12).

Judas era um apóstolo que não pertencia realmente aos apóstolos (Jo 6.64). Assim existe um Israel que não pertence ao Israel verdadeiro (Rm 2.28-29), e existe uma cristandade que não pertence à verdadeira cristandade (2Tm 3.5). O Diabo já anda à solta no nosso mundo, mas essa é apenas a fase preliminar; ele ainda invadirá violentamente este mundo (Ap 12.12) e, nessa ocasião, o Israel ímpio desempenhará um papel nada desprezível. Assim como Judas acabou colaborando com os inimigos de Jesus e, inconscientemente, com Roma, assim um judaísmo anticristão e um mundo anticristão colaborarão entre si. Tal como aconteceu no jardim do Getsêmani, haverá uma enorme mobilização militar, e o objetivo anticristão será lutar contra Jesus e os seus santos (Ap 12.17; 13.7; 19.19). Desde janeiro deste ano, o assim chamado Relógio do Juízo Final (doomsday clock) marca dois minutos para a meia-noite. Quem sabe quão próximo já está o último dia? A humanidade está caminhando a passos largos para a profunda noite da traição (cf. Jo 13.30). O mundo interior, e em especial a Europa ex-cristã, move-se numa rota escancaradamente anticristã. De forma cada vez mais evidente, a sociedade está sob a influência de poderes dos dominadores do mundo das trevas e das forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6.12-13). Jesus, o cristianismo e a doutrina bíblica comprometedora são traídos. Criminosos tornam-se vítimas, e as vítimas, criminosos; a verdade bíblica torna-se mentira e a mentira, verdade; o pecado é santificado e a santidade torna-se pecado; busca-se o que é estranho e o que é de casa é proscrito, Maomé é exaltado e Jesus é rebaixado, o Corão e a Sharia são aceitos e a Bíblia é excluída. Este espaço está longe de ser suficiente para enumerar tudo o que se passa de modo crescente na promoção do caos e da depravação espiritual. Eis alguns exemplos: Na Alemanha, aprovam-se conversões ao islã, e em parte instâncias cristãs servem de exemplo para isso. Ao mesmo tempo, as próprias igrejas criticam o primeiro-ministro da Baviera por querer pendurar cruzes nas salas das repartições

públicas. Um aluno foi punido com uma multa de 300 euros por não participar de uma excursão sobre o islã e por recusar a visitar uma mesquita, temendo uma doutrinação religiosa. O Estado e a mídia despertam a impressão de que o terror islâmico é inofensivo e comparável à evangelização cristã. Parece que o trem já partiu. Dificilmente haverá algum retorno. Nós cristãos só podemos aproveitar a oportunidade espiritualmente e lutar com o amor e com o evangelho. Quem sai para a rua em manifestações a favor da vida é agredido, maciçamente xingado e impedido; quem defende publicamente o aborto é celebrado na mídia (recentemente, Bono, o astro do U2, embarcou no trem do espírito do tempo e aprovou publicamente o aborto como direito humano). Consta que, desde 2015, está proibido às escolas inglesas ensinar qualquer outra coisa a respeito da origem do mundo além da teoria da Evolução. Em abril deste ano se realizaria no Irã o “festival da ampulheta”, que marca simbolicamente o tempo remanescente até a aniquilação do Estado judeu. O secretário-geral do festival, Mahdi Komi, comentou, durante o preparo da celebração sobre a destruição de Israel, que “haveria participação de 2.400 organizações não-governamentais anti-israelenses da Europa, da América do Norte, da América Latina e da Ásia Oriental”. Entrementes, Komi anunciou que o festival foi prorrogado até 6 de julho – supostamente atendendo a “artistas” iranianos e estrangeiros, que queriam expor mais obras sobre o tema “Abaixo com Israel”. A editora Herder publicou um livro do juiz Jens Gnisa intitulado Das Ende der Gerechtigkeit [O fim da justiça]. Ali ele relata que 150.000 ordens de prisão na Alemanha não foram cumpridas, requerentes de asilos rejeitados não foram expulsos e ladrões e agressores físicos escapam sem punição, enquanto infratores de estacionamento e de limites de velocidade são perseguidos impiedosamente. Preocupam as manchetes do semestre passado: o bispo evangélico Carsten Rentzig considera uma coisa boa o diálogo cristão-islâmico, a própria Igreja Luterana participa ativamente do Christopher CHAMADA DA MEIA-NOITE | SETEMBRO DE 2018 |

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Street Day, o papa Francisco comenta não existir diferença entre a Bíblia e o Corão, Bill Gates clama por um governo mundial e o jornal alemão Schwarzwälder Bote pergunta, preocupado, onde estaria o novo policial mundial. A sexualização precoce das crianças está em pleno andamento; os currículos escolares promovem, por via da educação, a tendência anticristã; o casamento para todos tornou-se norma social; a ideologia de gênero – ainda há poucos anos totalmente impensável – chegou ao centro da sociedade; insegurança e terror determinam a percepção de vida da nossa geração.

Será que a cristandade ocidental está a caminho de afastar-se de Jesus Cristo e tornar-se um Judas, acabando no “suicídio” social? Nossa sociedade sacrifica a verdade de Jesus em favor de benefícios materiais. A mídia leva a traição ao usuário. E assim, “um dos Doze” como designação de Judas torna-se símbolo do anticristianismo dentro do cristianismo. E como ficamos nós pessoalmente? Será que promovemos a tendência anticristã por meio de um discipulado pela

SERÁ QUE TODO AQUELE QUE É CHAMADO DE CRISTÃO É DE FATO CRISTÃO?

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metade ou de uma falsa tolerância? Será que nos deixamos, por exemplo, arrastar por uma corrente xenófoba ou seguimos o amor de Jesus? Judas traiu o amor pelo ódio aos romanos. Para nós, no entanto, as maiores armas permanecem o evangelho e o amor. “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12.21).


CIÊNCIA

No Princípio, Criativo

Quem Reconhece, Admira! A coloração especial da tarântula azul As cores são normalmente geradas por pigmentos de cor. No entanto, na natureza também existem cores que se formam por meio de nanoestruturas, através das quais as ondas luminosas se sobrepõem por reflexo. Recentemente, pesquisadores conseguiram copiar tais mecanismos que, por exemplo, proporcionam as cores cintilantes da tarântula azul. São cores que não são formadas por pigmentos, mas que surgem no material por meio de nanoestruturas, sendo inertes, mais brilhantes e duradouras. Para a produção industrial, no entanto, elas têm uma grande desvantagem: são iridescentes, isto é, irradiam várias cores, e a cor que é realmente captada depende do ângulo de observação de quem olha. É possível ver o

efeito no verso de CDs. Por isso, tais cores são inaproveitáveis para muitas aplicações. Todavia, no reino animal as nano colorações com frequência são iguais, independentemente do ângulo de observação – como por exemplo na tarântula azul ou no martim-pescador. Agora os pesquisadores conseguiram copiar as nano cores na natureza. “Trata-se de um passo importante para a futura substituição dos pigmentos tóxicos nas tintas estruturais da indústria têxtil, de embalagens e cosméticos”, afirmou um dos pesquisadores. A utilização da nova técnica na indústria têxtil parece ser viável em breve. factum-magazin.ch

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HISTÓRIA

anos 1968 50 Chamada 2018 no Brasil

A Origem da Obra Missionária na

Entre 1978 e 1984 vários atendentes de caixa postal locais e missionários itinerantes do Brasil e do Uruguai cuidaram da Obra Missionária na Argentina, o maior país de língua espanhola na América do Sul. Eles ofereciam literatura e programas de rádio nas diversas cidades do interior. Frank Augustino, um argentino residente em Buenos Aires e grande amigo da Chamada Meia-Noite, vivia falando em abrir uma filial em Buenos Aires. Em uma conferência missionária em Montevidéu, Uruguai, ele se dispôs a ser o representante argentino da Chamada da Meia-Noite e pediu pelo envio de alguém que pudesse montar esse ministério no país, porque via uma grande fome pela Palavra de Deus. Em 1989 nós (Erich e Jutta Schäfer) fomos convidados como família a nos mudar para a Argentina a fim de criar ali uma estação da Chamada da Meia-Noite. Em 1990 viajamos com nossos quatro filhos para Buenos Aires, e dois meses depois nasceu o nosso quinto filho. Na nossa mudança levamos muita literatura, iniciando assim o ministério em Buenos Aires. Nos primeiros dois anos visitei muitas igrejas e congressos a fim de oferecer a nossa literatura em bancas de livros, mas também para transmitir por meio de mensa-

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gens a nossa missão sobre a volta do nosso Senhor Jesus Cristo. Criaram-se muitos contatos e, em 1992, pudemos fundar a nossa associação: Llamada de Medianoche. No mesmo ano Deus nos deu um trailer, que queríamos equipar para campanhas missionárias com estagiários do nosso instituto bíblico. É verdade que ele estava parcialmente destruído por um incêndio e precisou ser restaurado. Um ano depois, pudemos então começar a atuar no interior do país com o nosso Maranatha-Latino-Mobil (MLB). Visitamos muitas e diferentes igrejas, pregamos a Palavra de Deus, realizamos campanhas evangelísticas em diversos parques e distribuímos literatura. Stephan Beitze, colaborador da Obra em Montevidéu, também participou de várias campanhas. Em 1996, Deus conduziu a família Beitze para a Argentina a fim de ajudar no ministério de missão e de pregação. Viajamos para muitos lugares no interior do país – sozinhos, com estagiários ou com a família. Entre uma e outra viagem, pregávamos a Palavra de Deus em muitas igrejas de Buenos Aires e arredores, que na época possuíam 13 milhões de habitantes, e distribuíamos literatura. Também tínhamos de atender a correspondência, encomendas e cursos bíblicos. A Obra cresceu e precisáva-


HISTÓRIA

mos de cada vez mais material da gráfica missionária em Porto Alegre, Brasil. Diante da grande crise econômica de 2002, essas importações foram dificultadas, de modo que decidimos nós mesmos começar a imprimir. O Senhor nos deu as máquinas necessárias, e a produção de folhetos teve início. Hoje somos muito gratos ao nosso Senhor Jesus por toda a sua condução, que nos permite produzir cerca de dois milhões de folhetos anualmente. Muitas pessoas foram abençoadas pelas mensagens da Palavra de Deus e pela literatura. Ele também usou os folhetos, de modo

que muitas almas perdidas puderam encontrar o Senhor Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal. Nos últimos anos, o Senhor nos proporcionou mais reforços para o volumoso trabalho da Chamada aqui na Argentina. Daniel e Nadiya Schäfer, com sua família, juntaram-se a nós. Assim, nos alegramos em poder servir juntos ao nosso Senhor na Argentina. Também somos muito gratos aos nossos amigos pelo apoio à Obra Missionária por meio da oração. Ebenézer – até aqui o Senhor nos ajudou. A ele toda a glória. Erich Schäfer

De acordo com Oprah Winfrey, Deus é o topo de uma montanha, e há muitas maneiras de chegar lá em cima: o caminho cristão, o caminho muçulmano, o caminho das boas obras etc. Mas, se há muitas maneiras de alcançar Deus, o Filho de Deus precisava morrer na cruz pelos pecados do mundo?

Mark Cahill Evangelista

Aquele que nunca cai de joelhos na terra jamais se colocará de pé no céu.

C. H. Spurgeon (1834-1892) Pregador

Não pense que você poderia vencer esta guerra interior em uma única batalha, dando sua vida a Deus em um ato único. Em sua vida cotidiana normal sua atitude é demandada diariamente, a qual decide se você ganha ou não.

Bruno Schwengeler (1939-2014) Fundador das revistas cristãs ethos e factum

Satanás sabe, por boa observação, nossas fraquezas, enquanto nós estamos desavisados em segurança.

Wolfgang Bühne Evangelista

Erich Schäfer e Alexander Müller na gráfica própria

Muitas vezes nossas orações são tão casuais quanto pedir um hambúrguer em um balcão de lanchonete: “Eu gostaria de ter um problema resolvido e duas bênçãos sem aborrecimentos, por favor!”.

Yvonne Schwengeler Redatora

Desde 1993 acontecem viagens pelo interior do país com o Maranatha-Latino-Mobil

Quando o jardineiro dorme, o Diabo semeia ervas daninhas.

Autoria desconhecida

O fim dos tempos bíblico não é o tempo do fim do mundo, mas o fim da longa época entre a primeira e a segunda vinda do Messias.

Roger Liebi Teólogo

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CA M PO V I S U A L

Evolução do culto em perspectiva Estou consciente que o estilo dos cultos está em evolução. Estou plenamente consciente que, se um puritano típico do século 17 viesse à Grace Community Church, ele ficaria chocado com a música, talvez também triste se visse homens e mulheres sentados lado a lado, e certamente ficaria indignado por estarmos utilizando equipamentos de som. Spurgeon não apreciaria nosso órgão. No entanto, eu não desejo ter uma igreja estagnada. Também não me vejo comprometido com qualquer estilo musical ou litúrgico. As Escrituras nem tocam nesse assunto. Também não acho que minhas preferências

pessoais devam necessariamente, em tais situações, ter ascendência sobre o gosto de outras pessoas. Não tenho intenções de estabelecer quaisquer regras secundárias que determinem aquilo que pode e o que não pode ter nos cultos. Fazer isso seria puro legalismo. Minha reclamação vai contra uma filosofia que rebaixa Deus e sua Palavra a desempenharem um papel de submissão na igreja. Estou convicto de que não é bíblico comentar sobre pregação bíblica e adoração [oração, observação do autor] nos cultos. John MacArthur (Pastor da Grace Community Church)

Não somente crer, mas orar! Existem muitas pessoas que se consideram “não religiosas”, mas que também oram. Foi esse um dos resultados de uma pesquisa feita na Grã-Bretanha, divulgado pelo jornal britânico The Guardian. Entre os participantes estavam cristãos, muçulmanos, judeus, siquistas (sikhs), budistas, hinduístas, ateus e seguidores de “outras” religiões. 52% responderam que, no passado, oraram. Desses, por outro lado, 55% responderam que oram principalmente quando se encontram em uma crise pessoal. Entre os que oram, 20% se consideram “não religiosos”. Os motivos de oração mais frequentes são a família (71%), agradecer a Deus (42%), orar pela saúde (40%)

e orar pelos amigos (40%). 24% oram pedindo ajuda para os problemas mundiais, como a pobreza e as catástrofes. Entre os cristãos entrevistados, 9% responderam que participam de cultos pelo menos 1 vez ao mês, e 30% o fazem uma vez ao ano. Entre os que oram, um pouco menos da metade acredita que Deus atende às suas orações, de onde se conclui que um pouco mais do que a maioria não acredita que suas orações sejam atendidas. 40% acreditam que as orações podem transformar o mundo e outro tanto das respostas afirma que, por meio das orações, as pessoas se sentem mais confortáveis. Chamada

seguir ela é comprimida sob leve aquecimento de 65ºC. Com isso as fibras de celulose são prensadas firmemente entre si. Todas as falhas, como furos ou más formações, são comprimidas. Com a compressão, a madeira fica cinco vezes mais fina do que em seu volume original. A resistência da madeira foi testada por meio de disparos de projéteis contra ela. Os projéteis perfuraram a madeira natural, sem tratamento, mas a madeira tratada os reteve. Graças ao novo tratamento, as madeiras mais macias, de crescimento

mais rápido, se tornam suficientemente fortes para utilização na fabricação de móveis ou em construções. A madeira tratada pode ser utilizada em quase todos os projetos onde normalmente se utilizaria aço e, assim, pode substituí-lo – inclusive o aço empregado na fabricação de aviões ou automóveis. factum.magazine.ch

Super madeira A madeira é um material tradicional usado de muitos modos, e cada vez mais são descobertas múltiplas formas de aplicação para ela. Mesmo que ela tenha uma boa estabilidade, não pode concorrer com o aço. Isso, porém, está mudando. Engenheiros da Universidade de Maryland encontraram uma maneira de modificar a madeira, até possibilitando a aplicação de ligas de titânio. O tratamento torna a madeira tão forte quanto o metal, mas com um peso seis vezes menor. O processo inicia com a extração da lignina da madeira, o ingrediente que proporciona a sua rigidez e responsável por sua cor marrom. A

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MEDICINA

O que uma pessoa com morte cerebral que despertou revela sobre a

doação de órgãos

Um rapaz com diagnóstico de morte cerebral desperta pouco antes da planejada retirada de órgãos... confirmando assim o que a Escritura Sagrada diz sobre vida e morte. E de repente a discussão sobre doação de órgãos é reacendida. Foi assim que o súbito despertar de uma pessoa com morte cerebral nos EUA ganhou as manchetes: Trenton McKinley, de 13 anos, havia sofrido uma grave fratura craniana em um acidente. Ao dar entrada no hospital, ele já era dado como morto há 15 minutos. Os médicos diagnosticaram morte cerebral. Os pais decidiram doar os órgãos do rapaz. Ele foi conectado a aparelhos preservadores da vida para possibilitar o preparo do transplante. No entanto, um dia antes da programada retirada dos órgãos, as correntes cerebrais retornaram, e nos dias subsequentes Trenton recuperou lentamente a consciência. O jornal alemão Die Welt noticiou o evento no dia 7 de maio deste ano. Cristo diz: “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’” (Mt 5.21). A retirada de órgãos como rim, medula óssea ou sangue não requer a morte do doador; trata-se de uma doação inter vivos, que na nossa opinião é moralmente defensável. Mas como fica a situação com órgãos que requerem a “morte” do doador, enquanto os órgãos em si precisam estar vivos? Para isso, a pessoa com morte cerebral é mantida viva artificialmente para permitir a retirada dos seus órgãos. No entanto, a morte cerebral não é equiparável à morte do corpo inteiro. Embora na morte cerebral não seja mais possível medir atividades cerebrais, é difícil afirmar que a

pessoa esteja realmente morta e não tenha mais emoções. Assim, mulheres com morte cerebral ainda foram capazes de produzir hormônios e dar à luz o seu bebê. O neurologista dr. Alan Shewmon, da Universidade da Califórnia – Los Angeles, comprovou que 175 pacientes nos quais se diagnosticou morte cerebral sobreviveram a esse diagnóstico. Somente depois que o coração falha definitivamente, e não há mais circulação sanguínea, pode-se falar de morte efetiva, mas então os órgãos também não são mais irrigados e não podem mais ser usados (cf. Lv 17.11; 17.14; Dt 12.23). Portanto, o moribundo é mantido vivo até que seus órgãos possam ser retirados, mas é justamente por meio dessa retirada que a pessoa é morta, e isso apesar de ainda não ter morrido efetivamente. Assim, a doação dos órgãos pode, por um lado, salvar vidas, mas, por outro, uma vida é aniquilada. Depois de uma doação de órgão bem-sucedida, o receptor dependerá pelo resto da vida de dispendiosos medicamentos, porque a reação natural do corpo é rejeitar o órgão diferente. Esse mecanismo de defesa natural é então superado pelos medicamentos. Há países em que na retirada de órgãos de pessoas com morte cerebral se administra uma anestesia. Por quê? Porque a pessoa não está realmente morta, e quem sabe...? Não pretendemos condenar ninguém genericamente, mas pedir a todos que examinem e decidam com base nos argumentos médicos, morais e, principalmente, nas declarações da Palavra de Deus qual posição assumirão diante de uma doação de órgãos. Norbert Lieth

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SÉRIE

O que significa viver em prontidão Parte 26 | Filipenses 3.20-21 Os filhos de Deus têm um direito de residência que ninguém pode tirar deles. Eles são cidadãos do céu (Fp 3.20-21). Todavia, é claro que isso não significa que não tenham responsabilidades aqui na terra. A Bíblia ensina de forma inequívoca que devemos submeter-nos ao governo (Rm 13.1-7). Como cristãos, não podemos, por exemplo, achar que, como cidadãos do céu, não precisamos mais pagar impostos. Alguém poderá alegar que os impostos são usados para fins pecaminosos e, co-

Senhor: “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu teria dito a vocês. Vou preparar lugar para vocês. E, quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (Jo 14.1-3). Nosso tempo aqui na terra é limitado, estamos apenas de passagem. “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o

era prontidão para Davos, na Suíça. Tínhamos de dormir uniformizados e sempre manter o fuzil à mão. Se algo acontecesse, bastaria embarcarmos no blindado e nos dirigir a Davos. Este é um exemplo de contínua prontidão (cf. Ef 6.10-20). Tudo o que fizermos deve ocorrer na expectativa de que “o Senhor vem!”. Se ele vier agora, será que vai nos encontrar prontos? Ou ficaremos espantados quando subitamente estivermos diante dele? Precisamos estabelecer corretamente as

A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso. 20

mo não apoia isso, não pagará nada. Não é assim. Uma exceção a essa obediência ocorre quando a lei exige de nós agir diretamente contra a vontade de Deus. Basicamente, porém, o cristão não é alguém que age de forma rebelde ou que marcha na vanguarda de todo tipo de manifestação (cf. 1Pe 2.12-14). Os cristãos têm outras prioridades e coisas mais importantes a fazer. Nossa fidelidade dirige-se prioritariamente ao Senhor nos céus, onde reside a nossa cidadania e se encontra o Cristo. O céu é a nossa pátria, como diz o nosso

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Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Como cristãos, vivemos na expectativa. A questão é: será que vivemos conscientemente na expectativa da volta do Senhor? Será que toda a nossa vida está focalizada naquele dia? No texto original, a palavra “esperar” significa uma espera calma, mas extremamente expectante. É uma forte expressão da séria expectativa de um evento. Lembro-me do tempo que passei no exército suíço, quando a nossa tropa precisava ficar de prontidão. Na ocasião, não levávamos aquilo tudo muito a sério –

prioridades em nossa vida. Os maus exemplos que Paulo cita em Filipenses 3.18-19 buscam comida, vestuário, honra egoísta, conforto e divertimento. É claro que podemos aproveitar as boas coisas que o Senhor nos dá, mas não devemos “devorá-las”. Ganância é idolatria (Cl 3.5). Antes, em cada área da nossa vida, deveríamos perguntar: “Senhor, o que você quer?”. Somos chamados a investir no eterno e permanente, porque o que é da terra é perecível. Se o Senhor nos chamar a fazer algo, é preciso fazê-lo hoje, e não amanhã, quando for tarde demais.


SÉRIE

Uma interpretação da carta aos Filipenses, feita por vários pregadores da Chamada da Meia-Noite.

Somos chamados a investir no eterno e permanente, porque o que é da terra é perecível. aposentadoria chegou, ele disse: “Agora estou muito cansado”. Quando o Senhor nos dá algo, suas dádivas não podem ser ignoradas e nossas tarefas não podem ser postergadas indefinidamente. Que de modo nenhum sejamos cristãos acomodados. “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma. Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, mesmo que eles os acusem de praticar o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da intervenção dele” (1Pe 2.11-12). A vontade de Deus é prioritária, ainda que isso possa implicar sofrimento. Em Filipenses 3.21 Paulo diz que Cristo, quando voltar, “transformará os nossos corpos humilhados”. Esse é o arrebatamento (1Ts 4.13-18). Temos a esperança

de que o nosso corpo degradado pelo pecado será substituído por um corpo novo e eterno. Como isso se dará exatamente, não sabemos (1Jo 3.2). Sabemos, porém, que nos reconheceremos. Será um corpo real e, num certo sentido, ainda preservaremos o nosso caráter. Os vivos serão transformados e os mortos ressuscitarão. “Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal se revista de imortalidade” (1Co 15.53). Espera-nos um corpo ressuscitado imortal, tal como o que Cristo tem. Então também estaremos livres do pecado, e mais nenhuma tentação poderá nos perturbar. Quando divulgamos pelo mundo esta mensagem do arrebatamento, muitos não creem nela. Alguns cristãos até têm vergonha dela. Não gostam de falar sobre sua futura transformação e o fato de que o nosso Senhor virá e num momento levará para si todos os filhos de Deus. Mas esse dia certamente virá, e será “pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio” (Fp 3.21). Nosso Deus criou os céus e a terra. Ele pode realizar tudo a que se propôs. É nessa fé que queremos viver e estar sempre preparados. “O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!” (Mt 25.6). Nathanael Winkler

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Os líderes de uma igreja disseram a um jovem bem-dotado que gostariam de aplicar seus dons na igreja. Ele, porém, vinha trabalhando na sua carreira e respondeu que, quando tivesse avançado um pouco mais, poderia tomar tempo para isso. Os anos passaram e ele já havia chegado aos quarenta. Novamente a igreja o consultou. Ele explicou que tinha acabado de chegar ao topo da carreira e que logo mais poderia atendê-los. Ele casou, criou filhos e rapidamente chegou aos 60 anos. Novamente foi consultado, mas de novo não tinha tempo, porque precisava preparar sua aposentadoria. Quando então a

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O LÁ D E J E R U S A L É M Jerusalém, setembro de 2018

Queridos amigos, Shalom. Na semana passada um homem ligou para o escritório da igreja e queria falar comigo. Ele se apresentou e perguntou se eu me lembrava dele. Infelizmente, eu não me lembrava, mas perguntei: “Quando nós nos falamos da última vez?”. Ele respondeu: “Há 24 anos”. Uau, eu me senti muito bem. Ele disse que 24 anos atrás nós falamos sobre Jesus e eu havia mostrado os versículos que provam que Jesus é o Messias judeu. Bem, naquela época ele só deixou aquilo descansando em seu cérebro, mas logo depois essa informação mudou a sua vida. Ele estava ligando apenas para dizer que é um cristão renascido e que gostaria de renovar o nosso contato. Como ele mora na área de Tel Aviv, dei-lhe o número do meu amigo que é pastor. Meu amigo me disse que eles se falaram e que, se Deus quiser, aquele homem irá se unir ao grupo de estudo bíblico que este pastor dirige. Alguns dias depois, no sábado, um homem novo veio à igreja. Aproximei-me dele e perguntei seu nome. Ele respondeu: “Já te conheço há 10 anos!”. Fiquei surpreso, e então ele disse que é um israelita que viveu na Hungria nos últimos 14 anos. Ele se tornou um crente em Jesus por meio de uma reunião com um evangelista em Budapeste. Desde então, tem estudado a Bíblia através de nossos sites (www.yeshua.co.il e www.jerusalemassembly.com). Ele me disse: “Depois de 10 anos assistindo pela internet e lendo as lições, sinto como se já conhecesse você e a igreja”. Se Deus quiser, nos encontraremos novamente em breve, uma vez que ele mora nos arredores de Jerusalém. Partilhei esta informação com os obreiros e ministros da igreja, para que eles possam saber que existe um fruto do trabalho que realizam. Louvamos o nome de Deus, que nos permite servi-lo e glorificar o seu nome. Batismos É sempre uma grande alegria quando uma pessoa jovem entra em meu escritório e pergunta: “Você pode me preparar para o batismo?”. No mês passado, batizamos quatro pessoas: dois do nosso grupo de jovens e dois outros jovens adultos. Cada batismo significa algumas semanas de reuniões (nos casos simples), ou um processo de ensino de um ano de duração (no caso em que a pessoa vem de uma família religiosa etc.). Pela graça de Deus, todos concluíram seus estudos juntos e nós tivemos o prazer de vê-los testemunhar sobre seu posicionamento perante a igreja e compartilhar seus testemunhos pessoais. Graças a Deus, há mais candidatos para um futuro próximo. A Deus seja a glória. Preparativos para implantar uma nova igreja Como já foi compartilhado anteriormente, estamos atualmente desfrutando de uma casa cheia. O salão principal da igreja fica cheio todo sábado de manhã, e todos os espaços já estão tomados e as pessoas que chegam são direcionadas para o salão de comunhão. Em oração, preparamos um grupo para iniciar uma igreja em um lugar para o qual Deus está nos conduzindo.

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Pela graça de Deus, a nova igreja poderá iniciar suas reuniões independentes durante este ano de 2018. Um dos requisitos, a fim de enviar os outros, é a necessidade de novas pessoas que assumam novas responsabilidades. Louvo a Deus por alguns jovens em nossa igreja que estão dando um passo à frente para começar a ensinar os principais estudos bíblicos semanais e cuidar do culto principal no sábado. É tão agradável ver o fruto dos muitos anos de investimento. Deus é tão bom. Deus é o Rei. A necessidade de um lugar para a nova igreja A partir da nossa experiência pessoal, todos os nossos contratos de aluguel foram quebrados por causa da pressão dos não cristãos e das organizações anticristãs contra os proprietários dos imóveis. Em todos os casos, os proprietários foram ameaçados de serem expulsos da cadeia de negócios. Em consequência disso, há anos estamos economizando para essa finalidade. Estamos buscando comprar um lugar que seja adequado à nova igreja. Já temos cerca de 80% do montante estimado, e oramos para que Deus venha a prover o restante também. Vamos compartilhar todos os detalhes assim que possível. Por favor, em oração, considere a possibilidade de nos apoiar neste projeto. Palestras, viagem de estudos e reunião com pastores árabes No mês passado, estive envolvido com uma conferência de ensino do Friends of Israel, em Londres. O tema foi: “Jerusalém na Bíblia”. Uma semana depois estive na Alemanha para uma reunião singular com pastores e professores árabes. Continuamos o nosso compromisso de encontrar e falar, orar e estudar, a fim de alcançarmos a unidade cristã entre nós, algo que irá melhorar nosso ministério e glorificar o Senhor. A reunião foi uma verdadeira bênção. Estamos aprendendo a conhecer melhor uns aos outros, e isso será expresso em ministério e companheirismo mútuos. Quando os não cristãos virem cristãos árabes e judeus nascidos de novo e trabalhando juntos pelo amor ao nome de Deus, irão testemunhar do poder do evangelho de Jesus Cristo. No início de julho também fui para os Estados Unidos, para participar da última sessão do seminário do mestrado. Uau, que emoção! Por favor, orem por mim, por sabedoria e fé. Todas as parábolas de Jesus Com tudo que está acontecendo, Helmut, um dos presbíteros da nossa igreja, está avançando na edição do meu livro All the Parables of Jesus [Todas as parábolas de Jesus]. É um processo longo, mas, de cada parábola, será apresentado seu verdadeiro significado, suas implicações e aplicações corretas. Oramos por graça e sabedoria, a fim de preparar o material de uma forma que possa ajudar a igreja a crescer espiritualmente. Com muito amor e gratidão (Sl 15),

Meno e Anat Kalisher


JUDAÍSMO

USO DO QUIPÁ: MANDAMENTO OU COSTUME? Seria o apelo feito aos judeus da Alemanha de saírem à rua sem quipá um chamado à blasfêmia ou de preservação da vida? Em abril último, o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, dr. Josef Schuster, chocou o mundo judeu. Em uma entrevista concedida à imprensa alemã, ele sugeriu que os judeus habitantes do seu país escondessem seu quipá porque, caso contrário, teriam de temer agressões de fundo antissemita. O dr. Schuster declarou isso depois de um ataque antissemita ocorrido em Berlim. Ironicamente, um dos rapazes era justamente um árabe israelense que queria verificar se realmente havia algum perigo na espreita caso alguém se identificasse publicamente como judeu mediante o uso de um quipá em Berlim. Enquanto na Alemanha os judeus discutem questões relativas à sua segurança e a sociedade alemã se ocupa da urgente questão de um eventual retorno do antissemitismo às ruas do país, a recomendação do dr. Schuster destacou uma questão relacionada à halacá. Seria permitido, segundo a halacá – o código religioso judeu –, omitir em público o uso do quipá, esse símbolo de tradição secular da condição de judeu que os homens costumam usar a partir do terceiro ano de vida, se for possível com isso evitar uma ameaça à vida? Essa pergunta permite uma sumária resposta positiva. A halacá determina claramente que o cumprimento do repouso sabático – um dos mais significativos mandamentos – deve subordinar-se à

preservação da vida. Em outras palavras: em questões de vida ou morte, existe até a obrigação de transgredir os mandamentos sabáticos para salvar vidas. Se isso vale para o sábado, já mencionado na Torá como dia de repouso santificado, muito mais isso se aplicará ao uso de um quipá, que não é determinado pela Torá. Os judeus piedosos consideram óbvio usar o quipá apesar dele não ser mencionado nas escrituras bíblicas e até o século 16 não ter sido um mandamento. Ao mesmo tempo, o uso do quipá, que até então era opcional, tornou-se fonte de inúmeras discussões fundamentais: alguns estudiosos da Torá determinaram que seria mandatório usar o quipá apenas durante a oração, enquanto outros determinaram que ele deveria ser usado apenas quando se percorresse uma determinada trajetória. Outros ainda achavam que não existiria nenhum mandamento que exigisse o uso do quipá. A discussão dessa questão da halacá já surge no Talmude Babilônico; portanto, ela vem sendo discutida há 1.800 anos. Como um grupo de estudiosos começou a usar o quipá foi explicado pelo fato de que, dessa maneira, ele proporcionaria a

constante lembrança do Criador, isto é, a cobertura na cabeça os faria sentir a presença de Deus. Desta forma, para eles a cobertura da cabeça é interpretada como uma expressão da “visão do céu”. Isso contrasta com o uso cristão, que determina descobrir a cabeça em honra à presença de Deus e de seus símbolos em momentos apropriados. Da referência a esta e a outras fontes nasceu o costume do uso do quipá. Foi só no século 16 que um dos mais importantes eruditos religiosos judeus, o rabino Yosef Karo, declarou esse costume como obrigatório. Embora muitos considerem sua sentença como impositiva, continuaram a existir eruditos, entre os quais também rabinos contemporâneos, que a contestaram. Eles são da opinião que o uso do quipá deveria ser restrito aos momentos de oração e de estudo da Torá. Mesmo assim, muitos judeus religiosos cultivam esse costume como expressão da “visão do céu”. Como, porém, não existe nenhum mandamento da halacá sobre a cobertura da cabeça, os judeus também podem apresentar-se sem ela se o uso de um quipá colocar sua vida em risco. Mori Lidar CHAMADA DA MEIA-NOITE | SETEMBRO DE 2018 |

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ANOS DE ISRAEL Há 70 anos foi fundado o moderno Estado de Israel. 2018 representa um excepcional jubileu na história do povo judeu. No dia 14 de maio de 1948, Ben-Gurion anunciou ao mundo, através do rádio: “Aqui é o Estado de Israel. Passaram-se 2.000 anos. Quando para Deus é chegado o tempo, ninguém pode resistir”. Em seguida, levantou-se um rabino e proferiu uma oração que é conhecida por qualquer criança que cresceu no judaísmo: “Baruch atha, Adonai, Eleoheinu, Melech haolam, shehecheyanu veqijemanu vehigi’anu lazman hazeh!”. Traduzido: “Louvado sejas, Senhor, nosso Deus, Rei do mundo, que nos permitiste viver e nos sustentaste e nos conduziste até este momento”. A senhora Golda Meir, que naquela ocasião também estava entre os quase 400 sionistas reunidos em Tel Aviv, escreveu posteriormente que todos estavam com lágrimas nos olhos e que as palavras tão conhecidas dessa oração nunca tiveram um significado tão profundo como naqueles momentos. Devemos recordar: entre 1938-1945 foram mortos 6.000.000 de judeus na Europa. Morreram em câmaras de gás, fuzilados, de fome e espancados até a morte – e, apenas três anos depois, os sobreviventes fundaram o Estado de Israel. Subitamente tornou-se realidade aquilo pelo qual se orou diariamente, repleto de anseio por Sião, durante 2.000 anos. Este memorável dia da proclamação do Estado foi descrito pelo profeta Isaías já por volta de 700 a.C. com as seguintes palavras (Is 66.8): “Quem já ouviu uma coisa dessas? Quem já viu tais coisas? Pode uma nação nascer num só dia, ou, pode-se dar à luz um povo num instante? Pois Sião ainda estava

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em trabalho de parto, e deu à luz seus filhos.” No dia 14 de maio de 1948 “nasceu” o Estado de Israel em meio a um doloroso “trabalho de parto”, em meio a uma onda de terrorismo sem precedentes dos palestinos contra os judeus (desde novembro de 1947, quando a ONU havia dado luz verde para a fundação do Estado) e de uma guerra total. Assim que os ingleses, com o poder do Mandato, haviam saído totalmente da Palestina (14-15/05/1948), as nações inimigas circunvizinhas da Jordânia, Síria, Iraque, Líbano, Egito, juntamente com contingentes da Arábia Saudita e Iêmen, iniciaram a guerra de extermínio.

O alvo dos inimigos: a eliminação de Israel

Nas últimas décadas houve três tentativas de eliminar o Estado judeu por meio de uma guerra total por parte das nações ao redor de Israel: • 1948/1949: na chamada Guerra da Independência de Israel; • 1967: na Guerra dos Seis Dias; • 1973: na Guerra do Yom Kippur.

Tel Aviv, uma das principais cidades de Israel


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Jerusalém, capital de Israel

O profético Salmo 83 descreve exatamente o objetivo dos inimigos do povo judeu. Nesta oração-cantada pode-se ouvir a voz do povo de Israel, o qual clama pelo socorro de Deus em meio à opressão dos seus inimigos: “Ó Deus, não te emudeças; não fiques em silêncio nem te detenhas, ó Deus. Vê como se agitam os teus inimigos, como os teus adversários te desafiam de cabeça erguida. Com astúcia conspiram contra o teu povo; tramam contra aqueles que são o teu tesouro. Eles dizem: ‘Venham, vamos destruí-los como nação, para que o nome de Israel não seja mais lembrado!’”

A Segunda Guerra Mundial e o moderno Estado de Israel

No final da Segunda Guerra Mundial, quando os campos de concentração da Europa foram liberados, apareceu todo o horror da shoah (hebraico: “catástrofe”). O mundo civilizado entrou em choque. Isso teria consequências enormes: No dia 29 de novembro de 1947, quando a ONU apresentou a proposta de criação de um Estado judeu, a maioria das

nações votou com um decisivo “sim”. Os Estados islâmicos na ONU, pelo contrário, se enfureceram. Com isso houve ameaças de que um futuro Estado judeu seria imediatamente eliminado. Os que votaram “sim”, no entanto, não se deixaram intimidar. Nessa hora, as recentes imagens de extermínio dos judeus ainda estavam muito vivas. Foi nessa circunstância que o “sim” se formalizou naquela memorável data. Nos dias de hoje isso seria totalmente inimaginável. Por isso podemos afirmar que a existência do moderno Es-

A rejeição ao Messias sofredor pela maioria do seu próprio povo teria consequências catastróficas para a nação. tado judeu é uma consequência direta da Segunda Guerra Mundial e do respectivo extermínio de seis milhões de judeus! Não é algo admirável ver que a mais terrível guerra da história teve um papel-chave para a mudança de destino dos judeus após quase 2.000 anos? Por meio da Segunda Guerra Mundial, e da shoah inseparavelmente ligada a ela, foi aberta a porta para o moderno Estado dos judeus!

O Messias sofredor e o ocaso do Estado de Israel

Por que, afinal, aconteceu o ocaso do Estado de Israel, há quase 2.000 anos? A Bíblia traz a resposta para essa questão: ao se cumprir o tempo, Jesus Cristo se apresentou como Pregador em toda a terra de Israel. Com a sua vinda, ele cumpriu as profecias do AT sobre o “Messias sofredor”. Desse modo, podemos comprovar que Jesus Cristo é o Messias. Em Jesus de Nazaré foram cumpridas mais de 300 profecias sobre o Messias prometido! A rejeição ao Messias sofredor pela maioria do seu próprio povo teria consequências catastróficas para a nação. Assim o predisseram os profetas do AT. Isso pode ser comprovado, por exemplo, com Isaías 8.14-15. Na Antiguidade, os rabinos já haviam relacionado esta passagem ao Messias: “... ele [o Messias] será um santuário, mas também uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair. E para os habitantes de Jerusalém ele será uma armadilha e um laço. Muitos deles tropeçarão, cairão e serão despedaçados, presos no laço e capturados”. A grande maioria do povo judeu rejeitou Jesus de Nazaré como o Messias. Para eles, Jesus foi a “pedra de tropeço”. No ano 70 d.C. – poucos anos após a crucificação de Jesus – em uma guerra horrível e sangrenta, os romanos destruíram Jerusalém, a capital dos judeus, juntamente com o CHAMADA DA MEIA-NOITE | SETEMBRO DE 2018 |

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maravilhoso templo no monte Sião. Como consequência da brutal opressão das duas revoltas judaicas contra Roma (66-73 e 132-135 d.C.), o desaparecimento definitivo do Estado judeu aconteceu. A maravilhosa terra de Israel, onde havia leite e mel com fartura (Dt 6.3), foi se afundando, em um processo que se estendeu por vários séculos, até se tornar um horrível deserto. Essa evolução alcançou o ápice no século 19. Também o povo judeu, em um longo processo de várias centenas de anos, foi disperso pelos cinco continentes do mundo. Durante dois milênios, no mundo todo, os judeus foram odiados, rejeitados, difamados, proscritos, perseguidos, expulsos e assassinados. O saldo aponta para cerca de 13 milhões de mortes a serem lamentadas entre esse povo sofrido, ocorridas entre o ano 70 d.C. até o século 20. Já por volta de 1605 a.C. Moisés profetizou esses fatos com absoluta precisão. Deus havia anunciado por meio dele (Lv 26.31-33):

Muitas passagens no AT que falam do Messias afirmam que, pouco antes de sua aparição como Rei, o povo judeu retornaria da dispersão através do mundo para novamente fundar o seu Estado “Deixarei as cidades de vocês em ruínas e arrasarei os seus santuários, e não terei prazer no aroma das suas ofertas. Desolarei a terra a ponto de ficarem perplexos os seus inimigos que vierem ocupá-la. Espalharei vocês entre as nações e desembainharei a espada contra vocês. Sua terra ficará desolada; as suas cidades, em ruínas.” Em sua mensagem de despedida, por volta de 1566 a.C., Moisés profetizou (Dt 28.64-67):

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“Então o Senhor os espalhará pelas nações, de um lado ao outro da terra. Ali vocês adorarão outros deuses; deuses de madeira e de pedra, que vocês e os seus antepassados nunca conheceram. No meio daquelas nações vocês não encontrarão repouso, nem mesmo um lugar de descanso para a sola dos pés. Lá o Senhor dará a vocês coração desesperado, olhos exaustos de tanto esperar, e alma ansiosa. Vocês viverão em constante incerteza, cheios de terror, dia e noite, sem nenhuma segurança na vida. De manhã dirão: ‘Quem me dera fosse noite!’ E de noite: ‘Ah, quem me dera fosse dia!’, por causa do terror que encherá o coração de vocês e por aquilo que os seus olhos verão.”

A restauração do Estado de Israel

Do mesmo modo como os profetas disseram que, após a rejeição do Messias, o povo judeu seria disperso pelo mundo todo, assim eles também profetizaram que Deus novamente os reuniria e os unificaria em um Estado. Por meio da Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918, a terra da Palestina foi liberada para o povo dos judeus. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com as horrorosas perseguições aos judeus e dos campos de concentração, incontáveis judeus tiveram o profundo desejo em seus corações de poderem voltar ao seu país Israel, e isso em uma dimensão nunca vista antes. Desde 1882 (o início da primeira grande onda de imigração) até hoje, cerca de três milhões de judeus retornaram à terra de seus pais, vindos de 130 países diferentes. Ali eles também tiveram nova-

Exibição de especiarias em um mercado israelense

mente filhos. Por isso, hoje vivem em torno de seis milhões de judeus em Israel, mais do que em qualquer outro país do mundo. O profeta Jeremias falou de “pescadores” e “caçadores”, que seriam utilizados por Deus para trazer os judeus de volta para a terra, vindos de todos os países para os quais ele os havia disperso: “‘Contudo, vêm dias’, declara o Senhor, ‘quando já não mais se dirá: “Juro pelo nome do Senhor, que trouxe os israelitas do Egito”. Antes dirão: “Juro pelo nome do Senhor, que trouxe os israelitas do norte e de todos os países para onde ele os havia expulsado”. Eu os conduzirei de volta para a sua terra, terra que dei aos seus antepassados. Mas agora mandarei chamar muitos pescadores’, declara o Senhor, ‘e eles os pescarão. Depois disso mandarei chamar muitos caçadores, e eles os caçarão em cada monte e colina e nas fendas das rochas’” (Jr 16.14-16). Os “pescadores” são uma referência aos sionistas, que desde o século 18 se empenham no trabalho de “pescar” os judeus ao redor do mundo por meio de palestras, congressos e intensivo apoio financeiro para que voltem à terra de Israel. Os “caçadores”, que deveriam entrar em ação depois (!) dos pescadores, nos lembram os que odiavam os judeus, como Hi-


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tler e seus colaboradores, que empurravam multidões de judeus para sua pátria. Também aqui as profecias se cumpriram literalmente. Seguem alguns exemplos disso: “Assim diz o Soberano, o Senhor: Eu os ajuntarei dentre as nações e os trarei de volta das terras para onde vocês foram espalhados e devolverei a vocês a terra de Israel” (Ez 11.17). “Assim diz o Soberano, o Senhor: Tirarei os israelitas das nações para onde foram. Vou ajuntá-los de todos os lugares ao redor e trazê-los de volta à sua própria terra” (Ez 37.21). “Pois eu os tirarei dentre as nações, os ajuntarei do meio de todas as terras e os trarei de volta para a sua própria terra” (Ez 36.24). O que aconteceria com a terra de Israel, que na verdade estava deserta? Há diversas passagens que informam sobre isso. Na última parte de seu livro (caps. 33-48), o profeta Ezequiel descreve como, nos tempos finais, o povo de Israel e sua terra teriam uma completa restauração após um processo composto de diversas fases. Com relação à terra, ele escreveu no século 6 a.C. (Ez 36.35): “Esta terra que estava arrasada tornou-se como o jardim do Éden; as cidades que jaziam em ruínas, arrasadas e destruídas, agora estão fortificadas e habitadas.”

Os desertos florescerão novamente! A terra de Israel de fato se tornou novamente uma terra da qual podemos dizer que “há leite e mel com fartura”. Foram plantadas 240 milhões de árvores. Com muita organização, as terras foram replantadas. O rendimento de cereais, verduras, frutas cítricas, vinho e oleaginosas tem crescido ao longo das décadas. Israel hoje exporta flores ornamentais para o mundo todo.

O Estado de Israel e o Messias

O desaparecimento do Estado de Israel esteve relacionado com o Messias Jesus e sua rejeição. A Bíblia anunciou isso antecipadamente: na sequência da rejeição ao Messias, o Estado de Israel teria um fim e o povo judeu seria disperso pelo mundo. A restauração do Estado de Israel também está relacionada com o Messias. Muitas passagens no AT que falam do Messias afirmam que, pouco antes de sua aparição como Rei, o povo judeu retornaria da dispersão através do mundo para novamente fundar o seu Estado. Isso se destaca claramente, por exemplo, em Ezequiel 37. Nos versículos 12-14 fala-se do retorno dos judeus desde a sua dispersão pelo mundo, e, em seguida, nos versículos 24-28 fala-se do “Messias triunfante” e seu glorioso reinado. Ele ali

é denominado como “meu servo Davi” (Davi = o Amado; cf. Ef 1.6). Esta é uma referência conhecida para o Messias no judaísmo. Como o povo judeu reagirá diante do Messias em sua vinda? Os capítulos 12 e 13 do profeta Zacarias fornecem informações para essa pergunta. No capítulo 12.10-11 consta: “E derramarei sobre a família de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de graças e de súplicas. Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um filho único e se lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do filho mais velho. Naquele dia, muitos chorarão em Jerusalém, como os que choraram em Hadade-Rimom no vale de Megido.” No Talmude, Sukkah 52a, na visão judaica-rabínica, essa passagem também se refere ao Messias!

O que a existência do moderno Estado de Israel nos ensina?

A existência do Estado de Israel é uma realidade que não pode ser negada e com a qual todo o mundo precisa lidar, seja com alegria ou com desgosto. Roger Liebi

A EXISTÊNCIA DESSE ESTADO NOS ENSINA: 1. 2. 3. 4.

5.

Deus é fiel e cumpre todas as suas promessas. A profecia cumprida sobre Israel comprova que a Bíblia não é um livro humano, mas é a Palavra de Deus. Deus mantém a história mundial em suas mãos. Em consequência: a minha vida também está nas mãos dele. Estamos vivendo no fim dos tempos bíblicos, antes da volta de Jesus Cristo como Juiz do mundo. Assim, surge a pergunta pessoal: estou preparado para me encontrar com ele? Preciso acertar minha vida com Deus antes da vinda do Juiz. Quem reconhece e se arrepende de sua culpa pessoal diante de Deus recebe pleno perdão (1Jo 1.9) e não precisa temer a vinda do Juiz, mas pode esperá-la com alegria.

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ORIENTE MÉDIO

MUDANÇA DE ROTA NA

ARÁBIA SAUDITA? O príncipe-herdeiro saudita fez uma declaração surpreendente sobre o direito de existência de Israel. Depois, seu pai tomou a palavra para afirmar sua solidariedade com o povo palestino. Para onde se dirige esse importante ator do Oriente Médio, o qual, da mesma forma como Israel, considera o Irã uma ameaça?

É fato notório que o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman já vem definindo os caminhos para o futuro da Arábia Saudita, embora seu pai, o rei Salman, ainda ocupe o trono. Em algumas áreas ele tomou decisões classificadas como efetivamente radicais para aquele reino muçulmano extremamente conservador, já que modificam maciçamente suas estruturas econômicas e sociais, altamente vinculadas à tradição. Trata-se, entre outras coisas, de redirecionamento da política energética e da admissão de uma indústria de entretenimento, mas também da abertura da vida pública para mulheres, com maior inclusão delas. O príncipe-herdeiro visa levar em conta a geração saudita mais jovem. Todavia, os aspectos de política interna são apenas parte dessa história. Recentemente, o príncipe-herdeiro Mohammed fez uma declaração surpreendente à revista americana The Atlantic: “Creio que todo povo tem em toda parte o

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direito de viver em paz em sua própria nação. Creio que os palestinos e israelenses têm direito a ter o seu próprio país”. Com isso, o príncipe-herdeiro Salman reconheceu o direito do Estado de Israel à existência, o que é incomum, uma vez que mesmo líderes árabes moderados têm-se referido, na melhor das hipóteses, à “realidade da existência de Israel”, mas nunca ao direito judeu a um lar nacional na terra dos seus ancestrais. David Makovsky, do Instituto Washington para a Política do Oriente Médio, classificou essa quebra de tabu do príncipe-herdeiro como “a mais importante declaração de uma personalidade de liderança do Oriente Médio desde Sadat, quando falou a respeito do conflito árabe-israelense”. O jornalista Jeffrey Goldberg registrou que, durante sua entrevista, o príncipe-herdeiro esteve cercado de inúmeros conselheiros, que não só escutavam atentamente, mas também assumiram uma

atitude de precaução quando ele se manifestava com excessiva franqueza. Assim, não é de admirar que, imediatamente após a publicação da entrevista, o rei Salman tenha mandado anunciar por meio da agência noticiosa saudita que “o rei reafirma a posição absolutamente firme do reino quanto à causa palestina e ao direito legítimo do povo palestino a um Estado soberano, com Jerusalém como capital”. Tudo indica que um acréscimo incluído por seu filho na entrevista não foi longe o suficiente para preservar a imagem saudita no mundo árabe em conexão com este delicado tema. Basicamente, pode-se considerar que a Arábia Saudita continuará apoiando a iniciativa de paz árabe proposta em 2002 e, ainda que quanto a “Israel e a Palestina” pai e filho pareçam não estar sintonizados, eles demonstram seu acordo quanto ao “Triângulo do Mal”. Em sua entrevista, o príncipe-herdeiro Mohammed referiu-se amplamente a esse “Triângulo do Mal”, no qual ele inclui não só a fraternidade muçulmana com Hamas e Hezbollah, mas também grupos terroristas sunitas e, principalmente, o Irã. Que a Arábia Saudita enxerga o Irã como ameaça fica claro pelas seguintes declarações do príncipe-herdeiro: “Creio que o líder máximo do Irã prejudica a imagem de Hitler. Hitler tentou conquistar a Europa [...] O líder máximo iraniano tenta conquistar o mundo [...] Ambos precisam ser considerados diabólicos [...] Nas décadas de 1920 e 1930 ninguém achava que Hitler fosse uma ameaça. Pouca gente percebeu aquilo [...] Queremos frear isso [as reivindicações hegemônicas iranianas] por meio de iniciativas políticas, providências


ORIENTE MÉDIO

econômicas e medidas noticiosas. Queremos evitar a guerra”. São palavras grandiosas. Ainda que certamente não se possa dar crédito de forma acrítica a todas as declarações do príncipe-herdeiro, ele não deixa de apontar uma direção que certamente se efetivará cada vez mais na era pós-Salman. Outros sauditas concordam com isso, porque a ambivalência dos sauditas em relação à “causa palestina” não se deve apenas à sua manifesta rejeição do Hamas, mas parece provir de uma frustração com o comportamento político dos palestinos em geral. Assim, o colunista saudita Muhammad Aal al-Sheikh, que escreve para o diário Al Jazeera, registrou recentemente que os palestinos novamente perderam uma oportunidade vantajosa com o anunciado “acordo do século” de Trump, porque, segundo sua opinião, um “acordo de paz injusto seria melhor do que nenhum”. Em resumo, fica claro que, embora os sauditas enfatizem que um acordo de paz entre israelenses e palestinos seja uma necessidade urgente para a estabilização de toda a região e como condição para uma normalização com Israel, também ficou claro que eles responsabilizam antes os palestinos do que os israelenses pela falta de uma perspectiva de paz no horizonte. Assim, o príncipe-herdeiro também não desmentiu uma de suas declarações informais que circulou pela imprensa: se os palestinos mais uma vez bloquearem um plano de paz, deveriam daí em diante “calar a boca e parar de se queixar”. Antje Naujoks

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NOTÍCIAS DE ISRAEL

SELO COMEMORATIVO DOS 70 ANOS DE ISRAEL O Estado de Israel celebrou por toda parte e com vários eventos o seu aniversário de 70 anos. Além disso, o 70º aniversário da independência do Estado judeu foi homenageado com a emissão de um selo comemorativo no valor de cinco shekels. O interessante neste selo é que o artista gráfico Tal Huber conseguiu representar no espaço limitado de um selo sete décadas de realizações e inovações nas áreas de pesquisa e ciência, esporte, agricultura,

música, cinema e negócios. É claro que, além disso, ainda precisava haver espaço para o texto, e este, como é usual em Israel, em hebraico, árabe e também inglês. Entre os símbolos que ilustram as conquistas de Israel aparecem, entre outros, a irrigação por gotejamento, o tomate-cereja, o pendrive e o smartphone, bem como um drone. Antje Naujoks

PARALÍTICO CORRE MARATONA GRAÇAS A UM INVENTO ISRAELENSE

Ele tem 34 anos de idade, chama-se Simon Kindleysides e em 2013 foi diagnosticado com uma doença neurológica que

levou à formação de um tumor cerebral benigno, que porém o deixaria imobilizado da cintura para baixo. Agora, graças a um invento israelense, esse homem correu a maratona de Londres. Ele conseguiu isso graças ao ReWalk, desenvolvido por Amit Goffer, que é afivelado sobre as pernas como uma espécie de esqueleto. Graças a sensores computadorizados, o portador consegue mover suas extremidades de forma autônoma, apesar da paralisia. O ReWalk foi aprovado em 2017 pelas autoridades de saúde dos EUA e da UE como órtese para paralíticos e já foi usado pela

VALIOSAS TRUFAS NO DESERTO Pesquisadores israelenses do centro de pesquisa Ramat HaNegev de agricultura desértica conseguiram pela primeira vez cultivar uma valiosa trufa no deserto. A trufa é uma mistura do raro cogumelo Terfezia leonis e da planta Helianthemum sessiliflorum, naturais do deserto. Segundo relata o jornal The Times of Israel, a trufa tem uma grande procura, particularmente no Oriente Médio. Seu cultivo é extremamente econômico por requerer pouca água e nenhum fertilizante. Os agricultores poderão começar com o plantio no ano que vem. No comércio, uma única trufa dessa espécie deverá então render bastante aos israelenses. Chamada

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segunda vez na maratona londrina. Já em 2012, Claire Lomas, paralítica do tórax para baixo, conseguiu superar os 42,2 quilômetros. Kindleysides correu a maratona para levantar ofertas para a pesquisa de tumores cerebrais. Ele estava visivelmente esgotado ao longo do percurso, mas repetia aos espectadores à beira do trajeto: “Não vou desistir; vou alcançar a chegada”. O jovem paralítico chegou de fato ao final com sua inovação israelense após 36 horas. Antje Naujoks


HISTÓRIA

Judeus Que Enriqueceram

o Mundo

Hedy Lamarr, que na verdade se chamava Hedwig Eva Kiesler, nasceu em Viena no dia 9 de novembro de 1914. Tanto o seu pai, que era diretor de um banco, como sua mãe, uma pianista, professavam a fé judaica. Ela estudou numa escola particular, teve aulas de piano, balé e de idiomas, que logo já valeram a pena. As bases para sua carreira de atriz estavam lançadas e ela conseguiu notoriedade não somente na parte da Europa de domínio do idioma alemão – onde já em seu quarto filme ela obteve o papel principal – mas também na América, onde obteve posteriormente uma carreira de destaque nessa área. Seu maior sucesso no cinema foi o filme Sam-

Hedy Lamarr atriz e inventora

son and Delilah [Sansão e Dalila]. Ela até recebeu uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood. No dia 10 de agosto de 1933 Lamarr casou com Friedrich Mandl, um rico industrialista vienense, um homem possessivo e ciumento que a proibiu de participar em filmes. Mandl era fabricante de armas, que, entre outras coisas, inclusive manteve negociações com a Alemanha nazista. Em 1937 ela se separou, mudando-se para Paris e, posteriormente, para Londres. Ali ela foi contratada pela empresa cinematográfica Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e teve a sua imagem promovida como “a mulher mais bela do mundo”. As produtoras de filmes observaram a grande influência que ela exercia sobre as mulheres, que tentavam copiar o seu estilo de penteado e até a cor do seu cabelo. Ela obteve sucesso mundial em 1938 com o filme Algiers [Argélia]. Hedy Lamarr, que na Segunda Guerra Mundial se posicionou contra o nazismo, juntamente com os países aliados, também tornou seu nome conhecido como inventora. Em 1942 ela desenvolveu um sistema de controle remoto para torpedos. Este funcionava por um sistema próprio de constantes mudanças de frequência, tornando-o difícil de ser detectado e extremamente seguro contra avarias. Hedy havia observado que os torpedos tele-

guiados, que desempenhavam um papel importante na marinha, eram facilmente desligados pelo inimigo. Com isso, inúmeros torpedos haviam sido perdidos. Como esposa do fabricante de armas Friedrich Mandl, ela havia obtido acesso a informações secretas também na área da radiocomunicação e, assim, conseguiu adquirir o conhecimento técnico necessário. Juntamente com seu amigo, o compositor George Antheil, ela aplicou sua ideia. Antheil já havia construído um mecanismo de piano que funcionava como patente para os torpedos com sinalização de rádio. A patente, no entanto, não foi concedida pelo exército norte-americano, de modo que o procedimento nunca foi aplicado.1 Todavia, esta descoberta – a constante alteração de frequência (“frequency-hopping”) – serviu como precursora das atuais técnicas de comunicação, como por exemplo o bluetooth, GPS, WLAN e CDMA. A atriz e inventora casou-se seis vezes e teve numerosos casos amorosos. Ela também foi mãe três vezes. Nos seus últimos anos, viveu no anonimato, na Flórida, EUA, onde faleceu no dia 19 de janeiro de 2000. Atendendo ao seu desejo, ela foi sepultada em Viena, sua terra natal. Em 1997 a instituição Electronic Frontier Foundation lhe concedeu a distinção do prêmio EFF Pioneer Award, como reconhecimento de sua participação no invento. O seu aniversário é comemorado na Alemanha, Áustria e na Suíça como o “Dia do Inventor”. israeltoday.co.il e Chamada 1

Eliza Schmidkunz, “Player Pianos, Sex Appeal, and Patent #2,292,387”, in: InsideGNSS.com, set. 2006.

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SÉRIE

ISRAEL UM POVO MUITO

ESPECIAL Parte 26

Thomas Lieth

O Império Romano Em 63 a.C. termina a breve independência judia sob os asmoneus (veja a parte 25, na edição passada). Animado por distúrbios observados em Israel, o general romano Pompeu invade Jerusalém. A partir de então, Israel passa a viver sob ocupação romana. Este cumprimento histórico da profecia bíblica nos conduz novamente a Daniel, que viu quatro impérios na sua visão profética: o Império Babilônico, o Medo-Persa, o Grego e agora o subsequente Império Romano, retratado como um animal de dez chifres.

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“Em minha visão à noite, vi ainda um quarto animal, aterrorizante, assustador e muito poderoso. Tinha grandes dentes de ferro, com os quais despedaçava e devorava suas vítimas e pisoteava tudo o que sobrava. Era diferente de todos os animais anteriores e tinha dez chifres” (Dn 7.7; ver tb. Ap 13.1-2; 17.7-8). Em 40 a.C. os romanos instituíram Herodes como rei da Judeia. Este, embora se casasse com uma neta da família asmoneia, passa a exercer uma inédita política de assassinato para eliminar passo a passo os herdeiros sacerdotais asmoneus. É verdade que, antes disso, o último rei macabeu, Antígono II, conseguiu expulsar Herodes por alguns anos, mas em 37 a.C. este finalmente conseguiu conquistar Jerusalém com ajuda dos romanos, vencer o último macabeu (Antígono) e iniciar o seu reinado com a permissão de Roma.

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Herodes era de descendência edomita e, se olharmos para trás, poderíamos dizer que ele descendia de Esaú, o irmão de Jacó. Ele foi um soberano intrinsecamente cruel, que não hesitou em matar suas próprias mulheres e seus filhos em favor da sua ambição de poder. Diante disso, combina muito bem com o retrato de Herodes que ele, por receio de perder sua posição, ordenasse o massacre dos meninos em Belém. A fim de acalmar um pouco os judeus, Herodes – um excelente diplomata – decidiu reconstruir o templo, que fora gravemente danificado durante os anos precedentes. Esse templo tornou-se uma das mais suntuosas edificações de todos os tempos. Não deixa de ser marcante o fato de as obras terem sido definitivamente concluídas só no ano de 64 d.C., ou seja, nada mais que seis anos antes de sua nova destruição.


LANÇAMENTO 14

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Uma série clássica agora em volume único e capa dura

Disponível em livraria.chamada.com.br a partir de agosto.

Wim Malgo (1922-1992) nasceu em Maassluis, Holanda. Formouse no Instituto Bíblico Beatenberg, na Suíça. Fundou a Obra Missionária Chamada da Meia-Noite na Suíça em 1955. Autor de mais de 40 livros, durante décadas suas mensagens bíblicas, proféticas e de santificação, profundas e atuais, transmitiram uma visão clara do plano de Deus e ajudaram inúmeras pessoas em sua vida de fé.

"A Bíblia fornece comentário para a Bíblia”, essa era uma afirmação ouvida sempre nas conferências de Wim Malgo. E essa afirmação é provada neste livro. É fascinante como ele continuamente cita passagens bíblicas do Antigo e do Novo Testamento para iluminar, ilustrar ou explicar o Apocalipse. Através de seu amplo conhecimento bíblico, ele é capaz de mostrar profundas relações espirituais, de modo que todo leitor que acompanha interiormente esse raciocínio é impressionado mais e mais pela grandeza e glória de Deus e do seu maravilhoso plano de salvação, sendo levado à adoração.


ISRAEL

A o porIsrael “Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera.” (Tg 3.17)

Muitos têm perguntado: o que é sabedoria? O Salmo 111.10 responde: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será louvado para sempre!”. Um artigo recente do noticiário ISRAEL21c realça um livro escrito por Avi Jorisch intitulado Thou Shalt Innovate [Tu inovarás]. Aqui estão alguns trechos do mesmo:

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Falando de sua casa em Washington, DC, para ISRAEL21c, Jorisch discutiu o que o levou a escolher [esses] exemplos [de inovação israelense]: “Subitamente percebi que há uma incrível história para ser contada, não só sobre a tecnologia israelense que Saul Singer e Dan Senor descrevem, mas sobre o que Israel faz com esta tecnologia para melhorar vidas ao redor do globo”, ele diz. “Israel não é uma nação de santos, mas essa nação tem buscado um significado mais elevado há 3.000 anos”,

diz Jorisch. “Nós estamos cumprindo, de uma forma muito poderosa, o chamado de nossos profetas para alimentar os famintos e ajudar os necessitados. Os fundadores de Israel foram inspirados por esses ensinamentos e os utilizaram no tecido da sociedade que estavam construindo. Esta é a essência do moderno Israel.” Ao mesmo tempo, ele acrescenta, melhorar o mundo não é uma compulsão exclusivamente judaica. Ele também incluiu israelenses cristãos e muçulmanos, que, semelhantemente,


ISRAEL

“creem que somos parceiros com Deus na justiça social para tornar o mundo um lugar melhor”. “Este livro e as ideias nele expressas abriram minha mente para o lugar inspirador que Israel ocupa com seu coração e alma”, ele diz. “Israel tem muitos inovadores extraordinários, que estão ligados não pela religião, dinheiro ou importância, mas por seu desejo de salvar vidas e de tornar o mundo um lugar melhor.”1 Neste momento, os israelenses desejam paz, prosperidade e segurança mais do que qualquer outra nação do planeta. Infelizmente, isso não parece funcionar. Tendo tratado com seus vizinhos árabes várias vezes empunhando armas de guerra, a paz e a segurança não foram a consequência, embora a prosperidade tenha vindo como uma. Atualmente, a maior ameaça vem do oriente, a saber, do Irã, país que participou ativamente na guerra em apoio ao presidente Assad, da Síria, que trouxe os iranianos para mais perto da terra de Israel. A palavra “guerra” está sendo usada repetidamente em relatos da mídia proveniente de Israel. Voltando à sabedoria, o que segue encontra-se online sobre judeus que venceram o Prêmio Nobel: 1

Abigail Klein Leichman, “15 Israeli inventions making life better for billions”, ISRAEL21c, 6 mar. 2018. Disponível em: <https://www.israel21c. org/15-israeli-inventions-making-life-better-forbillions/>.

Até 2017, o Prêmio Nobel foi concedido a 892 indivíduos, dos quais 201, ou seja, 22,5%, eram judeus, embora a população judaica total compreenda menos do que 0,2% da população mundial. Isso significa que a porcentagem de judeus laureados com o Prêmio Nobel está no mínimo 112,5 vezes, ou 11.250%, acima da média.2 Pelo menos 201 judeus e pessoas de meia descendência ou de três quartos de ascendência judaica foram agraciados com o Prêmio Nobel, respondendo por 23% de todos os laureados individuais no mundo entre 1901 e 2017, e que constituem 37% de todos os laureados dos EUA durante o mesmo período.3 Esses fatos inegáveis colocam os judeus em uma categoria totalmente diferente do restante do mundo. O tanto que o conhecimento e a sabedoria judaicos têm contribuído para um mundo melhor é praticamente imensurável. Todavia, o antissemitismo (muitas vezes camuflado como antissionismo) está crescendo em termos globais. Por quê? Nós respondemos: porque a salvação é dos judeus e por essa razão o deus deste mundo tem 2

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“List of Jewish Nobel laureates”, Wikipedia, the free encyclopedia, 25 jul. 2018. Disponível em: <https:// en.wikipedia.org/wiki/List_of_Jewish_Nobel_ laureates>. “Jewish Nobel Prize Winners”, jinfo.org. Disponível em: <http://www.jinfo.org/Nobel_Prizes.html>.

os judeus como seu alvo. Agora que Israel é uma nação próspera e bem-sucedida, a atividade judaica está se tornando mais visível ao mundo. Os líderes mundiais devem aprender com o versículo que colocamos em nossa introdução: “Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera” (Tg 3.17). Arno Froese

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P E R S P E CT I VA S

Quem Está Detendo o Anticristo? Nesta questão, o experiente professor bíblico Ron Rhodes apresenta as duas perspectivas diferentes e aponta qual é a sua convicção. A identidade de quem retém o Anticristo tem sido um tópico de discussão ao longo de toda a história da igreja. Em 2Tessalonicenses 2.7-8 lemos: “A verdade é que o mistério da iniquidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso...”. Assim, o Anticristo não pode ser revelado até que aquele que o detém esteja fora do caminho. O Anticristo é o “homem do pecado” (2Ts 2.3). Ele irá incorporar o pecado e impulsioná-lo como nunca antes. Tudo sobre ele será enraizado no pecado. Ele será o homem do pecado definitivo. O pecado será o resultado natural de sua natureza pecaminosa. A pergunta é: quem ou o que pode conter o anticristo? Trecho abreviado do livro The 8 Great Debates of Bible Prophecy: Understanding the Ongoing Controversies, p. 175-182, da Harvest House Publishers.

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Governo humano Um dos pontos de vista diz que o governo humano em geral é que impede o Anticristo. O teólogo Paul Feinberg explica o pensamento que está por trás dele: “A detenção através do Estado de direito (pelo governo) está em contraste com o homem do pecado e o mistério da iniquidade”. Em outras palavras, a ilegalidade é atualmente retida pela aplicação da lei pelo governo. Mas um dia o Anticristo removerá o governo humano do caminho para poder exercer sua vontade sem lei no mundo. O melhor argumento para esta visão vem da pena do especialista em profecias Arnold G. Fruchtenbaum, em seu excelente livro The Footsteps of the Messiah: “A tarefa de conter o mal do governo humano foi dado sob a aliança noaica, em Gênesis 9.1-17, e Paulo repetiu esta verdade doutrinária fundamental em Romanos 13.1-7. Por um lado, o governo humano está agora detendo a ilegalidade; por outro, o governo do último dos três reis deterá o anticristo, aquele que é sem lei, até a metade do período da tribulação”. Paul Feinberg: “A detenção através do Estado de direito (pelo governo) está em contraste com o homem do pecado e o mistério da iniquidade”. Fruchtenbaum refere-se a Daniel 7.78, que fala da ascensão do Anticristo. Daniel descreve ali o Império Romano. Roma já existia na Antiguidade, mas desmoronou no século 5 d.C. No entanto, ressuscitará no fim dos tempos, aparentemente consistindo-se de dez nações governadas

por dez reis (dez chifres). Um décimo primeiro chifre pequeno (o Anticristo) tem um começo insignificante, mas então fica cada vez mais poderoso e arranca três dos chifres existentes (reis), que aparentemente se opõem à sua ascensão. Finalmente, ele atinge o poder e domínio absolutos sobre o Império Romano restabelecido. Sobre esse pano de fundo, Fruchtenbaum diz: “Somente quando o último dos três reis tiver sido morto, resultando em uma completa submissão dos outros sete reis, o Anticristo poderá exercer sua ditadura em todo o mundo [...]. Assim, o último que deter o Anticristo será o último dos três reis, e o governo que ele representa”.


P E R S P E CT I VA S

SINOPSE Fora do caminho no arrebatamento

Na seção “Perspectivas” passaremos a permitir que diferentes cristãos fiéis à Bíblia tomem posição sobre diversas questões às vezes controversas. Tal como o ferro afia o ferro, um irmão afiará o outro (Pv 27.17), a fim de que, como crentes, todos cresçamos “naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15).

O Espírito Santo A visão mais convincente, na minha opinião, é que o Espírito Santo que vive na igreja é aquele que detém o Anticristo. Esta posição foi representada por muitos na Igreja Primitiva, incluindo Teodoreto, Teodoro de Mopsuéstia e Crisóstomo. Somente Deus, o Espírito Santo, tem poder suficiente para deter uma pessoa impulsionada pelo espírito profano do Diabo. O expositor bíblico Thomas Constable coloca desta forma: “O Espírito Santo de Deus é a única pessoa com poder suficiente (sobrenatural) para deter [...]. A remoção daquele que detém, no arrebatamento, deve obviamente preceder o dia do Senhor”. O The Popular Bible Prophecy Commentary [O comentário popular da profecia bíblica] fornece algumas percepções gramaticais importantes sobre 2Tessalonicenses 2.6-7, que identificam o Espírito Santo como aquele que detém: “A palavra detém (grego: katecho, ‘suprimir’) nos versos 6 e 7 é um particípio presente no ativo, que está neutro no verso 6 (‘o que o está detendo’) e na forma masculina no verso 7 (‘aquele que agora o detém’). Tal uso também se aplica ao espírito de Deus. A palavra grega para 'espírito' (pneuma) é neutra, mas o pronome masculino é usado quando se refere à pessoa do Espírito Santo”. Thomas Constable: “O Espírito Santo de Deus é a única pessoa com poder suficiente (sobrenatural) para deter”.

A palavra detendo implica a ideia de “impedir a pessoa de agir, mantendo-a sob controle, privando-a da liberdade corporal com algemas”. O Espírito Santo está fazendo isso hoje, impedindo a ascensão do Anticristo. Mark Hitchcock observa: “As Escrituras falam do Espírito Santo detendo o pecado e o mal no mundo (cf. Gn 6.3) e nos corações dos cristãos (cf. Gl 5.16-17)”. Até mesmo Mal Couch nos diz: “Pela providência divina e evidência da Escritura, o Espírito Santo detém o pecado e contenda com ele (Gn 6.3). Nesta era o Espírito Santo está no mundo de uma maneira especial, vivendo na igreja”. Uma vez que esta obra especial do Espírito Santo foi retirada, o Anticristo será revelado. Em acordo com essa interpretação, 1João 4.4 diz: “... aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo”. Aquele que está nos cristãos é o Espírito Santo. “Aquele que está no mundo” é o Diabo. Isso significa que o Espírito Santo é maior que o Diabo. O Anticristo é dirigido pelo Diabo, então somente o Espírito Santo pode segurá-lo.

Se o Espírito Santo é realmente aquele que detém, e se é necessário que ele seja tirado do caminho antes do aparecimento do Anticristo, então isso é um forte argumento para um arrebatamento antes da tribulação (cf. 1Co 15.50-52; 1Ts 1.10; 4.13-17; 5.9). Quando o Anticristo fizer uma aliança com Israel, o período de 7 anos da tribulação começará (Dn 9.26-27); portanto, o arrebatamento da igreja deve ocorrer antes da assinatura deste tratado. Em algum momento anterior, o Espírito Santo – que vive na igreja – será levado no arrebatamento para que o Anticristo possa ser revelado. O pano de fundo teológico é que o Espírito Santo habita nos cristãos e na igreja (1Co 3.16; 6.19; 12.13; cf. tb. 1Jo 3.24). Isso significa que, quando a igreja é tirada da terra no arrebatamento, o Espírito Santo irá com ela. Uma vez que o poder de detenção do Espírito Santo tenha desaparecido, o Anticristo, impulsionado pelo Diabo, pode chegar ao poder na tribulação. Isso contribui para a explicação da apostasia maciça (da verdade) que ocorrerá durante a primeira metade do período da tribulação. No arrebatamento, o Espírito Santo – o Espírito da verdade (Jo 14.17; 16.13) – é tirado da terra, permitindo o rápido aparecimento da mentira (ou da apostasia). “A poderosa ação do Espírito Santo através da igreja cessará. Enquanto isso não acontecer, o Diabo não pode terminar seus planos [...]. Após o arrebatamento da igreja, o Espírito Santo continuará seu trabalho e conduzirá as pessoas à salvação, mas ele não mais as levará ao corpo de Cristo, a igreja, ou impedirá que o Diabo execute seus planos” (John Phillips). Ron Rhodes

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E N T R E V I S TA

ACONSELHAMENTO

Dúvidas Às vezes simplesmente começo a duvidar se a Bíblia é realmente verdadeira. Como posso saber e verificar que ela é verdadeira? Resposta: Não é possível decidir, no âmbito de uma roda de conversa, se um processo físico matematicamente formulado ou uma determinada reação química transcorrem sob condições definidas ou não. Isso requer um experimento controlável. Em contraste com todos os outros escritos ideológicos ou religiosos, a Bíblia cita métodos para determinar experimentalmente a sua veracidade. Quem não se limita a questionar filosofando, mas quer chegar a uma convicção autêntica, é convidado a fazer um experimento avalizado pelo próprio Deus: “Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido” (Js 1.8). Esse experimento consiste de três etapas: 1. Conhecer a descrição do experimento: antes de tudo, trata-se de familiarizar-se com o conteúdo da Bíblia por meio de intensa leitura. 2. Execução do experimento: na segunda etapa, todas as instruções encontradas devem ser colocadas em prática. 3. Avaliação dos dados experimentais: todo mundo deseja uma vida bem-sucedida no casamento e na família, na profissão e no lazer. Certas revistas e colunas de jornais estão cheias de conselhos nesse sentido. Nenhum psicólogo conselheiro matrimonial, nenhum engenheiro e nenhum consultor político dispõe de alguma receita de sucesso absoluta. Só a Bíblia promete, nas condições acima, o êxito e uma prática sábia. Quem realiza este experimento sempre registrará um balanço positivo. Não existe nem prejuízo nem risco; portanto, nenhuma aplicação perdida, como na loteria ou quando há juros no cartão. Quem assume o desafio da Bíblia trata com Deus e terá com isso um grande ganho. Dr. Werner Gitt

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Alexander Schick

Nasceu em 1962 na Alemanha, é um jornalista científico e especialista em antigas descobertas da Bíblia e de manuscritos. Sua área de especialização inclui, entre outras, as descobertas de Qumran e os manuscritos do mar Morto. Schick gerencia um dos maiores arquivos sobre Qumran, e suas imagens aparecem em dicionários, revistas, jornais, livros e na televisão. Também trabalha como guia turístico no Oriente Médio, visitando mais de uma dezena de vezes a região (Israel, Jordânia, Egito, Sinai, Iêmen, Líbano, Omã, Dubai).

Como você chegou a acreditar em Jesus Cristo? Aos 15 anos de idade, numa reunião de estudo bíblico, pedi de joelhos a Jesus que entrasse na minha vida e confessei meus pecados. Começou assim uma nova vida para mim, porque eu venho de uma família muito envolvida com o espiritismo. Meus avós eram ativos nessa área. Minha mãe se decidiu publicamente por Jesus em uma evangelização do pastor Billy Graham. Embora tenha sido criado na fé, eu queria fugir dessa vida piedosa. Por sua graça, porém, o Senhor Jesus me fez reconhecer meus pecados e assim pude recebê-lo como meu Senhor e Salvador. Tanto minha mãe como eu tivemos de ser libertados, por meio da oração, do peso do ocultismo em nossa família – mas Jesus é maior que o inimigo e rompe esses vínculos! Não quero por nada abrir mão desta vida com Jesus Cristo. A vida dos cristãos não é mais fácil e eles também não são santos, mas eles sabem aonde levar sua culpa – à cruz do Calvário. Isso é o mais importante para mim!

Qual livro da Bíblia você mais gosta de ler? Depende: em tempos difíceis são os Salmos. Historicamente, os livros de Reis e o evangelho de Marcos, que tanto nos aproximam do nosso Senhor Jesus.

O que significa para você a expectativa da breve volta de Jesus na vida diária? É manter-se consciente de que o Senhor Jesus pode voltar a qualquer momento, e sempre se questionar: se Jesus voltasse neste instante, qual seria minha situação? Será que estaria preparado?

No que você pensa do termo “apocalipse”? Uau, que pergunta! Penso no monte Megido, em Israel, que visitamos em nossas viagens para lá. Em hebraico, o monte Megido se chama “Har Megiddo”, de onde derivou no Apocalipse o termo “Armagedom” = apocalipse. Se você subir ao seu cume e de lá observar a paisagem, a vista alcança quilômetros. Ao longo dos milênios, essa região tem sido repetidamente um campo de batalha decisivo. Quando João descreve esse local em Apocalipse 16.16 como área de confronto da decisiva batalha do fim dos tempos, posso muito bem imaginar o que isso significa. Por outro lado, não sou amigo de especulações. Creio que todas as profecias da Bíblia se cumprirão. No entanto, só o Senhor sabe exatamente como.


C H A M A D A D A M E I A- N O I T E I N T E R N A C I O N A L

Suíça Holanda Itália Agradecemos pelos cultos no Salão de Sião e Somos gratos pela possibilidade de modiAgradecemos aos voluntários, pelo seu auxílio na obra, e oramos pelos últimos preparativos para a viaficar nossa administração e, assim, simoramos pela conferência anual em Turim, no começo de gem da terceira idade para Israel, em outubro, plificar diversos processos. Oramos por outubro, que contará com a presença de Norbert Lieth. com o irmão Walter Mosimann como guia. uma transição suave até o final deste ano. Que novamente haja muitos interessados e inscritos. Alemanha Romênia Israel Agradecemos pelos trabalhos contínuos dos nossos missionáAgradecemos pelos programas de Agradecemos por toda proteção que o país rios em todo o país e oramos pelas pregações de Norbert Lieth rádio mensais, que gravamos e continuamente tem experimentado. Oramos em Zwickau, Aue e Werdau, além da viagem de duas semanas transmitimos, e oramos para que para que o governo não dependa tanto da forde Samuel Rindlisbacher, que fará 13 pregações em 12 cidades. deem muitos frutos. ça humana, mas sim nas promessas bíblicas. Hungria Agradecemos por toda literatura enviada e pela escola bíblica noturna: que os leitores e alunos sejam ricamente abençoados. Oramos pela reestruturação do trabalho, necessária após a morte de nosso irmão László.

Estados Unidos Agradecemos pelas boas reações às diversas ofertas de literatura que foram feitas, e oramos para que as mensagens nos livros, revistas e folhetos sejam uma bênção na vida das pessoas. Uruguai Brasil (SP) Agradecemos pelas muitas e lindas Agradecemos a Deus por ainda estarmos no reações dos ouvintes da rádio e tempo da graça para semear. Oramos que muioramos pela edição do livro Razotas pessoas ainda sejam tocadas pela literatunes para Creer, de Philip Nunn, do ra, folhetos e cursos bíblicos e tomem uma dequal 1.000 exemplares serão districisão por Jesus; também que os cristãos sejam buídos gratuitamente no país. fortalecidos em sua fé. Bolívia Brasil (RS) Agradecemos ao Senhor por sua direção e oramos pelo novo Agradecemos pelas inscrições paprojeto de construção no internato, pela preparação do casal ra o nosso congresso em outubro. Matthias e Dorothe Rindlisbacher, que estão estudando psicolo- Oramos pela finalização e impresgia na universidade (para poder trabalhar melhor na escola com são do “Calendário de Israel 2019” o certificado reconhecido pelo Estado) e pela mudança da livra- e pela sua divulgação. ria para um sistema de faturamento automático. 

Guatemala Agradecemos que diariamente folhetos, livros e bíblias são pedidos de nossa livraria para o país todo. Por favor, continue orando pelos correios, que não funcionam há mais de dois anos. O envio de literatura para Cuba, de modo especial, não é mais possível. Argentina Agradecemos por todas as orações de vocês, que permitem realizar o trabalho no país, e oramos por Stephan Beitzen, que está viajando pelo Norte, principalmente nas províncias de Salta e Jujuy.

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2019 Suíça - Áustria - Alemanha Já são mais de ando 43 anos re aliz l, e agor a viagens a Isr ae sentar uma queremos apre l viagem, a nova e especia

! Z E V A R I E M I R PEL A P

OPA VIAGEM À EUR

Caminhos da Reforma Protestante

2ª Guerra Mundial e tempo do nazismo

20 anos da queda do Muro de Berlim

Alpes Suíços

Lindos Castelos e muito mais...


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