Cfmv 60 montada

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ISSN 1517-6959

R e v is t a

Ano 19 – Edição N° 60 | Set / out / nov / dez - 2013

45 anos do Sistema CFMV/CRMVs Conheça a história Da qual você faz parte

Nelore Zootecnista aborda os novos paradigmas da seleção

Biossegurança

Na pesquisa, na clínica, na área militar e nas fronteiras o Médico Veterinário é essencial A importância do marketing pessoal aliado ao conhecimento e à etica


A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos bem como solicitação de assinaturas devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: cfmv@cfmv.gov.br

A Revista Cfmv é indexada na base de dados Agrobase. Revista CFMV. – v.19, n. 60 (2013) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2013 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária. AGRIS L70 CDU619(81)(05)


Sumário 5

Entrevista

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Empregos Verdes

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Nelore: novos paradigmas

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Quandos as “saúdes” se encontram

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Dos laboratórios às indústrias, das fazendas aos campos de batalha

21

Biossegurança na academia militar das agulhas negras

25

Uma rotina de risco

28

Lanagro-MG: status máximo de biossegurança

31

Compartimentação da cadeia produtiva: exemplo da avicultura

34

Última barreira para nacionalização

40

Sistema CFMV/CRMVS completa 45 anos

43

Suplemento Científico

71

Pintainhos sexagem por empenamento da asa

74

Conhecimento, ética e marketing pessoal

79

Eficiência alimentar. O que é importante?

84

Você vai ser vendedora?

|

Guilherme Marques


Editorial

SIM, É PRECISO MOSTRAR O ROSTO!!!! Em maio de 1968, na França, mas repercutindo em outros países, os estudantes foram às ruas protestar contra o sistema. Há cerca de dez anos, também na França, os imigrantes saíram às ruas numa série de protestos que causaram perplexidade, pois as razões alegadas eram várias. Os antropólogos chamam estes movimentos de “dramas sociais”, e são situações em que as tensões de uma sociedade são afloradas: ocasiões em que inversões nos papéis sociais podem ser experimentadas e/ou reivindicadas. Trata-se de uma “tomada de consciência” acerca de questões do seu tempo.

Os acontecimentos recentes do Brasil podem ser compreendidos como um desses momentos históricos de um país. Percebe-se que com elementos variados, as dores se alastraram. Ir às ruas e mostrar o rosto, em movimentos pacíficos, ganhou um significado especial. Existe um clamor por justiça, mas o ativismo não pode levar à desordem, não é um salvo conduto para a ilegalidade. O principal ativismo deve ser a favor da democracia. Especificamente, no nosso caso, o uso de animais em pesquisa é complexo, requer seriedade e não deve ser tratado com paixão, desordem e vandalismo.

expediente

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br Tiragem: 95.000 exemplares DIRETORIA EXECUTIVA Presidente

Benedito Fortes de Arruda CRMV-GO nº 0272 Vice-Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037

Conselheiros Efetivos Adeilton Ricardo da Silva CRMV-RO nº 002/Z

Fred Júlio Costa Monteiro CRMV-AP nº 0073

José Saraiva Neves CRMV-PB nº 0237

Líder da Área de Comunicação

Flávia Tonin

CRMV-MA nº 0454

Nivaldo de Azevedo Costa CRMV-PE nº 1051

Conselheiros Suplentes Francisco Pereira Ramos Heitor David Medeiros

CRMV-ES nº 0093

Ana Carolina Freitas

Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

Amilson Pereira Said

Secretário-geral

Ricardo Junqueira Del Carlo

CRMV-DF nº 0594

CRMV-TO nº 0019

Tesoureiro

Presidente Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

Marcello Rodrigues da Roza

Secretário-Geral

CRMV-PR nº 0850

Conselho Editorial

Editor

Subeditora

Joaquim Lair

Coordenador de Comissões

Editor Ricardo Junqueira Del Carlo

CRMV-MG nº 1759

Jornalista Responsável Flávia Tonin

CRMV-MT nº 0951

MTB nº 039263/SP

João Esteves Neto

Projeto e Diagramação Duo Design Comunicação

José Helton Martins de Sousa

Impressão Novo Horizonte Comunicação

CRMV-AC nº 0007

CRMV-RN nº 0154

é permitida a reprodução de artigos da revista, desde que seja citada a fonte. OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV. As fotos enviadas serão automaticamente cadastradas no banco de imagens do CFMV com o devido crédito.

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Entrevista

Guilherme Marques Profissional de carreira, está há quase duas décadas na área de defesa sanitária animal do Brasil e destes 15 anos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Atual diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério acompanhou o avanço do Brasil contra a Febre Aftosa e as ações de combate e transparência frente a outras enfermidades. Graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em 1993, tem duas especializações e concluiu mestrado em gestão sanitária e animal na produção. Desde 2011 é o representante do Brasil perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e neste ano foi elevado ao principal posto de todas as Américas, assumindo a presidência de uma das cinco comissões continentais do organismo no mundo.

Como avalia as principais mudanças durante a sua gestão no departamento de sanidade animal? Sempre esperamos e buscamos mais, porém as limitações conjunturais nos obrigam a rever permanentemente nossos projetos pessoais e profissionais. Nosso principal objetivo foi demonstrar que o sistema de saúde animal não pode ser somente considerado oficial (chapa branca), tornando-se cada vez mais necessário envolver e responsabilizar os demais atores do processo, como: cientistas, pesquisadores, pecuaristas, médicos veterinários privados, entre outros. Estamos prestes a concluir o projeto do Brasil livre da Febre Aftosa, alicerçado em um plano hemisférico, visando, gradativamente, a retirada da vacina com a máxima segurança. O principal legado da erradicação da Febre Aftosa foi a estruturação do sistema de defesa sanitária, com mais de 5.500 escritórios oficiais e 22.529 servidores federais e estaduais Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

pelo Brasil, além de Médicos Veterinários privados que atuam indiretamente. Essa estrutura é invejável, e merece ser defendida por cada brasileiro como um patrimônio e bem publico nacional. Quais são os principais desafios encontrados à frente desta função? O desafio é proporcional ao tamanho do Brasil e a relevância econômica e social do agronegócio brasileiro no contexto mundial, entretanto fica muito mais leve quando podemos contar com uma equipe de profissionais extremamente competente do Departamento de Saúde Animal. O maior desafio está em nós mesmos, pois acostumamos a nos queixar de tudo e de todos, como se a mudança da realidade não passasse necessariamente pela nossa própria mudança de comportamento, independentemente de não termos as melhores condições de trabalho.

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MAPA

Entrevista

Educação sanitária no norte do país está entre as ações para erradicar a Febre Aftosa

Sabemos que, no momento, o quadro de Médicos Veterinários Federais e Estaduais está abaixo das reais necessidades, mesmo assim, temos que perseguir os melhores resultados. Novas contratações virão em breve com concursos, o que irá nos auxiliar. Como é ser gestor da área da Defesa em um país de dimensões continentais e com o Agronegócio à frente da balança comercial? A sanidade animal tem que ser encarada como um programa de Estado e não de Governo, pois independente do comando deve se manter a mesma política estratégica que nos trouxe até esses índices econômicos invejáveis. Hoje vendemos para mais de 160 países do mundo e precisamos manter esses mercados, afinal o investimento do setor privado tem sido bastante significativo e tem gerado muito emprego e desenvolvimento social. Mesmo com eventuais deficiências de recursos humanos e financeiros, a defesa sanitária brasileira é considerada muito robusta. Mais do que medidas internas, são necessárias as ações regionais com envolvimento dos países vizinhos para que todos trabalhem de forma cooperada, pois as extensas áreas de fronteira internacional não podem ser consideradas como problema para nosso país. É preciso agir de forma transparente e cooperada. Havia a expectativa de que o Brasil fosse considerado livre de aftosa com vacinação até 2013. Como avalia o que está sendo feito? Estamos na fase final de erradicação da febre aftosa no Brasil, pois já temos 99% do rebanho bovino e bubalino em área considerada livre da doença, com ou sem vacinação. Falta apenas 1% que está em Roraima, Amapá e parte do Amazonas. Apesar

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de pouco expressivo em número de cabeças, esse bloco de estados têm uma grande área geográfica e receberam apoio específico para que no próximo ano, todo o país possa ser considerado livre, desde que as inconsistências observadas nas auditorias do MAPA nesses estados sejam corrigidas. Muito se fala em Febre Aftosa, pois sua erradicação é um divisor de águas. Um país que convive com essa enfermidade, aos olhos mundiais, não tem um serviço oficial confiável. É fundamental lembrar, ainda, que o serviço de defesa sanitária tem muito mais a fazer do que somente erradicar essa doença. A maior aproximação do Ministério de Agricultura para com organismos internacionais é uma ação priorizada? Somos bons no que fazemos, mas demonstramos isso muito mal. Por dever de ofício, participo de discussões em diversos fóruns internacionais e o Brasil tem se posicionado de igual para igual e liderando discussões bastante conflituosas. Não basta fazermos a nossa parte, temos que ser proativos e participativos nas organizações. O Brasil tem muita informação, conhecimento, competência para fazer a diferença e contribuir nas discussões mundiais. Temos inserido profissionais brasileiros da Embrapa, MAPA e Universidades em diversos grupos ‘ad hoc’ (de especialistas) e inclusive na própria OIE há essa percepção. Neste ano o senhor foi eleito presidente da Comissão Regional da OIE para as Américas. Trata-se de um reconhecimento das ações de defesa que o Brasil tem implementado? O Brasil e meu nome foram escolhidos por unanimidade entre os 30 representantes da América e aprovado pelos 178 países membros para uma das cinco comissões Regionais (África, Américas, Ásia, Europa e Oriente Médio). O objetivo de cada comissão é avaliar os problemas específicos nas diferentes regiões do mundo, sendo consideradas instâncias institucionais de pleno direito na região. Eu concluo que a confiança dos países para com o Brasil possui origem no entendimento geral dos membros da OIE que temos plenas condições de colaborar com o fortalecimento e engajamento do serviço veterinário do continente na busca de que possamos defender propostas de interesse dos países sustentadas em ciência. E, pessoalmente, como recebeu essa importante representação internacional? Quando assumimos responsabilidades dessa natureza ficamos muito mais críticos e nos sentimos muito Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


mais desafiados, e percebemos claramente que não nos basta fazer o dever de casa, mas que efetivamente temos que contribuir com o desenvolvimento de todos os países envolvidos, na busca de um mundo melhor e mais seguro. Naturalmente cada país tem criado sua independência, mas temos que identificar as limitações e fortalezas do continente e tentar ligar essas“ilhas”criando pontes fortes e institucionais. Não é uma tarefa fácil pelos interesses distintos e diferenças. Temos potências agroeconomicas inquestionáveis, enquanto existem países que são importadores de alimentos e outros que necessitam de apoio das nações unidas para alimentar sua população. Cabe ressaltar que todos os países, independente de sua situação, tem o voto e voz igualitários perante a Assembléia da OIE.

privado) são reconhecidos como um “bem público global”. A qualidade da educação veterinária, com regulamentação eficaz constitue a pedra angular da boa governação dos serviços de veterinária. Há uma necessidade urgente, especialmente em países em desenvolvimento, para reforçar os poderes dos serviços veterinários em conformidade com as normas internacionais da OIE. Em muitos países, a qualidade da educação veterinária é pobre, e este problema é agravado pelo desempenho inadequado ou até mesmo a ausência de serviço veterinário oficial. Os membros da OIE reconhecem essas dificuldades e assumiram a liderança global no estabelecimento de requisitos mínimos de educação veterinária para alcançar eficazes serviços veterinários nacionais.

Como presidente dessa Comissão da OIE que metas e ações são defendidas? Nas Américas, já somos em 30 países e buscamos inserir outros seis que ainda não são membro para que possamos fortalecer a representatividade do continente. Queremos também uma participação mais ativa dos membros e, mesmo sendo competidores comerciais, que possamos fechar o maior número de posições em bloco, só assim teremos mais representatividade nas reuniões mundiais. Além disso, os embasamentos sempre deverão estar sustentados em argumentos científicos para defender e caracterizar o interesse da região.

Em sua opinião, quais sãos as áreas emergentes para Medicina Veterinária e Zootecnia? Historicamente, os profissionais têm optado pela clínica de pequenos animais, que é extremamente nobre e importante, porém, por desconhecimento, deixam outras áreas de relevância igual ou superior e com excelentes remunerações. Pela importância para a sociedade, todos nós Médicos Veterinários fomos obrigados a cursar disciplinas de tecnologia de alimentos na faculdade, porém a quase totalidade das instituições brasileiras não possui uma cadeira aglutinadora de temas correlacionados a defesa sanitária animal, esta que é uma área emergente. O conceito de um mundo, uma saúde, abre campos de atuação para os Médicos Veterinários, pois esses profissionais tem um papel preponderante de combate às zoonoses e principalmente a interação e integração com os médicos humanos. Também existem temas novos como o bem-estar animal e boas práticas de produção, com a tendência de ampliação do mercado de trabalho. MAPA

A OIE, com apoio do Ministério da Agricultura e o CFMV, organizam, no Brasil, neste ano, um evento mundial sobre o ensino da Medicina Veterinária. Como avalia a preocupação da OIE com o ensino? As atividades da qualidade dos serviços veterinários (que incluem componentes público e

Perfil do servidor público requer iniciativa e criatividade Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

O Ministério está em fase de abertura de concurso público. O que os profissionais devem avaliar antes de se inscrever para essa função pública? O profissional deve ter em mente que será um servidor da sociedade, independentemente das condições ofertadas naquele momento por parte do governo federal. Muitas vezes terá que ter iniciativa e fazer ‘do limão, uma limonada’, devendo seu serviço ir além do mero cumprimento de horas e tarefas demandadas, mas deverá dar a nossa sociedade o retorno do investimento superando as suas expectativas. Os Fiscais Federais Agropecuários, bem como os demais Médicos Veterinários que atuam na defesa do interesse público constituem um segmento cada vez mais respeitado pela sociedade.

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meio ambiente

EMPREGOS VERDES E Nas áreas pecuária e agrícola, já existe a percepção de que as formas de produção interferem diretamente sobre o ambiente natural Segurança Alimentar é o estado existente quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico e econômico a alimentação suficiente, segura, nutritiva e que atenda a necessidades nutricionais e preferências, de modo a propiciar vida ativa e saudável. “A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”(art. 3º da lei nº 11.346 do CONSEA). No contexto atual em que está organizada a produção de alimentos, a simples ideia de disponibilidade traz à tona, de imediato, os problemas relacionados ao volume de produção de alimentos em nível primário, sendo o grande desafio do mundo moderno a garantia da conservação da agrobiodiversidade. Desafio cercado de dificuldades, mas também carregado de muitas oportunidades. A agrobiodiversidade, também chamada de biodiversidade agrícola, pode ser entendida como a parte da biodiversidade que engloba todos os componentes necessários à produção agrária. A Agropecuária é o setor que mais água utiliza e o maior responsável pela poluição desse recurso. O Brasil se encontra entre os líderes na produção, comercialização e consumo de proteínas, sendo o maior exportador de carne bovina e de aves e o quarto maior em suínos. Se não forem introduzidas políticas e práticas menos agressivas ao meio ambiente, a agropecuária continuará a ser uma das principais causas da perda de biodiversidade no País. Aliado às políticas públicas de reduzir alguns impactos ambientais negativos da produção animal, outra estratégia consiste nos chamados “empregos verdes” – “green job” – pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) às que refletem as novas funções e

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Claudio Bezerra/Embrapa

CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS GENÉTICOS ANIMAIS

A genética de animais rústicos e adaptados é favorável ao meio ambiente

práticas que podem ser adotadas por grandes e pequenas empresas, em setores diversos da agri­cultura à indústria, bem como em atividades científicas, técnicas ou administrativas, que contribuem para conservar ou recuperar a qualidade ambiental. Especificamente, mas não exclusivamente, inclui trabalhos que ajudam na proteção de ecossistemas e biodiversidade; redução do consumo de energia, materiais e água por meio de estratégias de alta eficiência; descarbonização da economia; e minimização na geração de todas as formas de lixo e poluição, constituindo, assim, formas de trabalho que buscam a sustentabilidade de processos econômicos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que empregos verdes cresçam mais rapidamente do que os demais no mercado brasileiro. A oferta dos postos aumentou 26,7% nos últimos cinco anos, contra alta de 25,3% em outros setores. O Ipea acredita que 85% dos postos na pecuária têm a possibilidade de alguma forma, minimizar impactos ao meio ambiente.

A EROSÃO GENÉTICA DA AGROBIODIVERSIDADE ANIMAL A crescente demanda por carne, leite e ovos tem determinado expansão da produção, ocasionando declínio na agrobiodiversidade animal pelo desenRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


TODAS AS ESPÉCIES 9% 36%

20%

Desconhecidas

Fonte: Embrapa, 2010.

volvimento de raças especializadas. Essa “erosão genética da agrobiodiversidade animal” demonstra a importância da conscientização dos Médicos Veterinários e Zootecnistas para com a segurança alimentar e com o patrimônio genético animal. A taxa de extinção de raças conhecidas e exploradas pelo homem é alarmante, sem dizer no patrimônio genético animal desconhecido, de raças e espécies que não tiveram seu potencial investigado ainda (Figura 1). Num estudo da FAO, publicado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ficou evidenciado que as principais espécies animais utilizadas pela humanidade para a produção de alimentos, como bovinos, aves, ovinos, caprinos e suínos, já tiveram muitas de suas raças puras extintas, sendo queoutrasaindasofremriscodeextinção(Figura2). Para exemplificar esse processo de “erosão genética” podem ser citadas duas espécies de bovinos, o gado conhecido como Curraleiro ou Pé-Duro, de Goiás e o Tucura ou Pantaneiro, da região do Pantanal Matogrossense e Sul Matogrossense. Esses animais são considerados de pouca produtividade pela sua rusticidade, pequena estrutura e consequentemente com pouca carne. Devido a essa desvantagem produtiva, essas raças foram substituídas, pelos pecuaristas, por outras consideradas mais produtivas. Também corre risco de extinção o gado Tucura, que chegou ao Brasil aproximadamente há 300 anos, com os colonizadores ibéricos, e paulatinamente foi se adaptando ao ambiente pantaneiro, que tem longos períodos de seca e de cheia, e essa característica se tornou um dos seus principais diferenciais. Outros exemplos de patrimônio genético amea­ çado são a raça Curraleira, que habita o Brasil há mais de 400 anos e pode ser considerada um tesouro genético pelas suas características de adaptação e resistência às condições brasileiras, as raças Caracu, Mocho Nacional, Crioulo Lageano e Junqueira. Entre os objetivos do Programa Brasileiro de Conservação e Recursos Genéticos Animais, estão as conservações in situ e ex situ (MARIANTE, 1993), com a primeira caracterizada pela manutenção dos animais nos ambientes em que são adaptados e a segunda pelo enriquecimento de bancos de germoplasma, que constituem recurso fácil e de grande importância na preservação das espécies localmente adaptadas.

Fora de perigo Em perigo de extinção

35%

Extintas

ESPÉCIES DE MAMÍFEROS

11% 16%

35%

Desconhecidas Fora de perigo Em perigo de extinção Extintas

38%

ESPÉCIES DE AVES 2% Desconhecidas 30%

42%

Fora de perigo Em perigo de extinção Extintas

26%

Figura 1. Proporção das raças do mundo por categoria de risco de extinção

Conservação e preservação de recursos genéticos animais Em sistemas de alta produção, raças especializadas para a produção de leite e carne foram desenvolvidas por meio de extensa seleção, e seu material genético foi vastamente disseminado. A intensa seleção para um número reduzido de características bem como para utilização de sêmen de reprodutores geneticamente bem avaliados, conduziram a um baixo número efetivo da população nas raças mais utilizadas, seja para leite ou para o corte, com real risco de perda de diversidade genética.

“Empregos verdes” denominação dada a novas funções e práticas que podem ser adotadas por empresas, em setores diversos da agricultura à indústria, bem como em atividades científicas, técnicas ou administrativas, que contribuem para conservar ou recuperar a qualidade ambiental. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

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meio ambiente

Bovinos

Aves

Caprinos

Suínos

Ovinos Percentual 0

20 Desconhecida

40 Fora de perigo

60

80

Em perigo de extinção

100

Extinta

Figura 2. Situação relativa a risco de extinção das raças puras dos principais animais de produção

Os recursos genéticos animais enfrentam um duplo desafio. Por um lado, a demanda por produtos de origem animal aumenta em países desenvolvidos. A estimativa da FAO é que a demanda por carne irá dobrar, e a demanda por leite será maior que o dobro até o ano de 2030. Por outro lado, as raças consideradas locais estão desaparecendo rapidamente em todo o mundo. Nos últimos 15 anos, 300 das mais de 6.000 raças identificadas pela FAO foram consideradas extintas. A conservação e o desenvolvimento de raças localmente adaptadas são importantes porque uti-

lizam alimentação de baixa qualidade, são menos susceptíveis ao estresse climático, são mais resistentes a doenças e parasitas presentes em suas regiões, e representam fonte única de genes que podem ser utilizados em raças comerciais. A utilização e o desenvolvimento de raças locais já adaptadas a ambientes hostis, e que demandam manejo mínimo, são de importância em alguns ecossistemas. Espera-se que animais adaptados a essas condições sejam mais produtivos a baixos custos e fundamentais para programas de desenvolvimento sustentável.

Referências Bibliográficas CARDELLINO, R.A. Status of the world’s livestock genetic resources. Preparation of the first report on the state of the world’s animal genetic resources. In: The role of biotechnology for the characterization and conservation of crop, forestry animal and fishery genetic resources: International Workshop, 2005, Torino. Proceedings… Rome: FAO, p.1-6,2005.

17 jun 2012. http://www.ecodesenvolvimento.org

resources for food and agriculture. Roma: FAO, 511p. 2007.

RAMOS, A.F.; ALBUQUERQUE, M.S.M.; MARIANTE, A.S. Banco brasileiro de germoplasma animal: desafios e perspectivas da conservação de caprinos no Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim. v.35, n.2, p.104-107, 2011.

MARIANTE, A.S. Conservação de recursos genéticos animais: uma questão de bom senso. In: Reunião Sociedade Brasileira de Zootecnia, 30, 1993, Rio de Janeiro, Brasil. Anais.... Rio de Janeiro, RJ: SBZ, p.175-182, 1993.

IPEA, 2012. Pecuária é setor com maior potencial para emprego verde. Acesso em

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. The state of the world’s animal genetic

CONSEA. Lei de Segurança Alimentar e Nutricional: Conceitos. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006.

Dado dos Autores Comissão Nacional de Meio Ambiente (CNMA/CFMV) Claudia Scholten (Presidente) Médica Veterinária – CRMV-SP nº 20045 claudiascholten.cnma@cfmv.gov.br João Paulo Rocha de Miranda Zootecnista – CRMV-MT nº 0168/Z

Maria do Rosário Lira Castro Médica Veterinária – CRMV-RJ nº 2092 Maria Izabel Merino de Medeiros Médica Veterinária – CRMV-SP nº 13293

Maria Auxiliadora Gorga Luna Médica Veterinária – CRMV-DF nº 0370

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Zootecnia

Arquivo do autor

Novos paradigmas para a seleção do Nelore

Compreendendo a história para interpretar o presente e delinear o futuro O Nelore, a mais representativa raça de corte do País, vive mais um momento emblemático: pelo volume de informações que tem gerado e pela dificuldade em resolver seus dilemas. Atualmente, a obrigação de compreender um grande volume de informações conduz a interpretações muitas vezes divergentes, provindas de profissionais e selecionadores sérios e formadores de opinião. Tal fato faz com que muitos criadores estejam vulneráveis a tomadas de decisão equivocadas quanto à genética adequada a seus objetivos de seleção. Desde as primeiras importações, no século XIX, o zebu passou por longo período de multiplicação em terras brasileiras, quando ocorreram muitos cruzamentos absorventes com o rebanho trazido por portugueses e espanhóis. Com a criação do registro genealógico, já no século XX, a raça Nelore passou pela importante fase de consolidação do padrão racial. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

A representativa importação de 1962 trouxe para o País genearcas importantes como: Rastã, Godhavari, Kurupathy, Taj Mahal, Golias e Karvadi, quando a concepção de um modelo foi redefinida, principalmente baseado no último reprodutor citado, o Karvadi, pai de Chummak e Dumu. Para aqueles que simplesmente criticam os pioneiros, desde importadores, comerciantes, até os técnicos da época, na verdade, foram verdadeiros heróis. Com todos os erros e acertos inerentes ao processo dinâmico de descobertas, a seleção na Índia, os comerciantes de zebu e as pistas de julgamento, foram fundamentais para nortear a seleção empírica do Nelore, com saldo positivo, já que a genética atual, diversificada, que a raça apresenta advém desse cenário e atores. Com a expansão das braquiárias, na década de 1970, a raça foi ganhando mais espaço em função de sua competente performance. A vaca Nelore é muito bem

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Zootecnia

Reprodutores passaram a ser avaliados em maior número de características

adaptada ao ambiente, fértil, seus bezerros nascem facilmente, com tamanho adequado, e vigorosos. A matriz é boa mãe e produz quantidade de leite suficiente para desmamar um produto com bom desenvolvimento e muito saudável. Com isso. a raça destaca-se, até tornarse a mais representativa do rebanho nacional.

Início das avaliações No final da década de 1960, iniciou-se a implantação das provas zootécnicas pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), e as características ponderais peso e ganho em peso são eleitas prioritárias. Pouca ou quase nenhuma atenção era dada quanto à idade em que animais atingiam pesos recordes, nem com relação ao tamanho dos ­indivíduos – cada vez maiores. Claro que existia seleção para reprodução e habilidade materna, para citar duas características de suma importância, mas não eram essas as mais exploradas comercialmente. Essa nova onda se consolida com o conceito do “moderno novilho de corte”, na década de 1980, descrito como longilíneo, geralmente grande, aliado a uma obsessão das pistas de julgamento pelo padrão racial. Até o momento, falamos em pistas de julgamento como grande referência de modelo de seleção, época em que os grandes campeões tornavam-se expressivos multiplicadores de genética via inseminação artificial. Nas décadas de 1980 e principalmente 1990, os programas de melhoramento genético animal popularizaram-se, sistematizando coleta de dados e apresentando modelagens estatísticas capazes de comparar animais criados em diferentes fazendas, regiões e sistemas de produção. Ainda, na década 1980, foi homologado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-

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to (Mapa), o primeiro programa para emissão de Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip), que qualifica animais geneticamente superiores para serem comercializados como reprodutores, isenta-os do pagamento de impostos em trânsito e não tem ligação com associações de raça, no caso a ABCZ. Com o desenvolvimento dos programas existentes e o surgimento de programas novos, um número maior de características passaram a ser mensuradas como: pesos ajustados para diferentes idades, perímetro escrotal, habilidade maternal, escores visuais, características de carcaça avaliadas por ultrassonografia, período de gestação, idade ao primeiro parto, stayability (capacidade de permanência no rebanho), produtividade acumulada, temperamento, entre outras, que estão distribuídas em pelo menos 10 programas de melhoramento oficializados pelo Mapa (PMGZ, ANCP, GenePlus, IZ, CFM, DeltaGen, Paint, Nelore Produção e Qualitas). Nas décadas de 1990 e 2000, surgiram indícios de que os reprodutores campeões de pista não coincidiam com aqueles que se destacavam em performance a campo, consequentemente em programas de melhoramento genético que ponderam características funcionais, e os grandes campeões de pista já não eram tão cobiçados pelo mercado de sêmen como em tempos atrás, tal conceito ficou ainda mais evidente a partir de 2010. Analisando rebanhos em diversas regiões do Brasil e com linhas diferentes de seleção, fica claro que existem linhagens que desempenham bem na pista, mas que quando submetidas a sistemas de produção a pasto, deixam a desejar, perdendo, principalmente, em performance reprodutiva devido à maior necessidade de mantença e consequente perda da condição corporal. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Dilema das pistas Atualmente, a pista vive um grande dilema, reuniões técnicas têm sido promovidas pela ABCZ e seu colegiado de jurados na busca de um biotipo – referência e encontrar critérios de julgamento que aproximem o show das competições à realidade dos sistemas de produção a pasto – o que não é simples em função da interação genótipo/ambiente e, que o animal de tamanho mediano na pista, pode ser exagerado para sistemas de produção a pasto. Tecnicamente, julgar sem se impressionar com tamanho e pesos exagerados, privilegiar um tipo precoce e volumoso, observar as características funcionais de aprumos, analisar o desenvolvimento dos testí­ culos e posicionamento de bainha nos machos, vulva e úbere nas fêmeas. Nas fêmeas paridas, avaliar o conjunto vaca-cria, valorizando matrizes com crias saudáveis ao pé. Pela importância de mercado e promoção da raça, é importante que a pista do Nelore evolua no sentido da funcionalidade e permaneça forte. O impacto da utilização de biotecnologias reprodutivas como estratégia de ganho genético pode constituir um capítulo à parte. Primeiro, veio a inseminação artificial, possibilitando a utilização maciça de um reprodutor, depois a transferência de em­briões e fertilização in vitro. Atualmente, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) viabiliza um número maior de matrizes inseminadas. A utilização estratégica dessas tecnologias pode impactar a seleção do Nelore. Vale ressaltar que biotecnologias reprodutivas só permitem ganhos genéticos a partir da multiplicação de indivíduos

realmente superiores. Assim, a seleção adequada de touros (sêmen) e de doadoras de embriões é decisiva para obtenção dos ganhos genéticos. As atuais tecnologias de marcadores moleculares e seleção genômica permitem aumento de acurácia considerável (confiabilidade) para estimar valores genéticos em animais jovens, participantes de programas de melhoramento quantitativo. Permitem, ainda, obter informações genéticas de indivíduos sem desempenho próprio quantificado ou progênies avaliadas. O interessante e paradoxal é que a conclusão de experts no assunto, provenientes do mundo todo, que se reuniram em São Paulo, em setembro último, no “5th Internacional Symposium on Animal Functional Genomics” foi que: se empresas ou programas tivessem que priorizar seus investimentos, a indicação é que os esforços deveriam ser para coleta de fenótipos com qualidade. Por quê? Porque somente com bancos de dados, de qualidade, é possível desenvolver equações de predições capazes de estimar a influência das diferenças genotípicas nas características de interesse no melhoramento genético de bovinos de corte e implantar a seleção genômica. Com a pertinente preocupação em desenvolver índices econômicos para seleção, características como eficiência alimentar vêm ganhando espaço, assim como medidas relacionadas a rendimento de carcaça. Vale ressaltar que o raciocínio tem sido desenvolvido com foco no animal a ser abatido, mas que os custos de manutenção, e as eficiências reprodutiva e produtiva das matrizes produtoras de

O desafio dos julgamentos é aproximá-los dos sistemas de produção

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Zootecnia

A habilidade materna é uma característica que vem ganhando importância

bezerros para corte e fêmeas para reposição, devem apresentar impacto econômico ainda mais significativo, o que torna mais complexo o desenvolvimento de índices econômicos que contemplem todo o ciclo de produção em bovinos de corte.

Novos enfoques A habilidade materna é uma das características analisadas em programas de melhoramento que vem ganhando grande destaque, inclusive nos resultados comerciais, porém o limite em selecionar mais leite em rebanhos para corte deve ser definido pelo sistema de criação, já que uma matriz não pode se doar tanto para o bezerro a ponto de perder performance reprodutiva em função da queda de escore corporal, pois a longevidade ou “capacidade de permanência no rebanho” parindo um bezerro/ano, a conhecida stayability, é considerada uma das características de maior impacto econômico na atividade. Assim, uma matriz, para ser considerada eficiente tem que ter capacidade de desmamar um bezerro pesado, mantendo boa condição corporal na estação reprodutiva para que permaneça no rebanho. Nesse contexto, são intrigante a complexidade e a diversidade da pecuária de corte no País, em que a raça Nelore representa cerca de 80% da população de corte ativa. Trabalhando com o que existe de mais atual em melhoramento genético animal, não só no

Brasil, mas no mundo, a atividade convive com diferenças extremas. Uma analogia com a agricultura, que vive a era da precisão, utilizando análise de solo e pluviosidade (ambiente) e adubação (nutrição) de acordo com as necessidades das regiões com área plantada e em sintonia com o cultivar (genética) utilizado, ainda temos pecuaristas com visão extrativista quanto ao ambiente de pasto, utilizando semente do paiol (genética sem qualquer procedência ou estimativa de valor genético). Pode até ser frustrante, mas a conclusão é que não existe uma solução única para todas as condições de ambiente e objetivos de seleção, mas é fundamental que o contexto Genética x Sistemas de Produção seja bem equacionado para que se tenha sucesso. Espera-se que cada vez mais a pecuária se profissionalize, que valores socioambientais e de sustentabilidade sejam atendidos, e que a capacidade de interpretar informações quanto à qualidade dos animais com a percepção da aptidão da fazenda conduzam à melhora da eficiência produtiva. Como em qualquer outro grande negócio no cenário da economia atual, a raça Nelore passa pela fase em que informação vale capital, e vale muito, assim como o material humano capacitado, para interpretar as informações disponíveis e tomar as decisões acertadas que devem unir a sabedoria dos antigos com as tecnologias atuais.

Dados do Autor William Koury Filho Zootecnista – CRMV-SP nº 01489/Z. MSc e DSc. Criador, jurado de pista e diretor da BrazilcomZ – Zootecnia Tropical www.brasilcomz.com

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Quando as “saúdes”

se encontram Nem sempre as interações entre saúde animal e humana são saudáveis. No entanto, não será por essa razão que pessoas deixarão de conviver com animais num universo de cumplicidades e alegrias mútuas. Afinal, nem sempre as doenças surgem na vida das pessoas e dos animais e, menos ainda, configuramse como ameaças ao bem-estar. Algumas vezes nos deparamos com posicionamentos estranhos do tipo: não chegue perto de cães, eles podem morder e “passar” sarna e micoses. Em relação aos gatos pesam mitos seculares ligados aos“poderes”místicos e míticos. Na Idade Média costumava-se dizer que os gatos, principalmente os de cor negra, se prestavam a função de acompanhante de feiticeiras. Certamente não se estará falseando as verdades quem disser que tais concepções têm acompanhado as civilizações ao longo dos tempos. É importante salientar que, além do cão e do gato, a outros animais tem sido atribuída a capacidade de gerar doenças. Do mesmo cenário são atores corujas, falcões, morcegos, sapos, lagartos e cobras. Esses animais, alguns identificados como sinantrópicos, não possuem, necessariamente, a função de fazer medo e mal às pessoas e a outros animais. No entanto, por vezes, esse equilíbrio é abalado. São inúmeros os modos de relacionamento que regulam a boa convivência entre animais e pessoas. Mas, em grande parte das vezes, a responsabilidade por tais desequilíbrios é nítida quando avaliada a origem do nexo epidemiológico. E essa busca pelo nexo epidemiológico que permite descobrir distúrbios na ordem natural das relações entre animais e humanos e, suas falhas. Para tanto, é necessário que a vida seja apresentada, a quem começa a construí-la, na integralidade de relações

e enfrentamentos. Gato que busca rato invasor no domicílio de alguém não deve ser considerado como o“bandido“ da história de filme infantil. Gato que incorpora essa luta é herói. Esse texto pretende, sem maiores ousadias, deixar claro que o mundo dos homens é o mundo dos homens. O mundo dos gatos é o dos gatos. Não há razão sanitária que nos leve a crer que não há riscos ao sermos beijados por cães ou por outros animais, até mesmo porque não há como favorecer o aparecimento de doenças. Animais devem ser tratados como animais, como ditam suas naturezas, por meio de um código mútuo de bons tratos, por meio de relações equilibradas. Tais relações, por sua vez, podem determinar riscos. Isso é: doenças e agravos de origem animal. Animal bem tratado significa animal bem cuidado, devidamente assistido por Médico Veterinário, amparado e protegido por proprietário zeloso. O cão deve ser bem tratado enquanto animal e não cabe alterar sua natureza. A saúde pública não propõe incentivar desvios comportamentais. Também é importante recordar que são muitas as doenças que podem passar do animal ao homem e do homem ao animal, e que podem colocar em risco a saúde de ambos. Claro é que, nem sempre as relações se constroem dentro das boas regras de convivência. É preciso aprender a respeitar os animais, as pessoas e suas intersecções. Desse modo, estar-se-á evitando a perpetuação da criação de vítimas de práticas errôneas de relacionamento. Como propõe a Organização Mundial da Saúde (OMS), cumpre dizer que existe um Mundo e uma Saúde, que aponta para o bom convívio entre os entes do planeta. Esse slogan fundamenta a necessária vida regrada, e os ganhos sanitários e, como não poderia deixar de ser, requalifica a vida.

Dado dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA - CNSPV/CFMV Celso Bittencourt dos Anjos (Presidente) Médico Veterinário – CRMV-RS nº 1664 celter@terra.com.br Aurélio Belém de Figueiredo Neto Médico Veterinário – CRMV-SE nº 0036 Lúcia Regina Montebello Pereira Médica Veterinária – CRMV-PI nº 0199

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Marcelo Jostmeier Vallandro Médico Veterinário – CRMV-RS nº 7715 Roberto Francisco Lucena Médico Veterinário – CRMV-RS nº 4716 Sthenia dos Santos Albano Amora Médica Veterinária – CRMV-RN nº 0710

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O tráfico de animais selvagens está esvaziando nossas florestas. Esse crime provoca danos enormes à nossa biodiversidade, reduz as populações de diversas espécies e causa um grande desequilíbrio ambiental. Junte-se à luta dos Médicos Veterinários e Zootecnistas no combate ao tráfico de animais selvagens: não compre animais ilegalmente e denuncie esse crime. Acesse o site e saiba mais: www.cfmv.gov.br/traficodeanimais.

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Biossegurança

DOS LABORATÓRIOS ÀS INDÚSTRIAS, DAS FAZENDAS AOS CAMPOS DE BATALHA

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Ações voltadas para o controle e a minimização de riscos advindos da exposição, da manipulação e do uso de organismos vivos que podem causar efeitos adversos ao homem, aos animais e ao meio ambiente

O termo biossegurança possui emprego ­ iversificado mundialmente, tendo sido originald mente utilizado em sistemas de produção animal, principalmente na avicultura e na suinocultura, para referir-se às medidas associadas à diminuição dos riscos devido à exposição desses animais, do ser humano e do meio ambiente a agentes biológicos (NORDMANN, 2010). Essa conduta decorreu da classificação de agentes etiológicos com base no risco, publicada em 1969 pelo Centro de Controle e Prevenção de D ­ oenças (CDC) dos Estados Unidos (EUA), que definiu cinco classes dos agentes causadores de enfermidades animais com restriçoes impostas

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pelo Departamento de Agricultura daquele país. Esta publicação é utilizada como guia mundial na área, encontrando-se na quinta edição (CDC, 2009). Posteriormente, o termo foi utilizado como sinônimo de medidas de boas práticas clínicas e laboratoriais que visam minimizar os riscos da exposição de agentes biológicos em trabalhadores da área de saúde, ideia que nasceu nos EUA quando do afloramento das pesquisas com DNA recombinante, na década de 1970 (NEVES et al., 2007). Duas décadas após, tem-se como definição de biossegurança, ainda sob este contexto, as práticas preventivas para o trabalho em nível laboratorial, que visam minimizar riscos adRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


vindos de agentes patógenos para o homem (WHO, 1993). Nesta definição foram incorporados os riscos químicos, físicos, radioativos e ergonômicos, ou seja: “Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados” (Teixeira & Valle, 1996).

Outros entendimentos

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Em nosso país, mais recentemente, criou-se ainda o entendimento “governamental” sobre o termo, estabelecendo como o processo voltado para a segurança, o controle e a diminuição de riscos advindos da biotecnologia, definição esta colocada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Comissão voltava seus olhos para a regulamentação da utilização de organismos geneticamente modificados e células-troncos no Brasil, por meio da Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005 (BRASIL, 2005), em resposta ao Protocolo de Cartagena, finalizado em Montreal, Canadá, no ano de 2000, e desde então referendado por diversos países. Este documento, naquele momento, dentro do processo de globalização, repercutiu na Administração Pública nacional com visão na conservação da diversidade biológica, no uso sustentável de seus componentes e na regulamentação sobre saúde, segurança e riscos ambientais de organismos geneticamente modificados (OGMs). A

referida lei substituiu a primeira Lei de Biossegurança do Brasil (8.794, de 5 de janeiro de 1995), que tinha como base o princípio da precaução, um reflexo da Conferência do Rio, realizada em 1992. Ainda neste contexto e, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o termo biossegurança relacionando-se à política de regulamentação, controle e gerenciamento dos riscos potenciais associados ao uso da biotecnologia, com vistas a uma agricultura sustentável e à segurança alimentar, compreendendo a biossegurança como a defesa do meio ambiente e da biodiversidade (FAO, 2011), uma visão restrita discordante da definição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta questão semântica, ou como alguns preferem, de equívocos semânticos, tem levado diversos autores a citarem a questão dos termos existentes em cada idioma, e seu significado em diferentes países. Nordmann (2010) e Soares et al. (2012) levantaram questões acerca das traduções do termo biossegurança, relacionando-o às medidas tomadas para prevenção da saída de agentes biológicos perigosos de laboratórios, ideia contida em publicações da área de saúde sob o termo inglês biosecurity. Em outra vertente, ocorre a utilização do termo biosafety, como sendo medidas que visam impedir os agravos advindos da exposição àqueles agentes, traduzido para o nosso vernáculo ora como biossegurança ora como biosseguridade. Nas línguas alemã e espanhola há somente um termo que abriga as ideias contidas nos vocábulos biosecurity e biosafety, sendo eles bioversicherung e bioseguridad.

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Biossegurança

Expansão do tema Mais recentemente, foram propostas expansões nas definições de biossegurança, abrangendo todas as medidas para mitigação dos riscos à segurança da vida ou como propõe o Ministério da Saúde (2010): A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. Acompanhando essa evolução, nos últimos dois anos, os termos biossegurança, bioproteção e defesa biológica foram alvo de regulamentações dentro das Forças Armadas Brasileiras. Com a instituição do Comitê de Biossegurança e as Normas para Biossegurança, Bioproteção e Defesa Biológica do Ministério da Defesa e a estruturação do Sistema de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército Brasileiro espera-se que avanços doutrinários e operativos sejam alcançados nos próximos anos. A despeito das utilizações primeiramente mencionadas, a atuação do Médico Veterinário nas operações militares, com seu foco majoritário de controle da qualidade de água e alimentos, controle de enfermidades zoonóticas e gestão ambiental pode ser resumida na ideia de biossegurança, que adquire sentido mais

A diversidade do termo biossegurança, reflete um tanto e combina demasiadamente com a pluralidade das atividades exercidas pelos Médicos Veterinários dentro e fora do País. abrangente no contexto de operações militares como assegura a doutrina militar: Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para o controle e a minimização de riscos advindos da exposição, da manipulação e do uso de organismos vivos que podem causar efeitos adversos ao homem, aos animais e ao meio ambiente (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2003). Conclui-se que a diversidade do termo biossegurança reflete um tanto e combina demasiadamente com a pluralidade das atividades exercidas pelos Médicos Veterinários dentro e fora do País, pois assim como eles, os assuntos relacionados à biossegurança são indispensáveis aos laboratórios de biotecnologia e saúde, às indústrias de alimentos e produtos de origem animal, às fazendas de produção animal e às atividades militares nos campos de batalha.

Referências Bibliográficas BRASIL. 2005. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories. 5 ed., 2009.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Logística Militar Terrestre. Manual de Campanha (C 10010). 2003.

NORDMANN, B.D. Issues in biosecurity and biosafety. International Journal of Antimicrobial Agents v. 36, s. 1, p. 66-69, 2010.

Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Biosafety Resource Book. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations. 2011.

SOARES, O.A.B.; CAMPOS, C.H.C.; FERREIRA, B.H.F.F.; PASSOS, M.H.; PRADO, R.F.; GALLOTTI, A.M.; DUQUE, L.S.; COUTINHO, R.N.; MARQUES, F.S.; PORTO, R.A.N. Biossegurança: a ideia força sobre a atuação do Médico Veterinário militar. In: 39 CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA. Santos. Anais... Santos: SBMV. 2012.

MINISTÉRIO DA SÁUDE. Biossegurança em saúde: prioridades e estratégias de ação. Brasília-DF, 121p., 2010. NEVES, T.P.; PORTO, M.F.S.; MARINHO, C.L.C; BRAGA, A.M.C.B. O Conceito de Biossegurança à Luz da Ciência PósNormal: avanços e perspectivas para a saúde coletiva. Saúde Soc. v. 16, n. 3, p. 158-168, 2007.

Teixeira, P.; Valle, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1996. W O R L D H E A LT H O R G A N I Z AT I O N (WHO). Laboratory Biosafety Manual. Geneva. 1993.

Dados dos Autores Capitão Otavio Augusto Brioschi Soares Médico Veterinário – CRMV-RJ nº 9990, DSc, Academia Militar das Agulhas Negras, Exército Brasileiro. tenvetaugusto@yahoo.com.br

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Claudio Lisias Mafra Siqueira Médico Veterinário – CRMV-MG nº 5107, DSc, Docente Universidade Federal de Viçosa.

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Aman

segurança nacional

Mesmo nas atividades externas há a preocupação com a biossegurança dos alimentos.

BIOSSEGURANÇA

na ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS Para as operações simuladas, onde muitos militares alimentam-se fora das instalações das unidades de alimentação, cuidados especiais são observados sob responsabilidade de Médicos Veterinários. A biossegurança ganhou destaque nas operações militares dentro das Forças Armadas brasileiras a partir da estruturação do Sistema de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército Brasileiro em 2012, com a instituição das Normas para Biossegurança, Bioproteção e Defesa Biológica do Ministério da Defesa, e as consequentes operações militares simuladas envolvendo cenários de emprego de agentes biológicos. Soares et al. (2012) propuseram a utilização do vocábulo biossegurança no contexto militar, aproximando-o do conceito de biosafety: todas as medidas propostas e realizadas para o controle e a minimização dos riscos advindos da exposição a agentes biológicos que possam causar efeitos adversos ao homem, aos animais e ao meio ambiente, (...) tornando-se a ideiaforça por trás da atuação da Medicina Veterinária em operações militares. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Na convergência do entendimento amplo de biossegurança e a preocupação das Forças Armadas com riscos advindos de agentes biológicos encontra-se o Programa de Biossegurança da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que se utiliza de conceitos de biossegurança e saúde única para realizar atividades de proteção à saúde dos integrantes dessa organização militar e da população em geral.

O programa de biossegurança militar A Aman é uma instituição de ensino superior do Exército Brasileiro localizada no munícipio de Resende, estado do Rio de Janeiro, em uma área de 67 km2. Abriga os cursos de formação de oficiais combatentes que seguirão carreira no Exército, que se desenvolvem em cinco anos, e conta com um efetivo de aproximadamente cinco mil militares, entre alunos, docentes e militares dos corpos administrativos e de saúde.

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segurança nacional

Médico Veterinário é responsável pela qualidade da água em operações.

A Aman vem estruturando seu programa de biossegurança (ProBio) há anos, com o objetivo de proteger a saúde de seus integrantes, por meio de medidas dentro de duas grandes áreas: a proteção da água e dos alimentos e o controle de enfermidades zoonóticas e animais sinantrópicos. Em 2009, foi criada, dentro do Hospital Veterinário da Aman, a Divisão de Biossegurança que, juntamente com outros setores do Corpo de Saúde, é responsável pelo planejamento, realização, controle, registro e avaliação dessas atividades. É evidente a importância da qualidade da água e dos alimentos consumidos por militares em operações, sob desafios sanitários locais e altas exigências físicas e psicológicas, conceito que se estende aos militares em treinamentos e em operações militares simuladas, parte do currículo regular dos cursos de formação de oficiais da Aman. Quadro 1 – Subáreas do ProBio na área de proteção da água e dos alimentos 1. Auditorias nas unidades de alimentação da Aman. 2. Auditorias do preparo, transporte e fornecimento de alimentos em operações militares simuladas. 3. Controle laboratorial organoléptico, físicoquímico, microbiológico e fiscal dos alimentos. 4. Controle da captação, armazenamento e fornecimento de água. 5. Capacitação de gestores e executores das atividades de alimentação.

Auditorias das unidades de alimentação A Aman possui três grandes unidades de alimentação que são auditadas periodicamente por Médicos Veterinários da própria organização utilizando-se de bases legais federais. As áreas auditadas são instalações físicas; equipamentos, móveis e

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utensílios; manipuladores de alimentos; produção e transporte dos alimentos e documentação. Internamente, o ProBio aproveita-se do Programa de Auditoria em Segurança Alimentar do Exército (Pasa), de 2008, e vem aumentando a qualidade dos serviços de alimentação por meio de auditorias e visitas técnicas. Para as operações simuladas, nas quais a alimentação é feita fora das unidades, há a comunicação entre os responsáveis pelo exercício e a equipe de biossegurança designada, e análise e recomendações sobre o plano de alimentação dos militares em exercício. Para os dias de operações, Médicos Veterinários são destacados para o acompanhamento in loco das atividades de alimentação, auditorias rápidas baseadas em check list adaptado são realizadas e possíveis recomendações de adequação são feitas aos responsáveis pelo exercício.

Qualidade sanitária verificada em laboratório Ao longo do território brasileiro, o exército possui dezenove laboratórios de inspeção de alimentos e bromatologia (Liab). Eles são chefiados por MédicoVeterinário e têm por finalidade assegurar a qualidade sanitária e fiscal dos alimentos que serão consumidos pelos militares e civis nas diversas organizações militares da Força Terrestre (EXÉRCITO BRASILEIRO, 1999), sendo um desses o da Aman. Após a aquisição de alimentos, no ato de entrega, os alimentos são verificados em provas organolépticas, físico-químicas e microbiológicas, além da conferência das exigências fiscais regulares. Como exemplo, em 2012, foram inspecionadas 899,37 toneladas de alimentos, das quais 185 (20,5 %) apresentaram uma ou mais causas de desqualificação. É possível concluir que parte significativa da proteção da água e dos alimentos dá-se pela inspeção de recebimento realizada no Liab. O controle periódico da qualidade da água é realizado por meio de coletas em pontos de captação e fornecimento, e testes microbiológicos e análises efetuadas à luz da legislação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Periodicamente, vários pontos são analisados, separadamente e em blocos e, oportunidades de melhoria são identificadas e preconizadas, como necessidade de adequação dos níveis de cloro residual e da utilização de reservatórios de água, além da presença de microrganismos contaminantes (coliformes e heterotróficas) acima do preconizado em alguns pontos de coleta. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Capacitação de gestores e executores de atividades Desde 2008, na Aman, a Comissão de Alimentação das Forças Armadas (Ceafa) tem ministrado curso sobre segurança alimentar, dentro da disciplina Administração de Subsistência para cadetes. Os Médicos Veterinários das Forças Armadas atuam como professores, considerando a capacitação des-

ses profissionais na área de inspeção e tecnologia de alimentos, vigilância sanitária e saúde pública (GALLOTTI et al., 2012b). Os reflexos positivos dessa ação foram observados em diversas unidades militares, distribuídas por todo o território nacional, fruto do efeito multiplicador do vetor educação em boas práticas sanitárias na manipulação e estocagem de alimentos.

As zoonoses também são alvo das atividades de biossegurança militar As operações militares simuladas desenvolvemse em áreas inóspitas, rurais ou próximas a matas, com a presença de animais selvagens, domésticos e artrópodes (carrapatos), necessitando buscar ações relacionadas à biossegurança, voltadas ao controle e à minimização de riscos advindos da exposição a organismos vivos (CAMPOS et al., 2012). Tanto nas atividades acadêmicas regulares quanto nas operações militares simuladas, as atividades de controle de enfermidades zoonóticas desenvolvem-se com três objetivos: controle de enfermidades transmitidas por vetores; controle de animais sinantrópicos e controle sanitário de animais de emprego militar. Na área geográfica de Resende vale destacar as ações, individuais e coletivas, para evitar o contato dos militares com carrapatos transmissores da febre maculosa brasileira e os mosquitos transmissores da dengue. O sistema de proteção individual, preconizado pelo ProBio, visa proteger o militar da maioria dos artrópodes, incluindo mosquitos, pulgas, carrapatos e outros insetos, e combina quatro elementos: liberação controlada de repelente tópico; impregnação do uniforme com repelente; utilização apropriada do uniforme e inspeção detalhada do uniforme e do corpo durante a higiene. As medidas de proteção coletiva preconizadas são a realização das operações militares simuladas em épocas de ano sabidamente de menor risco e a impregnação de barracas e áreas de construção com produtos repelentes ou inseticidas específicos. O controle de animais sinantrópicos (adaptamse a viver próximo ao homem e podem transmitir doenças. Não são animais de companhia), é realizado por equipe especializada, coordenada por Médico Veterinário, em toda a área da Aman. A equipe realiza Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Controle de zoonoses também é uma atividade

periodicamente várias ações como a inspeção das instalações e áreas perimetrais, levantamento de áreas propícias para a alimentação, passagem e abrigo dos animais; conscientização dos profissionais alocados no setor; briefing dos agentes de biossegurança; mapeamento das instalações e eleição de pontos de controle; colocação de iscas em forma de bloco parafinado palatável e armadilhas de cola; debriefing e monitoramento dos pontos de controle. Adicionalmente, medidas importantes como a adequação da periodicidade das ações às atividades acadêmicas e o levantamento gráfico consolidado dos locais de deposição de inseticidas e raticidas são previstas e realizadas no âmbito do ProBio.

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segurança nacional

CFMV conhece as ações da Aman O Presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Benedito Fortes de Arruda visitou, em agosto, as instalações da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende- RJ. Eles conheceram os trabalhos dos Médicos Veterinários em suas diferentes áreas de atuação: biossegurança em operações militares; controle da qualidade da água e dos alimentos, controle de zoonoses, gestão ambiental, saúde animal entre muitos outros trabalhos. Em sua visita o Arruda afirmou que o CFMV contribuirá para fortalecer a história e o futuro da Medicina Veterinária Militar no Brasil.

Referências Bibliográficas BRASIL. Portaria nº 854/SELOM/MD, de 4 de julho de 2005. Aprova o Regulamento Técnico de Boas Práticas em Segurança Alimentar nas Organizações Militares, 2005. BRASIL. Portaria normativa nº 219/MD, de 12 de fevereiro de 2010. Aprova o Manual de Alimentação das Forças Armadas, 2010. CAMPOS, C.H.C.; FONSECA, A.H.; MAFRA, C.L. et al. Rikettsia em carrapatos capturados em área de treinamento militar no estado do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 15, 2008, Curitiba. Anais... Curitiba: CBPV, 2008. CAMPOS, C.H.C.; GALLOTTI, A.M.; SOARES, O.A.B. et al. Medidas de proteção individual contra a infestação de carrapatos em área de treinamento militar no estado do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 39. 2012. Santos. Anais... Santos: SBMV, 2012.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Catálogo de Especificações dos Artigos de Subsistência (Ceas), 2012. EXÉRCITO BRASILEIRO. Normas para Inspeção de Alimentos e Bromatologia, 2008. EXÉRCITO BRASILEIRO. Logística Militar Terrestre. Manual de Campanha (C 10010), 2003. EXÉRCITO BRASILEIRO. Instruções Reguladoras das Atividades de Remonta e Veterinária, em Tempo de Paz (IR 70-19), 1999. GALLOTTI, A.M.; MACHADO JÚNIOR, H.F.; CAMPOS, C.H.C et al. Avaliação da qualidade da água servida nos exercícios de campanha na Academia Militar das Agulhas Negras no ano de 2010. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 39. 2012. Santos. Anais... Santos: SBMV, 2012a.

GALLOTTI, A.M.; MACHADO JÚNIOR, H.F.; CAMPOS, C.H.C et al. Desempenho das práticas ligadas à biossegurança em área de treinamento militar no Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 39. 2012. Santos. Anais... Santos: SBMV, 2012b. NEVES, T.P.; PORTO, M.F.S.; MARINHO, C.L.C et al. O Conceito de Biossegurança à Luz da Ciência Pós-Normal: avanços e perspectivas para asaúde coletiva. Saúde Soc. São Paulo v. 16, n. 3, p. 158-168, 2007. NORDMANN, B.D. Issues in biosecurity and biosafety. International Journal of Antimicrobial Agents v.36, s.1, p. 66-69, 2010. SOARES, O.A.B.; CAMPOS, C.H.C.; FERREIRA, B.H.F.F. et al. Biossegurança: a ideia força sobre a atuação do Médico Veterinário militar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 39. 2012. Santos. Anais... Santos: SBMV, 2012.

Dados dos Autores Capitão Otavio Augusto Brioschi Soares Médico Veterinário, CRMV-RJ 9990, DSc, Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Exército Brasileiro. tenvetaugusto@yahoo.com.br Tenente Coronel Carlos Henrique Coelho de Campos Médico Veterinário, CRMV-RJ 9315, MSc, Aman, Exército Brasileiro.

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Tenente Coronel Beatriz Helena F. F. T. Ferreira Médica Veterinária, CRMV-RJ nº 8629, MSc, Aman, Exército Brasileiro. Capitão Rubens Fabiano Soares Prado Médico Veterinário, CRMV-MG nº 7416, Aman, Exército Brasileiro CapitãoAdriana Gallotti Mendonça Médica Veterinária, CRMV-MG nº 8885, MSc, Aman, Exército Brasileiro.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


biossegurança na clínica

Uma Rotina de Risco fotos do autor

os profissionais continuam negligenciando cuidados com a própria saúde, na prática da quimioterapia, 30% dos médicos veterinários desconhecem os perigos.

Profissional devidamente paramentado para ação

De uso frequente, realizada por Médicos Veterinários em todo o Brasil há aproximadamente 40 anos, a quimioterapia na rotina da clínica veterinária de pequenos animais traz diversos riscos relacionados à exposição aos medicamentos antineoplásicos, tanto aos profissionais envolvidos, aos proprietários dos pacientes e ao meio ambiente. Esses riscos, infelizmente, têm sido rotineiramente negligenciados na academia e mesmo durante a atuação dos já habilitados na execução desses procedimentos terapêuticos quimioterápicos. Assim, faz-se necessário o questionamento por parte dos profissionais Médicos Veterinários quanto à forma de realização desses procedimentos em seus estabelecimentos, atentando para questões relacionadas a esses produtos. Medicamentos antineoplásicos são conhecidos por seu potencial carcinogênico, teratogênico e mutagênico, em especial sobre o sistema reprodutivo, desconhecendo-se uma quantidade mínima segura não tóxica. Na prática, considera-se que apenas uma molécula desses produtos pode induzir mutação. Como alerta, o que está sendo descrito não se refere a ações no paciente submetido à quimioterapia, e sim aos riscos a que se submetem profissionais Médicos Veterinários, por negligencia Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

ou falta de conhecimento, nas fases que envolvem desde a aquisição, o armazenamento, o preparo, a aplicação do medicamento, o período de convalescença do paciente tratado, seja no ambiente do estabelecimento médico veterinário, internamento, seja no ambiente que o animal habita, até a destinação dos resíduos produzidos. Atualmente, diversos medicamentos antineoplásicos encontram-se disponíveis no mercado, sendo bases amplamente utilizadas tanto na medicina humana quanto na veterinária. No Quadro 1, listam-se algumas bases antineoplásicas de uso comum na clínica médica veterinária, sua indicação e riscos tóxicos associados. São produtos altamente tóxicos que devem ser manuseados – juntamente com seus metabólitos e produtos finais – obrigatoriamente, dentro dos princípios da ciência denominada biossegurança, especificamente a biossegurança na quimioterapia, a qual é pouco tratada nas Escolas de nosso país. Apresentados em formas sólida ou líquida, esses medicamentos necessitam ser dosificados para sua correta utilização. O principal risco para os Médicos Veterinários acontece à época desse fracionamento de comprimidos, ou da aspiração de soluções a partir de frascos ou ampolas, quando formam-se pós e aerosóis, com a possibilidade de derramamentos ou gotejamentos que, quando em contato com a pele, mucosas ou órgãos respiratórios, podem induzir a sinais ou sintomas, alguns de baixo significado, e outros que variam desde uma intoxicação aguda, até casos graves com infertilidade, abortamentos, mutações etc. Somem-se aos riscos existentes, que os casos de intoxicação química ocorrem e não são adequadamente identificados e considerados pelos profissionais envolvidos nessa prática. Na clínica médica humana, a utilização desses medicamentos encontra-se atualmente bem regulamentada, reconhecendo uma série de procedimentos como de alto risco, que vão desde a aquisição da droga até o descarte adequado de fluidos e excretas do paciente, passando pelo preparo das doses individuais, o acondicionamento correto e seguro, sua aplicação e o descarte dos resíduos,

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biossegurança na clínica

Quadro 1. Principais medicamentos antineoplásicos utilizados na Clínica Médica Veterinária. Antineoplásico

Indicação

Ciclofosfamida

Ação carcinogênica. Ação hematológica, ocasionando leucemia.

Lomustina

Neoplasias cerebrais, linfomas, mastocitomas, mielomas múltiplos, câncer de pulmão e trato gastrointestinal.

Ação carcinogênica. Pode ocasionar leucemia, mielossupressão, neutropenia e trombocitopenia tardia; sinais gastrointestinais; ação hepatotóxica.

Vincristina

Tumor venéreo transmissível do cão.

Pode ocasionar alterações neurológicas, dérmicas, hematológicas e gastrointestinais.

Doxorrubicina

Carcinoma da mama, pulmão, bexiga, tireoide e ovariano; sarcomas ósseos e dos tecidos moles; linfomas de Hodgkin e não Hodgkin; neuroblastoma; leucemia linfoblástica aguda e leucemia mieloblástica aguda.

Com ação tóxica cardíaca, renal e hematológica.

Cisplatina

Fibrossarcoma, osteossarcoma, carcinomas primários e secundários de cabeça, pescoço, bexiga, próstata, carcinomas de cavidade oral e da derme, adenocarcinoma nasal.

Ação nefrotóxica. Pode ocasionar alterações renais, hematológicas e gastrointestinais.

Carboplatina

Osteossarcoma, carcinoma de glândulas mamárias.

Pode induzir mielossupressão. De toxicidade gastrintestinal. Pode ocasionar neuropatia periférica.

Antiinflamatórios (corticóides)

Linfossarcomas, mastocitomas e leucemias.

Potencial carcinogênico. Pode induzir à mielossupressão.

considerando o lixo tóxico gerado como de responsabilidade profissional. Assim, de acordo com a legislação nacional e internacional, suas determinações e recomendações, tem-se uma série de normas quanto à biossegurança na quimioterapia, conforme se verifica no Quadro 2. No Brasil, essas regras de biossegurança são obrigatórias para os profissionais que atuam em serviços de oncologia humana, de acordo com determinação da Anvisa. Infelizmente, na Medicina Veterinária, não há, até o momento, nenhuma diretriz que regulamente a biossegurança no uso de medicamentos antineoplásicos em nosso país, o que tem gerado inquietação e discussões no âmbito dos órgãos envolvidos com saúde pública humana, vigilância sanitária e ambiental. Por associação, as normativas de biossegurança no manuseio de quimioterápicos na Medicina Veterinária, deverão considerar a questão de riscos à saúde humana e a contaminação ambiental: a segurança dos trabalhadores, o profissional envolvido e seus assistentes; o paciente e seu(s) proprietário(s), e o ambiente. A falta de cuidados, seja pela não atualização e imposição da legislação pertinente ou por desconhecimento, oriundos da má-formação acadêmica, expõe uma realidade preocupante na rotina da Clínica Médica Veterinária, como relatado em trabalho recentemente publicado. Neste artigo, que avaliou a exposição ocupacional de Médicos Veterinários a medicamentos antineoplásicos no município do Rio de Janeiro, foi verificado que:

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Toxicidade

Leucemias, tumor oral, carcinomas, linfoma maligno, mielomas múltiplos, tumores mamários e ovarianos, neuroblastoma, retinoblastoma, linfoma dérmico.

a) Dos 70 médicos veterinários entrevistados, apenas um sabia ser a infertilidade um dos riscos associados ao manuseio de antineoplásicos; b) Nenhuma das clínicas que realizam o procedimento de quimioterapia dentre os estabelecimentos médico-veterinários avaliados, possuía cabine de segurança biológica; c) Aproximadamente 60% dos profissionais entrevistados não utilizam máscaras de proteção ao manusearem esses tóxicos; 16% não utilizando luvas e 15% não utilizando qualquer tipo de equipamentos de proteção individual (EPIs). Ainda, constatou-se que 30% dos Médicos Veterinários entrevistados, desconhecem os riscos da atividade que estavam realizando. Os acidentes ou o aparecimento de sintomas durante a manipulação de antineoplásicos, foram relatado por 56 dos 70 Médicos Veterinários entrevistados, o que correspondeu a aproximadamente 80% do total dos envolvidos com atividades de quimioterapia. Finalizando, 70% dos médicos veterinários relataram “não se lembrar” ou “não terem sido informados” durante o curso de graduação sobre a necessidade da utilização de EPIs ou de equipamentos de proteção coletivas (EPCs). Percebe-se por este estudo, e por outros documentos relacionados ao tema no Brasil e no exterior, urgência na atualização da legislação e normatização dos procedimentos relacionados à quimioterapia na Medicina Veterinária em nosso país, bem como discussões acerca de como inserir a cultura da biossegurança em nossas grades curriculares, e mais importante, nas nossas práticas diárias. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Quadro 2. Normas de biossegurança no manuseio e utilização de medicamentos antineoplásicos. Procedimento/Condição

Norma

Aquisição do medicamento antineoplásico

Restrita a profissionais envolvidos com a prática, seja em consultórios, clínicas ou hospitais, sendo vedada a leigos.

Uso e manipulação de medicamentos antineoplásicos

Exclusivo e de responsabilidade de profissional de nível superior, habilitado e capacitado para realização do procedimento.

Local de armazenamento e manuseio de medicamentos antineoplásicos

Restrito aos profissionais envolvidos, não podendo ser utilizado para outros procedimentos.

Preparo das doses

Realizado no interior de uma cabine de segurança biológica Classe 2, B2, ou seja, que promova exaustão de 100% do ar.

Equipamentos pessoais de segurança (EPIs)

Uso de EPIs adequados*, desde o preparo das doses até sua aplicação.

Profissionais gestantes

Atividade não permitida a gestantes, desde a manipulação de medicamentos antineoplásicos, até o acesso à área de estocagem, manuseio, preparo e aplicação.

Descarte do material utilizado (equipos, agulhas, seringas, luvas, papéis absorventes, frascos vazios e doses não utilizadas)

Deve obedecer à legislação referente ao gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (PGRSS/ Conama), com o adequado acondicionamento até recolhimento por empresa acreditada, devendo ser embalado com o indicativo de material infectante, no caso dos perfurocortantes, e a seguir como indicativo de lixo tóxico, devendo ser acondicionados em caixas ou embalagens resistentes e adequadas para o descarte e a posterior incineração.

Manuseio de fluidos e excretas dos pacientes

Seja no ambiente do estabelecimento veterinário ou na residência do paciente, deve seguir procedimentos básicos de biossegurança, sendo realizado com o auxílio de luvas, no mínimo, nas primeiras 48 horas após a aplicação de cada dose.

Tecidos contaminados com fluidos e excretas

Devem ser encaminhados para lavanderia especializada, com indicação de contaminação por lixo químico, devendo ser manuseados com o auxílio de luvas e lavados separadamente.

Acompanhamento médico periódico dos profissionais envolvidos com a prática da quimioterapia

Os profissionais envolvidos com a quimioterapia devem submeter-se periodicamente a exame médico, com atenção especial a exames que indiquem a ocorrência de contaminação/exposição a medicamentos antineoplásicos.

*EPIs obrigatórios para o manuseio de antineoplásicos: avental de tecido semipermeável ou impermeável, de mangas longas com punho, descartável; máscara de proteção com carvão ativado, descartável; luvas de látex ou polipropileno, duplas, descartáveis; gorro descartável; óculos de proteção com bloqueio lateral.

Referências Bibliográficas NIOSH Alert: Preventing occupational exposures to antineoplasics and other harzardous drugs in health care settings. National Institute for Occupational Safety and Health. Centers for Disease Control and Prevention. EUA. 2004. Portaria nº 485, de 11 de novembro de 2005. Aprova a Norma Regulamentadora nº 32 (Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde). Ministério do Trabalho e Emprego. Referência Técnica para o funcionamento dos serviços de saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. 2010.

Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, d e 7 d e dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. Resolução nº 385, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o Tratamento e a disposição final de resíduos dos serviços de saúde. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ministério do Meio Ambiente. ROCHA et al. Perigos potenciais a que estão expostos os trabalhadores de enfermagem na manipulação de qui-

mioterápicos antineoplásicos: Conhecê-los para preveni-los. Revista Latino Americana de Enfermagem v. 12, n. 3, p. 511-517, 2004. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 220, de 10 de agosto de 2004. Aprova o Regulamento Técnico de funcionamento dos serviços de terapia antineoplásica. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. SILVA et al. Exposição ocupacional a medicamentos antineoplásicos em clínicas veterinárias no município do Rio de Janeiro. Vigilância Sanitária em Debate v. 1, n.1, p. 34-42, 2013.

Dado dos Autor Cláudio Lísias Mafra de Siqueira Médico Veterinário MSc, DSc, Pós-doutor – CRMV-MG nº 5170 Docente Universidade Federal de Viçosa- MG. mafra@ufv.br

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Laboratórios oficiais

LANAGRO-MG: status máximo de biossegurança Com trinta anos, unidade mineira dos Laboratórios Nacionais Agropecuários é referência internacional e faz análises de produtos de origem animal e vegetal para garantir a sanidade, inocuidade e qualidade de alimentos. 30 Médicos Veterinários estão diretamente envolvidos. Nos últimos anos, o Brasil vem se consolidando no mercado mundial de carnes, mantendo a liderança na exportação de carne bovina e de aves, principalmente. Hoje, para manter-se competitivo, não basta declarar a inexistência de determinada doença; é preciso provar com resultados obtidos em laboratórios reconhecidos e testes realizados em unidades de alta segurança que garantam que os organismos patogênicos utilizados para os testes ou eventualmente isolados não venham a colocar em risco todo o rebanho nacional. A garantia de produto isento, sustentando as exportações e também a qualidade do abastecimento interno, tem na sua base o trabalho de Médicos Veterinários e outros profissionais dos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagro), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),

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Vista geral da unidade mineira

responsáveis por essas análises. Eles, junto com uma rede de laboratórios públicos e privados credenciados, constituem a Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. O Brasil conta com seis unidades dos Laboratórios Nacionais Agropecuários, presentes em Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul. O Lanagro/MG tem sua sede em Pedro Leopoldo-MG e, neste ano, completa 30 anos de existência. Ele é um dos laboratórios de biossegurança na área de Medicina Veterinária da América Latina. Atualmente, o Lanagro/MG possui laboratórios de alta segurança biológica, com status 4, conforme norma da Organização Mundial de Saúde Animal

Janeiro/1983

Janeiro/2001

Janeiro/2005

Março/2006

Inaugurado o Laboratório de Pedro Leopoldo, na época com nome de Laboratório Nacional de Referência Animal (Lanara). Enfrenta o primeiro desafio, com êxito; realizar diagnósticos para erradicação de peste suína africana do território nacional.

Criada a Rede Brasileira de Qualidade do Leite. Definido como Laboratório de referência da RBQL.

União com a área vegetal, tronando-se Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro). Decreto nº 5.351.

Organizado o Sistema de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa). Define LANAGROs como Laboratórios Oficiais. Decreto nº 5.741.

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Ações laboratoriais desenvolvidas no Lanagro/MG Envolvendo Segurança dos Alimentos • análises físico-químicas e microbiológicas para controle de produtos de origem animal e vegetal • análises físico-químicas e microbiológicas para controle de água • análises para monitoramento, investigação e inspeção de resíduos e contaminantes em produtos de origem animal e vegetal • análises físico-químicas de bebidas e vinagres • análises de micotoxinas em produtos de origem vegetal e animal • análises físico-químicas em produtos de origem vegetal (óleos, farelos e farinhas) • produção de materiais de referência • organização e coordenação de programas interlaboratoriais Envolvendo Produção Agropecuária • análises físico-químicas, microscópicas e microbiológicas para controle de alimentos para animais • análises de sementes de espécies forrageiras, olerícolas, medicinais e de grandes culturas • análises de fertilizantes, corretivos orgânicos e correlatos • organização e coordenação de programas interlaboratoriais Envolvendo Saúde Animal • análises para diagnósticos virológico e bacteriológico de doenças dos animais • análises para controle de produtos veterinários • produção de materiais de referência para testes de diagnóstico e de controle de qualidade de imunobiológicos • identificação e manutenção de cepas e sementes de referência • manutenção e fornecimento de modelos animais para experimentação Envolvendo Saúde Vegetal • identificação, detecção e quantificação de organismos geneticamente modificados • análises para diagnóstico fitossanitário • manutenção de cepas de fungos

(OIE). O nível de biossegurança 4 é o mais elevado na escala de definição de risco biológico pelo organismo internacional. Entre outros fatores, a classificação alcançada deve-se à estrutura dos laboratórios que atende aos requisitos de alta segurança, internacionalmente aceitos, para trabalhos com agentes patogênicos de alta periculosidade. Dentre as características, em área de 500 m2, o ambiente é totalmente hermético com pressão negativa, fluxo de ar direcionado; portas e janelas herméticas, filtragem de ar através de

filtros absolutos duplos, controle estrito de acesso por senha. O monitoramento de todo o sistema é feito por meio de sistema informatizado, saída de pessoal condicionado ao banho obrigatório e esterilização de todos os materiais descartados, inclusive efluentes. As instalações, estruturadas para impedir fugas de microrganismos, aliada à qualificação da equipe, permitem que no laboratório de Pedro Leopoldo possam ser manipulados organismos de qualquer natureza, inclusive aqueles considerados exóticos ao Brasil.

Abril/2008

Abril/2009

Abril/2009

Novembro/2009

Obtém reconhecimento como Instituição de pesquisa pelo CNPq. Certificado CNPq nº 900.0964/2005

Obtém Certificação do Inmetro na Norma ABNT/ ISO/IEC 17025. Certificado de Acreditação CRL 0350.

Unidade do Lanagro/MG,– Laboratório de Controle de Qualidade e Segurança Alimentar (Lacqsa), em Belo Horizonte, obtém Certificação do Inmetro na Norma ABNT/ ISO/IEC 17025. Certificado de Acreditação CRL 0351.

Unidade do Lanagro/MG, Laboratório Oficial de Análise de Sementes (Laso) em Belo Horizonte, obtém Certificação nternational Seed Testing Association Certificate of Accreditation (Ista).

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Autoclaves de fronteira

Esterilização de efluentes

Segurança alimentar e saúde animal

importantes para as campanhas de imunização, pois verificam se as vacinas não contêm o vírus vivo da doença. Ainda na saúde animal, no laboratório são avaliados embriões importados da Índia, com o objetivo de impedir a entrada de doenças desconhecidas que possam afetar o rebanho nacional. Como garantia da produção agropecuária de forma saudável são analisados fertilizantes, alimentos para animais e sementes. A área de segurança alimentar é ampla, com atividades de análise que se inserem em programas governamentais, como: Quantificação de Soro em Leite (CMP), Resíduos de Drogas Veterinárias, Agrotóxicos e Contaminantes (PNCRC); Programa de Controle de Fraude de Água em Carcaças de Frangos e Pesquisa de Presença de Subprodutos de Origem Animal em Alimentos para Ruminantes, entre outros. Realiza análise de organismos geneticamente modificados e análises de produtos de origem animal, produtos de origem vegetal (bebidas, óleos e farinhas). Anualmente, o Lanagro/MG realiza aproximadamente 300.000 determinações analíticas, avaliando produtos veterinários como vacinas e antígenos e alimentos produzidos em todo o território nacional. Atende os Serviços de Fiscalização e Saúde do Mapa, além de solicitações do Ministério Público, operações especiais da Polícia Federal e outras instituições. Destaca-se, ainda, ao assegurar a qualidade da carne brasileira exportada para diversos países, como Rússia, China, União Europeia e Estados Unidos.

Dentre as missões do Lanagro/MG encontram-se a garantia da segurança alimentar aos consumidores, nos aspectos de inocuidade, qualidade e identidade dos produtos e subprodutos de origem animal e vegetal; da qualidade dos insumos agropecuários e a promoção da sanidade animal e vegetal por meio da avaliação de risco, vigilância, controle e fiscalização fitozoossanitária. Atualmente, a equipe da unidade é composta por 30 Médicos Veterinários, além de químicos, farmacêuticos, biólogos e engenheiros, cuja estratégia de atuação é determinada pela Coordenação-Geral de Apoio Laboratorial. Os programas desenvolvidos são divididos em três grandes áreas: garantia dos insumos agropecuários, segurança alimentar e saúde animal e vegetal. Atuando com ações em consonância aos programas de defesa sanitária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Dentre eles, na saúde animal, destacam-se o combate à Febre Aftosa, o Diagnóstico de Tuberculose e Brucelose, o controle de vacinas e antígenos, produção de material de referência como maleíina para diagnóstico de Mormo para cumprir as metas de erradicação e conquista de novos mercados. Como exemplo de atuação cita-se a realização de diagnósticos moleculares, virológicos, sorológicos e bacteriológicos de doenças. Há também o cepário de vírus de Febre Aftosa que possui amostras de referência para produção de vacinas e os testes de inocuidade,

Dado do Autor Ricardo Aurelio Pinto Nascimento Médico Veterinário, CRMV-MG n º 4352 – Fiscal Federal Agropecuário e Coordenador Lanagro/MG. ricardoaurelio@yahoo.com.br

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


biossegurança e inovações

COMPARTIMENTAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA: Exemplo da Avicultura Os países são capazes de definir e separar subpopulações de animais com diferentes status sanitário dentro de seu território, aplicando um rígido protocolo de procedimentos de biosseguridade O conceito de compartimentação é relativamente novo e pode ser mais uma alternativa para garantia da sanidade e ampliação das comercializações. Foi inicialmente discutido no ano de 2000, e a sua aplicação e vantagens tornaram-se mais importantes após o aparecimento de episódios da influenza aviária de alta patogenicidade no sudeste da Ásia, em 2005, e das suas repercussões na economia de países afetados pela doença. Este conceito foi estabelecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e, por meio dele, os países são capazes de definir e separar subpopulações de animais com diferentes status sanitário dentro de seu território, devido à manutenção de um rígido protocolo de procedimentos de biosseguridade, proporcionando o controle de introdução e disseminação de determinadas doenças. Enquanto os conceitos de zonas e regionalização aplicam-se a uma subpopulação animal determinada em definições geográficas, espaciais (usando fronteiras artificiais, naturais ou legais), a compartimentação aplica-se a uma subpopulação animal definida por práticas de manejo e biosseguridade, considerando-se a epidemiologia da doença-alvo, fatores ambientais, status sanitário dos animais nas áreas adjacentes e ações de vigilância sanitária. Portanto, a delimitação de um compartimento deve-se muito mais ao sistema produtivo diferenciado ao qual a subpopulação animal está submetida, do que à localização de seus estabelecimentos de produção. Uma vez que um sistema produtivo (composto por um ou mais estabelecimentos) adote as medidas Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Vista interna de um aviário de frangos de corte

de biosseguridade e de vigilância sanitária preconizadas, o serviço veterinário oficial poderá emitir um certificado reconhecendo-o como compartimento e certificar o status sanitário da sua população, para fins de comércio nacional e, principalmente, internacional. É fundamental estabelecer uma parceria entre o serviço Médico Veterinário oficial e o setor privado, para que possam, dentro de suas competências e responsabilidades, adotar controles sanitários permanentes e dinâmicos na subpopulação animal sob controle. No Brasil, esse conceito de compartimentação foi aplicado na cadeia produtiva avícola, por meio de um projeto que envolveu a participação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da União Brasileira de Avicultura (Ubabef ) e de empresas voluntárias, com o objetivo de definir parâmetros técnicos de biosseguridade e estabelecer o modelo brasileiro de compartimentação da cadeia produtiva avícola, visando à prevenção da influenza aviária (IA) e da doença de Newcastle (DNC).

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biossegurança e inovações

A delimitação de um compartimento deve-se muito mais ao sistema produtivo diferenciado do que à localização dos estabelecimentos de produção.

Projeto de compartimentação em andamento no Brasil É fundamental adotar medidas que visem a identificar e prevenir quaisquer fatores de risco que possam prejudicar a manutenção e o desenvolvimento do setor avícola brasileiro como, por exemplo, a ocorrência de doenças que causam impactos à saúde animal e humana. Assim, é necessário estabelecer medidas complementares que permitam a manutenção da certificação dos produtos avícolas, mesmo quando a ausência de patógenos não puder ser assegurada em todo o território nacional. A IA e a DNC são exemplos importantes devido aos impactos que causam à saúde animal, pelas elevadas taxas de morbidade e mortalidade dos plantéis, e, também, pela importância em saúde pública, principalmente a IA que, mesmo apresentando baixa morbidade em humanos, apresenta elevada mortalidade. É difícil fazer o processo de certificação para obtenção e manutenção de status de livre dessas doenças em países ou regiões

Vista aérea de uma granja de produção de ovos de Lucas do Rio Verde-MT

de grandes dimensões. A ocorrência de um evento sanitário isolado pode comprometer a produção e o escoamento do produto em áreas isoladas ou até mesmo em todo o País. A compartimentação oferece garantias adicionais aos outros processos de certificação já existentes, incluindo a regionalização, favorecendo a oferta de produtos avícolas e o comércio seguro entre os países, mesmo durante a ocorrência de eventos sanitários no território brasileiro. As medidas complementares de biosseguridade, adotadas pela metodologia do compartimento, permitem a separação entre as subpopulações da produção industrial avícola das aves de subsistência e aves silvestres e minimizam o risco de introdução e disseminação de IA e DNC. Adicionalmente, é desenvolvido um programa contínuo de vigilância sanitária. No caso de um surto de IA ou DNC, os compartimentos oferecem vantagens epidemiológicas em relação a outros modelos de certificação devido à adoção de um protocolo diferenciado e mais rigoroso de biosseguridade. A proposta brasileira baseia-se no sistema vertical integrado de produção e nos padrões sanitários previstos para IA e DNC, descritos no Código Sanitário de Animais Terrestres da OIE. O sistema de produção integrada brasileiro favorece a manutenção e a melhoria da qualidade, biosseguridade e rastreabilidade para todos os elementos do sistema produtivo, bem como permite às empresas controlar sistematicamente todas as fases do processo da cadeia de produção de aves.

Histórico

Sistema de desinfecção de veículos

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Em 2008, o Brasil solicitou à OIE apoio para o desenvolvimento de um modelo de compartimentação, visando à prevenção da IA e DNC e, desde então, a equipe do Departamento de Saúde Animal do Mapa vem coordenando o desenvolvendo desse projeto. Em colaboração com a Ubabef, foram selecionados três sistemas de produção, de diferentes empresas, localizados em cinco estados (Figura 1). Dois dos sistemas de produção selecionados são verticais integrados de produção de frangos de corte Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


(composto por granjas de matrizes, de frango de corte e incubatórios), enquanto o outro é um sistema vertical de produção de material genético avícola (composto por granjas de bisavós, avós e incubatórios). Cada compartimento dispõe de um conjunto de granjas e incubatórios, cuja subpopulação de aves encontra-se submetida às mesmas medidas de manejo e biosseguridade, sendo separada de outras subpopulações de aves. Além das granjas e incubatórios, foram identificadas como parte dos compartimentos unidades funcionais associadas, como as fábricas de ração e de produção de cama de aviário e forração de ninhos, e os abatedouros. Inicialmente, foi feita uma avaliação dos sistemas de produção dessas empresas, quanto às práticas de manejo e medidas de biosseguridade adotadas. A partir dessa análise e considerando a epidemiologia da IA e DNC, foram identificados os potenciais fatores de risco, associados à introdução e à disseminação dessas doenças. A etapa seguinte constituiu-se na elaboração e desenvolvimento de um programa diferenciado de gestão de risco com medidas de biosseguridade a serem adotadas pelas granjas, incubatórios e

Figura 1. Localização dos compartimentos da cadeia produtiva avícola brasileira para influenza aviária e doença de Newcastle

unidades funcionais associadas pertencentes ao compartimento, para cada um dos fatores de risco identificados, inclusive, prevendo ações adicionais a serem executadas em situações emergenciais, como a ocorrência de um possível foco de IA e DNC próximo a um estabelecimento do compartimento. Além do exposto, foi definido um sistema de vigilância epidemiológica complementar para as granjas do compartimento e para as propriedades que possuemaves de subsistência localizadas num raio de um quilômetro incluindo visitas periódicas às granjas com inspeção dos animais e envio de material a laboratórios da Rede Nacional do Ministério.

A espera da aprovação

Vista aérea de um núcleo de reprodução avícola.

O Projeto finalizado foi encaminhado à OIEe, caso aprovado, poderá servir de referência para outros países. Paralelamente, servirá como base para a elaboração da legislação nacional que estabelecerá o modelo para certificação de compartimentos, podendo ser adaptado para diferentes condições de produção de aves no Brasil.

Dados dos Autores Bruno Rebelo Pessamilio Médico Veterinário, CRMV-DF no 2274 Fiscal Federal Agropecuário. Coordenador de Sanidade Avícola/CGCD/DSA/DAS/Mapa pnsa@agricultura.gov.br

Denise Euclydes Mariano da Costa Médica Veterinária, CRMV-DF no 0482 Fiscal Federal Agropecuário. Coordenadora-Geral de Combate às Doenças/DSA/SDA/Mapa

Clarice Bechara Meurer Médica Veterinária, CRMV-DF no 2298 Fiscal Federal Agropecuário. Coordenação de Sanidade Avícola/ CGCD/DSA/DAS/Mapa

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

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Quarentenário de Cananéia

Última barreira

para nacionalização Fotos EQC

Ambiente seguro e profissionais paramentados para exames Flávia Tonin – jornalista CFMV

Hoje, o Brasil é líder mundial na produção e exportação de carne bovina e de aves, além do quarto maior produtor e exportador de carne suína. É possível imaginar qual seria o tamanho do estrago se surgisse um foco de uma doença considerada livre no País? Com certeza, a quebra do PIB Nacional, que atualmente depende 25% do agronegócio, além do prejuízo econômico e social para toda uma cadeia de produção. É com essa preocupação e responsabilidade que os Médicos Veterinários da Estação Quarentenária de Cananéia, única oficial brasileira, pautam suas ações diariamente. Sediada em Cananéia, uma ilha do litoral sul de São Paulo, a estrutura brasileira é considerada referência em quarentenário na América Latina; reconhecida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e pleiteia tornar-se um centro colaborador da organização. Tem por objetivo ser um local próprio para, antes da nacionalização dos animais, detectar potenciais agentes de doenças que possam ter vindo

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A estação quarentenária é dirigida por Médicos Veterinários e tem por missão evitar que doenças exóticas entrem no País por meio de importações. com animais importados e, quando da detecção, tomar as medidas cabíveis, entre elas, o sacrifício e a destinação adequada das carcaças. A Estação foi criada em 1971, em local escolhido por seu isolamento e localização estratégica, entre as capitais paulista e paranaense. Ela ocupa uma área de 1.510 hectares, tem único acesso e é circundada por um braço de mar e mata de proteção permanente. O Serviço também tem o apoio da prefeitura local, que proibiu, por lei, a entrada, o tráfego ou a permanência de animais biungulados na área da ilha. A Estação está ligada tecnicamente ao Departamento de Saúde Animal do Mapa e administrativamente a SFA em São Paulo, SP. A primeira quarentena foi realizada em 1975, e envolveu a exportação de 83 bovinos destinados à Venezuela. A partir desta, até 1993, foram realizadas outras dez quarentenas de exportação, totalizando 1.233 bovinos destinados à Colômbia, aos Estados Unidos e à Venezuela. “Na época, vinham para o quarentenário os animais previamente selecionados, do ponto de vista sanitário, com ênfase para a febre aftosa, e eram novamente testados para verificar se realmente não eram portadores de agentes dessa e de outras doenças”, lembra o Médico Veterinário Odemilson Donizete Mossero, atual Chefe do Serviço, enfatizando a mudança sanitária que o Brasil conquistou em pouco mais de uma década. Atualmente, o Brasil está prestes a ser considerada livre da febre aftosa e as exportações de animais vivos não passam pela quarentena oficial, em razão do status brasileiro conquistado, e cumprimento dos protocolos internacionais acordados. No mesmo período foram realizadas outras seis quarentenas de importação de 519 animais, entre bovinos, bubalinos (dos Estados Unidos e da Itália) e lhamas (do Chile, destinadas aos Estados Unidos). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Zona 4 Quarentena de animais • Cerca dupla • Vigilância 24 h • Autoclave de fronteira para retirada de toda roupa e lixo

Zona 2 Administração • Controle de entrada de pessoas. • Pedilúvio • Instalações para alojamento e cursos • Oficina, almoxarifado, marcenaria, deposito, lavanderia

Zona 3 Área tampão de proteção • Cercado por tela • Vestiário 1 para troca de roupa obrigatória

2km Zona 1 Recepção

Vista aérea do Quarentenário

Em 1999 e 2000, o quarentenário recebeu 750 avestruzes importados. Com uma estrutura grandiosa e quase 30 anos, em 2002, a Estação encontrava-se em fase decadente e não recebia mais animais. Esteve fechada para avaliação de comissão e novo projeto governamental até 2006, quando iniciou sua reestruturação que foi concluída em 2008, após investimento de aproximadamente R$ 5 milhões. Com as mudanças, o Quarentenário de Cananéia expandiu seu objetivo para também ser um centro de treinamento em defesa sanitária animal para o País. Atualmente, o quarentenário é dividido em quatro áreas com rigor crescente de biossegurança (Figura). A equipe técnica é composta de três Médicos Veterinários, apoiados por servidores operacionais e administrativos. Há uma expectativa de contratação de mais profissionais em próximo concurso. A vigilância patrimonial é constante e terceirizada.

solicitadas no protocolo entre outros. O material dos animais é coletado e enviado aos Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros), de acordo com o objetivo de análise. Embriões de bovinos – Desde a reestruturação, o destaque deve-se à importação de embriões da Índia, que inicialmente passaram por implantação em receptora e análise por seis meses. A equipe de manejo dos animais era mantida pelo importador e as adaptações nas instalações foram realizadas por empresa privada. Os testes foram feitos nas receptoras, no primeiro e no sexto mês após a implantação do embrião. “Elas atuavam como ‘animais sentinela’, pois manifestariam alguma doença caso o embrião estivesse infectado”, explica Mossero. Em oito etapas,

Análise caso a caso O Código Sanitário Internacional estabelece as normativas para comércio entre países e a exigência e o tempo de quarentena podem variar de acordo com a origem dos animais e as espécies. O termo “quarentena” remete a “quarenta dias” e segue sendo utilizado por questões históricas, porém, o período de isolamento de cada espécie varia de acordo com tratamentos já realizados na origem, protocolos e pelo tempo necessário para testes de manifestação de doença. Mossero, Chefe do Serviço, explica que durante esse período, os animais são monitorados por Médico Veterinários, tratados contra endoparasitos e ectoparasitos, testados para as doenças Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Administração da Estação Quarentenária

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Quarentenário

realizadas de 2009 a 2012, foram transferidos 1.517 embriões, que resultaram em 683 prenhezes. Atualmente, há duas fazendas habilitadas pelo Ministério da Agricultura para realizar a quarentena. Aves – Temendo, em especial a gripe aviária e doença newcastle, a quarentena de aves só foi autorizada a partir de 2009, apenas para os animais de companhia, ou seja, aqueles que estão fora do País, com seus proprietários e esses estão se transferindo para o Brasil. Desde 2010, as aves estritamente de companhia estão dispensadas do quarentenário oficial, porém, foi autorizada a importação e quarentena de aves ornamentais para fins comerciais. O Médico Veterinário Gustavo Mendes Cantarino, responsável pela quarentena de aves, explica que elas passam 30 dias em isolamento na origem e outros 15 dias na estação quarentenária. “Desde o aeroporto, o transporte é monitorado em unidades biocontidas, nas quais o ar do compartimento é filtrado”. As instalações para a quarentena de aves permitem que elas fiquem isoladas em quatro ambientes. O ar entra com pressão negativa e passa por filtros para reter contaminantes. Há controle de temperatura e umidade para garantir o bem-estar dos animais e um gerador para que não falte ventilação. De 2009 a agosto de 2013 foram realizadas 94 quarentenas, totalizando 1.066 aves. Suínos – Para o próximo ano, a estrutura está sendo adaptada para atender à nova norma da legislação e as matrizes e reprodutores importados passarão pelo quarentenário. O investimento com reforma, de aproximadamente R$ 1 milhão está sendo feito pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). “É uma garantia para os rebanhos, pois a estrutura de biossegurança da quarentena impede que entre qualquer agente no País”, explica

Cursos práticos são realizados na Estação

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Coleta de amostras de ave para análise

o diretor da ABCS, Fabiano Coser, também Médico Veterinário. Dentre as doenças, a mais temida é a síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRS). Anualmente, o Brasil importa cerca de 2.000 animais destinados a Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Após as adaptações estima-se que haja capacidade para a realização de até dez quarentenas ao ano, com limite de 400 animais em cada.

Oportunidade de treinamentos Com uma estrutura de fazer inveja a qualquer centro universitário, com alojamentos e sala de computadores, o Centro de Treinamento da Estação Quarentenária, a partir de 2008, passou a sediar cursos e eventos destinados à defesa sanitária animal. Um dos treinamentos de destaque foi sobre Mormo em equinos, com a possibilidade de exames clínicos, colheita de amostras, e necropsia de um animal contaminado. “Possibilitamos aos profissionais que vão identificar e fazer os testes a campo, observar os sintomas da doença e tirar dúvida, até a colheita de material”, explica Gustavo Cantarino, que atua em parceria com Celso Gonçalves, Médicos Veterinários da Estação. A Estação Quarentenária de Cananéia também recebeu o I Encontro Internacional de Especialistas em Quarentena Animal, realizado pela OIE em 2011. O evento contou com representantes de diversos países da América Latina e, ao final, publicou uma carta de intenções, na qual se destacou a importância da formação de um grupo para a elaboração de uma proposta de normatização mínima mundial, com o objetivo de subsidiar a criação de estabelecimentos quarentenários. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Cfmv na mídia

Combate ao Tráfico de Animais é destaque no País

O CFMV realizou entrevista coletiva para o lançamento da campanha que comemora os 45 anos do Sistema CFMV/CRMVs. Estiveram presentes repórteres e produtores da TV Globo, TV Record, TV Band, Jornal Coletivo, TV Brasil, e Agência Brasil. O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, e o presidente da Comissão Na-

cional de Animais Selvagens do CFMV (CNAS), Rogério Lange, apresentaram dados sobre o tráfico de animais no Brasil e no mundo. O tema foi divulgado em 96 matérias jornalísticas, em TVs, rádios, jornais impressos e portais de notícias. A TV Globo cobriu o Dia da Conscientização em oito capitais.

CFMV na Revista Cães e Cia Amigo vet

Diga não às intervenções estéticas Saiba porque não se deve fazer uso de substâncias químicas e de cirurgias estéticas para o “embelezamento” de cães e gatos Por BENEDITO FORTES DE ARRUDA

C

Rollin’ With Rub

om mais de 50 milhões de cães e gatos, o Brasil tem a segunda maior população de pets no mundo. E, segundo dados do setor, o gosto do brasileiro por animais de estimação continua a crescer. Com isso, os serviços de embelezamento de animais se expandem para além do banho e tosa.

Substâncias químicas

Principalmente nos grandes centros urbanos, pet shops e clínicas veterinárias ampliam as opções de procedimentos estéticos, com práticas que geralmente interferem nas características naturais dos animais. Surgem constantemente novidades que se propõem a embelezar cães e gatos com o uso de substâncias químicas aparentemente inofensivas, mas que, pelo potencial de oferecer pe- Risco para o bem-estar dos animais: embelezamento com o uso de substâncias químicas rigo, geram preocupação. É o caso do alisamento e da hidratação la resolução, em 2013 foi acrescentada ciente e com o compromisso de não da pelagem, das tinturas para colori-la a proibição da caudectomia (corte da expô-lo a sofrimento desnecessário. e dos serviços de “manicure”. cauda), pela resolução 1.017. Cirurgias estéticas O Conselho Federal de Medicina Esses dispositivos são consideraÉ válido ainda lembrar que, desde Veterinária (CFMV) não recomenda dos um avanço na prática da medicina 2008, o CFMV trabalha pela abolição esses tratamentos e ratifica a imporveterinária brasileira e, mais do que das cirurgias ditas estéticas em cães tância de se respeitar os animais como imposição do CFMV, servem para e gatos. A Resolução 877, de 2008, eles são. Há riscos reais de ocorrerem estimular a reflexão sobre a inutilidaproibiu em todo o território nacional a queimaduras térmicas e químicas, de de de se mutilar animais apenas por conchectomia (que levanta as orelhas acidentes com o corte das unhas e de convenção. Estimular a guarda animal dos caninos), a cordectomia (retirada alergias e intoxicações, ferindo a prede forma consciente contribui positidas cordas vocais) e a onicectomia missa da guarda responsável que preza vamente não só para a saúde dos pets, (extração das garras dos gatos). Deo bem-estar animal. Ao se adquirir um mas também para o equilíbrio do meio pois de cinco anos de adaptação àquepet, é preciso fazê-lo de forma consambiente. Benedito Fortes de Arruda é presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

CÃes & Cia • 413

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A Revista Cães e Cia publica mensalmente artigos do CFMV. No segundo semestre, os textos abordaram temas como a nova especialidade de Oncologia Veterinária, autorizada pelo CFMV em julho; o papel do Médico Veterinário na preservação da Fauna; o perigo dos procedimentos estéticos em pets; e o lançamento do Guia Brasileiro de Boas Práticas para Eutanásia em Animais.

CFMV se pronuncia sobre a experimentação em animais

As denúncias contra o Instituto Royal, em São Roque, SP, foram amplamente abordadas pelos veículos de comunicação no final do mês de outubro. O CFMV foi identificado pela imprensa como importante porta-voz para prestar esclarecimentos à sociedade sobre as normas para utilização de animais na pesquisa e o trabalho realizado pelo CFMV na área por meio da Comissão de Ética, Bioética e Bem -Estar Animal (CEBEA). O membro da CEBEA, Marcelo Weinstein e a Doutora em Patologia Veterinária Silvana Gorniak, representante do CFMV, foram entrevistados pela Rádio CBN, Globo News, Rádio Estadão, Agência Estado, Portal G1, Folha de São Paulo, Correio Braziliense, Jornal O Povo, TV Record, Rádio Globo, TV Globo e TV Brasil. Em todas as entrevistas, ambos declararam o posicionamento do CFMV, que defende a realização de pesquisas em animais de forma ética, priorizando o bem-estar animal e dentro do que se exige a lei.

Dermatologia Veterinária é notícia na Record

Dia do Médico Veterinário na Imprensa

O programa Hoje em Dia, da Record divulgou a nova especialidade da Medicina Veterinária: a Dermatologia, reconhecida pelo CFMV. A longa matéria divulgou dados sobre doenças de pele que acometem os pets e dermatozoonoses. A Médica Veterinária Silvana Gorniak, representante do CFMV, enfatizou o papel de especialistas e ressaltou os critérios do CFMV para autorizar a emissão de títulos a fim de garantir a credibilidade dos diplomas.

Os veículos de comunicação destacaram o Dia do Médico Veterinário, comemorado em 9 de setembro. Porta-vozes do Sistema CFMV/CRMVs concederam entrevistas sobre as diversas atuações do profissional no Brasil e a importância da área para o desenvolvimento do País. A Rádio Nacional, a Rádio Mec (Rio de Janeiro), o Canal Rural, o Canal Futura e o Jornal Agora São Paulo fizeram matérias sobre o assunto.

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destaques

Sessão Solene na Câmara dos Deputados celebra os 45 anos do CFMV O Sistema CFMV/CRMVs viveu em 24 de outubro um dia histórico: a Câmara dos Deputados realizou sessão solene em homenagem aos 45 anos da criação das autarquias federal e regionais. Parlamentares e representantes de entidades discursaram enfatizando a importância das profissões de Médico Veterinário e Zootecnista para o desenvolvimento do País. A iniciativa do evento foi do Deputado César Halum (PRB-TO), que dirigiu a Mesa composta pelo Presidente d o C FM V, B e n e d i to Fo rtes de Arruda; Deputado Fe d e ra l Onyx Lo renzo ni (DEM/RS); Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Tocantins (CRMV-TO), Marcelo Aguiar Inocente; Professor

César Halum, Deputado proponente da homenagem ao lado de Benedito Arruda, presidente do CFMV

e Médico Veterinário Gilvan Almeida Maciel; Presidente do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Guilherme Marques; e representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e Ministério da Pesca e Aquicultura. Colaboradores do CFMV e presidentes dos Conselhos Regionais também par ticiparam da solenidade. Os deputados Ricardo Trípoli (PSDB-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Acelino Popó (PRB-BA), Junji Abe (PSD-SP) e Mauro Benevides (PMDB-CE) ratificaram, em seus discursos, a relevância da atuação do Sistema CFMV/CRMVs no desenvolvimento da economia e da saúde do País.

CFMV CONCEDE PRÊMIO PROF. PAULO DACORSO FILHO DURANTE A ABERTURA DO II CONGRESSO NACIONAL DE PATOLOGIA VETERINÁRIA

O Médico Veterinário e PhD em Patologia Renato de Lima Santos foi o vencedor do Prêmio Prof. Paulo Dacorso Filho de 2012. A comenda foi entregue no dia 14 de outubro durante a abertura do II Congresso Nacional de Patologia Veterinária, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na cidade de Curitiba. O Secretário-Geral do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Antônio Felipe Wouk, representou, na ocasião, o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, e em seu discurso afirmou que “a outorga do Prêmio Professor Paulo Dacorso Filho tem intuito de prestar homenagem aos profissionais que de forma singular e maiúscula contribuíram e seguem contribuindo para o engrandecimento da Medicina Veterinária no Brasil”, disse. Após receber o prêmio, Renato dedicou a conquista a seus alunos e professores que, segundo ele,

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foram essenciais para a construção de sua carreira. Ao longo do ano de 2012, o CFMV recebeu diversos currículos e, após análise minuciosa, os conselheiros elegeram o agraciado, que recebeu na cerimônia a medalha, o bóton e placa alusiva ao prêmio. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


DERMATOLOGIA VETERINÁRIA É RECONHECIDA PELO CFMV COMO ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO A Dermatologia é a mais nova área de especialidade da Medicina Veterinária no Brasil. O CFMV publicou em 14 de outubro a Resolução nº1036/2013, autorizando a Associação Brasileira de Dermatologia Veterinária (ABDV) a conceder o título de especialista. A instituição passa a ser a única habilitada no Brasil para emitir a titulação na área e o requerente deverá ter experiência comprovada, publicações de artigos em revistas, e participação e apresentação em congressos. Na opinião do presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, os profissionais estão em busca de mais conhecimento, para oferecer aos animais qualidade de vida e longevidade. “Um especialista tem a capacidade de atuar com mais precisão. Acredito que esse novo cenário pets, que cresce a cada ano, pode ser um reflexo, também, da exigência

dos proprietários de animais, que estão cada vez mais cuidadosos”, declarou. Benedito acrescenta que a exigência e a cautela para o credenciamento das instituições devem-se à preocupação dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária com a segurança do animal e do proprietário.

Câmara de Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs definem diretrizes para 2014

Os presidentes do Sistema CFMV/CRMVs se reuniram no início de novembro de 2013, em Florianópolis-SC, com o objetivo de partilhar experiências e definir diretrizes para o ano de 2014. Dentre as ações foi apresentado o Planejamento Estratégico do CFMV e o resultado das ações implementadas até o momento. Também foi apresentada a conclusão do trabalho

desenvolvido pelos contadores do Sistema CFMV/ CRMVs, que padroniza os fluxos e rotinas contábeis. Com perfil mais técnico, os participantes assistiram apresentações de especialistas sobre biossegurança em biotérios e em procedimentos quimioterápicos na Medicina Veterinária e as aplicações da nanotecnologia na Medicina Veterinária.

Médicos Veterinários e Zootecnistas Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.

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CFMV em ação

Sistema CFMV/CRMVs

completa 45 anos Com o Sistema CFMV/CRMVs, o País não só ganhou uma legislação à altura das responsabilidades dos profissionais que se dedicavam aos cuidados dos animais. Também abria espaço para a participação cada vez mais imprescindível dos profissionais na promoção da saúde pública e no desenvolvimento da indústria agrária nacional Publicação da Lei no. 5.517

O ano de 1968 está marcado na vida profissional de Médicos Veterinários e Zootecnistas brasileiros, pelo reconhecimento da importância destas profissões. Há 45 anos, em 23 de outubro, foi sancionada a Lei nº 5.517, que regulamentou o exercício da Medicina Veterinária e criou os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária – Sistema CFMV/ CRMVs. Dois meses depois, foi instituída a profissão de Zootecnista (Lei nº 5.550, de 4 de dezembro de 1968), que também passou a ser regulamentada e fiscalizada por esses órgãos.

História Até a criação do Conselho, o registro e a fiscalização das atividades profissionais da Medicina Veterinária estavam a cargo do Ministério da Agricultura, na pasta da Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário. Entretanto, a percepção da importância do mercado agropecuário para o País e a necessária ampliação da fiscalização do exercício profissional exigiam o aprimoramento das práticas em vigor. Tornava-se necessário um órgão fiscalizador que regulamentasse a prática da Medicina Veterinária. Como, entre membros da classe, crescia o desejo de constituir uma entidade forte e representativa, uma

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“Ordem dos Veterinários”, Médicos Veterinários começaram a se reunir com juristas para estabelecer o que hoje é a Lei 5517. Em 1953, uma moção apresentadas no Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet) já oficializava a decisão de criar um Conselho. Em 1957, agora em nível de Congresso Nacional, iniciam-se os debates acerca da criação dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária, assim como aspectos do exercício da profissão, que culminam com a sanção da Lei nº 5.517, base legal da atividade médico-veterinária no País, de autoria do então Deputado Federal Dr. Sadi Coube Bogado. Dois meses depois, uma nova legislação instituiu a profissão de Zootecnista e determinou que o registro dos profissionais fosse realizado nos Conselhos de Medicina Veterinária. A primeira Diretoria do CFMV foi empossada em 1969, e era composta pelos Médicos Veterinários Ivo Torturella (Presidente), Stoessel Guimarães Alves (Vice-Presidente), Hélio Lobato Valle (Secretário-Geral) e Raimundo Cardoso Nogueira (Tesoureiro). Mais do que criar normas, os Conselhos têm por função defender o exercício ético das profissões, cuidando para que leis sejam cumpridas, de forma a garantir à sociedade produtos e serviços de qualidaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Galeria de Presidentes

Ivo Torturella (in memorian) (1969 a 1974)

Laerte Silvio Tradi (in memorian) (1975 a 1977)

Renê Dubois (1978 a 1990)

Primeiro livro de registro de diploma veterinário.

de. Deve orientar, supervisionar e disciplinar as atividades relativas ao exercício profissional da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

Conselhos Regionais O primeiro Conselho Regional instalado foi no Rio Grande do Sul, em 1º de setembro de 1969. Foi seguido, no mesmo ano, por Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará, Goiás, Pará, Bahia, Pernambuco e Paraíba. As primeiras sedes estabeleceram-se, muitas vezes, na casa do presidente eleito ou em seu local de trabalho. A falta de estrutura física adequada dificultava a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Jorge Rubinich (1996 a 1999)

Benedito Fortes Arruda (1990 a 1996 e 2000 a 2014)

rotina administrativa, o acesso do público e a organização de documentos. Inicialmente, identificados por números, os Conselhos podiam atender a um ou mais estados. Com o tempo, foram se desmembrado, e, em 2007, foi formado o último, no Amapá. Ao longo do tempo, os Conselhos foram crescendo, buscando regularizar e ampliar o quadro dos profissionais inscritos e o registro de pessoas jurídicas. Mas, no inicio, buscavam a interiorização das suas atividades e o combate ao charlatanismo e ao abate clandestino. O início da década de 1990, a crise financeira do País e a escassez de verbas demandaram muitos esforços, mas, mesmo assim, foram adquiridas várias propriedades para instalação de sedes próprias, tanto para a instituição federal quanto para as regionais. O Conselho Federal foi parceiro na liberação de recursos para a construção e a aquisição de imóveis e equipamentos de comunicação e informatização. Os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária estão sediados nas capitais dos estados brasileiros, com jurisdição na área do respectivo estado. Profissionais atuantes e empresas que possuem atividades relacionadas à Medicina Veterinária são obrigados a inscrever-se no regional de sua respectiva região. Os profissionais recebem carteiras, com o número de registro profissional, enquanto as empresas obtêm o Certificado de Regularidade de Pessoa Jurídica. A receita financeira dos Conselhos tem origem na arrecadação, pois não recebem recursos de qualquer órgão do governo federal, estadual ou municipal. E, anualmente, prestam contas ao Tribunal de Contas da União. A direção dos Conselhos Regionais e do Federal é composta de 16 membros eleitos: presidente, vice-presidente, secretário-geral, tesoureiro, seis conselheiros efetivos e seis conselheiros suplentes. O exercício da função de conselheiro federal ou regional no período de três anos é considerado serviço relevante e, além dos demais, não é cargo remunerado.

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Nesses 45 anos muitas foram as conquistas capitaneadas pelo CFMV Vinte edições do Seminário Nacional de Ensino da Medicina Veterinária, evento mais tradicional para discutir o ensino da profissão no Brasil. Evidenciou áreas em ascensão para que fossem estimuladas; a necessidade de desenvolvimento de áreas humanísticas, além das técnicas.

Voz presente no Congresso Nacional e luta contra o tráfico de Animais.

Prestar consultoria voluntária e sem ônus à instituições de ensino, assessorando coordenadores de cursos.

O CFMV foi a primeira instituição a regulamentar os Programas de Residência em Medicina Veterinária no Brasil e foi graças as suas ações que o MEC acabou por reconhecer a Residência Multiprofissional em Áreas da Saúde.

Por três anos (2002 a 2005), o CFMV também realizou o Exame Nacional de Certificação Profissional (ENCP) para os egressos de Medicina Veterinária, que deixou de ser realizado por decisão judicial. A entidade reconhece a importância desse exame e luta para restabelecê-lo.

Para propor formas de obtenção de excelência na formação Zootécnica, o CFMV realiza consultorias voluntárias e reúne dados do ensino no País. Passou a organizar reuniões com coordenadores de curso que se transformaram em importante seminário anual.

Em 2011, o Médico Veterinário foi incluído como membro do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), um programa multiprofissional do Ministério da Saúde, graças à ações do CFMV junto ao Ministério da Saúde e no Congresso nacional.

Junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia influenciou a decisão para que os Médicos Veterinários fossem os únicos a assumir a responsabilidade técnica em laboratórios de pesquisa e experimentação animal (biotérios).

Sede do CFMV adquirida em 2005

Primeira instituição a estabelecer normas para as atividades de ensino e pesquisa que envolvem o bem-estar e o uso de animais.

Prêmios anuais instituído aos Médicos Veterinários e Zootecnistas

Participou da conferência Rio+20, demonstrando a importância dos Médicos Veterinários e Zootecnistas para as ações em benefício do meio ambiente, culminando com um Compromisso Público com a Sustentabilidade. Fonte: Livro dos 45 anos do Sistema CFMV/CRMVs

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


SuplementoCientífico Desempenho de raças japonesas de Bombyx Mori L. Antonio José Porto

Epididimite Infecciosa ovina: sua importância e principais ferramentas de diagnóstico Custodio Antônio Carvalho Junior / Valéria Spyridion Moustacas / Tatiane Alves da Paixão / Renato de Lima Santos

Eletroquimioterapia em cães e gatos Marcos Vinicius Sicca Guiduce / José Joaquim Titton Ranzani / Joice Furtado Fonzar

Perfil docente frente às metodologias ativas de ensino e aprendizagem Neimar Vanderlei Roncati / César Augusto Dinóla Pereira / Ana Cristina Kuhn Pletsch Roncati

REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XIX - Edição N° 59 - 2013 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 www.cfmv.gov.br DIRETORIA EXECUTIVA

Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759

Comitê Científico da Revista CFMV

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Conselho Editorial

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Editor da Revista CFMV

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CRMV-MG nº 5170

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Gilson Helio Toniollo CRMV-SP nº 2113

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CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS

Flávia Tonin Subeditora

Luiz Fernando Teixeira Albino CRMV-MG nº 0018/Z

Joaquim Lair

Coordenador de Comissões

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suplemento científico

DESEMPENHO DE RAÇAS JAPONESAS DE Bombyx mori L. PERFORMANCE OF JAPANESE RACES OF Bombyx mori L. RESUMO Caracteres biológicos (ganho de peso: GP 3º ínstar, GP 4º ínstar, GP 5º ínstar e GP total) e produtivos (peso do casulo, PC; peso da casca sérica, PCS; peso da crisálida, PCr e número de casulos por quilograma de amostra, NC kg-1) foram avaliados para oito raças de Bombyx mori L., de origem japonesa. O estudo foi conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, SP, APTA/SAA, no primeiro semestre de 2009. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado com cinco repetições por tratamento. As raças B101, B102, M11 e M11-2 tiveram desempenho diferenciado e condições mais apropriadas para participar de programas de formação de híbridos, com destaque para a raça M11-2, quanto à produção de seda. Palavras-chave: bicho-da-seda, ganho de peso, caracteres biológicos, caracteres produtivos

ABSTRACT Biologicals features (weight-gain, GP 3º ínstar, GP 4º ínstar, GP 5º ínstar and GP total) and productives features (cocoon weight: PC; cocoon shell weight:PCS; chrysalis weight: PCr and cocoon number for kilogram of sample: NC kg-1) were evaluated for eight Bombyx mori L. races of japanese origin. The study was carried out at Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, SP, APTA/SAA, in the first semester of 2009. It was used a completely randomized design, with five replications for treatment. The races B101, B102, M11 and M11-2 had differentied performance and conditions more appropriate to participate of programs of formation of hybrids, with prominence for race M11-2, how much the silk production. Keywords: silkworm, weight-gain, biologicals characters, productives characters

INTRODUÇÃO O bicho-da-seda da espécie Bombyx mori L. possui várias raças geograficamente distribuídas e linhagens com grande variação de características qualitativas e quantitativas de interesse biológico e econômico, incluindo tamanho do corpo, qualidade da seda, fecundidade, resistência a patógenos e tolerância ao calor (NAGARAJU e GOLDSMITH, 2002). Nos países onde a sericicultura representa importante atividade econômica, raças de Bombyx mori L. com características bem definidas e linhagens geneticamente melhoradas são mantidas, como base genética dos programas de melhoramento e formação de híbridos comerciais (NAGARAJU, 2002). A avaliação e escolha das raças

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progenitoras, nos programas de formação de híbridos, foi ressaltada por Sen et al. (1996), como ponto estratégico para melhoria da produção. O conhecimento das diferenças entre as raças ou linhagens possibilita o melhor direcionamento dos acasalamentos para obtenção de híbridos com maior grau de heterose, uma vez que, quanto mais diferentes forem as linhagens a acasalar e mais puras para essas diferenças, maior será a manifestação do vigor híbrido (THADEI, 2003). No Brasil, os bancos genéticos de Bombyx mori L., normalmente, estão classificados em dois ou três grupos raciais, conforme apresentem características de origem chinesa, japonesa ou indiana. O conhecimento dos seus atributos ou defeitos torna-se imprescindível, quando se propõe a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Figura 1. Lagarta do bicho-da-seda.

selecionar as raças parentais que comporão os acasalamentos direcionados para formação de híbridos comerciais. Nesse sentido, estudos vêm sendo conduzidos com o objetivo de avaliar raças e linhagens de Bombyx mori L., quanto ao desempenho biológico e produtivo (ABREU et al., 1960a; ABREU et al., 1960b; ABREU et al., 1962; PAOLIERI, 1965a; PAOLIERI, 1965b; BORGONOVI e PEDRO, 1966; BORGONOVI e PEDRO, 1967; TOLEDO, 1992; PORTO et al., 2001a; PORTO et al., 2001b; PORTO e OKAMOTO, 2003; PORTO et al., 2004; PORTO, 2004; PORTO, 2008; PORTO e OKAMOTO, 2008). Dessa forma, dando continuidade ao Programa de Formação de Híbridos Comerciais, no presente estudo foram avaliadas características biológicas e produtivas de oito raças de Bombyx mori L., de origem japonesa, como pré-requisito para a seleção de raças parentais e o direcionamento de cruzamentos.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, SP (UPD/Gália), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), no primeiro semestre de 2009. Foram coletados dados de oito raças do bichoda-seda de origem japonesa (B101, B102, B106, B107, M8, M11, M11-2 e M12-2), pertencentes ao banco genético da UPD/Gália. As lagartas (Figuras 1 e 2) foram mantidas, até o segundo ínstar, em instalação denominada “chocadeira”, com posterior transferência para uma sirgaria experimental e criadas até a formação dos casulos. Na sirgaria, as lagartas foram separadas conforme as raças, em caixas de criação de 80 x 70 x 3 cm. O manejo, tanto alimentar quanto de criação, foi igual para todas as raças e de acordo com as recomendações técnicas normais de uma criação comercial. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

A temperatura e a umidade relativa do ar (UR) foram monitoradas, registrando-se médias de temperatura e UR de 26,86ºC e 70,71%, respectivamente. No início do terceiro ínstar foram coletadas, aleatoriamente, cinco amostras de dez lagartas, para cada raça, que foram pesadas em balança de precisão. O mesmo procedimento foi realizado no início do quarto e quinto ínstar, assim como no final do quinto ínstar, momentos antes do início do encasulamento. Pela diferença dos pesos, no início e no final dos respectivos períodos, foram determinados os ganhos médios por lagarta, em gramas, nos três últimos ínstares e no período larval total (GP 3º ínstar, GP 4º ínstar, GP 5º ínstar e GP total). Com seis dias após a formação dos casulos foram coletadas cinco amostras de dez casulos para cada raça, considerando apenas casulos sem defeitos externos e com crisálidas vivas. As amostras foram conduzidas ao laboratório da UPD/Gália-SP para determinação dos seguintes caracteres: peso do casulo (PC), em gramas, obtido pela pesagem das amostras e posterior determinação do peso médio unitário. Peso da casca sérica (PCS), em gramas, obtido pela pesagem das cascas séricas, após o corte dos casulos e retirada das crisálidas e exúvias, com posterior determinação do peso médio unitário. Peso da crisálida (PCr), em gramas, obtido pela pesagem das crisálidas e posterior determinação do peso médio unitário. Número de casulos por quilograma de amostra (NC kg-1), obtido pela contagem do número de casulos em cinco amostras de 1.000 gramas. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com oito tratamentos e cinco repetições por tratamento. Os dados

Figura 2. Lagarta do bicho-da-seda

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foram analisados pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo de determinados aspectos fisiológicos do inseto possibilita uma avaliação da sua adaptabilidade às condições ambientais e do manejo de criação, características que podem estar associadas com diferenças raciais. Assim, pela apresentação dos ganhos de peso, entre as raças, nas diferentes fases larvais (Tabela 1), pode-se comparar o desenvolvimento do inseto. Observa-se que houve variação no ganho de peso, quando as raças foram comparadas no terceiro e no quarto ínstar e no período larval total. Entretanto, no quinto ínstar, variações significativas não foram observadas. O quinto ínstar é a fase larval do bicho-da-seda onde ocorre cerca de 85% do consumo de alimento (HANADA e WATANABE, 1986) e, portanto, onde ocorrem os ganhos mais expressivos de peso corporal. É possível que as variações de ganho de peso tenham sido minimizadas pelo desencadeamento de mecanismos de adaptação fisiológica, que as lagartas utilizam para manutenção do crescimento e desenvolvimento. Conforme Lindroth (1993), os insetos podem variar consideravelmente a eficiência de conversão e utilização do alimento, por meio de ajustes homeostáticos do consumo e dos índices nutricionais, de forma a manter uma taxa de crescimento próxima ao ideal, mesmo em condições variadas. Quando se faz uma análise comparativa entre as raças, algumas podem ser destacadas. O ganho de peso para lagartas das raças B101 e B102, embora sem diferir significativamente em relação a

determinadas raças, apresentaram valores entre os mais elevados e sempre superiores à média geral. Esta tendência deve ser considerada, pois reflete uma característica favorável de adaptação às condições de criação, podendo ser importante no processo de formação de híbridos. No trabalho de Porto et al. (2004), onde foram estudadas oito raças do Bombyx mori L., também não foi observada variação no ganho de peso entre as lagartas das raças B101 e B102. Os valores, considerando o ganho de peso unitário em todo o período larval, foram de 4.290 gramas e 3.950 gramas, respectivamente. Por sua vez, lagartas da raça B106 e principalmente da raça M8, apresentaram ganhos no geral, entre os mais baixos. O desempenho produtivo das raças, analisando as características do casulo (Figura3), está apresentado na Tabela 2. Para todos os caracteres apresentados houve variação significativa das médias, indicando a necessidade de investigações cuidadosas, no sentido de selecionar, dentro desse grupo de raças, aquelas que possam contribuir, de maneira eficiente, com características desejáveis nos processos de acasalamento para a formação de híbridos comerciais adaptados e com boa produção. Antes de se comparar as raças, dois aspectos devem ser considerados na produção do casulo. O peso do casulo é um caractere buscado pelo produtor, pois resulta na valorização do produto. Para a indústria, no entanto, o peso da casca sérica é o caractere principal, pois é da casca que se extrai a seda, sendo a crisálida um subproduto. Como o peso da crisálida e exúvia equivalem a aproximadamente 75% a 83% do peso do casulo, na sua condição natural (FONSECA e FONSECA, 1988), nem sempre o

Tabela 1. Valores médios de ganho de peso da lagarta (GP 3º ínstar, GP 4º ínstar, GP 5º ínstar e GP total), para oito raças do bicho-da-seda e respectivos coeficientes de variação.

Raças B101 B102 B106 B107 M8 M11 M11-2 M12-2 Média Geral CV (%)

GP 3º ínstar (grs.) 0,398 0,409 a 0,207 d 0,237 bcd 0,215 cd 0,251 bcd 0,331 abc 0,297 abcd 0,293 18,93 a

GP 4º ínstar (grs.)

GP 5º ínstar (grs.)

GP total (grs.)

0,607 0,555 ab 0,414 b 0,391 b 0,395 b 0,561 ab 0,775 a 0,430 b 0,516 25,70

2,050 2,178 a 1,856 a 1,820 a 1,533 a 2,081 a 1,704 a 1,586 a 1,851 19,01

3,055 a 3,093 a 2,477 abc 2,448 abc 2,193 c 2,892 ab 2,810 abc 2,313 bc 2,660 11,54

ab

a

* Letras distintas, nas colunas, indicam diferenças significativas (P<0,05)

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Figura3. Lagartas do bicho-da-seda tecendo casulos

casulo mais pesado é aquele que apresenta melhor rendimento em seda. Na Tabela 2, ao analisar os valores médios superiores, à primeira vista pode-se destacar os casulos da raça B102, com valores de PC, PCS e PCr entre os mais elevados e superiores à média geral e valores para NC kg-1 entre os mais baixos, denotando um bom rendimento, tendo em vista que este caractere está diretamente relacionado com o peso do casulo. Observa-se ainda que o caractere PCr contribuiu significativamente para a formação do PC, correspondendo a 78,62% do seu peso. Ao proceder à análise mais detalhada dos dados, dando enfoque ao caractere PCS, é possível observar que o valor médio para a raça M11-2 ficou entre os mais elevados, tornando menos pronunciado o efeito da crisálida na formação do PC (75,49%), característica esta que também deve ser procurada na escolha das raças parentais. Entre as raças que apresentaram desempenho inferior, as raças M8 e M12-2 foram aquelas que

produziram casulos com um dos menores valores para PC, PCS e PCr e valores mais elevados para o caractere NC Kg-1. No estudo de Porto et al. (2001a), as raças B101 e B102 também foram analisadas, apresentando variação significativa entre si para alguns caracteres produtivos. Lagartas da raça B101 produziram casulos com PCS (0,287 gramas) e PCr (1,118 gramas) superiores às lagartas da raça B102 (PCS-0,238 gramas, PCr-0,982 gramas). Em outro estudo, no entanto, Porto et al. (2004) obtiveram resultados bem próximos ao apresentado neste trabalho, onde o desempenho produtivo para as raças B101 e B102, quando comparadas com outras seis raças e seus cruzamentos, destacou-se, com valores médios de PC, PCS e PCr entre os mais elevados (B101: PC-1,266 gramas, PCS0,276 gramas, PCr-0,990 gramas; B102: PC-1,270 gramas, PCS-0,256 gramas, PCr-1,013 gramas), não diferindo significativamente entre si. Analisando os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2, procurando relacionar os aspectos biológicos da lagarta com características produtivas do casulo, dois grupos de raças podem ser destacados. Lagartas das raças B101, B102, M11 e M11-2 apresentaram ganhos de peso (GP total) diferenciados, com valores numéricos acima da média geral e resultados superiores de produção de casulo. No segundo grupo, enquadram-se as raças que apresentaram baixo ganho de peso da lagarta (GP total) e baixo desempenho na produção do casulo, com valores numéricos sempre abaixo das médias gerais (ex.: M8, M12-2, B106 e B107). Com o presente trabalho, pretende-se gerar informações que somadas a outras, possam con-

Tabela 2. Valores médios de peso unitário do casulo (PC), peso unitário da casca sérica (PCS), peso unitário da crisálida (PCr) e número de casulos por quilograma de amostra (NC Kg-1), para oito raças do bicho-da-seda e respectivos coeficientes de variação.

Raças B101 B102 B106 B107 M8 M11 M11-2 M12-2 Média Geral CV (%)

PC (grs.) 1,367 ab 1,473 a 1,096 bc 1,085 bc 0,971 c 1,339 ab 1,326 ab 1,131 bc 1,224 12,36

PCS (grs.) 0,310 ab 0,315 ab 0,272 abc 0,235 bc 0,240 bc 0,306 ab 0,325 a 0,264 abc 0,283 13,25

PCr (grs.) 1,058 ab 1,158 a 0,824 bc 0,850 bc 0,731 c 1,034 ab 1,001 abc 0,867 abc 0,940 14,41

NC Kg-1 750 bc 680 c 913 abc 967 ab 1034 a 753 bc 756 bc 926 abc 847 13,91

* Letras distintas, nas colunas, indicam diferenças significativas (P<0,05).

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tribuir, de forma gradativa, para a formação de um banco de dados das raças. Essas informações possibilitarão a escolha das melhores combinações de raças para a formação de híbridos comerciais, com características de adaptação regional e com boa produção de seda. O estudo, dividido em vários experimentos, justifica-se pelo número significativo de raças disponíveis, pelo variado desempenho das raças frente às condições ambientais, pelo grande número de caracteres a serem avaliados e

pela dificuldade de se englobar todos estes fatores em apenas um experimento.

CONCLUSÕES As raças japonesas avaliadas, B101, B102, M11 e M11-2, têm desempenho (biológico e produtivo) diferenciado e condições mais apropriadas para participarem de programas de formação de híbridos do bicho-da-seda, com destaque para a raça M11-2, quanto à produção de seda.

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Dados dO Autor Antonio José Porto Zootecnista, CRMV-SP nº 0941/Z. DSc. Pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo porto@apta.sp.gov.br

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Epididimite infecciosa ovina: sua importância e principais ferramentas de diagnóstico Ovine infectious epididymitis: its importance and diagnostic tools RESUMO A epididimite infecciosa ovina pode ser causada por vários micro-organismos, sendo as bactérias Brucella ovis, Actinobacillus seminis e Histophilus somni os agentes causadores mais comuns dessa enfermidade. A infecção por B. ovis acomete geralmente animais púberes, enquanto as infecções por A. seminis e H. somni são conhecidas como epididimite infecciosa de cordeiros. Todas as infecções estão amplamente distribuídas pelo mundo e, devido às falhas reprodutivas, levam à diminuição da produção e, consequentemente, a grandes prejuízos econômicos. Os principais entraves para o controle dessa enfermidade na ovinocultura são sua fácil disseminação e as falhas no diagnóstico. Esta revisão ressalta as características da epididimite infecciosa ovina e discute as principais técnicas disponíveis para o seu diagnóstico. Palavras-chave: carneiros, infertilidade, Brucella ovis, Actinobacillus seminis, Histophilus somni

ABSTRACT Ovine infectious epididymitis may be caused by a variety of microorganisms, and Brucella ovis, Actinobacillus seminis and Histophilus somni are the most common causative agents of this disease. B. ovis infection usually affects mature rams, whereas A. seminis and H. somni commonly infect lambs. These infections are widely distributed around the world and due to reproductive failures, lead to reduced production and consequently to substantial economic losses. Major problems for controlling these infections in sheep flocks include easy dissemination and diagnostic failures. This review addresses the major causes of ovine infectious epididymitis and the relevant diagnostic methods available. Keywords: ram, infertility, Brucella ovis, Actinobacillus seminis, Histophilus somni

Introdução A ovinocultura no cenário da pecuária brasileira ganha maior relevância a cada ano. Em 2008, o rebanho ovino no Brasil era de, aproximadamente, 16 milhões de cabeças, com mais de 50% desta população localizada na região Nordeste (SIMPLÍCIO, 2011). Segundo estimativas do IBGE, o consumo per capita de carne ovina no Brasil cresceu 71,4% entre 1997 e 2007. O volume de carne ovina produzida nesse período aumentou proporcionalmente ao crescimento dos rebanhos, ou seja, aproximadamente 12%, crescimento inferior à demanda nacional (FAO, 2009). Além disso, o aumento proporcional entre Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

quantidade de carne produzida e número de animais nos rebanhos, é reflexo da falta de incremento na produtividade dos rebanhos nacionais. A produtividade da ovinocultura brasileira está muito abaixo da média de outros países, provavelmente, devido à baixa tecnificação dos rebanhos (SIMPLÍCIO, 2011). Além da crescente demanda, o mercado consumidor está cada vez mais exigente, sendo necessária a adoção de medidas que visem não só ao aumento na produtividade, mas, também, à qualidade dos produtos ofertados. Nesse contexto, a epididimite infecciosa, uma das principais causas de desordens reprodutivas

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em ovinos (SANTOS et al., 2005), compromete significativamente o potencial reprodutivo dos animais, impactando fortemente a produtividade do rebanho ovino brasileiro. Na maioria dos casos, as perdas são decorrentes da menor taxa de fertilidade, abortamentos, aumento na taxa de mortalidade neonatal em consequência do baixo peso ao nascimento, menor número de animais produzidos e descarte precoce de animais (McFarlane et al., 1952; Biberstein et al., 1962; BURGESS, 1982; Walker et al., 1986; Magalhães Neto e Turnes 1996; Robles, 1998; Cerri et al., 2002; Santos et al., 2005). Devido aos grandes prejuízos causados, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) implementou, em 2004, o Programa de Sanidade de Caprinos e Ovinos (PNSCO), e publicou a portaria que regulamenta o Plano Nacional de Vigilância e Controle da Epididimite Ovina, que visa controlar e erradicar a epididimite infecciosa dos rebanhos nacionais. Segundo o Plano, a epididimite por Brucella ovis é considerada uma enfermidade de notificação compulsória e uma das medidas de controle é o abate sanitário dos animais positivos. Dessa forma, para a certificação da propriedade como livre de epididimite infecciosa, o diagnóstico precoce e preciso da enfermidade torna-se fundamental. Além disso, o controle da epididimite infecciosa, seja qual for a sua causa, leva ao incremento da produtividade e do valor agregado ao produto final, resultando em aumento da lucratividade. Este artigo abordará a importância da epididimite infecciosa ovina, os agentes etiológicos mais comumente envolvidos e as principais ferramentas disponíveis para o seu diagnóstico.

Epididimite infecciosa ovina O termo epididimite refere-se ao processo inflamatório em qualquer região do epidídimo, no entanto, é mais frequentemente observada na cauda do epidídimo (Biberstein et al., 1963; Cerri et al., 2002). A inflamação dos epidídimos pode ter diferentes causas, infecciosas ou não, podendo ocorrer de forma focal, multifocal ou difusa, ou, ainda, unilateral ou bilateral (Bagley et al., 1985; Robles, 1998). Sua principal consequência, independentemente da causa, é a redução da fertilidade que, dependendo do grau de evolução da lesão, pode chegar à infertilidade permanente. A epididimite infecciosa ovina é causada principalmente por agentes bacterianos. Independente do agente, a manifestação clínica é caracterizada

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Figura 1. Cordeiro com epididimite unilateral. Aumento de volume marcante da bolsa escrotal e assimetria de testículos e epidídimos.

pela assimetria, aumento de volume e de consistência de uma ou de ambas as caudas dos epidídimos (Figura 1). Na fase aguda, podem ocorrer aumento de temperatura da região afetada e sensibilidade dolorosa, fazendo com que o animal, além de sentir dor à palpação, apresente claudicação. Nesses casos, os animais também podem apresentar febre, inapetência e dispneia. Aderências entre a região afetada do epidídimo e a bolsa escrotal podem ocorrer diminuindo a mobilidade natural (Tonder, 1973; SponeNberg et al., 1983). Não se sabe ao certo quando as primeiras lesões epididimárias palpáveis começam a aparecer em animais naturalmente infectados a campo. As lesões são, na maioria das vezes, unilaterais e a regressão dos sinais clínicos pode ser vista em grande parte dos carneiros logo após sua manifestação (Santos et al., 2005). As lesões testiculares são geralmente secundárias às do epidídimo, sendo mais comum a ocorrência de degeneração, periorquite, orquite e fibrose. Clinicamente, os testículos apresentam marcada diminuição na consistência ou volume. Além disso, os agentes causadores de epididimite também colonizam outros órgãos do trato reprodutivo, como vesículas seminais, glândulas bulbouretrais e ampolas do ducto deferente, contudo, não causam manifestação clínica evidente (Biberstein et al., 1963; Al Katib, 2007, Carvalho Junior et al., 2012). Após a castração ou durante a necropsia, as lesões macroscópicas mais frequentemente observadas são abscessos, geralmente na cauda do epidídimo, podendo ser uni e bilaterais (Figura 2). Linfadenomegalia dos linfonodos inguinais e ilíacos internos, edema na bolsa escrotal espessamento da túnica vaginal, periorquite fibrinosa ou fibrosa, aumento de volume das glândulas vesiculares e das glândulas bulbouretrais também podem ser observados (Biberstein et al., 1963). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Figura 2. Testículos e epidídimos de cordeiro com epididimite unilateral. (A) Aumento de volume intenso do epidídimo direito associado a aderências comparado ao testículo e epidídimo esquerdos com aspecto normal. (B) Extravasamento de conteúdo purulento ao corte do corpo do epidídimo.

Microscopicamente, as epididimites bacterianas apresentam edema perivascular, inflamação seguida por hiperplasia, fibrose e obstrução do ducto epididimário (Figura 3), podendo levar à retenção de conteúdo (BAYNES e SIMMONS, 1968). Como consequência, pode ocorrer o extravasamento de espermatozóides, resultando em inflamação granulomatosa e fibrose difusa com formação de granuloma espermático. Em alguns casos, pode ser observada metaplasia do epitélio epididimário (Biberstein et al., 1963). A epididimite, juntamente com as lesões testiculares, levam à redução da qualidade do ejaculado, principalmente devido à diminuição na concentração espermática, aumento do percentual de espermatozóides com defeitos morfológicos no ejaculado (principalmente defeitos de peça intermediária, peça principal e cabeça isolada) e diminuição da motilidade total (Burguess et al., 1982; BAGLEY et al., 1984; Buckrell et al., 1985; Robles, 1998; Carvalho JÚnior et al., 2012). Os efeitos sobre a fertilidade dos animais afetados são dependentes da intensidade da infecção, podendo, nos casos mais graves, chegar à esterilidade permanente (Tonder, 1973). Carneiros com lesões bilaterais geralmente têm sêmen de pior qualidade quando comparados a animais com lesões unilaterais (Baynes e SIMMONS, 1960). Apesar de todos os sinais clínicos e lesões supracitadas, a epididimite infecciosa ovina também pode ocorrer de forma subclínica, na qual os animais, mesmo infectados, não apresentam Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

sinais clínicos evidentes, favorecendo a disseminação da infecção nos plantéis. Dessa forma, é de fundamental importância a adoção de testes de triagem no manejo sanitário do rebanho e do exame andrológico, principalmente antes do início da estação de monta.

Principais agentes etiológicos Muitos agentes infecciosos como bactérias e vírus podem causar epididimite em ovinos. No entanto, os principais agentes etiológicos desta enfermidade são as bactérias: Brucella ovis, Actinobacillus seminis e Histophilus somni (BULGIN et al., 1983; Santos et al., 2005; CARVALHO JUNIOR et al., 2010).

Brucella ovis

A brucelose ovina por B. ovis é uma doença infectocontagiosa considerada a principal causa de infertilidade em rebanhos ovinos no mundo (Santos et al., 2005). A doença foi descrita inicialmente na Nova Zelândia, em 1952, por McFarlane e colaboradores. Desde então, foi relatada em diversos países do mundo em todos os continentes (Buckrell et al., 1985; Niilo et al., 1986; Robles, 1998; Arsenault et al., 2004). No Brasil, a infecção está amplamente distribuída por todo o território nacional. Há relatos de evidências sorológicas da infecção nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí. O percentual de propriedades positivas por sorologia chega a mais de 27% em alguns estados (Ramos et al. 1966; Magalhães Neto e Turnes,

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1996; Azevedo et al., 2004; Marques, 2006; Clementino et al., 2007, COSTA et al., 2012), gerando potencialmente grandes impactos econômicos. A infecção por B. ovis é mais frequentemente observada em animais maduros sexualmente, com transmissão ocorrendo principalmente pela cópula ou por contato com outros machos, onde as mucosas do pênis, prepúcio, reto e, possivelmente, mucosa nasal, servem como sítios de infecção primária (burgess, 1982). Inclusive supõe-se que infecção de cordeiros sexualmente imaturos ocorra dessa forma (BULGIN et al., 1990b). Brucelose ovina é caracterizada clinicamente por epididimite crônica e sub ou infertilidade. Ocasionalmente, pode acometer fêmeas, causando abortos, nascimento de cordeiros fracos e descarte precoce de animais (McFarlane et al., 1952; Robles, 1998; Foster et al., 1999; Cerri et al., 2002; Santos et al., 2005; Carvalho Junior et al., 2010).

Actinobacillus seminis

A infecção por A. seminis é a segunda maior causa de epididimite em ovinos em diversas regiões do mundo, causando principalmente subfertilidade e infertilidade, porém em animais jovens. A evolução pode ser aguda ou crônica, com lesões muito semelhantes às causadas por B. ovis (Burgess, 1982; Al-Katib e dennis, 2007). Entretanto, A. seminis é um patógeno oportunista, pois é um habitante natural da mucosa prepucial ovina e, em condições de imunossupressão, é capaz de causar infecção ascendente, levando à epididimite e à orquite (Carvalho Júnior et al., 2010). O primeiro relato de infecção por A. seminis em ovinos ocorreu na Austrália, em 1960 (Baynes e Simmons, 1960). Posteriormente, foram confirmados casos nos Estados Unidos, África do Sul, Nova Zelândia,

Hungria, Argentina, Reino Unido e Espanha (Livingston e Hardy, 1964; Worthington e Bosman, 1968; Gumbrell e Smith, 1974; Hajtós et al., 1987; Robles et al., 1990; Health et al., 1991; Puente-Redondo et al., 2000). No Brasil, até o momento, foram relatadas infecções por A. seminis nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo (Gomes et al., 2001; Gregory et al., 2009).

Histophilus somni

A terceira maior causa de epididimite infecciosa em ovinos é o H. somni, previamente descrito como Haemophilus somnus, Haemophilus agni e Histophilus ovis. Este também está naturalmente presente nas mucosas de ovinos, caprinos e bovinos, podendo atuar como um patógeno oportunista, causando epididimite. Este agente não tem tropismo exclusivo pelo trato reprodutivo, podendo, também, causar pneumonia, meningoencefalite, septicemia, miocardite e pericardite, inclusive em outros ruminantes domésticos (Walker et al., 1986; Carvalho Júnior et al., 2010). A infecção de ovinos por H. somni foi descrita pela primeira vez na Austrália, por Roberts (1956) e, posteriormente, em diversos outros países, como Estados Unidos, Reino Unido e Canadá (KENNEDY et al., 1958; Low e Grahan, 1985; Lees et al., 1990; Ward et al., 1995). Diferentemente dos outros países, a infecção por H. somni em ovinos ainda não foi amplamente estudada no Brasil, sendo diagnosticada mais frequentemente em bovinos (Scarcelli et al., 2004; GALIZA et al., 2010).

Métodos de diagnóstico Em rebanhos ovinos com suspeita de subfertilidade e infertilidade, exames clínicos e laboratoriais devem ser realizados preferencialmente antes do

Figura 3. Micrografia de epidídimo de cordeiro com inflamação crônica. (A) Infiltrado linfo-histiocitário multifocal moderado associado à hiperplasia de ducto epididimário. (B) Infiltrado inflamatório difuso e intenso no epidídimo, composto por macrófagos e neutrófilos associado à fibroplasia intensa (piogranuloma).

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início da estação de monta. Diferentes técnicas estão disponíveis para o diagnóstico das três principais causas de epididimite infecciosa ovina. No entanto, ainda não há um único método de diagnóstico totalmente satisfatório e, portanto, este deve ser realizado por meio de combinações de testes para o diagnóstico preciso dos animais infectados e evitando, também, o diagnóstico falso positivo de carneiros saudáveis. A escolha do método deve sempre levar em consideração a realidade de cada caso, como a disponibilidade de recursos, o tamanho do rebanho, a proximidade do local de coleta com laboratórios e o valor econômico dos animais a serem examinados. A seguir, serão detalhadas as principais ferramentas utilizadas para o diagnóstico na epididimite infecciosa ovina.

Exame andrológico Além de servir como o indicativo da capacidade reprodutiva de um carneiro, o exame andrológico auxilia na pesquisa de possíveis infecções do trato reprodutivo, sendo uma técnica de fácil execução e de baixo custo, além de não requerer avançada infraestrutura laboratorial. A avaliação andrológica possibilita a identificação e o isolamento dos animais com sinais clínicos e/ou com alterações espermáticas compatíveis com infecções do trato reprodutivo, até a confirmação do resultado por meio de exames complementares. O exame deve ser composto por anamnese, exame físico e espermograma (CBRA, 1998). Na anamnese, é importante buscar todas as informações disponíveis sobre o histórico reprodutivo do carneiro nas estações de monta anteriores, principalmente o número de coberturas e os diversos indicadores de desempenho reprodutivo. No exame físico, a genitália externa (escroto, testículos, epidídimos, pênis e prepúcio) deve ser observada cuidadosamente quanto à presença de lesões. Qualquer alteração na consistência, mobilidade, temperatura, sensibilidade, simetria (testículos e epidídimos), presença de nódulos ou qualquer outra, deve ser levada em conta. Após a inspeção da genitália, a coleta de sêmen deve ser realizada adotando-se os cuidados com higiene, assepsia e temperatura do material de coleta, a fim de que não haja interferência ambiental sobre o resultado da avaliação. Aspecto, cor, odor e volume do ejaculado devem ser observados e qualquer alteração que indique a presença de substâncias incomuns ao sêmen (sangue, pus, urina) deve ser considerada. A avaliação Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

microscópica do sêmen deve ser realizada como de rotina (CBRA, 1998), com especial atenção às alterações de motilidade, concentração e morfologia espermáticas. O esfregaço de sêmen deve ser realizado com uma pequena gota (cerca de 5µL), seco à temperatura de 37oC e que pode ser corado com kits comerciais para coloração rápida e de baixo custo. Deve-se dar especial atenção à presença de neutrófilos no ejaculado, que é forte indicativo de processo inflamatório ao longo trato reprodutivo (BULGIN, 1990a) e que pode relacionar-se negativamente com a qualidade do sêmen (ZALATA et al., 1998; LACKNER et al., 2010). Células inflamatórias são encontradas no ejaculado de animais infectados por B. ovis (Carvalho Junior et al., 2012), independente da manifestação clínica de lesões nos testículos e epidídimos.

Sorologia A sorologia é o exame laboratorial mais frequentemente utilizado para o diagnóstico da epididimite por B. ovis (Blasco, 1983). No entanto, técnicas sorológicas ainda não estão disponíveis para as infecções por A. seminis e H. somni. Alguns métodos sorológicos têm sido usados para detectar anticorpos contra B. ovis, incluindo a imunodifusão em gel de ágar (IDGA) (Xavier et al., 2011), fixação de complemento (FC) (Clapp, 1962; Alton et al., 1988) e testes imunoenzimáticos (ELISA indireta) (Nozaki et al., 2004; Robles, 2008). A IDGA é a técnica oficial utilizada por laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para o diagnóstico da infecção por B. ovis no Brasil (Brasil, 2004). O teste de IDGA possui alta sensibilidade, simplicidade de execução e praticidade, sendo baseado na formação de complexo antígeno-anticorpo insolúvel que se precipita no gel, formando uma linha visível após 72 horas de incubação. A FC é o teste sorológico padrão para o diagnóstico da epididimite ovina em programas de erradicação na Austrália e Nova Zelândia (West e Bruce, 1991). Apesar de ser considerado um teste altamente específico, sua principal desvantagem está relacionada à complexidade de execução. O teste de ELISA indireto é apontado como a prova mais sensível e específica para o diagnóstico sorológico da infecção por B. ovis (Worthington et al., 1984). Este teste possui a vantagem de apresentar leitura objetiva, por espectrofotometria, além da utilização de quantidades mínimas de reagentes e soro, e a possibilidade de processamento

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de grande número de amostras ao mesmo tempo (Robles, 2008). No entanto, este método ainda requer infraestrutura laboratorial complexa e utiliza reagentes de elevado custo. Algumas comparações entre os testes de FC, ELISA e IDGA indicaram que o ELISA apresenta melhores resultados individuais (Worthington et al., 1984; MarÍn et al., 1989). Já em comparações apenas entre FC e IDGA, apesar de os métodos apresentarem resultados similares de sensibilidade e especificidade, o FC resulta em menor sensibilidade após a fase aguda da infecção (Xavier et al., 2011). Dessa forma, a recomendação ainda é a associação de pelo menos dois testes sorológicos no diagnóstico da brucelose ovina por B. ovis (West e Bruce, 1991; Xavier et al., 2011). Vale ressaltar que apesar de a sorologia ser o método oficial de diagnóstico da brucelose ovina por B. ovis, animais infectados e eliminando a bactéria em sêmen ou urina podem ser negativos nos testes sorológicos (Xavier et al., 2010).

Isolamento bacteriano Por confirmar a presença do agente viável em amostras de sêmen, o isolamento bacteriano é considerado diagnóstico definitivo das causas de epididimite (Burguess, 1982), principalmente em casos em que os testes sorológicos são incapazes de detectar um animal positivo (West e Bruce, 1991). Quando não for possível a coleta de sêmen, amostras de urina também podem ser utilizadas para a pesquisa de tais agentes (Xavier et al., 2010; Moustacas et al., 2011). Como a eliminação das bactérias no sêmen pode ser intermitente, um resultado negativo pode ter significância questionável (Burguess, 1982; West e Bruce, 1991). Dessa forma, são indicadas pelo menos três coletas, com intervalos semanais, para aumentar a sensibilidade da técnica (Blasco, 1983). O conteúdo do abscesso ou região lesionada do epidídimo também pode ser processado na tentativa de isolamento bacteriano. Para o diagnóstico da infecção por B. ovis, as amostras de sêmen ou urina devem ser semeadas em meio seletivo Thayer-Martin modificado (Brown et al., 1971). O cultivo deve ser realizado em ambiente com atmosfera suplementada com 5% a 10% de CO2, a 37°C e a leitura das placas realizadas após cinco a sete dias de incubação. Como ainda não estão disponíveis meios seletivos para A. seminis e H. somni, em casos de epididimite ovina negativa para B. ovis, deve-se semear o sêmen ou urina em meios suplementados com 5% de hemoglobina e 0,5% de extrato de levedura com incubação sob atmosfera com 5% a 10% de CO2 a

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37°C, por 48 horas (HOLT et al., 1994). Após o período de incubação, as colônias são identificadas de acordo com a morfologia (Alton et al., 1988; HOLT et al., 1994) e confirmadas por provas bioquímicas. Como qualquer técnica, esta também possui desvantagens, sendo o principal entrave a perda de viabilidade das bactérias durante o transporte ou armazenamento (resfriamento ou congelamento) até a chegada ao laboratório, que pode gerar resultados falso-negativos. Outro inconveniente é o crescimento exacerbado de contaminantes ambientais que pode ocorrer em meios não seletivos (como no caso de A. seminis e H. somni), que pode levar também ao resultado falso-negativo (Hughes e Claxton, 1968), diminuindo a sensibilidade da técnica.

Reação em cadeia da polimerase A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é a técnica desenvolvida mais recentemente, sendo baseada na amplificação de uma sequência de DNA, encontrada no genoma dos organismos vivos, específica para cada agente. Este método é alternativo aos testes convencionais de isolamento por ser mais rápido, sensível e não depender da viabilidade dos agentes (Bricker, 2002). O teste pode ser realizado com diferentes amostras biológicas (urina, lavado prepucial, fragmentos de epidídimos e outros órgãos reprodutivos); no entanto, o sêmen também é o material de escolha para diagnóstico de epididimite infecciosa ovina (Appuhamy et al., 1998; Saunders et al., 2007; Xavier et al., 2010). A utilização de urina para o diagnóstico por PCR é uma opção viável quando não for possível a coleta de sêmen (Xavier et al., 2010; Moustacas et al., 2011). Além da PCR convencional, a técnica de PCR em tempo real vem sendo desenvolvida para o diagnóstico rápido e quantitativo da infecção por Brucella (Bounaadja et al., 2009). Vale destacar que a identificação da espécie-específica de Brucella envolvida pode ser necessária, quando envolve estudos epidemiológicos ou programas de erradicação (Bricker, 2002). Recentemente, foi desenvolvida no Brasil uma PCR espécie específica para B. ovis (XAVIER et al., 2010). A PCR pode ainda ser realizada para o diagnóstico de mais de um dos três principais agentes causais de epididimite infecciosa ovina em uma única reação, com a chamada PCR multiplex (Saunders et al., 2007). Embora a PCR tenha grandes vantagens de sensibilidade e rapidez, é ainda considerada uma técnica de custo elevado e que necessita de infraestrutura laboratorial apropriada. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Considerações finais Muitas ferramentas podem e devem ser utilizadas para o rastreamento e diagnóstico de ovinos com epididimite infecciosa como esquematizado na Figura 4. Como já mencionado, a escolha do melhor método dependerá de cada caso em particular. No entanto, destacamos o exame andrológico como a principal ferramenta de triagem a ser utilizada em qualquer propriedade. Adicionalmente, a pesquisa de células inflamatórias no espermograma é de grande valia, pois essas células geralmente estão presentes no ejaculado de animais infectados, mesmo que estes não apresentem sinais clínicos evidentes. Após esta avaliação, animais que apresentem alterações no trato reprodutivo (bolsa escrotal, pênis, prepúcio, testículos ou epidídimos), nas características seminais ou apresente células inflamatórias no ejaculado, devem ser considerados suspeitos e, se possível, isolados do rebanho e submetidos à coleta de amostras para o diagnóstico definitivo da infecção. Para a confirmação do diagnóstico em animais suspeitos de brucelose ovina por B. ovis, o soro sanguíneo congelado pode ser encaminhado a laboratórios de referência para a pesquisa de anticorpos anti-B. ovis, onde deve ser utilizada a associação de pelo menos duas técnicas. Quando houver proximidade a laboratórios de referência, amostras do sêmen (ou urina) cole-

Figura 4: Desenho esquemático sumarizando o material biológico e as ferramentas úteis para o diagnóstico de epididimite infecciosa ovina.

tadas da forma asséptica, devem ser enviadas sob refrigeração e processadas no mesmo dia para a realização do isolamento bacteriano. Alternativa é o envio de amostras congeladas de sêmen e/ou urina para a tentativa de diagnóstico da presença dos agentes nas amostras por meio da PCR. Em caso de confirmação da infecção, os animais devem ser descartados do rebanho. Porém, em casos de infecção por B. ovis, o teste deve ser confirmado por laboratório credenciado pelo Mapa e realizada a notificação ao Serviço Oficial de Defesa Sanitária Animal do estado. Nesse caso, o Serviço Oficial identifica e envia os animais positivos para sacrifício sanitário em abatedouro com inspeção federal, estadual ou municipal, no prazo máximo de 30 dias.

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Dados dos Autores Custodio Antônio Carvalho Junior Médico Veterinário. CRMV-MG nº 8830 Valéria Spyridion Moustacas Médica Veterinária, CRMV-MG nº 9501. Doutoranda em Ciência Animal, UFMG

Renato de Lima Santos Médico Veterinário, CRMV-MG nº 4577. MSc e PhD, Professor Adjunto do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias / EV, UFMG rsantos@vet.ufmg.br

Tatiane Alves da Paixão Médica Veterinária, CRMV-MG nº 6758. MSc e DSc, Professora Adjunta do Departamento de Patologia Geral / ICB, UFMG

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ELETROQUIMIOTERAPIA EM CÃES E GATOS ELECTROCHEMOTHERAPY IN DOGS AND CATS RESUMO A eletroquimioterapia é uma opção de tratamento de neoplasias que consiste na aplicação de quimioterápicos pela via intralesional ou endovenosa, associada a pulsos elétricos locais, intensos e de curta duração. Os pulsos elétricos promovem desestabilização transitória da membrana celular, provocando a formação de poros e facilitando a entrada de quimioterápicos no interior das células, aumentando sua citotoxicidade. Essa terapia permite a redução das doses dos quimioterápicos quando comparada à quimioterapia convencional, resultando na diminuição dos efeitos colaterais e custos do tratamento. A eletroquimioterapia tem se mostrado efetiva no tratamento de neoplasias independente de sua origem histológica e localização. Esta revisão tem como objetivo evidenciar possibilidades de utilização deste tratamento na oncologia veterinária. Palavras-chave: cães, eletroquimioterapia, gatos, neoplasia

ABSTRACT The eletrochemotherapy is a treatment option for neoplasms that involves the application of chemotherapeutic drugs endovenously or intralesionally, associated with local severe and short duration electrical pulses. The electrical pulses promote destabilization of the cell membrane, causing transitory pore formation and facilitating the entry of chemotherapeutic agents inside the cells, increasing its cytotoxicity. This therapy allows for lower doses of chemotherapy drugs compared to conventional chemotherapy, resulting in the decrease of side effects and costs of treatment. The eletrochemotherapy has proved effective in the treatment of cancer regardless of its histological origin and location. This review aims to highlight possibilities to use this treatment in veterinary oncology. Keywords: dogs, electrochemotherapy, cats, neoplasms

REVISÃO DE LITERATURA A Oncologia é uma especialidade médica baseada nos estudos sobre enfermidades neoplásicas e atualmente estão disponíveis na literatura diversos protocolos terapêuticos antitumorais. No entanto, os procedimentos quimioterápicos apresentam disparidade quanto ao período de tratamento, eficácia, efeitos colaterais e onerosidade (SILVEIRA et al., 2010). Apesar dos grandes avanços na medicina em pesquisas sobre genética e biologia molecular, estudos mostram que as neoplasias continuam sendo a segunda principal causa de morte no mundo, o que leva a comunidade científica a buscar novas formas para seu tratamento (CIRIA e LÓPEZ, 2001). A eletroquimioterapia começou a ser pesquisada na década de 1980, na França, em experimentos in

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vitro e, posteriormente, em estudos clínicos em seres humanos. Recentemente, foi realizado um projeto na Europa para estabelecer o procedimento-padrão para o uso da eletroquimioterapia em pacientes humanos, desenvolvendo-se também um aparelho disponível comercialmente. Dessa maneira, possibilitou-se que esta modalidade de tratamento oncológico, que inicialmente era utilizada somente nos centros de pesquisa, passasse a ser aplicada na rotina das clínicas médicas (OLIVEIRA et al., 2009). Sendo assim, a presente revisão de literatura tem como objetivo estudar a aplicação da eletroquimioterapia em pequenos animais (Figura1), bem como suas vantagens e desvantagens na Medicina Veterinária, servindo como base para a realização de futuros estudos sobre esta nova modalidade de tratamento antitumoral em cães e gatos. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Figura 1. Aplicação da eletroquimioterapia em gato

Mecanismos de ação A eletroquimioterapia é uma nova terapia antitumoral, na qual é combinada à administração de drogas citotóxicas pouco permeáveis, como a bleomicina e a cisplatina, com pulsos elétricos intensos e de curta duração para provocar a permeabilização transitória das células. Tal fenômeno é conhecido como eletropermeabilização ou eletroporação (CEMAZAR et al., 2008). A eletroporação consiste na aplicação de pulsos elétricos de alta voltagem que aumentam o potencial de transporte da membrana celular. Por meio do aumento do momento dipolar das cabeças lipídicas hidrofílicas, tais pulsos promovem a formação de um poro transitório, o que permite que macromoléculas “carregadas” migrem por eles e, eventualmente, alcancem o núcleo, onde podem promover transformações genéticas (UGEN et al., 2003). Em outras palavras, o mecanismo de ação sobre as células tumorais, quando pulsos elétricos associados ao quimioterápico são aplicados no local do tumor. Consiste em fazer com que a membrana celular torne-se permeável, permitindo que o quimioterápico penetre na célula. Adicionalmente, ocorre a redução do fluxo sanguíneo no tumor, promovendo hipóxia e, consequentemente, maior acidez no meio extracelular, o que leva à necrose da massa tumoral (OLIVEIRA et al., 2009). Dessa forma, este tratamento tem como objetivo fundamental facilitar a entrada e acumulação dos quimioterápicos no interior das células e tecidos tumorais, potencializando a eficácia das drogas Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

mediante o aumento da citotoxicidade do agente quimioterápico (OLIVEIRA et al., 2009; CIRIA; LÓPEZ, 2001). Estudos afirmam que a eletroporação aumentou em mil vezes a citotoxicidade da bleomicina e até setenta vezes a da cisplatina (SERSA et al., 1994). A vantagem desse método é diminuir a quantidade de quimioterápicos administrada aos pacientes e aumentar o efeito curativo local (JUNIOR et al., 2008), diminuindo, consequentemente, o custo do tratamento (OLIVEIRA et al., 2009). Porém, durante a aplicação dos pulsos elétricos, os animais devem estar obrigatoriamente sob anestesia geral (SPUGNINI et al., 2008; KODRE et al., 2009; SILVEIRA et al., 2009). É importante ressaltar que os pulsos elétricos, quando aplicados isoladamente, não produzem efeito sobre o desenvolvimento do tumor, por isso, sua utilização deve ser obrigatoriamente realizada junto ao quimioterápico. Para a eficácia do tratamento, os quimioterápicos, que podem ser administrados pela via sistêmica ou local, devem encontrar-se na periferia das células no momento da aplicação dos pulsos (OLIVEIRA et al., 2009). A dose de quimioterápico para aplicação intralesional é proporcional ao volume do tumor. A mensuração do volume tumoral é realizada com o auxílio de um paquímetro. São obtidas as medidas da altura (A), largura (L) e profundidade (P), que posteriormente são aplicadas na fórmula A x L x P x π/6 (SILVEIRA et al., 2009). Além do volume, é necessário levar em consideração a localização do tumor adotando o sistema de estadiamento clínico TNM (tumor/linfonodo/metástase), segundo diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde observadas nas Tabelas 1 e 2 (VAIL; WITHROW, 2007; LIPTAK e WITHROW, 2007). DALECK et al. (2009) indicam que devem ser utilizados pulsos elétricos retangulares de 1.000 a 1.300 volts (V) (Figura 2), com duração de 100 microssegundos (µs) e corrente máxima de 16 ampères (A); não recomendam campos elétricos muito altos, pois implicaria destruição da pele e tecidos adjacentes, resultando em destruição celular. Para comprovar a eficácia antineoplásica da eletroquimioterapia em diferentes tipos tumorais, como sarcomas, gliomas, carcinomas e melanomas, foram realizados estudos in vivo em camundongos, ratos, hamsters e coelhos, revelando que a utilização dos pulsos elétricos provocava redução total ou de pelo menos 80% nas neoplasias cutâneas e subcutâneas que já não respondiam aos antineoplásicos tradicionais (CEMAZAR et al., 2008). Além do elevado índice de remissão neoplásica, o tratamento eletroquimioterápico proporciona

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Tabela 1. Estadiamento clínico para neoplasias orais em cães segundo sistema TNM (VAIL; WITHROW, 2007)

Tumor primário (T) Tis: Tumor pré invasivo (in situ) T1: Tumor < 2 cm de diâmetro T1a: sem evidências de invasão óssea T1b: com evidências de invasão óssea T2: Tumor entre 2-4 cm de diâmetro T2a: sem evidências de invasão óssea T2b: com evidências de invasão óssea T3: Tumor > 4 cm de diâmetro Linfonodo (N) N0: Sem metástase para linfonodo regional N1: Linfonodo ipsilateral móvel N1a: sem evidências de metástase para linfonodo N1b: com evidências de metástase para linfonodo N2: Linfonodo contralateral ou bilateral móvel N2a: sem evidências de metástase para linfonodos N2b: com evidências de metástase para linfonodos N3: Linfonodos fixos Metástase distante (M) M0: Sem evidências de metástase distante M1: Metástase distante detectada Metástase Grupos Tumor (T) Linfonodo (N) (M) I T1 N0, N1a, N2a M0 II T2 N0, N1a, N1b M0 III T3 N0, N1a, N1b M0 IV T1,T2, T3 N1b M0 T1,T2, T3 N2b,N3 M0 T1,T2, T3 N1, N2, N3 M1 T1,T2, T3 N1, N2, N3 M1

pequena porcentagem de recidivas e/ou metástases adjacentes e/ou distantes e ainda apresenta efeitos adversos inexpressivos (MIR et al., 1998). A eletroquimioterapia não se mostra eficaz no tratamento de neoplasias de origem óssea e hematopoiética (GIARDINO et al., 2006) e a aplicação intralesional de quimioterápico não é eficaz no tratamento de massas volumosas e/ou erodo-ulceradas (SILVEIRA et al., 2010).

Principais quimioterápicos Sulfato de Bleomicina O Sulfato de Bleomicina é um antibiótico glicopeptídico citotóxico derivado da fermentação do Streptomyces verticillus. Ele apresenta maior ação na fase G2 do ciclo celular, atuando na síntese de DNA e com menor expressão na síntese de RNA. Na Medicina Veterinária é empregado no tratamento de linfomas e carcinomas espinocelulares de cães e gatos.

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Tabela 2. Estadiamento clínico para neoplasias cutâneas em cães segundo sistema TNM (LIPTAK; WITHROW, 2007)

Tumor primário (T) Tis: Tumor pré-invasivo (in situ) T0: Sem evidências de tumor T1: Tumor < 2 cm de diâmetro T2: Tumor entre 2-5 cm de diâmetro T3: Tumor > 5 cm de diâmetro T4: Tumor invadindo outras estruturas como fáscia, osso ou cartilagem Linfonodo (N) N0: Sem evidências de envolvimento de linfonodo regional N1: Linfonodo ipsilateral móvel N1a: sem aumento de volume N1b: com aumento de volume N2: Linfonodo contralateral ou bilateral móveis N2a: sem aumento de volume N2b: com aumento de volume N3: Linfonodos fixos Metástase (M) M0: Sem evidências de metástase distante M1: Metástase distante detectada

Seus efeitos colaterais podem ser gastrintestinais, dermatológicos e principalmente respiratórios, devido à fibrose pulmonar (LANORE e DELPRAT, 2004; RODASKI e DE NARDI, 2006).

Cisplatina A Cisplatina é um sal metálico derivado da platina e citotóxico para células neoplásicas, que age independente do ciclo celular. É muito utilizado no tratamento de diversas neoplasias, entre elas o carcinoma espinocelular, o melanoma e o adenoma. A sua citotoxicidade pode causar efeitos colaterais, levando a alterações hematológicas, gastrointestinais e principalmente renais. É importante ressaltar que a cisplatina não é indicada para gatos (LANORE; DELPRAT, 2004; RODASKI; DE NARDI, 2006).

Utilização da eletroquimioterapia para tratamento de tumor venéreo transmissível (TVT) SPUGNINI et al. (2008) relataram o tratamento de três cães com tumor venéreo transmissível não responsivo ao tratamento convencional com Vincristina. Foi realizada a eletroquimioterapia com a infiltração local de Sulfato de Bleomicina (1,5 mg/ ml). Os três animais responderam positivamente ao tratamento, porém o tempo para remissão completa do tumor foi prolongado variando de 28 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


a 48 meses. Concluiu-se que a eletroquimioterapia utilizada para o tratamento de tumor venéreo transmissível, apesar do longo período para a remissão total, é um método válido, pois se trata de uma terapia de baixa toxicidade para controle local do tumor, sem grandes alterações sistêmicas e efeitos colaterais.

Utilização da eletroquimioterapia para o tratamento de mastocitoma O mastocitoma é o segundo tumor mais comum em cães. Trata-se de uma neoplasia quase que exclusiva da pele, com característica altamente infiltrativa e que pode ser única ou múltipla (DALECK et al. 2009). Seu diagnóstico é difícil, pois possui grande variedade de aparência e comportamento (KODRE et al. 2009). Cerca de 50% dos mastocitomas cutâneos localizam-se no tronco e nas regiões perineal, genital e inguinal, 40% nos membros e 10% na cabeça e pescoço. O tratamento pode variar de acordo com a localização do tumor, estadiamento clínico e classificação histológica, optando-se pela excisão cirúrgica, radioterapia, quimioterapia, criocirurgia ou até mesmo com a associação de duas ou mais técnicas de tratamento (DALECK et al. 2009). Kodre et al. (2009) incluíram a eletroquimioterapia como mais uma forma de tratamento do mastocitoma. Para isso, compararam a excisão cirúrgica aos pulsos elétricos associados à aplicação intratumoral de cisplatina e relataram resposta positiva à utilização da eletroquimioterapia. Demonstraram como vantagens os baixos efeitos colaterais, a aplicabilidade do método e a resposta do tumor, não tendo ocorrido diferenças significativas na resposta ao tratamento quanto ao tamanho da massa. Concluíram que a eletroquimioterapia é um tratamento alternativo à cirurgia quando o proprietário não concorda com a excisão cirúrgica ou, ainda, quando a localização do tumor não permite excisão com margem de segurança adequada.

Utilização da eletroquimioterapia para o tratamento de carcinomas Os adenocarcinomas perianais originam-se das glândulas apócrinas que estão localizadas dentro dos sacos anais, sendo uma doença maligna, invasiva e metastática. Esta neoplasia corresponde a 2% de todas as neoplasias cutâneas e 16% das neoplasias perianais em cães; já em gatos, os adenocarcinomas perianais são raros, representando menos de 1% das neoplasias cutâneas. O tratamento de escolha é a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Figura 2. Equipamento utilizado para produção dos pulsos elétricos

excisão cirúrgica, podendo ser utilizada como adjuvante à quimioterapia ou à radioterapia. No entanto, dependendo da localização e tamanho do tumor, nem sempre é possível retirar a massa com margem de segurança adequada sem que ocorra comprometimento de outras estruturas, como o esfíncter anal externo, comprometendo a qualidade de vida do animal (DALECK et al. 2009). Spugnini et al. (2008) relataram um caso de cão da raça Schnauzer de 14 anos de idade com adenocarcinoma perianal. Foi realizada a excisão cirúrgica do tumor, porém não foi possível estabelecer margem de segurança adequada. Optaram, então, pelo tratamento adjuvante eletroquimioterápico, com aplicação intralesional de Cisplatina em duas sessões, com intervalo de 14 dias. A neoplasia apresentou remissão completa sem recidivas, sendo o animal acompanhado clinicamente durante 18 meses. Silveira et al. (2010) relataram o tratamento de neoplasias de origem epitelial e mesenquimal com aplicação intratumoral de Sulfato de Bleomicina. Foram utilizados 34 animais apresentando diferentes neoplasias, como melanomas malignos em saco conjuntival (7), oral (2) e interdigital (1); carcinomas espinocelulares (7); adenocarcinomas hepatóides (5); adenomas hepatóides (3); adenocarcinomas sebáceos (3); melanocitomas palpebrais (2); carcinoma de celulas basais (1); plasmocitoma (1); epitelioma palpebral (1) e adenoma sebáceo (1). Obtiveram como resultado a remissão total de 88,3% das neoplasias, ocorrendo variações de uma a três sessões de eletroquimioterapia. Todos os animais foram avaliados até 12 meses após o tratamento e não apresentaram indícios de recidiva ou metástase.

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CONCLUSÃO A Oncologia é uma área de grande importância para a Medicina Veterinária devido ao desenvolvimento de tratamentos cada vez mais efetivos, que proporcionam melhor qualidade de vida aos animais de companhia, aumentando sua expectativa de vida. No entanto, ainda é grande a necessidade de pesquisas sobre novas técnicas de tratamento antitumoral e a eletroquimioterapia mostra-se um método de baixo custo e fácil aplicação, sendo eficaz como

tratamento único ou como adjuvante à excisão cirúrgica de neoplasias de diferentes origens histológicas. Desta forma, apesar de ser uma terapia oncológica já utilizada em pequenos animais, esta revisão serve como base para o desenvolvimento de futuras pesquisas para o aperfeiçoamento do método quanto à variação de quimioterápicos utilizados, desenvolvimento e padronização de aparelhos eletroporadores e tipos tumorais responsivos à sua aplicação em Medicina Veterinária.

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Dados dos Autores Marcos Vinicius Sicca Guiduce Médico Veterinário, CRMV-SP nº 30444 marcosguiduce@hotmail.com José Joaquim Titton Ranzani Médico Veterinário, CRMV-SP nº 1482 DSc. Professor Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ/ UNESP, Botucatu-SP. Joice Furtado Fonzar Médica Veterinária, CRMV-SP nº 25348. Doutoranda FMVZ/UNESP, Botucatu-SP

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Perfil docente frente às metodologias ativas de ensino e aprendizagem Teacher Profile related to the use of active teaching-learning methodologies RESUMO Tradicionalmente, a formação dos profissionais em Medicina Veterinária está baseada em metodologias tradicionais de ensino que não obrigatoriamente contemplam as crescentes mudanças metodológicas de ensino e aprendizagem centradas no aluno. Descreve-se a avaliação da utilização de metodologias ativas de ensino, em uma instituição de ensino superior de Medicina Veterinária, por meio da identificação do perfil, do grau de conhecimento, aceitação e utilização docente das mais variadas ferramentas de aprendizagem ativa. Foram avaliados 29 docentes, por meio de questionário que contemplou 13 perguntas com foco no perfil docente, na aceitação, aderência e capacitação dos mesmos para a utilização das diferentes ferramentas correntemente utilizadas. O estudo revelou professores com alta capacitação e experiência. Ainda predomina a preferência pela prática de métodos de ensino tradicionais. Palavras-chave: ensino superior, metodologias ativas de ensino e aprendizagem

ABSTRACT The training of Veterinary students is based on traditional teaching methodologies that may not necessarily include active teaching-learning methodologies. Was evaluated the use of active teaching-learning methodologies in an established veterinary medicine curriculum. The research was conducted with 29 professors by a digital questionnaire. Teacher’s profile is characterized by professors with high specific knowledge in Veterinary Medicine and has more than five years of teaching experience. However, preference for predominant traditional teaching methods was observed. Keywords: higher education, active teaching-learning methodologies

INTRODUÇÃO Historicamente, a formação dos profissionais nas mais variadas áreas de saúde, incluindo a Medicina Veterinária, tem contado com metodologias tradicionais de ensino. O questionamento sobre as ferramentas ou metodologias utilizadas no processo de ensino e aprendizagem tem se restringido, muitas vezes, à reprodução dos conhecimentos, no qual o docente assume um papel de transmissor do conhecimento, ao passo que, ao discente, cabe a retenção e a repetição dos mesmos, em uma atitude passiva e receptiva, tornando-se mero expectador, sem necessariamente gerar reflexão ou crítica (MITRE et al., 2008). Por outro lado, a sociedade está mudando nas suas formas de organizar-se, de produzir bens, de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

comercializá-los e de divertir-se, demandando novas formas de ensino e aprendizagem. Portanto, cada vez mais professores e alunos têm a clara percepção de que as aulas convencionais estão ultrapassadas (MORAN et al., 2000). Tornam-se frequentes perguntas como: “Mas para onde mudar? Como ensinar a aprender em uma sociedade mais interconectada?”. É fato que se aprende melhor quando se vivencia, se experimenta, quando se relaciona ou estabelecem-se vínculos entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido (MORAN et al., 2000). Nesse sentido, diversos autores contribuíram para a elucidação de tais questionamentos por

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suplemento científico

meio da categorização taxonômica e da identificação dos domínios de aprendizagem cognitiva, psicomotora e afetiva (BLOOM, 1956); levando-se em consideração as formas nas quais as visões dos estudantes sobre o conhecimento mudam na medida em os mesmos amadurecem, ou seja, a Teoria de desenvolvimento cognitivo, lastreada pela identificação dos estados de desenvolvimento cognitivo pré-reflexivo, quase reflexivo e reflexivo nos estudantes universitários (PERRY, 1968; KING & KITCHENER, 1994) e ao desenvolver uma linguagem e uma estrutura conceitual para identificar as várias maneiras em que a aprendizagem pode ser significativa, valorizando o desenvolvimento de habilidades como as de aprender a aprender, de liderar, de se comunicar, de se adaptar à mudança entre outras (FINK, 2003). Particularmente, na Medicina Veterinária, a educação enfrenta muitos desafios em alcançar metas de produzir profissionais competentes. Múltiplos fatores limitam as oportunidades para os alunos praticarem as habilidades profissionais necessárias, quer seja, pela diminuição na utilização de animais vivos, como pela falta de simuladores projetados especificamente para utilização em Medicina Veterinária (Figura 1). Outro importante fator é a não adequada capacitação dos professores em utilizar tais ferramentas, quer seja pela falta de interesse dos mesmos ou pela ausência de cursos que possam capacitar à utilização destas importantes ferramentas de ensino e aprendizagem (SCALESE & ISSENBERG, 2005). Arquivo dos autores

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Cenário de simulação com manequim para o desenvolvimento de competências avançadas.

Neste contexto, a utilização de metodologias ativas de ensino e aprendizagem adquire relevância, uma vez que as mesmas possuem como alicerce o princípio teórico significativo da autonomia, ou seja, a base para uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história e que pode alcançar as dimensões afetivas e intelectuais de maneira mais duradoura e sólida (MITRE et al., 2008). A utilização de novas ferramentas de aprendizagem como a simulação, pode proporcionar um aprendizado eficaz, seguro e não menos empolgante para os alunos (KYLE & MURRAY, 2008). Adicionalmente, a utilização de animais como recurso didático no ensino superior tem sido intensamente discutida, principalmente por que muitos alunos e professores consideram que tais práticas vão contra seus pressupostos éticos e morais (MAGALHÃES & ORTÊNCIO FILHO, 2006). Tendo em vista o atual desafio educacional baseado na utilização de metodologias inovadoras que admitam uma prática pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora, o presente trabalho teve como objetivo a avaliação da utilização de metodologias ativas de ensino na Medicina Veterinária, por meio da identificação do perfil e do grau de conhecimento, aceitação e utilização docente das mais variadas ferramentas de aprendizagem ativa.

METODOLOGIA DE AFERIÇÃO Foram convidados, por e-mail e de maneira voluntária, 45 professores de um curso de Medicina Veterinária a participarem do estudo, em setembro de 2012. Todos os participantes foram informados a respeito dos objetivos da pesquisa e consentiram em participar dela, antes do preenchimento do questionário. Foi enviado um link de acesso ao questionário com disponibilidade de resposta dentro de um prazo de 15 dias. O questionário, respondido de forma digital por meio da ferramenta Google Drive®, contemplou 13 perguntas com o objetivo de avaliar a percepção dos docentes em relação às metodologias ativas de ensino e aprendizagem, correntemente utilizadas na Instituição de Ensino Superior da qual fazem parte, com foco no perfil docente, na aceitação, aderência e capacitação deles para a utilização das diferentes ferramentas. Fizeram parte do questionário as perguntas apresentadas na Tabela 1. Os resultados obtidos foram tabulados e parametrizados frente à utilização do teste matemático simples, com análise qualitativa e quantitativa, apresentadas e discutidas a seguir. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Tabela 1. Questionário sobre a percepção dos docentes em relação às metodologias ativas de ensino e aprendizagem em um curso de Medicina Veterinária. Tabela 1. Questionário sobre a percepção dos docentes em relação às metodologias ativas de ensino e aprendizagem em um curso de Medicina Veterinária Perguntas

Alternativas de respostas

Há quanto tempo você é docente no ensino superior?

Menos de 3 anos

Entre 3 e 5 anos

Entre 5 e 10 anos

Mais de 10 anos

Qual é a sua maior titulação?

Especialista

Mestrado

Doutorado

Pós-doutorado

A(s) disciplina(s) que você ministra aulas é (são) considerada(s) como?

Fundamentação geral

Você possui alguma capacitação em pedagogia?

Nenhuma formação

Cursos da instituição

Utiliza metodologias ativas em aula? Quais são as ferramentas de metodologia ativas utilizadas?

Estudos de caso

Situação problema

Cognitivo

Quando se devem utilizar metodologias ativas?

Cursos livres

Strictu sensu

Ferramentas digitais

Body painting

Manequins de baixa fidelidade

Psicomotor

Apenas ao final do curso Desconfortável

Preferência por tipo de aulas? Assinale a alternativa que melhor descreve a sua condição?

Profissionalizante Pós-graduação

Sim

Em quais níveis da taxonomia de Bloom você acha importante a utilização de metodologias ativas?

Sensação em relação às metodologias ativas?

Fundamentação biológica

Pouco confortável

Qual é o seu interesse em metodologias ativas?

Não gosto de utilizar metodologias ativas, mas acredito

Tenho interesse em me capacitar

SOBRE OS RESULTADOS A análise dos resultados oriundos da participação efetiva de 29 docentes, que responderam ao questionário sobre o perfil do docente, da aplicação de metodologias ativas, além da sua aderência a eles em uma Faculdade de Medicina Veterinária, permitiu revelar os seguintes aspectos: O quadro de docentes apresenta larga experiência em educação em Instituições de Ensino Superior (IES), uma vez que a maioria dos professores (aproximadamente 87,0%) leciona há mais de cinco anos (Figura 1). Além disso, a totalidade do corpo docente avaliado possui pós-graduação strictu sensu, fato que indica alto domínio sobre os conhecimentos específicos nas diferentes áreas de atuação em Medicina Veterinária (Figuras 1 e 2), aliado ao fato de que a maioria leciona em disciplinas profissionalizantes, ou seja, 72,0% (Figura 3). A somatória dessas características, se por um lado, é indicativa de alto domínio sobre os conteúdos e habilidades necessárias à formação profissional do Médico Veterinário, não obrigatoriamente pode-se afirmar que esteja relacionada à adoção das melhores práticas ou métodos de ensino e aprendizagem. Por outro lado, apesar do fato de apenas um docente revelar Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Simulação

Socioafetivo

Durante todo o curso Confortável

Mais aulas expositivas e pouco de metodologias ativas Gosto de utilizar metodologias e acredito

Body projection

Não me sinto preparado, mas utilizo

Razoavelmente confortável

Muito confortável

Somente aulas expositivas Sinto-me preparado e utilizo

Já fiz capacitação e considero suficiente

Não me sinto preparado, por isso não utilizo. Não tenho interesse

possuir curso de pós-graduação em Pedagogia, pode-se notar que os demais professores já realizaram treinamentos e capacitações oferecidas pela própria instituição (59,0%) (Figura 4). Considerando-se que a maioria dos cursos de pós-graduação strictu sensu em Medicina Veterinária não capacitam os alunos, de maneira profunda, para o desenvolvimento de competências pedagógicas, tal fato revela a importância da valorização da educação continuada do corpo docente pela própria instituição de ensino, em prol da aquisição de conhecimentos sobre as melhores práticas de ensino e aprendizagem. Naturalmente, quando o docente decide modificar seus métodos de ensino, pressupõe-se que ele tenha conhecimento sobre tal processo e que valorize a inovação. Todavia, com frequência, a sua visão e entusiasmo inovadores entram em conflito com a resistência de seus colegas e colaboradores, fato que pode resultar numa catástrofe. Dentre as principais causas de resistência em relação às inovações do ensino estão a falta de conhecimento da necessidade de inovação, a complexidade da inovação, as deficiências institucionais, a inter-relação dos costumes, o tradicionalismo versus a modernização, entre outras (BORDENAVE & PEREIRA, 2011).

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suplemento científico

No que se refere à implantação e utilização de metodologias ativas no processo de ensino – aprendizagem, o corpo docente demonstrou alta porcentagem de aceitação, uma vez que 97,0% dos professores relataram fazer uso de metodologias ativas (Figura 5). Dentre as ferramentas mais utilizadas foram relatadas o estudo de casos, a situaçãoproblema, a simulação e as ferramentas digitais (Figura 6). Por outro lado, o Body painting, Body projection e manequins de baixa fidelidade apresentaram menor utilização por parte do corpo docente avaliado. Tal resultado pode estar relacionado ao menor número de disciplinas aos quais tais práticas são aplicáveis, bem como do número relativamente menor de docentes de fundamentação biológica que responderam a este estudo. Referente à definição abrangente de metodologias ativas (MITRE et al., 2008), pode-se notar que a maioria dos professores entende que tais ferramentas têm como objetivo o ensino cognitivo, seguido do psicomotor e socioafetivo (Figura 7). Nota-se, portanto, uma preocupação na mudança do paradigma do ensino centrado no professor para o ensino centrado no aluno, fato importantíssimo para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa como descrito por Fink (2003). Segundo Perry (1968), em sua teoria do desenvolvimento cognitivo, existe uma diferença na maturidade dos alunos em relação ao seu nível de aprendizado. Portanto, para 97% dos docentes que participaram da pesquisa, fica evidente que as metodologias ativas podem ser utilizadas durante todo o curso, independente da maturidade desse aluno. Contudo, é importante considerar que as ferramentas de menor complexidade devam ser utilizadas preferencialmente no início do curso, ao passo que as ferramentas de maior complexidade, como a simulação, poderiam ser preferencialmente utilizadas mais tardiamente à formação do aluno, respeitando a maturidade deles. Na atualidade, o maior desafio da educação continuada em metodologias ativas é a mudança cultural em relação às metodologias tradicionais, associadas às aulas expositivas. O processo de ensino e aprendizagem deve ser apreciado por todos aqueles que dele participam. Além disso, o ato de aprender deve ser um processo reconstrutivo, quer seja pela atitude favorável ao procedimento como pela existência de um conteúdo potencialmente significativo. A utilização de metodologias ativas nesse processo pode resultar em melhor sedimentação do conteúdo, incluindo este processo não apenas diferentes ferramentas de ensino, mas, sim, um processo complexo, dinâmico e reflexivo (MITRE et al., 2008).

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Nesse contexto, os resultados deste estudo indicaram que aproximadamente 69% dos docentes desta amostragem ainda preferem utilizar aulas expositivas em detrimento à utilização de ferramentas

Figura 1. Tempo médio de docência de professores de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 2. Maior titulação dos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 3. Enquadramento das disciplinas ministradas pelos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 4. Representação da formação pedagógica dos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Figura 5. Porcentagem dos docentes que utilizam metodologias ativas no curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 7. Demonstração gráfica da importância dos domínios de aprendizado segundo a Taxonomia de Bloom, referidos pelos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 6. Porcentagem das ferramentas de metodologias ativas utilizadas pelos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

de metodologias ativas (Figura 9), apesar da continua capacitação e treinamento dos docentes registrados neste estudo. Nota-se que apenas 55% destes se sentem confortáveis quanto ao domínio das metodologias ativas e que, paradoxalmente, aproximadamente 93% gostam de utilizar tais ferramentas no processo de ensino aprendizagem (Figuras 8 e 10). Portanto, o estímulo e a capacitação continuada pela própria instituição são fundamentais para a mudança cultural, uma vez que, quase 90% dos professores que responderam ao questionário demonstraram interesse em se capacitar para utilização de ferramentas de metodologias ativas (Figura 12). Adicionalmente, a importância da capacitação continuada justifica-se, uma vez que quase 52% dos docentes, apesar de não se sentirem preparados, fazem uso dessas metodologias (Figura 11). Percebe-se que não basta capacitar os docentes para a aplicação de metodologias ativas, sem que tal processo resulte em um efetivo envolvimento, compromisso e consequente aderência à utilização das mais variadas práticas. As mudanças podem demorar mais do que alguns pensam, porque as pessoas encontramse em processos desiguais de aprendizagem, de evolução pessoal e social e não existem muitas instituições e pessoas que desenvolvam formas avançadas de compreensão e integração que possam servir como referência. Portanto, o êxito na Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Figura 8. Demonstração gráfica da sensação frente a utilização de ferramentas ativas descritas pelos docentes do curso de MedicinaVeterinária de uma IES (2012).

introdução de uma inovação tecnológica depende em grande parte do prestígio e da competência do professor, do apoio das autoridades, da receptividade dos colegas e da colaboração dos alunos (MORAN et al; 2000; BORDENAVE & PEREIRA, 2011). A moderna pedagogia em ensino superior deve romper com o paradigma do docente preocupado em ofertar conhecimentos, sem atentar para o seu importante papel de educador, visto que a expressiva maioria dos docentes universitários desempenha simplesmente o papel de professor (FRANCESCHINI, 2007).

Figura 9. Demonstração da preferência de realização da aulas descritas pelos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

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suplemento científico

Figura 10. Demonstração gráfica da condição dos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

Figura 12. Demonstração gráfica do grau de interesse em metodologias ativas, dos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 11. Demonstração gráfica da condição dos docentes do curso de Medicina Veterinária de uma IES (2012).

O perfil dos docentes avaliados é caracterizado por alta capacitação em Medicina Veterinária, todos detêm título de pós-graduação strictu senso, bem como experiência docente em nível superior, isto é, maior que cinco anos. Contudo, apesar de a maioria ter conhecimento, fazer uso e mostrar interesse pela educação continuada em metodologias de ensino e aprendizagem ativas, ainda predomina a preferência por métodos tradicionais, o que indica a importância do fomento contínuo à capacitação pedagógica em prol de uma efetiva mudança cultural.

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Dados dos Autores Neimar Vanderlei Roncati Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6673. Dsc. Professor da Universidade Anhembi Morumbi neimar@anhembi.br

Ana Cristina Kuhn Pletsch Roncati Psicóloga, CRP nº 06/51595. Msc. Professora de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi.

César Augusto Dinóla Pereira Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6674. Dsc. Professor da Universidade Anhembi Morumbi.

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Normas para apresentação de Artigos Informações Gerais O Suplemento Científico da Revista do CFMV tem como objetivo a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de Zootecnia. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres ad hoc terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral.

Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de fevereiro de 2008, ou naquela que a substituir.

A inscrição e tramitação é exclusivamente eletrônica em www.cfmv.gov.br

Normas Editoriais Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título.

Artigos de Revisão e de Educação Continuada Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).

Artigos Científicos Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e

Apresentação Os manuscritos encaminhados deverão estar digitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, com margens laterais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. O artigo completo deverá ter no máximo 12 páginas.

Título O título do artigo, com 15 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.

Autores Citar respectivos registros em conselhos de classe à excessão de alunos de graduação.

Resumo e Abstract O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com in-

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formações que informem o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.

Palavras-chave e Keywords No máximo cinco palavras serão representadas em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.

Texto Principal Deverá ser apresentado em espaço simples, fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH = hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998).

Referências Bibliográficas A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p. Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.

Artigo de periódico EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

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Livros MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: Funep, 1994. 296p.

Capítulos de livro WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.; LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986. p.187-206.

Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado) MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias. Universidade Estadual Paulista.

Artigos apresentados em congressos, reuniões e seminários RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.

Tabelas, Quadros e Ilustrações As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p.42-60, 1963).

Fotografias As fotografias deverão estar em boa resolução (nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPEG). Ao enviá-las o autor automaticamente autoriza sua inclusão no banco de imagens do CFMV, com o devido crédito.

Avaliações/Revisões Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Avicultura

Pintainhos

sexagem por empenamento da asa Técnica simples e de fácil aplicação permite separação de animais com margem de erro praticamente nula. Otimiza o manejo desde os primeiros dias.

O desenvolvimento da avicultura industrial teve grande destaque nas últimas décadas. Nesse cenário, a indústria da carne de frango tem buscado cada vez mais a tecnificação no setor produtivo, de modo que a cadeia do frango beneficie-se não apenas de animais de melhor desempenho, mas, também, de uma adequada padronização dos lotes, requisito imprescindível para agregar valor ao produto final, além de obter maior aceitação em mercados cada vez mais exigentes, sobretudo o externo. A produção em larga escala vem se aprimorando cada vez mais, utilizando técnicas que facilitam o manejo e aumentam os lucros. Assim sendo, o uso da técnica de sexagem para auxiliar a padronização e performance dos lotes surge nesse cenário como uma novidade do setor avícola, sendo alternativa simples e efetiva para propocionar ganhos à atividade. Dos métodos, a sexagem pelo empenamento da asa é considerado o mais fácil e prático, sendo amplamente utilizado nas granjas do Brasil e do exterior. Esse método consiste na separação de machos e fêmeas em lotes diferenciados a partir da análise das penas. Simplificada pelos geneticistas, que fizeram com que o empenamento de cada sexo ficasse diferente, a técnica permite que os produtores recebam na granja pintainhos macho ou pintainhos fêmea, com margem de erro inferior a 1%, conseguindo, dessa forRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

ma, otimizar e aperfeiçoar técnicas de manejo específicas para cada sexo.

REVISÃO DE LITERATURA Na criação de frangos de corte têm ocorrido modificações com o objetivo de facilitar as atividades nos abatedouros e uma das principais é a criação de frangos de corte com sexos separados (TABAJARA, 1997). A sexagem permite ao criador melhora considerável em relação ao desempenho animal e na padronização de lote, uma vez que machos e fêmeas possuem algumas diferenças fisiológicas durante o desenvolvimento corpóreo e, consequentemente, requerimentos nutricionais diferentes. No alojamento de frangos com sexos separados, o avicultor tem condições de aproveitar ao máximo o potencial genético da ave, reduzindo o custo da produção e evitando o desperdício da ração, já que cada sexo vai receber os alimentos de acordo com suas necessidades. A conversão alimentar otimizada e a maior uniformidade dos lotes são outros pontos positivos da técnica (CASTRO, 2008). Comparando o desempenho e a uniformidade de lotes, criados com separação de sexo e em diferentes densidades populacionais, os machos apresentaram melhor desempenho que as fêmeas. Observou-se que os

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Avicultura

Figura 1. Fêmea – empenamento da camada secundária (superior) de tamanho menor ao da camada primária (inferior).

machos apresentaram melhor desempenho, havendo diferença significativa entre os sexos para peso corporal (21 e 45 dias), consumo de ração, conversão alimentar e ganho médio diário (GMD). O manejo da criação em sexos separados proporciona melhor regulagem dos equipamentos, melhor manejo e, dessa forma, é possível obter-se melhor uniformidade dos lotes (ALBUQUERQUE et al., 2006).

Técnica de sexagem pelo empenamento da asa A sexagem do pintainho pode ser realizada por diferentes métodos tais como sexagem pela pena da asa, pela cor das penas e pela cloaca. Além disso, existem outros métodos de sexagem realizados em laboratório como, por exemplo, a sexagem pelo DNA por biologia molecar pela técnica de PCR (polymerase chain reaction). No entanto, a técnica mais fácil e observada nos incubatórios brasileiros é a sexagem pelo empenamento da asa. Esse método de diferenciação de sexos pela pena da asa possui uma série de vantagens em relação à sexagem pela cloaca. A sexagem pela cloaca é trabalhosa e dispendiosa, por exigir mão de obra especializada para realizá-lo, concorre também como fonte adicional de estresse para o pintainho, podendo prejudicar o seu desenvolvimento inicial (TABAJARA, 1997). Consiste em fazer a eversão da cloaca, ou seja, analisar a cloaca da ave, que alberga suas partes genitais e seu ânus, e distinguir as minuciosas diferenças que existem entre a musculatura dos machos e das fêmeas. Trata-se de uma operação rápida (de modo que menos de quatro segundos são necessários para determinar o sexo da ave) e indolor, mas que necessita, por parte do sexador, experiência técnica (ESAF, 2008). Pela dificuldade de fazer esse

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Figura 2. Macho – empenamento da camada secundária (superior) de tamanho igual ao da camada primária (inferior).

tipo de sexagem, atualmente existem poucos sexadores no mercado de trabalho. O método de sexagem pela pena da asa é o mais utilizado em todo mundo, possível de ser feito em várias linhagens: Ross, Hubbard, Arbor Acres, Indian River etc. e ocorreu pela introdução do gen para empenamento lento na linha fêmea de matrizes, fazendo com que os machos apresentassem as penas primárias das asas mais curtas ou iguais às penas cobertas, facilitando sua identificação com um dia de idade (TABAJARA, 1997). Com esse método, um funcionário treinado consegue sexar em média quatro mil pintinhos em um único dia (TOLOMELLI, 2011). Os pintainhos de corte têm duas camadas de pena nas asas. No sentido em que elas nascem, se as penas de cima forem menores que a camada de baixo, são consideradas fêmeas (Figura 1). Do contrário, se as penas da camada de cima forem maiores ou iguais às da segunda camada, são considerados machos (Figura 2), permitindo, dessa forma, a sexagem logo no primeiro dia de vida da ave (CASTRO, 2008). O processo de sexagem pelo empenamento da asa foi obtido pelo acasalamento de machos com genótipo kk (empenamento rápido) com fêmeas K (empenamento lento). A mutação dominante ligada ao sexo, empenamento lento (SF) codificado pelo gene K é o que permite a seleção do sexo de pintos nos ­incubatórios (CUSTÓDIO et al., 2000). Por isso, nas galinhas um gene dominante K regula o empenamento lento (SF), enquanto o alelo recessivo k+ determina empenamento rápido (RF). Quando os machos (k+k+) de empenamento rápido (RF) são acasalados com galinhas de empenamento lento (K), as progênies fêmeas (k+) são facilmente distinguíveis das progênies machos, de empenamento rápido (Kk+), devido à presença do gene dominante K (WARREN, 1925). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


Conclusão

Figura 3. A) Representação esquemática das camadas de penas primária (A) e secundária (B); B) Ilustração do empenamento da fêmea algumas horas após o nascimento; C) Ilustração do empenamento do macho no momento do nascimento; D) Ilustração do empenamento do macho algumas horas após o nascimento. (Adaptado de Guia de Manejo de Incubação COBB/2008/).

A sexagem realizada pelo método de empenamento da asa, além de ser uma técnica fácil e rápida para ser executada nos incubatórios, permite ao produtor melhorar consideravelmente o nível da produção, uma vez que poderá obter ganho adicional no desempenho e na padronização do lote. Essa técnica foi possível graças à introdução de um gene ligado ao sexo em linhagens maternas, capaz de promover o empenamento lento, de modo a diminuir custos associados com a sexagem manual e apresentar uma série de vantagens em relação à técnica de sexagem pela cloaca, muito mais difícil e dispendiosa.

Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, R; et al. Efeito de diferentes densidades populacionais e do sexo sobre o desempenho e uniformidade em frangos de corte. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science v. 43, n. 5, p. 581-587, 2006. BOND, T.E.; NEUBAUER, L.W.; GIVENS, R.L. The influence of slope and orientation on effectiveness of livestoch shades Transactions of the ASAE v. 19, n. 11,p. 134-136, 1996. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Embrapa. Sistemas de Produção de Frangos de Corte, jan. 2003. Embrapa Aves e Suínos. Versão Eletrônica. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Ave/ ProducaodeFrangodeCorte/index.html>. Acesso em 15 set. 2012. CASTRO, A.C. Sexagem em Aves. 2008. 29p. Dissertação (Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos) – Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Castelo Branco, Brasília-DF. COBB. Guia de Manejo de Incubação. 2008. Disponível em: <http://www.co-

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Dado do Autor Ricardo da Silva Raposo Médico Veterinário, CRMV-SP nº 25603. Professor de Nutrição Animal e Produção Animal - Escola Técnica Prof. Dr. Antonio Eufrásio de Toledo, Presidente Prudente-SP ricardodasilvaraposo@yahoo.com.br

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Fidelização de cliente

Conhecimento, ética e

marketing pessoal Fotos: arquivo do autor

Com as mudanças sociais, surge uma nova demanda: a sensibilidade em tratar e examinar os animais. A fidelização do cliente passa pela avaliação da postura, vestimenta e comunicação dos profissionais, além da observação do ambiente em que atuam. O Médico Veterinário é cada vez mais exigido no âmbito clínico, cirúrgico, zootécnico, assim como no comercial e administrativo. Além disso, ele também deve administrar sua profissão, fidelizando o cliente de maneira ética, sem se utilizar do mercantilismo e da concorrência desleal (BAUS, 2012; MOREAU, 2012, PALMER, 2012). Conciliar a ética profissional com a promoção do marketing pessoal é tarefa desafiadora, que exige não só a atuação com maestria técnica, mas a

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administração eficiente da própria carreira (BAUS, 2012; MOREAU, 2012). Técnicas referentes à comunicação com o cliente, às vestimentas utilizadas pelo profissional, às condições do ambiente de recebimento/internação do paciente são pontos a aproximar o cliente do Médico Veterinário, estabelecendo uma relação sólida, que renderá remuneração justa e convivência harmoniosa (HOWARD, 2009; MOREAU, 2012). Alguns procedimentos podem diferenciar o Médico Veterinário da concorrência. Dentre eles, destacam-se: prover serviços diferenciados, conhecer o comportamento animal e buscar atender às expectativas e necessidades dos clientes (MOREAU, 2012).

Revisão de literatura Fidelizando o cliente A fidelização do cliente conjuga vários fatores, destacando-se a ética, a boa administração profissional, a comunicação eficiente e a correspondência das exigências impostas, sem afetar a qualidade do atendimento prestado aos pacientes. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


E prometo tudo isso fazer, respeitando a ordem pública e os bons costumes e mantendo o segredo profissional das informações de qualquer ordem e em qualquer circunstância. Assim o prometo.

Instalações adequadas, confortáveis e seguras em hospital veterinário

A ética como pilar no exercício da Medicina Veterinária A habilidade médica é um dos parâmetros utilizados pelo proprietário para avaliar a atuação do Médico Veterinário e definir por sua escolha e fidelização (SIMMONS, 1997). Atuar com ética profissional é postura que pode ser classificada como um desses parâmetros, além de permear todos os outros, sendo pilar fundamental para o pleno exercício profissional (MOREAU, 2012; PALMER, 2012). Rollin (2006) destaca a complexidade da ética profissional de determinadas profissões como médicos, médicos veterinários e advogados, pois realizam funções vitais e diferenciadas na sociedade e são incumbidas de situações especiais e privilégios como, por exemplo, a prescrição de medicamentos. Simmons (1997) destaca que a categoria profissional do Médico Veterinário é pautada por forte ética de trabalho. Rollin (2006) estabelece a pressuposição das sociedades democráticas em relação aos profissionais e sua capacidade de lidar com os problemas éticos que enfrentam, deixando a cargo das próprias categorias profissionais a responsabilidade de determinar suas normas de conduta. Amaral (2006) afirma que o Código de Ética imposto aos Médicos Veterinários vai além da resolução do CFMV e inicia-se no juramento feito por todos aqueles em início de carreira, por estar implícito o proceder do futuro profissional. Sob a proteção de Deus PROMETO que no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, em especial o Código de Ética, buscando sempre a harmonização entre ciência e arte e aplicando os conhecimentos científicos e técnicos em benefício da prevenção e cura das doenças dos animais, tendo como objetivo o Homem.

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Hoje, observa-se não só na clínica de equinos, mas em todas as categorias respaldadas pela Medicina Veterinária, o grande apego emocional dos proprietários aos seus animais. Devido a essa inovadora perspectiva de “propriedade”, surge uma nova demanda ética: a sensibilidade em tratar, examinar e manipular o animal na presença ou ausência do proprietário (MOREAU, 2012). Para Rollin (2006), a mudança social ética mais relevante e imposta ao Médico Veterinário é o surgimento da preocupação social com o tratamento dado aos animais. Os profissionais, ao compartilharem dessa nova preocupação social, têm dificuldade em articulá-la em termos racionais, por ser sujeitar a distorções e má-interpretações. O âmbito da discussão a respeito da ética em relação aos animais atingiu filósofos e cientistas, provendo para a sociedade e a comunidade científica uma estrutura racional para articular e defender o que era tradicionalmente considerado uma questão de emoção e sentimento.

Administração e comunicação como pilares do sucesso profissional A ciência da comunicação tornou-se um novo pilar de sustentação do sucesso profissional do Médico Veterinário, mas, muitas vezes, ela não está inserida na grade curricular das universidades. Essa ciência é baseada em sólido conhecimento técnico e teórico. No competitivo mercado veterinário, o uso de técnicas administrativas apropriadas e de marketing são medidas que permitem o desenvolvimento da carreira e elevam o profissional ao patamar de empresário de sucesso. Portanto, boa prática administrativa pode ser sinônimo de boa prática da própria Medicina Veterinária (MOREAU, 2012). Nos dias atuais, o sucesso na carreira de veterinário está fortemente ligado ao tino administrativo do profissional e não somente à sua capacidade técnica de exercer a profissão (BAUS E MAGNUS, 2012; MOREAU, 2012; SIMMONS, 1997). Para Simmons (1997), os Médicos Veterinários, em sua maioria, não são bons negociantes, principalmente no início da vida profissional, cometendo erros administrativos que podem ceifar seu futuro profissional. O conhecimento limitado do Médico Veterinário em relação aos negócios está relacionado com a falta de interesse da categoria em entender mais profundamente

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Fidelização de cliente

realizar planejamentos de renda, gastos e retornos financeiros; • expandir dentro dos limites de renda; • manter sempre anotadas as transações financeiras, além das taxas cobradas pelos serviços e as informações relativas aos clientes.

Instalações de internamento adequadas

o assunto, por este ser desinteressante e não ser o fator primordial que os levou a escolherem a profissão. Muitos profissionais querem apenas exercer a ciência da clínica e da cirurgia, por exemplo, e dessa forma mantém-se erroneamente a ideia de que uma grande produção de renda, proporcional à grande carga de trabalho, será conseguida e o lucro, inevitável. Contudo, o retorno financeiro é desproporcional ao cansaço físico e mental do profissional. O sucesso é equivalente à satisfação pessoal de se realizar uma atividade com compensação proporcional ao tempo, esforço e custo (despendidos tanto para treinamento quanto para compra do material necessário ao exercício profissional). O sucesso, portanto, não é mensurado somente pelo valor monetário, mas em seu conceito estão incluídos componentes monetários, tais como renda, lucro e valor (SIMMONS, 1997). Simmons (1997) propõe que o Médico Veterinário seja capaz de diferenciar a administração de negócios da administração da prática profissional. Ambas não são sinônimos e devem ser tratadas de forma complementar, para se atingir o sucesso profissional pautado na maestria técnica e na remuneração justa pelo trabalho exercido. Palmer (2012) ressalta a honestidade na cobrança do serviço ofertado como fato indispensável para a boa atuação profissional. Simmons (1997) propõe maneiras de o Médico Veterinário inserir a administração de negócios no seu dia a dia profissional, construindo-a por meio de ações como as listadas a seguir: • realizar análises epidemiológicas e do público-alvo para selecionar a área de atuação; • saber as características do público-alvo que influenciam o mercado veterinário; • realizar uma estimativa de renda na perspectiva do profissional inserido no mercado veterinário; • estudar os profissionais que atuam na mesma área, bem como a competição imposta por eles; • realizar cálculos para estimar qual a remuneração e a clientela justas e suficientes dentro do mercado veterinário;

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Tratamento dado ao cliente e postura profissional: atos que vão além do marketing pessoal As expectativas de qualquer cliente sempre são altas. A exigência de um serviço de excelência é uma constante, pois a concorrência entre os profissionais é grande. Logo, faz-se obrigatória a oferta de um serviço de alta qualidade. No entanto, quando a excelência é alcançada e o cliente fica impressionado com o atendimento recebido, o nível de exigência que recai sobre o Médico Veterinário a partir desse momento será sempre maior (BAUS E MAGNUS, 2012; MOREAU, 2012; PALMER, 2012).

Moreau (2012) destaca os fatores primordiais valorizados pelos clientes ao serem atendidos pelo Médico Veterinário: • disponibilidade: o Médico Veterinário deve atender prontamente o cliente e o paciente, possuindo horários flexíveis e ainda fornecendo acesso facilitado ao ambiente de atendimento (estacionamento, por exemplo); • transparência: preços de consultas, serviços e medicamentos devem ser de fácil acesso e ter clareza na descrição; • escolha: o Médico Veterinário deve ser capaz de prover um leque de serviços e produtos que permita ao cliente a liberdade de escolha que vá ao encontro de suas necessidades e preferências; • ambiente: as instalações nas quais o cliente é recebido e o animal é atendido/ internado devem ser confortáveis, limpas, arrumadas, livres de odores, de aspecto receptivo e aparência moderna. Moreau (2012) pontua que, muitas vezes, os clientes são incapazes de julgar o nível do tratamento clínico/cirúrgico prescrito a seus animais, mas estão atentos e perceptivos ao nível do serviço prestado pelo Médico Veterinário e sua equipe.

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A postura profissional assumida pelo Médico Veterinário na condução do atendimento ao paciente e aos serviços ofertados é fato extremamente observado pelos clientes. Atos simples, como sorrir ao se dirigir ao cliente, seja pessoalmente ou ao telefone, é fato que atua em favor da elevação do profissional a um novo patamar e de sua diferenciação em relação aos demais (HOWARD, 2009). Para Moreau (2012), o cliente busca no Médico Veterinário, em ordem de importância: 1°) carinho ao manusear o animal; 2°) disponibilidade para atendimento; 3°) habilidade de ouvir o que o cliente tem a dizer; 4°) competência. Observa-se que a competência profissional é o quarto item mais valorizado pelo cliente, perdendo para pontos simples de marketing pessoal. A imagem profissional com a qual o Veterinário convive é bastante exigente. O Médico Veterinário é, antes de tudo, um profissional de saúde e deve proceder como tal. Portanto, é imprescindível a sua atuação com roupas limpas, uso de luvas em seus procedimentos, postura correta e articulação clara com seus clientes (HOWARD, 2009). Baus (2012) destaca que o profissional deve ser pontual em seus compromissos e manter contato permanente com os proprietários dos animais internados, fornecendo boletins claros e regulares do estado do animal internado. A decisão a respeito da conduta a ser tomada com o equino deve ser discutida com o proprietário, cabendo ao Médico Veterinário prover todas as informações relativas às chances de cura, expectativa de vida, sofrimento do animal durante o tratamento a ser realizado e o custo do tratamento em si. É desaconselhado ao Médico Veterinário tomar decisões sem o consentimento e o total esclarecimento do proprietário a respeito do que se passa com o seu animal (MOREAU, 2012). Palmer (2012) destaca a importância de o Médico Veterinário aproximar o cliente de si, uma vez que tal fato evita a procura inadvertida de “práticos” e de tratamentos por estabelecimentos como farmácias e casas de ração. A aproximação do cliente com o Médico Veterinário é extremamente benéfica, uma vez que atua como marketing pessoal do profissional. O autor salienta que o Médico Veterinário deve atuar com o apoio de todos aqueles que compõem a sua equipe de trabalho (enfermeiros, tratadores, funcionários, dentre outros). Somente assim, o profissional vai ao encontro das necessidades do cliente e evita falhas de comunicação (GUENTHER, 2011; BAUS, 2012; MOYER E O’GRADY, 2012). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Conhecimento do comportamento do paciente Os Médicos Veterinários devem ter total domínio sobre três áreas que vêm sendo negligenciadas nas Escolas de Veterinária: a ética, o comportamento animal e o manejo da dor e do distresse (ROLLIN, 2006). Mills e Nankervis (2005) abordam a importância do conhecimento a respeito do comportamento equino, uma vez que se garante não somente a segurança profissional, mas a aplicação da ciência veterinária de maneira mais incisiva. Dessa forma, é possível identificar patologias de maneira mais precoce e interpretar o que aflige o paciente, tanto no nível fisiológico quanto no comportamental. Luna (2006) demonstra que os principais estímulos desencadeadores de sofrimento nos animais são dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto, injúria ou trauma. Assim, além dos estímulos físicos, o sofrimento pode ser causado por sensações emocionais desagradáveis como, por exemplo, nos casos de barulho e iluminação excessivos, odores de predadores e situações em que haja a incapacidade de o animal manifestar seu comportamento natural. Em um ambiente hospitalar, no qual se recebe e se mantém animais enfermos, alocados em lugares desconhecidos por eles, com odores, sons e manejo diferentes do que os animais estão acostumados, o bem-estar animal torna-se não só um adjuvante para o sucesso do tratamento instituído, mas propriamente uma necessidade para que não se agrave uma patologia já instalada, colocando em risco o sucesso do tratamento proposto. Mills e Nankervis (2005) ressaltam que os equinos possuem linguagem corporal bem definida para transmitir o que estão sentindo, mas em grande parte das vezes, são mal entendidos.

Postura e equipamentos adequados

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Fidelização de cliente

Fornecendo serviços diferenciados A necessidade de prover serviços mais variados pode ser uma estratégia de fidelização do cliente, por ser um diferencial do profissional. Serviços odontológicos, nutrição orientada, ferrageamento, medicina esportiva, entre outros, são necessários para uma atuação profissional mais abrangente, que inclua todos os aspectos envolvidos na vida do equino-paciente (MOREAU, 2012). No caso dos equinos, animais de esporte e de trabalho, a conduta clínica a ser tomada deve ainda ser pautada por um prognóstico que permita ao animal perpetuar a sua vida de trabalho ou atlética com qualidade e competitividade (MOREAU, 2012). Dessa forma, o acompanhamento e a orientação a respeito da fisiologia do exercício e de toda a medicina esportiva em geral garantem qualidade de vida e atlética ao animal.

Adequação de disposição de equipamentos e postura profissional

Considerações finais O sucesso profissional do Médico Veterinário baseia-se em vários fatores, sendo a fidelização do cliente um deles. Esta, por sua vez, depende da boa administração profissional, da comunicação com o cliente, da postura assumida, da equipe com a qual se trabalha, do marketing pessoal, da qualidade dos serviços ofertados e do retorno dado aos clientes, dentre outros fatores. Atitudes simples podem ser tomadas no cotidiano no intuito de causar boas impressões ao cliente e exceder as suas expectativas de maneira positiva, garantindo seu retorno e sua satisfação.

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MILLS, D.S., NANKERVIS, K.J. Comportamento Equino: Princípios e Prática. São Paulo: Roca, 2005.

ROLLIN, B.E. Ética veterinária, ética social e bem-estar animal. In: RIVERA, E.A.B.; AMARAL, M.H.; NASCIMENTO, V.P (Ed.): Ética e Bioética aplicadas à Medicina Veterinária. Goiânia, p. 25-52, 2006.

MOREAU, P. Do You Know Your Equine Practice Clients? Vet. Clin. Equine 2012, article in press.

SIMMONS, J.L. Veterinary Practice Management: Building Profit & Value. St Louis: Mosby-Year Book Inc., 1997.

Dados dos Autores Ana Luísa Soares de Miranda Médica Veterinária - Residente em Clínica Médica de Equinos do Programa de Residência Integrada em Medicina Veterinária, no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). CRMV-MG 12576 analuisa.miranda@hotmail.com Jackeline Viana Rezende Médica Veterinária - Residente em Clínica Médica de Equinos do Programa de Residência Integrada em Medicina Veterinária, no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. CRMV-MG 12021

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Renata de Pino Albuquerque Maranhão Médica Veterinária - Professor Adjunto II do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG. CRMV-MG 6386 Maristela Silveira Palhares Médica Veterinária - Professor Associado do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG. CRMV-MG 12021

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Nutrição de bovinos

Eficiência alimentar. o que é importante?

O Consumo Alimentar Residual (CAR) é uma medida que permite selecionar os animais que consomem menos sem alterar seu desempenho produtivo. É uma característica que passa de pai para filho; favorável para redução de custos de produção e reflete no menor impacto ambiental. Arquivos dos autores

Para que o balanço financeiro do sistema de produção seja positivo, é necessário reduzir custos, principalmente aqueles relacionados à alimentação, o que é possível com a utilização de animais de melhor qualidade e mais eficientes (DEL CLARO, 2011). Num confinamento, a dieta é um dos principais componentes do custo de produção. Por isso, a eficiência alimentar tem grande influência sobre o custo unitário, já que apenas 5% da energia total da dieta são destinados para deposição de proteína corporal, sendo a maior parte (70-75%) usada para manutenção (BASARAB et al., 2003). Segundo Fox et al. (2001), melhorando-se a eficiência alimentar dos animais confinados em 10%, tem-se grande impacto sobre a rentabilidade do sistema Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

de produção, com maior ganho médio diário de peso (GMDP). Uma das formas de avaliar a eficiência em ganhar peso é pela mensuração do consumo alimentar. Essa medida envolve complexos processos biológicos e interações com o ambiente, além de ser correlacionada com o peso corporal e o nível de produção. Em razão dessa complexidade, várias medidas de eficiência alimentar foram desenvolvidas, tais como eficiência bruta, eficiência parcial de crescimento, conversão alimentar (CA) e consumo alimentar residual (CAR) (ARTHUR e HERD, 2008). A CA é uma medida bruta, que não estima as necessidades nutricionais para manutenção e GMDP dos animais; já o CAR é uma medida que permite aos

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Nutrição de bovinos

Números do Consumo Alimentar Residual:

29%

80

a

46%

56 dias

a

84 dias

são os valores de herdabilidade

são necessários para avaliar os animais

produtores selecionar efetivamente os animais mais eficientes (CARSTENS, 2003). Entretanto, medir o CAR é muito mais caro que medir somente o GMDP, uma vez que para obter-se resultados confiáveis no processo de seleção, os animais devem ser avaliados por cerca de 56 a 84 dias, o que inviabiliza economicamente o processo (CASTILHOS et al., 2011). Por meio de cálculos de eficiência alimentar analisados por Koch et al. (1963), foi proposta a utilização do CAR como medida de eficiência. A avaliação para CAR foi rejeitada pelos pesquisadores até a década de 1990. A partir dessa data, a metodologia de avaliação foi melhor esclarecida, viabilizando sua utilização. Segundo Lanna e Almeida (2004), o CAR é definido a partir da diferença entre o consumo alimentar real e o consumo esperado de alimento que o animal deveria consumir baseado no seu peso vivo médio (PVM) e GMDP. Os animais são então classificados em CAR negativo (consumo real menor que o consumo esperado) e CAR positivo (consumo real maior que o consumo esperado), podendo esta medida ser utilizada como ferramenta para identificar animais mais eficientes dentro do sistema de produção de carne (LUCILA-SOBRINHO et al., 2011). De acordo com Castilhos et al. (2010), animais mais eficientes do ponto de vista alimentar necessitam de menor área de pastagem, pois conseguem ganhar peso ingerindo menor quantidade de alimento. Isso também possibilita redução do custo com a dieta, em caso de confinamento, contribuindo para a sustentabilidade dos recursos naturais. Outro fator interessante é que animais mais eficientes nutricionalmente produzem menor quantidade de esterco e metano, substâncias que são prejudiciais ao meio ambiente, além de necessitar de menor ingestão de água, já que seu ciclo de produção é menor, quando comparado a animais com menor eficiência alimentar (BASARAB et al., 2003). Estudos de CAR apresentaram valores de herdabilidade entre 29% e 46%, demonstrando ser possível

obter avanços com a seleção dos melhores animais (BASARAB et al., 2003). Arthur et al. (1997) encontraram correlação positiva entre CAR e espessura de gordura subcutânea na carcaça, concluindo que quanto menor o CAR, menor será a espessura de gordura na carcaça. Por outro lado, as correlações genéticas entre CAR e outras características de crescimento e o peso adulto são muito próximas de zero, demonstrando não haver associação entre elas. Isso significa que a seleção para CAR não afeta a expressão dessas demais características (ARTHUR e HERD, 2008). Os bovinos de corte são selecionados, principalmente, para características de crescimento, como peso em diferentes idades e GMDP. Selecionando-se os animais apenas para essas características, serão escolhidos indiretamente aqueles menos precoces e mais pesados quando adultos, o que poderá implicar em aumento de custos com alimentação (CASTILHOS et al., 2010). O custo apenas com a dieta em bovinos de corte pode atingir até 65% dos custos totais do sistema de produção, dependendo da variação individual existente entre os animais e da eficiência alimentar. Portanto, o objetivo do estudo do CAR é: identificar essas variações na exigência nutricional, a fim de selecionar animais eficientes do ponto de vista nutricional (ARTHUR e HERD, 2008).

REVISÃO DE LITERATURA CAR, correlações e relação com o custo de produção Segundo Arthur e Herd (2008), várias medidas foram propostas para avaliar a eficiência alimentar dos animais, dentre elas a conversão alimentar (CA). De acordo com Carstens (2003), o CAR não sofre interferência das necessidades nutricionais dos animais para manutenção e ganho médio de peso diário (GMDP), além de não interferir no peso dos animais adultos. De acordo com Almeida (2005), o aumento Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


do peso dos animais adultos pode ser indesejável devido ao aumento nos custos com alimentação, uma vez que este item representa o componente de maior custo em todo sistema de produção (BONIN et al., 2008; MEYER et al., 2011). Uma alternativa para a avaliação dos animais pela eficiência alimentar é o consumo alimentar residual (CAR), que seleciona animais de menor consumo e menores exigências para a produção sem alterar o peso adulto ou o GMDP (BASARAB et al., 2003). O CAR é cal­culado como a diferença entre o consumo alimentar real e a quantidade de alimento que o animal deveria comer, com base no seu peso vivo e na velocidade de GMDP. Portanto, animais mais eficientes têm um CAR negativo ou baixo (consumo real menor que o predito) e os menos eficientes têm um CAR positivo ou alto (consumo real maior que o predito) (ALMEIDA, 2005). A avaliação do CAR é feita durante um período médio de 2,5 a 3 meses. Os animais avaliados permanecem em baias individuais, registrando-se diariamente a quantidade de alimento que foi oferecida e recusada, além de avaliar o GMDP (SAINZ et al., 2006). Em razão dos valores moderados a altos de herdabilidade, o CAR foi introduzido em programas de melhoramento genético (ALMEIDA, 2005). De acordo com Herd et al. (2004), touros com diferença esperada na progênie (DEP) negativa para CAR resultam em progênies com crescimento mais rápido, sem necessariamente aumentar a ingestão de matéria seca (IMS). Segundo Del Claro et al. (2012), a característica CAR possui herdabilidade média e variável de acordo com o sexo, o clima e a raça do animal. Segundo Crews (2005) o potencial genético para maior eficiência alimentar está negativamente correlacionado com CAR, portanto a seleção para animais com baixo CAR resultaria em animais com melhor desempenho e mais efi-

É registrado o consumo individual de alimento Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

Pela alta herdabilidade o CAR foi introduzido em programas de melhoramento.

cientes em termos de CA por unidade de crescimento (MORAIS, 2011). Segundo Castilhos (2009), há correlação genética e fenotípica entre CAR, o tempo e a frequência de alimentação, no qual animais com baixo CAR gastam menos tempo na ingestão de alimentos e consomem menos matéria seca. Animais com baixo CAR apresentam menor IMS, menor camada de gordura subcutânea e desempenho semelhante ou superior quando comparados aos animais com alto CAR (HERD et al., 2004; LANNA E ALMEIDA, 2004; MEYER et al., 2011). De acordo com Lanna e Almeida (2004), comparando-se dois animais de um grupo contemporâneo com peso vivo médio (PVM) e GMDP semelhantes, o consumo de matéria seca de ambos deveria ser igual, já que suas necessidades de manutenção e produção são semelhantes. Entretanto, isso não foi observado, sendo o CAR calculado a partir da diferença entre o que era estimado para o animal consumir e o que ele efetivamente consumiu. A maioria dos programas de melhoramento genético em bovinos de corte enfatiza a seleção para características como: GMDP, perímetro escrotal e peso em diversas idades. Entretanto, estudos sobre eficiência alimentar mostram a necessidade de reduzir insumos para aumentar a lucratividade do sistema como um todo, utilizando, por exemplo, a seleção genética para baixo CAR, produzindo indivíduos que consumam menos sem alterar seu desempenho (DEL CLARO et al., 2012). Herd et al. (2003), avaliando novilhas de corte à desmama, encontraram correlação genética negativa e não significativa entre CAR pós-desmama e peso dos animais adultos (-0,22), além de correlação genéti-

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Nutrição de bovinos

A variação no consumo esta associada a exigência de mantença dos animais.

forma, foram superiores quanto à eficiência, quando comparados aos animais de maior CAR. Os mesmos autores observaram, em média, 2,5 kg de diferença na ingestão diária de matéria seca entre eles. Contabilizando um custo de US$ 0.101/kg de ração/cabeça/dia, a opção por seleção de animais com baixo CAR renderia uma economia de US$ 0.25/animal/dia na alimentação, sem nenhuma perda de desempenho em ganhar peso. Segundo Morais (2011), a inclusão do CAR como medida de seleção é uma forma de diminuir custos com alimentação, já que seleciona animais que consomem menos alimento para um mesmo nível de produção, reduzindo, inclusive, o impacto ambiental.

Limitações do CAR e como superá-las ca positiva (0,98) entre CAR na desmama e CAR dos animais adultos, demonstrando que o animal que apresenta CAR negativo à desmama será mais eficiente quando adulto. A variação no consumo alimentar está associada à exigência energética de mantença dos animais e, conforme o consumo aumenta, a quantidade de energia gasta para digestão também aumenta, elevando o incremento calórico. Como o CAR está relacionado a diferenças no consumo, animais com baixo CAR terão menores incrementos calóricos, assim direcionando melhor a energia vinda da dieta para mantença e crescimento (CASTILHOS, 2009). A variação na mensuração do CAR nos animais relaciona-se, em sua maior parte, com processos metabólicos, tais como o estresse, o metabolismo dos tecidos (37%), o transporte de íons (27%), a atividade locomotora (10%), a digestibilidade dos alimentos (10%), o incremento calórico (9%), a composição corporal (5%) e os padrões de alimentação (2%). Esse novo parâmetro de avaliação da eficiência alimentar tende a selecionar animais com carcaça mais magra, com menor acabamento e menor gordura intramuscular. Esses índices poderiam ter um impacto negativo na qualidade da carne e gerar desvalorização e consequente prejuízo ao produtor (BASARAB et al., 2003). Entretanto, Sainz et al. (2006) não encontraram diferenças entre os animais com baixo e alto CAR para peso de carcaça quente, área de olho de lombo, marmorização e acabamento de carcaça. Basarab et al. (2003) avaliaram 90 novilhos Bos taurus com idade média de 235 dias e observaram que os animais com baixo CAR apresentavam menor consumo de matéria seca e de energia metabolizável, menor produção de calor e menor retenção de energia, além de produzirem carcaças com menor gordura intermuscular, abdominal e de cobertura. Dessa

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Segundo Almeida (2005), há três limitações na utilização do CAR como critério de seleção que merecem destaque: 1) a composição final de carcaça, uma vez que animais com baixo CAR produzem carcaça com menos gordura subcutânea e menor marmoreio; 2) a confirmação de que a seleção para animais mais eficientes baseados no CAR é valida também para sistemas de produção a pasto, e 3) o custo elevado para determinar o CAR. A seleção para baixo CAR resulta em carcaça com menos gordura subcutânea, menor marmoreio e menor teor de gordura abdominal. Por essa razão, torna-se necessário estimar o consumo também com base na composição do ganho pelo animal (ALMEIDA, 2005). De acordo com Lanna e Almeida (2004), ao invés de ajustar o CAR por medições pós-abate, o correto seria ajustar por parâmetros obtidos por meio de medidas de ultrassonografia em animais vivos. Esta alternativa avalia a espessura de gordura subcutânea, bem como o marmoreio, permitindo ajustar o CAR para composição corporal. A avaliação da eficiência do CAR, em confinamento, já é provada, mas é preciso confirmar se essa eficiência é valida para animais a pasto (ALMEIDA, 2005). De acordo com Herd et al. (2004), animais com avaliação genética favorável para CAR, em confinamento, produzem progênies com eficiência alimentar 41% mais alta e crescimento 19% mais rápido a pasto (sem aumentar o consumo alimentar entre eles). Esses resultados indicam que a utilização de touros favoráveis para essa característica também trará benefícios econômicos para os sistemas de produção a pasto (ALMEIDA, 2005). Visando minimizar os custos para mensuração do CAR em bovinos de corte, Lanna e Almeida (2004) propuseram um programa nacional de avaliação com seleção em duas fases: pré-selecionar touros Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013


com características desejáveis aos melhoradores (fertilidade, precocidade sexual e acabamento de carcaça, por exemplo) e identificar características geneticamente correlacionadas com o CAR (conversão alimentar e espessura de gordura subcutânea, por exemplo). Posteriormente, seria avaliado o CAR.

Dessa forma, poderiam ser identificados reprodutores e matrizes eficientes para CAR sem prejuízo das demais características desejáveis na exploração da pecuária bovina de corte no Brasil. Agradecimento ao Médico Veterinário Daniel Silva Antonelo, co-autor da matéria.

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Dados dos autores Madeline Rezende Mazon Médica Veterinária - CRMV-MG no.11665

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Domingos Marcelo Cenachi Pesce. Médico Veterinário - CRMV-MG no. 5095 Prof. Adjunto PUC Minas campus Pocos de Caldas

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opinião

Você vai ser vendedora? Bibiana Carneiro

Médica Veterinária – CRMV -SP nº 09782. formada em 1995 pela Unesp – Jaboticabal, Gestão Estratégica de Empresas (2000) pela Unicamp, MBA (2002) pela ESPM, Marketing Internacional (2003) pela Universidade de Mannheim – Alemanha. Trabalhou em diversas empresas Nacionais e Multinaionais da Indústria Veterinária e atualmente é Country Manager da Tecnovax do Brasil.

Desde pequena, observava meu pai todo arrumado, de terno e gravata, pronto para o trabalho em uma empresa veterinária. Na época, a maioria dos amigos da família era de Veterinários que atuavam em diversos setores como clínicas, jockey clube, inspeção de alimentos e propriedades agropecuárias. E, nas férias, estava envolvida no dia a dia da fazenda de amigos, o que acabou influenciando minha escolha profissional: a Medicina Veterinária. Já na faculdade, para ajudar nas despesas de aluguel e compra dos livros necessários, inscrevi-me no programa de monitoria do Departamento de Microbiologia e Imunologia, e ali permaneci feliz da vida, estudando os diferentes mecanismos de resposta imune das diferentes espécies, bem como os principais adjuvantes e microrganismos patogênicos. Nesse momento, direcionei o meu

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tempo aos laboratórios, em detrimento das aulas extras sobre cirurgia de grandes e pequenos animais. Em determinada aula, um dos meus professores, percebendo meu desinteresse em examinar um boi, perguntou-me se eu queria trabalhar com cães e gatos. Prontamente, disse que não, que, na verdade, gostaria de trabalhar com vacinas. Daí a pergunta: – então, você vai trabalhar como vendedora? Questiono: quem não é vendedor? O profissional vende serviços? Em geral, os formandos possuem qualificação técnica adequada, mas têm dificuldade em planejar a carreira, calcular o custo da consulta ou de um empreendimento prevendo seu retorno financeiro. Felizmente, na tentativa de cobrir essa lacuna, algumas faculdades têm incorporado estudos de empreendedorismo na grade curricular.

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Apresento competências/habilidades/atitudes/ valores pessoais que considero essenciais. Entretanto, ninguém possui todos eles, o ideal seria possuir ou desenvolver a maioria. • Flexibilidade e empatia; • Ética; • Empreendedorismo; • Criatividade e planejamento; • Comunicação e feedback; • Motivação e perseverança; • Autodesenvolvimento; • Intuição/percepção apuradas; • Integridade e humildade elevadas; • Capacidade de delegação, negociação, tomada de decisões; • Autodisciplina e autoconhecimento; • Iniciativa e questionamento positivo; • Capacidade para lidar com culturas diferentes; • Capacidade de relacionamento em todos os níveis; • Predisposição para correr riscos; • Foco em resultados; • Dimensionamento e administração do tempo; • Adaptabilidade e ser um agente de mudanças.

Agora, alguns conhecimentos adicionais obrigatórios: • Habilidades interpessoais, competências múltiplas e, principalmente, foco em resultados; • Habilidade de negociação visando à sustentabilidade dos parceiros envolvidos; • Profissionais versáteis e multidisciplinares; • Graduação avançada (mestrado, doutorado, MBA etc.); • Idiomas: Português, Inglês, Espanhol e outros; • Experiência e vivência internacional (trabalho, intercâmbio, estudo, familiarização com a cultura de outros países); • Profundo conhecedor e divulgador da visão, valores e metas da sua organização; • Desejo de desenvolvimento e aperfeiçoamento constante e ininterrupto; • Mobilidade (transferência de base domiciliar), inclusive internacional; • Trabalhos publicados e resultados obtidos na área de formação, para determinadas funções técnicas; • Perfil generalista e especialista com visão sistêmica; Informática avançada.

É essencial saber gerenciar a produtividade, o trabalho em equipe e ações que estimulem a criatividade e o engajamento.

Num mercado globalizado, em expansão, os profissionais Médicos Veterinários capazes de atuar na redução de custos e no aumento da produtividade estão valorizados, pois são capazes de viabilizar negócios que remuneram bem os investidores e, também, geram muitos postos de trabalho, a exemplo do que acontece na produção de carne bovina, suína e de frango. Pensando nesse mercado globalizado, fica evidente que somente a formação universitária não garante a colocação do profissional. Ampliar o conhecimento é sinal de curiosidade e de sabedoria e ajuda a lidar com a diversidade cultural das organizações. Saber gerenciar a produtividade, o trabalho em equipe e ações que estimulem a criatividade e o Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 60 - 2013

engajamento é essencial dentro das organizações. Nas corporações, é necessário que processos sejam continuamente melhorados, produtos modificados, o que exige mais competências e habilidades individuais de funcionários cada vez mais criativos, tornando cada hora dedicada ao desenvolvimento pessoal, intelectual, emocional, enfim, ao aprendizado, importante e preciosa. O profissional, atuante no mercado globalizado, deve ser capaz de identificar e solucionar problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais; com uma visão ética, sustentável e humanística, em uma cadeia produtiva que ultrapassa as fronteiras locais e que exigirá constante aprendizado, atualização e conhecimento.

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Publicações

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