Os desafios do microcrédito produtivo na visão das instituições e seus operadores

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Os desafios do microcrédito produtivo na visão das instituições e seus operadores

Manejar de forma adequada a operacionalização da oferta do microcrédito não é tarefa simples. O microcrédito não é apenas o ato de emprestar dinheiro para determinado fim. A concessão do microcrédito deve resultar em valores potencialmente maiores do que aqueles que seriam produzidos pelos empréstimos convencionais. Entretanto, o êxito do empreendimento não depende apenas do crédito. Há outras condições que contribuem ou não para a viabilidade do negócio desenvolvido. É nesse sentido que se inicia, entre as instituições e estudiosos do tema microcrédito produtivo, a discussão em torno do perfil mais adequado aos agentes de crédito. Parece ganhar corpo a ideia de que o microcrédito somente terá a dimensão de desenvolvimento e impactará positivamente os indicadores econômicos e sociais nas comunidades e territórios, se estiver inserido num conjunto de políticas mais amplas e complementares.

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Nessa lógica, a formação de agentes terá que dotá-los de informações e capacidades que os ajudem a compreender a dinâmica dos modos e razões pelos quais ocorre a formulação dessas políticas, e articular os agentes responsáveis por sua implementação local, de modo a revertê-las em benefício das atividades financiadas. Dessa forma, podem entender quais as dificuldades de um empreendimento localizado numa comunidade com problemas de infraestrutura (ruas esburacadas, sem abastecimento de água encanada, sem energia elétrica, etc.). Nessa nova configuração, a atuação do agente de crédito ganha outra dimensão. A sua “função primordial” não seria mais conceder crédito, mas promover o desenvolvimento – dando ao crédito o papel que é inerente aos processos de desenvolvimento. Essa parece ser a visão do representante do Banco do Povo Crédito Solidário, Almir da Costa Pereira. Para ele, as parcerias efetivadas por sua instituição tinham essa preocupação: “Por elas já dá para perceber que consideramos o microcrédito como ação não isolada, não apenas para o agente de crédito, mas para o agente de desenvolvimento. Ele deve dominar técnicas que, cada vez mais, permitam compreender o cenário onde trabalha”. E, naturalmente, sua agenda não seria mais dividida na proporção de 90% para a concessão de crédito e o restante para outras atividades. Nesse novo modelo, a quantidade e a qualidade da demanda por microcrédito seriam aumentadas e melhoradas, exigindo apenas que haja bons instrumentos de controles gerenciais e de processos para que o crédito seja ofertado suficientemente.


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